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Floresta e Ambiente

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA FAMÍLIA LAURACEAE Lindl.

Carlos Alexandre Marques1

RESUMO

O
presente trabalho apresenta uma breve revisão sobre a importância econômica da família Lauraceae.
Através de levantamentos bibliográficos, obteve-se dados relativos a 52 espécies, pertencentes a
12 gêneros, que são utilizados na culinária, na fabricação de papel, em marcenaria e construção
civil, na indústria química e na medicina popular. Os gêneros Aniba, Nectandra e Ocotea apresentaram o
maior número de espécies de importância econômica.

Palavras-chaves: Lauraceae, Botânica econômica, medicina popular

ABSTRACT

ECONOMIC IMPORTANCE OF FAMILY LAURACEAE Lindl.

The present paper presents a brief review about the economic importance of family Lauraceae, which
provided informations on 52 species, belonging to 12 genus, that are used in cooking, paper factoring,
timber works, constructions, chemical industries and folk medicine. The genus Aniba, Ocotea and Nectandra
presented the greatest number of species with economic importance.

Key words: Lauraceae, Economic botany, Folk medicine

INTRODUÇÃO espécies desta família datam de 2.800 A.C, sendo


originários da Grécia antiga. Isso influenciou o
A família Lauraceae é considerada uma das nome de muitos gêneros que fazem uma alusão
famílias mais primitivas pertencentes à divisão àquela época. Laurus L., por exemplo, vem do celta
Magnoliophyta. Tal fato se deve às suas “ lauer” que significa verde ou ainda “laus” que
características morfológicas e anatômicas que as significa louvor e o gênero Phoebe, tem o seu nome
aproxima de outras famílias como Calycanthaceae, relacionado ao deus Apolo. Outras espécies
Idiospermaceae e Hernandiaceae (CRONQUIST, utilizadas desde a Grécia antiga são as pertencentes
1988). As Lauraceae apresentam-se amplamente ao gênero Cinnamomum Schaeffer, que significa
distribuídas através das regiões tropicais e “caneleira” em grego (BARROSO et al., 1978; COE-
subtropicais do planeta, sendo formadas por 49 TEIXEIRA, 1980).
gêneros e 2.500 - 3.000 espécies (WERFF & As Lauraceae destacam-se entre as demais
RICHTER, 1996). famílias pela sua importância econômica. Algumas
Os primeiros registros relativos a utilização das espécies têm sido utilizadas pelas indústrias para

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Universidade Federal de Viçosa

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Tabela 1. Relação de espécies mencionadas e os seus respectivos nomes


vulgares.
N O M E C I E N T ÍF IC O NO M E VULG AR
A n ib a bu rch elli p a u -ros a
A n ib a ca n ellita p a u -ros a, ca sca -p re ciosa
A n ib a du c k ei p a u -ros a
A n ib a firm u la p a u -ros a, lou ro-rosa
A n ib a fr ag a n s p a u -ros a
A n ib a ga rd n eri p a u -ros a
A n ib a gu ian en sis p a u -ros a
A n ib a ha stm a n nia na p a u -ros a
A n ib a pa rviflor a p a u -ros a, lou ro-rosa
A n ib a p er m olis p a u -ros a
A n ib a pseu d o c oto p a u -ros a
A n ib a ro sa eo do ra p a u -ros a
A n ib a ripa ria p a u -ros a
A n ib a term in alis p a u -ros a
B eilsch m ied ia rigida ca n e la -ta pin h a
C in n a m o m u m c a n ph o ra câ n fora
C in n a m o m u m c a ssia ca n e la -d a -ch ina
C in n a m o m u m zey la nicu m ca n e la -d o-ce ilã o
C ry pto caria m o sch a ta n ó z-m osca d a
L a u r us n o bilis lou ro, lou reiro
L ic aria pu c hu r y-m a jo r ca n e la
L in d era b en zoin b e n join
N ec ta n d ra a m a zon u m lou ro-d o -iga p ó
N ec ta n d ra a n g us tifo lia lou ro-b ra n co
N ec ta n d ra leu c oth yr sus ca n e la -bra n ca
N ec ta n d ra m eg a po ta m ica ca n e la -a m arela, ca ne la -fe d ore n ta ,ca ne lin ha
N ec ta n d ra p ic h u rim lou ro-p ich u rim , lou ro- p reto
ca n e la -b atalha , ca n ela -a m arela, ca ne la -
ca n e la b urra ca n ela d e folh a la rga ca n

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Cont. da tabela 1. (Relação de espécies mencionadas e os seus respectivos nomes


vulgares).
NO M E CIENTÍFICO NO M E VULGAR
louro-mamori, louro-mamorim, louro- in
louro-inhamu, pau-de- querosene, quilo-mue
Ocotea barcellensis
Peru)
Ocotea catharinensis canela-broto, canela-bicho, canela-preta
Ocotea cymbarum canela, laurel-amarillo (Argentina)
Ocotea diospyrifolia canela
Ocotea divaricata canela-soqueira
Ocotea elegans canela-ferro, canela-preta
louro-branco, cajumari-ran (em guarani), lou
Ocotea guianensis
tamanco

Ocotea organensis canela-goiaba, canela-parda, canela-preta


Ocotea porosa imbuia, embuia
Ocotea pretiosa sassafrás, sassafrasinho, canela-sassafrás
canela-babosa, louro-abacate, guaiacá, cane
goiacá, canela-parda, canela- pimenta, amansa
Ocotea puberula
aiui-saiiu (em guarani), laurel-amarillo (Argen
Ocotea pulchella canelinha, canela-preta, canela-lageana
canela-amarela, caneleiro, canela- mescla, ca
Ocotea spectabilis
preta, louro-preto, canela-baraúna,
ayui-hu (em guarani)
Ocotea teleiandra canela-iacuá, canela-limão
Persea americana abacateiro
Persea cordata abacate-do-mato, abacate-bravo, canela- ro
Persea gratissima abacateiro

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60
Mediterrâneo, o fruto conhecido
como “abacate” é produzido por
50 outra espécie do mesmo gênero,
denominada Persea gratissima L..
Muito utilizado na culinária,
40 Gêneros
Laurus nobilis L., possui folhas que
Número total
de espécies são usadas como tempero. Apesar
de amplamente utilizada, esta
30
espécie não é plantada em grande
escala, sendo cultivada princi-
20 palmente em pequenos terrenos.
Deve-se destacar ainda a utilização
das “canelas” (Cinnamomum
10
zeylanicum Breyne e C. cassia
(Nees) NEES & EBERT ex Blume),
0
que são espécies arbóreas das
quais se extrai a casca. Em geral, a
a

be
ia

ra
a

ea
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ib

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maioria das espécies dessa família


Ph
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Li
pt

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ch

Sa
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N
na

C
ils

in
Be

são também chamadas de “canela”.


Figura 1. Correlação entre o número de espécies, em cada gênero, Dentre os muitos gêneros
e o total de espécies mencionadas. pertencentes a esta família, o gênero
Ocotea Aubl. merece um especial
a fabricação de diversos produtos porém, a maioria destaque devido ao grande número de espécies que
das espécies têm seu uso restrito às comunidades são utilizadas para diferentes fins. O. puberula Nees,
tradicionais que detêm o conhecimento empírico da por exemplo, possui características próprias para
utilização dessas plantas. No presente trabalho, faz- caixotaria, sendo utilizada também para a fabricação
se uma breve revisão das espécies economicamente de papel. Possui um odor bem característico, muito
importantes da família. Foram levantadas 52 semelhante ao anis. Já O. organensis (Meiss.) Mez,
espécies (tabela 1) utilizadas na culinária, em mar- que apresenta madeira de cor parda e de pouca
cenaria e construção civil, na fabricação de papel, duração é usada em obras internas e carpintaria. O.
na indústria de perfumaria e ainda na indústria diospyrifolia (Mez) é uma espécie encontrada nas
química e medicina popular (Fig. 1). regiões sul e sudeste do Brasil, sendo comum ainda
na Argentina e no Paraguai. Sua madeira é
Espécies utilizadas na culinária e as forne- considerada boa para postes e tábuas de assoalho,
cedoras de madeiras já a casca contém tanino. O. guianensis Aubl.
fornece madeira branca, leve, com densidade 0,44,
As espécies utilizadas na culinária são muito fácil de trabalhar. Dela pode-se obter pasta para
difundidas, sendo encontradas principalmente em papel. O. acutifolia Mez possui madeira adequada
países de clima tropical. Persea americana Mill. é para o uso em marcenaria e construções. O. aciphylla
uma espécie arbórea, procedente da América Central, (Nees) Mez, possui madeira amarela, aromática,
muito estimada pelo alto valor comestível da polpa resistente aos insetos, principalmente aos cupins,
dos seus frutos. Até o final da década de 70, os própria para a construção civil e taboados de
maiores produtores eram os Estados Unidos e a assoalho. O. catharinensis Mez pode ser utilizada
África (RIZZINI & MORS, 1976). Na região do na construção civil, na produção de vigas, ripas,

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assoalhos, móveis e moirões. A espécie O. compensados e para a produção de energia, devido


canaliculata (Rich.) Mez é uma árvore cuja madeira as características anatômicas da madeira. Esta
de cor pardo-escura é usada em marcenaria. Outras espécie tem sido escolhida para reflorestamento
espécies, como O. spectabilis (Meiss.) Mez, O. pois, além dos atributos já mencionados, possui
divaricata (Nees) Mez, O. porosa (Nees) L. Barroso características ornamentais (BARROS et al., 1997
e O. elegans Nees também são empregadas em b; CALLADO et al., loc. cit.; GUIMARÃES et al.,
marcenaria e construções em geral. 1993; PIO-CORRÊA, loc. cit.).
Na família Lauraceae, o óleo essencial é
armazenado em células secretoras que podem ser Espécies aromáticas e produtoras de óleos
encontradas na folha, na casca e no lenho
(METCALFE, 1987; BARROS et al., 1997a). Estudos As espécies aromáticas e as que produzem
recentes apontam que O. elegans, por apresentarem óleos alcançam alto valor no mercado, pois são
células secretoras de óleo e mucilagem em frequentemente usadas como fonte de matérias-
abundância, não é indicada para a fabricação de primas em indústrias. Muitas espécies pertencentes
polpa e papel, haja visto que a presença de células a família Lauraceae estão entre as mais utilizadas
oleíferas e de mucilagem dificulta a fabricação de por essas indústrias. Cinnamomum canphora (L.)
polpa e papel e ainda a colagem e a aplicação de Presl. e Lindera benzoin (L.) Blume são
tintas e revestimentos. (CALLADO et al., 1997; PIO- reconhecidas como algumas das principais espécies
CORRÊA, 1984; SILVA et al., 1998; VATTIMO, 1956 produtoras de óleos essenciais da família. C.
a). canphora (L.) Presl., popularmente conhecida como
Não só as espécies de Ocotea são utilizadas cânfora, é uma das espécies conhecidas desde a
para marcenaria e construção. Aniba terminalis Grécia antiga. Possui utilização na indústria de
Ducke e A. firmula (Nees et Mart. ex Nees) Mez perfumaria e medicamentos, devido ao odor
apresentam lenho com estrutura rígida, próprio para agradável produzido pelo linalol. Da espécie L.
a carpintaria e marcenaria (SUDAM, 1971/ 1972). benzoin (L.) Blume, se extrai o óleo de benjoin (COE-
Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez, é uma TEIXEIRA, loc. cit.).
espécie encontrada na região noroeste do estado As espécies do gênero Aniba Aubl. destacam-
do Paraná que integra a lista das espécies se pelo alto valor econômico, devido a constituição
ameaçadas de extinção. Apresenta madeira que do óleo essencial, encontrado em grande
pode ser utilizada em construção civil e naval. Esta quantidade principalmente no lenho e na casca. O
planta pode ainda ser utilizada para recomposição primeiro registro de que se tem conhecimento é de
de matas ciliares, para o adensamento ou Aublet, em uma viagem de estudos à Guiana
enriquecimento florestal de capoeirões, florestas Francesa, no período de 1762 – 1764, que registrou
exploradas ou devastadas (REITZ, 1983 apud a espécie com o nome de Licaria guianensis Aubl.,
SOUZA & MOSCHETA, 2000). Beilshmiedia rigida devido a mesma ser conhecida pelo nome de
(Mez) Kosterm. é indicada para a fabricação de “Licari”, pelos indígenas. Sua importância
móveis, pois possui características favoráveis à econômica teve início em 1875 quando Samarin, na
produção de papel, como coeficiente de rigidez França, obteve o óleo essencial por destilação. Em
elevado e coeficiente de flexibilidade mediano. 1881, Morim, também na França, separou o óleo
Também merecem destaque espécies como Aniba essencial de um álcool e o chamou de linalol. Sua
parviflora (Meissn.) Mez, Nectandra amazonum primeira exportação para a Europa aparece registrada
Nees, N. leucothyrsus Meiss., N. angustifolia Nees na Guiana Francesa em 1883. Anos mais tarde,
e N. rigida (H.B.K) Nees. Esta última, também é Koeller sugeriu que a espécie fosse denominada
amplamente utilizada para a fabricação de papel, Ocotea caudata Koeller. Posteriormente, Mez

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sugeriu o nome Aniba parviflora (Meiss.) Mez. alibenzenos e até um propenilbenzeno. Cabe
Contudo, DUCKE em 1926 passou a chamá-la A. ressaltar que o Benzoato de benzila foi anteriormente
rosaeodora DUCKE. O próprio autor, neste mesmo localizado em C. zeylanicum (GOTTLIEB, 1972) e
ano, verificou que havia diferenças as espécies da O. teleiandra (NAVES et al., 1961).
Amazônia e das Guianas, daí passou a chamá-la A. Sassafras albidum Nutt. é uma espécie típica
rosaeodora var. amazonica Ducke. A última da América do Norte, muito utilizada na indústria
mudança foi feita em 1938, quando Kostermans farmacêutica, em perfumaria e também na indústria
propôs a alteração para A. duckei Kosterm.. Já A. química, tendo como componente principal o safrol.
fragans Ducke, é a espécie que mais produz óleo Em 1939, descobriu-se, em Santa Catarina, uma
essencial, segundo observações de técnicos da espécie da qual se poderia extrair um óleo muito
FAO. Segundo Ducke, a exploração comercial torna- semelhante ao do
se impossibilitada pela escassez de matéria-prima S. albidum, por isso, O. pretiosa (Nees)
(SUDAM, 1971/ 1972). Outras espécies, como A. Benthan & Hooke ficou sendo conhecida como
canellita (H.B.K) Mez e A. parviflora (Meissn) Mez “canela-sassafrás”. Pode-se distinguir esta espécie
também são usadas em perfumaria. Porém, esta pelo seu odor característico, misto de cinamomo,
última, é de ocorrência muito rara, o que restringe sassafrás e rosa. Seu fruto é muito peculiar,
sua exploração. Os caboclos geralmente distinguem apresentando uma cúpula robusta, verruculosa,
três tipos de pau-rosa, conforme a coloração do muito semelhante as do gênero Aniba, sendo
lenho: “pau-rosa mulatinho”, que é mais escuro, de diferenciado apenas pela presença de 4 lóculos
densidade elevada, e que submerge quando as toras nas anteras (Vattimo, loc. cit.). Já O. costulata Mez
são cortadas e atiradas na água; “pau-rosa itaúba”, é uma espécie cuja casca apresenta um odor
de cor amarelada, menos denso, e “pau-rosa agradável. O mesmo acontece com a madeira, que
imbaúba”, muito leve e quase branca. O primeiro é possui aroma característico de cânfora. Por
mais rico em essência e o último, mais pobre destilação, extrai-se da madeira um óleo volátil que
(BASTOS, 1943). A exploração dos paus-rosa, fez possui cerca de 45% de terebentina ou aguarrás.
com que essas espécies fossem levadas à beira da Phoebe porphyria Mez é uma espécie comum ao
extinção. Cabe salientar, que o óleo de pau-rosa já sul do Brasil e Argentina subandina, cuja casca é
chegou a ocupar o terceiro lugar na pauta de usada como tabaco pelos indígenas, que fazem
exportação da região Amazônica, cabendo a cachimbo ou cigarro para fumá-la. (PIO-CORRÊA,
borracha e à castanha, o primeiro e segundo lugares, loc. cit.; RIZZINI & MORS, loc. cit.).
respectivamente.
As aproximadamente 40 espécies de Aniba Espécies de uso medicinal
ocorrentes no Brasil podem ser divididas em 3
grupos, de acordo com a natureza química do Na medicina popular, as Lauraceae apresentam
constituinte predominante no óleo essencial: o utilização variada, desempenhando diferentes
grupo do linalol (A. roseodora, A. duckei); o grupo funções contra diversas doenças (tabela 2). Deve-
do benzoato (A. fragans, A. firmula, A. gardneri se ressaltar, entretanto, que o uso fitoterápico das
(Meiss.) Mez, A. burchelli Kosterm., A. parviflora, plantas deve ser feito com critério. Assim, estão
A. permolis (Nees) Mez, A. guianensis Aubl.) e o aptas a serem utilizadas aquelas que tenham
grupo do alibenzeno (A. canellita, A. hostmanniana conhecida sua eficiência terapêutica e sua
(Nees) Mez, A. pseudocoto (Reesby) Kosterm.) toxicologia (MARTINS & SANTOS, 1995).
(MORAES et al., 1972; GOTTLIEB et al., 1981). O gênero Ocotea apresenta o maior número de
ALVARENGA et al. (1977) afirmam que A. burchelli espécies medicinais (Fig. 2). O. aciphylla (Nees)
apresenta, além do benzoato de benzila, alto teor de Mez é utilizada como tônico e estomáquico,

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fazendo-se infusões com as folhas, enquanto a e as folhas são sudoríficas. O. indecora Schott. é
casca é utilizada como anti-reumática e depurativa. utilizada como sudorífica, anti-reumática e até anti-
Estudos etnobotânicos feitos por EMMERICH & sifilítica, devido as proprie-dades do óleo essencial
SENNA (1985) mencionam o uso desta espécie por obtido da casca que é geralmente extraído do caule
índios do Xingu, onde a folha é utilizada para ou da raiz. O. guianensis Aubl., espécie típica da
enrolar o cigarro usado pelo pajé em rituais de cura. Amazônia, possui casca e folha aromáticas, sendo
Esta folha, quando queimada, pode ter um efeito empregadas pela população local contra abcessos.
narcótico. A espécie O. spectabilis (Meissn.) Mez. Outra espécie da Amazônia, denominada O.
é considerada um tônico devido a característica barcellensis Mez, possui um óleo que é extraído
adstringente tanto da casca quanto da raiz. A casca através de furos na madeira, sendo usado contra a
e as folhas de O. pulchella Mart. são consideradas pitiríase na cabeça. Por vezes, é utilizado para
estomáquicas, emenagogas e tônicas do útero; já a substituir o querosene. As espécies O. pretiosa
casca de O. teleiandra (Meissn.) Mez, que possui (Nees) BENTHAN & HOOKER, O. cymbarum e
um gosto amargo, é usada contra “dores no peito” ainda Licaria puchury-major Kosterm. possuem

Tabela 2. Espécies da família Lauraceae utilizadas na medicina popular, relacionando as partes utilizadas,
forma de uso e as suas propriedades medicinais.

NOME CIENTÍFICO PARTE UTILIZADA FORMA DE USO


extrato (coobação)
Aniba canellita lenho, casca
extrato (coobação)
Aniba duckei lenho, casca
extrato (coobação)
Aniba hastmanniana lenho, casca
fruto, cálices extrato hidroalcoólico
Aniba riparia persistentes
Cinnamomum cassia casca, folha infusão
Cinnamomum zeylanicum casca, folha infusão
Cryptocaria moschata fruto infusão
extrato (coobação)
Licaria puchury-major casca

flat
infusão, decocção,
Laurus nobilis folha unguento
Nectandra pichurim folha, fruto infusão

tintura, extrato, vinho,


Nectandra rodiaei lenho elixir

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Continuação da Tabela 2. (Espécies da família Lauraceae utilizadas na medicina popular, relacionando as


partes utilizadas, forma de uso e as suas propriedades medicinais).

N O M E C IE N T ÍF IC O P A R T E U T IL IZ A D A FO RM A DE U

O c o te a c y m b a r u m le n h o extrato (co o b a

O c o te a g u ia n e n s is c a s c a , fo lh a in fu s ã o

O c o te a in d e c o r a casca in fu s ã o

extrato (co o b a
O c o te a p r e tio s a le n h o

O c o te a p u lc h e lla fo lh a , c a s c a in fu s ã o

O c o te a s p e c ta b ilis r a iz , c a s c a in fu s ã o

O c o te a te le ia n d r a fo lh a , c a s c a in fu s ã o

P e r s e a a m e r ic a n a fo lh a in fu s ã o

P e r s e a c o r d a ta casca extrato
h id r o a lc o ó li

P e r s e a g r a tis s im a sem ente extrato m etan

atividade comprovada contra o desenvolvimento atividade antibiótica comprovada contra Candida


do ancilostomídeo humano. albicans, Bacillus cereus, Klebsiela pneumoniae
Dentre as espécies medicinais, também merecem e Staphylococcus aureus. As espécies A. canellita
destaque as pertencentes ao gênero Aniba. A (H.B.K) Mez, A. duckei Kosterm. e A. hastmanniana
espécie A. riparia (Nees) Mez, por exemplo, é típica (Nees) Mez, também possuem atividade
da região amazônica e dela pode-se obter um extrato bloqueadora no desenvolvimento do
dos frutos e dos cálices persistentes que possuem ancilostomídeo humano, devido a ação do óleo

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essencial que é extraído do
lenho e da casca.
Algumas espécies que 20

tradicionalmente são utilizadas


como alimento também 15
Gêneros
possuem uso medicinal. Laurus
Número total de
nobilis é freqüentemente espécies

utilizado como estimulante nas 10

afecções gástricas e
reumáticas, além de apresentar 5

atividade antiespasmódica. É
usado através de infusão ou
0
decocção feita com as folhas. Aniba Cinnamomum Cryptocaria Laurus Licaria Nectandra Ocotea Persea

Na medicina popular, é Figura 2. Número de espécies medicinais, em cada gênero, em relação


empregado como sudorífico e ao total de espécies.
contra flatulências e, no uso
externo, em feridas e úlceras. É
usado ainda para banhos aromáticos com as folhas. metástases (DE OLIVEIRA et al., 1978). Algumas
O óleo essencial contém laurostearina, geraniol, espécies amazônicas pertencentes aos gêneros
linalol, cineol, terpineno, engenol e pineno, além de Nectandra Rol. ex Rottb., Licaria Aubl. e Aniba
ácidos orgânicos, ácidos graxos e tanino. Esta Aubl. revelam a presença de compostos químicos
substância, de aspecto ungüento, entra na denominados neolignanas. Este grupo de
preparação do “ungüento de louro” usado na prática compostos diferenciam-se das lignanas que são
veterinária. Porém, foi observado que, em ratos, o amplamente distribuídas no reino vegetal. As
extrato provoca malformação fetal, além de aumentar lignanas apresentam como precursores
a possibilidade de abortamento. monoméricos ácidos cinâmicos ou álcoois
P. americana é utilizada para combater cinâmicos, enquanto as neolignanas apresentam
problemas renais, através de chás feitos com suas como precursores monoméricos propenilbenzenos
folhas. Na região de Feira de Santana, na Bahia, o ou alibenzenos. (GOTTLIEB & YOSHIDA, 1978).
chá feito com as folhas do abacate é usado como Os autores sugerem que a atividade antitumoral dos
diurético. Em Goiânia, a infusão feita com as folhas, extratos se deve à presença e atividade das
casca ou semente tem utilização, não só como neolignanas.
diurético, mas também como calmante (BARBOSA Na Farmacopéia Brasileira, encontram-se as
et al., 1988; BORGES et al., 1986; CORRÊA et al., espécies C. zeylanicum e C. cassia que são citadas
1999; GOULART et al., 1975; PIO-CORRÊA, loc. como fitoterápicos. São geralmente usadas na forma
cit.; RIZZO et al., 1985; SIQUEIRA, 1988; de chá, tanto das folhas quanto da casca, para o
VATTIMO, 1956 b, VATTIMO, 1956 c). tratamento de resfriados, porém, a infusão feita com
O extrato metanólico de P. gratissima foi a casca é considerada um abortivo, o que restringe
administrado em ratos inoculados com carcinoma seu uso.
de Lewis-lung, uma neoplasia que metastisa Cryptocaria moschata Nees et Mart.,
rapidamente e que apresenta uma difícil resposta à popularmente conhecida como “nóz-moscada”,
maioria das drogas empregadas em clínica humana. também apresenta utilização medicinal. Na região
Foi verificado que a droga produz uma destruição de Goiânia, estado de Goiás, o fruto é indicado para
acentuada do tumor primário, porém sem afetar as combater dores de estômago.

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Persea cordata (Vell.) Mez é uma espécie da burchelli. Phytochemistry, v. 16, p. 1797 – 1799,
flora catarinense cuja atividade contra as bactérias 1977.
Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes
foi comprovada devido a ação antibacteriana do BARBOSA, R. DE C. S. B. C; GIESBRECHT, A. M;
extrato obtido com acetato de etila, o que suporta o BARBOSA-FILHO, J. M; YOSHIDA, M;
seu uso popular no tratamento de feridas cutâneas. GOTTILEB, O. R. Avaliação da atividade
Nectandra pichurim (H.B.K) Mez é uma espécie antibiótica de extratos de Lauraceae. Acta
que se encontra distribuída desde o México até a Amazonica (Supl.), v. 18, n. 1-2, p. 91 – 94, 1988.
região Centro-Oeste do Brasil. Possui folhas e frutos
aromáticos, usados contra cólicas e problemas BARROS, C. F; CALLADO, C. H; COSTA, C. G;
gástricos. A madeira é aproveitada para a fabricação PUGIALLI, H. R. L; CUNHA, M; MARQUETE,
de mastros. Outra espécie da flora brasileira, O. Madeiras da Mata Atlântica, Vol I. 1a ed.
denominada Nectandra rodiaei Schomb., possui Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Jardim
ação antipirética e tônica e pode ser utilizada através Botânico do Rio de Janeiro, 1997. 86p.
da preparação de tintura, extrato aquoso, vinho ou
elixir. Sabe-se que o seu princípio ativo é a bebirina BARROSO, G . M; GUIMARÃES, E . F ; ICHASO, C
(tabela 2) (Governo do Brasil, 1977; GUARIM-NETO, .L .F; COSTA, C . G; PEIXOTO, A. L.
1996; PIO-CORRÊA, loc. cit.; RIZZO et al., loc. cit.; Sistemática das Angiospermas do Brasil. Vol
SCHLEMPER et al., 1998; SOLER-Y-BATTLE, 1951). I. 1a ed. São Paulo, EDUSP, 1978. 255p.

BASTOS, A . M. Os paus-rosa da indústria da


CONCLUSÕES essência. Rodriguésia, v. 16, p. 45 – 54, 1943.

À luz dos dados bibliográficos, pode-se BORGES, K. N; NOBLICK, L. R; LEMOS, M. J. S.


concluir que a família Lauraceae revela um número Contribuição ao conhecimento da flora
expressivo de espécies que apresentam uma grande medicinal da microrregião de Feira de Santana
diversidade de usos, com destaque para as que (BA) I. Sitientibus, v. 3, n. 5, p. 101 – 116, 1986.
possuem utilização medicinal e na indústria. O alto
valor econômico destas espécies tem levado à uma CALLADO, C. H; PUGIALLI, H. R. L; COSTA, C. G;
exploração crescente ao longo dos anos, fazendo CUNHA, M. DA; MARQUETE, O.; BARROS,
com que estas se tornem “vulneráveis” ou mesmo C. F. Anatomia do lenho de espécies da Mata
“em perigo de extinção”, segundo classificação da Atlântica: Interpretação ecológica e indicações
União Internacional para Conservação da Natureza para aproveitamento. In: Lima, H.C. & Guedes-
e Recursos Naturais (I.U.C.N) (VIEIRA et al., 1997). Bruni, R. R. (Coord.). Serra de Macaé de Cima:
Desta forma, torna-se urgente a realização de Diversidade Florística e Conservação em
medidas conservacionistas efetivas para evitar que Mata Atlântica. 1a ed. Rio de Janeiro, Instituto
muitos representantes desta família sejam levados de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
à extinção. 1997. p. 251 – 273.

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