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XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CCSA

ISSN 1808-6381

A EDUCAÇÃO JURÍDICA POPULAR E A DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO JURÍDICO

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Lucas Sidrim Gomes de Melo - UFRN

RESUMO
Frente às injustiças, o conhecimento jurídico precisa ser multiplicado para ser concretizado na
sociedade, aproximando-o da comunidade a quem se destina e atualmente se encontra ausente.
Mediante análise doutrinária e contraposição com a realidade fática, preliminarmente se discorre
acerca da compreensão do Direito e de seu valor para a coletividade. É necessário problematizar a
relação do fenômeno jurídico com os fatos sociais, constatado o descaso e ausência do Estado no
cumprimento e concretização de suas obrigações e deveres, com análise acerca da ideologia que
reveste o Direito enquanto mecanismo de dominação a favor de interesses minoritários, em
contraposição à necessidade de utilizá-lo como instrumento de transformação social. É promovido o
enfoque sociológico acerca da formação jurídica, a qual é analisada e são promovidos apontamentos
críticos acerca do ensino, da pesquisa, da extensão, da constituição do corpo docente do ensino
jurídico universitário e da educação bancária vigente e majoritária que promove a manutenção do
status quo, se problematizando como alternativa uma cultura jurídica que promova uma nova relação
entre a Justiça e os sujeitos sociais. É constatado que o ensino se dá através da leitura mecânica de
códigos, afastado dos problemas sociais, bem como a pesquisa, a qual é voltada para a própria
academia. A Extensão, por sua vez, é tida como o caminho possível para a reaproximação e
vinculação do saber acadêmico e as práticas populares, devendo ser vencido o muro que distancia a
universidade da sociedade. Sendo a educação um fenômeno ideológico, a educação popular com
base nos ensinamentos de Paulo Freire é vista por sua potencialidade transformadora, com o intuito
de se democratizar o conhecimento do Direito através da promoção de uma educação jurídica
popular no seio social.

Palavras-chave: Formação jurídica; Paulo Freire; Educação jurídica popular.

Introdução

O Direito encontra-se isolado da sociedade. Preso aos códigos, ao exacerbado tecnicismo, ao


formalismo incompreendido pelo cidadão comum, o Direito está distante das outras ciências e da
comunidade a quem deve cumprir o papel de harmonizar a convivência e resolver os conflitos.
Eis o panorama atual de distanciamento das problemáticas da sociedade, quadro incondizente
com a função social que o Direito tem, enquanto instrumento pelo qual o ideal de Justiça deve ser
concretizado.
A atuação do juiz, do advogado, do promotor e das demais carreiras que o operador do Direito
pode seguir em sua vida profissional é influenciada intrinsecamente pela formação que lhe é
conferida no ambiente universitário, sendo constatada a predominância dos interesses individuais
sobre o coletivo e a resolução das mazelas que atingem a sociedade.
Logo, é preciso que este cenário seja analisado e rediscutido, para que seja possível uma
modificação nesta conjuntura jurídica e a promoção de uma educação mais crítica, consciente e
humana do aplicador do Direito.

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E-mail: Lucas_sidrim@hotmail.com
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Mais que isto, é preciso que o conhecimento construído na universidade seja voltado à sociedade,
tanto na Pesquisa quanto na Extensão, pilares que, junto ao Ensino, fundam o tripé diferencial da
Universidade.
E este conhecimento deve ser divulgado e promovido, na crença de que, para se lutar pela
concretização de um direito, o primeiro passo é conhecê-lo, saber-se dele titular, capaz de utilizar os
recursos e as ferramentas jurídicas que existem ao seu dispor para assim efetivá-lo frente às
injustiças com que se depara no cotidiano.
Com base nisto, há a ponderação acerca da educação bancária que é ministrada na universidade
com o seguinte questionamento norteador: Esta educação torna multiplicador o estudante de Direito?
Ou seja, este se torna capaz de repassar com eficácia o conhecimento apreendido, para um cidadão
comum?
E, frente a estas perguntas, existe a necessidade de se promover uma educação jurídica popular,
que apresente uma metodologia capaz de concretizar a transformação no meio social, respeitando a
autonomia e a identidade do educando a quem se dirige para que, desta maneira, haja a
democratização do conhecimento jurídico e assim se dê início à luta pela efetivação dos direitos dos
cidadãos.

O universo jurídico e a sociedade

É preciso problematizar o ensino jurídico, a forma como é transmitido e como deve ser passado
adiante, tendo em vista seu papel relevante na convivência em comunidade.
Para isto, se faz necessário indagar acerca de sua utilidade e importância, para ser feita a precisa
delimitação da necessidade que uma comunidade em situação de vulnerabilidade sócio-econômica
tem acerca deste saber para satisfazer suas necessidades básicas.
Frente a isto, dá-se início à inserção no universo jurídico indagando acerca das posturas que o
operador do Direito pode e deve apresentar em sua atuação profissional, problematizando
essencialmente um brocardo jurídico ensinado nas universidades: Ubi societas, ibi jus (onde está a
sociedade, está o Direito).

Primeiras palavras sobre o Direito

Há de se precisar conceitualmente a importância que o Direito apresenta para a sociedade em


que se insere. O questionamento inicial a nortear esta explanação deve ser “O que é o Direito?”.
Tantas podem ser as respostas quanto os interesses ideológicos por trás de quem as responde. É
válida a lição de Jhering, em sua obra A luta pelo Direito:

A palavra Direito é usada em duas acepções distintas, a objetiva e a


subjetiva. O direito, no sentido objetivo, compreende os princípios jurídicos
manipulados pelo Estado, ou seja, o ordenamento legal da vida. O direito,
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no sentido subjetivo, representa a atuação concreta da norma abstrata, de


que resulta uma faculdade específica de determinada pessoa. (JHERING,
2000, p.29)

Deve, por sua vez, haver uma densificação e complementação deste conceito ao invés de aceitá-
lo passivamente. Enquanto direito subjetivo, ao passo que se aceita ser uma faculdade específica de
um indivíduo, é também uma prestação que deve ser cumprida, respeitada e promovida pelo Estado,
não sendo possível aceitar que sejam apenas promessas, favores ou esmolas a favor dos interesses
das elites dominantes.
Além disto, há de se questionar a afirmação de Jhering acerca da compreensão do Direito
limitada aos princípios jurídicos manipulados pelo Estado. Este seria unicamente o Direito Estatal, o
qual se caracteriza pela centralização jurídica na figura do Estado.
Porém, o Direito a este não se restringe. Criado no seio social, para harmonizar as relações
interpessoais e dirimir conflitos, o Direito normatiza a convivência de seus indivíduos e deve estar
sempre aliado à sociedade, às suas necessidades e aos seus interesses, visando promover a paz e o
bem-estar comum, não podendo daquela separar-se, sob pena de perder sua eficácia e legitimidade.
Miguel Reale, jurista brasileiro, de tal forma posiciona a importância do Direito:

Podemos, pois, dizer sem maiores indagações, que o Direito corresponde à


exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois
nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção
e solidariedade (REALE, 2001, p.2).

Onde está a sociedade, está ou deveria estar o Direito?

Tão intrínseca deve ser a relação entre a sociedade e o Direito que, nas primeiras lições jurídicas
ensinadas na universidade, é ensinada a já mencionada assertiva: Ubi societas, ibi jus. Ou seja, onde
está a sociedade, está o Direito.
De fato está ou deveria estar? Para quem se estuda o Direito? Para quem o aplicar? Contra quê o
operador do Direito deve se posicionar em sua atuação?
O Direito deve apenas ordenar a convivência, garantindo uma ordem, em muitos casos, injusta, e
servir apenas como instrumento de controle social ou deve ser mecanismo de transformação social e,
assim, de mudança?
É vital que haja sempre tais reflexões e a devida problematização das questões jurídicas que não
se dissociam do âmbito social. À última indagação corresponde uma importante elucidação, que
abaixo segue exposta:

A figura do Estado, principalmente o Estado-legislador, é fundamental para


a execução da dominação praticada pelos detentores do poder político, e,
neste contexto, o direito está colocado a serviço dos poderosos. (OLIVEIRA,
1997, p. 379).
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Sendo assim, o Direito estatal é utilizado como mecanismo de dominação a favor de interesses
minoritários, dissonantes e opressores da vontade, dos interesses e das necessidades da maioria
social a quem se dirige e, frente a esta constatação, observa-se como o Direito positivado.
Por tal razão, observa-se na realidade social o chamado fenômeno do pluralismo jurídico. O
2
Direito vigente promove o reducionismo do fenômeno jurídico ao colocar que “Direito é lei e ordem”
ou que o Direito é unicamente achado na lei, tal como juristas de grande relevo no cenário nacional,
como Gilmar Mendes, se posicionam, firmando a crença apenas no Direito estatal.
Contudo, o Direito, como dito, não se afasta da sociedade e, por tal razão, deve ser achado na
rua, conotação simbólica do espaço público utilizada para ressaltar a coexistência coletiva. A relação
reducionista entre Direito e Lei exclui um ponto essencial ao se tratar de ordenamento jurídico: a
Justiça.
3
Buscando concretizá-la, em ocupações , comunidades indígenas, quilombolas, favelas e outras
mais, o pluralismo jurídico se efetiva, instaurando um direito não-oficial que atua paralelamente ao
4
direito estatal e suas ausências, com manifestações normativas informais que decorrem da luta .
Sendo assim, há de se discordar do posicionamento firmado por Jhering no trecho inicialmente
referido, pois o Direito, no sentido objetivo ao qual sua fala refere-se, não se limita aos princípios
jurídicos manipulados pelo Estado, mas é uma força viva que decorre da luta diária dos movimentos
sociais e das camadas da sociedade que não são atendidas pelo Estado vigente, não sendo
encontrado apenas na lei positivada estatalmente, mas principalmente na rua.
Para ter uma visão mais ampla acerca da aplicação do Direito e seu papel transformador, é
preciso analisar de que modo é passado o conhecimento jurídico na Universidade, sob um olhar
crítico e questionador, com o intuito de buscar sua melhoria e mudança.

O Ensino Jurídico na Universidade

As questões que envolvem a atuação e a forma que o aplicador do Direito deve se portar, em sua
atuação profissional, são influenciadas especialmente pela maneira com que o conhecimento jurídico
lhe é passado enquanto formação e capacitação profissional.
O que se percebe é que esta capacitação se faz alheia à preocupação de haver politização,
criticidade e conscientização da forma como se dará a aplicação deste saber no seio social. Sendo

2
Tal reprodução ideológica torna-se clara no seguinte posicionamento firmado por Miguel Reale: “Aos olhos do
homem comum o Direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência
social graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um dos seus membros” (REALE, 2001, p.1).
3
Este fenômeno pode ser observado na realidade brasileira, como por exemplo na ocupação Oito de Outubro,
existente em Natal, RN, onde cerca de 60 famílias moram em condições desumanas de sobrevivência e se
mobilizam e organizam para a luta pela concretização do direito à moradia. Devido à ausência e descaso do
Estado, que não lhe garante segurança, saúde, educação, transporte ou sequer moradia, os moradores da
comunidade se organizaram em torno da Associação dos Moradores e decidiram implementar 4 regras de
convivência que, desobedecidas, levam a uma convocação de assembléia popular, na qual, inclusive, pode-se dar
a expulsão do indivíduo daquela comunidade: Não beber, não usar drogas, não roubar e não matar. Tais
imperativos foram decididos em assembléia popular, com a presença de todos os moradores, tendo, portanto,
legitimidade, se instaurando a partir da omissão do Estado de garantir os direitos fundamentais à ocupação.
4
Para mais informações acerca do pluralismo jurídico, ver: WOLKMER, 2005,
<http://www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=646>
e; SANTOS, 1988.
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assim, observa-se um distanciamento da sociedade que leva à aplicação fria da letra da lei ao invés
de uma interpretação humana que esteja adequada aos anseios, aos clamores, aos interesses e às
necessidades da sociedade.

Por uma cultura jurídica que aproxime os cidadãos da Justiça

É preciso analisar e repensar o ensino jurídico nas universidades, posto que a manifestação do
Direito na sociedade decorre essencialmente da maneira como sua educação se dá.
É nesta hora que, principalmente, se observa a passagem ideológica da passividade e da
manutenção do status quo ao estudante de Direito e é vital buscar a resposta para a pergunta
formulada no início deste artigo: para quem se estuda o Direito? Para quê e contra quê?
Conforme o pensamento de Paulo Freire, a educação sempre está revestida por ideologia, a qual,
por sua vez, pode fazer com que o Direito seja instrumento de controle ou de transformação:

Educação que, não podendo jamais ser neutra, tanto pode estar a serviço
da decisão, da transformação do mundo, da inserção crítica nele, quanto a
serviço da imobilização, da permanência possível das estruturas injustas, da
acomodação dos seres humanos à realidade tida como intocável. (FREIRE,
2000, p. 58)

Ensino: A leitura dos códigos e a distância das problemáticas sociais

Faz-se, portanto, elementar indagar acerca do ensino, da extensão e da pesquisa promovidos no


seio da universidade.
Para isto, é fundamental trazer a constatação precisa e crítica do emérito português Boaventura
de Sousa Santos, acerca da cultura jurídica:

A sexta manifestação desta cultura normativista técnico-burocrática, é ser,


em geral, competente a interpretar o direito e incompetente a interpretar a
realidade. Ou seja, conhece bem o direito e a sua relação com os autos,
mas não conhece a relação dos autos com a realidade. Não sabe espremer
os processos até que eles destilem a sociedade, violações de direitos
humanos, pessoas a sofrer, vidas injustiçadas. (SANTOS, 2007, p. 70)
[grifos do autor]

Tal posicionamento corrobora com o de Paulo Freire, exposto em sua obra Pedagogia da
indignação, editada após o seu falecimento, onde o pedagogo postula que o ensino tem “eficácia
técnica e ineficácia cidadã a serviço da minoria dominante” (FREIRE, 2000, p.57).
Sendo assim, o que se constata é que o ensino se reduz muitas vezes à leitura de códigos, à sua
mera repetição e memorização mecânica, características marcantes da educação que Paulo Freire
denominou bancária.
O aluno, sem criticidade, é um receptor passivo que se encontra descomprometido com os
problemas que envolvem a comunidade em quem as lições apreendidas irão ganhar vida.
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Além disto, as faculdades de Direito desenvolveram uma cultura de indiferença frente aos
elementos extra-normativos, se manifestando de forma exterior à sociedade, considerando-se
superiores aos outros ensinamentos e desprezando os seus usos na prática jurídica.
Uma crítica deve ser feita inclusive à formação do magistério, cujos professores, na maioria das
vezes, não têm preparação pedagógica adequada para ir à sala de aula e passar conhecimento de
forma eficaz. Isto se dá porque, em muitos casos, a docência é uma atividade secundária, que
decorre da seleção em que os critérios da prática profissional foram decisivos para a sua escolha e
permanência no cargo de professor de determinada matéria.
Boaventura, por sua vez, posiciona da seguinte maneira o professor de Direito que não teve uma
formação pedagógica:

Um professor sem qualquer preparação pedagógica e sem qualquer


reflexão crítica acerca de sua ação docente torna-se um improvisador ou,
no melhor dos casos, um especialista do ensino antidialógico, contratado
para proferir alguns discursos semanais, que deverão ser repetidos
fielmente em provas e trabalhos. (SANTOS, 2007, p.74)

A educação jurídica deve ser repensada, portanto, assim como a Extensão e a Pesquisa, pois o
5
tripé que sustenta e diferencia a universidade de uma simples educação superior está fragilizado e
6
ignora os problemas e as práticas sociais, limita o aluno ao seu vade mecum e à descrição passiva
dos institutos jurídicos, que carecem da devida contextualização, problematização e inserção no
mundo fático em que são aplicados.

A Pesquisa-ação e a conciliação dos interesses sociais e científicos

A pesquisa, na academia, é voltada para a própria academia. Os artigos são produzidos com
rígidas normas de publicação que limitam a liberdade e a criatividade do corpo discente e seus temas
são genéricos e de pouca utilidade quando pensada a sua aplicação na sociedade, devido ao caráter
bastante teórico de que são revestidos.
Deste modo, a pesquisa majoritária está distante da sociedade, sendo necessário também
repensá-la em busca de sua melhoria. Uma crítica que pode ser constatada é a primazia do
conhecimento científico, que passou a ser considerado o único modo de conhecimento válido no seio
da universidade, como observado na obra Para uma revolução democrática da justiça:

Começa a ser socialmente perceptível que a universidade, ao especializar-


se no conhecimento científico e ao considerá-lo a única forma de
conhecimento válido, contribuiu ativamente para a desqualificação e mesmo
destruição de muito conhecimento não-científico e que, com isso, contribuiu

5
Vade mecum é um compêndio de obras básicas legislativas desenvolvido com o intuito de facilitar a consulta e
a sistematização do ordenamento jurídico.
6
Boaventura, por sua vez, ao discorrer acerca do tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, acrescenta a necessidade de,
no Ensino, estar contemplada a pós-graduação, como observado no seguinte trecho: “As reformas devem partir
do pressuposto que no século XXI só há universidade quando há formação graduada e pós-graduada, pesquisa e
extensão. Sem qualquer destes, há ensino superior, não há universidade”. (SANTOS, 2004, p.48-49).
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para a marginalização dos grupos sociais que só tinham ao seu dispor


essas formas de conhecimento. (SANTOS, 2007, p.56)

Sendo assim, o conhecimento do código e do manual sobrepõe-se à ida a um assentamento rural


e a uma favela, no ensino bancário tradicional. Fixar a atenção nos livros, considerando a única fonte
de direitos merecedora de atenção é rejeitar o conhecimento proveniente da batalha, da luta diária
pela vivência, pelo acesso e pela concretização e democratização daqueles direitos vistos e
memorizados mecanicamente nos códigos e manuais.
O que engrandece mais à formação de um estudante: ler o artigo 6º da Constituição Federal que
versa sobre os direitos sociais, como a moradia, o transporte e a educação, ou conhecer, por
7
exemplo, o Conjunto Habitacional Leningrado , no Bairro do Planalto, em Natal, onde as pessoas
vivem a luta pela concretização destes direitos?
Escrever abstratamente sobre o fundamento jurídico do direito à moradia, a geração que
pertence, a classificação do direito humano no ordenamento jurídico ou redigir a partir da observação
de sua concretização – ou ausência de efetivação - na comunidade em que o estudante vive?
Os interesses científicos devem estar em harmonia com os interesses da sociedade e, por tal
razão, tem-se como alternativa a pesquisa-ação, a qual apresenta forte participação dos projetos de
pesquisa nas comunidades carentes e junto às organizações sociais populares, cujos problemas
podem ser solucionados e comportar benefícios dos resultados obtidos com tal pesquisa.

A Extensão e a extensão às avessas: pelo rompimento dos muros que distanciam a


universidade da sociedade

Por fim, deve-se repensar, na construção crítica da Universidade, a Extensão, considerada por
Boaventura a atividade que precisa ser centralizada e construir a coesão social, aprofundar a
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democracia e lutar, dentre outras bandeiras, contra a exclusão social .
Muitas vezes as iniciativas se definem como extensão, mas não promovem, de fato, o
prolongamento da Universidade, pois não rompem com os muros que lhe separam da sociedade,
mas se voltam exclusivamente para a formação individual, com meras simulações distantes da
sociedade e que em nada lhe influencia, soma ou surte efeito.
A Extensão deve ser a responsável pela concretização da função social da universidade,
prestando serviços e construindo soluções para as problemáticas com que as classes sociais se
deparam no cotidiano, dando voz aos grupos excluídos e discriminados.
Além disto, deve-se fazer a contra-extensão, ou seja, a extensão às avessas: devem ser trazidos
para dentro da universidade os movimentos sociais, para que estes possam ter voz, ser ouvidos e ter

7
O Conjunto Habitacional Leningrado é uma conquista do MLB – Movimento de luta nos bairros, vilas e favelas
–, movimento que luta pela reforma urbana no país e, principalmente pela concretização do direito à moradia,
que hoje comporta cerca de 500 famílias, porém não tem acesso aos demais direitos, devido à distância do
Estado, que não garante educação, saúde, transporte e segurança a tal comunidade, residente no Bairro do
Planalto, em Natal, RN.
8
Acerca deste tema, ver: SANTOS, 2004, p.53-54.
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suas causas conhecidas, espaço que normalmente não lhes é conferido, devido aos interesses
dominantes das elites por trás da mídia.
Além disto, outras preocupações devem ser problematizadas, como o excessivo formalismo do
Direito, que o afasta da sociedade, devido à força de seus símbolos, perpetuados na sala de aula:
sua linguagem bastante técnica e de difícil compreensão ao homem comum (linguagem que muitas
vezes é intitulada de “juridiquês”); do terno e do vocativo de “doutor”, dando principal relevo à questão
da linguagem, defendida por Miguel Reale:

É necessário, pois, que dediquem a maior atenção à terminologia jurídica,


sem a qual não poderão penetrar no mundo do Direito. [...] Se pensarem
bem, nós estamos aqui nesta Faculdade para realizar uma viagem de cinco
anos: cinco anos para descobrir e conhecer o mundo jurídico, e sem a
linguagem do Direito não haverá possibilidade de comunicação. (REALE,
2001, p.8)

É óbvio que o Direito, assim como as demais ciências, requer uma linguagem própria e técnica: é
pacífico tal entendimento. O que, contudo, peca como desnecessário é o excessivo formalismo que, a
despeito da referida afirmação de Reale, impossibilita a comunicação entre os chamados “aplicadores
do Direito” e aqueles a quem se destinam, os reais sujeitos de Direito.
Pode-se ilustrar essa dificuldade de comunicação por várias práticas do universo jurídico. Por
exemplo, a leitura das sentenças dos juízes que, em muitos casos, as partes, pessoas simples e
comuns, não conseguem compreender devido à fala carregada de jargões e termos jurídicos
excessivamente formais que afastam da leitura mais do que permitem sua devida e necessária
compreensão.
Além destes problemas, há de se comentar também o distanciamento dos juízes e advogados da
9
realidade social e o valor de seus serviços .
Portanto, a educação jurídica não prepara o aplicador do Direito para que este possa ser um
multiplicador do conhecido lecionado e compreendido durante sua formação.
Isto se dá porque a educação bancária, perpetuada desde o ensino fundamental até o ensino
superior, é uma educação genérica que não se volta a atender as especificidades de cada
comunidade.
Há de se tratar, portanto, da educação bancária e de suas características para então discorrer
acerca da democratização do conhecimento jurídico através de uma educação jurídica popular.

O Ensino e as posturas de resignação e rebeldia diante da realidade

Feitas todas as críticas ao ambiente universitário, constatada a importância do conhecimento


produzido neste cenário e a necessidade de promovê-lo, de romper com os muros da sociedade, é
necessário ainda questionar acerca das posturas que o aplicador do Direito pode apresentar diante

9
A respeito deste tema, convém a leitura de: SANTOS, 1988.
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da realidade fática, acreditando que possa se observar a resignação e a rebeldia diante das
injustiças.
Sendo assim, o papel do Direito estará também delineado, podendo revelar-se como instrumento
de controle social ou de transformação. Qual destes posicionamentos deve ser adotado?
Problematizemos.

A educação bancária e a manutenção da realidade: o mundo é ou está sendo?

A educação, tal como dito anteriormente, é fortemente ideológica, podendo se pronunciar a


serviço da transformação ou da manutenção do status quo.
Pode, portanto, ter caráter impositivo de apreensão de determinados pontos de vista e de
conteúdos a partir da prescrição heterogênea que condiciona sutilmente os seus destinatários.
A educação bancária, ensinada tradicionalmente nas escolas, mantém as coisas como são, sem
caráter crítico, sem incentivo à curiosidade, sem incitação à mudança, a favor de que as coisas se
perpetuem, o que atende aos interesses das elites dominantes, a despeito das necessidades das
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classes sociais que recebem tal educação .
No Movimento Sem-Terra, por sua vez, há de se observar nas escolas das crianças que é
ensinado um conteúdo fortemente ideológico que fomenta a defesa dos ideais de reforma agrária,
função social da terra e promove a sua bandeira.
A diferença entre os dois, apesar de ambos serem prescritivos e privarem a autonomia do
educando, é que a educação feita no MST capacita seus membros a defenderem os seus próprios
interesses, o que não é pregado na educação bancária tradicional, que defende os interesses das
elites, classe distinta à dos educandos, educação que assim é caracterizada por Paulo Freire em sua
principal obra, Pedagogia do oprimido:

Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que


os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e
repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única
margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os
depósitos, guardá-los e arquivá-los. (FREIRE, 1987, p.33)

Diferencia-se, portanto, como sujeito o educador e como objetos os educandos, que recebem o
conhecimento de forma apática, mecânica e vertical.
A educação, portanto, se torna um ato de depositar (FREIRE, 1987, p. 33), onde o educador: é
quem educa, sabe, dá a palavra, disciplina; opta e prescreve sua opção e; escolhe o conteúdo
programático.
O educando, por sua vez, é quem: é educado; não sabe; é pensado; escuta docilmente; é
disciplinado; segue a prescrição; não é ouvido na escolha do conteúdo programático e o segue
docilmente (FREIRE, 1987, p. 34).

10
Sobre este tema, Paulo Freire postula: “Do ponto de vista dos interesses dominantes, não há dúvida de que a
educação deve ser uma prática imobilizadora e ocultadora de verdades” (FREIRE, 1996, p.99).
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Constata-se, portanto, que tal educação leva apenas à acomodação ao mundo da opressão,
dominando, tornando o homem um objeto – o que nem sempre é perceptível e, por fim, é
incondizente com o interesse de promover a democratização e transformação da sociedade frente às
injustiças com que a sociedade se depara, sofre e luta cotidianamente.
É preciso problematizar a seguinte questão: O mundo é ou está sendo? Partindo de como as
coisas estão, é possível que elas sejam de outro modo? Se sim, o que é preciso ser feito?
Problematizar o futuro, o hoje, ou considerá-lo inexorável?
Há de se buscar, então, uma nova solução: a educação popular.

A Educação Popular: por sujeitos transformadores de suas realidades

Inicialmente, há de se terminar com essa distinção entre educador ser sujeito e educando objeto:
todos são educadores-educandos, ambos são sujeitos e, sendo capazes de portar uma postura de
humildade, quem ensina aprende e quem aprende ensina (FREIRE, 1996, p. 69).
Esta nova interação se dá pela promoção da dialogicidade, ou seja, pela construção em conjunto
do conhecimento a partir do diálogo, no qual é preciso saber escutar e respeitar a identidade e a
autonomia do sujeito com quem se estabelece a relação, principalmente por constatar que, nesta
horizontalidade, ambos têm conhecimento prévio de mundo, não são vasos vazios, pois existem
culturas paralelas à da universidade, distintas, socialmente complementares e amplamente ricas que
não podem ser desmerecidas.
A educação popular surge, portanto, do contraste com os vícios da educação bancária, como se
pode extrair da seguinte assertiva:

Ensinar não é transferir conteúdo a ninguém assim como aprender não é


memorizar o perfil do conteúdo transferido no discurso vertical do professor.
(FREIRE, 1996, p.118-119)

Sendo assim, através da educação popular se dá a busca pela transformação – e não pela
manutenção do status quo -, a rebeldia (ao inflar a justa-raiva, que é a capacidade de se rebelar
frente às injustiças), a criticidade, a curiosidade e a politização, se configurando como “o esforço de
mobilização, organização e capacitação das classes populares” (FREIRE; NOGUEIRA, 1999, p. 19),
com a intenção de concretizar a mudança através de sujeitos ativos e transformadores da realidade,
pois ser cidadão é isto: transformar a sociedade e não aprender a conviver e a silenciar.
O conteúdo debatido não pode ser imposto nem previamente elaborado, pois estes vícios
incorrem na margem à ineficácia do processo de aprendizagem. Aliás, deve-se tratar daquilo que é
importante e útil à outra pessoa, de nada adiantando o contrário, que posteriormente será esquecido.
Inclusive, não se pode elaborar um conteúdo que seja distinto das práticas de mundo do
educando, tal como exposto na precisa lição de Paulo Freire e Adriano Nogueira (1999, p. 20): “O
conhecimento do mundo é também feito através das práticas do mundo; e é através dessas práticas
que inventamos uma educação familiar às camadas populares”.
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Quanto a este ponto, ainda, se faz fundamental a seguinte provocação: Por que não estabelecer
uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que
eles têm como indivíduos? (FREIRE, 1996, p. 30). É em cima desta experiência, do chamado
11
“conhecimento pelas vias de corpo”, que deve se pautar a educação popular .
Com base nisto, há de se buscar o Direito como instrumento de transformação social, analisar as
críticas feitas à educação jurídica e a dificuldade que a educação bancária ostenta de fazer do
educando, mero objeto, um multiplicador dos conteúdos apreendidos.
Deve-se problematizar tais questões para alcançar a conclusão de que é necessário, com o
intuito de concretizar a democratização do conhecimento jurídico, que se elabore uma educação
jurídica popular voltada às comunidades sociais carentes, para que se busque a mudança das
estruturas sociais vigentes, onde impera a desigualdade, as violações aos seus direitos e as gritantes
injustiças.

A educação jurídica popular: Paulo Freire e a democratização do conhecimento do Direito

A educação jurídica popular deve partir de dois pressupostos relevantes: a educação é uma forma
de intervenção no mundo (FREIRE, 1996, p. 98) e; para aplicar um direito é preciso conhecê-lo,
saber-se dele titular e como efetivá-lo.
É preciso romper com a postura fatalista e determinista do mundo e de sua estrutura injusta
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vigente . A educação jurídica popular deve pautar-se na constatação do mundo, na denúncia das
situações dissonantes e gritantes de injustiças e violações aos direitos humanos e no anúncio de
como pode se dar a resolução das problemáticas que ferem a dignidade da pessoa humana, posto
que “a mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o
anúncio de sua superação” (FREIRE, 1996, p. 79).
Para concretizá-la, é possível utilizar o método ensinado por Paulo Freire em suas obras, o qual é
eficaz, pois prega uma postura de humildade, de apreensão da realidade popular, de se capacitar em
escutar, em respeitar o conhecimento das ruas - que não é científico, mas sim humano -, de crítica,
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de questionamentos e problematizações, de diálogo e, principalmente, de transformação .
E, para saber quais conteúdos serem aplicados nos encontros de educação jurídica, deve-se
elaborar questionários e entrevistas aos moradores das comunidades, para conhecer suas
identidades, sua forma de falar, de apreender o mundo, as violações que sofrem e suas expectativas
junto ao Direito, além do próprio conhecimento acerca do universo jurídico, para que se possa então

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Um aprofundamento acerca deste posicionamento pode ser feito a partir da seguinte assertiva de Paulo Freire,
presentes em sua obra Pedagogia da autonomia: “Não posso de maneira alguma, nas minhas relações político-
pedagógicas com os grupos populares, desconsiderar seu saber de experiência feito. Sua explicação do mundo de
que faz parte a compreensão de sua própria presença no mundo” (FREIRE, 1996, p.81).
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“Nenhuma realidade social, histórica, econômica é assim porque está escrito que assim seja” (FREIRE;
NOGUEIRA, 1999, p.116)
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No dizer de Clodovis Boff acerca da principal obra de Paulo Freire: “A “pedagogia do oprimido” conferiu ao
processo educativo um conteúdo decididamente social e não mais individualístico e, além disso, uma dimensão
ativamente política e não mais simplesmente passiva e reprodutora do status quo.” (citado por FREIRE;
NOGUEIRA, 1999, p.3)
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elaborar uma formação específica em cima destas matérias e então se dar início à democratização
do conhecimento jurídico, acompanhado de transformações na realidade em que se está inserido.

Conclusão

O Direito é vital para uma sociedade, não importa de qual forma seja concretizado, quais sejam
seus princípios, seus valores, seus mecanismos de coerção e de concretização, se faz necessário
que exista uma estrutura que seja capaz de cumprir o ideal de Justiça para as comunidades.
Dante Alighieri, aclamado autor da Divina Comédia, assim precisa o Direito: Jus est realis ac
personalis hominis ad hominem proportio, quae servata servat societatem; corrupta, corrumpit. Ou
seja, “o Direito é uma proporção real e pessoal, de homem para homem, que, conservada, conserva
a sociedade; corrompida, corrompe-a” (citado por REALE, 2001, p. 60).
Sendo assim, à sociedade é vital que o Direito mantenha sua estrutura íntegra e consonante aos
valores que prega e consolida principalmente em sua Constituição Federal, carta política suprema a
qual todo o ordenamento e a sociedade deve agir em harmonia.
Por abarcar a todos os cidadãos, a toda a comunidade, é justo e necessário que estes indivíduos
tenham conhecimento dos seus direitos, para que estes possam ser cobrados e consolidados pelos
órgãos responsáveis, os quais atualmente não o concretizam, devido aos interesses dissonantes, de
elites dominantes, de manutenção das condições injustas e por causa da formação que lhes é
repassada que confere a instrução de mera perpetuação das estruturas sociais com que lida.
Contudo, este não é o posicionamento que um jurista deve ter em seu dia-a-dia e é preciso que a
educação jurídica seja, portanto, ampliada, promovida, repassada à sociedade, frente às suas
peculiaridades, especificidades, interesses e demandas, para que se possa concretizar a mudança na
sociedade que é tão vital ao povo.
Para isto, se considera útil a metodologia de Paulo Freire, de educação popular, com encontros e
lições de cidadania, para que se possa, desta maneira, haver a necessária democratização do
conhecimento jurídico – e sejam, portanto, conferidas as ferramentas de transformação à sociedade,
para lutar contra as injustiças do cotidiano.

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
______. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora
UNESP, 2000.
______. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
______. NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: teoria e prática em educação popular. 5. ed. Petrópolis :
Vozes, 1999.
JHERING, Rudolf von. A luta pelo Direito. 19. ed. São Paulo: Martin Claret, 2003.
OLIVEIRA, Jorge Rubem Folena de. O Direito como meio de controle social ou como
instrumento de mudança social? Revista de Informação Legislativa, Brasícia, a. 34, n. 136,
out./dez. 1997, p. 377-381. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/325/4/r136-
36.pdf > Acesso em: 13 jun. 2010.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo : Saraiva, 2002.
SANTOS, Boaventura de Sousa. A universidade no século XXI: para uma reforma democrática e
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emancipatória da universidade. São Paulo: Cortez, 2004.


______. Notas sobre a história jurídico-social de Pasárgada. In: Direito achado na rua. Brasília :
Unb, 1988.
_______. Para uma revolução democrática da justiça. São Paulo : Cortez, 2007.
WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo jurídico: Novo paradigma de legitimação.
Disponível em: <http://www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=646>
Acesso em: 13/06/2010

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