Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Flávio Tayra
FSP/USP[1]
The environmental crisis and the role of new information technologies: beyond the
domain of technique (Abstract)
The domain of technique grows strongly since the beginning of Modern Age.
Nowadays, we live with two derivations of that context: the new information
technologies and the environmental crisis. The search of knowledge that allowed the
explosion of information technologies is the same that revolutionized the industrial
processes that have a great capacity of producing negative externalities. Simultaneously
we live with the possibility of an ecological disaster and exists the viability of applying
and controlling the progresses of science and technology to build a more sustainable
world - environmental, social and economically -, because the new information
technologies can play an important role in mitigating the environmental impacts of
industrial production, stimulating more knowledge and developing of more appropriate
technologies. The technology should not be just an object of negative criticism, but of a
positive proposal, which it approaches criteria to do choices inside the technical world.
Houve um tempo em que o homem convivia com toda sorte de dificuldades para
conseguir prover suas necessidades e sobreviver. Embora para muitos deles ainda hoje a
realidade não se apresente muito diferente, parece claro que na atualidade as condições
de vida de boa parte das pessoas são bem menos áridas tendo a luta pela sobrevivência
deixado de ser uma aventura diária.
A escalada da produção que tornou possível tal situação se encontra bem delimitada.
Devido a uma série de fatores, foi no início da Idade Moderna que a civilização
ocidental conseguiu equacionar as condições apropriadas para o grande salto. O grande
crescimento do conhecimento e da produção econômica verificada a partir deste
momento transformou a face do planeta e tornou realidade alguns sonhos antigos da
humanidade.
Os últimos desdobramentos deste processo iniciado séculos atrás mostram que não
existem limites para o crescimento do conhecimento e suas aplicações. O
desenvolvimento da microeletrônica e dos processos de informatização, a chamada III
Revolução Industrial que assistimos atualmente em curso (como a popularização da
internet e a automação de uma infinidade de processos propiciada por esse avanço) são
exemplos das suas possibilidades. Se o processo de aquisição de conhecimento parece
não encontrar limites em si, para alguns esse já começou a se manifestar na própria base
física do planeta, que precisou e ainda precisa sustentar uma grande demanda por seus
insumos, impulsionada por uma radical transformação ocorrida nos modos de vida e
padrão de consumo de seus habitantes. Essa pressão sobre os recursos naturais,
realizada em uma escala nunca antes vista e num nível temerário para sua própria
capacidade de regeneração é o que chamamos de crise ambiental.
Neste artigo discutiremos tal crise abordando dois aspectos que entre si estão
entrelaçados e que ajudam a compreender a complexidade do problema, analisando-o
sob uma perspectiva mais ampla: a concepção do homem em relação à natureza e o
papel da técnica. As diferentes formas de interpretação da natureza que o homem teve
no decorrer de sua história e a transição para a visão atual em que a natureza possui o
papel de provedora de insumos tem suas raízes em momento específico, no qual se
verifica paralelamente (e como decorrência) o grande estímulo à produção de
conhecimento, o desenvolvimento da racionalidade técnica.
· teria sido a Terra criada especificamente para a morada do homem, ou seja, feita
exclusivamente com esse propósito? ;
· teria sido possível que os climas, os relevos e a configuração dos continentes tenham
influenciado a natureza moral e social dos indivíduos e, com isso, moldado o caráter e a
natureza da cultura humana?;
· no decorrer de sua existência, como (ou quanto) a Terra terá se transformado, por meio
da ação do homem, desde sua hipotética condição original?
Glacken mostra que desde os gregos antigos até os tempos modernos foram dadas
diversas tentativas de respostas a essas perguntas, de modo tão freqüente e contínuo que
se pode estruturá-las em forma de idéias gerais que respondem às três questões
mencionadas: i) a idéia do desígnio, de terra criada para o homem; ii) a da influência do
meio ambiente, que molda as características do ser; e iii) a do homem como agente
geográfico, respectivamente. As duas primeiras foram bastante discutidas na
Antiguidade, a terceira, um pouco menos, embora estivesse presente em muitos
argumentos que reconheciam o fato evidente de que os homens, por meio de suas artes,
ciências e técnicas, haviam transformado o meio em que viviam.
Todas estas questões buscavam identificar exatamente as variáveis que incidiam sobre o
relacionamento do homem com o meio ambiente, desde uma concepção mais filosófica
(sobre o papel do homem e de sua morada) até o seu desempenho como transformador
do mundo, ou seja, o impacto de suas atividades práticas. No século XIX, no entanto, já
parecia evidente que a visão de supremacia sobre a natureza era a predominante.
No que nos importa aquí, uma sutil, mas importante transformação para uma mudança
na concepção do papel do homem frente a natureza, pôde ser verificada nos princípios
da era Moderna, quando a visão teológica e dos excertos das Sagradas Escrituras passou
a ser substituída pela visão científica, alterando sobremaneira tal relação. A então
emergente ciência, amparada na razão e no conhecimento, converteu-se no instrumento
que tornaria os seres humanos senhores de seu próprio destino. Desta forma, a fé na
ciência e em suas possibilidades provocou uma transformação na concepção acerca do
papel do homem no mundo, que veio a reboque de importantes transformações que
ocorriam na realidade e no pensamento ocidental.
A passagem para essa nova visão, porém, não se constituiu em um processo abrupto, em
que as novas idéias e concepções afloraram da noite para o dia. Para se atingir esse
estágio de ruptura foi necessária uma transformação anterior, um processo que se
iniciara alguns séculos antes, tendo o desenvolvimento da técnica nela desempenhado
um papel essencial.
Segundo o historiador norte-americano Lewis Mumford (1992), para se entender o
papel dominante desempenhado pela técnica na civilização ocidental moderna, é
necessário que seja mencionado o processo de preparação ideológica e social que o
acompanhou em seu desenvolvimento. Além de se buscar explicar essa nova fase pela
existência de novos instrumentos mecânicos, deve-se ser enfatizada principalmente a
cultura que estava disposta a utilizá-la e aproveitá-la de forma tão extensa e intensa,
pois, "a mecanização e a arregimentação não se constituíram em novos fenômenos na
história; o fato novo é o de que estas funções tenham sido projetadas e incorporadas em
formas organizadas que dominam cada aspecto de nossa existência. Outras civilizações
alcançaram um alto grau de aproveitamento técnico sem ter sido, pelo que se sabe,
profundamente influenciada pelos métodos e objetivos da técnica [...] (os outros povos)
possuíam máquinas; mas não desenvolveram a "máquina". Coube aos povos da Europa
Ocidental levar as ciências físicas e as artes exatas até um ponto em que nenhuma outra
cultura havia alcançado e, com isso, adaptar toda forma de vida de acordo com as
capacidades da máquina" (Mumford, 1992, p. 23).
A transformação dos conceitos de tempo e espaço produziu uma mudança que começou
a transferir a interpretação da natureza, antes focada no mundo celestial para o mundo
físico. A partir daí, a natureza podia ser explorada, conquistada e entendida. Foi o
princípio de uma profunda transformação no processo de produção econômica e de
conhecimento.
Por meio da ciência, a modernidade rompeu a aliança entre homem e Natureza, baseada
na identificação de fato e valor - fundamento da visão antropocêntrica do mundo. A
cosmologia medieval realizava a coincidência plena de conhecimento da realidade e
compreensão do "sentido" da vida. Por mais de dois mil anos, a metafísica sustentou a
separação entre mundo terrestre e mundo celeste: em um nível, o reino do efêmero, do
nascer e do perecer; em outro, o reino do divino, da perfeição, do eterno. Essa imagem
foi rompida pela modernidade.
Um momento crucial desta nova fase foi a eclosão da Revolução Industrial no século
XVIII, que aumentou a produtividade do trabalho humano em proporções nunca antes
vista; a geração de riquezas decorrente de tal revolução propiciou o amadurecimento do
capitalismo, ao qual passou a ser associado o desenvolvimento da técnica.
Nestes termos, a crise ambiental pode ser entendida como a crise de uma lógica de
produção, mas, mais do que isso, é, principalmente, a constatação da lógica de
transformação de recursos da natureza em objetos de consumo sendo levada ao
paroxismo. Com tal comportamento, o homem está se transformando cada vez mais no
principal causador de uma mudança ecológica, tanto em níveis globais quanto locais,
mudanças que põem em perigo a sua própria existência e, em particular, a das gerações
futuras.
Sob a lógica da dinâmica capitalista, em seu estágio inicial a natureza assumiu funções
bem específicas, passando a ser entendida simplesmente em termos de recursos, com o
objetivo de gerar e provisionar todos os materiais utilizados no processo produtivo;
além de ter como segunda função, a de absorver os resíduos, que retornam ao
ecossistema em forma de contaminantes, ou seja, de poluição. Esta lógica de
crescimento econômico, porém, encontra seus limites na medida em que compromete o
bem-estar das gerações futuras ao levar ao esgotamento de recursos relevantes (por
exemplo, recursos energéticos fósseis); e também por exigir dos ecossistemas um nível
acima de sua capacidade de regeneração e assimilação que provoca, em um horizonte
mais amplo, o surgimento de seqüelas problemáticas, como é o caso do aquecimento
global da atmosfera; ou seja, o problema não é mais apenas pontual e localizado, o que
tem modificado a abordagem do tema.
A ênfase que Castells dá à tecnologia da informação se deve ao fato de que ela está se
convertendo em ferramenta indispensável na geração de riqueza, no exercício do poder
e na criação de códigos culturais, transformando domínios da vida social e econômica.
Em sua acepção, as redes interativas de informação tornaram-se tanto os componentes
da estrutura social, quanto os agentes de transformação social.
A primeira onda de informatização, que começou a partir dos anos 1960, teve como
pano de fundo a sociedade industrial. Com o uso dos computadores em aplicações
comerciais, grandes sistemas iam sendo construídos. No início, não houve uma
alteração acentuada na forma como as tarefas eram desempenhadas; apenas a
automatização dos procedimentos. A grande ênfase dos sistemas desenvolvidos nessa
época era no controle das atividades. O trabalho era feito de forma mais rápida, segura e
limpa, mas ainda não estava sendo muito alterada a estrutura de produção e de
gerenciamento.
Esse emaranhado de novas situações e perspectivas, por outro lado, inspira também
manifestações contra a ciência e a tecnologia, no qual o alvo é o vertiginoso processo de
informatização, num processo de rejeição das tecnologias. Nesse contexto, o mal-estar
assume novas – e até violentas – formas. Esse foi o caso do Unabomber, nos EUA, que
enviava cartas-bombas para cientistas e universidades e elegia como inimiga a
"sociedade industrial", que ele considera "um desastre para a espécie humana" e contra
a qual propõe uma "revolução" no qual aponta como uma única saída a dispensar do
sistema tecnológico inteiro. Seu temor são as "máquinas inteligentes", que acabarão por
decidir no lugar da humanidade. (Folha de S. Paulo, 20/09/95). Outra ordem de visão
crítica é a dos neoludistas, que vêem nos novos computadores, mais um instrumento de
retirada do homem do processo econômico. Para os neoludistas, o desemprego decorre
diretamente do progresso técnico, ou seja, a tecnologia informacional - fundada na
microeletrônica e na tecnologia de informação - substitui o capital humano com tal
intensidade que hoje é impossível gerar empregos para todos.
Conclusões