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O crescimento do cristianismo: um

sociólogo reconsidera a história*


Julio Fontana

Rodney Stark conta que sempre foi um aficiona- ram representando uma fonte significativa de cristãos
do pela história, mas, ao longo de boa parte de sua convertidos pelo menos até o século IV —, e que o
carreira, jamais havia considerado a possibilidade de judeo-cristianismo era ainda significativo no século V.
trabalhar diretamente com dados históricos. Confes- No quarto capítulo, Stark, inova nas pesquisas
sa que estava satisfeito por ser um sociólogo e por acerca do cristianismo primitivo, pelo menos naquilo
empregar seu tempo tentando formular e testar, com de que tenho conhecimento. Ele mostra que a atitude
maior rigor, teorias concernentes a uma série de tó- dos cristãos diante das epidemias que assolaram o
picos, muitos dos quais envolvendo a sociologia da Império Romano influenciou bastante para o cresci-
religião. Esse quadro mundou quando leu o livro Os mento do cristianismo. É um capítulo impressionan-
primeiros cristãos urbanos,1 de Wayne A. Meeks. Con- te, que mostra que a compaixão manifestada pelos
fesso que a minha idéia acerca do cristianismo pri- cristãos durante essas epidemias foi o verdadeiro
mitivo também mudou muito após a obra de Meeks. “programa”2 missionário da Igreja.
Apesar de Stark trabalhar com as ferramentas da No quinto capítulo, Stark acompanha as recen-
ciência social, seu livro foi escrito para o público tes pesquisas sobre o cristianismo dos primórdios e
leigo, ou seja, qualquer um é capaz de entender os aponta a influente participação das mulheres para o
pensamentos do autor e, mais importante, refletir so- êxito do cristianismo. Graças a Deus, neste século,
bre os mesmos. No primeiro capítulo, Stark já corrige estamo-nos libertando do tradicional patriarcalismo
uma falsa impressão, ou melhor, um falso dado: que e descobrindo o importante papel das mulheres nas
o cristianismo cresceu milagrosamente. Ele mostra grandes realizações da humanidade, inclusive o cris-
que esse crescimento é muito facilmente explicado tianismo. Como Lucas mesmo já mostra, sem as mu-
analisando uma série de fatores que podem ter con- lheres o cristianismo não teria chegado aos nossos
tribuído para tal. Outra conclusão importante a que dias. Acho que esse dado deve ser considerado quan-
chegou Stark — a que eu também já havia chegado do falamos de ordenação de mulheres.
— é que o crescimento do cristianismo não se deve No sexto capítulo, Stark segue uma pesquisa in-
a um intenso trabalho missionário, e sim ao contato ciada por Meeks na década de 19803 e mostra que o
entre cristãos e seus respectivos círculos de relações, cristianismo se instalou, principalmente, nos grandes
sejam elas de parentesco, amizade ou profissionais. centros urbanos. A razão para isso é que, quanto mais
urbana a região, mais altas são as taxas de informali-
No segundo capítulo, Stark mostra que é errôneo
dade. É nas grandes cidades “que tudo acontece”, até
achar que o cristianismo era um movimento de des-
hoje é assim. Sendo assim, o cristianismo constituiu-
possuídos. Isso não é verdade, como também mos-
se movimento urbano e, como podemos observar, o
trou Meeks na obra já citada. Entre os cristãos tam-
Novo Testamento foi estabelecido pelas cidades.
bém havia uma pequena quantidade de representates
das classes mais privilegiadas. Creio, até, que a maior No sétimo capítulo, Stark mostra-nos como era
parte dos documentos cristãos produzidos no decor- um grande cidade no Império Romano. Ele corrige
rer da Idade Antiga foram oriundos das penas dessa aquela impressão tradicional de que as cidades ro-
classe privilegiada. manas eram melhores do que as medievais. Isso não
é verdade. A sua densidade demográfica era alta. As
No terceiro capítulo, Stark corrige um erro históri- pessoas viviam amontoadas umas sobre as outras.
co, o papel da participação dos judeus. Stark diz que Privacidade? Nem pensar. Num mesmo cômodo dor-
o judeo-cristianismo desempenhou um papel central miam diversas pessoas, por isso, durante o dia, todos
até muito tempo depois no crescimento do cristia- iam para as ruas. As ruas eram lotadas. Destarte, não
nismo — que, além de os judeus da diáspora terem era difícil reunir um grande número de ouvintes para
proporcionado as bases iniciais para o crescimento um discurso. A miséria era grande e o número de do-
da Igreja durante o século I e o inicío do II, continua- enças também.

Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano II, n. 10 92


No oitavo capítulo, Stark corrige a tradição de que tãos, que, em virtude do reconhecido sucesso, devem
grande foi o número de mártires cristãos. Jamais, no ser tomados como modelos de evangelizadores, não
decorrer do Império Romano, houve uma persegui- utilizavam programas evangelísticos apurados, eles
ção generalizada aos cristãos e o número de mártires agiam naturalmente, como eles eram verdadeiramen-
pode ter sido bem menor do que se tem cogitado até te. Suas atitudes evangelizavam, porque eram atitudes
hoje. Stark diz que, mesmo sendo o número de már- de um cristão. Eles eram reconhecidos onde iam, não
tires bem reduzido, eles tiveram grande importância precisavam dizer: “Olhem só, eu sou cristão!”, não
para o crescimento do cristianismo.4 Para explicar precisavam. Aqueles que desejavam ser cristãos pro-
isso ele utiliza conceitos como sacrifício e estigma: curavam o caminho para tal, não era necessário um
trabalho fundado em teorias psicológicas de indução,
Primeiro: por exigir níveis mais elevados de estigma e entre outros métodos modernos. Eram cristãos aque-
de sacrifício, os grupos religiosos induzem níveis em
les que desejassem ser. Destarte, acho que o livro de
média mais altos de comprometimento e de participa-
ção do membro. Segundo: por exigir níveis mais ele-
Stark pode ser lido sob diversas óticas. Eu, particular-
vados de estigma e de sacrifício, os grupos religiosos mente, li sob essa. Posso dizer, também, que foi um
conseguem gerar maiores benefícios materiais, sociais dos melhores livros que já li.
e religiosos para seus membros.
No penúltimo capítulo, Stark mostra que, no de- Notas
correr do Império Romano, havia uma relativa liber- *
STARK, Rodney. O crescimento do cristianismo:
dade religiosa, e que essa liberdade foi fator prepon- um sociólogo reconsidera a história. São Paulo,
derante para o crescimento do cristianismo. Onde o Paulinas, 2006. 263 pp.
Estado se acha preparado para perseguir duramente 1
A Editora Paulus já nos disponibilizou três obras de
quaisquer desafiadores do culto ou dos cultos con- Meeks: Os primeiros cristãos urbanos; A origem da
vencionais, o crescimento de novas religiãos é extre- moralidade cristã e O mundo social dos primeiros
mamente difícil. Outro fator é o vigor da organização cristãos.
ou das organizações religiosas tradicionais com as 2
Não acredito que tenha sido intencional os cristãos
quais as novas religiões devem competir. terem adotado tal postura durante as epidemias.
O último capítulo é uma breve reflexão sobre a 3
Antes de Meeks, somente conheço Ernest Renan
virtude. Stark aponta algumas das contribuições que tenha proposto algo parecido. Vale a pena ler
que o cristianismo trouxe àquela civilização, como o seu livro Paulo, o 13o apóstolo, São Paulo, Martin
a idéia de misericórdia, ou seja, se Deus ama a hu- Claret, 2005.
manidade, o cristão deve amá-la também. Em outras 4
Outros fatores também devem ser considerados.
palavras: o cristão deve amar a todos, até mesmo aos
seus inimigos. Stark diz, também, que uma importan-
te contribuição do cristianismo como movimento de
revitalização foi o oferecimento de uma cultura coe-
rente, totalmente desprovida de etnicidade, ou seja,
todos são bem-vindos.
De tudo o que expus sobre o livro O crescimento
do cristianismo, de Rodney Stark, só posso afirmar
que ele, juntamente com a obra de Meeks, mudam
totalmente a tradicional visão que tínhamos do cris-
tianismo primitivo. A obra de Stark é empolgante.
Clara, auto-explicativa e muito profunda. Tem tudo
para satisfazer os teólogos e estudantes de teologia
que almejam aprofundar seus conhecimentos acer-
ca dos inícios de nossa fé. Outro ponto que quero
destacar é a aplicação dos dados fornecidos por este
livro na área de evangelismo. Muitos livros que es-
tão sendo publicados sobre evangelismo propõem
programas cada vez mais complicados para fins de
missão e evangelização. O livro de Stark mostra quão
ineficazes são esses programas. Os primeiros cris-

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