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Os doentes mentais até o século XVIII eram percebidos como seres possuídos
por espíritos malignos e demônios, tratados por magias e bruxarias. As pessoas tinham
medo deles por isso eram mantidos isolados, acorrentados e tidos como criminosos.
Da mesma forma, o conceito de doença mental estava ligado a explicações
mágico-religiosas, que atribuíam a uma força sobrenatural a origem dos transtornos
mentais.
Na Grécia Antiga, com Hipócrates, mesmo que os distúrbios mentais fossem
encarados ainda com origens sobrenaturais, procurou-se em causas somáticas a origem
dos distúrbios mentais. Neste novo pensamento, a doença era causada pelo desequilíbrio
interno, originado pelos humores corporais (Substância orgânica líquida ou semilíquida,
como por exemplo: bile, sangue, esperma). A melancolia, por exemplo, era descrita
como um quadro de tristeza causado pela “bílis negra” do fígado. Também neste
modelo surge, pela primeira vez, a descrição da histeria, que curiosamente era atribuída
ao deslocamento do útero (histero), por falta de atividades sexuais. Pode parecer
engraçado, mas acreditava-se que movendo-se pelo corpo, o útero poderia atingir o
cérebro, causando dispnéia, palpitação e até desmaios. Recomendava-se então, como
terapêutica, o casamento para viúvas e moças, além de banhos vaginais com ervas para
atrair o útero de volta ao seu local de origem.
Ao contrário da concepção grega, que atribuía à migração do útero a causa da
histeria, Galeno, em Roma, afirmava que a retenção do líquido feminino pela
abstinência sexual causava envenenamento do sangue, originando as convulsões.
Assim, a histeria não tinha uma causa sexual-mecânica, como afirmava o paradigma
grego, mas uma causa sexual-bioquímica. Para Galeno o homem também tinha as suas
alterações mentais oriundas da retenção do esperma. Desta forma, as relações sexuais e
a masturbação, para Galeno, serviriam de alívio para as tensões.
No século XIII se descrevem de forma questionável os sintomas psicóticos
como alucinações, que contando com fortes influências religiosas marcada pela época,
onde se conotam os comportamentos “inadequados” dos ditos loucos da época como
bruxaria e feitiçaria.
Até o final da idade média , o sobrenatural fundamentava a doença mental e
seus comportamentos, caminhando para estudos científicos nas escolas médicas.
Para uma sociedade que iniciava um processo de produção capitalista, a
existência de indivíduos portadores de transtornos mentais, ou de alguma forma
“inúteis” à nova ordem econômica (tais como os “loucos”, os criminosos e os
mendigos), andando livres de cidade em cidade tornava-se uma ameaça. Os antigos
“depósitos de leprosos”, cuja ameaça já não se fazia tão presente, abriram suas portas
para a recepção destes novos “inquilinos”. Sem preocupar-se em resolver esses
problemas sociais, a nova ordem político-social decidiu pelo isolamento destes seres
considerados “improdutivos”.
Excluídos do mundo, os enfermos mentais foram trancafiados nos porões das
prisões juntamente com todos aqueles que por algum motivo não participavam da nova
ordem mundial. A semente dos manicômios havia sido plantada.
No século XVII, houve uma marcante transição das medidas irracionais para as
metodológicas e científicas, onde a psiquiatria entra como especialidade científica, com
visão médica direcionada à doença mental e ao doente.
No século XVIII, a psiquiatria ganhou forças na cientificidade, com várias
influências destacadas como a de Philippe Pinel na França.
Com uma proposta de tratamento humanitário para os doentes, aliados à prática
de docência, Pinel desenvolveu uma corrente de pensamento de médicos especialistas
em doenças mentais, aprimorando as descrições detalhadas dos transtornos mentais
através de longas observações. A escola francesa, inaugurada com Pinel, trouxe muitas
inovações neste campo, como por exemplo, a influência de tóxicos nas alterações do
comportamento e a conceituação de esquizofrenia. Pinel iniciou o processo de
humanização da assistência com o “Desacorrentamento dos loucos” e tratamentos mais
humanos no âmbito asilar.
Na Itália, Vicenzo também traz propostas de um tratamento mais humano, sendo
um movimento importante na participação da comunidade junto aos familiares, na
reivindicação para uma melhoria na assistência ao enfermo mental e no resgate da
cidadania.
No século XX surgiram as formas terapêuticas biológicas como a malarioterapia
(inoculação do agente infeccioso), balnoterapia (terapia com banhos), insulinoterapia
(para causar hipoglicemia), clinoterapia (repouso no leito) e lobotomia (retirada de parte
do cérebro), todas em desuso atualmente, permanecendo a eletroconvulsoterapia, que
com muitas controvérsias sobrevive como alternativa de último recurso no tratamento a
pacientes psiquiátricos graves. Os doentes mentais eram isolados da família,
aprisionados em quartos ou celas fortes ou porões sob vigilância da enfermagem.
Em 1952, a psiquiatria obteve um grande avanço no tratamento em contenção
química com o antipsicótico clorpromazina na França, hoje em uso também no Brasil, e
do Lítium Li, hoje utilizado de forma restrita quanto a sua toxicidade como
estabilizador do humor, embora altamente potente nos transtornos afetivos como um
todo. Com esses marcos de tratamento químico, houveram significativos resultados na
psiquiatria como o retorno de muitos à sociedade, diminuição dos internamentos e
melhoria na qualidade de vida dos doentes mentais.
Também em 1952, uma enfermeira norte-americana (Hildegard Peplau),
preconiza o relacionamento terapêutico enfermeiro-paciente como instrumento básico
da assistência de enfermagem psiquiátrica. O enfoque da assistência que até então se
centrava aos cuidados de higiene, limpeza e proteção passam a abordagem nas relações
interpessoais. Dá início a uma época onde a criação e a manutenção de um ambiente
terapêutico nas instituições humaniza a assistência. A equipe de enfermagem passa a ser
conhecida e cobrada sua efetiva participação no tratamento global ao paciente a nível
hospitalar assim como extra-hospitalar.
No século XIX para o século XX, Kraepelin e Freud, trazem a evolução natural
das doenças, como formas de demências, esquizofrenias, distúrbios maníaco-
depressivos, assim como a evolução na prática clínica terapêutica de observação e
evolução.
No Brasil, paralelamente a todo este processo, a política com relação ao
tratamento dos transtornos mentais permaneceu sempre “atrelada” ao modelo europeu
do século XIX, centrado no isolamento dos psicopatas ou indivíduos suspeitos,
toxicômanos e intoxicados habituais em instituições fechadas, mesmo quando tal
modelo tornou-se ultrapassado em muitos outros países
No Brasil, em 1543 é criada a Santa casa de Misericórdia de Santos-Sp com o
intuito de acolher e diminuir o sofrimento. Em 1852 foi criado no RJ o Hospital Pedro
II visando remover, excluir e sanear e em 1890 foi criado em SP o Asilo dos Alienados
para tratar a doença mental. Em Olinda (1860) foi criado o Hospício Santa Casa..
Portanto, desde a época colonial (1500-1822) os doentes mentais brasileiros ou os que
aqui residiam, não possuíam assistência e eram enclausurados, isolados em porões ou
quartos fortes nas Casas de Misericórdia.
O século XX foi um marco histórico nas lideranças das Reformas Psiquiátricas no
Brasil, onde ainda “se isolavam os loucos”. Ulysses Pernambucano propunha atender
em domicílio antes da crise e após a alta, como busca do diagnóstico precoce e
hospitalizações curtas com o propósito de promover uma maior readaptação social e
cultural aos portadores de doença mental da época.
Ainda em 1930 tínhamos a eletroconvulsoterapia (ECT), a insulinoterapia e a
lobotomia.
Porém em 1941, as políticas de assistência psiquiátrica ainda eram marcadas,
pelos investimentos nos hospitais psiquiátricos, no aumentos de leitos e de asilos no
país, colocando o doente mental mais distante de sua família e do seu contexto, o
excluindo e o rotulando cada vez mais sem nenhuma perspectiva de reabilitação ainda
evidente. Tornando-se cada vez mais evidente na década de 60, com os crescentes
manicômios, de caráter segregatório e lucro sobre as hospitalizações.
Hoje a psiquiatria e a saúde mental ajudam os pacientes nas suas mais diversas
causas (biológicas, genéticas, psicológicas e sociais), nas mais diversas formas de
adoecer, com intuito de internamentos raros e curtos, melhorando suas adesões na rede
ambulatorial, Centros de Atenção Psicossoacial (CAPS), Hospitais Dia, Residências
Terapêuticas, Equipe de Ação Avançada em Saúde Mental, Albergues Terapêuticos,
projeto Re-habitar e de Volta Para Casa, na busca de diagnósticos e métodos de
tratamentos ressocializantes, psicoterapêuticos e biológicos (medicamentoso), na
melhoria da qualidade de vida dos portadores de transtorno mental, de seus familiares,
da comunidade e da sociedade como um todo.