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Atenção: Este material não substitui a leitura doutrinária. É um material de apoio didático,
que deve necessariamente ser complementado com as explicações das aulas e com
o estudo da doutrina/legislação.
BIBLIOGRAFIA:
BARBOSA, Rui, Oração aos Moços, Ed. Casa de Rui Barbosa
Obra disponível para download gratuito no site: http://www.casaruibarbosa.gov.br/
Obs.: Oração aos Moços é o “discurso de Rui Barbosa preparado para os formandos de 1920 da Faculdade
de Direito de São Paulo, dos quais foi o paraninfo. Uma das mais brilhantes peças produzidas pelo jurista,
síntese de sua maturidade intelectual, discorre sobre o papel do magistrado e a missão do advogado”.
GIGLIO, Wagner V. e CORREA, Cláudia Giglio V., Direito Processual do Trabalho, Ed. Saraiva
LEITE, Carlos Henrique Bezerra, Curso de Direito Processual do Trabalho, Ed. LTR
“O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas idéias próprias,
que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no
espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas
transformador reflexivo de aquisições digeridas”.
(Rui Barbosa, Oração aos Moços)
1. ASPECTOS GERAIS
DIREITO – Conforme Paulo Dourado Gusmão, a expressão direito vem do latim “directum”, correspondendo
à idéia de regra, direção, sem desvio. O Direito assume diversas faces na sociedade que o criou, sendo
instrumento de controle social, visando a prevenção, a composição dos conflitos de interesse, a promoção
da ordem, da segurança e da justiça.
DIREITO MATERIAL – relativo à determinada matéria jurídica, descrevendo o direito propriamente dito, p.
ex., da criança e do adolescente, dos trabalhadores, etc.
DIREITO PROCESSUAL – princípios e normas que dispõem sobre a atividade jurisdicional, que é o poder-
dever do Estado-Juiz de compor/solucionar o conflito, dizendo o direito material aplicável.
JURISDIÇÃO – A jurisdição, em regra, é inerte, devendo ser provocada pelas partes que compõe a relação
jurídica processual. A peça inaugural de um processo é a petição inicial. Segundo Coqueijo Costa, o processo
é instrumento da jurisdição, ressaltando ainda o mesmo autor que “não há jurisdição sem processo, nem
processo sem ação, nem ação sem autor”.
“Nenhum jurista pode dispensar o contingente do passado a fim de bem compreender as instituições
jurídicas dos dias atuais”. Waldemar Ferreira, segundo citação de Sérgio Pinto Martins.
Para Wagner Giglio, a reunião dos trabalhadores em grandes fábricas facilitou-lhes a comunicação,
proporcionando a conscientização da identidade dos problemas básicos que os atingiam. Neste cenário,
surgem os primeiros conflitos e as primeiras mobilizações dos trabalhadores visando melhoria dos salários e
das condições de trabalho, ocasionando as primeiras greves. A greve surgiu como um instrumento de
autodefesa do trabalhador e não tinha nenhuma regulamentação.
c) Mediação – Em um segundo momento o Estado começou a intervir como mediador, buscando ainda
que as partes chegassem a uma conciliação. Posteriormente, chega a fase em que o Estado nomeia
um árbitro para decidir/julgar o conflito, sendo coercitiva a referida decisão.
Este formato é a gênese do Direito Processual do Trabalho, como forma de solucionar os conflitos
trabalhistas. Wagner Giglio coloca que, segundo esta gênese, o Direito Processual do Trabalho teria nascido
1922 - No Brasil, a primeira experiência de um órgão especial surgiu no estado de São Paulo em 1922, com
a criação dos Tribunais Rurais, que eram compostos pelo Juiz de Direito da Comarca, um representante dos
trabalhadores e um representante dos fazendeiros. Na prática, estes tribunais rurais não obtiveram
resultados satisfatórios.
1930 – A Revolução prometia uma profunda reforma, Getúlio Vargas promulgou em pouco tempo um grande
número de leis trabalhistas.
1932 – Criação das Juntas de Conciliação e Julgamento para dirimir dissídios individuais (Decreto-Lei 22.132
de 25/11/32) e criação das Comissões Mistas de Conciliação para dirimir dissídios coletivos (Decreto-Lei
21.396 de 12/05/32), ambos eram órgãos administrativos que não tinham competência para executar os
seus próprios julgados, estando sob a autoridade do Ministério do Trabalho e da justiça comum.
1934 – A Constituição de 1934 institui a Justiça do Trabalho, com competência para compor os conflitos
trabalhistas, entretanto, esta não constava no artigo 122 como órgão do Poder Judiciário.
1937 – A Constituição de 1937 manteve a Justiça do Trabalho como um órgão administrativo, esta ainda
não compunha o Poder Judiciário.
1941 – O Decreto-Lei 1237 de 02/05/39, que passou a vigorar a partir de 01/05/1941, organiza a Justiça do
Trabalho como órgão autônomo. A competência foi ampliada e esta já poderia executar os seus julgados.
1943 – O Decreto-Lei 5452 de 01/05/1943 aprova a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT.
1946 – Finalmente, na Constituição de 1946, a Justiça do Trabalho passa a integrar formalmente o Poder
Judiciário.
Segundo Wagner Giglio, a autonomia de um ramo jurídico exige institutos, princípios e fins próprios.
A autonomia não significa independência total, assumindo faces distintas, conforme abaixo:
AUTONOMIA DIDÁTICA – divisão que visa facilitar a transmissão dos conhecimentos (no caso a criação da
Disciplina Direito Processual do Trabalho nas Universidades).
TEORIA DUALISTA – Admite a autonomia do Direito Processual do Trabalho, segundo o que aqui
estamos discorrendo.
Concluindo, conforme Giglio, o Direito Processual do Trabalho ainda carece de autonomia plena nos
aspectos legislativo e didático. Entretanto, ele frisa que a evolução social é lenta, sendo esta carência retrato
desta lentidão e não da falta de autonomia. Para ele, o Processo do Trabalho apresenta características
próprias e inconfundíveis, distintas daquelas que identificam o processo civil. O referido autor entende que o
Processo do Trabalho foi pioneiro e serviu de laboratório experimental para novas conquistas processuais
que foram adotadas pelos processos civil e criminal, citando como exemplo os princípios da oralidade, da
gratuidade e da celeridade.
Bezerra Leite, demonstra uma preocupação com relação à referida autonomia, pois, recentemente, a
Justiça do Trabalho teve sua competência ampliada, passando a compor conflitos que não são
necessariamente regulados pelo Direito Material do Trabalho. Este item será melhor entendido quando
estudarmos COMPETÊNCIA.
Vale conhecer a lição de Coqueijo Costa sobre a autonomia do Direito Processual do Trabalho, “ele é
e deve ser autônomo, pois não há direito especial sem juiz próprio, sem matéria jurídica especial e sem
direito autônomo. Tem relações jurídicas, princípios e métodos próprios”.
6. PRINCÍPIOS
Princípios são, segundo Miguel Reale, enunciações normativas de valor genérico, que condicionam
e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer para a
elaboração de novas normas. É o mandamento nuclear de um sistema; verdadeiro alicerce dele.
a) Informativa – ao legislador;
c) Normativa – ao aplicador do direito – Tanto pode ser utilizado na solução dos casos concretos
mediante a derrogação de uma norma por um princípio (princípio da norma mais favorável),
quanto de forma indireta, por meio de integração do sistema nas hipóteses de lacuna (CPC –
artigo 128).
EXCEÇÕES: Ministério Público, Defensoria Pública e Fazenda Pública (Prazos, Custas e Duplo grau de
jurisdição necessário)
Deste princípio decorrem outros, p.ex., o do Juiz Natural, do promotor natural e do duplo grau de
jurisdição.
7.6.2 – Princípio do Promotor Natural – art. 5º, XXXVI e LVIII, 127 e 129, I, da CRFB/88
Existe por analogia ao princípio do Juiz Natural. Conforme Bezerra Leite, “assenta-se nas
cláusulas da independência funcional e da inamovibilidade dos membros da instituição”, significando
que o jurisdicionado tem a garantia de que, caso seja processado, o será por autoridades
competentes e previamente estabelecidas.
EXCEÇÃO: Não se aplica este princípio ao advogado dativo, ao curador especial e ao órgão do Ministério
Público, que podem promover a defesa, em tais hipóteses, por negativa geral.
8.5 - Princípio da estabilidade da lide – arts. 41, 264 e 294 do CPC e 846 e 847 da CLT.
Uma vez que o autor já propôs a ação com os seus pedidos em juízo, e o réu já foi citado para se
pronunciar, não poderá mais o autor modificar sua pretensão sem anuência do réu e, depois de ultrapassado
o momento da defesa, nem mesmo com o consentimento de ambas as partes.
Art. 245. A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos
autos, sob pena de preclusão.
Parágrafo único. Não se aplica esta disposição às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem
prevalece a preclusão, provando a parte legítimo impedimento.
É via de regra o princípio da oralidade, se o autor ou réu, perceber que ocorreu alguma
irregularidade pede ao juiz para consignar em ata o seu protesto.
As decisões interlocutórias são irrecorríveis de imediato, salvo as terminativas de feito. As
consignações em ata servirão para um recurso mais na frente, se não protestar ocorrerá a preclusão.
Preclusão Lógica
Está precluso o direito ao ato que, se praticado, ofenderia a lógica das partes. Ou seja, estaria em
desconformidade, em contradição, com um outro anteriormente praticado.
Ex: artigo 806 da consolidação: “É vedado à parte interessada suscitar conflitos de jurisdição quando
já houver oposto exceção de incompetência”. (Dá-se o conflito de jurisdição quando dois juízes
declararem-se competentes ou incompetentes).
Preclusão Temporal
É a perda do direito de praticar o ato processual pelo decurso do tempo. Ou seja, a parte não
praticou o ato processual no prazo legalmente previsto, ou se o pratica, o faz extemporaneamente.
Ex: O prazo para interposição do recurso ordinário é de 8 dias. A parte interpôs o recurso no quinto
dia. Mesmo faltando três dias para expirar o prazo total a que teria direito, não pode praticar o ato
novamente, para corrigir um erro material (por exemplo), pois este já se consumou no 5º dia.
Preclusão Ordinatória
Conforme Bezerra Leite, é a perda da prática do ato se precedida de exercício irregular da mesma
possibilidade.
Ex: Não será conhecido o recurso se não houve o pagamento das custas.
Preclusão Máxima
Coisa julgada – é a perda do direito de praticar qualquer ato processual nos autos do processo que
já transitara em julgado.
Atenção: O juízo de prelibação (de admissibilidade) feito pelo órgão a quo não gera preclusão pro
judicato para o órgão ad quem.
8.10 - Princípio do ônus da Prova - artigo 333 do CPC e art. 852-D da CLT.
O ônus da prova incumbe:
I – ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
O rigor da norma acima tem sido atenuado por outro princípio, admitindo-se a aplicação subsidiária
do princípio da inversão do ônus probandi, instituído pelo CDC, artigo 6o, VIIII.
8.11.1 - Princípio da imediatidade – arts. 342, 440 e 446, II do CPC e 820 da CLT.
Significa que o magistrado está obrigado ao contato direto com as partes e suas provas
testemunhal/pericial, buscando a verdade real e justificando o seu livre convencimento.
CONFORME A SÚMULA 136 DO TST, este princípio NÃO vem sendo admitido no
processo do trabalho.
Art. 852 da CLT “as demandas sujeitas ao rito sumaríssimo serão instruídas e julgadas em audiência
única, sob a direção de juiz presidente ou substituto (...)
DECISÕES
ACÓRDÃOS
ÓRGÃO COLEGIADO Interlocutória do Relator
DECISÕES MONOCRÁTICAS
Decisão final do Relator
* Se houver recurso, a sentença não põe fim ao processo, pois os recursos “correm” dentro do
mesmo processo.
O Título X da CLT trata do Processo Judiciário do Trabalho, composto pelos artigos 763 ao 909.
“Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do
trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste título”
a) não estejam aqui (na CLT) regulados de outro modo (“casos omissos”, “subsidiariamente”);
b) não ofendam os princípios do processo laboral (“incompatível”);
c) se adapte aos mesmos princípios e peculiaridades deste procedimento;
Para Bezerra Leite, o processo do trabalho surgiu da necessidade de se por em prática um sistema
de acesso à Justiça do Trabalho, “que fosse a um só tempo simples, rápido e de baixo custo para os seus
atores sociais”. Continuamos com o entendimento do referido professor, de que o art. 769 da CLT seria uma
cláusula de contenção das normas do processo civil, privilegiando as normas especiais e admitindo o uso do
direito processual civil somente de forma subsidiária.
Ex.: possibilidade de gratuidade do processo somente para o empregado (art. 790, §3º, da CLT)
Art. 5º da LICC – “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum”.
Art. 764 da CLT – “Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho
serão sempre sujeitos à conciliação.
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