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Com quantos

paus se faz um
stauros?
Gustavo
Este texto, adaptado do trabalho da forista Leolaia, tem como objetivo discutir os
pontos apresentados pelos Testemunhas de Jeová para defenderem sua teoria da estaca
de tortura, e de sua condenação da cruz.

Durante toda a história cristã, a cruz, que em grego se chama stauros, é tida como o instrumento de
execução de nosso Senhor Jesus Cristo. Instrumento através do qual, Ele consumou Seu plano. Mesmo
assim, muitos evitaram representá-la, pois temiam acabar idolatrando a representação, se esquecendo de
prestar a devida adoração a Deus.

Esta preocupação mostra o zelo destas pessoas, e é certamente louvável da parte delas. No entanto,
muitas vezes o zelo conduz a excessos. Principalmente quando o zelo provoca um asceticismo exagerado.
Um exemplo bem conhecido disto, nas próprias Escrituras, são os fariseus. Não somente o Senhor
disputou com eles por causa de seu zelo excessivo, mas também os apóstolos. Quem não se lembra da
discussão sobre o lavar das mãos? Em Marcos 7:2, vemos claramente que a preocupação dos fariseus era
quanto à impureza, demonstrando assim suas inclinações ascéticas. Comentando este versículo, John Gill
traz uma citação do Zoharim, que diz:

Aquele que despreza o lavar das mãos, será erradicado do mundo, pois nele está o segredo do
decálogo.

"Zoharin Numb fol. 100. 3."

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Assim coloca-se o lavar das mãos como uma questão de salvação, o que explica o fato daqueles
fariseus repreenderem os discípulos de Cristo. Nosso Senhor então responde que é por tradições humanas
como aquelas, que as leis de Deus são deixadas de lado. Respondendo mais ainda, Cristo nos diz:

E, chamando outra vez a multidão, disse-lhes: Ouvi-me vós, todos, e compreendei. Nada há, fora do
homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isso é que contamina o homem. Se
alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.

"Marcos 7:14-16"

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O que mostra que quem faz o homem impuro é o próprio homem, e não o que ele come ou toca. Tiago,
mais tarde, concordaria com esta origem do pecado em sua epístola (Tg 1:14). Se o pecado se origina no
próprio homem, então praticar asceticismo não o livra de ser impuro. Mesmo assim, os apóstolos tiveram
que enfrentar este asceticismo ainda várias vezes, como deixa claro esta passagem escrita por Paulo:

Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se
em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual
todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois,
estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças,
como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas
perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma
aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor
algum senão para a satisfação da carne.

"Carta aos Colossensses 2:18-23"

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Foto do livro Criação, de 1927.

Este zelo ascético não se limita àquela época. Hoje também enfrentamos situações similares. E no que
diz respeito à cruz, não só evitam representá-la, como faziam antigamente. Recentemente, o grupo
conhecido por Testemunhas de Jeová chegou até a negar que a cruz tenha sido o instrumento de execução
de nosso Senhor. Foi seu segundo líder, J. F. Rutherford, quem introduziu esta idéia. Até 1936, todas as
suas publicações traduziam stauros por cruz, e o livro intitulado “Criação”, de 1927, possui em sua versão
portuguesa uma figura de Cristo e dos ladrões sendo pregados em cruzes, na página 225. Foi em 1936, em
seu livro Riquezas, que ele começa a mudar sua posição sobre o assunto. Nele foi escrito:

A morte de Jesus, o homem perfeito, fosse como fosse, satisfaria as exigências da lei, visto que a pena
imposta sobre Adão foi a morte. Por que, pois, foi Jesus crucificado? Jesus foi crucificado ou afligido,
porém não exatamente numa cruz lavrada, como está representado nas imagens que os homens fabricam;
a crucificação de Jesus consistiu em ser o seu corpo cravado ou pregado no madeiro.

"Riquezas"

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Na década de trinta, Rutherford começou a elaborar algumas das doutrinas que distinguiram os
Testemunhas de Jeová de outros grupos cristãos. Foi nesta década que ele criou o nome “Testemunhas de
Jeová”, por exemplo. Acredita-se que ele tenha feito isto para se distinguir principalmente de outros
grupos de Estudantes da Bíblia, que eram mais fiéis a Charles Taze Russel. Este tinha como símbolo na
capa de suas revistas o símbolo da cruz. Então a partir de 1936, ele passa a criticar o uso da cruz, bem como
sua historicidade. Em 1937, no livro “Inimigos”, ele escreve:

Alguém entretanto objeta : `Que dizer-se da estátua que mostra a Jesus sendo crucificado na cruz?
Não deveríamos ter aquela estátua em nosso lugar de devoção? Jesus não foi crucificado numa cruz. A lei
de Deus determinou que o amaldiçoado traidor fosse pendurado num madeiro. Os sacerdotes católicos
conhecem esta verdade, porque sua Bíblia assim estabelece. (Veja-se Gálatas 3:13, Versão Soares)
Deuteronômio 21 : 22, 23) .

"Inimigos"
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Já em 1968, no livro “A Verdade que conduz à vida eterna”, eles exortam aos leitores que abandonem
o uso da cruz:

Não é normal prezar e adorar o instrumento usado para assassinar alguém que amamos. Quem
pensaria em beijar o revólver usado para matar um ente querido ou em levá-lo pendurado do pescoço?
Sendo assim, e provando-se que a cruz é um símbolo religioso pagão, os que têm usado tal objeto ou que
têm um crucifixo no seu lar, se confrontam com uma decisão importante. Continuarão a usá-los?
Continuarão até mesmo a guardá-los? O amor à verdade e o desejo de agradar a Deus em tudo ajudará a
fazer a decisão correta. - Deuteronômio 7:26.

"A verdade que conduz à vida eterna."

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Atualmente, eles possuem um livro de perguntas e respostas, conhecido por “Raciocínios à Base das
Escrituras”. Este livro traz um tópico sobre a cruz, onde se defende que a forma de stauros era uma estaca
vertical. A cruz como conhecemos é uma herança pagã. Certo ponto do tópico, é feito a pergunta: “Faz
realmente diferença se a pessoa preza a cruz, conquanto não a adore?”. A resposta, além de frisar que as
origens da cruz são pagãs, termina dizendo: “Como deve, então, Jeová considerar o uso da cruz, que,
conforme vimos, era antigamente usada como símbolo na adoração fálica?”.

Acredito que com estas palavras, a acusação de paganismo está feita a todo o cristianismo, que sempre
acreditou que a cruz é o instrumento de execução de Cristo. Como concluímos ao ler a citação do livro “A
Verdade que conduz à vida eterna”, estes não agradam a Deus nem amam a verdade. E se estas pessoas
desagradam a Deus desta forma, devem estar excluídas da Salvação. A velha citação do Zoharin toma outra
forma.

Imagem de um site de um grupo que se separou de Rutherford. Reparem o símbolo da cruz, que foi
usado por Russel.

Por isto, acredito ser importante fornecer uma resposta a esta acusação. Muitas pessoas não
costumam dar importância a este assunto, pois a importância maior está no evento, não nos meios. No
entanto, penso que assim como se combateu o asceticismo desnecessário no passado, que faz objetos
erroneamente originar o pecado, devemos fazer o mesmo hoje.

A questão aqui, não é se cristãos adoram ou não a cruz. Se eles adoram, estão mesmo errados. A
questão é se o stauros usado na Bíblia é ou não uma cruz. E diante de tantas evidências, só podemos
concluir que o stauros era realmente uma cruz, constituída de dois postes. Portanto, vejamos o
desenvolvimento da prática conhecida hoje como crucificação, e todas as evidências relacionadas.
Histórico da crucificação

Muitos historiadores atribuem a criação da crux compacta, constituída de um poste horizontal e um


vertical onde se pregavam os braços, aos romanos, que combinaram práticas locais com a de povos
vizinhos. Esta prática no entanto teve vários precedentes, como o empalamento e o penduramento pós-
morte. O primeiro foi praticado por assírios, cujo exemplo mais antigo é o de Hamurabi (1700AC). O
segundo foi praticado por israelitas(Dt 21:23).

Os persas, no entanto, pregavam seus prisioneiros em árvores e postes. Segundo o The Theological
Dictionary of the New Testament, “os persas inventaram ou foram os primeiros a usar este modo de
execução. Eles provavelmente faziam assim para não profanar a terra, que era consagrada a Ormuzd, pelo
corpo da pessoa executada” (p. 16). Apesar disto, Hengel em sua obra Crucifixion, chama a atenção para o
fato que outros povos também possuíam tal prática. O que distinguia a prática persa, do penduramento
pós-morte é que os prisioneiros eram fixados vivos. Acredita-se que as menções à forca em Esdras 6:11 e
Ester 7:9,10 se refiram à crucificação persa, apesar dos textos não serem específicos. As guerras greco-
persas introduziram a prática aos gregos, e Heródoto (Historiarum, 1.128.2, 3.125.3, 3.132.2, 3.159.1,
4.43.2-7, 6.30.1, 7.194) faz inúmeras referências a seu uso pelos persas (ver também Thucydides, Historia
1.110.3, sobre seu uso no Egito neste tempo). Por exemplo, Heródoto menciona um vice-rei chamado
Sandoces, filho de Thamasius, que foi levado e crucificado (anestauróse) por Dário, mas Dário então
mudou de idéia e libertou Sandoces. A forma do instrumento usado pelos persas também variava muito.
Heródoto diz que era composto de “tábuas” (9.120), enquanto Plutarco mostra que até 4 estacas eram
usadas para uma vítima (Artaxerxes, 17.5).

Pelo contato com os persas, os gregos incorporaram a crucificação como estratégia militar. Foi usado
principalmente por Alexandre o Grande em sua guerra contra os persas (336-323 AC). Depois do cerco de
Tiro (332 AC), “dois mil... foram pendurados em estacas por uma longa faixa da praia” (Curtius Rufus,
Historia Alexandri 4.4.17; veja também Plutarco, Alexandre 7.2 sobre a crucificação do médico persa de
Alexandre). Alguns historiadores também supõem que ele crucificou Callisthenes, seu historiador e
biógrafo oficial, depois que Callisthenes se opôs à adoção por Alexandre da cerimônia real Persa de
adoração. Depois da morte de Alexandre, os gregos continuaram a usar a crucificação contra seus inimigos
(ver Diodorus Siculus, Bibliotheca Historica 16.61.2), apesar de não incorporar a prática em seu sistema
legal de punição. Os gregos repeliam tal mostra brutal (ver Heródoto, Historiarum 7.138, 9.78). Como
resultado da crucificação em massa de Tiro, os fenícios e cartaginenses adotaram a prática para uso em
guerra (cf. Valerius Maximus, Memorabilium 2.7; Silius Italicus, Punica 2.344). Durante as guerras
púnicas (264-146 A.C.), os romanos encontraram a versão fenícia da crucificação e se apropriaram dela
como meio de punição para escravos, convertendo-o em um meio brutal de tortura. Para isto, eles
adicionaram uma trave vertical chamada patibulum, e um sedile, onde a vítima descansaria seu peso.
Antes da invenção da crucificação pelos romanos, o patibulum era usado para humilhar condenados que
marchavam para sua execução. Dionysius de Halicarnassus (primeiro século A.C.) descreve esta prática:

Um cidadão romano de posição não obscura, mandando um de seus escravos ser posto para morrer, o
entregou a seus companheiros de escravidão para levá-lo, e para que todos pudessem ver sua punição, os
direcionou a puxá-lo pelo Fórum e qualquer outra parte mais freqüentada da cidade enquanto o
chicoteavam, e que ele deveria ir à frente da procissão à qual os romanos estavam conduzindo na época em
honra ao deus. Os homens foram ordenados a levar o escravo a sua punição, tendo seus braços abertos e
pregados a um pedaço de madeira (tas kheiras apoteinantes amphoteras kai xuló prosdésantes) o qual
estendia-se por suas costas e ombros até seus punhos, seguindo-o, cortando seu corpo nu com chicotes.

"Antiguidades Romanas, 7.69.1-2"

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Esta punição do patibulum, onde o escravo era chicoteado e levado pela cidade, foi praticado nos
tempos pré-republicanos, e foi o ancestral direto do ritual da crucificação onde a vítima levava a própria
cruz. Nem sempre precedia a execução, era mais usada para humilhar. Outras descrições da prática podem
ser encontradas em Lívio e Plutarco, que descrevem seu uso em tempos pré-republicanos e revelam que a
madeira carregada pela vítima também era chamada de furca, “jugo”.

Nas primeiras horas do dia apontado para os jogos, antes que o espetáculo começasse, um certo chefe
de família dirigiu seu escravo, que carregava um jugo (furca), pelo meio do circo, chicoteando o réu
enquanto entrava.

"Lívio, História Romana 2.36.1"


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Um certo homem entregou um de seus escravos, com ordens de chicoteá-lo pelo fórum, e então
colocá-lo para morrer. Enquanto estavam executando suas ordens e atormentando o pobre infeliz, cuja dor
e sofrimento o faziam se contorcer e se torcer horrivelmente, a procissão sagrada em honra a Júpiter
mudou para aparecer atrás deles... E era uma punição severa para um escravo que cometeu uma falta, se
ele fosse obrigado a tomar um pedaço de madeira (xulon), com o qual eles apoiavam a haste de uma
carruagem, e o carregar pela vizinhança. Pois aquele que era visto experimentar esta punição não teria
mais crédito em sua própria vizinhança familiar. E ele era chamado de furcifer (phourkipher), pois o que
os gregos chamam de coluna ou suporte, é chamado de 'furca' (phourkan) pelos romanos.

"Plutarco, Coriolanus 24.4-5."

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É esta velha prática romana de levar o patibulum que mais tarde, se unindo à crucificação fenícia,
daria forma à crucificação romana. Muitos eram crucificados no local onde ocorreu o crime, ou em lugares
que havia muitas pessoas, como forma de advertir as pessoas. Esta situação pode ser bem exemplificada
por Quintilian (35-95 D.C.), que escreveu “sempre que crucificamos o culpado, as ruas mais movimentadas
são escolhidas, onde mais pessoas possam ver e serem movidas por este temor. Por que as penalidades se
relacionam não tanto com a retribuição do que com seu efeito exemplar” (Decl. 274).

Por se relacionar com criminosos e pessoas de classe baixa, a crucificação foi considerada o modo
mais desonroso de morrer. Cidadãos Romanos condenados eram usualmente isentos de crucificação (como
nobres feudais de enforcamento) exceto por crimes maiores contra o estado, como alta traição. Os
Romanos o usaram durante a rebelião de Spartacus, onde crucificaram 6000 pessoas, durante a Guerra
Civil Romana, e a destruição de Jerusalém.

A crucificação, em Roma, era a forma mais humilhante de morrer. As autoridades romanas


desenvolveram várias maneiras para deixar as vítimas por vários dias sendo expostas ao público. Assim, a
forma de punição não era fixada por lei, mas parecia depender da quantidade de pessoas, da criatividade
sádica daqueles que conduziam a crucificação, e o tempo necessário para que este espetáculo tenha o maior
efeito. A forma da cruz também poderia variar. A cruz de Santo Antonio, ou cruz Tau, possuia o poste
horizontal fixado na ponta do poste vertical, assemelhando-se à um T. Uma variação desta era a cruz latina,
onde este poste era fixado um pouco abaixo da ponta. Esta é a cruz mais conhecida. A cruz de Santo André
possuía a forma de um X, ou seja, era formada de dois postes na diagonal. Havia também a crux simplex,
formada apenas do poste vertical.

Dar um enterro às vítimas de crucificação era muito raro, muitas vezes não era permitido, para que a
humilhação continuasse. Assim, ou as vítimas eram jogadas nos montes de lixo das cidades, ou
simplesmente deixadas na cruz, onde serviam de alimento para pássaros e animais. Juvenal, por exemplo,
escreveu que em Roma “o falcão apressa por gado morto e cães e cruzes para trazer algum dos cadáveres
para sua prole” (Sátiras 14.77f). A menção de cães aqui é curiosa, já que Plínio (NH 29.57) escreveu que
cães foram também crucificados por não avisarem os romanos sobre o ataque dos gaulenses no monte
Capitoline.

Descobertas arqueológicas sobre a crucificação

Existem poucas descobertas antropológicas relacionadas com a crucificação. Joe Zias, antigo Diretor
de Arqueologia/Antropologia pela Autoridade de Antiguidades de Israel, diz que existem duas explicações
para isto. A primeira explicação se baseia na forma que os indivíduos eram fixados à cruz. Nem sempre
estes criminosos eram fixados com pregos, e muitos eruditos discutiram sobre esta questão.
Brandenburger(1969) e Jeremias(1966) defendiam a tese de que a crucificação era uma penalidade sem
sangue, onde as pessoas eram amarradas com cordas. Martin Hengel, por outro lado, juntamente com
Hewitt(1932), adotaram a visão oposta, dizendo que pregar as mãos e os pés, cada um com um prego, era a
regra, e amarrando-os, era a exceção. De fato, Flávio Josefo escreveu que “os soldados por raiva e ódio se
divertiam pregando seus prisioneiros com diferentes posturas” (De Bello Judaico 5.11 e 451). Além disto, a
forma variava de acordo com a quantidade de pessoas a serem crucificadas. Na crucificação dos 6000
prisioneiros de guerra por Crassus na Via Appia entre Roma e Capua (Bella Civilia I.120), o mais plausível
é que tenham sido crucificados usando somente um poste vertical, que seria a forma mais rápida e simples.
Assim, tanto este exemplo, como os exemplos em que as vítimas eram amarradas, não haveriam evidências
traumáticas nos corpos. A segunda explicação, seria o uso dos pregos de crucificados como poderoso
amuleto medicinal, sendo removidos assim que os cadáveres eram retirados.

Apesar disto, em 1968, construtores trabalhando em Giv’at ha-Mivtar, um subúrbio de Jerusalém,


acidentalmente descobriu uma tumba judaica datada do primeiro século depois de Cristo. Nesta tumba
havia um ossuário cuja inscrição dizia: “Jehohanan, filho de HGQWL”. Eram os restos de um homem por
volta de 20 anos, que havia sido crucificado. A evidência se baseia no osso do calcanhar, que tinha um
prego de 11.5 cm. Ao que tudo indica, o prego ao entrar na madeira, ficou preso de tal forma aos pés, que
foi impossível tirar os pregos na retirada deste corpo. Foi encontrado também entre a cabeça do prego e o
osso, um pedaço de madeira de oliva, que pode ter sido usado para aumentar a área da cabeça do prego, e
evitar que a vítima solte seus pés.

Joe Zias foi quem reexaminou estes ossos. O seu predecessor, Haas, que publicou um artigo em 1970,
havia dito que os pregos tinham 17 a 18 cm, o que foi desmentido por Joe Zias. Outro exame detalhado
revela que ao contrário do que Haas havia dito, não havia evidências no osso rádio de que um prego havia
estado ali. Por isto, Joe Zias diz que provavelmente Jehohanan foi pregado nos pés, e amarrado pelos
braços. De fato, segundo Flávio Josefo (Guerras Judaicas 5:552-553) as tropas romanas tiveram que viajar
10 milhas para encontrar madeira, o que indica que esta estava escassa naquela região. Assim, Joe Zias
considera que podia se economizar madeira, usando-se o mesmo poste transversal para várias
crucificações.

Uma outra evidência sobre a crucificação foi encontrada no Paedagogium, nas encostas das
montanhas Paladinas em Roma. Em 1856, R. Garrucci examinou as paredes deste edifício (talvez uma
prisão para escravos), e descobriu uma caricatura de Cristo crucificado. De acordo com Jack Finegan “Este
desenho rude mostra um corpo humano com a cabeça de um asno, em uma cruz. À esquerda há uma
pequena figura de um garoto ou jovem em atitude de adoração”. (Light From the Ancient Past, 1959, p.
373).

Figura encontrada no Paedagogium.

Abaixo da figura, há a inscrição “ALEXAMENOS SEBETE THEON”, que pode ser traduzida por
“Alexamenos adora seu deus”, ou o vocativo, “Alexamenos, adore deus”.

Não há dúvidas de que esta figura blasfema ironizava cristãos. O escritor cristão Tertuliano,
escrevendo em sua Apologia, esclarece a figura:

Juntamente como outros, estais na ilusão de que nosso Deus é uma cabeça de asno. Cornélio Tácito
foi o primeiro a divulgar tal noção entre o povo.

"Apologia capítulo 16"


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Mais adiante, Tertuliano completa:

Mas, ultimamente a nova versão de nosso Deus foi dada a conhecer ao mundo nessa grande cidade:
originou-se com um certo homem desprezível que tinha costume de se dedicar a trapacear com feras
selvagens, e que exibiu uma pintura com esta inscrição: O Deus dos Cristãos nasceu de um asno. Ele tem
orelhas de asno, tem casco num pé, segura um livro e usa uma toga. Tanto o nome como a figura nos
provoca risos.

"Apologia capítulo 16"

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O desenho das montanhas Paladinas é datado do reino do imperador Marcus entre 161-180 D.C, mas
alguns o datam mais tarde, no reino de Alexander Severus, 222-235 D.C. Apesar da datação muito
posterior, o desenho ainda mostra como os pagãos viam a crucificação de Cristo, e que a crucificação com
dois postes de madeira era usado nesta época.

Evidências linguísticas

Sobre a descrição da cruz em escritos antigos, temos vários exemplos que mostram qual a forma mais
comum.

Primeiramente, vamos analisar o uso da palavra latina crux, já que é em Roma que a crucificação com
dois postes de madeira, como vimos, se origina. As citações a seguir são de Plautus, Sêneca e Tacitus. Elas
mostram que a crux incluia um patibulum ou furca, e que o patibulum era pregado ao poste horizontal. As
vítimas carregavam o patibulum antes de sua crucificação e as vítimas estendiam seus braços na crux ou
patibulum.

Titus Maccius Plautus foi um dramaturgo romano. Acredita-se que nasceu em Sarsina (uma cidade
em Úmbria) em 254 A.C., devido a uma notícia de Cícero (Brutus, 60), e morrendo em 184 A.C. Seus
escritos são os mais antigos da literatura latina. Suas 21 obras se preservam até os dias atuais, e datam
entre 205 A.C e 184 A.C. Ele escreve “Frateor, manus vobis do. Et post dabis sub furcis. Abi intro--in
crucem. - Eu o admito, eu levanto minhas mãos. E depois vocês as prenderão na furca. Prosseguindo para
a crux.” (Persa, 295) Aqui vemos o poste horizontal chamado de furca, que é relacionado com a palavra
crux. Em outra obra, o escritor diz “Credo ego istoc extemplo tibi esse eundum actutum extra portam,
dispessis manibus, patibulum quom habebis. - Eu suspeito que vocês estejam condenados a morrer do
lado de fora do portão, naquela posição: mãos estendidas e presas no patibulum.” (Miles Gloriosus, 359-
360). Aqui, Plautus usa a palavra patibulum para se referir ao poste horizontal. A palavra é usada também
quando ele escreve “O carnuficium cribum, quod credo fore, ita te forabunt patibulatum per vias
stimulis carnufices, si huc reveniat senex. - Oh, eu aposto que os suspensores te farão parecer uma peneira
humana, da forma que eles te espetarão para ficar cheio de furos enquanto te levam pelas ruas com suas
mãos presas ao patibulum, assim que o velho voltar” (Mostellaria, 55-57). Esta última citação mostra o
costume de se carregar o patibulum pelas ruas da cidade, antes da crucificação. Plautus ainda cita o
patibulum relacionado à crux na seguinte passagem: “Patibulum ferat per urbem, deinde adfigatur
cruci. - Deixe-o levar o patibulum pela cidade, depois o deixe ser pregado à crux.” (Carbonaria, fr. 2).
Ainda sobre a palavra crux, Plautus diz “Ego dabo ei talentum, primus qui in crucem excucurrerit; sed ea
lege, ut offigantur bis pedes, bis brachia. - Eu darei duzentas moedas para o primeiro homem que carregar
minha crux e a levar – na condição que suas mãos e pernas sejam pregadas duplamente”. (Mostellaria,
359-360). Aqui, é a crux que é carregada. Todas estas palavras foram escritas cerca de 200 anos antes da
crucificação de Jesus, e demonstra como os costumes relacionados com a crucificação, que mencionamos
antes, já eram praticados. Demonstra também a intercambialidade das palavras patibulum e crux.

Lucius Annaeus Seneca foi um filósofo estóico romano. Nasceu em Córdova, no ano 4 D.C, e morreu
em Roma, em 65 D.C. Em seus escritos, encontramos uma descrição da crux composta de duas partes: o
suporte (stipitibus) ou poste horizontal, e o patibulum. Ele diz: “Cum refigere se crucibus conentur, in
quas unusquisque vestrum clavos suos ipse adigit, ad supplicium tamen acti stipitibus singulis pendent;
hi, qui in se ipsi animum advertunt, quot cupiditatibus tot crucibus distrahuntur. At maledici et in
alienam contumeliam venusti sunt. Crederem illis hoc vacare, nisi quidam ex patibulo suo spectatores
conspuerent! - Apesar de tentarem se livrar de suas cruzes – aquelas cruzes que cada um de vocês os
pregam por suas próprias mãos – ainda eles, quando trazidos para a punição penduram cada um em um
simples suporte, mas estes outros que trazem a si mesmos sua própria condenação são esticados por
quantas cruzes eles desejarem. Mesmo assim são caluniadores e geniais em amontoar insultos para outros.
Eu talvez ache que eles são livres para fazer isto, alguns deles não cuspem de seu próprio patibulum” (De
Vita Beata, 19.3). Sêneca ainda escreve em outro lugar: “....alium in cruce membra distendere.... - outro
que teve seus braços estendidos na crux” (De Ira, 1.2.2). Aqui, ele descreve que os braços são estendidos na
crux, expressão que ele repete em “....sive extendendae per patibulum manus – ...ou suas mãos serem
estendidas em um patibulum.” (Fragmenta, 124; cf. Lactantius, Divinis Institutionibus, 6.17), mas
aplicando ao patibulum, o que mostra que as duas palavras poderiam se referir à mesma parte do
instrumento. Na citação “Video istic cruces non unius quidem generis sed aliter ab aliis fabricatas:
capite quidam conversos in terram suspendere, alii per obscena stipitem egerunt, alii brachia patibulo
explicuerunt. - Lá eu vejo cruzes, deveras não de uma forma, mas diferentemente planejadas por diferentes
pessoas, alguns penduram suas vítimas com suas cabeças para o chão, alguns empalam suas partes
íntimas, outras estendiam seus braços no patibulum.” (De Consolatione, 20.3), Sêneca nos mostra que a
palavra crux tinha uma ampla gama de significados. O mesmo pode ser visto na passagem “Cogita hoc loco
carcerem et cruces et eculeos et uncum et adactum per medium hominem, qui per os emergeret,
stipitem. - Imagine em sua cabeça a prisão, a crux, a tortura, o gancho e a estaca por onde eles passam
diretamente por um homem até que ele se projeta em sua garganta.” (Epistle, 14.5). Em “Contempissimum
putarem, si vivere vellet usque ad crucem....Est tanti vulnus suum premere et patibulo pendere
districtum.... Invenitur, qui velit adactus ad illud infelix lignum, iam debilis, iam pravus et in foedum
scapularum ac pectoris tuber elisus, cui multae moriendi causae etiam citra crucem fuerant, trahere
animam tot tormenta tracturam? - Eu deveria avaliá-lo como mais desprezível se quisesse viver até a hora
da crucificação. Vale a pena se deprimir pelos próprios ferimentos de uma pessoa, e ser pendurado
empalado em um patibulum? ... Pode algum homem se encontrar desejoso de ser preso à árvore
amaldiçoada, há muito fraco, já deformado, inchado com vários tumores no peito e ombros e puxar o
fôlego de vida em meio a franca agonia? Eu acho que ele teria muitos motivos para morrer antes de subir
na crux.” (Epistle, 101.10-14), temos mais uma relação entre o patibulum e a crux.

Publius (ou Gaius) Cornelius Tacitus foi um senador e historiador romano. Tacitus nasceu em 56 ou
57 D.C. e morreu em 117 D.C. Entre seus escritos, encontramos: “Solacio fuit servus Verginii Capitonis,
quem proditorem Tarracinensium diximus, patibulo adfixus in isdem anulis quos acceptos a Vitellio
gestabat. - Os tarracenos, contudo, acharam conforto no fato de que o escravo de Verginius Capito, que os
traiu, foi crucificado (patibulo adfixus) usando os mesmos anéis que ele recebeu de Vitellius.” (Historia,
4.3). Aqui, encontramos a expressão patibulo adfixus, clara referência à crucificação. Semelhante a esta,
temos “Rapti qui tributo aderant milites et patibulo adfixi. - Os soldados colocados para supervisionar o
tributo foram capturados e pregados ao patibulum.” (Annals, 4.72) Na citação “...sed caedes patibula ignes
cruces, tamquam redddituri. - Ele foi rápido com o massacre e o patibulum, com incêndio e crux.”
(Annals, 14.33), crux e patibulum são paralelos de massacre e incêndio.

Várias outras referências ainda são encontradas na literatura. Clodius Licinus (primeiro século A.C.)
se refere ao carrasco que iria “prender [as vítimas] ao patibulum(ad patibulos); assim atados eles iriam
levá-los pelas redondezas e depois prendê-los à cruz (cruci defiguntur)”. (História Romana, 3; citado em
TLL, p. 707 para "patibulum").Plínio o ancião, como já dito antes, se refere a uma crucificação anual de
cães perto do templo de Juventas, prendendo-os a uma furca (furca fixi).(Historia Naturalis, 29.14.57).
Outro escritor romano que um pouco mais tarde aludiu ao patibulum ao qual os prisioneiros eram presos
foi Lucius Apuleius (DC 123-170), que fez quatro referências ao patibulum em sua obra Asinus Aureus: (1)
Captão Lamarchus enfiou sua mão em um grande buraco de chave para arrombar uma porta mas
Chryseros pegou um grande prego e o martelou na mão de Lamarchus, prendendo-o à porta e o deixando
“pregado lá como um pobre infeliz no patibulum” (4.10); (2) Ponderando sobre o tipo de execução que
dariam a sua prisioneira, um grupo de ladrões discutia se a queimariam, jogariam-na para as feras ou se a
pendurariam em um patibulum (patibulo suffigi), de forma que (3) “ela ficasse no patibulum enquanto
cães e urubus comiam suas entranhas” (4.32), mas foi decidido que ela “não deveria ser crucificada
(cruces) nem queimada nem jogada às feras” (6.31). Este último texto usa crux intercambialmente com
patibulum suffigere. Ainda depois, no terceiro século, Historia Augusta relata que quando o Imperador
Celsus foi morto por uma mulher chamada Galliena, “sua imagem foi colocada em uma cruz (in crucem)”,
de forma que os espectadores olhassem como se Celsus estivesse fixado em um patibulum (patibulo
adfixus)" (29.4). Por fim, a Vulgata Latina traduz os termos Hebreus por “forca” e “pendurar” com
patibulum em Ester 2:23, 6:4 (affigi patibulo), 7:10, 9:13 (patibulis suspendantur), e 16:18.

O que dizer da palavra gregra stauros? É verdade que stauros originalmente significou um tipo de
estaca usada para construir cercas, como atesta a Odisséia de Homero: “Ele fincou estacas (stauros) por
todo este caminho e aquele, grandes estacas, foram colocadas juntas, as quais ele fez rachando um carvalho
até o centro negro”. (14.11). Thucydides (Historia, 4.90.2) da mesma forma descreve a construção de uma
cerca “fixando estacas (staurous)” por um canal, e stauros também foi usado no sentido de “cerca” ou
como “pilha” servindo como fundação. (ex. Herodotus, Historiarum 5.16; Thucydides, Historia 7.25.6-8).
Também foi usado para descrever a estaca usada para empalação (compare com o uso feito por Sêneca
acima), apesar do termo mais comum ser skolops, exemplo: “...atirem seus corpos em rochas pontiagudas
ou os empalem com uma estaca (skolopsi)” (Euripides, Iphigenia Taurica,1430).
Assim, é verdade que stauros significava originalmente estaca. No entanto, não devemos supor que
por isto, a palavra jamais agregou outros significados. Sabemos que a crucificação era praticada por Persas,
Fenícios e posteriormente por Romanos. Vimos também que uma palavra poderia se referir a vários
formatos de instrumentos (ex. Herodotus, Historiarum 9.120; Plutarco, Artaxerxes 17.5). Certamente, o
formato do instrumento não vai ser especificado simplesmente através da palavra usada.

Vimos acima, como os romanos formaram a crux compacta baseando-se em outras punições antigas,
já no terceiro século antes de Cristo. Resta saber, qual palavra era usada pelos gregos, para se referir a este
instrumento de tortura. Vejamos algumas citações em grego sobre o costume romano:

Toda bagagem caiu nas mãos dos inimigos, e o próprio Aníbal foi feito prisioneiro. Eles [os soldados
romanos] imediatamente o levaram para a cruz (stauron), onde Spendius estava pendurado, e depois da
inflição de excelentes torturas, tiraram o corpo do último e prenderam Aníbal, ainda vivo, à sua cruz
(stauron) e então massacraram trinta cartagineses dos mais altos cargos perto do corpo de Spendius.

"Polybius, Historiae 1.86.6; o autor viveu entre 200-118 A.C., este evento aconteceu em 183 A.C."

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Eles encontraram os outros já pendurados em suas cruzes (staurous), e ele já estava subindo em sua
cruz (epi bainonta tou staurou). De longe eles gritaram apelos: 'Misericórdia dele!' 'Desça!' 'Não o
machuque!'. Então o carrasco parou seu trabalho, e Chaereas desceu da cruz (katebaine tou staurou),
arrependidamente, pois ele estava feliz por deixar esta vida e infeliz amor.

"Chariton, Chaereas and Callirhoe, 4.3.5-6; escrito no primeiro século AC ou começo do primeiro
século DC"

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Muitos homens também, que estavam vivos, eles ataram por um pé, prendendo-os pelo tornozelo, e
assim eles os arrastaram e os machucaram, pulando sobre eles, planejando infringir neles a morte mais
bárbara... arrastando-os por todas as vielas e becos da cidade... as relações e amigos daqueles que foram as
reais vítimas foram deixadas para trás na prisão, foram espancados, foram torturados, e depois de todo o
tratamento doentio a qual seus corpos vivos poderiam agüentar, acharam a cruz (stauros), o fim de tudo, e
a punição da qual eles não poderiam escapar.

"Filo de Alexandria, In Flaccum 70-72; autor viveu entre cerca de 20 A.C. – 50 D.C."

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Mas você vai pregá-lo a uma cruz (eis stauron kathélóseis) ou empalá-lo a uma estaca (skolopi
péxeis)? Por que Theodorus se importa se ele apodrecerá acima ou abaixo da terra?

"Plutarco, Moralia, Ad Vitiositas 499D; autor viveu entre 45-125 DC."

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Enquanto os soldados [romanos] estavam cortando sua cabeça, seu tutor [o tutor de Antyllus, filho de
Marco Antônio] planejou roubar uma jóia preciosa que ele usava em seu pescoço, e colocá-la em sua bolsa,
e depois negou o fato, porém foi condenado e crucificado (anestauróthé).

"Plutarco, Antonius 81.3"

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Eles foram chicoteados com varas, e seus corpos foram feitos em pedaços, e foram crucificados
(anestaurounto), enquanto ainda estavam vivos e respiravam. Eles também estrangularam aquelas
mulheres e seus filhos que eles tinham circuncidado, como o rei apontou, pendurando seus filhos pelos
pescoços assim como eles estavam pendurados na cruz (anestaurómenón). E se fosse encontrado algum
livro sagrado da Lei, era destruído, e aqueles com quem era encontrado pereciam também miseravelmente.

"Flávio Josefo, Antiquitates Judaicae 12.256-257; autor viveu entre cerca de 37-100 DC, escreveu
cerca de 95 DC; o evento narrado ocorreu em 168 A.C."

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Agora, aconteceu nesta luta que um certo judeu foi levado vivo, que pela ordem de Tito, foi crucificado
(anastaurósai) diante da muralha, para ver se o resto deles se assustaria, e abatia sua obstinação.

"Josefo, De Bello Judaico 5.289; o evento narrado aconteceu em 66-70 DC."

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Nem falhou em sua esperança, pois os mandou montar uma cruz (stauron), como se fosse justamente
pendurar Eleazar imediatamente, a visão disto causou um pesaroso sofrimento entre aqueles que estavam
na fortaleza, e eles suspiravam veementemente, e choravam por não conseguiriam vê-lo destruído de tal
forma.

"Josefo, De Bello Judaico 7.202."

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Por que vocês obedecem à ordem de se submeter ao tribunal? Pois se vocês querem ser crucificados
(stauróthénai), esperem e a cruz (ho stauros) virá.

"Epictetus, Dissertationes 2.2.20; autor viveu entre 55-135 DC"

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Ele era escoltado por multidões e recebendo sua fartura de glória enquanto via o número de seus
admiradores, sem saber, pobre infeliz, que aqueles homens no caminho da cruz (stauron) ou preso pelo
carrasco tem muito mais nos seus calcanhares... É como um homem que prestes a subir na cruz (epi
stauron anabésesthai) deve cuidar dos arranhões no seu dedo.

"Luciano, De Morte Peregrini 34.7, 45.5; autor viveu entre 117-180DC."

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Os judeus, de fato, machucaram muito os romanos, mas eles mesmos sofreram muito mais... Estas
pessoas Antônio confiou a um certo Herodes o governo, mas Antigonus ele prendeu em uma cruz (stauroi)
e o açoitou, uma punição que nenhum outro rei sofreu nas mãos dos romanos, e depois o mataram.

"Cassius Dio, Historae Romanae 49.22.4-6; o autor viveu entre 165-235 DC."

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O pai de Capio levou o segundo escravo pelo fórum com uma inscrição deixando conhecida a razão
pela qual ele estava sendo colocado para morrer, e depois crucificou (anastaurosantos) ele.

"Cassius Dio, Historae Romanae 54.3.7-8."


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Nenhuma destas referências dizem nada a respeito do formato do instrumento, mas mostra que
stauros era a palavra mais comumente usada para designá-lo. Como o uso da cruz com dois postes pelos
romanos apareceu por esta época, e que não era um formato incomum como nos atesta Sêneca e outros
escritores romanos como vimos antes, vemos que stauros significava muito mais que uma simples estaca
na até o primeiro século A.C. A citação de Plutarco acima é interessante, pois ele diferencia crucificação
com stauros de empalamento com skolops. Porém não apenas stauros foi aplicado à crucificação. Há
evidências literárias que indicam que até skolops era aplicado ao instrumento de tortura:

Muitos do povo foram com Theron enquanto ele era levado, ele foi crucificado (aneskolopisthe) em
frente à tumba de Callirhoe e da cruz (staurou) observava o mar.

"Chariton, Chaereas and Callirhoe, 3.4.18."

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Mas este homem não ordenou homens que já pereceram na cruz (stauron) a descer, mas comandou
homens vivos a serem crucificados (anaskolopizesthai), homens a quem o próprio tempo deu, senão inteiro
perdão, pelo menos uma breve e temporária pausa de sua punição.

"Filo de Alexandria, In Flaccum 84."

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Agora traga o produto das cortes, eu quero dizer aqueles que morreram pelo castigo e pela cruz
(aneskolopismenous).” (Luciano, Cataplus 6.18-20).

“Somente os fantasmas daqueles que morreram com violência andam, por exemplo, se um homem se
pendurou, ou se teve sua cabeça cortada, ou foi crucificado (aneskolopisthé).

"Luciano, Philopseudes 29"

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Os ladrões de templo não são punidos mas escapam, enquanto homens sem culpa de toda injustiça
morrem algumas vezes crucificados (anaskolopizomenous) ou açoitados.

"Luciano, Juppiter Tragoedus, 19."

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Note como os dois primeiros textos usam stauros para se referir à crucificação. Veremos adiante que
Luciano usa este verbo (anaskolopizoó) ao se referir à crucificação com dois postes.

Como vimos acima, a crucificação romana evoluiu da forma mais primitiva de humilhação, onde o
condenado era obrigado a carregar o patibulum. Muito interessante é o fato de que a palavra stauros se
referia também ao patibulum, como vemos abaixo:

Sem mesmo vê-los ou escutando sua defesa ele imediatamente ordenou os dezesseis companheiros de
cela a serem crucificados (anastaurósai). Eles foram imediatamente trazidos para fora, acorrentados juntos
nos pescoços e pés, cada um carregando sua própria cruz (ton stauron ephere). Os carrascos adicionaram
este terrível espetáculo à punição requisitada como um dissuasor a outros que tentarem o mesmo. Agora
Chaereas não disse nada enquanto era levado com os outros, mas pegando sua cruz (ton stauron bastazón),
Polycharmus exclamou: 'É sua culpa, Callirhoe, que nós estamos nesta encrenca!'
"Chariton, Chaereas and Callirhoe, 4.2.6-7; escrito no primeiro século A.C. E começo do primeiro
século D.C."

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Todo criminoso que é executado deve carregar sua própria cruz (ekpherei ton hautou stauron) nas
suas costas.

"Plutarco, Moralia, De Sera Numinus Vindicta 554 A."

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Pois a cruz (ho stauros) é como a morte e o homem que é pregado deve carregá-la antecipadamente.
(proteron bastazei)

"Artemidorus Daldianus, Oneirocritica 2.56; escrito no segundo século D.C."

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É possível que toda a crux compacta seja referida aqui, mas é improvável. Várias fontes indicam que a
parte vertical era estacionária, fixada no chão antes da chegada da vítima. (e.g. Cicero, Verrines 5.66;
compare possivelmente com Josefo, Bello Judaico 7.202). Além disto, o peso combinado do patibulum
com o poste vertical não poderia ser suportado pelas vítimas. No entanto, não se refere a um simples poste
também, que não tem precedentes nas práticas romanas. Por exemplo, Artemidorus que vamos nos referir
adiante, foi bem explícito ao dizer que a cruz era composta de duas traves.

Algumas descrições da crucificação por escritores gregos são ambíguas, mas assumem a crux
compacta. Epictetus (filósofo estóico do primeiro século D.C) descreve aqueles sendo massageados como
“estendidos (ekteinas) como homens que foram crucificados (estauromenoi)” (Dissertationes, 3.26.22). A
frase aqui lembra de estender as mãos (dispessis manibus) de Plautus e de estender os braços (membra
distendere) e mãos estendidas (extendere manus) de Sêneca, em escritos cristãos posteriores a frase de
Epictetus se tornou um clichê para a crucificação na crux compacta. Josefo também dá um relato
detalhado do cerco e ataque a Jerusalém em 70 D.C. e menciona que “os soldados por raiva e ódio se
divertiam pregando seus prisioneiros com diferentes posturas” (allon allói skhémati, ou "de um estilo a
outro"), e seu número era tão grande que espaço não podia ser encontrado para as cruzes (staurois), nem
cruzes (stauroi) para os corpos.” (De Bello Judaico 5.451-452). Como poucos tipos de postura são possíveis
em uma crux simplex, a passagem é melhor entendida com o uso de uma crux compacta.

Outros escritores são mais explícitos quanto ao formato do stauros. Por exemplo, Artemidorus
Daldianu, um profeta pagão que prosperou no segundo século D.C. Cerca de 160 D.C, ele escreveu um
manual de interpretação de sonhos chamado de Oneirocritica, onde como vimos acima clama que pessoas
que foram condenadas à crucificação devem carregar seus próprios stauros (patibulum, como os romanos
chamavam) antes da execução. Ele também fala que o stauros possui duas traves:

Ser crucificado(staurousthai) é próspero para todos os navegantes. Pois a cruz (ho stauros), como um
barco, é feita de madeira e pregos, e o mastro do navio lembra uma cruz. (hé katartios autou homoia esti
stauró)

"Artemidorus Daldianus, Oneirocritica 2.53"

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Assim como hoje, os mastros dos navios consistiam de um alto poste levantado no centro do convés,
cruzando com postes horizontais. Na verdade, a palavra latina para nomear estes postes horizontais,
antenna também era usada para se referir ao patibulum (ver Insight, Vol. 1, p. 1191). Entalhes em rochas
do período mostram como realmente os mastros daquela época se assemelhavam à cruz. (cf. alto-relevo de
um barco romano de Sidon na obra de Philip Carrington's The Early Christian Church, 1957, Vol. 1, p. 129).
Em outro lugar, Artemidorus (Oneirocritica, 1.76) menciona que aqueles que são crucificados
(staurothesetai) “estendem os braços” (tón cheirón ektasin), uma expressão originada de Epictetus, Seneca
e Plautus para se referir ao patibulum.

Outro escritor que se refere explicitamente ao formato do stauros é o satirista Luciano de Samosata,
que viveu entre os anos de 120 a 180 DC. Ele escreveu a fábula Julgamento na corte das letras, onde ele
relata o julgamento da letra Tau (T). No fim da estória lemos o seguinte:

Tais são suas ofensas verbais contra o homem; suas ofensas de fato permanecem. Homens choram, e
lamentam sua sorte, e amaldiçoam Cadmos com muitas maldições por introduzir Tau na família de letras;
eles dizem que foi seu corpo que tiranos pegaram de modelo(somati phasi akolouthésantas), imitaram sua
forma(mimésamenous autou to plasma) e moldaram semelhantes pedaços de madeira(skhémati toioutói
xula) para crucificar(anaskolopizein) homens nelas, e o vil instrumento até deriva seu nome(eponumian)
dele (ex. sTAUros). Agora, com todos estes crimes sobre ele, TAU não merece a morte, senão muitas
mortes? De minha parte eu acho que a única coisa a fazer é punir Tau no que é feito com sua própria
forma(tó skhemati tó hautou), pois a cruz(ho stauros) deve sua própria existência a Tau, senão o seu nome
para os homens (hupo de anthrópón onomazetai).

"Lis Consonantium, 12."

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Note o uso de anaskolopizoó para se referir à crucificação em uma crux compacta. O texto estabelece,
sem sombra de dúvidas, que os termos usados até agora se referiam a este tipo de crucificação.

Finalmente, outra palavra usado para especificar a crucificação é a palavra xulon. Assim como outras
palavras já tratadas aqui, xulon aceita uma ampla gama de significados. No grego clássico e koiné, a
palavra era usada para se referir a lenha, madeira (Ilíada, 8.507; Thucydides, Historia 7.25.2; Herodotus,
Historiarum 1.186), bancos (Demosthenes, 1111.22; Aristophanes, Vespae, 90; Acharnenses, 25), mercado
de madeira (Aristophanes, Fragmenta 402-403), e até mesmo como medida de comprimento (Hero,
Geometrica 23.4.11). Mas isto não é tudo, pois eventualmente “a palavra passou a significar algo
vergonhoso ou desafortunado” (Kittel and Friedrich, Vol. 3, p. 37). Ele passou a denominar vários
instrumentos de punição, incluindo pelourinho (Aristophanes, Nubes 592; Lysistrata, 680), tronco onde se
prendia os pés e a cabeça do condenado (Herodotus, Historiarum 9.37), uma combinação de ambos
(Aristophanes, Equites 367, 1049), e porrete (Herodotus, Historiarum 2.63, 4.180; Plutarco, Lycurgus
30.2). Claramente a palavra significava mais do que um simples pedaço de madeira.

No Novo Testamento, sua variação semântica variava pouco. Foi usada para significar materiais de
madeira (1 Coríntios 3:12), árvores (Apocalipse 22:19), instrumento para prender escravos (Atos 16:24), e
porretes (Mateus 26:47). Mas muitos escritores cristãos a usaram para definir o instrumento de
crucificação romana. Aparentemente há duas razões para isto:

Em épocas pré-republicanas, romanos algumas vezes puniam escravos desobedientes prendendo-os


em árvores e os açoitando até a morte (cf. Joseph A. Fitzmyer, CBQ 40: 509, 1978). Ocasionalmente as
vítimas eram forçadas a levar o patibulum também. Esta forma de punição foi chamada de arbor infelix ou
infelix lignum, e muitos escritores latinos posteriores usaram esta expressão para se referir à crucificação
(cf. Livy, Ab Urbe Condita 1.26.10-11; Cicero, Pro Rabirio 4.13; Seneca, Epistle 101.14). Como resultado, a
crux compacta se tornou conhecida como arbor ou lignum (ambas palavras latinas se referem à árvore).
Isto deve ter influenciado escritores gregos a usarem a palavra xulon para significar o mesmo que stauros.

No entanto, há ainda mais uma explicação. Muitos eruditos acreditam que o uso de xulon no NT e
outros escritores judeus contemporâneos surgiu de uma interpretação midráshica de Deuteronômio 21:22-
23:

“Se um homem tiver cometido um pecado digno de morte, e for morto, e o tiveres pendurado num
madeiro, o seu cadáver não permanecerá toda a noite no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo
dia; porquanto aquele que é pendurado é maldito de Deus. Assim não contaminarás a tua terra, que o
Senhor teu Deus te dá em herança.”

"Deuteronômio 21:22-23"

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É claro que este texto não se refere à crucificação. Mas muitos judeus o acharam relevante quando os
romanos introduziram esta forma de punição na Judéia, principalmente tendo os romanos o costume de
deixar o corpo apodrecer por dias na cruz (cf. Horace, Epistle 1.16.48; Lucan, Pharsalia 6.543). Assim, isto
foi um guia para decidir como a crucificação romana deveria ser entendida legalmente. Significantemente,
os Rolos do Mar Morto, datados do primeiro século antes de Cristo, citam Deuteronômio 21:22-23 duas
vezes com relação à crucificação romana praticada por judeus helenizados (11QT, 64:6-13; 4QpNah, 3-
4:1:1-11; o último texto se refere à crucificação de Alexandre Janneus em 88 A.C., compare com Josefo,
Antiquitae 13.14.2, Bello Judaico 1.4.5-6). Similarmente, Paulo aplicou aquela escritura (derivada da LXX
que usa xulon para a palavra hebraica “árvore”) à crucificação de Jesus:

Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo
aquele que for pendurado no madeiro; para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a
fim de que nós recebêssemos pela fé a promessa do Espírito.

"Gálatas 3:13,14"

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De acordo com Max Wilcox, a influência de Deuteronômio pode ser detectada em cada instância que
xulon é usada em relação à crucificação. O discurso de Paulo em Atos 13:28-30 tem a aparência de ser uma
midrash de Deuteronômio 21:22- 23 (cf. JBL, 96: 92, 1977). Ainda nos evangelhos, os judeus exigiram que
Pilatos retirasse os corpos de Jesus e dos ladrões para prevenir que eles ficassem na cruz durante o sábado
(João 19:31; cf. Lucas 23:50-54). Tudo isto indica que a percepção judaica sobre a crucificação romana
envolvia Deuteronômio 21:22-23. Como resultado, vemos o uso de xulon como sinônimo de stauros é
quase exclusivamente feito por escritores judeus (cf. Josephus, Antiquitae 11.246-261; Philo, De Somniis
2.213). Vendo tudo isto, e sabendo do amplo significado que xulon poderia ter, percebemos que esta
palavra era usada com o mesmo fim que stauros: indicava o instrumento de duas traves, usado na
crucificação romana.

Evidências bíblicas

As evidências bíblicas sobre o formato da cruz utilizada na morte de Cristo não são explícitas. No
entanto, várias referências à crucificação indicam que a cruz usada foi uma crux compacta.

Mateus 27:37

E por cima da sua cabeça (epanó tés kephalés autou) puseram escrita a sua acusação: ESTE É
JESUS, O REI DOS JUDEUS.

Este texto é reconhecido como sugerindo uma cruz formada de dois postes. Se a crux simplex fosse
usada no caso de Jesus, o mais natural aqui seria descrever o uso do titulus (um pedaço de madeira preso
ao stauros, dizendo o crime do réu, como é dito por Cassius Dio, Historae Romanae 54.3.7-8 referido
acima) acima das mãos, onde poderia ser visto.

É digno de nota, que apesar da Torre de Vigia argumentar que stauros significava simplesmente uma
estaca, vemos através deste versículo que o instrumento que foi usado na morte de Cristo não era composto
apenas de um poste vertical. A menção do titulus aqui indica que era sim um instrumento composto de
mais de uma peça de madeira, e mesmo assim foi definido como stauros e xulon pelos escritores bíblicos.

João 19:17

E, levando ele às costas a sua cruz (bastazón hautó ton stauron), saiu para o lugar chamado
Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,

Este talvez seja o texto mais importante. Aqui, temos uma referência clara ao costume romano de se
levar o patibulum. Note o uso do verbo bastazón para carregar, o mesmo verbo usado por Chariton e
Artemidorus para se referir à mesma prática. Artemidorus é claro ao dizer que a vítima deste tipo de morte
é pendurada em uma cruz de duas traves. Escritores latinos claramente distinguem o patibulum do poste
vertical, e que era o patibulum que era carregado. Nunca nos escritos antigos, um escravo é descrito
carregando o poste vertical, tal prática não tem sequer relação com a velha prática romana de carregar o
patibulum pela cidade. Os evangelhos sinóticos também falam a respeito de carregar a cruz, dizendo ainda
que Simão de Cirene carregou a cruz de Cristo. A versão original de Marcos 15:31 diz que Simão levantou a
cruz de Cristo (aré ton staurou autou), mas a versão de Lucas é mais detalhada: “E quando o iam levando,
tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas(epethékan autó ton
stauron), para que a levasse(pherein) após Jesus.” O verbo pherein também foi usado por Chariton e
Plutarco, para se referir ao “carregar a cruz”, e o verbo epethékan, “colocado sobre”, é bem sugestivo sobre
carregar o patibulum nas costas da vítima, conforme Plutarco, ou cruzando o peito e ombros, conforme
Dionysius de Halicarnassus. Compare o uso do verbo com com Lucas 15:5, descrevendo um pastor
colocando a ovelha perdida sobre os ombros (epitithésin epi tous ómous), ou com Mateus 27:29 e João
19:2, onde soldados romanos colocam a coroa de espinhos sobre a cabeça de Cristo, ou até mesmo Mateus
21:7, onde as pessoas colocaram suas vestimentas sobre o jumento para que Cristo se assentasse.

João 20:25

Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal
dos cravos(hélón) em suas mãos (en tais khersin), e não puser o dedo no lugar dos cravos(hélón), e não
puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.

Esta importante declaração de Tomé não deixa espaço para a noção de que o instrumento usado na
morte de Cristo foi uma crux simplex. O plural sugere o uso de dois pregos para fixar as mãos de Cristo, um
para cada mão.

Pode-se recordar que Plautus que descreve o mesmo fato anteriormente (Mostellaria, 55-57), fala de
uma forma mais severa onde “são pregados duplamente os pés, duplamente as mãos”. Talvez a
interpretação mais aceita seja que usualmente se pregava mãos e pés com um prego, e quando se requeria
uma forma mais severa, aplicava-se mais um prego em cada membro. O texto é um pouco ambíguo, mas o
uso de dois pregos para uma mesma mão não combina com a palavra marca, lugar (tupos), que foi usado
por João no singular.

Pode-se também objetar, como faz a sociedade Torre de Vigia, que os pregos estão no plural, por que
Tomé está incluindo os pregos usados nos pés de Cristo:

Alguns concluíram de João 20:25 que dois pregos foram usados, um para cada mão. Mas o uso do
plural (cravos) por Tomé tem que ser entendido como uma descrição precisa indicando que cada mão de
Jesus foi atravessada por um prego separado? Em Lucas 24:39 o Jesus ressuscitado diz: 'Vede minhas
mãos e meus pés, que sou eu mesmo'. Isto sugere que os pés de Cristo também foram pregados. Desde que
Tomé não fez menção ao sinal dos pregos nos pés de Jesus, seu uso do plural pregos pode ter sido uma
referência geral aos pregos usados para pregar Jesus. Assim, não é possível neste ponto definir com certeza
quantos pregos foram usados.

"Sentinela 1984, pg 31"

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No entanto, a dúvida é respondida pelo próprio Tomé, ao dizer que gostaria de ver as mãos, e o sinal
dos cravos nas mãos de Cristo. Mais adiante no mesmo capítulo, Cristo mostra para Tomé as mãos e o lado,
não seus pés. Apesar dos pés de Cristo terem sido pregados, Tomé estava se referindo às suas mãos quando
usou pregos no plural, o que descarta os pés.

João 21:18,19

Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por
onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos(ekteneis tas kheiras sou), e outro te
cingirá, e te levará para onde tu não queiras. E disse isto, significando com que morte (poió thanató)
havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me.

Aqui vemos uma expressão muito conhecida, o “estender as mãos”. Este mesmo verbo é usado por
Epictetus (Dissertationes, 3.26.22) e Artemidorus (Oneirocritica, 1.76) . Vemos a mesma expressão em
Lucian, Plautus, e Seneca.

Apesar da clareza do texto, exitem três interpretações aqui. A primeira é que o texto é na verdade uma
adição posterior, feita para refletir a crucificação (Bernard, p. 709). O texto original deveria simplesmente
mostrar a velhice como carente de ajuda. Mesmo que esta teoria esteja certa, a interpolação deveria ser
muito cedo, no segundo século, o que demonstraria que a idéia de crucificação já estava presente. A
segunda interpretação trata o versículo como referente à crucificação e nada mais. Bernard aponta que o
uso de cingir no grego clássico e na Septuaginta está relacionado ao cingir de roupas, o que nunca foi usado
no sentido de prender um criminoso, que seria o sentido usado pelo Senhor se relacionando ao martírio de
Cristo. Outra dificuldade apontada seria o uso de ekteneis ao invés de ektasis neste texto. A última indica
estender para os lados, e a primeira, para frente, como vemos em Lucas 5:13. A maior evidência que este
texto se refere a outra coisa que não a crucificação, é a ordem dos eventos. Como diz D. W. O'Connor: “Se
há uma referência aqui da crucificação, não se esperaria que cingir viesse antes, seguido de carregar e por
último o estender das mãos?” (Peter in Rome: The Literary, Liturgical, and Archaeological Evidence, 1969,
p. 62). A terceira explicação combina o melhor das duas anteriores. Como sugerido por Bultmann e outros
eruditos, o texto de João 21:18,19 pode refletir um antigo provérbio: “Na juventude pode-se ir livremente
para onde quer ir, na velhice ele deve permitir ser levado mesmo que ele não queira”. (O'Connor, p. 62).
Este provérbio foi adaptado para se referir à crucificação de Pedro, como explica Barnabas Lindars: “Ele foi
colocado na segunda pessoa e alterado os tempos verbais de um presente, para passado e futuro. Também
o expandiu com detalhes simbólicos... A linguagem é preservada para manter a imagem do velho carente.”
(Lindars, The Gospel of John, 1980, pp. 636-637). Isto explica por que zónumi e ekteneis foi usado ao invés
de uma forma mais apropriada, e por que a ordem dos eventos aparece diferente. Sobre o uso de ekteneis,
deve-se lembrar que Epictetus já o havia usado para se referir à crucificação, o que não implica
necessariamente que os braços eram estendidos para frente, o que impediria qualquer tipo de crucificação.
Lindars também dá uma explicação boa sobre a sequência dos eventos: “A sequência intencionada poderia
ser (a) estendendo as mãos pela trave horizontal, (b) ter suas mãos amarradas a ela com cordas, (c) ser
levantado para a estaca.” (Lindars, p. 637).

É muito interessante também a crítica à tradição escrita por Eusébio, pois se não fosse a tradição
escrita por alguns escritores modernos, não haveria dúvidas sobre o instrumento de penalidade de Cristo
ser uma cruz. Não só Eusébio, mas outros escritos atestam o uso da expressão “estender as mãos” aplicada
à crucificação. Portanto, esta interpretação deve-se muito mais ao registro histórico do que à tradição.

Evidências patrísticas

Finalmente, vamos ver como o instrumento de punição de Cristo era retratado pelos próprios
escritores cristãos. É importante tratar deste assunto, para verificarmos como os cristãos até o ano de 325
D.C. entendiam ser o formato da cruz. Assim, demonstramos que alguns que tentam indicar Constantino
como o criador do formato atual da cruz estão errados.

Cronologicamente, o primeiro escrito cristão sobre a cruz é a carta de Pseudo-Barnabé. Esta carta foi
escrita entre 70 D.C e 135 D.C. Ali, encontramos as primeiras tentativas de interpretar as Escrituras
Hebraicas como apontando para Cristo, fora da Bíblia. Assim, vemos as citações:

Filhos do amor, aprendei mais particularmente estas coisas: Abraão, praticando por primeiro a
circuncisão, circuncidava porque o Espírito dirigia profeticamente seu olhar para Jesus, dando-lhe o
conhecimento das três letras. Com efeito, ele diz: "E Abraão circuncidou entre os homens de sua casa
trezentos e dezoito homens." Qual é, portanto, o conhecimento que lhe foi dado? Notai que ele menciona
em primeiro lugar os dezoito e depois, fazendo distinção, os trezentos. Dezoito se escreve: I, que vale dez, e
H, que representa oito. Tens aí: IH(sous) = Jesus. E como a cruz (ho stauros) em forma de T devia trazer a
graça, ele menciona também trezentos (= T). Portanto, ele designa claramente Jesus pelas duas primeiras
letras e a cruz (ton stauron) pela terceira. Quem depositou em nós o dom do seu ensinamento sabe bem
disto: Ninguém recebeu de mim ensinamento mais digno de fé. Sei, porém, que vós sois dignos.

"Barnabé 9:7-8"

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Na citação acima, o escritor da carta de Barnabé claramente atribui o formato do stauros à letra grega
tau (T). Deixando de lado a interpretação alegórica do texto, vemos que o autor naquela época concorda
com outros autores já vistos: que a palavra stauros indica um instrumento composto de duas traves. Da
mesma forma, em outro lugar, o mesmo autor escreve:

Da mesma forma, é sobre a cruz (tou staurou) que ele fala por meio de outro profeta... Ele ainda fala a
Moisés, quando Israel é atacado pelos povos estrangeiros, para lembrar-lhes, nesse combate, que era pelos
pecados deles que estavam sendo entregues à morte. Falando ao coração de Moisés, o Espírito lhe fez
representar a figura da cruz (tupon stauron) e de quem sofreria, pois, diz ele, se não esperarem nele, serão
eternamente atacados. Então Moisés amontoou as armas no meio do combate e, de pé, no lugar mais alto
de todos, estendeu os braços (exeteinen tas kheiras), e assim Israel venceu novamente. Em seguida, cada
vez. que os abaixava, os israelitas sucumbiam outra vez.

"Barnabé 12:1-2"

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Por meio de outro profeta, ele diz ainda: "O dia inteiro estendi meus braços (exepetasa tas kheiras)
para um povo desobediente e que se opõe ao meu justo caminho." Outra vez ainda, no momento em que
Israel sucumbia, Moisés fez prefiguração de Jesus (tupon tou Iésou), mostrando que ele devia sofrer, e
justamente aquele que acreditavam estar morto na cruz, haveria de dar a vida.

"Barnabé 12:4-5"

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Percebe-se o uso da expressão “estender as mãos”, para simbolizar o formato da cruz, e também a
forma que os homens eram fixados a ela. Aqui também vemos uma demonstração de como o formato da
cruz era entendido pelos cristãos antigos. Este escritor viveu em uma época que a crucificação ainda
existia. Se a cruz não tivesse o formato que ele alega ter, estas passagens acima perdem seu valor.

Depois de pseudo-Barnabé, temos o escritor cristão Justino Mártir. Ele viveu entre os anos de 148 a
161 D.C. Sobre a crucificação, em seus escritos, encontramos:

Como Cristo depois de seu nascimento viveu oculto de outros homens até crescer e se tornar um
adulto, como também aconteceu, escutem as predições que se referem a isto. Aqui está: ‘Uma criança nos
nasceu, e um jovem nos é dado, e o governo estará sobre seus ombros’ testificando o poder do stauros, que
quando crucificado levou sobre os ombros, que será mostrado mais claramente à medida que o argumento
avançar. De novo, o mesmo profeta Isaías, inspirado pelo Espírito profético, disse: ‘eu estendi as mãos para
um povo desobediente e contraditório’... Mas Jesus estendeu as mãos quando foi crucificado pelos judeus,
que o contradiziam e negavam que ele era o Cristo.

"Primeira Apologia, 35"

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Vemos duas coisas interessantes acima. Primeiro, uma alusão ao costume de carregar o patibulum.
Jamais o poste horizontal poderia ser carregado sobre os ombros, como se carregaria o patibulum. Depois,
vemos novamente o uso da expressão “estender as mãos”, muito comumente aplicado à crucificação, não
somente por cristãos, mas por vários escritores. Provavelmente era uma expressão comum. Ainda temos
mais textos de Justino:

Mas a crucificação nunca foi imitada pelos chamados filhos de Zeus, pois eles não a entendiam, como
era explicada, já que tudo dito sobre ela foi expressamente simbólico. Mas, como o profeta previu, o
stauros é o grande símbolo de seu poder e autoridade, como [pode] ser mostrado de coisas que você pode
ver. Reflita sobre todas as coisas no universo [e considere] se eles poderiam ser governados ou mantidos
unidos sem esta figura. Pois o mar não pode ser atravessado sem o sinal da vitória, que eles chamam de
vela, que permanece fixo no navio, a terra não é arada sem ele, de forma similar escavadores e artífices não
fazem seu trabalho sem ferramentas com sua forma. A figura humana difere dos animais irracionais
exatamente por que o homem pode se levantar e estender as mãos, e tem na sua face, estendido de sua
testa, o que é chamado nariz, por onde vai a respiração para o ser vivo, e exibe precisamente a figura de um
stauros.

"Primeira Apoligia, 55"

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Aqui, como no escrito de Artemidorus Daldianu, o formato da cruz é comparado com um dos
componentes do navio. Ainda há comparações com outros formatos de objetos.

Na discussão da natureza do Filho de Deus, Timaeus de Platão, quando diz, “Ele o colocou como um X
no universo”, isto foi de forma similar emprestado de Moisés. Pois está escrito nas Escrituras de Moisés
que... Moisés pegou bronze e fez a forma do stauros... Platão lendo isto e não entendendo claramente, não
se dando conta que era a forma do stauros, mas achando que era [a letra] Chi, disse que o poder próximo a
Deus se assentou em forma de Chi no universo.

"Primeira Apologia, 60"

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O texto acima estabelece uma relação explícita entre o stauros e a letra grega Chi (X). Novamente
define-se o stauros como um instrumento composto de duas traves, não uma. Seguindo com suas citações
temos ainda:

O próprio Moisés, estendendo ambas as mãos, orou a Deus por ajuda. Agora Hur e Aarão sustentam
suas mãos todo o dia, para ele não se cansar e não deixa-las cair ao seu lado. Por que se Moisés deixasse de
mostrar este sinal, que é uma figura do stauros, as pessoas seriam derrotadas (como Moisés atesta), mas
enquanto se mantinha naquela posição Amaleque foi derrotado, e o forte derivou sua força do stauros...
enquanto o nome de Jesus estava na frente de batalha (em Josué), Moisés formava o sinal do stauros.

"Diálogo com Trifo, 90"

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Aqui, temos mais uma vez a expressão “estender as mãos” aplicada à crucificação. Finalmente, de
Justino, temos a citação:

E Deus por Moisés mostrou de outra forma a força do mistério da cruz, quando Ele disse na bênção
com que José foi abençoado, ‘Bendita do SENHOR seja a sua terra, com o mais excelente dos céus, com o
orvalho e com o abismo que jaz abaixo. E com os mais excelentes frutos do sol, e com as mais excelentes
produções das luas, e com o mais excelente dos montes antigos, e com o mais excelente dos outeiros
eternos. E com o mais excelente da terra, e da sua plenitude, e com a benevolência daquele que habitava na
sarça, venha sobre a cabeça de José, e sobre o alto da cabeça daquele que foi separado de seus irmãos. Ele
tem a glória do primogênito do seu touro, e os seus chifres são chifres de rinoceronte; com eles rechaçará
todos os povos até às extremidades da terra; estes pois são os dez milhares de Efraim, e estes são os
milhares de Manassés.’(Dt 33:13-17) Agora, ninguém poderia dizer ou provar que os chifres de um
rinoceronte representam nenhum outro fato ou figura que o tipo que retrata a cruz. Pelo que uma trave é
colocada ereta, de onde a extremidade mais alta é erguida como um chifre, quando a outra trave é
encaixado nele, e as pontas aparecem em ambos os lados como chifres juntos no outro chifre. E a parte que
é fixa no centro, onde são suspensos os crucificados, também sobressai como um chifre, e ele parece como
um chifre unido e fixado com os outros chifres.

"Diálogo com Trifo, 91"

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Aqui, Justino dá uma explicação detalhada de como o stauros era composto. Somado à sua
comparação com a letra Chi acima, e com os vários usos da expressão “estender as mãos”, podemos ver que
Justino usava a palavra stauros aplicando-a a um instrumento de duas traves de madeira.

Depois de Justino, podemos ver os escritos de Ireneu, bispo da cidade de Lião, que viveu entre 115 D.C
e 198 D.C. Sua maior obra é o livro Contra Heresias (escrito entre 175 e 198 DC), além de alguns
fragmentos de seus escritos e do livro Demonstração da Pregação Apostólica. No capítulo 24 de Contra
Heresias, parágrafo 4, Ireneu estava discutindo sobre a forma que os gnósticos usavam números citados na
Bíblia para defender suas doutrinas. Como exemplo, eles usavam a idade de Cristo no início de seu
ministério, 30 anos, para defender a doutrina que haviam 30 eóns, uma espécie de deuses. Para refutá-los,
ele escolheu o número cinco, e listou todas as ocorrências do número 5 nas Escrituras. Se a interpretação
gnóstica fosse correta o número cinco deveria representar algo também, com tantas ocorrências. Entre
estes exemplos, ele cita: “A estrutura da cruz tem cinco extremidades, duas no comprimento, duas na
largura e uma ao centro em que se apóia o crucificado”. É muito interessante que Ireneu descreve a cruz
com 5 pontas, incluindo o patibulum e o sedile.

Em sua obra Demonstração da pregação apostólica, Ireneu também faz alguns comentários sobre o
formato da cruz. Entre ele, temos, no capítulo 34: “Então pela obediência, onde ele obedeceu até a morte,
pendurado em um madeiro, Ele desfez da velha desobediência lavrando-o no madeiro. E por que Ele é a
própria Palavra do Deus Todo-poderoso, que de forma invisível nos impregna universalmente em todo o
mundo, e envolve tanto em comprimento e largura, altura e profundidade (Efésios 3:17, 18), pois pela
Palavra de Deus tudo é administrado, o Filho de Deus também foi crucificado nisto, imprimindo a forma
da cruz no universo”. Ainda Ireneu faz comentários sobre algumas passagens já vistas aqui, como: “...e Ele
também nos livra de Amaleque estendendo suas mãos.” (36), “...mas as palavras cujo governo é colocado
sobre seus ombros significam alegoricamente a cruz, que ele manteve suas costas ao ser crucificado” (56),
finalmente, “...de novo, a respeito de sua cruz, Isaías diz como segue: 'Eu estendi minhas mãos todos os
dias para um povo orgulhoso e contraditório', pois isto é uma figura da cruz.” (79). Desta forma vemos que
Ireneu não possui um entendimento diferente de outros cristãos já vistos aqui, chegando a usar as mesmas
expressões e os mesmos textos.

Já Tertuliano, que viveu entre 190 e 220 D.C., é um exemplo de escritor latino. Ele também escreve
sobre o formato do stauros, como podemos ver: “Você pendura cristãos em cruzes (crucibus) e estacas
(stipitibus), que ídolo existe que primeiro é moldado em barro, depois pendurado em uma cruz e estaca
(cruci et stipiti)? É em um patibulum que primeiramente o corpo de seu deus é dedicado.” (Apologia 12.3).
Em outro livro, Contra Marcião, Tertuliano escreve também: “Não era certamente intenção de ser um
rinoceronte com um chifre ou um minotauro com dois chifres, mas nele Cristo está indicado, um touro de
acordo com as duas narrativas, para algumas pessoas austero como um juiz, para outros gentil como um
salvador, cujos chifres devem ser extremidades da cruz. Pois na antenna, que é parte da cruz (quae crucis
pars est), as extremidades são chamadas de chifres, e o unicórnio é o poste vertical do meio (medius
stipitis palus).” (Contra Marcião, livro 3, capítulo 18) No mesmo capítulo, Tertuliano diz: “De novo, por
que Moisés na ocasião onde Josué estava lutando contra Amaleque, sentou para orar e com as mãos
estendidas (expansis manibus)? ... Evidentemente por que naquela ocasião,... a forma da cruz (crucis) era
essencial.” No capítulo 23 do mesmo livro, Tertuliano comenta: “pois esta mesma letra TAU dos Gregos,
que é nosso 'T', tem a aparência da cruz(crucis)”. Finalmente, Tertuliano diz: “Se você quer ser discípulo do
Senhor, você deve tomar sua cruz e seguir o Senhor, ou seja, você deve tomar suas limitações e torturas em
seu próprio corpo, que é na forma de uma cruz”. (Sobre a Idolatria, 12). Assim, Tertuliano faz o mesmo tipo
de afirmações que outros escritores cristãos fizeram. Ele compara a cruz com a letra Tau grega, além de
dizer que o corpo humano tem o formato de uma cruz. Isto já indica que o formato que ele tem em mente
também é o formato composto de dois postes de madeira. Além disto, vemos mais uma vez a expressão
“estender as mãos”. Tertuliano também escreveu em seu livro, Ad Nationes, capítulo 12, o seguinte: “Todo
pedaço de madeira que é fixado no chão em uma posição ereta é uma parte de uma cruz, e de fato a maior
porção de sua massa. Mas uma cruz inteira é atribuída a nós, com sua trave transversal, claro, e seu assento
projetado.” Neste caso, Tertuliano descreve com mais detalhes como a cruz era composta naquela época.

Outro escritor latino foi Minucius Felix, que escreveu por volta do ano 200 D.C. o seguinte texto:
“Novamente, não adoramos nem depositamos fé em cruzes. Vocês que santificam deuses de madeira bem
provavelmente adoram cruzes de madeira como porções de seus deuses. Pois o que são seus estandartes,
bandeiras, e sinais senão cruzes adornadas e decoradas? Seus troféus de vitória não mostram apenas a
figura da cruz (simplicis crucis), mas também de um crucificado. Bem verdade que vemos o sinal da cruz
naturalmente desenhado no navio que navega pelo mar, ou impulsionado por remos estendidos, ou um
jugo (iugum) é colocado, é o sinal da cruz, e o mesmo faz um homem com as mãos estendidas (homo
porrectis manibus) devotando oferendas de adoração a Deus. Assim, o sistema da natureza se apóia no
sinal da cruz, ou sua religião é moldada conforme ela.” (Octavius, 29.6) Este escritor faz novamente
comparações entre o formato da cruz, e partes de um navio, além de usar mais uma vez a expressão
“estender as mãos”.

Depois de 325 D.C, outros escritores cristãos escreveram sobre a cruz e seu formato, confirmando o
que já tinha sido dito antes. Entre estes escritores, podemos citar Firmicius (346 D.C), “O que são estes
chifres que ele vangloria possuir? ... Os chifres significam nada mais que o venerável sinal da cruz. Por um
chifre deste sinal, aquele alongado e vertical, o universo é mantido acima e a terra mantida firme; e pela
junção dos dois chifres que aparecem ao lado o leste é tocado e o oeste é suportado... Você, Ó Cristo, que
suportou com mãos estendidas o universo, a terra e o Reino dos Céus... Para conquistar Amaleque, Moisés
estendeu suas mãos e imitou estes chifres.” (Erros da Religião Pagã, 21.3-6); Rufino (404 D.C.), “Estas
palavras, a altura e largura e profundidade, são a descrição da cruz. A porção dela que é fixada na terra ele
chama de profundidade. Por altura ele quer dizer a parte que se estende sobre a terra para cima, e por
largura as partes que estendem pelos lados direito e esquerdo... Seus (de Cristo) braços abertos, além disto,
segundo o profeta inspirado, ele manteve o dia inteiro pelos habitantes da terra, testemunhando para os
descrentes e dando as boas vindas para os fiéis.” (Comentário do Credo Apostólico, 14); Jerônimo (347-
420 D.C.); “'O dia inteiro Eu estendo minhas mãos a um povo descrente e contraditório.' As mãos do
Senhor levantadas para o céu não estavam pedindo por ajuda, mas nos abrigando, miseráveis criaturas.”
(Homilias 68) , “O que o indigno disse? 'Isto deveria ser vendido por trezendos denários', pois aquele que
seria ungido foi crucificado. Ele leu em Gênesis que a arca construída de Noé tinha trezentos cúbitos de
largura, trezentos cúbitos de comprimento e trezentos cúbitos de altura. Notem o significado místico dos
números... Trezentos contém o símbolo da crucificação. A letra T é o símbolo de trezentos.” (Homilias 84);
Agostinho (412-414 D.C.), “Então, 'sendo enraizados e fundados no amor', nós seremos capazes de
'compreender com todos os santos o que é o comprimento, a largura, a altura e a profundidade', que é a
cruz do Senhor. Sua largura signfica o poste transversal onde as mãos são estendidas, o comprimento do
chão até este poste é onde todo o corpo é preso, a altura do poste vertical para cima é o que está próximo à
cabeça, a profundidade é o que fica escondido, dentro do chão.” (De Doctrina Christiana, 2.41); “A figura
da cruz aparece neste mistério. Pois, aquele que morreu por que quis, morreu como ele quis. Não sem
razão, pois ele escolheu esta forma de morte, pois não escolheria morrer assim, exceto se ele não se
tornasse mestre de sua largura, comprimento, altura e profundidade. Pois, há largura no poste vertical, que
é pregado acima, que se referem às boas obras, pois as mãos são estendidas ali. Há comprimento na parte
que sai desta primeira e desce ao chão... A altura existe na parte que estende acima do poste vertical, e
aponta para cima, ou seja, para a cabeça do crucificado... e agora, de fato, a parte que não aparece, que é
enterrada e escondida, a partir de onde todo o resto se ergue, significando a profundidade da graça dada
gratuitamente.” (Epístola 26). Todos estes escritores concordam basicamente com os primeiros escritores
citados, ao dizerem que a cruz era composta de duas traves, não apenas de uma.

É muito interessante como nenhum escritor cristão fez algum paralelo envolvendo a crux simplex,
mesmo levando-se em conta que a crux simplex podia ser usada em alguns casos. Isto mostra não só que a
crux compacta era o padrão de crucificação na época, como também mostra que todo o cristianismo
sempre adotou a crux compacta como o instrumento usado na morte de nosso Senhor. Não se pode
demonstrar uma mudança de costumes, como se alega a Torre de Vigia e alguns autores antigos. Por que a
crux compacta era o padrão? Bem, o uso do sedile para prolongar o sofrimento do réu indica que os
romanos preferiam uma morte lenta. Assim sendo, o artigo a seguir talvez lance mais uma luz sobre o
formato da cruz adotada.

Causas da morte na cruz

Muitos debates aconteceram envolvendo as causas da morte na crucificação. Enquanto muitos


acreditavam ser causada por uma ruptura no coração, baseando-se no relato de João 19:34, que fala de
água e sangue saindo da ferida, patologistas como Zugibe (1984) mostraram que isto é medicalmente
insustentável.

Outros eruditos, como LeBec(1925), Hynek(1936), Barbet(1937) e Modder(1949) defendiam a tese de


que a morte ocorria por asfixiação. No entanto, pesquisas recentes demonstram que as causas são mais
complexas, e dependem da forma que o indivíduo é afixado na cruz.

Foi o que disse o doutor Zugibe, que estudou o sudário de Turim, e é um dos maiores especialistas no
assunto atualmente:

O terceiro e último argumento de Barbet diz respeito aos achados de relatórios do campo de
concentração de Dachau, onde vítimas foram suspensas com suas mãos diretamente sobre suas cabeças
fazendo com que elas tenham que se erguer com suas mãos para poderem respirar. Aplicar estas
observações à teoria da asfixiciação é como comparar maçãs com laranjas. Eis por que! Quando as mãos e
os braços estão levantados acima da cabeça para suportar o peso do corpo, temos uma situação totalmente
diferente de uma pessoa suspensa a um ângulo de 60 a 70 graus com o poste vertical. Se Jesus foi suspenso
com as mãos diretamente acima de sua cabeça, então realmente, haveria problemas para respirar, mas não
com a vítima suspensa com seus braços separados criando um ângulo de 65 a 70 graus. Até Barbet concluiu
que Jesus foi suspenso com um ângulo cerca de 70 graus.

"Zugibe"

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O fato é que a crux simplex fazia com que o condenado morresse em 1 hora. E se os pés do condenado
fossem fixados, de modo que o impedissem de respirar, ele morreria em até 10 minutos, como relata
Zugibe:
Se, contudo, as vítimas forem fixadas com suas mãos extendidas sobre suas cabeças e deixadas
penduradas, a morte pode acontecer em uma hora ou, em 4 a 10 minutos se as pernas da vítima forem
presas de forma que ela não possa usar seus braços para elevar o corpo para respirar. Para a respiração
ocorrer de forma normal dois músculos são requeridos, o diafragma e os músculos intercostais entre as
costelas. Com as vítimas sendo suspendidas por seus braços diretamente sobre suas cabeças, estes
músculos não podem funcionar apropriadamente o que resulta na inabilidade da vítima de respirar,
resultando na asfixiação. Testemunhas visuais dizem que prisioneiros de guerra em Dachau durante a
Segunda Guerra Mundial reportaram que vítimas suspendidas em vigas por seus pulsos onde foram
fixados, morriam em 10 minutos se houvesse pesos nos seus pés ou amarrados, e em uma hora se seus pés
ficassem livres e a vítima pudesse se levantar e abaixar para permitir respiração. A morte desta forma, que
é uma forma de crucificação, era resultado de sufocamento. (Barbet 1953).

"Zugibe"

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No caso da morte em outros tipos de cruzes, a situação é diferente. O patologista Zugibe, fez um
estudo com voluntários, onde ele os fixou em uma cruz, e monitorou suas respostas fisiológicas. Neste
estudo, nenhum dos voluntários apresentou qualquer dificuldade em respirar. Ele chegou à conclusão, que
a morte nestes casos poderiam acontecer por causa da vítima entrar em choque hipovolêmico, que seria
uma diminuição de volume de sangue e fluidos, que chegando em certo ponto, se tornava irreversível. Este
tipo de morte poderia ocorrer em horas ou dias, dependendo da forma que a vítima era fixada. De fato,
Josefo disse que três amigos seus haviam sido crucificados em Tecoa, que com intervenção de Josefo a
Titus, foram retirados das cruzes, e com cuidados médicos um sobreviveu (Vida 76).

O doutor Zugibe explica como no caso de Jesus, o choque hipovolêmico foi induzido:

A fim de chegar na mais provável causa da morte, é essencial examinar a sequência de todos os
eventos do Getsêmani ao Calvário, a severa angústia mental exibida no Jardim do Getsêmani causaria
algumas perdas em volume de sangue ambos pelo suor e por hematidrosis e provoca fraquesa marcada. A
tortura bárbara que usava um chicote composto de pedaços de couro contendo pesos de metal e ossos na
ponto causariam penetração na pele com traumas nos nervos, músculos e pele, reduzindo a vítima a uma
exausta, miserável condição com tremores, severo suor, freqüentes mostras de ataques e um desejo por
água. O resultado causariam um grau de choque traumático(feridas) e hipovolemia (perda de fluidos), o
último resultando do suar e do prévio estágio de acumulação de fluidos em volta dos pulmões (efusão
pleural) dos efeitos da tortura. Experimentos com animais de Daniels e Cate mostraram que golpes no
peito de animais resultaram em ruptura do espaço de ar no pulmão(alvéola) e espasmos nos tubos de ar
(brônquios). Além disso o termo “traumatic wet lung” (embolia pulmonar traumática) se refere ao acúmulo
de sangue, fluido e muco de um trauma severo (dano) ao peito. A conclusão do choque traumático de
tortura, foi também feito por ambos Tenney e Primrose. A irritação do nervo triangular e dos grandes
nervos occipitais do escalpo pela coroa de espinhos pela Espinheira Síria de Cristo, Zizziphus spina christi
especialmente depois de ele ter sido golpeado várias vezes com varas também contribuiriam para o choque
traumático. A lotada rua e a subida para o Gólgota no sol quente, com o pedaço da cruz nos ombros por um
tempo, caindo outras vezes, também contribuiu para o choque hipovolêmico e traumático. Os largos pregos
quadrados de aço atravessando por ambas mãos para a cruz danificariam os ramos sensoriais do nervo
médio resultando em uma das mais cortantes dores já experimentadas por pessoas e conhecida
medicalmente como causalgia. Os pregos através dos pés também produziriam uma grande dor. Estas
ambas poderiam causar um adicional choque traumático e hipovolêmico. As horas na cruz, com a pressão
do peso do corpo nos pregos pelas mãos e pés causariam episódios de torturante agonia toda vez que o
cruciarius se movia. Estes episódios e as duras dores na parede do peito por causa da tortura piorariam
grandemente o estado de choque traumático e o suor excessivo induzido pelo progressivo trauma e pelo sol
quente, que causaria um crescente grau de choque hipovolêmico.

"Zugibe"

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Estas informações ganham um peso maior ao serem comparadas com o testemunho bíblico. Segundo
Marcos, Jesus crucificado na hora terceira: “E era a hora terceira, e o crucificaram.” (Mc 15:25). Ele mesmo
diz quando Jesus morreu: “E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lamá
sabactâni? que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15:34) Isto indica que
Jesus levou 6 horas para morrer. Após tudo isto, Marcos registra ainda a reação de Pôncio Pilatos: “E
Pilatos se maravilhou de que já estivesse morto. E, chamando o centurião, perguntou-lhe se já havia muito
que tinha morrido.” (Mc 15:44). Podemos concluir que 6 horas era uma morte muito rápida para um
crucificado, o que descartaria a morte pela crux simplex, que duraria no máximo 1 hora.

Entre os Testemunhas de Jeová, há a noção de que Jesus sendo um homem perfeito, teria maior
resistência física. Assim, apresentam isto como explicação para o fato de Jesus ter ficado mais que 1 hora
no stauros. No entanto, a surpresa de Pôncio Pilatos por Cristo já ter morrido, e o fato de que os dois
ladrões crucificados com Cristo continuaram vivos depois das 6 horas mostra que este argumento não tem
peso.

Argumentação da Torre de Vigia

Depois de considerar todas as evidências acima, podemos responder à argumentação da Torre de


Vigia, sociedade que publica os livros das Testemunhas de Jeová. Como já foi dito, as Testemunhas de
Jeová argumentam que a cruz em algum ponto da história cristã, foi recebida como símbolo religioso,
oriundo do paganismo. Para eles, o instrumento de tortura era uma estaca ou poste ereto.

Para defender esta posição geralmente argumentam sobre o significado das palavras usadas para
descrever o instrumento de punição. Como já vimos no tópico sobre as evidências lingüísticas, as palavras
crux, stauros e xulon eram usadas para este fim, geralmente indicando um instrumento de duas traves de
madeira. No entanto, em publicações da Torre de Vigia, algumas citações são fornecidas de modo a
mostrar que estas palavras significavam apenas um poste ereto, e que estas palavras não poderiam indicar
nada diferente disto. Encontramos esta argumentação no livro Raciocínios à base das Escrituras, página
99.

A primeira citação é de The Imperial Bible-Dictionary, onde é dito:

No grego clássico, esta palavra significava meramente uma estaca reta, ou poste. Mais tarde, veio
também a ser usada para uma estaca de execução com uma peça transversal. The Imperial Bible-
Dictionary reconhece isso, dizendo: “A palavra grega para cruz, [stau-rós], devidamente significava uma
estaca, um poste reto, ou pedaço de ripa, em que algo podia ser pendurado, ou que poderia se usado para
estaquear [cercar] um pedaço de terreno.... Até mesmo entre os romanos a crux (da qual se deriva nossa
cruz) parece ter sido originalmente um poste reto.”

"Raciocínios à Base das Escrituras, pg. 99"

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Deve-se notar que aqui, a Torre de Vigia concorda que a cruz como conhecemos, foi usada como
instrumento de execução, apesar de dizer que no grego clássico stauros significava apenas uma estaca.
Resta definir melhor a que período de tempo eles querem dizer com “mais tarde”. Qualquer leitor
desinformado acreditaria aqui que seria muito depois da crucificação de Cristo. Como já vimos este não é o
caso. No entanto, nem precisamos recorrer ao que já foi dito acima, para responder este argumento. A
Bíblia não foi escrita em grego clássico, e sim, em grego Koiné, que surgiu no ano de 300 A.C. Se a palavra
em grego clássico teria mais tarde agregado o significado de cruz, quando o grego Koiné passou a ser
usado, stauros já indicava um instrumento com duas traves. Como vimos antes, 300 A.C. é o ano que
começamos a ver em escritos, referências à crucificação romana. Estranhamente, no apêndice da Tradução
do Novo mundo com referências, a questão do grego clássico e do grego koiné é melhor explicada.

Além disto, a citação acima não parece estar completa. A citação completa do The Imperial Bible-
Dictionary é:

A palavra grega para cruz, (stauros), significava propriamente uma estaca, um poste reto, ou pedaço
de madeira, em que algo podia ser pendurado, ou que poderia se usado para estaquear (cercar) um pedaço
de terreno. Mas uma modificação foi introduzida enquanto os próprios domínios e usos de Roma se
estenderam às nações de fala grega. Até mesmo entre os romanos a crux (da qual se deriva nossa cruz)
parece ter sido originalmente um poste reto. Mas do tempo que ele começou a ser usado como instrumento
de punição, uma trave transversal era comumente adicionada... Cerca do período do Evangelho, a
crucificação era normalmente executada suspendendo o criminoso em um pedaço de madeira em cruz.

"The Imperial Bible-Dictionary"


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Apesar de mencionar que stauros significaria cruz, a Torre de Vigia deixa de fora as partes da citação
que comprovam isto. Em um lugar mencionam as diferenças entre o grego clássico e o koiné, em outro não.
Tudo leva a crer que a sociedade Torre de Vigia elaborou estes artigos sem o menor rigor.

No mesmo livro, para fixar sua idéia sobre a tradução como estaca, citam o Greek-English Lexicon, de
Liddell e Scott, comentando sobre a palavra xulon:

É digno de nota que a Bíblia emprega também a palavra xý-lon para identificar o instrumento usado.
A Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott, define isto como significando: “Madeira cortada e pronta para
uso, lenha, madeiro, etc.... pedaço de pau, tora, viga, poste... porrete, cacete... estaca em que os crimisosos
eram pregados... de madeira verde, árvore.” Diz também “no NT, da cruz”, e cita Atos 5:30 e 10:39 como
exemplos.

"Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott"

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Segundo a própria citação feita pela Torre de Vigia, xulon no Novo Testamento significa também cruz.
Além disto, pelo dicionário percebemos que o termo xulon não define a forma, mas o material, que é a
madeira. Este dicionário, no mesmo verbete, diz que xulon era empregado também para colares de
madeira, colocados no pescoço de prisioneiros. Como exemplo, ele cita Atos 16:24. Por que isto não foi
mencionado também? Talvez pelos mesmos motivos da citação anterior. Além disto, deixou-se de fora um
comentário importante, que serviria para mostrar que xulon não define a forma do instrumento, apenas o
material.

No apêndice da Tradução do Novo Mundo de 1950, declara-se que a palavra latina crux significava
apenas estaca nos dias do historiador romano Lívio (59 A.C.- 17 D.C.), segundo está citado abaixo:

O fato que stauros era traduzido por crux nas versões latinas não fornece nenhum argumento contra
[a doutrina da estaca de tortura]... Uma cruz é somente um significado posterior de crux. Mesmo nos dias
de Lívio, um historiador romano do primeiro século A.E.C., crux significava uma mera estaca

"Tradução do Novo Mundo de 1950 inglesa, apêndice pg. 770"

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A Despertai de 22 de Junho de 1984 da mesma forma destaca:

A palavra latina usada para o instrumento onde Cristo morreu era crux que, de acordo com Lívio, um
famoso historiador do primeiro século D.C. significava meramente uma estaca.

"Despertai 22 de Junho de 1984, pg. 17"

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Finalmente a versão da Tradução do Novo Mundo publicada no mesmo ano diz:

“Nos escritos de Lívio, um historiador romano do primeiro século A.E.C., crux é uma mera estaca.
‘Cruz’ é um significado tardio de crux” (pg. 1577).

"Tradução do Novo Mundo de 1984 em inglês, pg. 1577"

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Note que a Torre de Vigia nunca cita nenhum texto de Lívio para comprovar suas declarações. Mas
uma análise cuidadosa das citações de Lívio nos mostra que o historiador nunca usa a palavra crux da
forma que a Sociedade diz. De acordo com a Concordância de Lívio, feita por Packard, a palavra crux
aparece, contando todas as suas formas, apenas 6 vezes em seus escritos (pg. 1011). Estas ocorrências são
citadas abaixo em seu contexto:

Assim ele chicoteou o guia, e para aterrorizar os outros, o crucificou (crucem sublato), e indo para o
campo atrás das trincheiras, despachou Maharbal com a cavalaria

"22.13.9"

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Cinco e vinte escravos foram crucificados (crucem acti) acusados de terem conspirado no Campus
Martius.

"22.33.2"

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Ele imediatamente após isto... ordenou eles [oficiais de alto escalão] a serem castigados e
crucificados(cruci adfigi). Então ele cruzou em seus navios para a ilha de Pityusa.

"28.37.3"

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Os desertores foram tratados mais severamente que escravos rebeldes, cidadãos latinos sendo
decapitados, romanos crucificados (crucem sublati).

"30.43.13"

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Alguns, que foram instigadores da revolta, ele castigou e crucificou (crucibus adfixit), outros ele os
entregou para seus mestres.

"33.36.3"

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Nisto eu de minha parte deveria confiar minha própria causa mesmo que eu estivesse pleiteando, não
ante o romano, mas ante o senado cartaginese, onde se diz que os comandantes são crucificados (crucem
tolli) se eles conduzirem uma campanha vitoriosa mas uma política falha.

"38.48.13"

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Cada uma destas referências são diretas e desprovidas de detalhes sobre a forma de execução,
nenhuma das afirmações indica a forma do instrumento usado. Quando Lívio se refere à crux simplex, ele
usa a palavra palus: “Presos a uma estaca (deligati ad palum) eles foram castigados e decapitados”
(28.29.11; cf. também 26.13.15). Assim, este clamor não é verdadeiro.
Comumente a Torre de Vigia faz uma relação da cruz como um símbolo pagão. Assim, sugere-se que a
cruz usada hoje é na verdade uma herança do paganismo. Para isto, citam livros como o dicionário de Vine,
que será melhor analisado. A citação diz:

“A forma da [cruz de duas vigas] teve sua origem na antiga Caldéia e foi usada como símbolo do deus
Tammuz (tendo a forma do Tau místico, a letra inicial do seu nome) naquele país e em terras adjacentes,
inclusive no Egito. Por volta dos meados do 3º. Séc. A.D.,as igrejas ou se haviam apartado ou tinham
arremedado certas doutrinas da fé cristã. A fim de aumentar o prestígio do sistema eclesiástico apóstata,
aceitavam-se pagãos nas igrejas, à parte de uma regeneração pela fé, e permitia-se-lhes em grande parte
reter seus sinais e símbolos pagãos. Assim se tornou o Tau ou T, na sua forma mais freqüente, com a peça
transversal abaixada um pouco, para representar a cruz de Cristo.” – Na Expository Dictionary of New
Testament Words (Londres, 1962), W. E. Vine, p. 256.

"Raciocínios à base das Escrituras"

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O grande problema na argumentação de Vine, é que a letra Tau que seria a letra inicial do nome de
Tammuz, é uma letra grega, e Tammuz é um deus babilônico. A escrita é totalmente diferente, como pode
ser visto na figura. O nome do deus Tammuz se divide em três partes: A primeira, que é a que mais se
parece com uma cruz, na verdade apenas indica que o nome a seguir é um nome divino. Não é a primeira
letra do nome de Tammuz. As outras duas partes é que são. A primeira letra, que seria a segunda parte, se
pronuncia dumu, e a parte final se pronuncia zi. Também não foi encontrada referências à tal festividade
mencionada por Vine. Assim, falta a comprovação daquilo que Vine diz em seu dicionário.

O nome acadiano de Tammuz.

Neste ponto, Vine parece se basear na obra publicada em 1853, chamada “The two Babilons”, de
Alexander Hislop. Ele foi um bispo anglicano, que escreveu este livro para estabelecer um vínculo entre o
culto católico-romano, e cultos da antiga Babilônia. No entanto, ao fazer isto, Hislop comete algumas gafes,
como não indicar referências, não se basear em estudos arqueológicos e fazer citações fora de contexto. Por
isto, seu livro é muito criticado hoje, mas foi a base para qualquer pessoa que quisesse estabelecer um
vínculo entre Roma e cultos pagãos. A Sociedade Torre de Vigia já citou muito este livro, no entanto, não
tem o mais citado desde 1976. Hislop é o único escritor sobre o assunto, que descreve o “Tau místico”,
sendo a letra inicial de seu nome.

Outra citação feita pela Torre de Vigia é do livro The Cross in Ritual, Architecture, and Art. A citação
diz:

“É um fato estranho, contudo inquestionável, que nas eras muito anteriores ao nascimento de Cristo,
e desde então, em terras intactas aos ensinos da Igreja, a Cruz tem sido usada como símbolo sagrado.... O
Baco grego, o Tamuz tírio, o Bel caldeu e o Odin nórdico foram todos simbolizados pelos seus devotos por
um instrumento cruciforme.” – The Cross in Ritual, Architecture, and Art (Londres, 1900), G. S. Tyack, p.
1.
"Raciocínios à Base das Escrituras"

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Nota-se que o texto não diz que a cruz no cristianismo surgiu por causa destas influências, apenas
estabeleceu semelhanças. Isto por si só não é o suficiente para provar nada. O mesmo diz a referência à
Enciclopaedia Britannica, que diz:

“Encontraram-se diversos objetos, datando de períodos muito anteriores à era cristã, marcados com
cruzes de feitios diferentes, em quase cada parte do mundo antigo. A Índia, a Síria, a Pérsia e o Egito
produziram todos inúmeros exemplos... O uso da cruz como símbolo religioso em tempos pré-cristãos e
entre povos não-cristãos pode provavelmente ser considerado como quase universal, e em muitíssimos
casos ligava-se a alguma forma de culto da natureza.” – Enciclopaedia Britannica (1946), Vol. 6, p. 753.

"Raciocínios à Base das Escrituras"

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Nas referências acima, não se estabelece uma relação entre os costumes cristãos e os costumes
pagãos. Tudo que se mostra é que eram parecidos. Dizer que cristãos e pagãos possuem costumes iguais
não prova que houve um empréstimo de costumes, como a Torre de Vigia quer mostrar. Para isto, eles
devem mostrar que a cruz foi realmente um poste horizontal, e que com o tempo, cristãos mudaram sua
forma. No entanto, baseando-se nas evidências fornecidas acima, rejeitamos este “empréstimo” como falso.
O costume romano sempre foi de crucificar seus prisioneiros em uma crux compacta, composta de duas
traves. A crux simplex era raramente usada.

Tenta-se ainda relacionar o símbolo da cruz ansada à cruz usada por cristãos. Duas referências são
dadas:

“A cruz na forma de ‘Cruz Ansada’ ... era carregada nas mãos dos sacerdotes e reis-pontífices egípcios
como símbolo de sua autoridade como sacerdotes do deus-Sol e era chamada ‘o Sinal da Vida’.” – The
Worship of the Dead (Londres, 1904) Coronel J. Garnier, p. 226;

"Raciocínios à Base das Escrituras"

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“Diversas gravuras de cruzes se acham em toda a parte nos monumentos e túmulos egípcios, e são
consideradas por muitas autoridades símbolo ou do falo [uma representação do órgão sexual masculino]
ou do coito.... Nos túmulos egípcios, a cruz ansada [cruz com um círculo ou uma asa em cima] se acha lado
a lado com o falo.” – A Short History of Sex-Worship (Londres, 1940), H. Cutner, pp. 16, 17; veja também
The Non-Chistian Cross, p. 183.

"Raciocínios à Base das Escrituras"

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Note que as citações nem citam a cruz cristã. A cruz ansada tinha um formato muito diferente da cruz
romana, e nunca foi usada como instrumento de tortura.

Outra citação interessante é a citação da Companion Bible:

“Usavam-se essas cruzes como símbolos do deus-sol babilônico, e são vistas pela primeira vez numa
moeda de Júlio César, 100-44 A.C., e daí numa moeda cunhada pelo herdeiro de César (Augusto), em 20
A.C. Nas moedas de Constantino, o símbolo mais freqüente é ; mas o mesmo símbolo é usado sem o círculo
ao redor, e com os quatro braços iguais, verticais e horizontais; e este era o símbolo especialmente
venerado como a ‘Roda Solar’. Deve-se declarar que Constantino era um adorador de deus-sol, e não quis
entrar na ‘Igreja’ senão cerca de um quarto de século depois da lenda de ter visto tal cruz nos céus.” – The
Companion Bible, Apêndice No. 162; veja também The Non-Christian Cross, pp. 133-141.

"Raciocínios à Base das Escrituras"

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A obra The Companion Bible possui vários erros, o que nos impede de tomar este trabalho como sério.
Entre seus erros, podemos citar o que ela diz sobre a palavra xulon:

2. O xulon, que geralmente denota um pedaço de pau ou madeira morta, ou lenha, para combustível
ou qualquer outro propósito. Não é como dredon, que é usado para uma árvore viva ou verde, como em
Mateus 21:8; Apocalipse 7:1,3; 8:7; 9:4, etc.

"The Companion Bible"

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O autor não demonstra ter conhecimento sobre as palavras que tenta explicar, já que xulon é usada
para uma árvore viva ou verde, nos seguintes textos:

(Lc 23:31) Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco?

(Ap 2:7) Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da
árvore da vida, que está no paraíso de Deus.

(Ap 22:2) No meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida, que produz doze
frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a cura das nações.

(Ap 22:14) Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes [no sangue do Cordeiro] para que
tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas.

Assim como o autor acima cometeu este erro, ele comete mais um: desconhece todas as referências à
crucificação no mundo antigo. Tanto que ele afirma depois que:

Ela [stauros] nunca significou dois pedaços de madeira pregados cruzados em qualquer ângulo, mas
sempre um pedaço apenas. Conseqüentemente o uso da palavra xulon (Número 2 acima) em conexão com
a forma da morte de nosso Senhor, e traduzida por “árvore” em Atos 5:30; 10:39; 13:29; Gálatas 3:13; 1
Pedro 2:24. Isto é preservado no nosso velho Inglês rood, ou rod. Veja a Enciclopédia Britânica, 11th
(Camb.) ed., volume 7, página 505d.

"The Companion Bible"

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No entanto, vimos acima que existem várias referências usando stauros, onde o autor indica o uso de
mais de um pedaço de madeira. Este apêndice parece se basear na obra de John Denham Parsons, que
comentaremos adiante. Inclusive, parece que há cópias de partes desta obra. O texto abaixo é o texto
original da Companion Bible:

"Our English word 'cross' is the translation of the Latin crux; but the Greek stauros no more
means a crux than the word 'stick' means a 'crutch'. Homer uses the word stauros of an ordinary
pole or stake, or a single piece of timber. And this is the meaning and usage of the word throughout the
Greek classics.... It should be noted, however, that these five references of the Bible to the execution of
Jesus as having been carried out by his suspension upon either a tree or a piece of timber set in the ground,
in no wise convey the impression that two pieces of wood nailed together in the form of a cross is what is
referred to. Moreover, there is not, even in the Greek text of the Gospels, a single intimation in the Bible to
the effect that the instrument actually used in the case of Jesus was cross-shaped" (Companion Bible,
Appendix #162).
"The Companion Bible, idioma original"

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A seguir, um trecho do primeiro capítulo do livro de John Denham Parsons, The non-Christian Cross,
no texto original:

Now the Greek word which in Latin versions of the New Testament is translated as crux, and in
English versions is rendered as cross, i.e., the word stauros, seems to have, at the beginning of our era, no
more meant a cross than the English word stick means a crutch. It is true that a stick may be in
the shape of a crutch, and that the stauros to which Jesus was affixed may have been in the shape of a
cross. But just as the former is not necessarily a crutch, so the latter was not necessarily a cross. What the
ancients used to signify when they used the word stauros, can easily be seen by referring to either the Iliad
or the Odyssey. It will there be found to clearly signify an ordinary pole or stake without any cross-bar. And
it is as thus signifying a single piece of wood that the word in question is used throughout the old Greek
classics....It never means two pieces of timber placed across one another at any angle, but always of one
piece alone....There is nothing in the Greek of the New Testament even to imply two pieces of timber.

"The non-christian cross, idioma original, capítulo 1"

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O trabalho de Parsons é interessante em muitos aspectos. A Sociedade Torre de Vigia o cita várias
vezes. Parece que ele é a fonte para o clamor que Lívio define o formato da cruz. No livro de Parsons,
encontramos o seguinte:

É portanto notável que mesmo esta palavra latina 'crux', de onde derivamos nossa palavra cruz e
crucificar não necessariamente em dias antigos indicava algo em forma de cruz, e parece ter tido pouca
diferença de significado do que seu significado original. Uma referência, por exemplo, aos escritos de Lívio,
mostrarão que em sua época a palavra crux, seja o que poderia significar, significava um simples pedaço de
madeira ou pau, ele o usa neste sentido.

"Parsons, The Non-Christian Cross, do capítulo 2, "A evidência de Minucius Felix"."

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No entanto, a referência fornecida por Parsons é de “Lívio, xxviii. 29”. Este texto é o mesmo citado
acima, que usa a palavra palus, não crux: “Presos a uma estaca (deligati ad palum) eles foram castigados e
decapitados”. Portanto, Parsons cita Lívio mas desconhece qual a palavra usada por este autor.

Parsons também cita Luciano:

A luz lateral jogada sobre a questão por Luciano vale a pena ser lembrada. Este escritor, se referindo a
Jesus, alude a 'Aquele sofista deles que foi preso a um skolops', cuja palavra significa um simples pedaço de
madeira, não dois pedaços juntos.

"Parsons, The non-christian cross"

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Esta é uma citação de De Morte Peregrini, e Parsons não se dá conta de que o verbo citado aqui por
ele é o mesmo usado em Lis Consonantium, 12, para se referir a um instrumento formado por dois pedaços
de madeira.

Parsons, apesar de fazer uma análise de todo o testemunho patrístico, deixa muito a desejar em sua
análise. Qualquer citação dos pais da igreja, ele pré-determina que são reflexos da influência pagã. Para
isto, ele aponta o fato de que os pais se concentravam mais na figura da cruz do que no que a morte de
Cristo significava, o que indicaria uma idolatria. Parsons parece se esquecer, que os pais antes de
Constantino, escreviam obras apologéticas. Elas visavam a defesa do cristianismo, portanto, se os pais da
Igreja defendessem o uso da cruz na morte de Cristo, e os romanos realmente não usassem cruzes em suas
crucificações, então estes pais da Igreja seriam ridicularizados perante todo o império.

Parsons ainda reconhece que Ireneu estava próximo dos apóstolos. No entanto, cita um trecho de
Contra Heresias para demonstrar que Ireneu não tinha muita informação sobre a morte de Cristo:

O que Ireneu diz a respeito de Jesus é:

'Eis por que passou por todas as idades, tornando-se criança com as crianças... da mesma forma se
tornou velho entre os velhos, para ser em tudo o mestre perfeito, não somente quanto à exposição da
verdade, mas também quanto à idade, santificando ao mesmo tempo os velhos e tornando-se também
modelo para eles. E chegou até a morte... dos quarenta aos cinqüenta declina na senilidade. Era nesta
idade que nosso Senhor ensinava, como o atesta o Evangelho e todos os presbíteros da Ásia que se
reuníram em volta de João, o discípulo do Senhor, que ficou com eles até os tempos de Trajano, afirmam
que João lhes trasmitiu esta tradição. Alguns destes presbíteros que viram não somente João, mas também
outros apóstolos e os ouviram dizer as mesmas coisas, testemunham isso tudo. Em quem mais devemos
acreditar: nesses presbíteros ou em Ptolomeu, que nunca viu os apóstolos e sequer em sonhos seguiu
algum deles?'

O leitor deve decidir por si mesmo se Ireneu acreditou que Jesus nunca foi executado; ou se ele foi
executado e sobreviveu; ou se ele nasceu quando supomos, mas executado trinta ou mais anos depois do
que supomos; ou então, que apesar de ser executado quando supomos, era um homem velho, e nasceu não
no começo, meio ou fim do ano 1 D.C, ou 4 A.C, ou qualquer outra data ortodoxa, mas trinta anos ou mais
antes do que chamamos nossa era. De qualquer forma, ele não menciona nem cruz nem execução, e aqui
parece assumir que Jesus morreu de morte natural. E em qualquer caso o fato se mantém, que por mais
errado que possa estar, Ireneu diz que Jesus chegou à velhice, e disse enfaticamente.

Mesmo admitindo que Ireneu possa estar errado, sua evidência não afeta em nada um dos mais
importantes pontos debatidos neste trabalho. Pois está claro que mesmo que ele soubesse um pouco sobre
a execução de Jesus, os detalhes desta execução não podem ser particularmente conhecidos; e a afirmação
que o stauros que Jesus foi afixado tinha uma barra horizontal pregada nele não está fundamentada em
fatos, e pode ter surgido de um desejo de ligar Jesus com um bem conhecido e largamente venerado
símbolo da vida, a cruz pré-cristã.

"Parsons, The non-christian cross"

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Assim, Parsons tenta demonstrar que Ireneu desconhecia os detalhes da morte de Cristo. Isto é falso,
e já vimos uma citação de Ireneu acima, onde ele deixa bem claro que o instrumento de morte usado por
Cristo é composto de uma barra horizontal.

Além disto, a citação de Parsons está incompleta. A citação completa mostra outra realidade:

Eis por que passou por todas as idades, tornando-se criança com as crianças, santificando as crianças;
com os adolescentes se fez adolescente, santificando os que tinham esta mesma idade e tornando-se ao
mesmo tempo para eles o modelo de piedade, de justiça e de submissão. Jovem com os jovens, tornou-se
seu modelo e os santificou para o Senhor; da mesma forma se tornou adulto entre os adultos, para ser em
tudo o mestre perfeito, não somente quanto à exposição da verdade, mas também quanto à idade,
santificando ao mesmo tempo os adultos e tornando-se também modelo para eles. E chegou até a morte
para ser o primogênito entre os mortos e ter a primazia em tudo, o iniciador da vida, anterior a todos e
precedendo a todos.

... Quando foi receber o batismo ainda não completara trinta anos, tinha apenas entrado nos trinta –
Lucas, de fato, indica a idade do Senhor com estas palavras: “Jesus estava quase começando os trinta anos
quando foi ao batismo” - e depois do batismo pregou somente durante um ano, completando os trinta anos
sofreu a paixão, quando ainda era homem jovem e não tinha ainda atingido uma idade avançada. Todos
estão de acordo que trinta anos é a idade de homem ainda jovem, idade que se estende até os quarenta; dos
quarenta aos cinqüenta declina na senilidade. Era nesta idade que nosso Senhor ensinava, como o atesta o
Evangelho e todos os presbíteros da Ásia que se reuníram em volta de João, o discípulo do Senhor, que
ficou com eles até os tempos de Trajano, afirmam que João lhes trasmitiu esta tradição. Alguns destes
presbíteros que viram não somente João, mas também outros apóstolos e os ouviram dizer as mesmas
coisas, testemunham isso tudo. Em quem mais devemos acreditar: nesses presbíteros ou em Ptolomeu, que
nunca viu os apóstolos e sequer em sonhos seguiu algum deles?”

"Ireneu, Contra Heresias"

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Como vimos, Ireneu de fato afirma que Jesus morreu jovem, e Parsons esconde isto. Os detalhes são
conhecidos sim, e como Ireneu atesta, a cruz com dois postes de madeira foi usada no caso de Jesus.

Voltando a discutir as referências feitas pela Sociedade Torre de Vigia, temos mais citações de seu
livro “Raciocínios à base das escrituras”:

No antigo Israel, os judeus infiéis choravam a morte do falso deus Tamuz. Jeová falou a respeito do
que faziam como sendo ‘coisa detestável’. (Eze. 8:13, 14) Segundo a história, Tamuz era um deus babilônio,
e a cruz era usada como símbolo dele. Babilônia, desde seu início, nos dias de Ninrode, era contra Jeová e
inimiga da adoração verdadeira. (Gên. 10:8-10; Jer. 50:29) Portanto, quando alguém preza a cruz, está
honrando um símbolo de adoração que é contra o verdadeiro Deus.

"Raciocínios à Base das Escrituras"

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Dizem ainda:

Conforme declarado em Ezequiel 8:17, os judeus apóstatas também ‘estenderam o rebento ao nariz de
Jeová’. Isto lhe era ‘detestável’ e ‘ofensivo’. Por quê? Este “rebento”, segundo explicam alguns
comentaristas, era uma representação do órgão sexual masculino, usado na adoração fálica.

"Raciocínios à Base das Escrituras"

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Vimos acima, que o relacionamento do culto a Tamuz e a cruz não está provado. Grande parte dos
textos não relacionam os símbolos de cruzes de povos pagãos, e os que fazem sequer apresentam uma
evidência conclusiva. Tanto estes autores quanto a Torre de Vigia ignoram os escritos apresentados no
início deste texto, a respeito da crucificação. A tentativa de relacionar paganismo com o formato da cruz
usado pelos cristãos é uma tentativa de preencher a falta de evidências que comprovem que a cruz usada
no caso de Cristo seria uma crux simplex. Sobre o simbolismo pagão da cruz, vamos citar finalmente um
texto bíblico, que a grande maioria das Testemunhas de Jeová desconhecem:

E disse-lhe o SENHOR: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal
as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se cometem no
meio dela. E aos outros disse ele, ouvindo eu: Passai pela cidade após ele, e feri; não poupe o vosso olho,
nem vos compadeçais. Matai velhos, jovens, virgens, meninos e mulheres, até exterminá-los; mas a todo o
homem que tiver o sinal não vos chegueis; e começai pelo meu santuário. E começaram pelos homens mais
velhos que estavam diante da casa.

"Ezequiel 9.4-6"

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O sinal dito em negrito é, no hebraico, a letra Taw, que no hebraico antigo, tinha a forma de cruz, e
que Vine acima diz que era símbolo de Tammuz. Assim, neste texto, os verdadeiros adoradores são
marcados com um Taw, fato que Tertuliano no século 3 D.C. chama a atenção. Este texto mostra que para
os autores bíblicos, o Taw ou o símbolo da cruz não possui esta carga de paganismo que a Torre de Vigia
tenta mostrar, e que Vine tenta defender.
Depois de tantos argumentos comparando a cruz com cultos pagãos, será que a Torre de Vigia está
disposta a viver aquilo que prega?

Entre os deuses cananeus, existia uma deusa chamada de Asherat. A palavra asherat também indicava
postes ou árvores sagradas colocadas perto de altares para venerar a deusa mãe Asherah. Na Bíblia, Deus
faz grande oposição a estes postes, mandando serem cortados. Alguns exemplos:

(Ex 34:13) Mas os seus altares derrubareis, e as suas colunas quebrareis, e os seus aserins cortareis.

(De 7:5) Mas assim lhes fareis: Derrubareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, cortareis os
seus aserins, e queimareis a fogo as suas imagens esculpidas.

(De 12:3) e derrubareis os seus altares, quebrareis as suas colunas, queimareis a fogo os seus aserins,
abatereis as imagens esculpidas dos seus deuses e apagareis o seu nome daquele lugar.

(De 16:21) Não plantarás nenhuma árvore como asera, ao pé do altar do Senhor teu Deus, que
fizeres,

(Jz 3:7) Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do
Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às aserotes.

(Jz 6:25) Naquela mesma noite, disse o Senhor a Gidão: Toma um dos bois de teu pai, a saber, o
segundo boi de sete anos, e derriba o altar de Baal, que é de teu pai, e corta a asera que está ao pé dele.

(Jz 6:26) Edifica ao Senhor teu Deus um altar no cume deste lugar forte, na forma devida; toma o
segundo boi, e o oferece em holocausto, com a lenha da asera que cortares

(1 Re 16:33) também fez uma asera. De maneira que Acabe fez muito mais para provocar à ira o
Senhor Deus de Israel do que todos os reis de Israel que o antecederam.

(2 Re 17:10) Levantaram para si colunas e aserins em todos os altos outeiros, e debaixo de todas as
árvores frondosas;

Veja como em Deuteronômio 16:21, a menção de árvore deixa claro que se trata de um poste de
madeira.

E o que Tertuliano disse no passado, é escutado hoje:

Se alguns de vós pensais que rendemos adoração supersticiosa à cruz, nessa adoração estais
compartilhando conosco. Se dais homenagem a uma peça de madeira, importa pouco qual ela seja, porque
a substância é a mesma: a forma é diferente, se nela tendes, de fato, o corpo de Deus. Entretanto, quão
diferente é do madeiro da cruz Palas Atenas ou Ceres, quando levantadas para venda numa simples estaca
bruta, peça de madeira sem forma!? Cada estaca fixada em posição vertical é um pedaço da cruz. Nós
rendemos nossa adoração, se quereis assim, a um Deus inteiro e completo.

"Apologia, 16."

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Bem, demonstrado a existência de adoração a postes, inclusive com referências bíblicas contra isto,
perguntamos: adotar a estaca como instrumento de punição para Cristo não seria o mesmo que adotar a
cruz? Será que a Torre de Vigia estaria disposta a abandonar este formato para o stauros por causa desta
relação com cultos pagãos?

Ainda existem comentários sobre os costumes dos primeiros séculos. Eles são:

É de interesse o seguinte comentário na New Catholic Encyclopedia: “A representação da morte


redentora de Cristo no Gólgota não ocorre na arte simbólica dos primeiros séculos cristãos. Os cristãos
primitivos, influenciados pela proibição de imagens esculpidas do Velho Testamento, relutavam em
representar até mesmo o instrumento da Paixão do Senhor.” – (1967), Vol. IV, p. 486.; e: Concernente aos
cristãos do primeiro século, a obra History of the Christian Church diz: “Não se usava o crucifixo e
nenhuma representação material da cruz.” – (Nova Iorque, 1897), J. F. Hurst, Vol. I, p366.

Devemos lembrar, que mesmo não tendo o costume de representar o instrumento da morte de Cristo,
ninguém negava que o instrumento era composto de duas vigas, fato este demonstrado nos escritos dos
primeiros cristãos, e que estão citados acima.

Outro argumento usado também é apelar para o lado emotivo da pessoa. É dito que:

Como se sentiria se um amigo seu muito prezado fosse executado à base de acusações falsas? Faria
uma réplica do instrumento de execução? Será que o prezaria, ou, antes, o evitaria?

"Raciocínios à Base das Escrituras."

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Provavelmente qualquer um vai concordar com a Torre de Vigia, que não faz sentido prezar o
instrumento usado para matar um ente querido. No entanto, o assunto principal não é fazer uma réplica do
instrumento, mas qual seria o instrumento. Se pensarmos pelo nosso lado, tudo faria sentido. No entanto,
também faria sentido abandonar a Ceia do Senhor, pois é uma comemoração da morte de Cristo. Quem
comemoraria a morte de um ente querido? Se devemos rejeitar assim o instrumento usado na morte de
Cristo, por que Paulo diz:

(1Co 1:18) Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos
salvos, é o poder de Deus.

(Gal 6:14) Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela
qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.

Por que Paulo se gloria na cruz de Cristo, enquanto a sociedade Torre de Vigia incentiva seus fiéis a
evitá-la? Certamente, há alguma coisa errada no ensino deles.

Sobre a passagem de Jo 21:18,19, a Torre de Vigia fez um comentário. Na Sentinela de 15 de


Dezembro de 1971, o seguinte texto foi publicado nas “Questões dos leitores”:

“O antigo historiador Eusébio reportou que Pedro ‘foi crucificado de cabeça para baixo, pedindo para
sofrer desta forma.’ Contudo, a profecia de Jesus não foi tão específica. Diz A Catholic Commentary on
Holy Scripture: ‘Como a extensão das mãos é colocada antes de cingir e ser levado, é difícil discernir como
foi concebido. Se a ordem é parte da profecia, nós devemos supor que o prisioneiro é preso ao patibulum
antes de ser cingido e ser levado para a execução’.

Então, se não fosse pela tradição escrita por Eusébio, a declaração de Jesus não seria interpretada
como uma morte por crucificação ou empalamento. Vendo as palavras de João 21:18, 19 sem a tradição,
nós tiraríamos a seguinte conclusão: em sua juventude Pedro era capaz de se cingir à vontade para
qualquer coisa que quisesse fazer. Ele tinha a liberdade de ir onde queria. Mas em sua vida posterior isto
mudaria. Ele teria que estender suas mãos, talvez em submissão a alguma pessoa. Outra pessoa teria
controle sobre ele, cingindo Pedro (ou o prendendo ou o preparando para algo porvir) e o levando para um
lugar que ele não queria ir, evidentemente o lugar de sua execução. Assim a profecia de Jesus sobre Pedro
realmente indicava a morte como mártir, mas a maneira não é implicada.” (p. 768)

"Sentinela de 15 de Dezembro de 1971"

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No entanto, a citação acima está incompleta. O que o Catholic Commentary on Holy Scripture diz, é:

As palavras tem algo da misteriosa obscuridade da profecia. Em contraste com a liberdade da


juventude de Pedro (se cingindo e andando onde queria), é definido este futuro evento misterioso na
velhice de Pedro. Se a contrapartida contém apenas dois termos, a saber, cingir-se por outros, como um
velho é ajudado a se vestir, e ser levado a um lugar não naturalmente desejado (um lugar de execução), a
profecia prevê somente uma morte violenta, não o modo de morte por crucificação. A extensão das mãos
deve ser portanto o termo especificamente correspondente à crucificação, mas como a extensão das mãos é
colocada antes de cingir e ser levado, é difícil discernir como foi concebido. Se a ordem é parte da profecia,
nós devemos supor que o prisioneiro é preso ao patibulum antes de ser cingido e ser levado para a
execução. João escrevendo depois da morte de Pedro nota que Jesus disse isto ‘significando por que tipo de
morte ele iria glorificar a Deus’.

"Catholic Commentary on Holy Scripture"

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Como vimos, o comentário na verdade diz que o “estender das mãos”, aquela velha e conhecida
expressão, é que define o tipo de morte a qual Jesus estava se referindo. Ao contrário do que a Torre de
Vigia quer provar, o comentário define sim o tipo de morte.

Sobre o testemunho patrístico, o que se sabe é que a Sociedade o discutiu apenas uma vez. É na
Despertai de 22 de novembro de 1976:

Mas escritores do início da Era cristã não clamam que Jesus morreu em uma cruz? Por exemplo,
Justino Mártir (114-167 C.E.) descreveu nesta forma o que ele achava ser o tipo de estaca onde Jesus
morreu: ‘Pelo que uma trave é colocada ereta, de onde a extremidade mais alta é erguida como um chifre,
quando a outra trave é encaixado nele, e as pontas aparecem em ambos os lados como chifres juntos no
outro chifre.’ Isto indica que Justino mesmo achava que Jesus morreu em uma cruz.

Contudo, Justino não foi inspirado por Deus, como os escritores da Bíblia. Ele nasceu mais de oitenta
anos depois da morte de Jesus, e não foi uma testemunha ocular do evento. Acredita-se que ao descrever a
cruz, Justino seguiu um escrito anterior conhecido como “A carta de Barnabé”. Esta carta não-bíblica
clama que a Bíblia descreve Abraão como tendo circuncidado trezentos e dezoito homens de sua casa.
Então ele deriva significado especial de uma cifra de letras gregas para 318, a saber, IHT. O escritor deste
trabalho apócrifo clama que IH representa as duas primeiras letras para Jesus em grego. O T é visto como
o formato da estaca de morte de Jesus.

Sobre esta passagem, M'Clintock and Strong's Cyclopaedia diz: ‘O escritor evidentemente desconhecia
as Escrituras Hebraicas, e também cometeu o erro de supor que Abraão estava familiarizado com o
alfabeto grego alguns séculos antes dele existir.’ Um tradutor desta carta de Barnabé para o inglês apontou
que ela ‘possui inúmeros erros, interpretações frívolas e absurdas das Escrituras’ e ‘tolas bazófias de
conhecimento superior que o escritor tolera’. Você confiaria em tal escritor, ou pessoas que o seguiram,
para prover informação sobre a estaca onde Jesus morreu? (p. 27).

"Despertai de 22 de novembro de 1976"

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O argumento é que tais escritores não são inspirados. Mas será que os escritores que a sociedade
Torre de Vigia cita para dar suporte à sua doutrina da estaca de tortura são autores inspirados? Justino
Mártir nasceu oitenta anos depois da morte de Cristo, os autores citados por eles nasceram mais de 1800
anos depois.

Em momento algum considera-se estes escritores como inspirados. Estes autores são citados para
demonstrar qual era o sentido da palavra stauros naquela época, e como o stauros era. Eles fazem parte da
evidência histórica, portanto, não se discute aqui a validade da interpretação alegórica da carta de Barnabé,
por exemplo. O que se discute é que esta carta, escrita pouco tempo depois da morte de Cristo, afirma que
o instrumento usado é uma cruz, quando a sociedade Torre de Vigia nega isto.

Dificilmente há uma ligação entre Justino e a carta de Barnabé. Os tipos usados pelos dois são
diferentes, sendo um os chifres e o outro a circuncisão.
Conclusão

Chegamos ao final da análise das argumentações relacionadas com a crucificação, e se o instrumento


usado era uma crux simplex ou uma crux compacta. Acreditamos então que, devido a tantas evidências
disponíveis, o instrumento de punição usada para nosso Senhor Jesus Cristo foi um instrumento composto
de duas traves de madeira, assim como sempre se creu.

Provavelmente com o intuito de diferenciar-se de outras denominações cristãs, a Sociedade Torre de


Vigia adotou algumas práticas bastante diferentes. Entre elas, a mudança do formato do stauros. Assim,
podem alegar com mais facilidade que estão separados do mundo.

No entanto, separar do mundo é não se deixar envolver pelo mundo. Estas pessoas demonstram não
estar realmente separadas do mundo, pois falharam em seguir os ensinamentos de Cristo, e agora criam
doutrinas que o mundo não seguiria. É desta forma que acabam sendo únicos.

É muito curioso que nas representações da cruz, os católicos geralmente a representam com Cristo
crucificado. Isto para eles simboliza os sofrimentos que Cristo passou por todos nós. Os protestantes
costumam representá-la como uma cruz vazia, simbolizando a ressurreição de Cristo. Testemunhas de
Jeová representam ela com uma trave apenas, talvez simbolizando a obra incompleta de Cristo, que eles
ainda tem que completar, observando ordenanças do tipo “não creiais que Cristo morreu em uma cruz”.

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