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Dia a dia
Peso das palavras. Certas expressões abalam autoestima e
confiança das crianças
Pais cuidadosos fazem tudo pelos filhos: escolhem a escola, acompanham os deveres de casa, tiram as dúvidas
mais embaraçosas e passam seu tempo de folga com a família. Mas nem ...
A Gazeta
Carla Nascimento
cnascimento@redegazeta.com.br
Pais cuidadosos fazem tudo pelos filhos: escolhem a escola, acompanham os deveres de casa, tiram as dúvidas
mais embaraçosas e passam seu tempo de folga com a família. Mas nem mesmo esses pais estão imunes aos
momentos de estresse causados por uma desobediência ou travessura. Nessas horas, apesar de a bronca ser
inevitável, é melhor contar até dez e lembrar que algumas frases nunca devem ser ditas, sob o risco de interferir
na formação de crianças e adolescentes.
“Você deveria ser como seu irmão” e “você não faz nada direito” são algumas delas. “Muitas vezes, reproduzimos
em nossa comunicação aquilo que ouvimos dos nossos pais na infância. Existem expressões que os pais devem se
esforçar ao máximo para não falar com os filhos, porque isso só vai abalar ainda mais a autoestima e a confiança
deles”, explica o terapeuta familiar Cláudio Miranda.
Ele ressalta que os pais devem fazer uma autoavaliação sobre o que é dito em casa. A dica é refletir sobre as
frases usadas quando a criança estraga ou quebra algo em casa, quando apronta travessura ou desobedece uma
ordem.
REFLEXO
Para ele, as falhas na comunicação são reflexo de uma série de fatores, como falta de tempo, desatenção,
preocupações e desinteresse.
Já a psicóloga Maria Angélica Peter Barbosa ressalta que quanto mais jovem for a criança maior terá o impacto
das palavras em sua vida. “A chamada idade da razão é entre 6 e 7 anos. Mas isso depende do grau de
maturidade da criança, que muda de acordo com o ambiente em que ela vive. A partir daí, as crianças começam a
entender melhor”, explica.
Segundo ela, comparações e ofensas são como profecias. “Dizer que o filho é igual a fulano não resolve nada.
Chamar de um zero à esquerda também não. Esse tipo de expressão cria um sentimento de menor valia”, diz.
Outro terreno perigoso, alerta, é o campo das ameaças. Dizer que a criança deve se comportar porque senão
“Papai do Céu vai ficar zangado” ou “o bicho-papão vai pegar” pode causar pesadelos e prejudicar o sono das
crianças.
"Uma comunicação ruim na relação com os filhos pode gerar uma sensação de desamparo. Esse sentimento
enfraquece o indivíduo, tornando-o mais vulnerável ao fracasso” - Cláudio Miranda Terapeuta Familiar
"O filho precisa saber que os pais o enxergam como único, brilhante, capaz e que ele tem dentro de si todos os
recursos que precisa para ser feliz” - Mary de Sá Especialista em neurolinguística
“Você é um preguiçoso, mesmo. Não vai ser nada na vida!” Mostre-se disponível para o seu filho e ajude-o nas
tarefas
“Vou te dar uma surra”. Dê um castigo apropriado para corrigir mau comportamento, sem fazer ameaças
“Você não me obedece; nunca mais vou falar com você.” Diga: “Filho, ouça o que estou lhe dizendo. Fico
chateada(o) quando
você não me atende”
“Se não me obedecer vai ficar um mês sem computador.” Diga: “Hoje você não tem computador porque não fez
o que eu pedi”
“Você está comendo como um porco.” Diga: “Filho, coma menos” ou dê exemplo de como se deve comer
“Já falei mais de mil vezes.” Fale algo uma vez só e tome uma medida sem exageros ou impulsividade
“Se mexer aí o policial vai te prender”, ou “Se não tomar remédio o médico vai te dar uma injeção.” Além de
transferir a responsabilidade para outra pessoa, gera na criança um temor que não deveria existir
“Por que você não faz como seu irmão, que é tão obediente?” Comparações desse tipo devem sempre ser
evitadas. Lembre-se: cada filho é de um jeito
“Se um pai duvida da capacidade do filho e olha para ele, o menino percebe. Não precisa dizer nada, fica
estampado no semblante”, afirma a diretora do Asas - Instituto de Desenvolvimento Pessoal, Mary de Sá.
Ele também ressalta o papel do pensamento positivo no dia a dia da família. “A neurolinguística trabalha com
cenários, visualizações. É importante focar nos resultados desejados para, em seguida, criar os passos para
chegar lá. Se o menino imagina que vai se dar bem na prova, isso valoriza a inteligência dele, demonstra
confiança e competência.”
Ela destaca que a comunicação pode ser mais eficiente se os pais evitarem sentenças negativas. “Em vez de falar
‘você não entende essa matéria’, os pais podem dizer: ‘Você sabe que pode entender essa matéria, não é’?
Assim, o jovem busca dentro de si uma certeza. ”
A linguagem oral não se restringe somente a palavras, como alerta o professor do programa de pós-graduação
em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Hiran Pinel. “A linguagem inclui o tom de voz, a
forma como as frases são ditas”, destaca. Ele ressalta que o filho deve ser elogiado sempre, mas a preocupação
com a autoestima da criança ou do adolescente não deve impedir os pais de chamar a atenção. “Mas sem
humilhação. Quanto mais rico o debate, mais haverá crescimento”, diz.
Autor de livros como “Quem Ama Educa”, “Família de Alta Performance” e outras 26 obras, Içami Tiba sentencia:
educar hoje é mais difícil. Ele, que acumula no currículo
4 milhões de exemplares vendidos e muitos anos como consultor de famílias, comenta o impacto que as palavras
têm para crianças e adolescentes.
A PREOCUPAÇÃO COM A AUTOESTIMA DOS FILHOS É UMA CARACTERÍSTICA DOS PAIS DESSA GERAÇÃO?
Na geração atual, os filhos já são mais sensíveis. Eles precisam muito receber feedback, ou seja, reconhecimento.
Se um filho se sente feio, e a mãe fala “seu feio”, é como se confirmasse as suspeitas dele. Sempre foi assim, mas
nessa geração está mais evidente.
Sim. Os filhos se sentem iguais, acham que todo mundo é par, não reconhecem hierarquia. Além disso, os filhos
têm mais opções e recursos e dominam uma área que os pais conhecem pouco, que é a informática. Eles estão
vivendo outra realidade, que é a coletividade, um está ligado ao outro.