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1- RESUMO:
O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Instituto Federal de MG- Rio Pomba e Instituto Federal de
MT- Cuiabá e tem como objetivo demonstrar a anatomia política das duas Escolas Agrícolas na
perspectiva de seu poder disciplinador no período de 1947 a 1956. Assim, além de Foucault e vários
autores importantes da História da Educação; como procedimento técnico-metodológico pode-se
atentar para a Lei Orgânica do Ensino Agrícola, como Decretos, levantamentos de fontes documentais
das escolas, depositadas nos Arquivos Públicos de MG e MT, nas informações dos mais diversos
periódicos regionais. Assim, pretende-se estudar a História da Educação Agrícola a partir da
correlação com a História do Brasil e regional, baseadas em Franco e Lima dentre outros, assim como,
a incursão pela Cultura Escolar está assentada em Dominique Julia. Finalmente, o discente nas escolas
responde a um processo modelar de conduta próximo à sociedade disciplinar.
Somente após a completa extinção dos bens que a natureza nos agraciou é que o governo
redirecionou o seu plano de trabalho. Mesmo assim, apenas a partir da segunda metade do século
XX, os dirigentes nacionais perceberam que o setor agropecuário era merecedor de um pouco mais
de atenção, pois o país capengava com a falta de tecnologia para produzir no campo. O impulso
necessário à criação de novas tecnologias para o campo só surgiu quando da criação das escolas
agrícolas, aprendizados agrícolas e universidades voltadas para o ensino agropecuário
(MARQUES, 2004, p.18).
Esse órgão configurou-se como importante, pois todas as escolas agrícolas passaram à sua
subordinação devendo ajustarem-se ao Padrão de Ensino Agronômico e Veterinário instituído pela
referida superintendência. Cabia, pois, à SEAV a responsabilidade de fiscalizar todas as escolas
agrícolas, registrar seus diplomados, aprovar os currículos propostos pelas escolas novas ou as
modificações sugeridas pelas já existentes para que assim fosse mantida uma uniformidade padrão
em todos os estabelecimentos de ensino agrícola. Além disso “competia à SEAV orientar e
fiscalizar o ensino agrícola em seus diferentes graus, fiscalizar o exercício das profissões de
agronomia e veterinária, ministrar o ensino médio elementar de agricultura, promover a educação
direta das populações rurais, e realizar estudos e pesquisas educacionais aplicados à agricultura”
(CALAZANS, 1979, p.86).
Nas escolas do século XVII, os alunos também estavam aglomerados e o professor chamava um
deles por alguns minutos, ensinava-lhe algo, mandava-o de volta, chamava outro, etc. Um ensino
coletivo dado simultaneamente a todos os alunos implica uma distribuição espacial. A disciplina é,
antes de tudo, a análise do espaço. É a individualização pelo espaço, a inserção dos corpos em um
espaço individualizado, classificatório, combinatório (FOUCAULT, 2005, p.106).
A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante dos
indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme à regra. É preciso vigiá-
los durante todo o tempo da atividade e submetê-los a uma perpétua pirâmide de olhares. É assim
que no exército aparecem sistemas de graus que vão sem interrupção, do general chefe até o ínfimo
soldado, como também os sistemas de inspeção, revistas, paradas, desfiles, etc..., que permitem que
cada indivíduo seja observado permanentemente (FOUCAULT, 2005, p.106).
Nada escapava dos olhares atentos dos guardas e inspetores que se imbuíam da
autoridade escolar para concentrar esforços na manutenção da ordem, do respeito, da boa
conduta moral e dos preceitos próprios a uma época que se valia de vários dispositivos de
combate da ociosidade, do desperdício de tarefas a serem realizadas, da diminuição do
conteúdo a ser assimilado.
A organização, através de fichas de controle de cada aluno, foi muito utilizada na
escola de Iniciação Agrícola “Gustavo Dutra”. Existia a observância das fichas pelos guardas.
Os outros funcionários da instituição e mesmo a direção valorizavam a organização e controle
como forma de conhecimento das atuações dos discentes em todas as localizações espaciais,
pois, afinal, a escola era muito extensa e tais procedimentos tornavam-se necessários,
principalmente na informação da conduta dos alunos nos alojamentos.
A escola, também, contava com várias áreas de atuação prática, onde a
aprendizagem tornava-se importante para a formação de um educando qualificado. A
cavalariça usada nas aulas práticas sobre equinos, muares e asininos; o estábulo para aulas
práticas de bovinocultura; o aviário para noções de criação de frangos, galinhas e marrecos; o
apiário para práticas de noção de Zootecnia, produção de mel, cera, própolis e geléia real...
Logo ao iniciar as tarefas do dia, os educandos eram postos em fila para chamada, feita pelos
guardas. O não comparecimento de algum aluno era anotado e levado a conhecimento dos
interessados na organização das atividades dos jovens.
As fichas de controle eram utilizadas desde o início de cada manhã, logo após do
desfecho do Hino Nacional e da leitura dos avisos. O discente respondia a uma chamada de
presença e as ausências eram anotadas. Os presentes eram recompensados com um final de
semana livre, os ausentes respondiam outras chamadas nos finais de semana, quando eram
obrigados a fazerem atividades extraclasse de trabalho duro nas lavouras ou nas próprias
instalações físicas:
A disciplina é o conjunto de técnicas pelas quais os sistemas de poder vão ter por alvo e resultado
os indivíduos em sua singularidade. É o poder de individualização que tem o exame como
instrumento fundamental. O exame é a vigilância permanente, classificatória, que permite distribuir
os indivíduos, julgá-los, medi-los, localizá-los e, por conseguinte, utilizá-los ao máximo. Através
do exame, a individualidade torna-se um elemento pertinente para o exercício do poder
(FOUCAULT, 2005, p.107).
“[...] deverá submeter-se, incondicionalmente, sob pena de punição; no caso inverso, ou seja, de
maior valorização dos processos de subjetivação, a ênfase não estará no conteúdo da lei ou nas
condições de aplicação, mas na relação consigo, sendo ela definida pela soberania de si sobre si
mesmo” (FAÉ, 2004, p.9).
4- Referências
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BENCOSTTA, Marcus Levy Albino. História da educação, arquitetura e espaço escolar/
Marcus Levy Albino Bencostta, organizador. São Paulo, Cortez, 2005.
BURKE, Peter. O que é história cultural?/ Peter Burke; traduzido por Sérgio Góes de Paula.
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FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; traduzido por Raquel
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Janeiro, Edições Graal, 2005.
FRANCO, Maria Laura P. Barbosa. Introduzindo a problemática do ensino técnico agrícola e
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GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. São Paulo, Moraes, 1986.
GONDRA, José Gonçalves. Medicina, higiene e educação escolar. In: VEIGA, Cynthia
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