Vous êtes sur la page 1sur 89

PATOLOGI

Paulo Sérgio Saliba


Ciências Biológicas
2.010

Índice
Unidade 1 – Introdução .......................................................................... 3
Unidade 2 – Degenerações e Infiltrações ..............................................13
Unidade 3 – Calcificações Patológicas ................................................. 19
Unidade 4 – Pigmentação ..................................................................... 20
Unidade 5 – Alterações Circulatórias .................................................... 23
Unidade 6 – Necrose ............................................................................. 31
Unidade 7 – Inflamação ........................................................................ 36
Unidade 8 – Reparação ........................................................................ 50
Unidade 9 – Alterações de Crescimento e Diferenciação ..................... 51
Unidade 10 – Neoplasias ...................................................................... 57
Unidade 11 – Fundamentos de Patologia da Nutrição .......................... 62

2
Unidade 1
Introdução
Em poucas palavras:
A Patologia é o ramo da Medicina que se dedica ao estudo das doenças,
no seu sentido mais amplo. O termo vem das palavras gregas pathos
(sofrimento) e logos (estudo). Hoje, a entendemos como a ciência que tenta
explicar, cientificamente, o que são as doenças, como se originam, e como
atuam alterando a anatomia e a fisiologia dos órgãos e sistemas. Lança,
portanto, as bases racionais do diagnóstico, tratamento e prognóstico. Não
seria exagero dizer que a Patologia sensu latu é a espinha dorsal da Medicina
moderna. É ela que fundamenta a Clínica, possibilitando a correta
interpretação e valorização de sinais e sintomas. Todas as especialidades
médicas estão alicerçadas no estudo da Patologia dos respectivos aparelhos.

Objetivos da Disciplina
- Estudar o que são as doenças, como se originam, e como atuam
alterando a anatomia e a fisiologia dos órgãos e sistemas;
- Lançar as bases racionais do diagnóstico, tratamento e prognóstico;
- Possibilitar a correta interpretação e valorização de sinais e sintomas;
fundamentando a clínica
- Ampliar a consciência universalista do acadêmico de biologia.

Breve Histórico

Na Antiguidade, como não havia conhecimento adequado da anatomia


ou das funções dos órgãos, as doenças eram imaginadas como desequilíbrios
de ‘humores’. Na Idade Média, pouco se avançou, pois dissecações eram
proibidas. Foi só a partir do Renascimento, através de estudos anatômicos

3
pormenorizados como o de Vesalius, que a Anatomia Normal foi definida. Este
foi o primeiro e indispensável passo. Como distinguir o anormal sem ter o
normal como pano de fundo? A partir daí, tudo o que diferia do normal passou
a constituir uma alteração patológica.

Assim nasceu, no século XVIII, a Anatomia Patológica, ou seja, o estudo


sistemático das alterações morfológicas que as doenças causam nos órgãos e
tecidos. Seu grande pai foi o italiano Morgagni, o primeiro que reuniu suas
observações em um livro, correlacionando os sintomas e sinais clínicos com
achados de autópsia. A Patologia nasceu, portanto, como uma ciência
morfológica, porque a observação visual direta é fácil e não exige instrumental.

O próximo grande passo na compreensão das doenças foi a utilização


do microscópio para o estudo dos tecidos normais e doentes, e o
reconhecimento das células como unidade do organismo vivo. Temos então a
figura exponencial de Virchow, o patologista alemão que abriu as primeiras
grandes clareiras no conhecimento da Patologia Celular. Mas foi a partir do
século XX que as outras disciplinas começaram verdadeiramente a interagir
com a Anatomia Patológica para lançar as bases da Medicina moderna.

O Ponto de Mutação
Fritjof CAPRA

O constante fluxo de transformação e mudança é um aspecto essencial


do universo. A mudança não ocorre como conseqüência de alguma força, mas
é uma tendência natural, inata em todas as coisas e situações. O universo está
empenhado em um movimento e uma atividade incessantes, num contínuo
processo cósmico chamado tao – o caminho.

4
I CHING

YIN YANG

Terra Céu
Lua Sol
Noite Dia
Inverno Verão
Umidade Secura
Frescor Calidez
Interior Superfície
Feminino Masculino
Contrátil Expansivo
Conservador Exigente
Receptivo Agressivo
Cooperativo Competitivo
Intuitivo Racional
Sintético Analítico

A sociedade atual favorece sistematicamente o yang, em detrimento do


yin.
+
Sistema patriarcal + cultura sensualista = profundo desequilíbrio cultural
= raiz de nossa crise atual:

Doenças (HIV, câncer, depressão, dengue, febre amarela);


Crimes violentos, suicídios, acidentes (aumento entre jovens),
infanticídio, abandono de menores;
Inflação, desemprego e distribuição desigual da renda;
Deterioração do meio ambiente natural e ameaça de esgotamento
energético

5
Saúde individual
Saúde social

Estrutura celular Componente macromolecular

núcleos DNA e outras proteínas


Mitocôndrias Lipoproteínas, fosfolipídios
Lisossomos Proteínas
Ribossomos RNA, proteínas
Membranas Lipoproteínas
Citoplasma Proteínas

Saúde ecológica

Estruturas Celulares

Cada célula tem a propriedade de adquirir características e funções


peculiares. A união de células com características comuns é denominada de
tecido. O tecido, pois, é composto predominantemente por células e pela
substância intercelular. Formada pelas mesmas moléculas primárias que
compõem a célula, a substância intercelular é responsável pela arquitetura
básica na qual a célula se apóia. É na substância intercelular que se
processam as comunicações célula a célula, aspecto biológico muito estudado
atualmente na Patologia Moderna.
Principais componentes macromoleculares encontrados na estrutura
celular:

Conceito de Saúde e Doença


Os conceitos de Saúde e Doença invariavelmente referem-se aos
termos "morfostase" e "homeostase". A MORFOSTASE e a HOMEOSTASE
referem-se, respectivamente, ao equilíbrio da forma e da função. Portanto,
pode-se dizer que:

"Saúde é a manutenção da morfostase e homeostase".

6
Nos estados de saúde, as reações energéticas do organismo ocorrem
respeitando padrões de tempo, de local e de intensidade que indicam estados
de normalidade dessas reações.
Reações Homólogas: são as reações que obedecem a esses padrões
de normalidade; são comuns a todos os indivíduos de uma determinada
espécie, podendo-se determinar, com isso, suas formas e funções normais.

“Doença é resultado da ação de uma agressão que leva a uma alteração


não compensada da homeostase e ou da morfostase."
O conceito de doença utiliza como critérios de alterações as reações
heterólogas, que são as reações homólogas em situações de anormalidade.

O distanciamento dos padrões de normalidade e o estabelecimento do


processo patológico são norteados por reações ditas Heterólogas que são
resultado da alteração das reações homólogas e que modificam, assim, o
estado normal do organismo. Compreendem, portanto, alterações:

- no tempo,

- no local,

- e na intensidade das respostas corpóreas a agressões, subdividindo-se


em:

1) - reações de heterocronia: o tempo de resposta do organismo é


alterado. Exemplo: crianças com 5 anos que já apresentam pêlos na face.

2) - heterotopia: quando há o aparecimento de um tecido em um local


onde não é comumente encontrado. Exemplo: a presença de glândulas
sebáceas (Grânulos de Fordyce) na mucosa bucal.

7
3) - heterometria: alteração na intensidade da resposta do organismo:
Ex.: O aumento da quantidade de muco nas vias respiratórias, fato comum de
estados gripais, é uma manifestação corpórea rotineira.

Uma Abordagem Mais Ampla de Saúde e Doença

“O que você acha que é saúde neste mundo cercado de doenças? Não
basta achar que se alguém não tem doença, está bem de saúde – essa dádiva
que se manifesta pelo entusiasmo, disposição e alegria de viver. Sob esse
critério, passe os olhos à sua volta, analisando quem realmente pode ser
considerado saudável nos dias de hoje. A maioria sobrevive no perigoso limiar
de ainda não ter manifestada uma enfermidade física apesar de sentir-se sem
energia, mal, e desconhece a causa disso.

As pessoas têm enorme dificuldade em perceber a diferença entre


saúde e doença porque nossa cultura usa inadequadamente o termo saúde.
Por exemplo: temos um Ministério da Doença, que, como o nome já diz, cuida
da doença, porém é chamado de Ministério da Saúde. O país se encontra
numa situação lamentável nesse aspecto da doença.

Mas o que mais deve deixar a cabeça do brasileiro sem saber o que vem
a ser saúde é, sem dúvida, o chamado “plano de saúde”. Todos têm esse plano
de doença necessário para o caso de internações, exames laboratoriais,
consultas médicas... Como se pode perceber, ele se ocupa unicamente em
atender a doença. Nada nesse planos privilegia a saúde.

É obvio que, com esse tipo de enfoque, as pessoas não podem mesmo
entender o que vem a ser saúde. Isso confunde as pessoas que acham que,
porque não estão doentes, têm saúde. Nem sempre isso é verdade. A maioria
das pessoas não está doente, mas também não têm saúde.

Saúde é alegria de viver. É estar encantado com a vida. É ter


entusiasmo, energia, vitalidade, disposição. Saúde é um processo de equilíbrio
do organismo. São milhões de mecanismos interagindo e movimentando o
interior do corpo para que tudo funcione adequadamente. A pessoa encantada
com a vida tem o cérebro trabalhando na formação de hormônios de altíssima

8
qualidade que vão nutrir a perfeita elaboração de química interna nos bilhões
de reações que ocorrem no organismo todo o tempo.

O doente é aquela pessoa que rompeu com os fundamentos básicos da


vida. Rompeu com os princípios simples, como dormir, alimentar-se
adequadamente, ter uma atividade física sistemática, relaxar...”

Nuno Cobra Ribeiro

Etiopatogenia da doença:

É a relação da sua causa (etiologia) com a sequência de acontecimentos


resultantes como respostas às agressões.

O caráter das respostas corpóreas às agressões pode ser de três tipos:

a) Submissão passiva: o tecido não dispensa energia (ATP) nas


alterações morfológicas e funcionais consequentes à agressão, ou seja,
participa passivamente. As Degenerações e Infiltrações pertencem a esse
grupo.

b) Submissão ativa: o tecido participa ativamente em sua resposta à


agressão, isto é, há um gasto de energia (ATP) para alcançar a morfostase e a
homeostase. Nesse grupo, insere-se a Inflamação.

c) Submissão adaptativa: o tecido adapta-se à agressão, ora às custas


do gasto de energia, ora passivamente. As Alterações de Crescimento e as
Neoplasias encaixam-se nesse grupo.

Alterações Reversíveis e Irreversíveis

As lesões celulares podem ser Reversíveis, com restituição da


morfostase e da homeostase e, portanto, da normalidade, e Irreversíveis, cujo
processo caminha para a morte celular. Ambos os termos constituem o grupo

9
das Alterações Regressivas, ou seja, das lesões relacionadas com as
alterações metabólicas celulares.

Inúmeras são as causas ou os agentes responsáveis pelas alterações


regressivas:

- os agentes químicos, endógenos ou exógenos, que causam injúrias às


células (ex.: tetracloreto de carbono, álcool);

- os agentes físicos: de natureza mecânica, elétrica, radioativa, de


mudanças na temperatura;

- os agentes biológicos: vírus, bactérias, fungos.

- A desnutrição e as anomalias genéticas também são causas de lesões


celulares, constituindo grupos especiais de agentes agressores, por vezes
associados com os grupos anteriores.

Quando o agente agressor entra em contato com a célula, uma


intrincada cascata de reações bioquímicas se inicia em cada sistema celular
atingido. A complexidade dessas reações é tal que é difícil precisar a relação
da causa com o sistema celular lesado.

Bruce Lipton
Pesquisador de células-tronco
O ambiente exerce controle sobre as células a partir de suas
membranas. Isso implica uma íntima relação mente-corpo.
Desde 1.980, os cientistas sabem que os genes não controlam a vida,
mas a maior parte da imprensa divulga o contrário.
Biólogos convencionais consideram que o núcleo (que contém os genes)
controla a vida.
Já a “nova” biologia diz que:
A membrana celular (a pele da célula) é a estrutura que primariamente controla
o comportamento e a genética de um organismo.

10
A membrana citoplasmática contém interruptores moleculares que
regulam as funções da célula em resposta a sinais do ambiente; ou seja, o
ambiente controla a célula.
A mecânica quântica demonstra que as forças invisíveis em movimento
nos campos são os fatores fundamentais que modelam a matéria (morfostase).
Energia vibracional, como a luz, som e outras energias eletromagnéticas
influenciam profundamente todas as funções celulares (homeostase).
Quem está no comando do corpo:
• Nas primeiras semanas do desenvolvimento do embrião são os genes.
• Na fase fetal:
• Morfostase e homeostase são ajustadas de acordo com a percepção da
mãe, que, via placenta, influencia a genética e a programação
comportamental do feto.
Como os sinais ambientais são lidos e interpretados pelas percepções da
mente, ela se torna a força básica que, em última instância, modela a vida de
uma pessoa.
As funções do corpo derivam do movimento das moléculas (basicamente
proteínas). As moléculas mudam de forma em resposta a cargas
eletromagnéticas ambientais. Hormônios e remédios podem oferecer essas
cargas indutoras de movimentos.
Campos de energia vibracional também fazem as moléculas mudar de
forma e ativar suas funções. Enzimas de proteínas podem ser ativadas num
tubo de ensaio por substâncias químicas e por freqüências eletromagnéticas,
como onda de luz.
A mente também gera campos eletromagnéticos que são captados pela
membrana citoplasmática.
Darwin observou que a mutação seria aleatória, não influenciada pelo
meio e por seleção natural. Desde 1.988, tem se verificado que quando
estressados os organismos têm mecanismos de adaptação molecular para
selecionar genes e alterar o seu código genético, ou seja, podem mudar sua
genética em resposta a experiências ambientais.
Em 1.967, Lipton distribuiu células idênticas em 3 placas de cultura com
diferentes meios de crescimento. Ele observou que os 3 grupos celulares se
diferenciaram em:

11
• 1. musculares
• 2. ósseas
• 3. adipócitos.

Normas para Aula Prática

1. Acenda a luz do microscópio.

2. Gire o revolver, encaixe a a objetiva de menor aumento.

3. Coloque a lâmina na platina fixando-a.

4. Utilizando os parafusos macro e micrométrico ( nessa ordem), coloque


a lâmina em foco.

5. Percorra o campo com o charriot.

6. Troque a objetiva pela de médio aumento. Percorra novamente o


campo.

7. Troque a objetiva pela de grande aumento. Percorra o campo.

8. Ao terminar , volte a objetiva de menor aumento, retire e guarde a


lâmina.

9. No final de suas atividades, desligue e cubra o microscópio.

Observação das lâminas

Coloração Hematoxilina e Eosina (HE)

A eosina cora em róseo e a hematoxicilina cora em roxo.

12
Unidade 2

Degenerações e Infiltrações

“A DEGENERAÇÃO é um processo regressivo reversível, resultante de


lesões não-letais, com alterações morfológicas e funcionais da célula”.

“A INFILTRAÇÃO também é um processo regressivo reversível, cujas


alterações morfológicas e funcionais estão localizadas no interstício”.

A característica básica desse grupo de lesões é o seu caráter de


reversibilidade. Pertencem ao grupo das degenerações as alterações hídricas,
lipídicas e protéicas.

A) alteração hídrica;

B) alteração lipídica;

C) infiltração protéica;

D) degeneração protéica

Alterações Hídricas Intracelulares

Inchação Turva ou Edema Celular

“Rápida entrada de água para o interior da célula”.

A teoria para explicar o distúrbio hidroeletrolítico presente na inchação


turva refere-se ao mau funcionamento da bomba de sódio e potássio. Acredita-
se que essa bomba esteja localizada na membrana plasmática e que sofreria
as conseqüências oriundas das alterações dessa membrana provocadas por
uma agressão.

A patogenia envolvida com essa alteração regressiva refere-se a um


desequilíbrio iônico entre o Na e o K. O Na fica retido intracelularmente, o que
provoca a rápida entrada de água na célula e a retenção de K
extracelularmente. A ausência do potássio no meio intracelular contribui para

13
uma diminuição da atividade mitocondrial, uma vez que esse íon é essencial
para o funcionamento da mitocôndria.

Alterações Lipídicas

Esteatose

“Acúmulo de gordura neutra no citoplasma da célula agredida”. A


armazenagem normal de gordura neutra nas células é feita por intermédio da
ligação físico-química dessa substância com fosfolípides (lipídeos combinados
com fósforo).

As causas mais comuns de mudança metabólica na célula que originam


a esteatose podem ser:

• Tóxica: substância tóxica que provoque diminuição do


metabolismo celular. Ex.: álcool, tetracloreto de carbono.
• Anóxica: falta de oxigênio leva à queda de ATP, diminuindo,
assim, a síntese de fosfolipídios pela redução metabólica.
• Nutricional: carência nutricional induz uma diminuição na
quantidade de moléculas fosfolipídicas, alterando a sua relação com a gordura
neutra, tornando o componente lipídico visível na célula. Uma dieta rica em
gorduras também pode originar a esteatose. A absorção direta desses lipídios
pela célula provoca o acúmulo gorduroso no citoplasma.

O fígado é um dos orgão mais afetados pela esteatose, além do coração


e dos rins, por participar diretamente no mecanismo de metabolização das

14
gorduras. Resumidamente, as gorduras são absorvidas pelo intestino, passam
para o sangue e chegam ao fígado, órgão responsável pela oxidação dos
ácidos graxos e pela mobilização de mais gordura dos depósitos adiposos
quando esta é necessária. As células hepáticas são, pois, mais sensíveis a
solventes de gorduras, como o tetracloreto de carbono, o clorofórmio e o álcool.
Esses agentes podem atuar diretamente na estrutura da gordura ou agir sobre
a mitocôndria da célula, comprometendo a sua função.

Aterosclerose

“Degeneração associada à presença de gorduras, específica da túnica


íntima das artérias elásticas de grande calibre”.

A ateroesclerose é um processo patológico reversível (ainda que difícil)


em que se observa alteração da estrutura da camada íntima das grandes

15
artérias decorrente da presença heterotópica de gorduras. Essa camada é a
que mantém contato direto com o fluxo sanguíneo.

Patogenia

Provocada por estímulos agressores que, atuando na parede endotelial,


provocam o aparecimento de fendas na camada íntima. Estas, durante o fluxo
sangüíneo, recebem o plasma composto por substâncias de baixo peso
molecular — em especial os lipídios —, que passam a se armazenar nas
células dessa camada. A presença heterotópica das gorduras inicia a mudança
estrutural da parede endotelial das grandes artérias.

Podem-se dividir essas alterações em duas fases:

• Fase de estrias lipoídicas


• Fase de placas de ateroma.

Alterações Protéicas (do tipo hialina)

16
Alterações regressivas celulares que provocam o aparecimento de
material nos tecidos cujo aspecto é róseo e vítreo nos preparos histológicos
corados por hematoxilina e eosina.

Material = hialino: é constituído predominantemente por proteínas - mais


comumente representadas por fibras, como a colágena - e uma pequena
quantidade de carboidratos.

A presença desse material intra ou extracelularmente é indicativo da


ocorrência de agressões celulares.

As alterações hialinas intracelulares: o corpúsculo de Russell constitui


um exemplo, em que há acúmulo de imunoglobulinas (do tipo IgG) no interior
de plasmócitos. A célula fica com uma coloração intensamente eosinofílica
devido a esse acúmulo protéico.

Os hialinos extracelulares estão localizados nos processos de


arterioloesclerose, de hialinização com fibras colágenas e de amiloidose.

Arterioloesclerose

Alteração da túnica média das paredes das arteríolas, que passam a


apresentar material hialino como substituto do tecido muscular liso presente
nessa camada. Comum em indivíduos senis, diabéticos e/ou hipertensos,
situações com estresse metabólico.

17
Hialinização por fibras colágenas

Desenvolvem-se nos casos em que ocorrem reações heterólogas nos


mecanismos de cicatrização. Pode constituir os quelóides e as cicatrizes de
ferimentos extensos. Há perda de elasticidade dos tecidos de cicatrização, que
se tornam mais brilhantes e mais rígidos clinicamente.

Corte histológico de cicatriz:

Grande quantidade de colágeno

Poucas células

Corte histológico de quelóide

Deposição de colágeno

Amiloidose

18
Deposição de material hialínico de natureza protéica no interstício, de
maneira localizada ou generalizada.

Etiologia: uma provável degeneração macrofágica, com redução


metabólica nessa célula e uma conseqüente diminuição de sua atividade
lisossômica. Ocorre um acúmulo de substâncias protéicas não digeridas em
seu citoplasma. A secreção das mesmas no interstício origina a substância
amilóide.

A amiloidose, além de poder ser localizada ou generalizada, possui


outras classificações:

1. Amiloidose primária: não existe uma causa evidente para o


aparecimento da amiloidose;
2. Amiloidose secundária: o aparecimento da amiloidose se
correlaciona com causas primárias, como uma inflamação crônica;
3. Amiloidose em cânceres;
4. Amiloidose em forma de tumores isolados;
5. miloidose com padrões hereditários;
6. Amiloidose associada à senilidade.

A substância amilóide assume uma

coloração róseo-avermelhada quando

corada com o vermelho-congo

Unidade 3

Calcificações Patológicas

19
Calcificação heterotópica sobre matriz orgânica não previamente
preparada; é a deposição anormal de sais de cálcio e outros sais minerais
heterotopicamente. Em outras palavras: a calcificação patológica se localiza
fora do tecido ósseo ou dental, em situações de alteração da homeostase e da
morfostase.

Calcificação Distrófica

É a incrustação de sais em tecidos previamente lesados, com processos


regressivos ou necrose. Exemplo: calcificações distróficas nas paredes
vasculares de indivíduos senis com ateroesclerose.

Calcificação Metastática

Calcificação heterotópica provocada pelo aumento da calcemia em


tecidos onde não exista necessariamente lesão prévia. Podem ocorrer em
pulmões, vasos, sangüíneos, fígado e mucosa gástrica.

Calculose ou Litíase

Calcificação em estruturas tubulares diferentes de vasos sangüíneos.

Patogenia

A formação dos cálculos se resume, inicialmente, na formação de um


núcleo calcificado de forma distrófica; esse núcleo se desloca para a luz do
ducto, onde cresce devido a sucessivas incrustações ao redor de sua estrutura.

A calculose pode levar à obstrução, à lesão ou à infecção de ductos,


principalmente do pâncreas, da glândula salivar, da próstata e dos tratos
urinário e biliar.

Unidade 4
Pigmentação
Alteração no grau de pigmentação do interior das células.

20
O acúmulo anormal de pigmentos ou a sua diminuição também são
indicativos de que a célula sofreu agressões. Uma pigmentação anormal é
mais um sinal de perda da homeostase e da morfostase celular, portanto, é
patológica.

A pigmentação patológica pode ser:

- exógena, cujos pigmentos são de origem externa ao organismo,

- endógena, formada a partir de pigmentos naturais do corpo.

Pigmentação Exógena

Pigmentação por pigmentos de origem externa ao corpo: tatuagem,


saturnismo.

Pigmentação Endógena

Pigmentação por pigmentos produzidos dentro do corpo.

A pigmentação endógena pode ser dividida em dois grupos:

1 - grupo dos pigmentos hemáticos ou hemoglobinógenos, oriundos da


lise da hemoglobina,

2 - grupo dos pigmentos melânicos, originados da melanina.

PIGMENTOS HEMÁTICOS OU HEMOGLOBINÓGENOS

Esses pigmentos se originam da hemoglobina. Sua porção protéica é


chamada de globina. A lise dessa estrutura origina os pigmentos denominados
de hemossiderina e bilirrubina.

Bilirrubina: é o produto da lise do anel pirrólico, sem a presença de ferro.


Conjugada ao ácido glucurônico pelo hepatócito, a bilirrubina torna-se mais
difusível, não se concentrando nas células que fagocitam hemácias, o que
provoca um aumento generalizado desse pigmento, denominado de icterícia.

21
Tem sua origem nos casos de lise hemática, de doença hepatocítica ou de
obstrução das vias biliares.

Pigmentos Melânicos

Produzida por melanoblastos, a melanina tem cor castanho-enegrecida,


sendo responsável pela coloração das mucosas, pele, globo ocular, retina,
neurônios. O processo de síntese da melanina é controlado por hormônios,
principalmente da hipófise e da supra-renal, e pelos hormônios sexuais. Casos
de alterações nessas glândulas podem acarretar em aumentos generalizados
da melanina. Exposições aos raios ultravioleta também provocam esses
efeitos.

Os aumentos localizados da melanina podem se manifestar sob as


seguintes formas:

Nevus celulares: localização heterotópica dos melanoblastos (camada


basal da epiderme). Os nevus podem ser planos (ditos juncionais) ou elevados
(dérmicos ou intradérmicos).

Melanomas: manchas escuras, de natureza cancerosa. Há o aumento


da quantidade de melanócitos, os quais se encontram totalmente alterados,
originando esse tumor maligno. Em geral, os melanomas são destituídos de
pigmentação melânica devido à natureza pouco diferenciada do melanócito.

Efélides ou Sardas: hiperpigmentação na membrana basal causada por


melanoblastos. .

Mancha mongólica: mancha azulada, principalmente na região do dorso


e sacral.

Como diminuição localizada da pigmentação melânica tem-se:

Vitiligo: comum nas mãos; causada pela diminuição da quantidade de


melanócitos produtores de pigmento na epiderme, manifestando-se
clinicamente como manchas apigmentadas. .

22
Albinismo: forma recessiva e autossômica; localizada principalmente na
região do crânio; os melanócitos encontram-se em número normal, mas não
produzem pigmento.

Unidade 5

Alterações Circulatórias

Os fluidos do corpo transitam por três compartimentos:

- intracelular,

- intersticial

- e intravascular.

Esses compartimentos encontram-se em homeostase; quando há


rompimento desse equilíbrio, surgem alterações, que comumente podem ser
agrupadas dentro dos distúrbios circulatórios. Compreendem alterações
hídricas intersticiais (edema), alterações no volume sangüíneo (hiperemia,
hemorragia e choque) e alterações por obstrução intravascular (embolia,
trombose, isquemia e infarto).

Edema

Acúmulo de líquido no tecido intercelular (intersticial), nos espaços ou


nas cavidades do corpo. O edema é resultado do aumento da quantidade de
líquido nos meio extracelular, sendo externo ao meio intravascular.

23
Normalmente, 50% da quantidade de líquido corpóreo se localizam na
célula, 40% estão no interstício, 5%, nos vasos e os outros 5% compõem os
ossos. Essa distribuição dos líquidos intersticial e vascular é mantida às custas
da existência de uma hidrodinâmica entre esses dois meios, que mantêm uma
troca equilibrada desses líquidos. O movimento do líquido do sistema
intravascular para o interstício ocorre, em grande parte, devido à ação da
pressão hidrostática do sangue. Essa saída do líquido do vaso se localiza na
extremidade arterial da rede vascular. O seu retorno do interstício para o vaso
se dá, principalmente, às custas da pressão oncótica sanguínea, aumentada na
porção venosa. Durante essa dinâmica, fica uma certa quantidade de líquido
residual nos interstícios. Esse líquido é drenado pelos vasos linfáticos,
retornando depois para o sistema vascular.

O desequilíbrio entre os fatores que regem essa hidrodinâmica entre


interstício e meio intravascular é que origina o edema. Esses fatores
compreendem a pressão hidrostática sanguínea e intersticial, a pressão
oncótica vascular e intersticial e os vasos linfáticos:

1) Aumento da pressão hidrostática sanguínea: ocorre saída excessiva


de líquido do vaso. Exemplo: hipertensão, drenagem venosa defeituosa
(varizes, insuficiência cardíaca).

2) Diminuição da pressão hidrostática intersticial.

3) Redução da pressão oncótica sanguínea: determinada pela


diminuição da quantidade de proteínas plasmáticas presentes no sangue.

4) Aumento da pressão oncótica intersticial: um aumento da quantidade


de proteínas no interstício

5) Vasos linfáticos com a função comprometida, por exemplo:


elefantíase.

6) Acúmulo de sódio no interstício: quando há ingestão de sódio maior


do que sua excreção pelo rim.

24
Os edemas podem aparecer sob duas formas:

- localizado: o exemplo clássico de edema localizado é o edema


inflamatório, rico em proteínas. Daí o líquido desse tipo de edema ser
denominado de "exsudato".

- sistêmico: formado por líquido pobre em proteínas. Esse líquido é


denominado de "transudato", por exemplo, no edema pulmonar. Pode originar
infecções: pneumonias e insuficiência respiratória. O edema cerebral, por sua
vez, pode ser mortal.

Hiperemia ou Congestão

Aumento do volume de sangue em uma região por intensificação do


aporte sangüíneo ou diminuição do escoamento venoso.

Classificação

a) Hiperemia arterial ou ativa

Ao contrário da isquemia, a lesão tecidual é resultado de uma excessiva


quantidade de sangue no local, inundando essa região. O grande volume de
sangue provoca eritema, pulsação local e calor. A hiperemia é acompanhada
de prévia isquemia ou pode estar sob a tríade isquemia-hiperemia-inflamação.

Etiologia: órgãos em atividade, inflamação, queimaduras, radiação,


venenos.

b) Hiperemia venosa ou passiva: causada pela diminuição do


escoamento venoso. Nesse caso, não há retirada do sangue da zona em
questão. Pode provocar edema, estase sangüínea, hiperpigmentação,
proliferação fibrosa.

Etiologia: interferência na drenagem venosa devido a doenças primárias


ou secundárias a região.

Trombose

25
Coagulação intravascular do sangue em um indivíduo vivo.

Diante de uma lesão vascular, esse sistema de coagulação entra em


ação a fim de evitar o extravasamento sanguíneo. O aumento na intensidade
de ação desse sistema, aliado à diminuição da velocidade sanguínea, induz a
formação de um tampão sólido — o trombo — anormal que, ao mesmo tempo
em que exerce sua função selante, impede também o bom funcionamento dos
vasos e da circulação sanguínea, tal a sua grande proporção. Daí o nome
trombose, indicativo de uma formação anormal do trombo no vaso.

Etiologia: modificações anatômicas da parede vascular com fluxo


sanguíneo turbulento (placas de ateroma na ateroesclerose), periferização de
plaquetas, alterações da composição do sangue, aumento da viscosidade do
sangue e a redução da velocidade sanguínea.

Classificação dos trombos:

1. Quanto à composição: brancos (predomínio de plaquetas), vermelhos


(predomínio de hemácias), mistos ou hialinos (mais comuns em capilares ou
vênulas).

2. Quanto à localização no vaso: parietais ou murais (na parede vascular


ou de cavidades) ou oclusivos (na luz do vaso).

3. Quanto ao local: arteriais (principalmente na aorta, nos membros


inferiores e nas artérias viscerais, cerebrais e coronarianas), venosos (oriundos
da estase venosa), de capilares e arteríolas e cardíacos.

A trombose pode evoluir para a sua total lise (devido à ação do sistema
fibrinolítico da hemostasia), sofrer deslocamento ou embolização, calcificar-se
(calcificação distrófica) ou organizar-se (é invadido por capilares e fibroblastos,
sofrendo recanalização). Além da embolia, o trombo pode obstruir as vias
sangüíneas, levando à morte celular da região irrigada (isquemia e infarto).

Embolia

26
Presença de substância estranha ao sangue caminhando na circulação,
levando à oclusão parcial ou completa da luz do vaso em algum ponto do
sistema circulatório.

Substância estranha = êmbolo. 99% dos êmbolos são originários de


trombos. Podem ser de constituição sólida, líquida ou gasosa:

1. Sólida: compreende trombos (nesse caso, o processo é chamado de


tromboembolia), segmentos de placa de ateroma, parasitas e bactérias, corpos
estranhos (por exemplo, projétil de arma de fogo), restos de tecidos (por
exemplo, de placenta durante a gestação), células neoplásicas etc. O êmbolo
se distingue do trombo por não estar aderido à parede do vaso e por não
assumir a anatomia da luz vascular, como acontece com o trombo. Os êmbolos
sólidos podem levar a morte súbita, infarto ou hemorragia.

2. Liquidas: os êmbolos líquidos estão principalmente sob a forma de


gorduras; pacientes com extensas queimaduras ou fraturas generalizadas,
principalmente dos ossos longos, podem promover a circulação de glóbulos
gordurosos, os quais se deslocam da medula óssea e do tecido adiposo. A
embolia gordurosa pode causar morte rápida, devido à sua alta capacidade de
penetração em arteríolas e capilares, obstruindo a microcirculação. Um outro
tipo de embolia líquida, bem mais raro, é a infusão de líquido amniótico na
circulação durante ou pós-parto.

3. Gasosa: o êmbolo gasoso pode ser de origem venosa (por exemplo,


entrada de ar nas veias durante ato cirúrgico ou exames angiográficos) ou
arterial (por exemplo, durante o parto ou aborto, em que há grande contração
do útero e rompimento de vasos).

Isquemia

Diminuição do afluxo de sangue em uma região.

Etiologia

27
a) Causas angiomecânicas extrínsecas (ação mecânica sobre o sistema
sangüíneo ocasionada por agente externo ao organismo, por exemplo,
compressão arteriolar por próteses totais sobre a mucosa).

b) angiomecânicas intrínsecas (ocasionadas por agentes intrínsecos ao


organismo; por exemplo, doenças vasculares, como trombose, embolia e
ateroesclerose);

c) angioespáticas (contrações vasculares reflexas)

d) distúrbios na distribuição sangüínea.

Conseqüências

Existem vários graus de isquemia, cada um deles trazendo diferentes


conseqüências para o tecido. Estas podem variar de simples adaptações
teciduais ao novo nível de oxigênio (comum nas isquemias relativas e
transitórias), passando por alterações funcionais manifestas por degenerações
(como a esteatose), até quadros de morte celular. Os fatores ligados a essa
diversidade de quadros isquêmicos envolvem o grau de afluência sangüínea
comprometida, a existência ou não de uma circulação colateral existente e a
demanda metabólica dos tecidos atingidos pela carência de irrigação
sanguínea.

Nas isquemias relativas prolongadas, os órgãos ficam com volume


menor (atrofia), e podem evoluir para a necrose. Já nas isquemias absolutas, a
necrose tecidual pode ser extensa, resultando em infarto. Casos, por exemplo,
de isquemia leve e gradual nas coronárias não necessariamente chegam a
quadros de infarto, devido ao desenvolvimento de uma circulação colateral
intercoronária.

Infarto

Morte tecidual devido à falência vascular.

28
A diminuição da quantidade de sangue ou a sua não chegada aos
tecidos pode provocar a morte destes. Nesse caso, o processo de
irreversibilidade da vitalidade tecidual é denominado de infarto.

Infarto isquêmico em baço. Observe a


zona infartada (ZI), exibindo necrose por
coagulação, e a zona ainda preservada do
baço (ZN) (HE, 100X).

Tipos

1. Branco ou isquêmico, no qual ocorrem tumefação e palidez local. É


comum no tecido cardíaco (por exemplo, infarto do miocárdio).

2. Vermelho ou hemorrágico, caracterizado pela permanência do sangue


do local no momento da obstrução arterial. Pode ainda ocorrer oclusão de
veias, ocasionando também a permanência de sangue no local. É comum em
tecidos frouxos (por exemplo, o pulmão), onde o extravasamento sangüíneo é
facilitado.

Hemorragia

29
Saída do sangue para fora da luz dos vasos.

As hemorragias podem ser classificadas:

a) quanto à sua origem (capilar, venosa, arterial ou cardíaca),

b) visibilidade (externa - quando o sangue é visível clinicamente; interna


- não é visível);

c) quanto ao volume (petéquias - pequenas manchas; equimoses - áreas


mais extensas; hematoma - coleção de sangue, em geral coagulado, localizada
em cavidade neoformada; púrpura - empregado para hemorragias
espontâneas; apoplexia - efusão intensa em um órgão, em geral, o sistema
nervoso central).

d) Conforme o local, as hemorragias recebem terminologia específica


(por exemplo, epistaxe - sangramento do nariz; hemartrose - sangue em uma
articulação).

A patogenia da hemorragia se relaciona principalmente com a parede


vascular.

Etiopatogenia

A passagem dos elementos sangüíneos através da parede (mecanismo


denominado de diapedese), devido à descontinuidade desta, ou sua erosão
(diabrose, dia= através, brosis = perfuração). O aumento da permeabilidade
vascular sem lesão prévia também pode provocar a saída de hemácias para
fora do sistema vascular.

Causas

Traumas (mecânicos ou físicos), aumento da pressão intravascular,


doenças na parede vascular (por exemplo, aneurismas, ou seja,
adelgaçamento da parede vascular, e invasão neoplásica) e diáteses
hemorrágicas (tendência à hemorragia em múltiplos tecidos) devido a
alterações no mecanismo de coagulação ou por defeito da parede vascular.

30
Se a perda de sangue for local e não envolver órgãos vitais, as
hemorragias não possuem maiores significados clínicos; a massa sangüínea é
reabsorvida sem grandes complicações. Dependendo da extensão, podem
causar pigmentação endógena ou até mesmo fibrose cicatricial.

Se, por outro lado, a hemorragia for sistêmica, pode originar o choque
hemorrágico. Este é causado por uma diminuição do aporte sanguíneo
periférico devido à perda excessiva de sangue. Perdas que envolvam mais que
um terço do volume sangüíneo corpóreo (cerca de 1,5 a 2 litros) podem levar à
morte. É importante acrescentar que, dependendo da localização, pequenas
hemorragias podem gerar efeitos clínicos mais graves, como é o caso das
hemorragias cerebrais.

Choque

Deficiência aguda da corrente sanguínea no leito vascular periférico.

O choque é provocado por uma diminuição da perfusão de nutrientes


para a célula devido à deficiência do aporte sanguíneo. Isso pode ser causado
por uma queda do volume sanguíneo circulante (é o que ocorre no choque
hemorrágico), por uma propulsão cardiopulmonar inadequada ou por uma
grande vasodilatação periférica (de capilares e veias).

Sem uma circulação sangüínea ideal, os tecidos sofrem hipóxia e


carência nutricional, o que leva a alterações reversíveis. A mudança de um
sistema de respiração aeróbico para um anaeróbico, em decorrência da falta
de oxigênio, induz ao acúmulo de ácido lático no local, provocando a
instauração de lesões irreversíveis e a morte celular.

Os tipos de choque incluem o neurogênico, o cardiogênico, o traumático,


o hemorrágico, por queimaduras, cirúrgico etc. A evolução clínica desses tipos
depende do grau de recuperação do equilíbrio hemodinâmico conseguido pelos
tecidos atingidos. No caso do choque hemorrágico, por exemplo, esse
equilíbrio pode ser restituído por intermédio de uma transfusão sanguínea
imediata ou pela introdução de outros líquidos.

31
Unidade 6

Necrose

É a morte de uma célula ou de parte de um tecido em um organismo


vivo. É a manifestação final de uma célula que sofreu lesões irreversíveis. Vale
dizer que é natural que a célula morra, para a manutenção do equilíbrio
tecidual. Nesse caso, o mecanismo de morte é denominado de "apoptose" ou
"morte programada".

O conceito de morte somática envolve a "parada definitiva das funções


orgânicas e dos processos reversíveis do metabolismo".

Etiologia:

1) Agentes físicos: ação mecânica, temperatura, radiação, efeitos


magnéticos.

2) Agentes químicos: tetracloreto de carbono, álcool, medicamentos,


detergentes, fenóis.

3) Agentes biológicos: infecções viróticas, bacterianas ou micóticas,


parasitas.

Esses agentes provocam o comprometimento dos níveis celulares de


respiração aeróbica, de síntese protéica, de manutenção da integridade das
membranas celulares e de manutenção da capacidade de multiplicação celular
(RNA e DNA). A ação das causas sobre esses sistemas provoca a perda da
homeostase e da morfostase celular de tal forma que a célula perde a sua
vitalidade. A necrose, assim, abrange alterações regressivas reversíveis que,
em algum ponto e por algum estímulo desconhecido, passam a ser
irreversíveis; instalada a irreversibilidade e a necrose propriamente dita, inicia-
se o processo de desintegração celular (autólise).

Autólise: digestão de um tecido morto por suas próprias enzimas. Vale


tanto para um tecido necrótico num organismo vivo como para a
decomposição do organismo após a morte.

As mudanças na morfostase se dão, principalmente, nos núcleos:

32
1) Picnose: o núcleo apresenta um volume reduzido e torna-se
hipercorado, tendo sua cromatina condensada; característico na apoptose;

2) Cariorrexe: a cromatina adquire uma distribuição irregular, podendo


se acumular em grumos na membrana nuclear; há perda dos limites nucleares;

3) Cariólise ou cromatólise: há dissolução da cromatina e perda da


coloração do núcleo, o qual desaparece completamente.

Em A, observam-se as células normais que compõem o baço; em B, núcleo em picnose, com


diminuição de volume e basofilia (hipercromatismo); em C, cariorrexe, ou seja, distribuição
irregular da cromatina, a qual se acumula na membrana nuclear; nessa fase, o núcleo pode se
fragmentar (D); em E, dissolução da cromatina e desaparecimento da estrutura nuclear.
Observa-se também granulação do citoplasma, o qual se torna também intensamente
eosinofílico (HE, 1000X).

Já as modificações citoplasmáticas observadas ao microscópio óptico


(essas modificações são secundárias às nucleares, sendo visíveis mais
tardiamente) consistem na presença de granulações e espaços irregulares no
citoplasma. Este torna-se opaco, grosseiro, podendo estar rompida a
membrana citoplasmática. Intensa eosinofilia é característica, decorrente de
alterações lisossomais e mitocondriais.

As mudanças na homeostase ainda constituem capítulo obscuro na


patologia. Estudos moleculares têm mostrado que o primeiro evento observado
é a alteração na bomba de sódio e potássio, provocando edema intracelular.
Observa-se que a perda da homeostase envolve o sistema respiratório celular
(as mitocôndrias), o sistema enzimático (os lisossomas) e o sistema de
membranas.

Tipos de Necrose

33
1) Necrose por coagulação (= isquêmica): causada por isquemia do
local. É freqüentemente observada nos infartos isquêmicos. Há perda da
nitidez dos elementos nucleares e manutenção do contorno celular devido à
permanência de proteínas coaguladas no citoplasma, sem haver rompimento
da membrana celular. Há permanência das células necróticas no tecido como
restos ‘fantasmas’. São removidos lentamente por fagocitose a partir da
periferia da área necrótica.

2) Necrose por liquefação: o tecido necrótico fica limitado a uma região,


geralmente cavitária, havendo a presença de grande quantidade de neutrófilos
e outras células inflamatórias (os quais originam o pus). As células necróticas
são removidas rapidamente por fagocitose em toda a área necrótica. É comum
em infecções bacterianas. Pode ser observada nos abscessos e no sistema
nervoso central, bem como em algumas neoplasias malignas.

3) Necrose caseosa: tecido esbranquiçado, granuloso, amolecido, com


aspecto de "queijo friável". Microscopicamente, o tecido exibe uma massa
amorfa composta predominantemente por proteínas. É comum de ser
observada na tuberculose, em neoplasias malignas e em alguns tipos de
infarto. Na sífilis, por ter consistência borrachóide, é denominada de necrose
gomosa.

34
Citoplasma com vacuolizações

4) Necrose fibrinóide: o tecido necrótico adquire uma aspecto hialino,


acidofílico, semelhante à fibrina. Pode aparecer na ateroesclerose, e na úlcera
péptica.

5) Necrose gangrenosa: provocada por isquemia ou por ação de


microrganismo. Pode ser úmida ou seca. A úmida freqüentemente envolve a
participação de bactérias anaeróbias, as quais promovem uma acentuada
destruição protéica e putrefação. Comum em membros inferiores e em órgãos
internos que entraram em contato com o exterior, como pulmões e intestino.

6) Necrose enzimática: ocorre quando há liberação de enzimas nos


tecidos; a forma mais observada é a do tipo gordurosa, principalmente no
pâncreas, quando pode ocorrer liberação de lipases, as quais desintegram a
gordura neutra dos adipócitos desse órgão.

35
7) Necrose hemorrágica: quando há presença de hemorragia no tecido
necrosado; essa hemorragia às vezes pode complicar a eliminação do tecido
necrótico pelo organismo.

O tecido necrótico pode evoluir para calcificação distrófica, cicatrização


ou mesmo regeneração.

Unidade 7

Inflamação

A inflamação ou flogose (derivado de "flogístico" que, em grego, significa


"queimar") está sempre presente nos locais que sofreram alguma forma de
agressão e que, portanto, perderam sua homeostase e morfostase. O processo
inflamatório visa compensar essas alterações de forma e de função por
intermédio de reações teciduais, principalmente vasculares, que buscam
destruir o agente agressor. A inflamação pode ser considerada, assim, uma
reação de defesa local.

Todo esse processo de restituição da normalidade tecidual é concluído


pela reparação, fenômeno inseparável da inflamação. Ambos os fenômenos
(inflamação-reparação) caminham juntos, mas, para efeito didático, serão
abordados separadamente.

Conceito: inflamação constitui um mecanismo de defesa local, exclusivo


de tecidos mesenquimais lesados. Pode ser definida como sendo uma resposta
local do tecido vascularizado agredido, caracterizada por alterações do sistema

36
vascular, dos componentes líquidos e celulares, bem como por adaptações do
tecido conjuntivo vizinho.

Essas alterações dos componentes teciduais são resultantes de


modificações que ocorrem nas células agredidas, que passam a adquirir
comportamentos diferentes:

- movimentos novos,

- alterações de forma

- e liberação de enzimas e de substâncias farmacológicas.

Toda essa transformação morfológica e funcional do tecido,


característica dos processos inflamatórios, visa destruir, diluir ou isolar o
agente lesivo, sendo, portanto, uma reação de defesa e de reparação do dano
tecidual.

Para tornar-se um agente inflamatório, o agente lesivo tem que ser


suficientemente intenso para provocar tais reações e ultrapassar as barreiras
de defesa externa (como a derme, por exemplo), sem, contudo alterar a
vitalidade do tecido em que atua. Portanto, qualquer causa de agressão é,
potencialmente, um agente flogístico.

O tempo de duração e a intensidade do agente inflamatório determinam


diferentes graus ou fases de transformação nos tecidos, caracterizando uma
inflamação como sendo, por exemplo, do tipo agudo ou crônico.

37
Momentos da Inflamação

Esses momentos ou fases caracterizam a inflamação do tipo aguda, a qual


sempre antecede a inflamação do tipo crônica. A divisão desses momentos em
cinco itens é meramente didática. Todos eles acontecem como um processo
único e concomitante, o que caracteriza a inflamação como um processo
dinâmico. São eles:
1) Fase irritativa: modificações morfológicas
e funcionais dos tecidos agredidos que
promovem a liberação de mediadores
químicos, estes desencadeantes das
demais fases inflamatórias.

2) Fase vascular: alterações


hemodinâmicas da circulação e de
permeabilidade vascular no local da
agressão.
Saída de células e líquidos de dentro do
vaso. Esse fenômeno corresponde à fase 3) Fase exsudativa: característica do
exsudativa, a qual é resultado da fase
irritativa e da fase vascular. Note como
processo inflamatório, esse fenômeno
se abrem grandes fendas na parede compõe-se de exsudato celular e
vascular para permitir a passagem da plasmático oriundo do aumento da
célula. permeabilidade vascular.

38
4) Fase degenerativa-necrótica: composta por células com alterações
degenerativas reversíveis ou não (neste caso, originando um material
necrótico), derivadas da ação direta do agente agressor ou das modificações
funcionais e anatômicas conseqüentes das três fases anteriores.

5) Fase produtiva-reparativa: relacionada à característica de hipermetria da


inflamação, ou seja, exprime os aumentos de quantidade dos elementos
teciduais - principalmente de células -, resultado das fases anteriores. Essa
hipermetria da reação inflamatória visa destruir o agente agressor e reparar o
tecido injuriado.

Manifestação clínica

São os cinco SINAIS CARDINAIS, que caracterizam a agudização do


processo inflamatório.

1. Tumor: causado principalmente pela fase exsudativa e produtiva-


reparativa, representadas pelo aumento de líquido (edema inflamatório) e de
células.

2. Calor: oriundo da fase vascular, em que se tem hiperemia arterial e,


conseqüentemente, aumento da temperatura local.

3. Rubor ou vermelhidão: também é decorrente desse mesmo


fenômeno.

4. Dor, por sua vez, é originada de mecanismos mais complexos que


incluem compressão das fibras nervosas locais devido ao acúmulo de líquidos
e de células, agressão direta às fibras nervosas e ação farmacológica sobre as
terminações nervosas; portanto, engloba pelo menos três fases da inflamação
(irritativa, vascular e exsudativa).

5. Perda de função, por fim, é decorrente do tumor (principalmente em


articulações, impedindo a movimentação) e da própria dor, dificultando as
atividades locais.

39
Fenômenos Irritativos

Os fenômenos irritativos estão intimamente ligados aos fenômenos


vasculares, por envolverem a mediação química de fármacos que agem
diretamente sobre a parede vascular.

Esta fase tem, como característica fundamental, a mediação química, ou


seja, fenômeno em que ocorre a produção e/ou liberação de substâncias
químicas diante da ação do agente inflamatório. Essas substâncias atuam
principalmente na microcirculação do local inflamado, provocando, dentre
outras modificações, o aumento da permeabilidade vascular. Vale dizer que em
qualquer fase da inflamação observa-se a fase irritativa.

1. Mediadores de ação rápida: liberados imediatamente após a ação do


estímulo agressor. Têm ação principalmente sobre os vasos e envolvem o
grupo das aminas vasoativas.

Aminas vasoativas: originárias do tecido agredido. Atuam sobre a


parede vascular, não exercendo quimiotaxia sobre os leucócitos.
Compreendem, dentre outros, a histamina e a serotonina.

2. Mediadores de ação prolongada: liberados mais tardiamente, diante


• Histamina: sintetizada nos granulócitos
basófilos, nas plaquetas e, principalmente,
nos mastócitos, que a liberam quando
agredidos. Provoca contração das células
endoteliais venulares, com conseqüente
aumento da permeabilidade vascular, e
vasodilatação. Tem destacada participação
no mecanismo de formação do edema
inflamatório.

• Serotonina: encontrada nas plaquetas,


Microcirculação do periodonto do cão. na mucosa intestinal e no SNC, tem uma
É sobre esses vasos que atuam os provável ação vasodilatadora e de aumento
mediadores químicos da fase irritativa. da permeabilidade vascular.
da persistência do agente flogístico. Atuam nos vasos e, principalmente, nos

40
mecanismos de quimiotaxia celular, contribuindo para a exsudação celular.
Compreendem substâncias plasmáticas e lipídios ácidos.

2.1) Substâncias plasmáticas: estão divididas em três grandes sistemas:


o sistema das cininas (envolvendo principalmente a plasmina e a bradicinina), o
sistema complemento e o sistema de coagulação (representado aqui pelos
fibrinopéptides).

Plasminogênio/Plasmina: a plasmina é uma protease que digere uma


ampla gama de proteínas teciduais como fibrina, protrombina, e globulina.
Sua forma inativa, o plasminogênio, é ativada por enzimas lisossômicas,
quinases bacterianas, teciduais e plasmáticas. A presença da plasmina
incrementa a permeabilidade vascular, provoca o surgimento de
fibrinopéptides, libera cininas e atua sobre o complemento.

Bradicinina: ativado no interstício, esse peptídeo tem ação vasodilatadora


de pequenas artérias e arteríolas, também aumentando a permeabilidade
vascular. Por atuar em terminações nervosas, pode provocar o surgimento
de dor.

Complemento: é um fragmento protéico originário de uma proteína


plasmática termolábel que se rompe devido a algumas reações entre
proteínas plasmáticas e intersticiais (como, por exemplo, as reações
antígeno-anticorpo). Aumenta a permeabilidade vascular por provocar a
liberação de histamina ou por ação direta sobre a parede vascular. Também
tem atividade de quimiotaxia, contribuindo para a exsudação celular,
principalmente de neutrófilos.

Fibrinopéptides: produto da transformação do fibrinogênio em fibrina (no


sistema de coagulação) ou da ação da plasmina sobre essas duas
substâncias, os fibrinopéptides têm ação quimiotática sobre os leucócitos,
evento observado na fase de exsudação celular, e podem aumentar a
permeabilidade vascular.

2.2) Lipídios ácidos: representados principalmente pela prostaglandina.

41
A Prostaglandina participa de fases mais tardias da inflamação; é um
composto de cadeias longas formadas por ácidos graxos, tendo sido observado
primeiramente no líquido seminal (daí ter o nome de prostaglandina - "prosta" =
próstata; "glandina" = "glândula"); provocam contração das células endoteliais e
vasodilatação e potencializam as respostas vasculares oriundas da ação da
bradicinina.

Observe o gráfico seguinte: Alguns mediadores e sua influência, no decorrer do


tempo, em relação à quantidade de líquido de edema (exsudação plasmática) que
extravasa devido à ação desses fármacos na parede vascular. Veja que a histamina e
a serotonina atuam nas primeiras horas, sendo de mediação rápida. Já as cininas
atuam mais tardiamente, mas não provocam tanto aumento da permeabilidade
vascular (há diminuição da quantidade de edema). Por fim, as prostaglandinas, de
mediação tardia, incrementam a
permeabilidade vascular, ou seja,
há aumento da quantidade de
líquido de edema. O complemento,
considerado de mediação tardia,
na verdade está presente em todos
os momentos da inflamação.

Fenômenos Vasculares

A fase vascular reúne todas as transformações ocorridas na


microcirculação do local inflamado. Isso ocorre após alguns minutos do início
da ação do agente flogístico, intervalo em que se processa a liberação dos
mediadores químicos.

As modificações vasculares incluem alterações no leito vascular e no


fluxo sanguíneo, o que origina diferentes formas de hiperemia, estas
moduladas pela intensidade do agente agressor e pelos graus de resposta do

42
tecido. Além da hiperemia acontecem a isquemia e o edema. Esses três
fenômenos, juntos, formam um conjunto de respostas vasculares imediatas à
presença do estímulo agressor, sendo esse conjunto denominado de Tríplice
resposta de Lewis.

Em termos macroscópicos, assim, imediatamente após a agressão,


observa-se inicialmente uma zona esbranquiçada (isquemia), a qual é
substituída por uma zona avermelhada ou eritema (hiperemia) ao redor do local
agredido; mais tardiamente, surge aumento de volume local (edema). O
mecanismo dessa resposta pode ser o seguinte:

1) Isquemia transitória: devido à constrição arteriolar; há parada do


fluxo sangüíneo e, conseqüentemente, o local fica esbranquiçado.

2) Hiperemia: arteriolar ou ativa: após a contração e a parada de


circulação sangüínea, o fluxo é restabelecido, sendo os capilares totalmente
preenchidos por sangue, o que resulta em uma vasodilatação arteriolar por
toda rede microcirculatória local, leva ao aparecimento do eritema (zona
avermelhada);

Venular ou passiva: dilatação das vênulas mediada por estimulação,


principalmente histamínica, com posterior exsudação plasmática e edema.

3) Edema: devido ao aumento da pressão hidrostática e da


permeabilidade venular, provocando perda de água e eletrólitos e diminuição
da velocidade sanguínea.

Fenômenos Exsudativos

Os fenômenos da exsudação referem-se à migração, para o foco


inflamatório, de líquidos e células, provenham eles de vasos ou dos tecidos
vizinhos.

Distinguem-se dois tipos de exsudação nessa fase:

1. Exsudação Plasmática

43
É a saída de plasma para fora da luz vascular, com quantidades
diversas de água, eletrólitos e proteínas.

A saída do líquido plasmático ocorre principalmente nas vênulas, sendo


pouco observada nos capilares e arteríolas. Isso é devido à estrutura
histológica das vênulas, que apresentam menor aderência intercelular na sua
parede em relação às arteríolas, fato esse que facilita o aumento da
permeabilidade venular.

E: Vênula exibindo infiltrado inflamatório (composto de líquidos e células) bem próximo


à sua parede. Observe como esta é fina e delicada, sendo formada por somente uma
camada de células bem espaçadas. Esse detalhe anatômico confere à vênula maior
permeabilidade do que a arteríola. D: arteríola com parede bem mais espessada e rija
e maior número de células justapostas (HE, 400X).

O aumento da permeabilidade vascular pode ser originado de


mecanismos diretos, em que o próprio agente agressor atua sobre a parede
vascular, ou indiretos, em que há ação de mediadores químicos. Nesse caso, o
aumento da permeabilidade pode ser devido ao surgimento de fendas na
parede, isto é, surgem poros entre as células endoteliais. Esses poros ainda
constituem foco de estudos, mas algumas hipóteses já foram aventadas: os
endoteliócitos se contraem e se separam; os endoteliócitos somente se
contraem, mas suas junções ainda se mantêm, havendo aumento do espaço
entre essas células sem separação delas.

Vaso sangüíneo em momento de exsudação,


tanto plasmática quanto celular. Veja os poros (P)
que surgem entre os endoteliócitos (o meio
intravascular está à direita) (HE, 1000X).

44
A exsudação plasmática é a responsável pela formação do edema
inflamatório. O edema inflamatório segue a definição dada aos edemas em
geral. Difere destes por ser composto por macromoléculas como albuminas,
globulinas e fibrinogênio, constituindo o exsudato. A passagem deste da luz
para o interstício segue a mesma etiopatogenia dos demais edemas. O
aumento da permeabilidade vascular, fato não observado nos demais
fenômenos de saída de plasma para fora do vaso, é peculiar aos edemas
inflamatórios.

Edema inflamatório oriundo de trauma (batida). Veja


que, além do aumento de volume oriundo do acúmulo
de líquido, notam-se outros sinais cardinais, como
rubor (eritema) e perda de função.

Os edemas inflamatórios podem ser:

1) imediatos e transitórios: 15-30 minutos após a agressão e regredindo


após 3 horas, sendo oriundos das vênulas (ex.: reação de hipersensibilidade
tipo I);

2) imediatos e prolongados: imediatamente após a agressão e


regredindo depois 8 horas (ex.: queimaduras graves), havendo agressão direta
do endotélio;

3) tardios e prolongados: surgindo 2-4 horas após o aumento da


permeabilidade inicial e tendendo a aumentar e estabilizar após 6 horas do seu
início (ex.: queimadura por exposição ao sol).

Exsudação Celular

Passagem de células pela parede vascular em direção ao interstício, ao


local atuante do agente inflamatório.

45
Os movimentos migratórios celulares são devidos, principalmente, à
abertura de fendas na parede vascular - o aumento da permeabilidade, como
foi visto -, aliada à liberação de mediadores químicos com ação de quimiotaxia,
citados na fase irritativa. Colaboram com esses fatores a diminuição da
velocidade sanguínea - decorrente das modificações hemodinâmicas
apresentadas na fase vascular - e, principalmente, a adesividade das células
do tecido vascular (como hemácias e leucócitos) aos endoteliócitos. A
marginação dessas células e seus movimentos de diapedese em direção às
fendas previamente formadas é que caracterizam uma exsudação celular, ou
seja, os fenômenos celulares.

Momento de exsudação plasmática (L) e


celular. Veja que há formação de poros (P)
entre as células endoteliais (setas), o que
permite a passagem de hemácias e
leucócitos. Observe em destaque (círculo
cinza) um neutrófilo passando pela parede e
outro próximo ao poro. Esses momentos
flagrados nesse corte histológico são
decorrentes de mecanismos de marginação
leucocitária, diapedese e adesividade dessas
células aos endoteliócitos (HE, 1000X).

Fenômenos Celulares

Os fenômenos celulares da inflamação envolvem o acionamento das


capacidades celulares de movimentação, de adesão e de englobamento de
partículas. O principal fenômeno é a saída de leucócitos da luz vascular e sua
migração para o local agredido. Esse fenômeno segue algumas fases:

1) Pavimentação: os leucócitos posicionam-se adjacentes aos


endoteliócitos. Para tal, é necessário que ocorra a marginação leucocitária, ou
seja, os leucócitos saem da porção central do fluxo sangüíneo (local onde são
comumente encontrados) e vão para a periferia do fluxo. Isso é possível graças
à diminuição da velocidade do fluxo (estase sangüínea), decorrente dos
fenômenos vasculares.

Leucócitos adjacentes às células


endoteliais (setas). Esse fenômeno é denominado
de pavimentação, oriundo da marginação
leucocitária (HE, 1000X).

2) Migração: os leucócitos migram pelas fendas entre os endoteliócitos,


graças a movimentos amebóides que realizam (diapedese). Primeiramente, a

46
célula emite um pseudópodo (estrutura semelhante a pé) e, depois, o corpo
celular.

Movimento de diapedese do leucócito (L). Inicialmente a célula emite um pseudópodo, o qual


penetra pela fenda da parede vascular. Vemos aqui a parte interna do vaso á E e a parte
externa á D. Todo o corpo celular desta célula já atingiu o meio externo, completando a
leucodiapedese.

A quimiotaxia é um fator preponderante na exsudação celular. A célula


possui, em sua membrana plasmática, receptores para algumas substâncias.
Parece existir um mecanismo, que faz com que a célula "perceba" a existência
de maior quantidade dessa substância em locais específicos. Percebendo essa
maior quantidade, a célula migraria para o local.

Canto superior esquerdo: neutrófilo - repare


no citoplasma tendendo a eosinofílico (rosa) e
o núcleo lobulado; canto superior direito:
eosinófilo (o citoplasma é granuloso e sua
coloração é bem eosinofílica (rósea); essas
duas células são comuns em processos
agudos). Canto inferior esquerdo: linfócitos
(núcleo basofílico (azul) e citoplasma
escasso; podem ser do tipo B ou T); canto
inferior direito: monócito (núcleo menos
basofílico e citoplasma mais amplo; dará
origem ao macrófago); essas duas células
são mais comuns em processos crônicos (HE,
1000X)

Entre os processos agudos e crônicos, distinguem-se, basicamente, os


seguintes tipos celulares:

1) Inflamação aguda:

Neutrófilos: presentes em maior quantidade nesta fase devido ao seu


alto potencial de diapedese e rápida velocidade de migração. Têm ação
fagocítica.

47
Eosinófilos: encontrados nas inflamações subagudas ou relativas a
fenômenos alérgicos e em alguns processos neoplásicos. Sua
capacidade de fagocitose é menor que os neutrófilos.

2) Inflamação crônica:

Basófilos e mastócitos: Os basófilos contêm grânulos de heparina e


histamina; os mastócitos, de histamina.

Macrófagos: originados dos monócitos, essas células mononucleares


são os "fagócitos profissionais", tendo ação sobre ampla variedade de
antígenos. Mais comum em estágios de cronicidade e granulomas.

Linfócitos e plasmócitos: migram mais lentamente que os neutrófilos


para o foco inflamatório, ajudam nas atividades macrofágicas.
Reconhecem antígenos e desenvolvem respostas para eliminá-los,
principalmente em quadros inflamatórios crônicos e granulomatosos.

É importante lembrar que a noção de que os polimorfonucleares são


típicos de inflamações agudas e de que os mononucleares são
característicos de inflamações crônicas é, muitas vezes, acadêmica.

Fatores que Alteram a Inflamação

Relacionados ao agente agressor:

1. Tipo (ou natureza) do agente agressor: químicos, físicos ou


biológicos.

2. Características do agente agressor: fonte geradora, princípio ativo,


família, gênero e espécie.

3. Intensidade, concentração ou quantidade de microorganismos.

4. Tempo de exposição.

5. Capacidade de invasão: propriedades que o agente possui de


ultrapassar as barreiras de defesa do organismo, principalmente as
barreiras externas, por exemplo: os raios-X possui grande penetrância.

6. Capacidade de resistência à fagocitose e à digestão; por exemplo:


M. tuberculosis, e balas de projéteis possuem alta resistência à fagocitose.

48
Inflamação causada por um agente
químico, cimento cirúrgico (CC). Esse
cimento é utilizado após cirurgias,
como protetor do local, e em geral
não provoca reações no paciente.
Veja como esse hospedeiro reagiu a
esse agente químico: vemos os
sinais cardinais da inflamação e um
foco de necrose
Fatores Ligados ao Local
Agredido

1. Tipo de tecido: por exemplo, nos tecidos ósseos não se observa


edema, característico das inflamações agudas; ao contrário, são mais comuns
inflamações crônicas nesse local; já nos tecidos mais frouxos, como pálpebra,
por exemplo, facilmente se instalam fenômenos exsudativos plasmáticos.

2. Suprimento sangüíneo: em geral, os tecidos vascularizados são


mais resistentes a agressão, uma vez que o processo inflamatório se instala
mais rapidamente. Os tecidos não-vascularizados, como córnea e cartilagem,
devem primeiro desenvolver neovascularização para depois iniciar seu
mecanismo de defesa.

Classificação das Inflamações Quanto ao Tempo de Duração

1. Agudas: têm um curso rápido. É a resposta inflamatória imediata e


inespecífica do organismo diante da agressão, quando os sinais são mais
marcantes.
2. Crônicas: apresentam reação tecidual caracterizada pelo aumento dos
graus de celularidade e de outros elementos teciduais mais próximos da
reparação, diante da permanência do agente agressor. Constituem processos
mais demorados; há diminuição dos sinais. Existe um equilíbrio relativo entre o
agente agressor e o hospedeiro.
As inflamações também podem ser classificadas quanto ao tipo de
elemento tecidual predominante.
Abscesso: cavidade neoformada encapsulada, com centro necrótico e
purulento, parede interna com predomínio neutrofílico já em processo
regressivo (essa parede é chamada de membrana piogênica uma vez que gera
o pus) e camada externa com neovascularização e fenômenos exsudativos.

Inflamação Granulomatosa (formação de granulomas)


Tipo de inflamação crônica em que se observam os granulomas,
formações especiais de células que, de tão características, permitem um

49
diagnóstico da doença mesmo sem a visualização do seu agente causal.
Manifesta-se macroscopicamente ou clinicamente sob a forma de pequenos
grânulos; daí o nome "granuloma".

E: Tuberculose miliar evidenciando a presença de grânulos, os quais se juntam


e originam formações maiores denominadas de "tubérculos"; daí o nome
"tuberculose".

D: Célula gigante do tipo Langhans. Existem dois tipos principais de células


gigantes que compõem os granulomas: as de corpo estranho, em que os núcleos
estão dispostos aleatoriamente no citoplasma, e a de Langhans, na qual os núcleos
tendem a ocupar a periferia do citoplasma e exibem um arranjo em "colar" (HE, 400X).

Unidade 8

Reparação

É o processo de reposição do tecido destruído observado após a


extinção dos agentes flogísticos. Diz-se que há reparação completa quando
houver restituição da morfostase e homeostase tecidual, iniciado já na fase
irritativa da inflamação.

A reparação pode acontecer sob dois tipos, dependendo do estado de


destruição do tecido e dos graus de transformação sofridos por este durante a
flogose. São eles:

1. Regeneração: reposição de tecido idêntico ao perdido. Realiza-se em


tecidos onde existem células lábeis ou estáveis, isto é, células que detêm a
capacidade de se regenerar através de toda a vida extra-uterina (por exemplo,
células epiteliais, do tecido hematopoiético); por intermédio da multiplicação e
organização dessas células origina-se um tecido idêntico ao original. Além
dessa condição, a restituição completa só ocorre se existir um suporte, um
tecido de sustentação (como parênquima, derma da pele etc.) subjacente ao
local comprometido.

50
2. Cicatrização: substituição do tecido perdido por tecido conjuntivo
fibroso. É a forma mais comum de cura dos tecidos inflamados. Nela se tem
uma reposição tecidual, porém a anatomia e a função do local comprometido
não são restituídas. Para que possa haver cicatrização completa, são
necessárias eliminação do agente agressor, irrigação, nutrição e oxigenação.

E: quelóides; C: tecido de granulação em cicatrização de abscesso; D: tecido de granulação na


pele após queimadura.

Fatores que Alteram a Reparação

a) Fatores Locais

1. Tipo de agente: curta ou longa duração, baixa ou alta patogenicidade.

2. Contaminação: retardam a reparação.

3. Características da ferida: tamanho da ferida, tipo de tecido atingido.

4. Irrigação sangüínea: tecidos poucos vascularizados ou com isquemia


retardam a reparação.

Fatores Gerais

1. Estado fisiológico (principalmente idade).

2. Estado nutricional: ausência de Vitamina C, deficiência de proteínas,


hormônios em excesso (corticosteróides da adrenal).

3. Terapêutica com zinco favorece; já drogas antineoplásicas, ao


contrário, são contra-indicadas em pacientes com cicatrizações em andamento.

Unidade 9

Alterações de Crescimento e Diferenciação

Quando existem alterações nos processos de crescimento e


diferenciação instauram-se os chamados distúrbios de desenvolvimento e
crescimento. Estes podem ser divididos em distúrbios congênitos e distúrbios
adquiridos. Os distúrbios congênitos estão presentes ao nascimento, enquanto

51
os distúrbios adquiridos desenvolvem-se após o nascimento durante os
processos de renovação das populações celulares.

A Teratologia (teratos = monstro; logus = estudo) consiste no estudo das


malformações congênitas, ou seja, das anomalias de desenvolvimento que
provocam alterações morfológicas presentes ao nascimento.

Feto normal dentro do útero materno

A indução embrionária consiste na capacidade de um tecido orientar a


diferenciação e evolução de tecidos vizinhos. Assim, um grupo primário de
células determina (induz) a multiplicação e a diferenciação de um segundo
grupo celular, que por sua vez age em um terceiro, e assim sucessivamente.

A seqüência dos processos de indução promove uma variedade


morfofuncional das células embrionárias, que passam a se organizar em
grupos conforme a sua semelhança. Formam-se, então, os tecidos, a partir
dessa diferenciação (especialização) e crescimento celular. São traçados os
primeiros esboços dos órgãos do futuro ser nessa fase embrionária,
denominada "organogênese". Na organogênese, é de crucial importância, a
migração celular, que é orientada pelos fenômenos indutores e, principalmente,
pelo meio em que se encontra o embrião. Assim é que o efeito gravitacional, o
gradiente de concentração do meio e oxigenação são elementos determinantes
na organização do ser.

Qualquer irregularidade nos fenômenos de transformação presentes


neste processo pode levar ao aparecimento de malformações. Uma ação
perturbadora sobre a proliferação, a migração ou a diferenciação celular pode
induzir uma cascata de efeitos que culminam nas anomalias de
desenvolvimento. Daí o período de organogênese ser o mais vulnerável aos
efeitos teratogênicos (agentes que comprovadamente agridem as células
durante a fase embrionária), uma vez que, nesta fase, estas três atividades -
proliferação, migração e diferenciação - são constantemente observadas. Os
tecidos já diferenciados também podem ser afetados pelos agentes
teratogênicos, apesar de o risco de malformações ser reduzido depois que a
morfogênese está completa.

Feto diencéfalo

52
Foto 1 e 2 (detalhe) uma criança que, durante a organogênese, desenvolveu um
segundo feto em seu abdômen; foto 3: uma situação semelhante a foto anterior, um
dente (dente 1) que contém outro dente (dente 2) em seu interior.

Agentes Teratogênicos (ou teratógenos)

São os responsáveis pelo aparecimento das malformações. Podem ser


de origem genética ou ambiental.

Fatores Genéticos

a) fatores gênicos: envolvem a herança dos genes que causam a


anomalia. Um exemplo é a polidactilia (o indivíduo apresenta mais de cinco
dedos, principalmente nas mãos).

b) fatores cromossômicos: abordam as aberrações cromossômicas


representadas pelo número anormal de cromossomos. Um exemplo seria a
Síndrome de Down.

E: Paciente com síndrome de Down, exibe ainda língua geográfica, um processo em


que há atrofia das papilas linguais. C: duas crianças gêmeas unidas (fusionadas) pelo tronco.
Esse distúrbio é decorrente de algum teratógeno, provavelmente de origem ambiental. E: fusão
de dois dentes, provavelmente de origem ambiental.

53
Fatores Ambientais

a) agentes infecciosos: um teratógeno desse tipo é o vírus da rubéola,


cuja infecção, nas primeiras quatro semanas após a concepção, possui altos
riscos de gerar malformações do tipo lesões cardíacas, microcefalia (encéfalo
pequeno), retardo no crescimento etc.

b) agentes químicos: envolvem substâncias químicas e drogas.


Exemplos clássicos seriam o álcool (causando hipoplasia maxilar (maxila
pequena), microcefalia (encéfalo pequeno) e retardo do crescimento) e a
talidomida, uma droga utilizada no passado durante a gestação para alívio de
enjôo (provocando focomelia, ou seja, mãos e pés inseridos diretamente no
tronco) etc.

c) agentes físicos: destaca-se, principalmente, a radiação. Pode causar


cegueira, defeitos cranianos e microcefalia (encéfalo pequeno).

Fatores Cronológicos

Dependendo do estágio de desenvolvimento embrionário no qual atua o


teratógeno, as manifestações das malformações são variadas. Um exemplo
seria a rubéola que, se adquirida durante a sexta semana, determina o
aparecimento de alterações oculares. Por outro lado, se a infecção corre na
oitava semana, há o condicionamento de surdez congênita.

Fatores Constitucionais

A constituição genética de uma população é um fator importante de


predisposição a determinado efeito teratogênico. Assim, um agente
comprovadamente teratogênico para um grupo não necessariamente o seja
para indivíduos de outra espécie. A mesma afirmação é válida para populações
de diferentes raças pertencentes a mesma espécie.

Alterações de Desenvolvimento

As alterações de desenvolvimento constituem modificações da forma


original devido a algum desequilíbrio durante a ação do binômio crescimento-
diferenciação. Podem acometer um pequeno grupo de células, um órgão inteiro
ou um indivíduo como um todo (como no caso das teratologias).

AGENESIA: ausência total ou parcial de um órgão. Comum nas


anomalias congênitas. Um exemplo é agenesia de dentes (principalmente de
incisivos laterais). Em alguns casos, a agenesia de algum órgão (como
encéfalo - anencefalia) pode não ser compatível com a vida.

APLASIA: há somente um esboço embrionário de uma região ou órgão,


sem o completo desenvolvimento destes.

HIPOPLASIA (hipo = escassez; plasia = formação): formação deficiente


de parte ou totalidade de um órgão ou tecido. Há diminuição do número de

54
células, porém, estas conservam morfologia e função normais; o tecido ou
órgão é que tem o volume e a função diminuídos. Ex.: hipoplasia do esmalte
dentário. Em algumas situações, como em órgãos pares, a hipoplasia pode
passar despercebida.

E: Hipoplasia de esmalte D: Ectopia: pelos dentro do ovário

ATRESIA: quando não há o completo desenvolvimento de um órgão oco


ou de um ducto, não permitindo a distinção dos lúmens desses órgãos.

ECTOPIA: quando um tecido ou órgão se localiza em local não


comumente observado. Por exemplo, glândulas sebáceas na mucosa bucal
(grânulos de Fordyce) (lembre-se de que a mucosa bucal não possui glândulas
sebáceas normalmente); e a presença de tecido da glândula tireóide no ventre
da língua.

Alterações de Crescimento

As alterações de crescimento envolvem variantes morfológicas em que


se notam modificações quantitativas, ou seja, alterações no volume ou no peso
de um órgão ou tecido.

ATROFIA: diminuição do volume de uma região ou de um órgão, quando


estes já atingiram a idade adulta (já estão formados). A quantidade de células
diminui devido a carência nutricional, a isquemia da região, a fatores
fisiológicos (por exemplo, na senilidade os tecidos diminuem de volume) ou por
desuso do órgão (por exemplo, a atrofia muscular em indivíduos imobilizados
por muito tempo). Em algumas situações não há diminuição do volume do
órgão, mas suas células são substituídas por fibrose ou células gordurosas,
constituindo também uma espécie de atrofia por haver menos células
específicas.

55
E: atrofia de papilas linguais; halo branco degeneração hídrica; D: hiperplasia
da gengiva medicamentosa.

HIPERPLASIA (hiper = excesso; plasia= formação): aumento do número


de células parenquimatosas, que mantêm seu tamanho e função normais.
Porém, o tecido ou órgão hiperplásico tem seu volume aumentado, bem como
sua função. Comum em células lábeis ou estáveis. Ex.: aumento de volume do
tecido conjuntivo fibroso em pacientes portadores de próteses totais
desajustadas. A essa lesão dá-se o nome de hiperplasia fibrosa inflamatória.

HIPERTROFIA (hiper = excesso; trofia = nutrição): aumento do volume


celular provocado pelo aumento individual do tamanho da célula, sem alteração
do seu número. Comum em células permanentes ou estáveis (células
musculares, principalmente). Ex.: atleta halterofilista apresenta suas células
musculares aumentadas; aumento do coração na doença de Chagas.

E: hipertrofia do miocárdio, pode chegar até 1,5X de aumento; D: hiperplasia da


próstata: presença de nódulos (setas) por aumento do número de células.

Tanto a hiperplasia quanto a hipertrofia podem ser de origem hormonal;


pode ainda ser compensadora, ou seja, para compensar algum estímulo; e, por
fim, nutricional, em que há aumento da quantidade ou do volume celular em
função do aumento da vascularização no local.

Alterações de Diferenciação

METAPLASIA (meta = mudança; plasia= formação): uma célula adulta


passa a adquirir características de outro tipo de célula adulta. Pode se
desenvolver em tecidos expostos a prolongados traumatismos ou a irritações

56
crônicas. Ex.: a célula cilíndrica dos epitélios respiratórios pode adquirir
características de célula escamosa (semelhante a do epitélio cutâneo).

D: Metaplasia escamosa em cisto localizado na cavidade nasal. Este cisto está recoberto por
epitélio estratificado e células com formato ovóide e poligonal (epitélio escamoso). E: como
deveria ser o epitélio, o qual deveria ser respiratório (com células ciliadas - cabeça de seta e
cilíndricas).

DISPLASIA (dis = diferente; plasia = formação): proliferação celular


excessiva, acompanhada de ausência ou escassez de diferenciação.
Precedido por uma irritação ou inflamação crônica, o processo displásico pode
regredir se retirada a causa irritante.

ANAPLASIA: desdiferenciação celular, ou seja, as células adultas


adquirem características mais primitivas (embrionárias). Indica desvios da
normalidade mais acentuados do que na displasia, além de ser irreversível.
Representa o melhor critério para o diagnóstico de malignidade dos tumores.

Unidade 10

Neoplasias

Conceito: "neo” = novo; "plasia" = formação. Proliferações locais de


clones celulares cuja reprodução foge ao controle normal, e que tendem para
um tipo de crescimento autônomo e progressivo, e para a perda de
diferenciação. A célula adquire a ação de se especializar segundo novas
regras, sendo uma perda da diferenciação normal, indicando que há um novo
tecido se formando no local.

A teoria de que a origem das neoplasias, bem como dos demais grupos
de patologias está no código genético está cada vez mais forte hoje. Isso indica

57
que a célula-mãe, estando alterada geneticamente, passará essa alteração
para as células-filhas.

Etiologia

Os agentes causadores das neoplasias ainda constituem um mistério.


As pesquisas envolvendo a etiologias das neoplasias abordam uma possível
origem a partir da alteração direta do DNA. Isso implica que o agente agressor
foi de tal ordem que suplantou os mecanismos de reparação do DNA
naturalmente disponíveis.

Acredita-se hoje que, para uma célula se tornar neoplásica, são


necessárias inúmeras mutações, para que a célula adquira fenótipo neoplásico.
Vale dizer que uma célula normalmente sofre cerca de 1.000.000 de mutações
no ciclo normal celular, devido à imperfeição do nosso sistema de reparo do
DNA.

Em termos genéticos, os genes alterados e ditos promotores das


neoplasias são denominados de oncogenes. Um outro mecanismo de origem
das neoplasias envolveria os agentes epigenéticos, ou seja, que causariam
alterações na expressão do DNA, mas não diretamente em sua estrutura.

Os agentes neoplásicos podem ser divididos em:

Agentes Físicos

a) energia radiante: representadas pela radiação ultravioleta e pelo raio


X. Provocaram danos diretos à estrutura do DNA.

b) energia térmica: principalmente exposições constantes ao calor ou


queimaduras, envolvendo principalmente lesões em pele. A constante
exposição ao calor implica um alto grau de renovação celular, principalmente
do epitélio cutâneo, o que faz com que a célula se multiplique constantemente,
aumentando a probabilidade de mutações. Carcinoma epidermóide (neoplasia
maligna epitelial) em lábio inferior é muito comum em países tropicais.

Agentes Químicos

a) corantes: as anilinas, por exemplo, têm sido relacionadas aos


cânceres no trato urinário.

b) fumo: carcinoma epidermóide em boca, atualmente tem sido


correlacionado a hábitos de uso de fumo e álcool.

Agentes Biológicos

58
a) virais: o DNA - vírus incorpora-se ao genoma humano ou participa
diretamente dos mecanismos de multiplicação celular, incluindo suas proteínas
nesse processo. Os RNA - vírus, ao contrário, copiam seqüências genéticas
humanas e passam a interferir diretamente
nos mecanismos celulares. Acredita-se hoje
que muitos vírus participem dos processos
neoplásicos haja visto sua interferência no
genoma humano. Os mais estudados são o
HPV (papilomavírus humano), como
possível causador de carcinomas de colo
uterino, e o citomegalovírus, como causador
de linfomas.

Leucoplasia: alto potencial de transformação


maligna; provavelmente de origem viral

b) bacterianos: ainda não se conhece bem a participação de bactérias no


mecanismo de formação neoplásica (alguns autores nem acreditam que tenha
participação); contudo, têm sido fonte também de pesquisas.

Nomenclatura

A nomenclatura das neoplasias benignas segue a regra de se


acrescentar o sufixo oma ao nome do tecido de origem. Ex.: papiloma (origem
do epitélio escamoso), adenoma (origem do epitélio glandular), fibroma (do
tecido conjuntivo), lipoma (do tecido adiposo) etc.

Para os tumores malignos, utiliza-se a expressão carcinoma para os de


origem epitelial e sarcoma para os de origem mesenquimal.

Há exceções: Para algumas neoplasias malignas, porém, utiliza-se a


regra de nomenclatura das benignas. Ex.: linfomas (origem mesenquimal
hematopoiética), melanoma (origem epitelial).

Classificação

Basicamente, as neoplasias podem ser divididas, quanto a sua


prognose, em BENIGNAS ou MALIGNAS.

Características Anatômicas Macroscópicas

Características Anatômicas Microscópicas


Neoplasias
Critérios Neoplasias malignas
benignas
velocidade de crescimento lenta rápida
expansiva e
forma de crescimento expansiva
infiltrativa
crescimento a distância
ausente presente
(metástases)

59
Os tumores benignos apresentam suas células semelhantes às do tecido
de origem. Seus núcleos não estão alterados, ou seja, a célula neoplásica é
indistinguível da normal. Porém, há formação de um arranjo tecidual diferente
que segue os padrões de formação citados anteriormente.

Neoplasia benigna de tecido nervoso periférico (HE, 400X). As


células são bastante semelhantes entre si e também em
relação às células nervosas normais. Surge somente um
padrão tecidual diferente, uma distribuição e disposição novas
das células.

As neoplasias malignas apresentam células


com núcleos alterados: há irregularidades na forma, tamanho e número; podem
surgir mitoses atípicas, hipercromasia nuclear (=grande quantidade de
cromatina), pleomorfismo (variados tamanhos e formas de núcleo e da célula
como um todo). O citoplasma dessas células pode ter a relação
núcleo/citoplasma alterada. Essas características microscópicas são
consideradas índices de atipia.

Neoplasia maligna epitelial, exibindo hipercromatismo (setas),


células de tamanhos e formas variados (pleomorfismo),
vacuolização no citoplasma e alteração da relação núcleo-
citoplasma. Mitose atípica é vista no centro do campo.

Classificação Histogenética

Tem com critério o tecido de origem: epiteliais, mesenquimais.

Anatomia Macroscópica das Neoplasias

a) volume: pode ser microscópico ou ocupar o órgão inteiro; o volume da


neoplasia não é indicativo de prognóstico (se benigno ou maligno), pois
depende do tipo de tecido e de sua localização. Os carcinomas ditos in situ, por
exemplo, geralmente são microscópicos e restritos dentro do epitélio e já são
considerados malignos.

b) forma: os benignos tendem a ser esféricos e com limites bem


definidos; os malignos, por sua vez, têm limites indefinidos e formato bem
irregular.

c) superfície: as neoplasias podem ter superfície lisa, ulcerada,


necrótica, granulosa ou papilar, dependendo do tecido e da forma de

60
crescimento. As neoplasias malignas, por exemplo, principalmente as epiteliais
de revestimento, aparecem muitas vezes ulceradas.

d) cor: variações de cor podem ser vistas, por exemplo, em decorrência


de hemorragias ou de necrose no tecido neoplásico. No caso de crescimento
secundário (metástases), o tecido neoplásico pode ter cor do seu tecido de
origem.

e) consistência: em geral, os tecidos neoplásicos têm consistência mais


firme do que o tecido no qual está localizado.

E: Leiomioma de útero, neoplasia benigna de tecido muscular liso, o qual


apresenta massas esféricas e bem delimitadas; D: Neoplasia maligna metastática (AC) em
pulmão. A massa tumoral apresenta coloração bem diferente em relação ao pulmão, sua
consistência é mais fibrosa. As metástases em geral costumam ser mais delimitadas, apesar
de malignas.

Diagnóstico das Neoplasias

O diagnóstico das neoplasias é feito, inicialmente, por intermédio da


observação do tumor (de suas características clínicas). Exames
complementares para o diagnóstico das neoplasias incluem, dentre outros,
exames imagenológicos (radiografias, tomografias etc.), bioquímicos e
histopatológicos. Para estes últimos, é necessária a retirada de fragmento do
tecido em questão, o qual é processado para análise microscópica.

Biópsia

Retirada e exame histopatológico (macroscópico e microscópico) do


tecido lesado, obtendo-se a natureza da doença e seu estágio.

Está indicada para lesões que provoquem alterações morfológicas


significativas (não necessariamente neoplásicas), para o diagnóstico diferencial
com outras entidades patológicas, para avaliação do grau de malignidade ou
do resultado do tratamento instituído (se as células neoplásicas ainda estão
presentes ou não).

Citopatologia Oncótica

61
Pesquisa individual dos elementos neoplásicos, com material obtido por
intermédio de raspagem do local (e não de incisão como na biópsia).

Pela análise desse exame, são atribuídas classes (classes de


Papanicolaou), as quais dizem respeito ao grau de diferenciação das células
presentes. A citopatologia oncótica está indicada para a detecção precoce de
neoplasias malignas. Ela é utilizada na odontologia ou na ginecologia.

Crescimento Secundário

As neoplasias podem se desenvolver no seu local de origem, com


crescimento dito primário ou in situ. Porém, diante de um desenvolvimento
neoplásico maligno, podem-se observar crescimentos secundários, ou seja, há
um desenvolvimento neoplásico distante do seu local de origem.

Os crescimentos secundários podem se desenvolver de duas maneiras:

a) por invasão: as células neoplásicas penetram os tecidos vizinhos,


estas mantendo continuidade anatômica com a massa neoplásica de origem.

b) por metástase: constitui um crescimento à distância, sem


continuidade anatômica com a massa neoplásica de origem. Para tal, é
necessário que haja invasão e desgarro das células neoplásicas, circulação
destas (embolia) e implantação em um novo local que contenha condições de
proliferação celular.

Um vaso sangüíneo (V) com células tumorais bem próxima de


sua parede. Uma delas até mesmo parece "empurrar" a parede
endotelial (setas). Trata-se dos momentos iniciais da
disseminação das células tumorais por via hematogênica (HE,
400X).

Unidade 11

Fundamentos de Patologia da Nutricão

As vitaminas são agrupadas conforme as suas funções: 1) vitaminas


com função de coenzimas, 2) vitaminas que funcionam como antioxidantes, 3)
que agem na regulação gênica (transcrição ou tradução).

Vitaminas que Funcionam como Antioxidantes

O oxigênio, que existe em alta concentração na atmosfera, é altamente


reativo e tende a oxidar todas as substâncias com as quais entra em contato.
Na crosta terrestre, cada átomo mineral está ligado, em média, a dois átomos
de oxigênio. O oxigênio tende a oxidar componentes celulares diversos, e o ser
vivo tem de dispor de meios eficazes para impedir transformações indesejáveis
em suas moléculas.

62
O oxigênio tende a modificar todos os componentes celulares passíveis
de oxidação, mas, sobretudo os componentes insaturados como os ácidos
graxos. Oxidar significa perder elétrons.

Radicais livres são moléculas instáveis e que apresentam um elétron


que tende a associar-se de maneira rápida a outras moléculas de carga
positiva com as quais pode reagir ou oxidar. No nosso organismo: são
produzidos pelas células, durante o processo de queima do oxigênio, utilizado
para converter os nutrientes em energia.

Radicais livres são agressores celulares potentes e ligam-se a diversas


substâncias no organismo, inclusive DNA, sendo capazes de provocar
mutações e outras lesões. Luz ultravioleta, raios X, fumaça de cigarro, gases
de veículos automotores, ozona e diversos poluentes ambientais formam
radicais livres no organismo. Radicais livres parecem exercer papel relevante
no desenvolvimento de aterosclerose, câncer, doenças pulmonares, cataratas
e, segundo muitos pesquisadores, no envelhecimento.

O organismo dispõe de diversos mecanismos para se contrapor à ação


deletéria do oxigênio:

1) substâncias antioxidantes, contidas nos alimentos;

2) sistemas enzimáticos (catalase, glutationa peroxidase e superóxido


dismutase) que neutralizam os peróxidos.

3) Carotenos, vitamina E, vitamina C, bioflavonóides que promovem a


limpeza das células, isto é, a neutralização de agentes oxidantes ou a remoção
de produtos de oxidação.

Carotenos

Têm função antioxidante, protegendo as membranas contra a formação


de radicais livres. Há inúmeros dados na literatura mostrando o papel protetor
deles contra neoplasias em animais de laboratório.

Vitamina E

63
Foi descoberta no início da terceira década do século XX. O resultado
mais marcante da carência dessa vitamina era a perda da capacidade de
reprodução em todos os animais testados.

Os tocoferóis, um grupo de compostos naturais, têm atividade de


vitamina E. In vitro funciona como antioxidante protegendo lipídeos com duplas
ligações, tais como vitamina A e ácidos graxos poliinsaturados.

Outras funções têm sido atribuídas à vitamina E: impedir a formação de


radicais livres, protegendo as membranas biológicas, papel importante
modulando a síntese de prostaglandinas e consequentemente na agregação de
plaquetas.

Vitamina C

O escorbuto, doença resultante da deficiência de vitamina C, é


conhecido desde o tempo das Cruzadas. Na época das grandes navegações,
muitos marinheiros morriam de escorbuto durante as viagens. Em 1.755,
James Lind, médico escocês, demonstrou o papel preventivo e curativo de
frutas frescas contra o escorbuto.

O ácido ascórbico e seu produto de oxidação (ácido desidroascórbico)


têm atividade de vitamina C. É termolábil, fotossensível e oxida-se na presença
de oxigênio atmosférico. É biossintetizado pelos vegetais e por quase todos os
vertebrados, com exceção de poucas espécies, entre elas o homem e outros
primatas. Com a ingestão excessiva da vitamina, a absorção é limitada.

Na biossíntese de colágeno e elastina, ela age na hidroxilação de


resíduos de prolina e de lisina, que atuam sobre o pró-colágeno e a pró-
elastina, transformando-os em colágeno e elastina. O ácido ascórbico participa
ainda do metabolismo do ferro, o que explica a anemia que ocorre no
escorbuto.

64
Os níveis de vitamina C no sangue são baixos em pacientes com
aterosclerose e em fumantes. No escorbuto encontram-se lesões na íntima das
artérias indistinguíveis daquelas encontradas na aterosclerose. Demonstrou-se
que ela inibe a formação de nitrosaminas, substâncias cancerígenas.

LESÕES E DOENÇAS PROVOCADAS POR CARÊNCIA OU EXCESSO


DE NUTRIENTES

Talvez a maior parte dessas informações provenha da experimentação


em animais.

O uso de animais em pesquisas científicas ganharam força há 1 século;


e sempre causou polêmica. As brigas entre pesquisadores e organizações
protetoras dos animais são históricas.
Dados da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento Alternativos (EUA):
• A população de ratos de laboratório está crescendo explosivamente.
• O SN dos ratos aproxima-se do nosso em 99%.
• Uma cobaia generalista.
• Reproduzem rapidamente;
• Fácil manuseio.

Semelhanças genéticas com humanos:


• Ratos = 90%
• Primatas = 99,4%

Breve histórico:
Médicos babilônicos já dissecavam animais aproximadamente em 2.250
a.C. Hipócrates, 460 - 377 a.C, começou a usar animais em seu estudo.
Cláudio Galeno, 129 – 199, fez estudos comparativos entre macacos e
humanos.

Contribuição de cada um
Ratos
• Ratos:
• Viagra;
• Diabetes;
• Alzheimer;
• Distrofia muscular;
• Doenças neurológicas degenerativas;
• Diversos tipos de câncer.
Gatos
• Avanços na oftalmologia:
• Correção de estrabismo;
• Tratamento do glaucoma;
• Cirurgia de catarata.
Porquinhos da Índia
• 23 prêmios Nobel;
• Descoberta da vitamina C;
• Do Bacilo da Tbc;
• Da adrenalina.

65
Porcos
• Células modificadas transplantadas em humano para o tratamento de
derrames.
Ovelhas
• 1º. Mamífero clonado;
• Tentativa de criar medicamentos contra hemofilia e a fibrose cística a
partir do leite de clones.
Furões
• Estudos relacionados à reprodução humana.
Cavalos
• Antídotos e vacina contra a difteria;
• Preferidos dos oncologistas: estrutura celular muito parecida com a
humana
Hamster
• Estudo da melatonina
• Descoberta da falta de insulina na diabetes;
• Desenvolvimento de técnicas de cirurgia cardíaca.
Cuíca – espécie de gambá
• Estudos sobre o sistema imunológico e o cromossomo X

As carências nutricionais podem ser simples ou múltiplas. Nos homens


são mais comuns as múltiplas. A maior parte dos autores utiliza desnutrição
para indicar as carências nutricionais; outros preferem termos como
subnutrição ou má nutrição.

Segundo a FAO/OMS, desnutrição indica o estado patológico causado


por consumo deficiente de alimentos e por ingestão calórica inferior às
necessidades, durante período prolongado. Superalimentação é o estado
causado pela ingestão excessiva de calorias ou de nutrientes, em geral durante
certo período de tempo.

Carências Nutricionais

Podem ser primárias ou secundárias. Carência primária é a falta de


nutrientes necessários ao funcionamento normal do organismo, decorre de
ingestão insuficiente de alimentos e resulta de:

1) causas sócio-econômicas: pobreza individual ou coletiva, deficiência


de produção de alimentos, analfabetismo, baixo nível cultural, preconceitos
alimentares, monocultura.

2) causas médicas: doenças físicas ou psíquicas, como a anorexia


nervosa, bulimia, que dificultam ou impedem a ingestão de alimentos.

A carência secundária, também dita condicionada, é uma anormalidade


de utilização dos nutrientes ingeridos. Pode ser devida a:

1) digestão insuficiente de nutrientes por insuficiência hepática,


pancreática, gástrica ou intestinal;

66
2) deficiência de absorção por alterações da mucosa intestinal;

3) utilização inadequada dos alimentos, como no diabetes e erros


congênitos do metabolismo;

4) utilização excessiva de nutrientes em virtude de aumento do


metabolismo, como no hipertireoidismo;

5) excreção anormal de nutrientes, como em algumas lesões renais,


quando há perda proteínas, vitaminas e sais minerais;

6) destruição da microbiota intestinal, que provoca a deficiência de


vitaminas, o que acontece quando se usam antibióticos por tempo prolongado.

Segundo dados da North Caroline University, EUA, há 800 milhões de


desnutridos no mundo, 1 bilhão com excesso de peso e 300 milhões de
obesos.

Energia

Deficiência

Deficiência na ingestão de energia leva ao marasmo na criança e à


caquexia no adulto. O adulto caquético é exageradamente
magro e anêmico e torna-se apático. Há perda acentuada
de peso por consumo dos depósitos de gordura e da massa
muscular e diminuição do metabolismo basal, da freqüência
cardíaca e da concentração de hemoglobina. Seguem-se,
em muitos casos, hipoalbuminemia e edema (edema da
fome). Há diminuição da força muscular e da capacidade de
trabalho, apatia e depressão da capacidade intelectual.

Na criança

Há retardo do crescimento e do desenvolvimento físico. A criança


marasmática é esquálida e apática. A apatia é uma defesa do corpo para
economizar energia. Em geral, existe uma policarência, isto é, deficiência de
muitos nutrientes. O marasmo instala-se nos primeiros anos de vida (de
preferência no primeiro) é de aparecimento gradual e tem evolução lenta.
Caracterizam-se por deficiência acentuada de crescimento e de peso (em torno
de 40 a 60% do normal), ausência de gordura subcutânea e hipotrofia muscular
pronunciada. A face da criança tem aspecto de pessoa idosa, contrastando
com aquela apresentada no kwashiorkor, que é de lua cheia. Em virtude do
emagrecimento, a cabeça parece desproporcional em relação ao corpo.

67
Diarréia e anemia são freqüentes, mas não há edema. Em geral, o apetite é
afetado e as crianças tornam-se irritadiças. A pele descama-se com freqüência
toma aspecto de pergaminho.

Há evidências mostrando que desnutrição protéico-calórica no ultimo


trimestre de gravidez e nos primeiros três anos de vida produza deficiência no
desenvolvimento cerebral da criança. O número de neurônios é diminuído, o
que se reflete em deficiência mental e problemas de comportamento
permanentes e irreversíveis.

Excesso

O excesso de ingestão de energia, qualquer que seja sua origem, leva à


obesidade. A OMS coloca hoje a obesidade como uma doença de caráter
epidêmico.

Obesidade é definida como o aumento da quantidade de gordura no


tecido adiposo. Portanto proteínas, gorduras, carboidratos e álcool produzem
energia, se ingeridos em excesso, podem engordar. Dados epidemiológicos
mostram maior incidência de obesidade em populações que consomem
gordura em excesso.

Segundo a celuridade, a obesidade pode ser:

a) Hiperplásica: há aumento da quantidade de adipócitos. Instala-se em


geral antes da puberdade, quando se determina o número de adipócitos.

b) Hipertrófica: não há inicialmente o aumento do número de adipócitos,


mas apenas de seu tamanho e, portanto, de seu conteúdo em gordura. Com a
persistência da obesidade, pode ocorrer multiplicação de adipócitos e ela se
tornar hipertrófico-hiperplásica.

Segundo a localização a obesidade classifica-se em central ou


periférica.

A obesidade central é mais comum em homens, é mais maligna, pois


predispõe à síndrome plurimetabólica, que consiste em hipercolesterolemia,

68
resistência à insulina, hipertensão arterial e aterosclerose. Ácidos graxos
liberados da gordura intra-abdominal caem no sistema porta e se oferecem
diretamente ao fígado, o que predispõe ao à síndrome plurimetabólica e à
esteatose hepática. Já a obesidade periférica, mais comum em mulheres, é
menos danosa.

A obesidade influi negativamente sobre o funcionamento de vários


sistemas, como o circulatório, respiratório, urinário e locomotor. Predispõe a
muitas doenças, notadamente hipertensão arterial, cardiopatia hipertensiva,
aterosclerose, acidentes vasculares cerebrais, infarto do miocárdio, diabete,
litíase biliar, câncer do fígado e da vesícula biliar e doenças articulares. Por
esse motivo, o índice de sobrevida dos obesos é menor em relação ao da
população em geral.

Evidências obtidas com animais de laboratório mostram que a ingestão


excessiva de alimentos diminui a longevidade. Animais alimentados com
restrição de calorias viveram um terço a mais que animais alimentados ad
libitum.

PROTEÍNAS

Deficiência

A deficiência de proteínas em adultos produz emagrecimento, anemia,


hipoproteinemia, letargia e edema (devido a hipoalbuminemia). Em crianças,
causa o kwashiorkor, que, em um dialeto de Gana, significa “doença da criança
deposta”. O kwashiorkor ocorre em crianças desmamadas e que não são
alimentadas adequadamente. Caracteriza-se por: 1) parada de crescimento; 2)
diminuição acentuada da gordura subcutânea; 3) edema; 4) espoliação do
tecido muscular; 5) fácies lunar; 6) alterações na textura e coloração dos
cabelos; 7) aparecimento freqüente de dermatoses; 8) diarréia; 9) anemia; 10)
esteatose hepática; 11) hipotrofia do pâncreas; 12) apatia; 13) distúrbios
mentais. Em animais alimentados com dieta deficiente em proteínas, obtém-se
um quadro que, até certo ponto se assemelha ao do kwashiorkor.

Excesso

Resultados obtidos com animais de laboratório sugerem que o excesso


de proteínas na dieta relaciona-se com menor longevidade. Ratos alimentados
com quantidades menores de proteínas, sobretudo na idade adulta têm maior
sobrevida e menor incidência de doenças renais e cardiovasculares. Em
humanos, o aumento do consumo de proteínas parece estar relacionado a: 1)
diversos tipos de câncer; 2) osteoporose; 3) hiper-homocisteinemia (fator
predisponente a aterosclerose). A relação entre dieta hiperprotéica e câncer
estaria ligada à síntese mais acentuada de amônia e de nitrosaminas (agentes
mutagênicos) pela flora intestinal.

FIBRAS

69
Na cavidade oral, as fibras contribuem para a limpeza dos espaços
interdentários e das gengivas. Evita-se a criação de um ambiente propício ao
aparecimento da cárie e doença periodontal.

A propriedade que as fibras solúveis têm de diminuir a velocidade de


absorção no intestino delgado tem sido utilizada na dietoterapia do diabete.
Alimentos ricos em pectina, como a aveia, mamão, manga, laranja, maçã,
cenoura, legumes, ou em gomas, como a soja e feijão são recomendados a
diabéticos. As fibras solúveis seqüestram colesterol e sais biliares no intestino
delgado, contribuindo para maior catabolização do colesterol.

Dietas ricas em fibras parecem proteger o indivíduo contra


aterosclerose, câncer do intestino grosso, diverticulite, apendicite e
hemorróidas.

Cereais integrais, frutas e hortaliças são ricos em fibras insolúveis.


Leguminosas (feijão, ervilha, lentilha, grão-de-bico, soja), aveia, mamão,
laranja, maçã, cenoura e castanhas são ricos em fibras solúveis.

VITAMINAS

Hipovitaminoses ou avitaminoses: é a carência das vitaminas.


Hipervitaminose é o excesso de vitaminas; é pouco comum na patologia
espontânea.

Vitamina A

Hipovitaminose

É uma das doenças nutricionais de maior prevalência no globo. Provoca


transtornos da visão, distúrbios de crescimento, diferenciação de epitélios e
alterações imunológicas.

O primeiro sinal de deficiência de vitamina A é a diminuição da


percepção da luz crepuscular, conhecida como cegueira noturna ou
emeralopia. A alteração dos cones manifesta-se pela diminuição da
sensibilidade cromática.

O epitélio da conjuntiva e o da córnea sofrem metaplasia epidermóide


(escamosa), com ceratinização. Conjuntiva e córnea aparecem secas, ásperas,
opacas, tornando o globo ocular mais duro, constituindo a xeroftalmia.
Seguem-se inflamações que podem afetar todo o olho (panoftalmia) e
amolecimento da córnea (fusão da córnea, ceratomalácia). Em casos graves
há extrusão do cristalino e do humor vítreo. Ocorrem metaplasia e
ceratinização em epitélios da traquéia, brônquios, vias excretoras da urina,
esôfago, estômago, intestino, ductos pancreáticos, vagina, útero, tubas,
glândulas prostáticas, vesículas seminais, ductos deferentes, glândulas
sebáceas, folículos pilosos, glândulas lacrimais e salivares.

70
No macho há parada da espermatogênese e degeneração das células
de Sertoli, que descamam na luz dos túbulos seminíferos; as células
germinativas chegam até o estágio de espermatócito. Em conseqüência, o
indivíduo tem azoospermia e o testículo se torna hipotrófico. Na fêmea, ocorre
metaplasia no endométrio que pode impedir o aninhamento do ovo; caso esse
se implante é absorvido posteriormente. Se chega a se desenvolver, a
gestação é interrompida por infecções bacterianas da placenta.

Ocorrem também lesões ósseas: a absorção é diminuída e a produção é


exagerada, resultando, de um lado, em aumento da espessura de estruturas
óssea e diminuição de suas cavidades, e. de outro, em formação excessiva de
tecido ósseo.

No homem a hipovitaminose A é conseqüência de: 1) distúrbios na


absorção intestinal da mesma, ou mais exatamente, dos óleos que a veiculam;
2) mais raramente, defeito da conversão de pró-vitaminas em vitaminas, que
ocorre em certos casos de diabete e de hipertireoidismo. Com isso, surge
hipercarotenemia, e os carotenos acumulam-se nos tecidos, especialmente nos
da palma da mão e planta dos pés, que se tornam amarelos.

Hipervitaminose

O excesso de vitamina A produz intoxicação que se manifesta por


vômitos, aumento da pressão intracraniana e papiledema. Nunca se descreveu
hipervitaminose A por ingestão excessiva de carotenos.

Experimentalmente, a hipervitaminose A resulta em diminuição da


espessura dos ossos, facilitando fraturas, e alterações na substância
fundamental da cartilagem.

Vitamina D

Hipovitaminose

A hipovitaminose D resulta em absorção intestinal insuficiente de cálcio,


o que diminui a mineralização da matriz óssea. Como resultado, há excesso de
tecido osteóide, a calcificação é deficiente e o osso neoformado é mole,
facilmente deformável e predisposto a fraturas. Essa lesão óssea manifesta-se
sob duas formas: raquitismo na criança e osteomalácia no adulto.

No raquitismo, a lesão inicial e básica consiste na falta quase completa


de calcificação da substância intercelular do disco epifisário. As deformações
ósseas mais características são: alargamento das epífises; encurvamento dos
ossos longos, em especial daqueles dos membros inferiores; formação de
nódulos cartilaginosos na junção osteocondral de cada costela, formando o
rosário raquítico; achatamento do crânio pela pressão sobre o osso occipital,
com bossas frontais projetadas para frente e formação da chamada cabeça
quadrada; deformação da pelve; acentuação da lordose lombar.

Hipervitaminose

71
Não se conhecem casos de hipervitaminose D por exposição constante
a luz solar. Ela pode acontecer por ingestão excessiva da vitamina. Os sinais e
sintomas são: hipercalcemia, hipercalciúria, desidratação e cálculos renais. Nos
ossos formam-se áreas de desmineralização, enquanto aparecem zonas de
calcificação no tecido conjuntivo de qualquer parte do corpo, nas fibras
musculares cardíacas, nos músculos esqueléticos, na parede das artérias e,
sobretudo nos rins. É comum o aumento da fragilidade =das hemácias, com
tendência à hemólise.

Vitamina E

Hipovitaminose

Não são conhecidos casos de deficiência de vitamina E em adultos. Em


crianças prematuras é comum a deficiência dessa vitamina. Em animais de
laboratório encontramos fraqueza muscular e incapacidade de reprodução no
macho e na fêmea. Após 15 dias em dieta pobre em vitamina E, as hemácias
tornam-se facilmente hemolisadas.

Crianças, sobretudo as prematuras, nascem com níveis baixos de


vitamina E, em virtude de transferência deficiente dessa vitamina através da
placenta. Como a quantidade de vitamina E no leite é baixa e a capacidade de
absorção intestinal nos prematuros é às vezes deficiente, a criança pode
apresentar anemia hemolítica, trombocitopenia e edema.

Na maioria dos animais, as principais lesões são a distrofia muscular


nutricional e miopatia necrosante, mais freqüentes nos músculos lisos e
esqueléticos e mais raramente no miocárdio.

Em pintos prevalecem degeneração de neurônios e feixes nervosos do


encéfalo, incoordenação motora (ataxia), hipertonia e espasmos musculares ou
paralisias.

No sistema reprodutivo as lesões são mais graves no sexo masculino:


degeneração e atrofia do epitélio germinativo, com hipotrofia testicular e
azoospermia.

Hipervitaminose

O excesso de vitamina E não causa problemas à saúde. Há relatos de


alguns casos de deficiência de vitamina K após megadoses de vitamina E.

Vitamina K

A hipovitaminose leva ao aparecimento de hemorragias ou diátese


hemorrágica. É pouco comum porque está presente em vários alimentos,
animal ou vegetal, e microrganismos do intestino contribuem para a sua
produção.

72
O recém-nascido possui baixas quantidades dessa vitamina, uma vez
que a placenta não é boa transportadora de lipídeos. A deficiência pode
acontecer em adultos em casos de má absorção intestinal.

A conseqüência principal da hipovitaminose K é a diminuição da


coagulabilidade do sangue: tempo de coagulação e tempo de protrombina
estão aumentados.

A carência dessa vitamina ocorre em duas principais situações: 1)


abosorção intestinal de gorduras pelo intestino prejudicada em virtude de
insuficiência biliar (obstrução de vias biliares, cirrose hepática) ou de
insuficiência pancreática (pancreatite, câncer); 2) alteração da microbiota
intestinal.

Tiamina

A deficiência de tiamina afeta os sistemas circulatório, muscular, nervoso


e digestivo: insuficiência cardíaca, fraqueza muscular, neuropatia central e
periférica e disfunção gastrintestinal. A doença resultante da deficiência de
tiamina é o beribéri, que se tornou comum no oriente pelo aumento do
consumo de arroz polido.

Na forma cardiovascular (beribéri úmido) predominam insuficiência


cardíaca e edema. A insuficiência contrátil do miocárdio parece decorrer de
degeneração hidrópica das fibras musculares acompanhada de perda focal de
estriação das mesmas, focos de necrose e hialinose.

Na forma paralítica (beribéri seco) predomina uma polineurite crônica


envolvendo nervos motores e sensitivos, com tumefação da bainha de mielina
dos nervos periféricos, alterações das terminações vagais do miocárdio, e por
fim axônios tumefeitos e fragmentados. O comprometimento dos nervos
motores leva a parestesias, fraqueza dos membros, hipotrofia muscular, com
marcha instável. Pode ocorrer a morte por insuficiência respiratória ou
cardíaca. A deficiência de tiamina associada ao alcoolismo resulta na
encefalopatia de Wernicke.

O beribéri infantil é devido à carência materna em tiamina, predominado


as manifestações nervosas, vômito, diarréia e perda de peso.

Riboflavina (Vitamina B2)

Em animais de laboratório, sua deficiência causa anomalias congênitas.


A carência de vitamina B2 são bem menos graves do que as da deficiência de
tiamina. A arriboflavinose isolada é rara; acompanha com freqüência o
kwashiorkor, a pelagra, o beribéri. Acomete de preferência crianças.

As suas manifestações são: dermatite seborréica, fotofobia, anemia,


neuropatia, queilose angular, estomatite e glossite. A língua apresenta
hipotrofia das papilas, descamação acentuada, atrofia do epitélio e congestão,
adquirindo cor rósea viva. Formam-se sulcos e fissuras na superfície, pela

73
atrofia do epitélio, chamada de língua escrotal. Em muitos casos há alterações
tróficas da pele, em especial nas dos genitais externos.

Niacina

A conseqüência clássica da carência de niacina é a pelagra, conhecida


como doença dos 3D: dermatite, diarréia e demência.

As lesões cutâneas aparecem principalmente nas regiões expostas do


corpo e especialmente na primavera e verão. Iniciam-se com eritema,
seguindo-se a formação de bolhas serosas, sero-hemorrágicas ou purulentas,
constituindo o chamado pênfigo pelagroso, que regride. Permanecem
hiperceratose e hiperpigmentação, e a pele torna-se áspera.

No sistema nervoso atinge: 1) sensorial, com alterações do paladar,


hiperestesias e nevralgias; 2) motor, com espasmos e paralisias (no globo
ocular provocam diplopia); 30 psíquico, com hiperexcitabilidade, melancolia,
demência, alucinações e delírios.

No sistema digestivo: queilite, gengivite e glossite, com intumescimento


da língua, que adquire aspecto de língua geográfica; seguem-se faringite,
esofagite, vômitos e diarréia. No cão, e raramente no homem, causa a
síndrome da língua preta.

Vitamina B6

Não se encontra, ao menos na sua forma completa, na patologia


espontânea. Em voluntários humanos, foi obtida uma síndrome carencial
mediante tratamento com antivitamina B6: 1) dermatite ao redor dos olhos e da
boca; 2) queilite, glossite e estomatite semelhantes à pelagra; 3) sonolência e
confusão mental.

Ácido Pantotênico

Por causa de sua ocorrência ubiqüitária (daí o prefixo pan), não se


conhece deficiência espontânea de pantotenato em humanos. Voluntários que
ingeriram um antagonista dessa vitamina desenvolveram vômitos, fraqueza,
desconforto abdominal, cãibras, insônia e parestesia das extremidades.

Biotina

A vitamina foi descoberta em virtude de uma doença que aparecia em


animais domésticos alimentados com ovo cru, que é rico em avidina (que é
uma proteína que se liga fortemente à biotina, impedindo sua absorção no tubo
digestivo).

A deficiência de biotina é bem conhecida animais de experimentação.


Deficiência espontânea em humanos nunca foi descrita, exceto em pacientes
submetidos a nutrição parenteral. Voluntários adultos que ingeriram clara de

74
ovo crua durante cindo semanas manifestaram depressão, sonolência,
lassidão, alucinação, ansiedade, dores musculares e hiperestesia.

Vitamina B12

A conseqüência clássica da carência de dessa vitamina é a anemia


perniciosa, ou doença de Addison-Biermer. Esta consiste em uma síndrome
gastro-hemático-nervosa devida à carência de cobalamina na dieta (p. ex. em
vegetarianos ortodoxos) ou, mais comumente, à falta de absorção da vitamina
B12 pela mucosa intestinal. Em geral, isso acontece pela ausência de uma
mucoproteína sintetizada pelas células parietais do estômago conhecida como
fator intrínseco, essencial para a absorção intestinal da cobalamina. Na anemia
perniciosa, coexiste quase sempre atrofia da mucosa gástrica. Essa anemia
aparece também em todas as condições em que há perda da mucosa oxíntica
do estômago, como na gastrite atrófica ou em pacientes gastrectomizados. A
anemia megaloblástica assemelha-se à causada pela carência de ácido fólico.

O estômago apresenta hipo ou acloridria. A lesão do sistema nervoso


manifesta-se como parestesias e enfraquecimento muscular, especialmente
das pernas.

Folacina

A deficiência de folacina é comum no alcoolismo crônico, que provoca


anemia megaloblástica, semelhante à anemia perniciosa. Pode provocar
também anemia megaloblástica na gravidez. Outras manifestações são: 1)
queilite, glossite, faringite, esofagite; 2) diarréia; 3) às vezes esteatose
hepática.

Dados epidemiológicos sugerem que defeitos do tubo neural, como a


anencefalia, podem estar relacionados à deficiência de folacina nas primeiras
semanas de gestação.

Estudos recentes mostram os benefícios da folacina no tratamento da


depressão, nos quais melhora acentuada dos pacientes foi alcançada em 30%
dos casos tratados.

Vitamina C

A carência do ácido ascórbico é responsável pelo escorbuto. O quadro é


dominado por hemorragias, em virtude do aumento da fragilidade capilar;
precedidas por astenia, dores musculares e hipotensão arterial. Hemorragias
ocorrem preferencialmente em locais submetidos a pequenos traumatismos,
como as gengivas, leito subungueal, periósteo, articulações. Na inserção
esternal das costelas, forma, na criança, o chamado rosário escorbútico, que
pode ser confundido com o raquítico.

Ocorrem lesões ósseas, em parte conseqüência de hemorragias, em


parte devidas à formação defeituosas da matriz óssea. Exemplos: hemorragias

75
subperiósteas; osteoporose difusa; microfraturas; hemorragias do tecido
periodontal e perda de dentes.

A cura de feridas é retardada na deficiência de vitamina, por causa do


distúrbio da síntese do colágeno e da elastina. Quando coexiste carência de
folacina, pode surgir anemia do tipo megaloblástico. São comuns sintomas
psíquicos, notadamente estados depressivos. Na criança ocorre atraso do
desenvolvimento corporal.

MINERAIS

Ferro

A conseqüência principal da carência desse metal é a anemia ferropriva,


que se inicia como microcítica e hipocrômica, evolui para microcítica e
normocrômica e, finalmente estabiliza-se com as mesmas características com
que se iniciou. As causas de deficiência de ferro são: 1) ingestão pobre em
ferro; 2) aporte excessivo de alimentos em ânions com os quais o ferro forma
sais insolúveis, como o ácido fítico, em cereais integrais; 3) síndrome de má
absorção intestinal, como na doença celíaca; 4) espoliação contínua de sangue
como nas verminoses (necatoríase), na malária, nas metrorragias, e em
tumores do tubo digestivo; 5) aumento da demanda de ferro, como na
gestação.

Mecanismo patogenético da anemia ferropriva: o ferro é constituinte da


hemoglobina.

Cálcio

Deficiência de cálcio causa raquitismo antes da puberdade e


osteomalácia no adulto. Ao contrário do que a população em geral pensa, a
falta de cálcio é pouco comum, pois o organismo tem ampla capacidade de se
adequar a níveis baixos desse elemento na dieta.

Fosfatos

A deficiência de fosfatos na dieta é rara. Os sintomas são: fraqueza ou


rigidez muscular, confusão mental, anorexia e hipercalciúria.

Zinco

Na sua carência, há retardo da maturação sexual e do crescimento.


Podem causar deficiência em zinco: dietas ricas em cereais integrais,
parasitoses intestinais, pouca ingestão de produtos animais e geofagia. Pode
ocorrer em prematuros, por causa do crescimento rápido.

A deficiência do zinco provoca anorexia e deformação do paladar;


oligospermia, impotência e disfunções neuropsicológicas, o sistema
imunológico é afetado, e a cegueira noturna por deficiência de vitamina A é
exacerbada.

76
Há evidências que níveis elevados de zinco na dieta sejam associados a
câncer de estômago e esôfago. A terapêutica com zinco favorece a
cicatrização.

Cobre

A deficiência causa: 1) anemia microcítica e normocrômica, neutropenia,


osteoporose e distúrbios neurológicos; 2) diminuição dos níveis plasmáticos de
dopamina e de norepinefrina; 3) aumento de triglicerídeos, fosfolipídeos e
colesterol; 4) com tem papel na maturação do colágeno e da elastina, sua
deficiência afeta a integridade vascular a do esqueleto. Deficiência de cobre
tem sido relatada em pacientes com nutrição parenteral.

Magnésio

No homem, a deficiência espontânea é rara. Voluntários submetidos a


deficiência de magnésio apresentaram hipocalcemia, anorexia, náuseas,
apatia, alterações eletrocardiográficas, neurológicas e da personalidade,
espasmos musculares e tremores.

Selênio

Age sinergisticamente com a vitamina E na prevenção de necrose


hepática.

Fluoreto

A deficiência de fluoreto na infância aumenta consideravelmente a


incidência de cárie dentária. Osteoporose parece ser mais freqüente em
regiões onde o conteúdo de fluoreto é alto. Supõe-se que o fluoreto contribua
para prevenir calcificação da parede arterial.

Iodo

A deficiência de iodo provoca o bócio, que no passado era endêmico em


inúmeros países. A doença foi erradicada com suplementação obrigatória de
iodo no sal de cozinha. O bócio também pode ser provocado pela ingestão de
substâncias bocigênicas como as raízes e folhas de mandiocas e verduras da
família Cruciferae (repolho e mostarda). O hábito de cozinhar a mandioca é
eficaz na remoção do cianogênio.

A deficiência de iodo pode derivar-se de: 1) ingestão insuficiente do


metalóide, comum em áreas onde o solo é pobre; 2) incapacidade de
aproveitamento do iodo ingerido com conseqüência de defeitos genéticos; 3)_
ingestão de substância que impedem a síntese de hormônios (substâncias
bocigênicas referidas anteriormente).

A carência de iodo causa síndromes de hipotireoidismo na fase


embriofetal, após o nascimento e antes da puberdade e após a puberdade.

77
A carência de iodo e dos hormônios tireoidianos provoca lesões: 1) no
tecido conjuntivo; 2) no esqueleto; 3) no sistema nervoso; 4) no epitélio
folicular; da tireóide e dilatação dos folículos por acúmulo de colóide pobre em
hormônios, gerando o aumento da glândula – o bócio.

As síndromes clínicas de hipotireoidismo são muitas: 1) mixedema ou


edema mucóide, que consiste no acúmulo de glicosaminoglicanos na derme e
miocárdio; alterações de ossificação (nanismo tireoidiano, disgenesia
epifisária); 3) lesões do sistema nervoso (cretinismo, surdez e outras anomalias
congênitas).

Textos Complementares

Outras Doenças Associadas a Componentes da Dieta

Nos últimos anos foi introduzido o termo programação, para se referir à


carga genética e aos fatores ambientais na etiologia de doenças. No momento
da concepção, a carga genética do embrião pode determinar, por exemplo, se
ele será diabético do tipo II. A doença pode se manifestar mais precoce ou
mais tardiamente, dependendo do estilo de vida e da dieta. Estudos recentes
mostram que crianças que nascem com peso abaixo de 2,5 kg são mais
propensas a desenvolver diabete, hipertensão e aterosclerose quando adultos.
Sabemos também que atividade física e dieta rica em cálcio, na adolescência,
são uma boa maneira de prevenir aterosclerose na terceira idade. Outro
exemplo de programação é a relação entre estado nutricional quanto à folacina
nas primeiras semanas de gestação e defeitos do tubo neural no feto.

1. Aterosclerose

Essa afecção cosmopolita das artérias parece iniciar-se com uma lesão
endotelial. Monócitos aderem ao local, migram para a íntima e transformam-se
em macrófagos. Macrófagos possuem receptores para lipoproteínas de baixa
densidade (LDL), ricas em colesterol. Através deles, a LDL é endocitada.
Contudo, macrófagos não possuem sistemas enzimáticos de degradação do
colesterol; o acúmulo deste no citoplasma forma as chamadas células
espumosas, que constituem os primeiros elementos na formação da placa
ateromatosa.

O principal fator de risco da aterosclerose é a hipercolesterolemia. O


colesterol circula no sangue no sangue ligado principalmente a duas
lipoproteínas: LDL e HDL (lipoproteína de alta densidade). O colesterol
encontra-se na superfície da LDL e no interior das moléculas de HDL. Portanto,
o colesterol da LDL deposita-se no ateroma. Além disso, enquanto a LDL faz a
distribuição do colesterol a todas as células do organismo, a HDL é uma
molécula que transporta colesterol ao fígado, de onde é excretado.

Energia

O fator dietético mais importante na redução da síntese do colesterol é a


restrição energética. Existe uma relação direta entre o aporte calórico e

78
hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia. Além disso, a alimentação
hipercalórica favorece o aparecimento da obesidade que por sua vez, é fator
predisponente ao aumento dos níveis de colesterol no sangue e, também, à
hipertensão.

Lipídeos

Diversas evidências indicam que a ingestão excessiva de gorduras


saturadas ou ricas em ácidos graxos trans (abundantes em margarinas)
predispõe a aterosclerose pelo aumento da colesterolemia e da LDL.

Há vários anos sabe-se que óleos vegetais ricos em derivados do ácido


linoléico têm papel contra a aterosclerose.

Há indicações de que o colesterol na dieta também seja um fator que


promove o aumento do colesterol sangüíneo, embora esse aumento seja
discreto. Ressalte-se que o colesterol é um produto animal.

Em populações que consomem muito peixe marinho (rico em ácidos


graxos ω-3) a incidência de doenças vasculares, asma e artrite reumatóide) é
menor do que em outras populações com outros hábitos alimentares.
Experiências revelam que o óleo de peixe na dieta: 1) contribui para a
diminuição de VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade), precursora da
LDL; 2) diminui a formação de trombos; 3) altera a síntese de leucotrienos,
reduzindo a movimentação de leucócitos e sua aderência ao endotélio
vascular; 4) tem ação antiinflamatória.

Dados mais recentes sugerem que gorduras monoinsaturadas, ricas em


ácido oléico (ω-9), como o óleo de oliva e o de canola, têm papel protetor
contra a aterosclerose. Nos países mediterrâneos, a incidência da
aterosclerose é baixa em relação a outros países desenvolvidos.

Proteínas

79
Em humanos, o excesso de proteínas na dieta promove hiper-
homocisteinemia, fator de risco de aterosclerose. Portanto, o consumo elevado
de produtos animais aumenta o risco de aterosclerose por três fatores:
gorduras saturadas, colesterol e proteínas.

Carboidratos

O consumo excessivo de carboidratos, sobretudo de açúcares simples


como sacarose, predispõe ao aumento de VLDL, rica em triglicerídeos
endógenos, isto é, sintetizados no fígado.

Fibras

As fibras solúveis têm a propriedade de diminuir os níveis de colesterol,


devido à sua capacidade de seqüestrar sais biliares e colesterol na luz
intestinal e o conseqüente aumento da excreção do colesterol.

Minerais

Em regiões onde a água é pobre em cálcio, a incidência de arteriopatia é


maior do que naquelas onde a água é “dura”. Alguns estudos, ao contrário do
citado antes, sugerem que o cálcio parece contribuir para a aterosclerose.

Em indivíduos susceptíveis, o alto consumo de sódio favorece o


desenvolvimento de hipertensão arterial, que é um fator de risco muito
expressivo da aterosclerose. Ingestão maior de potássio e magnésio (presente
em frutas e hortaliças) está inversamente associada à pressão sanguínea.

Por sua capacidade de formar radicais livres, o ferro tem papel


importante na oxidação de LDL. Assim excesso de ferro no organismo
constitui-se em fator de risco à aterosclerose.

Fatores Protetores

Substâncias antioxidantes, como vitamina E, C e carotenos parecem ter


papel importante por impedirem o aparecimento de LDL peroxidada. O selênio
parece ser outro nutriente importante. Alho e cebola contêm substâncias que
abaixam a pressão arterial e, portanto, potencialmente protegem contra a
arteriopatia. Frutas e hortaliças são ricas em polifenóis (como os
bioflavonóides) que são agentes antioxidantes poderosos.

Para prevenção da aterosclerose, a dieta deve conter:

1) a quantidade adequada de calorias para manter o peso ideal;

2) o mínimo indispensável de produtos animais;

3) ácidos graxos insaturados da família do linoléico, presentes em óleos


vegetais;

80
4) produtos marinhos ricos em ácidos graxos da família do linolênico;

5) óleos de oliva e/ou canola, ricos em ácido oléico;

6) fibras presentes em frutas, leguminosas, aveia e folhas;

7) o mínimo de sacarose e de outros açúcares simples;

8) boa quantidade alimentos ricos em vitamina E, C, carotenos,


bioflavonóides.

2. Neoplasias

As neoplasias são provocadas por agressões ambientais em indivíduos


geneticamente susceptíveis. A maioria dos fatores dietéticos atua nas etapas
de promoção e progressão dos tumores, mas não em seu início. Os fatores
dietéticos que contribuem para o aparecimento de tumores podem ser assim
agrupados:

1) aditivos ou contaminantes de alimentos;

2) deficiência de nutrientes;

3) excesso de nutrientes.

Estima-se que os tumores estão relacionados:

35% com a dieta

30% com o cigarro

8% com o álcool.

Energia

Numerosos estudos indicam que o excesso de peso corporal e a


obesidade aumentam o risco de tumores da mama, endométrio, ovário, cólon,
reto, próstata, rins e vesícula biliar. Em animais de laboratório, a restrição do
aporte energético de 20 a 40 % reduz a incidência de diversos tipos de
tumores.

O mecanismo proposto para explicar a relação entre o excesso de


energia e câncer baseia-se na inibição da secreção de corticóides pela supra-
renal, que acontece quando há excesso de aminoácidos nos tecidos e na
circulação. Com excesso de energia, a secreção de hormônios que inibem o
crescimento tumoral (como os corticóides) decresce, enquanto aumentam os
níveis de hormônios (hipofisários, andrógenos e estrógenos) que facilitam a
transformação.

81
Dados recentes mostram que o exercício físico regular protege contra
câncer de cólon, mama, próstata, rim, pulmão e endométrio.

Proteínas

Excesso de proteínas associa-se a maior freqüência de tumores do rim,


intestino grosso, próstata, endométrio e mama. Dieta hiperprotéica resulta em
excesso de aminoácidos, que poderiam favorecer a produção de amônia
(reconhecidamente mutagênica) e nitrosaminas (agentes cancerígenos).

Lipídeos

Estudos indicam que ingestão elevada de lipídeos associa-se a maior


incidência de cânceres de mama, intestino grosso, próstata, pâncreas, pele e
colo uterino. Estudos epidemiológicos indicam que o consumo de produtos de
peixes ricos em ácidos da família ω-3 relaciona-se a menor incidência de
adenoma e câncer colorretal. Há evidências indicando que o excesso de
lipídeos na dieta aumenta a produção de epóxidos e outros produtos de
oxidação, os quais são fatores cancerígenos.

Fibras

Os produtos de fermentação das fibras solúveis no intestino grosso


abaixam o pH, tornando a amônia menos disponível às células epiteliais. A
amônia favorece a multiplicação celular e, por isso, pode aumentar o risco de
aparecimento de células malignas.

Por aumentarem o bolo fecal e a freqüência dos movimentos intestinais,


as fibras insolúveis promovem diluição de substâncias cancerígenas na luz
intestinal. Estudos mostram que a incidência de câncer do intestino grosso é
menor em populações que consomem muita fibra.

Vitaminas

Como a vitamina A é importante para a diferenciação celular normal e


como o câncer é caracterizado por perda da diferenciação, é natural que se
proponha um papel protetor dessa vitamina. Segundo dados epidemiológicos
vitamina A e retinóides reduzem a incidência de tumores do pulmão, mama,
pele, mucosa oral, bexiga e esôfago.

82
Vitamina C, E e carotenóides exercem proteção por suas propriedades
antioxidantes. Dados epidemiológicos indicam que níveis baixos de folacina na
dieta associam-se a maior incidência de câncer colorretal e de seu precursor, o
adenoma. Parece que a deficiência de folato pode contribuir para danos no
DNA. A vitamina D, através de seu metabólito calcitriol, tem papel protetor
contra o câncer do cólon.

Minerais

Há evidências de que o cálcio exerce papel protetor contra o câncer do


intestino grosso. Dados mostram que o selênio exerce papel protetor contra
diversos tipos de câncer, pelo fato de esse metalóide ser parte integrante da
glutationa peroxidase, enzima de membrana que inativa peróxidos.

Os níveis de zinco no sangue e no cabelo de pacientes com diversos


tipos de câncer são mais baixos do que em indivíduos normais.

Álcool

Quando ingerido regularmente em doses elevadas, está associado a


cânceres de orofaringe, esôfago, estômago, cólon, reto e fígado. A combinação
de álcool com cigarro aumenta o risco de câncer da orofaringe. Consumo
constante e elevado de cerveja tem sido relacionado ao câncer do reto. O
álcool é metabolizado em acetaldeído que é tóxico para as células epiteliais do
cólon.

Frutas e Hortaliças

Previnem contra diversos tipos de câncer em virtude de seu conteúdo


em fibras e substâncias antioxidantes.

3. Afecções Intestinais

Alimentação com alto conteúdo em fibras insolúveis previne contra


constipação intestinal. O mecanismo de ação está ligado à grande capacidade
de retenção de água pelas fibras, que aumenta o volume do bolo fecal. Com
isso, há diluição de substâncias tóxicas e aumento de movimentos peristálticos.

4. Diabetes

Consumo excessivo de açúcar pode induzir diabete em pessoas


suscetíveis. Contudo a maior correlação encontrada é entre a incidência de
diabete e adiposidade. Indivíduos magros de qualquer grupo racial têm risco
menor. Obesidade e consumo exagerado de alimentos tendem a criar um
estado de resistência à insulina. Na obesidade, a secreção de insulina
encontra-se aumentada para fazer face ao aumento da demanda. Se a
demanda supera a capacidade secretora do pâncreas, estabelece-se o diabete.

5. Doenças da Cavidade Oral

83
Duas das doenças de maior prevalência no homem encontram-se na
cavidade oral: cárie dentária e doença periodontal que incidem em cerca de
97% e 75% da população mundial, respectivamente. A cárie afeta o dente e a
doença periodontal compromete os tecidos moles e o osso que circundam o
dente.

Há correlação entre consumo de açúcar e incidência de cárie. Açúcares


simples favorecem o aparecimento de placas onde proliferam os
microrganismos responsáveis pela destruição do esmalte e aparecimento da
cárie.

A cárie dentária é uma lesão irreversível, pois o dente não tem


capacidade de auto-reparação. A placa dentária, precursora da cárie, é um
material gelatinoso, constituído por polissacarídeos transparentes, povoado por
microrganismos, entre eles Steptococcus mutans, cocos, microrganismos
fusiformes e filamentosos e bacilos fermentadores de açúcares; todos eles
produzem ácidos orgânicos que dissolvem os minerais do esmalte e invadem a
dentina e, eventualmente, a polpa.

Proteínas, vitaminas A e D, cálcio, fosfato e fluoreto influenciam a


mineralização dos dentes em desenvolvimento. O mais importante parece ser o
fluoreto. O mineral mais abundante no dente é a hidroxiapatita:
Ca10(PO4)6(OH)2. O fluoreto substitui parte dos íons de hidroxila e produz
fluorapatita, que forma cristais maiores e mais resistentes do que a
hidroxiapatita.

Carboidratos da dieta são os melhores substratos para os


microrganismos acidificantes. Sua fermentação faz o pH chegar a 5, 5,
suficiente para dissolver os cristais de hidroxiapatita. Glicose, frutose e
sacarose difundem-se rapidamente na placa.

Na etiologia da cárie, a freqüência de ingestão de carboidratos parece se


mais importante do que a quantidade dos mesmos. Se um alimento doce é
ingerido de uma vez, a produção de ácido é pequena; quando o mesmo
alimento é ingerido durante período prolongado, o dano é maior. O doce
comido durante as refeições causa menor malefício do que aquele consumido
entre as mesmas, porque outros alimentos, sobretudo os ricos em fibras,
estimulam o fluxo de saliva, contribuindo para o aumento de sua capacidade de

84
tamponamento, além de favorecerem a remoção de resíduos de alimentos dos
sulcos gengivais.

A doença periodontal é uma afecção inflamatória que envolve a gengiva,


o ligamento periodontal, o cemento e osso alveolar, sendo causa importante de
perda de dentes em adultos. Sua etiologia é desconhecida, mas há evidências
que a placa bacteriana no sulco gengival seja o fator iniciador. As bactérias
liberam toxinas, causam inflamação, edema e congestão das gengivas e
promovem o aparecimento de bolsas periodontais cheias de pus. A má nutrição
predispõe à doença. Há evidências de que açúcares aumentam a atividade das
placas.

Aditivos e Contaminantes

Derivados do azobenzeno, acrescentados a alimentos (como a


manteiga) para lhes dar cor são capazes de provocar câncer no fígado.

Diversos contaminantes de alimentos são cancerígenos:

1) hidrocarbonetos em café torrado, carnes e peixes defumados; 2)


aflatoxinas produzidas por fungos que contaminam alimentos, comum em
algumas regiões da África; 3) nitrosaminas e nitrosamidas, produzidas a partir
de nitritos usados para conservar carnes embutidas e enlatadas; 4) DDT,
embora não se tenham demonstrados efeitos adversos no homem, ignora-se
seu efeito a longo prazo; 5) dietilestilbestrol, usado para acelerar o crescimento
de animais de abate; nas quantidades ingeridas pelo homem é aparentemente
inócuo.

Considerações Finais

Em 1989, o National Research Council dos EUA elaborou um


documento contendo recomendações dietéticas. Em 1.995, tais
recomendações foram referenciadas pela Secretary of the United Department
of Agriculture, juntamente com a Secretary of Health and Human Services:

85
1. reduzir a ingestão total de gordura para 30% ou menos das calorias
totais; a ingestão de ácidos graxos saturados deve corresponder a menos de
10% das calorias totais; a ingestão diária de colesterol deve estar aquém de
300 mg;

2. ingerir, diariamente, cinco ou mais porções de uma combinação de


legumes, verduras e frutas, especialmente vegetais amarelos e verdes e frutas
cítricas. Aumentar, também, a ingestão de amido e de outros carboidratos
complexos, servindo-se, diariamente, de seis ou mais porções de uma
combinação de pães, cereais e leguminosas;

3. manter a ingestão de proteínas em níveis moderados;

4. balancear a ingestão de alimentos e atividade física de modo a manter


o peso corporal ideal;

5. o consumo de álcool não é recomendado. Para os que consomem


bebidas alcoólicas, limitar o consumo ao equivalente a 30 g de álcool puro por
dia;

6. o aporte diário de sal de cozinha não deve ultrapassar 6g;

7. manter a ingestão adequada de cálcio;

8. evitar a ingestão de suplementos dietéticos além dos níveis


recomendados;

9. manter ingestão adequada de fluoreto, particularmente na época de


desenvolvimento dos dentes e na puberdade.

As recomendações enumeradas baseiam-se em dados de literatura,


embora haja controvérsias sobre muitas delas.

Obesidade - Uma Visão Antropológica

A obesidade pode ser vista hoje como uma epidemia global: uma
pandemia. O problema só tem aumentado. Sua raiz é mais profunda. Está na

86
própria evolução humana, desde a época em que a espécie lidava com a
escassez de alimentos.

Dados da North Caroline University (EUA):

• Excesso de peso > 1bilhão


• Obesos > 300 milhões
• Subnutridos: 800 milhões

A mudança pode ser classificada como fisiológica e técnica. No século


20 a prática de exercícios físicos foi praticamente abolida. Supermercados têm
alternativas de alimentos saborosos, baratos e muito calóricos. E ainda há
Impiedosa pressão do marketing da indústria alimentícia.

Quando habitantes de países pobres se mudam para os EUA, o


processo de engorda é generalizado. Em indígenas de tribos isoladas, povos
que não tem vínculo com o modo de vida norte-americano-industrializado, a
obesidade é uma exceção absoluta.

Em termos evolutivos é um problema recente. Nossos primeiros


ancestrais eram coletores: frutas, brotos, tubérculos e outros vegetais. Há 2,5
milhões de anos, o cérebro aumentava de volume e tornava-se mais complexo.
Surgiram as primeiras evidências que a dieta dos hominídeos passara a incluir
carne, fonte de proteína, vitaminas, sais minerais e gordura, que levou a
espécie a importante ganho em altura.

Nosso ancestrais comiam carne selvagem (= 4% de gordura), enquanto


os bifes atuais têm 36%. Não havia meio de refrigerar os alimentos.
Dependendo dos azares da caça, não havia nada para comer no horário da
refeição. O esforço físico para a busca de comida não deixava ninguém fora de
forma.

Estudos antropológicos mostram que a resistência, a capacidade


cardiovascular, a musculatura e a gordura corporal seriam comparáveis às dos
atuais maratonistas. A invenção da agricultura possibilitou estocar comida e

87
fixou as populações nômades. Vegetais cultivados contêm aminoácidos,
vitaminas e sais minerais diferentes da fase anterior.

Com a domesticação de animais, iniciou-se a criação de gado. A carne


ingerida tinha maior teor de gordura. Surgiu consumo mais regular de ovos,
leite e derivados, repletos de gordura que obstrui artérias. Houve uma nítida
piora na saúde. Análises de ossadas mostram aumento sensível de anemia,
deficiência de cálcio, problemas dentários e infecções bacterianas. Não havia
ainda incidência significativa da obesidade, porque o esforço físico ainda era
uma exigência cotidiana.

O século 20 trouxe uma série de inventos que anularam a necessidade


de fazer esforços. A indústria alimentícia desenvolveu patamares invejáveis de
produção e usou o marketing para conquistar mais e mais consumidores.

Lemonick, nos EUA, diz que se você estivesse louco por biscoitos, um
século atrás, tinha de acender o forno a lenha e preparar uma fornada. Se você
quisesse manteiga tinha de bater o creme do leite fresco da vaca. Se quisesse
um bife tinha de abater a rês. Agora você entra no seu veículo e dirige até o
supermercado mais próximo – ou, se isso exigir muito esforço, você dá um
telefonema ou envia o seu pedido pela Internet e a encomenda em seguida é
entregue na sua porta. Em síntese, o esforço físico embutido na busca pela
comida, um dos fatores essenciais da boa forma de nossos antepassados, não
é mais necessário.

David Katz, especialista em Saúde Pública da Yale University (EUA) diz


que “as crianças de hoje podem ser a primeira geração na história cuja
expectativa de vida está projetada para ser menor que a de seus pais”.

Nem tudo, porém, está perdido, se houver: mais campanhas e


informações de órgãos do governo; pesquisas científicas sobre a bioquímica da
fome e o metabolismo das gorduras; a indústria investir em alimentos mais
saudáveis; e os americanos usarem o seu poder de disseminar informações.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou, mas estudo do


Ministério da Saúde, em dezembro de 2006 revelou que o grande problema de

88
saúde pública do Brasil na área alimentar não é mais a desnutrição, mas sim a
obesidade.

Guia Alimentar para a População Brasileira - IBGE

• Desnutrição: 9,5% caiu para 4%


• 40% IMC > 25
• 8,8% dos homens e 12,7% das mulheres estão com IMC >30 (obesos)
• Piores índices: Sul e Sudeste.

Como avaliar o peso:

IMC = P (kg) / altura x altura (m)

Categorias

• < 18,5 gabaixo do peso


• 18,5 – 24,9 g peso saudável
• 25 – 29,9 g sobrepeso
• 30 – 34,9 g obesidade grau I
• 35 – 39,9 g obesidade grau II
• = ou > 40 g obesidade grau III

Autor: Paulo Sérgio Saliba

Bibliografia

1. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Et al. Bogliolo Patologia Geral. 2ª. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2.004. 365 p.

2. www.fo.usp.br/lido/patoartegeral

89

Vous aimerez peut-être aussi