Vous êtes sur la page 1sur 51

1

UNIVERSIDADE DO VALE
DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS
JURÍDICAS, POLÍTICAS E
SOCIAIS CEJURPS
CURSO DE DIREITO
DIREITO DO
CONSUMIDOR
OITAVO PERÍODO – ANO
2010
APONTAMENTOS PARA
AULAS
MATERIAL PARTICULAR DA
PROF. MSc. QUEILA
MARTINS
3

HISTÓRICO SOBRE O
DIREITO DO CONSUMIDOR
1. Aspectos históricos: o contexto político,
sociológico e antropológico mundial;
2. A Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988;
3. Princípios constitucionais de defesa ao
consumidor:

soberania, dignidade da pessoa


humana, liberdade, justiça, pobreza,
solidariedade, isonomia, direito à
vida, intimidade, vida privada, honra e
imagem; informação; publicidade

4. 19 ANOS DE CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR: ALGUNS ASPECTOS
HISTÓRICOS E ATUAIS

11 de setembro de 2009;
ausência de consolidação de mentalidade
consumeirista – regressos – ausência de
consolidação dos limites de aplicação do CDC –
ex: teses jurídicas absurdas como a apresentada ao Supremo
Tribunal Federal (ADI 2591) que pretende excluir a aplicação
do CDC às instituições financeiras. A Suprema Corte retoma o
julgamento da referida ação, sob olhos atentos de toda a
nação. É importante caminhar para uniformidade em assuntos
ainda polêmicos, como o relativo ao campo de incidência do
CDC. LER FOLHA DE SÃO PAULO.
4

CDC = normas que consideram as características reais


do sujeito – o sujeito concreto, com suas
especificidades – afastando-se do paradigma de
homem abstrato e igualdade formal – publicização dos
ramos do direito – REBUS SIC STANTIBUS X PACTA
SUNT SERVANDA

o século XX retira a centralidade exagerada e pretensão de


completude do Código Civil. No Brasil, a partir dos anos 30,
observa-se a edição de uma série de leis extravagantes
que, pela abrangência, colocavam em xeque o papel
absoluto e central do Código Civil de 1916. Na seqüência,
o Código perde o seu caráter de exclusividade de disciplina
das relações patrimoniais privadas. Leis especiais – e não
mais extravagantes ou de exceção – surgem para efetivar
intervenção assistencialista do Estado

No caso específico do consumidor: considera-se


sua vulnerabilidade (fragilidade) no mercado de
consumo. Ao contrário do que propugnava a
teoria econômica clássica, as reais necessidades
do consumidor não foram nem são tão
preponderantes para definição da estrutura e
objetivos dos integrantes da cadeia de produção
e comercialização de bens e serviços
Historicamente, a fragilidade do consumidor
intensificou-se na mesma proporção do processo de
industrialização e massificação das relações no
mercado de consumo, ocorrido, especialmente, nas
décadas posteriores ao término da 2ª Grande
Guerra.

O consumidor tem deixado de ser uma pessoa para


se tornar apenas um número. Surgem, diariamente,
5

novas técnicas e procedimentos abusivos de venda


de produtos e serviços.

As publicidades, a cada dia, informam menos e, em


proporção inversa, se utilizam de métodos
sofisticados de marketing, o que resulta em alto
potencial de indução a erro do destinatário da
mensagem e, até mesmo, na criação da
necessidade de compra de bens diversos.

Os contratos, ao invés de ser discutidos em sua fase


de formação, já vêm prontos e com várias
disposições que se traduzem em vantagens
exageradas para o fornecedor.

Muitos produtos, em virtude de sua produção em


série, apresentam vícios e defeitos (também, em
série), tornando-os absolutamente impróprios aos
fins que se destinam e perigosos à saúde e
segurança do consumidor.
O avanço da tecnologia conduz ao oferecimento e
serviços e bens cada vez mais complexos, gerando
um déficit informacional e, conseqüentemente,
dificuldades de uma escolha madura e consciente do
consumidor. Na área informática, o rápido progresso
da tecnologia permite um absoluto controle dos
dados pessoais do consumidor, possibilitando, em
ofensa ao valor privacidade, traçar a rotina e gostos
do cliente
6

A vulnerabilidade, que não se confunde com


hipossuficiência – pressuposto processual para
inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC) –
vai além de mero reflexo de uma desigualdade
econômica, existente, de regra, entre empresário e
adquirente dos produtos e serviços.

Para Cláudia Lima Marques a vulnerabilidade


subdivide-se em três espécies: técnica, jurídica e
fática.

A primeira diz respeito à ausência de conhecimentos


específicos do consumidor em relação às
características do produto ou serviço que está
adquirindo.

A jurídica refere-se à carência de conhecimentos


jurídicos, contábeis, econômicos. É, também, reflexo
do fato de o fornecedor apresentar-se,
invariavelmente, como litigante habitual, vale dizer,
as empresas se estruturam e se organizam com
departamentos e assessorias jurídicas para levar
vários conflitos à Justiça. Estes departamentos
integram o custo empresarial. Uma demanda a mais
não faz qualquer diferença ao regular desempenho
das atividades empresariais, ao revés, chega a ser
necessária para justificar os recursos investidos na
área.

Por fim, a vulnerabilidade fática ou sócio-econômica


decorre da superioridade econômica do fornecedor,
7

bem como da involuntária submissão do consumidor


às inúmeras práticas anticoncorrenciais.

Acrescente-se, na linha da doutrina de Paulo Valério


Moraes, a vulnerabilidade psíquica. O consumidor é,
simplesmente, escravo de desejos criados por
avançados recursos de marketing. Comprometendo-
se o orçamento doméstico e familiar e gerando
situações de superendividamento, compram-se
produtos e serviços, sem a menor necessidade real
Não se encontram, no quadro atual, dificuldades em
sustentar a necessidade de proteção diferenciada do
consumidor no mercado.

Correntes doutrinárias e argumentos diversos


surgiram para definição dos casos difíceis,
muitas vezes gerando confusões, ao invés de
facilitar a aplicação do CDC.

A fragilidade (vulnerabilidade), que é sempre maior


quando se trata de pessoal natural, além de ser o
fundamento da defesa do consumidor, é a diretriz a
ser utilizada para definir, em hipóteses variadas e
ensejadoras de divergências, quem deve ser
considerado consumidor, tanto diretamente como
por equiparação.

Gustavo Tepedino, com precisão costumeira,


enfatiza tal aspecto. Após referência a diversos
julgados do STJ, registra que a vulnerabilidade e
abusividade têm servido “de critérios hermenêuticos
para a solução de conflitos em favor de pequenos
8

empresários, comerciantes e agricultores, em face


de concreta situação de desvantagem em que se
encontravam na relação contratual, considerando-os
consumidores.

Decisões recentes:

Em 22 de fevereiro de 2005, a Quarta Turma do


STJ, ao julgar o Resp. 661.145-ES, ressaltou a
necessidade de avaliar “in concreto a vulnerabilidade
técnica, jurídica ou econômica, a aplicação das
normas do Código de Defesa do Consumidor a
determinados consumidores profissionais, como
pequenas empresas e profissionais liberais.” Em 21
de junho de 2005, ao julgar o Resp. 684.613, a
Ministra Nancy Andrighi assinala, com propriedade:
“A jurisprudência do STJ tem evoluído no sentido de
somente admitir a aplicação do CDC à pessoa
jurídica empresária excepcionalmente, quando
evidenciada a sua vulnerabilidade no caso concreto.”

RELAÇÃO DE CONSUMO
9

Os princípios constitucionais de proteção


ao consumidor:

Soberania, dignidade da pessoa humana,


liberdade, justiça, pobreza, solidariedade,
isonomia, direito à vida, intimidade, vida privada,
honra e imagem; informação; publicidade

Relação de consumo:

OBJETO DA RELAÇÃO DE
CONSUMO

BENS E SERVIÇOS

BENS

Os produtos podem ser qualquer bem, móvel ou


imóvel, material ou imaterial (§1º, do art. 1º do
CDC).

SERVIÇOS

Art. 3º, §2º, serviço: " qualquer atividade fornecida


no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista ".

Os serviços podem ser de natureza material, como


os serviços de dedetização e/ou intelectual,
10

cuidados médicos quando fornecidos aos


destinatários finais.

Não são incluídos como serviços os prestados pelo


próprio Estado e remunerados a título de tributos
"tributos" em geral, ou "taxas" e "contribuições de
melhoria", tendo em vista sua natureza tributária.

Os serviços públicos onde não existe uma


remuneração específica estão excluídos do regime
jurídico das relações de consumo, assim ocorre com
o serviço de saúde, educação, por exemplos. Estes
serviços são conhecidos por próprios ou Uti universi,
sem possibilidade de identificação dos destinatários.
(ROBSON ZANETTI – “A ERRADICAÇÃO DO BINÔMIO
FORNECEDOR-CONSUMIDOR NA BUSCA DO
EQUILÍBRIO CONTRATUAL”).

Os serviços impróprios ou Uti singuli podem ser


prestados por órgãos da administração pública
indireta ou, modernamente, por delegação, como
dispõe sobre a concessão e permissão dos serviços
públicos. Esses serviços são remunerados por tarifa
ou preço público e estão sujeitos ao Código de
Defesa do Consumidor Neste caso podemos citar
como exemplos: o fornecimento de água, energia
elétrica e transporte.

Também, a multa diária não deve ser considerada


um serviço, tendo em vista sua natureza processual,
no sentido de obrigar alguém a fazer ou deixar de
fazer algo.

Não se aplica o CDC aos serviços realizados pelo


perito judicial, não sendo possível a exigência de
orçamento prévio.

É discutível se o Código de Defesa do Consumidor


se aplica às relações locatícias, sobretudo de
11

imóveis, onde neste caso, o posicionamento do


Superior Tribunal de Justiça se mostra contrário,
porém, parece difícil sustentar este posicionamento
quando ampliamos a noção de serviços à locação de
veículos.

A análise da prestação de serviços deve ser feita de


forma real e não formal, assim, o Superior Tribunal
de Justiça entendeu que não basta o consumidor ser
rotulado de sócio e formalmente anexado a uma
Sociedade Anônima para que seja afastado o vínculo
de consumo, quando evidenciada a administração
de recursos de terceiros.

CONSUMIDOR

ART. 2º, CAPUT, E PARÁG. ÚNICO C/C ART. 17


E 29, CDC

ART. 2º, CAPUT: “CONSUMIDOR É TODA


PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA QUE ADQUIRE
OU UTILIZA PRODUTO OU SERVIÇO COMO
DESTINATÁRIO FINAL”.

ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO: “EQUIPARA-SE


A CONSUMIDOR A COLETIVIDADE DE
PESSOAS, AINDA QUE INDETERMINÁVEIS,
12

QUE HAJA INTERVINDO NAS RELAÇÕES DE


CONSUMO”.

ART. 17: “PARA OS EFEITOS DESTA SEÇÃO,


EQUIPARAM-SE AOS CONSUMIDORES TODAS
AS VÍTIMAS DO EVENTO”.

ART. 29: “PARA OS FINS DESTE CAPÍTULO E


SO SEGUINTE, EQUIPARAM-SE AOS
CONSUMIDORES TODAS AS PESSOAS
DETERMINÁVEIS OU NÃO, EXPOSTAS ÀS
PRÁTICAS NELE PREVISTAS”.

 PESSOA FÍSICA: NATURAL


 PESSOA JURÍDICA: MICROEMPRESA,
MULTINACIONAL, ASSOCIAÇÃO,
FUNDAÇÃO ETC (RIZZATTO NUNES)
 ADQUIRE OU UTILIZA: TÍTULO ONEROSO
OU GRATUITO; ex. compra cerveja para
festa; todos que bebem são consumidores.
 DESTINATÁRIO FINAL: PONTO
CONTROVERTIDO

QUEM É O DESTINATÁRIO FINAL???


O PROBLEMA ESTÁ RELACIONADO A UM
CASO ESPECÍFICO: O DAQUELA PESSOA
QUE ADQUIRE PRODUTO OU SERVIÇO COMO
DESTINATÁRIA FINAL, MAS QUE USARÁ TAL
BEM COMO TÍPICO DE PRODUÇÃO.

EX. advogado que compra computador para


desenvolver suas atividades: É
CONSUMIDOR?
13

DUAS TEORIAS
FINALISTA (SUBJETIVA) E
MAXIMALISTA (OBJETIVA)

TEORIA FINALISTA
(RESTRITIVA)
O conceito de consumidor se restringe, em princípio,
às pessoas físicas ou jurídicas, não profissionais, que não
visam lucro em suas atividades e que contratam com
profissionais.

PESSOA FÍSICA:

DESTINATÁRIA FINAL: NÃO REUTILIZA O BEM, AINDA QUE


INDIRETAMENTE.

PESSOA JURÍDICA:

Pode ser consumidora, desde que destinatária final fática e


econômica e que ainda preencha os seguintes requisitos:

- não detenha a pessoa jurídica intuito de lucro, isto


é, não exerça atividade econômica, o que ocorre com as
fundações, associações, entidades religiosas, sindicatos,
partidos políticos; ou

- caso tenha a pessoa jurídica adquirente ou utente


intuito de lucro, duas circunstâncias, cumuladamente,
devem estar presentes: (a) o produto ou serviço adquirido
ou utilizado não possua qualquer conexão direta ou
indireta, com a atividade econômica desenvolvida, e (b)
14

esteja demonstrada a sua vulnerabilidade ou


hipossuficiência (fática, jurídica ou técnica) perante o
fornecedor.

TEORIA MAXIMALISTA

INTERPRETAÇÃO AMPLA DO CONCEITO: o ato de


consumo pelo destinatário final fático é um critério
determinante para a caracterização do consumidor

Para esta teoria, não importa perquirir a finalidade do


ato de consumo, sendo irrelevante se a pessoa objetiva a
satisfação de necessidades pessoais ou profissionais, se
visa ou não o lucro ao adquirir ou utilizar produto ou
serviço. Ainda, não interessa analisar sua vulnerabilidade
técnica (ausência de conhecimentos específicos quanto aos
caracteres do bem ou serviço consumido), jurídica (falta de
conhecimentos jurídicos, contábeis ou econômicos) ou
socioeconômico (posição contratual inferior) em virtude da
magnitude econômica da parte adversa ou do caráter
essencial do produto ou serviço por ela oferecido.

Que dizem os doutrinadores????


José Reinaldo de Lima Lopes, em sua obra
"Responsabilidade civil do fabricante e a Defesa do
Consumidor" (p. 81):

"aquele que entra diretamente numa relação jurídica para obter


um bem ou produto pode não ser necessariamente o usuário final.
Há os que adquirirem alguma coisa para fazer um presente. A
posse ou o uso é que definem propriamente o consumidor. Nesse
caso, fica evidente que a relação de consumo independe da
15

participação em contratos."

Luiz Antonio Rizzatto Nunes:

"A lei também considera consumidor a vítima do acidente de


consumo, isto é, quem é envolvido direta (integridade física e
moral) ou indiretamente (seus bens) no acidente. São ainda
consumidores todas as pessoas que estão expostas às práticas
comerciais (publicidade, oferta em anúncios de folhetos, malas
diretas etc.) ainda que não tenham adquirido nenhum produto ou
serviço." (in "Compre bem", pág. 14)

Porém, é oportuno citar preocupação levantada por


Luiz Antonio Rizzatto Nunes: "Quanto aos
serviços gratuitos, é necessário deixar claro que
são aqueles prestados gratuitamente de forma
direta e indireta, isto é, gratuidade não pode ser
cobrada na composição do custo. Por exemplo:
estacionamento "gratuito" do shopping center;
serviço de manobrista "gratuito"; "curso gratuito"
com cobrança do material usado. Todos estes
serviços não são considerados para fins de CDC (in
obra citada, pág. 18)

José Geraldo Brito Filomeno, que é um dos co-


autores do anteprojeto do CDC, entende que
somente a pessoa jurídica sem finalidade lucrativa
poderá se enquadrar no conceito jurídico de
consumidor:
16

"O traço marcante da conceituação de


"consumidor", no nosso entender, está na
perspectiva que deve adotar, ou seja, no sentido de
que o considerar como hipossuficiente ou
vulnerável, não sendo, aliás, por acaso, que o
mencionado "movimento consumerista" apareceu
ao mesmo tempo que o sindicalista, principalmente
a partir da segunda metade do século XIX, em que
se reivindicam melhores condições de trabalho e de
melhoria da qualidade de vida, e, pois, em plena
sintonia com o binômio "poder aquisitivo/aquisição
de mais e melhores bens e serviços."

Prevaleceu, entretanto, a inclusão das pessoas


jurídicas igualmente como "consumidores" de
produtos e serviços, embora com a ressalva de que
assim são entendidas aquelas como
destinatárias finais de produtos ou serviços que
adquirem, e não como insumos ao desempenho
de sua atividade lucrativa. Entendemos,
contudo, mais racional sejam consideradas aqui
as pessoas jurídicas equiparadas aos
consumidores hipossuficientes, ou seja, as que
não tenham fins lucrativos, mesmo porque
insista-se, a conceituação é indissociável do
aspecto da mencionada hipossuficiência.

Assim, como bem ponderado pelo professor Fábio


Konder Comparato, os consumidores são aqueles
"que não dispõem de controle sobre bens de
produção e, por conseguinte, devem se submeter
ao poder dos titulares destes".
17

Enfatiza ainda que:

"o consumidor é, pois, de modo geral, aquele que


se submete ao poder de controle dos titulares de
bens de produção, isto é, os empresários."

Vislumbra-se, portanto, que o Prof. Filomeno,


partidário da corrente finalista de aplicação do CDC,
entende que a pessoa jurídica não pode ser
considerada como consumidora, no sentido de
gozar da proteção do Código.

A professora Cláudia Lima Marques diverge da


interpretação dada pelo ilustre co-autor do
anteprojeto, pois inobstante também ser partidária
da corrente finalista, entende que deve ser levado
em consideração o princípio da vulnerabilidade dos
micro e pequenos empresários, bem como a
finalidade da norma, principalmente porque os mais
fortes impõem contratos de adesão para os mais
fracos e estes não têm possibilidade de discuti-los.

Assevera a brilhante professora gaúcha:

"Concluindo, concordamos com a interpretação


finalista das normas do CDC. A regra do art. 2o.
deve ser interpretada de acordo com o sistema de
tutela especial do Código e conforme a finalidade
18

da norma, a qual vem determinada de maneira


clara pelo art. 4o. do CDC. Só uma interpretação
teleológica da norma do art. 2o. permitirá definir
quem são os consumidores no sistema do CDC.
Mas, além dos consumidores strito sensu, conhece
o CDC os consumidores-equiparados, os quais por
determinação legal merecem a proteção especial
de suas regras. Trata-se de um sistema tutelar que
prevê exceções em seu campo de aplicação
sempre que a pessoa física ou jurídica preencher
as qualidades objetivas (destinatário final fático) e
as qualidades subjetivas (vulnerabilidade), mesmo
que não preencha a de destinatário final econômico
do produto ou serviço.

Destinatário final é o Endverbraucher, o consumidor


final, que retira o bem do mercado ao adquirir ou
simplesmente utilizá-lo (destinatário final fático). É
aquele que coloca um fim na cadeia de produção
(destinatário final econômico), e não a pessoa que
utiliza o bem para continuar a produzir, pois este
não é o consumidor-final, apenas o transforma,
utilizando o bem para oferecer ao cliente, seu
consumidor. Portanto, em princípio, estão
submetidos às regras do Código os contratos
firmados entre o fornecedor e o consumidor não-
profissional, mas que no contrato em questão não
visa lucro, pois o contrato não se relaciona com sua
atividade profissional, seja este consumidor pessoa
física ou jurídica."

Newton de Lucca comunga da mesma opinião da


professora Cláudia Lima Marques, no sentido que
19

a pessoa jurídica também pode ser enquadrada no


conceito de consumidor, mesmo que tenha
finalidade lucrativa. Confessa também que a falta
de uma definição precisa visa, justamente, fazer
com que o aludido conceito se faça no exame de
cada caso em particular, onde se vislumbre o
destino final e a vulnerabilidade do consumidor,
sendo que, esclarece o ilustre professor:

"Muito poderia se discorrer, é claro, a respeito


dessa questão relativa ao conceito do consumidor,
dada a manifesta impossibilidade de uma definição
única para ele. Tal impossibilidade, porém -
esclareça-se desde logo - não decorre da falta de
rigor científico do Direito do Consumidor, como
ingenuamente alguém chegou a supor, mas de
circunstância inerente ao maior ou menor âmbito
que se queira dar à disciplina protetora.

Tomemos, por exemplo, a repressão e o controle


das cláusulas abusivas. É lógico que a cláusula
abusiva deverá ser combatida independentemente
da discussão da qualidade de consumidor de quem
contrato. O mesmo se diga em relação à
publicidade enganosa ou abusiva. É óbvio que eu
não preciso ser fumante para me considerar
atingido por ela se houver enganosidade ou abuso.

É exatamente em virtude de tal circunstância que


muitas legislações não se preocupam com a noção
de consumidor propriamente dita, preferindo definir
objetivamente o campo de aplicação da disciplina
normativa. É o caso, por exemplo, da lei germânica
20

de 1976, relativa às condições gerais dos negócios


("allmemeine Geschaftsbedingungen") e também do
"Unfair Contract Terms Act"( 1977 ) e do "Supply of
Goods and Services Act" ( 1982 ), aplicados
genericamente a todos os contratos de venda e de
natureza empresarial.

Na França, ao contrário, a lei sobre a proteção e


informação aos consumidores (Lei n. 78-22, de 10
de janeiro de 1978 ), a mais importante de todas
naquele país sobre a matéria, somente se aplicará
aos contratos nos quais uma das partes tiver,
efetivamente, a qualificação de "consumidor". Com
relação ao nosso Código, poderíamos dizer,
suscintamente, que o legislador andou bem.
Temos, mediante as quatro acepções
retroassinaladas, um universo assinalável de
relações ao qual se aplicarão as normas protetoras.

Por outro lado, a redução conceitual da noção de


consumidor, determinada pela expressão
"destinatário final", constante da parte final do art.
2o., caput, era mesmo necessária, pois não se
pretende a proteção ao chamado "consumo
intermédio", em que o utilizador é uma empresa ou
um profissional.

É verdade que a nossa lei incluiu, na definição, as


pessoas jurídicas, ponto sobre o qual muito se
discute. De toda sorte, entendo que as pessoas
jurídicas albergadas pelas normas tutelares não
apenas devem ser destinatárias finais de produtos e
serviços por ela adquiridos - o que está expresso na
21

lei - como também, embora não constante com o


texto legal, mas decorrente de todo aspecto
teleológico dessa disciplina normativa, devem estar
equiparadas aos consumidores pessoas físicas pela
sua vulnerabilidade em relação ao fornecedor."

Portanto, a legislação pátria filia-se a corrente dos


finalistas, não podendo se aplicar a maximilista, sob
pena de revogar todo o direito civil e o direito
comercial, pois passaria a existir somente o direito
do consumidor no que concerne aos contratos de
maneira geral. Todavia, é notório que o conceito de
consumidor não se restringe ao art. 2o., "caput", do
CDC, mas também aquele descrito no parágrafo
único do art. 2o., arts. 17 e 29, lembrando que os
capítulos V e VI, citados no art. 29, cuidam,
respectivamente, das práticas comerciais e da
proteção contratual.

Verifica-se que o conceito de consumidor deve ser


verificado, principalmente, através da análise da
jurisprudência pátria, restando evidente que o CDC
também se aplica aos consumidores pessoas
jurídicas no que concerne aos contratos não
vinculados ao seu objeto social.

A jurisprudência possibilita-nos uma visão criteriosa


sobre a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor, deixando evidente que existe uma
"terceira via", nem finalista, nem maximalista, mas
que leva em consideração o princípio da
vulnerabilidade, além da destinação final do
produto ou serviço.
22

FORNECEDOR

Artigo 3º, do Código de Defesa do


Consumidor:
"Toda pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços ".
A definição de fornecedor passa pelo estudo
no que seja uma atividade
profissional:
Atividade habitual
Para que a atividade seja considerada
profissional, o fornecedor a deve exercer de
forma habitual, ou seja, não ocasional,
podendo ser empresarial ou civil.

Com finalidade lucrativa


A atividade é considerada profissional quando
ela busca uma remuneração em contrapartida
23

da prestação fornecida. A gratuidade de


atividade se contrapõe ao caráter especulativo
da atividade. A gratuidade se contrapõe a
noção de justiça comutativa.
O fim do lucro deve ser entendido de forma
ampla, não somente direta como indireta.
Assim, ainda que não cobrem entrada, os
Shopping Centers visam lucros ao oferecer
serviços as pessoas que lá se encontram,
mesmo que não adquiram nenhum produto.
Da mesma forma, os supermercados visam
lucro ao oferecem gratuitamente
estacionamento aos compradores e potenciais
compradores.
A qualidade de profissional vem ao encontro
com a finalidade comutativa que deve imperar
no Código de Defesa do Consumidor.
Conceito de fornecedor: ALÉM DO CONCEITO
DE EMPRESÁRIO E DE OPERADORES PRIVADOS

Além do status de empresário


O fornecedor pode ser uma pessoa física ou
jurídica, não importando seu porte.
A qualidade de fornecedor não se esgota na
qualidade de empresário.
A qualidade de empresário desaparece em
proveito daquela mais ampla que é do
fornecedor.
24

O empresário é absorvido pela qualidade de


fornecedor.
Da mesma forma o é o banqueiro, o
profissional liberal, o segurador, o importador,
o exportador,...

Além do status de operadores


privados
O conceito de fornecedor do artigo 3º do CDC
é amplo, pois abrange a pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira (ex. companhia teatral,
companhia aérea que aqui faz escalas), os
"entes despersonalizados ", como por
exemplos, a Itaipu Binacional, a massa falida
ou o espólio de um empresário, em nome
individual, cuja sucessão é representada pelo
inventariante. Inclui-se aqui o CAMELÔ.
Não são considerados fornecedores de
serviços as associações desportivas ou
condomínios.

RESPONSABILIDADE
CIVIL NO CDC
25

DOS DIREITOS BÁSICOS DO


CONSUMIDOR
Art. 6º do CDC – São direitos básicos do consumidor:

- PROTEÇÃO DA VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA – contra os riscos que todo


produto ou serviço, potencialmente, traz em si quando postos no mercado;
especialmente aqueles que, por sua natureza, são considerados perigosos ou
nocivos.
- EDUCAÇÃO E DIVULGAÇÃO – consumidor tem o direito de receber orientação
clara quanto ao uso ou consumo adequado dos produtos ou serviços, sendo-lhe
assegurada liberdade de escolha e tratamento igual por ocasião da contratação ou
aquisição.
- INFORMAÇÕES CLARAS – o consumidor deve ser informado, adequadamente e
com toda clareza possível e no idioma nacional, acerca das especificações do
produto ou do serviço, tais como: quantidade, composição, características,
qualidade, preço, risco.
- PROTEÇÃO CONTRA PUBLICIDADE – tanto do tipo enganosa como também
do tipo abusiva, ou métodos coercitivos ou desleais que tentam ou iludam o
consumidor, condicionando o fornecimento de produtos ou serviços com práticas
abusivas.
- PROTEÇÃO CONTRATUAL – o consumidor poderá pedir a modificação das
cláusulas contratuais quando estas se tornarem desproporcionais ou excessivamente
onerosas e que impeçam ou dificultam o consumidor de cumpri-las.
- GARANTIA LEGAL quanto a efetiva prevenção ou reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos, mediante utilização pelo Juiz
dos mecanismos da antecipação da tutela, desconsideração da pessoa jurídica,
execução coletiva, etc, tudo para abreviar e satisfazer mais rapidamente a satisfação
do direito tutelado.
- PROTEÇÃO JURÍDICA, ADMINISTRATIVA e TÉCNICA aos necessitados,
facilitando o acesso aos órgãos judiciários e administrativos para previnir ou reparar
os danos, com a utilização de recursos advindos do fundo de prevenção (ver art. 99).
26

- FACILITAÇÃO DA DEFESA – com base na teoria da responsabilidade objetiva


(culpa presumida) e tendo o ofendido demonstrado o fato (acidente de consumo) e o
dano sofrido, tendo fundamento a alegação (verossimilhança) ou quando ele for
hipossuficiente, a critério do juiz, este poderá inverter o ônus da prova, isto é,
atribuindo ao ofensor a responsabilidade de eximir-se.
- SERVIÇOS PÚBICOS ADEQUADOS e eficazmente prestados, que pela
administração direta ou indireta, ou mesmo através das concessionárias ou
permissionárias - ut singuli ou ut universi.

DOS FUNDAMENTOS DA
RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA NO CDC

1. Os negócios implicam
risco;
2. Risco/custo/benefício;
3. Produção em série;
4. Características da
produção em série: vício
e defeito;
5. O CDC controla o
resultado da produção;
6. A receita e o patrimônio
devem arcar com os
prejuízos;
27

7. Ausência de culpa: o
fornecedor não é
negligente, imprudente
nem imperito: os técnicos
são competentes, mesmo
assim, há o risco do
negócio pela produção
em massa;
8. RISCO INTEGRAL DO
NEGÓCIO É DO
FORNECEDOR.

FATO DO PRODUTO OU DO
SERVIÇO
=
NEXO DE CAUSALIDADE
ENTRE CONSUMIDOR
LESADO, O
PRODUTO/SERVIÇO E O
DANO OCORRENTE
=
REPARAÇÃO DOS ACIDENTES
DE CONSUMO
28

=
TEORIA DA REPARAÇÃO
INTEGRAL

DA QUALIDADE DOS
PRODUTOS, DA PREVENÇÃO
E DA REPARAÇÃO DOS
DANOS:
DA RESPONSABILIDADE
PELO FATO DO PRODUTO OU
DO SERVIÇO
Seção I - Da Proteção à Saúde e Segurança

ART. 8º – Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não


acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados
normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os
fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a
seu respeito.

Parágrafo único – Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as


informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam
acompanhar o produto.

ART. 9º – O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos


à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito
da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas
cabíveis em cada caso concreto.
29

ART. 10 – O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou


serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou
periculosidade à saúde ou segurança.

§ 1º – O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no


mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentam deverá
comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores,
mediante anúncios publicitários.

§ 2º – Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados


na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.

§ 3º – Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços


à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios deverão informá-los a respeito.

FALTA DE QUALIDADE NO FORNECIMENTO DE BENS E SERVIÇOS

 Todos os fornecimentos, em si, comportam risco potencial ao consumidor. A


responsabilidade quanto à qualidade do fornecimento de produtos e serviços, segundo a
doutrina, situa-se sob três aspectos: FORNECIMENTO PERIGOSO, DEFEITUOSO
OU VICIADO. Geralmente se apresentam em situações jurídicas diferentes, embora,
em alguns momentos, se entrelacem e se sobreponham.

 FORNECIMENTO PERIGOSO (dano à saúde, integridade física ou segurança,


por insuficiência de informação) – O primeiro aspecto na definição de periculosidade
é a lesão à vida, à integridade física ou à segurança do consumidor. A caracterização de
um produto ou serviço como perigoso depende da análise das informações que o
consumidor possui sobre os riscos relacionados à sua utilização. Juridicamente falando,
nenhum produto ou serviço é, em si mesmo, perigoso; porém o potencial de risco que o
mesmo possa deter representa uma carga jurídica frente aos princípios da
responsabilidade civil objetiva adotada pelo CDC. Assim, para conceituar se um
fornecimento é ou não perigoso interessa averiguar a suficiência das informações,
acerca dos riscos, prestadas pelo fornecedor. Exemplos: Fabricante de faca não
30

responde pelos cortes produzidos pelo usuário em sua mão. Produto causa irritação na
pele e não há destaque (advertência) na embalagem ou nas instruções.

 FORNECIMENTO COM DEFEITO (dano à saúde, integridade física ou


segurança, por impropriedade do produto ou serviço) – Entre o fornecimento
perigoso e o defeituoso há, em comum, o fato ambos causarem dano à saúde,
integridade física ou à segurança. Contudo, distinguem-se quanto à origem do evento
danoso. No fornecimento perigoso, os prejuízos sofridos pelo consumidor decorrem da
utilização indevida (falta de orientação) do produto ou do serviço, enquanto no
fornecimento defeituoso os prejuízos decorrem de alguma impropriedade no produto
ou serviço que frustram o interesse do consumidor quando este buscou a aquisição.

São três os tipos de defeitos: de concepção, de execução e de comercialização.

 defeito de concepção: ocorre quando o fornecedor não se empenha totalmente na


pesquisa de todas possibilidades conhecidas pelos avanço da ciência e da tecnologia,
elaborando um projeto já defasado em relação a outros com níveis de segurança maior.
Destaque-se que esta análise depende dos objetivos do projeto examinado e o mercado
a ser atingido. Ex. Automóvel da linha popular, cujo alvo é o mercado de baixa renda.

 defeito de execução: ocorre quando há descompasso entre o que foi projetado e o


realizado. É o tipo mais comum de ser detectado e onde se aplica mais concretamente a
teoria da responsabilidade objetiva (culpa presumida).
 defeito de comercialização: ocorre quando há desconformidade entre as
informações liberadas sobre a utilização do produto e as cautelas e providencias que
devam ser realmente adotadas pelos consumidores para bem usufruir do produto. Ex.
Dona de casa não é convenientemente instruída sobre como usar um novo
eletrodoméstico e ocorre a danificação do produto, sem atingir sua saúde ou integridade
física. Neste caso, o produto é defeituoso por insuficiência de informações para o uso.

O produto NÃO é considerado DEFEITUOSO quando outro, de melhor qualidade,


for lançado no mercado. Isto acontece quando surge uma nova tecnologia, onde os
produtos anteriores que não há detém não podem ser considerados como defeituosos. O
ESTADO DE ARTE (tecnologia atualizada) só é reclamado nos novos lançamentos no
mercado.
31

 FORNECIMENTO COM VÍCIO (questão patrimonial) – Ocorre quando os


produtos ou serviços apresentam impropriedades inócuas. Isto é, não causam nenhum
prejuízo de importância à saúde, à integridade física ou à segurança do consumidor;
porém, não servem para as finalidades a que se destinam. Exemplos: Produtos ou
serviços fornecidos com peso ou medida inferior, ou aqueles que frustram a expectativa
do consumidor e não causam danos à sua integridade física ou à saúde. Lembre-se: A
mesma impropriedade (vício) pode resultar em defeito; será defeito, se resultar em
danos à vida ou a integridade física do consumidor; e será somente vício se o dano for
unicamente de natureza patrimonial.

EM RESUMO:

FORNECIMENTO SEM QUALIDADE


PERIGOSO IMPRÓPRIO
Quando oferece risco à vida, à a) danoso quando detém uma
saúde e à segurança do impropriedade que resulta em
consumidor pela ausência ou ofensa física ao consumidor.
insuficiência de informações (Trata-se de defeito).
quanto ao uso/manuseio.
Obs: não se trata de produto com b) inócuo quando a impropriedade
impropriedade e sim de produto não resulta em risco ao
portador de risco consumidor, causa só dano
patrimonial (Trata-se de vício).

LEMBRETES:

1. No caso de produtos, são três as hipóteses exonerativas da


responsabilidade presumida do fornecedor, (art. 12, § 3º ):
a) que não colocou o produto no mercado;
b) que embora esteja no mercado, o defeito não existe; e
c) que o evento ocorreu por culpa exclusiva do consumidor ou
de terceiro.

2. No caso de serviços, são duas (art. 14, § 3º):


a) que embora tenha prestado o serviço, o defeito não existe; e
b) que o evento ocorreu por culpa exclusiva do consumidor ou
de terceiro.
32

3. O Código responsabiliza o comerciante, (varejista), (art. 13),


quando:
a) quando não se puder identificar quem foi o real fornecedor
(fabricante importador, etc);
b) quando nas embalagens (os dizeres) não estiver clara a
informação da origem; ou
c) quando este (o comerciante) não conservar corretamente os
produtos perecíveis.
4. São também amparadas todas as VÍTIMAS DO EVENTO (art. 17 –
equiparação).

DA RESPONSABILIDADE CIVIL
DO PRESTADOR DE SERVIÇOS
(art. 14 e 20)

- Serviço, no dizer do § 2º do artigo 3º do CDC, é qualquer atividade


fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, ressalvada
aquela prevista em contrato de trabalho regido pela CLT. (Eduardo Gabriel
Saad, Comentários ao CDC, LTr, 1999, página 247).

- Para que a relação contratual derivada da contratação de um serviço esteja


subordinada ao CDC, é necessária a apresentação de dois elementos: a
remuneração do serviço encomendado e a habitualidade (mesmo que
descontínua) do prestador. Portanto, não pode o consumidor reclamar da
qualidade do serviço, se este lhe foi prestado gratuitamente ou, quem lhe
prestou não é pessoa que detém o mister para tanto.

- Na dicção do art. 14, o serviço é considerado DEFEITUOSO quando


coloca em risco a vida, segurança e saúde do consumidor, levando-se em
conta o modo em que foi fornecido; o resultado e os riscos que
razoavelmente dele se esperam e a época em que foi fornecido. A
exemplo do produto, o serviço não é considerado como defeituoso pela
adoção de novas técnicas, (ESTADO DE ARTE).
33

- Por motivos óbvios, o Código limita-se a dizer o que entende ser defeito de
um serviço, porém, abstém-se de relacionar os serviços e seus defeitos
prováveis, pois estes são extremamente variados e incontáveis. Dentre os
mais significativos, destacam-se:

a) HOTÉIS: seus administradores devem diligenciar para que os hospedes


gozem de toda a segurança possível em suas dependências. Ex. vítimas
de assaltos ou de quedas.

b) SUPERMERCADOS: casos em que os fregueses são detidos, com


estardalhaço, por seguranças e acusados de furtar mercadorias
expostas no local. Provada a inocência, cabe ao ofendido o dano moral.
Cabe também indenização no caso de furto de um veículo no
estacionamento, pois este é mantido como atrativo da clientela.

c) HOSPITAIS: costuma-se dizer que a obrigação dos hospistais é


análoga a dos hotéis. Ou seja, como pessoa jurídica, o serviço por ele
prestado distingue-se daquele outro de autoria do médico, quando este
é desvinculado da administração do hospital, pois só serve-se de suas
dependências para dar assistência a seus clientes. Daí temos um
contrato trilateral: entre o médico e o hospital (para uso dos recursos e
instalações); entre o médico e o paciente; e o paciente e o hospital.
Nesta hipótese, a responsabilidade de indenizar só será do hospital se
o dano do paciente derivar de culpa ou negligência dos seus serviços
(enfermagem, assepsia ou medicamentos).

d) BANCOS: Ainda se discute, tanto no plano doutrinário como no


jurisprudencial, se todas as operações bancárias são serviços atingidos
pelo CDC. Como o conceito do art. 3º, § 2º, é lato, isto tem dado
margem a dúvidas e discussões; porém, não há dúvidas, segundo as
orientações mais recentes do STJ, a atividade bancária – tanto a
principal (mútuo) como a secundária (serviços) – está sujeita a
disciplina do CDC. Espera-se a definição do Supremo Tribunal Federal.

- Como acontece com os produtos, no dizer do art. 20, também os serviços


podem ser inadequados por VÍCIOS DE QUALIDADE, ou seja, a prestação
ineficiente, embora não ponha em risco a vida, saúde e segurança do
consumidor, traz uma insatisfação ao encomendante (consumidor). São
os chamados vícios redibitórios previstos no Código Civil, porém, o CDC
deu um novo tratamento jurídico no que diz respeito a reparação desta
insatisfação, deixando à ESCOLHA DO CONSUMIDOR, exigir
alternativamente:

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

II – (cancelamento do negócio e) a restituição imediata da quantia paga,


monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.


34

- O Código ainda admite, se assim concordar o consumdior (§ 1º) que “a


reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente
capacitados, por conta e risco do fornecedor.” Como se trata de direito
potestativo, a escolha é do consumdior.

- O artigo em questão envolve um sem-número de espécies de serviços e a muito


deles não se aplicam as alternativas nele previstas. Contudo, o este dispositivo
sempre é lembrado nos inúmeros casos de empreiteiras de mão-de-obra quando
a construção é dirigida pelo próprio dono.

- A IMPROPRIEDADE dos serviços, é claro, advém da má-execução do que foi


encomendado. É imperioso, portanto, que o encomendante reclame prévio
orçamento, prospecto ou projeto do que for contratado, pois isto servirá de
prova escrita para estabelecer o nexo causal e apontar o vício a ser reclamado.

- LEMBRETE do artigo 21 – Sempre que a execução dos serviços implicar no


fornecimento de peças ou componentes de reposição, estes deverão ser
ORIGINAIS, ADEQUADOS e NOVOS, sendo possível a utilização dos que
contém as especificações técnicas do fabricante, desde que autorizado pelo
consumidor. Isto deve estar destacado no contrato, no orçamento, na proposta,
porque implica em alteração de direito básico do consumidor.

HIPÓTESES DE
RESPONSABILIDADE
CIVIL NO CDC

O Código de Defesa do Consumidor prevê duas


hipóteses de responsabilidade civil do fornecedor,
ambas objetivas:

a) Responsabilidade pelo fato do produto ou do


serviço;
35

b) Responsabilidade por vício do produto ou do


serviço.

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO


OU DO SERVIÇO - A responsabilidade pelo fato do
produto ou do serviço é decorrente de danos
materiais ou pessoais provocados pelo produto ou
serviço, sendo denominados acidentes de consumo.
Nessa direção, a doutrina entende que o fato do
produto é todo e qualquer acidente provocado por
defeito de produto ou de serviço que causar dano ao
consumidor ou a terceiros, que são a ele
equiparados para esse efeito, como visto linhas
atrás.
Os artigos 12, § 1º, e 14, § 1º, da Lei nº
8.078/90 definem respectivamente produto
defeituoso e serviço defeituoso. O produto e o
serviço são considerados defeituosos quando não
oferecem a segurança que deles legitimamente se
espera. Devem ser levadas em consideração para a
configuração da característica de defeituoso
algumas circunstâncias, a saber: apresentação do
produto e o modo de fornecimento dos serviços; o
uso, os resultados e os riscos que razoavelmente
deles se esperam e, finalmente a época em que
foram disponibilizados no mercado.
A responsabilidade principal é do fabricante,
produtor, construtor ou importador. Como analisado
precedentemente, o comerciante só responde
subsidiariamente, quando os responsáveis principais
não puderem ser identificados, ou quando o mesmo
não conservar adequadamente os produtos
perecíveis. Aquele que efetivar o pagamento da
36

indenização, conserva o direito de regresso contra


os demais obrigados, na medida de sua
participação, eis que nos termos do parágrafo 1o,
do artigo 25, combinado com o parágrafo único do
artigo 7o, do CDC, a responsabilidade é solidária.
A ação de responsabilidade civil por danos
causados por fato do produto ou do serviço é sujeita
a prazo prescricional de cinco anos. O dies a quo de
contagem do prazo é o dia em que restaram
conhecidos o dano e sua autoria.

RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO


OU DO SERVIÇO - O Código de Defesa do
Consumidor, em seus artigos 18, 19 e 20, prevê a
responsabilidade civil do fornecedor por vício do
produto ou do serviço, ao mesmo tempo em que
disciplina as respectivas sanções a serem impostas
por iniciativa do consumidor a ser ressarcido.
Tais vícios podem inquinar a qualidade ou a
quantidade dos produtos ou serviços, ensejando,
por igual, a responsabilização do fornecedor. Aqui,
diferente do que se dá na responsabilidade por fato
do produto ou do serviço, a responsabilidade
decorre de vícios inerentes, intrínsecos, aos bens ou
serviços, os quais provocam o dano na própria
coisa, isto é, in re ipsa.
O legislador previu a responsabilidade solidária
de todos os que intervierem no fornecimento de
produtos ou serviços. Diante disso, o consumidor,
destinatário final, em razão da solidariedade
passiva, tem direito a responsabilizar o fornecedor
imediato do bem ou do serviço, seja o fabricante ou
até mesmo o comerciante. Aquele que efetivamente
responder pelos danos conservará direito de
37

regresso contra os demais coobrigados, na medida


de sua participação no evento.
A lei prevê sanções para a reparação do vícios
do produto e do serviço, dotando o consumidor do
direito de exigir do fornecedor responsável que as
cumpra. As sanções variam, conforme se trate de
vício de qualidade ou de quantidade do produto ou
de qualidade do serviço, da seguinte forma:

a) No caso de vício de qualidade do produto,


concede-se ao fornecedor o prazo de 30 (trinta)
dias, para que substitua as partes viciadas do
produto. Expirado o prazo, sem que o vício tenha
sido sanado, são previstas as seguintes sanções,
alternativamente exigíveis pelo consumidor (art. 18,
§ 1o, CDC):
- substituição do produto por outro da mesma
espécie, em perfeitas condições de uso
- restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de
eventuais perdas e danos;
- abatimento proporcional do preço.

b) sanções alternativamente exigíveis no caso


de vício de quantidade do produto (art. 19, CDC):

- substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou


modelo;
- complementação do peso ou medida;
- abatimento proporcional do preço;
- restituição imediata da quantia paga, com
correção monetária, acrescida de perdas e danos.

c) sanções alternativamente exigíveis no


38

caso de vício de qualidade do serviço (art. 20,


CDC):
-reexecução dos serviços, sem custo adicional e
quando cabível;
- restituição imediata da quantia paga, com
correção monetária, acrescida de perdas e danos;
-abatimento proporcional do preço.

O direito à reparação em face de vícios do


produto ou serviço se sujeita aos seguintes prazos
decadenciais: 30 (trinta) dias, tratando-se de
produto ou serviço não-durável, e 90 (noventa)
dias, tratando-se de produto ou serviço durável.
Registre-se que tais prazos, no caso de vícios
aparentes ou de fácil constatação, começam a
contar a partir da entrega efetiva do produto ou do
término da execução do serviço. Tratando-se de
vícios ocultos, o prazo começa a contar no momento
em que for evidenciado o defeito.
A relativa exigüidade dos prazos decandenciais,
pode induzir à errônea impressão de que o recurso
ao Judiciário deva ser uma medida a ser tomada o
mais urgente possível sob pena de se perder a
oportunidade de fazê-lo. Pertinente esclarecer-se
que aquelas sanções em epígrafe podem e devem
ser, antes, exigidas extra-judicialmente. Tal
procedimento, de per si, não estimula o fornecedor
a esperar e impor delongas com o fito de ver o
tempo passar e fazer operar-se o decurso daqueles
prazos. Ocorre que o fornecedor chamado à
responsabilidade extra-judicialmente não se
estimula a lançar mão de semelhante ardil, na
medida em que a reclamação, comprovadamente
formulada perante ele pelo consumidor, faz com
que o curso do prazo decadencial seja obstado
39

(suspensão) até a resposta negativa


correspondente.

EXCLUDENTES DA
RESPONSABILIDADE
CIVIL NO CDC
Em que pese tenha o Código de Defesa do
Consumidor adotado o modelo da responsabilidade
civil objetiva com culpa prescindível, prevê
hipóteses de exclusão da responsabilidade do
fornecedor.
De acordo com o CDC (artigos 12, §3º, e 14,
§3º), o fornecedor se exime da responsabilidade
quando provar, alternativamente:

a) que não colocou o produto no mercado;


b) que, embora haja colocado o produto no
mercado ou prestado o serviço, o defeito inexiste;
c) que a culpa é exclusiva do consumidor ou de
terceiro.

Portanto, a exoneração da responsabilidade


depende de prova a ser produzida pelo fornecedor
imputado.
Como analisado em linhas precedentes, para
que alguém participe, no pólo passivo, de uma
relação jurídica de responsabilidade civil emergente
de uma relação de consumo, faz-se mister que se
satisfaçam três requisitos, a saber: que seja
fornecedor; que o evento danoso tenha
40

efetivamente ocorrido; que haja uma relação de


causalidade entre a conduta ou atividade
desenvolvida pelo fornecedor e a ocorrência do
dano. Sendo a culpa de todo prescindível, não há
que se cogitá-la.
As duas primeiras excludentes apresentadas em
epígrafe se justificam, eis que afetam dois dos três
requisitos essenciais à configuração da
responsabilidade civil em uma relação de consumo,
quais sejam, a condição de fornecedor e a
ocorrência do dano. Com efeito, caso o imputado
prove que não colocou o produto no mercado,
prejudicada se afigura a condição de fornecedor. Ao
lado disso, caso comprove que o defeito inexiste, a
conseqüência será a de que inexiste dano
indenizável.
Entretanto, sob certo aspecto, causa estranheza
o Código ter previsto a hipótese de a comprovação
de culpa exclusiva da vítima ou de terceiro servir
como excludente da responsabilidade. A menos que
se admita que pela expressão “culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro” tenha o legislador
intentado significar “ausência de nexo causal”, está-
se diante de uma inarredável incongruência.
Deveras, se o fornecedor imputado comprovar que
o dano não tem ligação a uma conduta sua, estará
inquinando a causalidade que lhe foi atribuída,
podendo, por conseguinte, eximir-se da
responsabilidade. Ocorre que a lei não menciona o
nexo causal, e sim, a culpa.
Ao admitir a prova de culpa de outrem como
excludente da responsabilidade, o Código acena
para a responsabilidade civil com culpa presumida,
o que implica dizer que a responsabilização do
agente estaria assentada tão-somente em uma
41

presunção relativa de culpa, vencível, pois, por


prova em contrário. Ora, como analisado no Item
V.1 retro, em vista da expressão, significativamente
enfática, “independentemente da existência de
culpa”, inscrita nos artigos 12 e 14, caput, não é de
se admitir qualquer valoração comportamental,
concluindo-se, por isso, que se adotou o modelo da
responsabilidade civil com culpa prescindível e não
simplesmente presumida.
Demais disso, caso tivesse sido empregada a
expressão de maior abrangência e coerência
“ausência de nexo causal” em vez de “culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro”, além de
não incorrer na incongruência apontada, teria o
legislador evitado uma lacuna acusada por toda a
doutrina, a qual consiste na omissão quanto à
hipótese de caso fortuito ou força maior. É certo,
contudo, que tais eventos imprevisíveis, mesmo que
não considerados pelo legislador, são eximentes de
responsabilidade, eis que também impossibilitam a
verificação da relação de causalidade entre o fato
atribuído ao fornecedor e o dano infligido ao
consumidor ou a terceiros.

Exercício

Um avião carregado de passageiros, ao decolar do Aeroporto de


Congonhas, sofre pane e cai sobre uma série de casas que ficam
ali perto. Todos os passageiros e a tripulação morrem, além das
três pessoas que estavam nas casas. Houve estragos de monta em
automóveis estacionados e nos prédios residenciais e comerciais
sobre os quais o avião caiu.
O Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei n. 7.565, de 19-12-1986)
regula a questão de indenização tarifando-a em 3.500 OTNs
(aproximadamente R$ 41.500,00 atualizando-se a OTN pela
42

tabela de reajuste judicial do TJSP) para cada passageiro e


tripulante morto. (O CBA diz que a limitação não será aplicada
em caso de dolo ou culpa grave do transportador; deixamos este
aspecto de lado.). Este código permite que o passageiro aumente o
limite indenizatório acima, mediante pacto acessório firmado com
o transportador.

Responda:

a. As regras do CDC relativas ao contrato de adesão aplicam-


se ao caso relatado? Explique.
b. Vale o limite estipulado no Código Brasileiro de
aeronáutica?
b.1. se sim, por quê?
b.2. Se não:
b.2.1. Qual o fundamento?
b.2.2. Qual será a indenização devida?
c. Como fica a situação das pessoas atingidas em terra na sua
integridade física, moral, e na de seus bens materiais?
d. Qual a norma legal que será utilizada? Art. 12 ou 18 do
CDC?
e. Trata-se de responsabilidade pelo fato ou pelo vício do
produto ou do serviço? Por quê?

RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC:


DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

DA DECADÊNCIA E DA
PRESCRIÇÃO
CONCEITOS DE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO
43

 DECADÊNCIA – É a extinção do direito


pela inércia de seu titular, quando sua eficácia
foi, de origem, subordinada à condição de seu
exercício dentro de um prazo prefixado, e este
se esgotou sem que esse exercício tivesse se
verificado.
 PRESCRIÇÃO – Prescrição é a extinção de
uma ação judicial possível, em virtude da
inércia de seu titular por um certo lapso de
tempo .
Posto que a inércia e o tempo sejam
elementos comuns à decadência e à
prescrição, diferem, contudo, relativamente ao
seu objetivo e momento de atuação, por isso que,
na decadência, a inércia diz respeito ao
exercício do direito e o tempo opera os seus
efeitos desde o nascimento deste, ao passo
que, na prescrição, a inércia diz respeito ao
exercício da ação e o tempo opera os seus
efeitos desde o nascimento desta.
Prescrição, então, é o perecimento do direito de ação não exercido
no tempo fixado. Ao contrário da decadência, o direito subjetivo
44

não desaparece, pois ele continua no patrimônio jurídico do


titular, porém, sem condições de agir em Juízo.

PRAZOS DE DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

(ARTS. 26 e 27, CDC)

 Todos os VÍCIOS DO PRODUTO ou DO SERVIÇO (que


são aqueles que frustam o consumidor) são reparáveis, porém, o
prazo para reclamá-los são de decadência e exercitáveis nas
seguintes circunstâncias:

- VÍCIOS APARENTES – os perecíveis – em 30 dias da data da


aquisição (art. 26, I);
- não perecíveis – em 90 dias também da aquisição (art. 26, II);.

- VÍCIOS OCULTOS – em 90 dias contados da detectação.

 IMPORTANTE: uma inovação do CDC é que o prazo de


decadência pode obstado (interrompido) por reclamação ao
fornecedor e enquanto não retornar a resposta não decai o direito.
Com a resposta surge uma nova contagem do prazo (por inteiro).
Persistindo o defeito e havendo nova reclamação, o prazo não cai
pois uma nova resposta oportunizará uma nova contagem, sempre
com prazo inteiro. Também interrompe a decadência a
45

instauração de inquérito civil pelo MP e só depois deste concluído


é que começará a contagem de novo prazo, por inteiro.

Já aos ACIDENTES DE CONSUMO (decorrentes de algum fato


do produto ou do serviço que causem danos), devido à violação
do direito subjetivo que integra o patrimônio jurídico do
ofendido, o CDC dispôs no art. 27 o PRAZO DE CINCO ANOS
para o exercício da ação, o qual é contado da data do surgimento
do evento danoso. Recomenda-se o REGISTRO ESCRITO
(B.O., Reclamação no PROCON, Notificação ao Ministério
Público, etc) para contagem do prazo.

 Atenção: no caso dos vícios do produto ou do serviço, se não


atingido pela decadência (direito potestativo), o prazo para
ingresso da ação de reclamação ou indenização também é de
CINCO ANOS.

 IMPORTANTE: Exercido o direito de reclamação por vício


do produto ou do serviço, o fornecedor terá o prazo máximo (art.
18, § 1º) de 30 DIAS para resolver o problema. As partes poderão
negociar este tempo para no mínimo de 07 DIAS e no máximo de
180 DIAS, (art. 18, § 2º).
46

RESPONSABILIDADE
CIVIL DOS
PROFISSIONAIS
LIBERAIS NO CDC

 Art. 5º, XIII, CF/88 – É livre o exercício de qualquer


trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei
estabelecer.
 Art. 22, XVI, CF/88 – Compete privativamente à União
legislar sobre: (....) organização do
sistema nacional de emprego e condições
para o exercício de profissões.

 Art. 14 – CDC – O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.
§ 4º - A responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
47

 Profissional Liberal, juridicamente falando, é todo


aquele que exerce uma profissão regulamentada. Aquele
que não detiver a certificação e o grau conferido por lei, é
chamado de prestador de serviços ou popularmente de
autônomo.

 A Responsabilidade Civil dos primeiros será apurada


mediante a verificação da existência ou não de culpa,
quanto a sua conduta na execução dos serviços que
resultem em dano ao consumidor-encomendante. Já
quanto aos outros (os autônomos), a responsabilização
pelo evento danoso independente de culpa,
(=responsabilidade objetiva).

 Segundo a doutrina, a razão do legislador em


estabelecer esta condição (apuração da culpa nos moldes
do art. 159, C.Civil) está na natureza intuitu personae dos
serviços prestados pelos profissionais liberais. Ou seja, a
escolha do consumidor em determinado profissional
liberal implica na indispensável confiança que ele
(consumidor) tem na pessoa do profissional.
48

 Em contrapartida, os serviços prestados por estes


profissionais habilitados segundo a lei, são considerados
como Obrigação de Meio. Quanto aos demais (os
autônomos) o CDC considera a prestação de serviços
como Obrigação de Resultado.

 OBRIGAÇÃO DE MEIO – É assim considerada


quando o agente, (prestador do serviço) envida todos os
seus esforços e conhecimentos técnicos para que o serviço
contratado alcance o resultado esperado; porém, como este
resultado não depende exclusivamente da sua atuação,
pois o final está atrelado a outros fatores, cabe a ele ir até
o limite de seu conhecimento. Ex. O resultado de uma
ação judicial está atrelado ao livre convencimento do juiz.
O resultado de uma cirurgia médica está condicionado a
resposta que o corpo do paciente apresentar. (Aqui lida-se
com algo imprevisível).

 OBRIGAÇÃO DE RESULTADO – É assim tida


quando o agente, ao aceitar a incumbência,
presumidamente, assume a responsabilidade de,
efetivamente, entregar a encomenda tal como foi
solicitado dentro do estado de arte por ele divulgado.
49

 A apuração da culpa dos Profissionais Liberais depende


de investigar TRÊS MODALIDADES DE CONDUTA:

IMPRUDÊNCIA – agir com afoiteza, indo além do que


está capacitado legalmente;
NEGLIGÊNCIA – tem conhecimento técnico, mas age
aquém do esperado;
IMPERÍCIA – age em desacordo com a lex arts ad hoc.
Isto é, não tem conhecimento algum na especialidade
reclamada, mas assume a execução dos serviços.

 A doutrina reconhece que, tanto os anestesistas como os


cirurgiões estéticos, por estarem comprometidos com o
resultado almejado, respondem objetivamente.

 As Sociedades Profissionais, por serem reunião de


profissionais liberais de esforço comum e repartição de
custos, respondem subjetivamente. Apesar de alguns
doutrinadores entenderem que, neste caso, está afastado o
intuitu personae, logo respondem objetivamente.
50

 As Empresas de Serviços, por se tratar de um


profissional que monta um negócio, agregando mão-de-
obra complementar para alcançar seu objetivo, segundo a
doutrina, torna-se verdadeira pessoa jurídica. Sendo assim,
respondem objetivamente.

 Os danos indenizáveis, na espécie aqui tratada, podem


ser físicos, (prejuízo corporal), materiais, (perdas
patrimoniais: lucro cessantes, reembolso de despesas,
aparelhos, pensionamento, etc.) e morais (lesão estética, a
dor sofrida, o mal-estar psicológico, a frustação ante o
resultado não alcançado, etc.)

DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA — Art. 28 (disregard


doctrine)

 No direito brasileiro, como vimos, a regra é a de que o patrimônio dos sócios


não se confunde com o patrimônio da empresa. (Código Civil, arts. 20 e 1395
e ss).

 O CPC (art. 592, II), diz que os bens dos sócios ficam sujeitos à execução, nos
termos da lei.
51

 O Código Comercial contempla hipóteses de responsabilidade de acordo com


o tipo da sociedade:

a) nas em nome coletivo ou firma = responsabilidade solidária e ilimitada;


b) nas comandita simples, nas de capital e indústria e nas de conta de
participação, só os gerentes, os capitalistas e os ostensivos respondem;
c) nas limitadas = responsabilidade dos sócios vai até o total do capital social; já o
sócio administrador responde pelos atos praticados com excesso de mandato
ou ofensa à lei
d) na lei falimentar, o falido responde quando agir por fraude, dolo, ou
simulação.

No Brasil, a grande maioria das empresas são constituídas sob forma de
LIMITADA. Lamentavelmente, é a preferida dos inescrupulosos, dos
estelionatários, que se valem deste tipo de sociedade para se enriquecer às
custas daqueles que, de boa-fé, com eles transacionam.

 Atentos a esta realidade e para inibir ações desses criminosos, juristas de


renome trouxeram ao direito estrangeiro a disregard doctrine. A sua evolução
mais recente no Brasil deu-se através do art. 28 do CDC, quando o legislador
autorizou ao Juiz desprezar a personalidade jurídica do fornecedor quando este
houver com abuso de direito, excesso de poder, infração à lei, por fato ou ato
ilícito, ou ainda por violação dos atos constitutivos da empresa.

 Respondem também os sócios diretamente com seus bens nos casos de


falência, insolvência, por fechamento ou inativação, ou ainda por má-gestão.

 Respondem ainda:
§ 2º - Grupos societários: holdings (administradora detém o mando e controladas);
§ 3º - Consorciadas: reunião de empresas tocar uma obra em comum (ex. Br. 101);
§ 4º - Coligadas: sócias entre si e administração individual é isolada (casos de
culpa);

§ 5º - Os sócios da PJ que causar obstáculos ao ressarcimento dos danos reclamados.

Vous aimerez peut-être aussi