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Com o intuito de tornar mais efetiva a proteção judicial dos direitos individuais
e coletivos, cada vez mais vem se acentuando no Estado Democrático de Direito dos
dias de hoje, a positivação dos direitos e garantias fundamentais nos textos
constitucionais.
A Magna Carta Libertatum de 1215, firmada pelo Rei João Sem- Terra
com bispos e barões ingleses, onde o rei garantia que homem livre não seria detido,
preso, privado de seus bens, banido, ou incomodado, e proibia que fosse preso sem
julgamento consoante a lei da terra.
Porém, tal evolução dos direitos, quer como fonte de inspiração para
outras conquistas, quer como limitação ao poder do rei face à liberdade individual
carecia por toda a Inglaterra de uma estabilidade, pois não vinculavam o Parlamento, de
sorte que, ao invés de uma constitucionalização dos direitos e liberdades individuais
fundamentais, ocorreu uma fundamentalização desses mesmos direitos.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
“Por isso é que eles são, além de fundamentais, inatos, absolutos, invioláveis,
intransferíveis, irrenunciáveis e imprescritíveis, porque participam de um contexto
histórico, perfeitamente delimitado. Não surgiram à margem da história, porém, em
decorrência dela, ou melhor, em decorrência dos reclamos da igualdade, fraternidade
e liberdade entre os homens. Homens não no sentido de sexo masculino, mas no sentido
de pessoas humanas. Os direitos fundamentais do homem, nascem, morrem e
extinguem-se. Não são obra da natureza, mas das necessidades humanas, ampliando-se
ou limitando-se a depender do influxo do fato social cambiante. “
“Com relação aos direitos fundamentais, Carl Schmitt estabeleceu dois critérios
formais de caracterização”: Pelo primeiro, podem ser designados por direitos
fundamentais todos os direitos ou garantias nomeados e especificados no instrumento
constitucional. Pelo segundo, tão formal quanto o primeiro, os direitos fundamentais
são aqueles direitos que receberam da Constituição um grau mais elevado de garantia
ou de segurança...”
“ Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes”
“O preso, ao ser encarcerado, perdeu apenas
a liberdade e não a alma, a dignidade, a
vida.”
Domingos Dutra
Do direito à vida
Todo ser dotado de vida é indivíduo, isto é: algo que não se pode dividir, sob
pena de deixar de ser. O homem é um indivíduo, mas é mais do que isto, é uma pessoa. A
vida humana, que é o objeto de direitos assegurados no artigo 5°, caput, integra-se de
elementos materiais (físicos e psíquicos) e imateriais (espirituais).
Do direito à existência
É também por essa razão que se considera legítima a defesa contra qualquer
agressão à vida, bem como se reputa legítimo até mesmo tirar a vida de outrem em estado
de necessidade da salvação da própria. (SILVA, 1998, p.201).
Da tortura
Até o século XVIII existiram sistemas jurídicos da tortura, nos quais esta
consistia um meio lícito e válido de obtenção de provas contra o imputado. O sistema
até então fora combatido por vários pensadores, dentre os quais se destacam Beccaria e
Montesquieu. Essa prática está expressamente condenada pelo inciso III do art. 5° da
Constituição, segundo o qual: “ninguém será submetido a tortura ou a tratamento
desumano ou degradante”. A condenação é tão mordaz que o inciso XLIII do mesmo
art. 5° determina que a lei considerará a prática da tortura crime inafiançável e
insuscetível de graça por ele respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-lo, se omitirem. (BECCARIA, 1998, p.212).
Do direito à privacidade
Do direito à intimidade
Do direito à liberdade
Os direitos de primeira geração são os direitos de liberdade, os primeiros
a constarem do instrumento normativo constitucional, ou seja, os direitos civis e
políticos, que em grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela fase
inaugural do constitucionalismo do Ocidente. (BONAVIDES, 2000, p.516).
“ ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
da autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei; b) a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz e à família do preso ou à pessoa
por ele indicada; o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogados; d)
o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial; e) a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
judiciária; f) ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança; g) não haverá prisão civil por dívida, salvo a
do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia
e do depositório infiel.
“qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto
contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe
garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar
e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência
e da vida em comunhão com os demais seres humanos”.
Isso ocorre porque muitas vezes o preso deixa de ser visto como cidadão
que tem assegurado todas as garantias constitucionais, pelo simples fato de estar privado
de sua liberdade, o que não pode mais ser tolerado. O cidadão-preso precisa ser
reconhecido como ser dotado de dignidade, entendendo-se esta como qualidade
inerente à essência do ser humano, bem jurídico absoluto, portanto, inalienável,
irrenunciável e intangível.
Segundo Luigi Ferrajoli, cada vez que um inocente tem razão em temer
a um juiz, significa que este se encontra fora da lógica do Estado de Direito: o medo, a
desconfiança e a não garantia de inocência indicam a quebra da função própria da
jurisdição penal e a ruptura dos valores políticos que a legitimam, por isso a presunção
de inocência precisa ser (re)afirmada, para superação da crise de legitimidade do poder
judicial e restituição dos juízes do papel de garantes dos direitos fundamentais.
Isso porque :
Tem-se uma Constituição que se pretende das mais evoluídas, mas que
não consegue ser efetiva. Os direitos fundamentais estão postos e estendem-se atodos os
cidadãos, inclusive ao preso, mas estão longe de serem (re) conhecidos.
Como aponta Luigi Ferrajoli, para a sociedade pode até ser suficiente que a maioria dos
culpados seja condenados, mas o maior interesse é de que todos os inocentes, sem
exceção, estejam protegidos. Isso porque os direitos dos cidadãos estão ameaçados não
somente pelos delitos, mas também pelas penas arbitrárias.
Num país onde o preso não perde somente a liberdade, mas também a
sua dignidade, frente aos abusos cometidos pelo poder punitivo, o operador do Direito
deve estar comprometido com a garantia dos direitos do cidadão, sem perder de vista
que está lidando com um dos mais importantes direitos: a liberdade. Esta somente pode
ser restringida nas hipóteses em que seja imprescindível em razão da ausência de outra
forma de punição pelo delito praticado.
É imprescindível também que cada cidadão faça a sua parte, comprometendo-se com o
Estado Democrático e ainda pouco social de Direito, como forma de transformar a
realidade social.
Talvez assim poderemos ter uma sociedade mais livre, justa e solidária e
poderemos nos proteger contra todas as formas patológicas de (des)humanidade que
estão se instalando como um fascinante projeto de existência, e que servem também
como meio de violação do princípio constitucional elevado a fundamento do Estado
Democrático de Direito: a dignidade da pessoa humana.
CONCLUSÃO
BULUS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 2ª edição, São Paulo: Editora
Saraiva, 2001.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19ª edição. São Paulo:
Malheiros Editores, 2000.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm
De sonhos feitos, desfeitos e refeitos vivemos a globalização. In: Sarlet, Ingo Wolfgang.
Direitos Fundamentais Sociais: Estudos de Direito Constitucional, Internacional e
Comparado. Rio de Janeiro: Renovar, p. 47-76, 2004.
CARVALHO, Salo de. Penas e Garantias: uma leitura do garantismo de Luigi Ferrajoli
no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 10. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2005.