Vous êtes sur la page 1sur 28

INSTITUTO EDUCAR Literatura

Aluno(a)................................................. Série: 5ª/6º ano - Turno: ............................

A magia de ler
Giovana Mendhes

O título já não importa...


1
Viajando nas palavras,
Vivendo uma história...
Ficção e realidade misturadas...
A cada linha uma nova
descoberta...
Uma viajem na máquina do
tempo,
Séculos, décadas passadas,
Reviver o passado...
Futuro desvendado,
Descobertas...
Sentimentos, despertam a todo
momento...
Ira, amor, paixão...
Ódio, egoísmo, lágrimas de emoção...
Levados pela retina,
Através de cada capítulo,
À lugares e momentos tão reais,
Que quase se pode tocar...
A música pode ser ouvida,
Os aromas sentidos,
E até ficam no ar...
Prazer imenso,
Instantes intensos...
Olhos ávidos,
Pensamentos absorvidos...
Entregando-se ao fascínio,
Rompendo limites,
Vivendo a magia de ler um livro...

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
INTRODUÇÃO À LITERATURA Evolução do livro
Origem Não resta dúvida que os livros mais antigos são as paredes das
A literatura está ligada a escrita, portanto sua origem se perde no cavernas. Era o único lugar disponível em que o homem deixaria
tempo. Não há um único marco histórico do surgimento da escrita, registrada a sua passagem pelo mundo.
pois ela aconteceu de forma gradual inicialmente através de símbolos, Os textos mais antigos que existem são os que compõem "O livro dos
mas acredita-se que surgiu em 3.000 a.C. no Oriente. Mortos". Eram escritos em papiro (uma planta) e guardados em potes
Desde que apareceu o ser humano, ele teve vontade de deixar de barros ou estojos de madeira. O segundo material usado foi a argila
resquícios de sua passagem pelo mundo. O homem sempre quis deixar na Mesopotâmia. Escrevia-se em placas de barro, de um lado e outro.
sua marca para as futuras gerações, mostrando como ele fazia para Estas placas eram queimadas nos fornos. Estava pronto o livro.
caçar, mostrar seus feitos, seu heroísmo, sua força, dinamismo, Escreviam-se textos políticos, comerciais, religiosos numa escrita - 1 -
coragem. Também quis mostrar como eram o seu povo, os animais, o cuneiforme. A reunião destas placas formou bibliotecas. Foram
meio ambiente da época. encontradas bibliotecas com mais de 500 mil obras. Através destas
placas ficamos sabendo da existência real da cidade de Nínive e do rei
Assurbanipal no ano 650 a.C..Também descobrimos que houve um
O que é Literatura? florescimento da literatura nessa cidade.
A palavra Literatura vem do latim "litteris" que significa "Letras", e Na China a produção escrita aconteceu bem mais tarde. Eles usavam
possivelmente uma tradução do grego "grammatikee". Em latim, tábuas de madeira, escritas da esquerda para a direita e de cima para
literatura significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou baixo. Mais tarde passaram a escrever em seda e no princípio do
habilidades de escrever e ler bem. século II da era cristã, os chineses inventaram o papel.
Assim como a música, a pintura e a dança, a Literatura é considerada Outro modelo antigo era o uso de pergaminhos. Trata-se da retirada
uma arte. Através dela temos contato com um conjunto de do couro do carneiro e depois de trabalhado, ele ficava como se fosse
experiências vividas pelo homem sem que seja preciso vivê-las. A um magnífico papel. Este tipo de material ainda é usado hoje em
Literatura é um instrumento de comunicação, pois transmite os diplomas do curso superior.
conhecimentos e a cultura de uma comunidade. O texto literário nos O livro evoluiu muito na idade média. Tudo era transmitido através
permite identificar as marcas do momento em que foi escrito. As dos livros. Gutenberg inventou uma prensa na idade média, imprimiu
obras literárias nos ajudam a compreender nós mesmos, as mudanças a primeira bíblia e o processo de formação do livro atual estava
do comportamento do homem ao longo dos séculos, e a partir dos pronto.
exemplos, refletir sobre nós mesmos. A literatura procura mostrar o
valor de um povo, seu sofrimento, seus anseios, alegrias, a descrição
do país, suas lendas, crendices, tradições, etc. Você sabia?
O que pensariam as pessoas do ano 3 mil sobre o mundo de hoje? O brasileiro lê, em média 4 livros por ano contra 10 nos EUA ou na
Como é que eles imaginariam nossa existência? Comíamos o quê? França.
Falávamos como? Andávamos nus? Havia assassinato, roubos? Éramos A Unesco ( Organizações das Nações Unidas para a Educação, a
amáveis com nossos irmãos? A literatura que fizermos hoje mostrará a Ciência e a Cultura) recomenda que haja uma livraria para cada 10
eles a nossa realidade. mil pessoas .No Brasil ,com 190 mil habitantes,temos 2.700 livrarias
Todos os países possuem e possuíram uma literatura. Assim temos a uma para cada 70 mil habitantes.
literatura grega, a latina, a italiana, a brasileira. Fonte : Jornal do senado
Quem, por exemplo, já não ouviu falar em Romeu e Julieta, Branca de Leitura boa...
Neve, Chapeuzinho Vermelho, Rei Édipo, Os Três Mosqueteiros? Abençoado Seja
Não teríamos nada disso se não fosse a literatura. Leda Maria

Por que estudar Literatura? Livro na sala de aula P'ros cantos da minha alma
A literatura é a continuação da língua. É a língua aperfeiçoada, Livro no pátio, na varanda Onde ninguém nunca vai.
instrumento de beleza. Quando vamos ao cinema, vamos nos divertir, Livro na mão Livros
relaxar, passar momentos de lazer e adquirir um mínimo de Livro na alma De história...
conhecimentos também. O mesmo acontece com a literatura, mas ela Livro no coração. De estudo...
é bem mais do que isto. O que seria da história sem a literatura? E o Livro tem cheiro, tem gosto, Livro de poesia...
seu filme preferido? E a sua novela? E o seu teatro? Estes trabalhos Ruído, melodia, De tudo!
precisam primeiramente ser escritos e só depois transformados em Ritmo, canção, Abençoado seja,
outro tipo de arte. Verdade, fantasia, brincadeiras, Livro meu,
Se não fosse a literatura, hoje seríamos todos ateus. Graças a Bíblia, Suspense, intriga, ação. De cada dia!
que é um conjunto de obras literárias, hoje temos uma religião. Se não Livro de reza, de estudo,
fosse a literatura desconhecíamos a existência de cidades como a De amor, de tragédia,
Babilônia,Tróia e outras. Vários textos literários falam de um Livro de receitas de cozinha,
continente chamado Atlântida. Um dia a Arqueologia pode Livro p'ra ler a vida,
redescobri-la. A Bíblia nos fala de duas cidades: Sodoma e Gomorra Livro p'ra curar a dor.
que ainda não foram encontradas. Livro me acalma
Como é que sabemos dos usos e costumes dos povos antigos? Só Me pega no colo
através da literatura. Me leva p'ro espaço infinito

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Só por curiosidade... - A impressão offset é desenvolvida a partir dos anos 20 do século
A prensa de Gutenberg XX. Ela usa técnicas da fotografia e hoje é o modo mais comum
Em meados de 1455, o ourives de imprimir livros, folhetos, revistas...
alemão Johannes Gutenberg - As impressoras para computadores domésticos começam a se
realizou seu grande sonho. popularizar nos anos 80. Ficou muito mais fácil e acessível
Após anos de pesquisas e imprimir documentos, gráficos, desenhos... Já pensou como
trabalho duro, pegou nas mãos Gutenberg ficaria admirado com tudo isso?
seu trunfo em forma de livro,
A importância da leitura
impresso com uma técnica
inédita e infalível: a prensa de A melhor forma de obter conhecimento é cercar-se de bons livros. As - 2 -
tipos móveis. A técnica de tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas
impressão com moldes não era deixassem a leitura de livros de lado, isso resultou em jovens cada vez
novidade – já tinha sido mais desinteressados pelos livros, possuindo vocabulários cada vez
iniciada havia 14 séculos na China por meio da impressão de mais pobres. A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser
gravuras. Mas, agora, com a criação de Gutenberg, que moldara os humano, pois é através dela que podemos enriquecer nosso
tipos em um material bem mais resistente e durável que os usados vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a
pelos chineses, ela ficava muito mais eficaz e rápida. A impressão interpretação. Muitas pessoas dizem não ter paciência para ler um
em massa, possibilitada a partir daí, transformaria a cultura livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura
ocidental para sempre. Antes dela, cada cópia de livro exigia um fosse um hábito rotineiro as pessoas saberiam apreciar uma boa obra
escriba – que escrevia tudo a mão, página por página. Em 1424, literária, por exemplo. Muitas coisas que aprendemos na escola são
por exemplo, a Universidade de Cambridge, no Reino Unido, esquecidas com o tempo, pois não as praticamos, através da leitura
possuía apenas 122 livros – e o preço de cada um era equivalente rotineira tais conhecimentos se fixariam de forma a não serem
ao de uma fazenda ou vinícola. esquecidos posteriormente. Dúvidas que temos ao escrever poderiam
A partir do feito, a informação escrita deixou de ser exclusividade ser sanadas pelo hábito de ler, talvez nem as tivéssemos, pois a leitura
dos nobres e do clero. Até 1489, já havia prensas como a dele na torna nosso conhecimento mais amplo e diversificado. Durante a
Itália, França, Espanha, Holanda, Inglaterra e Dinamarca. Em leitura descobrimos um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas.
1500, cerca de 15 milhões de livros já haviam sido impressos. O hábito de ler deve ser estimulado na infância, para que o indivíduo
aprenda desde pequeno que ler é algo importante e prazeroso, assim
com certeza ele será um adulto culto, dinâmico e perspicaz. Saber ler e
Retrô Literário compreender o que os outros dizem nos difere dos animais
irracionais, pois comer, beber e dormir até eles sabem, é a leitura que
Da pedra à impressora laser
proporciona a capacidade de interpretação.
- Em 1799, foi descoberta uma pedra com letras muito estranhas,
na cidade de Roseta, Egito. Era a escrita hieroglífica, usada no Ler para quê?
Egito durante 3 mil anos e que por muito tempo permaneceu Ler propicia o aumento da capacidade de argumentação, de persuasão,
como um mistério sem tradução. Graças à Pedra de Roseta, o de desenvolvimento da linguagem, da criatividade, de rapidez de
francês Champollion conseguiu decifrar em 1822 a linguagem dos raciocínio, de poder de síntese, de clareza na exposição de idéias, e, é
hieróglifos egípcios. Porque na pedra estava gravado o mesmo claro, da compreensão da realidade à nossa volta e do mundo em que
texto – uma lei – também em grego antigo. Com isso, vivemos, a leitura é um dos mecanismos mais eficientes para a
Champollion pode comparar as duas línguas e decifrar o mistério aquisição de informações e conhecimentos.
que intrigou tanta gente durante tanto tempo. " Um país se faz com homens e livros." ( Monteiro Lobato)
- O papel foi inventado pelos chineses por volta do ano 100 d.C.
Dali, espalhou-se pelo Oriente. Até o século 13, a Europa "O maior acontecimento da minha vida, foi, sem dúvida, a biblioteca
importava o papel que precisava para escrever. (Ele ainda não era de meu pai" (Jorge Luís Borges)
usado para fins higiênicos). "Oh, Bendito o que semeia
- De onde vem o papel? Da madeira! Mais precisamente, da fibra Livros... livros à mão cheia...
de celulose, material que constitui as plantas. A parte mais usada é E manda o povo pensar!
a casca das árvores. O livro caindo n´alma
- Talvez você já tenha ouvido falar do papiro, em algum filme de É gérmen - que faz a palma
época ou na aula de História. Inventado no Egito Antigo, era um É chuva - que faz o mar."
tipo de papel feito da planta Cyperus Papyrus, que cresce perto (Castro Alves - O Livro e a América)
do rio Nilo.
- Até o século 11, todo mundo só escrevia a mão. Como não Atividade de Fixação
existia caneta (não dava para comprar uma Bic ali na esquina), 1. Quando a Literatura teve inicio?
usavam-se penas de animais molhadas em tintas vegetais. 2. O que é Literatura?
- Os chineses (de novo eles!) inventaram um jeito de imprimir 3. Qual a importância da Literatura?
letras no papel. Dizem que no século 8 chegaram a fazer 1 milhão 4. Por que a Literatura é um instrumento de comunicação?
de cópias de textos religiosos. No século 11, os chineses 5. Por que o filme, a novela e o teatro, por exemplo, precisam
começaram a usar blocos de madeira para reproduzir os textos. ser transformados primeiramente em literatura?
6. O que quer dizer a frase ―Não resta dúvida que os livros mais
- Já em 1430 (século 15), o alemão Gutenberg inventou uma antigos são as paredes das cavernas.‖?
máquina para fazer livros. Cada letra ou sinal de pontuação era 7. Qual o texto mais antigo?
uma peça de metal, molhada com tinta.
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
EXTRA!! correu pros meninos. De um lado Tuísca, de outro lado Rosinha.
Faça, em seu caderno, uma Pesquisa sobre o Livro dos Mortos. Rodando na praça, a cantar e a dançar." (Gabriela, cravo e canela, de
Jorge Amado)
8. Quais os materiais usados para a confecção dos livros?
9. O que é Pergaminho? d. No rio caudaloso que a solidão retalha,
10. Qual a importância da prensa de Gutenberg para a literatura? na funda correnteza na límpida toalha,
11. Qual a importância da leitura para o aprendizado? deslizam mansamente as garças alvejantes;
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes
embalam-se avezinhas de penas multicores
A Linguagem literária e Não literária pejando a mata virgem de cânticos de amores; - 3-
A linguagem literária é bem diferente da linguagem não-literária. mais presa de uma dor tantálica e secreta
A linguagem literária é bela, emotiva, sentimental, Apresenta traços de dia em dia murcha o louro do poeta! ...
que precisa ser descoberto através de uma leitura atenta. (Fagundes Varela)
A linguagem não-literária é própria para a transmissão do
conhecimento, da informação, na área das necessidades da
comunicação social. É a língua empregada pela ciência, pela técnica, Texto Literário e Não literário
pelo jornalismo, pela conversação entre os falantes. Para considerar se um texto é ou não literário, é preciso analisar sua
Podemos estabelecer o seguinte confronto entre as duas formas: função predominante, isto é, qual é seu objetivo principal.
Se for informar de modo objetivo, de acordo com os conhecimentos
L. LITERÁRIA L. NÃO-LITERÁRIA que se tem da realidade exterior, ou se tiver um compromisso com a
Possui vários significados É clara, exata verdade científica, o texto não é literário.
Conotação denotação Já o texto literário não tem essa função nem esse compromisso com a
Sugestiva precisa realidade exterior: é expressão da realidade interior e subjetiva de seu
Transformação da realidade realidade autor. São textos escritos para emocionar, que utilizam a linguagem
Subjetiva objetiva poética.
São esses os critérios que devemos considerar ao analisar e classificar
um texto em literário e não-literário.
Atividade de Fixação
1. Responda: Exemplos de textos não-literários são: notícias e reportagens
a) Em que se assemelham um pintor, um músico e um escritor? jornalísticas, textos de livros didáticos de História, Geografia,
b) Um texto literário pode ser produzido com palavras simples do Ciências, textos científicos em geral, receitas culinárias, bulas de
dia-a-dia? Por quê? remédio.
c) Por que a literatura é importante? Comente.
2. Leia os trechos abaixo e diga que linguagem foi empregada. Exemplos de textos literários são: poemas, romances literários, contos,
Justifique-a: novelas.
a. Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil pelos
colonizadores portugueses no século XVI. A região que durante Atividade de Fixação
séculos foi a grande produtora de cana-de-açúcar no Brasil é a Zona 1. Pesquise pelo menos um texto literário e outro não literário.
da Mata nordestina. Atualmente, o maior produtor nacional de cana- 2. Quais os critérios que devemos analisar para saber se um texto é ou
de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco, Alagoas, Rio de não literário?
Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir o açúcar, que em parte é 3. Diga se os textos abaixo são literários ou não literários:
exportado e em parte abastece o mercado interno, a cana serve
também para a produção de álcool, importante nos dias atuais como a) "Sentia um medo horrível e ao mesmo tempo desejava que um
fonte de energia e de bebidas. A imensa expansão dos canaviais no grito me anunciasse qualquer acontecimento extraordinário. Aquele
Brasil, especialmente em São Paulo, está ligada ao uso do álcool como silêncio, aqueles rumores comuns, espantavam-me. Seria tudo ilusão?
combustível. Findei a tarefa, ergui-me, desci os degraus e fui espalhar no quintal os
fios da gravata. Seria tudo ilusão?... Estava doente, ia piorar, e isto me
b. Um incêndio, possivelmente provocado por um curto-circuito, alegrava. Deitar-me, dormir, o pensamento embaralhar-se longe
destruiu no início da madrugada de ontem um prédio de quatro daquelas porcarias. Senti uma sede horrível... Quis ver-me no espelho.
andares na Rua Teófilo Otoni, 38, no Centro. O fogo começou no Tive preguiça, fiquei pregado à janela, olhando as pernas dos
primeiro andar, onde funcionava uma empresa especializada na venda transeuntes." (Graciliano Ramos)
e fabricação de componentes eletrônicos, a Mec Central. O prédio era b) "Amigo Americano é um filme que conta a história de um casal
de construção antiga e estava em obras; como havia grande quantidade que vive feliz com o seu filho até o dia em que o marido suspeita estar
de madeira estocada, a propagação do fogo foi rápida. A ação dos sofrendo de câncer."
bombeiros evitou que prédios vizinhos fossem atingidos pelas chamas. c) "Se um dia você for embora
Não houve feridos. Ria se teu coração pedir
Chore se teu coração mandar." (Danilo Caymmi & Ana Terra)
c. "Gabriela ia andando, aquela canção ela cantara em menina. Parou a e) "Olá, como vai?
escutar, a ver a roda rodar. Antes da morte do pai e da mãe, antes de ir Eu vou indo e você, tudo bem?
para a casa dos tios. Que beleza os pés pequeninos no chão a dançar! Tudo bem, eu vou indo em pegar um lugar no futuro e você?
Seus pés reclamavam, queriam dançar. Resistir não podia, brinquedo Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo..."
de roda adorava brincar. Arrancou os sapatos, largou na calçada, (Paulinho da Viola)

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Poema e poesia tem diferença??
Prosa e Poema Apesar de serem tratadas por muitos como sinônimos, há diferença
Os textos literários dividem-se em duas partes: prosa e poesia. Qual a entre elas:
diferença? O que nasceu primeiro? Poesia: Linguagem que emociona, toca a sensibilidade
O poema tem linguagem subjetiva, é o mundo interior do poeta. É Poema: obra em verso em que há poesia.
um texto curto onde sobressai a beleza, a harmonia e o ritmo. A Ou seja: O poema é a obra e a poesia é a linguagem!
poesia é a mais velha composição do mundo.
Com o surgimento do livro em placas de argila, começaram também Leitura Boa...
as primeiras aulas. Tudo teria que ser decorado, pois não havia O que você acha que é preciso para ser um poeta?
material onde escrever tudo e a toda hora. Nas casas-escolas, os alunos - 4-
Leia e descubra o que é ser um poeta.
decoravam os poemas com os conhecimentos, números, gramática,
etc. O milagre da poesia - Sergio Vaz
Com os livros de argila e o uso de poemas, poderiam transmitir muita Sou poeta,
coisa com pouco material. Estes livros ficavam nas bibliotecas, já que E como poeta posso ser engenheiro
não se poderia carregar um livro de dez quilos pra lá e pra cá. E como engenheiro
Prosa é a linguagem objetiva, usual. A prosa pode ser escrita de Posso construir pontes com versos
diversas formas como: romances, crítica, novela, conto, etc.Vejamos as Para que pessoas possam passar sobre rios,
diferenças entre um texto em forma de poesia e outro em forma de Ou apenas servir de abrigo aos indigentes.
prosa: Sou poeta,
E como poeta posso ser médico
POEMA: Sobre a soleira da porta E como médico
da casa pegada à minha Posso fazer transplantes de coração
vejo sentada, a vizinha Para que pessoas amem novamente,
moça e bonita, que importa? Ou simplesmente receitar poemas
(Vicente de Carvalho) Para tristezas com alergias
E alegrias sem satisfação.
PROSA: Sou poeta,
Pero Vaz de Caminha tornou-se figura importante no E como poeta posso ser operário
descobrimento do Brasil por haver escrito uma carta ao rei D. Manuel E como operário
relatando os acontecimentos ocorridos com a expedição desde a Posso acordar antes do sol e dar corda no dia,
partida da Europa até o dia 1º de maio de l500. E quando a noite chegar, serena e calma,
Temos muitas diferenças entre estes dois textos: Descansar a ferramenta do corpo
No consolo da família, autopeças de minha alma.
No primeiro temos: Sou poeta,
1.Frases curtas; E como poeta posso ser um assassino
2.Destaque para a beleza dos versos; E como assassino posso esfaquear os tiranos
3.Uso de rimas: Porta/importa, minha/vizinha; Com o aço das minhas palavras
4.Texto escrito em forma de versos. E disparar versos de grosso calibre na cabeça da multidão
Sem me preocupar com padre, juiz ou prisão.
No segundo temos: Sou poeta,
1.Frases longas, num só período; E como poeta posso ser Jesus
2.Não há beleza no texto, somente a informação; E como Jesus
3.Texto objetivo: transmitir uma mensagem; Posso descrucificar-me,
4.Texto escrito em forma de parágrafos. E sem os pregos nas mãos e os fanáticos nos pés
Atividade de Fixação Andar livremente sobre terra e mar
1. O que é Prosa? Recitando poesia em vez de sermão.
2. O que é Poesia? Onde não tiver milagres
3. Qual a mais velha composição do mundo? Ensinar o pão
4. Em quais tipos de texto a prosa é usada? Onde faltar a palavra
Repartir a ação.
Complementando... Sobre o autor...
Elementos do poema Sergio Vaz é um poeta paulista que deu origem ao Cooperifa, um
Assim como toda a obra literária, a poesia tem os seus que devem projeto de sarau no bar do Zé Batidão, na Piraporinha, Zona Sul de
ser observados. São Paulo. Lançou um Livro pela editora Global de tótulo
Verso ―Colecionador de Pedras‖.
É cada linha do poema.
Estrofe Ser poeta - Florbela Espanca
Parte de um poema consistindo de uma série de linhas ou versos. Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Rima Do que os homens! Morder como quem beija!
É a repetição de um som vocálico ao final de um verso para dar É ser mendigo e dar como quem seja
ritmo ao poema. Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
É ter de mil desejos o esplendor Conto e Crônica, fábula e lenda
E não saber sequer que se deseja! Todos esses tipos de textos são narrativos, ou seja, conta um fato, seja
É ter cá dentro um astro que flameja, ele fictício ou real.
É ter garras e asas de condor! A Crônica é feita sobre um fato real, fala sobre coisas acontecidas ou
exprime ideias e opiniões do autor sobre esses fatos, já o Conto é
É ter fome, é ter sede de Infinito! imaginário, fantasioso.
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... A fábula é um texto fantasioso onde os personagens, geralmente
É condensar o mundo num só grito! animais e objetos, ganham características humanas. No final nos é
apresentada uma moral a fim de nos ensinar alguma coisa, enquanto
E é amar-te, assim perdidamente... as lendas são textos fantasiosos transmitidos pela tradição oral através - 5 -
É seres alma, e sangue, e vida em mim dos tempos. De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas combinam
E dizê-lo cantando a toda a gente! fatos reais e históricos com fatos irreais que são meramente produto
Sobre a autora... da imaginação humana.
Florbela d'Alma da Conceição Espanca, natural de Portugal, tem hoje
seus versos admirados em todos os cantos do mundo, diferentemente Elementos do texto
do que aconteceu quando ainda viva, época em que foi praticamente Ao falarmos em narração, logo nos remete à ideia do ato de contar
ignorada pelos apreciadores da poesia e pelos críticos de então. Os histórias, sejam estas verídicas ou fictícias. E para que essa história
dois livros que publicou, por sua conta, em vida, foram "O Livro das seja dotada de sentido, ela precisa atender a critérios específicos no
Mágoas" (1919) e "Livro de "Sóror Saudade" (1923). Às vésperas que se refere aos seus elementos constitutivos. Dentre eles destacam-
da publicação de seu livro "Charneca em Flor", em dezembro de se:
1930, Florbela pôs fim à sua vida. Tal ato de desespero fez com que o Espaço - É o local onde acontecem os fatos, onde as personagens se
público se interessasse pelo livro e passasse a conhecer melhor a sua movimentam.
obra. Dizem os críticos que a polêmica e o encantamento de seus Tempo - Caracteriza o desencadear dos fatos. É constituído pelo
versos é devida à carga romântica e juvenil de seus poemas, que têm cronológico, que, como o próprio nome diz, é ligado a horas, meses,
como interlocutor principal o universo masculino. anos, ou seja, marcado pelos ponteiros do relógio e pelo calendário. O
Texto extraído do livro "Sonetos", Bertrand Brasil - Rio de Janeiro, outro é o psicológico, ligado às lembranças, aos sentimentos interiores
2002, pág. 118. vividos pelos personagens e intrinsecamente relacionados com a
característica pessoal de cada um.
Como o poeta escreve?
Ao escrever, o poeta observa o mundo, suas Personagens - São as peças fundamentais, pois sem elas não haveria o
características e acontecimentos em seu tempo e próprio enredo. Os personagens que se destacam pelos atos heróicos,
cria uma opinião. Em seguida, a partir do que são chamados de personagens principais ou primários, outras que são
sente e pensa, ele escreve sua obra. opostos ao personagens principal são os antagonistas, e os
O que é o mundo exterior? O espaço em que secundários, que não se destacam tanto quanto os primários,
vivemos. O que é o mundo interior? Os sentimentos do poeta. funcionando apenas como suporte da trama em si.
Foco narrativo: É a visão do autor na história e pode ser de 3 tipos:
Narrador - Aquele que somente conta a história
Mania de escrever Narrador-personagem - Ele conta e participa dos fatos ao mesmo
Que tal sermos poetas? tempo. Neste caso a narrativa é contada em 1ª pessoa.
Agora que você já descobriu o que é ser um poeta , que tal colocarmos Narrador-observador - Apenas limita-se em descrever os fatos sem se
isso é prática? envolver com os mesmos. Aí predomina-se o uso da 3ª pessoa.
Vamos criar um folheto de poesias. Siga os passos e boa escrita!! Narrador Onisciente - Esse sabe tudo sobre o enredo e os
1º passo: Planeje sobre o que vai escrever...Pode ser sobre seus personagens, revelando os sentimentos e pensamentos mais íntimos,
sentimentos, sobre um acontecimento.. de uma maneira que vai além da própria imaginação. Muitas vezes sua
2º passo: Lembre do conceito de linguagem literária e dos elementos voz se confunde com a dos personagens.
do poema. Todos estes elementos correlacionam entre si, formando o que
3º passo: ESCREVA!! Coloque sua criatividade no papel. denominamos de enredo, que é o desencadear dos fatos, a essência da
4º passo: Ilustre sua poesia. Procure fazer desenhos que tenham a ver história, a qual se constituirá para um desfecho imprevisível que talvez
com seu poema. não corresponderá às expectativas do leitor. Este, portanto, poderá
PRESTE ATENÇÃO NA ESCRITA!! ser triste, alegre, cômico ou trágico, dependo do ponto de vista do
narrador.

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Textos e Poemas para análise e estudo Ao entardecer, sentiu saudades da Mãe D’Água e foi até a beira da
Iª unidade praia. Lá estava seu velho barquinho, antes desaparecido. O pescador
Prosa entrou nele e tomou o rumo do quebra-mar.
Texto 01 De repente uma grande onda o envolveu e seu pensamento foi:
– Será que tudo vai acontecer de novo?
Acontece para quem acredita
Edy Lima
Era um jovem pescador muito pobre, que vivia sozinho numa praia Compreendendo o texto...
distante. Tinha um pequeno barco em que saía à noite para pescar e, 1. Qual o tipo de texto?
no dia seguinte, vendia os peixes no povoado mais próximo. Certa vez 2. Identifique seus elementos. -6-
uma onda enorme tragou o barquinho, mas, na manhã seguinte, 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no
acordou em sua cabana miserável e viu que tudo era como sempre dicionário.
tinha sido. Veio à sua lembrança uma bela moça que o socorrera em 4. O que começou errado no casamento dos personagens?
meio às águas e o carregara para seu palácio no fundo do mar. Nesse 5. Que palavras foram ditas pelo pescador e que a Mãe D’Água o
momento, riu de si mesmo e disse alto: proibiu de dizer?
– Você sonhou com a Mãe D’Água. Foi só. 6. O que resolveram fazer para ficarem felizes?
Levantou-se para ir tomar água, sua garganta queimava de sede. 7 Você modificaria a história? Justifique
Quando ergueu a caneca para beber viu um anel brilhando em seu
dedo. Texto 02
– Que é isso? A Professora de Desenho
De repente se lembrou de uma cerimônia em que ele recebera aquele Marcelo Coelho
anel, no palácio no fundo do mar. Falando a verdade, escola é uma chatice.
Uma coisa dessas não podia ter acontecido. Mas o anel continuava Pelo menos a minha era uma chatice. Essa
um mistério. Em seguida sentiu uma dúvida terrível: e se estivesse história de aprender tabuada, fazer prova,
morto? O jeito era se olhar no espelho, pois ouvira contar que lição de casa... eu não gostava. Ficava feliz
fantasmas não refletem imagem. Claro que era tão pobre que nem quando aparecia uma gripe. Existe coisa
tinha espelho em casa. E se quando fosse vender o peixe no povoado, melhor? Eu juntava todos os brinquedos em
se olhasse no espelho da barbearia? Será que tinha pescado alguma cima da cama. Traziam revistinhas.
coisa? Só se lembrava daquela onda gigante que engolira seu barco. Chocolates. Televisão no quarto. Era
Correu até a praia e não viu o barco. Quem estava lá era a linda moça ótimo.
que o salvara na hora do naufrágio. Disse que a escola era muito chata, mas
Ela sorriu e disse: esqueci de uma coisa: as aulas de desenho.
– Você não quis ficar na minha casa, vim morar na sua, afinal agora Essas eram legais.
somos casados. Disse isso e estendeu a mão para ele. Toda sexta-feira, depois do recreio, a dona
Ele viu então que ela usava um anel igual ao que brilhava em seu dedo. Marisa (naquele tempo a gente não
Respondeu: chamava a professora de ―tia‖, nem usava
– Venha. só o nome dela, sem nada, assim: ―Marisa‖; tinha de ser ―dona
Caminharam abraçados e, ao chegarem ao lugar onde ficava a cabana, Marisa‖) – enfim, a dona Marisa saía da sala, e entrava a professora
ela não existia mais. Lá, agora, erguia-se um palácio e havia gente de desenho. A dona Andréia.
entrando e saindo. A dona Marisa era meio gorducha, usava coque no cabelo e se pintava
A moça disse: feito louca. Batom. Sombra azul nos olhos. Meio perua. Eu não
– É o meu povo das águas. gostava da dona Marisa.
De repente, ele notou que estava vestido com roupas luxuosas em vez Mas aí entrava a professora de desenho. A dona Andréia era mocinha.
dos trapos de antes. Sem dúvida a Mãe D’Água o escolhera para Tinha cabelos castanhos. Lisos e compridos.
marido e não havia força humana que pudesse mudar isso. A aula de desenho era uma farra. A gente abria os cadernos, que não
Viveram felizes por algum tempo. Mas, se ele não tinha gostado de tinham linhas, só folhas de papel em branco, para a gente fazer o que
morar no palácio no fundo do mar, ela começou a se cansar de viver quisesse. Podia. Dona Andréia deixava.
em terra firme. Ficava horas diante do mar rodeada por seu povo das Ela era linda.
águas. O palácio permanecia abandonado. Ninguém cuidava de nada, Um dia, ela se atrasou. O tempo ia passando, e ela não chegava. Todo
tudo era deixado na maior desordem. mundo estava louco para ter aula de desenho.
Um dia ele pronunciou as palavras fatais que ela o proibira de dizer Por que será que ela estava atrasada?
em qualquer circunstância. Nessa idade, a gente sabe muito pouco da vida dos adultos. Talvez a
– Arrenego o povo do mar! dona Andréia tivesse brigado com o namorado. Pode ser que o diretor
Era o que todos esperavam para voltar às profundezas do oceano. da escola tivesse dado uma bronca nela. Vai ver que tinha alguém
Suas palavras valeram como sinal para a debandada. doente na família.
A moça e todos os serviçais foram cantando para dentro do mar e Mas a gente não queria saber de nada. Só queria ter aula de desenho.
sumiram nas águas. Foi quando a dona Andréia apareceu. Todos nós ficamos contentes.
O pescador olhou para si mesmo e viu que suas roupas de luxo Não foi só contente. Foi uma espécie de alegria total, de gritaria, de
também tinham sumido. Estava outra vez vestido de trapos. Quando explosão.
voltou para casa, só encontrou o casebre de antes, não havia nem Ela entrou na classe.
rastro de algum palácio. Alguém gritou:
- É a Andréia!
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Não era o jeito certo de falar. Tinha de dizer ―dona Andréia‖. Mas Texto 03
àquela altura ninguém estava ligando. Todo mundo começou a gritar: A dança do arco-íris
- É a Andréia! É a Andréia! Recontada por João Anzanello Carrascoza
O berreiro foi ganhando ritmo. Como se fosse torcida de futebol. Há muito e muito tempo, vivia sobre uma planície de nuvens uma
- AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA! tribo muito feliz. Como não havia solo para plantar, só um
Parecia um jogador entrando em campo. Ou um cantor de rock. emaranhado de fios branquinhos e fofos como algodão-doce, as
- AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA! pessoas se alimentavam da carne de aves abatidas com flechas, que
Ela começou ficando alegre com a zoeira. Deu um sorriso. O sorriso faziam amarrando em feixe uma porção dos fios que formavam o
dela era lindo. chão. De vez em quando, o chão dava umas sacudidelas, a planície
- AN-DRÉ-IA! inteira corcoveava e diminuía de tamanho, como se alguém - 7 -
Depois, ela ficou um pouco assustada. Não estava entendendo a abocanhasse parte dela.
bagunça. Certa vez, tentando alvejar uma ave, um caçador errou a pontaria e a
- AN-DRÉ-IA! flecha se cravou no chão. Ao arrancá-la, ele viu que se abrira uma
Foi então que eu vi. Ela começou a chorar. fenda, através da qual pôde ver que lá embaixo havia outro mundo.
E saiu da sala. Espantado, o caçador tampou o buraco e foi embora. Não contou sua
Na hora, não entendi. descoberta a ninguém.
Fiquei pensando. Na manhã seguinte, voltou ao local da passagem, trançou uma longa
Quem sabe ela se assustou muito. Talvez não imaginasse que a gente corda com os fios do chão e desceu até o outro mundo. Foi parar no
gostava tanto dela. meio de uma aldeia onde uma linda índia lhe deu as boas-vindas, tão
E, às vezes, muito amor assusta as pessoas. surpresa em vê-lo descer do céu quanto ele de encontrar criatura tão
Pode ser que ela tivesse ficado brava. Tínhamos de dizer ―dona bela e amável. Conversaram longo tempo e o caçador soube que a
Andréia‖, e não dissemos. Era meio chocante só dizer ―Andréia‖, região onde ele vivia era conhecida por ela e seu povo como “o
como se ela fosse irmã da gente, ou apresentadora de televisão, ou mundo das nuvens”, formado pelas águas que evaporavam dos rios,
empregada. lagos e oceanos da terra. As águas caíam de volta como uma cortina
Ela também pode ter chorado por outro motivo qualquer. Estava
líquida, que eles chamavam de chuva. “Vai ver, é por isso que o chão
triste com o namorado, ou com alguma doença da família, e toda
lá de cima treme e encolhe, ele pensou. Ao fim da tarde, o caçador
aquela alegria da gente atrapalhando os sentimentos dela.
despediu-se da moça, agarrou-se à corda e subiu de volta para casa.
A Andréia nunca mais voltou.
Dali em diante, todos os dias ele escapava para encontrar-se com a
As aulas de desenho acabaram. Comecei a perceber uma coisa.
jovem. Ela descreveu para ele os animais ferozes que havia lá
É que às vezes, quando a gente gosta demais de uma pessoa, não dá
embaixo. Ele disse a ela que lá no alto as coisas materiais não tinham
certo. Dá uma bobeira na gente. A gente começa a gritar:
valor nenhum.
- Andréia! Andréia!
Um dia, a jovem deu ao caçador um cristal que havia achado perto de
E a Andréia fica sem jeito. Não sabe o que fazer. Se assusta. Se enche.
uma cachoeira. E pediu para visitar o mundo dele. O rapaz a ajudou a
Ouça este conselho.
subir pela corda. Mal tinham chegado lá nas alturas, descobriram que
Se você gosta muito de alguém, tome cuidado antes de fazer
haviam sido seguidos pelos parentes dela, curiosos para ver como se
escândalo. Não fique gritando ―Andréia! Andréia!‖. Finja que você só
vivia tão perto do céu.
está achando a pessoa legal, nada mais. Senão a Andréia sai correndo.
Foram todos recebidos com uma grande festa, que selou a amizade
Quando a gente gosta de alguém, tem de fazer como sorvete. Dá uma
entre as duas nações. A partir de então, começou um grande sobe-e-
mordidinha. Mas não enfia o nariz e a boca na massa de morango.
desce entre céu e terra. A corda não resistiu a tanto trânsito e se
Senão, vão achar que a gente é idiota.
partiu. Uma larga escada foi então construída e o movimento se
As pessoas da minha classe gostavam tanto da Andréia, que ela foi
tornou ainda mais intenso. O povo lá de baixo, indo a toda a hora
embora. Se a gente fosse mais esperto fingia que não gostava tanto.
divertir-se nas nuvens, deixou de lavrar a terra e de cuidar do gado. Os
Compreendendo o texto... habitantes lá de cima pararam de caçar pássaros e começaram a se
1. Qual o tipo de texto? apegar às coisas que as pessoas de baixo lhes levavam de presente ou
2. Identifique seus elementos. que eles mesmos desciam para buscar. Vendo a desarmonia instalar-se
3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no entre sua gente, o caçador destruiu a escada e fechou a passagem entre
dicionário. os dois mundos. Aos poucos, as coisas foram voltando ao normal,
4. Identifique o título e o autor. tanto na terra como nas nuvens. Mas a jovem índia, que ficara lá em
5. Por que o personagem achava a escola uma ―chatice‖? cima com seu amado, tinha saudade de sua família e de seu mundo
6. Que aula ele mais gostava e qual o motivo? Sem poder vê-los, começou a ficar cada vez mais triste. Aborrecido, o
7. Qual o nome da professora de Desenho e qual dia da semana eram caçador fazia tudo para alegrá-la. Só não concordava em reabrir a
suas aulas? comunicação entre os dois mundos: o sobe-e-desce recomeçaria e a
8. Descreva Dona Marisa e Dona Andréia. sobrevivência de todos estaria ameaçada.
9. Certa vez Dona Andréia se atrasou. Quais foram os motivos Certa tarde, o caçador brincava com o cristal que ganhara da mulher.
levantados? As nuvens começaram a sacudir sob seus pés, sinal de que lá embaixo
10. Dona Andréia chorou quando todos começaram a gritar seu estava chovendo. De repente, um raio de sol passou pelo cristal e se
nome. Em sua opinião, por que ela teve essa atitude? abriu num maravilhoso arco-íris que ligava o céu e a terra. Trocando
11. O que você acha do conselho do personagem? o cristal de uma mão para outra, o rapaz viu que o arco-íris mudava
de lugar.
Iuupii! Gritou ele. Descobri a solução para meus problemas!
Daquele dia em diante, quando aparecia o sol depois da chuva, sua
jovem mulher escorregava pelo arco-íris abaixo e ia matar a saudade
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
de sua gente. Se alguém lá de baixo se metia a querer visitar o mundo 2. Identifique seus elementos.
das nuvens, o caçador mudava a posição do cristal e o arco-íris saltava 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no
para outro lado. Até hoje, ele só permite a subida de sua amada. Que dicionário.
sempre volta, feliz, para seus braços. 4. Identifique o título e o autor.
Compreendendo o texto... 5. Que tipo de festa estava acontecendo?
1. Qual o tipo de texto? 6. Quais os animais que apareceram? Descreva-os na ordem em que
2. Identifique seus elementos. aparecem.
3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no 7. Qual foi a surpresa da história?
dicionário.
4. Identifique o título e o autor. Texto 05 - 8-
5. Como vivia a tribo? Crônica para dona Nicota
6. O que foi encontrado pelo caçador? Qual era o nome do local e Tatiana Belinky
como ele é? Foi nos anos finais da década de 40. (Há tanto tempo!) Meu
7. A harmonia entre as tribos foi selada, mas algo errado aconteceu. primogênito Ricardo completara 6 anos de idade, e resolvemos
Diga o que foi e como aconteceu. matriculá-lo no primeiro ano primário da Escola Americana, do já
8. Qual a solução para acabar com a desarmonia? então tradicional Mackenzie College, que ficava a três quadras da
nossa casa. E Ricardinho, que era uma criança tímida e um tanto
Texto 04 ensimesmada, não gostou nem um pouco da experiência de ficar
A luva "abandonado" num lugar estranho, no meio de gente desconhecida
Tatiana Belinky — uma coisa para ele muito assustadora. E não houve jeito de fazê- lo
Foi nos tempos distantes do amor cortês. No reino medieval do rei aceitar tão insólita situação. Ele se recusava até mesmo a entrar na
Franz era dia de festa, e o ponto alto das festividades era a exibição de sala: ficava na porta, "fincava o pé", sem chorar mas também sem
feras selvagens, trazidas de terras distantes, na arena do grande castelo. ceder... Eu já estava a ponto de desistir da empreitada, quando a
Em volta da arena erguiam-se as arquibancadas, encimadas por altos professora da classe, dona Nicota, se levantou e veio falar conosco. E
balcões onde brilhavam os nobres da corte, ao lado das belas damas todo o jeito dela, a maneira como ela olhou para o Ricardinho, o
faiscantes de jóias. Entre elas se destacava a donzela Cunegundes, tão timbre e o tom da sua voz, a expressão do seu rosto e até a sua
rica e formosa quanto orgulhosa, e de pé ao seu lado estava o seu figurinha baixinha, meio rechonchuda, não jovem demais, muito
apaixonado adorador, o jovem cavaleiro Delorges, cujo amor ela simples e despojada, causaram imediatamente uma sensível impressão
desdenhava, distante e fria. no menino. A tensão sumiu do seu rostinho, seu corpo relaxou, e - ora
Chegou a hora do início da função. A um sinal do rei, abriu-se a porta vejam! - ele respondeu com um sorriso ao sorriso da dona Nicota!
da primeira jaula, da qual saiu, majestoso, um feroz leão africano e, - Vem ficar aqui comigo - ela disse. - Você vai gostar. - E
sacudindo a juba dourada, deitou-se na areia, preguiçoso. Abriu-se a acrescentou, para minha surpresa, – Eu mesma vou levar você para a
segunda jaula, liberando um terrível tigre de Bengala, que encarou o sua casa. E amanhã cedo, eu mesma vou buscar você, para vir à escola
leão com olhos ameaçadores e deitou-se também, tenso, como quem comigo.
prepara um bote mortal. Em seguida, abriu-se a terceira jaula, da qual Eu não sabia como agradecer. E nem foi preciso — o que dona
saltaram, quais enormes gatos negros, duas panteras de dentes Nicota disse, ela cumpriu. E durante vários dias, até semanas, ela
arreganhados, deitando-se agachados e aumentando a tensão do passou pela nossa casa, pouco antes do início das aulas, e levou o
ambiente. Fez-se um silêncio no público: todos aguardavam ansiosos Ricardinho pela mão, a pé, até a escola e a sua sala. E o trouxe de
um pavoroso embate mortal entre os quatro monstros felinos... E volta, da mesma maneira. E até quando, certo dia, o menino estava
neste momento, como que sem querer, a donzela Cunegundes deixou adoentado e não pôde ir à escola, ela voltou para lhe dar uma ―aula
cair, do alto do balcão, sua branca luva, bem no centro da arena, entre particular‖, em casa — para ele não se atrasar no programa. Tudo isso
as quatro feras assustadoras. E dirigindo-se com um sorriso irônico ao na maior simplicidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo...
seu cavaleiro adorador, falou afetada: O Ricardinho adorava a dona Nicota - e não era para menos. Dona
"Cavaleiro Delorges, se de fato me amais como viveis repetindo, Nicota era a mais perfeita e linda encarnação da "professora primária"
provai-o, indo buscar e me devolver a minha luva." ideal - a mais nobre e fundamental das profissões: a de ser a primeira a
O cavaleiro Delorges não respondeu nada e sem titubear, desceu preparar uma criança pequena nas suas primeiras incursões na vida
rápido do balcão e com passos decididos pisou na arena, entre as real - com competência, dedicação, compreensão, paciência e carinho.
fauces hiantes e as presas arreganhadas das quatro feras. Calmo e E a consciência plena de estar dando à criança uma verdadeira base
firme ele apanhou a luva, e sem olhar para trás e sem apressar o passo, para o futuro cidadão.
voltou para o balcão, sob os sussurros de espanto e admiração de todo Por que estou contando tudo isso a vocês, hoje? Porque, no Dia do
o público presente. Professor, eu senti que não poderia prestar maior homenagem a todos
A donzela Cunegundes estendeu a mão num gesto faceiro para receber os "mestres-escolas" do Brasil do que incluí-los nesta "crônica-
a luva e com um sorriso cheio de promessas, falou: "Ganhaste a minha tributo" a dona Nicota, exemplo e paradigma de uma modesta e
gratidão, cavaleiro Delorges." maravilhosa professora ―montessoriana‖ e um grande ser humano.
Mas em vez de entregar-lhe a luva, o cavaleiro Delorges atirou-a no Ricardo saiu de sob a asa de dona Nicota lendo e escrevendo. E hoje,
belo rosto da dama cruel e orgulhosa: "Dispenso a vossa gratidão, jornalista, tradutor e escritor, esse avô de três netos continua se
senhora!", ele disse. lembrando de dona Nicota, com carinho e gratidão. Essa dona Nicota
E voltando-lhe as costas, o cavaleiro Delorges foi embora para que a estas horas deve estar dando aulas montessorianas aos anjinhos
sempre. do céu.
Compreendendo o texto... Compreendendo o texto...
1. Qual o tipo de texto? 1. Qual o tipo de texto?

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
2. Identifique seus elementos. Texto 07
3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no Amplexo
dicionário. Marcelo Alencar
4. Identifique o título e o autor. Mãe, me dá um amplexo?
5. O que Dona Nicota fez para que o menino freqüentasse as aulas? A pergunta pega Cinira desprevenida. Antes que possa retrucar, ela
6. Por que Dona Nicota marcou tanto a vida do garoto, hoje avô? nota o dicionário na mão do filho, que completa o pedido:
- E um ósculo também.
Texto 06 Ainda surpresa, a mulher procura no livro a definição das duas
A lenda do preguiçoso estranhas palavras. E encontra. Mateus quer apenas um abraço e um
Recontada por Giba Pedroza beijo. -9-
Diz que era uma vez um homem que era o mais preguiçoso que já se Conversa vai, conversa vem, Cinira finalmente se dá conta de que o
viu debaixo do céu e acima da terra. Ao nascer nem chorou, e se garoto, recém-apresentado às classes gramaticais nas aulas de
pudesse falar teria dito: ―Choro não. Depois eu choro‖. Português, brinca com os sinônimos. "O que vai ser de mim quando
Também a culpa não era do pobre. Foi o pai que fez pouco caso esse tiquinho de gente cismar com parônimos, homônimos,
quando a parteira ralhou com ele: ―Não cruze as pernas, moço. Não heterônimos e pseudônimos?", pensa ela, misturando as estações.
presta! Atrasa o menino pra nascer e ele pode crescer na preguiça, "Valha-me, Santo Antônimo!" E emenda:
manhoso‖. - Pára com essa bobagem, menino!
E a sina se cumpriu. Cresceu o menino na maior preguiça e fastio. - Ah, mãe, o que é que tem? Você nunca chamou cachorro de cão? E
Nada de roça, nada de lida, tanto que um dia o moço se viu sozinho casa de residência? E carro de automóvel?
no pequeno sítio da família onde já não se plantava nada. O mato foi - É verdade, mas...
crescendo em volta da casa e ele já não tinha o que comer. Vai então Mas a verdade é que Cinira não tem uma boa resposta.
que ele chama o vizinho, que era também seu compadre, e pede pra - E meu nome é Mateus - continua o rapaz. - Só que você me chama
ser enterrado ainda vivo. O outro, no começo, não queria atender ao de Matusquela.
estranho pedido, mas quando se lembrou de que negar favor e desejo - Ei, isso não vale. Matusquela é apelido carinhoso.
de compadre dá sete anos de azar... - Sei, sei. Tudo bem se eu usar nosocômio e cogitabundo em vez de
E lá se foi o cortejo. Ia carregado por alguns poucos, nos braços de hospital e pensativo?
Josefina, sua rede de estimação. Quando passou diante da casa do E criptobrânquio no lugar de mutabílio?
fazendeiro mais rico da cidade, este tirou o chapéu, em sinal de - Mutabílio? O que é que é isso?
respeito, e perguntou: - O mesmo que derotremado, ora. Tá aqui no Aurélio.
―Quem é que vai aí? Que Deus o tenha!‖ Está mesmo. É um bichinho. Mas pouco importa. A mãe questiona a
―Deus não tem ainda, não, moço. Tá vivo.‖ opção do menino por vocábulos incomuns. Mateus sai-se com esta:
E quando o fazendeiro soube que era porque não tinha mais o que - A professora disse que aprender palavras é como ganhar roupas e
comer, ofereceu dez sacas de arroz. O preguiçoso levantou a aba do guardar numa gaveta. Quando a gente precisa delas, tira de lá e usa.
chapéu e ainda da rede cochichou no ouvido do homem: Cada uma serve para uma ocasião, por mais esquisita que pareça. Igual
―Moço, esse seu arroz tá escolhidinho, limpinho e fritinho?‖ à querê-querê roxa que você me deu no último aniversário. Lembra?
―Tá não.‖ Como esquecer? Cinira nem se dá ao trabalho de consultar o
―Então toque o enterro, pessoal.‖ dicionário. Sabe que a explicação para essa última provocação está no
E é por isso que se diz que é preciso prestar atenção nas crendices e verbete camiseta.
superstições da ciência popular. Compreendendo o texto...
1. Qual o tipo de texto?
Compreendendo o texto... 2. Identifique seus elementos.
1. Qual o tipo de texto? 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no
2. Identifique seus elementos. dicionário.
3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no 4. Identifique o título e o autor.
dicionário. 5. Por que a mãe ficou preocupada?
4. Identifique o título e o autor. 6. Por que o menino estava com essa mania?
5. O que o autor que dizer com a expressão ―um homem que era o 7. O que a professora disse sobre essa mania?
mais preguiçoso que já se viu debaixo do céu e acima da terra.‖? 8. O que você acaha da utilização de palavras difíceis?
6. Qual foi a justificativa do menino ter nascido preguiçoso?
7. Que pedido foi feito ao visinho do preguiçoso? Ele atendeu? Por Texto 08
quê? Escorrendo
8. Por que ele não aceitou a oferta do homem rico? Antônio Prata
9. O autor termina numa frase: ―E é por isso que se diz que é preciso Aos 5 anos de idade o mundo é esmagadoramente mais forte do que a
prestar atenção nas crendices e superstições da ciência popular.‖ O gente. (Aos 30 também, mas aprendemos umas manhas que, se não
que ele quis dizer com isso? anulam a desproporção, ao menos disfarçam nossa pequenez.)
A ignorância não é uma bênção, é uma condenação: compreender a
origem dos nossos incômodos faz uma grande diferença. Mas como,
com tão poucas palavras ao nosso dispor? Palavras são ferramentas
que usamos para desmontar o mundo e remontá-lo dentro da nossa
cabeça. Sem as ferramentas precisas, ficamos a espanar parafusos com
pontas de facas, a destruir porcas com alicates. Com 2 anos, meu nariz
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
escorria sem parar na sala de aula. Eu não sabia assoar, nem sequer Quem já era devagar quase parando virou preguiça.
sabia que existia isso: assoar. Apenas enxugava o que descia na manga Quem tinha samba no pé, uma cuíca.
do uniforme, conformado, até ficar com o nariz assado. Lembro-me Virou solitária quem vivia jogada às traças.
bem da sensação da meia sendo comida pela galocha enquanto eu Um tremendo furão, quem nunca dava o ar da graça.
andava. A cada passo, ela ia se engruvinhando mais e mais na frente Quem era bicho-papão ficou barrigudo.
do pé, faltando no calcanhar, e eu aceitava o infortúnio como se fosse Quem era cheio de pneuzinhos, borrachudo.
uma praga rogada pelos deuses, uma sina. Não passava pela minha Quem não conseguiu pegar jacaré virou mergulhão.
cabeça trocar de meia, desistir da galocha, pedir ajuda aos adultos: a Quem era nervosinho pacas, um zangão!
vida era assim, não havia o que fazer. Numas férias, meu pai apareceu Quem gostava de madeira virou bicho-carpinteiro.
antes do combinado para pegar minha irmã e eu na casa dos meus Quem dirigia mal pra burro, barbeiro! - 10 -
avós. Durante 400 quilômetros, falou que existiam pessoas boas e Quem não comprava no atacado, virou varejeira.
pessoas más, que aconteciam coisas que a gente não conseguia Quem lavava roupa suja em casa, lavadeira.
entender, que mesmo as pessoas más podiam fazer coisas boas e as Virou quero-quero quem era pidão.
pessoas boas, coisas más. Já quase chegando a São Paulo, contou que E serelepe, um mexilhão.
nosso vizinho, de 6 anos, tinha levado um tiro. Virou maria-fedida quem vivia cheia de craca.
Naquela noite, enquanto as crianças da rua brincavam - mais quietas Quem não entrava em barca furada, uma fragata.
do que o habitual, sob um véu inominável –, um dos garotos disse: O calombo na cachola virou galo.
―Bem-feito! Ele é muito chato‖. E quem vivia enrabichado, namorado.
Hoje, penso que pode ter sido sua maneira de lidar com uma Virou beija-flor quem namorou a rosa no quintal.
realidade esmagadoramente mais forte do que ele. Quem pisou na concha acústica, um coral.
Meu vizinho, felizmente, sobreviveu. Nossa ingenuidade é que não: Virou truta aquele camarada, grande amigo.
ficou ali, estirada entre amendoeiras e paralelepípedos, sendo Quem soltava fogo pelas ventas, maçarico.
iluminada pela lâmpada intermitente de mercúrio, depois que todas as Virou centopeia o cheio de dedos.
crianças voltaram para suas casas. Mas quem vivia pregado continuou percevejo!
Compreendendo o texto... Compreendendo o texto...
1. Qual o tipo de texto? 1. Qual o tipo de texto?
2. Identifique seus elementos. 2. Identifique seus elementos.
3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no 3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no
dicionário. dicionário.
4. Identifique o título e o autor. 4. Identifique o título e o autor.
5. Qual o significado da palavra ―manhas‖? 5. Que pergunta sobre o ovo e a galinha a autora se refere no inicio
6. O que o autor diz com a expressão ―Palavras são ferramentas que do texto?
usamos para desmontar o mundo e remontá-lo dentro da nossa 6. Qual a resposta do personagem para a pergunta? Justifique.
cabeça.‖? 7. O que ele quer dizer com a palavra ―revespécies‖
7. Como o pai preparou as crianças para contar a notícia?
8. O que o autor achou do menino ter dito sobre o que levou um tiro Texto 10
―Bem-feito! Ele é muito chato‖? O dia em que a caça consolou o caçador no
Texto 09 Pacaembu
Juca Kfouri
A Origem das Revespécies Dois alvinegros, Santos e Botafogo, faziam os grandes jogos dos anos
Maria Amália Camargo 60. Pelé x Garrincha, fora outros
Você já deve ter quebrado muito a cabeça pra responder aquela velha gigantes dos dois timaços.
pergunta sobre o ovo e a galinha... Ora, convenhamos, desde que os Num desses jogos, em São Paulo,
cientistas anunciaram o parentesco entre a dita cuja e os dinossauros, os cariocas fizeram uma exibição
não é preciso ser nenhum Charles Darwin pra matar essa charada... inesquecível e, estranhamente,
Por um capricho da natureza, ficou decidido que os dinossauros pouco badalada nos embates entre
pulariam de grandalhões para a categoria peso-pena, passariam a os dois melhores times do país
acordar com as galinhas e seriam bichos muito bons de bico. Daí, foi naquela época. Aliás, sempre que se
só uma tiranossauro botar um ovo com um pintinho dentro, para dar fazem referências aos jogos entre Botafogo e Santos daqueles tempos,
início à era das galináceas no planeta. Pronto, o ovo veio primeiro! só são lembradas as vitórias santistas, as goleadas de Pelé & Cia. Pois
E já que estamos falando sobre as transformações no reino animal, é o Pacaembu estava lotado para ver mais uma.
bom lembrar que a evolução não é privilégio apenas das Pelé e Mané estavam em campo, mas o diabo estava era no corpo que
cocoriquentas. Tempos depois de um cavalo amarelo-malhado ter vestia a camisa sete, não a dez. O lateral-esquerdo Dalmo, do Santos,
tomado chá de trepadeira e ficado com as folhas entaladas na viveu uma tarde de terror. Garrincha pegava a bola e, andando, levava
garganta, transformou-se numa girafa. Quando um camundongo Dalmo até dentro da grande área, onde o zagueiro não podia fazer
gigante cansou de levar seus filhos a tiracolo e amarrou uma bolsa na falta.
barriga, virou um canguru. Já a gelatina, que teve a sorte de ser O Pacaembu não acreditava no que via: um ponta andar desde a
resgatada do mar Morto por um salva-vidas, ah, virou uma água-viva! intermediária até a área sem que o lateral tentasse tirar a bola,
E os reveses nas espécies não param por aí. Tem exemplo de temeroso do drible desmoralizante. Até que Dalmo percebeu que
revespécie pra dar e vender. Veja só: tinha virado motivo de chacota dos torcedores, muitos dos quais nem
santistas eram, mas que iam ao campo na certeza do espetáculo.
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
E Dalmo resolveu bater antes de chegar à grande área. Bateu uma vez, Já tinham perdido vários amigos nos dentes afiados da fera: o
Garrincha caiu, o árbitro marcou a falta e repreendeu o paulista. Bateu Provolone, o Roquefort, o Camembert e o pobre Tatá, o mais amado
outra vez, Garrincha voltou ao chão, o árbitro marcou a falta e de todos.
ameaçou Dalmo de expulsão, porque naquele tempo o cartão amarelo Planejaram, planejaram e não conseguiram chegar a nenhuma
não existia. conclusão que agradasse a todos. Precisavam de estratégias eficazes e
A terceira falta de Dalmo foi a mais violenta, como se ele estivesse seguras.
pensando: "Arrebento essa peste, sou expulso, mas ele não joga mais". Uns achavam que deveriam matar o tal gato; outros diziam que era
Pensado e feito. Enquanto o gênio das pernas tortas estava estirado no impossível: ―Como matar uma fera daquelas?‖
bico direito da área dos portões principais do Pacaembu, o árbitro Horácio estava quase convencido de que a sina de seu povo era morrer
determinava a expulsão de Dalmo, cercado por botafoguenses entre os dentes do gato. Com lágrimas nos olhos, já ia descendo da - 11 -
justamente irados com seu gesto. caixa de fósforos quando Frederico, um ratinho muito tímido que
Eis que, como um acrobata, Garrincha levanta-se, afasta seus nunca falava, resolveu dar sua opinião:
companheiros, bota o braço esquerdo no ombro de Dalmo e o – Como vocês sabem, eu não gosto muito de falar, por isso serei
acompanha até a descida da escada para o vestiário, que, então, ficava rápido, mas antes vocês vão responder a uma pergunta: Por que esse
daquele lado. gato é tão perigoso para nós, se somos tão ágeis e espertos?
Saíram conversando, como se Garrincha justificasse a atitude, E Horácio respondeu:
entendesse que, para pará-lo, não havia mesmo outro jeito. – Ora, Frederico, esse gato é silencioso, não faz nenhum barulho.
O Botafogo ganhou de 3 a 0 e saiu aplaudido do estádio. Tinha visto Como é que vamos saber quando ele se aproxima?
uma autêntica exibição do Carlitos do futebol, digna mesmo de – Exatamente como eu pensei. Me perdoem a modéstia, mas acho que
Charles Chaplin, divertida, anárquica, humana, sensível, solidária. a idéia que tive é a melhor de todas as que ouvi aqui. Vejam só, é
Compreendendo o texto... simples: Vamos arrumar um guizo, pode ser até aquele que pegamos
1. Qual o tipo de texto? da roupa do bobo da corte. Lembram? Aquele que achamos bonitinho
2. Identifique seus elementos. e que faz um barulho enorme.
3. Identifique as palavras desconhecidas e busque seu significado no Os ratos não estavam entendendo nada, para que serviria um guizo?
dicionário. Frederico tratou de explicar:
4. Identifique o título e o autor. – A gente pega o guizo e coloca no pescoço do gato. Quando ele se
5. O que são ―alvinegros‖? aproximar, vamos ouvir o barulho e fugir. Não é simples?
6. O que ele diz na expressão ―Pelé e Mané estavam em campo, mas o Todos adoraram a idéia. Era só colocar o guizo que todos ouviriam o
diabo estava era no corpo que vestia a camisa sete, não a dez.‖? gato se aproximar.
7. Quando Garrincha caiu pela primeira vez, por que o juiz marcou Todos os ratos foram abraçar Frederico e estavam na maior euforia
falta? quando, de repente, um ratinho, que não parava de roer um apetitoso
8. O texto justifica o título? Explique. pedaço de queijo, resolveu perguntar:
– Mas quem é que vai colocar o guizo no pescoço do gato?
Texto 11 Todos saíram cabisbaixos. Como não haviam pensado naquilo antes?
Era o fim da euforia dos ratinhos. Para Esopo, a moral da história era
No tempo em que os bichos falavam a seguinte: ―Não adianta ter boas idéias se não temos quem as coloque
Fábula de Esopo recontada por Georgina Martins em prática‖. Ou ainda: ―Inventar é uma coisa, colocar em prática é
Houve um tempo em que os bichos falavam, e eles falavam tanto que outra‖.
Esopo resolveu recolher e contar as histórias deles para todo mundo.
Esopo era escravo de um rei da Grécia e divertia-se inventando uma Texto 12
moral para as histórias que ouvia dos animais.
Na verdade, nem todos os moradores do país eram capazes de Apenas uma ponte
entender a linguagem dos animais, mas Esopo era. Sobretudo dos João Anzanello Carrascoza
pequeninos, que falavam muito baixinho, como por exemplo os Chegara, enfim, o último dia
ratinhos que moravam num buraco da parede da cozinha do palácio. de aula. Havia sido uma longa
Um dia, quando limpava o chão da cozinha, Esopo ouviu uns ruídos trajetória até ali. Mas, agora, o
que vinham de dentro do buraquinho. Os ratinhos estavam muito professor observava com
agitados e preocupados, pois o rei havia colocado um gato grande e ternura os alunos à sua frente,
forte para tomar conta dos petiscos reais e o tal gato não era de cada um voltado para seu
brincar em serviço, já tinha devorado vários ratos. caderno, fazendo a lição que
Esopo apurou os ouvidos e pôde ouvir tudo o que os ratinhos diziam. colocaria ponto final no ano letivo. Então, agarrado à calmaria
Um deles, muito espevitado, parecia ser o líder e, de cima de uma daquela hora, ele se recordou do primeiro encontro com o grupo.
caixa de fósforos, discursava: Todos o miravam com curiosidade, ansiosos por apanhar, como uma
– Meus amigos, assim não é mais possível, não temos mais paz e tudo fruta, o conhecimento que imaginavam lhe pertencia. Nem tinham
porque o rei resolveu trazer aquela fera para cá. Precisamos fazer idéia de que aprenderiam por si mesmos, e que ele, mestre, não era a
alguma coisa, e logo, porque senão esse gato vai acabar com a nossa árvore da sabedoria, mas apenas uma ponte que os levaria à sua
raça! copa frondosa. Naquele dia, experimentara outra vez a emoção de
Era uma assembléia de ratos e todos estavam muito empenhados em se deparar com uma nova turma, e o que o motivava a ensinar,
solucionar o problema que os afligia: um gato, grande e forte, que o com tanta generosidade, era justamente o desafio de enfrentar
rei havia mandado colocar na cozinha. esse mistério. Sim, uma ponte. Uma ponte por onde transitassem
os sonhos daquelas crianças, o movimento incessante de seus
desejos, o ir e vir de suas dúvidas, o vaivém do aprendizado em
constante algaravia.
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Lembrou-se da dificuldade da Julinha nas operações de Nisso, um menino de 5 anos pegou algumas penas de nambu,
multiplicar. O resultado correto era um território que ela nem "mawir" na língua tupi-mondé dos índios ikolens, e fez flechas.
sempre conseguia atingir. Mas, agora, a garota estava lá, Crianças dos ikolens não podem comer essa espécie de nambu, senão
segura da direção que deveria tomar. Ele fizera a ponte. O que ficam aleijadas. Era um nambu redondinho, como a abóbada celeste.
dizer da distância entre o José e o Augusto no início do ano, O céu era duríssimo, mas o menino esperto atirou suas flechas
ambos se temendo em silêncio, deixando de desfrutar da aventura adornadas com plumas de mawir. Espanto e alívio! A cada flechada do
de uma grande amizade? Com paciência, ele os unira. Desde garotinho, o céu subia um bom pedaço. Foram três, até o céu ficar
então, não se desgrudavam. Podia vê-los dali, de sua mesa, um como é hoje.
ao lado do outro, concentrados em fazer a tarefa. Já a Maria Em muitos outros povos indígenas, do Brasil e do mundo, há
Sílvia, dona de uma letra redondinha, ainda há pouco lhe dera narrativas parecidas ou diferentes sobre o mesmo assunto. Fazem-nos - 12 -
um sorriso. Antes, contudo, vivia irritada, a letra sem apuro, pensar por que céu e Terra estão separados agora... O povo tupari, de
só garranchos. Fizera a ponte para ela. Mateus, à sua frente, Rondônia, por exemplo, conta que era a árvore do amendoim que
detestava Ciências e fugia das aulas no laboratório. Talvez segurava o céu. (Bem antigamente, dizem, o amendoim crescia em
porque só via dificuldade na travessia e não as maravilhas que árvore, em vez de ser planta rasteira.)
o esperavam no outro extremo. O professor estendera-lhe a mão e Antes de o céu subir para bem longe, os ikolens podiam deixar a
o conduzira, até que, subitamente, ele se tornara o melhor Terra e ir morar no alto. Iam sempre que ficavam aborrecidos com
aluno naquela matéria. Tinha também a Alessandra, tão alguém, ou brigavam entre si, e subiam por uma escada de cipó. Gorá,
silenciosa e tímida. Ia bem nos primeiros meses e, depois, o o criador da humanidade, cansou de ver tanta gente indo embora e
rendimento caíra. Ele descobrira que os pais dela viviam em cortou o cipó, para a Terra não se esvaziar demais.
conflito. Alertara-os para que dessem mais afeto à filha, e eis
que ela florescera, voltando a ser uma boa aluna. Texto 14
E lá estava, nas últimas fileiras, o Luís Fábio. Notara suas Aprendizagem
limitações e construíra uma ponte especial para ele, mas o Flávio carneiro
menino não conseguira atravessá-la. Era assim: para alguns, – Mãe, cabelo demora quanto tempo pra
bastavam uns passos; para outros, o percurso se encompridava. O crescer?
professor suspirou. Fizera o seu melhor. Lembrou-se das – Hã?
palavras de Guimarães Rosa: "Ensinar é, de repente, aprender". – Se eu cortar meu cabelo hoje, quando é
Sim, aprendera muito com seus alunos. Inclusive aprendera sobre que ele vai crescer de novo?
si mesmo. Aquelas crianças haviam, igualmente, ligado pontos em – Cabelo está sempre crescendo, Beatriz. É
sua vida. Agora, seguiriam novos rumos. Haveriam de encontrar que nem unha.
outras pontes para superar os abismos do caminho. Ele A comparação deixa a menina meio
permaneceria ali, pronto para levar uma nova classe até a outra confusa. Ela não está preocupada com
margem. E o tempo, como um viaduto, haveria de conduzi-lo à unhas.
emoção desse novo mistério. – Todo dia, mãe?
– É, só que a gente não repara.
Texto 13 – Por quê?
O céu ameaça a Terra – Porque as pessoas têm mais o que fazer, não acha?
Betty Mindlin A menina não sabe se essa é uma pergunta do tipo que precisa ser
respondida ou é daquelas que a gente ouve e pronto. Prefere não
responder.
Meninos e meninas do – Você é muito ocupada, não é, mãe?
povo ikolen-gavião, de – Hã?
Rondônia, sentam-se à – Nada, não.
noite ao redor da A mãe termina de passar a roupa e vai guardando tudo no armário.
fogueira e olham o céu Enquanto isso, Beatriz corre até o quartinho de costura, pega a fita
estrelado. Estão métrica e mede novamente o cabelo da boneca. Ela tinha cortado
maravilhados, mas têm aquele cabelo com todo o cuidado do mundo, pra ficar parecido com
medo: um velho pajé o da mãe, mas a verdade é que ficou meio torto.
acaba de contar como, "Nada, não cresceu nada", ela conclui, guardando a fita. E já tem uma
antigamente, o céu quase esmagou a Terra. semana!
Era muito antes dos avós dos avós dos meninos, era no começo dos Depois volta para onde está a mãe, que agora lustra os móveis.
tempos. A humanidade esteve por um fio: podia ser o fim do mundo. – Mãe, existe alguma doença que faz o cabelo da gente não crescer?
Nessa época, o céu ficava muito longe da Terra, mal dava para ver seu – Mas de novo essa conversa de cabelo! Não tem outra coisa pra
azul. pensar não, criatura?
Um dia, ouviu-se trovejar, com estrondo ensurdecedor. O céu Sobre essa pergunta não há dúvida: é do tipo que você não deve
começou a tremer e, bem devagarinho, foi caindo, caindo. Homens, responder.
mulheres e crianças mal conseguiam ficar em pé e fugiam apavorados A mãe continua trabalhando. Precisa se apressar. Dali a pouco a
para debaixo das árvores ou para dentro de tocas. Só coqueiros e patroa chega da rua e o almoço nem está pronto ainda.
mamoeiros seguravam o céu, servindo de esteios, impedindo-o de – Mãe!
colar-se à Terra. Talvez as pessoas, apesar do medo, estivessem – O que foi?
experimentando tocar o céu com as mãos... – É que eu estava aqui pensando.
– Pensando o quê?
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Beatriz não responde. Espera um pouco, tentando achar as palavras — Nós vinha...
certas. — Nós vínhamos.
– Vai, fala logo. — Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no
– Quando a gente faz uma coisa, sabe, e não dá mais para voltar atrás, vermelho e deu uma pechada noutro auto.
entendeu? A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que
– Não, não entendi. acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato
Ela abaixa a cabeça, dá um tempinho e resolve arriscar: do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o
– Então, se você não entendeu, posso continuar perguntando sobre gordo Jorge rindo daquele jeito.
cabelo? ―Sinaleira‖, obviamente, era sinal, semáforo. ―Auto‖ era automóvel,
– Ai, meu Deus! carro. Mas ―pechar‖ o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela - 13 -
Beatriz deixa a mãe trabalhando e vai procurar de novo sua boneca. estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que
Pega a boneca no colo e diz no ouvido dela: ―pechar‖ vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá
– Não liga, não. Cabelo de boneca é assim mesmo, cresce devagar, teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo
viu? brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido:
E com um carinho: Pechada.
– Foi minha mãe que me ensinou. — Aí, Pechada!
— Fala, Pechada!
Texto 15
Pechada
Luis Fernando Veríssimo Texto 16
O nascimento do mundo
Maria de la Luz

No início só havia Kore, a energia, vagando na escuridão do espaço


infinito. Então, veio a luz e surgiram Ranginui, o Pai Céu, e
Papatuanuku, a Mãe Terra. Rangi e Papa tiveram muitos filhos:
Tangaroa, deus das águas; Tane, deus das florestas; Tawhirmatea,
deus dos ventos; Tumatauenga, deus da guerra, que deu origem aos
seres humanos; e Uru, que não era deus de nada.
Rangi e Papa viviam num perpétuo abraço de amantes. Acontece que
esse enlace apaixonado não deixava a luz penetrar entre seus corpos,
O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já onde ficavam os filhos. Obrigados a viver apertados e sempre no
estava sendo chamado de ―Gaúcho‖. Porque era gaúcho. Recém- escuro, os jovens resolveram dar um basta na situação.
chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado. - Vamos matar Rangi e Papa e ficar livres deles! - disse
— Aí, Gaúcho! Tumatauenga.
— Fala, Gaúcho! - Não! - disse Tane. - Vamos apenas separálos, empurrando um para
Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A cima e deixando o outro embaixo. Assim sobrará espaço para nós e a
professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as luz vai poder entrar.
diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam Todos acharam a idéia excelente.
português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos Tane, que era o mais forte de todos, firmou bem os pés em Papa,
não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com
falassem a mesma língua, só com pequenas variações? toda a força.
— Mas o Gaúcho fala ―tu‖! — disse o gordo Jorge, que era quem Os pais se separaram, mas – oh, decepção! – só um pouco de luz
mais implicava com o novato. chegou ao mundo dos filhos. Além disso, Rangi e Papa estavam nus e,
— E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer ―tu‖ e pode-se longe um do outro, sentiam muito frio.
dizer ―você‖. Os dois estão certos. Os dois são português. Comovido com a situação, Tane abrigou o pai com o negro manto da
O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara. noite.
Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o Para a mãe fez um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as
que acontecera. flores mais coloridas. Em torno dela fez ondular as águas azuis dos
— O pai atravessou a sinaleira e pechou. mares e rios de Tangaroa. Os ventos de Tawhirmatea sopravam
— O que? suavemente seus cabelos. Os filhos de Tumatauenga já começavam a
— O pai. Atravessou a sinaleira e pechou. povoar o mundo recém-criado.
A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Olhando lá de cima os lindos trajes da mulher e sua participação no
Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia novo mundo, Ranginui ficou doente de inveja. Sua dor cobriu o
estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. mundo com uma névoa úmida e cinzenta.
Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo. Refugiado em uma dobra do manto paterno, Uru chorava e chorava
— O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge. por não ter sido útil em nada aos pais e aos irmãos. Para que ninguém
— Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou. percebesse suas lágrimas, escondia-as em cestas e mais cestas. Mas
— E o que é isso? Tane tudo percebera:
— Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que -Uru, meu irmão, preciso de sua ajuda!
aconteceu. - Nada tenho para dar, você bem sabe!

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
- Ora, Uru, você tem tantas cestas... - Pisei?
Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru abaixou E nada.
a cabeça: - Não tem nada dentro delas, irmão. Sinto meus pés tropeçarem em algo. Abro os olhos. Vovô, a minha
Tane avançou e destampou uma das cestas. Dela voaram luzes frente, de braços abertos, pronto para um abraço de vitória.
faiscantes e risonhas para todos os lados. As lágrimas de Uru haviam - Mas eu não pisei em nenhum papelzinho, vô, digo, meio
se transformado em crianças-luz (para nós, estrelas)! desanimada, mas já engalfinhada e feliz, nos braços dele.
- Uru, será que você podia me ceder duas de suas cestas? Seus filhos - O vento foi levando tudo para o cantinho do portão, ele explica,
poderiam enfeitar e iluminar a morada de nosso pai... Uru concordou. sorrindo.
As duas cestas foram passadas para Te Waka o Tamareriti, uma - E por que o senhor não me avisou? A gente poderia ter colado os
canoa muito especial. Tane conduziu a canoa até o céu, espalhando pedacinhos no chão e recomeçado... - 14 -
sobre o manto de Rangi milhares de estrelinhas que riam e piscavam - Porque eu queria que a brincadeira terminasse com você perto de
umas para as outras o tempo todo. mim.
Quando Tane ia pegar a segunda cesta, esta tombou e se abriu,
deixando as estrelas se espalharem numa grande faixa chamada Ikaroa, Texto 18
que cruzou o céu de lado a lado (para nós, a Via Láctea). Tane deixou
Ikaroa e Waka o Tamareriti (que é a "cauda" da nossa constelação do Dona Licinha
Escorpião) no espaço celeste, onde se tornaram os guardiões das Fanny Abramovich
estrelas. A senhora não me conhece. Faz tanto tempo e me lembro de detalhes
do seu jeito, sua voz, seu penteado e roupas... A senhora ensinava na
Texto 17 3a série B e eu era aluna da 3ª série C no Grupo Escolar do Tatuapé...
Passava no corredor fazendo figa para mudar de classe, pra minha
Casa de Avô professora viajar e nunca mais voltar, pra diretora implicar e me
Todo avô toma remédio, usa dentadura e tira soneca depois do mandar pra 3a B... Nunca tive tanta inveja na minha vida como tive
almoço. O meu, não. das crianças da série B...
Não toma pílula nem xarope. E, à tarde, fica acordado, brincando Lembro que na sua sala se ouviam risadas quase o tempo todo. Maior
comigo. Dentadura? Isso ele usa. Mas, de resto, é diferente. gostosura! De vez em quando, um enorme silêncio quebrado por uma
Minha avó também não é igual as outras. Enquanto toda avó borda e voz suave...era hora de contar histórias. Suspirando, eu grudava na
faz bolo de chocolate, ela só costura para fazer remendos nas roupas e janela e escutava o que podia... Também muitos piques e hurras,
só cozinha no fim de semana. E quase nunca está em casa. De calça brincadeiras correndo solto. Esconde-esconde, telefone sem fio,
comprida (enquanto todas as avós do mundo usam saia), sai cedinho campeonato de Geografia. Tanto fazia a aprontação inventada.
para trabalhar e nos deixa sozinhos. Importava era sentir a redonda contenteza dos alunos.
Daí, o guarda-roupa dela vira elevador. Basta eu entrar e me sentar nas A sua sala era colorida com desenhos das crianças, um painel com
caixas de sapatos para vovô encostar as portas e, como ascensorista, recortes de revistas e jornais, figurinhas bailando em fios pendurados,
anunciar: mapas e fotos... Uma lindeza rodopiante mudada toda semana! Vi
- Primeiro andar! Roupas e bonecas. Segundo andar! Balas de goma, pela janela seus alunos fantasiados, pintados, emperucados,
móveis e crianças perdidas... representando cenas da História do Brasil! Maior maravilhamento!
A parede da sala é transformada em galeria de arte com pinturas Demorei, entendi. Quem nunca entendeu foi a minha professora... Seu
emolduradas em fita crepe e, o tapete, em tablado de exposição de segredo era ensinar brincando. Na descoberta! Na contenteza!
botões raros, que jamais combinariam com qualquer roupa normal. Nunca ouvi berros, um "Cala boca", "Aqui quem manda sou eu" e
Ao cair da tarde, na garagem vazia, enquanto o papagaio e os outras mansidões que a minha professora dizia sem cansar. Não
cachorros conversam misturando latidos, uivos e risadas, ele espalha escutei ameaças de provas de sopetão, castigos, dobro da lição de casa,
alguns pedacinhos de papel pelo chão. É a brincadeira do Pisei. chamar a diretora, com que a minha professora me aterrorizava o
- Hã? Como assim?, pergunto. Essa é nova. tempo todo...
Vovô explica sua invenção: Dona Licinha, eu quis tanto ser sua aluna quando fiz a 3a série. Não
- Memorize onde estão os papéis. Feche os olhos e comece a fui... Hoje, tanto tempo depois, sou professora. Também duma 3a
caminhar. Tente pisar em cima deles. Pode ir perguntando "Pisei?" série. Agora sou sua colega... Só não esqueço que queria estar na sua
para facilitar. Ganha o jogo quem pisar em mais pedaços. classe, seguir suas aulas risonhas, sem cobranças, sem chateações, sem
Eu começo. forçar barras, sem fazer engolir o desinteressante. Numa sala colorida,
- Pisei?, pergunto, dando o primeiro passo, apertando os olhos. iluminada, bailante. Também quero ser uma professora assim. Do seu
- Não! jeito abraçante.
- Pisei?, insisto mais uma vez, depois de caminhar um tiquinho. Hoje, vi uma garotinha me espiando pela janela. Arrepiei. Senti que
- Não! estava chegando num jeito legal de estar numa sala de aula... Por isso
Ouço um barulho de chaves. Vovó chega, cansada, do trabalho. Diz resolvi escrever para a senhora. Vontadona engolida por décadas.
"Oi". Sei que é para mim, mas não posso abrir os olhos para Tinha que dizer que continuo querendo muito ser aluna da Dona
responder. É quebra de regra. Licinha. Agora, aluna de como ser professora. Fazendo meus alunos
- Tudo bem, vó? Quer brincar de Pisei?, convido. viverem surpresas inventivas.
- Agora, não, minha riqueza. Vovó vai descansar. Um abraço apertado, cheinho de gostosuras, da Ciça
Vovô continua a me guiar, já sentado na cadeira de praia, lendo o Texto 19
jornal. Não vi, mas escutei o barulho dela sendo armada e das folhas
nas mãos dele. O sucesso da Mala
Sigo. Cybele Meyer
- Pisei? Respiro ofegante. Trago nas mãos uma pequena mala e uma agenda
- Pisei? tinindo de nova. É meu primeiro dia de aula. Venho substituir uma
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
professora que teve que se ausentar "por motivo de força maior". por ano, quando os marmelos e as maçãs ácidas amadureciam no
Entro timidamente na sala dos professores e sou encarada por todos. pomar e minha mãe fazia geléias com eles.
Uma das colegas, tentando me deixar mais à vontade, pergunta: Eu conhecia o zinco - o pequeno chafariz fosco e levemente azulado
- É você que veio substituir a Edith? onde os pássaros se banhavam no jardim era feito de zinco; e o
- Sim - respondo num fio de voz. estanho - a pesada folha-deflandres em que eram embalados os
- Fala forte, querida, caso contrário vai ser tragada pelos alunos - e sanduíches para piquenique. Minha mãe me mostrou que, quando se
morre de rir. dobrava estanho ou zinco, eles emitiam um "grito‖ espacial". "Isso é
- Ela nem imagina o que a espera, não é mesmo? - e a equipe toda se devido à deformação da estrutura cristalina", ela explicou, esquecendo
diverte com a minha cara. que eu tinha 5 anos e por isso não a compreendia - mas ainda assim
Convidada a me sentar, aceito para não parecer antipática. Eles suas palavras me fascinavam, faziam-me querer saber mais. - 15 -
continuam a conversar como se eu não estivesse ali. Até que, Havia um enorme rolo compressor de ferro fundido no jardim -
finalmente, toca o sinal. É hora de começar a aula. Pego meu material pesava mais de 200 quilos, meu pai contou. Nós, crianças, mal
e percebo que me olham curiosos para saber o que tenho dentro da conseguíamos movê-lo, mas meu pai era fortíssimo e conseguia erguê-
mala. Antes que me perguntem, acelero o passo e sigo para a sala de lo do chão. O rolo estava sempre um pouco enferrujado, e isso me
aula. Entro e vejo um montão de olhinhos curiosos a me analisar que, afligia - a ferrugem descascava, deixando pequenas cavidades e
em seguida, se voltam para a maleta. Eu a coloco em cima da mesa e a escamas -, porque eu temia que o rolo inteiro algum dia se esfarelasse
abro sem deixar que vejam o que há lá dentro. pela corrosão, se reduzisse a uma massa de pó e flocos avermelhados.
- O que tem aí, professora? Eu tinha necessidade de ver os metais como estáveis, como é o ouro -
- Em breve vocês saberão. capazes de resistir aos danos e estragos do tempo.
No fim do dia, fecho a mala, junto minhas coisas e saio. No dia
seguinte, me comporto da mesma maneira, e no outro e no noutro...
As aulas correm bem e sinto que conquistei a classe, que participa Texto 21
com muito interesse. Os professores já não me encaram. A mala, Moinho de Sonhos
porém, continua sendo alvo de olhares curiosos. João Anzanello Carrascoza
Chego à escola no meu último dia de aula. A titular da turma voltará A mulher e o menino iam montados no cavalo; o homem ia ao lado, a
na semana seguinte. Na sala dos professores ouço a pergunta guardada pé. Andavam sem rumo havia semanas, até que deram numa aldeia à
há tantos dias: beira de um rio, onde as oliveiras vicejavam.
- Afinal, o que você guarda de tão mágico dentro dessa mala que Fizeram uma pausa e, como a gente ali era hospitaleira e a oferta de
conseguiu modificar a sala em tão pouco tempo? serviço abundante, resolveram ficar. O homem arranjou emprego num
- Podem olhar - respondo, abrindo o fecho. moinho próximo à aldeia. A mulher se juntou a outras que colhiam
- Mas não tem nada aí! - comentam. azeitonas em terras ao redor de um castelo. Levou consigo o menino
- O essencial é invisível aos olhos. Aqui guardo o meu melhor. que, no meio do caminho, achou um velho cabo de vassoura e fez dele
Todos ficam me olhando. Parecem estar pensando no que eu disse. o seu cavalo. Deu-lhe o nome de Rocinante.
Pego meu material, me despeço e saio. Ao chegar aos olivais, o pequeno encontrou o filho de outra
colhedeira - um garoto que se exibia com um escudo e uma espada de
Texto 20 pau.
Memórias de uma infância química Os dois se observaram à distância. Cada um se manteve junto à sua
(Trecho do Livro) mãe, sem saber como se libertar dela. Vigiavam-se. Era preciso
Oliver Sacks coragem para se acercar. Mas meninos são assim: se há abismos,
Muitas das minhas lembranças da infância têm relação com metais: inventam pontes.
eles parecem ter exercido poder sobre mim desde o início. De súbito, estavam frente a frente. Puseram-se a conversar, embora
Destacavam-se em meio à heterogeneidade do mundo por seu brilho e um e outro continuassem na sua. Logo esse já sabia o nome daquele: o
cintilação, pelos tons prateados, pela uniformidade e peso. Eram frios menino recém-chegado se chamava Alonso; o outro, Sancho.
ao toque, retiniam quando golpeados. Começaram a se misturar:
Eu adorava o amarelo do ouro, seu peso. Minha mãe tirava a aliança - Deixa eu brincar com seu cavalo?, pediu Sancho.
do dedo e me deixava pegá-la um pouco, comentando que aquele - Só se você me emprestar sua espada, respondeu Alonso.
material se mantinha sempre puro e nunca perdia o brilho. "Está Iam se entendendo, apesar de assustados com a felicidade da nova
sentindo como é pesado?", ela acrescentava. "Mais pesado até do que companhia.
o chumbo". Eu sabia o que era chumbo, pois já segurara os canos Avançaram na entrega:
pesados e maleáveis que o encanador uma vez esquecera lá em casa. O - Tá vendo aquele moinho gigante?, apontou Alonso. Meu pai
ouro também era maleável, minha mãe explicou, por isso, em geral, o sozinho é que faz ele girar.
combinavam com outro material para torná-lo mais duro. - Seu pai deve ter braços enormes, disse Sancho.
O mesmo acontecia com o bronze. Bronze! - a palavra em si já me - Tem! Mas nem precisava, respondeu Alonso. Ele move o moinho
soava como um clarim, pois uma batalha era o choque valente de com um sopro.
bronze contra bronze, espadas de bronze em escudos de bronze, o Sancho achou graça. Também tinha uma proeza a contar:
grande escudo de Aquiles. O cobre também podia ser combinado com - Tá vendo o castelo ali?, apontou. Meu pai disse que o dono tem
zinco para produzir latão, acrescentou minha mãe. Todos nós - minha tanta terra que o céu não dá para cobrir ela toda.
mãe, meus irmãos e eu - tínhamos nosso menorá de bronze para o - E se a gente esticasse o céu como uma lona e cobrisse o que está
Hanucá. (O de meu pai era de prata.) faltando?, propôs Alonso.
Eu conhecia o cobre - a reluzente cor rósea do grande caldeirão em - Seria legal, disse Sancho. Mas ia dar um trabalhão.
nossa cozinha era cobre; o caldeirão era tirado do armário só uma vez - Temos de crescer primeiro.

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
- Bom, enquanto a gente cresce, vamos pensar num jeito de subir até o Textos e Poemas para análise e estudo
céu! - disse Alonso. Iª unidade
- Vamos!, concordou Sancho. Poesia
Sentaram-se na relva. O cavalo, a espada e o escudo entre os dois. Um Texto 01 (Prosa poética)
sopro de vento passou por eles.
Já eram amigos: moviam juntos o mesmo sonho. Andarilhos
Francisco Marques
Texto 22 Andava pela estrada, sozinho. Um sol de rachar e os dois andando,
sem parar. E andando, resolvidos, iam os três desenxabidos.
Uma lição inesperada Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa.
João Anzanello Carrascoza - 16 -
Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar.
No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de E os seis se deitaram, dormiram, sonharam...
voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram.
da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Dezesseis olhos arregalados, brilhando, viram o rio iluminado, o chão
Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de iluminando.
Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias Cavando a terra, dezoito mãos traziam, com a respiração ofegante,
dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria. Aos dezenas de pedrinhas brilhantes.
poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das Depois de muito cavar, contar e reunir, os dez começaram a discutir.
meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele O centro da discussão era este: onze andarilhos podem suportar
burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao tantos brilhos?
mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu Uma dúzia de idéias diferentes, uma ou outra interessante, mas
que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos. nenhuma idéia brilhante.
Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em Com as palavras doendo de tanto falar, os treze resolveram si-len-ci-
silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. ar.
Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Deitados, silenciosos, os catorze buscavam uma nova rima, quando
Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um olharam para cima...
japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos Boquiabertos, ao som de quinze admirações, descobriram estrelas
azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que candentes, candentes em grandes porções e proporções.
quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um E aquelas dezesseis imaginações tropeçaram nas mesmas conclusões...
bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, As pedras são farelos de estrelas, dezessete vezes pensaram e dezessete
olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de vozes exclamaram.
pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de
malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando E declararam os dezoito andarilhos, acostumados a vagar de déu em
óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A déu: Essa terra tem parentesco com o céu”.
professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer: De
sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus agora em diante, aqui vamos morar, aqui vamos viver”.
antigos colegas. Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto Vinte vezes festejaram, quando uma voz desfestejou: Continuarei
aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de
caminhando. Adeus. Já vou”.
aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o
E deste que se foi, ligeirinho!, posso dizer apenas que ele.
japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a
Andava pela estrada, sozinho.
conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a
ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos.
Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em ANOTE:
Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe
parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos
olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde
criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria.
O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e,
com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele. Lilico
descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando
ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina
do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo
de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto
nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas
descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis
deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente
no rosto de Lilico.

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Texto 02 arnica da avó.
A chuva Eu tinha vontade de botar cabresto na ema
Arnaldo Antunes e sair pelos campos montado nela.
A gente sabia
A chuva derrubou as pontes. A chuva transbordou os rios. que a ema quase voa no correr.
E que quase dobra o vento no correr.
A chuva molhou os transeuntes. A chuva encharcou as Eu tinha vontade de dobrar o vento no correr.
praças. A chuva enferrujou as máquinas. A chuva enfureceu
Texto 04
as marés. A chuva e seu cheiro de terra. A chuva com sua
A Língua de Nhem - 17 -
cabeleira. A chuva esburacou as pedras. A chuva alagou a Cecilia Meireles
favela. A chuva de canivetes. A chuva enxugou a sede. A Havia uma velhinha
chuva anoiteceu de tarde. A chuva e seu brilho que andava aborrecida
pois dava a sua vida
prateado. A para falar com alguém.
chuva de retas paralelas sobre a terra curva. A E estava sempre em casa
a boa velhinha
chuva resmungando sozinha:
destroçou os guarda-chuvas. A chuva durou muitos nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
dias. A O gato que dormia
no canto da cozinha
chuva apagou o incêndio. A chuva caiu. A chuva escutando a velhinha,
derramou-se. A chuva murmurou meu nome. A chuva principiou também
a miar nessa língua
ligou o e se ela resmungava,
pára-brisa. A chuva acendeu os faróis. A chuva tocou a o gatinho a acompanhava:
sirene. A chuva com a sua crina. A chuva encheu a piscina. nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Depois veio o cachorro
A chuva com as gotas grossas. A chuva de pingos pretos. da casa da vizinha,
A chuva açoitando as plantas. A chuva senhora da lama. A pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além,
chuva sem pena. A chuva apenas. A chuva empenou os e todos aprenderam
móveis. A chuva amarelou os livros. A chuva corroeu as a falar noite e dia
cercas. A chuva e seu baque seco. A chuva e seu ruído naquela melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
de De modo que a velhinha
vidro. A chuva inchou o brejo. A chuva pingou pelo que muito padecia
por não ter companhia
teto. A nem falar com ninguém,
chuva multiplicando insetos. A chuva sobre os ficou toda contente,
varais. A pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:
chuva derrubando raios. A chuva acabou a luz. A nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
chuva
Texto 05
molhou os cigarros. A chuva mijou no telhado. A chuva
Uma Palmada Bem Dada
regou o gramado. A chuva arrepiou os poros. A chuva fez Cecília Meireles
muitas poças. A chuva secou ao sol.
É a menina manhosa
Que não gosta da rosa,
Texto 03
Que não quer A borboleta
Ema Porque é amarela e preta,
Manoel de Barros Que não quer maçã nem pêra
Porque tem gosto de cera,
Elas ficavam flanando, as emas. Porque não toma leite
Nos pátios da fazenda. Porque lhe parece azeite,
A gente sabia que as emas Que mingau não toma
comem vidros, latas de sardinha, sabonetes, Porque é mesmo goma,
cobras, pregos. Que não almoça nem janta
Falavam que elas têm moelas de alicate. porque cansa a garganta,
Nossa mãe tinha medo que as emas comessem Que tem medo do gato
nossas cobertas de dormir e os vidros de
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
E também do rato, No banco de jardim,
E também do cão o cosmo se resume
E também do ladrão, em serena parábola,
Que não calça meia impressentido lume.
Porque dentro tem areia
Que não toma banho frio Texto 07
Porque sente arrepio,
Que não toma banho quente CASO PLUVIOSO
Porque calor sente Carlos Drummond de Andrade
Que a unha não corta - 18 -
Porque fica sempre torta, A chuva me irritava.
Que não escova os dentes Até que um dia descobri que Maria é que chovia.
Porque ficam dormentes A chuva era Maria.
Que não quer dormir cedo E cada pingo de Maria ensopava o meu domingo.
Porque sente imenso medo, E meus ossos molhando, me deixava
Que também tarde não dorme como terra que a chuva lavra e lava.
Porque sente um medo enorme, Eu era todo barro, sem verdura...
Que não quer festa nem beijo, Maria, chuvosíssima criatura!
Nem doce nem queijo. Ela chovia em mim, em cada gesto,
Ó menina levada, pensamento, desejo, sono, e o resto.
Quer uma palmada? Era chuva fininha e chuva grossa,
Uma palmada bem dada matinal e noturna, ativa...Nossa!
Para quem não quer nada! Não me chovas, Maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas susto.
Texto 06 Não me inundes de teu líquido plasma,
PARÊMIA DE CAVALO não sejas tão aquático fantasma!
Carlos Drummond de Andrade Eu lhe dizia em vão - pois que Maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.
Cavalo ruano corre todo o ano E chuveirando atroz em meu caminho,
Cavalo baio mais veloz que o raio o deixava banhado em triste vinho,
Cavalo branco veja lá se é manco que não aquece, pois água de chuva
Cavalo pedrês compro dois por mês mosto é de cinza, não de boa uva.
Cavalo rosilho quero com filho Chuvadeira Maria, chuvadonha,
Cavalo alazão a minha paixão chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!
Cavalo inteiro amanse primeiro Eu lhe gritava: Pára! E ela chovendo,
Cavalo de sela mas não pra donzela poças d’água gelada ia tecendo.
Cavalo preto chave de soneto Choveu tanto Maria em minha casa
Cavalo de tiro não rincho, suspiro que a correnteza forte criou asa
Cavalo de circo não corre uma vírgula e um rio se formou, ou mar, não sei,
Cavalo de raça rolo de fumaça sei apenas que nele me afundei.
Cavalo de pobre é vintém de cobre E quanto mais as ondas me levavam,
Cavalo baiano eu dou pra fulano as fontes de Maria mais chuvavam,
Cavalo paulista não abaixa a crista de sorte que com pouco, e sem recurso,
Cavalo mineiro dizem que é matreiro as coisas se lançaram no seu curso,
Cavalo do sul chispa até no azul e eis o mundo molhado e sovertido
Cavalo inglês fica pra outra vez. sob aquele sinistro e atro chuvido.
Os seres mais estranhos se juntando na mesma aquosa pasta
Texto 06 iam clamando contra essa chuva estúpida e mortal
No banco de jardim catarata (jamais houve outra igual).
Carlos Drummond de Andrade Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas d’água mais deliram,
No banco de jardim, e Maria, torneira desatada,
o tempo se desfaz mais se dilata em sua chuvarada.
e resta entre ruídos Os navios soçobram.
a corola de paz. Continentes já submergem com todos os viventes,
. e Maria chovendo.
No banco de jardim, Eis que a essa altura, delida e fluida
a sombra se adelgaça a humana enfibratura,
e entre besouro e concha e a terra não sofrendo tal chuvência,
de segredo, o anjo passa. comoveu-se a Divina Providência,
. e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, Maria! - e ela parou.
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Texto 08 Que coisa chata,
não consigo imaginar.
Infância Isso quase me mata,
Carlos Drummond de Andrade porque é horrível não poder pensar.
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Mas espere um momento,
Minha mãe ficava sentada cosendo. mesmo não tendo um tema,
Meu irmão pequeno dormia. se estas frases vou relendo,
Eu sozinho menino entre mangueiras. vejo que é um poema!
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais. Texto 11 - 19 -
Você faz a paz
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu Clarice Pacheco
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha Procure uma posição confortável, acomode-se.
café gostoso Fique em silêncio, feche os olhos, concentre-se.
café bom. Lentamente, respire fundo.
Relaxe, pense no mundo.
Minha mãe ficava sentada cosendo Atinja o nível mais alto do pensamento.
olhando para mim: Sinta o que falta aos seres humanos,
- Psiu...Não acorde o menino. neste momento.
Para o berço onde pousou um mosquito. Analise a situação atual da humanidade
E dava um suspiro...que fundo! e em como você pode colaborar
mesmo com pouca idade.
Lá longe meu pai campeava Imagine um mundo sem ira, sem ódio,
no mato sem fim da fazenda. sem inveja e sem maldade.
Só a honra de cada cada cidadão
E eu não sabia que minha história cumprindo seus direitos e deveres com serenidade.
era mais bonita que a de Robinson Crusoé. Pense na paz em plenitude
e em como alcançá-la com certas atitudes.
Texto 09 É tão fácil e seria maravilhoso
Qualquer um pode colaborar
Uma festa com um comportamento honroso.
Clarice Pacheco Torne isso uma realidade.
Então verá que só assim
Uma alegria contagiante no ar a vida tem sentido de verdade.
As luzes coloridas a brilhar Cumpra pelo menos você a sua parte
Uma música da moda a tocar e proporcione paz.
Todos animados a dançar E verá a felicidade que isso traz.
Pelo jeito ninguém quer parar
Esse momento mágico querem aproveitar Texto 12
Ruim é saber que isso uma hora vai acabar
Quando rever é reviver
A magia vai cessar
A música vai se calar Clarice Pacheco
A luz vai desligar Preciso reviver, eu bem sei,
O sol vai raiar mesmo que só na lembrança,
Um dia normal vai começar! voltar à minha antiga casa,
rever a minha infância
Texto 10 e todos os momentos felizes que lá passei.
Poesia por acaso Texto 13
Clarice Pacheco
O verdadeiro amigo
Sem inspiração estou agora. Clarice Pacheco
Tento atiçar a imaginação, Compreenda.
mas ela demora. Releve.
Não consigo pensar em algo Nunca abandone
que faça rimas. o verdadeiro amigo.
É como querer acertar o alvo Ele pode nem estar
com a flecha apontada para cima. ao seu lado agora.
Não acho um bom assunto Mas certamente,
que se organize bem em versos. estará sempre contigo.
Mesmo sabendo que no mundo
há mil assuntos diversos. Texto 13
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Olhares GRANDES AUTORES DA LITERATURA BRASILEIRA
Clarice Pacheco
PATATIVA DO ASSARÉ
Quantas coisas cabem em um olhar! Antônio Gonçalves da Silva,
É tão expressivo, dito Patativa do Assaré, nasceu
é como falar. a 5 de março de 1909 na Serra
de Santana, pequena
Texto 14 propriedade rural, no município
Um lugar de Assaré, no Sul do Ceará. É o
Clarice Pacheco segundo filho de Pedro - 20 -
Há um lugar Gonçalves da Silva e Maria
onde as flores crescem em poucas horas, Pereira da Silva. Foi casado com
a cantar D. Belinha, de cuja união
os pássaros fazem ninhos em árvores de amoras, nasceram nove filhos. Publicou
sem demorar Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de Patativa, em 1966. Em
o sol aparece iluminando campo afora, 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do
a brilhar Assaré. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em
as estrelas infestam o céu de aurora, revistas e jornais. Está sendo estudado na Sorbonne, na cadeira da
vou lhe contar Literatura Popular Universal, sob a regência do Professor Raymond
nesse lugar, acredite, ninguém se entristece nem chora, Cantel.
quem ali chegar Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais popular
não quer mais ir embora, do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia
mas tem que lamentar que para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de
pois esse lugar não existe mais agora. maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu
sertão', declamava. Cresceu ouvindo histórias, os ponteios da viola e
folhetos de cordel. Em pouco tempo, a fama de menino violeiro se
Anote espalhou. Com oito anos trocou uma ovelha do pai por uma viola.
Dez anos depois, viajou para o Pará e enfrentou muita peleja com
cantadores. Quando voltou, estava consagrado: era o Patativa do
Assaré. Nessa época os poetas populares vicejavam e muitos eram
chamados de 'patativas' porque viviam cantando versos. Ele era apenas
um deles. Para ser melhor identificado, adotou o nome de sua cidade.
Filho de pequenos proprietários rurais, Patativa, nascido Antônio
Gonçalves da Silva em Assaré, a 490 quilômetros de Fortaleza,
inspirou músicos da velha e da nova geração e rendeu livros,
biografias, estudos em universidades estrangeiras e peças de teatro.
Também pudera. Ninguém soube tão bem cantar em verso e prosa os
contrastes do sertão nordestino e a beleza de sua natureza. Talvez por
isso, Patativa ainda influencie a arte feita hoje. O grupo
pernambucano da nova geração 'Cordel do Fogo Encantado' bebe na
fonte do poeta para compor suas letras. Luiz Gonzaga gravou muitas
músicas dele, entre elas a que lançou Patativa comercialmente, 'A triste
partida'. Há até quem compare as rimas e maneira de descrever as
diferenças sociais do Brasil com as músicas do rapper carioca Gabriel
Pensador. No teatro, sua vida foi tema da peça infantil 'Patativa do
Assaré - o cearense do século', de Gilmar de Carvalho, e seu poema
'Meu querido jumento', do espetáculo de mesmo nome de Amir
Haddad. Sobre sua vida, a obra mais recente é 'Poeta do Povo - Vida
e obra de Patativa do Assaré' (Ed. CPC-Umes/2000), assinada pelo
jornalista e pesquisador Assis Angelo, que reúne, além de obras
inéditas, um ensaio fotográfico e um CD.
Como todo bom sertanejo, Patativa começou a trabalhar duro na
enxada ainda menino, mesmo tendo perdido um olho aos 4 anos. No
livro 'Cante lá que eu canto cá', o poeta dizia que no sertão enfrentava
a fome, a dor e a miséria, e que para 'ser poeta de vera é preciso ter
sofrimento'.
Patativa só passou seis meses na escola. Isso não o impediu de ser
Doutor Honoris Causa de pelo menos três universidades. Não teve
estudo, mas discutia com maestria a arte de versejar. Desde os 91 anos
de idade com a saúde abalada por uma queda e a memória começando
a faltar, Patativa dizia que não escrevia mais porque, ao longo de sua

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
vida, 'já disse tudo que tinha de dizer'. Patativa morreu em 08 de gravadas pelo amigo, conterrâneo e grande divulgador Raimundo
julho de 2002 na cidade que lhe emprestava o nome. Fagner. A composição musical, bem diferente do improviso poético
Por Eliene Percilia dos violeiros, foi seu jeito de romper os limites do desprezo e do
desconhecimento das grandes platéias urbanas em relação à
Patativa do Assaré, o príncipe agreste da poesia incompreendida poesia matuta, gênero do qual foi tão príncipe (como
(13 de julho de 2002, Caderno 2) se dizia antigamente dos melhores poetas) quanto Seu Lua foi Rei do
JOSÉ NÊUMANNE Baião.
A poesia sertaneja brota do chão - esturricado, quando submetido à Complementando...
inclemência dos longos períodos de estiagem, ou virado barro Cordel
pegajoso depois de chuva. Feito milho, feijão e mandioca, da qual se - 21 -
A literatura de cordel é uma espécie de poesia popular que é impressa
extrai a farinha, que também nascem no solo do sertão, ela tem lá seus e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura.
aspectos nutrientes: mata a fome de beleza no meio da paisagem Ganhou este nome, pois, em Portugal, eram expostos ao povo
cinzenta e esquálida. É épica, ao narrar proezas de valentes. Lírica, de amarrados em cordões, estendidos em pequenas lojas de mercados
um lirismo pungente, quando tece loas ao amor ou se debruça sobre a populares ou até mesmo nas ruas.
saga de uma raça que sobrevive heroicamente em sua luta contra as
intempéries da natureza, luta que quase sempre termina em retirada,
na repetição cíclica do êxodo bíblico. É feita para a dor do lamento e Cronologia do Patativa do Assaré
o gozo do riso. O poeta sertanejo é familiarizado com ritmos e
cadências - há pouca diferença entre poesia e canto, embora seu cantar 1909 - nasce dia 5 de março, na Serra de Santana (Assaré), Antônio
seja monocórdio, a palo seco, sem muita graça para ouvidos que a ele Gonçalves da Silva, Patativa do Assaré. É o segundo filho de Pedro
não estejam habituados. Que não se exija do poeta perícias de Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva, pequenos proprietários
esgrimista da linguagem nem habilidades de pesquisador da semântica. rurais
Sua poesia serve a sua gente: descreve sua vida, ou seja seu convívio 1913 - Fica cego de um olho em decorrência de uma doença
com a paisagem ou com outros viventes. 1917 - Morte do pai, a 28 de março. A pequena propriedade da
Só quem entender isso plenamente vai ser capaz de também família, na Serra de Santana é dividida entre os filhos José, Antonio,
compreender a importância de Patativa do Assaré na poesia brasileira Joaquim, Pedro, Maria e Mercês
contemporânea. O nome artístico adotado pelo cearense Antônio 1921 - vai para a escola aos 12 anos, onde passa quatro meses. É
Gonçalves da Silva é o primeiro passo para tanto. Patativa é uma ave alfabetizado por meio do livro de Felisberto de Carvalho. Mantém o
canora e Assaré, o lugar ermo onde nasceu, se criou e viveu a vida trabalho na agricultura
inteira. Cantos de Patativa, título de sua obra de estréia, da mesma 1922 a 1923 - começa a fazer os primeiros versos sobre brincadeiras
forma, expressa com clareza o que pretende e a que se apresenta - de noite de São João, queima de Judas, plantio das roças, etc
trata-se de um manifesto curto, que não admite desvios nem 1925 - vende uma ovelha para comprar a primeira viola. Passa a se
tergiversações. O poeta, como o pássaro, canta e tem de cantar bonito, apresentar nos sítios e festas da região
com ritmo e precisão, além de exibir ao ouvinte as ricas cores de sua 1928 - viaja para Belém (Pará), com o primo da mãe, José Alexandre
plumagem. Montoril, que já morava lá. Patativa fica cinco meses em Belém. É lá
Patativa de Assaré não pertenceu à estirpe dos repentistas, cantadores onde ganha de José Carvalho de Brito, jornalista e advogado do Crato,
e violeiros que improvisam em diversos modos (gêneros poéticos) radicado na capital paraense, o epíteto de Patativa. Apresenta-se nas
noites a fio para diversão de quem se reúna para ouvi-los. Mas, sim, a ``colônias'', núcleos de nordestinos que migraram para o Pará. Faz o
um tipo intermediário entre o improvisador de desafios e o poeta percurso, pela da linha férrea, de Belém a Bragança
erudito, o tal poeta matuto: compõe seus versos escritos nos moldes 1929 - de volta ao Ceará, visita a Casa de Juvenal Galeno, onde se
dos poemas clássicos com padrões de rima e métrica bem definidos, apresenta em noite festiva e tem o privilégio de conhecer o poeta das
mas usa uma linguagem simples, quase um dialeto, com o qual se ``Lendas e Canções Populares''
comunica diretamente com o homem comum, o roceiro (que ou ficou 1931 - citado no livro ``O matuto cearense e o caboclo do Pará'', de
no campo árido ou fugiu para a periferia dos centros urbanos José Carvalho, que relembra o episódio do encontro com o jovem
próximos ou distantes de seu lugar de origem). Sua obra, a meio poeta
caminho entre o improviso e a elaboração erudita, é impressa, 1936 - casa-se, dia 6 de janeiro, com Belarmina Paes Cidrão, a dona
encadernada e costurada em livros, sendo o mais famoso deles o Belinha, com quem teve 14 filhos, dos quais sete morreram
Cante lá Que Eu Canto cá, editado pela Vozes de Petrópolis em 1940 - apresenta-se com violeiros, como João Alexandre, nos sítios e
1978 e já na 11.ª edição. festas do Cariri
Ele também é um poeta de bancada, ou seja, escreveu folhetos de 1955 - conhece José Arraes de Alencar, que toma a iniciativa de
cordel, gênero ao mesmo tempo escrito e oral de poesia, contendo transcrever seus poemas por meio de Moacir Mota, filho de Leonardo
narrativas de grandes feitos, casos de amor ou simples palhaçadas em Mota
folhetos impressos pelos próprios autores que os narram eles mesmos, 1956 - publicação de Inspiração Nordestina, por Borsi Editor, do
como muezins que cantam as orações nas mesquitas muçulmanas, em Rio de Janeiro, reeditado em 1967
alto-falantes e megafones nas feiras livres do interior nordestino. É de 1962 - apresenta-se no São João Popular, no sítio Trindade, em
sua autoria uma interessante adaptação do conto das Mil e Uma Recife, promovido pela administração Miguel Arraes
Noites História de Aladim e da Lâmpada Maravilhosa. E de sua lavra, 1964 - Luiz Gonzaga grava A Triste Partida, poema de Patativa
a saga política do Padre Henrique e o Dragão da Maldade. 1966 - lançado o livro Cantos de Patativa
Poeta de livro e folheto, Patativa também se dedicou à composição, 1970 - publicação de Patativa do Assaré - Novos Poemas
musicando poemas de sua própria lavra, alguns dos quais se tornaram Comentados, de J. de Figueiredo Filho
grandes sucessos de público - como foi o caso de Triste Partida, na
voz de Luiz Gonzaga, e Vaca Estrela e Boi Fubá, uma de suas toadas
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
1972 - Raimundo Fagner musica e grava Sina, no disco Manera Fru- - lança a caixa Cordéis do Patativa'', editada pela Secult, com apoio da
Fru, poema cuja autoria não lhe foi atribuída Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, na Casa de Juvenal
1973 - é atropelado na avenida Duque de Caxias, em Fortaleza, dia Galeno, em Fortaleza, dia 20 de novembro
13 de agosto. O acidente deixou seqüelas e ainda hoje Patativa usa 1994 - lança o livro Aqui tem coisa, na I Feira Brasileira do Livro de
perna mecânica Fortaleza
1978 - lançado Cante lá que eu canto cá, pela Editora Vozes - documentário O Vôo da Patativa, com roteiro de Oswaldo Barroso
1979 - passa a residir em Assaré, à rua Coronel Onofre, 27, Praça da e direção de Ronaldo Nunes, produzido pela TV Ceará
Matriz - grava o disco Patativa 85 Anos de Luz e Poesia
- homenageado pela programação cultural do encontro da Sociedade - evento Patativa do Assaré - 85 anos de Fidelidade e Amor à Poesia e
Brasileira para o Progresso da Ciência, em Fortaleza a sua Gente'', dias 4 e 5 de março, em Assaré - 22 -
- grava o disco Poemas e Canções - morte de dona Belinha, dia 15 de maio
- participa da campanha pela Anistia aos presos políticos brasileiros - 1995 - lançamento de Patativa e o Universo Fascinante do Sertão, de
atua em Patativa do Assaré, filme super-8 de Rosemberg Cariry Plácido Cidade Nuvens
- participa da Massafeira Livre, de 15 a 18 de março, no Theatro José 1997 - seminário 88 anos de Patativa do Assaré, promovido pela
de Alencar, show lançado em disco pela Epic (CBS), no ano seguinte Urca e Secretaria da Cultura do Estado, no Crato
1980 - Fagner grava Vaca Estrela e Boi Fubá (CBS) 1981 - lança o - lançamento do CD Patativa 88 anos de Poesia
disco A terra é naturá - apresenta-se no programa Som Brasil, da Rede - inauguração da Rádio Comunitária Patativa do Assaré, em sua
Globo, dia 31 de outubro cidade natal
1984 - participa da campanha pelas Diretas - Já e sobe ao palanque, - defesa da dissertação A linguagem regional popular na obra de
em Fortaleza, para dizer poemas, ao lado de lideranças políticas Patativa do Assaré, de Maria Silvana Militão de Alencar, no Mestrado
nacionais em Lingüística e Ensino da Língua Portuguesa da UFC, dia 5 de
- publicação de O metapoema em Patativa do Assaré: uma introdução dezembro de 1997, sob a orientação de Maria do Socorro Silva de
ao pensamento literário do poeta, de Francisco de Assis Brito, pela Aragão
Faculdade de Filosofia do Crato 1998 - álbum de xilogravuras Patativa - Vida Poesia, com 16 matizes
- Vídeo Patativa do Assaré, realizado pelo projeto Experimental dos em umburana, de autoria de José Lourenço Gonzaga
alunos do Curso de Comunicação Social da UFC, com apoio da Tv - sessão solene da Assembléia Legislativa do estado de São Paulo, dia
Educativa 10 de agosto, em homenagem aos noventa anos de Patativa do Assaré.
- Patativa do Assaré - Um Poeta do Povo, filme de Jefferson Transcrita no volume 108, número 166, do dia 1 de setembro de
Albuquerque Jr. e Rosemberg Cariry, em 16mm, ampliado para 1998, do Diário Oficial do Estado de São Paulo
35mm, em cores - inauguração, dia 1° de outubro, da exposição De um pingo d'água
1985 - faz a letra de Seca d'Água, criação coletiva para angariar um oceano de rimas, em homenagem a seus 90 anos na III Feira
fundos para as vítimas das enchentes, que assolaram o Nordeste Brasileira do Livro de Fortaleza
naquele ano - homenageado pela Associação dos Docentes da Universidade
- lança o disco Patativa do Assaré, um projeto cultural do Banco do Federal do Ceará, com a impressão de um calendário referente a
Estado do Ceará 1999, com projeto gráfico de Evandro Abreu e xilogravuras de José
1986 - apóia a candidatura de Tasso jereissati ao governo do Estado. Lourenço. Peça escolhida em concurso público
1988 - publica o livro Ispinho e Fulô, pela Imprensa Oficial do Ceará 1999 - festa de aniversário, com a inauguração do Memorial Patativa
- submetido a cirurgia em clínica oftalmológica de Campinas (SP) do Assaré, em sua cidade natal
1989 - seminário 80 anos de Patativa do Assaré, promoção da Urca Fonte: Banco de Dados do O POVO e Arquivo do professor Gilmar
- lança o disco Canto Nordestino de Carvalho
- apresentação de Patativa do Assaré e Théo Azevedo, no teatro das
Nações (Avenida São João, 1737), em São Paulo Poemas de Patativa do Assaré
- evento Patativa do Assaré - 80 anos de vida e poesia, dia 30 de
novembro, no BNB Clube, em Fortaleza
- apresentação de Patativa do Assaré com Fagner, no Memorial da Antônio Conselheiro
América Latina, em São Paulo, de 7 a 9 de dezembro. Patativa do Assaré
1990 - participação no evento Fortaleza das Violas, no BNB Clube,
em Fortaleza, dias 26 e 27 de janeiro, como convidado especial, Cada um na vida tem seu direito de julgar.
juntamente com Otacílio Batista e Geraldo Amâncio Como tenho o meu também, com razão quero falar
- lançamento do disco Patativa do Assaré - 80 Anos de Luz, com Nestes meus verso singelos , mas de sentimentos belos
apoio da Prefeitura Municipal de Assaré, Urca, Secretaria da Cultura Sobre um grande brasileiro, cearense, meu conterrâneo.
do Estado e Associação dos Artistas e Amigos da Arte, de Juazeiro do Líder sensato, espontâneo, nosso Antônio Conselheiro
Norte Este cearense nasceu lá em Quixeramobim.
- lançado o disco Canção Nordestina, com poemas musicados por Sei eu sei como ele viveu , sei como foi o seu fim.
Cleivan Paiva Quando em Canudos chegou, com amor organizou
1991 - lança o livro Balceiro, organizado por ele e por Geraldo Um ambiente comum, sem enredos nem engodos,
Gonçalves, que reúne parte da produção dos poetas de Assaré, Ali era um por todos e eram todos por um
publicado pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult)/Ioce Não pode ser justiceiro e nem verdadeiro é
1993 - participa da novela Renascer, da Rede Globo de Televisão O que diz seu conselheiro , enganava a boa fé
- entrevistado pelo programa Jô Onze e Meia, do SBT O conselheiro queria acabar com a anarquia
Do grande contra o pequeno. Pregava no seu sermão
Aquela mesma missão que pregava o nazareno.
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Com a sua simpatia, honestidade e brio Tu pensas, amigo, que a vida que levas
Ele criou na Bahia um ambiente sadio De dores e trevas debaixo da cruz
Onde vivia tranqüilo, ensinando tudo aquilo E as crides constantes, quais sinas e espadas
Que a moral cristã encerra. Defendendo os desgraçado São penas mandadas por nosso Jesus
Do julgo dos potentados, dominadores da terra. Tu és nesta vida o fiel penitente
Seguindo um caminho novo, mostrando a luz da verdade, Um pobre inocente no banco do réu.
Incutia entre o seu povo, amor e fraternidade Caboclo não guarda contigo esta crença
Em favor do bem comum, ajudava a cada um A tua sentença não parte do céu.
Foi trabalhador e ordeiro, derramando o seu suor. O mestre divino que é sábio profundo
Foi ele o líder maior do nordeste brasileiro. Não faz neste mundo teu fardo infeliz - 23 -
Sem haver contrariedade, explicava muito bem As tuas desgraças com tua desordem
Aquelas mesmas verdades que o santo Evangelho tem. Não nascem das ordens do eterno juiz
Calado em sua missão contra a feia exploração A lua se apaga sem ter empecilho,
E assim, evangelizando, com um progresso estupendo O sol do seu brilho jamais te negou
Canudos ia crescendo e a notícia se espalhando. Porém os ingratos, com ódio e com guerra,
O pobrezinho agregado e o explorado parceiro, Tomaram-te a terra que Deus te entregou
Cada qual ia apressado recorrer ao Conselheiro De noite tu vives na tua palhoça
E o líder recebia muita gente todo dia. Assim, De dia na roça , de enxada na mão
Fazendo os seus planos, na luta não fracassava Caboclo roceiro, sem lar , sem abrigo,
Porque sabia que estava com os direitos humanos. Tu és meu amigo, tu és meu irmão.
Mediante a sua instrução, naquela sociedade
Reinava paz e união dentro do grau de igualdade Cante Lá Que Eu Canto Cá
Com a palavra de Deus ele conduzia os seus Patativa do Assaré
Era um movimento humano de feição socialista,
Pois não era monarquista, nem era republicano Poeta, cantô de rua,
Que na cidade nasceu,
Desta forma, na Bahia, crescia a comunidade Cante a cidade que é sua,
E ao mesmo tempo crescia uma bonita cidade Que eu canto o sertão que é meu.
Já Antônio Conselheiro sonhava com o luzeiro
Da aurora da nova vida. Era qual outro Moisés, Se aí você teve estudo,
Conduzindo os seus fiéis para a terra prometida Aqui, Deus me ensinou tudo,
E assim, bem acompanhado, os planos a resolver Sem de livro precisá
Foi mais tarde censurado pelos donos do poder Por favô, não mêxa aqui,
O taxaram de fanático, e um caso triste e dramático Que eu também não mexo aí,
Se deu naquele local. O poder se revoltou Cante lá, que eu canto cá.
E Canudos terminou numa guerra social.
Da catástrofe sem pá o Brasil já tá ciente Você teve inducação,
Não é preciso contar pormenorizadamente tudo quanto aconteceu. Aprendeu munta ciença,
O que Canudos sofreu nós guardados na memória Mas das coisa do sertão
Aquela grande chacina, a grande carnificina Não tem boa esperiença.
Que entristece a nossa história Nunca fez uma paioça,
E andar pela Bahia, chegando ao dito local Nunca trabaiou na roça,
Onde aconteceu um dia o drama triste e fatal, Não pode conhecê bem,
Parece ouvir os gemidos entre os roncos e estampidos. Pois nesta penosa vida,
E em benefício dos seus , no momento derradeiro Só quem provou da comida
O nosso herói brasileiro pedindo justiça a Deus. Sabe o gosto que ela tem.

Pra gente cantá o sertão,


Caboclo Roceiro Precisa nele morá,
Patativa do Assaré Tê armoço de fejão
Caboclo Roceiro, das plaga do Norte E a janta de mucunzá,
Que vive sem sorte, sem terra e sem lar, Vivê pobre, sem dinhêro,
A tua desdita é tristonho que canto, Socado dentro do mato,
Se escuto o meu pranto me ponho a chorar De apragata currelepe,
Ninguém te oferece um feliz lenitivo Pisando inriba do estrepe,
És rude e cativo, não tens liberdade. Brocando a unha-de-gato.
A roça é teu mundo e também tua escola.
Teu braço é a mola que move a cidade Você é muito ditoso,
De noite tu vives na tua palhoça Sabe lê, sabe escrevê,
De dia na roça de enxada na mão Pois vá cantando o seu gozo,
Julgando que Deus é um pai vingativo, Que eu canto meu padecê.
Não vês o motivo da tua opressão Inquanto a felicidade
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Você canta na cidade, É um tá sarapaté,
Cá no sertão eu infrento Que quem tem pôca leitura
A fome, a dô e a misera. Lê, mais não sabe o que é.
Pra sê poeta divera, Tem tanta coisa incantada,
Precisa tê sofrimento. Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistéro e condão
Sua rima, inda que seja E ôtros negoço impossive.
Bordada de prata e de ôro, Eu canto as coisa visive
Para a gente sertaneja Do meu querido sertão.
É perdido este tesôro. - 24 -
Com o seu verso bem feito, Canto as fulô e os abróio
Não canta o sertão dereito, Com todas coisa daqui:
Porque você não conhece Pra toda parte que eu óio
Nossa vida aperreada. Vejo um verso se bulí.
E a dô só é bem cantada, Se as vêz andando no vale
Cantada por quem padece. Atrás de curá meus male
Quero repará pra serra
Só canta o sertão dereito, Assim que eu óio pra cima,
Com tudo quanto ele tem, Vejo um divule de rima
Quem sempre correu estreito, Caindo inriba da terra.
Sem proteção de ninguém,
Coberto de precisão Mas tudo é rima rastêra
Suportando a privação De fruita de jatobá,
Com paciença de Jó, De fôia de gamelêra
Puxando o cabo da inxada, E fulô de trapiá,
Na quebrada e na chapada, De canto de passarinho
Moiadinho de suó. E da poêra do caminho,
Quando a ventania vem,
Amigo, não tenha quêxa, Pois você já tá ciente:
Veja que eu tenho razão Nossa vida é deferente
Em lhe dizê que não mêxa E nosso verso também.
Nas coisa do meu sertão.
Pois, se não sabe o colega Repare que deferença
De quá manêra se pega Iziste na vida nossa:
Num ferro pra trabaiá, Inquanto eu tô na sentença,
Por favô, não mêxa aqui, Trabaiando em minha roça,
Que eu também não mêxo aí, Você lá no seu descanso,
Cante lá que eu canto cá. Fuma o seu cigarro mando,
Bem perfumado e sadio;
Repare que a minha vida Já eu, aqui tive a sorte
É deferente da sua. De fumá cigarro forte
A sua rima pulida Feito de paia de mio.
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente, Você, vaidoso e facêro,
Meu verso é como a simente Toda vez que qué fumá,
Que nasce inriba do chão; Tira do bôrso um isquêro
Não tenho estudo nem arte, Do mais bonito metá.
A minha rima faz parte Eu que não posso com isso,
Das obra da criação. Puxo por meu artifiço
Arranjado por aqui,
Mas porém, eu não invejo Feito de chifre de gado,
O grande tesôro seu, Cheio de argodão queimado,
Os livro do seu colejo, Boa pedra e bom fuzí.
Onde você aprendeu.
Pra gente aqui sê poeta Sua vida é divirtida
E fazê rima compreta, E a minha é grande pená.
Não precisa professô; Só numa parte de vida
Basta vê no mês de maio, Nóis dois samo bem iguá:
Um poema em cada gaio É no dereito sagrado,
E um verso em cada fulô. Por Jesus abençoado
Pra consolá nosso pranto,
Seu verso é uma mistura, Conheço e não me confundo
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Da coisa mió do mundo Da fome feroz
Nóis goza do mesmo tanto. Ai, ai, ai, ai

Eu não posso lhe invejá A treze do mês


Nem você invejá eu, Ele fez experiência
O que Deus lhe deu por lá, Perdeu sua crença
Aqui Deus também me deu. Nas pedras de sal,
Pois minha boa muié, Meu Deus, meu Deus
Me estima com munta fé, Mas noutra esperança
Me abraça, beja e qué bem Com gosto se agarra - 25 -
E ninguém pode negá Pensando na barra
Que das coisa naturá Do alegre Natal
Tem ela o que a sua tem. Ai, ai, ai, ai

Aqui findo esta verdade Rompeu-se o Natal


Toda cheia de razão: Porém barra não veio
Fique na sua cidade O sol bem vermeio
Que eu fico no meu sertão. Nasceu muito além
Já lhe mostrei um ispeio, Meu Deus, meu Deus
Já lhe dei grande conseio Na copa da mata
Que você deve tomá. Buzina a cigarra
Por favô, não mexa aqui, Ninguém vê a barra
Que eu também não mêxo aí, Pois a barra não tem
Cante lá que eu canto cá. Ai, ai, ai, ai

O Poeta da Roça Sem chuva na terra


Patativa do Assaré Descamba Janeiro,
Sou fio das mata, cantô da mão grosa Depois fevereiro
Trabaio na roça, de inverno e de estio E o mesmo verão
A minha chupana é tapada de barro Meu Deus, meu Deus
Só fumo cigarro de paia de mio. Entonce o nortista
Pensando consigo
Sou poeta das brenha, não faço o papé Diz: "isso é castigo
De argum menestrê, ou errante cantô não chove mais não"
Que veve vagando, com sua viola, Ai, ai, ai, ai
Cantando, pachola, à percura de amô.
Apela pra Março
Não tenho sabença, pois nunca estudei, Que é o mês preferido
Apenas eu seio o meu nome assiná. Do santo querido
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre, Senhor São José
E o fio do pobre não pode estudá. Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Meu verso rastero, singelo e sem graça, Tá tudo sem jeito
Não entra na praça, no rico salão, Lhe foge do peito
Meu verso só entra no campo da roça e dos eito O resto da fé
E às vezes, recordando feliz mocidade, Ai, ai, ai, ai
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Agora pensando
Ele segue outra tria
Triste Partida Chamando a famia
Patativa do Assaré Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Meu Deus, meu Deus. . . Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Setembro passou Nós vamos a São Paulo
Outubro e Novembro Viver ou morrer
Já tamo em Dezembro Ai, ai, ai, ai
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus Nós vamos a São Paulo
Assim fala o pobre Que a coisa tá feia
Do seco Nordeste Por terras alheia
Com medo da peste Nós vamos vagar
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
Meu Deus, meu Deus E a linda pequena
Se o nosso destino Tremendo de medo
Não for tão mesquinho "Mamãe, meus brinquedo
Cá e pro mesmo cantinho Meu pé de fulô?"
Nós torna a voltar Meu Deus, meu Deus
Ai, ai, ai, ai Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E vende seu burro E minha boneca
Jumento e o cavalo Também lá ficou
Inté mesmo o galo Ai, ai, ai, ai - 26 -
Venderam também
Meu Deus, meu Deus E assim vão deixando
Pois logo aparece Com choro e gemido
Feliz fazendeiro Do berço querido
Por pouco dinheiro Céu lindo azul
Lhe compra o que tem Meu Deus, meu Deus
Ai, ai, ai, ai O pai, pesaroso
Nos filho pensando
Em um caminhão E o carro rodando
Ele joga a famia Na estrada do Sul
Chegou o triste dia Ai, ai, ai, ai
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus Chegaram em São Paulo
A seca terrível Sem cobre quebrado
Que tudo devora E o pobre acanhado
Lhe bota pra fora Procura um patrão
Da terra natá Meu Deus, meu Deus
Ai, ai, ai, ai Só vê cara estranha
De estranha gente
O carro já corre Tudo é diferente
No topo da serra Do caro torrão
Oiando pra terra Ai, ai, ai, ai
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus Trabaia dois ano,
Aquele nortista Três ano e mais ano
Partido de pena E sempre nos prano
De longe acena De um dia vortar
Adeus meu lugar Meu Deus, meu Deus
Ai, ai, ai, ai Mas nunca ele pode
Só vive devendo
No dia seguinte E assim vai sofrendo
Já tudo enfadado É sofrer sem parar
E o carro embalado Ai, ai, ai, ai
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus Se arguma notícia
Tão triste, coitado Das banda do norte
Falando saudoso Tem ele por sorte
Seu filho choroso O gosto de ouvir
Exclama a dizer Meu Deus, meu Deus
Ai, ai, ai, ai Lhe bate no peito
Saudade lhe molho
De pena e saudade E as água nos óio
Papai sei que morro Começa a cair
Meu pobre cachorro Ai, ai, ai, ai
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus Do mundo afastado
Já outro pergunta Ali vive preso
Mãezinha, e meu gato? Sofrendo desprezo
Com fome, sem trato Devendo ao patrão
Mimi vai morrer Meu Deus, meu Deus
Ai, ai, ai, ai O tempo rolando
Vai dia e vem dia
Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade
Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.
INSTITUTO EDUCAR Literatura
E aquela famia Anotações
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai

Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
À lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista - 27 -
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai

Vaca Estrela e Boi Fubá


Patativa do Assaré

Seu doutor me dê licença pra minha história contar.


Hoje eu tô na terra estranha, é bem triste o meu penar
Mas já fui muito feliz vivendo no meu lugar.
Eu tinha cavalo bom e gostava de campear.
E todo dia aboiava na porteira do curral.

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Eu sou filho do Nordeste , não nego meu naturá


Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar,

Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá


Quando era de tardezinha eu começava a aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.

Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar,


Não nasceu capim no campo para o gado sustentar
O sertão esturricou, fez os açude secar
Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
ô ô ô ô Boi Fubá.
E-dicas
Hoje nas terra do sul, longe do torrão natá Acesse e informe-se!
Quando eu vejo em minha frente uma boiada passar,
As água corre dos olho, começo logo a chorá Dicionário de Rimas da Língua Portuguesa:
Lembro a minha Vaca Estrela e o meu lindo Boi Fubá
Com saudade do Nordeste, dá vontade de aboiar
www.rimas.mmacedo.net

Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:


ô ô ô ô Boi Fubá. www.priberam.pt/dlpo/

Literatura Online: http://www.lol.pro.br/

Portal Domínio Público (baixe livros grátis):


www.dominiopublico.gov.br

Professora Ayesk Machado - Ano 2011 - Iª unidade


Esta é sua apostila de Literatura da Iª unidade. Nela contém todos os conteúdos que serão estudados durante este período. Conserve-a para manter a qualidade de estudo.
A PERDA, EXTRAVIO OU DANOS É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DO ALUNO.

Vous aimerez peut-être aussi