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Alfenas, MG
2010
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Universidade Federal de Alfenas - Unifal-MG
Rua Gabriel Monteiro da Silva, 700 - Alfenas/MG - CEP 37130-000
Fone: (35) 3299-1000 - Fax: (35) 3299-1063
Alfenas, MG
2010
Franco Bassi Rocha
Agradeço primeiramente ao mestre de todos mestres, Deus, por ter me dado forças
suficientes para que eu suportasse todas as dificuldades que foram impostas durante esses
quatro anos de luta profunda. Essa conquista só foi concretizada graças a presença de Jesus
em minha vida.
Agradeço aos meus mestres da vida, Maria Olenca Bassi Rocha e Indalécio Rocha Júnior
por me darem todo o incentivo e apoio durante o curso. Foi através das suas lições de vida
que eu me tornei um cidadão de bem. Esse diploma é de vocês!
Agradeço a minha noiva Fernanda, pelo incondicional apoio nas horas difı́ceis, pela
compreensão nas horas em que estive ausente e por ter sido minha fortaleza na hora em
que eu mais precisei. Esse tı́tulo também é seu!
Á minha avó Ana (ausente) pelo incentivo em seguir a carreira de docência.
Agradeço ao corpo docente da Faculdade de Licenciatura em Matemática da Univer-
sidade Federal de Alfenas-MG, em especial ao Prof. Dr. José Paulo Carvalho dos Santos
por toda a dedicação, paciência e prontidão ao nossos vários encontros.
Agradeço aos meus grandes amigos Fausto, Rodrigo, Julio, Gilberto, Jarne e Almir por
esses quatro anos de convivência e aprendizado ao lado de vocês.
1
Resumo
O presente trabalho é uma Introdução à Análise Funcional e suas aplicações. O desen-
volvimento desta área deu-se, em consequência direta da fertilidade de suas aplicações em
diversas áreas Matemáticas, especialmente as Equações Diferenciais Ordinárias, Equações
Diferenciais Parciais, Equações Diferenciais Integrais, além da estreita interação com a
Fı́sica, dentre outras áreas da Ciência. O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo
introdutório dos Espaços Normados de dimensão infinita, em particular, a teoria de oper-
adores lineares em espaços normados, Teorema do ponto fixo de Banach e o Princı́pio da
Limitação Uniforme para operadores Lineares Limitados.
Palavras chave: Análise Funcional. Operadores Lineares. Ponto Fixo de Banach. Princı́pio
da Limitação Uniforme
2
Abstract
This work is an Introduction to Functional Analysis and its applications. The develop-
ment of this area gave up, as a direct result of the fertility of their applications in various
areas mathematics, especially Ordinary Differential Equations, Partial Differential Equa-
tions, Integral Equations, in addition to close interaction with physics, among other areas
of science. The main objective this work was an introductory study of normad spaces of
infinite dimension, in particular, the theory of linear operators in normed spaces, fixed
point theorem of Banach and Principle of Limitation Uniform bounded linear operators.
Words key: Functional analysis. Linear operators. Banach fixed point. Principle of
uniform boundedness.
3
Sumário
Introdução 5
2 Análise Funcional 55
2.1 O Teorema de Baire . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.2 Completamento de Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.3 O Teorema do Ponto Fixo de Contrações em Espaços Métricos (Teorema do
Ponto Fixo de Banach) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.4 Espaços Topológicos Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
2.5 Espaços Localmente Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
2.6 Espaços Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.7 Compacidade em Espaços Normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
2.8 Espaços Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
2.9 Operadores Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
2.10 Princı́pio da Limitação Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
2.11 Teorema da Aplicação Aberta e Gráfico Fechado . . . . . . . . . . . . . . . 82
2.12 Teorema do Gráfico Fechado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3 Semigrupos 83
3.1 Aspectos Básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Conclusão 86
4
Introdução
Em matemática, a dimensão de um espaço é o número de parâmetros necessários
para identificar e representar um ponto desse espaço. A Análise Funcional é o ramo da
matemática, e mais especificamente da Análise, que trata do estudo dos espaços Vetoriais de
dimensão infinita. Tem suas raı́zes históricas no estudo de transformações tais como trans-
formada de Fourier e no estudo das Equações Diferenciais e Equações Integrais. Seu uso
em geral está atribuı́do a Volterra. Um grande impulso para o avanço da Análise Funcional
durante o século XX foi a modelagem, devida a John Von Neumann, da Mecânica Quântica
em espaços de Hilbert. A Análise Funcional faz uso de muitos conceitos de Álgebra Linear.
Durante o século XX diversas técnicas da Topologia foram introduzidas, principalmente a
teoria do grau. Assim, a generalização da Álgebra Linear e a introdução da Topologia re-
sultará nos dois pilares básicos da Análise Funcional. Para extrairmos apenas o conceito de
distância (e, portanto, de convergência) separadamente de estruturas algébricas peculiares,
definiremos axiomaticamente um objeto matemático chamado Espaço Métrico, isto é, um
conjunto onde há uma maneira de se medir a distância entre dois elementos quaisquer dele.
Com isto, poderemos tratar especificamente da Teoria de Convergência independentemente
de outras estruturas que eventualmente possam ocorrer no referido conjunto. A definição
de Espaço Métrico reune os dois ingredientes básicos da Análise Funcional; um conceito
de convergência e uma noção geométrica, esta última ainda em uma forma muito simples.
Este objeto matemático abstrato foi introduzido pelo famoso matemático francês Maurice
Fréchet (1878-1973) na sua tese de doutoramento, escrita sob orientação de Henri Lebesgue
(1875-1941), em 1906.
Neste trabalho fazemos um estudo introdutório da Teoria de Análise Funcional. No
Capı́tulo inicial fazemos uma revisão dos principais conceitos da Teoria de Espaços Met-
ricos. Neste Capı́tulo estudamos bolas nos espaços métricos, conjuntos abertos e fecha-
dos, distâncias de ponto a conjuntos e distância entre conjuntos, Isometrias, Sequências,
Continuidade, Continuidade Uniforme, Conjuntos Conexos, Completamento de espaços
métricos e Conjuntos Compactos. E finalmente no segundo capı́tulo atacamos o objetivo
principal do trabalho que foi o estudo dos espaços Normados de dimensão infinita. Iremos
estudar também Compacidade em Espaços normados, Espaços Separáveis, Operadores Lin-
eares e o Princı́pio da Limitação Uniforme.
5
1 Teoria Preliminar de Espaços Métricos
Para esta seção utilizamos como referência KUHLKAMP (2002).
Antes de começarmos a apresentar a definição formal de espaço métrico, apresentaremos
informalmente este conceito. Para isso, observamos que a própria palavra métrica nos
sugere a idéia de medida.
Um dos exemplos mais intuitivos (que usaremos apara motivar a definição de métrica)
é certamente o plano R2 , onde a distância entre dois pontos é o comprimento do segmento
de reta que os une. Seja d a distância e A e B pontos distintos. Essa distância satisfaz as
seguintes propriedades
(a) d > 0 e d = 0 ⇔ A = B
Definição 1.1 Seja M um conjunto. Uma métrica num conjunto M é uma função d :
M × M → R+ tal que associa a cada par ordenado de elementos x, y ∈ M um número real
d(x,y) chamado de distância de x a y de modo que sejam satisfeitas as seguintes condições
para x, y, z ∈ M
(a) d(x, x) = 0;
Exemplo 1.1 A métrica zero-um. Qualquer conjunto M pode tornar-se um espaço métrico
de maneira muito simples. Basta definir a métrica d : M × M → R+ com d(x, x) = 0 e
d(x, y) = 1 se (x 6= y). De fato
(a) d(x, x) = 0
(b) d(x, y) = 1
(d) Se x=z temos que d(x, z) = 0 ≤ d(x, y) + d(y, z). Se x 6= z temos que d(x, z) = 1 o
que não pode ocorrer x=y e y=z simultaneamente. Logo,
6
Definição 1.2 O par (M,d) onde M é um conjunto e d uma métrica em M será chamado
espaço métrico.
Observação 1.1 Quando a métrica d for facilmente subentendida, podemos escrever ape-
nas M para indicar o espaço métrico (M,d).
Exemplo 1.2 Consideremos o conjunto dos números reais R e d(x, y) = |x−y|. Mostraremos
que d é uma métrica em R.
Definição 1.3 Uma norma num espaço vetorial V é uma função k.k : V → R tal que para
quaisquer u, v ∈ V e λ escalar se tenha
Exemplo 1.3 Dado um espaço vetorial normado V, obtemos imediatamente uma métrica
em v definindo d : V × V → R por d(u, v) = |u − v|.
(a) d(u, u) = ku − uk = 0
Vimos que a partir de uma norma obtemos uma métrica. A partir de um produto interno
obteremos uma norma. lembrando que um produto interno num espaço vetorial real V é
uma função <, >: V × V → R tal que para quaisquer u, v, w ∈ V e λ escalar se tenha
7
√
Para obter uma norma através de um produto interno colocamos kvk = < v, v >.
Verifiquemos que as propriedades da definição de norma são satisfeitas por esta função.
√ √
(a) kvk = < v, v > ≥ 0 e kvk = 0 ⇔ < v, v > = 0 ⇔ v = 0
√ √ √
(b) kλvk = < λv, λv > = λ < v, v > = |λ| < v, v > = |λ|kvk
(c) Para provar que ku + vk ≤ kuk + kvk necessitamos do seguinte resultado
Lema 1.1 (Desigualdade de Cauchy-Schwarz). Seja V um espaço vetorial com produto
interno. Então k < u, v > k ≤ kukkvk para todo u, v ∈ V .
Demonstração: Dados u, v ∈ V , com u 6= 0 temos
< u, v > < u, v >
<v− 2
,v − >≥ 0
kuk kuk2
logo,
< u, v >< u, v > < u, v >< u, v > < u, v >2 < u, u >
< v, v > − − + ≥0
kuk2 kuk2 kuk4
daı́, segue que
< u, v >2 < u, v >2 kuk2
kvk2 − 2 + ≥0
kuk2 kuk4
assim
< u, v >2
kvk2 − ≥ 0 (multiplicando essa expressão por kuk2 )
kuk2
conclui-se que
kvk2 kuk2 − < u, v >2 ≥ 0 ⇒ kvkkuk ≥< u, v >.
Vamos agora provar que ku + vk ≤ kuk + kvk. De fato,
ku + vk2 =< u + v, u + v >=< u, u > +2 < u, v > + < v, v >
ku + vk≤ kuk2 + 2k < u, v > k + kvk2
ku + vk2 ≤ kuk2 + 2kukkvk + kvk2 = (kuk + kvk)2
logo,
ku + vk ≤ kuk + kvk.
Uma maneira simples e muito importante de obter espaços métricos é considerar um
subconjunto de um espaço métrico e tomar a distância entre seus pontos a mesma do espaço
original. Em outros termos, se (M, d) é um espaço métrico, todo subconjunto S ⊂ X pode
ser considerado um espaço métrico. Basta usar para os elementos de S a mesma distância
que eles possuiam como elementos de M . Neste caso, dizemos que S é subespaço de M e
a métrica de S se diz-se induzida pela de M .
Definição 1.4 Se(M, d) é um espaço métrico e X ⊂ M , então (X, d) é chamado subespaço
de (M, d).
8
1.1 Bolas nos Espaços Métricos
Definição 1.1.1 Sejam M um espaço métrico, a ∈ M , r > 0.
|x1 | ≤ 1 e |x2 | ≤ 1 ⇒ −1 ≤ x1 ≤ 1 e −1 ≤ x2 ≤ 1.
Note que a figura definida por essa expressão será um quadrado de lado ≤ 2.
9
Definição 1.1.2 Um subconjunto X de um espaço métrico M é dito limitado quando for
possı́vel obter K > 0 tal que
d(x, y) ≤ K, ∀x, y ∈ M .
Observe que um conjunto X ⊂ M é limitado se, e somente se, X ⊂ B[a; r], para alguma
bola B[a; r] de M . De fato, se X ⊂ B[a; r] para algum a ∈ M e r > 0, então dados x, y ∈ X
temos d(x, y) ≤ d(x, a) + d(y, a) ≤ r + r = 2r. Logo, se X ⊂ B[a; r], então X é limitado.
Por outro lado, se X é limitado, isto é, se existir K > 0 tal que
d(x, y) ≤ K
Definição 1.1.3 Diremos que o espaço métrico M é limitado, ou que a métrica d é limi-
tada, se existir K > 0 tal que
d(x, y) ≤ K, ∀x, y ∈ M .
(a) x ≤ b ∀x ∈ X;
(b) Se x ≤ c ∀x ∈ X, então b ≤ c.
(a) b ≤ x, ∀x ∈ X;
(b) se c ≤ x ∀x ∈ X, então c ≤ b.
10
Definição 1.1.8 Seja X um subconjunto limitado de um espaço métrico M . Chamamos
diâmetro de X ao supremo dos números d(x, y) com x, y ∈ X. Em outros termos temos
Geometricamente, temos
Observe que a é um ponto interior de A pois a bola B(a; r) ⊂ A. Agora, note que b não é
um ponto interior de A pois a bola B(b; r1 ) 6⊂ A, qualquer que seja r1 > 0. Diremos que A
é um conjunto aberto em M quando todo ponto de A for ponto interior de A. O conjunto
de todos os pontos interiores de A será chamado de interior de A e denotado por int A.
De fato, dado (a, b) ∈ X temos que a > 1. Tomando r = a − 1 > 0 teremos que B =
B((a, b); r) ⊂ X. De fato, se (x, y) ∈ B teremos
Em particular,
p
|x − a| ≤ (x − a)2 + (y − b)2 < r ⇒ |x − a| < r.
11
o que concluı́mos que x > 1 e (x, y) ∈ X. Logo B ⊂ X. Disto conclui-se que X é aberto.
Teorema 1.2.1 Seja B = B(a; r) uma bola aberta num espaço métrico M e t ∈ B. Então
existe s > 0 tal que B(t; s) ⊂ B.
12
d(w, a) ≤ d(w, t) + d(t, a) ⇒ d(w, a) < s + d(t, a) = r.
Logo, w ∈ B e B(t; s) ⊂ B. A figura abaixo nos traz a idéia geométrica deste Teorema e
sua demonstração
Figura 6: teorema1.2.1
(c) Se {Aλ }λ∈L é uma famı́lia arbitrária de abertos, então A = ∪Aλ , com λ ∈ L é aberto.
ou seja
B(a; r) ⊂ A1 ∩ A2 ∩ . . . ∩ An = B ⇒ B(a; r) ⊂ B
logo, a ∈ intB. Para mostrar o item (c) seja a ∈ A. Então a ∈ Aλ para pelo menos um
λ ∈ L. Como a ∈ Aλ é aberto, existe r.0 tal que B(a; r) ⊂ Aλ . Logo B(a; r) ⊂ ∪Aλ = A.
Logo A é aberto.
13
Definição 1.2.4 Um subconjunto F de um espeço métrico M é dito fechado quando seu
complementar M − F for aberto.
Exemplo 1.2.3 Mostre que toda bola fechada B[a; r] num espaço métrico M é um conjunto
fechado em M .
De fato, inicialmente definimos a situação descrita pela figura abaixo e mostremos que o
conjunto A = M − B[a; r] é aberto em M . Se b ∈ A então s = d(a, b) − r > 0. Note
que z ∈ B(b; s) ⇒ d(z, b) < s. Note também que d(a, b) ≤ d(a, z) + d(z, b) ⇒ d(a, z) ≥
d(a, b) − d(z, b) ⇒ d(a, z) ≥ (s + r) − s ⇒ d(a, z) > r ⇒ x 6∈ B[a; r] ⇒ x ∈ A. logo
B(b; s) ⊂ A. Portanto A é aberto.
[
Demonstração:(a) Dado x ∈ Bλ temos que x ∈ Bλ0 para algum λ0 e consequentemente
\ λ∈L \
x 6∈ (M − Bλ0 ) onde x 6∈ (M − Bλ ) e assim x ∈ M − (M − Bλ ). Reciprocamente, se
\ λ∈L \ λ∈L
x∈M− (M − Bλ ), então x 6∈ (M − Bλ ) donde x 6∈ (M − Bλ0 ) para algum λ0 ∈ L,
λ∈L [ λ∈L \
ou seja, x ∈ Bλ0 , e assim x ∈ Bλ . Para provar o item (b) seja x ∈ Bλ e assim temos
λ∈L λ∈L [
que x ∈ Bλ0 para algum λ0 ∈ L. Deste fato temos que x 6∈ (M − Bλ0 ) ⇒ x 6∈ (M − Bλ )
[ [λ∈L
e assim temos que x ∈ M − (M − Bλ ) o que podemos observar que x 6∈ (M − Bλ ) ⇒
λ∈L \ λ∈L
x 6∈ (M − Bλ0 ) para algum λ0 ∈ L, ou seja, x ∈ Bλ0 ⇒ x ∈ Bλ .
λ∈L
14
Teorema 1.2.3 Seja M um espaço métrico.
Exemplo 1.2.4 Consideremos o conjunto dos números reais R e seu subconjunto Q dos
números racionais. Vamos Mostrar que Q0 = R.
De fato, dado um número real a, para provar que a ∈ Q0 devemos mostrar que toda bola
aberta B(a; r) contém algum ponto de Q − {a}. Seja r > 0, a bola B(a; r) é o intervalo
(a − r, a + r). Para encontrar um racional (diferente de a) neste intervalo, dividiremos a
reta R em intervalos de extremos racionais e comprimento menor do que r, e mostraremos
que um dos extremos desses intervalos está em (a − r, a + r) e é diferente de a. Como o
conjunto dos números naturais é ilimitado, existe um natural K > 1r e assim K1 < r. Os
números da forma n K1 = Kn com n ∈ Z são números racionais e dividem a reta em intervalos
de comprimento K1 conforme figura abaixo.
Fazendo A = {n ∈ Z; Kn < a + r} e tomando p=supA=máxA teremos
p p+1
K
<a+r ≤ k
logo,
15
1
Figura 8: reta com intervalos de comprimento de K
p+1 p 1 p
0≤ K
−r = K
+ K
−r < K
p
Isso Mostra que K
∈ (a; a + r) ∩ Q ⊂ (a − r; a + r) ∩ (Q − {a}) e assim a ∈ Q0 . Portanto
Q0 = R.
B(y; s) ⊂ B(a; r) ⊂ M − X.
16
1 1
Exemplo 1.3.3 Consideremos sobre R a métrica usual. Se p = 0 e A = 1, , , . . .
2 3
então d(p, A) = 0.
1.4 Isometria
Definição 1.4.1 Sejam M e N espaços métricos. Uma função f : M → N é chamada
imersão isométrica quando preserva distâncias, isto é, quando para quaisquer x, y ∈ M
tivermos d(f (x), f (y)) = d(x, y).
Exemplo 1.4.1 Seja f : R → R2 dada por f (x) = (x, 0). Mostre que a referida função é
uma imersão isométrica.
17
Exemplo 1.4.2 Mostre que a função g : R2 → R3 dada por g(x, y) = (x, y, 0) é uma
imersão isométrica.
Definição 1.4.2 Uma aplicação f : M → N é chamada isometria se ela for uma imersão
isométrica sobrejetiva.
Exemplo 1.4.3 Mostre que a função f : R → R dada por f (x) = −x é uma isometria.
De fato, observe que d(f (x), f (y)) = |f (x) − f (y)| = | − x − (−y)| = | − (x − y)| =
|x − y| = d(x, y). A função é sobrejetiva pois dado b ∈ R basta tomar −b ∈ R e teremos
que f (−b) = −(−b) = b. Logo temos que a função é uma isometria.
(c) (xn )n ;
(d) (xn ).
Definição 1.5.2 Seja M um espaço métrico e (xn ) uma sequência em M . Diremos que
(xn ) converge para a ∈ M se para cada > 0 pudermos obter n0 ∈ N tal que d(xn , a) <
para todo natural n ≥ n0 .
Observação 1.5.1 Para indicar que (xn ) converge para a, escrevemos lim xn = a.
n→∞
Observação 1.5.2 Decorre da definição que lim xn = a ⇔ para todo r > 0 for possı́vel
n→∞
obter n0 tal que xn ∈ B(a; r), ∀n ≥ n0 ou seja, qualquer bola aberta centrado em a contém
todos os pontos da sequência (xn ) com eventual exceção de um número finito de pontos.
18
Exemplo 1.5.1 Consideremos R dotado da métrica usual. Mostre que a sequência (x1 , x2 , . . .)
n
onde xn = converge para o ponto 1.
n+1
1
De fato, dado > 0 tomemos r ∈ N∗ de maneira que < . Então ∀n ≥ r temos
r+1
n −1
d(xn , 1) = − 1 = = 1 < 1 <
n+1 n + 1 n + 1 r+1
1 (−1)n
Exemplo 1.5.2 Mostre que a sequência zn = (xn , yn ) = 1+ , em R2 com a
n n
métrica usual converge para (1, 0).
De fato,
n
1 + 1 , (−1)
d((xn , yn ), (1, 0)) = − (1, 0)
n n
r
1 (−1)2n
= 2
+
rn n2
1 1
= 2
+ 2
n n
1√
r
2
= = 2.
n2 n
√
2
Logo dado > 0 e n0 ∈ N tal que n0 > então ∀n ≥ no teremos
√ √
2 2
d((xn , yn ), (1, 0)) = ≤ < .
n n0
Exemplo 1.5.3 A sequência xn = (−1)n possui subsequências (x2k ) e (x2k+1 ) onde cada
subsequência é definida por x2k = (−1)2k = 1 e x2k+1 = (−1)2k+1 = (−1)2k (−1) = −1.
Note que x2k é convergente com lim x2k = 1 e (x2k+1 ) é convergente com lim x2k+1 = −1
k→∞ k→∞
. Logo (xn ) não é convergente.
19
Demonstração: Suponhamos lim xn = a e lim xn = b, com a 6= b. Tomemos um
n→∞ n→∞
= 12 d(a, b). Da definição de limite de sequência temos que existem n1 , n2 ∈ N tais que
n ≥ n1 ⇒ d(xn , a) <
n ≥ n2 ⇒ d(xn , b) < .
simultaneamente. Logo,
Definição 1.5.4 Diremos que uma sequência é limitada quando o conjunto X(N) = {x1 , x2 , x3 , . . .}
for limitado.
Demonstração: Seja (xn ) uma sequência num espaço métrico M com lim xn = a. Então
n→∞
existe n0 tal que d(xn , a) < 1 ∀n ≥ n0 , isto é, xn ∈ B(a, 1) ∀n ≥ n0 . Como o conjunto
X = {x1 , x2 , . . . , xn0 } é finito, temos que X é limitado. Logo X(N) é um conjunto limitado
pois X(N) = {x1 , x2 , x3 , . . .} ⊂ X ∪ B(a, 1).
Observação 1.5.3 A recı́proca do Teorema anterior não é válida. O leitor poderá verificar
que as sequências xn = (−1)n e zn = in em R e C respectivamente são limitadas mas não
convergem.
Teorema 1.5.3 Seja (xn ) uma sequência num espaço métrico M e a ∈ M . O ponto a é
limite de uma subsequência (xn ) se, e somente se, para todo r > 0, a bola B(a; r) contiver
uma infinidade de termos de (xn ).
Demonstração: Se exisitir uma subsequência (xnk ) de (xn ) com lim xnk = a então dado
r > 0 existe K0 tal que xnk ∈ B(a; r) ∀K ≥ K0 . Logo, B(a; r) contém uma infinidade de
termos de (xn ). Reciprocamente, se para todo r > 0, B(a; r) contiver uma infinidade de
termos de (xn ), podemos obter uma subsequência de (xn ) convergindo para a. Para tal,
escolhemos
20
arbitrariamente. Como B(a; 21 ) contém uma infinidade de termos de (xn ) existe n2 > n1 tal
que xn2 ∈ B(a; 12 ). Conhecidos xn1 , xn2 , . . . , xnK−1 , existe nK > nK−1 tal que xnK ∈ B(a; K1 )
pois B(a; K1 ) contém uma infinidade de termos de (xn ). A subsequência (xnK ) de (xn ) assim
obtida satisfaz
1
d(xnK , a) < K
.
Portanto,
lim xnK = a.
n→∞
Teorema 1.5.4 Seja (xn ) uma sequência num espaço métrico M . Se lim xn = a então
n→∞
toda subsequência de (xn ) converge e tem limite a.
Demonstração: Seja (xnK ) uma subsequência de (xn ). Dado > 0, como lim xn = a,
n→∞
existe n0 tal que d(xn , a) < ∀n ≥ n0 . Sendo N1 = {n1 < n2 < n3 < . . .} infinito existe p
tal que np ≥ n0 . Logo, K > p ⇒ nK ≥ np ≥ n0 ⇒ d(xnK , a) < . Assim lim xnK = a.
n→∞
Observação 1.6.1 Qualquer sequência que pertencer a um desses tipos será chamada de
sequência monótona.
Teorema 1.6.2 Seja (xn ) uma sequência em R. Se lim xn = a > b então existe n0 tal
n→∞
que xn > b ∀n ≥ n0 .
21
Demonstração: Seja = a − b > 0. Como lim xn = a, existe n0 tal que xn ∈ (a − , a + )
n→∞
∀n ≥ n0 . Em particular xn > a − ⇒ xn > a − (a − b) ⇒ xn > b ∀n > n0 .
Teorema 1.6.3 Se (yn ) é uma sequência no conjunto dos números complexos com lim yn =
n→∞
b, então lim |yn | = |b|.
n→∞
Demonstração: Vejamos inicialmente que ||yn | − |b|| ≤ |yn − b|. Das desiqualdades
obtemos
Ou seja,
Logo,
Voltando ao teorema, dado > 0, como lim yn = b, existe n0 tal que n ≥ n0 garante
n→∞
|yn − b| < . Portanto n ≥ n0 nos dá
22
Demonstração: (a) Dado > 0, existem n1 , n2 ∈ N tais que |xn − a| < ∀n ≥ n1 e
2
|yn − b| < ∀n ≥ n2 . Fazendo n0 = max{n1 , n2 } então ∀n ≥ n0 temos
2
|(xn − yn ) − (a + b)| ≤ |xn − a| + |yn − b| < + = .
2 2
A demonstração acima foi feita para a soma. Para a subtração, o raciocı́nio é análogo. Para
mostrar (b) como (xn ) é uma sequencia convergente temos também que ela é limitada. Logo
existe M ≥ |b| tal que |xn | ≤ M ∀n ∈ N. Portanto
|xn yn − ab| = |xn yn − xn b + xn b − ab|
≤ |xn (yn − b)| + |b(xn − a)|
= |xn ||yn − b| + |b||xn − a|
≤ M |yn − b| + M |xn − a|.
23
1.7 Caracterização de Conjuntos e Pontos através de Sequências
Nesta seção veremos de que forma se pode reconhecer conjuntos abertos, conjuntos
fechados, pontos de acumulação e de fronteira através dos limites de sequências conver-
gentes. Da definição de limite de sequência decorre que se A ⊂ M é aberto no espaço M e
(xn ) é uma sequência em M com lim xn = a ∈ A então existe n0 tal que xn ∈ A ∀n ≥ n0 .
n→∞
B(a; r) ∩ (X − {a}) 6= ∅.
Logo, a ∈ X 0 .
Exemplo 1.7.1 Na reta com a métrica usual consideremos o conjunto X = (0, ∞). Note
que todo ponto de X é ponto de acumulação de X. Com efeito, dado a ∈ X basta tomar a
1 1
sequência xn = a + e teremos xn ∈ X − {a} com lim a + = a. Além disso, o ponto
n n→∞ n
1
zero é ponto de acumulação de X pois a sequência está em X e lim = 0.
n→∞ n
Teorema 1.7.2 Seja F ⊂ M . F é fechado se, e somente se, para toda sequência (xn ) de
pontos de F com lim xn = a ∈ M tivermos a ∈ F .
n→∞
24
hipótese de que xn ∈ F ∀n. Logo, a ∈ F . Reciprocamente, suponhamos que toda sequência
convergente de pontos de F tem seu limite em F , e mostremos que F = F . Como F ⊂ F
basta mostrar que F ⊂ F . Seja então a ∈ F logo, existe uma sequência (xn ) em F tal que
lim xn = a. Pela hipótese temos a ∈ F , logo F ⊂ F , daı́ segue que F = F .
n→∞
Exemplo 1.7.2 Em R2 com a métrica usual consideremos a bola B = B[0; 1] tal que
0 = (0, 0). Mostre que B é fechado.
vem
∂X = ∂(M − X) ⊂ M − X ⇒ b ∈ M − X.
Exemplo 1.7.3 Seja X ⊂ R2 , o conjunto dos pontos de ordenada maior do que um,
isto é, X = {(x, y) ∈ R2 ; y > 1}. Observe que para todo real a, o ponto b = (a, 1) está na
fronteira
de X. De fato, de acordo com o teorema anterior, basta obervar que as sequências
1 1
xn = a, 1 + e yn = a, 1 − estão X e R2 − X respectivamente. Essas sequências
n n
são convergentes com lim xn = lim yn = b = (a, 1).
n→∞ n→∞
25
lim f (x) = b
x→a
se dado > 0 existir δ > 0 tal que d(f (x), b) < ∀x ∈ X − {a} com d(x, a) < δ.
Observação 1.8.1 Quando não existir b ∈ N que cumpra a condição da definição diremos
que lim f (x) não existe.
x→a
Observação 1.8.2 A função f não precisa estar definida no ponto a para que exista
lim f (x). Caso exista f (a) e lim f (x), não é necessário lim f (x) = f (a).
x→a x→a x→a
Demonstração: Se lim f (x) = b e lim f (x) = c então dado > 0 existem δ1 > 0 e δ2 > 0
x→a x→a
tais que d(f (x), b) < e d(f (x), c) < ∀x ∈ X − {a} com d(x, a) < δ1 e d(x, a) < δ2 .
2 2
Seja δ = min{δ1 , δ2 }. Então se x1 ∈ X − {a} e d(x1 , a) < δ temos d(f (x1 ), b) < e
2
d(f (x1 ), c) < . Logo,
2
d(b, c) ≤ d(b, f (x1 )) + d(f (x1 ), c)
< +
2 2
= .
De fato, tome > 0. Devemos exibir δ > 0 tal que d(f (x), a) = d(x, a) < ∀x ∈ X − {a}
com d(x, a) < δ. Basta tomar δ = . De fato, se d(x, a) < δ então d(f (x), a) = d(x, a) <
δ = . Logo, lim f (x) = lim x = a.
x→a x→a
Dado > 0 devemos exibir δ > 0 tal que ∀x ∈ R com d(x, a) < δ cumpra d(f (x), ca+d) < .
Queremos então que
26
assim,
|c||x − a| < ⇒ d(x, a) < .
|c|
Basta tomar δ = e teremos que lim cx + d = ca + d.
|c| x→a
Devemos mostrar que para qualquer b ∈ R não temos lim f (x) = b. Vamos dividir este
x→a
problema em duas partes.
(1a ) b < 2
(2a ) b ≥ 2.
Isso mostra que não temos lim f (x) = b. Considerando agora o caso em que b ≥ 2 tomemos
x→a
1 δ 1
= . Dado δ > 0 tomamos x = min , . Assim
2 2 2
δ 1
d(x, a) = |x − 1| = min , <δ
2 2
3
e 1 < x ≤ . Logo,
2
3 1
d(f (x), b) = |f (x) − b| = |x − b| = | − (b − x)| = |b − x| = b − x = 2 − = = .
2 2
Portanto neste caso não existe lim f (x) = b.
x→a
27
Demonstração: Suponha lim f (x) = p. Então, dado > 0, existe um δ > 0 tal que
x→a
x ∈ X − {a} e d(x, a) < δ garante d(f (x), p) < . Se (xn ) é uma sequência em X − {a} com
lim xn = a, para este δ > 0 existe n0 tal que d(xn , a) < δ ∀n ≥ n0 . Logo d(f (xn ), p) <
n→∞
∀n ≥ n0 , e assim lim f (xn ) = p. Reciprocamente, suponha que não temos lim f (x) = p.
n→∞ x→a
Assim, existe > 0 tal que ∀δ > 0 se pode obter um ponto x ∈ X − {a} com d(x, a) < δ e
d(f (x), p) ≥ . Logo, a sequência (xn ) assim obtida cumpre lim xn = a, mas não cumpre
n→∞
lim f (xn ) = p, o que contradiz a hipótese, concluindo a demonstração.
n→∞
f b
(c) lim (x) = desde que c 6= 0.
x→a g c
Demonstração: Basta mostrar que lim (f ± g)(xn ) = lim [f (xn ) ± g(xn )] = b ± c para
n→∞ n→∞
toda sequência (xn ) em X − {a} com lim xn = a. Seja (xn ) uma tal sequência. Sabemos
n→∞
que lim [f (xn ) ± g(xn )] = lim f (xn ) ± lim g(xn ). Sendo lim f (x) = b e lim g(x) = c temos,
x→a x→a
pelo teorema anterior, que lim f (xn ) = b e lim g(xn ) = c. Assim lim (f ± g) (xn ) = b ± c.
n→∞ n→∞ n→∞
Para o item (b) basta mostrar que lim (f g)(xn ) = lim [f (xn )g(xn )] = bc. Seja (xn )
n→∞ n→∞
uma sequência com lim xn = a. Sabemos que lim [f (xn )g(xn )] = lim f (xn ) lim g(xn ).
n→∞ n→∞ n→∞ n→∞
Como lim f (x) = b e lim g(x) = c, pelo teorema anterior seque que lim f (xn ) = b e
x→a x→a n→∞
lim g(xn ) = c. Assim,
n→∞
f f (xn ) b
Para o item (c), necessitamos mostrar que lim (xn ) = lim = , com
n→∞ g n→∞ g(xn ) c
f (xn )
lim f (x n )
c 6= 0 e g(xn ) 6= 0. Note que lim = n→∞ . Sendo que lim f (x) = b e
n→∞ g(xn ) lim (xn ) x→a
n→∞
lim g(x) = c temos, pelo teorema anterior que lim f (xn ) = b e lim g(xn ) = c. Assim,
x→a n→∞ n→∞
f (xn )
lim f (xn ) b
n→∞
lim = =
n→∞ g(xn ) lim g(xn ) c
n→∞
28
1.9 Funções Contı́nuas
Definição 1.9.1 Sejam M e N espaços métricos. Diremos que uma função f : M → N
é contı́nua num ponto a ∈ M quando dado > 0 pudermos obter um δ > 0 tal que
d(f (x), f (a)) < ∀x ∈ M com d(x, a) < δ. Diz-se que f : M → N é contı́nua quando ela
é contı́nua em todos os pontos a ∈ M .
Exemplo 1.9.1 Seja M = {1, 2, 3, . . .} o conjunto dos números naturais com a métrica
induzida da reta. Se N é um espaço métrico qualquer, então mostre que toda função
f : M → N é contı́nua.
De fato, dados a ∈ M e > 0 basta tomar δ = 1 e teremos que d(x, a) < δ fornece x = a e
assim
Demonstração: Dados a ∈ M e > 0, como M é discreto, então existe δ > 0 tal que
B(a; δ) = {a}. Assim, se d(x, a) < δ, temos que x = a. Logo,
29
Exemplo 1.9.3 Seja a função f : R → R dada por f (x) = x2 . Mostre que f é contı́nua
no ponto a = 0.
Dado > 0 queremos obter δ > 0 tal que d(f (x), f (a)) < ∀x ∈ R com d(x, 0) < δ. Isto é,
√
|x2 − 02 | < ⇒ |x2 | < ⇒ |x| < .
√
Logo, basta tomar = δ e teremos d(f (x), f (0)) = |x2 − 02 | = |x2 | = |x|2 < ∀x ∈ R
com d(x, 0) = |x| < δ.
Definição 1.9.2 Diremos que uma função f : M → N é uma função de Lipschitz quando
existe c > 0 tal que d(f (x), f (y)) ≤ cd(x, y) quaisquer que sejam x, y ∈ M .
Exemplo 1.9.4 Dada uma função f : M → N e suponhamos que exista uma constante
c > 0 (constante de Lipschitz) tal que d(f (x), f (y)) ≤ cd(x, y) qualquer que seja x, y ∈ M .
Dizemos que f é uma aplicação lipschitziana. Mostre que f é contı́nua em cada ponto
a ∈ M.
De fato, dado > 0, tomemos δ = . Então
c
d(x, a) < δ ⇒ d(f (x), f (a)) ≤ c.d(x, y) < c = .
c
Teorema 1.9.2 Sejam M e N espaços métricos, X ⊂ M , a ∈ X e f : X → N uma
função. Então
Demonstração: (a) Se a 6∈ X 0 , então temos que existe δ > 0 tal que B(a; δ) não contém
nenhum ponto de X diferente de a. Logo B(a; δ) = {a} e portanto a é um ponto isolado.
Logo, ∀ > 0, existe δ > 0 tal que d(a, x) < δ ⇔ x = a, o que implica d(f (a), f (x)) =
d(f (a), f (a)) = 0 < . Portanto f é contı́nua em a. Para provar o item (b) se f é contı́nua
no ponto a, então dado > 0 existe δ > 0 tal que d(f (x), f (a)) < com d(x, a) < δ
∀x ∈ X. Em particular, se x ∈ X e 0 < d(x, a) < δ teremos d(f (x), f (a)) < . Logo
lim f (x) = f (a).
x→a
Reciprocamente, se lim f (x) = f (a), dado > 0 existirá δ > 0 tal que d(f (x), f (a)) <
x→a
∀x ∈ X − {a} com d(x, a) < δ. Porém, como d(f (a), f (a)) = 0 < temos que se x ∈ X
com d(x, a) < δ garante também d(f (x), f (a)) < . Logo f é contı́nua no ponto a.
é contı́nua.
30
Demonstração: Nos pontos isolados de X̄, sabemos, pelo item (a) do teorema anterior,
que F é contı́nua. Seja então a ∈ X̄ um ponto de acumulação de X̄. Se a ∈ X̄ − X, a
definição de F nos dá lim f (x) = F (a) e se a ∈ X, por ser a ∈ X̄, temos também a ∈ X 0 , e
x→a
assim a continuidade de f fornece lim f (x) = f (a) = F (a). Assim, dado > 0 existe δ > 0
x→a
tal que x ∈ X e d(x, a) < δ ⇒ d(f (x), F (a)) < . Agora afirmamos que
2
y ∈ X̄ e d(y, a) < δ ⇒ d(F (y), F (a)) < .
De fato, se y ∈ X, temos
d(F (y), F (a)) = d(f (y), f (a)) < < .
2
Se, porém, y ∈ X̄ − X, então de lim f (x) = F (y) temos que existe δ1 > 0 tal que x ∈ X
x→y
e d(x, y) < δ1 garante d(f (x), F (y)) < . Sem perda de generalidade podemos supor
2
δ1 ≤ δ − d(a, y) o que nos dá B(y; δ1 ) ⊂ B(a; δ). Como y ∈ (X̄ − X) ⊂ X 0 , existe z ∈ X
tal que z ∈ B(y; δ1 ) ⊂ B(a; δ), isto é, d(z, y) < δ1 e d(z, a) < δ. Logo,
como querı́amos.
Exemplo 1.9.5 Seja p : C → C um polinômio. Mostre que todo polinômio p é uma função
contı́nua.
31
Inicialmente, verifiquemos que f : C → C definida por f (x) = x é contı́nua. De fato, dado
a ∈ C e > 0, basta tomar δ = e teremos d(f (x), f (a)) = d(x, a) < δ = sempre que
d(x, a) < .
Agora, pelo teorema anterior, temos que g : C → C dada por g(x) = x2 é contı́nua, pois g
é o produto da função g por si mesma. Da mesma forma, é contı́nua a função h : C → C
dada por h(x) = xn qualquer que seja o natural n. Se ai ∈ C é uma constante qualquer,
então o produto (ai h)(x) = ai xn é contı́nua. Finalmente, também pelo teorema anterior,
todo polinômio p : C → C, p(x) = a0 + a1 x + . . . + an xn é contı́nua. Em particular, como
R ⊂ C, se p : R → R for um polinômio, p também é contı́nuo.
Como f é contı́nua, para este δ1 > 0, existe δ > 0 tal que x ∈ M e d(a, x) < δ garante
d(f (x), f (a)) < δ1 . Veja o esquema abaixo.
E assim, d(g(f (x)), g(f (a))) < sempre que d(x, a) < δ ou seja, d((g ◦ f (x), (g ◦ f )(a)) <
sempre que d(x, a) < δ. Logo, g ◦ f é contı́nua no ponto a. Como a ∈ M é arbitrário,
temos g ◦ f contı́nua em M , como querı́amos.
32
Demonstração: Suponha primeiramente que f seja contı́nua. Seja A ⊂ N aberto e
mostremos que f −1 (A) é aberto em M . De fato, para cada a ∈ f −1 (A) temos que existe um
b tal que b = f (a) ∈ A. Pela definição de conjunto aberto, existe > 0 tal que B(b; ) ⊂ A.
Como f é contı́nua, para este > 0 podemos obter δ > 0 tal que f (B(a; δ)) ⊂ B(b; ).
Assim temos que f (B(a; δ)) ⊂ A e B(a; δ) ⊂ f −1 (A), onde concluı́mos que f −1 (A) é aberto.
Reciprocamente, se para todo aberto A ⊂ N tivermos f −1 (A) aberto em M , então
dados a ∈ M e > 0 tomemos A = B(f (a); ). Então, f −1 (A) é aberto e a ∈ f −1 (A).
Logo, existe δ > 0 tal que B(a; δ) ⊂ f −1 (A). Portanto f (B(a; δ)) ⊂ A = B(f (a); ) o que
mostra ser contı́nua no ponto a. Como a ∈ M é arbitrário, temos f contı́nua em M .
Teorema 1.10.2 Uma função f : M → N é contı́nua se, e somente se, para todo fechado
F ⊂ N tivermos f −1 (F ) fechado em M .
Exemplo 1.10.1 Seja M = [1, 2] ∪ {3} considerado com a métrica induzida da reta e seja
f : M → R dada por f (x) = 5 para x ∈ [1, 2] e f (3) = 6. Mostre que f é contı́nua.
(a) 5 6∈ A e 6 6∈ A;
(b) 5 ∈ A e 6 6∈ A;
(c) 5 6∈ A e 6 ∈ A;
(d) 5 ∈ A e 6 ∈ A.
33
No caso (a) temos f −1 (A) = ∅. No caso (b) temos f −1 (A) = [1, 2]. No caso (c) tem-se
f −1 (A) = {3}. No caso (d) tem-se f −1 (A) = M . Como ∅, [1.2], {3}, M são subconjuntos
abertos de M temos que, pelo teorema 3.3.1, f −1 (A) é sempre aberto em M . Logo, f é
contı́nua.
1.11 Homeomorfismos
Definição 1.11.1 Uma bijeção f : M → N é chamada homeomorfismo quando f e sua
inversa f −1 forem ambas contı́nuas. Quando isso acontece, dizemos que M e N são espaços
homeomorfos.
w
De fato,dado um número complexo w, para z = temos f (z) = w. Logo f é sobrejetiva.
k
Para mostrar que f é injetiva, suponha que f (u) = f (v) o que implica que ku = kv ⇒ u = v.
z
Logo, f é injetiva. A inversa de f é dada por w = . Logo, como f (z) e f −1 (z) são contı́nuas
k
temos que f é um homeomorfismo.
Definição 1.11.2 Dadas as métricas d1 e d2 num conjunto M , diremos que d1 é mais fina
do que d2 e denotamos d1 d2 quando a identidade i12 : (M, d1 ) → (M, d2 ) for contı́nua.
De fato, a identidade i21 : (R, d2 ) → (R, d1 ) é contı́nua pois dados a ∈ R e > 0 basta
tomar δ = 1 e teremos que d2 (x, a) < δ implica em x = a, e assim
Logo, d2 d1 .
Por outro lado, a identidade i12 : (R, d1 ) → (R, d2 ) não é contı́nua pois dados a ∈ R e
= 1, ∀δ > 0 existe x ∈ R com x 6= a e d1 (x, a) < δ. Assim,
34
Logo, d1 d2
Exemplo 1.11.3 Sejam d1 e d2 duas métricas num conjunto M tais que d1 (x, y) = 2d2 (x, y).
Mostre que d1 ∼ d2 .
1 1
d2 (i12 (x), i12 (a)) = d2 (x, a) = d1 (x, a) < δ =
2 2
Teorema 1.11.1 Sejam d1 e d2 métricas num conjunto M . Se existir α > 0 tal que
d2 (x, y) ≤ αd1 (x, y) ∀x, y ∈ M , então d1 d2 .
Corolário 1.11.1 Se existirem α, β > 0 tais que d2 (x, y) ≤ αd1 (x, y) ≤ βd2 (x, y) para
quaisquer x, y ∈ M , então d1 ∼ d2 .
Demonstração: Pelo Teorema anterior, de d2 (x, y) ≤ αd1 (x, y) temos d1 d2 . Por outro
β
lado de αd1 (x, y) ≤ βd2 (x, y) temos que d1 (x, y) ≤ d2 (x, y) ⇒ d2 d1 . Logo, d1 ∼ d2 .
α
s n n
X X
Exemplo 1.11.4 Em Rn consideremos d(x, y) = |xi − yi |2 , d1 (x, y) = |xi − yi | e
i=1 i=1
d2 (x, y) = max |xi − yi | com 1 ≤ i ≤ n. Mostre que d, d1 e d2 são métricas equivalentes.
35
A primeira e terceira desigualdades são imediatas. Resta mostrar que d(x, y) ≤ d1 (x, y).
De fato,
n
X
2
d(x, y) = |xi − yi |2
i=1
Xn n
X
d1 (x, y)2 = |xi − yi |2 + 2 |xi − yi ||xi − yi |
i=1 i=1
o que implica
Portanto, f é contı́nua.
36
t−1
y = 0. A equação da reta citada é y = x + 1. Esta reta intercepta a reta y = 0 no
s
t−1
ponto em que 0 = x + 1 ou seja,
s
(t − 1)x + s = 0
ou ainda
s s
x=− = .
t−1 1−t
1 s
Assim, se u = (s, t) ∈ S − {p}, então π(u) = , 0 que identificamos com o número
1−t
s
real . Queremos mostrar que π é um homeomorfismo. Para tanto, mostraremos
1−t
inicialmente que π é um bijeção. Dado a ∈ R, consideremos a reta que passa por (α, 0) e
x
p = (0, 1). A equação desta reta é y = − + 1. Para verificar se existe u ∈ S 1 − {p} tal
α
x
que π(u) = (α, 0) = α basta verificar se existe algum ponto comum à reta y = − + 1 e ao
x α
1
conjunto S − {p}. Isto é, verificar se existe algum ponto da forma x, − + 1 diferente
α
x
de p com
x, − + 1
= 1. Resolvendo esta equação obtemos duas soluções. Uma é
α
2α α2 − 1
o ponto p = (0, 1) que não interessa e a outra é o ponto u = , que é o
α2 + 1 α2 + 1
único ponto de S 1 − {p} tal que π(u) = (α, 0). Isto mostra que π é injetiva e sobrejetiva.
A continuidade de π decorre do item (c) do Teorema 1.10.4. Do que acabamos de fazer
1
decorre que a inversa de π, é a função φ : R → S 1 −{p} dada por φ(α) = 2 (2α, α2 −1)
α +1
que é contı́nua em virtudde do Teorema anterior. Logo, π é um homeomorfismo.
37
(c) a interseção finita de abertos é aberta.
(a) ∅, X ∈ τ ;
De fato, dado um espaço métrico (M, d), como os abertos de M são reuniões de bolas
abertas de M , basta tomarmos τ como sendo um conjunto X ⊂ M , tal que x é uma
reunião de bolas abertas de M e τ será uma topologia em M . O espaço topológico (M, τ )
terá os mesmos abertos que (M, d).
38
Definição 1.13.1 Sejam M e N espaços métricos. uma função f : M → N é dita uni-
formemente contı́nua quando para cada > 0 for possı́vel obter δ > 0 tal que d(f (x), f (y)) <
para quaisquer x, y ∈ M com d(x, y) < δ.
De fato, dado > 0, queremos obter δ > 0 tal que |x − y| < δ garante |f (x) − f (y)| < .
Assim
|f (x) − f (y)| = |5x + 3 − (5y + 3)|
= |5(x − y)|
= 5|x − y|.
Daı́ |x − y| < sempre que |x − y| < . Portanto basta tomar δ = e teremos que
5 5
|x − y| < δ ⇒ |f (x) − f (y)| = 5|x − y| < 5δ = 5 = .
5
Logo, f é uniformemente contı́nua.
Exemplo 1.13.3 Mostre que a função f : R → R dada por f (x) = x2 não é uniforme-
mente contı́nua.
Para provar isto, precisamos exibir um > 0 tal que, para qualquer δ > 0 possamos
encontrar uma par de pontos x e y tais que |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ . Tomemos = 1.
1 δ δ
Dado δ > 0 sejam x > e y = x + . Então |x − y| = < δ e
δ 2 2
δ
|f (x) − f (y)| = |x2 − y 2 | = |x + y||x − y| = |x + y|
2
δ δ
= x + x +
2 2
δ δ
= 2x +
2 2
δ
> 2x
2
1
= δ = 1 = .
δ
39
Teorema 1.13.1 Toda função de Lipschitz é uniformemente contı́nua.
Demonstração: sendo X limitado, existe A > 0 tal que |x| ≤ A para todo x ∈ X. Assim,
quaisquer que sejam x, y ∈ X temos
|f (x) − f (y)| = |x2 − y 2 | = |x + y||x − y|
≤ (|x| + |y|)|x − y|
≤ 2A|x − y|.
Portanto, f é uma função de Lipschitz (com constante de Lipschitz 2A), e pelo teorema
anterior, uniformemente contı́nua.
√
Exemplo 1.13.4 Mostre que a função f : [0, ∞) → R dada por f (x) = x é uniforme-
mente contı́nua.
2
De fato, dado > 0, se tomarmos δ1 = teremos que
4
√ √ √
|x − 0| < δ1 ⇒ |f (x) − f (0)| = | x − 0| = | x| < δ1 =
4
δ1
e assim para x, y ∈ 0, temos
2
√ √ √ √
|f (x) − f (y)| = | x − y| ≤ | x| + | y| < + = .
4 4 2
Por outro lado, para qualquer α > 0 temos
√ √ |x − y| |x − y|
|f (x) − f (y)| = | x − y| = √ √ ≤ √
x+ y 2 α
δ1
e pelo Teorema anterior f|[α,∞) é uniformemente contı́nua. Tomando então α = obtemos
2
δ2 > 0 tal que para x, y ∈ [α, ∞) com |x − y| < δ2 temos |f (x) − f (y)| < . Fazendo agora
2
δ = min{δ1 , δ2 }, se |x − y| < δ e x, y ∈ [0, α] ou x, y ∈ [α, ∞) vale |f (x) − f (y)| < < .
2
Se |x − y| < δ e digamos x < α < y então α, x ∈ [0, α] e |y − α| < δ2 com y, α ∈ [α, ∞) e
assim
40
|f (x) − f (y)| ≤ |f (x) − f (α)| + |f (α) − f (y)| < + = .
2 2
Logo, f é uniformemente contı́nua.
Demonstração: Dado > 0, como g é uniformemente contı́nua, existe δ1 > 0 tal que para
quaisquer u, v ∈ N com d(u, v) < δ1 garante d(g(u), g(v)) < . Por outro lado, para este
δ1 > 0 a continuidade uniforme de f nos fornece δ > 0 tal que para quaisquer x, y ∈ M
com d(x, y) < δ temos d(f (x), f (y)) < δ1 . Isto garante então d(g(f (x)), g(f (y))) < ou
seja, d((g ◦ f )(x), (g ◦ f )(y)) < para quaisquer x, y ∈ M com d(x, y) < δ. Logo, g ◦ f é
uniformemente contı́nua.
√
Exemplo 1.13.5 Seja f : [0, a] → R dada por f (x) = x3 . Mostre que f é uniformemente
contı́nua.
√
Tomemos h : [0, a] → R e g : [0, ∞) → R dadas por h(x) = x3 e g(y) = y. Pelo exemplo
√
anterior vimos que g(y) = y é uniformemente contı́nua. Por outro lado h é uniformemente
contı́nua por ser de Lipschitz:
41
Demonstração: Dado > 0, pela continuidade uniforme de f existe δ1 > 0 tal que
d(f (x), f (y)) = |f (x) − f (y)| < sempre que d(x, y) < δ1 . Do mesmo modo, pela con-
2
tinuidade uniforme de g existe δ2 > 0 tal que d(g(x), g(y)) = |g(x) − g(y)| < sempre que
2
d(x, y) < δ2 . Tomando então δ = min{δ1 , δ2 } teremos
d((f + g)(x), (f + g)(y)) = |f (x) + g(x) − f (y) − g(y)|
≤ |f (x) − f (y)| + |g(x) − g(y)|
< + =
2 2
desde que d(x, y) < δ. Logo, f + g é uniformemente contı́nua. Para o caso f − g o raciocı́nio
é análogo.
Definição 1.13.2 Dada uma função f : M → N1 × N2 × . . . × Nk , o qual é definida por
f (x) = (f1 (x), f2 (x), . . . , fk (x)), as funções fi : M → Ni são chamadas coordenadas de f .
Se pi : N1 × . . . × Nk → Ni é a projeção sobre Ni , vale fi = pi ◦ f , i = 1, 2, . . . , k.
Observemos que as projeções pi são lipschitzianas, e portanto uniformemente contı́nuas,
para qualquer uma das três métricas
v
u k
uX
(a) d(x, y) = t d(xi , yi )2 ;
i=1
k
X
(b) d1 (x, y) = d(xi , yi );
i=1
= d(x, y)
d(pi (x), pi (y)) = d(xi , yi )
Xk
≤ d(xj , yj )
j=1
= d1 (x, y)
d(pi (x), pi (y)) = d(xi , yi )
≤ max{d(x1 , y1 ), . . . , d(xk , yk )}
= d2 (x, y).
42
Teorema 1.13.4 Se p é uma das métricas acima, então uma função f : M → (N1 × N2 )
é uniformemente contı́nua se, e somente se, suas coordenadas f1 : M → N1 e f2 : M → N2
o forem.
sempre que d(x, y) < δ. Finalmente, também para a métrica d2 (u, v) = max{d(u1 , v1 ), d(u2 , v2 )}
temos
sempre que d(x, y) < δ. Portanto f é uniformemente contı́nua em relação a qualquer uma
das métricas.
Corolário 1.13.1 Se p é uma das métricas usadas no teorema anterior, então uma função
f : M → (N1 × . . . × Nk , p) é uniformemente contı́nua se, e somente se, cada coordenada
fi = pi ◦ f : M → Ni o for.
43
1.14 Métricas Uniformemente Equivalentes
Se f : (M, d) → (N, d0 ) é uniformemente contı́nua, não é suficiente, em geral termos
d1 ∼ d e d01 ∼ d0 para garantir a continuidade uniforme de f : (M, d1 ) → (N, d0 ), de
f : (M, d) → (N, d01 ) e f : (M, d1 ) → (N, d01 ). Para tanto, é necessário uma relação mais
forte entre as métricas do que a simples equivalência. Essa relação é chamada equivalência
uniforme.
Definição 1.14.1 Uma bijeção uniformemente contı́nua f : M → N é chamada homeo-
morfismo uniforme quando sua inversa f −1 : N → M for também uniformemente contı́nua.
Definição 1.14.2 Duas métricas d1 e d2 num conjunto M são ditas uniformemente equiv-
alentes quando a aplicação identidade i12 : (M, d1 ) → (M, d2 ) for um homeomorfismo
uniforme.
d(x, y)
Exemplo 1.14.1 Dado um espaço métrico (M, d), mostre que d1 (x, y) = é
1 + d(x, y)
uniformemente equivalente a d.
44
logo, j é uniformemente contı́nua.
Por outro lado, para j −1 : (M, d1 ) → (M, d), dado > 0, tomando δ = min{1, } teremos
que se d2 (x, y) < δ ≤ 1 então min{1, d(x, y)} < 1 e assim min{1, d(x, y)} = d(x, y). Logo,
d2 (x, y) = d(x, y)
Teorema 1.15.1 Se (xn ) é uma sequência convergente num espaço métrico M , então (xn )
é de Cauchy.
Demonstração:Seja lim xn = a. Então dado > 0 existe no tal que d(xn , a) < para
n→∞ 2
todo n ≥ no . logo, para m, n ≥ no temos
1 1
= +
n m
1 1
≤ +
no no
2
=
no
< 2 =
2
Teorema 1.15.2 Se uma sequência de Cauchy (xn ) possui uma subsequência convergente
(xnk ) com lim xnk = a, então (xn ) converge e lim xn = a.
Demonstração:Dado > 0, como lim xnk = a, existe ko tal que d(xnk , a) < para todo
2
k ≥ ko . Por outro lado, sendo (xn ) de Cauchy existe m1 tal que d(xn , xm ) < sempre
2
que m, n ≥ m1 . Tomando agora mo = max{m1 , nko } e fixando um natural k ≥ ko com
nk > mo , isto é fixemos um termo xnk da subsequência (xnk ) com nk ≥ mo . Então, para
n ≥ mo temos
d(xn , a) ≤ d(xn , xnk ) + d(xnk , a)
< + = .
2 2
Portanto, lim xn = a.
Demonstração: Seja (xn ) uma sequência de Cauchy num espaço métrico M . Então para
= 1 existe no tal que d(xn , xm ) < 1 sempre que m, n ≥ no . Em particular para n ≥ no
d(xn , xmo ) < 1 ou seja,
xn ∈ B(xno ; 1).
Logo, fazendo X = {x1 , x2 , . . . , xno −1 }, temos
x(N) = X ∪ {xno , xno +1 , . . .}
⊂ X ∪ B(xno ; 1)
Como X é limitado por ser finito, temos X ∪ B(xno ; 1) limitado e assim x(N) é limitado,
ou seja, (xn ) é limitada.
46
Definição 1.15.2 Diremos que um espaço métrico M é completo quando toda sequência
de Cauchy em M for convergente.
Exemplo 1.15.1 Consideremos a reta real R com sua métrica usual. Seja (xn ) uma
sequência de Cauchy em R. Vamos mostrar que R é completo.
De fato, pelo teorema anterior, sabemos que (xn ) é limitada. Se (xn ) for monótona, temos
que (xn ) converge. Se porém, (xn ) não for monótona, poderemos garantir sua convergência
pelo que segue. Tomamos
|yn − p| <
3
para todo n ≥ n1 . Sendo (xn ) de Cauchy existe n2 tal que
|xn − xm | <
3
sempre que m, n ≥ n2 . Da definição acima de ı́nfimo segue que para cada n existe in ≥ n
tal que
yn ≤ xin ≤ yn + .
3
Fazendo no = max{n1 , n2 }, para n ≥ no teremos
47
Demonstração: Seja (xn ) uma sequência de pontos de N com lim xn = a ∈ M . Dai
n→∞
temos que (xn ) é de Cauchy. Sendo N completo (xn ) converge em N . Isto é, existe b ∈ N
tal que lim xn = b. Pela unicidade do limite de uma sequência temos b = a, pois caso
n→∞
contrário a sequência (xn ) teria dois limites distintos em M . Portanto, a ∈ N e dai temos
que N é fechado em M .
e
p
d(yn , ym ) ≤ d(xn , xm )2 + d(yn , ym )2
= d(zn , zm ).
Portanto, o fato de (zn ) ser uma sequência de Cauchy garante que (xn ) e (yn ) também são.
Como M e N são completos, (xn ) e (yn ) são convergentes. Digamos
lim xn = a e lim yn = b.
n→∞ n→∞
Portanto, dado > 0 existem n1 e n2 tais que d(xn , a) <para todo n ≥ n1 e d(yn , b) <
2 2
para todo n ≥ n2 . Tomando no = max{n1 , n2 } para n ≥ no teremos
d(zn , (a, b)) = d((xn , yn ), (a, b))
p
= d(xn , a)2 + d(yn , b)2
r
2 2
= +
2 2
r
2
2()
=
4
= √ < .
2
48
Corolário 1.15.1 Se M1 , M2 , . . . , Mk são espaços métricos completos então temos que o
produto cartesiano M1 × M2 × . . . × Mk é completo.
é um espaço vetorial.
Podemos definir uma norma em ß(X, R) pondo
kf k∞ = sup{|f (x)|; x ∈ X}
Esta norma induz em ß(X, R) a métrica d(f, g) = kf − gk∞ . O exemplo a seguir estabelece
que o espaço vetorial aqui descrito é um espaço de Banach.
49
Seja (fn ) uma sequência de Cauchy neste espaço. Então, dado > 0 existe no tal d(fm , fn ) <
para quaisquer m, n ≥ no . Então se m, n ≥ no temos d(fm (x), fn (x)) < . Logo para cada
x ∈ X a sequência (fn (x)) é de Cauchy em R. Como R é completo, (fn (x)) é convergente,
isto é, existe lim fn (x). Então, para cada x ∈ X façamos
n→∞
Desta forma obtemos uma nova função f : X → R. Queremos mostrar agora que f ∈
ß(X, R) e que neste espaço lim fn = f , isto é
Ou seja,
para todo x ∈ X. Como fk ∈ ß(X, R), existe A tal que |fk (x)| ≤ A para todo x ∈ X.
Logo,
|f (x)| < + A
para todo x ∈ X. Isto mostra que f é limitada, ou seja, f ∈ ß(X, R). Além disso, de
|f (x) − fn (x)| ≤ <
2
para todo x ∈ X e n ≥ k vem
sup |f (x) − fn (x)| ≤ < ,x ∈ X
2
50
para todo n ≥ k ou seja, d(fn , f ) < para todo n ≥ k. Portanto lim fn = f e ß(X, R) é
completo.
O exemplo a seguir mostra que o espaço das funções contı́nuas C([a, b], R) é completo.
Exemplo 1.15.3 O espaço C([a, b], R) com a métrica d(f, g) = kf − gk∞ onde temos que
kf − gk∞ = sup{|f (x) − g(x)|; x ∈ [a, b]} é completo.
Consideremos (fn ) uma sequência de Cauchy nesse espaço. Dai temos que d(fm (x), fn (x)) <
sempre que m, n ≥ n0 ∀x ∈ [a, b]. Note que (fn (x)) é de Cauchy em R. Como R é completo
temos que existe lim fn (x). Para cada x ∈ [a, b] fazemos lim fn (x) = f (x). A partir dai
n→∞ n→∞
obteremos uma nova função f : [a, b] → R e mostremos agora que f ∈ C([a, b], R) e que
neste espaço lim fn = f ⇔ lim d(fn , f ) = lim kfn − f k = 0. Como (fn ) é de Cauchy dado
> 0 ∃k > 0 tal que |fm (x) − fn (x)| < sempre que m, n ≥ k. Fazendo m → ∞ teremos
2
que |f (x) − fn (x)| ≤ < ∀x ∈ [a, b] e n ≥ k. Considere agora uma sequência de funções
2
contı́nuas fn : [a, b] → R com lim fn = f em C([a, b], R). Então dado > 0 existe k tal que
d(fn , f ) < ∀n ≥ k. Logo |fn (x) − f (x)| < . Como fk é contı́nua, dado a1 ∈ [a, b] existe
3 3
δ > 0 tal que
|fk (a1 ) − fk (x)| <
3
∀x ∈ [a, b] com d(x, a1 ) < δ. Dai se x ∈ [a, b] e d(x, a1 ) < δ teremos que
Definição 1.15.4 Um espaço de Hilbert é um espaço vetorial com produto interno que é
completo em relação à métrica oriunda deste produto interno.
51
R2
< f, g >= 0
(f.g)
1, se x ≤ 1
1
fn (x) = −nx + n + 1, se 1 < x < 1 +
n
1
0, se x ≥ 1 +
n
1
Isto é, entre os pontos 1 e 1 + , fn é tal que seu gráfico é o segmento de reta unindo os
n
1
pontos (1; 1) e 1 + ; 0 . Observemos que fn é uma sequência de Cauchy. Temos
n
Logo,
ou seja, dado > 0 existe no tal que n ≥ no garante d(fn , fn+p ) < para todo p. Isto
mostra que (fn ) é de Cauchy. Mostraremos agora que (fn ) não converge em M . Para
tanto, suponhamos que f seja uma função em M tal que lim fn = f . Então, se tivermos
n→∞
f (a) 6= 1 para algum a < 1 teremos
52
e assim
s
Z 2
d(fn , f ) = (fn − f )2
0
s
Z 2
= |fn − f |2
0
s
Z 1
≥ (fn − f )2
0
s
Z 1
= (1 − f )2 > 0
0
contrariando a hipótese de que lim fn = f em M . Por outro lado, se para algum a > 1
n→∞
tivéssemos f (a) 6= 0, então
o que contraria a hipótese de que lim fn = f . Portanto, se lim fn = f devemos ter neces-
sariamente
1, se x < 1
f (x) =
0, se x > 1.
Se, porém, f cumpre estas condições, então f não é contı́nua, isto é, f 6∈ M . Isto prova
que não existe lim fn em M .
n→∞
53
Teorema 1.15.8 Sejam M e N espaços métricos, com N completo. Se X ⊂ M e se
f : X → N é uniformemente contı́nua então existe lim f (x) para todo a ∈ X̄ − X.
x→a
Demonstração: Para demonstrar este teorema mostraremos que para toda sequência
(xn ) em X com lim xn = a, existe lim f (xn ). Seja então (xn ) uma sequência em X com
n→∞
lim xn = a. Então (xn ) é de Cauchy. Por outro lado, a continuidade de f assegura que
n→∞
dado > 0 é possivel obter δ > 0 tal que d(f (x), f (y)) < sempre que d(x, y) < δ com
x, y ∈ X. Sendo (xn ) de Cauchy, para este δ > 0 existe no tal que d(xn , xm ) < δ sempre
que m, n ≥ no . Assim, para m.n ≥ no teremos d(f (xn ), f (xm )) < e (f (xn )) é uma
sequência de Cauchy em N . Como N é completo existe lim f (xn ) e, consequentemente
n→∞
existe lim f (x).
x→a
(
f (y), se y ∈ X
F (y) = lim f (x), se y ∈ M − X
x→y
é uniformemente contı́nua.
Demonstração: Do teorema anterior sabemos que para todo y ∈ M − X existe lim f (x).
x→y
Assim, F está bem definida e pelo teorema 3.2.3 garante a continuidade de F . Mostraremos
agora que F é uniformemente contı́nua. Dado > 0, a continuidade de f nos fornece δ > 0
tal que
d(f (x), f (z)) <
2
54
2 Análise Funcional
2.1 O Teorema de Baire
Para esta seção usamos como referência OLIVEIRA (2005) e KUHLKAMP (2002).
∞
\
F = Fn
n=1
d(xn , xm ) <
pois xn , xm ∈ Fno visto que Fn ⊂ Fno e Fm ⊂ Fno . Portanto (xn ) é de Cauchy. Como M
é completo (xn ) converge. Seja lim xn = a. Vamos provar que a ∈ F . De fato, dado um
n→∞
natural n qualquer temos xk ∈ Fn para todo k ≥ n. Assim
lim xk = a ∈ Fn ,
x→∞
∞
\
Quanto à unicidade observe-se que se existe um ponto b ∈ Fn com a 6= b, então
n=1
diamFn ≥ d(a, b) > 0 para todo n, o que contraria a hipótese lim diamFn = 0. Por-
n→∞
tanto não existe b 6= a ∈ F , ou seja F = {a} como querı́amos.
n 1
Exemplo 2.1.1 Em R consideremos as bolas fechadas Bn = B 0; . Observe que temos
n
B1 ⊃ B2 ⊃ B3 ⊃ . . . e lim diamBn = 0 e cada Bn é fechado e não vazio, o Teorema
n→∞
∞
\
anterior garante que Bn contém exatamente um ponto. Observando que 0 ∈ Bn para
n=1
∞
\
todo n obtemos Bn = {0}.
n=1
55
Teorema 2.1.2 Seja Fn uma sequência de subconjuntos fechados de um espaço métrico
completo M tais que int Fn = ∅ para todo n. Então
∞
[
int Fn = ∅.
n=1
B2 = B [a2 ; r2 ] ⊂ A2 ∩ B(a1 ; r1 ).
1
Podemos supor também r2 ≤ . Notemos que B1 ⊃ B2 e diam B1 ≤ 2.1 = 2. Observe
2
1
também que diam B2 ≤ 2. = 1. Por indução obtemos uma sequência de bolas fechadas
2
Bn tais que:
1. B1 ⊃ B2 ⊃ B3 . . .
2. Bn 6= ∅ para todo n
3. lim diam Bn = 0.
56
De Bn ⊂ An segue que
∞
\ ∞
\
{p}= Bn ⊂ An = A
n=1 n=1
∞
[
Teorema 2.1.3 (Teorema de Baire) Se um espaço métrico M é completo e M = Fn
n=1
onde cada Fn é fechado em M , então pelo menos para um n temos int Fn 6= ∅
∞
[
Demonstração: Se fosse int Fn = ∅ para todo n, então M = Fn seria magro em M e
n=1
assim pelo Teorema 2.1.2 terı́amos int M = ∅ em M , que é absurdo.
Exemplo 2.2.1 Consideremos os conjuntos Q dos números racionais e R dos reais ambos
munidos da métrica d(x, y) = |x − y|. Tomando φ : Q → R dada por φ(x) = x teremos
que φ é imersão isométrica e que φ(Q) = Q é denso no espaço completo R. Logo R é um
completamento de Q.
57
Demonstração: Sejam M um espaço métrico e p um ponto fixado em M . Consideremos
o espaço C(M, R) das funções contı́nuas e limitadas f : M → R que é completo. Definimos
uma função f : M → C(M, R) dada por f (a) = fa : M → R onde fa (x) = d(x, a) − d(x, p).
Observamos que f está bem definida, isto é, que fa : M → R é contı́nua e limitada para
todo a ∈ M . De fato, fa é contı́nua por ser a diferença entre duas funções contı́nuas e é
limitada porque para todo x ∈ M vale
e para x = b temos
o que assegura
onde x ∈ X ou seja,
Teorema 2.2.2 Se (N, ϕ) e (P, ψ) são dois dois completamentos arbitrários de M , então
existe uma isometria f : N → P tal que ψ = f ◦ ϕ.
58
Demonstração: Sejam N e P espaços métricos completos, ϕ : M → N e ψ : M → P
imersões isométricas tais que ϕ(M ) = N e ψ(M ) = P . Para definir a função f desejada
notemos que dado y ∈ N , existe uma sequência (an ) em M com lim ϕ(an ) = y , pois ϕ(M )
n→∞
é denso em N . Como (ϕ(an )) é de Cauchy em N e ϕ é uma imersão isométrica, (an ) é de
Cauchy em M . Assim, (ψ(an )) é uma sequência de Cauchy em P visto que ψ é também
imersão isométrica. Como P é completo, existe lim ψ(an ) em P . Colocamos então
n→∞
Observe que f está bem definida, pois o limite de (ψ(an )) independe da sequência (an )
visto que se
então
e assim
Para mostrar que f é imersão isométrica, obervemos que dados x, y ∈ N como ϕ(M ) é
denso em N existem sequências (an ) e (bn ) em M com
59
sequência de Cauchy, a sequência (ϕ(an )) é também de Cauchy. Logo, existe y ∈ N tal
que y = lim ϕ(an ). Assim f (y) = lim ψ(an ) = z. Logo, f é uma isometria. Finalmente,
n→∞ n→∞
para mostrar que f ◦ ϕ = ψ, dado a ∈ M tomamos y = ϕ(a) e (an ) uma sequência com
lim an = a. Então,
(f ◦ ϕ)(a) = f (ϕ(a)
= f (y)
= lim ψ(an )
n→∞
= ψ(a).
Logo, f ◦ ϕ = ψ.
a1 = f (a)
a2 = f (a1 ) = f (f (a)) = f 2 (a)
a3 = f (a2 ) = f (f 2 (a)) = f 3 (a)
..
.
an = f n (a)
..
.
60
Mostraremos que a sequência (an ) assim definida é de Cauchy. Temos
d(a1 , a2 ) = d(f (a), f (a1 ))
≤ kd(a, a1 )
d(a2 , a3 ) = d(f (a1 ), f (a2 ))
≤ kd(a1 , a2 )
≤ k 2 d(a, a1 ).
Logo,
d(an , an+p ) ≤d(an , an+1 ) + d(an+1 , an+2 ) + . . . + d(an+p−1 , an+p )
≤k n d(a, a1 ) + k n+1 d(a, a1 ) + . . . + k n+p−1 d(a, a1 )
=(k n + k n+1 + . . . + k n+p−1 )d(a, a1 )
<(k n + k n+1 + . . . + k n+p−1 + . . .)d(a, a1 )
kn
= d(a, a1 ).
1−k
kn
Dado > 0, existe no tal que d(a, a1 ) < para todo n ≥ no . Consequentemente, para
1−k
todo p ∈ N, temos d(an , an+p ) < desde que n ≥ no ou seja, (an ) é de Cauchy. Como M é
completo, (an ) é convergente. Seja lim an = b. Então
f (b) = lim f (an )
n→∞
= lim an+1
n→∞
= b.
Logo, b é um ponto fixo de f . Resta mostrar que b é o único ponto fixo de f . Suponhamos
que exista c 6= b em M com f (c) = c. Então,
d(b, c) = d(f (b), f (c))
≤ kd(b, c)
< d(b, c)
61
Exemplo 2.3.1 Seja f uma função contı́nua e lipschitziana em Ω = Ia × Bb onde
Ia = {t; |t − t0 | ≤ a}
Bb = {x; |x − x0 | ≤ b}.
x0 = f (t, x)
x(t0 ) = x0
1 b
em Iα onde α < min , e c é a constante de lipschitz.
c M
(a) Iα × Bb ⊂ Ω;
(b) |f (t, x)| ≤ M ∀(t, x) ∈ Iα × Bb ;
(c) α.c < 1;
62
Com isso há alguns pontos a verificar
Z t
(a) |[F (x)](t) − x0 | = f (s, x(s))ds ≤ |t − t0 |M ≤ αM ≤ b
t0
Z 0
t
(b) |F (x)(t) − F (x)(t0 )| = f (s, x(s))ds ≤ |t − t0 |M
t
onde t, s ∈ Iα . Portanto
o que implica
Demonstração: Seja X o conjunto dos pontos x ∈ [a, b] tais que o intervalo [a, x] pode ser
coberto por uma reunião finita dos Iλ , isto é, [a, x] ⊂ Iλ1 ∪ . . . ∪ Iλk . Evidentemente, a ∈ X
e, dado x ∈ X, a < x0 < x implica x0 ∈ X, logo X é um intervalo da forma [a, c) ou da
forma [a, c], onde c = sup X. Afirmamos que c ∈ X, donde X = [a, c].Com efeito,c pertence
a um certo intervalo Iλo . Escolhamos arbitrariamente um ponto x ∈ Iλo , com a ≤ x < c.
63
Tem-se x ∈ X e portanto [a, x] ⊂ Iλ1 ∪ . . . ∪ Iλk . Segue-se que [a, c] ⊂ Iλ1 ∪ . . . ∪ Iλk ∪ Iλo ,
donde c ∈ X. Se fosse c < b, existiria > 0 suficientemente pequeno para que c + < b e
[c, c + ] ⊂ Iλo . Então seria [a, c + ] ⊂ Iλ1 ∪ . . . ∪ Iλk ∪ Iλo e portanto (c + ) ∈ X, uma
contradição. Logo c = b e X = [a, b].
[
Corolário 2.4.1 Se [a, b] ⊂ Aλ onde cada Aλ é um conjunto aberto em R, então exis-
λ∈L
tem λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ L tais que [a, b] ⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . . ∪ Aλn .
Demonstração: Como cada conjunto aberto é uma reunião de bolas abertas, e as bolas
abertas em R são intervalos abertos, se
[
[a, b] ⊂ Aλ
λ∈L
temos
[
[a, b] ⊂ Iµ
µ∈S
como querı́amos.
64
Teorema 2.4.2 Se X é um espaço toplógico compacto e F ⊂ X é fechado, então F é
compacto.
[
Demonstração: Sejam X compacto e F ⊂ X fechado. Se F ⊂ Aλ onde cada Aλ é
λ∈L
aberto então,
!
[
X= Aλ ∪ (X − F )
λ∈L
Logo,
e F é compacto.
65
Demonstração: Seja K ⊂ R compacto. Como R é um espaço de Hausdorff, temos
que K é fechado. O Teorema anterior garante que K é limitado. Reciprocamente, seja
K ⊂ R fechado e limitado. Então existem a, b ∈ R tais que K ⊂ [a, b]. Temos então que
K = K ∩ [a, b] donde segue que K é fechado no compacto [a, b]. assim, pelo teorema 6.1.2
temos que K é compacto.
Teorema 2.4.6 A imagem de um conjunto compacto por uma função contı́nua é compacta.
Demonstração: Seja K ⊂ X um conjunto compacto e f : X → Y contı́nua. Mostraremos
que f (K) ⊂ Y é compacto. Seja {Aλ }λ∈L uma cobertura aberta de f (K). Como [ f é
−1
contı́nua, Bλ = f (Aλ ) é aberto para todo λ ∈ L. Além disso, é claro que K ⊂ Bλ .
λ∈L
Como K é compacto, existem λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ L tais que
K ⊂ Bλ1 ∪ Bλ2 ∪ . . . ∪ Bλn .
Logo,
f (K) ⊂ f (Bλ1 ∪ Bλ2 ∪ . . . ∪ Bλn )
= f (Bλ1 ) ∪ f (Bλ2 ) ∪ . . . ∪ f (Bλn )
⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . . ∪ Aλn
66
onde n é tal que
a + (n − 1) ≤ b < a + n.
n
[
Desta forma obtemos [a, b] ⊂ K ⊂ B(ai ; ) e portanto [a, b] é totalmente limitado.
i=1
Fn = K − An = ∅
∞
\
o que é absurdo. Logo Fi 6= ∅.
i=1
1 1
Exemplo 2.4.3 Para cada n ∈ N seja Fn = − , . Então cada Fn está contido no
n n
∞
\ 1 1
compacto K = [−1, 1] e F1 ⊃ F2 ⊃ . . . e pelo Teorema anterior temos que − , 6= ∅
n=1
n n
67
f (K) ⊂ (0, ∞).
Como f (K) é compacto no espaço de Hausdorff R temos que f (K) é fechado em R. Desta
s
forma, existe s > 0 tal que f (a) ≥ s para todo a ∈ K. Seja r = . Para todo a ∈ K temos
n
n
X
fi (a) ≥ s = n.r.
i=1
d(a, M − Ai ) = fi (a) ≥ r
Demonstração: Pelo Teorema anterior existe r > 0 tal que para cada x ∈ K se pode
obter uma aberto A em C com B(x; r) ⊂ A. Sejam S ⊂ K com diamS < r e p ∈ S. Então
S ⊂ B(p; r) e pelo Teorema anterior existe um aberto A em C com B(p; r) ⊂ A. Logo
S ⊂ A.
Demonstração: Dado > 0, pela continuidade de f , para cada x ∈ M existe δx > 0 tal
que d(x, y) < δx assegura d(f (x), f (y)) < . Observe que o conjunto de todas as bolas de
2
centro x e raio δx , com x ∈ M constituem uma cobertura aberta para M . Ou seja, temos
[
M= B(x; δx ).
x∈M
Seja δ > 0 um número de lebesgue para esta cobertura. Então dados y, z ∈ M com
d(y, z) < δ existe x ∈ M com y, z ∈ B(x; δx ). Logo
68
Teorema 2.4.10 Seja K um subconjunto de um espaço métrico M . As seguintes condições
são equivalentes:
(a) K é compacto;
Seja
∞
\
a∈ Fn .
n=1
Então, dado r > 0 temos B(a; r) ∩ Xn 6= ∅ para todo n, isto é, existem ı́ndices k arbitrari-
amente grandes com xk ∈ B(a; r). Logo B(a; r) contém uma infinidade de termos de (xn )
e dai a é limite de uma subsequência de (xn ).
(b) ⇒ (c). Suponhamos que toda sequência em K possua uma subsequência convergente.
Se K não for completo existe alguma sequência de Cauchy (xn ) em K que não converge.
Pela nossa hipótese (xn ) tem uma subsequência convergente e dai concluı́mos que (xn ) é
convergente o que é uma contradição. Por outro lado, se K não for totalmente limitado
existe > 0 tal que para qualquer subconjunto finito F de M temos
[
K 6⊂ B(a; ).
a∈F
K 6⊂ B(a1 ; ).
69
n−1
[
K 6⊂ B(ai ; )
i=1
n−1
[
tomamos an ∈ K − B(ai ; ) e teremos
i=1
n
[
K 6⊂ B(ai ; ).
i=1
A sequência (an ) assim obtida está em K e satisfaz d(ai , aj ) ≥ para todo i 6= j. Logo (an )
não tem subsequência de Cauchy, não podendo ter subsequência contrariando a hipótese.
(c) ⇒ (a). Seja K completo e totalmente limitado. Suponhamos por absurdo que K não é
compacto. Então existe uma cobertura aberta C de K que não admite subcobertura finita.
Como K é totalmente limitado, existe um subconjunto finito F de M tal que
[ 1
K⊂ B(a; )
a∈F
2
ou seja
[
1
K= K ∩ B a; .
a∈F
2
Assim, K pode ser decomposto num número finito de subconjuntos cada qual com diâmetro
menor ou igual a 1. Pelo menos um desses conjuntos, digamos K1 , não está contido em
uma reunião finita alguma de elementos de C. como K1 é totalemnte limitado, K1 pode ser
decomposto num número finito de subconjuntos cada qual com diâmetro menor ou igual a
1
. Pelo menos um desses conjuntos, digamos K2 , não está contido em uma reunião finita
2
alguma de elementos de C. Prosseguindo dessa forma obtemos K1 ⊃ K2 ⊃ K3 ⊃ . . . com
1
Kn 6= ∅ para todo n e diamKn ≤ . Então se Kn o fecho de Kn em K teremos que
n
K 1 ⊃ K2 ⊃ K3 ⊃ . . .
70
Corolário 2.4.3 O fecho de todo subconjunto limitado de Rn é compacto.
Definição 2.4.5 Seja f : X → Y uma função. Diremos que f é aberta quando para todo
aberto A ⊂ X tivermos f (A) aberto em Y . Diremos que f é fechada quando para todo
fechado F ⊂ X tivermos f (F ) fechado em Y.
71
M1 e (yn ) uma sequência em M2 . Como M1 é compacto, (xn ) possui uma subsequência
convergente. Seja (xn )n∈N1 convergente. Sendo M2 compacto, a sequência (yn ) possui uma
subsequência converge. Seja (yn )n∈N2 uma subsequência convergente. Neste caso,(xn )n∈N2
é também convergente. Seja a = lim xn e b = lim yn , com n ∈ N2 . Então (zn )n∈N2 é uma
n→∞ n→∞
subsequência convergente de (zn ) com
Logo M é compacto.
Se p ∈ Rn , tomamos B = B[p; 1] e temos que p ∈ intB = B(p; 1). Além disso, como B é um
subconjunto fechado e limitado de Rn , o temos que B é compacto. Logo Rn é localmente
compacto.
72
Demonstração: Seja p ∈ Y . Como f é sobrejetiva, existe a ∈ X tal que f (a) = p. Como
X é localmente compacto, existe uma vizinhança compacta V de a em X. Então a ∈ intV
e V é compacto. Como f é aberta, f (V ) é vizinhança de p = f (a). Por outro lado, a
continuidade de f garante que f (V ) é compacto. Assim f (V ) é vizinhança compacta de p
e Y é localmente compacto.
Definição 2.6.1 Uma norma num espaço vetorial X é uma função k.k : X → R que
satisfaz:
Note que todo espaço normado é um espaço métrico. De fato, devemos verificar as pro-
priedades de métrica. Seja d : X × X → R dada por d(x, y) = kx − yk. Observe que
Definição 2.6.2 Um espaço normado que é completo com a métrica induzida por esta
norma é chamado de espaço de Banach.
Definição 2.6.3 Duas normas k.k1 e k.k2 num espaço vetorial X são equivalentes se ex-
istem A, B > 0 tais que
73
Observação 2.6.1 (a) Normas equivalentes num espaço X geram a mesma topologia
Seja X um espaço vetorial e seja A ⊂ X. Iremos definir L(A) como sendo o conjunto
de todas as combinações lineares finitas dos elementos de A. Diremos que A é linearmente
independente se toda combinação linear finita de elementos de A que são iguais a zero
implica que os coeficientes dessa combinação são todos nulos.
Teorema 2.6.1 Seja X um espaço vetorial de dimensão finita. Então todas as normas
em X são equivalentes.
Demonstração: Seja {e1 , e2 , . . . , en } uma base de X. Vamos mostrar que toda norma
n
X
k.k é quivalente a |||ξ||| = |αj | em que ξ = α1 e1 + α2 e2 + . . . + αn en . Note que para
j=1
1 ≤ j ≤ n temos
Xn
kξk =
αj ej
j=1
n
X
≤ |αj |kej k
j=1
n
X
≤ max{kej k} |αj |
j=1
= B|||ξ|||,
onde B = max{kej k}, 1 ≤ j ≤ n. Por outro lado, devemos provar que existe A tal que para
todo ξ ∈ X tem-se |||ξ||| ≤ Akξk. Para isto, suponha por absurdo que para todo N ∈ N
exista ξN ∈ X tal que |||ξN ||| ≥ AkξN k. Note que
ou seja
ξN
ξN
|||ξN ||| > N
|||ξN |||
.
74
Façamos |||ξN ||| = ηN e notemos que |||ηN ||| = 1. Assim 1 > N kηN k. Do fato de
termos |||ηN ||| = 1 temos que Bx (0, 1) é compacta (dimensão finita), o que implica ser
sequêncialmente compacta, isto é existe ηo ∈ Bx (0, 1), ou seja |||ηo ||| = 1 tal que ηNj → ηo
em Bx (0, 1). Dai,
que converge para zero quando j → ∞, ou seja kηo k = 0 o que implica que ηo = 0 o que é
absurdo pois |||ηo ||| = 1.
Corolário 2.6.1 Todo espaço vetorial normado de dimensão finita é um espaço de Banach.
Demonstração: Como todas as normas são equivalentes vamos provar que (X, |||.|||) é
k
X
completo onde |||ξ||| = |αj |. Seja (ξn ) uma sequência de Cauchy. Note que |||ξn − ξm |||
j=1
converge para zero quando n, m → ∞. Observe que
ξn = α1n e1 + . . . + αkn ek ,
ξm = α1m e1 + . . . + αkm ek ,
Portanto,
k
X
|||ξn − ξm ||| = |αin − αim | → 0
i=1
para todo j = 1, 2, . . . , k. Logo (αjn )n∈N é de Cauchy em R e dai αjn → αjo . Defina agora
ξo = α1o e1 + . . . + αno en ∈ X. Vamos mostrar que |||ξn − ξo ||| → 0. Observe que
k
X
lim |||ξn − ξo ||| = lim |αin − αio | = 0.
k→∞ k→∞
i=1
75
2.7 Compacidade em Espaços Normados
Lema 2.7.1 (Lema de Riesz) Sejam X um subespaço vetorial fechado próprio do espaço
normado (N , k.k). Então, dado α ∈ (0, 1) existe ξ ∈ N − X tal que kξk = 1 e kξ − ηk ≥ α,
∀η ∈ X.
Teorema 2.7.1 A bola fechada B[0, 1] num espaço vetorial normado N é compacta se e
somente se dim N é finita.
76
(b) N é separável se, e somente se existir um subconjunto de N que é enumerável, total
e linearmente independente.
Demonstração: Se existe uma base de Shauder (ξn ) dado ξ ∈ X existe (αn ) tal que
∞
X
ξ = αn ξn o que é equivalente a dizer que para todo > 0 existe no ∈ N tal que
n=1
n
X
kξ − αk ξk k < , ∀n ≥ no . Seja B o conjunto formado por todas as combinações lineares
k=1
finitas de (ξn ) com coeficientes racionais. Este subconjunto de X é enumerável e denso.
Dado ξ ∈ X
n
X
ξ = lim αj ξj .
n→∞
j=1
Como Q ⊂ R e Q = R dados αj ∈ R existe qj ∈ R tal que |αj − qj | < . Logo, para todo
>0
k
X k
X k
X
kξ − qj ξj k ≤ kξ − αj ξj k + k αj ξj − qj ξj k
j=1 j=1 j=1
k
X
≤ + αj − qj kξj k
j=1
k
X
< + kξj k.
j=1
77
Exemplo 2.9.1 São exemplos de operadores lineares o operador Id : X → X dado por
Id(x) = x (operador identidade) e D : C 1 ([0, 1] : R) → C 0 ([0, 1] : R) dado por D(f ) = f 0
(operador derivada).
(d) T é contı́nuo;
o que implica
1
kT (ξ)k ≤ C ⇒ kT (ξ)k ≤ Ckξk
kξk
para todo ξ ∈ N1 .
Para mostrar (b) ⇒ (c) se ξ, η ∈ N1 então
kT ξ − T ηk = kT (ξ − η)k ≤ Ckξ − ηk
78
onde concluı́mos que T é Lipschitz e portanto uniformemente contı́nua. Disso temos que
T é contı́nua, e portanto contı́nua no zero. Resta mostrar agora que (e) ⇒ (a). De fato,
como T é contı́nua em zero, temos que dado = 1 existe δ > 0 tal que se kξk < δ então
kT ξk < 1. Portanto, se kξk ≤ 1 então kδξk ≤ δ o que implica que kT (δξ)k ≤ 1 e dai
1 1
kT ξk ≤ para todo ξ ∈ B(0, 1) e assim supkξk≤1 kT ξk ≤ .
δ δ
Exemplo 2.9.3 Seja N = (C(R : R), k.k∞ ).O operador Tt : N → N definido por
Tt (f )(x) = f (t + x) é limitado. De fato, |Tt (f )(x)| = |f (t + x)| < kf k∞ o que implica
que supx∈R |Tt (f )(x)| < kf k∞ e dai kTt (f )k∞ < kf k∞ .
• T ∈ B(N1 , N2 ), kT k = 0 ⇔ kT ξk = 0, ∀ξ ∈ N1 , ou seja T = 0;
79
O próximo resultado responde de forma bem simples sob quais condições B(N1 , N2 ) é um
espaço de Banach.
e dai segue que (Tn ξ)∞n=1 é de Cauchy em B e converge para η ∈ B. Defina T : N → B por
T ξ = η, o qual é claramente linear. Vamos mostrar que este operador é limitado e Tn → T
em B(N , B). Dado > 0 existe N () de maneira que se n, k > N () então kTn − Tk k < .
Pela continuidade da norma segue que
kT ξn − T ξm k ≤ kT kkξn − ξm k
η = T ξ = lim T ξn .
n→∞
Vamos mostrar que T está bem definida e que kT k = kT k. Se ξ 0 → ξ, (ξn0 ) ⊂ domT , então a
sequência ξ1 , ξ10 , ξ2 , ξ20 , . . . , ξn , ξn0 , . . . → ξ é de Cauchy. Logo, pelo mesmo argumento acima
temos que T ξ1 , T ξ10 , T ξ2 , T ξ20 , . . . → η 0 . Como {T ξn } é uma subsequência dessa última
tem-se que η = η 0 e T : N → B está bem definido. T é linear e extensão de T , pois se
ξ ∈ domT considere a sequência ξ, ξ, ξ, . . . , e T ξ = lim T ξ = T ξ. Agora, para ξ ∈ N ,
usando a continuidade da norma
80
kT k = supξ∈domT kT ξk ≤ supξ∈N kT ξk = kT k, com kξk = 1.
Suponha agora que S seja outra extensão de T e seja ξ ∈ N . Então para toda sequência
{ξn } ⊂ domT , ξn → ξ, tem-se T ξn = Sξn e por continuidade T ξ = Sξ. Logo S = T .
Demonstração: Seja
Ek = {ξ ∈ B : kTα ξk ≤ k, ∀α ∈ J
\
= Tα−1 (B(0, k))
α∈J
∞
[
fechado. Note que B = Ek 6= ∅. Logo, pelo Teorema de Baire existe um Em com
k=1
IntEm 6= ∅, o que implica que existe B(ξo , r) ⊂ Em para algum ξo e para algum r > 0.
Seja ξ 6= ∅ um ponto qualquer em B. Mostremos agora que
r ξ
η = ξo + ∈ B(ξo , r) ⊂ Em .
2 kξk
De fato,
r ξ
kη − ξo k =
ξo + − ξo
2 kξk
kξk r
=
kξk 2
< r.
Tα r ξ
= kTα η − T αξo k
2 kξk
≤ kTα ηk + kT αξo k
≤ m + m = 2m.
81
(ξ)
≤ 4m , ∀α ∈ J o que implica
Logo,
Tα
kξk
r
4m
kTα (ξ)k ≤ kξk
r
4m
e daı́ supα∈J kTα k ≤ < ∞.
r
Corolário 2.10.1 Teorema de Banach-Steinhaus. Seja {Tn }∞
n=1 uma sequência em
B(B, N ) tal que para todo ξ ∈ B existe o limite
T ξ := lim Tn ξ.
n→∞
Como para todo ξ ∈ B existe lim Tn ξ, temos que supn kTn ξk < ∞ e pelo princı́pio da
n→∞
limitação uniforme temos supn kTn k < ∞. Note agora que
kT ξk = k lim Tn ξk = lim kTn ξk ≤ lim kTn kkξk ≤ sup kTn kkξk
n→∞ n→∞ n→∞ n
e portanto T é limitado.
Corolário 2.11.2 Seja X é um espaço vetorial tal que k.k1 e k.k2 são normas em X que
tornam X um espaço de Banach. Se existe c > 0 tal que kξk1 ≤ ckξk2 , ∀ξ ∈ X então as
normas são equivalentes.
82
2.12 Teorema do Gráfico Fechado
Sejam N1 e N2 espaços normados, então N1 × N2 = {(ξ1 , ξ2 ) : ξ1 ∈ N1 , ξ2 ∈ N2 }
é um espaço normado com k(ξ, η)k = kξkN1 + kηkN2 . Sejam agora B1 e B2 espaços de
Banach. Então B1 × B2 = {(b1 , b2 ) : b1 ∈ B1 , b2 ∈ B2 } é um espaço de Banach k(ξ, η)k =
kb1 kB1 + kb2 kB2
3 Semigrupos
3.1 Aspectos Básicos
Definição 3.1.1 Seja L(X) o conjunto dos operadores lineares limitados de um espaço de
Banach X em X. Dizemos que uma aplicação S : R → L(X) é um semigrupo de operadores
lineares limitados de X, quando:
83
(2) S(t + s) = S(t)S(s) para todo s, t ∈ R.
S(h) − I
A(x) = lim x, ∀x ∈ D(A),
h→0 h
onde D(A), o domı́nio de A, é dado por
S(h) − I
D(A) = x ∈ X : existe lim x
h→0 h
Demonstração: Vamos mostrar que existe δ > 0 tal que kS(t)k é limitada em [0, δ], posto
que, do contrário, existiria uma sequência tn → 0+ tal que kS(t)k ≥ n para todo n ∈ N
e do Teorema da Limitação Uniforme existiria ao menos um x ∈ X tal que kS(tn )xk ≥ n
e isso contraria a definição de S(t) ser um Co -semigrupo. Logo kS(t)k ≤ M para todo
t ∈ [0, δ] e como kS(0)k = 1 segue que M ≥ 1. Agora note que dado t > 0 pelo algoritmo
de Euclides, existe n ∈ N tal que t = nδ + r onde 0 ≤ r ≤ δ. Assim,
t
Observamos que t = nδ + r implica que n ≤ e, portanto,
δ
84
t t
kS(t)k ≤ M δ M = e δ ln M = M etw onde w = 1δ ln M .
onde C(X, R) é o espaço das funções contı́nuas e limitadas num conjunto X. Mostre que
T é um semigrupo e encontre o gerador infinitesimal.
T (t + s)f (x) = f (x + t + s)
e ainda
d
A(f ) = f.
dx
O operador A é um operador linear, mas não é limitado. Seja f ∈ C(X, R), então
|T (t)|L(X) ≤ 1
85
Conclusão
Neste trabalho concluı́mos que a Análise Funcional é de extrema utilização devido a sua
ligação com outras teorias matemáticas, especialmente no estudo das equações diferenciais
e equações integrais.
86
Referências
[1] DOMINGUES, H. Espaços métricos e introdução a topologia. São Paulo: Editora
Atual, 1982.
87