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O Sebastianismo na obra Mensagem de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, escritor modernista do século XX,


provavelmente o maior poeta português a seguir a Luís de Camões,
transmite em Mensagem o seu maior elogio ao espírito de conquista
dos descobridores portugueses dos séculos XV e XVI.

Ainda que com necessárias diferenças, inerentes às


características dos autores em causa e à época em que foram
escritas, será legítimo fazer-se o paralelismo entre Os Lusíadas e
Mensagem, no sentido em que ambas as obras cantam, de maneiras
diversas mas com pontos comuns, a grandeza de ser português: «A
Mensagem (...) é um poema nacional, uma versão moderna,
espiritualista e poética dos Lusíadas». (António Quadros - «Fernando
Pessoa, Vida, Personalidade e Génio»).

Há mesmo estudiosos que consideram que Fernando Pessoa foi,


até hoje, quem melhor soube ler Os Lusíadas. Se Luís de Camões é o
pai da língua portuguesa, se foi ele quem passou para o papel, de
forma eloquente, o sentimento português, Fernando Pessoa é o
continuador desse caminho, incutindo-lhe o carácter único da sua
perspectiva de ver as coisas.

Esse espírito grandioso cantado por Camões e por Pessoa está


retratado em quase todos os poemas de Mensagem, mas há um,
chamado «Mar Português» que o tipifica de maneira mais acutilante:
«Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal? / Por
te cruzarmos, quantas mães choraram, / Quantos filhos em vão
rezaram! / Quantas noivas ficaram por casar / Para que fosses nosso,
ó mar!». E sobre as consequências negativas que, indiscutivelmente,
tais empresas acarretaram, o poeta não tem dúvidas: «Valeu a pena?
Tudo vale a pena / se a alma não é pequena. / Quem quer passar
além do Bojador / Tem que passar além da dor. / Deus ao mar o
perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu»

Os séculos subsequentes aos Os Lusíadas foram extremamente


penalizadores para o nosso país. Portugal foi, gradualmente,
perdendo o seu Império e, por tabela, as riquezas. No século XIX, a
situação agravou-se. Sofremos as invasões napoleónicas, ficámos
subjugados ao poderio inglês, o nosso atraso em relação aos colossos
da Europa imperialista era cada vez maior. No plano interno, a
hipocrisia de uma sociedade movida pela ganância foi superiormente
retratada em Os Maias, de Eça de Queirós. O governo monárquico
caiu em descrédito e com o ultimatum inglês (1891) o orgulho
nacional estava a sangrar de humilhação. A Geração de 70 dava-se
por vencida. Os feitos gloriosos de 300 anos antes pareciam bem
longe da realidade portuguesa do início do século XX.

Ora, é neste contexto sócio-histórico que Fernando Pessoa


escreve a Mensagem. Embora a sua grandeza como obra a torne
intemporal, a circunstância cronológica em que foi escrita vai
aumentar a importância do seu conteúdo. Com efeito, o elogio tecido
por Pessoa da ambição dos portugueses em partir à conquista de
novos mundos constituirá como que uma regeneração do orgulho
português, que estava a passar por uma... crise de identidade. Daí o
ênfase dado pelo poeta na recriação do mito, na virtude de ser
português. Pessoa eleva a insatisfação de alma como a maior virtude
dos conquistadores portugueses e assume que tem como pretensão
mitificar esse espírito português: «Desejo ser um criador de mitos,
que é o mistério mais alto que pode obrar alguém da Humanidade».

A personificação desse mito é D. Sebastião. O poeta considera-o


um «louco», mas não na acepção negativa que lhe damos, antes com
uma conotação, superior, de alguém que é louco «porque quis
grandeza / Qual a sorte não dá». Porque, para Pessoa, a loucura é
exactamente aquilo que dá ao homem a razão para existir, traduz-se
na significância que só alguns conseguem adquirir, sob pena de se
tornarem meros seres irrelevantes, caminhando comodamente para a
morte: «Minha loucura, outros que me a tomem / Com o que nela ia.
/ Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver
adiado que procria?». Mas D. Sebastião não é, por certo, um mero
cadáver adiado. Ele é o chefe dos bravos, o arquétipo do português
ambicioso que quer conquistar novas terras para engrandecer a
Nação: «Levando a bordo El-Rei D. Sebastião, / E erguendo como um
nome, ato o pendão / Do Império», lê-se em «A Última Nau», um
poema de Mensagem.

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