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Prólogo:
Ao nos depararmos com o título acima, normalmente, fazemos uma
associação mental com imagens de castelos, cavaleiros com armaduras,
donzelas indefesas e camponeses pobres trabalhando a terra placidamente.
São imagens idealizadas que pouco tem a ver com a História. Cabe a
pergunta: Por que precisamos estudar isso?
Acontece que estamos imersos num sistema conhecido como civilização
cristã ocidental e para termos noção do que isto significa precisamos
conhecer o processo histórico que conduziu a este modelo. Afinal, vivemos em
uma cidade, e num país, com valores ditados pela cultura cristã e inseridos no
sistema capitalista internacional. Aliás, uma das tarefas fundamentais em
História é, em última análise, discutir a “História do Capitalismo” , como ele
se estruturou e dominou o mundo, arrastando sociedades que se beneficiaram
ou foram “vítimas” deste processo.
Precisamos, por outro lado, ter consciência das limitações de nossa
abordagem. É uma construção limitada, ainda centrada numa visão
eurocêntrica que menospreza o processo histórico de outras civilizações,
porém pretendemos relativizar constantemente esta tendência.
Outro ponto importante a ressaltar é o papel da cultura cristã na formação do
“nosso jeito de ser”. É fundamental perceber que “somos o que somos”
graças, também, a trajetória do cristianismo. Todos temos algum tipo de
construção familiar sobre a importância da doutrina cristã. Nos nossos
estudos, procuramos dar um tratamento histórico, ressaltando seu papel na
formação da civilização ocidental.
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blasfemar contra a religião judaica e ofender as leis romanas, foi preso e
condenado a morte. A maioria judaica não o viu como o salvador. Eles
esperam pela vinda do messias até hoje, século 21 da era cristã.
O cristianismo só veio a se expandir quando o judaísmo, que lhe deu
origem, sofreu perseguições maiores do Estado romano. Daí, o culto do
nazareno, se espalhou por toda a região da Ásia Menor e depois pelo
Mediterrâneo. Durante o século III, em razão das sucessivas crises do
Império Romano, diversas religiões se expandiram. A que mais se beneficiou
deste período foi o cristianismo.
Analisando sob o ponto de vista doutrinário, percebemos as
influências de outras religiões no cristianismo. O monoteísmo e muitos
ensinamentos do Velho Testamento dos judeus foram aproveitados pelos
cristãos. Do mazdeísmo (zoroastrismo) persa extraíram a luta entre o Bem e
o Mal, ou seja, entre Deus e o Diabo. Cristo era representado com uma
auréola de luz em volta da cabeça, como o deus persa Mitra, que
representava o Sol. A sagrada família já existia entre os egípcios, com Osíris,
Ísis e seu filho Hórus. A crença na vida após a morte e na ressurreição
estava presente em várias religiões, como na egípcia, por exemplo, em
que Osíris ressuscitou após ser assassinado pelo malvado Set.
É certo que os seguidores de Cristo sofreram perseguições do Estado
romano devido a sua negativa de aceitar outros deuses do panteísmo
romano, em particular a atribuição de divindade dada aos imperadores. Os
cristãos eram vistos com desconfiança pelos cidadãos romanos comuns,
espalhavam-se histórias de rituais secretos onde ocorriam sacrifícios de
crianças. Por outro lado, a elite intelectual, ciosa da manutenção dos valores
romanos que tinham levado a cidade a conquistar o entorno do
Mediterrâneo, via nas “religiões de mistério”, como o cristianismo, uma
perigosa fonte de corrupção dos sagrados valores, já que tais religiões
pregavam a “possibilidade de milagres”, vistos como anti-naturais e
contrários a racionalidade. Daí para as perseguições abertas foi um passo.
Nero, Diocleciano foram imperadores que muito perseguiram os seguidores
do cristianismo. Após a morte de Imperador Caracala, os cristãos gozaram
de relativa liberdade.
A nova religião ganhou, ao longo dos séculos, um caráter universal.
Seu igualitarismo e a promessa de salvação após a morte deram, de início,
um novo sentido à vida das massas populares urbanas, para logo depois se
estender aos campos – onde teve grande dificuldade de penetração entre os
pagani, camponês em latim – e às classes de proprietários.
Nascido como um movimento de caráter popular e de oposição à
opressão da ordem escravista, o Cristianismo, à medida que se difundia,
alcançando as camadas ricas da sociedade, ganhou uma organização
hierárquica, modelada no sistema administrativo imperial, e aceitou a ordem
social escravista, exceto os pontos que conflitavam com suas práticas
religiosas, como a adoração à figura do Imperador. No século III, a
sucessão de Diocleciano desencadeou uma guerra entre os militares, e o
general Constantino saiu vitorioso, apoiado pelos cristãos. Em 313, pelo
Edito de Milão, ele concedeu liberdade de culto aos cristãos, reconheceu
oficialmente a religião e colocou fim às perseguições. A situação se inverte,
de perseguidos os cristãos passam a perseguidores, combatendo os
chamados pagãos. O cristianismo funcionaria, então, como sustentáculo
ideológico do Estado romano que buscava reorganizar-se.
A política de proteção aos cristãos desenvolvida por Constantino
beneficiou-os com isenção de impostos; sacerdotes, bispos e padres
receberam funções administrativas e judiciárias. Em 325 ele comandou
uma reunião de bispos cristãos (Concílio) com a intenção de aproximar
Estado e religião e de preservar a unidade entre os religiosos.
Em 380 o imperador Teodósio, aconselhado pelo bispo de Milão,
tornaria o cristianismo religião oficial do Estado romano. Ele aboliu
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definitivamente os cultos pagãos, em 392, e o cristianismo tornou-se
religião obrigatória. Assim ia surgindo a Igreja Católica Apostólica Romana.
A nova diretriz da política romana no tocante ao cristianismo convinha
aos interesses do Estado: a nova religião poderia funcionar como um freio ao
movimento popular e dos escravos e ampliar a base de apoio social do
Império. O empobrecimento das camadas exploradas e oprimidas da
sociedade e o declínio do sistema econômico escravista foram em parte
responsáveis, respectivamente, pela conversão tanto das classes populares,
quanto de setores das camadas dominantes à doutrina cristã: as esperanças
de uma vida melhor ficavam transferidas para um reino após a morte.
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“As terras não cultivadas eram coletivas (...) Os terrenos para
o plantio eram sorteados anualmente entre os clãs de modo a
assegurar a igualdade. A partir do século II, porém, a propriedade
agrícola começou a sofrer modificações: o chefe do grupo familiar
não podia aliená-la sem consentimento dos componentes desse
grupo.(...)” (História das Civilizações. Vol. I, Abril Cultural,
pág.277). O comércio era praticamente inexistente. A sociedade
organizava-se em clãs, cujos laços eram estabelecidos por
parentesco ou por relação de lealdade e proteção. O maior contato
dos germânicos ocidentais com os romanos, a partir do século I,
acelerou o processo de transformações que já estava ocorrendo
nessas comunidades em razão do aumento demográfico e das
guerras para a conquista de novas áreas.
Inicialmente as terras concentraram-se nas mãos dos chefes,
estabelecendo a propriedade particular. Os clãs se desestruturam. O
poder gerado pela concentração de terras originou uma aristocracia
rural voltada para a guerra, acentuando as desigualdades sociais. O
comércio de fronteira se aqueceu, envolvendo principalmente a troca
de prisioneiros de guerra, que se tornariam escravos dos romanos.
Além dos escravos, várias tribos germânicas se integraram ao
Império Romano por meio do exército. Os bárbaros tornavam-se
soldados em troca de terras, e muitos acabaram ocupando altos
postos.
Nos séculos 4 e 5, entretanto, povos inteiros, envolvendo
milhares de indivíduos, entraram em massa no Império Romano,
levando pânico e destruição aonde chegavam. A instalação dessas
populações germânicas em territórios romanos acabou precipitando
a desintegração do Império Romano dito do Ocidente. A antiga
unidade imperial fragmentou-se em reinos independentes,
dominados por aristocracias de origem romano-germânicas.
Aquino, Rubim Santos Leão de. História das sociedades: das Comunidades primitivas
às sociedades medievais. RJ/ Ed. Ao Livro Técnico. 1980.
Moraes, José Geraldo V. Caminho das Civilizações: Da Pré-História aos dias atuais.
Atual Editora.SP.1999.