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Vandelerley de BRITO1
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Historiador, especialista em História do Brasil, com estudos dedicados à cultura Itacoatiara; sócio fundador da
Sociedade Paraibana de Arqueologia. E-mail: vanderleydebrito@gmail.com .
TARAIRIÚ – Revista eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB
RESUMO
ABSTRACT
The Ingá Stone is an Archaeological monument marked by the stigma of the fantastic and in this
paper we intend to show what is the main theoretical principles that claim to diffusionists ideas for
this petroglyph set, in refute to the opinions that it would treat of the native industry. The fantastic
theories about this remarkable archaeological evidence comes from the assumption that no
civilization is advanced if it does not manifest material development and for this reason
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Difusionismo é uma teoria arqueológica difundida a partir de fins do século XVIII, perdurando por todo o século
XIX, que credita a origem dos sítios e demais produtos da cultura material ameríndia às civilizações e lendas do
Velho Mundo
TARAIRIÚ – Revista eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB
Embora também não seja nossa pretensão agir com acerbidade perante estas teorias,
ou desencorajar novas idéias, não podemos ser condescendente ao fantástico porque,
diferentemente da lendária muralha de Jericó, não será ao som de trombetas que se fará
desmoronar o muro que encobre o enigma da Pedra do Ingá. É preciso cientificismo.
De todo modo, o sensacionalismo não se restringe apenas à Pedra do Ingá, sempre
permeou à arqueologia. Podemos tomar de exemplo os cálculos matemáticos que se supõe
existir nas pirâmides egípcias ou a famosa “praga do faraó”, largamente divulgada nos meios
sensacionalistas como uma maldição que causou morte misteriosa aos profanadores da tumba
de Tutancâmon. Essa lenda teve sua origem com a notícia da morte prematura de Lorde
Carnavon, o milionário que financiou a busca arqueológica no Vale dos Reis que culminou com a
TARAIRIÚ – Revista eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB
descoberta da tumba deste faraó egípcio. Entretanto, a suposta praga é pura invencionice. Pois,
como assevera o eminente arqueólogo C. W. Ceram, não existe tal maldição registrada nos
hieróglifos desta tumba3.
Na Pedra do Ingá, se pensarmos com coerência, é difícil imaginar náufragos fenícios
gravando um pedido de resgate numa pedra tão distante do litoral - ainda por cima em escrita
desconhecida - ou cosmonautas extraterrenos, sem mostrar o que pretendem ou a que vieram,
sulcando naquele rochedo supostas fórmulas físicas e químicas que nenhum ser humano é
capaz de ler. Estes estudos amadores, com base na imaginação e cálculos místicos, embora
suscitantes, só exploram os pormenores da ambigüidade. É bem provável que se avaliássemos
as medidas e contagens dos desenhos e capsulares do Ingá, ou mesmo às pirâmides egípcias,
chegaríamos, com as convenientes operações matemáticas, as mais inesperadas comparações
com valores numéricos favoráveis a qualquer formulação teórica.
Na maioria dos textos fantásticos a Pedra do Ingá sempre figura associada às culturas
antigas ou lendárias do Velho Mundo, talvez porque a amerindiologia 34 seja pobre se
comparada, por exemplo, à egiptologia e a assiriologia. Na América do Sul não há templos
magníficos, pirâmides, zigurates ou mesmo dolmens. Como indicativos monumentais só
dispomos de rochedos e abrigos naturais que foram aproveitados como lousa para inscrições
rupestres e mausoléus para enterramentos coletivos. Além destes “monumentos”, os povos que
viveram no continente, ao longo dos milênios que antecedem a chegada dos colonizadores
europeus, só deixaram tênues e raros vestígios, que permitem apenas poucas probabilidades à
arqueologia.
No caso da Pedra do Ingá, em especial, a arqueologia não é de grande ajuda. O único
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“A morte tocará com suas asas aquele que desrespeitar o faraó”. Diz uma das numerosas versões da maldição
que supostamente estaria escrita no túmulo de Tutancâmon. Contudo, Lorde Carvavan morrera em conseqüência
duma picada de mosquito e as demais mortes que foram associadas a profanação da tumba se deveram, em parte,
a reações alérgicas e infecções respiratórias ocasionadas por fungos. Vale ressaltar que o arqueólogo Howard
Carter, principal responsável pela descoberta da tumba, só veio a morrer aos 64 anos de forma natural.
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[De amer(i)- + índio + -logia]; termo por nós sugerido para designar a Ciência que trata de tudo quanto se relaciona
as culturas nativas sul-americanas.
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gravadores às margens da calha fluvial foi transportado nos enxurros, ao passo que estes
mesmos também traziam materiais aleatórios, descontextualizados, não se sabe de onde.
Como diferenciar os materiais que foram ali depositados dos que pertenceram aos
gravadores ou mesmo daqueles que estariam testemunhando as muitas trocas, cultos, rituais e
combates de outros povos seminômades que por ali eventualmente passaram no decorrer dos
milênios?
de lendas e mitos, ao passo que rejeitam e omitem as evidências que podem entrar em colisão
com suas aliciadoras formulações.
A recusa em atribuir as inscrições do Ingá aos povos ameríndios até certo ponto é
compreensiva porque, se fossemos considerar, por exemplo, os pastores beduínos, de
fisionomias curtidas dos desertos egípcios, como autores das magníficas pirâmides, esfinges e
hieróglifos; ou que os miseráveis aborígines insulares da Ilha de Páscoa teriam erguido aquelas
intrigantes estátuas e elaborado complexos sistemas de escrita, estaríamos destoando da
realidade encontrada nestes locais. Todavia, ninguém duvida que estes fabulosos monumentos
são vestígios das antigas civilizações egípcias e pascoenses que sucumbiram ao tempo. Então
por que seria despropósito supor que os entalhes do Ingá são mudos registros de antigas
civilizações aborígines desaparecidas?
O passado ameríndio tem muito mais história do que é capaz de contar. Segundo as
pesquisas da arqueóloga norte-americana Anna Roosevelt, os nativos sul-americanos já foram
muito mais complexos do que se imagina, pois a região amazônica apresenta indícios
comprovando que os antepassados indígenas já faziam grandes alterações ecológicas,
possuíam aldeias com população estimada em 5 mil pessoas e eram regidos por um sistema
político de cacicado bem mais complexo do que os índios encontrados pelos europeus
seiscentistas. Há indícios, inclusive, de que a cultura indígena amazônica deu origem às
andinas.
De qualquer modo, os mitos e lendas são mais sedutores e por isso são os principais
responsáveis pelo interesse público pela arqueologia. As abordagens partem do princípio de que
as sociedades vão se aperfeiçoando em progressão contínua à medida que se sucedem no
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