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QUINTA-FEIRA, 26 DE ABRIL DE 2007

HISTERIA, Uma abordagem psicanalítica

1. INTRODUÇÃO

Os distúrbios neuróticos sempre estiveram presente na história da humanidade,


desde a Idade Média já se tem notícias de características sintomáticas de
psicopatologias, que não tendo, contudo, uma interpretação correta, ocasionavam
diversos atos intransigentes, com relação às pessoas afetadas por estes problemas.

É importante notar que, na sociedade dos últimos séculos a sexualidade, em especial


a feminina, era tratada com o silêncio, sofrendo uma forte carga do preconceito
social, fazendo com que as pessoas calassem em si os seus anseios, desejos e
ansiedades, que ao buscar uma forma de manifestação, encontrava nas patologias
psíquicas uma válvula de escape.

Entre as psicopatologias, encontrava-se a histeria, distúrbio com forte e diversa


sintomatologia, que, porém, eram praticamente desconhecidos, tendo com isso o seu
diagnóstico dificultado. A pouca compreensão da histeria fazia com que as pessoas
afetadas, não recebesse a devida atenção, sendo por vezes, determinados sintomas
considerados simulação, também não havendo uma possibilidade de tratamento
efetivo e muito menos uma forma de profilaxia.

É dentro deste contexto que Sigmund Freud, percebe a relação entre os


descontentamentos relacionados a sexualidade e os problemas psico-emocionais,
caracterizados como neuroses na época, sendo a histeria uma dos problemas mais
comuns. Freud foi o iniciador desta nova percepção, formulando uma rica teoria
sobre a histeria, caracterizando e classificando, detalhadamente os seus sintomas e
formas de manifestação. Além disso, elaborou novas formas de terapêutica,
possibilitando uma cura mais efetiva para as pessoas afetadas, e também buscou
elaborar tratamentos preventivos, abrindo novas perspectiva para esta problemática.

Freud também teve um papel relevante por abrir espaço para que se expressasse os
sentimentos, aliviando traumas e recalques, que se não fossem expostos, podiam
tornar-se manifestos através de reações sintomáticas, modificando assim a forma de
ver e atuar dos profissionais de saúde psíquica.

Neste trabalho, além de perceber a visão da psicanálise sobre a histeria, foi


analisado também o caso clínico da Srtª. Elisabeth Von R., que apresenta diversas
nuances e características próprias, possibilitando Freud desenvolver a sua teoria de
acordo com os novos achados, sendo este o primeiro caso em que atuou sozinho e de
forma integral, iniciando formas de tratamento próprias, a partir de métodos como
cartase e mão na testa, que culminou no desenvolvimento da Livre Associação. Foi
possível também estudar a perspectiva da Psiquiatria sobre o assunto e como a 2
medicina hoje trata este distúrbio.

Nesta perspectiva o presente trabalho vem apresentar um estudo detalhado sobre a


histeria, tendo um enfoque baseado na literatura freudiana sobre o tema, no estudo
de um caso clínico, também buscando a visão da Psiquiatria, percebendo as
diferenças referentes à forma de tratar o assunto, segundo a abordagem da
Psicanálise e da medicina para a patologia, bem como apresentando entrevistas com
profissionais da área, possibilitando um conhecimento multidisciplinar do problema.

O objetivo deste estudo é demonstrar de forma detalhada o que é a histeria, sua


etiologia, formas de manifestação, características específicas, pessoas afetadas.
Também como os estudos de Freud abriram novas perspectivas, tanto na descrição
detalhada do problema como na possibilidade de tratamento, um fator de grande
importância na época, por trazer credibilidade e direcionar a atenção para esta
patologia, diminuindo o preconceito, descriminação e estigma de simulação, que
sofria as pessoas afetadas. Também possibilitou a abertura para um maior
conhecimento e atuação na área.

Justifica-se a relevância deste ensaio pela importância que as psico-patologias têm


tido na atualidade, acometendo grande número de pessoas, que sofrem com a
manifestação de uma variada sintomatologia, sem, contudo, haver esclarecimento
com relação à patologia que está por trás - especialmente a histeria, que tem esta
característica de variação sintomática, dificultando o diagnóstico e o início mais
precoce de uma psicoterapia adequada. Também por servir como fonte
esclarecedora, que possibilitar dissipar a discriminação, relacionada às pessoas que
apresentam tantas reações sintomáticas na tendo, por vezes, uma doença orgânica
efetiva que justifique as queixas apresentadas. Por fim, pelo fato de ser um assunto
de profundo interesse para os estudantes, que poderão atuar em clínica com pessoas
que apresentam estes distúrbios, pela importância da obra freudiana sobre o tema
para a Psicologia e por este ser um assunto essencial na formação de psicólogo e
parte integrante da matéria estudada.

2. A HISTERIA SEGUNDO A PSICANÁLISE

Análise histórica

A repressão sexual era uma realidade nos séculos XVIII e XIX, não havia liberdade de
falar do corpo, das suas sensações e necessidades, o assunto sexualidade era
considerado imoral, principalmente no seio da família, a intimidade da mulher era
velada, a sociedade não admitia outro tipo de conduta, diz Perrot (2004).

Neste período, muitas mulheres foram acometidas da chamada histeria, a doença do


espírito. Doente ou louca era dessa forma que poderiam se expressar, mesmo que
ninguém desse importância, seus lábios não estariam mais fechados. Cansadas,
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sufocadas de todo o silêncio, a histeria era uma forma mais extrema da expressão da
sociedade da época.

Baseado nesta perspectiva é que Freud, no final do século XIX, inicia os seus estudos,
motivado pela realidade de repressão da sexualidade, principalmente a feminina,
que já desde a Idade Média, manifestavam as suas reações com características mais
explícitas, através da histeria e outras neurose, que na história da civilização teve o
seu papel relevante, por ser uma forma de expressão. Segundo Freud (1886), na
histeria pode haver uma combinação de sintomas, possibilitando que, por anos, a
pessoa afetada fosse considerada simuladora. Estes distúrbios tinham o caráter de
dissipar-se através de um contágio psíquico, pois esta psicopatologia era considerada
uma epidemia, e as pessoas atingidas por ela, relegadas a classificações espúrias
como possessas ou feiticeiras, sujeitas a depreciações, sem direito de observação ou
tratamento.

Neste sentido a figura de Freud é relevante no que concerne a mudança de ótica,


buscando entender mais profundamente o assunto, trazendo uma nova concepção da
histeria e uma forma diferenciada de atuação com relação ao problema. Freud
(1886), diz que os sinais somáticos não eram bem conhecidos, e após o diagnóstico,
não havia motivação para um conhecimento mais aprofundado.

A partir dos seus estudos com Charcot e Breuer, Freud (1886) percebe que havia uma
importância prática no trabalho com histeria. Atuando com casos complexos foi
possível diferenciar esta patologia de outras, com caráter semelhante,
caracterizando uma sintomatologia e percebendo uma correlação entre a doença
histérica e a irritação genital.
Conceitos básicos

Tendo uma postura que ia de encontro à realidade de sua época, ele inicia um
processo de estudo e tratamento das doenças ligadas aos distúrbios da sexualidade,
especialmente da mulher. Para entender mais profundamente este assunto é
necessário iniciar com a concepção freudiana de alguns conceitos, que foram
desenvolvidos a partir dos seus estudos e que podem estar ligados ao
desenvolvimento de distúrbios emocionais a posteriori.

Na teoria freudiana, um dos conceitos de profunda relevância para o desenvolver da


sexualidade feminina é o Complexo de castração, que seria um processo de inveja do
pênis do menino e que gera uma certa inferioridade na mulher, culminando no
desejo de ser menino para suprimir esta inferioridade. Ao mesmo tempo leva o
menino a ter um certo desprezo pelo sexo oposto. Dessa forma os genitais femininos
são encarados como mutilados, desprovidos do caráter de importância que tem os
genitais masculinos. Essa sensação de estarem deficientes leva a que a sexualidade
feminina sofra uma repressão, normalmente na puberdade, para depois desaparecer
este caráter de sexualidade masculina, podendo assim surgir a mulher.

Também importante é como Freud (1901) caracterizava a libido, como uma energia
psíquica de caráter qualificativo, que exerce uma força quantitativa de forma
variável, podendo assim medir os processos e transformações que ocorrem no
aspecto de excitação sexual. Esta excitação é fornecida por todos os órgãos do corpo
e não apenas pelos órgãos sexuais. Esta libido pode ser direcionada para objetos ou
ter uma relação com o ego, tornando-se uma libido narcisista.

Freud (1886) diz que as dificuldades relacionadas à libido a ao complexo de 4


castração, mas principalmente os fatores sociais que levavam a repressão, são
potencializadores do processo de neurose, que inicia-se com a excessiva e intensa
compulsão de idéias, desenvolvidas pela educação ou experiências, são
surpreendentemente extravagantes, intrusas, usurpadoras. Esta compulsão leva a um
recalque ou amnésia. O recalcamento é uma tendência de defesa, está ligada a
idéias de desprazer ou provenientes da vida sexual.

Para Freud (1886), o recalcamento está ligado a experiências sexuais que tenham
sido traumáticas ou prematuras, este recalcamento levará a despertar lembrança,
ocasionando o aparecimento de sintomas primários de neurose, o organismo entrará
em um estágio de defesa, por fim, as idéias recalcadas voltam ocorrendo um
confronto entre elas e o ego, que culminará na formação da patologia. A tendência
de defesa orgânica, quando direcionadas contra idéias que podem levar a desprazer,
como as idéias sexuais, que são contrárias às operações do ego, torna-se um fator
prejudicial.

Estas idéias obsessivas sexuais levam a auto-censura, ou sentimento de culpa,


retorno ao processo de recalque, o que ocasiona a diversos medos, como angústias,
medo das conseqüências de auto-censura; hipocondria, medo dos efeitos no corpo;
delírios de perseguição, medo dos efeitos sociais; e vergonha, medo de ser revelada.
Estes fatores geram um sintoma de defesa - a escrupulosidade, e leva à transtornos
obsessivos (idéias, afetos, acumulação de objetos, rituais e limpeza).

Para Freud (1886), além de todo esse processo de recalcamento, fruto da visão
distorcida da sexualidade na época, que fazia com que se reprimisse desejos e
impulsos, ou fruto de experiências sexuais prematuras ou traumáticas, outros fatores
com determinantes causais sexuais, eram potencializadores do aparecimento das
neuroses, como a passividade sexual; também a angústia das virgens pelo princípio
da vida sexual, a angústia das abstinentes, entre elas mulheres que se tornavam
esquecidas pelo marido, não satisfeitas na vida sexual, até por impotência do
companheiro, a angústia pelo coito interrompido, por receio de engravidar ou por
ejaculação precoce, não levando a satisfação da tensão sexual. Todos estes fatos
tornavam as mulheres mais propensas ao aparecimento de neuroses, mas também
manifestava-se em homens.

Com todo esse processo, para se proteger contra a ansiedade, o corpo também podia
desenvolver mecanismo de defesa, na busca de reduzir a tensão, ou distorcendo a
realidade de forma inconsciente, através de várias manifestações possíveis, como na
identificação, assumindo o caráter de outrem; na repressão, barrando as pulsões da
ansiedade; na sublimação, substituindo uma meta por outra socialmente aceitável;
na projeção, atribui a ansiedade a outrem; na formação reativa, oculta a pulsão
perturbadora substituindo ódio por amor ou por outros sentimentos; na fixação, onde
bloqueia o desenvolvimento, não passando a outro estágio; na agressão, leva a
reversão a um estágio de desenvolvimento anterior, onde sente maior segurança.

Sintomatologia

Com relação especificamente a histeria, palavra que significa útero, Freud (1886) diz
que tem um vínculo direto com as neuroses. Nesta patologia não se encontra
alteração do sistema nervoso, mas encontra-se modificações na condição de
excitação com relação às partes deste sistema, porém tem um quadro clínico bem
característico, sendo diagnosticada por sua sintomatologia, que na forma mais aguda,
especialmente na grande histeria, são diversos e graves. Mas, existem também
formas mais amenas de manifestação da patologia. Para desenvolver este assunto é 5
necessário iniciar com a caracterização da sintomatologia, a concepção freudiana de
histeria e a sua forma de atuação com relação ao problema.

Segundo Freud (1886), os sintomas que dão uma nítida característica à patologia são:

1. Ataques convulsivos, precedido por uma sensação-aura, especialmente o globus


hystéricos - sensação de espasmos na faringe. É constituído de três fases, a primeira
epileptóide, semelhante ao ataque epilético, ocorre com espasmos de grande
brutalidade. A segunda dos grandes movimentos, que é acompanhado de contorções,
atitudes de arco etc., apesar de extremos e requerer muita força, estes movimentos
são executados de modo um tanto coordenados, o que deferência do ataque
epilético, na ocorrendo ferimentos graves. Na terceira fase ocorre o evento
alucinatório, com atitudes passionais, onde pode-se ou não conservar a consciência.
Estas fases são seqüenciadas e um ataque histérico pode durar de algumas horas até
alguns dias. Não há elevação da temperatura, cada fase pode ocorrer isolada,
representando um ataque abreviado, caso mais normal que o ataque completo. Esses
ataques histéricos podem também ocorrer em forma de coma ou ataque de sono,
podendo ter característica de sono normal, ou ser semelhante a um estado de óbito,
pela extrema diminuição da respiração e circulação, pode durar semanas ou meses,
afetando a nutrição do corpo, sem, contudo, chegar a risco de vida. Em 1/3 dos casos
de histeria estes sintomas estão ausentes.

2. Zonas histerógenas, áreas com forte conexão com os ataques, e que são propensas
a desencadear um ataque histérico com apenas um leve estímulo, ou mesmo por uma
sensação que venha desta área. São situadas na pele ou órgãos, especialmente na
região abdominal do ovário e na infra-mamária nas mulheres, nos testículos e cordão
espermático nos homens. Podendo ser uni ou bilateral. Estas áreas também podem
exercer função inibidora sobre ataques convulsivos. Uma pressão nesta área provoca
uma sensação-aura.

3. Distúrbio da sensibilidade, sintoma mais freqüentes e importante para o


diagnóstico, caracterizado por anestesia ou hiperestesia, com variação de extensão e
intensidade, podendo atingir diversos órgãos, músculos etc, ocorrendo mais
comumente na pele, pode ser total ou apenas ter sensação de analgesia. Porém, só
uma diminuição do tato mantendo-se outras propriedades, não caracteriza uma
histeria. Chegando ao extremo, a anestesia histérica, impede qualquer tentativa de
provocar uma reação sensorial, a extensão pode total ou afetar só a pele ou órgãos
dos sentidos, o mais comum é a hemianestesia distribuída de forma variada - língua,
genitais, olhos. Há uma relação entre as áreas de anestesia e as zonas histerógenas.
Na Idade Média estes distúrbios eram considerados obra de feitiçaria.

4. Distúrbio de atitude sensorial, ocorrendo em todos os órgãos de forma simultânea 6


ou independente de distúrbios de sensibilidade da pele. Na visão pode ocorrer
amaurose ou ambliopia, com sintomas diversos e específicos para ambos os casos,
mas não hemianopsia. No ouvido a surdez histérica unilateral. No paladar e olfato
leva a anestesia desses órgãos, pode ocorrer parestesias dos sentidos ou excitação
auditiva ou olfativa.

5. Paralisias, sintoma raro e normalmente acompanhado de anestesia na parte


paralisada (em doenças orgânicas isso não ocorre junto). Pode ocorrer hemiplegia,
atingindo um braço e perna ou paraplegia - ambos, não existindo paralisia facial
histérica. Na hemiplesia histérica a perna paralisada não movimenta e é
acompanhada de uma hemianestesia de intensidade grave. Pode haver no membro
afetado flacidez muscular ou pode atrofiar-se, mesmo sem haver alteração na
excitabilidade elétrica. Estas paralisias podem ser acompanhadas de afasia histérica -
incapacidade de produzir sons, mas são sempre acompanhadas de afonia.

6. Contraturas, reagindo dessa forma a pequenos estímulos, sendo intensas e com


persistências incomuns, que não relaxam durante o sono ou forte excitação. Só
desaparecem com narcose profunda, reaparecendo de forma intensa quando o
paciente acorda. Na histeria aumenta também a tendência a espasmos.
Segundo Freud (1901) existe os sintomas permanentes da histeria, que são os
estigmas, considerados não-psicogênicos, mas de descrição e origem obscura.

Características
Há características gerais das manifestações histéricas, como serem exageradas -
dores intensas, contraturas de maior rotação etc., os sintomas podem ocorrer
isolados, e podem ocorrer só em áreas específicas, assim ao lado de uma área
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insensível pode haver outra normal. São passíveis de mudança de forma espontânea
ou influenciada, excluindo a possibilidade de lesão orgânica. Segundo Freud (1886) "é
especialmente característico da histeria sem um distúrbio, ao mesmo tempo
desenvolvido no mais alto grau e limitado de maneira nítida" (p. 84).

Para Freud (1886), a histeria é também acompanhada, em alguns casos, de vários


distúrbios psíquicos, caracterizados por alterações relacionadas à distribuição
normal, também no sistema nervoso e por fim nas quantidades estáveis de excitação,
que são manifestadas nas alterações do desenvolver e associar idéias, inibindo a ação
e na forma de exagero e repressão dos sentimentos. A análise futura destes pontos
seria um caminho para elucidar as modificações histéricas. Contudo, as modificações
psíquicas mais importantes estão ligadas a atividade cerebral inconsciente,
automática. Freud não caracterizava a histeria como uma psicose, que pode vir a
aparecer como complicação do caso, mas como um estado nervoso que vem a tona
em determinados períodos, sua causa pode ter como fator importante a
hereditariedade, mas as causas acidentais são mais relevantes, pois são essas que
desencadeiam as crises histéricas.

Também com exatidão Freud (1906) descreve outras características próprias do que
são os sintomas histéricos específicos, entre eles: são símbolos mnemônicos de
impressões e experiências traumáticas operativas; são substitutivos, produzidos por
"conversão", para o retorno associativo dessas experiências traumáticas; são
expressão da realização de um desejo; são a realização de uma fantasia inconsciente
que serve à realização de um desejo: estão a serviço da satisfação sexual e
representam uma parcela da vida sexual do sujeito; correspondem ao retorno a um
modo de satisfação sexual que era real na vida infantil e tem sido reprimido; surgem
como uma conciliação entre dois impulsos afetivos e instituais opostos, um dos quais
tenta expressar um instinto componente ou um inconsciente da constituição sexual,
enquanto o outro tenta suprimi-lo; podem assumir a representação de vários
impulsos inconscientes que não são sexuais, mas possuem sempre uma satisfação
sexual (P. 152/153)

Freud (1893) também relata que a capacidade de adquirir a histeria está ligada a
uma idiossincrasia da pessoa. As pessoas que se tornam histéricas são vivazes, dotada
intelectualmente e repletos de interesse antes de serem acometidos pela patologia.
Têm ânsias de sensações e atividade mental, possuem intolerância à monotonia.
Desta forma, mesmo em repouso liberam um excesso de excitação que necessita ser
reaproveitado, na puberdade isso é acrescido do despertar da sexualidade e
glândulas sexuais, há então uma energia nervosa excedente que podem gerar os
fenômenos patológicos. Contudo, para que estes fenômenos manifeste sintomas
histéricos é necessário outra idiossincrasia específica, por isso nem todos os ativos
tornam-se histéricos. Quando a pessoa com excedente de excitação, concentra a
atenção em uma parte do corpo, esta excitação é direcionada para esse local,
causando hiperalgesia. Desta forma, qualquer dor alcança o ápice e qualquer mal-
estar torna-se insuportável, esta quantidade será aumentada com o influxo de novas
excitações.

Etiologia

Freud (1901), por perceber que um alto grau de recalcamento sexual ou uma
resistência da pulsão sexual por moralidade ou vergonha, levava a que os
pensamentos retidos no inconsciente necessitassem expressar seu valor efetivo, como
uma descarga (transformações das aspirações libidinosas em sintomas), que era
manifestada na histeria, sendo estes sintomas um substituto das aspirações, desejos
e anseios da pulsação sexual recatada. Assim, ele inicialmente buscava eliminar estes
sintomas através da retransformação sistemática, onde ocorre uma transcrição
destes processos em representações afetivas conscientizadas, podendo averiguar a
natureza e origem destas transformações, chegando ao núcleo do problema para
resolvê-lo.

Freud (1886), diz que a histeria inicia-se na adolescência e até mesmo na infância,
sendo um sintoma do sistema nervoso, e sua manifestação esta ligada a "perversão
moral permanente". No sexo feminino é mais comum a neurose a partir dos 15 anos,
caso ocorra um casamento feliz haverá uma interrupção da doença, mas ela
reaparecera com o esfriamento do relacionamento conjugal e o nascimento dos
filhos. Este distúrbio também pode ocorrer em homens, despertando maior interesse
por interromper a atividade laborial. Esta patologia pode estar associada a outros
distúrbios neuróticos ou orgânicos, dificultando assim o processo de análise. O mais
comum é acompanhar a neurastenia, ocorrendo quando a disposição histérica está se
dissipando e inicia um quadro de neurastenia, desencadeando ambos,
simultaneamente. Essa combinação é mais comum em homens, por terem disposição
para as duas patologias. Em alguns casos femininos onde foi diagnosticada a histeria,
ocorre apenas neurastenia.

Para Freud (1886) a histeria é uma anomalia constitucional, com sinais iniciais
manifestados na adolescência. Os sintomas isolados podem desaparecer de forma
rápida, aparecendo outros, também transitórios. Os sintomas também podem ser
interrompidos e retornar na sua totalidade ou durar anos e desaparecer subitamente.
Contudo para o processo de evolução é necessário um período de latência, ocasião
em que a causa desencadeante estará agindo no inconsciente.

Mesmo após um trauma os sintomas não se manifestam imediatamente. É importante


ressaltar que a histeria não ocasiona risco de vida, mesmo nos casos mais avançados.

Freud (1886) não considera que a anormalidade no aparelho genital está ligada
diretamente à patologia, mas a atitude sexual seria uma das fortes condições, pois
para Freud esta função tinha especial significação, principalmente para o sexo
feminino. Outra condição seria um trauma, que pode incidir como causa de duas
maneiras: podendo manifestar uma disposição histérica ou porque a parte do corpo
afetada torna-se propensa a uma histeria local. Mas o recalcamento é o ponto chave
das neuroses tanto das hereditárias, como gera neuroses não hereditárias, ou seja,
adquiridas, e está sempre ligado a distúrbios na sexualidade.

Existem segundo Freud (1886), diversos outros fatores que podem ser próprios para o
desenvolvimento de uma disposição histérica, como excesso de mimo, excitamentos
freqüentes e violentos. Para irromper um estado agudo pode colaborar um trauma ou
uma emoção compulsiva. Esta doença acomete mais as mulheres, ocorrendo
raramente com todas as características em homens. Mas também existe a histeria
infantil, mais comum em crianças precoces e com altas habilidades. Também
colabora o fato da pessoa ter outras patologias como encefalopatia e processo inicial
de sífilis.

Contudo, para Freud (1893), é indispensável para chegar a causação patológica da


histeria, saber as influências danosas que pode ser atribuída pelo paciente ao
adoecimento e desenvolvimento dos sintomas neuróticos. Sendo este processo
dificultado pelo que o paciente oculta, por relutar em pensar ou mencionar algumas
perturbações e traumas. Assim é importante não adotar a crença do paciente,
buscando um exame crítico, também é necessário atentar para a predisposição
hereditária.

Mas a forma mais eficaz de chegar a etiologia, segundo Freud (1893), é fazer o
paciente retroagir a partir do sintoma até a experiência na qual e pela qual o
sintoma surgiu, promovendo com a reprodução da cena traumática, uma correção do
curso psíquico dos acontecimentos, eliminando os sintomas. Buscando as causas da
histeria pode-se assim descobrir, partindo das cenas traumáticas, quais as influências
produzem sintomas histéricos e como fazem, mas o percurso é difícil, pois é
necessário chegar a essa derivação tendo adequação como determinante, por
exemplo, quando um susto ou acidente causa um sintoma histérico de vômito, é 10
indispensável descobrir porque o susto levou a este sintoma específico.

A cena traumática originária do sintoma possui dois requisitos - adequação como


determinante e força traumática. Parte-se dessa cena conseguindo encontrar o
caminho que apresente a experiência traumática, mesmo que a primeira cena
lembrada seja apenas um elo na cadeia de associações. Assim sendo, Freud (1893)
diz que "nenhum sintoma histérico pode emergir de uma única experiência real, mas
a lembrança de experiências mais antigas despertadas em associação com ela, atua
na causação do sintoma" (p. 194). Mas a descoberta principal foi que em uma análise
sistemática, qualquer condição inicial "chega-se infalivelmente ao campo da
experiência sexual" (p. 196), incluindo ocorrências de experiências sexuais
prematura.

Tratamento

Inicialmente, no processo terapêutico, Freud (1886) para remover os sintomas


histéricos dava ênfase à excitação e sugestão hipnótica, (a hipnose também era
usada por Charcot e Breuer). Além de métodos estesiogênicos (artificias) - como
eletricidade, irritação cutânea. Há uma relação fisiológica simétrica nos sintomas,
permitindo transferir um sintoma de uma parte do corpo para a outra metade
simétrica pelos métodos estesiogênicos. Juntamente com Breuer utilizou o método
da cartase, onde buscava tratar os pacientes através de um diálogo, outra inovação
foi usar a pressão na testa. Porém estes métodos mostraram-se insatisfatórios, pois
traziam certo alivio e eliminava alguns sintomas, mas não conseguia chegar à cura. A
partir do método cartático Freud desenvolveu a técnica da livre associação.

Para tratamento Freud (1886) relacionava três etapas, que seria um tratamento
profilático, atuando nas disposições histéricas, prevenindo o aparecimento ou
atenuando os sintomas leves; o tratamento da histeria aguda, ou os ataques
histéricos, onde deve-se tomar as medidas para evitar toda a excitação emocional ou
condições habituais que venham a contribuir para a manifestação; por fim o
tratamento dos sintomas histéricos isolados ou histeria local, persistirão enquanto
houver histeria aguda, pode-se atuar com modificação local, remoção da fonte de
estímulos e levar o paciente a negligenciar o problema, influenciando o sistema
nervoso com terapias alternativas. É importante também, para eliminar a disposição,
no tratamento profilático, tomar atitudes simples como, não sobrecarregar o sistema
nervoso, dedicar tempo aos exercícios e higiene, não se manter de forma exaustiva
no trabalho intelectual. Ocorrendo ataque é importante que a pessoa possa sair do
ambiente onde ocorreu, evitando pressões familiares, e excitação emocional.

Mas, o grande avanço no processo de tratamento e cura, foi desenvolver e utilizar o


método Livre Associação, encorajando o paciente a falar de forma espontânea,
expressando suas idéia, podendo trazer à percepção consciente pensamentos
reprimidos, que possam ser fonte do problema. Segundo Freud (1939), quando o
método do Livre Associação chegava a um determinado ponto, ocorria a resistência,
o paciente defrontava-se na percepção consciente com idéias tão vergonhosas e
repulsivas que não podiam ser enfrentadas, não podendo continuar a falar, sendo
uma forma de se proteger contra o sofrimento emocional. Essas idéias que afloram
foram excluídas da percepção consciente por serem desejos inaceitáveis, mas podem
operar no inconsciente. Neste processo encorajava a transferência de atividades
emocionais do paciente referente aos genitores para o terapeuta. Valorizava também
a análise onírica, usando a interpretação dos sonhos, pois considera a essência do 11
sonho como realização de desejos, estes têm um conteúdo manifesto, que são
eventos recordados de um sonho, e conteúdo latente, onde se encontra a significação
oculta ou simbólica do sonho.

Também para Freud (1893) uma forma de reação normal que pode suavizar a
excitação é comunicá-las pela fala. Falar as coisas é uma forma de aliviar-se. Não
tendo essa saída de excitação, ela pode se converter em um fenômeno somático,
originando os fenômenos histéricos de retenção. Este fator mostra a importância do
uso da associação livre no tratamento.

Contribuição social

Com relação à sociedade da época, percebe-se que havia um intenso desgaste


psicológico, e estava diretamente ligada a postura como se tratava a sexualidade,
relegando-a ao silêncio, sem poder expressar os seus desejos, ânsias e vontades. Este
silêncio socialmente imposto e também esta necessidade de reprimir os seus
impulsos, por medo do julgamento contrário que receberia, fazia com que levasse a
processos de recalcamento, tornando este acúmulo de emoções, um desencadeador
de uma série de manifestações clínicas ou mesmo patologias psicossomáticas.

Dessa forma, Freud contribui para essa transição, ou início de mudança de


mentalidade com relação a postura da época sobre a sexualidade, foi a abertura para
falar, permitir que fosse possível descrever seus sentimentos, sensações, desejos,
vontades, em meio a uma realidade conservadora, onde tudo devia ser calado e
ocultado. Freud (1896) instigou os profissionais da área a interrogar os pacientes,
coisa que ele já fazia, através inicialmente da cartase e depois pela livre associação,
a respeito da sua vida sexual. Este procedimento era um choque para a visão da
época, na qual o médico não deveria intrometer-se nas particularidades sexuais dos
seus pacientes, não fazer interrogatório desse tipo para não ferir, principalmente o
recato feminino, pois isto era considerado um perigo para a sociedade e uma ofensa
para os padrões familiares da época, assim por dever ético não deviam mencionar
estas questões.

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Freud (1896), refuta a idéia de que é impossível uma investigação sexual por
escrúpulos dos pacientes, pois mesmo ocorrendo uma hesitação inicial, eles
adaptam-se à nova situação. Esta abertura é uma válvula de escape, principalmente
para a mulher, que pelas concepções sociais passavam a vida sentindo a dificuldade
de ocultar seus sentimentos e apelos sexuais, ao saber que com o médico podia se
comportar de forma humana, no que concerne assuntos sexuais, levava a sentir-se
assim aliviadas ao exporem suas considerações.

Freud (1896) também critica a sociedade puritana, onde se descrimina o atendimento


e a escuta às mulheres, mesmo pelos médicos e psicólogos, citando a visão turca de
atendimento a mulher doente, onde só podia mostrar apenas os braços por um
buraco na parede. A partir desta citação ele chega a uma visão radicalmente
diferenciada, onde leva o problema da sexualidade feminina para toda a comunidade
médica, para que se interessem pelo assunto e venham a apoiar a criação de uma
ação profilática genericamente aceitável. Chega ao ápice dessa nova visão ao
apresentar a necessidade da criação de um "espaço da opinião pública para a
discussão dos problemas da vida sexual" (p. 264). Insiste na necessidade de se falar
sobre o assunto sem ter que sofrer preconceito, mudando as concepções da
civilização que precisava "aprender a conviver com as reivindicações da nossa
sexualidade" (p.264).

Freud (1896) esclarece que a fato de todos terem suas fraquezas na área da
sexualidade, deve levar a uma tolerância relacionada às questões sexuais, deixando a
visão moralista, e percebendo o beneficio para a moral sexual, a necessidade de
abandonar o sigilo nesta área, buscando alívio para os sofrimentos gerados, pois
percebe-se uma relação causal entre a sexualidade e as neuroses. Mas alerta para a
contradição de que, apesar de todo o esclarecimento até então possível, haver ainda
uma descrença social sobre a ciência sexual, dificultando o acesso ao tratamento. É
preciso que se esclarecer às donas-de-casa, que o motivo de adoecerem não são as
dificuldades das tarefas domésticas cotidianas, mas por negligenciarem e
prejudicarem, por muito tempo, a vida sexual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmundo. Publicações pré-psicanalítica e esboços inéditos. Vol. I. Rio


Janeiro: Imago, 1886

FREUD, Sigmund. Vol. II. Rio de Janeiro: Imago, 1969

FREUD, Sigmund. Primeiras publicações psicanalíticas. Vol. III. Rio de Janeiro: Imago,
1969

FREUD, Sigmund. Um caso de histeria. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e


outros trabalhos. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1969 13
FREUD, Sigmund. 'Gadiva" de Jansen e outros trabalhos. Vol. XIX. Rio de Janeiro:
Imago, 1960

POSTADO POR MÁRCIO FRANSEN. NA QUINTA-FEIRA, ABRIL 26, 2007

MARCADORES: FREUD, HISTERIA, PSICANÁLISE

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