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Sobre o PDM de Sintra

Por Baptista Alves

O urbanismo no seu sentido mais amplo é uma actividade eminentemente


democrática que remete para as escolhas políticas informadas, para o debate e a
confrontação entre diferentes projectos políticos sobre a pólis, para a existência
de cidadãos activos e informados com vontade de participar e de agir em defesa
dos seus interesses individuais ou de grupo, valorizando a validação de hipóteses
e a sua rejeição, a oposição entre os contrários, a escolha e a decisão
democrática.

O tecnicismo dominante, cuja maior expressão já não é apenas o pequeno


conjunto dos que fazem as leis mas também o pequeno grupo, quase
omnipresente, dos que põem e dispõem sobre estratégias e modelos de
desenvolvimento e de financiamento, transmitiram a ideia de que as escolhas
feitas, e a fazer, não têm qualquer relação com os projectos políticos em presença
e são do domínio do inevitável.

A situação em Sintra é, naturalmente, fruto de escolhas e de opções políticas


erradas. Tratou-se de opções que tiveram consequências: uns ganharam, muito, e
outros perderam. Perdeu a população em geral que todos os dias enfrenta
problemas de mobilidade por falta de vias adequadas para o nº de habitantes
existentes; perderam os jovens que não têm locais para a prática de actividades
desportivas e culturais; perderam as famílias porque não têm espaços verdes e de
lazer suficientes às suas necessidades.

O Concelho de Sintra tem actualmente 454.000 habitantes e teve nos dez últimos
anos uma taxa de crescimento de 24,9%, a 2ª maior da Grande Lisboa, a seguir a
Mafra. O Concelho de Lisboa, Loures e Amadora, tem perdido população para os

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Concelhos da periferia. Será que este fenómeno se explica somente pela
aplicação do binómio mobilidade – baixo preço da habitação?

A população do grupo etário compreendido entre os 15-64 anos é de 309.023


habitantes, quando em 2001 era de 264.623 habitantes. A taxa de envelhecimento
é de 79%, quando em 2001 era de 62%.

De acordo com o estudo aqui apresentado para o início da revisão do PDM de


Sintra, a Câmara Municipal estimou uma evolução demográfica do Concelho em
2005 como controlada, mas a partir daí a população passou novamente a crescer:
estima-se que o concelho em 2016 tenha uma população superior a 465.000
habitantes.

O Plano Director Municipal de Sintra deverá estabelecer os objectivos da política


de habitação que se pretende adoptar para o município. Deverá caracterizar a
situação existente e as diferentes procuras a que importa dar resposta. Deverá
explicitar os objectivos de combinação de usos, evitando uma situação de
produção de fogos comandada pela oferta, a monofuncionalidade do sistema
urbano e a segregação espacial das populações.

Numa afirmação do modelo selvagem de neoliberalismo, o desenvolvimento


urbano em Sintra pura e simplesmente ignorou a distinção entre o direito a
edificar e o direito a urbanizar, clarificação fundamental para definir a forma
como a Administração se relaciona com o processo de produção de solo urbano e
com a geração de mais-valias simples. Sem a fazermos não podemos encontrar as
respostas para grande parte das disfuncionalidades que caracterizam o
ordenamento do território, em especial em áreas urbanas como Algueirão-Mem
Martins, Rio de Mouro, Cacém ou Queluz, e que o novo PDM de Sintra poderá
resolver.

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Nos objectivos gerais, o documento aqui proposto analisa graficamente a
ocupação do Concelho por classes e categorias de espaços. Os espaços urbanos
ocupam 17% do território, os espaços urbanizáveis 7%, os espaços de
desenvolvimento turístico 3,5%, os espaços naturais 29%, etc.

Todas as classes de espaços apresentam uma ocupação de espaço superior a 50%,


com excepção da classe urbana. Por exemplo: espaço disponível da classe de
espaço urbano 52,38%, espaço urbanizável de uso habitacional 36,34%, espaço
de desenvolvimento turístico 40,49%, espaço industrial 24,47%, espaço de
indústrias extractivas 34,22%, espaço de equipamento 16,46%, etc. Pelo exposto
observa-se que ainda existe bastante espaço disponível nas classes de espaços
urbanos.

No entanto, também refere este relatório que fazendo a analogia entre o Plano
Verde e o PDM, existem algumas áreas urbanas que incidem sobre a estrutura
verde do Concelho e que se deveria efectuar eventuais ajustes melhorando a
sustentabilidade do território, o que parece correcto.

Uma política de solos em Sintra deve assegurar a disponibilização de terrenos


para os diversos usos, protegendo os usos agrícola e florestal, incapazes de
competir com o poder aquisitivo do uso urbano já que no âmbito da exploração
normal associada a estas actividades não é possível amortizar o valor fundiário
que o uso urbano suporta. Assim, as áreas de Colares, S. João das Lampas,
Terrugem, Almargem do Bispo devem ser observadas com especial atenção,
dada a elevada qualidade dos solos.

Neste relatório apontamos uma lacuna que deverá ser corrigida: falta a
caracterização individualizada das freguesias. O estudo das freguesias seria
importante, pois há diversas realidades no Concelho que importa conhecer, e que
levantam questões muito pertinentes.

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Assim,

Quantidade de fogos devolutos, ou que ainda se encontram por vender ou


arrendar, nº de fogos licenciados e por construir e habitar, nº de fogos por
construir em alvarás licenciados, compromissos urbanísticos, distribuição de
fogos por tipologia, áreas preferenciais por fogo, quantidade de habitações que
foram alvo de recuperação, preço por m2 de construção comparando-o com a
Grande Lisboa, entre outras questões são fundamentais para compreender a
evolução do concelho.

Dentro do uso urbano, que tem como objectivo dar resposta às necessidades de
habitação de todos os grupos sociais e não apenas dos que têm poder aquisitivo
mais elevado, o município deve ser capaz de impedir a desertificação das
freguesias do interior, de forma a aliviar toda a faixa urbana ao redor da Linha de
Sintra.

Por outro lado, deverá resolver de uma vez por todas as 100 Áreas de Génese
Ilegal ainda existentes no concelho, porque para além de serem um problema
grave de falta de vontade política para a sua resolução, é inadmissível no século
XXI viverem pessoas sem a qualidade de vida que merecem. As freguesias de
Casal de Cambra, Almargem do Bispo e Rio de Mouro são as que ocupam maior
área, e outra vez, a freguesia de Almargem do Bispo, Rio de Mouro e S. João das
Lampas são as freguesias que contêm maior número de construções de génese
ilegal. Cerca de 52% das AUGI’s ainda se encontram com uma percentagem de
infra-estruturação abaixo dos 50%.

O novo PDM de Sintra deverá revelar-se eficaz a controlar o desenvolvimento


urbano e a evitar o aparecimento de fenómenos especulativos e de segregação
espacial das populações, ao mesmo tempo que garante a criação, estruturação e

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desenvolvimento de áreas industriais, dando particular atenção às actividades da
transformação das rochas ornamentais, medicamento, electrónica, cablagem,
química, logística, entre outras, que se têm vindo a estabelecer em Sintra.

O uso urbano deve ser confinado aos perímetros urbanos e aí o Sistema de


Planeamento deve garantir uma resposta qualificada para todas as necessidades e
não apenas para as de maior poder aquisitivo. A protecção dos usos agrícolas e
florestais da pressão urbana é uma condição sine qua non para garantir um
adequado ordenamento do território.

Dentro das Estratégias e objectivos para o futuro PDM, considero que ao nível
dos contributos e temas que posteriormente poderiam ser analisados, deveriam
ser consideradas ainda outras questões não vertidas no documento em discussão.

Neste sentido, a articulação do Concelho, com áreas territoriais mais vastas, de


forma a corrigir as assimetrias existentes é um tema que é importante. Por outro
lado, em termos territoriais, o Concelho está dividido de uma forma geral em 3
áreas, que compreendem o Litoral, o Eixo Urbano Queluz - Sintra e a Zona
Rural. Ter estratégias e objectivos para estas 3 áreas tão diferentes seria também
importante e fundamental para o equilíbrio económico e social do concelho.

Por fim, apostar-se em áreas temáticas mais alargadas, nos campos de referência
e acções concretas, definindo objectivos específicos e menos gerais. Destaco:

a) Na integração e qualidade de vida - Equilíbrio populacional (quantos


habitantes é que queremos para o Concelho, de forma a não exceder a sua
capacidade de carga, reforço e equilíbrio da rede urbana), nível socio-económico,
coesão e qualidade de vida (infra-estruturas, equipamentos sociais), formação e
qualificação social, identidades culturais, desenvolvimento sócio-cultural,

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equipamentos colectivos, perspectiva de qualificação crescente do espaço
público.

b) Na ecologia local - Ar, Água, solo, sistemas naturais e rurais (Estrutura


ecológica metropolitana), áreas agrícolas, florestais, silvestres e naturais, REN,
RAN, zona costeira, paisagem, minimização dos desastres naturais, estruturas
verdes urbanas.

c) Património Cultural - Paisagem Cultural, paisagens, património natural e


elementos paisagísticos, património arqueológico, património arquitectónico
(elementos isolados, e núcleos urbanos históricos), Parques, jardins, quintas,
assentamentos agrícolas, percursos caminhos miradouros, património móvel,
património etnográfico e cultura popular.

d) Economia e Competitividade - Capacidade de inversão (propostas do Plano


Estratégico), competitividade, dinamização e diversificação, economia local,
actividade turística, diversificação da base económica, geradora de emprego e
coesão social.

e) Sistema urbano - Rede urbana concelhia, aglomerados urbanos da Paisagem


cultural, Vila de Sintra, aglomerados urbanos rurais, eixo Amadora-Sintra,
AUGIs, espaços de desenvolvimento turístico, espaços industriais, Pólos/centros.

f) Sectores ambientais chaves - Energia, transportes, água e saneamento,


resíduos.

O processo de urbanização permite, pontualmente, um conjunto de receitas que


funcionam muitas vezes como balões de oxigénio para as debilitadas tesourarias
municipais, mas face aos pesados encargos que a urbanização acarreta a longo
prazo para os municípios, ela transforma-se num ónus para as gerações futuras e

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para todos os cidadãos. Por isso, a revisão do PDM de Sintra, surge como uma
oportunidade para compreender os graves erros que aconteceram no passado.

Os erros e as omissões actuais têm solução, essa é a principal mensagem que


devemos dar à população. Não estamos no domínio das fatalidades. Estamos no
domínio das escolhas políticas e das consequências dessas escolhas.
Necessitamos de um PDM de Sintra melhor que o anterior, que promova um
ordenamento do território sustentável a longo prazo. Um ordenamento do
território que não descrimine os cidadãos e não promova o empobrecimento dos
recursos naturais, tão valiosos num concelho como Sintra.

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