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AS AMAZONAS

Texto: Walcyr Monteiro.

Desde antes de Cristo que se falava na existência de mulheres guerreiras, que viviam sós, isoladas de homens, com os quais se
encontrariam para fins de acasalamento e assim mesmo ficando para criar apenas as crianças do sexo feminino. Eram as amazonas,
[ do grego a (não, sem) e mazós (seios)], ou seja, as mulheres sem seios, pois tais mulheres, quando ainda jovens, deviam queimar ou
atrofiar o seio direito, a fim de facilitar o manejo do arco. Nascida tal história com a mitologia grega, espalhou-se durante a Idade Média,
chegando aos tempos modernos, tendo o tema inspirado muitos escritores e artistas. Tais amazonas reinariam na região da
Capadócia, situada na Ásia Menor.

Em 1541, após descer o afluente Napo e chegar ao então Mar Dulce, nome que Pinzon dera ao Rio Amazonas, eis que Francisco de
Orelhana é atacado por uma tribo de mulheres que, no testemunho de Frei Gaspar de Carvajal, "são muito alvas e altas, com o cabelo
muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça. São muitos membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as suas vergonhas, com
os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios". Em seu relato, Carvajal narra a seguir que embora
abatessem vários índios que eram comandados pelas mulheres e mesmo algumas destas, os espanhóis se viram obrigados a fugir,
tendo porém capturado um índio. Este, mais tarde, ao ser interrogado, declarou pertencer a uma tribo cujo chefe, senhor de toda a área
( o ataque tinha se dado na foz do Rio Nhamundá ), era súdito das mulheres que residiam no interior. Na qualidade de súditos,
obedeciam e pagavam tributos às mulheres guerreiras, que eram acompanhadas pelo chefe Conhori. O prisioneiro, respondendo a
várias perguntas do comandante, disse que as mulheres não eram casadas e que sabia existir setenta aldeias delas. Descreveu as
casas das mulheres como sendo de pedra e com portas, sendo todas as aldeias bastante vigiadas. Disse ainda que elas pariam
mesmo sem ser casadas porque, quando tinham desejo, levavam os homens de tribos vizinhas à força, ficando com eles até
emprenharem, quando então os mandavam embora. Quando tinham a criança, se homem, era morto ou então mandavam para que o
pai o criasse, se era mulher, com ela ficavam e a menina era educada conforme as suas tradições guerreiras. Descreveu ainda seus
hábitos e suas riquezas, pois que tais mulheres possuíam muito ouro e prata.

O encontro e as escaramuças à foz do Rio Nhamundá (hoje limite entre os estados do pará e do Amazonas) com os índios e/ou as
índias mais a descrição do prisioneiro foi bastante para que houvesse associação com as Amazonas da Capadócia. E o rio, até então
mar Dulce, passa a ser chamado Rio de las Amazonas (Rio das Amazonas) e finalmente Rio Amazonas. A narração feita por frei
Gaspar de Carvajal teve imensa repercussão na Europa e correu mundo, atemorizando uns, surpreendendo outros, mas maravilhando
a todas os que ouviam falar da terra das mulheres guerreiras...!

O MUIRAQUITÃ

Texto: Walcyr Monteiro.

Você sabe o que é muiraquitã?

Muiraquitã ( Foto ao lado )é o nome que os índios davam a pequenos objetos, geralmente
representando uma rã, trabalhados em pedra de cor verde, jadeíta ou nefrita, podendo existir em outros minerais e de outras cores.
Conhecidos desde os tempos da descoberta, foi entre os séculos XVII e XIX que se tornaram mais procurados, sendo atribuídas
qualidades de amuleto ou talismã e ainda virtudes terapêuticas. O muiraquitã atraía sorte para os seus possuidores e também curava
quase todas as doenças.

Mas... qual a origem do muiraquitã? Por que se atribuíam tantos poderes a um simples pedaço de mineral?

Encontrado principalmente na região do baixo Amazonas – por conseguinte justamente nas adjacências da foz do Rio Nhamundá, de
cuja confluência com o Rio Amazonas pretensamente Orelhana encontrara mulheres guerreiras – o muiraquitã deu muito o que falar e
gerou muitas controvérsias. Foi contestada inclusive sua origem, que não seria amazônica e sim asiática... Mas aqui não se vai discutir
a origem arqueológica! O que nos interessa é saber como o muiraquitã entra na história e no lendário da região...!
Autores há que afirmam que Orelhana, cuja aventura vimos antes, não combateu com mulheres. Na verdade, teria se defrontado com
uma tribo de índios encabelados, os quais, na guerra, eram auxiliados pelas mulheres, daí Orelhana Ter se confundido. Mas outros,
inclusive o Frei Gaspar de Carvajal, que participou da expedição, dão o testemunho da existência das mulheres guerreiras, no que são
acompanhados por descrições de diversos índios... Mas estes não falavam em amzonas, até porque não sabiam o que significava. Os
índios fsalavam em Icamiabas, que significa "mulheres sem marido".

As Icamiabas viviam no interior da reghião do Rio Nhamundá, sozinhas. Ali, eram regidas por suas próprias leis. Durante muitos anos
foram procuradas por diversos estudiosos e exploradores, porém nunca foram encontradas. A região era denominada por estes
aventureiros de País das Pedras Verdes e era guardada por diversas tribos de índios, das quais a mais próxima das Icamiabas era a
dos Guacaris. E por que a denominação de páis das pedras País das Pedras Verdes? Porque era justamente daí que se originavam os
muiraquitãs, as famosas pedras verdes... Dizia-se que as Icamiabas realizavam uma festa anual dedicada à lua e durante a qual
recebiam os índios Guacaris, com os quais se acasalavam. Depois do acasalamento, mergulhavam em um lago chamado Iaci-uaruá
(Espelho da Lua) e iam buscar, no fundo, a matéria- prima com que moldavam os muiraquitãs, os quais, ao saírem da água,
endureciam. Então presenteavam os companheiros com os quais tinham feito amor... Os que recebiam, usavam orgulhosamente
pendurados ao pescoço. No ano seguinte, na realização da festa, as mulheres que tinham parido ficavam com as filhas e entregavam
os filhos para os guacaris...

Fantasia? Obra da imaginação? Patranhas de viajantes, cronistas e aventureiros? Hoje, tantos anos depois, é difícil de julgar. Mas os
muiraquitãs existem:estão aí a enfeitar museus ou nas mãos de colecionadores particulares...Amazonas ou Icamaibas, a lenda foi
tão forte que designou um rio, um estado da Federação e a toda uma região. Pode até não Ter fundo de verdade, mas que é linda é! Já
pensou o que é fazer amor com uma bela mulher numa noite enluarada, à beira de um lago a espelhar a lua, em plena selva? E ao fim
ainda receber de presente um muiraquitã ? Se não é verdade, deveria ser!

De qualquer forma, quando se pronuncia Amazônia, não se pode deixar de pensar em muiraquitã e em mulheres guerreiras, mas
também amorosas, como aliás são as mulheres da Região Amazônica...

Outro exemplar de um Muiraquitã.

A MATINTA PERERA

Texto: Walcyr Monteiro.


Firifififiuuu........................................

É ela, a Matinta Perera...!

Olha, Matinta, deixa a gente descansar e amanhã podes passar aqui para pegar tabaco.

No dia seguinte uma velha aparece na residência onde a promessa foi feita, a fim de apanhar o fumo. A cena descrita podia acontecer
nos subúrbios de Belém, há alguns anos, ou ainda hoje, no interior do Pará e de toda Amazônia.

Mas... quem ou o que é a Matinta Perera?

Matinta Pereira, Matinta Perera, Mati-Taperê, Mat-taperê, Matim-Taperê, Tintinta-Pereira são algumas formas de grafar este mito
que se apresenta principalmente como sendo uma velha acompanhada de um pássaro. O pássaro emite um assobio agudo, à noite,
que perturba o sono das pessoas e assusta as crianças, ocsasião em que se promete tabaco ou fumo (aparece como promessa
principal) mas que também pode ser alimento. A velha, uma pessoa idosa do lugar, carregaria a sina de "virar" Mtinta Perera , ou seja,
à noite transformar-se em ser indescritível, a meter medo e assombrar as pessoas. O mito da Matinta Perera foi confundido ( a meu
ver indevidamente ) com o do Curupira, do Caapora e do Saci. A Matinta Perera pode serde dois tipos: com asa e sem asa. A que
tem asa pode transformar-se em pássaro e voar nas cercanias do lugar onde mora. A que não tem, anda sempre com um pássaro,
considerado agourento, e identificado como sendo "rasga-mortalha". Dizem que a Mtainta , quando está para morrer, pergunta:

o Quem quer? Quem quer?

E se alguém mais afoito, principalmente mulher, disser "eu quero", pensando em se tratar de alguma herança de dinheiro ou jóias,
recebe na verdade a sina de "virar" Mtinta Perera. Embora a grande maioria de registros informe que a Matinta Perera é mulher, colhi
pelo menos uma história passada em Inhangapi em que a Matinta Perere era uma homem, por sinal um negão forte e musculoso.

Há fórmulas mágicas que permitem "prender" a Mtinta Perera. Um deles exige uma tesoura virgem, uma chave e um terço. Cerca de
meia noite deve-se abrir a tesoura, enterrar na área, colocar no meio a chave e por cima o terço, após o que rezam-se orações
especiais. A Matinta Perera ficará presa ao local, não conseguindo afastar-se...

No livro "Visagens e Assombrações de Belém" narro a história "A Matinta Perera no Acampamento", ocorrida na década de sessenta,
na qual uma Matinta Perera foi presa pela fórmula e levada pelos habitantes ao Posto Policial do bairro da pedreira, onde foi feita a
acusação de que mulher "virava" Matinta Perera, ante os policias incrédulos. Mas naquela época – como até hoje – não se configurava
como crime em lei "virar" Matinta Perera, e a mulher ganhou a liberdade, voltando como vingança, a azucrinar a paciência dos
moradores do Acampamento com seus estridentes assobios:

Firifififiuuu.........................................

O Grupo de Danças Folclóricas "Filhos da Terra", preocupado com a desvalorização da nossa cultura popular, criou
e mantém o Museu Folclórico da Amazônia, onde podem ser vistas representações das lendas paraenses. Na foto ao
lado, no Parque dos Igarapés, em Belém- PA, uma encenação, feita pelo Grupo, da "Matinta Perera".
A COBRA GRANDE

Texto: Walcyr Monteiro.

Viviam o primeiro homem – Adão – e a primeira mulher – Eva – em


total estado de pureza no Paraíso e eis que surge a serpente e põe tudo a perder, tentando a mulher a comer do fruto proibido.
E depois de Eva, é Adão que come, e assim são expulsos do Paraíso, sendo obrigados por Deus a comer o pão com o suor do
rosto. A serpente foi então considerada maldita por Deus entre todos os animais.

Já no primeiro livro da bíblia – O Gênesis – encontramos a história acima sintetizada e verificamos que a cobra acompanha o ser
humano desde que surgiu na terra. E nos mais diversos povos encontramos crenças, lendas, mitos, rituais envolvendo as mais diversas
espécies de ofídios.

Em nossa região não poderia ser diferente. E aqui encontramos um dos mais fortes envolvendo justamente a figura da cobra, de uma
enorme e extraordinária cobra, por isso chamada de Cobra Grande.

Na verdade, há várias lendas sobre cobras: além da Cobra Grande propriamente dita ( boiaçu, boiçu, boiguaçu, boioçu, boiuçu,
palavras de origem tupi, a significar "cobra grande", que outra não é senão a sucuri, réptil do qual, no arquipélago do Marajó, existem
espécimes de mais de 10 metros de comprimento ), há ainda a Boiúna, a Boitatá e outras menos cotadas.

A Cobra Grande apresenta-se como enorme réptil que é capaz de virar, ou seja, fazer naufragar até mesmo embarcações de
considerável porte, comendo ou levando para o fundo do rio os passageiros. Temida pelos ribeirinhos, sobretudo os dos grandes rios
regionais, a Cobra Grande apresenta uma grande variação quanto a sua origem: ora é um ser representativo do mal, ora é um ser
encantado e que carrega a forma de ofídio como sina, até haver quem o desencante ( neste sentido, é conhecida a estória da Cobra
Norato, parida de uma mulher engravidada pela Cobra Grande, e que, ao ser desencantada, por um soldado da polícia Militar, acabou
sentando praça...), ora ainda pode transformar-se em imenso veleiro, que aparece todo luminoso, sempre à noite, e que, ao aproximar-
se dos trapiches ou de outras embarcações, desaparece misteriosamente... Quase todo ribeirinho já viu ou tem um parente ou amigo
que já se defrontou com a Cobra grande em forma de navio...

A Boiúna ( do tupi, "cobra negra" ) é também uma enorme cobra, de cor preta, que possui os mesmos sortilégios da Cobra Grande.
Muitas vezes confundem-se a Boiúna, que, repetimos, significa "cobra negra ou preta" com a Cobra Grande. E diz- que tem dezenas
de metros, os olhos são dois grandes faróis- e não falta quem diga que os olhos da Boiúna são na verdade os candeeiros colocados
na frente da casa dos ribeirinhos, justamente para ajudar a navegação... mas Biúna e Cobra Grande acabam confundindo-se e
tornando-se uma só...

Já a Boitatá é diferente. Em tupi, "cobra de fogo", é uma cobra luminosa que, às vezes, assume a forma humana, porém mantendo
sempre a luminosidade, e outras vezes confundindo-se com o fogo, gases emanados dos cemitérios ou de regiões que tenham matéria
orgânica em decomposição. Embora cause medo ou pavor às pessoas que a vêem, não chega a assombrar ninguém, ou seja, não
deixa aqueles que a encontram em situação de precisar de "pajés" ou "pais-de-santo" para livrá-los de algum assombramento...

Em várias cidades, vilas e povoados amazônicos existe a crença de que as mesmas estão situadas sobre a morada de uma... Cobra
Grande! E Belém (atualmente) ou santa Maria de Belém do Grão Pará, ou Nossa Senhora de Belém do grão Pará, ou Feliz Luzitânia
ou Feliz Espaniola
(diversas denominações sobre as quais discutem historiadores para saber qual a verdadeira denominação que teve inicialmente a
capital do hoje estado do Pará ) não foge a regra...

Acredita-se e que Belém foi fundada sobre a casa de enorme Cobra grande... E daí corre a crença que, se a Cobra Grande se mexe,
Belém estremece! Se a Cobra Grande resolver sair do seu lugar, Belém irá afundar! E com Belém, todos os seus habitantes...!

Acontece que... Estudo mais profundo do assunto poderia dizer se tal crença não nasceu dos primeiros missionários, que ao chegar em
Belém, e, ao ouvir falar da Cobra Grande, a tenham resolvido esmagar, colocando-lhe a cabeça justamente sob os pés de Nossa
Senhora, a Virgem Maria. Sim, porque segundo a crença – ou a lenda? – a Cobra Grande que está sob Belém tem sua cabeça sob o
altar da Basílica de Nazaré. Aliás, a crença fala em mais duas outras direções para a cauda: uma, indica a Igreja de Nossa Senhora do
Carmo, no bairro da Cidade Velha; a outra, na Igreja de Santo Antônio. Sob o ponto de vista da evolução, do crescimento da cidade de
Belém, a versão da cauda sob a Igreja do Carmo é a mais antiga. Com a evolução da cidade, sua cauda mudou para ficar em baixo da
Igreja de Santo Antônio. E, finalmente, que é a maior corrente, mudar novamente e se ampliar até a Basílica de Nazaré... Afinal, os
missionários, aqui, como em outras plagas, tiveram que adaptar a religião cristã à cultura local, a fim de poderem conquistar novos
crentes... E, quem sabe, se com isto, não tiveram personificado a "boiaçu" dos indígenas, nos símbolos do mal, no demônio, e a
tenham resolvido esmagar, colocando-lhe a cabeça justamente sob o altar da Catedral da sé onde fica a imagem de Santa Maria de
Belém. Por sinal muito parecido à Virgem esmagando a serpente, que era encarnação do demônio.

Por outro lado... a cabeça da cobra sob o altar da Catedral das Sé e a cauda em Nazaré, lembra também o famoso Círio de Nazaré que
se inicia na Catedral e termina na Basílica de Nazaré...

De qualquer forma, existem, até hoje, os que crêem na Cobra Grande sob Belém, Tanto que, durante o tremor de terra ocorrido em
Belém na madrugada de 12 de janeiro de 1970, muitas pessoas disseram que era a Cobra Grande que estava se mexendo... E a
lenda diz que, no dia que a cobra sair do seu repouso, Belém será tragada pelas águas da Baía do Guajará...

Crentes ou não, católicos ou não, lá vai a cobra grande humana... É o Círio de Nazaré... A grande serpente humana, a ondular-se,
segue da Catedral da Sé para a Basílica de Nazaré... E alí, a grande cobra – não uma lenda, mas a realidade formada por mais de um
milhão de pessoas – que volteou durante quilômetros, abaixa-se, curva-se, põe-se aos pés da Virgem... da Virgem de Nazaré,
Padroeira dos Paraenses...!

Em Barcarena, estado do Pará, próximo à Belém, existe o lugar conhecido como "Buraco da Cobra Grande", que é atração
turística do município.

O BOTO

Texto: Walcyr Monteiro

Quem ainda não ouviu falar nas incríveis façanhas do boto? Não é nem preciso ser paraense ou
ainda da região amazônica para lhe conhecer as proezas. O boto já estreou inclusive no cinema e aqui e ali cineastas amadores fazem
novas películas este ser mítico regional.

O boto tem a faculdade de transformar-se em homem e, nesta condição, seduzir as moças interioranas que costumam dançar nas
festas de beira de rio. Como seduz também as que vão tomar banho sozinhas nos rios amazônicos, principalmente se estiverem
menstruadas. Como conquista também as que se atrevem a andar em pequenas canoas...

O boto, diferentemente de outras lendas e mitos que não são encontrados facilmente, são perfeitamente identificáveis e até mesmo
classificados cientificamente, sendo a "designação comum aos cetáceos odontocetos pertencentes às famílias dos delfinídeos
(marinhos) e plastanistídeos (fluviais)", segundo o mesmo Aurélio. Já Carlos Rocque ensina que pode ser identificado como Inia
geoffrensis o boto branco e Steno tucuxi o boto tucuxi.

Sobre botos existem mil e uma histórias e mil e uma crenças. Quando uma mulher moradora às margens dos rios da região engravida,
não sendo casa nem possuindo companheiro, é certo que se dirá que seu filho e do boto. A fama de conquistador lhe é atribuída e,
além de procurar as mulheres jovens e bonitas, casadas ou não, frequenta festas onde realiza novas conquistas. Às diversões
comparece sempre de chapéu à cabeça, diz-que para esconder um orifício que facilmente o identifica como boto. Bem apessoado,
anda elegantemente vestido e faz parte da tradição dizer que tem sempre uma espada à cintura. Porém, acabando o encanto, na hora
que tem de transformar-se novamente em boto , se verá que todos os acessórios que usa são de habitantes das águas: a espada é um
poraquê, o chapéu é uma arraia, o sapato é um acari, cascudo ou bodó (um tipo de peixe), o cinto é um arauaná (outro tipo de peixe).

Dizem que em naufrágios o boto procura socorrer os náufragos. Segundo uma versão, ajudaria apenas as mulheres, até para manter
sua fama de conquistador... Noutra, ajuda indiferentemente homens e mulheres. Não são poucas as pessoas que, ao escaparem de
morrer afogados, atribuem- além de a Nossa Senhora de Nazaré - ao boto o seu salvamento.

Os órgãos sexuais, quer do boto quer da sua fêmea, são muito utilizados em feitiçarias, visando a conquista ou domínio do ente
amado. Porém o mais utilizado mesmo é o olho de boto , que é considerado amuleto dos mais fortes na arte do amor. Dizem mesmo
que, segurando na mão um amuleto feito de olho de boto, tem que Ter cuidado para olhar, pois o efeito é fulminante: pode atrair até
mesmo pessoas do mesmo sexo, que ficarão apaixonadas pelo possuidor do olho de boto, sendo difícil desfazer o efeito...

Contam-se várias histórias em que maridos desconfiados de que alguém estava tentando conquistar suas mulheres, armaram uma
cilada para pegar o conquistador. A cilada geralmente acontece à noite, onde o marido vai a luta com o seu rival e consegue feri-lo com
uma faca, ou tiros ou com um arpão... Mas o rival, mesmo ferido, consegue fugir e atirar-se n'água. No dia seguinte, para surpresa do
marido e demais pessoas que acompanharam a luta, aparece o cadáver na beira d'água, com ferimento de faca, ou de tios ou ainda
com o arpão cravado no corpo, conforme a arma utilizada, não de um homem, mas pura e simplesmente... de um boto!

O CURUPIRA

"GUARDIÃO DA FLORA E DA FAUNA"


Texto: Walcyr Monteiro

Curupira - a mãe do mato.

É interessante que geralmente se use o artigo definido masculino "o" para referir-se a este fantástico ente das florestas a quem se
empresta justamente o atributo feminino da maternidade. Realmente, no interior paraense ou amazônida, não se referem a este ser
como se fora uma mulher: é sempre "o curupira", mas no entanto lhe é reconhecida de maneira generalizada a proteção da flora e
fauna sob o nome genérico e extensivo de "mãe do mato".

Descrito como sendo um pequeno ser com traços índios, segundo alguns com os pés voltados para trás, cor escura, o curupira possui
o Dom de ficar invisível.

Guardião das florestas e dos animais, é entretanto protetor daqueles que sabem se relacionar com a natureza, utilizando-a apenas para
a sua sobrevivência, ou seja, o homem que derruba árvores para construir sua casa e seus utensílios, ou ainda para fazer o seu roçado
e caça apenas para alimentar-se, tem a proteção do Curupira. Mas aqueles que derrubam a mata sem necessidade, os que maltratam
plantas e animais, os que caçam por pura perversidade, estes tem no Curupira um terrível inimigo.

E como o Curupira se vinga daqueles que afrontam a natureza? Há muitas maneiras diferentes e os povos da floresta contam histórias
e mais histórias...

Dizem que o Curupira faz o mau caçador perder a noção de seu rumo e ficar dando voltas no mato, retornando sempre ao mesmo
lugar. Para escapar e salvar-se, só pegando um cipó no mato, fazendo um trançado, escondendo as pontas, jogando para trás sem
olhar e gritando:
Curupira, quero ver se és capaz de desfazer este trançado!

Diante do desafio, o Curupira vai pegar o cipó entrelaçado e acaba distraindo sua atenção do caçador, que acaba achando o caminho
de volta. Outra forma de atingir o malvado é fazendo com que sua arma (arco e flecha, lança ou arma de fogo) fique "panema", ou seja,
azarada, e portanto incapaz de acertar qualquer tipo de alvo, principalmente a caça.

Para acabar com a "panemice" (o azar), tem de procurar pajé que vai fazer banhos de ervas e rezar orações especiais.

Se o caçador vai matar um animal fêmea com cria, aí o Curupira fica realmente zangado e faz com que a pretensa caça vire
meuã. Virar meuã é, de repente, portar-se como se gente fosse, e fazendo os gestos como implorar piedade. Neste momento,
o caçador fica assombrado, não consegue mais fazer pontaria e foge apavorado, procurando o rumo de casa. Tem também
que procurar pajé. Dizem que pessoas que viriam animais virarem "meuã" nunca mais quiseram saber de caça...
Como se vê, o Corupira - a mãe do mato é, acima de tudo, em tempos atuais, uma entidade ecologicamente correta...

O MAPINGUARI

Texto: Walcyr Monteiro

Um enorme homem todo peludo ou então um ser que muito se aproxima de um grande macaco, só que possuindo um olho no meio da
testa, e uma grande boca, que se estende até a barriga na direção do umbigo. Para uns, ele é realmente coberto de pelos, porém usa
armadura feito de casco de tartaruga, para outros, a sua pele é igual ao couro do jacaré. Há quem diga que seus pés tem formato de
uma mão de pilão. Eis, em síntese, a descrição Mapinguari, ente fantástico a povoar a região amazônica e a imaginação dos caboclos
e demais interioranos que nela habitam.

Segundo contam, ao andar pelas selvas, emite grito semelhante ao dado pelos caçadores. Se um deles se encontra perto, pensando
que é outro caçador e vai ao seu encontro, acaba perdendo a vida: o Mapinguari devora-o, começando pela cabeça.

Contam também histórias de grandes combates entre o Mapinguari e valentes caçadores, porém o Mapinguari sempre leva vantagem
e os caçadores felizardos que conseguem sobreviver muitas vezes lamentam a sorte: ficam aleijados ou com terríveis marcas no corpo
para o resto de suas vidas.

Há quem diga que o Mapinguari só anda pelas florestas de dia, guardando a noite para dormir. Quando volteia pelas selvas, vai
gritando e quebrando galhos e derrubando árvores, deixando um rastro de destruição. Relatos outros informam que ele só aparece nos
dias santos e feriados.

Uns dizem que o Mapinguari é um animal raro, porém animal mesmo, enquanto outros acham que é originário de índios que
alcançaram uma idade avançada... após o que transformam-se no incrível monstro!

Se você pretende ir ao interior e conhecer as belezas da floresta amazônica, vá com cuidado! Pode ser que se depare frente a frente
com um Mapinguari.

O Mapinguari, tal como é

visto no Bosque Rodrigues

Alves, em Belém, estado

do Pará.
A IARA

Texto: Walcyr Monteiro.

A Iara é um dos mitos mais conhecidos e também dos mais confundidos da região amazônicas, o
que naturalmente inclui o Pará. Geralmente as pessoas acham que a Iara é uma mulher loura, de olhos azuis e a parte inferior do corpo
em forma de peixe. Esta descrição na verdade é da sereia européia e não da Iara amazônica. A Iara, além de ser confundida com a
sereia européia, o é também com a Iemanjá africana e na verdade nada tem a ver nem com uma nem com outra.

Em certos locais dizem-na boto-fêmea, também a encantar os homens e levá-los para o fundo, e em outros dizem ser a própria Boiúna
(cobra preta), que traduzem erroneamente por cobra grande.

Na verdade, a Iara é uma linda mulher morena, de cabelos negros e olhos castanhos. De beleza ímpar, os que a vêem nua banhar-se
nos rios não conseguem dominar seus desejos e atiram-se nas águas... Nem sempre voltam ao mundo dos vivos... Os que o fazem,
voltam assombrados, falando em castelos, séquitos e cortes de encantados... e é preciso reza e pajelança - e de um pajé com muita
força - para tirá-lo do estado de torpor. Alguns a descrevem como tendo uma cintilante estrela na testa, que funciona como chamariz
para atrair o olhar e assim ser facilmente hipnotizado...

Quanto a possível forma de peixe da parte inferior da Iara, isto é apenas um vestido, ou melhor, uma espécie de saia, que ela veste por
vaidade e para dar a ilusão de ser metade mulher, metade peixe...

Confundida ou não com crenças de outras plagas, a Iara até hoje exerce um grande fascínio e maior encantamento (sem trocadilhar)
nos homens da região...

A VITÓRIA RÉGIA

"A MAIS BELA DAS FLÔRES AQUÁTICAS"

Texto: Walcyr Monteiro.


Uma das mais lindas plantas aquáticas do mundo, a Vitória Régia (Euryle Amazônica) tem a folha de formato circular e mede até
1,80m de diâmetro. Parecida a uma bandeja, é bastante resistente e pode aguentar um peso de até 45 quilos. De cor verde na parte
virada para cima e interna, e purpúrea na sua borda externa e parte inferior, a Vitória Régia vive em lagos, lagoas e rios de águas
tranquilas. Sua flor de cor branca com o centro rosado, alcança até 30 cm.

A Vitória Régia, com toda a sua beleza e exuberância chama a


atenção de quantos a vêem, que ficam verdadeiramente extasiados.
E tal aconteceu com o botânico inglês Lindlev que, ao contemplá-la,
resolveu homenagear a rainha Vitória, da Inglaterra, e deu à planta o
nome da soberana inglesa.

Mas, conforme relata Anísio Melo, nossos índios também não ficaram
indiferentes à sua beleza e contam uma linda história para justificar-
lhe a origem.

As lagoas e os lagos amazônicos são espelhos naturais da vaidosa


Iaci, a lua. As cunhãs (índias) e as caboclas ao vê-la refletida sentiam
toda a inspiração para o amor. Ficavam então no alto das colinas
esperando pelo aparecimento da lua, e que com o contato de sua luz
lhes chegasse o amor redentor e elas pudessem subir ao céu
transformadas em estrelas.

Um belo dia... uma linda cabocla, tomada pelo amor, resolveu que era chegado o momento de transformar-se em estrela. E com este
intuito subiu à mais alta colina, esperando poder tocar a lua Iaci e assim concretizar o seu desejo. Mas... ao chegar ao cimo da colina
viu a lua Iaci refletida na grande lagoa e pensou que estava a banhar-se... Na ânsia de tocar Iaci para realizar seu sonho de amor, a
bela cabocla lançou-se às águas da lagoa... E ao que pensou tocá-la, afundou sumindo nas águas...

E a lua Iaci, condoída com o infortúnio de tão bela jovem e não podendo satisfazer seu desejo de levá-la para o céu em forma de
estrela, transformou-a na bela estrela das águas, a linda planta aquática que é a Vitória Régia... cuja beleza e perfume são
inconfundíveis.

Dizem que o local onde o fato aconteceu é o lago Espelho da Lua, situado no município de Faro, na região do baixo amazonas
paraense...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009


Mitos e Lendas da Amazônia

Prof. Leonardo Castro

É comum a confusão entre o que é mito e o que é lenda. E visto que os limites entre um e outro termo são
praticamente inexistentes, procuramos uma definição adequada que estabelecesse a fronteira entre lenda e mito:

LENDA - Narração escrita ou oral, de caráter maravilhoso, no qual os fatos históricos são deformados pela
imaginação popular ou pela imaginação poética.

MITO - (Mytho- gr = relato, fábula) Narrativa dos tempos fabulosos ou heróicos. Narrativas de significação
simbólica, geralmente ligada à Cosmogonia e referente a deuses encarnadores das forças da natureza e (ou) de
aspectos da condição humana. Representação dos fatos ou personagens reais, exageradas pela imaginação
popular, pela tradição.

O mito pode ser entendido como alegorias empregadas pelos antigos para revelarem ou perpetuarem verdades e
conhecimentos; expressar conceitos morais, filosóficos e religiosos; justificar princípios; servir de referência
histórica e geográfica, etc. Os mitos são projeções dos fatos reais, verdadeiramente acontecidos, aos quais os
primeiros cronistas buscaram registrar com suas limitadas expressões e que, com a tradição oral, foram
ganhando novas cores, inflacionando-se pelo calor da narrativa e pela imaginação do narrador; até que restou
apenas uma "imagem" da verdade, refletida num espelho embaciado.
As Amazonas
Tidas no princípio como fruto de uma observação mal feita pelos primeiros navegantes do Grande Rio; ou
produto do delírio de um capitão espanhol; ou ainda, da ingenuidade clerical - sempre dispostos a aceitar o
"absurdo" desde que viesse dos selvagens pagãos de um frei Gaspar de Carvajal ou Cristobal de Acunã; as
Amazonas permanecem, ainda, quase meio milênio depois.

Amazonas, gravura de Walter Raleigh, 1601.

Etimologicamente, Amazonas significa "sem seios"; de A-Mazós, pois acreditavam os antigos que as famosas
guerreiras da Cítia oblavam o seio direito para melhor manejarem o arco e flecha. Já o paraense Alfredo Ladislau
dá-nos, numa terminologia nativa, um significado que é exatamente igual ao que a lenda de Heródoto difundiu:
"Aquelas que não têm seios" ou no dizer dos índios Ikam-ny-abas. Já o Padre de Acunã informa que
"Yacamiaba" é o nome dado ao pico que se destaca mais entre todos os outros", nas altas montanhas
provavelmente do Tumucumaque - onde vivem "essas mulheres masculinizadas"; entretanto os Tapajós as
conheciam por "cunhantensequina" ou "mulheres sem marido", que ao meu ver é a expressão mais adequada.

Texto e Contexto
Foi no relato de Carvajal que apareceu a lenda das mulheres guerreiras da América do Sul tropical, também
chamadas Amazonas. Carvajal diz o seguinte:

“En este asiento el Capitán tomo al indio que se había tomado arriba, porque ya le entendia por um vocabulário
que había fecho. (...) El Capitán le perguntó qué mujeres eran aquellas (que) habían venido a les ayudar y darnos
guerra: el indio dijo que eran unas mujeres que residían la tierra adentro, y que él había estado muchas veces allí
y había visto su trato y vivienda, que como su vasallo iba a llevar el tributo cuando el señor lo enviaba. El
Capitán preguntó si estas mujeres eran muchas: el indio dijo que si, y que él sabía por nombre setenta pueblos, y
contólos delante de los que allí estábamos, y que em algunos había estado. (...) El Capitán le preguntó si estas
mujeres parían: el índio dijo que si. El Capitán le dijo que como no siendo casadas, ni residia hombre entre ellas,
se empreñaban: Él dijo que estas indias participan com indios em tiempos y cuando les viene aquella gana juntan
mucha copia de gente de guerra y van a dar guerra a um muy gran señor que reside y tiene su tierra junto a la
destas mujeres y por fuerza los traen a sus tierras y tiene consigo aquel tiempo que se lês antoja, y después que
se hacen preñada les tornan a enviar a su tierra sin les hacer outro mal; y después, cuando viene el tiempo que
han de parir, que si paren hijo le matan y lê envían a su padres, y si hija, la crían com muy gran solemnidad y la
imponen em las cosas de la guerra.”
(A viagem de Orellana Rio Amazonas abaixo nos anos de 1541 e 1542 e a crônica de Frei Gaspar de Carvajal.
In: PAPAVERO, Nelson et. al. O Novo Éden... Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2002. 2ª ed. pp. 85-87.)

O Pe. Cristóbal de Acuña a participar da viagem de Pedro Teixeira pelo Amazonas abaixo, em 1639, fala sobre
noticias das amazonas:

“Com el dicho también de estos Tupinambás, confirmamos las largas noticias que por todo este rio traíamos de
lãs afamadas Amazonas. P. 197.

(...) en que uma de las principales cosas que se aseguran, era el estar poblado de una província de mujeres
guerreras, que sustentándose solas sin varones, com quienes, no más a cierto tiempos tenía cohabitación, vivian
en sus publos, cultivando sus tierras, y alcanzando con el trabajo de sus manos todo lo necesario para su
sustento.”
(ACUÑA, Cristóbal de. O “Nuevo descubrimiento del gran rio de lãs amazonas” do Padre Cristóbal de Acuña
(1641). In: PAPAVERO, op. Cit. p. 197.)

O Boto
Reza a lenda que o boto costuma perseguir as mulheres que viajam pelos rios e inúmeros igarapés; ás vezes tenta
virar a canoa em que elas se encontram, e suas investidas contra a embarcação se acentuam quando percebem
que há mulheres menstruadas ou mesmo grávidas.

Ele, o boto, é o grande encantado dos rios, que transformando-se num rapaz, todo vestido de branco e portando
um chapéu - que é para esconder o furo no alto da cabeça, por onde respira - percorre as vilas e povoados
ribeirinhos, freqüenta as festas e seduz as moças, quase sempre engravidando-as.
Para se livrarem da "influência" do bicho, os caboclos vão buscar ajuda na magia, apelando para os curandeiros e
pajés. O primeiro com suas rezas e benzeduras exorciza a vítima, e o segundo "chupa" o feto do ventre da
infeliz. É esse Don Juan caboclo, o sedutor das matas, o pai de todos os filhos cuja paternidade é
"desconhecida".

Iara ou Uiara, Oiara, Eiara, Igpupiara, Hipupiara


Mito baseado no modelo das sereias dos contos homéricos, a Iara é a Vênus amazônica; é uma ninfa loira de
corpo deslumbrante e de beleza irresistível. Sua voz é melodiosa e seu canto, tal como no original grego, é capaz
de enfeitiçar a todos que o ouvem, arrastando-os em sua direção, até o fundo do rio, lagos, igarapés, etc., onde
vivem esses seres fabulosos. Na Amazônia o tapuio que escuta o cantar da Iara fica "mundiado" e é atraído por
ele; o mesmo se dá com as crianças que desaparecem misteriosamente. Crêem os ribeirinhos que essas crianças
estão "encantadas" no reino da "gente do fundo". Lá o menino é instruído no preparo de todos os tipos de
puçangas e remédios. Ao fim de sete anos, durante os quais foi iniciado nas artes mágicas, na manipulação de
plantas e ervas, etc.; o jovem pode retornar para junto dos seus, onde, geralmente, se torna um grande xamã, um
medicine-man.

Na nossa cultura o mito da deidade fluvial Iara, mesclou-se com seus congêneres europeus (sereias) e africanos
(Iemanjá).
Mapinguari
Esta criatura é descrita como um macaco de tamanho descomunal -5 a 6 metros – peludo como porco espinho,
"só que os pêlos são de aço". Dentro dessa descrição - um grande macaco, "uma espécie de orangotango, coberto
de longo e denso pelágio", etc.

Cada passo do Mapinguari mede três metros e seu alimento favorito é a cabeça das vítimas, geralmente pessoas
que ele caça durante o dia, deixando para dormir à noite. Há aqueles que afirmam ser impossível matá-lo: é
invulnerável. Noutra versão ele é apresentado como um ser dos mais fantásticos, com dois olhos, mas "três
bocas", sendo uma debaixo de cada braço e outra sobre o coração. Essa última é considerada seu "calcanhar de
Aquiles", pois quando ele abre a boca pode-se acertar seu coração, única maneira de matá-lo.
Em reportagens para a revista ISTOÉ nº 1266 e 1294 (05/01/1994 e 20/07/1994, p.35-36 e p. 44-47,
respectivamente), o norte-americano David C. Oren, doutor em zoologia e especialista em biodiversidade
amazônica do Museu Paraense Emílio Goeldi, derruba a lenda que o Mapinguari é um grande símio. Ele afirma
a existência de um gigantesco bichopreguiça terrestre de 200 a 300 quilos e 2 metros de altura, ainda vivo nas
selvas amazônicas, que ele diz ser o Mapinguari. O Dr. Oren baseia suas teorias, afirmações e pesquisas em
restos fossilizados e relatos de índios e garimpeiros: “Conheci pelo menos 30 pessoas que viram o Mapinguari e
mais de 100 que acharam seus rastros”.
Curupira
Na Enciclopédia Delta Larousse, curu é traduzido como sarna, e pír como pele; contudo uma tradução mais
adequada apresenta curu como sendo a abreviatura de curumi, e pira significando corpo, assim temos que
Curupira pode ser entendido como "aquele que tem corpo de menino", por motivos óbvios, como veremos.

Na teogonia indígena o Curupira apresenta-se como um moleque de aproximadamente sete anos, com o corpo
coberto de longos pêlos e tendo os pés virados para trás. As primeiras informações foram registradas pelos
portugueses, nos primeiros séculos do descobrimento, e desde aquela época é vlsto como um ente maléfico, um
demônio ou um mau espírito; evidentemente que foi pintado com as tintas da paleta dos missionários, as mesmas
que coloriram o Jurupari.
As informações também são as mais diversas: Ora é um duende benfazejo, ora um demônio mau; ora um gnomo
ou um ogro. O ponto em que todos são unânimes é quanto sua condição de deus autóctone das selvas, um
protetor.

Como protetor das florestas, castiga impiedosamente aquele que caça por prazer, que mata as fêmeas prenhes e
os filhotes indefesos, mas ampara o caçador que tem na caça seu único recurso alimentar, ou que abate um
animal por verdadeira necessidade.

As descrições físicas são díspares e confusas: numa o Curupira aparece de "acanga piroka" - cabeça careca -,
noutra é coxo e unípede. A figura mais comum é a de um ser antropomórfico, de pequena estatura - criança ou
anão - muito peludo e com os calcanhares voltados para a frente.

Como percebemos, o Curupira incorporou outros atributos e ampliou seus poderes e sua área de ação, mas
permanece o caráter benfazejo e protetor. Apesar disso a versão tradicional informa que um encontro com esse
duende é sempre desagradável e marcante. Um dos artifícios que os caboclos utilizam quando percebem que são
vítimas do Curupíra, é fazer pequenas cruzes de madeira, fortemente amarradas com cipó timbuí, e esconder a
ponta do nó. Dizem que o Curupira fica tentando desfazer o nó e se esquece do caçador, que pode então
escapulir, safar-se.

Texto e Contexto
Já em 1560 o padre Anchieta registrava em suas cartas a existência do Curupira.

"É coisa sabida e pela boca de todos corre que ha certos demônios a que os Brasis chamam Curupíra, que
acometem aos índios (...) e matam-nos. São testemunhas disso os nossos irmãos, que viram algumas vezes os
mortos por eles.

Jurupari ou Juruparím, Jeropary, Jeropoari, Yurupari,


Iurupoari, Jurupari- Pereira ou Perê
Jurupari é uma denominação Tupi para um demônio particular, mas, foi usada com exclusividade pelos
missionários para designar qualquer demônio; até assumindo o lugar do diabo cristão nos trabalhos de catequese
dos íncolas.

A lenda diz que Jurupari é um deus que veio do céu em busca de uma mulher perfeita para ser esposa de
Coaraci, o Sol, mas, não diz se ele a encontrou e, segundo Orico, essa missão é inatingível. Jurupari foi o maior
legislador que os indígenas conheceram, assemelhando-se a Quetzalcoaltl, a "Serpente Emplumada", deus
reformador e legislador Maia.

Enquanto conviveu com os homens, estabeleceu uma série de normas de conduta e leis morais; instituiu a
monogamia, a higiene pessoal através da depilação corporal, restituiu o poder aos homens que viviam em um
regime matriarcal; promoveu modificações nos costumes e na lavoura; e especialmente deve-se-lhe as festas de
colheita.

Segundo a lenda, a mãe do Jurupari era uma índia virgem chamada Ceuci, "filha de Tupã e Zuacacy", e instigada
pela curiosidade foi espionar os rituais, contrariando assim a lei instituída pelo filho. Para servir de exemplo de
que as leis do Jurupari não podem ser transgredidas, foi condenada à morte.

Macunaíma
Macunaíma é um misto de deus e herói lendário do extremo norte da Amazônia, alto Rio Branco, área do grupo
Aruaque, e foi trazido a lume pelo grande pesquisador alemão Köch Grúnberg. Sua presença também é atestada
noutros países da região, como a Venezuela. Tal como o Jurupari, este também é um enviado dos céus.
Converteu troncos de madeira em gente e bichos.

Matin ou Saci (Maty-Taperê, Matinta Pereira, Maty, Çaci,


Saci, Pererê, Saci Pererê, Cererê)
As informações são, também nesse mito, muito controversas. Numa, surge como "assombração" ou "visagem"
que assusta as pessoas e pode até provocar-lhes a morte; noutras é uma mulher que vira passarinho assobiador;
ou ainda, um duende unípede. Segundo o sobejamente citado Câmara Cascudo, Saci (h-ã-cí) significa “o que é
mãe das almas", porém. Teodoro Sampaio diz que Saci (ça-ci) pode ser traduzido por "o olho doente", talvez
queira dizer mau-olhado; olho gordo; olho de seca-pimenteira. etc.

Em sua Geografia dos Mitos Brasileiros, Cascudo informa-nos que foi em fins do século XVIII que se deu a
aparição do Saci, "vindo do Sul, pelo Paraguai-Paraná, justamente a zona indicada como tendo sido o centro da
dispersão dos Tupi-Guaranis", contudo há referências a entes semelhantes nas mais diversas regiões do planeta,
provavelmente porque, como bem o percebeu o mestre potiguar, esse nosso demônio nativo corresponde ao
Gremlim da América do Norte e seus similares noutros países.

O mito do "Çaci" assume diversas denominações. podendo ser SACI PERERÊ no Sul do país, KAIPORA no
Centro e MATINTAPEREIRA ou MATY-TAPERÉ ao Norte. No Pará e Amazonas sua imagem é a de um
curumi que anda numa única perna e tem os cabelos cor de fogo. Parece que através do sincretismo luso-
africano, ele ganhou o barrete vermelho - comum em Portugal - e os traços negróides, mais o cachimbo.

Dizem que o Saci tem por companheira uma velha índia - ou uma preta velha, maltrapilha, cujo assobio
arremeda seu nome: Mati-Taperé. Crêem alguns que ele é filho do Curupira; outros identificam-no como um
pequeno pássaro que pula numa perna só; há também aqueles que dizem ser as mãos dele furadas no centro.

Em muitos lugarejos a existência dessa bruxa cabocla que se transforma em gato, cachorro, bota, morcego,
porca, pássaro, é tida como inconteste e até encarada com normalidade.

O assobio da Matinta, atestam todos que já o ouviram, "é coisa de outro mundo"; "arrepia até a alma"; "a gente
sente como se estivesse levantando do chão", etc. Dizem ainda que ao ouvir o assobio a pessoa disser: - "Vem
buscar tabaco amanhã ", pode contar como certo que na manhã seguinte encontrará, à porta de sua casa, uma
velha ou uma pedinte, em busca do que lhe foi prometido. Também, pode ser a primeira pessoa que aparecer na
casa pedindo um inocente cigarro...

Uirapuru ou Oirapuru, Gauirapuru, Irapuru


É um deus que se transforma em pássaro e anda rodeado de outros pássaros, à guisa da corte. Quando canta,
todos os outros pássaros da mata ao redor silenciam, ou querendo aprender seu canto ou em respeitosa
reverência. Como diz a letra de uma velha canção: "A mata inteira fica muda ao seu cantar, tudo se cala para
ouvir sua canção". O canto do Uirapuru é a própria Rapsódia Amazônica.

Os sons melódicos produzidos por essa ave são dotados de poder hipnótico, como o canto da Iara e do Cauré.
Acreditam os caboclos que se o canto do Uirapuru tem o poder de atrair todos os pássaros, pode, por
conseguinte, atrair também a sorte nos negócios e no amor, dai a crença nos seus poderes e propriedades
talismânicas.

Muiraquitã ou Muiraquitá, Murakitã, Tuxáua-ita (Tupi),


Ninací (Tucanos)
De todos os amuletos indígenas, esse parece ser um dos mais conceituados e investido de enorme poder.
Pensava-se antigamente que os delicados pingentes fossem jóias orientais - provavelmente chineses -, pois eram
desconhecidas na região, jazidas de Jadeíta, material onde se esculpiam os pequenos e preciosos ídolos
zoomorfos.

A forma mais conhecida desses amuletos líticos é a de uma pequena rã, mas também pode ser encontrado sob a
aparência de uma tartaruga ou outro bicho. Entretanto é interessante observar que o Muiraquitã está sempre
zoomorficamente relacionado com a água, sendo que a rãzinha ou perereca, na crença indígena, é a causadora
das chuvas; guardiã das águas pluviais.

Apesar de batraquiformes, esses amuletos se assemelham bastante com a genitália masculina, remetendo-nos
novamente as propriedades fertilizantes e fecundantes das águas, e traçando um paralelo entre elas e o falo ereto.

Tais jóias funcionavam como um salvo-conduto para que os guerreiros que mantinham relações sexuais com as
Amazonas, pudessem entrar e sair da aldeia delas sem serem molestados. Segundo a lenda, as famosas mulheres
guerreiras mergulhavam no lago Jamundá - espelho da Lua - para apanharem as pedras verdes, que já vinham na
forma do animal.

Japu ou Japuaçu
Este é um curioso mito amazônico que se apresenta similar mito do herói Prometeu. Prometeu, aquele que trouxe
o fogo do Olimpo para os homens, foi condenado por Zeus a ser acorrentado a urna rocha e ter o fígado
devorado por um abutre, sendo que o fígado arrancado num dia ressurgia no seguinte, perpetuando assim o
tormento do prisioneiro e a missão do abutre. Esta semelhança levou Osvaldo Orico a afirmar que o Japu é "o
Prometeu indígena".

A lenda tapuia diz que no principio os índios sofriam de muito frio e desconheciam o fogo; o pajé da tribo
escolheu um guerreiro valente para ir ao céu em busca do precioso elemento, que era guardado pelo raio, de
quem o bravo deveria roubá-lo. Para tanto, o pajé transformou o guerreiro num belo pássaro, que voou ao alto e
depois de uma dura luta com o raio, conseguiu apossar-se de um pedaço de fogo, que trouxe para a terra preso ao
bico. Ao voltar a forma humana, o valente índio percebeu que estava com o rosto deformado pelo fogo celeste.
Não aceitando viver estigmatizado, implorou ao pajé que o transformasse novamente em pássaro, contudo o bico
ficou-lhe marcado de vermelho, cor de fogo, como uma recordação da aventura.

Vitória-Régia (Iaupé-iaçanã ou Jaçanã)


É uma planta aquática que floresce e se desenvolve quando das "águas vivas" e definha quando a água é pouca.
É comum nas águas pouco profundas ( cerca de 1/2 metro). Suas folhas podem atingir mais de três metros
quadrados.

Esta é uma das lendas inspiradas por Perudá e nasceu do amor entre a índia Moroti e o guerreiro Pitá. A história
narra, como toda história de amor que se preze, mais um caso infeliz que termina mal, parecendo que os índios já
sabiam que toda novela de um grande amor tem um final infeliz.

Diz a lenda que Pitá afogou-se nas águas caudalosas de um paraná, em busca da pulseira que Moroti havia
atirado. Moroti, querendo mostrar para as amigas o quanto era amada pelo guerreiro, jogou a sua pulseira ao rio
desejando que, como prova de amor, Pitá a trouxesse de volta. O infeliz apaixonado atira-se ao rio e não retorna.
Desesperada e arrependida, Moroti joga-se atrás do amado, tendo igual fim.

No dia seguinte, a tribo presenciou o nascimento de uma grande flor, que ao centro era branca como o nome de
Moroti, e as pétalas ao redor eram vermelhas como o nome do bravo Pitá.

A Vitória-Régia, a rainha das flores da Amazônia, só abre suas pétalas à luz do sol, recolhendo-se ao cair da
noite, para abrir-se novamente no dia seguinte.
Lenda do Açai
O Açaí é o fruto de uma palmeira (Euterpe Oleracea) bastante comum e abundante no Pará, onde seguramente
tem o seu indigenato. No vizinho estado do Maranhão seu nome é Juçara; na Venezuela é Manaca, e Quasei,
Qapoe no Suriname. Desse fruto se extrai um caldo escuro e cremoso, de cheiro e sabor característico, conhecido
como vinho de açaí e que tanto pode ser servido puro, com açúcar,. com farinha de mandioca, de tapioca, ao
natural ou gelado. Do vinho de açaí se obtém diversos manjares da culinária paraense, principalmente
sobremesas. É o nosso correspondente a "ambrosia" dos deuses mitológicos do Olimpo.

Da palmeira do açaizeiro também se extrai outro delicioso petisco: o palmito. A derrubada desordenada dessa
prodigiosa palmeira está preocupando os ecologistas e os consumidores do licoroso suco.

Segundo a lenda, uma tribo que vivia onde hoje está situada a cidade de Belém, atravessava um período negro de
escassez, obrigando o cacique Itaki a decretar a morte de toda criança nascida a partir daquela data, como
medida de controle demográfico da tribo.

Mas, eis que Iaçá, filha do cacique, dá a luz a uma menina. Apesar de ser neta do cacique a recém-nascida
deveria ser submetida à pesada lei, debalde os rogos da infeliz e desventurada mãe.
Cumprida a setença, a pobre Iaçá chora por dias, sempre orando a Tupã para que mostre um jeito de acabar com
as mortes dos inocentes. Numa noite ela ouve um choro de criança; tentando localizá-lo, descobre sua filhinha
encostada numa esguia palmeira, sorrindo-lhe, mas ao abraçar a filha, esta desaparece e Iaçá vê-se atracada ao
tronco da palmeira. No dia seguinte, o cacique encontra o corpo da filha abraçado ao tronco de uma palmeira,
que trazia um cacho de frutinhas negras como os olhos de Iaçá. Imediatamente ordenou que esmagasse as frutas
num alguidar e ao suco obtido batizou de Açai, que é o nome da filha ao contrário.

Lenda da Mandioca
Reza a lenda que a filha de um cacique apareceu grávida, sem que se soubesse como, para a tristeza do pai, que a
queria casada com um bravo e ilustre guerreiro. Muito triste e decepcionado com a filha, o cacique vivia infeliz,
até o dia que um homem branco lhe apareceu em sonho e lhe disse que sua filha não o havia enganado; ela
continuava pura e imaculada. Isso fez voltar a alegria ao coração do índio, que se desculpou com a filha pelos
maus tratos que a submetera antes.

Passado alguns meses nasceu uma linda menina, de pele muito branca, que recebeu o nome de MANI, e se
tornou querida por todos da tribo, sendo a alegria de sua mãe e do velho cacique, seu avô. Porém a alegria foi de
pouca duração: a criança amanheceu morta em sua rede. Em desespero a índia resolve enterrá-la à entrada da
maloca, para poder ficar mais perto da filha. E todos os dias ela ia chorar sobre o túmulo da pequenina.

Suas lágrimas fizeram brotar uma planta nova e estranha a todos os índios. A mãe lacrimosa alegrou-se e
começou a cuidar da plantinha, vendo ali a presença de sua amada filha, até que algum tempo depois percebeu
algo saindo da terra em volta da planta. Pensando tratar-se da filha que retornava à vida, a índia cava a terra com
as mãos, porém encontra umas raízes grossas que retira da terra imaginando ser o corpo da pranteada filha.

Todos se aproximaram curiosos, querendo saber que milagre era aquele. Ao retirarem a casca grossa viram que
as raízes eram brancas como o corpo de Mani e deram-lhe o nome de manioca, a casa ou corpo de Mani.
“Acreditando ser um milagre de Tupã, os índios comeram essas raízes e fizeram com as mesmas um vinho
delicioso.”

Boiúna ou Cobra Grande


Falar das coisas da Hiléia no sentido superlativo, pode parecer exagero para o estrangeiro ou turista acidental.
Contudo, a grandiosidade da Amazônia não se reflete apenas no seu gigantismo territorial, ela está presente
também nos elementos da flora e da fauna, na malha hidrográfica, nas riquezas do subsolo, e mais ainda, nos
mistérios da natureza, nos segredos ocultados pelos inúmeros igarapés, igapós, lagos, furos, etc. Arvores
monumentais, rios cuja margem oposta não se consegue enxergar, e uma considerável gama de fatos estranhos
fazem parte do cotidiano do nosso caboclo, mas que deslumbram os visitantes. É nesse palco que o mito da
Cobra Grande mescla-se com o réptil, no cadinho das crendices populares.

De fato existem cobras enormes, grossas e compridas como os troncos das árvores, e quase todos que costumam
viajar pela complexa teia aquática da região, bem como os ribeirinhos e moradores das matas, conhecem
histórias da Cobra Grande ou já viram a "bicha" nalguma de suas aparições. Qualquer um que percorrer esses
interiores poderá recolher dezenas de relatos que contam tanto do mito quanto dos ofídios monstruosos.

A Boiúna é uma corruptela de Mboi (cobra) e Una (preta), designação aplicada com mais propriedade ao mito;
ao réptil é boiaçu ou boiguaçu, a sucuriju, classificada dentre as maiores cobras do mundo, juntamente com a
jibóia e a sucuri. No Pantanal matogrossence a boiaçu é batizada de Anaconda.

Lendas que falam de dragões e serpentes de tamanho descomunal pertencem as mais diversas culturas e
civilizações, desde tempos remotos, chegando em alguns povos a constituir motivo de adoração e base de seitas
de fanáticos. O mito da cobra grande é um dos mais antigos.

Cobra Norato
Outra cobra famosa das lendas hileanas é Cobra Norato, um jovem encantado que durante a noite se desencanta
e vira gente, tal como acontece com o Boto. Assumindo sua condição humana, NORATO freqüenta as festas,
dança muito, namora as ribeirinhas e desaparece antes do amanhecer.

Este é um mito genuinamente paraense, se bem que jovens belos e formosos transformados em bichos lembram
as histórias de príncipes encantados em sapos; de donzelas enfeitiçadas e princesas prisioneiras, dos contos
europeus.

Nossa lenda diz que uma cabocla de nome Zelina deu à luz a um casal de gêmeos: Honorato e Maria Caninana,
duas cobras. Jogou-as no rio onde se criaram, mas Maria Caninana vivia fazendo malvadezas até que foi morta
pelo irmão, que tinha bom coração.

Sempre que assumia sua forma humana ia ele visitar sua mãe, a quem implorava que o fosse desencantar. Para
que o encanto fosse quebrado, deveria chegar onde estava o corpo adormecido da serpente, por um pouco de
leite na sua boca e ferir-lhe a cabeça, de forma que sangrasse. A mulher por medo nunca chegou perto do réptil,
até que um soldado da guarnição da ilha de Cametá livrou o jovem da maldição.

Bibliografia
BEZERRA, Ararê Marrocos. Amazônia, lendas e mitos. Belém: EMBRAPA, 1985.

CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Brasília: INL 1 MEC, 1972.

OLIVEIRA, José Coutinho de. Folclore amazônico. Belém: Ed. São José, 1951, v. 1.

PAULA, Ana Maria T. de. Mitos e lendas da Amazônia. Belém: DEMEC1EMBRATEL; 1985.

Postado por Prof Leonardo às 14:56

http://parahistorico.blogspot.com/2009/02/mitos-e-lendas-da-amazonia.html vu le 5/04/2011

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