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1. Introdução.
Ter orgulho do Evangelho e não ter vergonha de ser “evangélico”. Parece uma frase
muito legal para hoje. Muitos artistas, esportistas, pessoas famosas e importantes dizem
ser cristãos. Mas ter orgulho do Evangelho na época de Paulo era algo totalmente
diferente. Se hoje ser “evangélico” passou a ser um status, mas naquela época era
considerado algo bizarro, estranho, burro e ilegal. Aos ouvidos das pessoas daquela
época, o Evangelho soava como uma superstição.
Numa época em que seguir o Evangelho era sinônimo de ser supersticioso, detestável,
vulgar... muitos cristãos da época, entre eles Paulo, tinham orgulho de proclamar, de
testemunhar serem cristãos. Muitos, pagaram com a própria vida o preço de seguir a
Cristo. Nesse contexto, as palavras de Paulo ganham mais cor e importância. Que hoje,
possamos sair daqui orgulhosos não apenas interiormente, mas efetivamente,
proclamando o Evangelho de Deus e testemunhando a pessoa de Cristo.
1
Pregado no MEP dia 26 de março de 2011.
2
Tácito, in BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. Aste, 1998, pág. 27.
O apóstolo Paulo desejava ir à Roma para pregar o Evangelho de Deus, as boas notícias
a respeito da vinda de Jesus, da sua obra e ressurreição. Jesus, a quem ele servia como
Senhor, rei e mestre, era a essência de toda a mensagem que carregava consigo. Não
somente isso, mas Paulo considerava-se em débito com os romanos. Pregar o evangelho
era questão de dívida, uma dívida de amor. Esse é o resumo dos primeiros quinze
versículos que vimos até agora.
Quero ler com vocês duas outras passagens onde essa mesma expressão “envergonhar-
se” aparece no Novo Testamento. O primeiro é Mc 8:38, que diz: “Quando o Filho do
Homem vier na glória de seu Pai com os santos anjos, ele também se envergonhará de
quem se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e
pecadora”. O segundo versículo é Lc 9:26: “Pois, quando o Filho do homem vier na
sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos, ele se envergonhará de quem se
envergonhar de mim e das minhas palavras”.
Baseado nesses dois versículos, podemos tirar uma conclusão. O “envergonhar-se” aqui
se refere a uma vergonha psicológica5 (como a vergonha que sentimos quando, por
exemplo, sentamos em uma cadeira e esta quebra), mas sim, está relacionado à recusa
ao testemunho, à confissão de que Jesus é o Senhor por causa de algum motivo.
Não podemos nunca dissociar o texto de seu contexto original. Estamos falando de uma
época em que o cristianismo era considerado por judeus e por romanos como uma
aberração. Os romanos pensavam que os cristãos praticavam sacrifícios humanos, por
exemplo. A proclamação do Evangelho era consideração loucura para os gregos que não
aceitavam a idéia de ressurreição. Os cristãos tinham que defender o testemunho de
Cristo com as suas próprias vidas. Paulo nos diz em 1Co 1:22,23: “Pois, enquanto os
judeus pedem sinais, e os gregos busca, sabedoria, nós pregamos Cristo crucificado,
que é motivo de escândalo para os judeus e absurdo para os gentios”.
Como diz N. T. Wright, Roma podia ser resumida em uma cidade, a própria capital, e
3
Litote: afirmação pela negação do contrário. Paulo queria dizer: “Me orgulho do Evangelho”. Cf. Bruce, pág. 65.
4
Cf. Fitzmayer, alguns manuscritos não apresentam essa expressão devido, talvez, à influência de Marcião, para
quem a primazia dos judeus era inaceitável. Pág. 447.
5
Cf. Dunn
em uma pessoa, César6. Os cristãos podiam muito bem ter cultivado sua fé apenas
debaixo das catacumbas, no oculto de seus quartos... poderiam ter sido apenas “agentes
secretos” de Cristo, como muito de nós somos hoje. Não! Paulo queria pregar
abertamente as boas notícias de Deus, mesmo que isso significasse ir contra o mundo da
época, contra Roma e contra César, a pessoa mais poderosa do Império. Ele queria
colocar em prática talvez o que o Sl 119:46 diz: “Falarei dos teus testemunhos perante
os reis e não me envergonharei”. O orgulho que ele tinha no Evangelho era capaz de
transpor todas as barreiras e dificuldades.
Essa declaração de Paulo é muito forte: o Evangelho é o poder de Deus! Paulo já havia
falado desse poder de Deus no versículo 4: “e com poder foi declarado Filho de Deus
segundo Espírito de Santidade, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso
Senhor” (A21). Quando falamos em poder, nos referimos a uma capacidade, a uma
habilidade. Quando falamos de poder de Deus, com certeza, isso diz respeito à
capacidade e habilidade sobrenatural. Pense comigo: o que faz uma pessoa deixar a sua
condição de pecado e aderir ao Evangelho? O que te fez enxergar a tua condição de
miséria para correr para os braços de Deus? Só pode ter sido pelo poder de Deus, pela
sua ação direta e soberana em tua vida!
O poder de Deus que se manifesta no Evangelho não é algo místico ou subjetivo. Não se
trata apenas de uma força, de um raio, de um fogo, de uma fumaça. Muitas pessoas
pensam que o poder de Deus se resume nessas coisas. Muito pelo contrário. O poder de
Deus é algo real e perceptível. Como tudo em Deus, seu poder é verdadeiro.
O poder de Deus se evidencia, por exemplo, na conversão das pessoas. Paulo diz em
1Co 2:4,5 “minha linguagem e pregação não consistiam em palavras persuasivas de
sabedoria, mas em demonstração de poder do Espírito, para que a vossa fé não se
apoiasse em sabedoria humana, mas no poder de Deus”. Esse mesmo poder se
manifesta também no evento pela qual mais aguardamos, que é a ressurreição: “Deus
não somente ressuscitou o Senhor, mas também nos ressuscitará pelo seu poder” (1Co
6:14).
O Evangelho, que era considerado como uma aberração pelas pessoas da época, é o
poder de Deus! Paulo nos diz em 1Co 1:14: “Pois a palavra da cruz é insensatez para
os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus”!.
O Evangelho é o poder de Deus, e como precisamos desse poder para viver essa vida!
Sem o poder de Deus nós nos tornamos totalmente vulneráveis a tudo. Meus irmãos,
6
Wright, pág. 10.
somos fracos. Não temos uma força dentro de nós que nos ajude a vencer as batalhas da
vida. Mas se nos apegarmos ao poder de Deus, com certeza, as dificuldade que hoje
consideramos grandes, poderão ser vencidas.
Cristãos sem poder são cristãos que ainda não entenderam que o Evangelho é o poder de
Deus! Paulo não se envergonhou do Evangelho, pois era o poder de Deus. Que eu e
você possamos buscar esse poder. O Verdadeiro poder de Deus sempre manifesta
através do Evangelho, nunca se esqueça disso.
Para quem esse grande privilégio é destinado? Para quem a mensagem de Jesus, o
Evangelho de Deus, tem seu alvo? Para “todo aquele que crê”. A fé não é apenas um
ato inicial pela qual fomos salvos. Muito além disso, a fé “é uma orientação contínua,
uma motivação para a vida”7. O Evangelho de Deus é recebido pela fé, vivido pela fé e
consumado pela fé.
7
Cf. Dunn, pág. 40.
A prioridade dos judeus nos planos de salvação de Deus não significavam que só os
judeus mereçam ser salvos. Graças a Deus que o Evangelho não se destina apenas aos
judeus, mas também aos gregos, ou seja, todos os gentios, o que inclui a todos nós.
Paulo tem na sua mente esses dois tipos de grupos que formavam a igreja no seu início:
os judeus convertidos ao cristianismo e os gentios que aceitaram Jesus em seus corações.
O que torna judeus e gentios em um só povo? É a fé! O Pr. John Sttot disse: “o grande
nivelador é a fé que salva e que é resposta exigida pelo evangelho”8.
O Evangelho abrange todos! Embora houvesse uma ordem, primeiro os judeus e depois
os gregos, o resultado final é aquilo que sempre foi sonho de Deus: ser conhecido por
todas as pessoas. Todos são convidados a fazerem parte do Reino de Deus.
Será que não vale nos orgulharmos desse Evangelho tão glorioso?
Conclusão:
Meus irmãos, o Evangelho é a maior preciosidade que temos em mãos! Por mais
absurdo que o mundo pense a seu respeito, é o poder de Deus para a salvação de todos
aqueles que humildemente se submetem a Ele pela fé. Enquanto o mundo se
envergonha de Jesus, nós nos orgulhamos no Seu Evangelho!
Podemos dizer que existem duas razões de Paulo querer tanto pregar o Evangelho, tanto
em Roma, mas em qualquer lugar onde ele fosse: primeiramente, o senso de
obrigatoriedade uma vez que Paulo tinha uma dívida não paga para com o mundo, que
era a proclamação do Evangelho. Também, Paulo queria pregar o evangelho segundo
um senso de convicção: o Evangelho era o poder de Deus para salvar as pessoas. Como
Sttot sintetiza: “Não me envergonho… Sou devedor… Por isso estou pronto a pregar o
Evangelho ao mundo9”.
Tenha orgulho do Evangelho de Deus! Pois é o poder de Deus para a salvação! Você crê
nisso? Você tem fé nesse Deus?
Eu amo o Evangelho porque ele nos mostra como Deus nos ama e de como Ele veio nos
salvar… de como Jesus é precioso e de como vale a pena viver Nele.
Mais uma vez: “Eu não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a
salvação de todo aqueles que crê, primeiro do judeu e também do grego”. Amém.
8
Cf. Sttot, pág. 64.
9
Ibid. pág. 65.