Informativo do TRE/SE – Ano 1 – Nº 14 - Aracaju (SE), de 6 a 13 de outubro 2009
AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. DIFAMAÇÃO. DOLO
SESSÃO PLENÁRIA*
*As notas aqui divulgadas foram colhidas nas sessões de
julgamento do Plenário do Tribunal Regional Eleitoral de
Sergipe. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das
decisões, embora seja uma das metas perseguidas neste
trabalho, somente poderá ser aferida após sua publicação na
Imprensa Oficial.
Sessões Ordinárias Julgamentos
06/10/09 3 de nulidade do feito, pela falta de ratificação da
07/10/09 5 denúncia nesta instância de segunda grau e pela
08/10/09 3
13/10/09 7 superveniente da competência não importa na
Sessões Extraordinárias Julgamentos
RECURSO ELEITORAL. PRESTAÇÃO DE
CONTAS. DOAÇÃO ESTIMÁVEL EM DINHEIRO.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. RECIBO
ELEITORAL. DATA CONDICIONADA.
O Tribunal, por unanimidade, desproveu o recurso
interposto por Duílio Siqueira Ribeiro, então
candidato a Prefeito do município de Salgado/SE,
mantendo desaprovadas as suas contas, por
entender que o ordenamento jurídico eleitoral não
aceita a doação de campanha de forma
condicionada, não existindo a possibilidade de
constar uma data no recibo eleitoral e considerar a
efetivação da doação em data futura. Em seu voto,
o Relator ressaltou que a data da doação é aquela
efetivamente lançada no recibo, não sendo
aceitável que a data seja a do início dos serviços,
pois essa consideração traria flagrante insegurança
para a análise das contas pela Justiça Eleitoral.
(RE nº 3227 – Classe 30ª, Rel. Juiz Juvenal
Francisco da Rocha Neto, julgado em
13/10/2009)
1
ESPECÍFICO. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO.
ATIPICIDADE.
Por unanimidade, o Tribunal, com fundamento no
art. 386, III, do Código de Processo Penal,
absolveu o Deputado Estadual Gilmar José
Fagundes de Carvalho da imputação do crime de
difamação, previsto no art. 325 do Código Eleitoral,
na Ação Penal, promovida pelo Ministério Público,
que se iniciou no juízo de primeiro grau quando o
réu ainda não ocupava cargo eletivo. A preliminar
ausência de defesa preliminar do réu, foi rejeitada,
adotando-se o entendimento de que a alteração
anulação dos atos processuais, ainda que
decisórios, praticados por juiz então competente.
No mérito, apesar de comprovadas a autoria e a
materialidade do fato, ficou consignada a ausência
de demonstração do dolo específico, elemento
subjetivo do tipo penal, consistente na vontade
deliberada de atingir a reputação da vítima, o então
candidato a Prefeito de Porto da Folha/SE, Manoel
Gomes de Freitas, denegrindo ou depreciando o
valor que o mesmo ostenta em seu meio social.
(AP nº 13 – Classe 4ª, Rel. Juiz José dos Anjos,
julgado em 13/10/2009)
RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA.
CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO.
INTEMPESTIVIDADE. DOENÇA DO ADVOGADO.
Para que se constitua em justa causa a ensejar o
recebimento de recurso fora do prazo, a doença
que atingir o advogado dever impossibilitá-lo de
exercer o ato por completo, não existindo nem a
possibilidade de substabelecimento. O motivo,
portanto, precisa ser forte o suficiente para
caracterizar a força maior, acontecimento
paralisante e impeditivo da realização do ato.
Desta forma, a dor de cabeça alegada por
causídico não se mostrou suficiente para
determinar a devolução de prazo recursal, inclusive
porque apresentar documentação para protocolar
não se configura em ato privativo de advogado.
Adotando este entendimento, o Tribunal acolheu a
preliminar de intempestividade suscitada pelos
recorridos, José Ivaldo Costa e Genivaldo dos
Santos, Prefeito e Vice-Prefeito, respectivamente,
do município de Santo Amaro das Brotas/SE, para
não conhecer do recurso interposto pela Coligação
Santo Amaro para Todos.
(RCED nº 22 – Classe 29ª, Rel. Juiz Juvenal
Francisco da Rocha Neto, julgado em
13/10/2009)
DIÁRIO DE JUSTIÇA *
Esta seção contém resumos de decisões do Tribunal
Regional Eleitoral de Sergipe já publicadas no Diário de
Justiça, não consistindo em repositório oficial da
jurisprudência deste Tribunal.
PETIÇÃO
PROCESSO Nº 188 – CLASSE 24ª
RELATOR: JUIZ ARTHUR NAPOLEÃO TEIXEIRA
FILHO
EMENTA
DIREITO ELEITORAL E PROCESSUAL CIVIL
PRELIMINARES. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA.
AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL
CARÊNCIA DA AÇÃO. IMPOSSIBILIDADE
JURÍDICA DO PEDIDO. CANCELAMENTO DE
REGISTRO DE DIRETÓRIO REGIONAL OU
MUNICIPAL DE PARTIDO POLÍTICO. HIPÓTESE
NÃO CONTEMPLADA NA LEGISLAÇÃO DE
REGÊNCIA DA MATÉRIA. EXTINÇÃO DO FEITO
SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.
1. A preliminar de incompetência absoluta, por se
confundir com o fundamento adotado neste DJE/SE
provimento judicial, deverá ser apreciada em
momento posterior.
2. A inércia das partes em se manifestarem acerca
do decurso do prazo de suspensão do trâmite
processual não induz, per se, a falta de interesse
processual, em especial se considerado o princípio
do impulso oficial (art. 262 do Código de Processo
Civil).
3. A pretensão dirigida ao cancelamento de registro
de diretório regional ou municipal de partido politico
2
não é contemplada em nosso ordenamento
jurÍdico, dai porque ser juridicamente impossível,
razão pela qual é de se reconhecer de ofício a
carência da ação, matéria qualificada de ordem
pública, com a consequente extinção do feito sem
resolução do mérito (art. 267, VI e § 3º, do Código
de Processo Civil). Doutrina. Precedentes.
4. Extinção do feito sem resolução do mérito.
DJE/SE 06/10/2009
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA
REPRESENTAÇÃO
PROCESSO Nº 904 – CLASSE 42ª
RELATOR: JUIZ ARTHUR NAPOLEÃO TEIXEIRA
FILHO
EMENTA
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRESSUPOSTO
EXTRÍNSECO DE ADMISSIBILIDADE.
REGULARIDADE FORMAL. ÔNUS PROCESSUAL
DA PARTE RECORRENTE EM VELAR POR SUA
OBSERVÂNCIA. RAZÕES RECURSAIS
ILEGÍVEIS. IMPOSSIBILIDADE MATERIAL DE SE
AFERIR O FUNDAMENTO DA PRETENSÃO
RECURSAL. NÃO-CONHECIMENTO DOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
1. A regularidade formal é pressuposto extrínseco
de admissibilidade recursal, sem o qual não há
como a irresignação ser conhecida. Doutrina.
Jurisprudência.
2. É ônus processual carreado á parte recorrente
interpor o recurso com a plena observância dos
requisitos de admissibilidade estabelecidos na
legislação, notadamente apresentando as razões
de seu inconformismo em petição legível, sob pena
de ter-se a impossibilidade material da aferição dos
fundamentos suscitados.
3. Nosso ordenamento processual civil veda a
interposição de recursos mediante cotas ou termo
nos autos. Doutrina. Precedente.
4. Não conhecimento dos embargos de declaração.
06/10/2009
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA
REPRESENTAÇÃO
PROCESSO Nº 898 – CLASSE 42ª
RELATOR: JUIZ JUVENAL FRANCISCO DA
ROCHA NETO
EMENTA
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. HIPÓTESE DE
CABIMENTO. OMISSÃO E OBSCURIDADE
INEXISTÊNCIA. TENTATIVA DE REDISCUSSÃO
DA MATÉRIA JÁ DECIDIDA. ÓBICE
INTRANSPONÍVEL. VIA PROCESSUAL
INADEQUADA. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO.
1. Os embargos de declaração são a via
processual adequada à colmatação de eventual
obscuridade, dúvida, contradição ou omissão, que
viciem provimento judicial (art. 275 do Código
Eleitoral).
2. "É pressuposto especifico de admissibilidade
dos embargos de declaração a existência de
obscuridade, omissão ou contradição no acórdão,
sobre ponto que devia pronunciar-se o órgão
colegiado. Por obscuridade, entenda-se a ausência
de clareza com prejuízo para a certeza jurídica. De
sua vez, há omissão quando deixam de ser
apreciadas questões relevantes ao julgamento ou
trazidas á deliberação judicial. Finalmente, a
contradição se manifesta quando, na sentença ou
no acórdão, são inseridas proposições
incompossíveis. Conseguintemente, os embargos
declaratórios não se prestam ao reexame de
matéria sobre a qual já houve pronunciamento."
(TRF 5ª Região, Embargos de Declaração na
Apelação Cível nº 247975- 04/CE, Pleno, Relator
Desembargador Federal FRANCISCO
CAVALCANTI, DJ Data: 11/5/2006, p, 607).
3. Os embargos de declaração não se prestam à
promoção de novo julgamento da causa.
Precedentes.
4. Rejeição dos embargos de declaração.
DJE/SE 13/10/2009
RECURSO ELEITORAL
PROCESSO Nº 3202 – CLASSE 30ª
RELATOR: JUIZ JUVENAL FRANCISCO DA
ROCHA NETO
EMENTA
RECURSO ELEITORAL. PRESTAÇÃO DE
CONTAS. ELEIÇÕES 2008. COMITÊ
FINANCEIRO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
DE RECEBIMENTO DE RECURSOS DE FUNDO
PARTIDÁRIO. RECURSOS FINANCEIROS DE
ORIGEM NÃO IDENTIFICADA. COMPOSIÇÃO
DAS SOBRAS DE CAMPANHA. REPASSE Á
DIREÇÃO PARTIDÁRIA. MANUTENÇÃO DE
FUNDAÇÃO DE PESQUISA, DOUTRINAÇÃO E
EDUCAÇÃO POLÍTICA.
1. Cabe ao candidato ou comitê financeiro
demonstrar qual a origem dos recursos financeiros
utilizados durante a campanha eleitoral.
3
2. No caso em análise, não foram apresentadas
provas de que os recursos arrecadados originaram
de doação do diretório nacional do partido politico.
3. Comporão as sobras de campanha os recursos
financeiros reconhecidos como de origem não
identificada, os quais deverão ser utilizados,
integral e exclusivamente, na criação e
manutenção de fundação de pesquisa e de
doutrinação e educação política, nos termos do art.
29, caput, e parágrafo único da Resolução TSE nº
22.715/2008.
4. Improvimento do recurso.
DJE/SE 13/10/2009
RECURSO ELEITORAL
PROCESSO Nº 3228 – CLASSE 30ª
RELATOR: JUIZ ÁLVARO JOAQUIM FRAGA
EMENTA
ELEIÇÕES 2008. PRESTAÇÃO DE CONTAS.
CANDIDATO A VEREADOR DECISÃO A QUO.
REJEIÇÃO DAS CONTAS. RECURSO
ELEITORAL. ALEGAÇÃO DE NULIDADE
PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. NULIDADE
ABSOLUTA. INTELIGÊNCIA DO ART. 93, IX, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. SANEAMENTO
DA MÁCULA NAS INSTÂNCIAS SUPERIORES.
INADMISSIBILIDADE. PROVIMENTO DO
RECURSO. NULIDADE DA SENTENÇA.
1. "A fundamentação das decisões do Poder
Judiciário, consoante o inc. IX do art. 93 da
Constituição Federal, é condição absoluta de sua
validade, consistindo na definição suficiente dos
fatos e do direito que a sustentam, de modo a
evidenciar a hipótese de incidência da norma e os
efeitos dela resultantes" (STF, T2, HC 90045/RJ,
ReI. Min. Joaquim Babosa).
2. A ausência ou inidoneidade da fundamentação
do provimento judicial, por se tratar de violação de
norma constitucional, implica reconhecimento da
nulidade da decisão impugnada. Doutrina.
Precedentes.
3. Recurso conhecido e provido .
DJE/SE 13/10/2009
INTEIRO TEOR*
Esta seção é reservada para a divulgação do inteiro teor de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de
modo especial o interesse dos operadores do direito

RECURSO ELEITORAL Nº 3197 – CLASSE 30ª
Recorrente: Ministério Público Eleitoral
Recorrido: Manoel Gomes Freitas
EMENTA:
RECURSO ELEITORAL. EXECUÇÃO
"COMTEMPT OF COURT". "ASTREINTES". ART.
14, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. VALOR DA MULTA
COMINADA EM REPRESENTAÇÃO ELEITORAL.
NECESSIDADE DE INSCRIÇÃO EM DÍVIDA
ATIVA. EXECUÇÃO FISCAL ..MINISTÉRIO
PÚBLICO ELEITORAL. ILEGITIMIDADE ATIVA.
IMPROVIMENTO DO RECURSO
1. "[...] as astreintes constituem técnica de tutela
coercitiva e acessória, que visa a pressionar o réu
para que o mesmo cumpra mandamento judicial,
pressão esta exercida através de ameaça a seu
patrimônio, consubstanciada em multa periódica a
incidir em caso de descumprimento" (AMARAL,
Guilherme Rizzo. As Astreintes e o Processo Civil
Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2004, p. 85). Precedente.
2. Determina o art. 14, parágrafo único, do Código
de Processo Civil, preceptivo que embasa o
provimento jurisdicional alegadamente
descumprido, que em caso de inadimplência,
contado do trânsito em julgado da decisão final da
causa, a multa nele prevista será inscrita sempre
como
dívida ativa da União ou do Estado. Doutrina.
Precedente.
3. Falece legitimidade ao Ministério Público
Eleitoral para a propositura de ação executiva
colimando a satisfação de crédito oriundo de
"astreinte" (art. 14, parágrafo único, do Código de
Processo Civil) originado de alegado
descumprimento de ordem judicial exarada em
representação eleitoral, cabendo a cobrança,
acaso devida, ser empreendida pela Procuradoria-
Geral da Fazenda Nacional em observância aos
ditames da Lei de Execução Fiscal (Lei nº
6.830/1980). Inteligência do art. 367, IV, do Código
Eleitoral, e do art. 23 da Lei nº 11.457/2007.
Precedente.
4. Improvimento do recurso.
Sob a presidência do(a) Excelentíssimo(a)
Desembargador(a) CLÁUDIO DINART DÉDA
4
CHAGAS, ACORDAM os Membros do Tribunal
Regional Eleitoral de Sergipe, por unanimidade, em
CONHECER e NEGAR PROVIMENTO AO
RECURSO, nos termos do voto do Relator.
Aracaju (SE), 30 de setembro de 2009.
JUIZ ARTHUR NAPOLEÃO TEIXEIRA FILHO –
RELATOR
DR(ª) RUY NESTOR BASTOS MELLO –
Procurador(a) Regional Eleitoral
RELATÓRIO
O JUIZ ARTHUR NAPOLEÃO TEIXEIRA FILHO
(Relator):
1. O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL interpõe
recurso eleitoral contra a sentença que extinguiu
sem resolução do mérito ação de execução por
quantia certa por ele movida em desfavor de
MANOEL GOMES DE FREITAS, com pálio na
ilegitimidade ativa ad causa (fls. 263/264 e
266/277).
2. Em apertada síntese, após tecer considerações
sobre a causa subjacente à quantia exequenda,
sustenta sua legitimidade para a execução das
astreintes impostas na representação eleitoral nº
450/2008 (18ª Zona Eleitoral). Requer a reforma do
provimento judicial recorrido, com o recebimento
da petição inicial da ação executiva e
prosseguimento do feito.
3. Contrarrazões (fls. 278/283).
4. O Ministério Público Eleitoral, em parecer da
lavra do eminente Procurador Regional Eleitoral
PAULO GUSTAVO GUEDES FONTES, opina pelo
conhecimento e improvimento do recurso (fls.
289/293).
5. É o relatório.
VOTO
o JUIZ ARTHUR NAPOLEÃO TEIXEIRA FILHO
(Relator):
1. Cuida-se de recurso eleitoral interposto pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL contra a
sentença que extinguiu sem resolução do mérito
ação de execução por quantia certa por ele
proposta contra MANOEL GOMES DE FREITAS
ante o reconhecimento da ilegitimidade ativa para a
causa.
2. A controvérsia cinge-se à seguinte questão:
detém o recorrente legitimidade para a propositura
de ação executiva colimando a satisfação de
astreinte cominada em representação eleitoral com
arrimo no art. 14, parágrafo único, do Código de
Processo Civil.
3. Penso que a resposta negativa se impõe.
4. Na lição de LIEBMAN, chama-se "astreinte a
condenação pecuniária proferida em razão de tanto
por dia de atraso (ou por qualquer unidade de
tempo, conforme as circunstâncias), destinada a
obter do devedor o cumprimento da obrigação de
fazer pela ameaça de uma pena suscetível de
aumentar indefinidamente" (LIEBMAN, Enrico.
Processo de Execução. São Paulo: Bestbook,
2003, p. 280).
5. As astreintes, desta sorte, constituem medida
coercitiva a compelir o devedor ao adimplemento
da obrigação, consoante o autorizado magistério
doutrinário de GUILHERME RIZZO AMARAL (ver
também: HERTEL, Daniel Roberto.
Sistematização das Astreintes à luz do
Processo Civil Brasileiro. Revista Dialética de
Direito Processual Civil nº 51, junho/2007, p. 43;
ASSIS, Araken de. O Contempt of Court no
Direito Brasileiro. Revista de Processo nº 111,
Revista dos Tribunais, Ano 28, Jul/Set 2003, p. 26):
"[...] as astreintes constituem técnica de tutela coercitiva
e acessória, que visa a pressionar o réu para que o
mesmo cumpra mandamento judicial, pressão esta
exercida através de ameaça a seu patrimônio,
consubstanciada em multa periódica a incidir em caso
de descumprimento."
(As Astreintes e o Processo Civil Brasileiro. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p. 85).
6. Segue precedente do Supremo Tribunal Federal:
LEGITIMIDADE JURÍDICA DA IMPOSIÇÃO, AO
PODER PÚBLICO, DAS "ASTREINTES" - Inexiste
obstáculo jurídico-processual à utilização, contra
entidades de direito público, da multa cominatória
prevista no § 5° do art. 461 do CPC. A "astreinte” - que
se reveste de função coercitiva - tem por finalidade
especifica compelir, legitimamente, o devedor, mesmo
que se cuide do Poder Público, a cumprir o preceito.
Doutrina. Jurisprudência.
(STF, RE 495740 TAR/DF, Segunda Turma, Relator(a):
Min. CELSO DE MELLO, Dje-152, Divulg. 13/8/2009,
Public. 14/8/2009).
7. No caso presente, como se vê da decisão de fl.
138, a astreinte (multa) foi cominada em
conformidade com o disposto no art. 14, parágrafo
5
único, do Código de Processo Civil, que possui o
seguinte conteúdo normativo:
“Art. 14 [...]
[...]
Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se
sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a
violação do disposto no inciso V deste artigo constitui
ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o
juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e
processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em
montante a ser fixado de acordo com a gravidade da
conduta e não superior a vinte por cento do valor da
causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado
do trânsito em julgado da decisão finai da causa, a
multa será inscrita sempre como divida ativa da União
ou do Estado. (Incluído pela Lei nº 10.358/2001)."
8. Note-se que a norma é clara: "não sendo paga
no prazo estabelecido, contado do trânsito em
julgado da decisão final da causa, a multa será
inscrita sempre como dívida ativa da União ou do
Estado".
9. Portanto, o credor da multa em questão será a
Fazenda Pública - Federal ou Estadual, como
adverte o magistério doutrinário de HUMBERTO
THEODORO JÚNIOR (conferir também: MILMAN,
Fabio. Improbidade Processual. Rio de Janeiro:
Forense, 2007, p. 217/218; VAZ, Paulo Afonso
Brum. O contempt of court no Processo Civil.
Genesis- Revista de Direito Processual Civil.
Curitiba, nº 32, abril/junho 2004, p. 346/347;
WAMBIER, Luiz Rodrigues. O Contempt of Court
na Recente Experiência Brasileira. Revista de
Processo nº 119, Revista dos Tribunais, Ano 30,
janeiro/2005, p. 47):
O juiz arbitrará a pena nos próprios autos em que
incorreu a infração e assinará prazo para seu
pagamento. Para fixar-lhe o montante levará em conta a
gravidade da conduta do infrator.
Não ocorrendo o pagamento no tempo devido - cuja
contagem se dará após o trânsito em julgado da
decisão final da causa - a multa será inscrita como
dívida ativa da União ou do Estado, conforme se trate
de processo da Justiça Federal ou da Justiça Estadual.
Há duas novidades, portanto, na exigência de multa por
atentado ao exercício da jurisdição:
a) sua exigibilidade não é imediata, pois só deverá
ocorrer após o encerramento do processo pelo trânsito
em julgado da decisão final; b) o beneficiário da multa
não é a parte prejudicada (como se dá na comum
litigância de má-fé - art. 35); é o Poder Público que a
arrecadará como divida ativa.
(Curso de Direito Processual Civil. 47ª ed., Rio de
Janeiro: Editora Forense, v. 1,2007, p. 97).
10. Colaciono precedente:
PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO -.
ATO ATENTATÓRIO AO EXERCÍCIO DA
JURISDIÇÃO- MULTA- ART. 14, V E § ÚNICO CPC.
1. A CEF se insurge contra decisão do juízo a quo que
determinou o depósito da multa no prazo de 10 dias,
sob pena de cometimento de crime de desobediência.
2. O inciso V, bem como o parágrafo único, do art. 14,
do CPC, visam estabelecer explicitamente o dever de
cumprimento dos provimentos mandamentais, e o dever
de tolerar a efetivação de quaisquer provimentos
judiciais, antecipatórios ou finais, com a instituição de
sanção pecuniária a ser imposta ao responsável pelo
ato atentatório ao exercício da jurisdição, o que
representa, na linguagem do direito anglo-americano a
repressão ao contempt of court.
3. No que tange à multa, a lei estabeleceu que a
obrigação será inscrita sempre como divida ativa da
União ou do Estado.
4. Uma vez fixado o valor da multa, esta só pode ser
cobrada via Execução Fiscal, vez que, como já exposto,
será sempre inscrita como divida ativa da União ou do
Estado. No presente caso, divida ativa da União.
5. Descabem os argumentos em relação á prisão civil
por divida, vez que além de a mesma não ter ocorrido,
sequer houve ameaça de prisão.
6. O que se configuraria seria a prática de crime de
desobediência, caso não cumprido o provimento
mandamental, a ser apurado pelo Ministério Público
Federal.
7. Agravo de Instrumento parcialmente provido.
8. Agravo Interno julgado prejudicado.
(TRF 2.' Região, Agravo de Instrumento nº 113768,
Sexta Turma, Relator(a) Desembargador Federal POUL
ERIK DYRLUND, DJU Data: 12/8/2004, p. 78).
11. No ponto, é de se aplicar o disposto no art.
367, IV, do Código Eleitoral, quanto às multas
eleitorais:
"Art. 367. A imposição e a cobrança de qualquer multa,
salvo no caso das condenações criminais, obedecerão
às seguintes normas:
[...]
IV - A cobrança judicial da divida será feita por ação
executiva na forma prevista para a cobrança da divida
ativa da Fazenda Pública, correndo a ação perante os
juízos eleitorais;[...]”
12. Assim já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral:
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. MULTA ELEITORAL.
FAZENDA PÚBLICA. LEGITIMIDADE. AGRAVO NÃO
PROVIDO.
i - A Procuradoria da Fazenda Nacional é parte legitima
para ajuizar ação de execução fiscal e cobrar crédito
decorrente de muitas eleitorais, divida ativa não
tributária da União. Precedentes.
II - A agravante deve atacar especificamente os
fundamentos da decisão agravada, não se limitando a
6
reproduzir no agravo as razões do recurso.
Precedentes.
111- Decisão agravada que se mantém pelos seus
próprios fundamentos.
IV - Agravo regimental a que se nega provimento.
(TSE, Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº
7464, Relator(a) ENRIQUE RICARDO
LEWANDOWSKI, DJE Data 1/9/2009, p 46).
13. Dessarte, com a inscrição do crédito em Divida
Ativa da União a execução dar-se-á em
consonância com a liturgia da Lei de Execução
Fiscal (Lei nº 6.830/1980), cabendo á Procuradoria-
Geral da Fazenda Nacional promover a
representação judicial na cobrança do crédito (art.
23 da Lei nº 11.457/2007 - "Art. 23. Compete à
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a
representação judicial na cobrança de créditos de
qualquer natureza inscritos em Dívida Ativa da
União”).
14. Em verdade, do quanto se depreende dos
autos, busca o recorrente conferir efetividade á
decisão da 18ª Zona Eleitoral (fl. 138), que alega
restar descumprida pelo recorrido.
15. Todavia, a imediata execução da quantia não
se mostra a via adequada a tanto, seja porque a
própria norma de regência impõe que a cobrança
se dê apenas após o trânsito em julgado (art. 14,
parágrafo único, do Código de Processo Civil), seja
pela iliquidez da obrigação ante a alegação de que
persiste o descumprimento (art. 618, I, do Código
de Processo Civil), cabendo-lhe buscar outra
senda, a fim de ver efetivado o provimento judicial
que alega desobedecido.
16. Nessa ordem de considerações, não há como
se conferir legitimidade ao recorrente para a
propositura de execução para a satisfação de
crédito originado de astreinte (multa) imposta em
ação de natureza eleitoral com arrimo no art. 14,
parágrafo único, do Código de Processo Civil.
17. Do exposto, NEGO PROVIMENTO ao presente
recurso.
18. É como voto, eminentes Pares.
JUIIZ ARTHUR NAPOLEÃO TEIXEIRA FILHO
Relator
DJE/SE 06/10/09
 EXPEDIENTE:
Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe
Fórum Gilberto Amado
Centro Adm. Gov. Augusto Franco, variante 2, lote 7
Bairro Capucho – Aracaju/SE 49080-000
(79) 2106-8600 – Fax: (79) 2106-8661

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