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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Universidade Federal de Alfenas - Unifal-MG


Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 - Alfenas/MG - CEP 37130-000
Fone: (35) 3299-1000 - Fax: (35) 3299-1063

ANÁLISE FUNCIONAL E APLICAÇÕES

FRANCO BASSI ROCHA

Alfenas, MG
2010
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Universidade Federal de Alfenas - Unifal-MG
Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 - Alfenas/MG - CEP 37130-000
Fone: (35) 3299-1000 - Fax: (35) 3299-1063

ANÁLISE FUNCIONAL E APLICAÇÕES

FRANCO BASSI ROCHA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado por


exigência para obtenção do tı́tulo de licenciado em
Matemática pela Universidade Federal de Alfenas. Área
de concentração: Análise. Orientador: Prof. Dr. José
Paulo Carvalho dos Santos

Alfenas, MG
2010
Franco Bassi Rocha

Análise Funcional e Aplicações


A banca examinadora abaixo-assinada,
aprova o trabalho de conclusão de curso
apresentado como parte dos requisitos para
obtenção do certificado de conclusão do
curso de Licenciatura em Matemática pela
Universidade Federal de Alfenas.

Aprovado em: de de 2010.

Prof. Dr. José Paulo Carvalho dos Santos


Orientador

Prof. Dr. Evandro Monteiro


Universidade Federal de Alfenas

Prof. Dr. José Claudinei Ferreira


Universidade Federal de Alfenas
Agradecimentos

Agradeço primeiramente ao mestre de todos mestres, Deus, por ter me dado forças
suficientes para que eu suportasse todas as dificuldades que foram impostas durante esses
quatro anos de luta profunda. Essa conquista só foi concretizada graças a presença de Jesus
em minha vida.
Agradeço aos meus mestres da vida, Maria Olenca Bassi Rocha e Indalécio Rocha Júnior
por me darem todo o incentivo e apoio durante o curso. Foi através das suas lições de vida
que eu me tornei um cidadão de bem. Esse diploma é de vocês!
Agradeço a minha noiva Fernanda, pelo incondicional apoio nas horas difı́ceis, pela
compreensão nas horas em que estive ausente e por ter sido minha fortaleza na hora em
que eu mais precisei. Esse tı́tulo também é seu!
Á minha avó Ana (ausente) pelo incentivo em seguir a carreira de docência.
Agradeço ao corpo docente da Faculdade de Licenciatura em Matemática da Univer-
sidade Federal de Alfenas-MG, em especial ao Prof. Dr. José Paulo Carvalho dos Santos
por toda a dedicação, paciência e prontidão ao nossos vários encontros.
Agradeço aos meus grandes amigos Fausto, Rodrigo, Julio, Gilberto, Jarne e Almir por
esses quatro anos de convivência e aprendizado ao lado de vocês.

1
Resumo
O presente trabalho é uma Introdução à Análise Funcional e suas aplicações. O desen-
volvimento desta área deu-se, em consequência direta da fertilidade de suas aplicações em
diversas áreas Matemáticas, especialmente as Equações Diferenciais Ordinárias, Equações
Diferenciais Parciais, Equações Diferenciais Integrais, além da estreita interação com a
Fı́sica, dentre outras áreas da Ciência. O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo
introdutório dos Espaços Normados de dimensão infinita, em particular, a teoria de oper-
adores lineares em espaços normados, Teorema do ponto fixo de Banach e o Princı́pio da
Limitação Uniforme para operadores Lineares Limitados.
Palavras chave: Análise Funcional. Operadores Lineares. Ponto Fixo de Banach. Princı́pio
da Limitação Uniforme

2
Abstract
This work is an Introduction to Functional Analysis and its applications. The develop-
ment of this area gave up, as a direct result of the fertility of their applications in various
areas mathematics, especially Ordinary Differential Equations, Partial Differential Equa-
tions, Integral Equations, in addition to close interaction with physics, among other areas
of science. The main objective this work was an introductory study of normad spaces of
infinite dimension, in particular, the theory of linear operators in normed spaces, fixed
point theorem of Banach and Principle of Limitation Uniform bounded linear operators.
Words key: Functional analysis. Linear operators. Banach fixed point. Principle of
uniform boundedness.

3
Sumário
Introdução 5

1 Teoria Preliminar de Espaços Métricos 6


1.1 Bolas nos Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Conjuntos Abertos e Fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3 Distância de um Ponto a um Conjunto e Distância entre dois Conjuntos . . 16
1.4 Isometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.5 Sequências Convergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.6 Sequências Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.7 Caracterização de Conjuntos e Pontos através de Sequências . . . . . . . . 24
1.8 Limite de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.9 Funções Contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.10 Continuidade e Conjuntos Abertos e Fechados . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.11 Homeomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
1.12 Espaços Topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.13 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.14 Métricas Uniformemente Equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
1.15 Sequências de Cauchy - Espaços métricos completos . . . . . . . . . . . . . 45

2 Análise Funcional 55
2.1 O Teorema de Baire . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.2 Completamento de Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.3 O Teorema do Ponto Fixo de Contrações em Espaços Métricos (Teorema do
Ponto Fixo de Banach) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.4 Espaços Topológicos Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2.5 Espaços Localmente Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
2.6 Espaços Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.7 Compacidade em Espaços Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
2.8 Espaços Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
2.9 Operadores Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
2.10 Princı́pio da Limitação Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
2.11 Teorema da Aplicação Aberta e Gráfico Fechado . . . . . . . . . . . . . . . 82
2.12 Teorema do Gráfico Fechado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

3 Semigrupos 83
3.1 Aspectos Básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

Conclusão 86

4
Introdução
Em matemática, a dimensão de um espaço é o número de parâmetros necessários
para identificar e representar um ponto desse espaço. A Análise Funcional é o ramo da
matemática, e mais especificamente da Análise, que trata do estudo dos espaços Vetoriais de
dimensão infinita. Tem suas raı́zes históricas no estudo de transformações tais como trans-
formada de Fourier e no estudo das Equações Diferenciais e Equações Integrais. Seu uso
em geral está atribuı́do a Volterra. Um grande impulso para o avanço da Análise Funcional
durante o século XX foi a modelagem, devida a John Von Neumann, da Mecânica Quântica
em espaços de Hilbert. A Análise Funcional faz uso de muitos conceitos de Álgebra Linear.
Durante o século XX diversas técnicas da Topologia foram introduzidas, principalmente a
teoria do grau. Assim, a generalização da Álgebra Linear e a introdução da Topologia re-
sultará nos dois pilares básicos da Análise Funcional. Para extrairmos apenas o conceito de
distância (e, portanto, de convergência) separadamente de estruturas algébricas peculiares,
definiremos axiomaticamente um objeto matemático chamado Espaço Métrico, isto é, um
conjunto onde há uma maneira de se medir a distância entre dois elementos quaisquer dele.
Com isto, poderemos tratar especificamente da Teoria de Convergência independentemente
de outras estruturas que eventualmente possam ocorrer no referido conjunto. A definição
de Espaço Métrico reune os dois ingredientes básicos da Análise Funcional; um conceito
de convergência e uma noção geométrica, esta última ainda em uma forma muito simples.
Este objeto matemático abstrato foi introduzido pelo famoso matemático francês Maurice
Fréchet (1878-1973) na sua tese de doutoramento, escrita sob orientação de Henri Lebesgue
(1875-1941), em 1906.
Neste trabalho fazemos um estudo introdutório da Teoria de Análise Funcional. No
Capı́tulo inicial fazemos uma revisão dos principais conceitos da Teoria de Espaços Met-
ricos. Neste Capı́tulo estudamos bolas nos espaços métricos, conjuntos abertos e fecha-
dos, distâncias de ponto a conjuntos e distância entre conjuntos, Isometrias, Sequências,
Continuidade, Continuidade Uniforme, Conjuntos Conexos, Completamento de espaços
métricos e Conjuntos Compactos. E finalmente no segundo capı́tulo atacamos o objetivo
principal do trabalho que foi o estudo dos espaços Normados de dimensão infinita. Iremos
estudar também Compacidade em Espaços normados, Espaços Separáveis, Operadores Lin-
eares e o Princı́pio da Limitação Uniforme.

5
1 Teoria Preliminar de Espaços Métricos
Para esta seção utilizamos como referência KUHLKAMP (2002).
Antes de começarmos a apresentar a definição formal de espaço métrico, apresentaremos
informalmente este conceito. Para isso, observamos que a própria palavra métrica nos
sugere a idéia de medida.
Um dos exemplos mais intuitivos (que usaremos apara motivar a definição de métrica)
é certamente o plano R2 , onde a distância entre dois pontos é o comprimento do segmento
de reta que os une. Seja d a distância e A e B pontos distintos. Essa distância satisfaz as
seguintes propriedades

(a) d > 0 e d = 0 ⇔ A = B

(b) d(A, B) = d(B, A)

(c) d satisfaz a desigualdade triangular

A observação acima sugere a seguinte definição

Definição 1.1 Seja M um conjunto. Uma métrica num conjunto M é uma função d :
M × M → R+ tal que associa a cada par ordenado de elementos x, y ∈ M um número real
d(x,y) chamado de distância de x a y de modo que sejam satisfeitas as seguintes condições
para x, y, z ∈ M

(a) d(x, x) = 0;

(b) Se x 6= y então d(x, y) > 0;

(c) d(x, y) = d(y, x);

(d) d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).

Exemplo 1.1 A métrica zero-um. Qualquer conjunto M pode tornar-se um espaço métrico
de maneira muito simples. Basta definir a métrica d : M × M → R+ com d(x, x) = 0 e
d(x, y) = 1 se (x 6= y). De fato

(a) d(x, x) = 0

(b) d(x, y) = 1

(c) d(x, y) = d(y, x)

(d) Se x=z temos que d(x, z) = 0 ≤ d(x, y) + d(y, z). Se x 6= z temos que d(x, z) = 1 o
que não pode ocorrer x=y e y=z simultaneamente. Logo,

1 = d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) = 1 se x=y ou y=z

1 = d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) = 2 se x 6= y ou y 6= z

6
Definição 1.2 O par (M,d) onde M é um conjunto e d uma métrica em M será chamado
espaço métrico.

Observação 1.1 Quando a métrica d for facilmente subentendida, podemos escrever ape-
nas M para indicar o espaço métrico (M,d).

Exemplo 1.2 Consideremos o conjunto dos números reais R e d(x, y) = |x−y|. Mostraremos
que d é uma métrica em R.

(a) Se x 6= y então |x − y| > 0 e se x=y então |x − y| = 0

(b) d(x, y) = |x − y| = | − (y − x)| = |y − x| = d(y, x)

(c) |x − z| = |x − y + y − z| ≤ |x − y| + |y − z| ⇒ d(x, z) ≤ d(x, y) + d(x, z)

Logo, d é uma métrica em R. Sendo assim (R, d) é um espaço métrico.

Definição 1.3 Uma norma num espaço vetorial V é uma função k.k : V → R tal que para
quaisquer u, v ∈ V e λ escalar se tenha

(a) kvk ≥ 0 e kvk = 0 ⇔ v = 0

(b) kλvk = |λ|kvk

(c) ku + vk ≤ kuk + kvk

onde |λ| é o valor absoluto do escalar λ.

Exemplo 1.3 Dado um espaço vetorial normado V, obtemos imediatamente uma métrica
em v definindo d : V × V → R por d(u, v) = |u − v|.

(a) d(u, u) = ku − uk = 0

(b) d > 0 pois ku − vk > 0

(c) d(u, v) = ku − vk = k − (v − u)k = kv − uk = d(u, v)

(d) d(u, z) = ku − zk = ku − y + y − zk ≤ ku − yk + ky − zk = d(u, y) + d(y, z)

Vimos que a partir de uma norma obtemos uma métrica. A partir de um produto interno
obteremos uma norma. lembrando que um produto interno num espaço vetorial real V é
uma função <, >: V × V → R tal que para quaisquer u, v, w ∈ V e λ escalar se tenha

(a) < v, v > ≥ 0 e < v, v >= 0 ⇔ v = 0

(b) < u, v > = < v, u >

(c) < u + v, w > = < u, w > + < v, w >

(d) < λu, w > = λ< u, v >

7

Para obter uma norma através de um produto interno colocamos kvk = < v, v >.
Verifiquemos que as propriedades da definição de norma são satisfeitas por esta função.
√ √
(a) kvk = < v, v > ≥ 0 e kvk = 0 ⇔ < v, v > = 0 ⇔ v = 0
√ √ √
(b) kλvk = < λv, λv > = λ < v, v > = |λ| < v, v > = |λ|kvk
(c) Para provar que ku + vk ≤ kuk + kvk necessitamos do seguinte resultado
Lema 1.1 (Desigualdade de Cauchy-Schwarz). Seja V um espaço vetorial com produto
interno. Então k < u, v > k ≤ kukkvk para todo u, v ∈ V .
Demonstração: Dados u, v ∈ V , com u 6= 0 temos
< u, v > < u, v >
<v− 2
,v − >≥ 0
kuk kuk2
logo,
< u, v >< u, v > < u, v >< u, v > < u, v >2 < u, u >
< v, v > − − + ≥0
kuk2 kuk2 kuk4
daı́, segue que
< u, v >2 < u, v >2 kuk2
kvk2 − 2 + ≥0
kuk2 kuk4
assim
< u, v >2
kvk2 − ≥ 0 (multiplicando essa expressão por kuk2 )
kuk2
conclui-se que
kvk2 kuk2 − < u, v >2 ≥ 0 ⇒ kvkkuk ≥< u, v >.
Vamos agora provar que ku + vk ≤ kuk + kvk. De fato,
ku + vk2 =< u + v, u + v >=< u, u > +2 < u, v > + < v, v >
ku + vk≤ kuk2 + 2k < u, v > k + kvk2
ku + vk2 ≤ kuk2 + 2kukkvk + kvk2 = (kuk + kvk)2
logo,
ku + vk ≤ kuk + kvk.
Uma maneira simples e muito importante de obter espaços métricos é considerar um
subconjunto de um espaço métrico e tomar a distância entre seus pontos a mesma do espaço
original. Em outros termos, se (M, d) é um espaço métrico, todo subconjunto S ⊂ X pode
ser considerado um espaço métrico. Basta usar para os elementos de S a mesma distância
que eles possuiam como elementos de M . Neste caso, dizemos que S é subespaço de M e
a métrica de S se diz-se induzida pela de M .
Definição 1.4 Se(M, d) é um espaço métrico e X ⊂ M , então (X, d) é chamado subespaço
de (M, d).

8
1.1 Bolas nos Espaços Métricos
Definição 1.1.1 Sejam M um espaço métrico, a ∈ M , r > 0.

(a) Chamaremos de bola aberta de centro a e raio r ao conjunto

B(a; r) = {x ∈ M ; d(a, x) < r}.

(b) Chamaremos de bola fechada de centro a e raio r ao conjunto

B[a; r] = {x ∈ M ; d(a, x) ≤ r}.

(c) A esfera de centro a e raio r será o conjunto

S(a; r) = {x ∈ M ; d(a, x) = r}.

Se X ⊂ M é um subespaço de M e a ∈ X, as bolas aberta e fechada de centro a e raio r


em X serão indicadas respectivamente por Bx (a; r) e Bx [a; r] enquanto a esfera de centro
a e raio r será indicada por Sx (a; r).
p
Exemplo 1.1.1 Consideremos o plano R2 e as métricas d(x, y) = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 ,
d1 (x, y) = |x1 − y1 | + |x2 − y2 | e d2 (x, y) = max{|x1 − y1 |, |x2 − y2 |} onde x = (x1 , x2 ) e
y = (y1 , y2 ).

As bolas B[0; 1] relativamente as métricas d, d1 e d2 possuem respectivamente as formas


das figuras abaixo.

Figura 1: métrica d Figura 2: métrica d1 Figura 3: métrica d2


p
Para a métrica d temos que d(x, a) ≤ 1 ⇒ (x1 − 0)2 + (x2 − 0)2 ≤ 1 ⇒ x21 + x22 ≤ 1.
Note que a expressão anterior é uma circunferência de centro em (0, 0) e raio r ≤ 1. Para
a métrica d1 temos que |x1 − a1 | + |x2 − a2 | ≤ 1 ⇒ |x1 | + |x2 | ≤ 1, que é um quadrado de
diagonais paralelas aos eixos coordenados de comprimento ≤ 2. Para a métrica d2 temos
que max{|x1 − a1 |, |x2 − a2 |} ≤ 1 ⇒ max{|x1 |, |x2 |} ≤ 1. Daı́, segue que

|x1 | ≤ 1 e |x2 | ≤ 1 ⇒ −1 ≤ x1 ≤ 1 e −1 ≤ x2 ≤ 1.

Note que a figura definida por essa expressão será um quadrado de lado ≤ 2.

9
Definição 1.1.2 Um subconjunto X de um espaço métrico M é dito limitado quando for
possı́vel obter K > 0 tal que

d(x, y) ≤ K, ∀x, y ∈ M .

Observe que um conjunto X ⊂ M é limitado se, e somente se, X ⊂ B[a; r], para alguma
bola B[a; r] de M . De fato, se X ⊂ B[a; r] para algum a ∈ M e r > 0, então dados x, y ∈ X
temos d(x, y) ≤ d(x, a) + d(y, a) ≤ r + r = 2r. Logo, se X ⊂ B[a; r], então X é limitado.
Por outro lado, se X é limitado, isto é, se existir K > 0 tal que

d(x, y) ≤ K

para quaisquer x, y ∈ X, então dado a ∈ X, tomamos r = K e teremos que d(x, a) ≤ K = r,


∀x ∈ X, isto é X ⊂ B[a; r].

Definição 1.1.3 Diremos que o espaço métrico M é limitado, ou que a métrica d é limi-
tada, se existir K > 0 tal que

d(x, y) ≤ K, ∀x, y ∈ M .

Definição 1.1.4 Seja X ⊂ R. Se existir a ∈ R tal que x ≤ a ∀x ∈ X, dizemos que X é


limitado superiormente e que a é cota superior de X.

Definição 1.1.5 Seja X ⊂ R limitado superiormente. Um número b é dito supremo de


X, quando é a menor das suas cotas superiores. Notação: sup X

Dado um conjunto X ⊂ R limitado superiormente, para que b ∈ R seja o supremo de


X é necessário e suficiente que se tenha

(a) x ≤ b ∀x ∈ X;

(b) Se x ≤ c ∀x ∈ X, então b ≤ c.

Definição 1.1.6 Seja X ⊂ R. Se existir a ∈ R tal que a ≤ x ∀x ∈ X, dizemos que X é


limitado inferiormente e que a é cota inferior de X.

Definição 1.1.7 Seja X ⊂ R limitado inferiormente. Um número b é dito ı́nfimo de x,


quando é a maior das suas cotas inferiores. Notação: inf X.

Dado um conjunto X ⊂ R, limitado inferiormente, para que b ∈ R seja o ı́nfimo de X é


necessário e suficiente que sejam preenchidas as condições

(a) b ≤ x, ∀x ∈ X;

(b) se c ≤ x ∀x ∈ X, então c ≤ b.

Antes de definir o diâmetro de um subconjunto X admitiremos como axioma o seguinte


fato de que todo conjunto limitado X ⊂ R possui supremo e ı́nfimo em R, isto é, existem
a, b ∈ R, tais que a = inf X e b = supX.

10
Definição 1.1.8 Seja X um subconjunto limitado de um espaço métrico M . Chamamos
diâmetro de X ao supremo dos números d(x, y) com x, y ∈ X. Em outros termos temos

diam X = sup d(x, y) onde x, y ∈ X.

Definição 1.1.9 Sejam X e Y subconjuntos não vazios de um espaço métrico M . Iremos


definir a distância entre X e Y como sendo o ı́nfimo das distâncias d(x, y) com x ∈ X e
y ∈ Y . Notação: d(X, Y ).

1.2 Conjuntos Abertos e Fechados


Definição 1.2.1 Seja A um subconjunto de um espaço métrico M . Um ponto a ∈ A é
chamado ponto interior de A se existir r > 0 tal que B(a; r) ⊂ A.

Geometricamente, temos

Figura 4: ponto interior

Observe que a é um ponto interior de A pois a bola B(a; r) ⊂ A. Agora, note que b não é
um ponto interior de A pois a bola B(b; r1 ) 6⊂ A, qualquer que seja r1 > 0. Diremos que A
é um conjunto aberto em M quando todo ponto de A for ponto interior de A. O conjunto
de todos os pontos interiores de A será chamado de interior de A e denotado por int A.

Exemplo 1.2.1 Seja X = {(x, y) ∈ R2 ; x > 1}. Mostraremos que X é um conjunto


aberto.

De fato, dado (a, b) ∈ X temos que a > 1. Tomando r = a − 1 > 0 teremos que B =
B((a, b); r) ⊂ X. De fato, se (x, y) ∈ B teremos

d((x, y), (a, b))< r.

Em particular,
p
|x − a| ≤ (x − a)2 + (y − b)2 < r ⇒ |x − a| < r.

Dai segue que

a − r < x < a + r ⇒ x ∈ (a − r, a + r) ⇒ x ∈ (1, 2a − 1)

11
o que concluı́mos que x > 1 e (x, y) ∈ X. Logo B ⊂ X. Disto conclui-se que X é aberto.

Observação 1.2.1 Segue imediatamente da definição de conjunto aberto que A = {a} ∈


M é aberto se e somente se existir r > 0 tal que B(a; r) = {a}. Isso motiva a seguinte
definição

Definição 1.2.2 Quando {a} é um conjunto aberto em M dizemos que a é um ponto


isolado. Se todo a ∈ M é isolado, M é dito discreto.

Como exemplo da definição acima podemos citar os espaços métricos M1 = N e M2 = Z,


ambos com a métrica induzida pela métrica usual de R, são espaços métricos discretos, isto
é, dado a ∈ Z ou a ∈ N, a é um ponto isolado. De fato, tanto em Z como em N temos por
exemplo B(a; 1) = {a}.

Definição 1.2.3 Seja A um subconjunto de um espaço métrico M . Um ponto b ∈ M é


dito ponto de fronteira de A se para todo r > 0, a bola B(b; r) contiver algum ponto de A
e também algum ponto de M − A. Geometricamente,

Figura 5: ponto de fronteira

Ao conjunto de todos os pontos de fronteira de A, chamamos de fronteira de A e denotare-


mos por ∂A.

Observação 1.2.2 Um conjunto é aberto se A ∩ ∂A = ∅.

Exemplo 1.2.2 Consideremos novamente o conjunto X = {(x, y) ∈ R2 ; x > 1}. Defina a


fronteira de X.

A fronteira do conjunto X é ∂X = {(x, y) ∈ R2 ; x = 1}. De fato, para qualquer y ∈ R e


r
qualquer r > 0 temos B((1, y); r) ∩ X 6= ∅ pois (1 + , y) ∈ B((1, y); r) ∩ X e B((1, y); r) ∩
2
(R2 − X) 6= ∅ pois (1, y) ∈ B((1, y); r) ∩ (R2 − X).

Teorema 1.2.1 Seja B = B(a; r) uma bola aberta num espaço métrico M e t ∈ B. Então
existe s > 0 tal que B(t; s) ⊂ B.

Demonstração: Como t ∈ B, temos que d(t, a) < r, ou seja, s = r − d(t, a) > 0.


Consideremos então a bola B(t; s) e mostremos que B(t; s) ⊂ B. De fato, se w ∈ B(t; s)
então d(w, t) < s. Logo,

12
d(w, a) ≤ d(w, t) + d(t, a) ⇒ d(w, a) < s + d(t, a) = r.

Logo, w ∈ B e B(t; s) ⊂ B. A figura abaixo nos traz a idéia geométrica deste Teorema e
sua demonstração

Figura 6: teorema1.2.1

Corolário 1.2.1 Toda bola aberta é um conjunto aberto.

Teorema 1.2.2 Seja M um espaço métrico.

(a) M e ∅ são abertos;

(b) Se A1 , A2 , . . . , An são abertos, então A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An é aberto;

(c) Se {Aλ }λ∈L é uma famı́lia arbitrária de abertos, então A = ∪Aλ , com λ ∈ L é aberto.

Demonstração:(a) M é aberto pois todo ponto de M é ponto interior de M , ou seja,


existe m ∈ M tal que B(m; r) ⊂ M . O conjunto vazio é aberto pois como o conjunto vazio
não possui elemento, não pode existir elemento não esteja no seu interior. Para mostrar
(b) seja B = A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An . Se B = ∅, então ∅ = A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An ⇒ A1 , . . . , An são
vazios. logo A1 , . . . , An são abertos. Se B 6= ∅ tomemos a ∈ B e mostremos que a ∈ intB.
Como a ∈ B temos que a ∈ A1 , . . . , a ∈ An . Como A1 , A2 , . . . , An são abertos existem
números positivos r1 , r2 , . . . , rn tais que B(a; r1 ) ⊂ A1 , B(a; r2 ) ⊂ A2 , . . . , B(a; rn ) ⊂ An .
Tomando r =mı́n{r1 , r2 , . . . , rn } temos

B(a; r) ⊂ B(a; r1 ), . . . , B(a; r) ⊂ B(a; rn ) ⇒ B(a; r) ⊂ A1 , . . . , B(a; r) ⊂ An

ou seja

B(a; r) ⊂ A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An = B ⇒ B(a; r) ⊂ B

logo, a ∈ intB. Para mostrar o item (c) seja a ∈ A. Então a ∈ Aλ para pelo menos um
λ ∈ L. Como a ∈ Aλ é aberto, existe r.0 tal que B(a; r) ⊂ Aλ . Logo B(a; r) ⊂ ∪Aλ = A.
Logo A é aberto.

13
Definição 1.2.4 Um subconjunto F de um espeço métrico M é dito fechado quando seu
complementar M − F for aberto.

Exemplo 1.2.3 Mostre que toda bola fechada B[a; r] num espaço métrico M é um conjunto
fechado em M .

De fato, inicialmente definimos a situação descrita pela figura abaixo e mostremos que o
conjunto A = M − B[a; r] é aberto em M . Se b ∈ A então s = d(a, b) − r > 0. Note
que z ∈ B(b; s) ⇒ d(z, b) < s. Note também que d(a, b) ≤ d(a, z) + d(z, b) ⇒ d(a, z) ≥
d(a, b) − d(z, b) ⇒ d(a, z) ≥ (s + r) − s ⇒ d(a, z) > r ⇒ x 6∈ B[a; r] ⇒ x ∈ A. logo
B(b; s) ⊂ A. Portanto A é aberto.

Figura 7: idéia geométrica do exemplo1.2.3

Lema 1.2.1 Sejam M e L dois conjuntos arbitrários. Para cada λ ∈ L seja Bλ um


subconjunto de M . Então
[ \
(a) Bλ = M − (M − Bλ );
λ∈L λ∈L
\ [
(b) Bλ = M − (M − Bλ ).
λ∈L λ∈L

[
Demonstração:(a) Dado x ∈ Bλ temos que x ∈ Bλ0 para algum λ0 e consequentemente
\ λ∈L \
x 6∈ (M − Bλ0 ) onde x 6∈ (M − Bλ ) e assim x ∈ M − (M − Bλ ). Reciprocamente, se
\ λ∈L \ λ∈L
x∈M− (M − Bλ ), então x 6∈ (M − Bλ ) donde x 6∈ (M − Bλ0 ) para algum λ0 ∈ L,
λ∈L [ λ∈L \
ou seja, x ∈ Bλ0 , e assim x ∈ Bλ . Para provar o item (b) seja x ∈ Bλ e assim temos
λ∈L λ∈L [
que x ∈ Bλ0 para algum λ0 ∈ L. Deste fato temos que x 6∈ (M − Bλ0 ) ⇒ x 6∈ (M − Bλ )
[ [λ∈L
e assim temos que x ∈ M − (M − Bλ ) o que podemos observar que x 6∈ (M − Bλ ) ⇒
λ∈L \ λ∈L
x 6∈ (M − Bλ0 ) para algum λ0 ∈ L, ou seja, x ∈ Bλ0 ⇒ x ∈ Bλ .
λ∈L

14
Teorema 1.2.3 Seja M um espaço métrico.

(a) M e ∅ são fechados;


S S S
(b) Se F1 , F2 , . . . , Fn são conjuntos fechados então F1 F2 ...
Fn é fechado;
T
(c) Se {Fλ }, λ ∈ L é uma famı́lia arbitrária de conjuntos fechados, então Fλ é fechado.

Demonstração: Pelo teorema anterior segue que o complementar de M que é o conjunto


∅ é aberto, o que conclui-se que M é fechado. Para provar que ∅ é fechado basta provar
que seu complementar M é aberto, fato este garantido pelo teorema anterior. Isto conclui
a prova do item (a). Para provar o item (b) temos pelo lema 1.2.1 que
S S T T
F1 ... Fn = M − (M − F1 ) ... (M − Fn )

sendo F1 , . . . , FTn fechados


T e M − F1 , . . . , M − Fn abertos e assim,
S S pelo teorema anterior
A = (M − F1 ) . . . (M − Fn ) é aberto. Logo, o conjunto F1 . . . Fn é fechado por ser
oTcomplementar S do aberto A. Para provar o item (c) temos, também pelo lema 1.2.1 que
Fλ = M − S(M − Fλ ), λ ∈ L, sendo os Fλ fechados e os M − FλSabertos e assim T pelo
teorema 1.2.2 (M − Fλ ) é aberto. Logo, seu complementar M − (M − Fλ ) = Fλ é
fechado.

Definição 1.2.5 Seja X um subconjunto de um espaço métrico M . Um ponto a ∈ M


é chamado ponto de acumulação de X se para todo r > 0 a bola B(a; r) contiver algum
ponto de X diferente de a. Ao conjunto de todos os pontos de acumulação de X é chamado
derivado de X e denotado por X 0 .

Definição 1.2.6 Dado um subconjunto X de um espaço métrico M , chamaremos fecho de


X ao conjunto obtido pela união de X aos seus pontos de acumulação e será denotado por
X = X ∪ X0

Exemplo 1.2.4 Consideremos o conjunto dos números reais R e seu subconjunto Q dos
números racionais. Vamos Mostrar que Q0 = R.

De fato, dado um número real a, para provar que a ∈ Q0 devemos mostrar que toda bola
aberta B(a; r) contém algum ponto de Q − {a}. Seja r > 0, a bola B(a; r) é o intervalo
(a − r, a + r). Para encontrar um racional (diferente de a) neste intervalo, dividiremos a
reta R em intervalos de extremos racionais e comprimento menor do que r, e mostraremos
que um dos extremos desses intervalos está em (a − r, a + r) e é diferente de a. Como o
conjunto dos números naturais é ilimitado, existe um natural K > 1r e assim K1 < r. Os
números da forma n K1 = Kn com n ∈ Z são números racionais e dividem a reta em intervalos
de comprimento K1 conforme figura abaixo.
Fazendo A = {n ∈ Z; Kn < a + r} e tomando p=supA=máxA teremos
p p+1
K
<a+r ≤ k

logo,

15
1
Figura 8: reta com intervalos de comprimento de K

p+1 p 1 p
0≤ K
−r = K
+ K
−r < K

p
Isso Mostra que K
∈ (a; a + r) ∩ Q ⊂ (a − r; a + r) ∩ (Q − {a}) e assim a ∈ Q0 . Portanto
Q0 = R.

Teorema 1.2.4 O fecho de qualquer conjunto é sempre um conjunto fechado.

Demonstração: Seja M um espaço métrico e X ⊂ M . Para mostrar que X é fechado,


mostraremos que M − X é aberto. Dado um ponto a ∈ M − X temos que a 6∈ X = X ∪ X 0 .
Logo existe r > 0 tal que B(a; r) ∩ X = ∅ ou seja, B(a; r) ⊂ M − X. Queremos mostrar
que B(a; r) ⊂ M − X. Para tanto, observemos que se y ∈ B(a; r) então y é centro de uma
bola aberta B(y; s) contida em B(a; r) e disjunta de X. Isto é,

B(y; s) ⊂ B(a; r) ⊂ M − X.

Logo, y 6∈ X e temos B(a; r) ∩ X = ∅ ⇒ B(a; r) ⊂ M − X o que mostra M − X ser aberto.

Teorema 1.2.5 Um conjunto é fechado se e somente se F = F .

Demonstração: Seja F = F . Do Teorema anterior temos que F é fechado. Logo,


concluı́mos que F é fechado. Reciprocamente, suponhamos F fechado. Então o seu com-
plementar M − F é aberto. Logo, dado a ∈ M − F existe r > 0 tal que B(a; r) ⊂ M − F
ou seja, B(a; r) ∩ F = ∅. Desta forma segue que a 6∈ F . Mostramos então que F não tem
elemento algum em M − F , ou seja, F ⊂ F . Como F = F ∪ F 0 temos F ⊂ F . Portanto
F = F como querı́amos.

1.3 Distância de um Ponto a um Conjunto e Distância entre dois


Conjuntos
Definição 1.3.1 Seja a um ponto e X um subconjunto não vazio de um espaço métrico
M . Definiremos a distância do ponto a ao conjunto X como o número real

d(a, X) = inf d(a, x), x ∈ X.

Exemplo 1.3.1 Se X = {x1 , x2 , . . . , xn } é um conjunto finito, então d(a, X) é o menor


dos n números d(a, x1 ), . . . , d(a, xn ).

Exemplo 1.3.2 Seja S1 = {(x, y) ∈ R2 /x2 + y 2 = 1}. O cı́rculo unitário do plano e


(0, 0) ∈ R2 . Então d(0, z) = 1 para todo z ∈ S1 . Logo d(0, S1 ) = 1.

16
 
1 1
Exemplo 1.3.3 Consideremos sobre R a métrica usual. Se p = 0 e A = 1, , , . . .
2 3
então d(p, A) = 0.

De fato, dado  > 0, sempre existe n ∈ N∗ de maneira que


 
1 1 1
d 0, = − 0 = < .
n n n
   
1 1
Logo, d(0, A) = inf d 0, = , r ∈ N∗ = 0, isto é, d(0, A) = 0.
r r

Definição 1.3.2 Seja (M, d) um espaço métrico. Dados os subconjuntos A e B de M ,


ambos não vazios, chama-se distância de A até B e indica-se por d(A, B) o número real
não negativo definido da seguinte maneira

d(A, B) = inf {d(x, y)/x ∈ A, y ∈ B}.

Exemplo 1.3.4 Consideremos o R2 dotado da métrica usual. Mostremos que a distância


entre A = {(x, y) ∈ R2 /y = 0} e B = {(x, y) ∈ R2 /xy = 1} é nula.

De fato, precisamos mostrar que dado  > 0, existe p ∈ A e q ∈ B de maneira que


1
d(p, q) < . Ora, dado  > 0, existe um número natural n > 0 de modo que < . Daı́,
  n
1
tomando p = (n, 0) e q = n, teremos
n
q 1
d(p, q) = (n − n)2 + (0 − n1 )2 = < .
n
Logo, d(A, B) = 0.

1.4 Isometria
Definição 1.4.1 Sejam M e N espaços métricos. Uma função f : M → N é chamada
imersão isométrica quando preserva distâncias, isto é, quando para quaisquer x, y ∈ M
tivermos d(f (x), f (y)) = d(x, y).

Exemplo 1.4.1 Seja f : R → R2 dada por f (x) = (x, 0). Mostre que a referida função é
uma imersão isométrica.

De fato, note que


p p
d(f (x), f (y)) = d((x, 0), (y, 0)) = (x − y)2 + (0 − 0)2 = (x − y)2 =| x − y |= d(x, y).

Logo f : R → R2 dada por f (x) = (x, 0) é uma imersão isométrica.

17
Exemplo 1.4.2 Mostre que a função g : R2 → R3 dada por g(x, y) = (x, y, 0) é uma
imersão isométrica.

De fato, observe que


p
d(g(x, y), g(x0 , y 0 )) = d((x, y, 0), (x0 , y 0 , 0)) = (x − x0 )2 + (y − y 0 )2 + (0 − 0)2
p
= (x − x0 )2 + (y − y 0 )2 = d((x, y), (x0 , y 0 )).

Logo a referida função é uma imersão isométrica.

Definição 1.4.2 Uma aplicação f : M → N é chamada isometria se ela for uma imersão
isométrica sobrejetiva.

Exemplo 1.4.3 Mostre que a função f : R → R dada por f (x) = −x é uma isometria.

De fato, observe que d(f (x), f (y)) = |f (x) − f (y)| = | − x − (−y)| = | − (x − y)| =
|x − y| = d(x, y). A função é sobrejetiva pois dado b ∈ R basta tomar −b ∈ R e teremos
que f (−b) = −(−b) = b. Logo temos que a função é uma isometria.

1.5 Sequências Convergentes


Definição 1.5.1 Uma sequência num espaço métrico M é uma função X : N → M . A
imagem do natural n pela função X será representado por xn e chamado de enésimo termo
da sequência. Para representar uma sequência X : N → M usaremos as seguintes notações

(a) (x1 , x2 , . . .);

(b) (xn )n∈N ;

(c) (xn )n ;

(d) (xn ).

A notação {x1 , x2 , x3 , . . .} representará o conjunto X(N) dos pontos da sequência (xn ).

Definição 1.5.2 Seja M um espaço métrico e (xn ) uma sequência em M . Diremos que
(xn ) converge para a ∈ M se para cada  > 0 pudermos obter n0 ∈ N tal que d(xn , a) < 
para todo natural n ≥ n0 .

Observação 1.5.1 Para indicar que (xn ) converge para a, escrevemos lim xn = a.
n→∞

Observação 1.5.2 Decorre da definição que lim xn = a ⇔ para todo r > 0 for possı́vel
n→∞
obter n0 tal que xn ∈ B(a; r), ∀n ≥ n0 ou seja, qualquer bola aberta centrado em a contém
todos os pontos da sequência (xn ) com eventual exceção de um número finito de pontos.

18
Exemplo 1.5.1 Consideremos R dotado da métrica usual. Mostre que a sequência (x1 , x2 , . . .)
n
onde xn = converge para o ponto 1.
n+1

1
De fato, dado  > 0 tomemos r ∈ N∗ de maneira que < . Então ∀n ≥ r temos
r+1

n −1
d(xn , 1) = − 1 = = 1 < 1 <
n+1 n + 1 n + 1 r+1

o que garante nossa afirmação.

1 (−1)n
 
Exemplo 1.5.2 Mostre que a sequência zn = (xn , yn ) = 1+ , em R2 com a
n n
métrica usual converge para (1, 0).

De fato,
n
 
1 + 1 , (−1)

d((xn , yn ), (1, 0)) = − (1, 0)
n n
r
1 (−1)2n
= 2
+
rn n2
1 1
= 2
+ 2
n n
1√
r
2
= = 2.
n2 n

2
Logo dado  > 0 e n0 ∈ N tal que n0 > então ∀n ≥ no teremos

√ √
2 2
d((xn , yn ), (1, 0)) = ≤ < .
n n0

Logo, lim zn = (1, 0).


n→∞

Definição 1.5.3 Dada uma sequência X : N → M e um subconjunto infinito N1 de N,


onde N1 = {n1 < n2 < n3 < . . .} , a restrição X|N1 : N1 → M da função X é chamada
subsequência de (xn ) ao qual será denotada por (xn1 , xn2 , xn3 , . . .) ou (xnk ).

Exemplo 1.5.3 A sequência xn = (−1)n possui subsequências (x2k ) e (x2k+1 ) onde cada
subsequência é definida por x2k = (−1)2k = 1 e x2k+1 = (−1)2k+1 = (−1)2k (−1) = −1.
Note que x2k é convergente com lim x2k = 1 e (x2k+1 ) é convergente com lim x2k+1 = −1
k→∞ k→∞
. Logo (xn ) não é convergente.

Teorema 1.5.1 Seja M um espaço métrico e (xn ) uma sequência em M . Se existir


lim xn , ele é único.
n→∞

19
Demonstração: Suponhamos lim xn = a e lim xn = b, com a 6= b. Tomemos um
n→∞ n→∞
 = 12 d(a, b). Da definição de limite de sequência temos que existem n1 , n2 ∈ N tais que

n ≥ n1 ⇒ d(xn , a) < 

n ≥ n2 ⇒ d(xn , b) < .

Para K ≥ max{n1 , n2 } temos

d(xk , a) <  e d(xk , b) < 

simultaneamente. Logo,

d(a, b) ≤ d(a, xk ) + d(xk , b) <  +  = 2 = d(a, b)

o que é um absurdo. Portanto se lim xn = a e lim xn = b teremos a = b ou seja, o limite


n→∞ n→∞
de (xn ) é único.

Definição 1.5.4 Diremos que uma sequência é limitada quando o conjunto X(N) = {x1 , x2 , x3 , . . .}
for limitado.

Teorema 1.5.2 Toda sequência convergente é limitada.

Demonstração: Seja (xn ) uma sequência num espaço métrico M com lim xn = a. Então
n→∞
existe n0 tal que d(xn , a) < 1 ∀n ≥ n0 , isto é, xn ∈ B(a, 1) ∀n ≥ n0 . Como o conjunto
X = {x1 , x2 , . . . , xn0 } é finito, temos que X é limitado. Logo X(N) é um conjunto limitado
pois X(N) = {x1 , x2 , x3 , . . .} ⊂ X ∪ B(a, 1).

Observação 1.5.3 A recı́proca do Teorema anterior não é válida. O leitor poderá verificar
que as sequências xn = (−1)n e zn = in em R e C respectivamente são limitadas mas não
convergem.

Teorema 1.5.3 Seja (xn ) uma sequência num espaço métrico M e a ∈ M . O ponto a é
limite de uma subsequência (xn ) se, e somente se, para todo r > 0, a bola B(a; r) contiver
uma infinidade de termos de (xn ).

Demonstração: Se exisitir uma subsequência (xnk ) de (xn ) com lim xnk = a então dado
r > 0 existe K0 tal que xnk ∈ B(a; r) ∀K ≥ K0 . Logo, B(a; r) contém uma infinidade de
termos de (xn ). Reciprocamente, se para todo r > 0, B(a; r) contiver uma infinidade de
termos de (xn ), podemos obter uma subsequência de (xn ) convergindo para a. Para tal,
escolhemos

xn1 ∈ B(a; 1) ∩ {x1 , x2 , x3 , . . .}

20
arbitrariamente. Como B(a; 21 ) contém uma infinidade de termos de (xn ) existe n2 > n1 tal
que xn2 ∈ B(a; 12 ). Conhecidos xn1 , xn2 , . . . , xnK−1 , existe nK > nK−1 tal que xnK ∈ B(a; K1 )
pois B(a; K1 ) contém uma infinidade de termos de (xn ). A subsequência (xnK ) de (xn ) assim
obtida satisfaz
1
d(xnK , a) < K
.

Portanto,

lim xnK = a.
n→∞

Teorema 1.5.4 Seja (xn ) uma sequência num espaço métrico M . Se lim xn = a então
n→∞
toda subsequência de (xn ) converge e tem limite a.

Demonstração: Seja (xnK ) uma subsequência de (xn ). Dado  > 0, como lim xn = a,
n→∞
existe n0 tal que d(xn , a) <  ∀n ≥ n0 . Sendo N1 = {n1 < n2 < n3 < . . .} infinito existe p
tal que np ≥ n0 . Logo, K > p ⇒ nK ≥ np ≥ n0 ⇒ d(xnK , a) < . Assim lim xnK = a.
n→∞

1.6 Sequências Numéricas

Analisaremos nesta seção algumas propriedades especı́ficas das sequências de números


reais e complexos quando estes conjuntos são considerados com suas métricas usuais.

Definição 1.6.1 Uma sequência (xn ) de R é

(a) crescente, quando x1 < x2 < x3 < . . .;


(b) não-crescente, quando x1 ≥ x2 ≥ x3 ≥ . . .;
(c) decrescente, quando x1 > x2 > x3 > . . .;
(d) não-decrescente, quando x1 ≤ x2 ≤ x3 ≤ . . ..

Observação 1.6.1 Qualquer sequência que pertencer a um desses tipos será chamada de
sequência monótona.

Teorema 1.6.1 Toda sequência monótona limitada em R é convergente.

Demonstração: Façamos a demonstração para o caso em que (xn ) é não-decrescente.


Como (xn ) é limitada, o conjunto é limitado e assim possui supremo. Seja a = sup X(N).
Mostraremos que lim xn = a. Dado  > 0, pela definição de supremo existe K tal que
n→∞
xK ∈ (a − , a]. Como (xn ) é não decrescente, temos xn ≥ xK ∀n ≥ K. Por outro lado,
pela definição de supremo temos xn ≤ a ∀n. Logo, xn ∈ (a − , a] ∀n ≥ K e lim xn = a.
n→∞

Teorema 1.6.2 Seja (xn ) uma sequência em R. Se lim xn = a > b então existe n0 tal
n→∞
que xn > b ∀n ≥ n0 .

21
Demonstração: Seja  = a − b > 0. Como lim xn = a, existe n0 tal que xn ∈ (a − , a + )
n→∞
∀n ≥ n0 . Em particular xn > a −  ⇒ xn > a − (a − b) ⇒ xn > b ∀n > n0 .

Teorema 1.6.3 Se (yn ) é uma sequência no conjunto dos números complexos com lim yn =
n→∞
b, então lim |yn | = |b|.
n→∞

Demonstração: Vejamos inicialmente que ||yn | − |b|| ≤ |yn − b|. Das desiqualdades

d(yn , 0) ≤ d(yn , b) + d(b, 0)

d(b, 0) ≤ d(b, yn ) + d(yn , 0)

obtemos

d(yn , 0) − d(b, 0) ≤ d(yn , b).

Ou seja,

|yn | − |b| ≤ |yn − b|

|b| − |yn | ≤ |yn − b|.

Logo,

||yn | − |b|| ≤ |yn − b|.

Voltando ao teorema, dado  > 0, como lim yn = b, existe n0 tal que n ≥ n0 garante
n→∞
|yn − b| < . Portanto n ≥ n0 nos dá

||yn | − |b|| ≤ |yn − b| < 

e assim lim |yn | = |b|.


n→∞

Teorema 1.6.4 Sejam (xn ) e (yn ) sequencias de números complexos. Se lim xn = a e


n→∞
lim yn = b, então
n→∞

(a) lim (xn ± yn ) = a ± b


n→∞

(b) lim (xn · yn ) = a · b


n→∞
 
xn a
(c) Se b 6= 0, lim =
n→∞ yn b

22

Demonstração: (a) Dado  > 0, existem n1 , n2 ∈ N tais que |xn − a| < ∀n ≥ n1 e
2

|yn − b| < ∀n ≥ n2 . Fazendo n0 = max{n1 , n2 } então ∀n ≥ n0 temos
2
 
|(xn − yn ) − (a + b)| ≤ |xn − a| + |yn − b| < + = .
2 2
A demonstração acima foi feita para a soma. Para a subtração, o raciocı́nio é análogo. Para
mostrar (b) como (xn ) é uma sequencia convergente temos também que ela é limitada. Logo
existe M ≥ |b| tal que |xn | ≤ M ∀n ∈ N. Portanto
|xn yn − ab| = |xn yn − xn b + xn b − ab|
≤ |xn (yn − b)| + |b(xn − a)|
= |xn ||yn − b| + |b||xn − a|
≤ M |yn − b| + M |xn − a|.

Logo, dado  > 0 basta escolher n0 tal que


 
|yn − b| < e |xn − a| <
2M 2M
e ∀n ≥ n0 teremos
 
|xn yn − ab| < M +M = .
2M 2M
|b|
Para mostrar (c) seja M = max{|a|, |b|}. Com isso temos que existe n1 tal que |yn | >
2
∀n ≥ n1 , pois lim |yn | = |b|. Assim, para n ≥ n1 temos
n→∞

xn a xn b − yn a
− =
yn b yn b
1
= |xn b − yn a|
|yn ||b|
2 1
< |xn b − ab + ab − yn a|
|b| |b|
2
≤ [|b(xn − a)| + |a(b − yn )|]
|b |2
2|b| 2|a|
= 2
|xn − a| + 2 |b − yn |
|b| |b|
2M 2M
≤ |xn − a| + 2 |b − yn |.
|b|2 |b|

Portanto, dado  > 0 escolhemos n0 > n1 , tal que


|b|2  |b|2 
|xn − a| < e |b − yn | < ∀n ≥ n0
4M 4M
e desta forma teremos
xn a 2M |b|2  2M |b|2 

− < + 2 = .
yn b |b|2 4M |b| 4M

23
1.7 Caracterização de Conjuntos e Pontos através de Sequências

Nesta seção veremos de que forma se pode reconhecer conjuntos abertos, conjuntos
fechados, pontos de acumulação e de fronteira através dos limites de sequências conver-
gentes. Da definição de limite de sequência decorre que se A ⊂ M é aberto no espaço M e
(xn ) é uma sequência em M com lim xn = a ∈ A então existe n0 tal que xn ∈ A ∀n ≥ n0 .
n→∞

Teorema 1.7.1 Seja X ⊂ M . Um ponto a ∈ M é ponto de acumulação de X se, e


somente se, a é limite de uma sequência de pontos de X − {a}.

Demonstração: Seja a um ponto de acumulação de X. Então ∀r > 0 temos que a bola


aberta B(a; r)∩(X −{a}) 6= ∅. Daı́, para r1 = 1 existe um ponto x1 ∈ B(a; r1 )∩(X −{a}) e
1
do mesmo modo, para r2 = existe um ponto x2 ∈ B(a; r2 )∩(X −{a}). Prosseguindo desta
2
1
forma tomaremos rn = e obteremos xn ∈ B(a; rn ) ∩ (X − {a}). Assim a sequência (xn )
n
1
está em X −{a} e satisfaz d(a, xn ) < ∀n ∈ N o que garante lim xn = a. Reciprocamente,
n n→∞
se a é limite de uma sequência (yn ) de pontos de X − {a}, então ∀r > 0 existirá um n0 tal
que yn ∈ B(a; r) ∀n ≥ n0 . Como yn ∈ (X − {a}) ∀n temos

B(a; r) ∩ (X − {a}) 6= ∅.

Logo, a ∈ X 0 .

Corolário 1.7.1 Seja X ⊂ M . Um ponto a ∈ M pertence ao fecho de X se, e somente


se, a é limite de uma sequência de pontos de X.

Demonstração: Se a ∈ X = X ∪ X 0 então a ∈ X ou a ∈ X 0 . Se a ∈ X, a é limite de uma


sequência constante xn = a de pontos de X. Se a ∈ X 0 , pelo teorema anterior a é limite
de uma sequência de pontos de X − {a} e portanto de X. Reciprocamente, admitamos
que lim xn = a onde xn ∈ X ∀n. Se xn 6= a ∀n então (xn ) é uma sequência de pontos de
n→∞
X − {a} e pelo teorema anterior temos que a ∈ X 0 . Se existir algum K ∈ N tal que xk = a,
então a ∈ X. Em qualquer caso temos a ∈ X = X ∪ X 0 .

Exemplo 1.7.1 Na reta com a métrica usual consideremos o conjunto X = (0, ∞). Note
que todo ponto de X é ponto de acumulação de X. Com efeito, dado a ∈ X basta tomar a
1 1
sequência xn = a + e teremos xn ∈ X − {a} com lim a + = a. Além disso, o ponto
n n→∞ n
1
zero é ponto de acumulação de X pois a sequência está em X e lim = 0.
n→∞ n

Teorema 1.7.2 Seja F ⊂ M . F é fechado se, e somente se, para toda sequência (xn ) de
pontos de F com lim xn = a ∈ M tivermos a ∈ F .
n→∞

Demonstração: Suponhamos F fechado, xn ∈ F ∀n e lim xn = a. Se a 6∈ F , então


n→∞
a ∈ M − F que é aberto. Assim, existe n0 tal que xn ∈ M − F ∀n ≥ n0 , contrariando a

24
hipótese de que xn ∈ F ∀n. Logo, a ∈ F . Reciprocamente, suponhamos que toda sequência
convergente de pontos de F tem seu limite em F , e mostremos que F = F . Como F ⊂ F
basta mostrar que F ⊂ F . Seja então a ∈ F logo, existe uma sequência (xn ) em F tal que
lim xn = a. Pela hipótese temos a ∈ F , logo F ⊂ F , daı́ segue que F = F .
n→∞

Exemplo 1.7.2 Em R2 com a métrica usual consideremos a bola B = B[0; 1] tal que
0 = (0, 0). Mostre que B é fechado.

De fato, seja xn uma sequência em B com lim xn = a. Se a 6∈ B então temos que


n→∞
d(a, 0) > 1. Tomando s = d(a, 0) − 1 > 0, de lim xn = a obtemos n0 tal que d(xn , a) < s
n→∞
∀n ≥ n0 . Neste caso d(0, xn ) > 1 ∀n ≥ n0 pois de

d(0, a) ≤ d(0, xn ) + d(xn , a)

vem

d(0, xn ) ≥ d(0, a) + d(xn , a)


> (s + 1) − s
= 1

e assim terı́amos xn 6∈ B contrariando a hipótese.

Teorema 1.7.3 Seja X ⊂ M . Um ponto b ∈ M é ponto de fronteira de X se, e somente


se, existirem sequências (xn ) em X e (yn ) em M − X com lim xn = lim yn = b.
n→∞ n→∞

Demonstração: Seja b ∈ ∂X. Note que ∂X ⊂ X, e temos que b ∈ X. Como b ∈ X,


temos, pelo teorema 2.2.1, que b é limite de uma sequência de pontos de X. Como

∂X = ∂(M − X) ⊂ M − X ⇒ b ∈ M − X.

Assim, temos que b é limite de uma sequência de pontos de M − X. Reciprocamente, se


b = lim xn = lim yn com xn ∈ X e yn ∈ M − X, então para todo r > 0, a bola B(b; r)
n→∞ n→∞
contém pontos de X e M − X. Portanto b ∈ ∂X.

Exemplo 1.7.3 Seja X ⊂ R2 , o conjunto dos pontos de ordenada maior do que um,
isto é, X = {(x, y) ∈ R2 ; y > 1}. Observe que para todo real a, o ponto b = (a, 1) está na
fronteira
 de X. De fato, de acordo com o teorema anterior, basta obervar que as sequências
1 1
xn = a, 1 + e yn = a, 1 − estão X e R2 − X respectivamente. Essas sequências
n n
são convergentes com lim xn = lim yn = b = (a, 1).
n→∞ n→∞

1.8 Limite de Funções


Definição 1.8.1 Sejam M e N espaços métricos, X ⊂ M e a ∈ M um ponto de acu-
mulação de X. Dada a função f : X → N , diremos que f (x) tem limite b quando x tende
para a e escrevemos

25
lim f (x) = b
x→a

se dado  > 0 existir δ > 0 tal que d(f (x), b) <  ∀x ∈ X − {a} com d(x, a) < δ.

Observação 1.8.1 Quando não existir b ∈ N que cumpra a condição da definição diremos
que lim f (x) não existe.
x→a

Observação 1.8.2 A função f não precisa estar definida no ponto a para que exista
lim f (x). Caso exista f (a) e lim f (x), não é necessário lim f (x) = f (a).
x→a x→a x→a

Teorema 1.8.1 (Unicidade do limite). Sejam M e N espaços métricos, X ⊂ M e a ∈ X 0 .


Dada f : X → N , se lim f (x) = b e lim f (x) = c então b = c.
x→a x→a

Demonstração: Se lim f (x) = b e lim f (x) = c então dado  > 0 existem δ1 > 0 e δ2 > 0
x→a x→a
 
tais que d(f (x), b) < e d(f (x), c) < ∀x ∈ X − {a} com d(x, a) < δ1 e d(x, a) < δ2 .
2 2

Seja δ = min{δ1 , δ2 }. Então se x1 ∈ X − {a} e d(x1 , a) < δ temos d(f (x1 ), b) < e
2

d(f (x1 ), c) < . Logo,
2
d(b, c) ≤ d(b, f (x1 )) + d(f (x1 ), c)
 
< +
2 2
= .

Como  > 0 é arbitrário, concluı́mos que d(b, c) = 0 ⇒ b = c.

Exemplo 1.8.1 Sejam M e N espaços métricos, X ⊂ M , b ∈ N e f : X → N dada por


f (x) = b ∀x ∈ X. Note que para qualquer a ∈ X 0 temos lim f (x) = b. De fato, dado  > 0
x→a
temos que d(f (x), b) = d(b, b) = 0 < . Neste caso basta tomar δ como sendo qualquer no
positivo.

Exemplo 1.8.2 Seja M um espaço métrico, X ⊂ M , a ∈ X 0 e f : X → M dada por


f (x) = x. Mostre que lim f (x) = a.
x→a

De fato, tome  > 0. Devemos exibir δ > 0 tal que d(f (x), a) = d(x, a) <  ∀x ∈ X − {a}
com d(x, a) < δ. Basta tomar δ = . De fato, se d(x, a) < δ então d(f (x), a) = d(x, a) <
δ = . Logo, lim f (x) = lim x = a.
x→a x→a

Exemplo 1.8.3 Seja f : R → R dada por f (x) = cx + d. Para cada a ∈ R mostraremos


que lim f (x) = ca + d.
x→a

Dado  > 0 devemos exibir δ > 0 tal que ∀x ∈ R com d(x, a) < δ cumpra d(f (x), ca+d) < .
Queremos então que

|f (x) − (ca + d)| <  ⇒ |cx + d − ca − d| <  ⇒ |c(x − a)| < 

26
assim,

|c||x − a| <  ⇒ d(x, a) < .
|c|

Basta tomar δ = e teremos que lim cx + d = ca + d.
|c| x→a

Exemplo 1.8.4 Seja f : R → R dada por



2 se x ≤ 1,
f (x) = (1)
x se x > 1.

Mostre que para a = 1 não existe lim f (x).


x→a

Devemos mostrar que para qualquer b ∈ R não temos lim f (x) = b. Vamos dividir este
x→a
problema em duas partes.

(1a ) b < 2
(2a ) b ≥ 2.

Para b < 2 tomamos um  = 2 − b > 0. Dado qualquer δ > 0 consideremos o ponto


δ
x = 1 − . Assim, temos
2

δ δ δ
d(x, a) = |x − a| = 1 − − 1 = − = < δ
2 2 2

e f (x) = 2 pois x < 1. Logo,

d(f (x), b) = |f (x) − b| = |2 − b| = .

Isso mostra que não temos lim f (x) = b. Considerando agora o caso em que b ≥ 2 tomemos
x→a  
1 δ 1
 = . Dado δ > 0 tomamos x = min , . Assim
2 2 2
 
δ 1
d(x, a) = |x − 1| = min , <δ
2 2
3
e 1 < x ≤ . Logo,
2
3 1
d(f (x), b) = |f (x) − b| = |x − b| = | − (b − x)| = |b − x| = b − x = 2 − = = .
2 2
Portanto neste caso não existe lim f (x) = b.
x→a

Teorema 1.8.2 Sejam M e N espaços métricos, X ⊂ M e a ∈ X 0 . Dada uma função


f : X → N teremos lim f (x) = p se, e somente se, para toda sequência (xn ) em X − {a}
x→a
com lim xn = a tivermos lim f (xn ) = p.
n→∞ n→∞

27
Demonstração: Suponha lim f (x) = p. Então, dado  > 0, existe um δ > 0 tal que
x→a
x ∈ X − {a} e d(x, a) < δ garante d(f (x), p) < . Se (xn ) é uma sequência em X − {a} com
lim xn = a, para este δ > 0 existe n0 tal que d(xn , a) < δ ∀n ≥ n0 . Logo d(f (xn ), p) < 
n→∞
∀n ≥ n0 , e assim lim f (xn ) = p. Reciprocamente, suponha que não temos lim f (x) = p.
n→∞ x→a
Assim, existe  > 0 tal que ∀δ > 0 se pode obter um ponto x ∈ X − {a} com d(x, a) < δ e
d(f (x), p) ≥ . Logo, a sequência (xn ) assim obtida cumpre lim xn = a, mas não cumpre
n→∞
lim f (xn ) = p, o que contradiz a hipótese, concluindo a demonstração.
n→∞

Teorema 1.8.3 Sejam C o plano complexo, M um espaço métrico, X ⊂ M e a ∈ X 0 . Se


f, g : X → C são tais que lim f (x) = b e lim g(x) = c, então
x→a x→a

(a) lim (f ± g)(x) = b ± c;


x→a

(b) lim (f g)(x) = bc;


x→a

 
f b
(c) lim (x) = desde que c 6= 0.
x→a g c

Demonstração: Basta mostrar que lim (f ± g)(xn ) = lim [f (xn ) ± g(xn )] = b ± c para
n→∞ n→∞
toda sequência (xn ) em X − {a} com lim xn = a. Seja (xn ) uma tal sequência. Sabemos
n→∞
que lim [f (xn ) ± g(xn )] = lim f (xn ) ± lim g(xn ). Sendo lim f (x) = b e lim g(x) = c temos,
x→a x→a
pelo teorema anterior, que lim f (xn ) = b e lim g(xn ) = c. Assim lim (f ± g) (xn ) = b ± c.
n→∞ n→∞ n→∞
Para o item (b) basta mostrar que lim (f g)(xn ) = lim [f (xn )g(xn )] = bc. Seja (xn )
n→∞ n→∞
uma sequência com lim xn = a. Sabemos que lim [f (xn )g(xn )] = lim f (xn ) lim g(xn ).
n→∞ n→∞ n→∞ n→∞
Como lim f (x) = b e lim g(x) = c, pelo teorema anterior seque que lim f (xn ) = b e
x→a x→a n→∞
lim g(xn ) = c. Assim,
n→∞

lim (f (xn )g(xn )) = lim f (xn ) lim g(xn ) = bc.


n→∞ n→∞ n→∞

   
f f (xn ) b
Para o item (c), necessitamos mostrar que lim (xn ) = lim = , com
n→∞ g n→∞ g(xn ) c

f (xn )
 lim f (x n )
c 6= 0 e g(xn ) 6= 0. Note que lim = n→∞ . Sendo que lim f (x) = b e
n→∞ g(xn ) lim (xn ) x→a
n→∞
lim g(x) = c temos, pelo teorema anterior que lim f (xn ) = b e lim g(xn ) = c. Assim,
x→a n→∞ n→∞


f (xn )
 lim f (xn ) b
n→∞
lim = =
n→∞ g(xn ) lim g(xn ) c
n→∞

completando a demonstração do Teorema.

28
1.9 Funções Contı́nuas
Definição 1.9.1 Sejam M e N espaços métricos. Diremos que uma função f : M → N
é contı́nua num ponto a ∈ M quando dado  > 0 pudermos obter um δ > 0 tal que
d(f (x), f (a)) <  ∀x ∈ M com d(x, a) < δ. Diz-se que f : M → N é contı́nua quando ela
é contı́nua em todos os pontos a ∈ M .

De maneira equivalente, f : M → N é contı́nua no ponto a ∈ M quando dado qualquer


bola B 0 = B(f (a); ) é possı́vel encontrar uma bola B = B(a; δ) tal que f (B) ⊂ B 0 .
No importante caso particular em que M ⊂ R e f : M → R, dizer que f é contı́nua
no ponto a ∈ M significa afirmar que para todo  > 0 existe δ > 0 tal que x ∈ M
e a − δ < x < a + δ implicam f (a) −  < f (x) < f (a) + , ou seja, f transforma os
pontos de M que estão no intervalo aberto (a − δ, a + δ) em pontos do intervalo aberto
(f (a) − , f (a) + ).

Exemplo 1.9.1 Seja M = {1, 2, 3, . . .} o conjunto dos números naturais com a métrica
induzida da reta. Se N é um espaço métrico qualquer, então mostre que toda função
f : M → N é contı́nua.

De fato, dados a ∈ M e  > 0 basta tomar δ = 1 e teremos que d(x, a) < δ fornece x = a e
assim

d(f (x), f (a)) = d(f (a), f (a))


= 0
< .

Exemplo 1.9.2 Lembremos que uma imersão isométrica é qualquer aplicação f : M → N


tal que d(f (x), f (y)) = d(x, y) para quaisquer x, y ∈ M . Mostre que toda imersão isométrica
é contı́nua.

Dado  > 0, basta tomar δ =  e teremos

d(x, y) < δ ⇒ d(f (x), f (y)) = d(x, y) < δ = 

qualquer que seja y ∈ M .

Teorema 1.9.1 Se M é discreto, então toda função f : M → N é contı́nua.

Demonstração: Dados a ∈ M e  > 0, como M é discreto, então existe δ > 0 tal que
B(a; δ) = {a}. Assim, se d(x, a) < δ, temos que x = a. Logo,

d(f (x), f (a)) = d(f (a), f (a)) = 0 < 

o que mostra que f é contı́nua em a.

29
Exemplo 1.9.3 Seja a função f : R → R dada por f (x) = x2 . Mostre que f é contı́nua
no ponto a = 0.

Dado  > 0 queremos obter δ > 0 tal que d(f (x), f (a)) <  ∀x ∈ R com d(x, 0) < δ. Isto é,

|x2 − 02 | <  ⇒ |x2 | <  ⇒ |x| < .

Logo, basta tomar  = δ e teremos d(f (x), f (0)) = |x2 − 02 | = |x2 | = |x|2 <  ∀x ∈ R
com d(x, 0) = |x| < δ.

Definição 1.9.2 Diremos que uma função f : M → N é uma função de Lipschitz quando
existe c > 0 tal que d(f (x), f (y)) ≤ cd(x, y) quaisquer que sejam x, y ∈ M .

Exemplo 1.9.4 Dada uma função f : M → N e suponhamos que exista uma constante
c > 0 (constante de Lipschitz) tal que d(f (x), f (y)) ≤ cd(x, y) qualquer que seja x, y ∈ M .
Dizemos que f é uma aplicação lipschitziana. Mostre que f é contı́nua em cada ponto
a ∈ M.

De fato, dado  > 0, tomemos δ = . Então
c

d(x, a) < δ ⇒ d(f (x), f (a)) ≤ c.d(x, y) < c = .
c
Teorema 1.9.2 Sejam M e N espaços métricos, X ⊂ M , a ∈ X e f : X → N uma
função. Então

(a) se a 6∈ X 0 , f é contı́nua no ponto a;


(b) se a ∈ X 0 , f será contı́nua em a, se e somente se, lim f (x) = f (a).
x→a

Demonstração: (a) Se a 6∈ X 0 , então temos que existe δ > 0 tal que B(a; δ) não contém
nenhum ponto de X diferente de a. Logo B(a; δ) = {a} e portanto a é um ponto isolado.
Logo, ∀ > 0, existe δ > 0 tal que d(a, x) < δ ⇔ x = a, o que implica d(f (a), f (x)) =
d(f (a), f (a)) = 0 < . Portanto f é contı́nua em a. Para provar o item (b) se f é contı́nua
no ponto a, então dado  > 0 existe δ > 0 tal que d(f (x), f (a)) <  com d(x, a) < δ
∀x ∈ X. Em particular, se x ∈ X e 0 < d(x, a) < δ teremos d(f (x), f (a)) < . Logo
lim f (x) = f (a).
x→a
Reciprocamente, se lim f (x) = f (a), dado  > 0 existirá δ > 0 tal que d(f (x), f (a)) < 
x→a
∀x ∈ X − {a} com d(x, a) < δ. Porém, como d(f (a), f (a)) = 0 <  temos que se x ∈ X
com d(x, a) < δ garante também d(f (x), f (a)) < . Logo f é contı́nua no ponto a.

Teorema 1.9.3 Sejam M e N espaços métricos, X ⊂ M e f : X → N contı́nua. Se para


todo a ∈ X, existe lim f (x), então a função F : X̄ → N dada por
x→a
(
f (y), se y ∈ X
F (y) = lim f (x), se y ∈ X − X
x→a

é contı́nua.

30
Demonstração: Nos pontos isolados de X̄, sabemos, pelo item (a) do teorema anterior,
que F é contı́nua. Seja então a ∈ X̄ um ponto de acumulação de X̄. Se a ∈ X̄ − X, a
definição de F nos dá lim f (x) = F (a) e se a ∈ X, por ser a ∈ X̄, temos também a ∈ X 0 , e
x→a
assim a continuidade de f fornece lim f (x) = f (a) = F (a). Assim, dado  > 0 existe δ > 0
x→a

tal que x ∈ X e d(x, a) < δ ⇒ d(f (x), F (a)) < . Agora afirmamos que
2
y ∈ X̄ e d(y, a) < δ ⇒ d(F (y), F (a)) < .

De fato, se y ∈ X, temos

d(F (y), F (a)) = d(f (y), f (a)) < < .
2
Se, porém, y ∈ X̄ − X, então de lim f (x) = F (y) temos que existe δ1 > 0 tal que x ∈ X
x→y

e d(x, y) < δ1 garante d(f (x), F (y)) < . Sem perda de generalidade podemos supor
2
δ1 ≤ δ − d(a, y) o que nos dá B(y; δ1 ) ⊂ B(a; δ). Como y ∈ (X̄ − X) ⊂ X 0 , existe z ∈ X
tal que z ∈ B(y; δ1 ) ⊂ B(a; δ), isto é, d(z, y) < δ1 e d(z, a) < δ. Logo,

d(F (y), F (a)) ≤ d(F (y), f (z)) + d(f (z), F (a))


 
< +
2 2
= 

como querı́amos.

Teorema 1.9.4 Seja C o plano complexo e M um espaço métrico. Se f, g : M → C são


funções contı́nuas, então

(a) f ± g são contı́nuas;


(b) f.g é contı́nua;
f
(c) g
é contı́nua em todo ponto x ∈ M tal que g(x) 6= 0.

Demonstração: Dado a ∈ M , se a for um ponto isolado, ou seja, a 6∈ X 0 , temos que


as funções em questão são contı́nuas. Se, porém, a for um ponto de acumulação, então
temos, pelo item (b) do teorema 3.2.2, que lim f (x) = f (a) e lim g(x) = g(a). Sabemos
x→a x→a
 
f f (a)
que lim (f ± g)(x) = f (a) ± g(a), lim (f.g)(x) = f (a).g(a) e lim (x) = (desde
x→a x→a x→a g g(a)
f
que g(a) 6= 0). Logo, também pelo item (b) do Teorema 1.10.2 temos que f ± g, f.g e
g
são contı́nuas em a.

Observação 1.9.1 O Teorema anterior continua válido se substituirmos o conjunto dos


números complexos C por outro conjunto, como R ou Q, por exemplo.

Exemplo 1.9.5 Seja p : C → C um polinômio. Mostre que todo polinômio p é uma função
contı́nua.

31
Inicialmente, verifiquemos que f : C → C definida por f (x) = x é contı́nua. De fato, dado
a ∈ C e  > 0, basta tomar δ =  e teremos d(f (x), f (a)) = d(x, a) < δ =  sempre que
d(x, a) < .
Agora, pelo teorema anterior, temos que g : C → C dada por g(x) = x2 é contı́nua, pois g
é o produto da função g por si mesma. Da mesma forma, é contı́nua a função h : C → C
dada por h(x) = xn qualquer que seja o natural n. Se ai ∈ C é uma constante qualquer,
então o produto (ai h)(x) = ai xn é contı́nua. Finalmente, também pelo teorema anterior,
todo polinômio p : C → C, p(x) = a0 + a1 x + . . . + an xn é contı́nua. Em particular, como
R ⊂ C, se p : R → R for um polinômio, p também é contı́nuo.

Teorema 1.9.5 Se f : M → N e g : N → P são funções contı́nuas, então g ◦ f : M → P


é contı́nua.

Demonstração: Seja  > 0. Dado a ∈ M escrevamos b = f (a). Como g é contı́nua, existe


δ1 > 0 tal que y ∈ N e d(y, b) < δ1 garante d(g(y), g(b)) < . Para facilitar a compreensão,
veja a figura abaixo.

Figura 9: funções compostas

Como f é contı́nua, para este δ1 > 0, existe δ > 0 tal que x ∈ M e d(a, x) < δ garante
d(f (x), f (a)) < δ1 . Veja o esquema abaixo.

Figura 10: funções compostas

E assim, d(g(f (x)), g(f (a))) <  sempre que d(x, a) < δ ou seja, d((g ◦ f (x), (g ◦ f )(a)) < 
sempre que d(x, a) < δ. Logo, g ◦ f é contı́nua no ponto a. Como a ∈ M é arbitrário,
temos g ◦ f contı́nua em M , como querı́amos.

1.10 Continuidade e Conjuntos Abertos e Fechados


Teorema 1.10.1 Uma função f : M → N é contı́nua se, e somente se, para todo aberto
A ⊂ N tivermos f −1 (A) aberto em M

32
Demonstração: Suponha primeiramente que f seja contı́nua. Seja A ⊂ N aberto e
mostremos que f −1 (A) é aberto em M . De fato, para cada a ∈ f −1 (A) temos que existe um
b tal que b = f (a) ∈ A. Pela definição de conjunto aberto, existe  > 0 tal que B(b; ) ⊂ A.
Como f é contı́nua, para este  > 0 podemos obter δ > 0 tal que f (B(a; δ)) ⊂ B(b; ).
Assim temos que f (B(a; δ)) ⊂ A e B(a; δ) ⊂ f −1 (A), onde concluı́mos que f −1 (A) é aberto.
Reciprocamente, se para todo aberto A ⊂ N tivermos f −1 (A) aberto em M , então
dados a ∈ M e  > 0 tomemos A = B(f (a); ). Então, f −1 (A) é aberto e a ∈ f −1 (A).
Logo, existe δ > 0 tal que B(a; δ) ⊂ f −1 (A). Portanto f (B(a; δ)) ⊂ A = B(f (a); ) o que
mostra ser contı́nua no ponto a. Como a ∈ M é arbitrário, temos f contı́nua em M .

Teorema 1.10.2 Uma função f : M → N é contı́nua se, e somente se, para todo fechado
F ⊂ N tivermos f −1 (F ) fechado em M .

Demonstração: Seja f contı́nua. Se F ⊂ N é fechado então N − F é aberto e pelo


teorema anterior temos que f −1 (N − F ) é aberto em M . Logo f −1 (F ) = M − f −1 (N − F ) é
fechado em M . Reciprocamente, suponha que f −1 (F ) é fechado em M sempre que F ⊂ N
é fechado em N . Então, se A ⊂ N é aberto em N , temos que N − A é fechado em N e
pela hipótese f −1 (N − A) é fechado em M . Logo f −1 (A) = M − f −1 (N − A) é aberto em
M e pelo Teorema anterior, f é contı́nua.

Exemplo 1.10.1 Seja M = [1, 2] ∪ {3} considerado com a métrica induzida da reta e seja
f : M → R dada por f (x) = 5 para x ∈ [1, 2] e f (3) = 6. Mostre que f é contı́nua.

Solução: Seja o gráfico de f (x)

Figura 11: gráfico de f(x)

Dado A ⊂ R temos quatro casos a analisar

(a) 5 6∈ A e 6 6∈ A;

(b) 5 ∈ A e 6 6∈ A;

(c) 5 6∈ A e 6 ∈ A;

(d) 5 ∈ A e 6 ∈ A.

33
No caso (a) temos f −1 (A) = ∅. No caso (b) temos f −1 (A) = [1, 2]. No caso (c) tem-se
f −1 (A) = {3}. No caso (d) tem-se f −1 (A) = M . Como ∅, [1.2], {3}, M são subconjuntos
abertos de M temos que, pelo teorema 3.3.1, f −1 (A) é sempre aberto em M . Logo, f é
contı́nua.

1.11 Homeomorfismos
Definição 1.11.1 Uma bijeção f : M → N é chamada homeomorfismo quando f e sua
inversa f −1 forem ambas contı́nuas. Quando isso acontece, dizemos que M e N são espaços
homeomorfos.

Exemplo 1.11.1 Mostre que f : C → C dada por f (z) = kz, k 6= 0 é um homeomorfismo.

w
De fato,dado um número complexo w, para z = temos f (z) = w. Logo f é sobrejetiva.
k
Para mostrar que f é injetiva, suponha que f (u) = f (v) o que implica que ku = kv ⇒ u = v.
z
Logo, f é injetiva. A inversa de f é dada por w = . Logo, como f (z) e f −1 (z) são contı́nuas
k
temos que f é um homeomorfismo.

Observação 1.11.1 A inversa de uma bijeção contı́nua não é necessariamente contı́nua.

Definição 1.11.2 Dadas as métricas d1 e d2 num conjunto M , diremos que d1 é mais fina
do que d2 e denotamos d1  d2 quando a identidade i12 : (M, d1 ) → (M, d2 ) for contı́nua.

Da definição acima decorre que se d1  d2 , então dados a ∈ M e  > 0 podemos obter


δ > 0 tal que d2 (i12 (x), i12 (a)) <  sempre que d1 (x, a) < δ, ou seja, d2 (x, a) <  sempre que
d( x, a) < δ, ou ainda B1 (a; δ) ⊂ B2 (a; ) em que B1 (a; δ) representa a bola aberta relativa
a métrica d1 e B2 (a; ) representa a bola aberta relativa a métrica d2 . Logo, dizer que
d1  d2 significa dizer que toda bola aberta relativa a d2 contém uma bola aberta relativa
a d1 . Quando d1  d2 e d2  d1 diremos que d1 e d2 são equivalentes e escrevemos d1 ∼ d2 .
Em outros termos, d1 ∼ d2 quando a aplicação identidade i12 : (M, d1 ) → (M, d2 ) for um
homeomorfismo.

Exemplo 1.11.2 Seja d1 a métrica usual em R e d2 a métrica zero-um. Mostre que d2 é


mais fina do que d1 e que d1 não é mais fina do que d2 .

De fato, a identidade i21 : (R, d2 ) → (R, d1 ) é contı́nua pois dados a ∈ R e  > 0 basta
tomar δ = 1 e teremos que d2 (x, a) < δ implica em x = a, e assim

d1 (i21 (x), i21 (a)) = d(a, a) = 0 < .

Logo, d2  d1 .
Por outro lado, a identidade i12 : (R, d1 ) → (R, d2 ) não é contı́nua pois dados a ∈ R e
 = 1, ∀δ > 0 existe x ∈ R com x 6= a e d1 (x, a) < δ. Assim,

d2 (i12 (x), i12 (a)) = d2 (x, a) = 1 = .

34
Logo, d1  d2

Exemplo 1.11.3 Sejam d1 e d2 duas métricas num conjunto M tais que d1 (x, y) = 2d2 (x, y).
Mostre que d1 ∼ d2 .

De fato, a identidade i12 : (M, d1 ) → (M, d2 ) é contı́nua. De fato, dado a ∈ M e  > 0


basta tomar δ = 2 e teremos

1 1
d2 (i12 (x), i12 (a)) = d2 (x, a) = d1 (x, a) < δ = 
2 2

sempre que d1 (x, a) < δ. Daı́ segue que d1  d2 .



Por outro lado, para i21 : (M, d2 ) → (M, d1 ), dados a ∈ M e  > 0 basta tomar δ = e
2
teremos

d1 (i21 (x), i21 (a)) = d1 (x, a) = 2d2 (x, a) < 2δ = 

sempre que d2 (x, a) < δ. Assim i21 é contı́nua e d2  d1 . Logo d1 ∼ d2 .

Teorema 1.11.1 Sejam d1 e d2 métricas num conjunto M . Se existir α > 0 tal que
d2 (x, y) ≤ αd1 (x, y) ∀x, y ∈ M , então d1  d2 .

Demonstração: Seja i12 : (M, d1 ) → (M, d2 ) a aplicação identidade. Dados a ∈ M e



 > 0 basta tomar δ = e então quando d1 (x, a) < δ teremos
α

d2 (i12 (x), i12 (a)) = d2 (x, a) ≤ αd1 (x, a) < α = .
α

Logo, i12 é contı́nua e d1  d2 .

Corolário 1.11.1 Se existirem α, β > 0 tais que d2 (x, y) ≤ αd1 (x, y) ≤ βd2 (x, y) para
quaisquer x, y ∈ M , então d1 ∼ d2 .

Demonstração: Pelo Teorema anterior, de d2 (x, y) ≤ αd1 (x, y) temos d1  d2 . Por outro
β
lado de αd1 (x, y) ≤ βd2 (x, y) temos que d1 (x, y) ≤ d2 (x, y) ⇒ d2  d1 . Logo, d1 ∼ d2 .
α
s n n
X X
Exemplo 1.11.4 Em Rn consideremos d(x, y) = |xi − yi |2 , d1 (x, y) = |xi − yi | e
i=1 i=1
d2 (x, y) = max |xi − yi | com 1 ≤ i ≤ n. Mostre que d, d1 e d2 são métricas equivalentes.

Pelo corolário acima basta mostrar que

d2 (x, y) ≤ d(x, y) ≤ d1 (x, y) ≤ nd2 (x, y).

35
A primeira e terceira desigualdades são imediatas. Resta mostrar que d(x, y) ≤ d1 (x, y).
De fato,
n
X
2
d(x, y) = |xi − yi |2
i=1
Xn n
X
d1 (x, y)2 = |xi − yi |2 + 2 |xi − yi ||xi − yi |
i=1 i=1

o que implica

d(x, y)2 ≤ d1 (x, y)2 ⇒ d(x, y) ≤ d1 (x, y)

o que conclui a solução do exemplo.

Teorema 1.11.2 Uma função f : M → M1 × M2 × . . . × Mn , f (x) = (f1 (x), . . . , fn (x)) é


contı́nua se, e somente se cada função fi com 1 ≤ i ≤ n for contı́nua.

Demonstração: Seja f contı́nua e seja fi = pi ◦ f onde pi : M1 × . . . × Mn → Mi é a


projeção pi (x1 , . . . , xn ) = xi que é contı́nua, tendo então que a composição fi = pi ◦ f é
contı́nua.
Reciprocamente, se cada fi for contı́nua, então dados a ∈ M e  > 0 existem δ1 , δ2 , . . . , δn >
0 tais que di (fi (x), fi (a)) < n sempre que d(x, a) < δi . Assim, fazendo δ = min{δ1 , . . . , δn }
então d(x, a) < δ garantirá

d(f (x), f (a)) = d((f1 (x), . . . , fn (x)), (f1 (a), . . . , fn (a)))


v
u n
uX
= t di (fi (x), fi (a))2
i=1
v
u n  
uX  2
< t
i=1
n
r
2
= n 2
n

= √
n
< .

Portanto, f é contı́nua.

Exemplo 1.11.5 (Projeção estereográfica) Sejam S 1 = {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 = 1} e p =


(0, 1). A projeção estereográfica π : S 1 −{p} → R é a função que a cada ponto u ∈ S 1 −{p}
associa o ponto π(u) obtido pela interseção do eixo das abscissas com a semi-reta de origem
p, e que contém o ponto u. Se u = (s, t), para determinar analiticamente o ponto π(u),
recorremos à equação da reta que passa por p e u e fazemos sua interseção com a reta

36
t−1
y = 0. A equação da reta citada é y = x + 1. Esta reta intercepta a reta y = 0 no
s
t−1
ponto em que 0 = x + 1 ou seja,
s
(t − 1)x + s = 0

ou ainda
s s
x=− = .
t−1 1−t
 
1 s
Assim, se u = (s, t) ∈ S − {p}, então π(u) = , 0 que identificamos com o número
1−t
s
real . Queremos mostrar que π é um homeomorfismo. Para tanto, mostraremos
1−t
inicialmente que π é um bijeção. Dado a ∈ R, consideremos a reta que passa por (α, 0) e
x
p = (0, 1). A equação desta reta é y = − + 1. Para verificar se existe u ∈ S 1 − {p} tal
α
x
que π(u) = (α, 0) = α basta verificar se existe algum ponto comum à reta y = − + 1 e ao
 x α
1
conjunto S − {p}. Isto é, verificar se existe algum ponto da forma x, − + 1 diferente
α
 x 
de p com x, − + 1 = 1. Resolvendo esta equação obtemos duas soluções. Uma é

α
2α α2 − 1
 
o ponto p = (0, 1) que não interessa e a outra é o ponto u = , que é o
α2 + 1 α2 + 1
único ponto de S 1 − {p} tal que π(u) = (α, 0). Isto mostra que π é injetiva e sobrejetiva.
A continuidade de π decorre do item (c) do Teorema 1.10.4. Do que acabamos de fazer
1
decorre que a inversa de π, é a função φ : R → S 1 −{p} dada por φ(α) = 2 (2α, α2 −1)
α +1
que é contı́nua em virtudde do Teorema anterior. Logo, π é um homeomorfismo.

1.12 Espaços Topológicos

Para determinar se uma função f : M → N é contı́nua ou não basta conhecer os abertos


de M e N . É possı́vel também, para verificar a continuidade de f : M → N conhecendo
apenas os fechados de M e N .
Esses dois resultados mostram que não necessitamos das métricas de M e N para
estudar a continuidade de funções M → N . Sendo o estudo das funções contı́nuas de
grande interesse na matemática de um modo geral, surge a idéia de se definir uma classe
de espaços nos quais ainda se possa definir continuidade. Para se obter tal generalização,
dado um conjunto M precisamos determinar quais dos seus subconjuntos serão chamados
abertos. É necessário também que estes conjuntos satisfaçam as propriedades dos conjuntos
abertos dos espaços métricos, ou seja

(a) ∅ e M são abertos;

(b) a reunião arbitrária de abertos é aberta;

37
(c) a interseção finita de abertos é aberta.

Definição 1.12.1 Dado um conjunto X e uma famı́lia τ de subconjuntos de X, diremos


que τ é uma topologia em X se

(a) ∅, X ∈ τ ;

(b) Se Aλ ∈ τ ∀λ ∈ L, onde L é un conjunto arbitrário de ı́ndices, então ∪Aλ ∈ τ com


λ ∈ L;

(c) Se A1 , A2 , . . . , An ∈ τ então a interseção A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An ∈ τ .

Definição 1.12.2 Um espaço topológico é um par (X, τ ) onde X é um conjunto qualquer


e τ é uma topologia em X. Os elementos de τ são chamados conjuntos abertos.

Exemplo 1.12.1 Mostre que todo espaço métrico é um espaço topológico.

De fato, dado um espaço métrico (M, d), como os abertos de M são reuniões de bolas
abertas de M , basta tomarmos τ como sendo um conjunto X ⊂ M , tal que x é uma
reunião de bolas abertas de M e τ será uma topologia em M . O espaço topológico (M, τ )
terá os mesmos abertos que (M, d).

Definição 1.12.3 Sejam (X, τ ) um espaço topológico, Y ⊂ X e τ1 = {A ∩ Y, A ∈ τ }. A


topologia τ1 é chamada topologia induzida por τ em Y e (Y, τ1 ) é chamado subespaço de
(X, τ ).

Definição 1.12.4 Sejam X e Y espaços topológicos. Uma função f : X → Y será dita


contı́nua quando para todo aberto A ⊂ Y tivermos f −1 (A) aberto em X.

Definição 1.12.5 Diremos que uma bijeção f : X → Y é um homeomorfismo se f e f −1


forem contı́nuas.

1.13 Continuidade Uniforme

Estudamos as funções contı́nuas anteriormente. Vimos que uma função f : M → N


era contı́nua num ponto a ∈ M se para todo  > 0 pudéssemos obter δ > 0 tal que
d(f (x), f (a)) <  sempre que d(x, a) < δ. Chamaremos a atenção para dois fatos. O
primeiro deles é que continuidade é um fenômeno local, f pode ser contı́nua em um ponto
a ∈ M e descontı́nua em outro ponto b ∈ M . O segundo é que mesmo quando f é contı́nua
em dois pontos a, b ∈ M , para um mesmo  > 0, o δ > 0 que encontraremos para o ponto a
poderá ser diferente daquele que encontraremos para o ponto b. Em resumo, δ depende de
 e de a, ou seja, δ = δ(, a). As funções que são contı́nuas em todos os pontos do domı́nio
para as quais for possı́vel determinar δ > 0 que independa do ponto a em questão serão
chamadas uniformemente contı́nuas. Com isso, podemos introduzir a primeira definição
desta seção.

38
Definição 1.13.1 Sejam M e N espaços métricos. uma função f : M → N é dita uni-
formemente contı́nua quando para cada  > 0 for possı́vel obter δ > 0 tal que d(f (x), f (y)) <
 para quaisquer x, y ∈ M com d(x, y) < δ.

Observação 1.13.1 Se f : M → N é uniformemente contı́nua, f também é contı́nua.

Exemplo 1.13.1 Seja M um espaço métrico qualquer e f : M → M a aplicação identi-


dade. Mostre que f é uniformemente contı́nua.

Dado  > 0, basta tomar δ =  e teremos que


d(x, y) < δ ⇒ d(f (x), f (y)) = d(x, y) < δ = .

Exemplo 1.13.2 Seja f : R → R dada por f (x) = 5x + 3. Mostre que f é uniformemente


contı́nua.

De fato, dado  > 0, queremos obter δ > 0 tal que |x − y| < δ garante |f (x) − f (y)| < .
Assim
|f (x) − f (y)| = |5x + 3 − (5y + 3)|
= |5(x − y)|
= 5|x − y|.

 
Daı́ |x − y| < sempre que |x − y| < . Portanto basta tomar δ = e teremos que
5 5

|x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| = 5|x − y| < 5δ = 5 = .
5
Logo, f é uniformemente contı́nua.
Exemplo 1.13.3 Mostre que a função f : R → R dada por f (x) = x2 não é uniforme-
mente contı́nua.
Para provar isto, precisamos exibir um  > 0 tal que, para qualquer δ > 0 possamos
encontrar uma par de pontos x e y tais que |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ . Tomemos  = 1.
1 δ δ
Dado δ > 0 sejam x > e y = x + . Então |x − y| = < δ e
δ 2 2
δ
|f (x) − f (y)| = |x2 − y 2 | = |x + y||x − y| = |x + y|
2
δ δ
= x + x +
2 2

δ δ
= 2x +
2 2
δ
> 2x
2
1
= δ = 1 = .
δ

39
Teorema 1.13.1 Toda função de Lipschitz é uniformemente contı́nua.

Demonstração: Sejam M e N espaços métricos, f : M → N lipschitziana, digamos com


constante de Lipschitz c, isto é, d(f (x), f (y)) ≤ cd(x, y) para quaisquer x, y ∈ M . Dado

 > 0 basta tomar δ = e teremos que
c

d(x, y) < δ ⇒ d(f (x), f (y)) ≤ cd(x, y) < cδ = c = .
c
Logo, f é uniformemente contı́nua

Exemplo 1.4 Seja f : X → R dada por f (x) = x2 onde X ⊂ R é um conjunto limitado.


Mostre que f é uniformemente contı́nua.

Demonstração: sendo X limitado, existe A > 0 tal que |x| ≤ A para todo x ∈ X. Assim,
quaisquer que sejam x, y ∈ X temos
|f (x) − f (y)| = |x2 − y 2 | = |x + y||x − y|
≤ (|x| + |y|)|x − y|
≤ 2A|x − y|.

Portanto, f é uma função de Lipschitz (com constante de Lipschitz 2A), e pelo teorema
anterior, uniformemente contı́nua.

Exemplo 1.13.4 Mostre que a função f : [0, ∞) → R dada por f (x) = x é uniforme-
mente contı́nua.
  2
De fato, dado  > 0, se tomarmos δ1 = teremos que
4
√ √ √ 
|x − 0| < δ1 ⇒ |f (x) − f (0)| = | x − 0| = | x| < δ1 =
4
 
δ1
e assim para x, y ∈ 0, temos
2
√ √ √ √   
|f (x) − f (y)| = | x − y| ≤ | x| + | y| < + = .
4 4 2
Por outro lado, para qualquer α > 0 temos
√ √ |x − y| |x − y|
|f (x) − f (y)| = | x − y| = √ √ ≤ √
x+ y 2 α
δ1
e pelo Teorema anterior f|[α,∞) é uniformemente contı́nua. Tomando então α = obtemos
2

δ2 > 0 tal que para x, y ∈ [α, ∞) com |x − y| < δ2 temos |f (x) − f (y)| < . Fazendo agora
2

δ = min{δ1 , δ2 }, se |x − y| < δ e x, y ∈ [0, α] ou x, y ∈ [α, ∞) vale |f (x) − f (y)| < < .
2
Se |x − y| < δ e digamos x < α < y então α, x ∈ [0, α] e |y − α| < δ2 com y, α ∈ [α, ∞) e
assim

40
 
|f (x) − f (y)| ≤ |f (x) − f (α)| + |f (α) − f (y)| < + = .
2 2
Logo, f é uniformemente contı́nua.

Teorema 1.13.2 Sejam M , N e P espaços métricos. Se f : M → N e g : N → P são


uniformemente contı́nuas então g ◦ f : M → P é uniformemente contı́nua.

Demonstração: Dado  > 0, como g é uniformemente contı́nua, existe δ1 > 0 tal que para
quaisquer u, v ∈ N com d(u, v) < δ1 garante d(g(u), g(v)) < . Por outro lado, para este
δ1 > 0 a continuidade uniforme de f nos fornece δ > 0 tal que para quaisquer x, y ∈ M
com d(x, y) < δ temos d(f (x), f (y)) < δ1 . Isto garante então d(g(f (x)), g(f (y))) <  ou
seja, d((g ◦ f )(x), (g ◦ f )(y)) <  para quaisquer x, y ∈ M com d(x, y) < δ. Logo, g ◦ f é
uniformemente contı́nua.

Exemplo 1.13.5 Seja f : [0, a] → R dada por f (x) = x3 . Mostre que f é uniformemente
contı́nua.

Tomemos h : [0, a] → R e g : [0, ∞) → R dadas por h(x) = x3 e g(y) = y. Pelo exemplo

anterior vimos que g(y) = y é uniformemente contı́nua. Por outro lado h é uniformemente
contı́nua por ser de Lipschitz:

d(h(x), h(z)) = |x3 − z 3 |


= |x − z||x2 + xz + z 2 |
≤ |x − z|(|x|2 + |xz| + |z|2 )
≤ |x − z|(a2 + a2 + a2 )
= 3a2 |x − z|.

Logo, pelo Teorema anterior f é uniformemente contı́nua pois f = g ◦ h.

Exemplo 1.13.6 Seja X ⊂ C limitado e f : X → C dada por f (x) = x6 . Mostre que f é


uniformemente contı́nua.

De fato, seja f = h ◦ g onde g : X → C é dada por g(x) = x2 e h : g(x) → C é dada


por h(y) = y 3 . Como X é limitado, segue que g(x) = x2 é uniformemente contı́nua. Além
disso, como X é limitado, g(x) também é ainda mais, h é lipschitiziana, pois

d(h(y), h(w)) = |y 3 − w3 | = |y − w||y 2 + yw + w2 |


≤ |y − w|(|y|2 + |yw| + |w|2 )
≤ |y − w|(b2 + b2 + b2 )
= 3b2 |y − w|.

Daı́ seque que h é uniformemente contı́nua. Logo f = h ◦ g é uniformemente contı́nua.

Teorema 1.13.3 Sejam f, g : M → C funções uniformemente contı́nuas. Então f + g e


f − g são uniformemente contı́nuas.

41
Demonstração: Dado  > 0, pela continuidade uniforme de f existe δ1 > 0 tal que

d(f (x), f (y)) = |f (x) − f (y)| < sempre que d(x, y) < δ1 . Do mesmo modo, pela con-
2

tinuidade uniforme de g existe δ2 > 0 tal que d(g(x), g(y)) = |g(x) − g(y)| < sempre que
2
d(x, y) < δ2 . Tomando então δ = min{δ1 , δ2 } teremos
d((f + g)(x), (f + g)(y)) = |f (x) + g(x) − f (y) − g(y)|
≤ |f (x) − f (y)| + |g(x) − g(y)|
 
< + =
2 2

desde que d(x, y) < δ. Logo, f + g é uniformemente contı́nua. Para o caso f − g o raciocı́nio
é análogo.
Definição 1.13.2 Dada uma função f : M → N1 × N2 × . . . × Nk , o qual é definida por
f (x) = (f1 (x), f2 (x), . . . , fk (x)), as funções fi : M → Ni são chamadas coordenadas de f .
Se pi : N1 × . . . × Nk → Ni é a projeção sobre Ni , vale fi = pi ◦ f , i = 1, 2, . . . , k.
Observemos que as projeções pi são lipschitzianas, e portanto uniformemente contı́nuas,
para qualquer uma das três métricas
v
u k
uX
(a) d(x, y) = t d(xi , yi )2 ;
i=1

k
X
(b) d1 (x, y) = d(xi , yi );
i=1

(c) d(x, y) = max{d(x1 , y1 ), . . . , d(xk , yk )} onde x = (x1 , . . . , xk ) e y = (y1 , . . . , yk ).


De fato temos
d(pi (x), pi (y)) = d(xi , yi )
v
u k
uX
≤ t d(xj , yj )2
j=1

= d(x, y)
d(pi (x), pi (y)) = d(xi , yi )
Xk
≤ d(xj , yj )
j=1
= d1 (x, y)
d(pi (x), pi (y)) = d(xi , yi )
≤ max{d(x1 , y1 ), . . . , d(xk , yk )}
= d2 (x, y).

42
Teorema 1.13.4 Se p é uma das métricas acima, então uma função f : M → (N1 × N2 )
é uniformemente contı́nua se, e somente se, suas coordenadas f1 : M → N1 e f2 : M → N2
o forem.

Demonstração: se f é uniformemente contı́nua então fi = pi ◦f é uniformemente contı́nua


por ser uma composição de funções uniformemente contı́nuas. Reciprocamente, se f1 e f2

são uniformemente contı́nuas, dado  > 0 existem δ1 , δ2 > 0 tais que d(f1 (x), f1 (y)) <
2

sempre que d(x, y) < δ1 e d(f2 (x), f2 (y)) < sempre que d(x, y) < δ2 . Assim, fazendo agora
2
 
δ = min{δ1 , δ2 } teremos d(f1 (x), f1 (y)) < e d(f2 (x), f2 (y)) < sempre que d(x, y) < δ.
2p 2
Se usarmos em N1 × N2 a métrica d(u, v) = d(u1 , v1 )2 + d(u2 , v2 )2 temos

d(f (x), f (y)) = d((f1 (x), f2 (x)), (f1 (y), f2 (y)))


p
= d(f1 (x), f1 (y))2 + d(f2 (x), f2 (y))2
r 
 2   2
< +
2 2
√
= 2
2
< 

sempre que d(x, y) < δ.


Usando a métrica d1 (u, v) = d(u1 , v1 ) + d(u2 , v2 ) em N1 × N2 temos

d1 (f (x), f (y)) = d1 ((f1 (x), f2 (x)), (f1 (y), f2 (y)))


= d(f1 (x), f1 (y)) + d(f2 (x), f2 (y))
 
< + =
2 2

sempre que d(x, y) < δ. Finalmente, também para a métrica d2 (u, v) = max{d(u1 , v1 ), d(u2 , v2 )}
temos

d2 (f (x), f (y)) = d2 ((f1 (x), f2 (x)), (f1 (y), f2 (y)))


= max{d(f1 (x), f1 (y)), (f2 (x), f2 (y))}

< <
2

sempre que d(x, y) < δ. Portanto f é uniformemente contı́nua em relação a qualquer uma
das métricas.

Corolário 1.13.1 Se p é uma das métricas usadas no teorema anterior, então uma função
f : M → (N1 × . . . × Nk , p) é uniformemente contı́nua se, e somente se, cada coordenada
fi = pi ◦ f : M → Ni o for.

Observação 1.13.2 A continuidade uniforme não é uma propriedade topológica, e sim


métrica. Isto é, uma função f : M → N uniformemente contı́nua pode perder esta pro-
priedade se trocarmos á métrica de M e ou a de N por outra equivalente.

43
1.14 Métricas Uniformemente Equivalentes
Se f : (M, d) → (N, d0 ) é uniformemente contı́nua, não é suficiente, em geral termos
d1 ∼ d e d01 ∼ d0 para garantir a continuidade uniforme de f : (M, d1 ) → (N, d0 ), de
f : (M, d) → (N, d01 ) e f : (M, d1 ) → (N, d01 ). Para tanto, é necessário uma relação mais
forte entre as métricas do que a simples equivalência. Essa relação é chamada equivalência
uniforme.
Definição 1.14.1 Uma bijeção uniformemente contı́nua f : M → N é chamada homeo-
morfismo uniforme quando sua inversa f −1 : N → M for também uniformemente contı́nua.

Definição 1.14.2 Duas métricas d1 e d2 num conjunto M são ditas uniformemente equiv-
alentes quando a aplicação identidade i12 : (M, d1 ) → (M, d2 ) for um homeomorfismo
uniforme.
d(x, y)
Exemplo 1.14.1 Dado um espaço métrico (M, d), mostre que d1 (x, y) = é
1 + d(x, y)
uniformemente equivalente a d.

Basta mostrar que a aplicação identidade i : (M, d) → (M, d1 ) é um homeomorfismo


uniforme. Dado  > 0, tomando δ =  teremos que d(x, y) <  garante
d1 (i(x), i(y)) = d1 (x, y)
d(x, y)
=
1 + d(x, y)
≤ d(x, y)
< δ = .

Logo, i é uniformemente contı́nua.



Por outro lado, para a inversa i−1 : (M, d1 ) → (M, d), dado  > 0 tomando δ =
1+
teremos que d1 (x, y) < δ garante
d(x, y) 
< ⇒ d(x, y) + d(x, y) <  + d(x, y) ⇒ d(x, y) < 
1 + d(x, y) 1+
ou seja d(i−1 (x), i−1 (y)) < , o que mostra a continuidade uniforme de i−1 . Logo d e d1 são
uniformemente equivalentes.
Exemplo 1.14.2 Dado um espço métrico (M, d) mostre que a métrica d2 (x, y) = min{1, d(x, y)}
é uniformemente equivalente a d.
Para tanto, basta mostrar que a aplicação identidade j : (M, d) → (M, d2 ) é um homeo-
morfismo uniforme. Dado  > 0, tomando δ =  então d(x, y) < δ teremos
d2 (j(x), j(y)) = d2 (x, y)
= min{1, d(x, y)}
≤ d(x, y) < δ = 

44
logo, j é uniformemente contı́nua.
Por outro lado, para j −1 : (M, d1 ) → (M, d), dado  > 0, tomando δ = min{1, } teremos
que se d2 (x, y) < δ ≤ 1 então min{1, d(x, y)} < 1 e assim min{1, d(x, y)} = d(x, y). Logo,

d2 (x, y) = d(x, y)

d(j −1 (x), j −1 (y)) = d(x, y)


= d2 (x, y)
< δ ≤ .

Portanto, j −1 é uniformemente contı́nua.

Teorema 1.14.1 Sejam d1 e d2 métricas em M . Se existirem constantes α, β > 0 tais que


d1 (x, y) ≤ αd2 (x, y) ≤ βd1 (x, y) para quaisquer x, y ∈ M então d1 e d2 são uniformemente
equivalentes.

Demonstração: Basta observar que as aplicações identidade i12 : (M, d1 ) → (M, d2 ) e


i21 : (M, d2 ) → (M, d1 ) são lipschitzianas e portanto uniformemente contı́nuas. Sendo
assim, d1 ∼ d2 .

1.15 Sequências de Cauchy - Espaços métricos completos


Definição 1.15.1 Seja (xn ) uma sequência num espaço métrico M . Diremos que (xn )
é uma sequência de Cauchy se dado  > 0 existir n0 tal que d(xn , xm )<  sempre que
m, n ≥ no .

Teorema 1.15.1 Se (xn ) é uma sequência convergente num espaço métrico M , então (xn )
é de Cauchy.


Demonstração:Seja lim xn = a. Então dado  > 0 existe no tal que d(xn , a) < para
n→∞ 2
todo n ≥ no . logo, para m, n ≥ no temos

d(xn , xm ) ≤ d(xn , a) + d(a, xm )


 
< +
2 2
= 

Portanto, (xn ) é de Cauchy.


A recı́proca deste teorema não é verdadeira. Isto pode ser observado tomando a
1
sequência xn = no espaço métrico M = (0, ∞) com a métrica induzida da reta real
n
45
2
R. Para mostrar que esta sequência (xn ) é de Cauchy, dado  > 0 basta tomar no > que

para m, n ≥ no teremos

1 1
d(xn , xm ) = −

n m

1 1
≤ n + m

1 1
= +
n m
1 1
≤ +
no no
2
=
no

< 2 =
2

Teorema 1.15.2 Se uma sequência de Cauchy (xn ) possui uma subsequência convergente
(xnk ) com lim xnk = a, então (xn ) converge e lim xn = a.

Demonstração:Dado  > 0, como lim xnk = a, existe ko tal que d(xnk , a) < para todo
2

k ≥ ko . Por outro lado, sendo (xn ) de Cauchy existe m1 tal que d(xn , xm ) < sempre
2
que m, n ≥ m1 . Tomando agora mo = max{m1 , nko } e fixando um natural k ≥ ko com
nk > mo , isto é fixemos um termo xnk da subsequência (xnk ) com nk ≥ mo . Então, para
n ≥ mo temos
d(xn , a) ≤ d(xn , xnk ) + d(xnk , a)
 
< + = .
2 2

Portanto, lim xn = a.

Teorema 1.15.3 Toda sequência de Cauchy é limitada.

Demonstração: Seja (xn ) uma sequência de Cauchy num espaço métrico M . Então para
 = 1 existe no tal que d(xn , xm ) < 1 sempre que m, n ≥ no . Em particular para n ≥ no
d(xn , xmo ) < 1 ou seja,
xn ∈ B(xno ; 1).
Logo, fazendo X = {x1 , x2 , . . . , xno −1 }, temos
x(N) = X ∪ {xno , xno +1 , . . .}
⊂ X ∪ B(xno ; 1)

Como X é limitado por ser finito, temos X ∪ B(xno ; 1) limitado e assim x(N) é limitado,
ou seja, (xn ) é limitada.

46
Definição 1.15.2 Diremos que um espaço métrico M é completo quando toda sequência
de Cauchy em M for convergente.

Exemplo 1.15.1 Consideremos a reta real R com sua métrica usual. Seja (xn ) uma
sequência de Cauchy em R. Vamos mostrar que R é completo.

De fato, pelo teorema anterior, sabemos que (xn ) é limitada. Se (xn ) for monótona, temos
que (xn ) converge. Se porém, (xn ) não for monótona, poderemos garantir sua convergência
pelo que segue. Tomamos

yn = inf{xn , xn+1 , . . .}.

Então (yn ) é monótona pois y1 ≤ y2 ≤ . . .. Como (xn ) é limitada, digamos a ≤ xn ≤ b


para todo n, então pela definição de yn temos a ≤ yn ≤ b para todo n. Logo temos que
(yn ) converge. Seja então lim yn = p. dado  > 0 existe n1 tal que
n→∞


|yn − p| <
3
para todo n ≥ n1 . Sendo (xn ) de Cauchy existe n2 tal que

|xn − xm | <
3
sempre que m, n ≥ n2 . Da definição acima de ı́nfimo segue que para cada n existe in ≥ n
tal que

yn ≤ xin ≤ yn + .
3
Fazendo no = max{n1 , n2 }, para n ≥ no teremos

|xn − p| ≤ |xn − xin | + |xin − yn | + |yn − p|


  
< + + = .
3 3 3

Portanto lim xn = p e isto mostra que (xn ) é convergente e R é completo.


n→∞

Teorema 1.15.4 Se M é completo e N é um subespaço fechado de M , então N é completo.

Demonstração: Seja (xn ) uma sequência de Cauchy em N . Como M é completo, (xn )


converge em M , isto é, existe a ∈ M tal que lim xn = a. Assim, temos que a ∈ N (pois
n→∞
N é fechado em M ). Portanto, (xn ) é convergente em N e N é completo.

Teorema 1.15.5 Se N é um subespaço de completo de M , então N é fechado em M .

47
Demonstração: Seja (xn ) uma sequência de pontos de N com lim xn = a ∈ M . Dai
n→∞
temos que (xn ) é de Cauchy. Sendo N completo (xn ) converge em N . Isto é, existe b ∈ N
tal que lim xn = b. Pela unicidade do limite de uma sequência temos b = a, pois caso
n→∞
contrário a sequência (xn ) teria dois limites distintos em M . Portanto, a ∈ N e dai temos
que N é fechado em M .

Teorema 1.15.6 Se M e N são completos, então M × N é completo.

Demonstração: Sejam M e N espaços métricos completos e consideremos em M × N


temos
p
d(x, y) = d(x1 , y1 )2 + d(x2 , y2 )2

onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ). Dada uma sequência de Cauchy zn = (xn , yn ) em M × N


temos
p
d(xn , xm ) ≤ d(xn , xm )2 + d(yn , ym )2
= d(zn , zm )

e
p
d(yn , ym ) ≤ d(xn , xm )2 + d(yn , ym )2
= d(zn , zm ).

Portanto, o fato de (zn ) ser uma sequência de Cauchy garante que (xn ) e (yn ) também são.
Como M e N são completos, (xn ) e (yn ) são convergentes. Digamos
lim xn = a e lim yn = b.
n→∞ n→∞

 
Portanto, dado  > 0 existem n1 e n2 tais que d(xn , a) <para todo n ≥ n1 e d(yn , b) <
2 2
para todo n ≥ n2 . Tomando no = max{n1 , n2 } para n ≥ no teremos
d(zn , (a, b)) = d((xn , yn ), (a, b))
p
= d(xn , a)2 + d(yn , b)2
r 
 2   2
= +
2 2
r
2
2()
=
4

= √ < .
2

Logo, lim zn = (a, b) e M × N é completo.


n→∞

48
Corolário 1.15.1 Se M1 , M2 , . . . , Mk são espaços métricos completos então temos que o
produto cartesiano M1 × M2 × . . . × Mk é completo.

Teorema 1.15.7 Se f : M → N é uma isometria, então M é completo se e somente se


N o for.

Demonstração: Sejam M completo e f : M → N uma isometria. Dada uma sequência


de Cauchy (yn ) em N , a sequência xn = f −1 (yn ) é também de Cauchy, pois,

d(xn , xm ) = d(f (xn ), f (xm ))


= d(yn , ym ).

Sendo M completo, (xn ) converge. Seja lim xn = a. Então, da continuidade de f temos


n→∞
que

lim f (xn ) = f (a)


n→∞
= lim yn .
n→∞

Portanto (yn ) é convergente e N é completo. Analogamente mostra-se a outra parte.

Definição 1.15.3 Um espaço vetorial normado e completo em relação à métrica induzida


por esta norma é chamado espaço de Banach.

Como exemplos simples de espaços de Banach temos a reta R e espaço vetorial Rn .


Com o intuito de obter outros espaços de Banach apresentaremos agora o espaço ß(X, R)
das funções reais limitadas f : X → R definidas num conjunto qualquer X. Observe que
ß(X, R) com a soma e produto por escalar λ ∈ R usuais

(f + g)(x) = f (x) + g(x)

(λf )(x) = λf (x)

é um espaço vetorial.
Podemos definir uma norma em ß(X, R) pondo

kf k∞ = sup{|f (x)|; x ∈ X}

Esta norma induz em ß(X, R) a métrica d(f, g) = kf − gk∞ . O exemplo a seguir estabelece
que o espaço vetorial aqui descrito é um espaço de Banach.

Exemplo 1.15.2 O espaço ß(X, R) com a métrica d(f, g) = kf − gk∞ é completo.

49
Seja (fn ) uma sequência de Cauchy neste espaço. Então, dado  > 0 existe no tal d(fm , fn ) <
 para quaisquer m, n ≥ no . Então se m, n ≥ no temos d(fm (x), fn (x)) < . Logo para cada
x ∈ X a sequência (fn (x)) é de Cauchy em R. Como R é completo, (fn (x)) é convergente,
isto é, existe lim fn (x). Então, para cada x ∈ X façamos
n→∞

lim fn (x) = f (x).


n→∞

Desta forma obtemos uma nova função f : X → R. Queremos mostrar agora que f ∈
ß(X, R) e que neste espaço lim fn = f , isto é

lim d(fn , f ) = lim kfn − f k = 0.

Ou seja,

sup |fn (x) − f (x)| → 0



quando n → ∞. Como (fn ) é de Cauchy, dado  > 0 existe k tal que d(fm , fn ) < sempre
2
que m, n ≥ k. Isto é, m, n ≥ k garantem

|fm (x) − fn (x)| <
2
para todo x ∈ X. Se para cada x ∈ X fizermos m → ∞ nessa ultima desigualdade
obteremos

|f (x) − fn (x)| ≤ <
2
para todo x ∈ X e n ≥ k. Em particular |f (x) − fk (x)| <  para todo x ∈ X, e assim

|f (x)| = |f (x) − fk (x) + fk (x)|


≤ |f (x) − fk (x)| + |fk (x)|
<  + |fk (x)|

para todo x ∈ X. Como fk ∈ ß(X, R), existe A tal que |fk (x)| ≤ A para todo x ∈ X.
Logo,

|f (x)| <  + A

para todo x ∈ X. Isto mostra que f é limitada, ou seja, f ∈ ß(X, R). Além disso, de

|f (x) − fn (x)| ≤ <
2
para todo x ∈ X e n ≥ k vem

sup |f (x) − fn (x)| ≤ < ,x ∈ X
2
50
para todo n ≥ k ou seja, d(fn , f ) <  para todo n ≥ k. Portanto lim fn = f e ß(X, R) é
completo.
O exemplo a seguir mostra que o espaço das funções contı́nuas C([a, b], R) é completo.

Exemplo 1.15.3 O espaço C([a, b], R) com a métrica d(f, g) = kf − gk∞ onde temos que
kf − gk∞ = sup{|f (x) − g(x)|; x ∈ [a, b]} é completo.

Consideremos (fn ) uma sequência de Cauchy nesse espaço. Dai temos que d(fm (x), fn (x)) <
 sempre que m, n ≥ n0 ∀x ∈ [a, b]. Note que (fn (x)) é de Cauchy em R. Como R é completo
temos que existe lim fn (x). Para cada x ∈ [a, b] fazemos lim fn (x) = f (x). A partir dai
n→∞ n→∞
obteremos uma nova função f : [a, b] → R e mostremos agora que f ∈ C([a, b], R) e que
neste espaço lim fn = f ⇔ lim d(fn , f ) = lim kfn − f k = 0. Como (fn ) é de Cauchy dado

 > 0 ∃k > 0 tal que |fm (x) − fn (x)| < sempre que m, n ≥ k. Fazendo m → ∞ teremos
2

que |f (x) − fn (x)| ≤ <  ∀x ∈ [a, b] e n ≥ k. Considere agora uma sequência de funções
2
contı́nuas fn : [a, b] → R com lim fn = f em C([a, b], R). Então dado  > 0 existe k tal que
 
d(fn , f ) < ∀n ≥ k. Logo |fn (x) − f (x)| < . Como fk é contı́nua, dado a1 ∈ [a, b] existe
3 3
δ > 0 tal que

|fk (a1 ) − fk (x)| <
3
∀x ∈ [a, b] com d(x, a1 ) < δ. Dai se x ∈ [a, b] e d(x, a1 ) < δ teremos que

|f (a1 ) − f (x)| ≤ |f (a1 ) − fk (a1 )| + |fk (a1 ) − f (x)|


≤ |f (a1 ) − fk (a1 )| + |fk (a1 ) − fk (x)| + |fk (x) − f (x)|
  
< + +
3 3 3
= 

o que concluı́mos que f é contı́nua, ou seja, f ∈ C([a, b], R).

Definição 1.15.4 Um espaço de Hilbert é um espaço vetorial com produto interno que é
completo em relação à métrica oriunda deste produto interno.

Conforme vimos anteriormente o Rn é completo em relação a métrica usual. Sendo esta


métrica exatamente a que vem do produto interno canônico do Rn
n
X
< x, y >= xi y i
i=1

onde x = (x1 , x2 , . . . , xn ) e y = (y1 , y2 , . . . , yn ) é um espaço de Hilbert.

Exemplo 1.15.4 O espaço vetorial M = {f : [0, 2] → R} onde f é contı́nua com o produto


interno

51
R2
< f, g >= 0
(f.g)

não é um espaço de Hilbert.

Para provar esta afirmação tomemos a sequência fn : [0, 2] → R dada por



 1, se x ≤ 1

 1
fn (x) = −nx + n + 1, se 1 < x < 1 +
n

 1

 0, se x ≥ 1 +
n

1
Isto é, entre os pontos 1 e 1 + , fn é tal que seu gráfico é o segmento de reta unindo os
  n
1
pontos (1; 1) e 1 + ; 0 . Observemos que fn é uma sequência de Cauchy. Temos
n

d(fn , fn+p ) = kfn − fn+p k


p
= < fn − fn+p , fn − fn+p >
s
Z 2
= (fn − fn+p )(fn − fn+p )
0
s
Z 2
= (fn − fn+p )2
0
v
u
uZ 1 Z 1+ 1
u 1+
= u n + p (px − p)2 + n (−nx + n + 1)2 .
u
u 1 1
1+
u|
t
{z
I(n,p)
} n+p
| {z }
J(n,p)

Agora note que

lim I(n, p) = lim J(n, p) = 0.


n→∞ n→∞

Logo,

lim d(fn , fn+p ) = 0


n→∞

ou seja, dado  > 0 existe no tal que n ≥ no garante d(fn , fn+p ) <  para todo p. Isto
mostra que (fn ) é de Cauchy. Mostraremos agora que (fn ) não converge em M . Para
tanto, suponhamos que f seja uma função em M tal que lim fn = f . Então, se tivermos
n→∞
f (a) 6= 1 para algum a < 1 teremos

|fn (a) − f (a)| > 0

52
e assim
s
Z 2
d(fn , f ) = (fn − f )2
0
s
Z 2
= |fn − f |2
0
s
Z 1
≥ (fn − f )2
0
s
Z 1
= (1 − f )2 > 0
0

para todo n. Logo


s
Z 1
lim d(fn , f ) ≥ (1 − f )2 > 0
n→∞ 0

contrariando a hipótese de que lim fn = f em M . Por outro lado, se para algum a > 1
n→∞
tivéssemos f (a) 6= 0, então

|fn (a) − f (a)| = |f (a)| > 0


1 1 1 1
desde que 1 + < a, ou seja, < a − 1 ou ainda n > . Logo, para n >
n n a−1 a−1
terı́amos
s
Z 2
d(fn , f ) = (fn − f )2
0
vZ
u 2
≥ t 2
1 |fn − f |
u
1+
n
vZ
u 2
2
1 |f | > 0
u
= t
1+
n

o que contraria a hipótese de que lim fn = f . Portanto, se lim fn = f devemos ter neces-
sariamente


1, se x < 1
f (x) =
0, se x > 1.

Se, porém, f cumpre estas condições, então f não é contı́nua, isto é, f 6∈ M . Isto prova
que não existe lim fn em M .
n→∞

53
Teorema 1.15.8 Sejam M e N espaços métricos, com N completo. Se X ⊂ M e se
f : X → N é uniformemente contı́nua então existe lim f (x) para todo a ∈ X̄ − X.
x→a

Demonstração: Para demonstrar este teorema mostraremos que para toda sequência
(xn ) em X com lim xn = a, existe lim f (xn ). Seja então (xn ) uma sequência em X com
n→∞
lim xn = a. Então (xn ) é de Cauchy. Por outro lado, a continuidade de f assegura que
n→∞
dado  > 0 é possivel obter δ > 0 tal que d(f (x), f (y)) <  sempre que d(x, y) < δ com
x, y ∈ X. Sendo (xn ) de Cauchy, para este δ > 0 existe no tal que d(xn , xm ) < δ sempre
que m, n ≥ no . Assim, para m.n ≥ no teremos d(f (xn ), f (xm )) <  e (f (xn )) é uma
sequência de Cauchy em N . Como N é completo existe lim f (xn ) e, consequentemente
n→∞
existe lim f (x).
x→a

Teorema 1.15.9 Sejam X ⊂ M denso, N um espaço métrico completo e f : X → N


uniformemente contı́nua. Então a função F : M → N dada por

(
f (y), se y ∈ X
F (y) = lim f (x), se y ∈ M − X
x→y

é uniformemente contı́nua.

Demonstração: Do teorema anterior sabemos que para todo y ∈ M − X existe lim f (x).
x→y
Assim, F está bem definida e pelo teorema 3.2.3 garante a continuidade de F . Mostraremos
agora que F é uniformemente contı́nua. Dado  > 0, a continuidade de f nos fornece δ > 0
tal que


d(f (x), f (z)) <
2

para quaisquer x, z ∈ X com d(x, z) < δ. Sejam y, v ∈ M com d(y, v) < δ. De X


denso em M obtemos sequências (xn ) e (zn ) em X com lim xn = y e lim zn = v. Então
n→∞ n→∞
lim d(xn , zn ) = d(y, v), δ e portanto existe no tal que d(xn , zn ) < δ para todo n ≥ no , o que

fornece d(f (xn ), f (zn )) < para todo n ≥ no . Logo,
2

d(F (y), F (v)) = d(lim f (xn ), lim f (zn ))


= lim d(f (zn ), f (xn ))

≤ < .
2

Isto mostra que F é uniformemente contı́nua.

54
2 Análise Funcional
2.1 O Teorema de Baire
Para esta seção usamos como referência OLIVEIRA (2005) e KUHLKAMP (2002).

Teorema 2.1.1 Sejam M um espaço métrico completo e F1 ⊃ F2 ⊃ F3 ⊃ . . . uma sequen-


cia decrescente de subconjuntos fechados não vazios de M com lim diamFn = 0. Então
n→∞


\
F = Fn
n=1

contém exatamente um ponto.

Demonstração: Como os conjuntos Fn são não vazios para cada n ∈ N escolhemos


arbitrariamente um ponto xn ∈ Fn . Mostraremos que a sequência (xn ) assim obtida é se
Cauchy. Dado  > 0, como lim diamFn = 0, existe no tal que diamFn <  para todo
n→∞
n ≥ no . Assim, para m, n ≥ no temos

d(xn , xm ) < 

pois xn , xm ∈ Fno visto que Fn ⊂ Fno e Fm ⊂ Fno . Portanto (xn ) é de Cauchy. Como M
é completo (xn ) converge. Seja lim xn = a. Vamos provar que a ∈ F . De fato, dado um
n→∞
natural n qualquer temos xk ∈ Fn para todo k ≥ n. Assim

lim xk = a ∈ Fn ,
x→∞

para todo n, ou seja,



\
a∈ Fn = F .
n=1


\
Quanto à unicidade observe-se que se existe um ponto b ∈ Fn com a 6= b, então
n=1
diamFn ≥ d(a, b) > 0 para todo n, o que contraria a hipótese lim diamFn = 0. Por-
n→∞
tanto não existe b 6= a ∈ F , ou seja F = {a} como querı́amos.
 
n 1
Exemplo 2.1.1 Em R consideremos as bolas fechadas Bn = B 0; . Observe que temos
n
B1 ⊃ B2 ⊃ B3 ⊃ . . . e lim diamBn = 0 e cada Bn é fechado e não vazio, o Teorema
n→∞

\
anterior garante que Bn contém exatamente um ponto. Observando que 0 ∈ Bn para
n=1

\
todo n obtemos Bn = {0}.
n=1

55
Teorema 2.1.2 Seja Fn uma sequência de subconjuntos fechados de um espaço métrico
completo M tais que int Fn = ∅ para todo n. Então

[
int Fn = ∅.
n=1

Outra forma de enunciar o teorema de Baire é a seguinte: Se An é uma sequência de


subconjuntos abertos e densos de um espaço métrico completo M , então

[
A= An
n=1

é denso em M . A equivalência dessas duas formas de enunciar o teorema de Baire decorre


dos seguintes fatos:

1. Fn é fechado e int Fn = ∅ se, e somente se, An = M − Fn é aberto e denso em M



\ ∞
[
2. Se An = M − Fn então An = M − Fn
n=1 n=1

Demonstração: Para provar o Teorema mostraremos que a interseção de um sequência


de subconjuntos abertos e densos em M é denso em M . Dada uma bola qualquer B(a; r)
em M mostraremos que B(a; r) ∩ A1 6= ∅. Seja a1 ∈ B(a; r) ∩ A1 . Pelo fato de A1 ser
aberto existe r1 > 0 tal que

B1 = B [a1 ; r1 ] ⊂ A1 ∩ B(a; r).

Sem perda de generalidade podemos supor r1 ≤ 1. Como A2 é denso em M temos B(a1 ; r1 )∩


A2 6= ∅. Seja a2 ∈ B(a1 ; r1 ) ∩ A2 . Pelo fato de A2 ser aberto existe r2 > 0 tal que

B2 = B [a2 ; r2 ] ⊂ A2 ∩ B(a1 ; r1 ).

1
Podemos supor também r2 ≤ . Notemos que B1 ⊃ B2 e diam B1 ≤ 2.1 = 2. Observe
2
1
também que diam B2 ≤ 2. = 1. Por indução obtemos uma sequência de bolas fechadas
2
Bn tais que:

1. B1 ⊃ B2 ⊃ B3 . . .

2. Bn 6= ∅ para todo n

3. lim diam Bn = 0.

Então pelo teorema anterior temos que



\
Bn = {p}.
n=1

56
De Bn ⊂ An segue que

\ ∞
\
{p}= Bn ⊂ An = A
n=1 n=1

Como B1 ⊂ B(a; r) temos Bn ⊂ B(a; r) para todo n e assim



\
{p} = Bn ⊂ B(a; r).
n=1

Portanto p ∈ B(a; r) ∩ A e A é denso em M como querı́amos.

Definição 2.1.1 Um subconjunto H de um espaço métrico M é magro em M quando



[
H= Hn onde para cada n, int H̄n = ∅.
n=1

Exemplo 2.1.2 O conjunto dos números racionais Q é magro em R. Para comprovação


deste fato basta lembrar que o conjunto dos racionais é enumerável o que garante ser
[
Q= {x}
x∈Q

e que int {x} = ∅ para qualquer x.


[
Teorema 2.1.3 (Teorema de Baire) Se um espaço métrico M é completo e M = Fn
n=1
onde cada Fn é fechado em M , então pelo menos para um n temos int Fn 6= ∅


[
Demonstração: Se fosse int Fn = ∅ para todo n, então M = Fn seria magro em M e
n=1
assim pelo Teorema 2.1.2 terı́amos int M = ∅ em M , que é absurdo.

2.2 Completamento de Espaços Métricos


Definição 2.2.1 Um completamento de um espaço métrico é um par (N, φ) onde N é um
espaço métrico completo e φ : M → N é uma imersão isométrica com φ(M ) denso em N .

Exemplo 2.2.1 Consideremos os conjuntos Q dos números racionais e R dos reais ambos
munidos da métrica d(x, y) = |x − y|. Tomando φ : Q → R dada por φ(x) = x teremos
que φ é imersão isométrica e que φ(Q) = Q é denso no espaço completo R. Logo R é um
completamento de Q.

Teorema 2.2.1 Todo espaço métrico possui um completamento.

57
Demonstração: Sejam M um espaço métrico e p um ponto fixado em M . Consideremos
o espaço C(M, R) das funções contı́nuas e limitadas f : M → R que é completo. Definimos
uma função f : M → C(M, R) dada por f (a) = fa : M → R onde fa (x) = d(x, a) − d(x, p).
Observamos que f está bem definida, isto é, que fa : M → R é contı́nua e limitada para
todo a ∈ M . De fato, fa é contı́nua por ser a diferença entre duas funções contı́nuas e é
limitada porque para todo x ∈ M vale

|fa (x) = |d(x, a) − d(x, p)|


≤ d(a, p).

Constatamos também que f é uma imersão isométrica, pois

d(f (a), f (b)) = d(fa , fb )


= kfa − fb k
= sup |fa (x) − fb (x)|
= sup |d(x, a) − d(x, p) − [d(x, b) − d(x, p)]|
= sup |d(x, a) − d(x, b)|
≤ sup d(a, b)
= d(a, b)

e para x = b temos

|fa (b) − fb (b)| = |d(a, b) − d(b, p) − [d(b, b) − d(b, p)]|


= |d(a, b)|
= d(a, b)

o que assegura

sup |fa (x) − fb (x)| = d(a, b),

onde x ∈ X ou seja,

d(f (a), f (b)) = d(a, b).

Como, porém, nada nos garante a densidade de f (M ) em C(M, R), fazemos N = f (M ) ⊂


C(M, R). Assim, N é completo por ser subespaço fechado do espaço completo C(M, R).
Definindo ϕ : M → N por ϕ(a) = fa teremos que ϕ é imersão isométrica e ϕ(M ) = N .
Portanto (N, ϕ) é um completamento de N .

Teorema 2.2.2 Se (N, ϕ) e (P, ψ) são dois dois completamentos arbitrários de M , então
existe uma isometria f : N → P tal que ψ = f ◦ ϕ.

58
Demonstração: Sejam N e P espaços métricos completos, ϕ : M → N e ψ : M → P
imersões isométricas tais que ϕ(M ) = N e ψ(M ) = P . Para definir a função f desejada
notemos que dado y ∈ N , existe uma sequência (an ) em M com lim ϕ(an ) = y , pois ϕ(M )
n→∞
é denso em N . Como (ϕ(an )) é de Cauchy em N e ϕ é uma imersão isométrica, (an ) é de
Cauchy em M . Assim, (ψ(an )) é uma sequência de Cauchy em P visto que ψ é também
imersão isométrica. Como P é completo, existe lim ψ(an ) em P . Colocamos então
n→∞

f (y) = lim ψ(an ).


n→∞

Observe que f está bem definida, pois o limite de (ψ(an )) independe da sequência (an )
visto que se

lim ϕ(an ) = lim ϕ(bn ) = y


n→∞ n→∞

então

lim d(ψ(an ), ψ(bn )) = lim d(an , bn )


n→∞ n→∞
= lim d(ϕ(an ), ϕ(bn ))
n→∞
= 0

e assim

lim ψ(an ) = lim ψ(bn ).


n→∞ n→∞

Para mostrar que f é imersão isométrica, obervemos que dados x, y ∈ N como ϕ(M ) é
denso em N existem sequências (an ) e (bn ) em M com

x = lim ϕ(an ) e y = lim ϕ(bn ).


n→∞ n→∞

Então, pela continuidade da função distância d e das funções ϕ e ψ temos

d(f (x), f (y)) = d( lim ψ(an ), lim ψ(bn ))


n→∞ n→∞
= lim d(ψ(an ), ψ(bn ))
n→∞
= lim d(an , bn )
n→∞
= lim d(ϕ(an ), ϕ(bn ))
n→∞
= d( lim ϕ(an ), lim ϕ(bn ))
n→∞ n→∞
= d(x, y).

Assim, f é imersão isométrica. Para mostrarmos que f é sobrejetiva consideremos z ∈


P . Como ψ(M ) é denso em P , existe uma sequência (an ) em M com lim ψ(an ) = z.
n→∞
Consideremos a sequência (ϕ(an )) em N . Sendo ψ e ϕ imersões isométricas e (ψ(an )) uma

59
sequência de Cauchy, a sequência (ϕ(an )) é também de Cauchy. Logo, existe y ∈ N tal
que y = lim ϕ(an ). Assim f (y) = lim ψ(an ) = z. Logo, f é uma isometria. Finalmente,
n→∞ n→∞
para mostrar que f ◦ ϕ = ψ, dado a ∈ M tomamos y = ϕ(a) e (an ) uma sequência com
lim an = a. Então,
(f ◦ ϕ)(a) = f (ϕ(a)
= f (y)
= lim ψ(an )
n→∞
= ψ(a).

Logo, f ◦ ϕ = ψ.

2.3 O Teorema do Ponto Fixo de Contrações em Espaços Métricos


(Teorema do Ponto Fixo de Banach)
Definição 2.3.1 Uma função f : M → N é uma contração se existir uma constante
positiva k < 1 tal que
d(f (x), f (y)) ≤ kd(x, y)
para quaisquer x, y ∈ M . Observe que uma contração é uma função de Lipschitz com
constante k < 1.
Definição 2.3.2 Um ponto fixo de uma função f : M → M é um ponto p ∈ M tal que
f (p) = p.
Naturalmente, nem toda função f : M → M possui um ponto fixo. Por outro lado,
para a função identidade i : M → M todo ponto de M é ponto fixo. A função f : R → R
dada por f (x) = x2 possui dois pontos fixos: 0 e 1.
Teorema 2.3.1 Seja M um espaço métrico completo. Então, toda contração f : M → M
possui um único ponto fixo. Além disso, dado um ponto qualquer a ∈ M , a sequência
(f n (a)) = (f (a), f 2 (a), f 3 (a), . . .)
é convergente e seu limite é o ponto fixo de f .
Demonstração: Seja f : M → M uma contração com d(f (x), f (y)) ≤ kd(x, y). Dado
a ∈ M façamos

a1 = f (a)
a2 = f (a1 ) = f (f (a)) = f 2 (a)
a3 = f (a2 ) = f (f 2 (a)) = f 3 (a)
..
.
an = f n (a)
..
.

60
Mostraremos que a sequência (an ) assim definida é de Cauchy. Temos
d(a1 , a2 ) = d(f (a), f (a1 ))
≤ kd(a, a1 )
d(a2 , a3 ) = d(f (a1 ), f (a2 ))
≤ kd(a1 , a2 )
≤ k 2 d(a, a1 ).

Por indução, supondo d(an−1 , an ) ≤ k n−1 .d(a, a1 ) obtemos


d(an , an+1 ) = d(f (an−1 ), f (an ))
≤ kd(an−1 , an )
≤ k n d(a, a1 ).

Logo,
d(an , an+p ) ≤d(an , an+1 ) + d(an+1 , an+2 ) + . . . + d(an+p−1 , an+p )
≤k n d(a, a1 ) + k n+1 d(a, a1 ) + . . . + k n+p−1 d(a, a1 )
=(k n + k n+1 + . . . + k n+p−1 )d(a, a1 )
<(k n + k n+1 + . . . + k n+p−1 + . . .)d(a, a1 )
kn
= d(a, a1 ).
1−k

Como k < 1, temos que k n → 0 quando n → ∞ e assim


kn
lim d(a, a1 ) = 0.
n→∞ 1 − k

kn
Dado  > 0, existe no tal que d(a, a1 ) <  para todo n ≥ no . Consequentemente, para
1−k
todo p ∈ N, temos d(an , an+p ) <  desde que n ≥ no ou seja, (an ) é de Cauchy. Como M é
completo, (an ) é convergente. Seja lim an = b. Então
f (b) = lim f (an )
n→∞
= lim an+1
n→∞
= b.

Logo, b é um ponto fixo de f . Resta mostrar que b é o único ponto fixo de f . Suponhamos
que exista c 6= b em M com f (c) = c. Então,
d(b, c) = d(f (b), f (c))
≤ kd(b, c)
< d(b, c)

o que é absurdo. Portanto, b é o único ponto fixo de f como querı́amos.

61
Exemplo 2.3.1 Seja f uma função contı́nua e lipschitziana em Ω = Ia × Bb onde

Ia = {t; |t − t0 | ≤ a}
Bb = {x; |x − x0 | ≤ b}.

Se |f | ≤ M em Ω, então existe uma e única solução de

x0 = f (t, x)
x(t0 ) = x0

 
1 b
em Iα onde α < min , e c é a constante de lipschitz.
c M

De fato, nosso objetivo é encontrar uma função x : Iα → R definida num intervalo Iα


que contenha t0 no seu domı́nio tal que x(t0 ) = x0 e para todo t ∈ Iα x0 (t) = f (t, x(t)).
Graficamente,

Inicialmente as condições x0 = f (t, x) e x(t0 ) = x0 podem ser englobadas em uma única


condição
Z t
x(t) = x0 + f (s, x(s))ds
t0

Tome os intervalos Iα = (t0 − α, t0 + α) e Bb = [xo − b, x0 + b] em R. Com esses intervalos


teremos as seguintes condições

(a) Iα × Bb ⊂ Ω;
(b) |f (t, x)| ≤ M ∀(t, x) ∈ Iα × Bb ;
(c) α.c < 1;

Considere agora o espaço métrico C(Iα ; Bb ) formado pelas aplicações contı́nuas x : Iα → Bb


com a métrica do supremo e defina F : C(Iα ; Bb ) → C(Iα ; Bb ) da seguinte forma:
Z t
[F (x)](t) = x0 + f (s, x(s))ds ∀x ∈ C(Iα ; Bb ) ∀t ∈ Iα
t0

62
Com isso há alguns pontos a verificar
Z t

(a) |[F (x)](t) − x0 | = f (s, x(s))ds ≤ |t − t0 |M ≤ αM ≤ b

t0
Z 0
t
(b) |F (x)(t) − F (x)(t0 )| = f (s, x(s))ds ≤ |t − t0 |M

t

Notemos agora que para x, w ∈ C(Iα ; Bb ) quaisquer vale


Z t

|F (x)(t) − F (w)(t)| = [f (s, x(s)) − f (s, w(s))]ds

t
Z t0
≤ |f (s, x(s)) − f (s, w(s))|ds
t0
Z t
≤ c|x(s) − w(s)|ds
t0
≤ c sup |x(s) − w(s)||t − t0 |
≤ αc sup |x(s) − w(s)|

onde t, s ∈ Iα . Portanto

sup |[F (x)](t) − [F (w)](t)| ≤ α.ckx − wk

o que implica

kF (x) − F (w)k ≤ α.ckx − wk.

Logo F é uma contração do espaço métrico completo C(Iα ; Bb ) em si mesmo, e dai


existe uma única aplicação contı́nua x : Iα → Bb tal que F (x) = x ou seja
Z t
x(t) = x0 + f (s, x(s))ds.
t0

2.4 Espaços Topológicos Compactos


Teorema 2.4.1 Seja[ [a, b] um intervalo em R e {Iλ }λ∈L uma famı́lia de intervalos abertos
em R com [a, b] ⊂ Iλ . Então existem λ1 , λ2 , . . . , λn em L tais que
λ∈L

[a, b] ⊂ Iλ1 ∪ Iλ2 ∪ . . . ∪ Iλn .

Demonstração: Seja X o conjunto dos pontos x ∈ [a, b] tais que o intervalo [a, x] pode ser
coberto por uma reunião finita dos Iλ , isto é, [a, x] ⊂ Iλ1 ∪ . . . ∪ Iλk . Evidentemente, a ∈ X
e, dado x ∈ X, a < x0 < x implica x0 ∈ X, logo X é um intervalo da forma [a, c) ou da
forma [a, c], onde c = sup X. Afirmamos que c ∈ X, donde X = [a, c].Com efeito,c pertence
a um certo intervalo Iλo . Escolhamos arbitrariamente um ponto x ∈ Iλo , com a ≤ x < c.

63
Tem-se x ∈ X e portanto [a, x] ⊂ Iλ1 ∪ . . . ∪ Iλk . Segue-se que [a, c] ⊂ Iλ1 ∪ . . . ∪ Iλk ∪ Iλo ,
donde c ∈ X. Se fosse c < b, existiria  > 0 suficientemente pequeno para que c +  < b e
[c, c + ] ⊂ Iλo . Então seria [a, c + ] ⊂ Iλ1 ∪ . . . ∪ Iλk ∪ Iλo e portanto (c + ) ∈ X, uma
contradição. Logo c = b e X = [a, b].
[
Corolário 2.4.1 Se [a, b] ⊂ Aλ onde cada Aλ é um conjunto aberto em R, então exis-
λ∈L
tem λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ L tais que [a, b] ⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . . ∪ Aλn .

Demonstração: Como cada conjunto aberto é uma reunião de bolas abertas, e as bolas
abertas em R são intervalos abertos, se
[
[a, b] ⊂ Aλ
λ∈L

temos
[
[a, b] ⊂ Iµ
µ∈S

onde cada Iµ é um intervalo aberto. Pelo teorema anterior obtemos µ1 , µ2 , . . . , µn ∈ S tais


que

[a, b] ⊂ Iµ1 ∪ Iµ2 ∪ . . . ∪ Iµn .

Naturalmente existem então λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ L tais que Iµi ⊂ Aλi para cada i = 1, 2, . . . , n.


Logo,

[a, b] ⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . . ∪ Aλn

como querı́amos.

Definição 2.4.1 Sejam X um espaço topológico e Y ⊂ X. Uma cobertura de Y é uma


famı́lia C = {Cλ }λ∈L de subconjuntos de X tal que
[
Y ⊂ Cλ .
λ∈L

Se cada Cλ for um conjunto aberto em X, diremos que C é uma cobertura aberta de Y. Se


existir L0 ⊂ L tal que
[
Y ⊂ Cλ
λ∈L0

diremos que C 0 = {Cλ }λ∈L0 é uma subcobertura de C para Y .

Definição 2.4.2 Um subconjunto K de um espaço topológico X será dito compacto quando


toda cobertura aberta de K possuir uma subcobertura finita

64
Teorema 2.4.2 Se X é um espaço toplógico compacto e F ⊂ X é fechado, então F é
compacto.
[
Demonstração: Sejam X compacto e F ⊂ X fechado. Se F ⊂ Aλ onde cada Aλ é
λ∈L
aberto então,
!
[
X= Aλ ∪ (X − F )
λ∈L

é uma cobertura aberta de X. Sendo X compacto, existem λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ L tais que

X ⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . . ∪ Aλn .

Logo,

F ⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . . ∪ Aλn

e F é compacto.

Teorema 2.4.3 Seja X um espaço topológico de Hausdorff. Se K ⊂ X é compacto, então


K é fechado em X.

Demonstração: Seja K ⊂ X compacto. Para mostrar que K é fechado mostraremos que


X − K é aberto. Para cada a ∈ X devemos obter uma vizinhança aberta U de a tal que
U ⊂ (X − K). Como X é de Hausdorff, para cada x ∈ K existem abertos Ux e Vx com
a ∈ Ux e x ∈ Vx tais que Ux ∩ Vx = ∅. Então a coleção {Vx }x∈K forma uma cobertura
aberta para K. Sendo K compacto existem x1 , x2 , . . . , xn ∈ K tais que

K ⊂ Vx1 ∪ Vx2 ∪ . . . ∪ Vxn .

Assim U = Ux1 ∩ Ux2 ∩ . . . ∩ Uxn é um aberto e vale

U ∩ (Vx1 ∪ Vx2 ∪ . . . ∪ Vxn ) = ∅

Daı́ U ∩ K = ∅ ou seja, U ⊂ (X − K) e a ∈ int(X − K) e portanto X − K é aberto e K é


fechado.

Teorema 2.4.4 Seja M um espaço métrico. Se K ⊂ M é compacto, então K é limitado.

Demonstração: Seja K ⊂ M compacto. Para cada x ∈ K seja Ax = B(x; 1). Então


{Ax }x∈K é uma cobertura aberta de K. Sendo K compacto existem x1 , x2 , . . . , xn ∈ K tais
que K ⊂ Ax1 ∪Ax2 ∪. . .∪Axn . Como cada Axi é limitado, a reunião finita Ax1 ∪Ax2 ∪. . .∪Axn
é limitada e assim K é limitado.

Teorema 2.4.5 Um conjunto K ⊂ R é compacto se, e somente se, K é fechado e limitado.

65
Demonstração: Seja K ⊂ R compacto. Como R é um espaço de Hausdorff, temos
que K é fechado. O Teorema anterior garante que K é limitado. Reciprocamente, seja
K ⊂ R fechado e limitado. Então existem a, b ∈ R tais que K ⊂ [a, b]. Temos então que
K = K ∩ [a, b] donde segue que K é fechado no compacto [a, b]. assim, pelo teorema 6.1.2
temos que K é compacto.
Teorema 2.4.6 A imagem de um conjunto compacto por uma função contı́nua é compacta.
Demonstração: Seja K ⊂ X um conjunto compacto e f : X → Y contı́nua. Mostraremos
que f (K) ⊂ Y é compacto. Seja {Aλ }λ∈L uma cobertura aberta de f (K). Como [ f é
−1
contı́nua, Bλ = f (Aλ ) é aberto para todo λ ∈ L. Além disso, é claro que K ⊂ Bλ .
λ∈L
Como K é compacto, existem λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ L tais que
K ⊂ Bλ1 ∪ Bλ2 ∪ . . . ∪ Bλn .
Logo,
f (K) ⊂ f (Bλ1 ∪ Bλ2 ∪ . . . ∪ Bλn )
= f (Bλ1 ) ∪ f (Bλ2 ) ∪ . . . ∪ f (Bλn )
⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . . ∪ Aλn

e assim f (K) é compacto.


Exemplo 2.4.1 Mostre que a circunferência S 1 = {(x, y) ∈ R2 ; x2 + y 2 = 1} é compacta.
De fato, seja a função f : R → R2 dada por f (t) = (cos(t), sin(t)) é contı́nua, [0, 2π] é
compacta e f ([0, 2π]) = S 1 e pelo teorema anterior S 1 é compacta.
Definição 2.4.3 Dizemos que um subconjunto K de um espaço métrico M é totalmente
limitado quando dado  > 0 existir um conjunto finito F = {a1 , a2 , . . . , an } em M tal que
n
[
K⊂ B(ai ; )
i=1

Exemplo 2.4.2 Mostre que todo conjunto limitado em R é totalmente limitado.


Para provar esta afirmação basta mostrar que todo intervalo [a, b] em R é totalmente
limitado. Tomemos então um intervalo [a, b] e  > 0. Sejam
a1 = a
a2 = a + 
a3 = a + 2
..
.
ak = a + (k − 1)
..
.
an = a + (n − 1)

66
onde n é tal que
a + (n − 1) ≤ b < a + n.
n
[
Desta forma obtemos [a, b] ⊂ K ⊂ B(ai ; ) e portanto [a, b] é totalmente limitado.
i=1

Teorema 2.4.7 Sejam K um espaço topológico compacto e Fn uma sequência de conjuntos


fechados não vazios em K com F1 ⊃ F2 ⊃ F3 ⊃ . . . então,

\
Fi 6= ∅
i=1

Demonstração: Para cada n seja An = K − Fn . Então An é aberto para todo n e de


F1 ⊃ F2 ⊃ F3 ⊃ . . . decorre A1 ⊂ A2 ⊂ A3 ⊂ . . .. Suponha por absurdo que

\
Fi = ∅
i=1

[
Então K = An será uma cobertura aberta de K. Sendo K compacto, esta cobertura
n=1
admite uma subcobertura finita
K = An1 ∪ An2 ∪ . . . ∪ Ank .
n
[
Se n = max{n1 , n2 , . . . , nk } então teremos K = Aj = An e consequentemente
j=1

Fn = K − An = ∅

\
o que é absurdo. Logo Fi 6= ∅.
i=1
 
1 1
Exemplo 2.4.3 Para cada n ∈ N seja Fn = − , . Então cada Fn está contido no
n n
∞  
\ 1 1
compacto K = [−1, 1] e F1 ⊃ F2 ⊃ . . . e pelo Teorema anterior temos que − , 6= ∅
n=1
n n

Teorema 2.4.8 Se K é um subconjunto compacto de um espaço métrico M e C é uma


famı́lia de abertos de M cobrindo K então existe um número positivo r tal que para todo
a ∈ K existe aberto Aa ∈ C com B(a; r) ⊂ Aa .

Demonstração: Seja C uma cobertura aberta do compacto K. Então existem A1 , A2 , . . . , An


em C tais que K ⊂ A1 ∪ A2 ∪ . . . ∪ An . Consideremos as funções fi : K → R dadas por
n
X
fi (x) = d(x, M − Ai ) e f : M → R dada por f (x) = fi (x). Como cada fi é contı́nua, f
i=1
também é contı́nua. Dai temos que f (K) é compacto. Dado a ∈ K existe i, com 1 ≤ i ≤ n
tal que a ∈ Ai , dai f (a) ≥ fi (a) > 0. Assim

67
f (K) ⊂ (0, ∞).

Como f (K) é compacto no espaço de Hausdorff R temos que f (K) é fechado em R. Desta
s
forma, existe s > 0 tal que f (a) ≥ s para todo a ∈ K. Seja r = . Para todo a ∈ K temos
n
n
X
fi (a) ≥ s = n.r.
i=1

Logo existe i ∈ {1, 2, . . . , n} com fi (a) ≥ r e

d(a, M − Ai ) = fi (a) ≥ r

e B(a; r) ⊂ Ai como querı́amos.

Corolário 2.4.2 Sejam K um espaço métrico compacto e C uma cobertura aberta de K.


Então existe um número positivo r tal que para todo subconjunto S ⊂ K com diamS < r,
existe um aberto A em C com S ⊂ A.

Demonstração: Pelo Teorema anterior existe r > 0 tal que para cada x ∈ K se pode
obter uma aberto A em C com B(x; r) ⊂ A. Sejam S ⊂ K com diamS < r e p ∈ S. Então
S ⊂ B(p; r) e pelo Teorema anterior existe um aberto A em C com B(p; r) ⊂ A. Logo
S ⊂ A.

Definição 2.4.4 Sejam M um espaço métrico compacto e C uma cobertura aberta de M .


Um número positivo r, fornecido pelo colorário anterior, tal que para todo subconjunto S de
M com diamS < r exista um aberto A em C com S ⊂ A é chamado número de Lebesgue
de C.

Teorema 2.4.9 Sejam M e N espaços métricos e f : M → N contı́nua. Se M é compacto


então f é uniformemente contı́nua.

Demonstração: Dado  > 0, pela continuidade de f , para cada x ∈ M existe δx > 0 tal

que d(x, y) < δx assegura d(f (x), f (y)) < . Observe que o conjunto de todas as bolas de
2
centro x e raio δx , com x ∈ M constituem uma cobertura aberta para M . Ou seja, temos
[
M= B(x; δx ).
x∈M

Seja δ > 0 um número de lebesgue para esta cobertura. Então dados y, z ∈ M com
d(y, z) < δ existe x ∈ M com y, z ∈ B(x; δx ). Logo

d(f (y), f (z)) ≤ d(f (y), f (x)) + d(f (x), f (z))


 
< +
2 2
= .

Portanto f é uniformemente contı́nua.

68
Teorema 2.4.10 Seja K um subconjunto de um espaço métrico M . As seguintes condições
são equivalentes:

(a) K é compacto;

(b) toda sequência em K possui uma subsequência convergente;

(c) K é completo e totalmente limitado.

Demonstração:(a) ⇒ (b). Suponhamos K compacto e consideremos uma sequência (xn )


em K. Façamos

Xn = {xn , xn+1 , xn+2 , . . .}

e seja Fn o fecho de Xn em K. Então, os Fn são fechados em K, F1 ⊃ F2 ⊃ . . . e Fn 6= ∅


para todo n. Logo pelo teorema 6.1.7 teremos

\
Fn 6= ∅.
n=1

Seja

\
a∈ Fn .
n=1

Então, dado r > 0 temos B(a; r) ∩ Xn 6= ∅ para todo n, isto é, existem ı́ndices k arbitrari-
amente grandes com xk ∈ B(a; r). Logo B(a; r) contém uma infinidade de termos de (xn )
e dai a é limite de uma subsequência de (xn ).
(b) ⇒ (c). Suponhamos que toda sequência em K possua uma subsequência convergente.
Se K não for completo existe alguma sequência de Cauchy (xn ) em K que não converge.
Pela nossa hipótese (xn ) tem uma subsequência convergente e dai concluı́mos que (xn ) é
convergente o que é uma contradição. Por outro lado, se K não for totalmente limitado
existe  > 0 tal que para qualquer subconjunto finito F de M temos
[
K 6⊂ B(a; ).
a∈F

Então dado a1 ∈ K qualquer

K 6⊂ B(a1 ; ).

Tomando a2 ∈ K − B(a1 ; ) temos


2
[
K 6⊂ B(ai ; ).
i=1

Por indução, obtidos a1 , a2 , . . . , an−1 com

69
n−1
[
K 6⊂ B(ai ; )
i=1

n−1
[
tomamos an ∈ K − B(ai ; ) e teremos
i=1

n
[
K 6⊂ B(ai ; ).
i=1

A sequência (an ) assim obtida está em K e satisfaz d(ai , aj ) ≥  para todo i 6= j. Logo (an )
não tem subsequência de Cauchy, não podendo ter subsequência contrariando a hipótese.
(c) ⇒ (a). Seja K completo e totalmente limitado. Suponhamos por absurdo que K não é
compacto. Então existe uma cobertura aberta C de K que não admite subcobertura finita.
Como K é totalmente limitado, existe um subconjunto finito F de M tal que
[ 1
K⊂ B(a; )
a∈F
2

ou seja
[ 
1

K= K ∩ B a; .
a∈F
2

Assim, K pode ser decomposto num número finito de subconjuntos cada qual com diâmetro
menor ou igual a 1. Pelo menos um desses conjuntos, digamos K1 , não está contido em
uma reunião finita alguma de elementos de C. como K1 é totalemnte limitado, K1 pode ser
decomposto num número finito de subconjuntos cada qual com diâmetro menor ou igual a
1
. Pelo menos um desses conjuntos, digamos K2 , não está contido em uma reunião finita
2
alguma de elementos de C. Prosseguindo dessa forma obtemos K1 ⊃ K2 ⊃ K3 ⊃ . . . com
1
Kn 6= ∅ para todo n e diamKn ≤ . Então se Kn o fecho de Kn em K teremos que
n

K 1 ⊃ K2 ⊃ K3 ⊃ . . .

é uma cadeia de subconjuntos fechados do espaço completo K com Kn 6= ∅ para todo n e


lim diamKn = 0. Logo temos que existe p ∈ K tal que

\
Kn = {p}.
n=1

Como p ∈ K, existe A em C tal que p ∈ A. De lim diamKn = 0 obtemos no tal que


Kno ⊂ A e assim Kno ⊂ A, o que é uma contradição. Logo K é compacto.

Teorema 2.4.11 Um conjunto K ⊂ Rn é compacto se e somente se K é fechado e limi-


tado.

70
Corolário 2.4.3 O fecho de todo subconjunto limitado de Rn é compacto.

Teorema 2.4.12 Se M é espaço métrico compacto então M é completo.

Demonstração: Seja (xn ) uma sequência de Cauchy em M . Como M é compacto, temos


que (xn ) possui uma subsequência convergente. Logo, (xn ) converge e dai M é completo.

Definição 2.4.5 Seja f : X → Y uma função. Diremos que f é aberta quando para todo
aberto A ⊂ X tivermos f (A) aberto em Y . Diremos que f é fechada quando para todo
fechado F ⊂ X tivermos f (F ) fechado em Y.

Exemplo 2.4.4 Num produto cartesiano de espaços métricos M = M1 × M2 × . . . × Mn


as projeções pi : M → Mi definidas por pi (x1 , x2 , . . . xn ) = xi são abertas.

De fato, como as métricas


v
u n
uX
d(x, y) = t [d(xi , yi )]2
i=1
n
X
d0 (x, y) = d(xi , yi )
i=1
d00 (x, y) = max d(xi , yi )

onde 1 ≤ i ≤ n são equivalentes, os abertos de M relativos a d, d0 e d00 são os mesmos.


portanto, basta mostrar que pi é aberta em relação a uma dessas métricas. Mostraremos
que pi é aberta usando a métrica d00 em M . Sendo A ⊂ M aberto e xi ∈ pi (A). Então
existe x ∈ A tal que pi (x) = xi . Como A é aberto, existe r > 0 tal que B(a; r) ⊂ A, mas
como estamos usando a métrica d00 temos

B(x; r) = B(x1 ; r) × . . . × B(xn ; r)

onde B(xi ; r) é a bola aberta de centro x e raio r em Mi . Além disso

B(xi ; r) = pi (B(x; r)) ⊂ pi (A)

e assim pi (A) em Mi . portanto pi é aberta.

Teorema 2.4.13 Sejam M1 e M2 espaços métricos. Então M1 × M2 é compacto se, e


somente se, M1 e M2 o forem.

Demonstração: Se M1 ×M2 é compacto então M1 e M2 serão compactos pois são imagens


do compacto M1 × M2 pelas funções contı́nuas pi : M1 × M2 → Mi , onde pi é definida por
pi (x1 , x2 ) = xi para i ∈ {1, 2}. Reciprocamente, vamos mostrar que se M1 e M2 são
compactos então toda sequência em M = M1 × M2 possui uma subsequência convergente.
Seja (zn ) uma sequência em M . Então (zn ) = (xn , yn ) sendo (xn ) uma sequência em

71
M1 e (yn ) uma sequência em M2 . Como M1 é compacto, (xn ) possui uma subsequência
convergente. Seja (xn )n∈N1 convergente. Sendo M2 compacto, a sequência (yn ) possui uma
subsequência converge. Seja (yn )n∈N2 uma subsequência convergente. Neste caso,(xn )n∈N2
é também convergente. Seja a = lim xn e b = lim yn , com n ∈ N2 . Então (zn )n∈N2 é uma
n→∞ n→∞
subsequência convergente de (zn ) com

lim zn = lim (xn , yn )


n→∞ n→∞
= (a, b).

Logo M é compacto.

Corolário 2.4.4 Sejam M1 , M2 , . . . , Mk espaços métricos. Então M = M1 × . . . × Mk é


compacto se, e somente se cada Mi , 1 ≤ i ≤ k for compacto.

2.5 Espaços Localmente Compactos


Definição 2.5.1 Diremos que um espaço topológico X é localmente compacto se cada ponto
de X possuir uma vizinhança compacta.

Exemplo 2.5.1 Mostre que todo espaço compacto X é localmente compacto.

De fato, dado p ∈ X, o próprio X é uma vizinhança compacta de p.

Exemplo 2.5.2 Mostre que a reta real R é localmente compacta.

Dado p ∈ R, tomamos K = [p − 1, p + 1] e temos que p ∈ int K = (p − 1, p + 1). Além


disso, K é compacto por ser um subconjunto fechado e limitado de R. Portanto K é uma
vizinhança compacta de p em R e R é localmente compacto.

Exemplo 2.5.3 Mostre que o Rn é localmente compacto.

Se p ∈ Rn , tomamos B = B[p; 1] e temos que p ∈ intB = B(p; 1). Além disso, como B é um
subconjunto fechado e limitado de Rn , o temos que B é compacto. Logo Rn é localmente
compacto.

Teorema 2.5.1 Seja X localmente compacto. Se F ⊂ X é fechado então F é localmente


compacto.

Demonstração: Dado um ponto p ∈ F , como X é localemnte compacto, existe um


compacto K em X com p ∈ intK. fazendo L = K ∩ F temos p ∈ intF L. Como F é
fechado em X, temos que L é fechado no compacto K. Assim temos que L é compacto.
Portanto, L é uma vizinhança compacta de p em F , e F é localmente compacto.

Teorema 2.5.2 Seja f : X → Y contı́nua, aberta e sobrejetiva. Se X é localmente com-


pacto então Y também o é.

72
Demonstração: Seja p ∈ Y . Como f é sobrejetiva, existe a ∈ X tal que f (a) = p. Como
X é localmente compacto, existe uma vizinhança compacta V de a em X. Então a ∈ intV
e V é compacto. Como f é aberta, f (V ) é vizinhança de p = f (a). Por outro lado, a
continuidade de f garante que f (V ) é compacto. Assim f (V ) é vizinhança compacta de p
e Y é localmente compacto.

Teorema 2.5.3 Sejam M1 , . . . , Mn espaços métricos e M = M1 × . . . × Mn . então M é


localmente compacto se, e somente se, cada Mi é localmente compacto.

Demonstração: Seja M localmente compacto. Então do fato de as projeções pi : M → Mi


dadas por pi (x1 , . . . , xn ) = xi serem contı́nuas, abertas e sobrejetivas temos pelo teorema
anterior que Mi é localemnte compacto para i ∈ {1, . . . , n}. Reciprocamente, suponhamos
que cada Mi é localemnte compacto. Então dado x = (x1 , . . . , xn ) em M , cada xi possui
uma vizinhança compacta Ki em Mi . Diante disso a vizinhança K = K1 × . . . × Kn é
compacta e dai M é localmente compacto.

2.6 Espaços Normados


Nesta seção vamos recordar a definição de norma.

Definição 2.6.1 Uma norma num espaço vetorial X é uma função k.k : X → R que
satisfaz:

(a) kξk ≥ 0 e kξk = 0 ⇔ ξ = 0;

(b) kαξk = |α|kξk ∀α ∈ R, ∀ξ ∈ X;

(c) kξ + ηk ≤ kξk + kηk, ∀ξ, η ∈ X.

O espaço (X, k.k) é chamado espaço normado.

Note que todo espaço normado é um espaço métrico. De fato, devemos verificar as pro-
priedades de métrica. Seja d : X × X → R dada por d(x, y) = kx − yk. Observe que

(a) d(x, y) = kx − yk ≥ 0 e d(x, y) = kx − yk = 0 ⇔ x − y = 0 ⇔ x = y;

(b) d(x, y) = kx − yk = k − 1(y − x)k = | − 1|ky − xk = ky − xk = d(y, x), ∀x, y ∈ X;

(c) d(x, z) = kx − zk = kx − y + y − zk ≤ kx − yk + ky − zk = d(x, y) + d(y, z), ∀x, y, z ∈ X.

Definição 2.6.2 Um espaço normado que é completo com a métrica induzida por esta
norma é chamado de espaço de Banach.

Definição 2.6.3 Duas normas k.k1 e k.k2 num espaço vetorial X são equivalentes se ex-
istem A, B > 0 tais que

Akξk1 ≤ kξk2 ≤ Bkξk1 , ∀ξ ∈ X

73
Observação 2.6.1 (a) Normas equivalentes num espaço X geram a mesma topologia

(b) Normas equivalentes possuem as mesmas sequências de Cauchy. Portanto se k.k1 e


k.k2 são equivalentes e (X, k.k1 ) é de Banach então (X, k.k2 ) também é de Banach.

Seja X um espaço vetorial e seja A ⊂ X. Iremos definir L(A) como sendo o conjunto
de todas as combinações lineares finitas dos elementos de A. Diremos que A é linearmente
independente se toda combinação linear finita de elementos de A que são iguais a zero
implica que os coeficientes dessa combinação são todos nulos.

Definição 2.6.4 Seja X um espaço vetorial e A ⊂ X. Diremos que A é base de X se A for


linearmente independente e L(A) = X. Se existe uma base finita de X com n elementos,
diz-se que a dimensão algébrica de X, denotada por dim X é igual a n. De outra forma
diz-se que a dimensão de X é finita.

Teorema 2.6.1 Seja X um espaço vetorial de dimensão finita. Então todas as normas
em X são equivalentes.

Demonstração: Seja {e1 , e2 , . . . , en } uma base de X. Vamos mostrar que toda norma
n
X
k.k é quivalente a |||ξ||| = |αj | em que ξ = α1 e1 + α2 e2 + . . . + αn en . Note que para
j=1
1 ≤ j ≤ n temos

Xn
kξk = αj ej


j=1
n
X
≤ |αj |kej k
j=1
n
X
≤ max{kej k} |αj |
j=1
= B|||ξ|||,

onde B = max{kej k}, 1 ≤ j ≤ n. Por outro lado, devemos provar que existe A tal que para
todo ξ ∈ X tem-se |||ξ||| ≤ Akξk. Para isto, suponha por absurdo que para todo N ∈ N
exista ξN ∈ X tal que |||ξN ||| ≥ AkξN k. Note que

|||ξN ||| kξN k


|||ξN ||| > N kξN k ⇒ >N
|||ξN ||| |||ξN |||

ou seja

ξN ξN
|||ξN ||| > N |||ξN ||| .

74
Façamos |||ξN ||| = ηN e notemos que |||ηN ||| = 1. Assim 1 > N kηN k. Do fato de
termos |||ηN ||| = 1 temos que Bx (0, 1) é compacta (dimensão finita), o que implica ser
sequêncialmente compacta, isto é existe ηo ∈ Bx (0, 1), ou seja |||ηo ||| = 1 tal que ηNj → ηo
em Bx (0, 1). Dai,

kηo k ≤ kηo − ηNj + ηNj k


≤ kηo − ηNj k + kηNj k
1
≤ B|||ηo − ηNj ||| +
Nj

que converge para zero quando j → ∞, ou seja kηo k = 0 o que implica que ηo = 0 o que é
absurdo pois |||ηo ||| = 1.

Corolário 2.6.1 Todo espaço vetorial normado de dimensão finita é um espaço de Banach.

Demonstração: Como todas as normas são equivalentes vamos provar que (X, |||.|||) é
k
X
completo onde |||ξ||| = |αj |. Seja (ξn ) uma sequência de Cauchy. Note que |||ξn − ξm |||
j=1
converge para zero quando n, m → ∞. Observe que

ξn = α1n e1 + . . . + αkn ek ,
ξm = α1m e1 + . . . + αkm ek ,

dai temos que

(ξn − ξm ) = (α1n − α1m )e1 + . . . + (αkn − αkm )ek .

Portanto,
k
X
|||ξn − ξm ||| = |αin − αim | → 0
i=1

quando n, m → ∞. Note ainda que


k
X
|αjn − αjm | ≤ |αin − αim | → 0
i=1

para todo j = 1, 2, . . . , k. Logo (αjn )n∈N é de Cauchy em R e dai αjn → αjo . Defina agora
ξo = α1o e1 + . . . + αno en ∈ X. Vamos mostrar que |||ξn − ξo ||| → 0. Observe que
k
X
lim |||ξn − ξo ||| = lim |αin − αio | = 0.
k→∞ k→∞
i=1

Portanto ξo é o limite de ξn quando n → ∞.

75
2.7 Compacidade em Espaços Normados
Lema 2.7.1 (Lema de Riesz) Sejam X um subespaço vetorial fechado próprio do espaço
normado (N , k.k). Então, dado α ∈ (0, 1) existe ξ ∈ N − X tal que kξk = 1 e kξ − ηk ≥ α,
∀η ∈ X.

Demonstração: Seja ζ ∈ N − X. Como X é fechado então d(ζ, X) = c = inf{d(ζ, η)}


1 c
com η ∈ X. Como α ∈ (0, 1) então > 1, assim > c, da definição de ı́nfimo, existe
α α
c ζ −w
w ∈ X com c ≤ kζ − wk ≤ . Definimos ξ = e para todo η ∈ X tem-se
α kζ − wk

ζ −w 1 c
kξ − ηk =
kζ − wk − η kζ − wk kζ − w − kζ − wkηk ≥ kζ − wk ≥ α.
=

Teorema 2.7.1 A bola fechada B[0, 1] num espaço vetorial normado N é compacta se e
somente se dim N é finita.

Demonstração: Todo subconjunto fechado e limitado num espaço vetorial de dimensão


finita é compacto. Se N não tem dimensão finita, vamos construir uma sequência (ξj ),
kξj k = 1 ∀j e (ξj ) não tem subsequência convergente. Seja ξ1 ∈ N , kξ1 k = 1. Note que
L({ξ1 }) é um espaço normado de dimensão igual a 1, o que implica que L({ξ1 }) é completo,
1
o que implica também que L({ξ1 }) é fechado. Pelo Lema de Riesz dado α = existe ξ2
2
1
com kξ2 k = 1 e kξ1 − ξ2 k ≥ . Seja agora L({ξ1 , ξ2 }). Pelo mesmo argumento acima
2
1 1
L({ξ1 , ξ2 }) é fechado, logo existe ξ3 ∈ N , com kξ3 k = 1, kξ1 − ξ3 k ≥ e kξ2 − ξ3 k ≥ .
2 2
1
Prosseguindo indutivamente existe uma sequência (ξj ) ∈ B[0, 1] com kξj − ξk k ≥ para
2
todo j 6= k e portanto B[0, 1] não é compacta.

2.8 Espaços Separáveis


Definição 2.8.1 Seja N um espaço normado. Uma base de Schauder de um espaço nor-
mado N é uma sequência (ξn ) em N em que cada vetor ξ ∈ N associa-se uma única
sequência de escalares (αj ) tais que

X n
X
ξ= αj ξj := lim αj ξj .
n→∞
j=1 j=1

Definição 2.8.2 Um espaço métrico é separável se existe um subconjunto enumerável e


denso nesse espaço.

Proposição 2.8.1 Seja N um espaço vetorial normado.

(a) Se N possui base de Shauder, então N é separável.

76
(b) N é separável se, e somente se existir um subconjunto de N que é enumerável, total
e linearmente independente.

Demonstração: Se existe uma base de Shauder (ξn ) dado ξ ∈ X existe (αn ) tal que

X
ξ = αn ξn o que é equivalente a dizer que para todo  > 0 existe no ∈ N tal que
n=1
n
X
kξ − αk ξk k < , ∀n ≥ no . Seja B o conjunto formado por todas as combinações lineares
k=1
finitas de (ξn ) com coeficientes racionais. Este subconjunto de X é enumerável e denso.
Dado ξ ∈ X
n
X
ξ = lim αj ξj .
n→∞
j=1

Como Q ⊂ R e Q = R dados αj ∈ R existe qj ∈ R tal que |αj − qj | < . Logo, para todo
>0
k
X k
X k
X
kξ − qj ξj k ≤ kξ − αj ξj k + k αj ξj − qj ξj k
j=1 j=1 j=1
k
X
≤ + αj − qj kξj k
j=1
k
X
< + kξj k.
j=1

Isto prova (a).


Para provar (b) como em (a) as combinações lineares finitas com coeficientes racionais do
conjunto total formam um subespaço denso de N e do fato de estas combinações lineares
serem enumeráveis segue que N é separável. Reciprocamente, se N é separável, existe um
subconjunto enumerável e denso {ξ1 , ξ2 , . . . , ξn , . . .}. Escolha η1 como sendo o primeiro dos
ξn não nulo. Escolha η2 como sendo o segundo dos ξn não nulo de forma que {η1 , η2 } seja
linearmente independente. Procedendo assim sucessivamente construimos uma sequência
{η1 , η2 , . . . , ηn } que gera o mesmo espaço vetorial e esta última é enumerável e linearmente
independente.

2.9 Operadores Lineares


Definição 2.9.1 Um operador linear entre os espaços vetoriais X e Y é uma aplicação
T : domT ⊂ X → Y , em que seu domı́nio domT é um subespaço vetorial e

T (ξ + αη) = T (ξ) + αT (η)

para todos ξ, η ∈ domT e todo escalar α ∈ F .

77
Exemplo 2.9.1 São exemplos de operadores lineares o operador Id : X → X dado por
Id(x) = x (operador identidade) e D : C 1 ([0, 1] : R) → C 0 ([0, 1] : R) dado por D(f ) = f 0
(operador derivada).

Exemplo 2.9.2 O operador Tt : C(R : R) → C(R : R) definido por Tt (f )(x) = f (t + x) é


linear. Este operador é chamado operador translação.

Este operador é linear. De fato,

Tt (f + αg)(x) = (f + αg)(t + x) = f (t + x) + αg(t + x) = Tt (f )(x) + αTt (g)(x)

Observação 2.9.1 Seja T : domT ⊂ X → Y um operador linear.

(a) Img(T ) = T (domT ) e N (T ) = {ξ ∈ domT : T ξ = 0} são subespaços vetoriais;

(b) Se dim(dom T)=n então dim(Img T)≤ n;

(c) T −1 : Img(T ) → domT existe se e somente se N (T ) = {0}, e existindo, é um operador


linear.

Teorema 2.9.1 Seja T : N1 → N2 um operador linear entre espaços normados. Então as


seguintes proposições são equivalentes:

(a) supkξk≤1 kT ξk < ∞, ou seja, a imagem da bola unitária é limitada;

(b) existe C > 0 de modo que kT ξk ≤ Ckξk, ∀ξ ∈ N1 ;

(c) T é uniformemente contı́nuo;

(d) T é contı́nuo;

(e) T é contı́nuo em zero.

Demonstração: (a) ⇒ (b). Seja C = supkξk≤1 kT ξk, se ξ 6= 0 ∈ N1 então


 

T ξ ≤ supkξk≤1 kT ξk = C
kξk

o que implica

1
kT (ξ)k ≤ C ⇒ kT (ξ)k ≤ Ckξk
kξk

para todo ξ ∈ N1 .
Para mostrar (b) ⇒ (c) se ξ, η ∈ N1 então

kT ξ − T ηk = kT (ξ − η)k ≤ Ckξ − ηk

78
onde concluı́mos que T é Lipschitz e portanto uniformemente contı́nua. Disso temos que
T é contı́nua, e portanto contı́nua no zero. Resta mostrar agora que (e) ⇒ (a). De fato,
como T é contı́nua em zero, temos que dado  = 1 existe δ > 0 tal que se kξk < δ então
kT ξk < 1. Portanto, se kξk ≤ 1 então kδξk ≤ δ o que implica que kT (δξ)k ≤ 1 e dai
1 1
kT ξk ≤ para todo ξ ∈ B(0, 1) e assim supkξk≤1 kT ξk ≤ .
δ δ

Definição 2.9.2 Um operador linear contı́nuo é também chamado limitado, e o conjunto


dos operadores limitados de N1 em N2 será denotado por B(N1 , N2 ). Será usado B(N )
como abreviação de B(N , N ).

Exemplo 2.9.3 Seja N = (C(R : R), k.k∞ ).O operador Tt : N → N definido por
Tt (f )(x) = f (t + x) é limitado. De fato, |Tt (f )(x)| = |f (t + x)| < kf k∞ o que implica
que supx∈R |Tt (f )(x)| < kf k∞ e dai kTt (f )k∞ < kf k∞ .

Proposição 2.9.1 Se T : N1 → N2 é linear e dimN1 < ∞ então T é limitado.

Demonstração: Defina a norma |||ξ||| = kξk + kT ξk. Verifiquemos que a expressão


anterior é mesmo uma norma:

• |||ξ||| ≥ 0. Se |||ξ||| = 0 ⇒ kξk + kT ξk = 0 ⇒ kξk = 0 ⇒ ξ = 0

• |||αξ||| = kαξk + kT (αξ)k = |α|kξk + |α|kT (ξ)k = |α||||ξ|||

|||ξ + η||| = kξ + ηk + kT (ξ + η)k = kξ + ηk + kT ξk + kT ηk


≤ kξk + kηk + kT ξk + kT ηk
= |||ξ||| + |||η|||.

Usando o fato de que todas as normas são equivalentes temos

kT ξk ≤ |||ξ||| ≤ Ckξk ⇒ kT ξk ≤ Ckξk

o que implica que T é limitada.


Vamos verificar que B(N1 , N2 ) é um espaço vetorial com as operações usuais, e decorre
que

kT k := sup kT ξk, ξ ∈ N1 e kξk ≤ 1

é uma norma em B(N1 , N2 ). De fato, se

• T ∈ B(N1 , N2 ), kT k = 0 ⇔ kT ξk = 0, ∀ξ ∈ N1 , ou seja T = 0;

• kαT k = supkξk≤1 kαT ξk = |α| supkξk≤1 kT ξk = |α|kT k

• kT + Sk = supkξk≤1 kT ξ + Sξk ≤ supkξk≤1 (kT ξk + kSξk) ≤ kT k + kSk.

79
O próximo resultado responde de forma bem simples sob quais condições B(N1 , N2 ) é um
espaço de Banach.

Teorema 2.9.2 Se N é um espaço normado e B um espaço de Banach então B(N , B) é


de Banach.

Demonstração: Seja (Tn )∞


n=1 uma sequência de Cauchy em B(N , B). Para cada ξ ∈ N
tem-se

kTn ξ − Tk ξk ≤ kTn − Tk kkξk

e dai segue que (Tn ξ)∞n=1 é de Cauchy em B e converge para η ∈ B. Defina T : N → B por
T ξ = η, o qual é claramente linear. Vamos mostrar que este operador é limitado e Tn → T
em B(N , B). Dado  > 0 existe N () de maneira que se n, k > N () então kTn − Tk k < .
Pela continuidade da norma segue que

kTn ξ − T ξk = lim kTn ξ − Tk ξk ≤ kξk, n ≥ N (),


k→∞

e (Tn − T ) ∈ B(N , B) com kTn ξ − T ξk ≤ . Como B(N , B) é um espaço vetorial e


T = Tn + (T − Tn ), segue que T ∈ B(N , B). A desigualdade kTn − T k ≤  para todo
n ≥ N () mostra que Tn → T e B(N , B) é completo.

Definição 2.9.3 Sejam f : X → Z e g : Y → Z aplicações entre conjuntos. f é uma


extensão de g, ou g é uma restrição de f , se Y ⊂ X e para todo t ∈ Y tem-se f (t) = g(t).
Denota-se f |Y = g

Teorema 2.9.3 Seja T : domT ⊂ N → B, com domT denso em N , um operador linear


limitado. Então T possui uma única extensão T ∈ B(N , B). Além disso kT k = kT k.

Demonstração: Sejam ξ ∈ N e ξn → ξ com {ξn } ⊂ domT . Como

kT ξn − T ξm k ≤ kT kkξn − ξm k

temos que {T ξn } é de Cauchy em B, logo convergente. Defina

η = T ξ = lim T ξn .
n→∞

Vamos mostrar que T está bem definida e que kT k = kT k. Se ξ 0 → ξ, (ξn0 ) ⊂ domT , então a
sequência ξ1 , ξ10 , ξ2 , ξ20 , . . . , ξn , ξn0 , . . . → ξ é de Cauchy. Logo, pelo mesmo argumento acima
temos que T ξ1 , T ξ10 , T ξ2 , T ξ20 , . . . → η 0 . Como {T ξn } é uma subsequência dessa última
tem-se que η = η 0 e T : N → B está bem definido. T é linear e extensão de T , pois se
ξ ∈ domT considere a sequência ξ, ξ, ξ, . . . , e T ξ = lim T ξ = T ξ. Agora, para ξ ∈ N ,
usando a continuidade da norma

kT ξk = lim kT ξn k ≤ lim kT kkξn k = kT kkξn k,


n→∞ n→∞

de forma que kT k ≤ kT k. Por outro lado

80
kT k = supξ∈domT kT ξk ≤ supξ∈N kT ξk = kT k, com kξk = 1.
Suponha agora que S seja outra extensão de T e seja ξ ∈ N . Então para toda sequência
{ξn } ⊂ domT , ξn → ξ, tem-se T ξn = Sξn e por continuidade T ξ = Sξ. Logo S = T .

Definição 2.9.4 Se N é um espaço normado, então o espaço de Banach B(N , F) será


denotado por N ∗ e é chamado de espaço dual. Cada elemento de N ∗ é chamado de funcional
linear contı́nuo em N .

2.10 Princı́pio da Limitação Uniforme


Teorema 2.10.1 Seja a famı́lia de operadores {Tα }α∈J em B(B, N ) tal que para cada
ξ ∈ B temos
supα∈J kTα ξk < ∞.
Então supα∈J kTα k < ∞

Demonstração: Seja
Ek = {ξ ∈ B : kTα ξk ≤ k, ∀α ∈ J
\
= Tα−1 (B(0, k))
α∈J


[
fechado. Note que B = Ek 6= ∅. Logo, pelo Teorema de Baire existe um Em com
k=1
IntEm 6= ∅, o que implica que existe B(ξo , r) ⊂ Em para algum ξo e para algum r > 0.
Seja ξ 6= ∅ um ponto qualquer em B. Mostremos agora que
r ξ
η = ξo + ∈ B(ξo , r) ⊂ Em .
2 kξk
De fato,

r ξ
kη − ξo k = ξo + − ξo

2 kξk
kξk r
=
kξk 2
< r.

Como η ∈ Em temos que

 

Tα r ξ
= kTα η − T αξo k
2 kξk
≤ kTα ηk + kT αξo k
≤ m + m = 2m.

81
 
(ξ)
≤ 4m , ∀α ∈ J o que implica
Logo, Tα

kξk r
4m
kTα (ξ)k ≤ kξk
r
4m
e daı́ supα∈J kTα k ≤ < ∞.
r
Corolário 2.10.1 Teorema de Banach-Steinhaus. Seja {Tn }∞
n=1 uma sequência em
B(B, N ) tal que para todo ξ ∈ B existe o limite
T ξ := lim Tn ξ.
n→∞

Então supn kTn k < ∞ e T é um operador linear em B(B, N )

Demonstração: Mostremos inicialmente que T é linear. De fato,


• T (ξ + η) = lim Tn (ξ + η) = lim Tn ξ + lim Tn η = T ξ + T η;
n→∞ n→∞ n→∞

• T (αξ) = lim Tn (αξ) = α lim Tn ξ = αT ξ.


n→∞ n→∞

Como para todo ξ ∈ B existe lim Tn ξ, temos que supn kTn ξk < ∞ e pelo princı́pio da
n→∞
limitação uniforme temos supn kTn k < ∞. Note agora que
kT ξk = k lim Tn ξk = lim kTn ξk ≤ lim kTn kkξk ≤ sup kTn kkξk
n→∞ n→∞ n→∞ n

e portanto T é limitado.

2.11 Teorema da Aplicação Aberta e Gráfico Fechado


Recordemos que uma aplicação aberta entre espaços topológicos é dita aberta se a
imagem de todo subconjunto aberto é aberto. Pelo fato da demonstração ser muito técnica
preferimos omitı́-la.

Teorema 2.11.1 (Aplicação Aberta). Se T ∈ B(B1 , B2 ) com Img(T ) = B2 , então T é


uma aplicação aberta.

Corolário 2.11.1 Se T ∈ B(B1 , B2 ) é bijetiva entre B1 e B2 , então T −1 também é uma


aplicação linear contı́nua.

Corolário 2.11.2 Seja X é um espaço vetorial tal que k.k1 e k.k2 são normas em X que
tornam X um espaço de Banach. Se existe c > 0 tal que kξk1 ≤ ckξk2 , ∀ξ ∈ X então as
normas são equivalentes.

Demonstração: Seja X1 = (X, kξk1 ) e X2 = (X, kξk2 ). Seja Id : X2 → X1 . Então kξk1 ≤


ckξk2 e dai temos que Id ∈ B(X2 , X1 ) e como Id é sobrejetora nesses espaços pelo Teorema
da Aplicação Aberta obtemos que Id−1 : X1 → X2 é um operador contı́nuo e dai temos que
1
Id : X1 → X2 é limitado, isto é, existe c > 0 tal que kξk2 ≤ ckξk1 ⇒ kξk2 ≤ kξk1 ≤ ckξk2
c
e dai k.k2 e k.k1 são equivalentes.

82
2.12 Teorema do Gráfico Fechado
Sejam N1 e N2 espaços normados, então N1 × N2 = {(ξ1 , ξ2 ) : ξ1 ∈ N1 , ξ2 ∈ N2 }
é um espaço normado com k(ξ, η)k = kξkN1 + kηkN2 . Sejam agora B1 e B2 espaços de
Banach. Então B1 × B2 = {(b1 , b2 ) : b1 ∈ B1 , b2 ∈ B2 } é um espaço de Banach k(ξ, η)k =
kb1 kB1 + kb2 kB2

Definição 2.12.1 Se T : domT ⊂ N1 → N2 é um operador entre espaços normados,


definimos o gráfico de T como sendo o conjunto

G(T ) = {(ξ, T ξ) ∈ N1 × N2 : ξ ∈ domT }

Definição 2.12.2 Um operador linear T : domT ⊂ N1 → N2 é fechado se G(T ) for


fechado em N1 × N2 .

Proposição 2.12.1 Se T : B1 → B2 é um operador linear contı́nuo entre espaços de


Banach então T é fechado.

Demonstração: Seja ξm → ξ com T ξn → η. Como ξ ∈ domT e T é contı́nuo temos que


T ξn → T ξ = η e portanto T é fechado.

Teorema 2.12.1 (Gráfico fechado). Se T : B1 → B2 é um operador linear, então T é


contı́nuo se, e somente se T é fechado.

Demonstração: Se T é fechado temos que G(T ) = {(x, T x) : x ∈ domT } ⊂ B1 × B2 é


fechado e dai temos que G(T ) é de Banach. Seja π1 : G(T ) → domT e π2 : G(T ) → ImgT
as projeções π1 (x, T x) = x e π2 (x, T x) = T x, para x ∈ domT . Note que π2 e π1 são
limitadas. De fato

• kπ2 (x, T x)k = kT xk ≤ kxk + kT xk = k(x, T x)k ⇒ π2 é limitada;

• kπ1 (x, T x)k = kxk ≤ kxk + kT xk = k(x, T x)k ⇒ π1 é limitada.

Note que π1 é bijetora e π1 é limitada. Observe também que π1 : G(T ) → B1 é um operador


linear entre espaços de Banach e dai pelo Teorema da Aplicação Aberta π1−1 : B1 → G(T )
é limitada. Logo T = π2 ◦ π1−1 é limitada.

3 Semigrupos
3.1 Aspectos Básicos
Definição 3.1.1 Seja L(X) o conjunto dos operadores lineares limitados de um espaço de
Banach X em X. Dizemos que uma aplicação S : R → L(X) é um semigrupo de operadores
lineares limitados de X, quando:

(1) S(0) = I, onde I é o operador identidade de X,

83
(2) S(t + s) = S(t)S(s) para todo s, t ∈ R.

Dizemos que o semigupo S é de classe Co se

lim k(S(t) − I)xk = 0, ∀x ∈ X.


t→0+

Dizemos que o semigrupo S é de contração, quando kSk < 1.

Definição 3.1.2 O operador A : D(A) → X definido por

S(h) − I
A(x) = lim x, ∀x ∈ D(A),
h→0 h
onde D(A), o domı́nio de A, é dado por
 
S(h) − I
D(A) = x ∈ X : existe lim x
h→0 h

é dito o gerador infinitesimal do semigrupo S.

Quando A é o gerador infinitesimal de um Co - semigrupo S, denotamos S = eAt .

Observação 3.1.1 O conjunto D(A) é um subespaço vetorial de X e A é um operador


linear. Este fato decorre direto da definição 3.1.2.

Teorema 3.1.1 Existe M ≥ 1 tal que

kS(t)k ≤ M ewt para todo t ≥ 0 sendo w uma constante positiva.

Demonstração: Vamos mostrar que existe δ > 0 tal que kS(t)k é limitada em [0, δ], posto
que, do contrário, existiria uma sequência tn → 0+ tal que kS(t)k ≥ n para todo n ∈ N
e do Teorema da Limitação Uniforme existiria ao menos um x ∈ X tal que kS(tn )xk ≥ n
e isso contraria a definição de S(t) ser um Co -semigrupo. Logo kS(t)k ≤ M para todo
t ∈ [0, δ] e como kS(0)k = 1 segue que M ≥ 1. Agora note que dado t > 0 pelo algoritmo
de Euclides, existe n ∈ N tal que t = nδ + r onde 0 ≤ r ≤ δ. Assim,

kS(t)k = kS(nδ + r)k


= kS(nδ)kkS(r)k.

Utilizando a propriedade de semigrupo S(t + s) = S(t)S(s) temos que

kS(t)k = kS(δ)kn kS(r)k


≤ M nM

t
Observamos que t = nδ + r implica que n ≤ e, portanto,
δ
84
t t
kS(t)k ≤ M δ M = e δ ln M = M etw onde w = 1δ ln M .

Exemplo 3.1.1 Denotemos por T (t) o operador de C(X, R) definido como

T (t) : C(X, R) → C(X, R), T (t)f (x) = f (x + t).

onde C(X, R) é o espaço das funções contı́nuas e limitadas num conjunto X. Mostre que
T é um semigrupo e encontre o gerador infinitesimal.

De fato, da definição, temos que

T (0)f (x) = f (x) ∀f ∈ C(X, R) ⇒ T (0) = I.

Por outro lado,

T (t + s)f (x) = f (x + t + s)

T (t) ◦ T (s)f (x) = T (t)f (x + s) = f (x + s + t).

De onde concluı́mos que

T (t) ◦ T (s)f (x) = T (t + s)f (x) ∀f ∈ C(X, R) ⇒ T (t) ◦ T (s) = T (t + s).

Portanto, T é um semigrupo de operadores em C(X, R). Para calcular o gerador infinites-


imal calculamos o seguinte limite
T (h)f (x) − f (x) f (x + h) − f (x)
lim+ = lim+
h→0 h h→0 h
= f 0 (x)
= Af (x).

Denotando por A o gerador infinitesimal de T , temos

D(A) = {f ∈ C(X, R); f 0 ∈ C(X, R)}

e ainda
d
A(f ) = f.
dx
O operador A é um operador linear, mas não é limitado. Seja f ∈ C(X, R), então

|T (t)f (x)| = |f (x + t)| ≤ sup |f (y)| ⇒ |T (t)f (x)| ≤ kf k∞


y∈R

o que implica que supkf k∞ ≤1 |T (t)f (x)| ≤ 1 e dai

|T (t)|L(X) ≤ 1

onde concluı́mos que T (t) é um semigrupo de contração.

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Conclusão
Neste trabalho concluı́mos que a Análise Funcional é de extrema utilização devido a sua
ligação com outras teorias matemáticas, especialmente no estudo das equações diferenciais
e equações integrais.

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Referências
[1] DOMINGUES, H. Espaços métricos e introdução a topologia. São Paulo: Editora
Atual, 1982.

[2] KUHLKAMP, N. Introdução a Topologia Geral. 2a ed. Florianópolis: Editora da UF-


SC.2002.

[3] LIMA, E.Espaços Métricos. 2a ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2003.

[4] OLIVEIRA, C. Introdução a Análise Funcional. 2a Ed. Rio de Janeiro: IMPA,2005

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