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Universidade de Aveiro

Departamento de Línguas e culturas

Multiculturalismo

Relações Político-Culturais

Docente: Jorge Flores


______________________________________________________________________
Sílvia Almeida, nr. mec. 27827
25 Novembro 2006
Os Estados Parte comprometem-se a proibir e a eliminar a
discriminação racial em todas as suas formas e a garantir o direito de
cada um à igualdade perante a lei, sem distinção de raça, de cor ou
de origem nacional ou étnica.
Convenção da ONU sobre a Eliminação de todas as formas de descriminação racial ( 1966)

Em sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável


garantir uma interacção harmoniosa entre pessoas e grupos com
identidades culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas,
assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a
inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão
social, a vitalidade da sociedade civil e a paz.
Art.2 º da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural.

Toda a pessoa deve poder expressar-se, criar e difundir as suas obras na


língua que deseje e, em particular, na sua língua materna; toda a pessoa tem
direito a uma educação e formação de qualidade que respeite plenamente a
sua identidade cultural...

Art.5º. Idem

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Indice

A Globalização..................................................................................................................4
A influência do Estado-Nação............................................................................................5
Segregacionismo vs Assimilacionismo.............................................................................7
O Multiculturalismo como modelo de gestão..................................................................10
As dificuldades do multiculturalismo..........................................................................12
O caso português..............................................................................................................15
Conclusão........................................................................................................................17

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A Globalização

A diversidade cultural acompanha a história da humanidade e nas


últimas décadas a afirmação da diversidade étnico-cultural é uma das mais
relevantes transformações do Mundo. As discussões acerca do
multiculturalismo acompanham os debates sobre o pós-modernismo e sobre os
efeitos da pós-colonização, o que se verifica de forma mais evidente a partir
dos anos 70, sobretudo nos Estados Unidos.

Não sendo um debate recente, a tónica da discussão mudou desde a


Convenção da ONU de 1966, o que outrora se baseava na luta contra qualquer
forma de discriminação, hoje parte do princípio que a “diversidade cultural é um
património comum da humanidade, tão necessária para o género humano
quanto a biodiversidade para os seres vivos1”.
Esta afirmação, sendo verdadeira, encerra em si realidades
contraditórias que dificultam uma boa gestão desta globalização e diversidade.

O avanço das telecomunicações, a circulação intensificada de


informações, bens e força de trabalho e a facilidade de viajar, longe de
uniformizar o planeta, trazem consigo a afirmação de identidades locais e
regionais, assim como a formação de sujeitos políticos que reivindicam, a partir
de garantias igualitárias, o direito à diferença.
A nível cultural, se por um lado, se observa um movimento de
homogeneização e mundialização de determinadas expressões culturais, por
outro verifica-se uma maior facilidade em projectar culturas minoritárias,
promover a sua interacção e fusão e multiplicar a oferta cultural, num quadro
de crescente liberdade de expressão.
Esta intensificação de circulação de bens e pessoas é contrariada pela
imposição de barreiras proteccionistas por parte dos países mais ricos, além de
que, “em tempos de acelerada globalização, há uma tendência perigosa para o

1
Declaração universal sobre a diversidade cultural, Unesco, Novembro 2001

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regresso dos nacionalismos, como se fosse essa a solução para os problemas
da globalização hegemónica e não a criação de uma globalização alternativa.2”

A influência do Estado-Nação

Mas para melhor entendermos as dicotomias presentes na problemática


do multiculturalismo teremos que o definir, tentando distinguir as várias
correntes de pensamento cultural adoptadas por cada país, reconhecer a
responsabilidade do estado-nação, enquanto organização politica, social e
cultural e admitir que esta é uma nova realidade que marcará o inicio deste
milénio, de forma nem sempre pacifica, mas inevitável.

Durante os séculos XIX e XX surgiu o Estado-nação tal como o


conhecemos hoje. É recente a ideia de que a forma ideal de organização
politica, social e cultural corresponde a um território, a um povo, a um estado
soberano, a uma língua nacional.
Os séc. XIX e XX foram também marcados pelas expansões
imperialistas e coloniais de algumas grandes potências que procuravam
“civilizar” os povos e culturas que dominavam. O nacionalismo e o colonialismo
partilhavam então objectivos e características em comum. Se cada estado se
definia como o ideal político de uma civilização étnica e linguisticamente
definida, então as colónias seriam a confirmação e o local onde estes
conceitos seriam impostos de forma a legitimar o Estado nação.
Se por um lado o Estado nação transmitia o sentido de comunidade,
omitindo as diferenças e desigualdades internas, por outro, as colónias
asseguravam uma desigualdade hierárquica, implícita na ideia de que alguns
povos ou nações seriam superiores e teriam a obrigação de tutelar os inferiores
As relações entre colonos e colonizados, entre as culturas dominantes e
dominadas, conduziam a um de dois modelos: assimilação, fazendo do
colonizado uma cópia tão fiel quanto possível do colonizador ou o
segregacionismo, que de forma a evitar “contaminações” e preservar “a pureza

2
Miguel Vale de Almeida, caros compatriotas, webpage 18.11.2002

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“ da cultura colonizadora, exacerbava e afastava as diferenças socio-culturais
entre as duas civilizações.3
Uma excepção a esta realidade eram os grupos que se encontravam em
diáspora, como os judeus por exemplo. Mal ou bem integrados na sociedade
de acolhimento, sentiam a falta do seu Estado nação. De forma a legitimarem-
se e a serem legitimadas as suas diferenças enquanto grupo, as suas terras de
origem foram reproduzidas no seio das sociedades de acolhimento. O estatuto
destes grupos no seio dos estados europeus, ou dos estados americanos,
construídos à semelhança do nacionalismo europeu, era diferente do dos
imigrantes ou colonizados.
Entretanto, com o final da IIª Guerra Mundial e os emergentes
processos de descolonização, o posterior fim do comunismo e a queda da
União Soviética, surgem novas nações, aumentando e diversificando o mapa-
mundo. Dos 50 países que constituíam as Nações Unidas, evoluímos até aos
191 membros actuais.4
Esta diversificação e afirmação identitária são naturalmente causa e
consequência de profundas alterações na relação entre povos e culturas.

3
Marques, R., “Da assimilação ao multiculturalismo”, Observatório da Imigração, Janeiro 2003

4
André, J.M., “Identidade(s), Multiculturalismo e Globalização, XX Encontro de Filosofia ,Fevereiro 2006-
11-27

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Segregacionismo vs Assimilacionismo

Estabelecida a relação entre o Estado-nação e o multiculturalismo, é


chegada a altura de definirmos o termo e compreendermos a sua evolução.

Provavelmente a primeira teoria atenta a esta nova realidade foi o


“melting pot”. O termo “melting pot” foi usado pela primeira vez em 1782,
quando um comerciante francês em Nova Iorque previu os Estados Unidos
como sendo, não só a terra das oportunidades, mas também uma sociedade
onde todos os indivíduos de diferentes nações se fundiam para dar origem a
uma nova raça de homens, cujo valor e trabalho iria um dia mudar o mundo.
Apesar de melting pot se poder aplicar a muitos países no mundo, tal
como o Brasil, a França ou o Bangladesh, é um termo normalmente associado
aos Estados Unidos devido à imensidão de movimentos migratórios e de
diáspora desde o séc. XIX e por estar intimamente ligado ao processo de
americanização.
A teoria do melting pot, conquanto liberal e multicultural, foi rapidamente
criticada por ser utópica e racista, já que privilegia a herança ocidental. com
especial ênfase na cultura anglo-saxónica, excluindo emigrantes não europeus.
Mais, muitas das suas políticas, embora assumidas no âmbito do melting pot,
tiveram resultados assimilacionistas.

É preciso então, considerando que apenas entre 10 e 15% dos países


são considerados culturalmente homogéneos, apreciar a verdadeira dimensão
da diversidade cultural e étnica por todo o mundo.
O Banco Mundial estima em cerca de 2 a 3 milhões de pessoas que
anualmente migram, procurando essencialmente quatro países: Estados
Unidos, Alemanha, Canadá e Austrália, sendo que, no começo do século XXI,
cerca de 130 milhões de pessoas vivem fora dos países onde nasceram e esse
total vem aumentando em cerca de 2% ao ano. 5

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Na Europa, por exemplo, “o número e a origem dos imigrantes varia
consideravelmente no tempo, dependendo da situação política e económica
em
diferentes áreas do globo. O crescimento foi particularmente acentuado a partir
de meados dos anos 80”. Com efeito, “ em 1998, 13 milhões de cidadãos da
UE (3,5% da população) eram nacionais de países terceiros, o que
corresponde a um aumento de 50% desde 1985. A proporção era muito mais
elevada em alguns Estados-Membros da Europa (9,3% na Áustria e 6,7% na
Alemanha) e muito menos significativa na Espanha e na Itália. A crescente
imigração proveniente de países terceiros concentra-se principalmente nas
regiões economicamente mais avançadas.
A maioria das grandes áreas urbanas estão a tornar-se mais
multiculturais e têm de desenvolver estratégias adequadas para a integração
económica e social dos recém-chegados e respectivas famílias” 6

Nas sociedades de acolhimento que há mais tempo se debatem com


esta questão destacam-se, enquanto principais modelos de gestão, a
assimilação e a segregação.
Na Europa, isso é desde logo visível no vocabulário usado para
designar os migrantes e seus descendentes: “imigrantes” em França, “minorias
étnicas e raciais” na Grã-Bretanha, “minorias étnicas e culturais” na Suécia e
na Holanda, “estrangeiros” ou “trabalhadores convidados” na Alemanha e na
Suiça.

Segundo Inglis, os objectivos do modelo assimilacionista são fazer com


que as minorias se integrem totalmente na sociedade de acolhimento, fazendo
desaparecer as suas especificidades, abandonando os traços distintivos na
língua, cultura ou hábitos sociais”7

3 in “No limiar do Século XXI – Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 1999/2000”, Banco
Mundial; Janeiro 2000, pag. 40.

6
in Relatório “ A situação social na União Europeia – 2002”, cap.III O desafio da mobilidade e das
migrações; Comissão Europeia e Eurostat

7
Inglis, C. ; “Multiculturalism: New policy responses to diversity”, MOST – Management of Social
Transformations, UNESCO, 1995

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Este modelo levaria ao fim das razoes para crises étnico-sociais e
responsabiliza o individuo, emigrante ou membro de uma minoria de se integrar
na sociedade de acolhimento. Segundo alguns autores, este seria um processo
gradual, inevitável e pacífico, que encara o direito à igualdade como
homogeneidade e uniformidade e fundamental para uma integração com êxito.
Por outro lado, aparece o modelo a que podemos chamar
segregacionista ou diferencialista, em que o contacto com as minorias étnicas é
diminuído ao mínimo de forma a evitar conflitos.

Ambos os modelos apresentam graves deficiências. No primeiro, a


liberdade é seriamente posta em causa e desafia os princípios básicos da
democracia e do direito de expressão enquanto indivíduo e membro de um
grupo. No segundo modelo, enquanto que a consequência menor seria a falta
de comunicação e de integração das minorias, levados a casos extremos pode
levar a apartheids, instituições paralelas para minorias e até mesmo limpezas
étnicas.

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O Multiculturalismo como modelo de gestão

Como alternativa a estes dois modelos de gestão, tem sido discutida a


alternativa do multiculturalismo. O multiculturalismo aceita e legitima as
particularidades culturais e sociais das minorias defendendo a plena integração
dos indivíduos e grupos sem a perda da sua especificidade, cabendo ao
Estado o papel regulador e incentivador na construção deste modelo.
Opondo-se ao etnocentrismo, o multiculturalismo pretende resistir à
homogeneidade cultural e defende a oportunidade de expressar e manter
aspectos distintivos da cultura minoritária, sem prejuízo na participação politica,
ou em aspectos sociais e económicos. A diversidade cultural é vista como
factor de enriquecimento, em que o hibridismo e a maleabilidade são
elementos positivos de inovação.

Sendo motivo de debate, são vários os autores que se debruçam sobre


esta temática. O autor de “Multiculturalismo, Diferença e Democracia”, Charles
Taylor, apresenta a sua “teoria do reconhecimento”8, segundo a qual a luta
constante das minorias pelo reconhecimento condiciona a sua identidade. No
seu entender, os indivíduos são únicos e não podem ser categorizados. O
respeito pela diferença, as metas em comum e a salvaguarda das liberdades
fundamentais são os pilares da sua perspectiva de um modelo multicultural,
ainda que implique sacrificar a isenção do Estado, que tem como dever
incentivar e proteger as diferenças.

8
Taylor, C. “ Multiculturalismo. Examinando a política de reconhecimento”; Ed. Instituto Piaget, 1998

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É de referir que o liberalismo de Taylor é amplamente influenciado pela
experiência do seu país natal, o Canadá em que o fenómeno da multiplicidade
de culturas parte da coexistência de três grupos nacionais distintos, ingleses,
franceses e aborígenes. Ao contrario, o caso americano apresenta uma
panóplia de minorias nacionais resultantes dos processos de conquista e
descolonização, tais como os índios americanos, os porto riquenhos,
descendentes mexicanos, além dos grupos de imigrantes provenientes, entre
outros países, de Inglaterra, da Irlanda e da Itália que constituem comunidades
extremamente fortes no seio do Estado Americano.

Já Giovanni Sartori contraria a “teoria do reconhecimento” de Taylor com


a ideia do pluralismo em que se impõe um tratamento igualitário entre as
culturas enquanto base de uma politica liberal. Sartori acusa a politica de
reconhecimento de não se limitar a “reconhecer: na realidade, fabrica e
multiplica as diferenças , metendo-as na cabeça” e acrescenta que “a politica
do reconhecimento não só transforma em reais identidades potenciais, mas
dedica-se também a isola-las num gueto e a encerra-las em si mesmas”. 9

A perspectiva de multiculturalismo de Inglis assenta em três abordagens


distintas e a ter em conta: a demográfico-descritiva, baseado na existência de
vários segmentos étnicos distintos; a programático-politica, baseada em
programas e iniciativas politicas destinadas a gerir a diversidade étnica; e a
ideologico-normativa, um modelo de intervenção politica em que defende a
existência de uma diversidade étnica e assegura que os indivíduos possam
manter a sua cultura, ao mesmo tempo que lhes assegura total direito de
acesso e participação social e aderência a um conjunto de valores partilhados
por toda a sociedade.
Na vertente ideologico-normativa, a consciência colectiva tem vindo a
ser expressa de uma forma cada vez mais clara, em documentos e iniciativas
como a Declaração dos Direitos das Minorias Nacionais (1991), o Ano

9
Giovanni SARTORI, La sociedad multiétnica. Pluralismo, multiculturalismo y extranjeros, trad. de
Miguel Ángel Ruiz de Azúa, Buenos Aires, Taurus, 2001.

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Internacional da Tolerância (1995) ou a Declaração Universal para a
Diversidade Cultural (2001),

A vertente ideológica deve ser acompanhada de perto por soluções


politico-pragmaticas de forma a alcançar o objectivo do multiculturalismo, que
deverão incluir politicas sobre a língua, a nacionalidade, a educação, o
trabalho, entre outros.

As dificuldades do multiculturalismo

Contudo, esta filosofia de multiculturalismo apresenta alguns pontos


fracos e levanta problemas de fundo, que a prazo colocam particulares
dificuldades aos países na gestão da diversidade étnica. Vejamos:

A politica afirmativa10, criada em 1965 por Lyndon Johnson, tem como


objectivo eliminar a descriminação baseada na cor, raça, credo, ou sexo
através de medidas que favorecem as minorias em detrimento da maioria, em
situações em que estejam ambos em pé de igualdade. Mas não será esta uma
forma de descriminação? De uma forma ou de outra, a decisão de escolher um
indivíduo para um determinado cargo, por exemplo, é sempre baseado na sua
raça ou sexo. Mais, salientando as diferenças entre as minorias e evidenciando
a sua necessidade de protecção, não estará o estado a agir de forma contra
producente tendo em conta o objectivo igualitário e multicultural?

Os momentos de crise são particularmente delicados para os países


que, de uma forma ou outra, se empenham no desenvolvimento de uma politica
multicultural. Os fundos destinados a estas politicas de integração reduzem os
meios das politicas sociais, o aumento do desemprego torna o emigrante uma
ameaça na disputa por postos de trabalho escassos tornam o terreno fértil para
a ascensão da xenofobia, verifica-se uma regressão na adesão ao apoio ao
10
Sykes, M., The origins of Affirmative Action, National Now Times, August 1995

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multiculturalismo e novas tendências de encerramento e incentivo ao regresso
dos emigrantes. Tomando como exemplo a Suécia verificamos que, não sendo
um país de imigrantes, recebeu um considerável numero de refugiados
políticos a partir do final da 2ª Guerra Mundial. Em 1975, trocou a sua politica
assimilacionista pelo multiculturalismo. Contudo, em tempos de crise, no
relatório de Imigração de 200211, praticamente desapareceram todas as
referências ao multiculturalismo. Mais recentemente, acompanhamos o
regresso de centenas de emigrantes portugueses do Canadá.

Nesta conjuntura desfavorável per se, acresce ainda a perspectiva mais


conservadora do multiculturalismo que acusa esta politica de ser racista e
segregacionista na medida em que exalta as diferenças entre as várias
comunidades dentro da comunidade, colocando em risco a civilização ocidental
tal como a conhecemos.

O que então tem falhado no modelo multicultural? A questão não é nova


na Europa e tem levado a confrontos políticos e a uma sensibilidade crescente
da opinião pública e dos eleitores a discursos xenófobos e racistas.
O que leva 80% dos muçulmanos britânicos a declararem-se em
primeiro lugar muçulmanos e depois britânicos? O que levará a que jovens
muçulmanos, nascidos, criados e educados no Reino Unido a fazerem-se
explodir no metro de Londres tentando matar o maior número possível de
cidadãos do seu pais? Ou o que estará na origem do sentimento de exclusão
dos jovens franceses ao ponto de incendiarem os arredores de Paris, Marselha
ou Bordéus?
Na América fatalista, fazem-se previsões catastróficas afirmando que, no
final do século, a Europa será apenas a parte ocidental da Eurábia.

O debate continua aceso na Europa e sem dúvida marcado por


discursos de extrema-direita, os quais parecem encontrar cada vez mais
resposta. O caso recente mais assustador e ilustrativo foi o da Holanda. Tido

11
informação disponível em http://www.sweden.se/templates/Publication____4835.asp

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como um das sociedades mais abertas e tolerantes da Europa viu em 200212 a
lista de Pim Fortuyn – portadora de um discurso profundamente xenófobo e
racistas - ascender a 2º partido mais votado. Atacando violentamente a entrada
de emigrantes muçulmanos na Holanda teve o apoio de uma parte significativa
do eleitorado. Apesar do sucesso ter sido de curta duração o tema ficou e os
partidos tradicionais recuperaram, em grande parte porque abandonaram um
discurso multiculturalista e defenderam restrições à imigração.
Mas o que está aqui verdadeiramente em causa não é a cultura de
tolerância, mas sim se os muçulmanos seriam ou não capazes de se adaptar à
cultura ocidental. Será admissível, em nome da diferença, que as mulheres
sejam tão mal tratadas na Europa como no Norte de Africa? Será possível que
a lei islâmica se possa sobrepor ao código civil? Na Holanda, em nome da
diferença cultural, não se ensina nas escolas a História da Holanda, por
exemplo, o que é entendido por alguns como sendo falta de boa vontade para
entender e integrar a sociedade de acolhimento.

Será que a cultura ocidental está realmente em risco porque se recebem


demasiadas pessoas que se recusam a participar da cultura do país de
acolhimento? Até que ponto o direito à diferença se sobrepõe aos Direitos do
Homem?

Estas preocupações estão na base de linhas de pensamento anti-


-multiculturalistas, em que este choque de civilizações está em evidência. O já
anteriormente citado Sartori defende, por exemplo, que se distinga claramente
entre os emigrantes passíveis de integração na sociedade de acolhimento e
aqueles que devido às suas diferenças religiosas ou étnicas estão para lá de
qualquer integração. Nota-se no seu discurso uma profunda reserva à
tolerância em relação àqueles que encaram a sociedade de acolhimento, não
como uma sociedade em que se possam sentir integrados mas sim, como um
alvo a abater.

12
Relatório Anual “Diversidade e Igualdade para a Europa” (2001) do Observatório Europeu dos
Fenómenos Racistas e Xenófobos, Novembro 2002, pag. 25

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O caso português

Portugal tem se mantido um pouco alheado destas questões não se


verificando grandes debates sobre a diversidade étnica e o multiculturalismo,
salvo a nível académico em que se realizam alguns trabalhos sobre este tema.
Enquanto realidade multi étnica, Portugal tem sofrido nas últimas
décadas alterações importantes e dignas de referência. Passou de um país de
emigração para um país de imigração, especialmente após a descolonização ,
em 1975. Para além do regresso de quase meio milhão de portugueses que
viviam nas antigas Colónias ( os retornados), Portugal foi escolhido por muitos
africanos, que fugindo às guerras ou procurando melhores condições de vida,
se instalaram no nosso país. Nesta fase (1975-1980), a população estrangeira
cresceu à taxa média anual de 12,7%13. Fixando-se, sobretudo, na periferia das
grandes cidades em condições precárias e baixas qualificações, foram
arrastados para empregos indiferenciados e poucos regressaram aos seus
países de origem. Os seus descendentes de 2ª e 3ª geração, constituem um
dos grandes desafios de uma politica de gestão da diversidade étnico-cultural
no nosso país, já que não se sentem integrados no país de acolhimento nem
tampouco se identificam com o país de origem. A aquisição da nacionalidade
portuguesa rege se por princípios muito rígidos, deixando de fora muitos destes
jovens.
Nas décadas de 80 e 90, Portugal continuou a receber imigrantes,
chegando a 400.000 imigrantes legais em 2002, embora as suas origens se
tenham diversificado. Ao ciclo africano seguiu-se um ciclo brasileiro que não
trouxe grandes dificuldades em termos de adaptação ou integração.
Finalmente, a partir de 1995, verificou-se um aumento significativo de
imigrantes de Leste que coloca novas questões já que, não têm qualquer tipo
de ligação histórico-cultural, não partilham da mesma língua e têm, na sua
maioria, um nível de educação bastante superior.

13
Baganha, M. “ Imigração e Política, O caso português” ; Fundação Luso-Americana, 2001, pag. 15

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No espaço de 30 anos, Portugal viu crescer a sua diversidade étnico-
cultural que obrigou o país a um esforço de adaptação e gestão desta nova
realidade. Salientando-se na historia recente, em 1991, o Secretariado 14
Coordenador dos Programas de Educação Multicultural que visa “coordenar,
incentivar e promover, no âmbito do sistema educativo, os programas e as
acções que visem a educação para os valores da tolerância, do diálogo e da
solidariedade entre diferentes povos, etnias e culturas”
Foram também criados o Alto-comissário para a Imigração e Minorias
Étnicas, o Conselho Consultivo para os Assuntos da Imigração e a Comissão
para a Igualdade e Contra a Discriminação.
Importa salientar também o acesso destas minorias aos apoios sociais,
quer na forma de Planos Especiais de Realojamento quer no Rendimento
Mínimo Garantido ou ainda os programas que visam o ensino do Português e a
introdução à cidadania.

14
Despacho Normativo nº 63/91 , de 13 de Março 1991

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Conclusão

Essencialmente, é de concluir que a gestão da diversidade étnico-


cultural não tem definida ainda a melhor solução que defenda por um lado, o
direito das minorias étnicas à diferença e à dignidade enquanto indivíduo e
grupo no seio de uma sociedade de acolhimento, por outro, a coesão social em
torno de um código de valores comum que constitui uma sociedade.
Ainda com um longo caminho a percorrer, o multiculturalimo parece ser a
melhor aposta para a gestão da diversidade étnica, se encarado como um
projecto em permanente construção e mutação com direitos e obrigações e
sem preconceitos. Será encorajador para as minorias a participação social que
não implique abdicar das suas origens e importante para a sociedade de
acolhimento sublinhar a tolerância e as vantagens por demais evidentes numa
sociedade multicultural.
É contudo necessário ter em conta que o multiculturalismo poderá ser
conseguido não apenas com uma politica multiculturalista, mas sim com um
conjunto crescente de politicas que visem a igualdade, o direito a diferença, a
luta contra a discriminação que possam sustentar as sociedades multiculturais,
usando todos os trunfos ao nosso dispôr, tal como parecia pensar Bill Clinton,
ex-Presidente dos Estados Unidos, no seu discurso sobre valores
compartilhados em 1998, onde afirma que “a cada dia, o nosso mundo
distancia-se mais da nossa noção do familiar, e precisamos nos adaptar à sua
natureza que está sempre a mudar. Nessa época plena de desafios, contamos
com os nossos artistas e intelectuais para continuar a divulgar as nossas
decisões e as nossas acções. Músicos, actores, filósofos, dramaturgos,
pintores, escritores, escultores, dançarinos, e historiadores compartilham
connosco o seu talento e formação. Através das suas perspectivas exclusivas,
eles fortalecem a nossa compreensão, inspiram as nossas melhores
realizações, e dão vazão aos nossos anseios mais profundos”.

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