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RESUMO
O
presente trabalho apresenta uma breve revisão sobre a importância econômica da família Lauraceae.
Através de levantamentos bibliográficos, obteve-se dados relativos a 52 espécies, pertencentes a
12 gêneros, que são utilizados na culinária, na fabricação de papel, em marcenaria e construção
civil, na indústria química e na medicina popular. Os gêneros Aniba, Nectandra e Ocotea apresentaram o
maior número de espécies de importância econômica.
ABSTRACT
The present paper presents a brief review about the economic importance of family Lauraceae, which
provided informations on 52 species, belonging to 12 genus, that are used in cooking, paper factoring,
timber works, constructions, chemical industries and folk medicine. The genus Aniba, Ocotea and Nectandra
presented the greatest number of species with economic importance.
1
Universidade Federal de Viçosa
60
Mediterrâneo, o fruto conhecido
como “abacate” é produzido por
50 outra espécie do mesmo gênero,
denominada Persea gratissima L..
Muito utilizado na culinária,
40 Gêneros
Laurus nobilis L., possui folhas que
Número total
de espécies são usadas como tempero. Apesar
de amplamente utilizada, esta
30
espécie não é plantada em grande
escala, sendo cultivada princi-
20 palmente em pequenos terrenos.
Deve-se destacar ainda a utilização
das “canelas” (Cinnamomum
10
zeylanicum Breyne e C. cassia
(Nees) NEES & EBERT ex Blume),
0
que são espécies arbóreas das
quais se extrai a casca. Em geral, a
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sugeriu o nome Aniba parviflora (Meiss.) Mez. alibenzenos e até um propenilbenzeno. Cabe
Contudo, DUCKE em 1926 passou a chamá-la A. ressaltar que o Benzoato de benzila foi anteriormente
rosaeodora DUCKE. O próprio autor, neste mesmo localizado em C. zeylanicum (GOTTLIEB, 1972) e
ano, verificou que havia diferenças as espécies da O. teleiandra (NAVES et al., 1961).
Amazônia e das Guianas, daí passou a chamá-la A. Sassafras albidum Nutt. é uma espécie típica
rosaeodora var. amazonica Ducke. A última da América do Norte, muito utilizada na indústria
mudança foi feita em 1938, quando Kostermans farmacêutica, em perfumaria e também na indústria
propôs a alteração para A. duckei Kosterm.. Já A. química, tendo como componente principal o safrol.
fragans Ducke, é a espécie que mais produz óleo Em 1939, descobriu-se, em Santa Catarina, uma
essencial, segundo observações de técnicos da espécie da qual se poderia extrair um óleo muito
FAO. Segundo Ducke, a exploração comercial torna- semelhante ao do
se impossibilitada pela escassez de matéria-prima S. albidum, por isso, O. pretiosa (Nees)
(SUDAM, 1971/ 1972). Outras espécies, como A. Benthan & Hooke ficou sendo conhecida como
canellita (H.B.K) Mez e A. parviflora (Meissn) Mez “canela-sassafrás”. Pode-se distinguir esta espécie
também são usadas em perfumaria. Porém, esta pelo seu odor característico, misto de cinamomo,
última, é de ocorrência muito rara, o que restringe sassafrás e rosa. Seu fruto é muito peculiar,
sua exploração. Os caboclos geralmente distinguem apresentando uma cúpula robusta, verruculosa,
três tipos de pau-rosa, conforme a coloração do muito semelhante as do gênero Aniba, sendo
lenho: “pau-rosa mulatinho”, que é mais escuro, de diferenciado apenas pela presença de 4 lóculos
densidade elevada, e que submerge quando as toras nas anteras (Vattimo, loc. cit.). Já O. costulata Mez
são cortadas e atiradas na água; “pau-rosa itaúba”, é uma espécie cuja casca apresenta um odor
de cor amarelada, menos denso, e “pau-rosa agradável. O mesmo acontece com a madeira, que
imbaúba”, muito leve e quase branca. O primeiro é possui aroma característico de cânfora. Por
mais rico em essência e o último, mais pobre destilação, extrai-se da madeira um óleo volátil que
(BASTOS, 1943). A exploração dos paus-rosa, fez possui cerca de 45% de terebentina ou aguarrás.
com que essas espécies fossem levadas à beira da Phoebe porphyria Mez é uma espécie comum ao
extinção. Cabe salientar, que o óleo de pau-rosa já sul do Brasil e Argentina subandina, cuja casca é
chegou a ocupar o terceiro lugar na pauta de usada como tabaco pelos indígenas, que fazem
exportação da região Amazônica, cabendo a cachimbo ou cigarro para fumá-la. (PIO-CORRÊA,
borracha e à castanha, o primeiro e segundo lugares, loc. cit.; RIZZINI & MORS, loc. cit.).
respectivamente.
As aproximadamente 40 espécies de Aniba Espécies de uso medicinal
ocorrentes no Brasil podem ser divididas em 3
grupos, de acordo com a natureza química do Na medicina popular, as Lauraceae apresentam
constituinte predominante no óleo essencial: o utilização variada, desempenhando diferentes
grupo do linalol (A. roseodora, A. duckei); o grupo funções contra diversas doenças (tabela 2). Deve-
do benzoato (A. fragans, A. firmula, A. gardneri se ressaltar, entretanto, que o uso fitoterápico das
(Meiss.) Mez, A. burchelli Kosterm., A. parviflora, plantas deve ser feito com critério. Assim, estão
A. permolis (Nees) Mez, A. guianensis Aubl.) e o aptas a serem utilizadas aquelas que tenham
grupo do alibenzeno (A. canellita, A. hostmanniana conhecida sua eficiência terapêutica e sua
(Nees) Mez, A. pseudocoto (Reesby) Kosterm.) toxicologia (MARTINS & SANTOS, 1995).
(MORAES et al., 1972; GOTTLIEB et al., 1981). O gênero Ocotea apresenta o maior número de
ALVARENGA et al. (1977) afirmam que A. burchelli espécies medicinais (Fig. 2). O. aciphylla (Nees)
apresenta, além do benzoato de benzila, alto teor de Mez é utilizada como tônico e estomáquico,
fazendo-se infusões com as folhas, enquanto a e as folhas são sudoríficas. O. indecora Schott. é
casca é utilizada como anti-reumática e depurativa. utilizada como sudorífica, anti-reumática e até anti-
Estudos etnobotânicos feitos por EMMERICH & sifilítica, devido as proprie-dades do óleo essencial
SENNA (1985) mencionam o uso desta espécie por obtido da casca que é geralmente extraído do caule
índios do Xingu, onde a folha é utilizada para ou da raiz. O. guianensis Aubl., espécie típica da
enrolar o cigarro usado pelo pajé em rituais de cura. Amazônia, possui casca e folha aromáticas, sendo
Esta folha, quando queimada, pode ter um efeito empregadas pela população local contra abcessos.
narcótico. A espécie O. spectabilis (Meissn.) Mez. Outra espécie da Amazônia, denominada O.
é considerada um tônico devido a característica barcellensis Mez, possui um óleo que é extraído
adstringente tanto da casca quanto da raiz. A casca através de furos na madeira, sendo usado contra a
e as folhas de O. pulchella Mart. são consideradas pitiríase na cabeça. Por vezes, é utilizado para
estomáquicas, emenagogas e tônicas do útero; já a substituir o querosene. As espécies O. pretiosa
casca de O. teleiandra (Meissn.) Mez, que possui (Nees) BENTHAN & HOOKER, O. cymbarum e
um gosto amargo, é usada contra “dores no peito” ainda Licaria puchury-major Kosterm. possuem
Tabela 2. Espécies da família Lauraceae utilizadas na medicina popular, relacionando as partes utilizadas,
forma de uso e as suas propriedades medicinais.
flat
infusão, decocção,
Laurus nobilis folha unguento
Nectandra pichurim folha, fruto infusão
N O M E C IE N T ÍF IC O P A R T E U T IL IZ A D A FO RM A DE U
O c o te a c y m b a r u m le n h o extrato (co o b a
O c o te a g u ia n e n s is c a s c a , fo lh a in fu s ã o
O c o te a in d e c o r a casca in fu s ã o
extrato (co o b a
O c o te a p r e tio s a le n h o
O c o te a p u lc h e lla fo lh a , c a s c a in fu s ã o
O c o te a s p e c ta b ilis r a iz , c a s c a in fu s ã o
O c o te a te le ia n d r a fo lh a , c a s c a in fu s ã o
P e r s e a a m e r ic a n a fo lh a in fu s ã o
P e r s e a c o r d a ta casca extrato
h id r o a lc o ó li
25
essencial que é extraído do
lenho e da casca.
Algumas espécies que 20
afecções gástricas e
reumáticas, além de apresentar 5
atividade antiespasmódica. É
usado através de infusão ou
0
decocção feita com as folhas. Aniba Cinnamomum Cryptocaria Laurus Licaria Nectandra Ocotea Persea
Persea cordata (Vell.) Mez é uma espécie da burchelli. Phytochemistry, v. 16, p. 1797 – 1799,
flora catarinense cuja atividade contra as bactérias 1977.
Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes
foi comprovada devido a ação antibacteriana do BARBOSA, R. DE C. S. B. C; GIESBRECHT, A. M;
extrato obtido com acetato de etila, o que suporta o BARBOSA-FILHO, J. M; YOSHIDA, M;
seu uso popular no tratamento de feridas cutâneas. GOTTILEB, O. R. Avaliação da atividade
Nectandra pichurim (H.B.K) Mez é uma espécie antibiótica de extratos de Lauraceae. Acta
que se encontra distribuída desde o México até a Amazonica (Supl.), v. 18, n. 1-2, p. 91 – 94, 1988.
região Centro-Oeste do Brasil. Possui folhas e frutos
aromáticos, usados contra cólicas e problemas BARROS, C. F; CALLADO, C. H; COSTA, C. G;
gástricos. A madeira é aproveitada para a fabricação PUGIALLI, H. R. L; CUNHA, M; MARQUETE,
de mastros. Outra espécie da flora brasileira, O. Madeiras da Mata Atlântica, Vol I. 1a ed.
denominada Nectandra rodiaei Schomb., possui Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Jardim
ação antipirética e tônica e pode ser utilizada através Botânico do Rio de Janeiro, 1997. 86p.
da preparação de tintura, extrato aquoso, vinho ou
elixir. Sabe-se que o seu princípio ativo é a bebirina BARROSO, G . M; GUIMARÃES, E . F ; ICHASO, C
(tabela 2) (Governo do Brasil, 1977; GUARIM-NETO, .L .F; COSTA, C . G; PEIXOTO, A. L.
1996; PIO-CORRÊA, loc. cit.; RIZZO et al., loc. cit.; Sistemática das Angiospermas do Brasil. Vol
SCHLEMPER et al., 1998; SOLER-Y-BATTLE, 1951). I. 1a ed. São Paulo, EDUSP, 1978. 255p.