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Por
Ângela Rodrigues
DINÂMICA DE GRUPOS
UAL
Universidade Autónoma de Lisboa
Lisboa
20 de Julho de 2005
ÍNDICE
Página
INTRODUÇÃO 3
CONCLUSÃO 11
BIBLIOGRAFIA 12
INTRODUÇÃO
Dentre as várias hipóteses de escolha disponíveis não hesitei em optar pelo tema do
‘papel do facilitador’ para executar este trabalho pois está directamente ligado com o meu
contexto de actividade, onde facilitei grupos e pretendo continuar a fazê-lo. No entanto, visto
que a Abordagem Centrada na Pessoa faz todo o sentido para mim, desejo clarificar qual o
papel do facilitador nos grupos de encontro rogerianos, com o objectivo de poder estar mais
apta a praticar este mesmo papel dentro desta abordagem.
Para tal, usei como base, principalmente, o livro “Grupos de Encontro”, de Carl
Rogers, e alguma pesquisa sobre o assunto, na internet.
Assim, inicio por referir qual a função e participação do facilitador no contexto do
grupo de encontro, quais as atitudes que devem estar presentes na pessoa do mesmo, que
metodologia deve ele usar na facilitação do grupo e, por fim, nomeio alguns aspectos pouco
facilitadores, portanto, a evitar pelo líder de grupo dentro da Abordagem Centrada na Pessoa.
1. FUNÇÃO E PARTICIPAÇÃO DO FACILITADOR
O termo facilitador, usado para denominar o “líder” do grupo, surge da função que
este desenvolve no contexto do grupo de encontro, que é o de criar um ambiente propício à
expressão espontânea de sentimentos e pensamentos bem como de clarificar e ajudar a
comunicação no grupo; isto é facilitação.
Ele é, também, um elemento do grupo, como refere Rogers numa entrevista dada à TV
Cultura, no Brasil, em 1977, “O facilitador não é um elemento equidistante. Ele envolve-se
com todos os membros. Ele desempenha tal função no início para que o grupo tome impulso,
mas depois vai se tornando um membro do grupo e isto é incentivo aos outros. Sendo ele
mesmo para os demais, faz com que os outros vão se conhecendo mutuamente e se tornando
um membro igual aos demais". Em congruência, ele pode e deve expressar os seus
sentimentos, mas tem a liberdade de não o fazer se achar pouco conveniente; a sua prioridade
é a facilitação do processo de desenvolvimento do grupo e não a manifestação das suas
afirmações pessoais ou comportamentos. Por tomar uma decisão ponderada não deixa de ser
congruente. Se por um lado é importante que o grupo sinta que o facilitador é um elemento
integrado e não distante, frio ou superior, por outro ele é a segurança do grupo, pelo que a
expressão das suas próprias opiniões pode torná-lo demasiado vulnerável e dificultar a sua
tarefa. Um equilíbrio em congruência é o ideal.
Ele estabelece o quadro, inicialmente, com um mínimo de regras necessárias ao
funcionamento do grupo, como horários, tempo das sessões, frequência, etc.
2.2.4 Presença – esta atitude caracteriza-se pela disponibilidade de estar com, aconteça
o que acontecer. O processo de experienciar sentimentos não é vivenciado sem alguma dor ou
sofrimento e o facilitador cria o clima de segurança de rede, como se dissesse que estará com
cada um tanto nos seus momentos mais difíceis como nos de alegria.
No processo de mudança pessoal, quer pela descoberta de novas perspectivas quer
pela reacção leal do grupo a algo que foi dito, o facilitador deve fazer sentir ao indivíduo que
o que quer que lhe aconteça a ele ou dentro dele, o facilitador estará com ele. O facilitador
deve ser sensível ao estado de espírito dos membros e dar-lhes um sinal verbal ou não de que
percebe isso e está com a pessoa no viver desse sentimento.16
2.2.5 Não fazer interpretações ou juízos de valor – esta atitude tem ligação directa com
o conceito que não-directividade. A expressão da ideia que se pensa ser a causa de certo
12
DIAS, Modelo de Desenvolvimento Humano.
13
Grupos de Encontro. p. 62-63.
14
Idem. p. 64.
15
Idem. p. 66.
16
Idem. p. 59-60.
comportamento desvirtualiza o próprio ser humano da sua capacidade de direcção e
desenvolvimento do seu potencial. O efeito será o oposto ao da aceitação positiva
incondicional; a pessoa (ou o grupo) vai sentir-se ameaçada, observada ou analisada. Se tiver
que haver comentários sobre o processo do grupo, ou dos seus membros, que sejam feitos
pelos membros do próprio grupo e nunca pelo facilitador.17
3.1 Forma não estruturada – O facilitador não tem uma estrutura de funcionamento das
sessões a apresentar ao grupo.18 De acordo com as suas crenças básicas, acredita que o próprio
grupo criará a sua maneira de interagir. Não há directividade, nem no discurso, nem na
postura física,19 nem no nível de comprometimento ou participação de cada membro,20 nem no
uso de técnicas ou jogos que estimulem a partilha ou o aprofundamento do material a
partilhar, a não ser por sugestão do grupo. É dada a prioridade à espontaneidade.21
17
Idem. p. 68-69.
18
Idem. p. 58.
19
Idem. p. 69.
20
Idem. p. 61.
21
Idem. p. 67-68.
22
Idem. p. 69.
No caso de confronto e feedback, duas situações podem surgir: se é o facilitador que
confronta, deve ter o cuidado de usar expressões que reflictam sentimentos seus e falar na
primeira pessoa – ‘Estou perplexo e incomodado com a sua maneira de...’ – atacar as defesas
da pessoa não é atitude de ajuda. Se o facilitador confrontar a pessoa consigo mesma deve
usar material dado anteriormente pela pessoa como, ‘Parece-me que se está a sentir como
referiu antes, uma vítima’. Há ainda uma terceira maneira de agir do facilitador que já foi
mencionada anteriormente; é a situação em que o facilitador percebe que a pessoa está aflita
com a confrontação; ele deve tomar a iniciativa de ir em seu socorro, mesmo que a pessoa
depois expresse que deseja que o confronto e feedback continuem. É sempre a pessoa que
determina cessar ou não com a confrontação, mas o facilitador deve agir sempre em seu
socorro.23
Rogers nomeia alguns estilos pouco facilitadores do processo de grupo que serão um
bom ponto de referência do que um facilitador não deve fazer. Embora ele refira que têm
pouca base de investigação, são válidos por se basearem na sua vasta experiência de trabalho
com grupos de encontro.
Assim, estes são estilos pouco facilitadores:
23
Idem. p. 66.
6. Aquele que com frequência faz interpretações dos motivos ou causas do
comportamento dos membros do grupo, por duas razões básicas: se são incorrectas não
ajudam a compreensão; se são correctas podem provocar uma atitude defensiva ou a total
vulnerabilidade e consequente mágoa na pessoa, principalmente após o fim do grupo. Em vez
de ajudar pode-se causar na pessoa uma falta de confiança na sua capacidade de se
compreender.
7. Aquele que sugere um exercício e diz que todos vão fazê-lo; é um tipo de
manipulação subtil. Se quer sugeri-los, então deve explicar que cada pessoa é livre para não
participar neles.
8. Aquele que adopta uma postura de não envolvimento emocional pessoal no grupo
porque é o perito e analisa as reacções dum conhecimento superior. Parece ser isto um
sintoma de defesa e uma falta de respeito pelos outros. Assim, ele nega os seus sentimentos
espontâneos e apresenta um modelo de frieza, distância e análise, que é a antítese do modelo
rogeriano. É de aceitar este tipo de comportamento em qualquer membro do grupo, pois os
outros se manifestarão em relação a isso, manipulando quem quer manipular, mas o
facilitador é como um modelo para todos, no sentido de vivenciar as normas de
espontaneidade, liberdade e respeito pelo sentir e pensar do outro.
CONCLUSÃO
Sinto que o objectivo inicial de clarificar o papel do facilitador nos grupos de encontro
rogerianos foi alcançado e ultrapassado, pela quantidade de material a que tive acesso e pelas
várias perspectivas recolhidas sobre o assunto.
A minha visão do assunto foi em muito alargada e conduziu-me a constatar que não há
muitas diferenças entre a tarefa do terapeuta em interação bipessoal e a do facilitador no
processo de grupo.
Parece-me que posso concluir que o facilitador, dentro do processo do grupo, está
mais sujeito a ‘sofrer’ desenvolvimento pessoal do que o terapeuta em terapia individual. Isto
parece-me ter ficado claro pelo seu envolvimento, como membro do grupo, na expressão dos
seus próprios sentimentos. Também ficou claro que quem deseja facilitar grupos precisa ter
formação e algum grau de desenvolvimento pessoal para conseguir desempenhar bem a
tarefa.
Posso também partilhar que este estudo veio confirmar que esta Abordagem faz todo o
sentido para mim e aumentou o meu desejo de tornar mais frequente a prática de facilitação
de grupos.
BIBLIOGRAFIA
ROGERS, Carl. (1986). Grupos de Encontro, 6ª. Edição, Lisboa, Moraes Editores.