Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
2
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
para reduzir as desigualdades de renda exageradas. Vale ressaltar que Keynes não
acreditava que o capitalismo deveria ser substituído ou “governado” pelo Estado, mas
sim corrigido.
A predominância das ideias de Keynes durante meados do século XX, contudo,
dá lugar ao retorno do pensamento liberal - fato que analisaremos nos próximos pontos.
Segundo Paul Krugman (2009), em seu artigo “How Did Economists Get It So Wrong”
(“Como os economistas entenderam tudo tão errado?”, em tradução livre), com o
distanciamento dos anos da Grande Depressão, os economistas esqueceram-se das
limitações da racionalidade humana e das imperfeições ou falhas do mercado, que
podem causar colapsos imprevisíveis na economia. Assim, a idealização do capitalismo
como sistema perfeito retornou ao cenário acadêmico.
Milton Friedman e sua teoria monetarista foram os guias das ações econômicas
durante a segunda metade do século XX. De acordo com estas ideias, a intervenção
governamental deveria ser limitada a ações como: instruir bancos centrais a manter a
reserva monetária nacional5, a quantidade de dinheiro em circulação e os depósitos
bancários num caminho de crescimento constante.
Enquanto isso, economistas keynesianos seguiam defendendo a ideia de que
recessões são a consequência de demanda inadequada6 e, por isso, políticas para
combater essas crises econômicas continuavam sendo desejáveis.
Apesar das diferenças, não houve brigas reais entre as duas correntes de
economistas. Os debates só ocorriam no meio teórico e acadêmico. Segundo Krugman
(2009), foi preciso ocorrer a crise de 2008 para revelar que as duas correntes teóricas
tinham muito pouco em comum.
AS FALHAS DE MERCADO
De um modo geral, a teoria econômica reconhece que em alguns casos o
mercado não aloca os recursos de maneira ótima. Tais casos são conhecidos como falhas
de mercado, frequentemente usadas como justificativa para a intervenção
4 De forma sintetizada, sistemas tributários progressivos são aqueles em que existe proporção entre
imposto e nível de renda. Assim, num sistema tributário progressivo, existem taxas menores para
classes de menor renda e taxas maiores para maior renda. Ainda, quanto mais faixas de renda e de
tributação diferenciada existirem, mais progressivo é considerado o sistema.
5 Estoque de moeda em posse do Banco Central e depósitos em moeda estrangeira e nacional dos bancos
comerciais junto ao Banco Central. Visa a assegurar a normalidade dos mercados financeiros e de
capitais.
6 Keynes define que existe uma demanda efetiva que conduz a produção ao pleno emprego. Ou seja, os
empresários pautam sua produção esperando uma determinada demanda correspondente.
Periodicamente, essa demanda não é gerada espontaneamente pelo mercado, gerando crises cíclicas de
falta de demanda, ou superprodução.
4
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
7 Situação em que uma empresa detém o controle sobre o mercado de um determinado bem ou serviço,
fixando seus preços sem levar em consideração a demanda por tais produtos.
8 Situação em que existe apenas um comprador e inúmeros vendedores. O exemplo clássico deste tipo de
situação é o de uma pequena cidade onde só existe uma grande empresa mineradora, a qual se torna o
único “comprador” (demandante) de força de trabalho. É o inverso da situação de monopólio.
9 Situação em que existe um acordo, o qual pode ser implícito ou explícito, entre empresas concorrentes
para fixação de preços ou cotas de produção e/ou para divisão de mercado de atuação.
5
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
10 Série de programas implementados nos EUA a fim de recuperar e reestruturar a economia do país, a
qual estava em crise desde 1929. Dentre as principais ações tomadas pelo governo, pode-se destacar:
investimento em obras públicas, diminuição da jornada de trabalho e controle do Estado sobre preços
e produção.
6
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
11 Os países da OPEP, maiores produtores de petróleo do mundo, elevaram bruscamente os preços dessa
commodity, como reação às empresas internacionais que detinham maior parte dos lucros com a
exploração de petróleo. Por ser um insumo básico da produção capitalista mundial, o aumento dos
preços golpeou diversas economias ao redor do mundo, provocando uma severa recessão nos Estados
Unidos e na Europa.
12
Escola de pensamento econômico que defende o mercado livre e que foi disseminada por alguns
professores da Unidade de Chicago.
7
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
13
Em 15 de setembro 2008, o banco de investimento americano Lehman Brothers se declara em
concordata. Na mesma data, seu concorrente Merrill Lynch é vendido de emergência para o Bank of
America por US$ 50 bilhões.
8
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
14
CDO - Collateralised Debt Obligations (“Títulos Garantidos por Dívidas”).
15
Derivativos são papéis que têm seu valor derivado de outros ativos, com a finalidade de assumir, limitar ou
transferir riscos. São instrumentos financeiros considerados de risco, uma vez que a avaliação de seus
valores e das consequências de seu uso generalizado é muito complexa em um mercado financeiro cada
vez mais globalizado.
9
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
Gráfico 1 :
16
Liquidez é um conceito econômico que considera a facilidade com que um ativo pode ser convertido no
meio de troca da economia, ou seja, é a facilidade com que ele pode ser convertido em dinheiro. O grau de
agilidade de conversão de um investimento sem perda significativa de seu valor mede sua liquidez.
Assim, quando há facilidade em obter-se dinheiro no mercado, diz-se que há liquidez nesse mercado.
10
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
17
FED, ou Federal Reserve, é o equivalente nos Estados Unidos, ao Banco Central Brasileiro (BACEN).
18
Expressão cunhada em relação à crise das pontocom.
19
Essa crise teve início com a desvalorização das moedas de economias emergentes asiáticas, que gerou
uma imensa fuga de capitais desses países e a queda da atividade econômica na região. A crise atingiu a
outras economias emergentes como o Brasil e a Rússia, que sofreram processo semelhante.
20
A crise das pontocom refere-se à ilusão criada no mercado financeiro estadunidense quanto à capacidade
de empresas on-line, como a Amazom e a AOL (que comprara a Time Warner por US$ 200 bilhões), em
criar uma “Nova Economia”. A criação na Nasdaq, bolsa de valores para artigos de tecnologia, de um
índice para esse ramo de empresas, puxou sua cotação para baixo, acumulando queda de 78% em março
de 2000.
11
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
dólar não perdeu seu papel soberano para nenhuma outra moeda. Muitas economias ao
redor do mundo o utilizam como reserva nacional e, mesmo sem mais a garantia da
conversão ao ouro, o dólar inspira confiança baseado no tamanho e na estabilidade da
economia dos Estados Unidos.
À luz da recente crise financeira internacional e sua origem nos EUA, além da
alta que o euro vinha apresentando desde sua implementação, teria o dólar encontrado
seu limite e acabará ele sendo ultrapassado pela moeda genuinamente europeia - ou
mesmo pelo yuan chinês? Embora os últimos acontecimentos nos levem a crer em um
enfraquecimento gradual do dólar, muitos pesquisadores argumentam que mudanças
no status mundial da moeda podem, sim, acontecer; no entanto, os preços de
commodities21 como petróleo serem fixados em dólar e a relativa estabilidade da
economia norte-americana frente às novas crises no continente europeu e frente às
incertezas políticas e econômicas quanto ao gigante chinês não deixarão o dólar perder
sua hegemonia tão cedo.
Entre outros, assim sustenta Linda Goldberg22 que o uso do dólar fora dos EUA
auxilia a diminuir o impacto doméstico dos choques internacionais, reduz o custo de
transação no comércio e nas finanças, e também ajuda a estender a transmissão das
políticas norte-americanas no âmbito internacional. Se por um lado, as crises
financeiras, a alta do euro e a emergência da China evidenciam as fraquezas do dólar,
por outro lado, as tendências a longo prazo nos demonstram que a moeda norte-
americana continuam inspirando confiança e prevalencedo frente às outras.
21 Produtos primários, ou com baixo grau de industralização, que possuem cotação e são negociáveis nas
bolsas de valores (petróleo, soja, tabaco. etc.)
22 Linda S. Goldberg é vice-presidente de pesquisa internacional no Federal Reserve Bank de Nova York.
13
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
23
É o investimento que não dá controle sobre o capital produtivo ao investidor, sendo meramente
especulativo.
24
Taxa de crescimento projetada pela FIESP em junho de 2010.
14
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
Europa
A adoção do euro em alguns países europeus gerou uma situação de fragilidade
econômica principalmente em países como Portugal, Itália, Grécia e Espanha (grupo que
ficou conhecido como PIGS, em inglês Portugal, Italy, Greece and Spain). A necessidade
de adotar as medidas estabelecidas no Tratado de Maastricht25 não encontrou respaldo
na capacidade produtiva industrial desses países, que encontram limites naturais ao seu
desenvolvimento. Assim, esses Estados tiveram de gerar grandes déficits públicos26
para financiar as adequações necessárias.
25
Assinado na cidade de Maastricht, na Holanda, o Tratado da União Europeia ultrapassa a ideia original
econômica da Comunidade Europeia e dá origem à União Europeia, em 1992, adquirindo dimensão
política. Visando à União Econômica e Monetária, o Tratado estabelece medidas econômicas a serem
seguidas pelos países-membros.
26 O déficit público, ou orçamentário, ocorre quando os gastos governamentais superam a tributação.
27 A dívida pública, também chamada de dívida governamental ou nacional, refere-se ao endividamento de
pública é de 60,0% do PIB (sendo PIB, Produto Interno Bruto, a soma de todos os bens e serviços
finais produzidos numa determinada região, durante um determinado período).
15
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
Ásia
Assim como o resto do mundo, a Ásia foi intensamente afetada pela crise.
Devido a sua forte ligação à economia global, a região também acompanhou a
regularização dos fluxos comerciais e de financiamento externo, apresentando, assim,
uma recuperação precoce e melhor desempenho do PIB.
Por fim, projeções econômicas prevêem que esta região liderará a recuperação
econômica no ano de 2010, principalmente através da demanda chinesa. Dominique
Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), pondera que,
no âmbito mundial, o ritmo de reconstrução da economia deverá superar a estimativa
de 3%. Já para a região asiática, o diretor acredita em a recuperação extrapolará o
percentual de 7% (com exceção do Japão, que atualmente enfrenta para superara a
crise). O gráfico abaixo mostra claramente a situação vantajosa que os países asiáticos
em desenvolvimento (como a China) encontram-se.
16
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
África
O sistema financeiro africano subdesenvolvido e as conexões relativamente
limitadas da África com a economia global não conseguiram isolar o país da crise que se
espalhou pelo mundo. Se estes não foram os “canais de transmissão” da crise para a
região, a queda nos preços das commodities e no volume das exportações, bem como a
diminuição ou adiamento de investimento estrangeiro levaram a crise até o continente
que se encontrava em um período de crescimento econômico.
Segundo os dados do African Economic Outlook de 2010, o PIB africano passou
de cerca de 6% em 2006-2008 para 2,5% em 2009 (valor que pode representar
estagnação dado o ritmo de crescimento populacional). Contudo, a África conseguiu
adotar medidas anticíclicas, as quais amorteceram os impactos da crise, juntamente
com o alívio da dívida e empréstimos concecidos por instituições internacionais como o
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Banco Africano de
Desenvolvimento.
De acordo com as previsões do African Economic Outulook de 2010, a África
Oriental, região do continente africano que melhor resistiu à crise global, deve atingir
uma média de mais de 6% de crescimento em 2010/2011. Já na África do Sul, país mais
afetado pela crise, o crescimento médio esperado é de 4%.
17
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
29
As Metas de Desenvolvimento do Milênio são oito metas internacionais de desenvolvimento que todos os
192 países-membros da ONU e, pelo menos, 23 organizações internacionais se comprometeram a
atingir até 2015. Alguns dos pontos são: redução da pobreza, redução de mortalidade infantil, combate a
epidemias como a AIDS e promoção de igualdade de gênero.
18
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
1. Qual é o papel do Estado na economia? Deve o Estado gastar dinheiro público salvando
bancos ao invés de investir, por exemplo, em educação?
3. O mundo pós-Guerra Fria está marcado pelo declínio do poder internacional dos Estados
Unidos? A Crise de 2008 é um indicativo disso? O surgimento de novos e fortes atores, como a
China, desafia a liderança estadunidense?
5. Por que o Brasil foi relativamente menos atingido pela Crise de 2008?
LINKS ÚTEIS
1. Correio Internacional
Blog de notícias nacionais e internacionais, voltado para o público jovem brasileiro.
Disponível em: http://www.correiointernacional.com/
2. Boletim Meridiano 47
Boletim de Análise de Conjuntura em Relações que publica análises breves sobre temas
candentes da agenda internacional contemporânea.
Disponível em: http://meridiano47.info/
BIBLIOGRAFIA
19
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
HEILBRONER, Robert e THUROW, Lester. “Entenda a Economia”. Rio de. Janeiro: Campus,
2001.
HOBSBAWM, Eric. “A Era dos Extremos”. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
KEYNES, J.M. “The General Theory of Employment, Interest and Money”. 1936.
KUS, Basak. “Neoliberalism, Institutional Change and the Welfare State: The Case of Britain
and France”. Berkeley: International Journal of Comparative Sociology, 2006.
PINHO, Diva e VASCONCELOS, Marco Antônio. Manual de Economia. 5ª edição. São Paulo:
Saraiva, 2004.
TORRES FILHO, Ernani T. e BORÇA JR., Gilberto. “A Crise do Subprime ainda não acabou”.
Visões do Desenvolvimento nº 50. BNDES, 2008.
20