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SEPARATA
-
Responsabilidade civil do Estado por
sinalização precária de rodovia
Aldemir Berwig
Enciclopédia Âmbito Jurídico
1 INTRODUÇÃO
É possível responsabilizar o Estado por acidente que ocorra em rodovia quando este não agiu
e o dano decorreu da atuação de um dos condutores por falta de sinalização na rodovia? E
neste caso, cabendo indenização, o Estado responde objetivamente ou poderá ser
enquadrado em responsabilidade subjetiva.
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A omissão é caracterizada pela negligência dos servidores estatais em sua função de zelar
pela segurança dos usuários da rodovia. Este entendimento vem ancorado na lição de Celso
Antonio Bandeira de Mello, cujo entendimento é de que
“se o Estado não agiu, não pode logicamente, ser ele o autor do dano. E, se não foi o autor,
só cabe responsabilizá-lo caso esteja obrigado a impedir o dano. Isto é: só faz sentido
responsabilizá-lo se descumpriu dever legal que lhe impunha obstar ao evento lesivo” (Mello,
2002, p. 855).
Tal responsabilidade tem por fundamento a teoria do risco administrativo, acolhida pela nossa
Constituição Federal, que sujeita as entidades de direito público aos ônus ínsitos na prestação
de serviços, respondendo objetivamente pelos danos causados a terceiros.” (Gonçalves,
2003, p. 847).
Diante dos entendimentos expostos, fica evidente que deve ser responsabilizado quem,
embora sem uma participação direta, concorreu para o dano do usuário da via pública.
Ficando demonstrado que o dano decorreu da má conservação da pista ou da falta de
sinalização em curva perigosa, por exemplo, que levaram à colisão frontal entre dois usuários,
é de se evidenciar que o órgão público responsável tem uma parcela de “culpa” em
decorrência de omissão ao sinalizar.
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Se ao ente público compete zelar pelo bom estado das rodovias e proporcionar satisfatórias
condições de segurança aos seus usuários, fica caracterizada sua responsabilidade pelo
dano.
Todavia, há que se salientar que tanto o § 6º do art. 37 da Constituição Federal como o art. 43
do CC/2002, estabelecem a responsabilidade objetiva do ente estatal, nos moldes afirmados
pelo Desembargador Carlos Roberto Gonçalves, acima citado, estabelecendo:
“Art. 37, § 6º, CF/88 – As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.
Art. 43, CC/2002 – As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito
regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.”
A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu art. 5º, incisos V e X a indenização por
dano material ou moral àquele que sofrer o agravo. Também que, da inobservância dos
mandamentos legais decorre a responsabilidade daquele que concorreu para o dano,
consubstanciada no dever de reparar, notória e imperativa conforme expressa o Código Civil
2002:
“Art. 186. Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito ou causar prejuízo a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.(...)
Art. 927. Aquele que por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
“Nessas hipóteses, como bem pondera o professor Celso Antônio Bandeira de Mello, não
raro, “necessariamente haverá de ser admitida uma “presunção de culpa”, pena de
inoperância desta modalidade de responsabilização, ante a extrema dificuldade (às vezes
intransponível) de demonstrar-se que o serviço operou abaixo dos padrões devidos, isto é,
com negligência, imperícia ou imprudência, vale dizer, culposamente” (grifei).
“Em face da presunção de culpa, a vítima do dano fica desobrigada de comprová-la. Tal
presunção, entretanto, não elide o caráter subjetivo desta responsabilidade, pois, se o Poder
Público demonstrar que se comportou com diligência, perícia e prudência – antítese de culpa
-, estará isento da obrigação de indenizar, o que jamais ocorreria se fora objetiva a
responsabilidade (op. cit., p. 846).”
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Quando o ente estatal não cumpre com seu dever jurídico de fazer a manutenção do bem
público que vai ser utilizado pelo cidadão, fica caracterizada a omissão, confirmada por
diversos problemas na rodovia, como é o caso da inexistência de acostamento, de pedriscos
sobre o asfalto, da falta de sinalização horizontal e vertical e precária fiscalização, entre
outras situações.
É a negligência na função de zelar pela segurança dos usuários da rodovia. Isso porque o
ente competente embora não participando diretamente do acidente, contribui à sua ocorrência
em razão do não cumprimento de seus deveres legais: a manutenção da rodovia onde
ocorreu o acidente.
Além disso, o ente competente deve verificar que em locais perigosos a sinalização é
imprescindível para orientar os usuários, como estabelece o Código de Trânsito Brasileiro
(CTB), já que esta atividade não é prerrogativa do Estado, é dever.
Além disso, o cidadão contribui com recursos financeiros aos cofres públicos, dentre os quais
está o IPVA, para que o Estado lhe dê comodidades materiais a serem por ele fruídas. Se o
ente estatal competente se omite diante do dever de agir, ocorre um ato ilícito. Esta a razão
pela qual a Estado deve ser compelido a indenizar os prejuízos quando ocasionados por
omissão daquele. Este o nexo de causalidade: se o dano decorre da omissão estatal e não de
imprudência ou imperícia do autor, a responsabilidade é estatal.
O Código de Trânsito Brasileiro, Lei 9.503/97, em seus artigos 80 a 90, estabelece que o
Estado é responsável pela manutenção e sinalização adequada das rodovias.
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o fluxo de tráfego em ordem e fornecer informações aos usuários da via”. Dentre as razões
da necessidade de sinalização o autor cita: “regulamentar as obrigações, limitações,
proibições ou restrições que exigem o uso da via”, “advertir os condutores sobre os perigos
existentes na via, alertando também sobre a proximidade de escolas, passagens de
pedestres etc.” e “indicar direções, logradouros, pontos de interesse etc.” (grifei).
“Se o evento foi propiciado pela atuação defeituosa do serviço público ou dos órgãos estatais,
existe responsabilidade civil. Assim, o caso sempre lembrado é o do paciente de trânsito
causado por ausência de sinalização apropriada e propícia ou o equívoco técnico da
implantação da rodovia, dando oportunidade à ocorrência de acidentes por ter sido mal
concebida ou mal executada a obra pública.”
“o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu prudente
arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duração do
sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as
condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes.”
Vale mencionar o entendimento de Sílvio de Salvo Venosa (2004, p. 41) sobre o dano moral:
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A jurisprudência dominante, na mesma direção, tem entendido pelo cabimento dos danos
morais. É verdade que nem tudo pode ensejar dano moral, mas o sofrimento de quem sofreu
o dano é passível de ensejar esta espécie de dano.
Neste caso, o dano moral tem como fundamento o expressado pelo Des. Orlando Heemann
(Rio Grande do Sul, 2005): o caráter reparatório e inibitório-punitivo da medida, a extrema
gravidade do acidente sofrido e os momentos de inquietação de quem sofreu o dano. Ainda,
que o dano moral, consiste na “lesão a um interesse que visa à satisfação ou gozo de um
bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a
integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a
própria imagem)” (Gonçalves, 2003, p. 549).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, se cabalmente estabelecida a responsabilização daquele que tenha dado
causa ao dano a outrem, mesmo que de forma omissiva, embora não possa haver o
enquadramento do Estado na forma prevista no artigo 37, § 6º, da Constituição, é possível o
enquadramento por responsabilidade subjetiva, conforme se pode verificar do entendimento
jurisprudencial e doutrinário.
Referências bibliográficas
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 6ª edição, Malheiros
Editores, 2004.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2003.
JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo, Saraiva, 2005.
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros
Editores, 2002.
RIO GRANDE DO SUL. AC nº 70011429313, Décima Segunda Câmara Cível, TJRS. Rel.
Orlando Heemann Jr. Julgado em 01.09.2005.
RIZZARDO, Arnaldo. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. São Paulo : RT, 2004.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, v. IV, 2004.
Nota:
[1] Neste sentido: STJ - Resp 439.408 - SP (2002/0071492-6) 1ª T. Rel. Min. José Delgado. J.
05.09.2002. DJU 21.10.2002; STJ - REsp 549.812 - CE (2003/0099286-0) 2ª T. Rel. Min.
Franciulli Netto. J. 06.05.2004. DJU 31.05.2004; STJ - REsp 716.250 - RS (2005/0004734-7)
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2ª T. Rel. Min. Franciulli Netto. J. 21.06.2005. DJU. 12.09.2005; STJ - REsp 443.422 - RS
(2002/0077616-6) 2ª T. Rel. Min. Franciulli Netto. J. 21.08.2003. DJU. 03.11.2003; STJ - REsp
438831 - RS (2002/0068815-1) 2ª T. Rel. Min. João Otávio de Noronha. DJU 02.08.2006. p.
237; STJ - REsp 738.833 - RJ (200500504939) 1ª T. Rel. Min. Luiz Fux. DJU 28.08.2006. p.
227.
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