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Aliança Bíblica Universitária do Brasil Propostas

ESTUDO BÍBLICO:
ALTERNATIVAS CRIATIVAS PARA FALAR DA VERDADE QUE
LIBERTA

Obrigado Deus

Faz muito tempo que me pedem para escrever sobre este assunto. E eu sempre quis faze-
lo, que havia já muita coisa em meu coração, resultado da caminhada na ABU e na Igreja,
de leituras e experiências que andei fazendo... Que bom que estou tendo este tempo e esta
oportunidade de partilhar o que o Pai me deu de tão bom grado... Graças a Ele.

Introdução

Quando a gente fala em estudo bíblico, muita gente torce logo a cara: uns porque não
gostam da Bíblia mesmo, sentem-se ameaçados e inseguros, ainda não se sentem à
vontade, ainda não se acostumaram com as coisas de Deus, falta-lhes intimidade, não
conseguem desnudar-se diante do Pai; outros porque associam a experiência do estudo
bíblico a uma exposição monótona e incômoda, que trata de questões completamente
estranhas às suas experiências quotidianas e às suas necessidades humanas e espirituais.
A proposta que eu vou apresentar aqui é uma discussão de formas “alternativas” de fazer
estudos bíblicos como estratégia para devolver o interesse pela Bíblia ao segundo grupo
(quanto ao primeiro grupo, a questão é mais profunda...).
A forma como levamos a Palavra de Deus às pessoas é muito importante (embora não
seja a mais importante) e pode contribuir para que alguém se disponha a ouvir um pouco
mais ou para que se aborreça e não queira mais ouvir falar no assunto. Uma mensagem tão
maravilhosa como o Evangelho merece ser compartilhada de maneira viva, inteligente e
criativa, como são as pessoas que estudam a Bíblia. O problema é que às vezes a gente se
esquece deste detalhe. Alguns elementos me parecem úteis para ativar a memória da gente
na hora de partilhar da Verdade que liberta com outras pessoas. Minha sugestão é que a
gente os discuta conceitualmente a princípio, para depois aplicá-los de alguma maneira em
exemplos.

1. Criatividade

Deus criou o homem cheio de criatividade e inteligência. Tenho certeza de que Ele fez
isso de propósito, tanto que um dos primeiros “trabalhos” dados ao homem por Deus foi dar
nome aos animais – o que exige, ninguém duvida, uma certa criatividade, não? Ele também
criou a gente inteligente, capaz de dar continuidade ao Seu projeto criador, Ele concedeu à
humanidade o honroso privilégio de ser co-participante da criação! E a gente joga tudo isso
fora não poucas vezes! Seja quando usa a capacidade de criar para fazer o mal, seja
quando simplesmente se nega a usar essa capacidade.
Isto também me parece ser verdade quando se trata de estudo bíblico e a gente pensa
que é heresia, pecado ou sacrilégio usar as habilidades naturais dadas pelo Eterno. Pois eu
digo que é essencial usar a criatividade no estudo da bíblia. Não tenha medo de fazer
isto. Crie, recrie, recreie. Criar é atividade que dá vida ao homem porque resgata/relembra
nele a semelhança como o Criador de todas as coisas. Daí que atividades criativas
geralmente são atividades recreativas também, onde a gente pode rir e divertir-se – parece
que é justamente neste momento que a gente teme, pois a cultura religiosa farisaica diz que
o Deus é sério, zangado e sisudo: as coisas que Lhe dizem respeito devem sê-lo de igual
modo, nada de diversão... Mentira cultural. Se o Eterno deu talentos para a gente, não foi
para ficarem enterrados. Mas como é que a gente desenvolve a criatividade?

Pernambuco, fevereiro de 2001.


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Bom, o primeiro passo é conscientizar-se de que tem criatividade. Muitas pessoas


têm-me dito que não têm criatividade nenhuma, e são sinceras quando me dizem isto, eu
acredito; não sabem que quando fazem esta afirmação estão negando a parte de sua
semelhança com o Criador. Note que eu falei acima de desenvolver a criatividade. Eu parto
do pressuposto (bíblico) de que todo mundo a tem. Se você acha que não tem, está na hora
de mudar de idéia, em nome de Jesus.
O segundo passo é aprender a ter uma visão criativa das coisas. A forma como
vemos as coisas podem transformá-las e recriá-las de maneira impressionante. Uma visão
criativa é uma visão que transforma a realidade. Não nega, mas transforma. Era assim que
Cristo fazia milagres: onde os outros viam um endemoniado, Ele via um liberto em
potencial; onde todos viam cinco pães de cevada e dois peixinhos, Ele via muitos e muitos
pedacinhos de pães e peixes, suficientes para alimentar uma multidão; onde todos viam um
morto, ele via um ressuscitado; onde todos viam pecadores, Ele via possíveis regenerados,
arrependidos. E ainda hoje, quando todos não têm mais esperança, e a gente mesmo vê a
humanidade plena de maldade e injustiça, o sacrifício criador de Cristo continua de pé,
afirmando a cada dia sua visão criativa/recreativa, pois criadora/recriadora da humanidade:
Cristo vê toda a humanidade como alvo de um sacrifício redentor, e, portanto,
potencialmente regenerada para Deus (eu disse potencialmente!).
Cristo é impressionantemente criativo! Então você me dirá que é fácil ser criativo, sendo
Cristo. Tudo bem, mas as crianças também são extremamente criativas, elas têm uma visão
criativa das coisas, uma visão que transforma a realidade – você também já foi criança, não
foi? Lembro-me de que quando eu era criança não tinha essa história de brinquedo não, que
era muito caro. Eu sonhava com um carrinho de ano em ano, no aniversário (e quase
sempre o presente era roupa!!!). Sem problema: um pedaço de osso velho vira um boi para
uma fazenda de faz-de-conta; dum prendedor de roupas eu fazia um jato de combate ou
uma nave espacial, ou um foguete. Eu tinha uma coleção de seixos que poderiam
transformar-se em quase tudo o que eu quisesse... Eu não perdi este hábito: uma fotografia
de revista pode dar uma boa reflexão bíblica, posso jogar “boca-de-forno” com idosos para
ensinar a importância da obediência ao “Rei”; posso entrar de faz-de-conta dentro de uma
destas historinhas da Bíblia, daí eu levo um montão de gente comigo e, depois, já não é
mais faz-de-conta, porque a Palavra é viva, real, e a realidade lá de dentro não tem nada de
faz-de-conta, é tudo história da vida da gente mesmo. Então todo mundo é transformado! A
água se torna em vinho!
O terceiro passo é trabalhar com os elementos de que você dispõe. Geralmente a
criatividade não exige uma enormidade de recursos ou ferramentas mirabolantes. Ela
trabalha com os poucos e parcos recursos de que a gente dispõe no quotidiano e com os
que a gente encontra no quotidiano do outro também. Isso é fundamental no estudo da
Bíblia: lançar mão da realidade do outro para agir sobre ela criativamente. Mais uma vez o
exemplo de Cristo é interessante: com a mulher samaritana, ao meio dia, na beira de um
poço, Ele fala sobre sede e água, depois age criativamente sobre esta realidade, fazendo a
mulher descobrir a sede espiritual dela e a Água da Vida que poderia matar esta sede. É
bom ouvir as palavras e as pregações de Jesus e ver que elas não são – para a surpresa de
todos – um discurso alienígena. O Senhor usa criativamente a realidade das pessoas que o
cercam para falar do Reino dos Céus. Ele fala de sementes, de casamento, de servos e
senhores, de banquetes, de reis, de donas de casa que procuram uma moeda perdida, de
ovelhas, de vinhas, de vinho, de pão... Não adianta a gente traçar planos mirabolantes
usando mil e um recursos para compartilharmos a Cristo criativamente, se a criatividade não
atuar sobre a vida das pessoas com que a gente se dispôs a “brincar”.
O quarto passo é aprender a utilizar o inusitado, o inesperado. É quando a gente
surpreende as pessoas. Ninguém espera pelo que a gente vai dizer ou fazer e, de repente...
Esta é a parte mais difícil, porém não porque exija mais da gente enquanto seres criativos. É
justamente o contrário: quando a gente aprende a ter uma visão criativa das coisas, a gente
vira um perigo, a gente subverte a ordem estabelecida. Às vezes isto é excelente e
necessário para que brote uma nova vida onde só havia sequidão de estio, mas outras
vezes a gente tende a exagerar; por isso, nesta parte a gente precisa de muita sabedoria
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vinda do coração do Eterno para conhecer os limites. A gente não pode temer, pois Cristo
não temeu em ser criativo e libertador diante dos fariseus; mas a gente também não pode
menosprezar aquele que está ao lado da gente no Reino só porque ele tem outra
perspectiva de criatividade.
Um outro cuidado que a gente precisa ter nesta fase é com a confiança. Quando as coisas
funcionam direitinho a gente tende a pôr demasiada confiança na forma e no modelo como
elas foram feitas. Se tudo correr bem, é por causa do Deus que criou tudo, só por causa
dEle, pois se a gente usou de criatividade, essa foi uma habilidade dada por Ele. Glórias
sejam, pois, a Ele. Sempre a Ele. Amém.

2. Amor pelas pessoas

Esta deve ser a principal motivação do nosso trabalho, deve permeá-lo por inteiro. Parece
estranho falar disso num texto sobre criatividade, mas a gente não pode esquecer que o
contexto é de compartilhamento da Boa Nova do Senhor, uma Boa Nova de amor. É
inadmissível, portanto, partilhá-la fora de uma relação de amor profundo para com aqueles
com quem se partilha. Criatividade sem amor é mecânica oca, infértil; é técnica seca, vazia
e impessoal. A criatividade de Deus é expressão do seu amor, porquanto expressão de seu
próprio ser (Deus é amor); a criatividade de Cristo no anúncio do Evangelho se dá dentro da
relação pessoal de amor que Ele tem com cada um – e é assim também que a gente é
transformado, regenerado, recriado pelo Pai: num ato de amor. Se você não sente amor
pelas pessoas com quem pretende compartilhar a Verdade, está na hora de repensar sua
prática evangelística.

3. Oração e direção de Deus.

Se a criatividade sem amor é mecânica oca, sem oração e direção de Deus ela não é
nada. É impossível compartilhar da Boa Nova, sem intimidade com seu autor e consumador.
Quando a gente compartilhar os exemplos práticos, vocês vão ver que, a princípio, qualquer
pessoa pode tomar de um texto bíblico e fazer um estudo nos moldes aqui propostos.
Parece que esta é uma tentação que a gente enfrenta a todo o momento: achar que a
técnica pela técnica torna a gente independente de Deus para compartilhar a Bíblia com
outras pessoas; a gente esquece que o Eterno é o autor da Bíblia. É fundamental separar
tempo para orar e preparar os estudos – muito mais tempo para orar que para preparar, eu
diria –, é preciso rogar a misericórdia do Pai sobre a vida da gente e daqueles com que a
gente vai estar compartilhando a Palavra. Pessoalmente, já tive várias experiências em que
o estudo estava tão tecnicamente bem feito, eu estava tão entusiasmado pelo texto, pelas
pessoas, pelo trabalho que iria ser feito, que esqueci do “Patrão”, do Dono da tarefa,
dAquele para quem ela é feita. Dito e feito: foi uma experiência frustrante para mim, eu me
senti péssimo, não houve edificação...

4. Exemplos práticos.

Agora a gente vai discutir um pouco alguns exemplos práticos da aplicação do que
discutimos acima.

4.1 EBI em forma de Teatro

Neste modelo a gente transforma o texto bíblico num drama, enche de vida e sentimentos
o fato narrado na Bíblia. O objetivo é trazer o texto para dentro da vida das pessoas,
trazendo as pessoas para dentro do texto através da identificação com os
personagens, seus problemas e seus sentimentos. O que a gente faz é oferecer às
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pessoas a oportunidade de viver o texto bíblico para descobrir que aquilo não é faz-de-
conta, mas que é o que eles vivem no quotidiano. As pessoas vão descobrir que a Bíblia é a
biografia delas, o diário do relacionamento delas consigo mesmas, com Deus e com o
próximo.
É um modelo preferencialmente recomendado para textos narrativos, o que não impede
que sejam usados às vezes também para textos poéticos. O primeiro passo é identificar no
texto a trama, os personagens e as ações desenvolvidas por eles, o que não é difícil
particularmente nos textos do evangelho, onde geralmente a estrutura é:
• Situação inicial/problema
• Intervenção de Cristo/Solução
• Situação final/resultados da ação de Cristo.

Nas demais narrativas bíblicas a estrutura não é muito diferente, sempre haverá uma
situação inicial, um problema, a ação de Deus ou decisão humana e uma situação final. Este
passo pressupõe que a leitura e compreensão do texto tenham sido efetuadas com êxito,
não restando questões quanto à estrutura do texto, vocabulário, contexto imediato e geral
em que ele está inserido etc.
O segundo passo é identificar os sentimentos, as motivações, o contexto emocional que
cerca a trama. Neste momento, a ajuda de leituras sobre o contexto sócio-cultural em que a
história aconteceu é muito importante, a gente precisa cercar-se de todas as informações
possíveis para subsidiar nosso desenho do drama. Vai haver muitas lacunas de informação,
e é exatamente aí que a gente entra com a nossa imaginação e criatividade, supondo,
sugerindo, inferindo, deduzindo, ou simplesmente “brincando” de faz-de-conta.
O terceiro passo é montar uma tabela com todos os dados obtidos sobre os personagens
e as ações, extraindo daí um perfil de cada personagem e as lições a serem aprendidas
(aplicação). A partir daí é que a gente monta o roteiro de trabalho.
O quarto passo é montar o roteiro de trabalho. Aqui a gente tem que decidir como vai ser
aplicado o estudo. Há várias maneiras de se usar o drama em grupo: pode-se encenar o
texto; pode-se fazer uma entrevista em que cada pessoa do grupo (pode-se fazer em duplas
também) vai representar determinado personagem e responder a perguntas como se fosse
tal personagem; pode-se solicitar ao grupo que elabore perguntas para algum personagem
escolhido (aí a gente tem que estar preparado para responder...)
Tomemos como exemplo o texto de João 8.1-11, o famoso caso da mulher adúltera.
Comecemos:

1 – PERSONAGENS:

Jesus, o povo, os escribas e fariseus e a mulher adúltera.

2 – ENREDO:

• Jesus ensina ao povo no templo.


• Os escribas e fariseus apresentam a Jesus uma mulher que havia sido flagrada
em adultério. Eles a acusam e citam a Lei de Moisés que determinava que tais mulheres
fossem apedrejadas.
• Jesus não se pronuncia a respeito
• Os escribas insistem em que Jesus emita sua opinião.
• Jesus diz que aquele que não tivesse pecado poderia atirar a primeira pedra.
• Os escribas e fariseus saem um a um, a começar pelos mais velhos, acusados
pelas suas consciências.

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• Jesus pergunta a mulher onde estão seus acusadores, que ninguém a


condenara, ao que a mulher responde: “ninguém”.
• Jesus “absolve” a mulher, mandando-a ir e não mais pecar.

3 – CONTEXTO

• Jesus: chegara ao templo de madrugada, vindo do monte das oliveiras, aonde


provavelmente ele teria ido orar. Sentimentos predominantes em Cristo neste texto:
tranqüilidade, paciência, amor, bondade, mansidão, misericórdia etc.
• Escribas e fariseus: neles predominam a inveja e o ódio. Inveja com relação a
Cristo, pois “todo o povo ia ter com ele”; ódio, tanto em relação a Cristo quanto em
relação à mulher. Eles tentam confrontar o sentimento de amor e misericórdia de Cristo
com a Lei, na esperança de que o Mestre entrasse em contradição e pudesse também
ser acusado.
• Mulher: seu sentimento é de medo e culpa. Não lhe resta mais esperança e ela
está condenada à morte por conta de seu pecado – a lei é clara.
O contexto sócio-cultural desfavorece completamente a mulher – e é interessante
notar que a Lei também prescrevia a condenação de morte para o homem que adulterasse
e, no entanto o parceiro da mulher sequer é citado no texto – mas o que mais a oprime é o
seu próprio pecado, cujo resultado é a morte.
A partir dos dados relacionados acima, seguindo o roteiro proposto, detalhando mais
ou menos conforme a necessidade do grupo, os objetivos específicos do estudo, a duração,
o estilo do facilitador do trabalho etc, chegaremos a uma série de informações que
constituem o conteúdo do estudo. A metodologia e a forma de organizar as informações são
as mesmas do EBI “clássico”: observação, interpretação e aplicação. A diferença é como
vamos abordar e montar as questões. No caso específico deste texto, posso perceber as
seguintes alternativas:
a) Dividir o grupo em três sub grupos, cada um dos quais vai representar um dos
personagens do episódio. A tarefa é que eles leiam e releiam a história tomando como
ponto de vista o personagem dado, procurem identificar os sentimentos que envolviam o
personagem a partir de suas ações, palavras e da situação em que estava inserido.
Algumas perguntas prévias podem ser fornecidas como base para reflexão e discussão no
próprio sub grupo. Fazer uma entrevista com os grupos com perguntas previamente
elaboradas e que se desenvolvam na seqüência: “compreensão, interpretação, aplicação”.
É recomendável que se incluam perguntas que apelem para a imaginação do grupo, o que
deve ser feito com cuidado para que não se distancie do texto bíblico. O objetivo deste
apelo à imaginação é envolver mais e mais o grupo na trama e na situação proposta para
reflexão no estudo bíblico. É recomendável estimular o debate entre os participantes
interpretando os personagens. Neste caso, por exemplo, quem estiver aplicando o estudo
pode perguntar ao grupo que representa a mulher se ela tem alguma questão a fazer aos
fariseus ou a Cristo.
b) Pedir que as pessoas escolham um personagem da história e reescrevam a narrativa
em primeira pessoa do ponto de vista do personagem escolhido (neste caso, a história
poderia ser contada do ponto de vista dos fariseus, da mulher ou de Jesus).
c) Apresentar-se como um dos personagens e dispor-se a responder as perguntas do
grupo, interpretando este personagem.
NOTA: Esta alternativa exige um preparo bem maior de quem dirige o estudo pois as
perguntas são desconhecidas. É preciso profundo conhecimento do texto e internalização
do personagem focalizado, de seus sentimentos, atitudes, perfil... para que se possa
interpreta-lo com convencimento, envolvendo os demais participantes e fazendo-lhes
compreender com profundidade o que o texto bíblico quer ensinar. Quando as perguntas
feitas pelo grupo se desviam do assunto em foco, ou do texto, é válido recontar a história

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em primeira pessoa, interpretando o personagem selecionado, para trazer novamente o


grupo para dentro do texto.

4.2 Uso da representação cênica ou simbólica

Vários textos da Bíblia, por sua característica simbólica e dramática, se prestam a uma
adaptação para representação com, pelo ou para o grupo de estudo, sempre com o objetivo
de trazer as pessoas para dentro do drama proposto pela Palavra. Às vezes a
representação não se resume ao texto verbal, mas inclui elementos simbólicos cênicos que
a Bíblia propõe. Lembra-me, por exemplo, o texto de João 13.1-17, em que há o relato de
Jesus lavando os pés dos discípulos. Para esta passagem, teríamos a seguinte atividade,
aplicável a pequenos grupos (até 8 ou 10 pessoas):

a) O impacto inicial está em você trazer para a reunião de estudo bíblico uma vasilha
com água e uma toalha (dobre-a bem, para gerar suspense).
b) Após cumprimentar todos e iniciar a reunião, peça para que todos tirem os sapatos –
tente não relacionar isto, de imediato, com o fato de você ter trazido a vasilha com água e
a toalha, proponha tirar os sapatos como um ato de relaxamento (como de fato é), mas
não force nem discrimine ninguém que não o queira fazer.
c) Peça para que todos se sentem (o ideal é que estejam numa sala com cadeiras) e se
ponham em silêncio, prestando atenção no que você vai fazer.
d) Solenemente desdobre a toalha, prenda-a na cintura, tome da vasilha com água e vá
lavando os pés das pessoas e enxugando-os com a toalha.
e) Após o “ritual”, pergunte o como eles se sentiram, converse um pouco sobre o que
eles acham que significa o ato etc (elabore perguntas que façam as pessoas refletirem
sobre o que foi representado de forma a deixá-las interessadas e preparadas para a
leitura do texto bíblico.
f) Proceda a leitura do texto de Jo 13.1-17. Escolha uma tradução da bíblia de fácil
entendimento, cuja leitura possa ser fluente e bem compreendida. Daí em diante, poder-
se-ia seguir o estudo como um EBI, mas podemos fazê-lo de maneira diferente:
g) Proponha uma brincadeira de faz-de-conta com o grupo: eles vão fazer de conta que
encontraram uma máquina do tempo e de dentro saiu Pedro, com quem eles agora têm a
oportunidade de conversar sobre o episódio;
h) Interprete Pedro, apresente-se, cumprimente as pessoas do grupo como alguém que
acabou de chegar, comece a contar um pouco do episódio em primeira pessoa. Ponha em
evidência: como Pedro se via perante Cristo e os discípulos, o que estava por trás de sua
atitude extremista de “ou tudo, ou nada”. Discuta como grupo temas como: liderança,
poder, serviço, comunhão (ou união), humildade, baixa estima, orgulho, compromisso.
i) Como estudo evangelístico, enfatize e procure fazer as pessoas refletirem sobre
como elas têm reagido à atitude de Cristo de querer lavar-lhes os pés, ou seja, fazer-lhes
participantes de seu círculo de intimidade. Elas têm rejeitado, por quê? Acham-se
indignas? Têm pecados demais? Não querem ser iguais [aos outros cristãos] como Pedro
não queria ser? Não se acham merecedores de tamanha honra? Acham que precisam
mudar antes, que Deus não os aceitaria assim?
j) Como estudo devocional para Cristãos, enfatize o serviço e o compromisso. Fale
sobre a proposta e o modelo de Reino que Jesus Cristo representou neste episódio do
Evangelho, um modelo em que as pessoas são importantes e se integram ao Corpo à
medida em que servem.

4.3 Artes Plásticas.

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Este é um campo bastante ignorado e pouco explorado pelos cristãos modernos.


Embora tenhamos grandes mestres das artes plásticas no passado, dedicados inteiramente
à chamada “arte sacra” – aqui mesmo no Brasil tivemos o célebre Aleijadinho – hoje entre
nós evangélicos o espaço e o incentivo a essa forma de expressão artística é muito restrito.
Isto se deve em parte à nossa reação contra aquilo que chamamos idolatria católica, no que
temos certa razão; por outro lado, fomos parar em outro extremo e abdicamos de uma
importante linguagem para comunicação do Evangelho, uma linguagem riquíssima e de forte
impacto emocional.
Diante dessa situação, minha proposta é de um projeto de longo prazo, objetivando a
apropriação da linguagem, a descoberta de talentos e, por fim, o seu uso como instrumento
para a pregação do Evangelho de Cristo:
1ª Fase: Implantação.
Nesta fase temos que identificar potenciais talentos e capacitá-los. Para isto é preciso, no
mínimo, montar uma oficina – aqui certamente teremos que contar com a ajuda de um
profissional que talvez não seja cristão... – na qual as pessoas vão receber um mínimo de
teoria necessária e começarão a produzir algo como amadores. É bom ressaltar que isso
não acontece da noite para o dia, há um processo de aprendizagem, de maturação, de
desenvolvimento, mas o projeto é de longo prazo. O importante é que os irmãos recebam
ajuda e estímulo para se desenvolverem e produzirem. Seria interessante montar um atelier
em que o grupo se reúna para orar, estudar e produzir.
2ª Fase: Consolidação
Se houver disciplina, aplicação e dedicação ao trabalho pelo grupo no atelier chegará o
tempo da primeira exposição/amostra, que pode ser avulsa – mostrando o aprendizado de
cada um, seus trabalhos individuais, estudos etc., enfim, mostrando que estão vivos e têm
coragem – ou temática – em que um tema é trabalhado por todos. É interessante incluir
exposições periódicas em uma data definida do ano, de forma que elas se tornem parte do
calendário da escola/universidade; pode-se utilizar datas comemorativas do calendário
cristão como pretexto para exposições temáticas: Páscoa, Natal, Pentecostes...
Um conceito interessante em artes plásticas que pode ser trabalhado em reuniões do
grupo de estudo é o conceito de instalação, compreendida como um conjunto de peças
formando um ambiente no qual o observador se insere – geralmente se usa um espaço
delimitado como uma pequena sala ou um canto de uma sala maior para montar uma
instalação. A instalação pode ser montada para delimitar o local onde se estudará a Bíblia e
pode ser temática de acordo com a série de estudos que for aplicada.

4.4 Jogo

Antes de qualquer coisa, é bom definir a palavra jogo, que aqui não se trata de jogo de
azar, mas de brincadeira – sobretudo brincadeira de criança – em que as pessoas se
divertem e ao mesmo tempo aprendem e assimilam valores – é por isso que brincamos
tanto quando crianças. Jogos representam a realidade concreta e quotidiana e, geralmente,
reagimos no jogo como reagiríamos em situações reais. Baseado nisso podemos apreender
muito.
Não nos vamos (nem podemos) aprofundar muito no tema, inclusive nossa proposta de
uso aqui é um tanto quanto inocente – como as crianças fazem – pois há riscos numa
abordagem que queira ir além sem o necessário suporte técnico. Para os interessados, há
bons títulos na área de psicodrama que podem ajudar bastante.
Segue abaixo um exemplo com o jogo “Boca de Forno” usado como aquecimento/pretexto
para a leitura/estudo da Bíblia (nós o aplicamos em uma classe de terceira idade, foi uma
experiência extraordinária!)
Nesta conhecida brincadeira, todo o grupo escuta um suposto porta-voz real que transmite
as ordens do Rei. Trava-se o diálogo como jogral, iniciado sempre pelo mandatário do rei,
ao qual respondem os súditos:
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- Boca de forno
- Forno!
- Tirando bolo...
- Bolo
- Abacaxi...
- Xi.
- Maracujá...
- Já.
- Quando eu mandar...
- Vou
- (...)
- Seu Rei mandou dizer que...

E vem a ordem real à quais todos devem obedecer, caso contrário pagarão uma “prenda”
(ou cumprirão uma “pena”?) ou então estão fora do jogo.
Três rodadas são suficientes para revelar medo, rivalidade, submissão, entusiasmo,
apatia, vergonha... Conteúdos bem interessantes... Mas tão difíceis de trabalhar, se o
facilitador da reunião não tiver muita segurança e controle sobre o grupo, que nossa
sugestão é apenas comenta-los de passagem e enfatizar o tema obediência que
certamente merece destaque aqui. A discussão sobre obedecer ou não a ordem do Rei é
uma excelente introdução para um texto como João 15.10-15, num estudo cuja mensagem
central seja a obediência a Cristo como condição sine qua non à pertinência ao Reino de
Deus. Devem ser realçadas as conseqüências da obediência (a amizade com Cristo: “vós
sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando”) e da desobediência contumaz (“O que
não permanece em mim será lançado fora...”), não deixando de relacioná-las com a
brincadeira que intruduziu o estudo.

4.5 Música e poesia

A música faz parte do quotidiano litúrgico cristão desde sua origem – e geralmente os
cristãos são conhecidos como bons músicos. Quanto ao uso da música (inclusive, e
sobretudo, de músicas de compositores não cristãos) como pretexto para estudos criativos,
já existe uma tradição na ABU e estudos que podem ser consultados, adaptados e utilizados
como referência.
Está na poesia, portanto, minha ênfase aqui. Consideremos que a Bíblia está cheia de
poesia – além dos livros chamados poéticos, há trechos de poesia espalhados por toda a
Bíblia, de Gênesis a Apocalipse. Para aproveitar isto de maneira a divulgar a leitura da
Bíblia na escola/universidade, é bom ter em mente que:
• A maioria das pessoas tem interesse em poesia, sobretudo se bem
declamada/interpretada, num contexto preparado para tal;
• Poucas pessoas conhecem a poesia hebraica – como ela se organiza, quais as suas
características principais etc
Baseado nisto, propomos duas atividades que podem ser realizadas:
• Um recital de poesia Bíblica – composto de salmos, trechos do Cântico dos Cânticos,
Eclasiastes, Lamentações de Jeremias etc. O evento deve ser acompanhado de música
erudita (se possível, ao vivo, um piano ou um grupo de cordas).
• Uma palestra sobre poesia Bíblica, seguido de recital (este é um evento que requer um
cuidado técnico maior, na organização dos temas e na seleção dos convidados, sendo
recomendável para o pessoal da área de Educação, Artes, Letras ou História).
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Ambas as atividades devem ser planejadas e organizadas com muito cuidado nos
detalhes – as pessoas que amam a poesia são exigentes quanto à estética... De preferência
devem ser realizadas com o apoio do Centro ou Diretório Acadêmico além de Professores,
Diretores e/ou Coordenadores de Curso ou Área. É importante envolver o máximo de gente
possível em torno de um projeto cujo centro principal seja – que saibam ou não, quer
queiram ou não – a Palavra de Deus.

4.6 Folclore

A discussão sobre a relação entre folclore e Evangelho estão atreladas à discussão geral
sobre cultura. Neste sentido é há dois conceitos importantes que precisam ser trazidos:
a) Não existe cultura totalmente imaculada, que não tenha sofrido a influência e
a corrupção do pecado;
b) Não existe cultura totalmente corrompida, uma vez que a cultura é uma
construção histórica humana e o homem guarda em si aspectos inerentes à sua condição
de criado à imagem e semelhança de Deus.
Ao abordar manifestações folclóricas populares é fundamental perguntar quais de seus
elementos são nocivos/corrompidos pelo pecado e quais são apenas uma inocente
celebração da vida que pode ser lida ou dirigida para uma celebração do Autor da vida.
O trabalho não é fácil e exigem de nós muito discernimento e unção vinda do Bom Deus.
Há algum tempo fizemos uma adaptação do folguedo “bumba-meu-boi”, muito popular
aqui em Pernambuco, decompondo seus elementos e transformando-o num auto
cristocêntrico que fala das várias tentativas do homem de resgatar a sua vida (salvar-se),
sem sucesso, até encontrar Cristo e sua Boa Nova de salvação.
Dentre as várias versões do folguedo que circulam, a que nos pareceu melhor adaptável
foi aquela em que a história gira em torno do Boi de um grande fazendeiro que foi morto por
um dos empregados da fazenda. Vários personagens entram e saem de cena na tentativa
de trazer o bicho de volta à vida, até que por fim a solução é encontrada. O grande trabalho
(e este nós ainda não conseguimos levar a termo) é após as adaptações, organizar uma
equipe disposta a “brincar” o folguedo adaptado, envolvendo não cristãos numa celebração
contextualizada do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Um até logo... e mãos à obra!

Não é de se esperar que um trabalho como este tenha uma conclusão, não pretendo que
seja concluído, mas que continue a ser escrito, re-escrito, construído historicamente... É um
trabalho coletivo e o que foi aqui posto não passa de propostas a respeito de caminhos a
serem seguidos nesta construção.
Assim, a palavra que mais cabe é “Até logo”, pois muito nos encontraremos no Caminho
em que esta obra está sendo construída.
Que Deus abençoe a todos.

Pernambuco, fevereiro de 2001.


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