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Concluindo
“A arte é portanto imitação, porém recriação da natureza em qualquer sentido”.
Aristóteles já lançava luz sobre o assunto:
“... Aqueles que expõem, através do verso, assuntos de medicina, ou de física,
são comumente denominados poetas; entretanto, nada há de comum entre Homero e
Empédocles, senão o terem ambos escrito em verso. Desse modo, converia denominar a
um, poeta, e a outro, naturalista”.
Na era moderna são propostos os seguintes conceitos:
a) em sentido lato: “A literatura é o conjunto da produção escrita”. O conceito é
vago. É, na concepção de alguns críticos, “um vaguíssimo conceito cultural,
através do qual todo o conhecimento fosse qual fosse a sua natureza –
científica, filosófica ou espiritual -, seria literária”.
Destarte, literatura seria, no sentido amplo (lato sensu), toda e qualquer
manifestação do sentimento ou do pensamento por meio da palavra, dando ensejo a que
De Bonald a chamasse de “expressão da sociedade “. Depreende-se, desse modo, diz
Hênio Tavares, que “qualquer obra em prosa e verso, de conteúdo artístico ou científico,
que envolva conhecimento da vida e dos homens, será literatura. Isto explica – conclui –
a extensão de certas obras como a histórias da literatura portuguesa e da literatura
brasileira, de Teófilo Braga e Silvo Romero, respectivamente”.
A propósito, Wellek e Warren, dão-nos um exemplo na “Introduction to the Literary
History of the Fifiteenth, Sixteenth and Seventeenth Centuries”, de Henry Hallam, que
consubstancia livros de teologia, de lógica, de jurisprudência, de matemática.
No sentido restrito: “A arte literária é, verdadeiramente, a ficção, a criação de uma
supra-realidade com os dados profundos, singulares da intuição do artista”.
A arte é ficção, que pode ser verossímil e inverossímil. A ficção se encontra nos
cernes das mais importantes obras literárias. E se constata que a realidade sensível e
racional.
“A intuição artística – afirma Soares Amora -, no campo da imaginação, da
idealização, dos símbolos, do “supra-realismo”, tem criado obras inteiramente falsas se
as quisermos identificar com a realidade sensível e racional, mas verdadeiras como
obras de emoção e beleza”.
Cita, à guisa de exemplo, o romance “IRACEMA”, de José de Alencar, “obra falsa
do ponto de vista científico (etnográfico), filosófico, histórico; no entanto, profundamente
verdadeira do ponto de vista estético, porque comovente e bela”.
O que realmente distingui uma obra de arte é a sua realidade estética, sempre
atrelada à concepção de escola: clássica, romântica, realista, simbolista etc.
Dizia, então, Alceu Amororo Lima (“A Estética Literária e o Crítico, 1954). “A
palavra, em literatura, não tem o nosso valor da palavra na vida corrente. A palavra, na
vida cotidiana ou nas atividades não-literárias (mesmo quando artísticas, de outro
gênero) tem valor utilitário. Na literatura tem valor ontológico, se pudermos assim dizer.
Sendo arte-de-palavra, faz a literatura de seu meio de expansão seu próprio fim. Quando
se abusa desse processo, caímos na má literatura, no verbalismo, simples objeto de uso,
simples meio de comunicação”.
Conclui-se, então, que a literatura se baseará tanto no estudo do conteúdo
(Gehalt) como nos problemas gerados pela forma (Gestalt).
“Arte literária, finaliza Hênio Tvares, é a ficção ou a criação de uma supra-
realidade pela intuição do artista, mediante a palavra expressivamente estilizada”.
A Arte Literária Espírita pode perfeitamente adequar-se a esse processo,
conquanto deva preservar as suas intrínsecas e peculiares implicações. O autor
espiritual, permiti-nos deduzir, já vivencia, ele próprio, uma supra-realidade, entes jamais
cogitada. Os conceitos e valores sofreram, pois, francas e profundas reavaliações. A sua
visão de vida e dos problemas da vida é diferenciada, é mais ampla do que ele, por um
determinado lapso de tempo vivenciou, e, aí, absorveu uma gama considerável de
condicionamentos. A literatura como “ânsia de imortalidade” de Raul Castagnino-in –
“qué es Literatura?” É aquele desejo insopitável que reside na ânsia da Espírito humano
(ecos palingenésicos), de sobrevivência à morte. Em Arte, esse meio se consubstancia
nas idéias de glória, de consagração, de imortalidade, de que dariam imorredouros
exemplos um Horácio, um Camões e de tantos outros célebres cultores da Arte, como
essência da vida...