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ARTIGO BREVE

Terapêutica subcutânea
em cuidados paliativos
CÁTIA MARQUES*, GILDA NUNES*, TIAGO RIBEIRA*, NUNO SANTOS*,
RODRIGO SILVA*, RICARDO TEIXEIRA*

RESUMO
Introdução: A pouca divulgação da via subcutânea (SC) em Portugal contraria a sua importância,
necessidade e eficácia em situações específicas, nomeadamente em cuidados continuados e palia-
tivos. Esta via é fundamental na administração de fármacos e de soros (hipodermoclise). O conhe- pa multidisciplinar de cuidados conti-
cimento das suas principais características e da sua relevância é essencial para que os Médicos de nuados, que visa intervir nas pes-
Família assumam a responsabilidade dos cuidados aos doentes em fase terminal, até no momen- soas/famílias com perda de autonomia
to da sua morte. significativa (temporária ou crónica) que
Objectivos: Determinar a taxa de utilização da via SC em Cuidados Paliativos; Caracterizar as justifique uma intervenção através de
patologias, indicações, tipos de terapêutica e complicações associadas ao uso da via SC. apoio domiciliário. A comunidade que
Tipo de estudo: Estudo transversal, descritivo. beneficia destes cuidados é constituída
Local: Equipa de Cuidados Continuados, Centro de Saúde de Odivelas. pela população geriátrica, por doentes
População: Todos os doentes em cuidados paliativos, no período de 1 a 30 de Junho de 2004. em reabilitação e por doentes terminais
Métodos: Os autores fizeram uma revisão de processos clínicos da população de doentes em cui- (oncológicos e não oncológicos), perten-
dados paliativos (N=348). As variáveis estudadas foram: uso de terapêutica SC, sexo, idade, pato- centes à área de influência do Centro de
logias e indicações, tipo de terapêutica subcutânea, forma de administração e complicações. Saúde de Odivelas. Todos estes doen-
Resultados: A proporção de doentes a realizar terapêutica SC foi 3,45%. As principais patologias tes beneficiam dos princípios gerais da
neste grupo de doentes foram as neoplasias (41,67%) e a doença vascular cerebral (41,67%). A paliação – trabalho em equipa, contro-
principal indicação foi a agonia (50%). A hipodermoclise foi usada em 41,67% dos doentes e a lo rigoroso dos sintomas, comunicação
administração exclusiva de fármacos em 58,33%. A butilescopolamina foi o fármaco mais utili- adequada e apoio à família.
zado (66,67%). Os fármacos foram sempre administrados em bólus e a hipodermoclise sob a forma
Neste grupo de doentes, a via ideal de
de infusão contínua. Não foram encontradas complicações.
administração de fármacos e/ou soros
Conclusões: A utilização desta via em cuidados paliativos é baixa, tendo ainda uma dimensão
deve ser fácil de utilizar, de eficácia de-
incompatível com os seus benefícios.
monstrada, pouco agressiva, com o mí-
nimo de efeitos secundários e confortá-
Palavras-chave: Via Subcutânea; Cuidados Paliativos.
vel para o doente. A via oral reúne to-
das estas características, constituindo
a via de administração ideal. No entan-
INTRODUÇÃO
EDITORIAIS
to, a presença de náuseas e vómitos
persistentes e intratáveis, disfagia seve-
om o aumento da esperan-

C
ra e odinofagia, fístula traqueo/bronco-
ça média de vida e das esofágica, má-absorção, intolerância
doenças crónicas, os Cui- gástrica, obstrução intestinal, estados
dados Paliativos passaram confusionais, coma e fase de agonia, ao
a ter um papel vital na área da Medici- inviabilizarem a via oral, tornam a via
na Geral e Familiar. Esta área da Medi- subcutânea numa das principais alter-
cina consiste em cuidados de saúde nativas a considerar 2,3.
activos que pretendem prevenir e mino- O conhecimento dos seus principais
rar o sofrimento nas doenças incurá- aspectos e da sua relevância em Cuida-
veis, avançadas e progressivas, inte- dos Paliativos e Continuados é funda-
grando o controlo dos sintomas e o mental para que os Médicos de Família
apoio à família. assumam a responsabilidade dos cui-
*Alunos da disciplina de
Medicina Geral e Familiar Neste âmbito foi criada no Centro de dados aos doentes em fase terminal,
Faculdade de Medicina de Lisboa Saúde de Odivelas em 1997 uma equi- até no momento da sua morte.

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Os objectivos deste trabalho são um censo, através da revisão dos pro-


Determinar a taxa de utilização da via cessos clínicos, que compreendeu as
SC numa população de doentes em cui- seguintes variáveis:
dados paliativos na comunidade Uso de terapêutica SC
Caracterizar as patologias, indica- Sexo
ções, tipos de terapêutica e complica- Idade
ções associadas ao uso da via SC Patologias
Indicações terapêuticas
Tipo de terapêutica (fármacos ou hi-
MÉTODOS podermoclise)
Forma de administração (bólus ou
Foi realizado um estudo transversal e infusão contínua)
descritivo. Fármacos utilizados
A população do estudo corresponde Complicações
a todos os doentes em CP, com o apoio As variáveis ii. a ix. foram apenas
domiciliário da equipa de cuidados con- abordadas no grupo de pacientes a rea-
tinuados do Centro de Saúde de Odive- lizar terapêutica SC.
las e pertencentes à área de influência A informação foi registada numa ta-
do mesmo, no período de 1 a 30 de Ju- bela elaborada para o efeito e não su-
nho de 2004 (N=348). jeita a validação prévia (Anexo I).
À população em estudo foi efectuado Os resultados obtidos foram codifica-

ANEXO I

Recolha de Informação

1) Uso de terapêutica SC: Sim  Não 

2) Sexo: F  M 

3) Idade _____

4) Patologias _______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

5) Indicações para terapêutica SC: _____________________________________________________________


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

6) Tipo de terapêutica  Fármacos


 Hipodermoclise

7) Formas de administração da via SC:  Bólus


 Infusão Contínua

8) Fármacos infundidos: ______________________________________________________________________


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

9) Complicações: Sim  Não 

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dos e registados em suporte informáti- lizavam a terapêutica SC.


co (Microsoft® Excel 2000) 4, utilizando Verificou-se predomínio do sexo femi-
o mesmo para o tratamento estatístico nino (66%).
dos dados. Foi solicitada e concedida A média de idades encontrada foi de
autorização da Unidade de Cuidados 70 anos, sendo as idades mínima e má-
Continuados do Centro de Saúde de xima encontradas de 16 e 89 anos, res-
Odivelas, para a realização do presen- pectivamente. Constatou-se que dez
te trabalho. doentes (82%) tinham idades superio-
res a 60 anos.
As patologias mais frequentes foram
RESULTADOS as do foro oncológico e do foro vascular
cerebral (Figura 1).
Dos 348 pacientes em cuidados palia- Das indicações encontradas para o
tivos ao cuidado da Unidade, durante o uso da via SC (agonia, infecção, disfa-
mês de Junho de 2004, 12 (3,5%) uti- gia, náuseas e vómitos, agitação e pros-
tração), a mais preva-
lente foi a agonia (50%).
Em relação ao tipo
Insuficiência respiratória de infusão utilizada,
verificou-se que os fár-
Doenças vasculares cerebrais macos foram sempre
Patologias

administrados em bó-
Doenças neurológicas lus, sendo a hipoder-
moclise realizada sob a
Neoplasias metastizadas
forma de infusão con-
Neoplasias
tínua.
Os fármacos mais
0% 10% 20% 30% 40% 50% utilizados foram a buti-
lescopolamina (66,7%),
Figura 1. Patologias encontradas. ceftriaxone (41,7%),

Salbutamol

Furosemide

Dexametazona

Metoclopramida

Morfina

Trmadol

Haloperidol

Midazolam

Levomepromazina

Ceftriaxone

Butilescopolamina

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Figura 2. Fármacos infundidos.

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haloperidol (41,7%) e tramadol (33,3%) clusivamente em bólus, o que pode es-


(Figura 2). tar associado ao elevado custo das bom-
Não se verificaram complicações do bas infusoras, limitando o seu acesso
uso da via SC nos pacientes estudados. ao domicílio e restringindo o seu uso à
hipodermoclise, à semelhança do que
acontece noutros países8.
DISCUSSÃO À maior parte dos doentes foram
administrados unicamente fármacos
Importa referir que este estudo apresen- (58,3%), sendo a utilização da hipoder-
ta determinadas limitações. O pequeno moclise (exclusiva ou associada a ou-
número de pacientes a realizar terapêu- tros fármacos) secundária (41,7%). Este
tica SC (12) pode limitar a validade das dado pode estar relacionado com o fac-
conclusões relativas ao estudo das va- to da hidratação ser considerada menos
riáveis investigadas nestes doze pacien- importante do que o alívio sintomático
tes. nos doentes terminais, tal como foi en-
A taxa de utilização da via SC é, efec- contrado em alguns estudos 9. Também
tivamente, baixa (3,5%), estando de o risco de sobrecarga cardíaca nestes
acordo com a bibliografia encontrada doentes, com falência multiorgânica,
(< 10%) 5,6. Este resultado deve-se ao leva a que a hipodermoclise seja pon-
facto da via oral ser privilegiada, estan- derada antes da sua utilização.
do disponível na maior parte dos doen- Verificou-se que o fármaco mais uti-
tes e só ocasionalmente ser necessário lizado foi a butilescopolamina (66,7%).
encontrar vias alternativas. O efeito anticolinérgico deste fármaco
Em relação à amostra, é notória a po- controla o estertor, sintoma frequente
larização no que diz respeito ao sexo e na fase de agonia, que constitui exacta-
à idade. Este dado poderá estar asso- mente a principal indicação para a uti-
ciado a uma maior esperança média de lização da via SC. Dada a absorção des-
vida no sexo feminino. Para além disso, te fármaco ser imprevisível e incomple-
tratando-se de uma amostra constituí- ta, a via oral não está recomendada, o
da por doentes em cuidados paliativos, que também poderá ter contribuído
compreende-se que os grupos etários para a sua utilização elevada através da
predominantes pertençam à faixa geriá- via SC.
trica. Sofrendo os doentes em fase termi-
Como patologias dominantes, desta- nal de náuseas, vómitos, infecção e dor,
cam-se a doença vascular cerebral e as compreende-se que os restantes fárma-
doenças oncológicas, o que vai de en- cos mais utilizados sejam o haloperidol
contro às principais doenças terminais (41,7%), o ceftriaxone (41,7%) e o tra-
encontradas na população idosa na so- madol (33,3%) 10.
ciedade ocidental. O recurso ao ceftriaxone SC foi pre-
Tratando-se de uma população cons- cisamente uma técnica desenvolvida
tituída por doentes terminais, aceita-se em primeiro lugar pela equipa de Odi-
que a principal indicação para a utiliza- velas que, posteriormente, desenhou
ção da via subcutânea seja a entrada na um trabalho de investigação com uma
fase de agonia (50%), tal como acontece equipa de uma unidade de cuidados
noutros estudos internacionais7. No en- paliativos espanhola (Salamanca). Esse
tanto, não são de menosprezar os res- trabalho suportou os bons resultados
tantes sintomas, que são também indi- desta prática 11.
cações para o uso desta via. Como se verificou pelo facto de não
Curiosamente, constatou-se que a terem ocorrido complicações da utiliza-
administração de fármacos foi feita ex- ção da via subcutânea, durante o pe-

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ríodo estudado, torna-se evidente a boa


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tolerabilidade desta via 12.

1. Gonçalves F. Controlo de sintomas no


CONCLUSÕES cancro avançado. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian; 2002. p.219-30.
2. Pascual López L, González Candelas R,
A utilização da via subcutânea em cui-
Ballester Donet A, Altarriba Cano ML, Zarate
dados paliativos e continuados revelou-
de Manuel MV, García Royo A. Vías alternati-
-se uma opção rara. No entanto, não vas a la via oral en cuidados paliativos: la vía
deixa de ser necessária e eficaz em si- subcutánea. Revista Valenciana de Medicina de
tuações bem determinadas, tanto para Família 2000; 8: 30-5.
a administração de fármacos, como na 3. Dugas R. Voie sous-cutanée: quelques
hidratação (hipodermoclise). Através da commentaires pour mieux l’utiliser. Bull AQSP
análise dos dados concluiu-se que as 1996; 4 (2): 8-9.
principais patologias nos doentes em 4. Microsoft Excel® 2000 [programa de com-
putador]. Version 9.0.2812. Redmond (WA): Mi-
cuidados paliativos a realizar terapêu-
crosoft Corporation; 1999.
tica SC são as neoplasias e a doença
5. Torsheim AK, Falkmer U, Kaasa S. Hy-
vascular cerebral. Estas, ao condiciona- drering av pasienter med langtkomet krefsty-
rem a intolerabilidade da via oral, levam kdom: er subkutan infusjon en god losning?
à eleição da via subcutânea como alter- [Hydration of patients with advanced cancer:
nativa. is subcutaneous infusion a good solution?]
Os fármacos mais utilizados estão de Tidsskr Nor Laegeforen 1999 Aug 20; 119 (19):
acordo com o que é a prática consen- 2815-7.
sual nesta matéria. 6. Llimós A, Sibina M, Porta J, Ylla-Catalá
O facto de não ter ocorrido nenhuma E, Ferrer M. Utilización de la via subcutánea
en cuidados paliativos. Medicina Paliativa
complicação nos doentes a realizar esta
1999; 6 (3): 121-7.
técnica corrobora a ideia da boa tolera-
7. Azulay Tapiero A, Hortelano Martínez E,
bilidade da via e suas vantagens. Visconti Gijón JV. Tratamiento paliativo del pa-
Para assegurar um rigoroso contro- ciente neoplástico en estado agonico median-
lo dos sintomas, os médicos deveriam te infusión subcutánea. Medicina Paliativa
ter formação obrigatória nesta matéria 1998; 5 (3): 131-5.
e os fármacos mais frequentemente uti- 8. Storey P, Hill HH Jr, Louis RH, Tarver EE..
lizados deveriam estar disponíveis em Long term subcutaneous infusions for control
todos os Centros de Saúde que efecti- of cancer symptoms. J Pain Symptom Mana-
ge 1990; 5: 33-41.
vamente pratiquem cuidados continua-
9. Fainsinger RL, MacEachern T, Miller MJ,
dos e paliativos. Seria mesmo positivo
Bruera E, Spachynski K, Kuehn N, et al. The
a extrapolação desta técnica para o use of hypodermoclysis for rehydration in ter-
meio hospitalar, tendo em conta todas minally ill cancer patients. J Pain Symptom
as vantagens em relação à via endove- Manage 1994 Jul; 9 (5): 298-302.
nosa, a mais utilizada no hospital. 10. Bruera E, Legris M, Kuehn N, Miller MJ.
Em Portugal, dada a escassez de in- Hypodermoclysis for the administration of
formação publicada, afigura-se neces- fluids and narcotic analgesiscs in patients with
sário optimizar os sistemas de informa- advanced cancer. J Pain Symptom Manage
ção existentes, através do reforço da di- 1990 Aug; 5 (4): 218-20.
11. Centeno C, Rodriguez D, Sánches L,
vulgação desta técnica ao longo da Li-
López MC, Fuentes C, et al. Administração sub-
cenciatura em Medicina e em Cursos de
cutânea de ceftriaxona em cuidados paliativos.
Pós-Graduação. Seria também interes- In: Medicina Paliativa 2003 Nov; 10 Suppl:122.
sante desenvolver estudos complemen- 12. Farrand S, Campbell A. Safe, simple
tares sobre a aplicabilidade da via SC subcutaneous fluid administration. Br J Hosp
noutras áreas da Medicina. Med 1996 Jun 5-18; 55 (11): 690-2.

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ABSTRACT
Introduction: Regardless of its importance, need and efficacy in specific situations, namely in continued and pal-
liative care, the subcutaneous route (SR) is still scarcely applied in Portugal. SR is useful to administer drugs and
fluids (hypodermoclysis). Knowing its main characteristics and relevance is essential for Family Doctors, in or-
der to assume their responsibility in taking care of patients until the moment of their death.
Objective: To determine the utilisation rate of SR in palliative care; to describe diseases, indications, drugs admi-
nistered and complications associated with the use of SR.
Type of study: descriptive, cross-sectional.
Population and Setting: Patients receiving palliative care in June, 2004, in the Continued Care Unit of Odivelas
Health Center, Portugal.
Methods: The authors reviewed the medical records of the 348 patients included in the study about gender, age,
the use of SR, its indications, drugs used, mode of administration and complications associated.
Results: About 3.5% of patients received subcutaneous therapy. The main diagnoses in this group were cancer
(41,67%) and stroke (41,67%); the major indication to the use of SR was agony (50%). Hypodermoclysis was
used in 41,67%, and exclusive administration of drugs in 58,33% of the SR group patients; butilscopolamin was
the most used drug (66,67%). In all the cases drugs were administered in bolus and hypodermoclysis as a con-
tinuous infusion. No complications of the use of SR were reported.
Conclusions: The use of SR in palliative care is low, with a dimension still incompatible with its benefits.

Keywords: Subcutaneous Route; Palliative Care.

Agradecimentos Endereço para correspondência:


Os autores desejam dirigir o seu agradecimen- Cátia Marques
to à Dra. Isabel Galriça Neto que participou di- E-mail: catiamar123@gmail.com
rectamente no planeamento da investigação,
acompanhou e apoiou todo o processo e con-
tribuiu com críticas e sugestões para a realiza-
ção deste artigo.
Pretendem ainda exprimir o seu agradeci-
mento aos restantes professores da Disciplina
de MGF da Faculdade de Medicina de Lisboa
que lhes proporcionaram a oportunidade de Recebido para publicação em: 13/07/05
realizar este trabalho. Aceite para publicação em: 21/12/05

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