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10 de julho de 2010

POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE


ÀS CRISES ECONÔMICAS
INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA
AMERICANO?

Prof. Dr. André Moreira Cunha

Apoio institucional: Apoio


logístico:
Projeto “Relações Internacionais para Educadores” – 10 de julho de 2010
POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?

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POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?

POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS


INTERNACIONAIS: UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?
Por Airton Martins, Joana Oliveira e Lucas Paes1

O PAPEL DO ESTADO NA ECONOMIA


Talvez o debate mais importante para os economistas seja a participação ou
atuação do Estado na economia. É possível identificar duas correntes de pensamento
dominantes neste cenário, as quais se desenvolveram a partir de ou refutando as ideias
daquele que é considerado um dos teóricos mais influentes da economia moderna,
Adam Smith.
Smith, em sua obra “A Riqueza das Nações”, de 1776, defendia que os agentes
econômicos, operando na pura concorrência e buscando satisfazer seus desejos
individuais, acabariam por, espontaneamente, organizar a economia de forma eficiente.
Assim, sua intuição básica era de que as pressões do mercado concorrencial orientariam
as ações egoístas de cada indivíduo, como se existisse, na expressão do próprio Adam
Smith, uma “mão invisível” que autorregularia a economia.
Considerando tal capacidade de autorregulação do mercado, uma interferência
do Estado no ambiente econômico viria a atrapalhar os interesses individuais naturais e
a competição. Dessa forma, Adam Smith, acreditava que o sistema de “liberdade natural”
acabaria sempre beneficiando a sociedade, pois se atingiria a alocação ótima dos
recursos econômicos, ou seja, dos bens e serviços.
Produto da Grande Depressão2, John Maynard Keynes, em sua obra de 1936, “A
Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, defende ideias diferentes das de Smith.
Para Keynes, a racionalidade dos indivíduos não necessariamente produziria o melhor
resultado para a economia.
Keynes acreditava que “os gastos governamentais poderiam ser uma política
econômica essencial para um capitalismo deprimido tentar recuperar a sua vitalidade”
(HEILBRONER e THUROW, 2001). Assim, o Estado poderia interferir em variáveis como
o desemprego e a inflação,3 além de implementar sistemas tributários progressivos4

1 Estudantes de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


2 Também conhecida como Crise de 1929, foi uma profunda crise econômica que se iniciou com a quebra
da Bolsa de Valores nos Estados Unidos da América em 24 de Outubro de 1929, se espalhou pelo mundo e
só conseguiu ser superada com a Segunda Guerra Mundial. Durante este período foram registradas altas
taxas de desemprego, quedas drásticas na produção industrial e nos preços de ações em diversos países.
3 A intervenção do Estado em tais variáveis pode ser dar, por exemplo, através de investimentos em obras
públicas, as quais geram emprego e, consequentemente, renda. Além disso, o Estado pode provocar
aumentos na taxa de juros da economia, através da venda de títulos públicos, o que acaba por restringir a
quantidade de moeda e crédito, reduzindo, assim, a inflação.
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para reduzir as desigualdades de renda exageradas. Vale ressaltar que Keynes não
acreditava que o capitalismo deveria ser substituído ou “governado” pelo Estado, mas
sim corrigido.
A predominância das ideias de Keynes durante meados do século XX, contudo,
dá lugar ao retorno do pensamento liberal - fato que analisaremos nos próximos pontos.
Segundo Paul Krugman (2009), em seu artigo “How Did Economists Get It So Wrong”
(“Como os economistas entenderam tudo tão errado?”, em tradução livre), com o
distanciamento dos anos da Grande Depressão, os economistas esqueceram-se das
limitações da racionalidade humana e das imperfeições ou falhas do mercado, que
podem causar colapsos imprevisíveis na economia. Assim, a idealização do capitalismo
como sistema perfeito retornou ao cenário acadêmico.
Milton Friedman e sua teoria monetarista foram os guias das ações econômicas
durante a segunda metade do século XX. De acordo com estas ideias, a intervenção
governamental deveria ser limitada a ações como: instruir bancos centrais a manter a
reserva monetária nacional5, a quantidade de dinheiro em circulação e os depósitos
bancários num caminho de crescimento constante.
Enquanto isso, economistas keynesianos seguiam defendendo a ideia de que
recessões são a consequência de demanda inadequada6 e, por isso, políticas para
combater essas crises econômicas continuavam sendo desejáveis.
Apesar das diferenças, não houve brigas reais entre as duas correntes de
economistas. Os debates só ocorriam no meio teórico e acadêmico. Segundo Krugman
(2009), foi preciso ocorrer a crise de 2008 para revelar que as duas correntes teóricas
tinham muito pouco em comum.

AS FALHAS DE MERCADO
De um modo geral, a teoria econômica reconhece que em alguns casos o
mercado não aloca os recursos de maneira ótima. Tais casos são conhecidos como falhas
de mercado, frequentemente usadas como justificativa para a intervenção

4 De forma sintetizada, sistemas tributários progressivos são aqueles em que existe proporção entre
imposto e nível de renda. Assim, num sistema tributário progressivo, existem taxas menores para
classes de menor renda e taxas maiores para maior renda. Ainda, quanto mais faixas de renda e de
tributação diferenciada existirem, mais progressivo é considerado o sistema.
5 Estoque de moeda em posse do Banco Central e depósitos em moeda estrangeira e nacional dos bancos
comerciais junto ao Banco Central. Visa a assegurar a normalidade dos mercados financeiros e de
capitais.
6 Keynes define que existe uma demanda efetiva que conduz a produção ao pleno emprego. Ou seja, os
empresários pautam sua produção esperando uma determinada demanda correspondente.
Periodicamente, essa demanda não é gerada espontaneamente pelo mercado, gerando crises cíclicas de
falta de demanda, ou superprodução.
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governamental. Contudo, por vezes, a intervenção governamental pode também vir a


causar a alocação ineficiente de recursos, o que é chamado de falhas de governo.
Segundo Heilbroner e Thurow (2001), a primeira das falhas de mercado
relaciona-se aos “casos em que os agentes do mercado carecem de informação e não
têm meios de tomar decisões inteligentes e em que, consequentemente, os resultados
do mercado refletem ignorância, sorte ou acaso, e não um comportamento bem
informado”. Ou seja, uma vez que as teorias econômicas consideram os agentes
econômicos indivíduos racionais, no momento em que esses indivíduos não têm acesso
a toda a informação que permita a tomada de decisão racional, podem ocorrer falhas no
mercado. Este fenômeno é conhecido como assimetria de informação e pode gerar
distorções no sistema de preços.
Um segundo caso pode ser entendido pela existência dos chamados bens
públicos puros. Existem alguns tipos de bens e/ou serviços que não possuem as
características para serem vendidos nos mercados privados (por exemplo: segurança
pública, serviços meteorológicos, faróis de navegação). Uma vez que o consumo de um
bem público por um indivíduo não interfere no consumo por outro (ou seja, o consumo
não é excludente), ninguém pode ser excluído do consumo deste tipo de bem; e ninguém
toma, individualmente, a decisão (como acontece para bens privados) de gastar em
determinados bens públicos ou não, cabe ao Estado regulá-los e provê-los.
Um terceiro tipo de falha de mercado são as externalidades da produção, ou
seja, os efeitos da produção de bens e serviços privados sobre terceiras pessoas, isto é,
pessoas que não compram, vendem ou usam diretamente os bens em questão
(HEILBRONER e THUROW, 2001). Alguns exemplos de externalidades negativas são: a
fumaça produzida por algumas fábricas, o barulho na vizinhança de um grande
aeroporto e a poluição. Contudo, vale lembrar que também existem externalidades
positivas. Seriam elas: a valorização de uma área após a construção de um
supermercado, o conhecimento difundido por uma universidade privada, etc. Neste caso
de falha de mercado, o governo tem um importante papel na regulamentação sobre a
causa dessas externalidades para que elas não impeçam a satisfação dos agentes no
consumo, ou a eficiência na produção para as firmas.
Além das falhas já citadas, existem também os casos de concorrência imperfeita,
a qual pode ocorrer de diferentes formas, como: monopólios7, monopsônios8, cartéis9 e

7 Situação em que uma empresa detém o controle sobre o mercado de um determinado bem ou serviço,
fixando seus preços sem levar em consideração a demanda por tais produtos.
8 Situação em que existe apenas um comprador e inúmeros vendedores. O exemplo clássico deste tipo de

situação é o de uma pequena cidade onde só existe uma grande empresa mineradora, a qual se torna o
único “comprador” (demandante) de força de trabalho. É o inverso da situação de monopólio.
9 Situação em que existe um acordo, o qual pode ser implícito ou explícito, entre empresas concorrentes

para fixação de preços ou cotas de produção e/ou para divisão de mercado de atuação.
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concorrência monopolista. Além desses, podemos citar os monopólios naturais, os quais


podem ser causados por inúmeros motivos, tais como controle exclusivo das fontes de
matéria-prima e concessões estatais de monopólio. Um monopólio é ineficiente pelo
fato de que, como não há concorrência, o detentor deste monopólio não tem estímulo
nenhum para produzir a um nível eficiente, ou seja, que satisfaça o mercado consumidor
e que seja produzido a baixos custos.

O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL E O ESTADO LIBERAL


Segundo Hobsbawn (1995), “a Grande Depressão destruiu o liberalismo
econômico por meio século”. Buscando salvar a economia da grande crise que se
iniciara nos Estados Unidos da América e se espalhara por todo o mundo, os governos
ocidentais passaram a dar prioridade às questões sociais em detrimento das
econômicas em suas políticas de Estado. A ascensão de governos social-democratas em
muitos países europeus pode ser destacada como um dos fatores que contribuiu para a
expansão das ideias e práticas do Estado de bem-estar social.
No período após a Grande Depressão ganharam força as ideias do economista
britânico John Maynard Keynes. Um dos mais importantes argumentos do
keynesianismo era de que os benefícios da eliminação permanente do desemprego em
massa eram enormes, uma vez que os indivíduos assalariados gerariam uma demanda
que teria efeitos muito positivos em economias em recessão.
Dessa forma, nos EUA, o então presidente Franklin Delano Roosevelt
implementou o programa intervencionista conhecido como “New Deal”10, o qual previa,
dentre outros pontos, o investimento em obras públicas a fim de gerar emprego. O
referido programa pode ser considerado a marca da substituição da orientação liberal
clássica por práticas intervencionistas.
Iniciava-se, assim, o que ficaria conhecido como “Estado de bem-estar social”, o
qual estava ligado à garantia, por parte do Estado ou pelo seu poder de regulamentação
sobre a sociedade civil, de proteção e promoção do bem-estar social e econômico dos
indivíduos.
Contudo, no final do século XX estas práticas governamentais passaram a ser
ferrenhamente criticadas além de associadas à ineficiência econômica do setor público,
ao desperdício de recursos, à inibição de investimentos (uma vez que os impostos eram

10 Série de programas implementados nos EUA a fim de recuperar e reestruturar a economia do país, a
qual estava em crise desde 1929. Dentre as principais ações tomadas pelo governo, pode-se destacar:
investimento em obras públicas, diminuição da jornada de trabalho e controle do Estado sobre preços
e produção.
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bastante elevados) e ao endividamento público. O liberalismo retomava seu lugar na


teoria econômica.
Os anos 60 e 70 mostraram-se favoráveis à renovação da mentalidade
conservadora. Os movimentos estudantis e movimentos de contestação de valores e de
luta por direitos de minorias espalharam-se pelo mundo; a derrota estadunidense na
Guerra do Vietnã (1958 - 1975) e a Crise do Petróleo de 197311, paralelamente à
ascensão ao poder de Margareth Thatcher, na Inglaterra, e um pouco mais tarde de
Ronald Reagan, nos Estados Unidos, marcaram o processo de redução da intervenção
estatal.
A rejeição às ideias do Estado de bem-estar social fica clara na declaração de
Ronald Reagan: “Não temos problemas no Estado. O Estado é o problema”. Até mesmo
países comunistas, como a Iugoslávia e a China, realizaram reformas neoliberais em
seus mercados durante os anos 80.
Assim, a Escola de Chigaco12 ganhou força defendendo práticas não-
intervencionistas e a não-regulação dos mercados por serem eles eficientes. Vale
lembrar que apesar do ambiente econômico mundial ter influenciado as economias a
adotarem práticas mais neoliberais, não é possível afirmar que todos os países
adotaram as mesmas políticas
Contudo, de maneira geral, é possível dizer que com o neoliberalismo, a
máquina administrativa estatal foi enxugada, diminuindo o auxílio aos desempregados,
privatizando as empresas estatais e reduzindo a proteção social dos trabalhadores.
Tomando a Inglaterra de Thatcher como exemplo, podemos citar duas ações
neoliberais emblemáticas: a adoção da abordagem monetarista para a economia (isso
significava que limitar a inflação seria a prioridade das políticas econômicas em vez do
comprometimento com o pleno emprego); e uma redução do gasto, da burocracia e da
intervenção estatal na administração da economia, a fim de remediar as falhas do
estado keynesiano.
A atual crise, iniciada em 2008 mostra, entretanto, que as políticas neoliberais
também apresentam falhas. Dessa forma, permanece o embate entre teorias que
buscam explicar as funções do Estado na economia.

11 Os países da OPEP, maiores produtores de petróleo do mundo, elevaram bruscamente os preços dessa
commodity, como reação às empresas internacionais que detinham maior parte dos lucros com a
exploração de petróleo. Por ser um insumo básico da produção capitalista mundial, o aumento dos
preços golpeou diversas economias ao redor do mundo, provocando uma severa recessão nos Estados
Unidos e na Europa.
12
Escola de pensamento econômico que defende o mercado livre e que foi disseminada por alguns
professores da Unidade de Chicago.
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A CRISE ECONÔMICA DE 2008-2009


Buscando uma explicação
Desde a materialização da crise financeira internacional não faltaram
explicações que procurassem compreender o ocorrido pelos mais diversos vieses. A
explicação que traremos não ignora os inúmeros fatores que possam ter influenciado no
processo, mas atém-se a um ponto bastante simples: o grau de desregulamentação do
sistema financeiro internacional, sobretudo, estadunidense.
A crise financeira internacional tornou-se pública e passou a ocupar as
manchetes de jornais de todo o mundo a partir da falência de importantes instituições
financeiras norte-americanas13, que na incapacidade de pagar seus credores, tampouco
fornecer crédito, espalharam a desconfiança no sistema financeiro internacional. A
falência dessas instituições expunha o estouro da bolha do mercado imobiliário
estadunidense. Assim, compreender a formação e a explosão dessa bolha, bem como,
sua contaminação do sistema financeiro internacional, é o ponto de partida para
compreender a crise iniciada em 2008.
Entre 1997 e 2006 o mercado imobiliário conheceu uma expansão nunca
vista desde os anos 1950, movimentando em média cerca de três trilhões de dólares ao
ano. Os preços dos imóveis tiveram um aumento real de 85% nesse período,
impulsionados pela abundância de crédito e pela baixa taxa de juros. Nos EUA, cerca de
dois terços das residências próprias estavam atrelados ao crédito imobiliário. Ou seja,
duas em cada três residências estadunidenses eram pagas através de financiamentos
cuja casa era a própria garantia. Assim, o crédito imobiliário (as famosas hipotecas) foi a
alavanca que impulsionou esse boom imobiliário.
Essa expansão do crédito imobiliário foi determinada em boa medida pela
expansão do crédito concedido a tomadores subprime, pessoas físicas cuja renda é
inferior às parcelas da dívida, com histórico de inadimplência e sem a documentação
necessária (TORRES FILHO, 2008). Outra característica que aumenta o risco desse
perfil de crédito é a maneira como o pagamento é acordado. Via de regra, os tomadores
subprime dividem o pagamento em dois blocos, no primeiro, de dois ou três anos as
parcelas são baixas, e, no segundo, de 28 ou 27 anos, as parcelas são mais elevadas.
Assim, tendo uma renda incompatível com as parcelas do segundo bloco eles faziam um
novo financiamento, desta vez de valor maior, dado o aumento dos preços dos imóveis.
O que permitia aos bancos financiar esse crédito de alto risco eram os
mecanismos de securitização, que derivavam essa dívida em outros títulos. Através

13
Em 15 de setembro 2008, o banco de investimento americano Lehman Brothers se declara em
concordata. Na mesma data, seu concorrente Merrill Lynch é vendido de emergência para o Bank of
America por US$ 50 bilhões.
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desses sofisticados mecanismos financeiros, os bancos repassavam esses títulos a


fundos de investimentos que, por sua vez, os repassavam a investidores terceiros,
atrelando o grau de risco ao nível de retorno do investimento. O grau de risco desses
papéis era elevado, com a criação de outros fundos, os fundos CDO14, compostos por
derivativos15 de milhares de hipotecas e outros títulos de dívidas, de modo a diluir o
risco de cada papel. Assim, os bancos conseguiam financiar de forma barata o crédito
subprime.
No entanto a expansão da demanda por imóveis passou a encontrar limites a
partir de 2006. Como nos mostra o Gráfico 1, as vendas de imóveis que haviam chegado
ao pico de 8,2 milhões, no ano de 2005, não passavam de 5,7 milhões em 2007, com
queda mais acentuada (50%) para residências novas (TORRES FILHO, 2008). O
arrefecimento na demanda gerou uma pressão pela redução nos preços. Por
conseguinte, na medida em que os preços crescentes dos imóveis eram o que tornava
lucrativo para os bancos o refinanciamento do subprime, quando do aumento das
prestações no segundo bloco de pagamentos, um grande contingente de devedores
subprime passou a não ter condições de pagar as prestações de suas dívidas. O enorme
volume de inadimplência comprometeu, não só ao subprime, mas a toda a cadeia de
títulos neles lastreados, contaminando o sistema financeiro.

14
CDO - Collateralised Debt Obligations (“Títulos Garantidos por Dívidas”).
15
Derivativos são papéis que têm seu valor derivado de outros ativos, com a finalidade de assumir, limitar ou
transferir riscos. São instrumentos financeiros considerados de risco, uma vez que a avaliação de seus
valores e das consequências de seu uso generalizado é muito complexa em um mercado financeiro cada
vez mais globalizado.
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Gráfico 1 :

A bolha que estouraria em fins de 2008, já dava sinais de rupturas em 2007.


Nesse ano 2007, as perdas já chegavam a US$ 70 bilhões. Com a cadeia de não
pagamentos do subprime e de seus derivativos, diversos fundos de hipotecas
congelaram seus resgates, espalhando o clima de incerteza, que progressivamente
contaminava a liquidez16. Em 2008, na esteira desse processo, grandes instituições
financeiras declararam concordata ou foram compradas pelo Bank of America a preços
abaixo do mercado. O estopim foi em setembro 2008, quando dois gigantes do
investimento estadunidense, o Lehmann Brothers e o Marrill Lynch, respectivamente,
pediram concordata e foram comprados pelo Bank of America. A falência dessas
instituições acelerou o volume de perdas em todo o sistema financeiro levando a
fragilidade de diversas outras instituições, como a seguradora AIG.
O estouro da bolha imobiliária estadunidense, que contaminara o sistema
financeiro internacional, agora se espalhava pela economia como um todo. Todos os
indivíduos, grupos e empresas que possuíam investimentos atrelados a esses “papéis
podres” passaram a encontrar dificuldades. Ademais, a restrição ao crédito gerada pela

16
Liquidez é um conceito econômico que considera a facilidade com que um ativo pode ser convertido no
meio de troca da economia, ou seja, é a facilidade com que ele pode ser convertido em dinheiro. O grau de
agilidade de conversão de um investimento sem perda significativa de seu valor mede sua liquidez.
Assim, quando há facilidade em obter-se dinheiro no mercado, diz-se que há liquidez nesse mercado.
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desconfiança no sistema financeiro, contaminava o mundo todo. O PIB dos EUA, no


quarto trimestre de 2008, caiu 3,8%, os piores números desde 1982, e o desemprego,
que alcançou 7,2% em 2008, já chegava a 8,9% em abril de 2009 (FOLHA ON-LINE).
Esse processo espalhou-se por todas as economias do mundo, com intensidade
proporcional à sua dependência ao mercado estadunidense e ao seu entrelaçamento
com o sistema financeiro desse país.
Uma vez esclarecida a cadeia de fatos que conduziu a crise que atualmente
vivemos, cabe observar o que há de comum nesses fatos, ou, o que os tornou tão
arriscados. Nas palavras de Allan Greenspan, ex-chairman do FED17, a economia dos
EUA tem vivido, nos últimos vinte anos, uma “exuberância irracional”18, em que a
facilitação exagerada do crédito gerou uma série de bolhas e crises, que não só as de
2008-2009. A facilidade de criarem-se mecanismos financeiros capazes de criar lucros
extraordinários, mas também bolhas especulativas como as vividas com a crise das
economias emergentes19 e das pontocom20, ambas nos anos 1990, é algo a ser
repensado.

17
FED, ou Federal Reserve, é o equivalente nos Estados Unidos, ao Banco Central Brasileiro (BACEN).
18
Expressão cunhada em relação à crise das pontocom.
19
Essa crise teve início com a desvalorização das moedas de economias emergentes asiáticas, que gerou
uma imensa fuga de capitais desses países e a queda da atividade econômica na região. A crise atingiu a
outras economias emergentes como o Brasil e a Rússia, que sofreram processo semelhante.
20
A crise das pontocom refere-se à ilusão criada no mercado financeiro estadunidense quanto à capacidade
de empresas on-line, como a Amazom e a AOL (que comprara a Time Warner por US$ 200 bilhões), em
criar uma “Nova Economia”. A criação na Nasdaq, bolsa de valores para artigos de tecnologia, de um
índice para esse ramo de empresas, puxou sua cotação para baixo, acumulando queda de 78% em março
de 2000.
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Figura 1 - Folha de São Paulo

O PAPEL DO DÓLAR NA ECONOMIA


Se no século XIX a libra esterlina era a principal moeda para trocas no âmbito
internacional, desde o ocaso da Segunda Guerra Mundial quem passou a ocupar este
posto foi o Dólar Norte-Americano (USD ou US$). Foi na Conferência de Bretton Woods
(previamente abordada neste curso), em 1944, que surgiu o acordo entre as nações
aliadas segundo o qual o dólar foi definido como moeda de troca do sistema
internacional e que, para tanto, o governo norte-americano garantiria sua conversão
para o ouro. Impulsionando a hegemonia do dólar, durante a reconstrução da Europa no
pós-guerra, muitos países importavam produtos dos Estados Unidos e aumentaram
ainda mais a circulação da moeda em nível mundial.

Historicamente a confiança na moeda atravessou a segunda metade do século


XX até os dias de hoje. Apesar do fim do acordo de Bretton Woods em 1971, e as
subsequentes crises do petróleo que enfraqueceram a economia norte-americana, o
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dólar não perdeu seu papel soberano para nenhuma outra moeda. Muitas economias ao
redor do mundo o utilizam como reserva nacional e, mesmo sem mais a garantia da
conversão ao ouro, o dólar inspira confiança baseado no tamanho e na estabilidade da
economia dos Estados Unidos.

À luz da recente crise financeira internacional e sua origem nos EUA, além da
alta que o euro vinha apresentando desde sua implementação, teria o dólar encontrado
seu limite e acabará ele sendo ultrapassado pela moeda genuinamente europeia - ou
mesmo pelo yuan chinês? Embora os últimos acontecimentos nos levem a crer em um
enfraquecimento gradual do dólar, muitos pesquisadores argumentam que mudanças
no status mundial da moeda podem, sim, acontecer; no entanto, os preços de
commodities21 como petróleo serem fixados em dólar e a relativa estabilidade da
economia norte-americana frente às novas crises no continente europeu e frente às
incertezas políticas e econômicas quanto ao gigante chinês não deixarão o dólar perder
sua hegemonia tão cedo.

Entre outros, assim sustenta Linda Goldberg22 que o uso do dólar fora dos EUA
auxilia a diminuir o impacto doméstico dos choques internacionais, reduz o custo de
transação no comércio e nas finanças, e também ajuda a estender a transmissão das
políticas norte-americanas no âmbito internacional. Se por um lado, as crises
financeiras, a alta do euro e a emergência da China evidenciam as fraquezas do dólar,
por outro lado, as tendências a longo prazo nos demonstram que a moeda norte-
americana continuam inspirando confiança e prevalencedo frente às outras.

OS REFLEXOS DA CRISE ESTADUNIDENSE NO MUNDO


Brasil e economias latino-americanas
O fato de a crise financeira internacional ter afetado o mundo todo é consenso
entre os economistas. Assim como, é fato evidente que algumas economias, entre elas o
Brasil, foram afetadas pela crise em menor grau. A questão é, evocando as palavras do
Presidente do Brasil, saber por que motivos a crise mundial, que não atingiu o Brasil
apenas como uma “marolinha”, não se converteu, para nós, em um “tsunami”, como
ocorreu em outras economias.
A crise financeira afetou o Brasil da mesma maneira como afetou a maioria das
economias emergentes: 1) através da contração da demanda internacional que afetou as
exportações dessas economias, particularmente, com a queda nos preços das

21 Produtos primários, ou com baixo grau de industralização, que possuem cotação e são negociáveis nas
bolsas de valores (petróleo, soja, tabaco. etc.)
22 Linda S. Goldberg é vice-presidente de pesquisa internacional no Federal Reserve Bank de Nova York.

13
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commodities; 2) através da redução no fluxo de investimento direto e saída dos


investimentos de portfólio23; 3) através da restrição ao crédito.
O crescimento do PIB brasileiro em 2009 (-0,2%), em comparação com 2007
(5,4%), evidencia os reflexos da crise no Brasil. No entanto, nos EUA, esse decréscimo
chegou 2,4%, na União Européia, chegou a 4,2%, e, no Japão, chegou a 5%. Esse
decréscimo comparativamente mais baixo e, sobretudo, a rápida retomada do
crescimento, que está previsto para 2010 em 7,5% 24, se devem a dois motivos mais
claramente:1) à estrutura bancaria brasileira reformada; 2) e ao mercado interno
fortalecido nos últimos anos.
Enquanto nos EUA, as instituições financeiras tinham total liberdade para
executar os mais sofisticados mecanismos de securitização de derivativos, no Brasil,
elas tinham um limite mais estrito quanto sua capacidade de gerar liquidez. A isso se
somam, as medidas anticíclicas implementadas, sobretudo pelos bancos públicos
brasileiros.
Outro fator condicionante da atenuação da crise e alavanca do crescimento
previsto para 2010 é o crescimento do papel do mercado interno na economia
brasileira. Entre 2003 e 2009, o volume de vendas no mercado interno cresceu mais de
50%. Isso se deve ao acréscimo real na massa salarial com forte conversão em gasto
familiar (70% da renda do brasileiro é convertida em consumo), à estabilidade
macroeconômica interna, que permitiu a manutenção do crédito a pessoa física mesmo
em meio a crise, e às políticas sociais (INHUDES, 2009). Assim, ainda que tenha havido
uma queda brusca nas exportações e no fluxo de investimentos externos, o consumo
autônomo brasileiro equilibrou essas perdas e sustenta a retomada do crescimento em
2010.
Cabe ainda ressaltar a recente diversificação dos parceiros comerciais
brasileiros, como um ponto importante de mitigação dos efeitos sobre as exportações.
Enquanto as economias mais desenvolvidas apresentavam forte recessão, economias
emergentes, como a Índia e a China, apresentavam expressivo crescimento, mantendo
as exportações brasileira em um patamar menos desastroso.
No restante da America latina, a elevação dos preços das commodities no
segundo semestre de 2009, somada a um prévio equilíbrio macroeconômico, facilitou a
retomada do crédito e das atividades da economia, a partir desse período.

23
É o investimento que não dá controle sobre o capital produtivo ao investidor, sendo meramente
especulativo.
24
Taxa de crescimento projetada pela FIESP em junho de 2010.
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POLÍTICAS DE ESTADO FRENTE ÀS CRISES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS:
UM NOVO PARADIGMA AMERICANO?

Europa
A adoção do euro em alguns países europeus gerou uma situação de fragilidade
econômica principalmente em países como Portugal, Itália, Grécia e Espanha (grupo que
ficou conhecido como PIGS, em inglês Portugal, Italy, Greece and Spain). A necessidade
de adotar as medidas estabelecidas no Tratado de Maastricht25 não encontrou respaldo
na capacidade produtiva industrial desses países, que encontram limites naturais ao seu
desenvolvimento. Assim, esses Estados tiveram de gerar grandes déficits públicos26
para financiar as adequações necessárias.

A crise do sistema financeiro internacional teve entre suas principais


consequências a restrição do crédito. Com tal restrição e com o esforço da União
Europeia, particularmente da Alemanha, em atenuar os impactos da crise sobre o
continente, os governos dos PIGS passaram a apresentar dificuldades em financiar seus
déficits públicos crescentes. A dívida pública27 da Grécia, o caso europeu mais grave,
aumentou de 99,2% do PIB, em 2008, para 115,1%, em 2009. O déficit público, por sua
vez, passou de 7,7% do PIB, em 2008, para 13,6%, em 2009. Já no conjunto da Zona do
Euro, o déficit público alcançou 6% do PIB, em 2009, o dobro do estabelecido pelo
Tratado de Maastricht.

Dessa forma, a crise se configura como algo extremamente preocupante para o


futuro da integração europeia, pois dissemina o temor sobre possíveis crises futuras nos
mercados financeiros da Espanha e de Portugal e sobre a possível futura adoção do euro
por países do Leste europeu, como a Hungria, a Romênia e a Bulgária. Esses dilemas
levantam a discussão sobre a solidez e a fragilidade do euro e sobre a viabilidade, a
médio e a longo prazo, de países com capacidades e trajetórias econômicas tão
diferentes estarem submetidos a uma mesma zona monetária, visto que, atualmente,
nenhum país europeu da zona do euro, nem mesmo os líderes, está devidamente
adequado às normas definidas por Maastricht28.

25
Assinado na cidade de Maastricht, na Holanda, o Tratado da União Europeia ultrapassa a ideia original
econômica da Comunidade Europeia e dá origem à União Europeia, em 1992, adquirindo dimensão
política. Visando à União Econômica e Monetária, o Tratado estabelece medidas econômicas a serem
seguidas pelos países-membros.
26 O déficit público, ou orçamentário, ocorre quando os gastos governamentais superam a tributação.
27 A dívida pública, também chamada de dívida governamental ou nacional, refere-se ao endividamento de

determinada divisão administrativa.


28 O teto do déficit orçamentário estabelecido pelo Tratado de Maastricht é de 3,0% do PIB e o da dívida

pública é de 60,0% do PIB (sendo PIB, Produto Interno Bruto, a soma de todos os bens e serviços
finais produzidos numa determinada região, durante um determinado período).

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Ásia
Assim como o resto do mundo, a Ásia foi intensamente afetada pela crise.
Devido a sua forte ligação à economia global, a região também acompanhou a
regularização dos fluxos comerciais e de financiamento externo, apresentando, assim,
uma recuperação precoce e melhor desempenho do PIB.

Por possuírem situação robusta de contas externas e dos sistemas financeiros,


as nações asiáticas tiveram maior liberdade de ações de política fiscal possibilitando
uma dimensão mais extensa de iniciativas anticíclicas. Além disso, em países como
China, Indonésia e Índia, o grande mercado doméstico colaborou para a manutenção ou
aceleração do crescimento ao longo do ano de 2009.

Ainda, “a recuperação da demanda dos países avançados, ao lado do forte


crescimento da China, teve um papel fundamental na recuperação das exportações da
Ásia, sobretudo de produtos eletroeletrônicos (que tinham sido especialmente atingidas
pela abrupta contração daquela demanda no último trimestre de 2008)” (FUNDAP,
2001).

Por fim, projeções econômicas prevêem que esta região liderará a recuperação
econômica no ano de 2010, principalmente através da demanda chinesa. Dominique
Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), pondera que,
no âmbito mundial, o ritmo de reconstrução da economia deverá superar a estimativa
de 3%. Já para a região asiática, o diretor acredita em a recuperação extrapolará o
percentual de 7% (com exceção do Japão, que atualmente enfrenta para superara a
crise). O gráfico abaixo mostra claramente a situação vantajosa que os países asiáticos
em desenvolvimento (como a China) encontram-se.

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África
O sistema financeiro africano subdesenvolvido e as conexões relativamente
limitadas da África com a economia global não conseguiram isolar o país da crise que se
espalhou pelo mundo. Se estes não foram os “canais de transmissão” da crise para a
região, a queda nos preços das commodities e no volume das exportações, bem como a
diminuição ou adiamento de investimento estrangeiro levaram a crise até o continente
que se encontrava em um período de crescimento econômico.
Segundo os dados do African Economic Outlook de 2010, o PIB africano passou
de cerca de 6% em 2006-2008 para 2,5% em 2009 (valor que pode representar
estagnação dado o ritmo de crescimento populacional). Contudo, a África conseguiu
adotar medidas anticíclicas, as quais amorteceram os impactos da crise, juntamente
com o alívio da dívida e empréstimos concecidos por instituições internacionais como o
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Banco Africano de
Desenvolvimento.
De acordo com as previsões do African Economic Outulook de 2010, a África
Oriental, região do continente africano que melhor resistiu à crise global, deve atingir
uma média de mais de 6% de crescimento em 2010/2011. Já na África do Sul, país mais
afetado pela crise, o crescimento médio esperado é de 4%.

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Dessa forma, o crescimento médio esperado para o continente africano é de


4,5% em 2010 e 5,2% em 2011, embora se espere que a recessão deixe a sua marca.
Isso deverá ser sentido pela população africana através da incapacidade dos governos,
devido a diminuição de recursos, em atingir objetivos como redução da pobreza e
investimento em infraestrutura, muitos dos quais estão previstos nas Metas de
Desenvolvimento do Milênio da ONU29.

A DIMENSÃO INTERNACIONAL DA LIDERANÇA DOS ESTADOS UNIDOS


Repensando a liberalização e a globalização
Se a supremacia dos Estados Unidos na esfera militar e na esfera ideológica é
inquestionável nos dias de hoje, sua preponderância na esfera econômica vem sendo
posta em desafio constantemente. O papel ocupado pelos BRIC’s na economia mundial é
progressivo e hoje já ultrapassa o ocupado pela economia estadunidense. A China já
concentra a maior parcela das transações comerciais mundiais. Esse quadro tornou-se
ainda mais evidente com a crise do sistema financeiro internacional irradiada a partir
dos Estados Unidos.
Enquanto os EUA e as economias fortemente dependentes de seu mercado e de
seu sistema financeiro apresentaram forte retração em seus PIB em 2009, as economias
chinesa e indiana apresentaram crescimentos de 8,7% e 5,6%, respectivamente, no
mesmo período. Ademais, os países que atrelaram suas economias às economias
emergentes também resistiram melhor à crise. A crise que atualmente vivemos e
parecemos sair, é a primeira do século XX em que o motor da recuperação não é a
economia estadunidense, mas as economias emergentes.
Com o aparente encaminhamento para a superação da crise, cabe a discussão
principal: até que ponto o advento da crise foi aproveitado para a realização das
reformas necessárias no sistema financeiro internacional. Nas palavras de Keynes
(1936, p. 159), não sabemos se hoje é possível evitar que: “o empreendimento se torne
uma bolha sobre o redomoinho da especulação”, pois “quando o desenvolvimento das
atividades de um país”, ou do mundo, “torna-se o subproduto das atividades de um
cassino, o trabalho provavelmente será mal-feito”.

29
As Metas de Desenvolvimento do Milênio são oito metas internacionais de desenvolvimento que todos os
192 países-membros da ONU e, pelo menos, 23 organizações internacionais se comprometeram a
atingir até 2015. Alguns dos pontos são: redução da pobreza, redução de mortalidade infantil, combate a
epidemias como a AIDS e promoção de igualdade de gênero.
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QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Qual é o papel do Estado na economia? Deve o Estado gastar dinheiro público salvando
bancos ao invés de investir, por exemplo, em educação?

2. O modelo ultradesregulamentado do capitalismo estadunidense é o modelo a ser seguido


pelos demais países?

3. O mundo pós-Guerra Fria está marcado pelo declínio do poder internacional dos Estados
Unidos? A Crise de 2008 é um indicativo disso? O surgimento de novos e fortes atores, como a
China, desafia a liderança estadunidense?

4. A situação inaugurada pela Crise de 2008 evidencia uma necessidade de ampliação da


cooperação internacional em matéria econômico-financeira? Ou o FMI, o Banco Mundial, o G-7 e
o G-8 dão conta de lidar com esses temas sozinhos?

5. Por que o Brasil foi relativamente menos atingido pela Crise de 2008?

LINKS ÚTEIS

1. Correio Internacional
Blog de notícias nacionais e internacionais, voltado para o público jovem brasileiro.
Disponível em: http://www.correiointernacional.com/

2. Boletim Meridiano 47
Boletim de Análise de Conjuntura em Relações que publica análises breves sobre temas
candentes da agenda internacional contemporânea.
Disponível em: http://meridiano47.info/

3. Fundação de Economia e Estatística


A Fundação de Economia e Estatística (FEE) é uma instituição de pesquisa, vinculada à
Secretaria do Planejamento e Gestão do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A FEE é a
maior fonte de dados estatísticos sobre o Rio Grande do Sul.
Disponível em: http://www.correiointernacional.com/

BIBLIOGRAFIA

African Economic Outlook. Disponível em:


[http://www.africaneconomicoutlook.org/en/outlook/] acesso em julho de 2010.

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FOLHA ON-LINE. Diponível em:


[http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u496324.shtml] acesso em abril de 2010.

Grupo de Conjuntura da FUNDAP/SP. Nota técnica, 2010.

HEILBRONER, Robert e THUROW, Lester. “Entenda a Economia”. Rio de. Janeiro: Campus,
2001.

HOBSBAWM, Eric. “A Era dos Extremos”. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

INHUDES, Adriana. “A força do mercado interno mitiga os efeitos da crise”. Visões do


Desenvolvimento nº 71. BNDES, 2009.

KEYNES, J.M. “The General Theory of Employment, Interest and Money”. 1936.

KUS, Basak. “Neoliberalism, Institutional Change and the Welfare State: The Case of Britain
and France”. Berkeley: International Journal of Comparative Sociology, 2006.

PINHO, Diva e VASCONCELOS, Marco Antônio. Manual de Economia. 5ª edição. São Paulo:
Saraiva, 2004.

The New York Times. Disponível em


[http://www.nytimes.com/2009/09/06/magazine/06Economic-
t.html?_r=1&ref=paulkrugman] acesso em julho de 2010.

TORRES FILHO, Ernani T. “Entendendo a Crise do Subprime”. Visões do Desenvolvimento nº


44. BNDES, 2008.

TORRES FILHO, Ernani T. e BORÇA JR., Gilberto. “A Crise do Subprime ainda não acabou”.
Visões do Desenvolvimento nº 50. BNDES, 2008.

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