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NA ÁREA DE SAÚDE
CONCEITOS BÁSICOS
Uma outra distinção conceitual a ser feita é a de moral individual e moral social. A
primeira se centra no imperativo categórico da consciência, que deve ser obedecida custe
o que custar, sem importar as conseqüências. É a dimensão do que Max Weber
denominava de “moral de convicção”, que não admite negociação, dando ensejo à moral
do “sim, sim, não, não” do Evangelho [cf. Weber, 1982]. A segunda, a moral social,
consiste no “mínimo moral” a ser exigido dos membros de uma comunidade nacional (ou
da comunidade internacional), para que se torne possível o convívio coletivo, com respeito
aos direitos humanos básicos. Como lembra, com muita propriedade, a pensadora
espanhola Adela Cortina [1989: 35], a moral social é expressão, hoje, do princípio
kantiano que traduziu, na modernidade, a dimensão absoluta da pessoa, princípio que reza
assim, conforme as palavras do próprio Kant: “(...) O homem e, em geral, todo ser
racional, existe como fim em si mesmo, não só como meio para quaisquer usos desta ou
daquela vontade: deve, em todas as suas ações, não só nas dirigidas a si mesmo, mas
(também), nas dirigidas aos demais seres racionais, ser considerado ao mesmo tempo
como fim” [apud Cortina, 1989: 35-36].
Isso não significa, de forma alguma, negar o fato de que a moral ocidental repousa
sobre duas colunas: a tradição religiosa judaico-cristã, no seio da qual emergiu o conceito
de pessoa, e a tradição helenística, em cujo contexto se aperfeiçoou o ideal do lógos
racional. Apenas é bom lembrar que a partir do século XVIII, com Kant, a moral ocidental
ganhou uma formulação estritamente racional, com a transposição, para o terreno do
imperativo categórico (que manda tratar a pessoa como fim e não como meio), do
mandamento cristão da caridade [cf. Paim, Prota, Vélez, 1988, I].
Corrente Norte-Americana.
O Professor S. Toulmin.
1) A racionalidade humana é assaz limitada e, em decorrência disso, nunca
pode esgotar a realidade.
Corrente Alemã.
Os principais autores são: Jürgen Habermas [1984, 1987, 1989, 1990] e Karl Otto
Apel [1985]. As teses fundamentais desta corrente são as seguintes:
Corrente Espanhola.
Os principais autores são: Diego Gracia [1989, 1990, 1991], Pedro Laín Entralgo
[1961] e Xavier Zubiri [1944, 1963, 1982]. As teses fundamentais desta corrente,
tributária do neokantismo, do pensamento de José Ortega y Gasset, da filosofia
hermenêutica (Heidegger) e da fenomenologia husserliana, são as seguintes:
Corrente Vaticana.
Muito caminho deveremos percorrer se quisermos que a nossa sociedade tenha uma
base sólida sobre a qual possam ser formuladas as normas procedimentais que têm relação
com a bioética. O primeiro passo será, certamente, suscitar o debate no seio da sociedade,
em relação à “ética de mínimos” ou moral social, seja nas universidades, nas associações
profissionais, nos sindicatos, nas igrejas, nos partidos políticos, no congresso nacional,
etc. O segundo passo consistirá em discutir, à luz da moral social básica, as questões
relativas à preservação da vida humana, ou seja, a problemática da bioética. Estas
questões relacionam-se com a sociedade como um todo e não podem ficar em mãos
exclusivamente do Estado ou de uma corporação profissional. O terceiro passo consiste na
análise de problemas morais concretos relativos à vida humana, por parte de médicos e
demais profissionais da saúde, ao nível das “comissões de ética” que já existem am alguns
hospitais. É digno de menção, neste campo particular, o trabalho desenvolvido, nas
últimas três décadas junto aos hospitais paulistas, pelo padre e pensador francês Hubert
Lepargneur, o autor que tem publicado mais títulos dedicados às questões de bioética no
Brasil.
Termino esta exposição lembrando uma outra condição necessária, para que a
nossa sociedade possa chegar à formulação da moral social: a educação para a cidadania.
Sem equacionarmos esse problema, teremos muitos habitantes deste país alheios à
participação cidadã. Infelizmente, essa questão não foi ainda equacionada no Brasil,
sendo o ensino básico um funil que exclui boa parte das crianças que nele entram. Mas
este seria assunto para uma outra oportunidade.
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