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Resenha : Muito além da gramática – por um ensino de línguas sem pedras no

caminho – Irandé Antunes

Carmen Lúcia Bueno Valle

Irandé Antunes, ao apresentar o conceito de norma padrão em determinado


capítulo de sua obra Muito além da Gramática, discorre sobre as questões que
permeiam a determinação de uma norma lingüística como aquela de maior prestígio
social. Representativa do grupo de domínio, que viu na língua uma forma legítima de
preservação de seus valores e manutenção de usos lingüísticos gerais e comuns capazes
de garantir a interação competente aos iguais, a norma dita padrão acaba por
desconsiderar a existência de outras normas que particularizam os falares de outras
pessoas que não aquelas que fazem parte do grupo que detém o poder.

Poderoso elemento de identidade nacional, haja vista a necessidade de um país


ter a sua língua codificada e sistematizada até mesmo por questões políticas,
econômicas e sociais, a sociedade letrada - ao desconsiderar, e estigmatizar, a existência
de outras variantes lingüísticas – acaba fazendo da língua um objeto de discriminação
social e regional, dividindo e classificando a sociedade entre os que pertencem e os que
não pertencem , entre superiores e inferiores, em prestigiados e desprestigiados. Assim,
de forma incoerente, a língua que deveria ser um elemento de união de um povo, marca
de sua identidade passa a ser um forte provocador de estratificação social.

Vale ressaltar a questão do sentimento de nacionalidade, de patriotismo


observado em dias de jogos do Brasil em momento de Copa do Mundo. Em cada
pessoa, uma marca de seu país, concretizada pelo uso de uma linguagem não verbal: as
cores verde e amarelo. Interessante notar como a linguagem tem o potencial de unir
pobres e ricos, letrados e iletrados, eliminando as diferenças sociais, econômicas e
políticas. Daí a importância da linguagem na representação de um povo. No entanto,
contraditoriamente, o mesmo não ocorre com a linguagem verbal que, ao eleger uma
norma como a ideal, se torna um elemento ajuizador que valora e exclui aqueles que
dela não fazem uso.
A autora afirma, em seguida, que isolada na condição de ideal que lhe foi
conferida, a norma padrão parece desconsiderar os usos lingüísticos observáveis no
funcionamento da língua e que diferem de seus parâmetros tidos como os mais corretos.
A língua é variável e suas mudanças, referendadas pelo uso cotidiano que dela se faz,
não podem ser ignoradas e tachadas de intoleráveis por extrapolarem os limites
estabelecidos pela norma padrão.

No intuito de determinar os parâmetros em que a norma padrão se baseia para


estabelecer as suas regras, Antunes aponta a literatura como o mais evidente deles. Os
textos literários são entendidos como aqueles que trazem exemplos de bom uso da
língua e não modelos a serem seguidos como denotado por aqueles que criticam o uso
de textos canônicos da literatura. Além deles, a autora atribui aos textos de cunho
jornalístico, didático, científico, oficiais como referenciais no estabelecimento da norma
culta.

Sendo esses os parâmetros apontados pela autora como aqueles que determinam
as regras da norma padrão, torna-se evidente que o percurso a ser feito no
estabelecimento de uma norma lingüística deve ser aquele que parte da observação do
uso para a norma.

Por meio de exemplos e reiteradas postulações de que a norma dita padrão é


aquela que rege a língua de maior prestígio social, sim, ( inclusive em resposta àqueles
que dizem ser os lingüistas os defensores do vale-tudo na língua) enfatiza-se que não há
razões para desconsiderar as diversas normas identificáveis em outros falares. Afirma
Antunes que não há língua pior ou melhor e que todas as normas são legítimas e válidas
se empregadas em adequadas situações. Essa compreensão lingüística é que se pretende
como a ideal de ser revelada ao aluno, no ensino do Português.

Obviamente, conclui a lingüista, essa concepção de língua, para ser trabalhada


emn sala de aula, exige uma série de posturas fundamentadas nas considerações feitas
pela autora ao longo do texto. Algumas mudanças nas estratégias de abordagem do
texto, na reflexão sobre os usos da língua a partir de seu funcionamento efetivo
constituirão o passo primeiro na mudança de postura do professor de português no
exercício de sua função.

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