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A dieta forçada do leão - continuação

O mais famoso participante do grupo dos “ex”, porém, é o


ex-secretário da Receita Federal, Osires Lopes Filho. Quase
6 anos depois de deixar o posto, Lopes Filho possui um
escritório cujo foco está no contencioso tributário. De sua
sala decorada com quadros de motivos naturalistas e uma
pequena escultura de um leão feita em madeira, ele
comanda outros quatro advogados, entre eles dois filhos e
sua mulher. Eclética, a carteira de clientes inclui empresas
como United Airlines e políticos como o ex-senador Luiz OSIRES LOPES: Depois de
deixar a Secretaria da Receita
Estevão. Federal, abriu um bem
sucedido escritório de direito
tributário. Entre seus clientes,
Outro escritório de Brasília com atuação nesse mercado é o estão a United Airlines e o ex-
Marcial e Meneghetti Advogados Associados. Um dos nove senador Luiz Estevão
sócios é o ex-subchefe do gabinete civil para assuntos
jurídicos do governo Collor, Carlos Marcial. Nos processos do escritório na área
tributária, não é incomum encontrar o nome da advogada Marília Maciel, outra das
sócias. Nada estranho não fosse ela filha do próprio secretário da Receita, Everardo
Maciel. Em uma ação sobre o Cofins, Marília, 28 anos, aparece como advogada e
assina uma procuração. Dos 98 processos com seu nome que correm atualmente
na seção judiciária do Distrito Federal, 16 referem-se a assuntos tributários. Marília,
no entanto, não vê conflito de interesses. Por ser sócia do escritório, diz, seu nome
aparece nas ações. Além disso, os processos são “contra a União e não contra a
Fazenda”. “Eu trabalho na área de família e civil. Não lido com a área tributária”,
nega ela, observada pelos oito outros sócios que também participaram da conversa
com DINHEIRO. “Marília não atua na área tributária”, diz Everardo Maciel. “Ela é
muito ética, não comenta nenhum assunto do trabalho comigo.”

A indústria da elisão possui representantes até mesmo no prédio


onde Maciel, o pai, trabalha. Um deles é o ex-fiscal da Receita
Federal em Goiânia, Antônio Luiz dos Santos Barros. Tempos
atrás, Barros multou a Panarello, uma distribuidora de remédios,
Clique no documento em R$ 110 milhões. Depois, pediu licença na Receita e assumiu a
para vê-lo ampliado
defesa da empresa que autuou. Barros trabalhava em conjunto
com Leliana Maria Rolim Vieira, delegada da Receita Federal em Brasília. Com o
codinome Marília, Leliana habituou-se a dar consultoria tributária em processos de
empresas contra a própria Receita, contratada por empresas de auditoria como a
Bianchessi e a Deloitte Touche Tohmatsu. Documento ao qual DINHEIRO teve
acesso revela que Leliana recomendou ao Banco do Estado do Espírito Santo uma
compensação indevida de Imposto de Renda, já que a margem de risco era
pequena. Uma investigação da própria Receita descobriu a dupla jornada de
trabalho de Leliana e sua turma. Hoje, afastada da função, espera decisão do
ministro Pedro Malan a respeito de sua demissão. A Bianchessi e o banco negam
relacionamento com Leliana.

A principal arma da Receita para evitar esses casos é fechar todas as portas que
levem à elisão fiscal. Em 1997, especialistas em impostos descobriram o único
paraíso fiscal no planeta com o qual o Brasil não tinha um acordo de cooperação
que permitisse a taxação de investimentos: a Ilha da Madeira. A Receita tentou
fechar acordos com o governo português a partir de então, mas não obteve sucesso
até 9 de agosto deste ano, quando o acordo foi assinado. A parceria ainda depende
do carimbo do Congresso.

O governo busca formas de inibir esse tipo de atividade. O secretário Everardo


Maciel enviou para o Congresso um projeto de lei complementar para barrar a ação
da turma da elisão fiscal. Especialistas acreditam que dificilmente ele terá total
sucesso. “O trabalho de planejamento tributário deve crescer nos próximos anos”,
diz Inocêncio Henrique Prado, diretor da consultoria tributária da KPMG. “As
empresas estrangeiras que chegaram nos últimos anos trouxeram essa cultura para
cá.” A empresa de Prado colheu frutos dessa expansão. A área tributária responde
hoje por 30% do faturamento de US$ 25 milhões da KPMG no Brasil. O número de
funcionários nessa atividade saltou de 70 para 120 nos últimos cinco anos. Nesse
período, a recuperação de impostos para os clientes atingiu R$ 3 bilhões. A KPMG
fica com 1% a 15% do dinheiro recuperado, dependendo do volume da ação. A
fonte da recuperação nos tribunais poderá ir secando nos próximos anos. “O
governo passou a ser mais cuidadoso na elaboração das leis, e a Justiça tem sido
mais dura com os contribuintes”, diz Prado. “Quem trabalha apenas com
contencioso ficará com um abacaxi na mão.”

Atualmente o filé mignon dessa indústria está nessa atividade. A trajetória do


advogado Newton de Oliveira Neves é exemplar. Em 1990, quando trabalhava no
departamento jurídico da Philip Morris, teve suas economias confiscadas pelo Plano
Collor. Inconformado, foi à Justiça e tornou-se o primeiro brasileiro a obter a
liberação do dinheiro. Deu entrevistas à Imprensa, o que levou diversas pessoas a
procurá-lo para conhecer o caminho das pedras. Surgiram aí as primeiras propostas
de trabalho. Hoje, a Oliveira Neves e Associados é uma das maiores bancas de
advocacia do País, com 300 funcionários e faturamento de mais de R$ 30 milhões
de reais por ano. Sua sede ocupa os 10 andares de um moderno prédio na região
dos Jardins, em São Paulo, o ponto mais valorizado da cidade. Nos últimos 5 anos,
sua equipe recuperou na Justiça R$ 3 bilhões para os clientes.

O crescimento espantoso deve-se à constante divulgação que Oliveira Neves faz de


seu trabalho. Periodicamente ele promove seminários sobre planejamento
tributário. Até mesmo um número 0800 foi criado para atender interessados. O
marketing agressivo chamou a atenção do governo. A Procuradoria da República
entrou com uma representação contra a banca no tribunal de ética da Ordem dos
Advogados do Brasil. Motivo: a “excessiva mercantilização da advocacia” que
estaria ferindo o código de ética da profissão. A punição, em caso de condenação,
pode ir de uma simples censura à suspensão profissional de 30 dias a 12 meses. O
corregedor do tribunal de ética da OAB, Raul Haidar, não comenta o processo,
embora confirme sua existência. Segundo ele, há outros processos no tribunal
contra escritórios de direito tributário. Mas não concorda que haja uma indústria
agindo nesse setor. “Na verdade não uma indústria de liminares, como se
convencionou dizer”, afirma ele. “O que existe é uma indústria de leis mal feitas.”

Se os escritórios de advocacia e consultoria adoram mostrar o que fazem nesse


terreno, os clientes preferem se esconder. DINHEIRO procurou 10 grandes
empresas para falar sobre o assunto. Todas possuem um departamento de análise
tributária. Nenhuma quis falar. O receio é de que elas se tornem alvo de uma
devassa em suas contas por parte da Receita Federal. O temor é imenso. Um grupo
de executivos da área, representando 33 grandes companhias, reúne-se
periodicamente para discutir práticas de planejamento tributário. Embora tenha até
estatutos e seja oficialmente constituído, as reuniões não são registradas em atas.
“Jamais colocaríamos no papel uma linha sequer sobre o assunto”, diz um dos
participantes, que, como bom executivo da área, esconde-se no anonimato, mas
não despreza uma só oportunidade de ganhar dinheiro com a elisão fiscal.

A dieta forçada do leão


As empresas se livram do pagamento de impostos, recuperam bilhões de reais na Justiça e
estimulam o crescimento da indústria da elisão fiscal em todo o País
Estela Caparelli e Joaquim castanheira

Nos últimos anos, enquanto a economia brasileira patinava, uma indústria


prosperava indiferente a crises ou recessões. Ela não produz um único parafuso,
não promove investimentos milionários, não movimenta outros setores, não gera
empregos. Em geral, as únicas engrenagens que coloca em funcionamento são as
engrenagens da Justiça. É um tipo de negócio que recebe diferentes nomes: elisão
fiscal, planejamento tributário, gestão fiscal, entre outros. Movida a liminares,
ações judiciais ou brechas existentes na legislação, se alimenta com o não-
pagamento de impostos. Há de tudo nesse mercado – bancas de direito tributário,
grandes consultorias empresariais, escritórios de auditoria e contabilidade e até
assessorias dirigidas por funcionários da própria Receita Federal. Não há dados
consolidados sobre o tamanho desse mercado, mas alguns indicadores dão uma
idéia das fortunas geradas por ele:

• Segundo a Receita Federal, todos os anos R$ 825 bilhões ficam livres da


incidência de qualquer tipo de imposto. Uma parte significativa disso é resultado do
trabalho dessa indústria. Estima-se que os contribuintes reclamam nos tribunais a
devolução de R$ 150 bilhões de impostos federais e outros R$ 70 bilhões a R$ 80
bilhões em taxas estaduais e municipais. Desse total, advogados, contadores,
consultores e outros profissionais do ramo receberiam uma remuneração média de
10%, ou seja, R$ 22 bilhões.
• Nos últimos 5 anos, a filial brasileira da KPMG, uma das maiores consultorias de
gestão do mundo, recuperou para seus clientes R$ 3 bilhões em impostos pagos
indevidamente.
• Em 10 anos de atuação, a Oliveira Neves e Associados, de São Paulo, tornou-se a
maior banca de direito tributário, com uma carteira de 1.200 clientes e R$ 30
milhões de faturamento anual.

Essa indústria atua em diversas frentes. Algumas trabalham


dentro dos limites estritos da lei – buscam formas legais para que
seus clientes paguem menos impostos, o chamado planejamento
fiscal, ou recuperem aquilo que entregaram a mais para o Leão,
Clique no documento atividade batizada de contencioso tributário. Aqui também nada
para vê-lo ampliado
há de ilegal.

No outro extremo, estão aquelas que vendem o que não podem entregar. Ou seja,
é pura fraude. Em março deste ano, João Marcos Cosso, de Ribeirão Preto, teve sua
prisão decretada. Motivo: ele teria falsificado uma carta de crédito de ICMS de R$
722 mil. Até que a carta é bem feitinha, não fosse por um detalhe: o nome do
signatário, o secretário da Fazenda de São Paulo, está errado. Em vez de Yoshiaki
Nakano, aparece Shiguiaki Nakano. Um outro falsário foi mais cuidadoso com a
grafia do nome de Cláudia de Oliveira, diretora-executiva de Administração
Tributária, em uma carta de crédito de R$ 200 milhões. Só que há 5 anos o titular
do posto é outra pessoa.

Há uma diferença abismal de casos como esses e a atividade de empresas que


trabalham de acordo com a lei. Mas ambos prosperam graças à fertilidade de um
mesmo terreno: a balbúrdia fiscal do País. Com mais de 50 impostos, guerras
fiscais, alterações constantes e carga equivalente a 34% do PIB, a estrutura
tributária do País é um prato cheio para essa atividade. “Uma legislação complexa
favorece a elisão e a sonegação, que navegam muito bem nas trevas”, diz Everardo
Maciel, secretário da Receita Federal. “Mas o que favorece mesmo a elisão é a falta
de neutralidade do sistema tributário.” Segundo ele, as regras atuais abrem
margem para os contribuintes escolherem opções de pagar menos impostos.
Como acontece em outros setores excessivamente regulamentados, a
complexidade dessa teia cria um atraente mercado de trabalho para ex-membros
do governo. “É importante conhecer os mecanismos da Receita para atuar nesse
setor”, diz Arthur de Biasi, funcionário aposentado da Receita Federal, onde
trabalhou durante 22 anos. Hoje, dono de uma empresa de auditoria, De Biasi
trabalha apenas com processos administrativos junto à Receita Federal. “Não
vamos aos tribunais”, diz ele. Por esse caminho, ele recuperou, de 1996 para cá,
R$ 160 milhões pagos indevidamente ao Imposto de Renda. Outros R$ 160 milhões
estão em processo de julgamento.

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