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1 – INTRODUÇÃO
Assim sendo, este projeto interdisciplinar, através do tema O Assédio Moral: Seus
Desdobramentos Jurídicos e Efeitos na Gestão de Pessoas fornecerá uma tênue contribuição
aos seus interessados, em relação à configuração e conseqüência da prática de assédio moral
pelos empregadores e os reflexos deste tipo de conduta na Gestão de Pessoas.
1.1 – Problematização
1.2 – Metodologia
recurso, através de visitas aos sites dos Tribunais Regionais do Trabalho (TRT’s) e do
Tribunal Superior do Trabalho (TST).
1. A Hermenêutica Jurídica;
C) Gestão de Pessoas
2 – ASSÉDIO MORAL
2.1 – Conceito
Segundo Hirigoyen apud Aguiar (2006, p.27), o assédio moral pode ser configurado como
toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo por comportamentos, palavras,
atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, ou à integridade física ou
psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho.
Apesar disso, o referido fenômeno vinha sendo tratado e confundido com outros problemas do
mundo do trabalho como stress ou conflito natural entre colegas e agressões pontuais, o que
sempre prejudicou a caracterização e prevenção, quadro este que começou a ser alterado, com
os avançados estudos de Heinz Leymann, psicólogo do trabalho sueco, que assim define o
assédio moral, como sendo:
1
Fonte: disponível em <http://www.bolsademulher.com/mulherinvest/materia/assedio_moral/91135/1>. Acesso
em: 19 out 2009.
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relação ao assunto, o assédio moral ainda não possui legislação específica no ordenamento
jurídico pátrio, uma vez que este ainda é figura recente, mas muito importante do Direito do
Trabalho.
É válido salientar que o assédio moral não é uma prática nova nas organizações. Segundo
Soares (2008) a era da globalização e do capitalismo pós-moderno, não criou o assédio moral
relacionado ao abusivo poder de direção do empregador, pois os maus tratos sempre
significaram, notadamente no Brasil, meios de intensificação da produtividade dos
trabalhadores, desde a escravidão até o momento atual, porém, questões relacionadas vêm
recebendo destaque nos últimos tempos devido à tendência de tornar as relações de trabalho
mais transparentes e justas.
2.2 – Configuração
Vários tipos de condutas são típicos e ilustram esta forma de abuso, anteriormente descrita,
entre as quais pode se citar, segundo Fonseca (2007):
a) isolamento do empregado;
b) desconsideração de suas opiniões e de sua própria pessoa;
c) gozação sobre seus defeitos físicos;
d) divulgação de boatos maldosos;
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Segundo pesquisa em site especializado sobre o tema2, um ato isolado de humilhação não é
assédio moral. Para sua caracterização, pressupõe-se os seguintes requisitos:
a) Repetição sistemática;
b) Intencionalidade (forçar o outro a abrir mão do emprego);
c) Direcionalidade (uma pessoa do grupo é escolhida como bode expiatório);
d) Temporalidade (durante a jornada, por dias e meses);
e) Degradação deliberada das condições de trabalho;
A não compreensão das diferenças, a intolerância e o preconceito são fatores, rotineiramente,
incutidos no processo de assédio moral.
A maior parte das empresas brasileiras, ainda trabalham com linhas hierárquicas bem
definidas, causando um distanciamento na relação empregador/empregado. Nas instituições
com linhas hierárquicas enrijecidas, notam-se dois importantes fomentadores do assédio
moral: o poder dos empregadores e o medo dos empregados em perder o emprego, resultando
em submissão acentuada com pressões psicológicas.
É no nível operacional que se encontra, na maioria das vezes, os casos de abuso de poder e
autoridade. Na base da pirâmide dos níveis hierárquicos é que se encontra a maior parte de
subordinados inseguros, que suportam de tudo a qualquer custo, por medo de perder o
2
Fonte: disponível em <http://www.assediomoral.org >. Acesso em: 19 set 2009.
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emprego. Tal situação deve-se ao fato de que quanto mais ao topo da pirâmide o sujeito se
encontra, maior o poder que ele exerce.
Estratégico
Tático
Operacional
Para Robbins (2007, p. 302) o poder determina a capacidade que “A” tem de influenciar o
comportamento de “B”, de maneira que “B” haja de acordo com a vontade de “A”. Logo, esta
definição implica em uma relação de dependência e obediência. Gestores usam o poder para
influenciar seus subordinados, na medida em que conhece as fontes e os recursos para
conseguir seus objetivos.
A liderança e o poder são conceitos inter-relacionados. Os líderes utilizam o poder como meio
de atingir os objetivos do grupo. O poder é um meio de facilitar suas conquistas. A diferença
entre os dois termos se refere à compatibilidade de objetivos. O poder não requer essa
compatibilidade, apenas a relação de dependência (ROBBINS, 2007).
“O poder se divide em dois grupos: Poder Formal e Poder Pessoal. O poder formal é
baseado na posição em que o indivíduo ocupa dentro da organização. Já no poder
pessoal, não é necessário ter uma posição formal para detê-lo, logo que, esse poder
emana das características únicas do indivíduo.” (ROBBINS, 2007, p. 303, 304).
3
Fonte: http://www.brasilnet.com.br/tecnasa/download/TECNASA_ESTRATEGIA_EMPRESARIAL.doc-
Acesso em 22 out 2009.
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Tendo em vista, o fato do poder formal possuir maior ligação em relação ao tema proposto
por este trabalho acadêmico, adiante serão apresentadas as formas do poder formal.
Para Robbins (2007), as pessoas reagem a este poder por medo dos resultados negativos que
possam ocorrer se falharem na concordância. O empregador se apóia nas ameaças e na
aplicação de sanções físicas, infligindo a dor, gerando a frustração através de restrições de
movimento ou controle à força de necessidades básicas fisiológicas ou de segurança. O gestor
pode tornar a situação insustentável para seus subordinados que, portanto, evitam zangá-lo.
“No nível organizacional, “A” possui poder “B” quando pode demitir, suspender ou
rebaixar “B” [...] ” (ROBBINS, 2007, p. 303).
As pessoas concordam com os desejos ou orientações de outrem, porque fazer isso produz
benefícios positivos; portanto, alguém que possa distribuir recompensas a outras, que veja
estas como valiosas, terá poder sobre as mesmas. Esse poder está relacionado à estrutura
organizacional, onde os gerentes influenciam o comportamento de seus liderados utilizando-
se de uma variedade de recompensas para motivar o funcionário (ROBBINS, 2007, p. 303).
“Uma pessoa se submete à vontade ou às ordens da outra porque isso lhe trará algum
benefício.” (ROBBINS, 2007, p. 303).
De acordo com Robbins (2007, p. 303 e 304) esta forma, representa o poder que uma pessoa
recebe como resultado da sua posição na hierarquia organizacional. É uma posição de
autoridade que oferece poderes de coerção e de recompensa. Porém, o poder legítimo é mais
amplo do que o poder para coagir ou recompensar, inclui a aceitação, por membros de uma
organização e da autoridade de uma posição.
“O poder legítimo representa o poder que uma pessoa tem para usar e controlar os
recursos da organização.” (ROBBINS, 2007, p. 303).
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“Os gerentes, por exemplo, que têm acesso a informações privilegiadas sobre
vendas, custos, salários, lucros e dados similares podem usar essas informações para
controlar o comportamento de seus subordinados.” (ROBBINS, 2007, p. 304).
Desta forma, qualquer que seja a vontade da empresa, no que cerne ao aumento da
produtividade e/ou comportamento dos empregados, terá que se levar em consideração a
condição de trabalhador eficiente, mas também um ser humano subjetivo, marcado por sua
educação, seu meio social, seus traumas e suas limitações. Segundo Soares (2008):
O assédio moral no trabalho é um fenômeno antigo, mas que vem recebendo destaque pela
mídia nos últimos tempos devido à preocupação de tornar as relações de trabalho mais
transparentes e justas.
O ambiente laboral, onde não existem regras e normas internas claras, favorece o assédio
moral que consiste em degradar as condições de trabalho através de ofensas, pressão e críticas
excessivas das autoridades sobre seus subordinados. Ressalta-se que, inclusive em
organizações com regulamentos internos bem definidos, ainda pode ocorrer a prática nefasta
do assédio moral, porém, tal ocorrência é minimizada pela clareza e conhecimento dos limites
individuais dos deveres e direitos respectivos a cada função.
Se tudo parece permitido ou proibido, as pessoas não têm clareza do que podem ou não
podem fazer, e nesse cenário, o poder do superior hierárquico não tem limites, e ele acaba
exercendo seu poder diretivo sobre a pessoa do trabalhador e não sobre a força de trabalho
dele, como seria o correto. O problema não é do indivíduo, mas das condições de trabalho,
que permitem aos superiores espaço para agir.
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Atualmente a moderna gestão de pessoas tem procurado, dentre as suas estratégias, combater
todas as formas e práticas de assédio moral, tendo em vista seus efeitos nocivos e
devastadores nas organizações. Portanto, um dos desafios dos gestores de pessoas, reside na
tentativa de alinhar os interesses das organizações e dos colaboradores.
O processo de interação humana está presente em toda organização e é o que influi no rumo
das atividades e nos seus resultados, mas as empresas ainda não avaliaram ou reconheceram
este fato corretamente. Assim, sucedem-se surpresas, frustrações, eventos inesperados que na
prática trazem desconforto, perplexidade e insegurança aos dirigentes.
Um ambiente laboral sadio é fruto das pessoas que nele estão inseridas, do relacionamento
pessoal, do entrosamento, da motivação e da união de forças em prol de um objetivo comum:
a realização do trabalho. Com isso, podemos afirmar que a qualidade do ambiente de trabalho,
sob o aspecto pessoal, muito mais do que relacionamentos meramente produtivos, exigem
integração entre todos desenvolvidos.
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1. Custos tangíveis:
a) queda da produtividade;
b) alteração na qualidade do serviço/produto;
c) menor eficiência;
d) aumento do Absenteísmo físico;
e) doenças profissionais;
f) acidentes de trabalho;
g) danos aos equipamentos;
h) alta rotatividade da mão-de-obra, gerando aumento de despesa com rescisões
contratuais, seleção e treinamento de pessoal;
i) aumento de demandas trabalhistas com pedidos de reparação por danos morais;
j) mais retrabalho;
k) menor produtividade das testemunhas.
2. Custos intangíveis:
a) deficientes relações com o público;
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“[...] todos os quadros apresentados como efeitos à saúde física e mental podem
surgir nos trabalhadores vítimas de assédio moral, devendo, ser, evidentemente,
consideradas como doenças do trabalho. Os primeiros sintomas são problemas
clínicos devido ao estresse [...]. Depois, começa a ser afetada a parte psicológica
[...]. A auto-estima da pessoa começa a entrar em declínio [...].
Para Barreto apud Tarcitano e Guimarães (2004, p. 31, 32), mulheres e homens reagem
diferentemente à violência moral:
1) Nas mulheres:
Predominam as emoções tristes, como mágoas, ressentimentos, vontade de chorar,
isolamento, angústia, ansiedade, alterações do sono e insônia, sonhos freqüentes com
o agressor, alterações da memória, distúrbios digestivos e náuseas, diminuição da
libido, cefaléia, dores generalizadas, palpitações, hipertensão arterial, tremores e medo
ao avistar o agressor, ingestão de bebida alcoólica para esquecer a agressão,
pensamentos repetitivos.
2) Nos homens:
Existem dificuldades em verbalizar a agressão sofrida e ficam em silêncio com sua
dor, pois predomina o sentimento de fracasso. Sentem-se confusos, sobressaindo os
pensamentos repetitivos, ‘espelho’ das agressões vividas. Envergonhados, se isolam
evitando comentar o acontecido com a família ou amigos mais próximos. Sentem-se
traídos e têm desejos de vingança. Aumenta o uso das drogas, principalmente o álcool.
Sentem-se tristes, depressivos; passam a conviver com precordialgia4, hipertensão
arterial, dores generalizadas, dispnéia, vontade de ficar sozinho; aborrecimento com
tudo e todos. A dor masculina é desesperadora e devastadora, na medida em que os
homens não expõem suas emoções, não choram em público e se isolam perdendo a
interação com o outro. São danos à saúde que acarretam desequilíbrio interno e
sofrimento profundo, exigindo, muitas vezes, um longo período de tratamento médico
4
Precordialgia: É a dor ou desconforto sentido na região anterior do tórax. Disponível em:
<http://portaldocoracao.uol.com.br/lista-dicionario-medico.phb?id_news=523>. Acesso em: 07 out. 2009.
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“Os malefícios causados pelo assédio moral podem se enveredar pela saúde social
das vítimas fazendo, com que colegas de trabalho se afastem dela; amigos se
retraiam; casamentos se abalem; perda de renda ocorra; despesas com medicamentos
se tornem uma constante, psicólogos e exames se tornem uma rotina; bens
patrimoniais se percam para custear o tratamento.” (TARCITANO; GUIMARÃES,
2004, p. 32).
Por fim, Hirigoyen apud Tarcitano e Guimarães (2004, p. 32, 33) enfatiza que as
consequências, o impacto dos procedimentos, será mais fortes se partirem de um grupo aliado
contra uma só pessoa do que se vier de um único indivíduo, bem como que o assédio de um
superior hierárquico é mais grave do que o de um colega, pois a vítima tem o sentimento, na
maioria justificado, de que existem menos recursos possíveis dos casos e que existe muitas
vezes uma chantagem implícita na ação.
O primeiro passo da prevenção é educar as pessoas para que sejam corretas no cotidiano com
seus companheiros de trabalho. A prevenção do assédio moral deve fazer parte de uma
política geral de prevenção de riscos profissionais, pois, a saúde no trabalho, inclusive a saúde
psíquica, é um direito fundamental de todos os funcionários.
A empresa deve inspirar normas de bom comportamento nos membros pertencentes a esta e
definir o que ela aceita ou não. Ela não deve impor moral aos seus membros, mas
simplesmente estabelecer limites. Deve, sobretudo, fazer com que cada qual preveja as
possíveis conseqüências de seus atos sobre os outros.
Para Carmo e Morikoshi (2006), o assédio moral pode ser prevenido pela solidarização no
ambiente de trabalho. Aquele que é testemunha de uma conduta de assédio não deve calar-se,
mostrando sua desconformidade com a conduta e, dentro de suas possibilidades, sendo
solidário com o colega na busca de soluções para o problema. Mesmo porque, quem hoje é
testemunha, em outra ocasião pode estar na situação de vítima do assédio.
“É obvio que em algumas vezes penalidades terão que ser aplicadas, mas cabe
acrescentar que a aplicação dessas deve trazer consigo, um fim pedagógico, ou seja,
a intenção é disciplinar o funcionário para que não mais incorra na postura
censurada, e bem desempenhe o seu papel na empresa, portanto não se deve de
forma alguma utilizar de prática punitiva que agrida a dignidade do trabalhador ou
que atente contra o direito individual fundamental.” (SOARES, 2008).
Para Chanlat (1991, p. 51), tais práticas não são unicamente controladoras, não se traduzem a
punir e proibir, mas, principalmente, reforçam e tornam possível o desejo de obediência e
constituem formas reconhecidas de criatividade e de produtividade graças a processos
explícitos, por elementos externos de autoridade, como: as regras e os controles hierárquicos;
e implícitos, como a aquisição de uma conduta aceitável pelos membros da organização.
Como foi visto, é notório que a Gestão de Pessoas exerce um papel fundamental no que tange
a evitar e coibir o assédio moral nas organizações, através de práticas de gestão mais
humanas, citando, por exemplo, o desenvolvimento de pessoas, conforme abordado adiante.
De acordo com Chiavenato (2004), as pessoas deverão estar preparadas e treinadas para as
freqüentes mudanças que acontecem. Assim, defini-se que treinamento é o preparo da pessoa
para o cargo que irá exercer na organização, sendo sua prática imediata e de longo prazo, já
que o desenvolvimento prepara o colaborador para a sua vida e para o futuro.
“Dentro do trabalho, todos querem se sentir realizado e mostrar que estão dando o
melhor de si e que, na medida do possível, fazem avanços. A fim de obter isso, as
organizações devem incentivar o aprimoramento de cada um dentro da equipe,
ajudando cada qual a definir seus próprios padrões e metas pessoais atuais e futuras.
Mantendo contato freqüente com os funcionários para verificar seu desenvolvimento
e se eles estão preparados para uma transferência e uma promoção a cargos de maior
projeção ou que exijam mais deles.” (CHIAVENATO, 2004, p. 338)
Ainda, segundo Chiavenato (2004) as empresas devem elaborar processos para capacitar e
incrementar o desenvolvimento profissional e pessoal das pessoas. Incluem-se seu
treinamento; desenvolvimento; gestão do conhecimento e de competências; programas de
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Após analisar a questão do assédio moral, visando o seu conhecimento como um todo, torna-
se necessário um maior entendimento em relação à caracterização do dano psíquico-
emocional que é de natureza subjetiva.
Para ocorrência da figura de assédio moral então, busca-se a configuração de dano subjetivo,
dano este capaz de atingir o indivíduo em sua intimidade, caracterizando o dano moral. A
definição dada pelo Código Civil Brasileiro ao ato ilícito ilustra o reconhecimento de
condutas capazes de gerar o dano, mesmo que somente a direito subjetivo, como se vê através
do seu art. 186:
Escrever sempre de maneira clara e organizada que permita ao leitor entender, exatamente o
que se está querendo dizer, torna-se fundamental para o sucesso das causas requeridas.
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Conforme Moreno e Martins (2006) se a linguagem for deficiente, a pena será rigorosa:
perder o processo ou não obter o resultado pretendido.
“[...] consta-se que, em muitas das vezes, a pessoa pleiteia indenização por assédio
moral e, na verdade, o fato se enquadra na reparação por dano moral.” (ANDRADE,
2009).
Como visto, não são todas as ocorrências de danos que caracterizam o assédio moral. Logo, é
imprescindível a interpretação correta dos fatos para caracterização do elo entre a conduta e o
dano, como será abordado adiante. Desta forma, Diniz (2002, p. 63) afirma:
Diante das definições de dano e assédio moral supra citadas, e valendo-se dos aspectos
hermenêuticos para elucidar a questão, este trabalho acadêmico utilizar-se-á das
considerações de Andrade (2009), para efetuar a diferenciação entre ambos:
“[...] a dúvida, pode pairar, sobre o fato de que em ambos, o indivíduo pleiteia
indenização por assédio moral e na verdade o fato se enquadra na reparação por
dano moral. Por outro lado, a diferença está no fato de que, o assédio moral exige
conduta abusiva, repetitiva e prolongada que causa graves danos à saúde física e
mental da pessoa o que inclusive, pode ensejar incapacidade laboral, até mesmo a
morte, tudo isso, comprovado mediante o competente laudo médico.”
“Ou seja, reconhecer esta ligação entre conduta agressora e o dano sofrido constitui
contribuição muito importante da Justiça do Trabalho ao Direito. É de extrema
relevância estabelecer esta ligação lógica entre a conduta e o resultado lesivo, ou
assédio moral, onde a conduta é a agressão vexatória e humilhante, repetitiva e
prolongada e o resultado é o dando psíquico- emocional. Porém, o que faz
comprovar que tal conduta gerou o dano advindo da relação de trabalho, surgindo o
assédio moral, não é um elemento objetivo e, sim, subjetivo. A vítima se vê lesada
em sua dignidade e honra [...]” (TEXEIRA JUNIOR, 2009).
A prática do assédio moral demanda árduos esforços quanto à sua comprovação, porquanto
em geral, sua ocorrência é dissimulada e camuflada. Ademais, seu conhecimento não raro
restringe-se ao agressor e a vítima. Assim, há muitas dificuldades em se demonstrar a
ocorrência dos fatos lesivos conducentes a indenização devida. E essa dificuldade probatória
termina por restringir de sobremaneira a pretensão de reparação da ofensa.
Para Silva (2005), no mundo jurídico, a prova é de essencial importância. Nada pode ser
movimentado na justiça e pleiteado em juízo, se o destinatário do direito não possuir o
mínimo de aporte probatório necessário a comprovar o direito alegado.
O assédio moral pode gerar a rescisão indireta do contrato de trabalho, pela vítima, com
amparo nas alíneas a, b e c, do art. 483, da CLT, além de autorizar o empregador a dispensar
por justa causa os colegas da vítima, chefes, gerentes e diretores, enfim, do responsável, seja
ele qual for, pelo ato ilícito ou abusivo praticado contra a vítima, com amparo no art. 482,
alínea b, da CLT. A responsabilidade do empregador, nesses casos, por atos de terceiros,
citam-se: colegas, chefes, diretores, gerentes, entre outros, perante a vítima, é objetiva, vale
dizer, independe de sua culpa no evento danoso. (PAROSKI, 2006).
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Examinando esta questão, Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, quando ainda era Ministro
do Tribunal Superior do Trabalho, assim já entendia:
Martins apud Teixeira Junior (2007) salienta que a rescisão indireta do contrato de trabalho é
o fato que finda a relação trabalhista, caracterizada pela culpa exclusiva do empregador, logo:
“[...] rescisão indireta ou dispensa indireta é a forma de cessação do contrato de
trabalho por decisão do empregado em virtude da justa causa praticada pelo
empregador conforme Art. 483 da CLT”
“A Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), em seu Art. 483, elenca um rol
exemplificativo de situações capazes de ensejar a rescisão indireta:
Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida
indenização quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos
bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato
lesivo da honra e boa fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de
legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a
afetar sensivelmente a importância dos salários.
§ 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o
contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais incompatíveis com a
continuação do serviço.
§ 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é
facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho.
§ 3º - Nas hipóteses das letras "d" e "g", poderá o empregado pleitear a rescisão de
seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo
ou não no serviço até final decisão do processo. (Incluído pela Lei nº 4.825, de
5.11.1965).”
A irregularidade cometida pelo empregador deve ser de tal monta que abale ou torne
impossível a continuidade do contrato. Se o empregado tolera repetidamente pequenas
infrações cometidas pelo empregado, não se, poderá falar em rescisão indireta, devendo o juiz
preservar a relação de emprego, pois, principalmente em épocas de crise, é difícil conseguir
nova colocação no mercado de trabalho. (RUFINO apud TEIXEIRA JUNIOR, 2007).
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Nos dias atuais, não se luta apenas para assegurar aspectos físicos e materiais dos
trabalhadores. Para Teixeira Junior (2007), luta-se, outrossim, pela proteção dos direitos à
personalidade do trabalhador, por uma maior liberdade de trabalho, pela satisfação do
empregado no ambiente do trabalhão, direitos estes não previstos expressamente na legislação
especializada, como a Consolidação das Leis de Trabalho, porém reconhecidos em outras
normas aplicáveis e, imprescindíveis à valorização do trabalho humano.
Portanto, nota-se que a relação trabalhista visa garantir valores e princípios que emanam do
senso comum e, qualquer lesão a um desses princípios constitucionais, pode ensejar o pedido
de indenização, como determina o Código Civil Brasileiro em seu art. 927, deve indenizar
aquele que cause dano a alguém, como vemos in verbis:
“Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
§ Único – Haverá obrigação de reparar o dano, independente de culpa, nos casos
específicos em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
“Ou seja, o ato ilícito causador de dano a outrem, independentemente de culpa, gera
o dever de indenizar. Assim, o uso de um direito, poder ou coisa além do permitido
ou extrapolando as limitações jurídicas, lesando alguém, traz como efeito o dever de
indenizar.” (DINIZ apud TEIXEIRA JUNIOR, 2007)
De acordo Paroski (2006) o assédio moral – ato ilícito que é – provoca, sem dúvida alguma,
dano moral, suscetível de reparação pecuniária, porque atinge diretamente a honra e a
dignidade do trabalhador, podendo comprometer sua saúde física e mental, além de arranhar
27
A honra e a dignidade das pessoas são bens tutelados constitucionalmente, nos artigos 1º, 3º e
5º, da Constituição de 1988, merecendo pronta reparação quando se comprova sua violação.
“Assim, o dano moral causado deve ser reparado e, este conceito, deve ser estendido
aos casos onde haja a prática de assédio moral, tendo encontrado este, respaldo na
jurisprudência brasileira, para aplicação de sanção para coibir tal conduta.”
(TEIXEIRA JUNIOR, 2007).
O assédio moral pode, também, acarretar dano material, a exemplo da perda do emprego e
gastos com tratamento médico e psicológico, além, é claro, de atingir profundamente os
direitos da personalidade do empregado, ferindo com violência o seu amor próprio, a sua
auto-estima, a sua boa-fama, a sua imagem, e principalmente, a sua dignidade e a sua honra.
(PAROSKI, 2006).
Segundo Teixeira Junior (2007), por tratar-se de lesão à direito subjetivo, torna-se difícil sua
valoração para fins da indenização. Mas, apesar das dificuldades em relação a sua
determinação, devem-se procurar parâmetros para sua aplicação, pois, a indenização visa
reparar o dano causado. Portanto, a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade e
repercussão da ofensa, a intensidade do dolo ou da culpa, a situação econômica do ofensor e a
extensão do prejuízo causado, configuram bons exemplos de parâmetros no que concerne à
valoração das causas.
Conforme citado ao longo deste trabalho, no Brasil ainda não existe legislação específica para
o assédio moral no ordenamento jurídico em âmbito nacional. Os processos impetrados na
justiça têm sido julgados com vistas no art. 483 da CLT e, não em poucos os casos,
utilizando-se dos dispositivos expressos no Código Civil Brasileiro e da Constituição Federal,
como forma de analogia à questão.
“Sendo cada vez mais freqüente o assédio moral nos locais de trabalho, requer-se
adotar a legislação correspondente para que as vítimas possam denunciar os fatos na
segurança de que haverá uma sanção, não se vendo na obrigação de encobrir os
assediadores com desculpas.” (SALVADOR, 2002).
No Brasil, os estados do Rio de Janeiro e Sergipe, bem como, diversos municípios, cita-se
Americana, Bauru, Campinas, Guarulhos, São Paulo, Sidrolândia, Reserva do Iguaçu,
Contagem, Cascavel, Natal, Jaboticabal e Iracemápolis, já têm leis que coíbem o assédio
moral, porém, especificamente para a Administração Pública. Faz-se menção, ainda, que foi
em Iracemápolis, cidade situada no interior de São Paulo, que publicou no ano 2000 a
primeira lei específica coibindo e punindo o assédio moral no trabalho.
Para ilustrar a importância da legislação específica, Paroski (2006) utiliza a Lei Municipal n.
13.288, de 10 de janeiro de 2002, da Cidade de São Paulo, aplicável aos servidores públicos
municipais (administração pública direta e indireta), que conceitua assédio moral, assim:
“Para fins do disposto nesta lei considera-se assédio moral todo tipo de ação, gesto
ou palavra que atinja, pela repetição, a auto-estima e a segurança de um indivíduo,
fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando em dano ao ambiente de
trabalho, à evolução da carreira profissional ou à estabilidade do vínculo
empregatício do funcionário, tais como: marcar tarefas com prazos impossíveis;
passar alguém de uma área de responsabilidade para funções triviais; tomar crédito
de idéias de outros; ignorar ou excluir um funcionário só se dirigindo a ele através
de terceiros; sonegar informações de forma insistente; espalhar rumores maliciosos;
criticar com persistência e subestimar esforços.”
Segundo dispõe precitada lei, o servidor público responsável pelo assédio moral poderá sofrer
as penalidades de suspensão, multa ou demissão. (PAROSKI, 2006).
4.742/01, de autoria do Deputado Federal Marcos de Jesus do PL/PE, o qual estabelece o art.
146-A no Código Penal, com a seguinte redação:
“Desqualificar, reiteradamente, por meio de palavras, gestos ou atitudes, a auto-
estima, a segurança ou a imagem do servidor público ou empregado em razão de
vínculo hierárquico funcional ou laboral”.
Conforme Castro (2007) menciona, tramita, ainda, no Congresso o Projeto de Lei n° 5.970/01
de autoria do Deputado Inácio Arruma do PCdoB/CE que visa a alteração de dispositivos da
Consolidação das Leis Trabalhistas, almejando conceder ao empregado o direito de rescindir
o contrato de trabalho em caso de coação moral, humilhação ou abuso de poder, sendo o
empregador obrigado a pagar todos os direitos trabalhistas. Atualmente, o mesmo se encontra
na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP), que após emissão
de parecer sugeriu as seguintes modificações ao art. 483 da CLT:
O art. 483 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452,
de 1º de maio de 1943, passaria a vigorar acrescido da seguinte alínea “h”:
“h) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele, coação moral, por meio de
atos ou expressões que tenham por objetivo ou efeito atingir sua dignidade ou criar
condições de trabalho humilhantes ou degradantes, abusando da autoridade que lhe
conferem suas funções.”
O § 3º do art. 483 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT passaria a vigorar com a
seguinte redação:
“§ 3º Nas hipóteses das alíneas d, g e h, o empregado poderá pleitear a rescisão de
seu contrato e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no
serviço até final decisão do processo.” (NR)
Segundo Castro (2007) a mudança sugerida pelo nobre deputado mostra-se de grande valia,
pois a questão da coação moral tem se tornado um grave problema nas relações entre
empregados e empregadores em todo o mundo.
“Por fim, cumpre salientar que qualquer que seja a mudança ocorrida na legislação,
não será o suficiente para coibir todas as práticas de abuso de poder no âmbito do
trabalho. Infelizmente, a justiça em nosso país se mostra morosa e, provavelmente, a
configuração da prática de assédio moral gerará delongas processuais. No entanto,
cabe ainda ao Poder Judiciário dificultar tal prática, através da aplicação severa de
todas as medidas cabíveis contra os empregadores.”
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3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho acadêmico de cunho interdisciplinar buscou em todo o tempo retratar a questão
do assédio moral no Brasil, traçando um paralelo entre a prática do mesmo pelas organizações
e as conseqüências jurídicas devidas. Mas, torna-se fundamental, que sejam feitas algumas
considerações, para melhor compreender e responder a problematização deste trabalho.
A ocorrência do assédio moral existe desde os primórdios da colonização do Brasil, mas vem
recebendo maior destaque, devido à tendência de tornar as relações de trabalho mais honestas
e, ainda, ao fato do aumento da demanda de processos trabalhistas por todo o país.
Do ponto de vista jurídico, após a constatação do assédio moral, pela comprovação do nexo
entre a conduta do agressor e o dano moral, os assediados têm o direito de questionarem os
seus direitos através de processos trabalhistas, que podem resultar na rescisão indireta do
contrato de trabalho e indenizações, conforme o entendimento da doutrina jurídica abordada.
preservação dos direitos de todos os cidadãos, que se crie instrumento mais claro no que
tange, principalmente, em punir os empregadores praticantes destes atos criminosos.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio Moral: o direito à indenização pelos maus-tratos e
humilhações sofridas no ambiente de trabalho. 2. ed. São Paulo. Ltr. 2006.
ANDRADE, Lucinéia aparecida Vieira. Existe diferença entre assédio moral e dano moral.
2009. Disponível em: <http://www.artigo.com/direito-artigos/existe-diferença-entre-assedio-
moral-e-dano-moral-882443.html> Acesso em: 24 set 2009.
BRASIL, Consolidação das Leis de Trabalho e Constituição Federal. 35. ed. São Paulo.
Saraiva. 2008.
CARMO, Reginaldo Henrique; MORIKOSHI, Eliane. Assédio moral no setor público: o
que fazer?. Revista Multidisciplinar. São Paulo: UNIESP, n. 1, jun/2006. Disponível em:
<http://www.uniesp.edu.br/revista/revista1/publi-art2.php?codigo=88>. Acesso em: 30 set
2009.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: e o novo papel dos recursos humanos nas
organizações. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2004.
ZAINAGHI, Domingos Sávio. Curso de Legislação Social: direito do trabalho. 12. ed. São
Paulo. Atlas. 2009.