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A ESCOLHA RACIONAL
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ortodoxos da abordagem, essas dificuldades se tornam especialmente
reveladoras.
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como se a racionalidade devesse necessariamente ser vista como dizendo
respeito a um mundo em que prevalecem interesses egoístas e estreitos, ou
seja, a um “estado de natureza” que subsistiria na complexidade da sociedade
em que as normas existem e coexistiria precariamente com elas. Em outras
palavras, Elster não dá consequência ao reconhecimento (presente em sua
obra) de que o traço distintivo da racionalidade é a busca eficiente de fins de
qualquer natureza, e de que tais fins podem ser não apenas altruístas, mas
também definidos normativamente. Tal reconhecimento levaria, no limite, à
concepção segundo a qual a racionalidade plena estaria na capacidade de
buscar com equilíbrio certo ideal de vida que seja o objeto de decisões
autônomas (e não meramente conformistas ou convencionais) por parte do
indivíduo – isto é, na capacidade de definir as próprias normas que se irá
seguir a partir da assunção lúcida e seletiva de certa identidade e dos valores
correspondentes, que serão sempre socialmente dados em medida importante.
O problema acaba se ramificando, assim, rumo à questão das relações entre
racionalidade, identidade, moralidade e autonomia, impondo considerações
como as que marcam os trabalhos sobre desenvolvimento moral de autores
como Piaget, Kohlberg e Habermas – literatura da qual Elster passa ao largo.
Aliás, pode-se dizer que as idéias de Elster o colocam aquém do próprio Max
Weber, cujo esforço por diagnosticar e compreender o racionalismo ocidental
o levou não somente ao estudo de temas como a burocracia e o capitalismo,
mas também a toda a sociologia weberiana das religiões. E não porque as
religiões apareçam como elemento de contraste, mas pela importância
atribuída ao desenvolvimento religioso como parte intrínseca e mesmo crucial
de um processo secular visto como de racionalização.
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de diluir-se numa sociologia “convencional” para dar conta de maneira
adequada daquilo que conforma socialmente o próprio ator racional como tal.