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Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo & Flávia Florentino Varella (org.).

Caderno de resumos & Anais


do 2º. Seminário Nacional de História da Historiografia. A dinâmica do historicismo: tradições historiográficas
modernas. Ouro Preto: EdUFOP, 2008. (ISBN: 978-85-288-0057-9)

ARTE E PLURALIDADE: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO ACADÊMICA


BRASILEIRA SOBRE A CONTRACULTURA
Leon Frederico Kaminski1

Em decorrência das comemorações das quatro décadas do simbólico ano 1968


surgiu nos últimos meses uma grande divulgação sobre os fatos da contracultura. O maio
francês, as revoltas estudantis no Brasil e o surgimento do movimento tropicalista são
apenas alguns exemplos de fatos que ocorreram naquele ano e são relembrados hoje.
Livros, revistas e exposições rememoraram as revoltas juvenis no Brasil e no mundo.
Entretanto, apesar de aumento pontual devido às comemorações, podemos perceber um real
aprofundamento da pesquisa sobre a temática da contracultura, inclusive dentro do próprio
meio acadêmico. Iniciativas como o lançamento em 2007 da revista ContraCultura
publicada em meio eletrônico e editada pelo Observatório da Indústria Cultural (OICult) da
Universidade Federal Fluminense demonstram o interesse no assunto2.
A Contracultura foi constituída por uma série de movimentos díspares e
contraditórios que visavam à contestação dos valores tradicionais e o racionalismo da
modernidade e da tecnocracia. Ela manifestou-se amplamente na música, na poesia e na
literatura entre outros espaços artísticos; nas manifestações políticas da nova esquerda, a
luta ecologista, nos movimentos feministas, na luta pela liberdade sexual etc. Apoiavam-se
num ideário no qual estavam na agenda novas formas de vida, rejeição a valores da
sociedade industrial e novas experiências sensoriais por meio de drogas psicoativas. Estes
preceitos explodiram nos anos 60 e provocaram nas décadas seguintes diversas mudanças,
algumas sutis, outras não, nos costumes e nas práticas cotidianas, além de enorme impacto
no meio artístico-cultural.
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise da produção
acadêmica que envolva o tema da contracultura. Tivemos como fonte o Banco de Teses da
Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior – onde podemos

1
Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e graduando em História
pela Universidade Federal de Ouro Preto. Contato: leonkaminski@ymail.com.
2
A revista pode ser encontrada no endereço eletrônico <www.uff.br/revistacontracultura>; e o OICult em
<http://oicult.blogspot.com>.

1
ter acesso às informações sobre as teses e dissertações defendidas entre os anos de 1987 e
2006 e seus resumos. Em nossa análise abordamos três perspectivas: a produção anual; a
produção por áreas de conhecimento; e a produção por tipos de objetos.
Utilizamos como fonte os dados disponíveis no Banco de Teses da Capes3. Por
meio da ferramenta de busca do site encontramos 72 trabalhos (18 teses de doutorado e 54
dissertações de mestrado) envolvendo a temática da contracultura. O Banco de Teses
disponibiliza os resumos e as informações sobre os trabalhos de conclusão dos cursos de
pós-graduação stricto sensu no país defendidos entre 1987 e 2006. Entretanto, cabe
salientarmos os limites desta fonte. A ferramenta de busca realiza sua pesquisa nos dados
disponíveis, desta forma, trabalhos que não apresentam o termo “contracultura” no título,
nas palavras-chave ou no resumo não apareceram nos resultados da busca. É possível que
pesquisas que se enquadrassem na nossa análise não tenham sido encontradas pela
ferramenta de busca do site. Temos então um panorama parcial da produção acadêmica
sobre o assunto.
Não tivemos a pretensão de aqui discutir as conceituações ou o que entendem os
autores por contracultura. Assim, mantivemos alguns trabalhos que talvez não devessem
estar incluídas na nossa análise – por não podermos neste momento nos aprofundar na
busca e leitura dos trabalhos na íntegra –, mas que se apresentaram no resultado da pesquisa
na base de dados.
Após o levantamento desses dados no Banco de Teses passamos para a análise
dessa produção acadêmica. Ela consistiu em três etapas: um olhar sobre a produção anual e
seu crescimento recente; a análise por áreas de conhecimento dos cursos de pós-graduação
em que estão inseridas as pesquisas; e por último nos debruçamos sobre a tipologia dos
objetos pesquisados.
Através da observação da produção anual de trabalhos sobre a temática da
contracultura podemos perceber um grande aumento no número de pesquisas sobre o tema.
Nos dois primeiros anos abordados pelo Banco de Teses não se encontram pesquisas;
somente em 1989 aparecem as primeiras. Até 1998 o número de trabalhos oscila de
nenhum à no máximo três por ano. É a partir do ano de 1999 que podemos observar um

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O levantamento de dados no site do Banco de Teses da Capes foi realizado durante o mês de junho de 2008.

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aumento considerável e contínuo com uma pequena queda em 2004. Os dois últimos anos
da análise (2005 e 2006) apresentaram um total de doze investigações cada um.

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Gráfico 1: Produção anual de teses e dissertações sobre o tema da contracultura (1987-2006).

Uma das razões desse crescimento consiste no próprio aumento do número de


programas de pós-graduação na última década no Brasil. Segundo informações disponíveis
no banco de dados DataCapes 4, instrumento da avaliação dos programas de pós-graduação,
acessíveis no sítio da Capes, o número de cursos praticamente dobrou. Subiu de 1.209 em
1996 para 2.410 no ano de 2007. Entretanto, este fato não explica por inteiro a ampliação
das pesquisas sobre a contracultura. Enquanto o número de cursos dobra, o de defesas que
versam sobre a temática quadruplica. É possível que o distanciamento temporal do tema,
que apesar de estar muito presente na nossa vida cotidiana – às vezes imperceptivelmente –
tem suas origens na década de 1950 e 1960, esteja provocando essa ampliação. Tal
distanciamento das origens e a sua atual presença nas várias esferas de nossas vidas podem
ser uma das razões desse aumento.
Em relação às áreas de conhecimento dos cursos de pós-graduação e as
instituições onde foram realizadas as pesquisas há uma grande variedade: 17 áreas de
conhecimento em 32 universidades diferentes. A área que concentra os cursos de Letras,
Lingüística e Literatura possui o maior número de trabalhos: 21 (29%). Essa vantagem
pode ser explicada pela própria predominância, como veremos a seguir, de objetos de
pesquisa ligados ao universo artístico e literário. Em seguida aparece com 14 trabalhos
(19%) a área que reúne os cursos de Ciências Sociais, Sociologia e Antropologia. Em
4
. Dados dísponíveis em <http://www.capes.gov.br/ sobre/estatisticas>.

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terceiro a área da História com 10 trabalhos (14%), acompanhado da Comunicação com 09
pesquisas (13%). O restante dos trabalhos apresenta-se disperso com na seguinte
configuração: Educação (com 03); Administração, Artes e Ciência da Motricidade (com
02); Design, Direito, Enfermagem, Filosofia, Música, Psicologia Social, Saúde Coletiva,
Serviço Social e Teatro (com 01).
Mesmo as universidades que mais produziram pesquisas de pós-graduação sobre
a temática da contracultura apresentam a dispersão relacionada às áreas de conhecimento.
Os pós-graduandos da USP produziram 13 trabalhos em 05 áreas diferentes, sendo quatro
na Comunicação. Na UFRJ houveram 09 defesas sobre o tema distribuídos em 06 áreas.
Aparecem com 05 trabalhos cada, a UFSC (todos na Letras) e a PUC-SP, e com 04 a PUC-
RJ e a UNESP/Assis (todos na História). As outras 32 defesas foram realizadas em 26
universidades diferentes espalhadas pelo país.

o
ÁREA N DE TRABALHOS PORCENTAGEM
Letras/Lingüística/Literatura 21 29%
Ciências Sociais/Sociologia/Antropologia 14 19%
História 10 14%
Comunicação 9 13%
Educação 3 4%
Outros 15 21%
Tabela 1: Produção por área de conhecimento de teses e dissertações sobre o tema da
contracultura (1986-2006).

O terceiro ponto da nossa análise consistiu na observação da tipologia dos


objetos pesquisados. Para realizar esse procedimento foi necessária a criação de categorias
para a análise. Desta forma, a partir dos resumos formulamos cinco tipologias de objetos:
artístico/literário; religiosidade; sociedade; imprensa alternativa e pensadores. É necessário
lembrar a dificuldade para construí-las, pois, em diversos trabalhos as temáticas se
entrecruzam, podendo ser encaixados em mais de uma categoria. Cada uma delas é
constituída de pelo menos três pesquisas, assim, os temas que não se enquadrassem em
nenhuma das tipologias foram alocadas na categoria outros.
O campo artístico e literário apresenta-se como o mais pronunciado, abarcando
nada menos que 62% da produção acadêmica sobre a contracultura. Englobamos nele 44
trabalhos, todos apresentando objetos ligados a manifestações artísticas ou literárias da
contracultura, seja no teatro, na poesia, na música, nas artes plásticas ou nas suas inter-

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relações. Acreditamos que a maior incidência de pesquisas nesta área seja fruto de sua
maior visibilidade. Não que tenha sido necessariamente o espaço no qual a contracultura
tenha tido maior impacto, mas sim onde as suas manifestações estão mais evidentes e por
ser um de seus principais meios de expressão. Não é sem razão que a Tropicália seja um
dos principais ícones da contracultura no país.
A esfera da religiosidade é o segundo tipo de objeto mais pesquisado com oito
trabalhos, onze por cento das pesquisas. Mesmo assim, está bem atrás em quantidade da
categoria anterior. Esse número representa o impacto que a contracultura teve pensamento
espiritual dos brasileiros. A crítica ao conservadorismo do cristianismo ocidental refletiu-se
na busca de práticas espirituais vindas do oriente – como o movimento Hare Krishna –,
xamanistas ou indígenas – como o Santo Daime –, assim como reformulações do próprio
cristianismo. As práticas new age caracterizam-se como o surgimento de uma nova
espiritualidade.
Na categoria que denominamos de sociedade foram incorporadas investigações
que continham objetos sociológicos que não se ligavam diretamente as duas categorias
anteriores (artístico e literário, e religiosidade). Na realidade, diversas pesquisas
enquadradas nos dois grupos precedentes poderiam estar presentes aqui, mas decidimos dar
prioridade, nesses casos, às características mais evidentes nos temas. Das seis defesas aqui
presentes, três realizam uma leitura mais ampla da contracultura em relação à sociedade. As
demais versaram sobre o movimento punk, o movimento ambientalista, e contracultura e
relações familiares.

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OBJETOS N DE TRABALHOS PORCENTAGEM
Artístico/literário 44 62%
Religiosidade 8 11%
Sociedade 6 8%
Pensadores 3 4%
Imprensa Alternativa 3 4%
Outros 8 11%
Tabela 2: Produção por tipologia dos objetos de pesquisa de teses e dissertações sobre o tema da
contracultura (1986-2006).

Na categoria pensadores estão presentes estudos sobre três filósofos cujos


pensamentos relacionam-se a contracultura: Herbert Marcuse, um de seus principais
fundamentadores; Cornelius Castoriadis que participou do movimento; e Friedrich

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Nietzsche e suas críticas à tradição e à cultura. Em imprensa alternativa foram enquadradas
três pesquisas sobre esta mídia underground.
Houveram, porém, uma série de trabalhos que não foram possíveis de serem
enquadrados nas categorias por nós estabelecidas. Esses trabalhos versam sobre assuntos
diversos como a medicina alternativa, as práticas corporais no campo da educação física, a
educação ambiental, valores organizacionais e significações culturais em empresas de
tecnologia e na enfermagem, e o acesso à justiça.
Podemos perceber nos dados analisados acima, além da forte concentração da
produção acadêmica em torno de objetos que tratam do universo artístico e literário, a
pluralidade presente nos estudos, abarcando várias esferas da nossa vida cotidiana.
Entendemos que tal pluralidade deve-se ao impacto que a contracultura teve nos diversos
espaços da sociedade contemporânea, não se limitando à esfera artístico-cultural. Corrobora
para este entendimento a igual pulverização das áreas de conhecimento que têm
apresentado estudos sobre a contracultura. Espalhados por áreas aparentemente
improváveis, estas pesquisas revelam o próprio caráter multifacetário e fragmentário deste
fenômeno e desses movimentos que surgiram na década de 1960 e seu impacto no
pensamento e nas práticas sociais. Por essas razões compreendemos que para o
entendimento da sociedade atual é imprescindível o estudo do fenômeno da contracultura.

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