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GRUPO CROMATOGRAFIA 51

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Mikhail S. Tswett:
Um legado para a cromatografia moderna
Destaque

J. M . F. NOGUEIRA*

C
om origem no grego “chroma +
graphein”, a cromatografia ou Tendo-se comemorado recentemente o centenário da desco-
escrita da cor, é um método contempo-
berta da cromatografia por Mikhail S. Tswett, parece pertinente
râneo que ganhou relevo por volta de
1903, com o botânico Mikhail Seme- que a centésima edição do boletim da Sociedade Portuguesa de
novich Tswett, nascido em Asti (Itália) Química faça menção ao nascimento desta importante técnica
a 14 de Maio de 1872, sendo a família de separação. Neste contexto, a presente contribuição trans-
originária da Rússia. Após ter estudado creve as mais importantes observações associadas à desco-
na Universidade de Genebra (Suíça),
berta e ao desenvolvimento dos primórdios da cromatografia,
mudou-se para S. Petersburgo (Rússia)
em 1896 onde começou a trabalhar inicialmente publicadas por este notável cientista russo.
como assistente no laboratório de botâ-
nica da Academia de Ciências dos Im-
peradores Russos. Foi mais tarde consi- metodologia cromatográfica, foram os
derado o pai da cromatografia moderna, seguintes:
através dos vários trabalhos experimen- • a natureza física da adsorção das clo-
tais que efectuou, particularmente na rofilas;
separação de extractos de plantas por
• a facilidade de conversão dos pigmen-
adsorção diferencial em colunas, tendo
tos desde a solução até aos adsorven-
verificado a nítida separação de diver-
tes e vice-versa, por vezes pela adição
sos pigmentos corados. Desde então,
de uma pequena quantidade de ou-
enormes avanços têm sido concretiza-
tros solventes;
dos com elevado mérito por diversos
cientistas pioneiros no desenvolvimento • a possibilidade do uso de várias subs-
e aperfeiçoamento desta importante téc- tâncias adsorventes na forma de pó;
nica de separação [1].
• a excelente possibilidade de detecção
Com base na análise das quatro primei- corada para seguir a conversão dos
ras publicações científicas e de um livro Figura 1 Mikhail S. Tswett (adaptado de 2). pigmentos desde a solução aos adsor-
editado por M. Tswett [2,3] a descoberta ventes e vice-versa;
da cromatografia pode ser estabelecida
Imperadores Russos em S. Petersburgo. • a observação de zonas coradas com
desde a ideia original até um método
Escreveu então: “O presente trabalho pigmentos em papel de filtro, seme-
experimental avançado. Tswett men-
começou com algumas experiências lhantes às folhas das plantas;
cionou inicialmente que era possível
que fiz à alguns anos atrás sobre a inso-
descobrir os rudimentos do seu método • a intenção da pesquisa de um novo
lubilidade da clorofila em éter de petró-
de separação, através dos resultados método físico de separação.
leo ou queroseno”.
da investigação ocorrida entre 1899 e
Cada um destes factos e observações
1901, durante a preparação da sua tese
Na sua extensiva tese apresentada na foram bem descritos separadamente,
de mestrado efectuada no laboratório de
Universidade de Kazan (Rússia) em Se- sendo reflectidos em conjunto e orienta-
botânica da Academia de Ciências dos
tembro de 1901 e intitulada “The phy- dos na pesquisa de um novo método fí-
sico-chemical structure of the chloro- sico de separação levando à descoberta
* O autor é Presidente do Grupo de Cromatogra- phyll particle: Experimental and critical da cromatografia. Os resultados das
fia da SPQ e Professor Auxiliar do Departamento
study” [4], os resultados mais significa- investigações inicialmente efectuadas
de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciên-
cias da Universidade de Lisboa tivos tendo em conta os rudimentos da em S. Petersburgo e após mais de um
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ano de trabalho experimental na Uni- suportar a camada adsorvente de uma substâncias dissolvidas e do solvente

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versidade de Varsóvia (Polónia), depois forma mais adequada para filtração da envolvido. Estas diferenças podem ser
de ter aceite o convite para professor de solução através da mesma. Comentou usadas para a separação de substâncias
botânica em 1901, foram apresentados então: “É muito instrutivo observar o fe- através de um método de passos discre-
por Tswett numa conferência realizada nómeno de adsorção durante a filtração tos de adsorção por precipitação”.
na secção de biologia da Sociedade de através do pó. No fundo do funil, flui
Durante a conferência, Tswett exempli-
Ciências Naturais de Varsóvia a 21 de em primeiro lugar um líquido incolor, de
Março de 1903, intitulada “On a new ca- seguida um líquido amarelo (caroteno), ficou o uso mais tradicional do método
tegory of adsorption phenomena and its enquanto um anel verde brilhante se por passos discretos na separação e
application in biochemical analysis”[5]. forma na parte superior da camada de análise de uma mistura de clorofilas
O breve sumário do protocolo relativo inulina; na parte de baixo da camada combinando adsorção e retro-extrac-
a este evento, informou que cerca de de inulina surge de imediato um con- ção sem recurso ao inovador método
quarenta distintos cientistas estiveram torno amarelo. Na lavagem subsequente proposto. Como conclusão, comentou:
presentes no auditório, tendo algumas da camada de inulina com queroseno ”Indiscutivelmente mais investigações
questões sido levantadas e até ocorrido puro, ambos os anéis verde e amarelo, relativas ao mecanismo de adsorção
uma discussão acesa entre M. Tswett e são consideravelmente alargados e mo- irão permitir melhorar a aplicação analí-
o D.I. Ivanovskii, conceituado virologista vidos abaixo da camada até ao limite tica e a determinação empírica das pro-
de então. definido… ”. “Se a camada de pó atra- priedades de adsorção das diferentes
vés da qual a filtração toma lugar não substâncias presentes em corpos vivos
Após uma revisão dos resultados pré-
for suficientemente grande para reter e solúveis em diversos líquidos orgâni-
vios, Tswett apresentou na conferência
toda a matéria colorida, então a banda cos e que permitam ser propostos como
novas observações sobre a adsorsão
amarela neste movimento descendente métodos analíticos de adsorção defini-
dos pigmentos da clorofila em diversas
consegue alcançar um bocado de papel dos para vários problemas práticos ”.
soluções, tendo testado 109 adsorven-
junto do fundo do funil, mostrando que
tes quer inorgânicos quer orgânicos, É importante realçar que esta conferên-
a solução amarela de queroseno co-
incluindo elementos, óxidos, hidróxidos, cia foi apresentada em 1903 e publi-
meça a sair”.
fosfatos, sais de ácidos orgânicos, car- cada em russo somente em 1905 por
vão, alcalóides, celulose, substâncias M. Tswett examinou alguns outros sol- razões ainda hoje pouco esclarecidas.
de indefinida composição, etc. Propôs ventes para além do queroseno, nomea- Neste sentido, os resultados destas
ainda para as experiências, dispositi- damente, benzeno, disulfito de carbono,
experiências não puderam ser imedia-
vos muito simples construídos através etc. e ainda outros pigmentos, incluindo
tamente conhecidos pela comunidade
de tubos de ensaio convencionais em alcamina, sudão III, cianina e lecitina de
científica de então. No entanto e ape-
vidro, podendo facilmente constatar-se gemas frescas do ovo. Da maioria das
sar destes factos, a data da apresenta-
que usou desde o início colunas como experiências realizadas, Tswett concluiu
ção desta conferência, 21 de Março de
meios de separação. M. Tswett des- que em muitos casos a adsorção é o
1903, marca definitivamente o nasci-
cobriu ainda que todas as substâncias processo físico nas condições descritas.
mento da cromatografia. Os resultados
testadas eram capazes de adsorver al- Não explicou, no entanto, o mecanismo
mais importantes apresentados foram
guns ou quase todos os pigmentos de real do processo de adsorção, uma vez
os seguintes:
clorofila, tendo muitas das experiências ter tido a consciência de não conseguir,
sido levadas a cabo por meio do uso de no imediato, apresentar a correspon- • a primeira realização de uma nova
inulina como adsorvente, contendo par- dente teoria que descrevia o fenómeno. versão de cromatografia – a cromato-
tículas com cerca de 2 µm em diâmetro. Nesse sentido, acrescentou: “A possibi- grafia de eluição;
Quando a solução de clorofila era agi- lidade de desenvolver um novo método
tada com pó de inulina num tubo de en- de separação física de várias substân- • o número de adsorventes orgânicos e
saio, parte dos pigmentos eram imedia- cias em soluções orgânicas é clarifi- inorgânicos investigados: 109;
tamente adsorvidos, ficando o pó com cado através dos resultados descritos. É • o uso de vários solventes, incluindo
tonalidade verde precipitado no fundo, baseado na propriedade da dissolução misturas binárias;
enquanto a solução líquida ficava ama- de substâncias para formar compostos
rela. Diversos solventes, tendo o álcool com adsorção física em vários sólidos • a investigação do fenómeno de adsor-
apresentado melhores resultados, foram minerais e orgânicos. A quantidade ção em diversos meios;
testados para seguidamente retro-extrair de substância dissolvida que combina
• o primeiro protótipo simples de um
os pigmentos adsorvidos no pó. Poste- compostos adsorptivos com uma quan-
dispositivo cromatográfico;
riormente, em vez de um simples tubo tidade definida de adsorvente, depende
de ensaio, Tswett começou por usar di- do grau de subdivisão do último, da sua • a detecção espectroscópica das subs-
ferentes modificações que permitiram natureza, bem como da natureza das tâncias separadas.
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Esta publicação, apesar de não referir o A mais importante conclusão de Tswett método cromatográfico”. Seguidamente
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termo “cromatografia”, não impede no pode ser melhor retirada directamente escreveu ainda: “Naturalmente, o fe-
entanto, de se poder considerar como do texto deste artigo: “Existe em defini- nómeno de adsorção aqui descrito não
sendo a primeira apresentação efectiva tivo uma sequência adsorptiva, no qual é restrito aos pigmentos de clorofila e
da cromatografia por análise de eluição. cada substância se pode deslocar. A deve ser assumido que todos os tipos de
seguinte aplicação é precisamente ba- compostos coloridos e incolores estão
seada nesta lei: quando uma solução de sujeitos às mesmas leis”. Os resulta-
clorofila dissolvida em éter de petróleo é dos mais importantes apresentados por
filtrada através de uma coluna contendo Tswett neste artigo foram:
um adsorvente (para este propósito uso
• o uso dos termos “cromatografia” e
habitualmente carbonato de cálcio, ho-
“cromatograma”;
mogeneamente empacotado em tubos
de vidro estreitos), os pigmentos serão • ordenação da disposição de substân-
distribuídos descendentemente desde cias numa série adsorptiva (a regulari-
o topo de acordo com a posição na se- dade de retenção);
quência de adsorção, formando zonas
• a confirmação da elevada eficiência
coloridas distintas, enquanto os pigmen-
na versão de cromatografia por elui-
tos com propriedades de adsorção mais
ção;
pronunciadas se deslocam descenden-
temente, somente depois das substân- • a avaliação das possibilidades de se-
cias que são menos firmemente retidas. paração com a combinação do deslo-
Figura 2 Ilustração original da evolução das
colunas inicialmente usadas por M.S. Tswett Subsequentemente, a lavagem com sol- camento e versões de eluição;
(adaptado de 2). vente puro origina uma uniforme e mais
• a disposição dos diversos solventes
completa separação das substâncias”.
numa série eluotrópica;
Os dois artigos seguintes de M. Tswett, M. Tswett vivamente e metaforicamente
foram publicados no jornal da Socie- descreveu a sua descoberta: “Como • a possibilidade da análise ser qualita-
dade Alemã de Botânica em meados raios luminosos num espectro, os vários tiva e quantitativa;
de 1906 e intervalados por apenas um componentes de uma mistura de pig-
• a aplicabilidade do método cromato-
mês. No primeiro artigo [6] Tswett mos- mentos são separados de acordo com
gráfico para separação de substâncias
trou que os melhores adsorventes eram a referida lei numa coluna de carbonato
incolores.
o carbonato de cálcio, a alumina e a de cálcio, permitindo a respectiva deter-
inulina ou pó de açúcar e através da es- minação qualitativa e quantitativa. De- No artigo seguinte [7], M. Tswett come-
colha de diferentes solventes ou mistu- signo por cromatograma, a preparação çou por descrever com maior detalhe a
ras de solventes que era possível regular obtida como resultado deste processo regularidade de sequência adsorptiva
a separação de diferentes pigmentos. e a correspondente metodologia por de acordo com a qual os compostos se
podem deslocar uns relativamente aos
outros. Durante a filtração da mistura de
pigmentos de plantas através da coluna
adsorvente, os compostos são ordena-
dos de acordo com a respectiva posição
na série adsorptiva, na direcção do fluxo
da solução. O fluxo subsequente de sol-
vente puro leva à separação ainda mais
nítida da mistura, constituída maiorita-
riamente por clorofilas e xantófilas.

Em alguns casos o desenvolvimento


pode ser efectuado por mudança do
solvente ou por adição de outros sol-
ventes ou seja, o processo da técnica
de eluição por gradiente, mas através
de passos discretos. Tswett acreditou
que duas substâncias poderiam ter a
mesma posição adsorptiva num único
Figura 3 M.S. Tswett junto da sua unidade cromatográfica em 1910 (adaptado
de 3). solvente, mas considerou: “...é duvidoso
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e impossível ter o mesmo potencial ad-

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sorptivo para duas substâncias em dois
solventes diferentes...”. Desta forma,
por combinação correcta de adsorven-
tes e solventes seria possível separar
praticamente qualquer mistura. Neste
manuscrito, M. Tswett descreve pela
primeira vez o equipamento cromato-
gráfico e a técnica usada para prepa-
ração das colunas. A unidade croma-
tográfica ou cromatógrafo incluía cinco
posições para acomodar cinco colunas
(2-3 mm de diâmetro e 20-30 mm em
comprimento) que podiam trabalhar a
pressões compreendidas entre 250-300
mbar. Tswett verificou a importância de
usar adsorventes com pequenas partí-
culas e descreve a técnica para prepa-
ração de colunas eficientes. Recomen- Figura 4 Unidade cromatográfica contendo cinco colunas (a) e unidade preparativa (b) utilizadas
dou igualmente molhar a camada do por M.S. Tswett durante o trabalho experimental; cromatograma relativo à separação de pigmentos
de plantas, usando carbonato de cálcio como fase estacionária e disulfito de carbono como eluente (c)
adsorvente com o solvente antes de in-
(adaptado de 3).
troduzir a amostra para evitar eventuais
dispersões. Em muitos casos, a camada
empacotada era empurrada para fora • a capacidade de separar praticamente Tswett usava sempre a combinação da
da coluna e cortada em secções com qualquer mistura por combinação de técnica frontal, deslocamento (como pri-
auxílio de uma faca, para investigações vários adsorventes e solventes. meiro passo) e eluição (como segundo
subsequentes relativas à separação de passo), tendo em muitos casos mudado
No seu livro publicado em 1910 [8], in-
cada corte individual. Tswett descreve de solvente ou usado misturas de sol-
titulado “Chlorophylls in the plant and
ainda a aplicação da cromatografia para ventes adequados. É interessante pres-
animal world” e que serviu para a ob-
separação à escala preparativa, usando tar atenção a alguns dos comentários
tenção do grau de doutor em ciência,
neste caso, colunas com 10-20 mm de de Tswett sobre o mecanismo relativo
Tswett descreve em aproximadamente
diâmetro e 40-50 mm em comprimento. ao movimento da substância na camada
um terço do espaço, processos que en-
Os resultados mais importantes deste adsorvente. Teceu igualmente conside-
volvem fenómenos de adsorção e cro-
artigo foram os seguintes: rações sobre as camadas relativas ao
matográficos. É interessante realçar o
processo de migração da substância de
• o uso de uma unidade cromatográfica conteúdo do quinto capítulo:
acordo com a razão de equilíbrio das
de coluna múltipla com cinco posi-
• O método cromatográfico concentrações (isotérmica de adsorção)
ções para ensaios experimentais;
e mostrou que as bandas migravam in-
• Os instrumentos cromatográficos
• colunas como versão de unidades dependentemente e com velocidades
cromatográficas (2-3 mm de diâmetro • Escolha de adsorventes dependentes das constantes de adsor-
e 20-30 mm em comprimento); ção: “Uma vez as diferentes substâncias
• Escolha de solventes
apresentarem diferentes constantes,
• o uso de uma unidade à escala prepa- mostrando uma abordagem muito seme- irão consequentemente, mover-se com
rativa: 10-12 mm de diâmetro (até 30 lhante a muitos livros da actualidade. diferentes velocidades de deslocamento
mm), 40-50 mm em comprimento; ao longo do fluxo e assim, serão separa-
• a realização do processo cromato- das como zonas de adsorção indepen-
M. Tswett descreve pormenorizada-
gráfico sob condições de pressão e dentes”. Nesta parte do seu trabalho,
mente o problema da adsorção em solu-
Tswett está próximo de abordar a teoria
vácuo; ção, onde tece considerações sobre pu-
dos pratos teóricos desenvolvida déca-
blicações e equações de Lowitz, Henry,
• um método para a preparação efec- das mais tarde.
Gibbs, Freundlich, etc. A sua revisão
tiva de colunas cromatográficas;
apresenta um sumário muito detalhado Considerando a teoria do fenómeno em
• a combinação das versões cromato- do fenómeno, teoria e processos de ad- coluna, Tswett prestou ainda especial
gráficas por análise de eluição e fron- sorção a partir de soluções orgânicas in- atenção à necessidade de estudar a ci-
tal; cluindo a termodinâmica associada. nética molecular de adsorção descrita
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e considerar o calor de adsorção bem de 260 pratos teóricos, provando sem • a realização do método de transfor-
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como a tensão superficial com mais sombra para dúvidas que foi um notável mação em derivados das substâncias
detalhe. Expressou ainda a sua opinião experimentalista para a época. Tswett a serem analisadas (cromatografia de
sobre a universalidade da cromatogra- compreendeu ainda não apenas a ele- reacção);
fia: “Desde que a disposição das subs- vada eficiência na versão da cromato-
• a introdução às substâncias marcadas
tâncias na linha adsorptiva dependesse grafia em coluna, mas também a impor-
nas misturas a serem separadas;
da natureza dos solventes, o comporta- tância da rapidez, tendo escrito então:
mento de duas substâncias em alguns “Apenas demora uns minutos para se • uso de cromatografia preparativa com
solventes irá ser exactamente igual de- obter a análise quantitativa da mistura colunas de 30 mm de diâmetro e 80
vido à afinidade adsorptiva ser extrema- complexa”. mm em comprimento;
mente baixa ”.
Os principais resultados apresentados • um caminho para a transformação da
Uma nova abordagem relativa aos pro- no seu livro foram: “análise capilar” através da cromato-
blemas da cromatografia em coluna grafia em camada fina;
• a teoria avançada da separação cro-
pode ser claramente verificada, tendo
matográfica incluindo considerações • a introdução dos termos “desenvol-
considerado que o tamanho e a forma
teóricas do processo pelo método “ca- vimento” (eluição), “deslocamento”,
geométrica das partículas de adsorvente
mada-por-camada”, próximo da teoria “dispersão”, “alargamento”, “sobre-
eram de extrema importância. Conside-
dos pratos teóricos, da teoria da dis- posição”, etc.
rou igualmente que o aumento da altura
de uma camada levava ao decréscimo persão (alargamento da banda) e da Em artigos posteriores, M. Tswett justifi-
da velocidade de filtração (a pressão teoria da velocidade de migração das cou ainda a necessidade de serem tes-
constante) e o uso de colunas com 30 zonas; tados pelo método cromatográfico, todas
mm de diâmetro levava, em regra, à de- • a velocidade do fluxo controlado de as substâncias investigadas, no sen-
formação quer da velocidade da frente solvente (fase móvel); tido da avaliação da respectiva pureza.
do solvente, quer do formato das ban- No entanto, as quatro publicações e o
das. • a possibilidade da versão de croma- livro de Tswett citados na presente con-
tografia por precipitação a concentra- tribuição, podem ser consideradas as
É de realçar que Tswett tomou em con- ções de sorbato elevadas; primeiras observações que contemplam
sideração o fenómeno de “análise capi-
• a regularidade da separação de acordo os mais impressionantes passos dos pri-
lar” proposto por Goppelsröder, tendo
com as constantes de adsorbabilidade mórdios da cromatografia, descrevendo
sido levado a cabo por cromatografia de
(regularidade de retenção); a abordagem completa dos sistemas
análise frontal em papel. Foi o primeiro
cromatográficos iniciais, levando a cabo
a notar que este procedimento era rea- • o número de adsorventes orgânicos as principais características que origina-
lizado através do fluxo de uma solução e inorgânicos investigados: mais de ram a cromatografia moderna.
com gradiente ascendente. Apesar dos 130;
resultados dos estudos de análise ca- Podemos então questionar, o que foi
pilar não terem sido muito conclusivos, • o número de solventes investigados: que de facto ajudou Tswett nas suas
de acordo com as suas observações, 23 (não incluindo diferentes misturas pesquisas? Em primeiro lugar o seu ta-
Tswett escreveu: “No entanto, posterio- de solventes); lento impar, a sua notável perícia expe-
res desenvolvimentos de análise capilar rimental, um profundo conhecimento de
• as recomendações na escolha de ad-
são muito desejáveis”, tendo mais tarde uma série de assuntos complexos, o ser
sorventes e solventes;
encontrado um caminho para a croma- um experimentalista esforçado, ser me-
tografia em camada fina: “A banda do • um método avançado para prepara- ticuloso na análise cuidadosa dos dados
papel de filtro, usada para capilariza- ção de colunas cromatográficas consi- publicados, ter um profundo respeito
ção das soluções é análogo à coluna de derando a influência da forma e tama- pela experiência de outros cientistas
carbonato de cálcio em pó ou de outros nho das partículas dos adsorventes e seus contemporâneos, um conhecedor
adsorventes usados para análise croma- respectiva humidade intrínseca, méto- fluente de quatro línguas estrangeiras e
tográfica”. dos de empacotamento, influência do provavelmente um pouco de sorte pro-
comprimento e diâmetro, etc.; veniente da persistência nas suas inves-
Na década de noventa, V.R. Meyer [9]
tigações.
publicou um artigo com a análise deta- • o incremento considerável do número
lhada das experiências cromatográficas de sistemas separados; A descoberta da cromatografia por M.
elaboradas por M. Tswett, através de Tswett foi um passo decisivo na evolução
• o uso do fluxo reverso de solvente;
considerações teóricas modernas, tendo do uso da adsorção como técnica em ci-
estimado que a eficiência das colunas • a primeira modificação dos adsorven- ência de separação, tendo possibilitado
por ele construídas continham de cerca tes por aquecimento; importantes aplicações analíticas e pre-
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parativas em várias áreas científicas, no- ronezh (Rússia) no ano de 1919, tendo

Destaque
meadamente, na química, bioquímica, vindo a falecer a 26 de Junho.
petroquímica, indústria, biologia, am-
biente, alimentar, aromas e fragrâncias,
farmacêutica, medicina, forense, etc. Bibliografia
1 L.S. Ettre, Chromatography: the separation
Depois de Tswett, diversos cientistas
technique of the 20th century, Chromatogra-
contribuíram para o avanço quer teórico
phia 51 (2000) 7-17.
quer prático da cromatografia, tendo
entre 1937 e 1972 sido atribuídos doze 2 K.I. Sakodynskii, About chromatography

prémios Nobel, onde as técnicas croma- seriously and with a smile, The Contribution
tográficas provaram ter desempenhado of M.S. Tswett, Associations of Chromatogra-
um papel importante e fundamental, phers M.S. Tswett, Moscow, Russia, IOPMS,
tornado-se a mais importante técnica 1996, 29-41.
de separação do século XX. Estima-se, 3 L. S. Ettre, M.S. Tswett and the invention
na actualmente, que mais de 50% das of chromatography, LCGC North America, 21
análises efectuadas em todo o mundo (2003) 458-467.
envolvam técnicas cromatográficas.
4 M.S. Tswett, The physico-chemical struc-
Para a história da cromatografia ficaram ture of the chlorophyll particle: Experimental
ainda os nomes de outros cientistas no- and critical study, Proceedings of the Society
táveis como Kuhn, Lederer, Winterstein, of Natural Sciences at the University of Kazan,
Izmailov, Shraiber, Martin, Synge, Cons- 35 (1901) (em Russo).
den, Gordon, Tiselius, Speeding, Tom- 5 M.S. Tswett, Proceedings of the Warsaw
pkins, Cremer, Hesse, Golay, Porath, Society of Natural Sciences, Biology Section,
Flodin, Horváth, Piel, Kováts, Grob, etc., 13-14 (1905) 20-39 (em Russo).
tendo sido grandes impulsionadores no
6 M.S. Tswett, Berichte der Deutschen Bota-
aperfeiçoamento e modernização destas
nischen Gesellschaft, 24 (1906) 316-323.
técnicas de separação.
7 M.S. Tswett, Berichte der Deutschen Bota-
Refira-se por último, que a lista dos cem
nischen Gesellschaft, 24 (1906) 384-393.
químicos do passado mais distinguidos,
compilada recentemente pela Federa- 8 M.S. Tswett, Chlorophylls in the plant and

ção Europeia das Sociedades Químicas animal world, Karbasnikoff Publishers, War-

(FECS), inclui o nome de M. Tswett. No saw, 1910 (em Russo).

final da sua vida, devido a problemas 9 V.R. Meyer, Tswett, Michael columns –
inerentes à primeira Guerra Mundial, Facts and speculations, Chromatographia 34
mudou-se para a Universidade de Vo- (1992) 342-346.

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