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A partir dos anos 60 surgiu na França uma produção pautada nos sistemas de
crenças, valores e representações, que veio a ser denominada de História das
Mentalidades. Tal vertente histórica abordaria o cotidiano, o que escapa aos sujeitos
históricos, por ser revelador do conteúdo impessoal do seu pensamento. A História das
Mentalidades seria um termo específico da cultura francesa, de acordo com os escritos
de Roger Chartier (CHARTIER, 1990, p.30).
As mentalidades seriam aquilo que rege os indivíduos, sem que eles percebam, e
atua no âmbito do coletivo, enquanto as idéias se pautam nos estudos do indivíduo.
Uma sociedade partilha de conteúdos de pensamentos, interiorizados nos indivíduos,
sem que seja necessário explicitá-los (CHARTIER, 1990, p.41). Através do discurso de
Chartier, notamos que a História das Mentalidades responderia melhor à pesquisa do
que a História Intelectual, por estabelecer uma relação entre a História e a Antropologia,
a Sociologia e a Lingüística, assim proporcionando a apreensão de novos objetos como
gestos, crenças, rituais, educação (ensino e leitura).
1
Prof. Carlos Eduardo da Costa Campos (NEA/PPGH-UERJ) é pesquisador do Núcleo de
Estudos da Antiguidade sendo orientado pela Prof.ª Dr.ª Maria Regina Candido
(NEA/CEHAM/PPGH/UERJ – PPGHC/UFRJ). Email: eduygniz@hotmail.com;
rupturas, continuísmos, processo de hesitações, retrocessos e bloqueios. Seriam os
elementos que a diferem da História Intelectual, que almejava refletir sobre as maneiras
de pensar e as relações com as obras intelectuais e a sociedade (CHARTIER, 1990, p
53). Assim, percebemos que a História das Mentalidades inaugurou um novo campo de
pesquisa, o qual até aquele momento era deixado à margem pelos estudos históricos.
Dentre esses trabalhos podemos destacar os estudos de Robert Mandrou2 sobre a
feitiçaria na França; Jean Delumeau3 com o seu trabalho de historicização do medo no
mundo ocidental; Philipe Ariès4 com a História da Morte (BARROS, 2009, pp.37-38).
2
Ver obra: MANDROU, Robert. Magistrados e feiticeiros na França do século XVII. São Paulo:
Perspectiva, 1979. ( Publicado originalmente em: 1968);
3
Averiguar: DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente. São Paulo: Cia das Letras,
1989. (Publicado originalmente em:1978).
4
Verificar referências em: ARIÈS, Philipe. História da Morte no Ocidente. Rio de Janeiro:
EDIOURO, 2003. ( Publicado originalmente em:1975);
5
O autor Baczko nasceu em Varsóvia, na Polônia, no ano de 1924. Este filósofo foi responsável
por coordenar o departamento de História da Filosofia Moderna da Academia Polaca das
Ciências, no período de 1955 a 1968. Baczko leciona filosofia na Universidade de Genebra.
Ver referências a Baczko no site: http://www.unicamp.br/~berriel/conselho.htm - Acessado em
02/09/2010
atribuída certa seriedade, e seria visto como algo concreto e/ou real (BACZKO, 1984, p.
296). Nos apontamentos de Baczko, percebemos que a esfera política se utiliza das
representações coletivas, assim almejando se legitimar no poder (BACZKO, 1984, p.
297). A Professora Maria de Fátima de Souza Santos endossa nossa interpretação ao
frisar que Baczko analisa o imaginário como um importante instrumento para se exercer
o poder (SANTOS, 2005, p.48).
O autor descreve o imaginário social como sendo um dos mecanismos que iriam
regular a vida em sociedade. Assim o imaginário social seria uma forma eficiente de
controle da coletividade e também um meio para a legitimação do poder dos indivíduos.
Logo:“Ao mesmo tempo, ele torna-se o lugar e o objeto dos conflitos sociais”. Baczko
argumenta que o imaginário social faz parte de todas as sociedades humanas. O filósofo
parte do pressuposto que todos os grupos têm necessidade de criar e imaginar, visando,
assim, legitimar o poder ( BACZKO, 1984, pp. 309-310).
Em suma, podemos frisar que o imaginário social interage na vida coletiva das
sociedades humanas. Sua atuação no meio social se estrutura possivelmente através de
uma relação binária de oposição, como: “legitimar/invalidar; justificar/acusar;
tranqüilizar/perturbar; mobilizar/desencorajar; incluir/excluir, etc.” Além disso, o
imaginário social dependeria, na visão do autor, dos meios de comunicação para poder
difundir as idéias e assim legitimar seu discurso de poder, de acordo com os interesses
de um determinado segmento social (BACZKO, 1984, pp. 312-313).
Referência Bibliográfica: