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08 a 10 de OUTUBRO, Vitória – ES
GT2 – CULTURA E EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
VITÓRIA
2008
2
INTRODUÇÃO
O direito, como todo o ramo da ciência, possui alguns temas que possuem
relevância, no plano acadêmico, com o intuito de proporcionar uma reflexão crítica.
Neste sentido, o artigo que segue abordará a temática do conceito de cidadania que
é passado ao aluno durante sua vida estudantil, até o momento em que ingressa no
ensino superior. Os dados apresentados, neste artigo, têm por base um pré-
questionário aplicado aos alunos do primeiro período do mesmo curso, como parte
de uma pesquisa realizada. Tal questionário visava verificar qual a concepção de
cidadania para estes alunos, o conceito de cidadania que eles aprenderam durante
os ensinos, fundamental e médio, pois são ingressantes no curso.
A pesquisa enunciada conta com exatamente três etapas, em que a primeira faz
referência à uma pesquisa bibliográfica e a elaboração do questionário-diagnóstico.
A segunda etapa teve por escopo a aplicação desses questionários aos alunos. Por
fim a terceira etapa, é a que nos prestamos a apontar desde já que é a elaboração
dos questionários, pautado pelos resultados obtidos após a aplicação do
questionário.
O referido tema foi escolhido pelos autores pelo fato de que foi constatado que
muitos dos alunos que responderam o questionário tinham clareza sobre o que é
cidadania e aqueles que apresentaram, muitas vezes, tinham uma concepção
preconceituosa. Percebeu-se que muitos alunos restringiam o conceito de cidadania
ao mero exercício de direitos civis e políticos e que muitos deles consideravam
cidadãos somente as pessoas com as quais convivem, pessoas de sua classe
social.
No nosso ponto de vista, este trabalho tem importância elevada para a sociedade,
uma vez que estamos abordando questões respondidas por pessoas que, hoje, são
apenas “calouros” do curso de direito, mas que, em um futuro, não tão distante
serão os intérpretes e os aplicadores das normas brasileiras.
1 CIDADANIA
Esse movimento foi muito importante porque influiu para que grande parte
do mundo adotasse o novo modelo de sociedade, criado em conseqüência
da Revolução. Foi nesse momento e nesse ambiente que nasceu a
moderna concepção de cidadania, que surgiu para afirmar a
eliminação de privilégios, mas que, pouco depois, foi utilizada
exatamente para garantir a superioridade de novos privilegiados. (grifo
nosso)
5
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direitos humanos, cidadania e educação. Uma nova concepção
introduzida pela Constituição Federal de 1988. jus navigandi, Teresina, ano 5, n.51, out. 2001.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2074>. Acesso em: 09 abr. 2008. p. 01
6
Op. cit. p. 02
7
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e Cidadania. 2.ed. reformulada. São Paulo:
Moderna, 2004. p. 19
5
8
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. op. cit. p.5
9
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. op. cit p. 5
10
Idem. p. 6.
11
SILVA, José Afonso apud MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Direitos humanos, cidadania e educação.
Uma nova concepção introduzida pela Constituição Federal de 1988. Jus Navigandi, Teresina, ano
5, n. 51, out. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2074>. Acesso em:
09 abr. 2008.
12
CARVALHO, Jose Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 10. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008. p. 17
6
Sendo assim, nota-se que, durante o período de 30 até 64, a sociedade brasileira
conviveu com avanços e progressos, no que diz respeito ao processo de construção
da cidadania. Entretanto, importa salientar que, após a chamada “Revolução de
1964”, poucos avanços foram observados no que tange à construção da cidadania,
principalmente, no que concerne aos direitos civis e políticos14. José Murilo de
Carvalho15, neste ponto, enfatiza que o período de ditadura militar em muito
contribuiu para com a restrição e a estagnação do exercício dos direitos civis e
políticos, contudo demonstrou-se um período dos direitos sociais, neste sentido faz a
seguinte asserção16:
13
CARVALHO, Jose Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 10. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008. p. 87-111.
14
CARVALHO, José Murilo de. op. cit. p. 170.
15
Idem. p.171-172
16
Ibidem. P. 172.
7
Além disso, deve-se salientar que os tratados internacionais ratificados pelo Brasil
que versam sobre direitos humanos são também adotados pela Constituição como
se fizessem parte dela, como se estivessem assegurados pelo rol de direitos e
garantias constitucionais, fato que concede uma margem ainda mais ampla no que
diz respeito a proteção dos direitos humanos. Versa sobre tal assunto o artigo 5º,
§2º. Neste mesmo sentido, o §1º, do mesmo artigo, enfatiza que a aplicação dessas
normas de direitos e garantias deve ser imediata, o que permite entender que os
tratados de direitos humanos internacionais podem ser incorporados de forma
instantânea pelo ordenamento jurídico brasileiro.
17
MAZZUOLI. op. cit. p. 8
18
BRASIL. Constituição [da] República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2007.
19
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. op. cit. p. 10.
20
Idem. p. 11.
8
Ainda no que diz respeito a tal assunto, releva ponderar que não são apenas esses
dispositivos que remetem ao exercício da cidadania, no Título VIII, Capítulo II, Seção
I, no artigo 205, a referida Carta dispõe que “A educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho”23.
21
ALVIM, Márcia Cristina de Souza. Educação, Cidadania e o Acesso à Justiça. Revista Mestrado
em Direito. Osasco, ano 6, n.2, p.97-106, 2006. Disponível em:<www.fieo.br/edifieo/index.php
/rmd/article/viewfile/39/77>. Acesso em: 10 jun. 2008. p. 102.
22
BRASIL. Constituição [da] República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2007.
23
BRASIL. Constituição [da] República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2007.
9
Nesse diapasão, tem-se, por evidente, que o conceito de cidadania veio evoluindo
ao longo dos séculos, conforme foi dito, o que nos faz perceber que o mesmo não se
manteve estagnado em um só contexto histórico.
O problema surge quando se evidencia que, de uns anos para cá, após a
promulgação da Constituição de 1988, não tivemos grande avanço quanto à sua
conceituação, tampouco uma efetiva observância de conceitos básicos de Direito na
sociedade contemporânea.
Isso nos faz depreender que, talvez a população, devido à grande repressão sofrida
durante a ditadura militar, esteve descrente de que medidas eficazes poderiam
alterar o quadro da população e deixaram de se interessar por questões relativas ao
respeito aos seus direitos (logicamente sem generalizações).
24
SILVA, José da. Faculdades de Direito e construção da cidadania. In_____ Poder
constituinte e poder popular: estudos sobre a Constituição. São Paulo: Malheiros, 2000, p.141.
10
Fez-se interessante essa abordagem, pois querendo ou não, tais cidadãos são
provenientes de famílias com certo poder aquisitivo e que tem uma formação
profissional, cultural e intelectual melhor do que aqueles que não têm acesso a uma
educação de qualidade.
Valores tidos como básicos em uma sociedade para viver em harmonia, desrespeito
a direitos fundamentais à garantia do bem-estar de todos, em alguns casos não são
do interesse desses “cidadãos” e, em outros casos, tampouco são respeitados por
outros.
É importante consignar, mais uma vez, que se trata de alunos, em sua grande
maioria, provenientes de escolas particulares e com uma formação familiar
adequada. Portanto, analisando sob esse ponto de vista, pudemos perceber que,
infelizmente, os objetivos traçados pela escola e pela família, não têm conseguido
atingir níveis satisfatórios para a formação de um indivíduo que a nação brasileira
almeja: um indivíduo: justo, solidário, participativo e atuante no corpo social.
Obviamente que é possível uma alteração desse quadro e que esse processo
necessita de uma construção gradativa.
A pesquisa, neste sentido, nos faz alterar essa dicotomia – vida estudantil e vida
profissional. Para nos tornarmos profissionais condizentes com a realidade que é
posta, devemos atuar com uma visão da prática real do Direito, estando em contato
com as questões fáticas que ocorrem diariamente na sociedade e, buscando com
isso, solucionar os problemas que nos são oferecidos à apreciação. Isso vai de
encontro à prática simulada que é perceptível em algumas academias jurídicas, que
resumem o aprendizado a um ensino dogmático e zetético do “dever-ser”,
esquecendo-se do mundo do “ser”, ou seja, o mundo fático.
desses calouros, buscando adequá-los ao novo contexto que estes estão inseridos
em que terão sua vida pessoal e profissional, “lapidada”, a fim de que se evitem
retrocessos.
Nesse sentido, acreditamos que o papel das universidades será fundamental nessa
formação, a fim de desconstituir alguns desses pensamentos equivocados. Além
disso, têm-se presente que os dados são de extrema relevância e que devem servir,
mesmo que minimamente, de parâmetro para a tentativa de mudança paradigmática
de concepções um tanto retrógradas.
Entretanto, algumas figuras que acreditávamos que seriam as mais assinaladas, por
se tratar de algo bastante comentado, e já haver um senso comum quanto à
consideração destes como cidadãos, acabou chamando muito a atenção, quando foi
possível observar a não marcação delas. Exemplo disso foi em relação a figura do
deficiente físico como cidadão.
13
Em suma, isso nos faz entender que ainda há uma dificuldade por parte destes de
vislumbrar um mundo em coletividade e respeitar todos como cidadãos. Extrai-se
14
dessa que eles estão adstritos à realidade próxima a eles, ou seja, a uma sociedade
de classes.
Enunciamos ainda mais uma questão que nos despertou atenção, quando os
discentes foram questionados sobre o que eles sentiam quando viam uma
pessoa dormindo na rua, a resposta foi impactante. Aproximadamente 72% de
todos os que responderam não estão nem um pouco interessados com essa
situação. Constatamos isso, devido às respostas, em que 65 % deles responderam
que “sentiam pena, mas isso era problema dos políticos”. Além destes, 7% disseram
que “não sentiam nada, que achavam aquilo normal”.
No senso comum, tem-se a idéia de que cidadania consiste apenas nos direitos
políticos que o sujeito possui. Tal posição é confirmada pelo pensamento de
Larrubia, ao afirmar que
25
LARRUBIA, Bruno. O que é cidadania? Disponível em: <www.pt.shvoong.com/humanities/
475324-que-%C3%A9-cidadania/>. Acesso em: 22 abr. 2008.
26
SOARES, Maria Victoria Benevides. Cidadania e Direitos Humanos. In: CARVALHO, José Sérgio
(org.). Educação, Cidadania e Direitos Humanos. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004. p.43.
16
Depreende-se que a Constituição Federal, quando dispõe que todos são iguais sem
distinção de raça, cor, religião (art. 5, caput), deve ser lido de forma extensiva,
devendo englobar todos sem distinção, ou seja, não se pode deixar de considerar
um cidadão única e exclusivamente, porque não teve condições de ser registrado,
ou não teve oportunidade de crescer profissionalmente.
Não admitimos tal situação como proporcional, pois desde que seja ser humano,
deve ser considerado cidadão, sem maiores requisitos. Além disso, não existem
requisitos eficazes para fazer essa distinção e nós, meros operadores de Direito,
não temos como criar critérios objetivos para distinguir quem é e quem não é
cidadão.
No entanto, é importante ressaltar que, apesar de todo ser humano ser cidadão,
nem todos exercem a sua cidadania, no sentido amplo. Depreende-se que, o sujeito
passará a ser efetivamente reconhecido como cidadão perante a sociedade, a partir
do momento em que começar a exercê-la. Durante essa jornada de construção da
cidadania, a educação é um quesito fundamental para ajudar o indivíduo possa
alcançá-la de forma plena.
cidadania. Na melhor das hipóteses, os alunos tinham uma idéia básica sobre a
teoria do que é ser cidadão, tendo vista que 85% afirmaram serem cidadãos, porque
são seres humanos.
27
CARVALHO, Jose Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 10. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasilieira, 2008.p. 219.
18
6 CONCLUSÃO
Diante de toda essa construção, fica clara a importância que o aluno de hoje tem,
para o futuro da sociedade brasileira. Vê-se que a difusão desses conceitos de
forma apropriada, é fator fundamental, para que essas pessoas tenham a real
consciência do conceito e da aplicação da cidadania.
Para tanto, acreditamos que é necessário mudar, uma vez que se deve aludir ao
seguinte fato, muitos desses ingressantes no curso de Direito irão, possivelmente,
assumir cargos de relevância social. Mas, para que essa mudança seja eficaz e
plena, devemos estabelecer esse conceito através de uma base de ensino
construída por meio de um conceito amplo de cidadania voltada para crianças.
Sendo assim, frise-se que este processo de mudança visa introduzir as noções de
cidadania nos futuros pensadores brasileiros.
28
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br
/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 04/10/08
29
BRASIL. Constituição [da] República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2007.
19
Por fim, chegamos à conclusão que a cidadania realmente evoluiu, ao longo dos
períodos históricos, buscando uma alteração gradativa, onde adaptou-se ao
contexto que estava inserida.
Porém, essa evolução está aquém daquela que se almeja ser a melhor definição de
cidadania. Admitiríamos, no máximo, uma possível “mutação” dessa concepção,
mas dificilmente um real rompimento.
7 REFERÊNCIAS
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