Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Revista de Literatura,
História e Memória
http://e-revista.unioeste.br 1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE
Reitor Diretora do CECA - Centro de Educação,
Alcibiades Luiz Orlando Comunicação e Artes
Elenita Conegero Pastor Manchope
Vice-Reitor
Benedito Martins Gomes Coordenadora do Mestrado de Letras
Aparecida Feola Sella
Pró-Reitora de Pesquisa
e Pós-Graduação Coordenadora do Colegiado de Letras
Fabiana Scarparo Naufel Português, Inglês, Espanhol, Italiano
Greice Castela
Pró-Reitor
de Graduação Líderes do Grupo de Pesquisa Confluências
Eurides Kuster Macedo Júnior da Ficção, História e Memória na Literatura
Lourdes Kaminski Alves
Diretor do Gilmei Francisco Fleck
C ampus de Cascavel
Paulo Sérgio Wolff
Revista de Literatura,
História e Memória
COMISSÃO EXECUTIVA
EDITORA CIENTÍFICA
Prof. Dr Acir Dias da Silva
Lourdes Kaminski Alves Prof. Dr Gilmei Francisco Fleck
Gilmei Francisco Fleck Profa. Dra. Lourdes Kaminski Alves
Profª Drª. Vanderci de Andrade Aguilera (UEL)
SECRETÁRIA
Tatiana de Oliveira Borges CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Acir Dias da Silva (UNIOESTE)
Prof. Dr. Antônio Donizeti da Cruz (UNIOESTE)
CONSELHO CONSULTIVO Profª Drª. Aparecida Feola Sella (UNIOESTE)
Profª Drª Alai Garcia Diniz (UFSC) Profª Drª Beatriz Helena Dal Molin (UNIOESTE)
Prof. Dr. Antonio Robereto Esteves (Unesp) Profª Drª Clarice Nadir von Borstel (UNIOESTE)
Prof. Dr. Benjamin Abdala Junior (USP/CAPES) Prof. Dr. Ciro Danke (UNIOESTE)
Prof. Dr. Gilmei Francisco Fleck (UNIOESTE)
Prof. Dr. Gilberto Mendonça Teles (PUC/RJ)
Profa. Dr.Ivo José Dittrich (UNIOESTE)
Prof. Dr. Gilmei Francisoc Fleck (Unioeste) Prof. Dr. João Carlos Cattelan (UNIOESTE)
Profª Drª Helena Couto Pereira (Mackenzie/ABRALIC) Profª Drª. Lourdes Kaminski Alves (UNIOESTE)
Prof. Dr. José Carlos de Almeida Filho (UNB) Profª Drª Maria Ceres Pereira (UNIOESTE/UFGD)
Prof. Dr. Moacir Amancio (USP) Profª Drª. Regina Coeli Machado (UNIOESTE)
Prof. Dr. Paulo Nolasco (UFMS/UFGD) Profª Drª. Rita das Graças Felix (UNIOESTE)
PERMUTAS
UNIOESTE – Campus de Cascavel
Revista Literatura,História e Memória
Rua Universitária, 2069 – Prédio de salas de aula – 3º Piso – sala82
85814-210 – Jardim Universitário – Cascavel – PR
2 http://e-revista.unioeste.br
COLEGIADO DE LETRAS
PORTUGUÊS - INGLÊS - ESPANHOL - ITALIANO
Revista de Literatura,
História e Memória
2010: reflexões sobre
o bicentenário de
independências na América
http://e-revista.unioeste.br 3
© 2010, Edunioeste
Capa e Diagramação
Antonio da Silva Junior
Revisão:
Gilmei Francisco Fleck, Abel Santos de Oliveira Júnior, Bruna Otani Ribeiro e Robert
Thomas Georg Würmli
Organização:
Gilmei Francisco Fleck
ISSN: 1809-5313
1.Literatura – Periódicos 2. Estética – Periódicos 3. Literatura
comparada – Periódicos I. Grupo de Pesquisa em Educação, Cultura,
Linguagem e Arte
CDD 20.ed. 809.05
ISSN 1809-5313
VOL. 6 - Nº 8 - 2010
APRESENTAÇÃO
U NIOESTE / CASCAVEL
P. 5-9
A pergunta mais complexa que nos moveu a tal eleição diz respeito à postura
da academia nesse contexto. Interessa-nos averiguar qual é a discussão que deve
ser levada a cabo pelo pensamento acadêmico nesse congestionamento de informações
sobre a efeméride e que papel representa esse pensamento para a sociedade como
um todo.
Talvez fosse o caso de começar pela própria expressão em si: Bicentenário
da Independência. Trata-se, como se pode notar, de uma efeméride comemorada
durante o ano de 2010, nos países hispano-americanos. Comemora-se, em vários
desses países, o segundo centenário de sua independência. Algumas perguntas
poderiam ser postas já de saída: se se comemora a independência é porque ela
ocorreu. Em que medida ocorreu e o que representa essa independência para a
situação atual desses países é a primeira discussão. Essa pode abranger diversos
âmbitos, como o político, o social, o econômico, o histórico, o cultural, e assim
por diante. O que representa, enfim para a população desses países os duzentos
anos de independência? Muito se pode dizer sobre isso, nos vários contextos, desde
aqueles que defendem a posição de que essa independência ainda não ocorreu
plenamente, até as mais variadas interpretações para o fato, a partir de uma simples
pergunta: o que é, enfim, ser independente em tempos atuais?
Outra linha de pensamento seria aquela que penderia para a problematização
da comemoração em si. Qual a função das efemérides para a sociedade e para os
grupos de poder nessas sociedades? Qual o sentido da celebração em si, com suas
comissões encarregadas de organizar congressos, desfiles e exposições, imprimir
livros, cartazes, faixas e selos, cunhar moedas e medalhas comemorativas, realizar
espetáculos artísticos, culturais e políticos, inaugurar obras grandiosas, umas não
tão faustuosas como outras, ou até mesmo preparar safras especiais de vinho com o
rótulo de “Bicentenário da Independência”, como vem ocorrendo desde o ano passado
em vários países hispano-americanos?
Discutir como cada comunidade cultural hispano-americana construiu o
discurso fundador de sua nacionalidade, escolhendo para essa construção os
elementos que pareceram significativos para aqueles que detinham o poder econômico
naquele momento é uma tarefa necessária. Refletir se esse discurso fundador ainda
tem sentido e como ele representa os diversos setores que constituem essas
comunidades também é, mais que interessante, necessário. A pergunta que deve ser
feita, mais que simplesmente sair à rua festejar uma data cujo sentido não entendemos
muito bem é: o que significa essa celebração para cada cidadão e também para quem
está patrocinando o desfile?
6 APRESENTAÇÃO http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, vol. 6 nº 8 2010 p. 5-9
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE C ASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
8 APRESENTAÇÃO http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, vol. 6 nº 8 2010 p. 5-9
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE C ASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
uma incipiente classe média cuja importância crescerá com o passar do tempo.
Pensar o Bicentenário é pensar tudo isso, uma tarefa, evidentemente complexa,
como a realidade do conjunto de países que escolheu o ano de 2010 para suas
comemorações. Tão complexa, enfim, como a realidade de cada um desses países.
Apresentamos, em seguida, alguns trabalhos, que no limiar entre a literatura, essa
forma privilegiada de ler a história; a história e a memória, propõem-se a contribuir
para essa discussão. Desejamos a todos uma boa leitura.
NOTAS
ISSN 1809-5313
VOL. 6 - Nº 8 - 2010
PRESENTACIÓN
PRESENTA
U NIOESTE / CASCAVEL
P. 11-15
FLECK, Gilmei Francisco (UNIOESTE/Cascavel)
Tradução (espanhol): RIBEIRO, Bruna Otani (UNIOESTE/Cascavel)*
http://e-revista.unioeste.br 11
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 11-15
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
12 APRESENTAÇÃO http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, vol. 6 nº 8 2010 p. 11-15
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE C ASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
14 APRESENTAÇÃO http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, vol. 6 nº 8 2010 p. 11-15
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE C ASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
NOTAS
P. 17-21
This year’s second edition of the Literature, History and Memory Journal
focuses its thoughts on the significant year of 2010, when the eyes of all Latin
American countries gazed upon the bicentennial anniversary of their processes of
independence from the European nations that colonized them. Among the most
significant aspects of this process, there lie fiction’s history replays, as the hybrid
texts – technically called historical novels – which afforded, in our continent, a
dimension that cast them as one of the most critical ways of writing past historical
events in the contemporaneous world, according to Aínsa7 (1988-1991) and Menton8
(1993).
According to Larios (1997, p. 133 – our translation from Spanish) the new
Latin American historical novel “[...] becomes critical of the present and tries, in
the conscious order of its generation, through the impugnation, the parody, the
irony, the deconstructionism, the anachronism, the simultaneity of an alternative
past, to reach to a totalizing vision of the world”. This is possible to happen once
this hybrid written “[…] installs in its new narrative knowledge specialized languages,
exclusive ones, intertextualized ones, with which it disputes with the scientifical
knowledge of History the final task concerning the historical past: its comprehension”
(LARIOS, 1997, p. 133 – our translation from Spanish)9 ..
The most complex question that led us toward such a choice relates to the
way Academy behaves in this context. It is our interest to verify which is the discussion
to be faced in face by the Academic thought in this jam of information on the
ephemeris and what role this thought plays for society as a whole.
Perhaps we had better start by explaining the following expression:
Bicentennial of Independence. As one can see, it is about an ephemeris celebrated
http://e-revista.unioeste.br 17
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 17-21
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
during the year of 2010, in American Spanish speaking countries, many of which
really reached their bicentennial anniversary. We could establish a few questions
right away concerning the thought that if independence is celebrated, it undoubtedly
happened. So, to what extent did it happen and what does it represent to the countries
where it occurred? That could lead to our first discussion here. This matter comprises
many aspects, as politics, society, economics, history, culture and so on. It is also
of interest to discuss what two hundred years of independence represents to these
countries. A lot can be said about it, in various contexts. We could, in this sense,
start from that point of view which defends the opinion that such an independence
did not yet occur, and then go to the most mixed interpretations for this fact, starting
with a simple question: in the modern world, what is it to be independent?
Another line of thought would be the one that tilted toward the problematic
of the celebration itself. What is the purpose of ephemeris for society and for the
groups of power within such societies. What is the sense of the celebration itself,
with the commissions trusted with the organization of congresses, parades,
expositions; printing books, posters, banners, seals; creating commemorative medals
and coins; carrying out artistic, cultural and political shows; making great deeds,
and others not so stately. Or even preparing special harvests for wines bottled as
“Bicentennial of Independence”, as has been happening since last year in many
American Spanish Speaking countries?
Discussing how each Spanish-American community built the discourse that
founded their nationality, picking the elements that seemed significant for those
who held economic power in their hands in that specific moment is also a necessary
task. Reflecting whether that founding discourse still makes sense and how the
numerous sectors that contribute to constitute these communities is not only
interesting, is also necessary. The question that remains, deeper than going out
onto the streets and celebrating something we do not entirely understand is: what is
the meaning such a celebration has to every citizen and also to the parade’s sponsors?
Generally speaking, one may say that the XVIII century played the role of a
ticket into Modernity, as we know it today. Then came the Industrial Revolution that
totally changed the ways of production in the world and the social and political
relations that resulted from them. Such changes reached the level of ideas, ending
up in rethinking the world and the role of the individual in this world, such era is
known as the Enlightenment.
After The Social Contract (1762), by Rousseau, or Declaration of the Rights
of Man (1789), among many other essays, the world was no longer the same. The
Independence of the United States of America, in 1776, and the French Revolution,
18 APRESENTAÇÃO http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 17-21
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE C ASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
in 1789, the bicentennial of which were celebrated with the deserved pageantry,
consolidated the transformations for good.
As a paradox, exporting the ideals of liberty, equality, fraternity, all coming
from the French revolutionary process, by the armies of Napoleon, caused a great
rearrangement in the European political map and, as a consequence, in the world
map. On the one hand, it made each and every individual feel like a citizen with
possibilities like aiming to be the owner of his own destiny. On the other hand, as
a reaction, it created a wave of nationalisms that ended up making some feel in a
way more equal than others.
That happens in Spain: the French ideas that intended to illustrate the country,
ridding it from the old plagues of the religious conservatism (the Holy Inquisition
was still alive), and from the imperialism that spoiled the American colonies which
were then paying the bills of an economy anchored in values from the Middle Ages
also give life to a rancorous, popular, but conservative nationalism. The 1808 French
invasion alights the illustrated dynasty of the Bourbons from the throne, replaced
by a puppet of Napoleon (his brother Joseph, spitefully nicknamed Pepe Botella by
the Spaniards). A popular reaction was immediate and there started the Spanish
War of Independence, which can also be considered a Civil War that would destroy
the country up to 1814. In the southernmost part of the country, the Courts of Cádiz
gathered to write the first Constitution of the Spanish history, voted for in 1812, but
was canceled because of its liberal content by king Fernando VII, the conservative
one sent back to the throne after the defeat of Napoleon.
That is the context of the prime manifestations of independence that occurred
along the vast Spanish colonial territory in the Americas. Just like the Spanish War
of Independence, it is a wide and complex movement. They are numerous
manifestations that include from revolutionary movements, according to the French
themselves, to simple motions of support, preventing the French king from grasping
the throne of Spain, in a defense of the Spanish king in prison. Between 1809 and
1811, practically every region of the vast Spanish management in America would
build Government Committees independent from the Spanish power.
The list of Spanish-American bicentennials all refer to these committees,
settled all along the year of 1810, and regarded as a landmark of independence, in
the construction of the founding discourses of the new nations that would surge
around the American territory in the following decades. The current Republics of
Venezuela, Argentina, Colombia, Mexico and Chile (in this chronological order),
countries whose independences are reinforced in the following decades, constitute
this 1810 list. Bolivia preferred to stay ahead, choosing as its bicentennial date,
20 APRESENTAÇÃO http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, vol. 6 nº 8 2010 p. 17-21
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE C ASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
NOTES
ISSN 1809-5313
VOL. 6 - Nº 8 - 2010
U NIOESTE / CASCAVEL
P. 23-24 SUMÁRIO
http://e-revista.unioeste.br 23
Novelas socializadoras para educar al soberano ..................................... 123
MOLINA, Hebe Beatriz
24 http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, POR EL CAMINO DE LA
História e Memória
2010: Reflexões sobre
INDEPENDENCIA: RELECTURA
o bicentenário de
independências na América
DE LAS LANZAS COLORADAS
ISSN 1809-5313 DE ARTURO USLAR PIETRI
VOL. 6 - Nº 8 - 2010
U NIOESTE / CASCAVEL
ZANDANEL, María Antonia (UNCuyo)*
mazandanel@hotmail.com
P. 25-44
RESUMO: Em 1931 o escritor venezuelano Arturo Uslar Pietri publica Las lanzas coloradas, seu
primero romance histórico, no qual textualizará um importante segmento da epopeia levada a
cabo pelo Libertador, Simón Bolívar e, ao mesmo tempo, ocupar-se-á de documentar um segmen-
to das guerras pela independência americana. Para comemorar esse destacado episódio elegerá
um dos períodos de máxima tensão dramática e de maior densidade histórica (1810-1814), o
momento em que se enfrentam as forças proclives à independência e as forças realistas, leais ao
rei da Espanha. A reminiscência da guerra é o tema central da obra e esse confere à obra o seu
caráter de matéria histórica de forma que se apodera da quase toralidade do espaço narrativo. O
objetivo do presente trabalho consiste em determinar o paradigma escritural dentro do qual
podemos suscrever o romance, tendo em conta que durante um lapso significativo de tempo ele
foi estudado como uma reconstrução mimética dos fatos. Hoje, a luz das chamadas reescrituras da
história e a partir dos avanços teóricos que conhecemos, podemos destacar aspectos que se
aproximam em forma precoce aos registros característicos do fim do século.
RESUMEN: En 1931 el escritor venezolano Arturo Uslar Pietri publica Las lanzas coloradas, su
primer novela histórica, donde textualizará un importante segmento de la epopeya llevada a cabo
por el Libertador, Simón Bolívar y, al propio tiempo, se ocupará de documentar un segmento de
las guerras por la independencia americana. Para conmemorar ese destacado episodio elegirá
uno de los períodos de máxima tensión dramática y de mayor densidad histórica (1810-1814), el
momento en que se enfrentan las fuerzas proclives a la independencia y las fuerzas realistas,
leales al rey de España. La reminiscencia de la guerra es el tema central de la obra y le confiere su
carácter de materia histórica al tiempo que se adueña de la casi totalidad del espacio narrativo. El
objetivo del presente trabajo consiste en determinar el paradigma escritural dentro del cual
podemos suscribir a la novela, teniendo en cuenta que durante un lapso significativo de tiempo
se la estudió como una reconstrucción mimética de los hechos. Hoy, a la luz de las llamadas
reescrituras de la historia y a partir de los avances teóricos que conocemos, podemos destacar
aspectos que se aproximan en forma temprana a los registros característicos de fin de siglo.
http://e-revista.unioeste.br 25
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 25-44
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
“Los clásicos son libros que cuanto más cree uno conocerlos de oídas, tanto más nuevos,
inesperados, inéditos resultan al leerlos de verdad”. Italo Calvino
[…] consideraré la obra histórica como lo que más manifiestamente es: es decir, una
estructura verbal en forma de discurso de prosa narrativa que dice ser un modelo, o
imagen de estructuras y procesos pasados con el fin de explicar lo que fueron
representándolos (WHITE, 1992, 14).
En 1931 Uslar Pietri publica Las lanzas coloradas, su primer novela histórica
donde textualizará un importante segmento de la epopeya llevada a cabo por el
Libertador, Simón Bolívar y, al propio tiempo, de las guerras por la independencia
americana. El motivo que conduce a la escritura de estas páginas que tanta
trascendencia habría de tener posteriormente fue, al parecer, una invitación que con
motivo de la celebración del Centenario de la muerte del general Simón Bolívar,
llega a Uslar; éste acepta con beneplácito la convocatoria y le dedicará toda su
formación humanística y sus vastos conocimientos de la historia americana. Para
ello, para conmemorar ese destacado momento histórico, elegirá Uslar uno de los
períodos de máxima tensión dramática y de mayor densidad histórica (1810-1814),
el momento en que se enfrentan las fuerzas proclives a la independencia y las
fuerzas realistas, leales al rey de España. La reminiscencia de la guerra, tema central
del registro que le confiere su carácter de materia histórica, se representa en esta
novela del escritor venezolano, se adueña de la casi totalidad del espacio narrativo
y encarna los avances de las fuerzas proclives a la independencia en procura de
desalojar a las fuerzas partidarias, leales al rey de España. Renaud, por su parte,
señala con certera precisión el hecho de que:
Las lanzas coloradas cautiva al lector imponiéndole unos primeros planos inolvidables
sobre la salvaje crueldad de la guerra. […] la novela ofrece, más allá de su dimensión
histórica, una visión degradada y brutal del ser humano, del individuo, reducido a una masa
ya convulsiva, ya amorfa de ‘carne’. (RENAUD, 2002, p. 721).
La trama general de Las lanzas coloradas es una versión desgarradoramente crítica de uno
de los momentos más trascendentes de la historia venezolana. Todo en ella evoca alteración,
trastorno, ruptura: la abundancia convertida en escasez y miseria, el orden en caos, la
mesura en desmesura, la civilización en barbarie […] Visiones y convicciones del propio
Uslar sobre lo que fue la evolución de la historia del país. Aluvionales, apocalípticas,
tremendistas, esas percepciones revelan la versión personal de Uslar. Como él mismo
reconoce: ‘Sentía que en el impulso destructor y creador de la Guerra de Independencia se
había revelado de un modo pleno la condición criolla de nuestra humanidad’.
Un sótano espacioso e iluminado por algunos tragaluces altos que se abrían bajo la maleza.
[…] Veinte rostros prematuramente graves lo observaban entre la tamizada luz de la cava.
Gustaba un placer mezclado de desazón. El misterio y la aventura se habían abatido sobre
él súbitamente. Historia de ladrón, de sociedad clandestina, de hombre que posee grandes
secretos. Volvía a la reconquista de un reino infantil. Lo miraba todo con un deslumbramiento
niño. (USLAR PIETRI, 2002, p. 50).
Fernando no quiso oír más. Se marchó sin hacer ruido. En su cerebro la confusión bailaba
una zarabanda desenfrenada. Miranda. Los ingleses. La sangre de los reyes. El Diablo. La
efigie quemada en plaza pública. Los reyes. Dios. Miranda. El Diablo. Sería casi un mareo
físico. ¿Quién era aquel hombre temible que había venido a turbar la vida de todos? Le veía
el rostro horrendo coronado de llamas y las manos tintas en sangre de rey. ¿Quién era
aquel ser espantable que venía como un castigo? (USLAR PIETRI, 2002, p. 48)
Ganaba y perdía a cada instante la conciencia de aquellos valores nuevos. Los ciudadanos.
La democracia. Sentía el deseo de repetirlo en baja voz como los niños sienten el deseo de
jugar con el juguete nuevo, de repetirlas, de decirlas a los otros, de oírlas murmurar
quedamente dentro de su cráneo. (USLAR PIETRI, 2002, p. 58)
Es innegable que la novela de Uslar Pietri se guía globalmente por un esquema lineal, pero
éste es doble, lo cual justifica la presencia de varias analepsis completivas y de no pocas
anticipaciones e indicios, destinados por una parte a acrecentar el suspense y por otra a
facilitar la orientación del lector en medio de un texto signado por la fragmentación, y
permite sobre todo un sofisticado juego de paralelos y contrastes, de conjunciones y
disyunciones, de cierres y aperturas inesperadas. También son de notar algunas elipsis de
valor dramático que apuntan a precipitar el curso de la acción. (RENAUD, 2002, p. 727)
Vemos cómo desde su primera página la novela inicia una suerte de encantamiento mágico,
oral, metafórico, fundado en este trabajo de la palabra, del lenguaje, lo que redefine el
concepto de novela para la literatura venezolana y latinoamericana y su relación en tanto
que nueva propuesta narrativa, con nuestra tradición literaria.
Las lanzas coloradas es, en efecto, una evocación espléndida de aquel gran movimiento en
que el alma americana se sacude la congestión de tres siglos de torpor colonial y se
estremece en frenéticos ademanes por encontrar en la sombra su propia conciencia. Es un
espectáculo cruento y terrible de desgarramiento: el primer período de la guerra venezolana
de liberación. (MAÑACH, 1991, p. 24).
Complejas fueron sin duda también las causas y los motivos que llevaron a
los patriotas a buscar la autonomía en cuanto ella implicaba la ruptura con la corona,
desavenencia en muchos casos no deseada o no vislumbrada como una necesidad o
como un hecho positivo por los lugareños; compleja sería también con posterioridad
la búsqueda de un aparente aunque necesario restablecimiento de normalidad política
entre los respectivos gobiernos que debería producirse, no sin antes solucionar una
sucesión de enmarañadas dificultades, que habrían de surgir a partir de las diversas
crisis que dicha ruptura traería aparejada.
Una significativa relevancia, que ya hemos señalado, adquiere el mundo de
las ideas en la novela de Uslar, y el autor se encarga de destacarlas y valorarlas a la
luz de los sucesos que anticipan; esas lecturas propician la búsqueda de la identidad,
y al propio tiempo alinean esos elementos que se conjugan y aglutinan para preparar
el advenimiento de los episodios bélicos; episodios estos que se encuentran
magistralmente destacados en el encuentro de Fonta al momento de contactarse con
quienes propician esta ruptura para frecuentar más tarde las lecturas que modulan
el escenario político sobre el cual los hechos se desatan y “contribuye(n)3 a reforzar
el tenor antiépico de Las lanzas coloradas, cuando se ejerce sobre el grupo de los
criollos patriotas, que Fernando Fonta visita en su clandestinidad antes de que
estalle la guerra”. (LASARTE VALCÁRCEL, 2002, p. 465).
Los primeros capítulos, anclados fundamentalmente en el nivel de la ficción,
tienen por finalidad presentar a los personajes que se mueven en el mundo creado
para encuadrar el antagónico comportamiento de ambas clases sociales: patrones y
criados y, simultáneamente mostrar el espacio que los cobija, los escenarios donde
se muestra la conformación del espacio de la propiedad de la familia Fonta, en su
confortable hacienda de El Altar. En este espacio familiar, acogedor, hospitalario,
transcurrirán los primeros momentos de la novela que mostrarán la bonanza de la
que gozan por esos tiempos los poderosos.
El relato dará un vuelco significativo a partir del viaje de Fernando a Caracas
acompañado por su padre para completar su educación y del que tendremos noticias
en estos primeros registros del relato. Aquí Fernando se contacta con un ámbito de
intelectuales quienes, en sus reuniones, discurren y comparten pensamientos que
Los sucesos narrados son protagonizados, por una parte, por personajes que
adoptan actitudes antagónicas respecto de la tendencia emancipadora y que, además,
encarnan y simbolizan ese parcelado fragmento de nuestra historia; dan cuenta, por
otra parte, de una visión no maniquea de los episodios en cuestión. No se trata aquí
del enfrentamiento de los buenos contra los malos, tampoco los representantes de
las fuerzas que apoyan los ideales de la Independencia reúnen la suma de valores:
baste como ejemplo de esto el caso emblemático de Fernando Fonta; pero tampoco
los partidarios del poderío español encarnan por su parte la suma de la malevolencia.
En todo caso, la novela se empeña en mostrar la complejidad que caracterizó
a los movimientos de emancipación y los confusos fermentos que la hicieron posible
desde el muestreo de la confusión de sensaciones que movilizaron a sus hombres,
e inclusive a partir de la ambigüedad de los sentimientos y las ideas que sostuvieron
la percepción y la visión de los episodios emancipadores. La novela destaca la
paulatina maduración de los pensamientos que se gestaron al amparo de la
clandestinidad:
-Entonces, según eso, todo lo que se necesita es hacer circular las ideas.
-Sí. Con eso sólo bastará. La acción de la democracia será milagrosa. Es una obra de
entusiasmo”. De la noche a la mañana, por la sola virtud de su verdad cambiará la faz del
mundo. (USLAR PIETRI, 2002, p. 58-59)
Al salir a la luz […] la novela tuvo una excelente acogida: se encomió el audaz virtuosismo
de su prosa signada por el impresionismo y una brillante concepción sinfónica, en una
palabra, se ensalzó el carácter novedoso de este texto que, aparentemente fiel a la clásica
novela histórica, se aleja sin embargo notablemente, ideológica y estéticamente, tanto del
modelo romántico a lo Walter Scott o de la novela realista española (Galdós, Baroja) como
de las novelas históricas venezolanas anteriores a él. (RENAUD, 2002, p. 53).
No entré por el camino de la novela histórica por gusto arqueológico o por manía
reconstructiva, sino porque pensé que para expresar lo nacional, fuera del mero paisajismo,
había que comenzar por buscarlo en las horas en que alcanzó su más alta y reveladora
tensión. Sentía que en el impulso destructor y creador de la Guerra de la Independencia se
había revelado de un modo pleno la condición criolla de nuestra humanidad. Fue el primer
momento en que el alma criolla pudo entregarse con fruición posesiva a la irrestricta
expresión de su ser. Por eso en mi novela lo reconstructivo tiene una importancia de marco
y todo el esfuerzo de expresar está concentrado en los seres y en su relación con los
sucesos. (USLAR PIETRI, 2002, p. 465).
del largo proceso emancipador de España que duró en Venezuela desde 1810 hasta
1821, los años cruciales fueron 1813 y 1814. (MILIANI, 1991, p. 115). También observa
el paulatino y sostenido florecimiento de una conciencia patriótica que consciente
pero también inconscientemente se gestaba en la mentalidad de los criollos más
jóvenes para eclosionar en un acto de ruptura. Y añade Miliani la cuestión acerca de
las motivaciones de quienes poseían o no condiciones para llevar adelante la causa
emancipadora y las razones que las sostienen:
Hijos de españoles, se hallaban vinculados por sangre y atavismo a la Corona. Sus padres
fueron, en la mayoría de los casos, mantuanos rancios con intereses bien fincados. Esta
adolescente aristocracia y la llamada casta de los pardos eran las únicas culturalmente
aptas para asimilar las ideas de la Enciclopedia y el contenido de la Declaración de los
Derechos del Hombre y del Ciudadano, que circulaban clandestinamente en traducción
castellana. […]. (THESAVRVS, 1968, p. 288-289).
CONSIDERACIONES FINALES
leídos y mentados a lo largo del tiempo faltan, sobre todo en los últimos tiempos,
los estudios críticos que desde miradas y perspectivas más actuales, apoyadas en
las nuevas teorías literarias, pongan en acto las nuevas corrientes de pensamiento,
al tiempo que acompañen y ponderen tamaño éxito de lectura y de aceptación crítica,
valorado y repetido a lo largo del tiempo. Maryse Renaud (2002), autora de una
significativa mirada de la obra, por su parte, destaca muy certeramente las posibles
y diversas focalizaciones, las eventuales relecturas que la prematura novela de Uslar
nos permite:
Hoy la relectura de Las lanzas coloradas nos depara nuevas posibilidades interpretativas:
a una dimensión que participa plenamente de las vanguardias de los años 20-30 se suma
otra, posmoderna, que permite enfocar esta novela como una obra precursora de la nueva
novela histórica latinoamericana. (RENAUD, 2002, p. 53- 54).
REFERENCIAS
BARTHES, Roland. S/Z. Trad. Richard Miller, 2.ed., Nueva York: Hill and Wang., 1995.
BOHÓRQUEZ, Douglas. “Las lanzas coloradas en el contexto de Venezuela y de Hispanoamérica”.
In: DELPRAT, Francois (Coord.). Las lanzas coloradas. Primera narrativa. Edición crítica. Barcelona,
Sudamericana, Colección Archivos, 2002, p. 465. Arturo Uslar Pietri. Obras selectas. Madrid-
Caracas, Edime, 1953, (idem, p. 1956, 1967), p. 572-573.
BRITTO GARCÍA, Luis. Por los signos de los signos. Caracas, Monte Ávila: Editores
Latinoamericana, 2005.
DABOVE, Juan Pablo. “Las lanzas coloradas: nación, vanguardia y guerra”. In: DELPRAT, Francois
(Coord.). Las lanzas coloradas. Primera narrativa. Edición crítica. Barcelona, Sudamericana, Colección
Archivos, 2002, p. 465.
DELPRAT, Francois. “Hombres para la historia, reflexión sobre las novela de A. Uslar Pietri”. In:
Literatura y Cultura Venezolanas. Ponencias del coloquio Literatura y cultura venezolanas. (Centre
d’ Études de Littérature Vénézuélienne, París 11, 12 y 13 de mayo de 1995). Presentación de
Francois Delprat. Caracas: La Casa de Bello, Colección Zona Tórrida, Encuentros, 1996.
FAUQUIÉ, Rafael. Espacio disperso. Caracas: Ediciones de la Academia Nacional de la Historia, col.
El libro menor, n. 42, 1983, p 196.
LASARTE VALCÁRCEL, Javier. “Transfiguraciones: poética e historia en Arturo Uslar Pietri”. In:
DELPRAT, Francois (Coord.). Las lanzas coloradas. Primera narrativa. Edición crítica. Barcelona,
Sudamericana, Colección Archivos, 2002, p. 465. Arturo Uslar Pietri. Obras selectas. Madrid-
Caracas: Edime, 1953, p. 1956, 1967; p. IX – XIV.
LLOVERA DE SOLA, N. “Hacia la nueva narrativa venezolana”. En: Revista Nacional de Cultura,
Caracas, n. 203, feb., 1972.
MAÑACH, Jorge. “El nacer de América”. En: El País, 1 y 4 de jul., 124-126, (1931). Reproducido en:
V.V.S.S. Las lanzas coloradas ante la crítica, Caracas: Venezuela, Monte Ávila Editores, 1991, p. 24.
MILIANI, Domingo. “La sociedad venezolana en una novela de Arturo Uslar Pietri. Aproximación
al análisis de Las lanzas coloradas”. In: Thesaurus. Bogotá, T. XXIII, nº 2, may.-ago., 1968, pp.280-
324;
MILIANI, Domingo et. alt. Las lanzas coloradas ante la crítica. Prólogo Domingo Miliani. Caracas:
Monte Ávila, 1991, p. 111-148.
MORALES PADRÓN, Francisco. Manual de Historia Universal. Historia de América. 2.ed;.T. VII,
Madrid: Espasa Calpe. 1975.
NÚÑEZ, Enrique Bernardo. Cubagua. Caracas: Monte Ávila Editores, 1972.
RENAUD, Maryse.“Uslar Pietri. Las lanzas coloradas: vanguardismo y posmodernidad”. In: DELPRAT,
Francois. En: Literatura y Cultura Venezolanas. 2002. Ponencias del coloquio Literatura y cultura
venezolanas. (Centre d’ Études de Littérature Vénézuélienne, París 11, 12 y 13 de mayo de 1995).
Presentación de Francois Delprat. Caracas: La Casa de Bello, Colección Zona Tórrida, Encuentros,
1996.
RENAUD, Maryse. “Las siete vidas de un clásico o Las lanzas coloradas ante el fin del siglo”. In:
DELPRAT, Francois (Coord.). Las lanzas coloradas. Primera narrativa. Edición crítica. Barcelona,
Sudamericana, Colección Archivos, 2002, p. 727. Arturo Uslar Pietri. Obras selectas. Madrid-
Caracas: Edime, 1953.
USLAR PIETRI, Arturo. Las lanzas coloradas y cuentos selectos. Caracas: Biblioteca Ayacucho,
1988.
USLAR PIETRI, Arturo. “Presentación”. In.: DELPRAT, Francois (Coord.). Las lanzas coloradas.
Primera narrativa. Edición crítica. Barcelona, Sudamericana, Colección Archivos, p. XV- XVI, 2002.
Arturo Uslar Pietri. Obras selectas. Madrid-Caracas: Edime, 1953.
WHITE, Hayden. El contenido de la forma. Narrativa, discurso y representación histórica. Trad.
Jorge Virgil Rubio. Barcelona: Paidós, 1992.
NOTAS
SOBRE A AUTORA:
P. 45-59
– Así es – replicó Sansón –-, pero uno es escribir como poeta y otro como historiador: el
poeta puede contar los casos no como fueron, sino como deberían ser; y el historiador los
ha de escribir, no como deberían ser, sí como fueron, sin añadir, ni quitar a la verdad cosa
alguna. (CERVANTES, 1997, p. 582).
En este sentido, novela histórica no es sin más la que narra o describe hechos y cosas
ocurridos o existentes, ni siquiera – como se suele aceptar convencionalmente – la que
narra cosas referentes a la vida pública de un pueblo, sino específicamente aquella que se
propone reconstruir un modo de vida pretérito, en su lejanía con los especiales sentimientos
que despierta en nosotros la monumentalidad. (ALONSO, 1987, p. 80).
pela linguagem, uma inversão de poder, uma crítica acirrada pela ironia, o humor e
outros recursos linguísticos.
Alejo Carpentier, romancista cubano, é considerado o precursor do Novo
Romance Histórico na América Latina, com a obra El reino de este mundo (1949),
sendo o caráter cíclico da história a característica determinante de seu estilo novelesco
– aspecto que García Márquez reelabora em sua obra El general en su laberinto,
pela própria metáfora que homenageia, primeiro a Borges e depois, ao autor de
Viaje a la semilla (1969).
A história oficial latino-americana guarda em seus arquivos um manancial de
acontecimentos que, ao serem abordados pelos romancistas históricos, enriquecem
o universo literário, propiciando a acessibilidade a relevantes informações sobre
este continente através da ficção. As peculiaridades restritas a determinado fato
histórico ou a seus protagonistas podem, através do romance histórico, revelar
aspectos importantes do passado de homens e mulheres, cúmplices na construção
de uma história que, inevitavelmente produzirá sempre diferentes versões, dependendo
de quem a escreva.
Na América Latina, o romance histórico, ao ficcionalizar a história, desconstrói
a visão tradicional dos fatos relatada através do olhar estrangeiro, para oportunizar
outras perspectivas, baseadas nos detalhes e particularidades da realidade onde os
fatos aconteciam, fomentando as possíveis incursões de protagonistas de grandes
ou pequenos episódios, sua vida privada, seu cotidiano, os bastidores de sua história,
com a perspicácia peculiar do nativo desta América, disponibilizando registros da
nossa cultura com as nuances obrigatórias de um passado que nos pertence, mas
que foi registrado apenas sob a visão do colonizador europeu. As angústias e os
sonhos de um povo que viu desestabilizada sua estrutura e posteriormente
massacrada sua cultura, podem ser retratadas pelo viés da ficção de forma a
proporcionar uma sutil identidade entre os leitores latino-americanos e seus
antepassados.
Segundo as definições de romance histórico, expostas por Seymor Menton
em La nueva novela histórica de la América Latina 1979 – 1992, enquadram-se nesta
categoria “ aquellas novelas cuya acción se ubica total o por lo menos
predominantemente en el pasado, es decir, un pasado no experimentado directamente
por el autor.” (MENTON, 1993, p. 32) e, corroborando esta opinião, Anderson Imbert
(1951, apud MENTON, 1993, p. 33) defende que: “llamamos ‘novelas históricas’ a las
que cuentan una acción ocurrida en una época anterior a la del novelista.” Não
obstante, o romance de García Márquez, El general en su laberinto, foi escrito em
1989, mas se reporta a fatos da vida de Simón Bolívar até sua morte em 1830,
amigos percebem a fragilidade de seu companheiro após uma visita em que ele, ao
despedir-se, lhes entrega uma medalha de ouro com sua efígie, gesto que repercutiu
como se fosse uma recordação póstuma, deixando escapar dos lábios de García del
Río, em baixo tom, a seguinte observação: “¯Ya tiene cara de muerto.” (GARCÍA
MÁRQUEZ, 2002, p. 150).
Ao mesmo tempo em que segue lentamente esta trágica viagem, o general faz
constantes paradas, nas quais revive seu passado e feitos heróicos que,
indelevelmente, compuseram um propício panorama para a construção do herói
mitológico, aclamado de norte a sul do continente, mas que o intrépido destino se
encarregou de transformar em um Quijote, obsecado pela esperança de reconstrução
de um mundo alicerçado na justiça e no ideal de união de todos os latino-americanos.
Este ser é, concomitantemente, atormentado pelo seu caótico micro-universo de
decepcionantes realidades. Assim como Cervantes reveste Don Quijote de atributos
que lhe facultam a capacidade de realizar as grandes façanhas que, em síntese,
representam os anseios do cidadão comum, mas desprovido da percepção das
conseqüências que estas podem provocar e sem avaliar as próprias limitações dentro
daquele processo, Gabriel García Márquez também resgata no tempo o valente
Bolívar, que desafia estruturas, rompe paradigmas, idealiza um sonho e tem como
seu fiel escudeiro José Palácios, homem que vive em constante simbiose com este
Quixote, abdica de sua própria existência para seguir um caminho à sombra de seu
amo, para servi-lo, conforme se pode ver no trecho selecionado:
José Palacios había entrado muy joven a su servicio, por disposición de la madre del
general, que era su dueña, y no fue emancipado de una manera formal. Quedó flotando en
un limbo civil, en el que nunca se le asignó un sueldo, ni se le definió un estado, sino que
sus necesidades personales formaban parte de las necesidades privadas del general. Se
identificó con él hasta en el modo de vestir y de comer, y exageró su sobriedad. (GARCÍA
MÁRQUEZ, 2002, p. 270).
América merecia o seu esforço e, numa tarde de verão no Monte Sacro em Roma –
lugar em que historicamente se haviam refugiados os plebeus romanos, em luta
contra os patrícios por uma igualdade de direitos –, movido pelo sentimento de
liberdade contra a opressão que a situação inspirava, Bolívar disse, com o vigor dos
seus 23 anos, ao seu amigo e professor Simón Rodríguez: “¯Juro perante você, juro
pelo Deus de meu país, juro pelos meus pais, juro por minha honra e pela pátria
que não darei descanso a meu braço, nem repouso à minha alma, enquanto não
romper os grilhões com que nos oprime o poder espanhol.” (CASTRO, 1973, p. 36).
Tal juramento foi relembrado pelo próprio Bolívar 20 anos mais tarde, quando
escreveu a Rodríguez:
‘- Lembra-se como escalamos o Monte Sacro para prometer sobre o seu solo sagrado a
liberdade de nosso país? Certamente eu não esqueci esse dia de glória imortal. Foi o dia
em que minha alma profética antecipou a esperança que não nos atrevíamos ainda a
expressar’. (CASTRO, 1973, p. 36).
muerta, nunca más la recordó, nunca más intentó sustituirla.” (GARCÍA MÁRQUEZ,
2002, p. 257). A morte de Maria Teresa mudou completamente o rumo de sua vida
e ele próprio chegou a admitir: “-Vejam vocês como são as coisas. Se eu não tivesse
enviuvado, minha vida teria sido outra; eu não seria o general Bolívar, nem o
Libertador, embora reconheça que minha vocação não era para ser alcaide de San
Mateo.” (CASTRO, 1973, p. 27). No íntimo ele sabia que, se não tivesse sido o que
foi, teria abdicado de sua vocação e consequentemente, não seria feliz. García
Márquez, ao configurar ficcionalmente sua personagem, vale-se destes traços da
personalidade do herói e cria situações em que Bolívar sufoca a ansiedade que sente
diante das tantas incertezas impostas pela vida e pelos percalços dos combates,
envolvendo-se em romances fugazes e libertinos; porém entre uma aventura e outra,
em seu eterno navegar, tem como porto seguro a quitenha Manuela Sáenz, que
sempre volta a ocupar seu lugar de amante oficial. O autor, por muitas vezes expõe
sua personagem a situações que corroboram essa verdade, como vemos a seguir:
Mientras tanto, se consolaba en un idilio múltiple con las cinco mujeres indivisibles del
matriarcado de Garaycoa, sin que él mismo supiera jamás a ciencia cierta cuál hubiera
escogido entre la abuela de cincuenta y seis años, la hija de treinta y ocho, o las tres nietas
en la flor de la edad. Terminada la misión en Guayaquil escapó de todas ellas con promesas
de amor eterno e pronto regreso, y volvió a Quito a sumergirse en las arenas movedizas de
Manuela Sáenz. (GARCÍA MÁRQUEZ, 2002, p. 157).
Dessa forma, a obra vai revelando detalhes de um Bolívar que lastreou sua
trajetória com atos de coragem, decisão, astúcia e se confirmou como grande
estrategista. García Márquez cita, em sua obra, através da fala da personagem Miranda,
quando questionada por seu pai, sobre Simón Bolívar, a seguinte comparação: “-He
feels he´s Bonaparte.” (GARCÍA MÁRQUEZ, 2002, p. 83) ou seja, ele se sentia o
próprio Napoleón. O estigmatizado mito, consagrado por suas grandes vitórias
“seguirá siendo el más grande de los colombianos hasta en los confines del planeta.”
(GARCÍA MÁRQUEZ, 2002, p. 78). Embora era assim que o vissem, na vida e nos
bastidores da política as coisas são como são e não como gostaríamos que fossem.
Deste modo, a narrativa romanesca expõe que não raras vezes Bolívar era surpreendido
por reveses que não lhe deixavam opções satisfatórias, como quando ofereceu a seu
grande amigo marechal Sucre o cargo de presidente, o qual o recusou. Com essa
resposta Sucre selou para sempre o destino de Bolívar, que afirmou: “-usted acaba
de tomar por mí la decisión final de mi vida.” (GARCÍA MÁRQUEZ, 2002, p. 27).
E a narrativa segue descrevendo em detalhes a sequência de ações atribuídas a
Bolívar através da personagem que, naquela noite redatou sua renúncia ao comando
Pela leitura feita, podemos afirmar que a literatura, com seus recursos,
sintetizou em El general en su laberinto, um período fundamental para o continente
Latino Americano: a independência do colonialismo espanhol. García Márquez
reescreve os momentos finais da vida de Bolívar, dando um enfoque especial ao lado
mais puramente humano do Libertador, revelando um homem que definhava aos
NOTAS
REFERÊNCIAS
SOBRE A AUTORA
P. 61-76
RESUMEN: Conspiración contra Güemes: una novela de bandidos, patriotas, traidores, de Elsa
Drucaroff, es una novela histórica de diseño complejo que juega con los reflejos entre el texto de
la novela y los paratextos historiográficos que la integran, y presenta una interacción dialógica
entre sus distintos discursos. La novela se centra en Martín Miguel de Güemes, el caudillo
heroico de la independencia sudamericana, marginado por la historiografía oficial. Usando paratextos
para aportar datos históricos controversiales, la novela adopta una postura irónica respecto al
debate histórico sobre la conspiración contra la vida de Güemes y sobre su conducta privada y
pública ubicando al lector en el centro de su composición deconstructiva/constructiva de la
historia.
PALABRAS CLAVE: Elsa Drucaroff; Martín Miguel de Güemes; Novela Histórica; Independencia
de América del Sur; Textos, paratextos y metatextos.
ABSTRACT: Conspiración contra Güemes: una novela de bandidos, patriotas, traidores, by Elsa
Drucaroff, is a historical novel of complex design that exchanges reflections between the text and
the historiographical paratexts and metatexts that are part of it, and presents a dialogical interaction
between its various narrative discourses. It focuses on Martín Miguel de Güemes, a chieftain and
hero of South American Independence, marginalized by the official history. Using paratexts to
convey controversial historical data, the novel adopts an ironic stand on the historical debate
about the conspiracy against Güemes’ life and on his private and public conduct, placing the
reader at the center of its historical deconstructive/constructive composition.
KEYWORDS: Elsa Drucaroff; Martín Miguel de Güemes; Historical novel; South American
Independence; Text, paratext and metatexts.
http://e-revista.unioeste.br 61
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 61-76
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
“[E]staba en la conciencia de todos que la idea innata de la república residía en las cosas
mismas, como que había nacido con la revolución y era inseparable de la idea de
mismas
independencia.” (MITRE, San Martin I, 1890, p. 74)
Desde las últimas décadas del siglo veinte la crítica especializada está
llamando la atención sobre la gran cantidad de novelas históricas que a partir de la
segunda mitad del siglo XX se han publicado en Hispanoamérica. Se ha clasificado
estas novelas bajo términos como “nueva novela histórica,” “nueva crónica de indias,”
“novela neobarroca,” “ficción de archivo,” “metaficción historiográfica” o “novela
histórica posmoderna” (VIU, 2007, p. 83). Algunos críticos como Seymour Menton
y Fernando Aínsa han atribuido esta obsesión por la historia a una conciencia
poscolonizadora que se vitaliza alrededor del quinto centenario del encuentro de
España y América. Por su parte, María Antonia Zandanel resume así el propósito de
estas novelas:
A partir de una lectura siempre crítica del pasado histórico florecen en la últimas décadas
estas reescrituras cuyo objeto es desmitificar y enjuiciar ese pasado histórico o, más
ajustadamente, determinados segmentos de la historia. También, y desde otra perspectiva,
ciertos registros habrán de privilegiar la mirada que atiende al acto de la escritura en sí
mismo [...] El foco de atención se centra, en estos casos, en el proceso mismo de la
escritura para subrayar la relación que se establece entre la historia y la ficción. (ZANDANEL,
2004, p. 58).
los personajes a los diversos niveles de lengua usados históricamente para dirigirse
a las personas según su clase social, su sexo o su edad. Todos los rasgos señalados
son caracterizadores de la nueva novela histórica según los críticos que primero se
han ocupado de ella como Fernando Aínsa, Seymor Menton, Noé Jitrik, por nombrar
sólo algunos.
La novela de Drucaroff narra los hechos ocurridos en el norte argentino
desde 1814 cuando “Güemes se fortalece como jefe gaucho de toda la resistencia”
frente al avance realista (DRUCAROFF, 2002, p. 344), hasta 1819, dos años antes
de su muerte, cuando fue objeto de un atentado homicida. De la rica historiografía
sobre el tema, la novela recoge los datos sobre esos años en un diseño complejo
que induce al lector a solazarse en el juego de reflejos entre el texto de la novela y
los paratextos historiográficos que la integran, y en el dialogismo que la autora
establece entre los distintos discursos dejando aun percibir por omisión, o por la
inclusión de algún metatexto, las palabras de los historiadores oficiales a los que
revoca sin citarlos explícitamente. De esta manera, la novela es una composición
que ubica a Martín Miguel de Güemes, un marginado por la historiografía oficial,
en el centro de la historia de la Independencia del Cono Sur. Revela también algunos
acontecimientos no tan conocidos de la vida del caudillo y, junto a ellos, la
intrahistoria de los detalles afectivos y personales de su vida íntima y la de aquellos
que formaron su entorno más cercano.
Don Martín Miguel de Güemes (1785-1821) fue hijo de una distinguida familia
de la sociedad salteña. Organizó a los gauchos de las estancias del norte en milicias
que con su estrategia de escaramuzas relámpago, sin dar nunca batalla formal,
enloquecieron a los ejércitos regulares españoles, algunos veteranos en las guerras
contra Napoleón, derrotándolos al impedirles el abastecimiento de vituallas y
caballada. Historiadores, como Mitre, Paz, Frías, coinciden en destacar el patriotismo
intachable de Güemes y su fidelidad indefectible hacia la causa de la Independencia.
Aunque San Martín aprobó y confió plenamente en las tácticas guerrilleras de los
gauchos, otros militares como Rondeau y French acusaron a Güemes de robo de
armas y caballos, y otros caudillos como Aráoz lo combatieron a pesar de que fue el
único que logró contener el avance de los realistas desde el Perú ofreciendo junto
con San Martín un doble frente que fue decisivo para la Independencia sudamericana.
El accionar de Güemes fue el obstáculo impenetrable para los ejércitos enviados
por el virrey del Perú que buscaban recuperar el Rio de la Plata penetrando por el
Alto Perú y por Chile. Sin Güemes, que debilitó constantemente las fuerzas españolas
entreteniéndolas en batallas que les causaban grandes bajas dejando casi impunes a
los gauchos, posiblemente San Martín no habría podido independizar a Chile y al
Perú y los bien equipados ejércitos realistas habrían hecho retroceder al ejército
argentino del norte replegado en Tucumán y habrían llegado hasta Buenos Aires que
vivía confiada en sus logros y hasta dispuesta a negociar con el enemigo. Por otra
parte, la desintegración de la unidad nacional en la anarquía del año 20 (causada no
sólo por los caudillos locales, sino también por el desorden económico y social que
trajo la guerra y la interrupción del comercio con el Perú) hizo que los líderes del
movimiento independentista en Buenos Aires, con la anuencia de algunas elites
provinciales, buscaran alguna forma de organización centralizada en Buenos Aires
aunque no fuera ni tan republicana ni tan democrática ni tan federal.
Por su apertura hacia las clases bajas, por su manera de ignorar instituciones
y convenciones sociales imponiéndose con su gran carisma y magnetismo personal,
y por sus eventuales aventuras amorosas con mujeres casadas o solteras de buena
familia o de baja condición social a pesar de estar unido en matrimonio con la hija
de una familia de alcurnia, Carmen Puch, Güemes fue el blanco de los ataques de la
dirigencia porteña y de un grupo de la oligarquía del norte que llegó a conspirar
para asesinarlo. Herido de un balazo en una emboscada española facilitada por un
traidor salteño (GÁLVEZ, 2007, p. 181-182), Güemes falleció a los 36 años rodeado
de sus oficiales a los que dio instrucciones de no cejar hasta expulsar a los realistas
definitivamente del territorio argentino, lo que efectivamente se cumplió un mes y
días más tarde.
La novela de Drucaroff se estructura en cuatro partes, en cada una de las
cuales el narrador omnisciente relata algunos aspectos de la vida de Güemes desde
el punto de vista de un personaje distinto cada vez: en la primera parte, el punto de
vista es el de Trinidad del Portal de Méndez Ibarlucía, la aristocrática amante jujeña
de Güemes, resentida por las desatenciones del caudillo que no compensan los
peligros que debe correr por él; en la segunda, la narración se focaliza en Manuel
Eduardo Arias, el soberbio y rencoroso comandante de Güemes que para emularlo
y sobrepasarlo llega a la traición; en la tercera, escuchamos la voz en primera
persona y entendemos el mundo y las pasiones del mulato Panana, quien, por su
brutal capacidad de violencia, es elevado al grado de sargento y convertido en la
mano derecha de Güemes para aterrorizar a la aristocracia del norte cuando el
caudillo debe recurrir a exacciones de dinero y bienes para mantener a sus tropas;
en la cuarta, el relato se centra en los conjurados para asesinar a Güemes y en
Loreto Sánchez de Peón de Frías, la distinguida dama de la aristocracia salteña que
con ayuda de la liberta Benita logró desbaratar la conspiración gracias a su experiencia
de espía y organizadora de “una red que comprometía a mujeres de todas las ciudades
que jalonaban el camino entre Salta y Lima” (DRUCAROFF, 2002, p. 115). Esta red
conspiraron para eliminar a Güemes. Con ello, se arranca del olvido a una figura
postergada en la historia oficial pero al mismo tiempo se cuestiona la validez de la
imagen blanqueada del Güemes aristocrático, para dar paso a la de un patriota
heroico pero no estatuario. Como dice María Antonia Zandanel “el andamiaje
paratextual ofrece al autor la oportunidad de jugar con el lector, impostando códigos
de lectura más propios de la ficción que de los registros historiográficos propiamente
dichos, hasta resquebrajar los parámetros de la especificidad de cada uno de ellos,
al cuestionar severamente las bases epistemológicas del conocimiento del pasado”
(ZANDANEL, 2004, p. 77).
En la primera parte, el epígrafe de Bernardo Frías confirma su intención de
destacar el predominio de la nobleza de Güemes sobre su condición de bandido. A
pesar de que el tema de la cita es la relación de Güemes con una señora casada
perteneciente a la alta sociedad jujeña, con un toque de cinismo el historiador lo
presenta defendiendo su vida íntima como un caballero de ley, como un soldado
valiente y como un gobernador con honra, quien pese a las exigencias de la sociedad
salteña logró conservar a su amante pero también contraer matrimonio con una
joven de familia distinguida, para confirmar así su pertenencia al estamento de la
gente decente.
El epígrafe que encabeza la segunda parte de la novela confirma por contraste
la creencia de Bernardo Frías de que la gente decente nace, no se hace. El comandante
Manuel Eduardo Arias –Arias a secas en la cita de Bernardo Frías— es un mestizo
hijo ilegítimo de un señor de la mejor sociedad jujeña y una india colla. Bernardo
Frías atribuye a Arias carencia de virtudes morales superiores porque “por su
condición social y por el medio en que se desenvolvió su vida, no había tenido
ocasión para recibir ni el ejemplo del hogar de rango, ni los principios morales que
educan y forman el espíritu de los grandes ciudadanos” (FRÍAS EN DRUCAROFF,
2002, p. 81).
En el texto de la novela el narrador pone este mismo prejuicio en la voz
falseada de la aristocracia jujeña que actúa por conveniencia: “[…] toda la familia
comentó admirada qué buen mozo y caballero era el gran militar y supo que
predominaba en él la nobleza de espíritu de los Arias Rengel, no la sangre de su
madre” (DRUCAROFF, 2002, p. 107). La falta de una formación virtuosa, dice
Bernardo Frías, lleva a Arias a envanecerse de sus triunfos militares y de la gloria
con que hipócritamente lo cubre la sociedad jujeña que lo necesita para su defensa.
El talento de Arias sólo le sirve, según Bernardo Frías, para asemejarse a Luzbel
que en su soberbia “se consideró igual y aún más que el Eterno” pues “de manera
semejante cegó el orgullo los ojos de este famoso gaucho, siendo sus dotes tan
Hay mucha plata en Salta […] patriotas o realistas, nuestros comerciantes siguen vendiendo.
Lloran miseria pero no es para tanto. El camino a Lima se terminó y sin embargo siguen
haciendo negocios. Hace tiempo que le venden al enemigo [...] Buenos Aires no sostiene
ya casi nuestra guerra y si queremos echar a los españoles tendré que obligar a los vecinos
a que contribuyan mucho más que antes. Hasta ahora pude mantener un equilibrio delicado:
pedirles ayuda concreta pero moderada (una ayuda que no les impedía llenarse los bolsillos),
proclamarlos como los heroicos sostenedores de la guerra, dejarlos contentos y apoyarme
en los pobres para combatir, en su auténtica voluntad de triunfar sobre los godos. Buenos
Aires no sabe hacer eso; no saben ganarse a los pobres, por eso le barren siempre el
ejército en el Perú. ¡Qué gente heroica es la gente humilde […]! ¡Qué desprendida! Uno
les da algo elemental, les reconoce lo mínimo, y ellos en cambio entregan la vida.
(DRUCAROFF, 2002, p. 159).
[...] no es sólo que yo defiendo al honorable pueblo de Salta de los godos…, también lo
defiendo de los gauchos. Esa misma gente feroz que está dispuesta a morir para echar al
español está dispuesta a matar a todos los ricos que se pongan en mi contra. No, están
atrapados: van a tener que terminar aceptando que la chusma existe y que hay que compartir
con ella por lo menos algo, un poco de poder. (DRUCAROFF, 2002, p. 161)
[S]on hombres despreciados, son hijos de esclavos arrancados de una tierra donde eran
libres, son indios vencidos y miserables, son bastardos sin padre que testifique su sangre,
son nadie. Nosotros los usamos para que trabajen y para que nos sirvan, para que mueran
por nuestras causas, la suya, la del rey, o la mía, los de los criollos de esta tierra. Las causas
de los hogares de señoras como usted, de los dos bandos. Ellos no tienen apellido, ni
origen, no tienen honra, dependen de nosotros, no existen. Existen solamente si les
damos un lugar. (DRUCAROFF, 2002, p. 25).
curiosamente junto con frases como “era el orden normal” “estaba en la naturaleza
del hombre” “residía en las cosas mismas” y otras semejantes parece una muletilla
no sólo en las obras históricas de Mitre sino también en general en la historiografía
argentina del siglo XIX imbuida de la causalidad determinista del naturalismo al
estilo de Taine. Mitre específicamente alude con estas frases a la fatalidad de la
centralización en Buenos Aires de la nueva nación que surgía de las luchas por la
Independencia.
Con esto, Mitre está afirmando que el “orden normal” al que se oponían los
caudillos del interior era una república unificada bajo el liderazgo de Buenos Aires.
En la novela, la frase “estaba en la naturaleza de las cosas” es varias veces repetida
con retintín paródico por varios personajes importantes, a veces a dúo, reconociendo
la presión del poder porteño sobre la voluntad y valores tradicionales de las
provincias, pero, al mismo tiempo, expresando una irónica y burlona negación de la
fatalidad natural de ese orden como la única y necesaria respuesta para la organización
nacional a costa del sacrificio de las provincias y de sus líderes: “Su muerte estaba…
- En la naturaleza de las cosas. ¿Me lo va a contar?” (DRUCAROF, 2002, p. 340).
Al parodiar la frase, la novela está citando indirectamente esa historia canónica
que ignoró el peso de las provincias en la organización nacional y la está superando
con la mezcla de apropiación y burla que implica la parodia. Tanto para Mitre como
para Paz y para Bernardo Frías, los únicos líderes revolucionarios que mantuvieron
claro el objetivo de la Independencia para todo el territorio nacional fueron San
Martín y Güemes pero estos historiadores comprendieron también que, por ello, su
exaltación hubiera sido una amenaza a la apropiación de la revolución y su dirección
por parte de Buenos Aires cuya supremacía según ellos “estaba en la naturaleza de
las cosas” o sea, respondía a una causalidad fatal. La novela de Drucaroff, al parodiar
el naturalismo de la frase, da a entender la causa humana, “bien humana”
(DRUCAROFF, 2002, p. 281), que motiva a los historiadores a no discutir los
intereses comerciales de Buenos Aires que luchó por mantenerse como sede del
gobierno nacional y como único puerto importante del país para recibir los opulentos
beneficios del monopolio de las exportaciones e importaciones.
Curiosamente, Alejandro Horowicz, historiador y periodista combativo
contemporáneo, a quien Drucaroff dedica el libro y además menciona entre sus
asesores, reitera también la misma frase como metatexto en su obra El país que
estalló pero con un significado inverso, como haciendo un guiño de inteligencia al
lector para que revierta la forzada interpretación naturalista de la fatal centralidad
de Buenos Aires con la que Mitre, entre otros historiadores, contradice, por su
compromiso con el bloque dirigente porteño, su reconocimiento de la importancia
de San Martín y de Güemes (HOROWICZ II, 2005, p. 90): “De modo que para
vencer era preciso que la guerra de Independencia deviniera batalla popular
continental; mientras no lo fuera, mientras las luchas se libraran por separado,
mientras sólo expresaran los acotados intereses del bloque portuario, la derrota
estaba en la naturaleza de las cosas” (HOROWICZ, 2005, p. 50).
La repetición del metatexto “estaba en la naturaleza de las cosas” con que los
personajes de Conspiración contra Güemes: una novela de bandidos, patriotas,
traidores parodian la causalidad aceptada por los historiadores canónicos de la
Independencia argentina responde por un lado a la aceptación de la premisa de que
hubo en ese momento de la historia argentina un potentísimo e invencible impulso
hacia la Independencia, mientras que, por otro lado, muestra que el tradicional
caudillo, herencia de la cultura colonial, no siempre generó luchas intestinas en
defensa de intereses locales y personales, sino que, como en el caso de Martín
Miguel de Güemes, sostuvo la causa de la Independencia nacional con su esfuerzo,
sus bienes y aun con su propia vida. Conspiración contra Güemes: una novela de
bandidos, patriotas, traidores se constituye así en una invitación a la complicidad
del lector en una conspiración que no es contra Güemes sino a favor de un mejor
conocimiento de su figura y de su significación para una historia nacional que
incluya a todos, a los ricos y a los pobres, a los negros, los blancos, los mestizos
y los mulatos, al interior y a Buenos Aires. El mensaje final de la novela es centrípeto,
la historia nacional como un gran vórtice que nos devora a todos y nos lleva a través
de su centro al interior del país donde arde un fuego que no se apaga, a otra
dimensión más transparente y equitativa donde existe un lugar para cada uno en
equidad y justicia.
REFERENCIAS
AÍNSA, Fernando. La nueva novela histórica latinoamericana. Plural, México, v. 240, p. 82-85,
1991.
_______. La reescritura de la historia en la nueva narrativa latinoamericana. Cuadernos Americano,.
v. 28, p. 13-31, 1991.
_______. Reescribir el pasado: historia y ficción en América Latina. Mérida, Venezuela: CELARG:
Ediciones El otro, el mismo, 2003.
CARO FIGUEROA, Gregorio. “Bernardo Frías, memoria familiar e historia local.” Iruya.com 5 junio
2006. 8 pp. 20 enero 2010. <http://www.iruya.com/iruyart/inicio-000251.html>
DEVOTO, Fernando, y Nora PAGANO. La historiografía académica y la historiografía militante en
Argentina y Uruguay. Buenos Aires: Biblos, 2004.
DRUCAROFF, Elsa. Conspiración contra Güemes: una novela de bandidos, patriotas, traidores.
Buenos Aires: Sudamericana, 2002.
FOUCAULT, Michel. “Las Meninas.” The Order of Things: An Archaeology of the Human Sciences.
New York: Vintage Books, 1970. 3-16.
FRIAS, Bernardo. Historia del general Martín Güemes y de la provincia de Salta o sea de la
Independencia Argentina. 6 v. Buenos Aires: Depalma, 1971-1973.
GÁLVEZ, Lucía. Martín Güemes: Baluarte de la Independencia. Buenos Aires: Aguilar, 2007.
HOROWICZ, Alejandro. El país que estalló: antecedentes para una historia argentina, 1806-1820.
Vol. 2. Buenos Aires: Sudamericana, 2005.
JITRIK, Noé. Historia e imaginación literaria. Las posibilidades de un género. Buenos Aires: Biblos,
1995.
MENTON, Seymour. La nueva novela histórica de la América Latina 1979-1992. México: Fondo de
Cultura Económica, 1993.
MITRE, Bartolomé. Historia de Belgrano y de la independencia argentina. Vol. II. Biblioteca Argentina
24. Buenos Aires: Librería La Facultad, 1927.
_______. Historia de San Martín y de la emancipación sudamericana. 2ed. corr. Vol. I. Buenos
Aires: Felix Lajuane, 1890.
PAZ, José María. Memorias póstumas del General José María Paz. Madrid: América, 1917.
POMER, León. La construcción de los héroes: Imaginario y nación. Buenos Aires, Leviatán, 2005.
SNYDER, Joel; COHEN, Ted. “Las Meninas and the Paradoxes of Visual Representation.” Critical
Inquiry. Winter, p. 429-447, 1980.
VIU BOTTINI, Antonia. Imaginar el pasado, decir el presente: La novela histórica chilena (1985-
2003). Santiago de Chile: RIL, 2007.
ZANDANEL, María Antonia. Los procesos de ficcionalización del discurso histórico en la leyenda
de El Dorado: Lope de Aguirre y la aventura marañona. Mendoza, Argentina: Facultad de Filosofía
y Letras-Universidad Nacional de Cuyo, 2004.
NOTAS
SOBRE A AUTORA:
P. 77-84
RESUMO: Os fatos históricos envolvendo as diferentes circunstâncias que deram origem aos
processos de independências na América latina são um material rico e substancial para a escrita
híbrida de história e ficção na qual se configuram as diferentes modalidades de romances históriocs
contemporâneos. Ao longo desse texto buscamos analisar como se dá a reescritura, pela ficção,
desse processo de independência no contexto brasileiro na obra Galantes memórias e admiráveis
aventuras do virtuoso Conselheiro Gomes, o Chalaça (1994), de José Roberto Torero. Nessa
obra, embora o foco narrativo seja o Chalaça, D. Pedro I – o Imperador do Brasil – é personagem
de destaque e sua configuração recebe tratamentos paródicos e carnavalizados, os quais humanizam
o herói sacralizado pelo discurso historiográfico. Destacamos também a forte intertextualidade
da escrita de Torero com a tradição hispânica da novela picaresca.
RESUMEN: Los hechos históricos envolviendo las diferentes circunstancias que dieron origen a
los procesos de independencia en la América latina son materiales ricos y sustanciales para la
escritura híbrida de historia y ficción en que se configuran las diferentes modalidades de novelas
históricas contemporáneas. A lo lardo de este texto buscamos analizar cómo ocurre la reescritura,
por la ficción, de ese proceso de independencia en el contexto brasileño en la obra Galantes
memórias e admiráveis aventuras do virtuoso Conselheiro Gomes, o Chalaça (1994), de José
Roberto Torero. En esta novela, aunque el foco narrativo sea el Chalaça, D. Pedor I – el Emperador
de Brasil – es personaje de destaque y su configuración recibe tratamientos paródicos y
carnavalizados, los cuales humanizan al héroe sacralizado por el discurso historiográfico. Desta-
camos también la fuerte presencia de la intertextualidad de la escritura de Torero con la tradición
hispánica de la novela picaresca.
http://e-revista.unioeste.br 77
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 77-84
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
[...] a trapaça do pícaro atinge o leitor: o narrador se esforça para identificar-se com o autor
implícito e assim aparecer como o autor real. Esse processo se constrói por meio de uma
motivação realista do texto que conduz o leitor a sentir-se perante um documento e não
perante um texto ficcional. (1994, p. 268).
que conducen a la exaltación grotesca del cuerpo. Desde el punto de vista de Chalaça,
en aquella ocasión, al emprender el trayecto de la ciudad de Santos en dirección a
São Paulo, la comitiva del Príncipe estaba sufriendo indisposiciones intestinales
provocadas por una costilla de cerdo fuertemente sazonada que habían comido en
Santos, “cujo resultado é a evacuação constante de uma matéria fecal mais líquida
do que sólida” (TORERO, 1994, p. 107).
De acuerdo con Bakhtin (1987, p. 16-17), la descripción de la satisfacción de
las necesidades naturales (como la defecación), así como la vida sexual, bebida e
imágenes del cuerpo en los puntos en que el cuerpo entra en contacto con el mundo,
se relacionan con el principio de la vida material y corporal, que, bajo la forma
carnavalizada de una situación o personaje, realizan la transferencia al plan material
y corporal, o de la tierra y del cuerpo en su indisoluble unidad, de todo lo que es
elevado, espiritual, ideal y abstracto. Un hecho que sufre la configuración discursiva
ficcional del Emperador brasileño en la escritura de Torero.
A lo largo del viaje, como expone el Chalaça, D. Pedro, acometido de fuerte
diarrea se ve obligado a interrumpir la marcha. En el instante de la parada para las
debidas necesidades fisiológicas, llega el correo con la correspondencia de la corte
con la noticia de que el Príncipe había sido destituido debiendo regresar a Portugal.
Chalaça afirma que ya desconfiaba que tal afronta sería contestada de algún modo
por Don Pedro: sin embargo, se sorprendió por la reacción ocurrir en el acto. De
acuerdo con su relato, que sigue los manuales de historia de Brasil, el Príncipe
ordena a los miembros de su guardia que echen fuera los símbolos portugueses
(TORERO, 1994, p. 109), saca la espada y montado en su asno, demuestra “que
estava tomado e que o seu pensamento não andava no mesmo passo que as suas
emoções” (TORERO, 1994:110) y grita la famosa frase de la independencia de Brasil:
¡Independencia o muerte!
Al final del capítulo, el narrador Gomes, destila ironia, comentando lo
narrado:“é essa história que se conta até hoje no Brasil, e eu dou fé que é verdadeira.
[...] como julguei sempre a minha primeira obrigação obedecer cegamente às ordens
do meu amo, considerei-me a partir daquele dia o mais devotado defensor daquela
causa” (TORERO, 1994, p. 110). La ironía adviene del cuestionamiento: ¿Quién es
Francisco Gomes para que su discurso sea visto como verdadero? Él asume para si
la autoridad de narrador y afirma la credibilidad de su discurso, él que poco se
menciona en la historiografía oficial.
Hay otros eventos históricos importantes recreados en la novela, como el
relato de la redacción de la primera Constitución brasileña. En el capítulo 36, se
narra que, frente al descontentamiento de la población con el acto autoritario del
Se tu és amigo da gramática, hás de ter reparado que escrevi „a? em vez de „uma?. É que
pela Titília ele esquecera as negras, as filhas dos oficiais, as esposas dos comerciantes e as
ciganas. A Mulher enfeitiçara o Imperador e o dominava com uma muito eficiente aplicação
da teoria do fluxo e do refluxo sanguíneo, conseguindo que ele atendesse seus caprichos.
Um deles era a chácara de Mata-Porcos, um belo solar onde Sua Alteza passava boa parte
do seu tempo. (TORERO, 1994, p. 127).
REFERENCIAS:
AÍNSA, Fernando. La nueva novela histórica latinoamericana. Plural, México, v. 240, p. 82-85, 1991.
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François
Rabelais. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo: HUCITEC, 1987.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Maria E. G. G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes,
1992. 7
GONZÁLES, M. M. A saga do anti-herói: estudo sobre o romance picaresco espanhol e algumas
correspondências na literatura brasileira. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
HUTCHEON, L. Poética do pós-Modernismo: história, teoria, ficção. Tradução de R. Cruz. Rio de
Janeiro: Imago, 1991.
LARIOS, M. A. Espejo de dos rostros. Modernidad y postmodernidad en el tratamiento de la
historia. In: KOHUT, K. (Ed.). La invención del pasado: la novela histórica en el marco de la
posmodernidad. Frankfurt; Madrid: Vervuert, 1997.
MENTON, S. La nueva novela histórica de la América Latina: 1979-1992. México D. F: Fondo de
Cultura Económica, 1993.
MILTON, H. C. As histórias da história: retratos literários de Cristóvão Colombo. 1992. 189 f. Tese
(Doutorado em Letras) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, São Paulo, 1992.
TORERO, J. R. Galantes memórias e admiráveis aventuras do virtuoso Conselheiro Gomes, o
Chalaça. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
SOBRE EL AUTOR:
RESUMEN: Álvaro Uribe (México D. F., 1953) es autor de varios relatos, traducidos al inglés, al
francés y al alemán; escribió una primera y brillante novela intitulada La lotería de San Jorge
(Andanzas, 2003), originalmente publicada en 1995. Entre otros libros: Recordatorio de Federico
Gamboa (1999), Por su nombre (2001), El taller del tiempo (2003), ganadora del Primer premio
de Narrativa Antonin Artaud y La parte ideal (2006). Este texto versará sobre El expediente del
atentado (Tusquets, 2007), que ficcionaliza un hecho histórico conocido: el atentado fallido
contra el Presidente Porfirio Díaz, ejecutado por Arnulfo Arroyo, el 16 de septiembre de 1897, en
vísperas del desfile militar conmemorativo del día de la Independencia, en medio de una multitud
congregada por los festejos patrios. A partir de este hecho, Uribe ficcionaliza este fragmento del
pasado, basándose, principalmente. en la investigación a cargo del escritor F. G. (o sea, Federico
Gamboa). Esta neonovela reflexiona sobre las complejas, lábiles e ineludibles relaciones textuales
entre Discurso Historiográfico y Discurso Literario (el de las neonovelas históricas).
ABSTRACT: Álvaro Uribe (México City, 1953) is the author of several reports translated into
English, French, and German. He wrote his first brilliant novel called La lotería de San Jorge
(Andanzas, 2003), first published in 1995. Besides other books he wrote Recordatorio de Federido
Gamboa (1999), Por su nombre (2001), El taller del tiempo (2003 - winner of the Price ‘Antonin
Artaud’ for narratives), and La parte ideal (2006). This text is going to be about El expediente del
atentado (Tusquets, 2007), which ficinlaizes an important historic event: the frustrated atentado
(16/09/1897) against the President Porfirio Díaz by Arnulfo Arroyo, near the military parade. The
investigation of Uribe is based in the official Mexican History and in the papers written by
Federico Gamboa. This essay investigates the complicated and fragile relations between
histroriographic discourse and fictionally discourse.
INTRODUCCIÓN
diferentes que tiene que ver con segmentos del hecho en cuestión: el atentado fallido
a Porfirio Díaz, durante los festejos del 16 de septiembre de 1897 y unos pocos días
posteriores al mismo. O sea, la novela, siendo un texto terminado, juega con mostrarse
como un texto previo a una redacción definitiva, pero se trata de un juego ficcional
que le otorga a la novela una dimensión verosímil, a la vez que ambigua los hechos
porque algunos textos re-escritos, estaban ya narrados por la Historiografía,
mezclados con algunos apócrifos, pero factibles y otros, aunque ya están organizados
y narrados también, aparecen ante los lectores como materiales no incluidos aún,
como materiales que los lectores pueden creer espiar por sí mismos y pensar que
ellos los organizan y llegan a sus propias conclusiones deductivas.
Esta estrategia estructural domina la novela, donde, por una parte, se presenta
el contexto sociopolítico del Gobierno de Porfirio Díaz, que sería seguido y aún
perfeccionado por otros gobiernos mexicanos posteriores, no obstante ser
descalificado y más aún denostado por sus antagonistas. Por otra parte, la descripción
misma del atentado que conserva rasgos de otros conocidos crímenes y magnicidios,
es decir, la presencia de un sujeto extraño, generalmente excéntrico, que de motu
propio , o a nombre de otros, ataca a su objeto elegido de manera más o menos
planificada por el agresor y/o sus autores intelectuales, es apresado y luego es
asesinado o desaparecido no sólo él, sino, después, él o los que se supone lo
mataron, siendo esta cadena, a veces, bastante extensa, compleja, y sobre todo,
progresivamente más y más confusa. De modo que, al comienzo, hay mucho interés
por todo lo que presentan los periódicos, lo que circula en la doxa, hasta que,
finalmente, el cansancio, el desánimo e inclusive el hartazgo de los antes interesados
termina por hacer caer el hecho en cuestión en comprensible olvido generalizado.
La novela está estructurada en tres partes, llamadas “Carpetas” y un “Colofón”,
que resume el futuro del pasado de los principales personajes. La “Carpeta I”, intitulada
“Arnulfo Arroyo”, con nueve apartados; la Carpeta II, intitulada “Eduardo Velázquez”,
con dieciséis apartados y la “Carpeta III” intitulada “Villavicencio y los demás”, con
trece apartados. La organización de los materiales puede llevar a pensar a los lectores
en un texto previo al definitivo y también en que Federico Gamboa ya tenía todo
listo, fuera para una investigación policíaca o fuera para una novela que nunca
escribió. Uribe, por su parte, escribe esta novela, pero le otorga el mismo carácter
inconcluso que Gamboa dejara como impronta de un fallido magnicidio históricamente
no profundizado, o sea, como neonovela histórica ofrece versiones alternativas a
las de la Historia oficial, pero no es concluyente y vuelve a dejar abierto el
“expediente” que da título a su novela, como tarea en suspenso para los historiadores
revisionistas.
RETRATOS Y MEMORIAS
y Álvaro Uribe. En sus obras literarias Gamboa manifestó actitud crítica frente a las
injusticias del Porfiriato - cárceles insalubres, sórdidos prostíbulos capitalinos, en
fin, la desigualdad entre unos pocos poderosos y la mayoría miserable - pero nunca
manifestó nada negativo acerca de Porfirio Díaz, “su caudillo”.
Uribe no juzga a Federico Gamboa literariamente, pero lo cuestiona como
hombre del poder en el Porfiriato, sobre todo, a partir de la lectura de su Diario
(URIBE, 2007, p. 249), donde Gamboa confiesa el temor de que su bohemia vida
privada se hiciera de conocimiento publico; lo humaniza, mostrando sus debilidades
de hombre pusilánime y aún exhibe sus miserias privadas, al presentar las cartas de
su enamorada Cordelia que, por otra parte, tenía también una conducta no del todo
edificante, ya que se mostraba enamorada de F.G., pero, ya viuda, estaba por casarse,
por conveniencia económica, con el Jefe de Policía, Eduardo Velázquez, persona
calificada como despreciable por la vox populi y también por Uribe.
Por esas cartas se aprecia que la relación amorosa era tormentosa y por las
cartas de respuesta de F.G., que él quería mantenerla en secreto y así se lo exigía a
ella, hasta que, al final, rompe esa relación llena de inconvenientes para su posición
política, la cual vuelve a reestablecerse cada vez más deteriorada, lo cual no exculpa
al varón egoísta y convenenciero. El tratamiento cariñoso que Cordelia, “tu Cordelia”,
le brinda en estas cartas – ficcionales, por supuesto – se hace plausible porque el
retrato está pintado con trazos gruesos e impiadosos: el “Pajarito”, invocado
progresivamente en las cartas como “Mi amado Pajarito” (URIBE, 2007, p. 67),
“Queridísimo Pajarito” ( URIBE, 2007, p. 135), “Pajarito añorado” (URIBE, 2007,
p.187) y “Pajarito distante” (URIBE, 2007, p. 229) vocativos con los que nombra
dulcemente a F.G., desde el 18 de setiembre de 1897, en la ciudad de México, se
explica por el apodo que tenía F.G., por ser para sus enemigos “un pájaro de cuenta”,
aunque en la última carta, Cordelia, ofendida por la misiva en que el amado le pide
la separación mientras se aclara el asunto del linchamiento de Arroyo ( URIBE,
2007, p. 149), que sentía como definitiva, y más aún la del 20 de octubre de 1897,
dirigida a “la Cordera de mis pecados” (URIBE, 2007, p. 268), donde la considera
la única culpable de la pasión amorosa y le sugiere abandonar la ciudad rumbo a
Querétaro, ella le contesta atacando verbalmente al ingrato, llamándolo “Pájaro de
cuenta” (URIBE, 2007, p. 269).
El narrador, que le ha retirado el crédito al amante convenenciero, da un
matiz irónico, festivo y logra la franca hilaridad de los lectores, porque la pasión
amorosa ha desaparecido y sólo queda el muy revelador tratamiento rencoroso e
irrespetuoso de la malquerida y hasta bastante soez, de ambos amantes
desenmascarados. La vida pública no puede esconder la privada, llena de miserias,
XVIII- de Arroyo, sólo exculpando al Mayor Bellido y la serie intitulada ”Los que
saben”, 1, 2 y 3, repartidos en cada carpeta (URIBE, 2007, p. 47, 125 y 315), donde
el esclarecedor discurso de los hechos se atribuye, en cada caso, a un plural verbal,
“dicen”, con sujetos anónimos– hay que destacar la breve “Farsa en un acto”, que
también pudo haber escrito Gamboa, aunque no lo hizo, sobre los hechos y el
juicio seguido a los culpables del linchamiento de Arnulfo Arroyo, y que transcurre
en la Ciudad de México, entre el 15 y 22 de septiembre de 1897.
En el último capítulo, intitulado “Tiro de gracia” (URIBE, 2007, p. 325-326),
del Diario de F.G., éste confía haberse casado con una señorita que no identifica
para no mancillar su nombre y espera que sean sus futuros hijos los herederos de
las llaves de su baúl secreto, donde ellos conocerán la vida del padre en cierta
época y por qué no se atrevió a seguir siendo así” (URIBE, 2007, p. 326).
El Colofón de esta neonovela histórica, que ha permitido a sus lectores una
saludable y salvífica incertidumbre histórica, sintetiza, con las glorias del pasado
independentista, algunos hechos ignominiosos que, desafortunadamente, se asemejan
mucho al presente histórico de fines del siglo XX y comienzos de este siglo XXI
porque recuerda que los diez inculpados por el asesinato de Arnulfo Arroyo –
Antonio Villavicencio, Miguel Cabrera, Mauro Sánchez, Ignacio Pardavé, Sabino
Vázquez, Aracadio Sepúlveda, Antonio Cervantes, Francisco Huindzardt, Vicente
Noriega y Genovevo Uribe – después de seis años de apelaciones, consiguieron
que sus defensores obtuvieran un nuevo juicio, el 4 de junio de 1903 y ocho días
después fueron absueltos, quedando como único culpable el fallecido –
supuestamente por suicidio – Jefe de Policía Eduardo Velásquez, como único culpable.
A principios de 1911, meses antes del triunfo de la Revolución y del obligado
destierro de Porfirio Díaz rumbo a Francia, Antonio Villavicencio fundó una agencia
de detectives privados, formada por la mayor parte de sus antiguos agentes de la
policía capitalina, dedicados a espiar a Francisco I. Madero, con la especial
colaboración de Genovevo Uribe, quienes fueron apresados por el gobierno
provisional de la Revolución y liberados a los pocos días, por falta de pruebas que
los inculparan.
El expediente del atentado re-escribe la Historia con un discurso literario
incisivo que denuncia las falsas verdades y/o los olvidos de la Historia oficial,
vinculando pasado y presente históricos, con la insistencia cada vez más necesaria
y urgente sobre el hecho incontrovertible de que el pasado no cambia, pero sí su
organización factual e ideológica y, por lo tanto, la consecuente percepción de ese
pasado.
NOTAS
REFERENCIAS
Data de recebimento:03/05/2010
Data de aceite para a publicação: 09/08/2010.
SOBRE A AUTORA:
http://e-revista.unioeste.br 97
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 97-111
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
La lectura de Viva o povo brasileiro (1984), de João Ubaldo Ribeiro; Lealdade (1997), de Márcio
Souza e Anita (1999), de Flávio Aguiar, muestra como la literatura puede leer de modo privilegi-
ado los signos de la historia.
Pode-se dizer que Viva o povo brasileiro (1984), de João Ubaldo Ribeiro,
seja um roman-fleuve (MOISÉS, 2004, p. 407), que à semelhança do curso de um
imenso rio, através da sucessão da história de várias gerações, conta a própria
história do Brasil. Para ser mais exato, conta a história do povo brasileiro pela
metonímia de dois núcleos familiares originados na ilha de Itaparica, no recôncavo
baiano. Assim, ao longo de mais setecentas páginas, desfilam ante os olhos do
leitor acontecimentos que abrangem praticamente toda a história do país, desde o
século XVII até a última ditadura militar do século XX. Esses acontecimentos, como
se fossem um imenso desfile de carnaval, plenos de elementos paródicos, tentam
representar, não sem certo maniqueísmo por parte da voz narrativa, aquilo que o
escritor considera que seja a essência do povo brasileiro. Tempos e espaços, que
tratam de obedecer a uma lógica diversa do racionalismo cartesiano que marca boa
parte da cultura ocidental, se entrecruzam tendo como sustentação a concepção
temporal cíclica advinda da cosmogonia do Candomblé, marca importante da cultura
daquela parte do país.
De certa forma o romance trata de corroer os pilares da história hegemônica,
em geral escrita pelos brancos vencedores, e apeia de seus pedestais os falsos
heróis erigidos por uma casta econômica e social que, para manter seus privilégios,
não hesita em falsear os fatos. A narrativa tenta, enfim, colocar em cena os verdadeiros
protagonistas da formação do povo brasileiro. Desde o princípio, os protagonistas
dessa espécie de epopeia ao revés são personagens populares, embora os episódios
da história nacional e regional formem uma espécie de pano de fundo para guiar o
leitor ao longo da história do país, como ensina o modelo clássico do romance
histórico consolidado desde o início do século XIX.
Para este trabalho interessa o primeiro capítulo do romance, que trata de um
episódio da independência da Bahia, ocorrida em 1823, quase um ano depois do
mentado Grito do Ipiranga. Nesse sentido, adquire especial relevância o fato de o
relato começar in media res: o romance começa com o episódio da independência,
para depois voltar aos acontecimentos do período colonial.
No processo de construção/descontrução dos heróis da independência da
Bahia, o romance trata de dois personagens. O primeiro deles, o alferes José Francisco
Brandão Galvão, cujo nome altissonante já faz parte do processo paródico, transforma-
se em herói por acaso e merece que lhe dediquem uma tela e que lhe levantem uma
estátua em sua natal ilha de Itaparica. Morreu na flor da idade, sem saber por que,
vítima de um disparo de um barco português que o atingiu quando ele caminhava
tranquila e distraidamente pela praia. Sua alma levanta voo e dá continuidade a uma
genealogia popular que povoa toda a narrativa, chegando até o século XX.
No outro extremo, o português Perilo Ambrósio Góes forja seu heroísmo ao
matar um escravo, empapando-se com seu sangue, para falsificar as feridas que não
tem, uma vez que acompanhou a principal batalha da luta da independência desde
longe, descansando tranquilamente à sombra de uma jaqueira. Além disso, ele constrói
um falso relato de sua participação heroica e não hesita em cortar a língua de outro
escravo, que tinha sido testemunho de tudo. Assim, o romance de João Ubaldo
Ribeiro ensina que o heroísmo da classe dominante é duplamente construído de
modo falso: com o sangue e com o emudecimento das classes dominadas.
Como se isso fosse pouco, Perilo Ambrósio não duvida em trair sua própria
família, de origem portuguesa, para apossar-se de suas propriedades e agradar às
novas autoridades brasileiras. Com esse duplo ato de traição, o português muda de
lado e se transforma em brasileiro, rico e poderoso. Como prêmio, pelo heroísmo e
pelas doações, ele recebe um título de barão do Império do Brasil e funda uma das
genealogias cuja história o romance conta: a dos dominadores, evidentemente.
A narrativa descortina, com várias tonalidades de ironia e paródia, algumas
das quais bordeiam o puro grotesco, uma história falsa, construída pela oligarquia
local, baseada na elaboração de falsas genealogias, manipuladas de acordo com o
modelo europeu e o desejo de criar origens nobres e tradicionais. Pelo lado dos
oligarcas se constrói uma identidade falsa baseada não apenas na expropriação de
negros e mestiços, sejam escravos ou livres, mas também pelo roubo, pela corrupção
e pelos crimes de diversas espécies.
No entanto apesar de todo seu esforço, Perilo Ambrósio, o barão de
Parapuama, é estéril e morre sem deixar herdeiros. Sua riqueza é apropriada, também
através de uma série de armadilhas, por seu contador Amleto Ferreira-Dutton,
personagem através do qual o narrador ironiza a elite econômica baiana do século
XIX, fundada no falseamento: a riqueza conseguida por meio de negociatas e a
genealogia construída de modo artificial. O mulato bastardo Amleto inventa para si
uma origem inglesa e cria um sobrenome, apagando de suas origens a mãe negra e
disfarçando de modo grotesco seus traços físicos. Casa sua filha com um enteado
incompetente do estéril barão de Parapuama, selando a relação entre as duas famílias.
Perfeita união entre a riqueza expropriadora e as grandes negociatas realizadas
com ações cartoriais, sagrada pelo título de nobreza do império brasileiro.
A carnavalização, comum no romance histórico contemporâneo, contribui
para a inversão dos valores, sinalizando para uma releitura crítica da história, com
o objetivo de manter viva a chama da memória cultural. Assim, ela está presente em
todo o romance. O festim pantagruélico, nas pegadas de Bakhtin, é trabalhado de
modo ambivalente: quando se trata das elites, o grotesco carnavalizado leva a um
sentido por negação. O barão de Parapuama, por exemplo, é sempre associado a
uma figura grotesca, balofa, lambuzado de comida e sexo. Ele surge no primeiro
capítulo, “sentado embaixo de uma jaqueira, com as pernas esticadas e abertas,
comendo um pão de milho e dando dentadas enormes num pedaço de chouriço
assado” (RIBEIRO, s.d., p. 20), observado pelos escravos famintos, que sofrerão a
ação de suas maldades.
Não apenas comilança desenfreada, mas também a associação ao sexo e às
zonas baixas do corpo está presente. Já na primeira aparição ele passa “a mão gorda
e peluda pelo traseiro de Feliciano”, dizendo “pois destes cus da tua família ainda
não tive o meu quinhão completo, e chegará o dia em que te chamarei a meu quarto
para que te ponhas de quatro e te enfie essa chibata pelo vaso de atrás, que nisso
hás de ser bom.” (RIBEIRO, s.d., p. 20). Há que se recordar que a pouca distância
dali se desenvolve a épica batalha da independência da Bahia. Duplamente grotesco:
comilão e invertido, o que não impede, no entanto, que o barão passe o tempo
estuprando as escravas. Pela boca ele morrerá, envenenado aos poucos pelas artes
de uma de suas escravas ultrajadas.
Enfim, tais episódios da tardia e pouco heroica independência da Bahia, que
“Um país morreu para que nascesse o Brasil”: esta enigmática frase aparece
na capa de Lealdade (1997), de Márcio Souza, conhecido por tratar em suas obras,
de maneira nada reverente, episódios da história de sua região de origem, a Amazônia
brasileira. Este romance é o primeiro de uma anunciada tetralogia ainda não concluída,
as Crônicas do Grão Pará e do Rio Negro, na qual o escritor amazonense pretende
contar a história da incorporação dos atuais estados amazônicos ao Império do
Brasil, durante a primeira metade do século XIX. Nessa primeira entrega conta-se o
que Márcio Souza chama de “anexação do território do Grão Pará ao Brasil”, episódio
que a história hegemônica brasileira costuma tratar como “a expulsão dos portugueses
do Pará”.
Nascida sob o signo das lendárias mulheres guerreiras, a região amazônica
foi explorada inicialmente pelos espanhóis, uma vez que seu território pertencia
integralmente à coroa castelhana, de acordo com os tratado de Tordesilhas. Mais
tarde foi ocupada pelos portugueses que subindo o emaranhado de seus rios, o
Amazonas e seus afluentes, foram plantando marcos e fundando vilas. Com o Tratado
de Madri, em 1750, que garantiu a Portugal o efetivo domínio dessa região, em 1751
a administração portuguesa dividiu seus domínios sul-americanos em dois estados
independentes entre si e diretamente subordinados a Lisboa: o estado do Grão Pará
e Maranhão, com capital na cidade de Belém do Pará e o estado do Brasil, com
capital no Rio de Janeiro. Em 1772, um novo desmembramento fez surgir o estado
do Grão Pará e do Rio Negro, mantendo a capital na cidade de Belém.
Com a instalação da família real portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808, se
unificam os três estados então existentes, no Reino do Brasil, unido ao de Portugal
e Algarves. No entanto, com a independência do Brasil em 1822, os portugueses do
norte, Pará e Maranhão, não apenas as autoridades portuguesas que viviam na região,
mas boa parte da população que era lusitana, negam-se a obedecer às novas
autoridades, preferindo receber ordens diretamente de Lisboa, à qual estavam melhor
integrados. Foi necessária uma forte intervenção das tropas do Rio de Janeiro,
derrotando o exército português e seus aliados locais, para que a região fosse
integrada de fato, não sem resistência nos anos seguintes, ao Império do Brasil.
Para contar esta história, Márcio Souza cria o personagem Fernando Simões
Correia, um paraense ilustrado, educado em Coimbra e conhecedor dos ideais da
Revolução Francesa. O relato da história de Fernando está dividido em três partes.
A primeira se ocupa dos acontecimentos ocorridos entre 1783 e 1810, época em que
estava em vigor o estado do Grão Pará e do Rio Negro. A segunda vai de 1810 a 1821
e praticamente coincide com a presença da família real portuguesa no Rio de Janeiro.
A última parte centraliza-se em 1823, com a atuação brutal das tropas brasileira na
cidade de Belém, cujo significativo título é “O trágico ano de 1823”.
Em sua descrição, o narrador traça com cores fortes o desenho das lutas
internas em Belém, cuja população dividia-se em três grupos diferentes: partidários
da integração ao Brasil; defensores da manutenção dos portugueses e um terceiro
grupo, ao qual pertence o protagonista, que prefere a criação de um novo país na
região amazônica. Desse modo, o romance soa anacronicamente como o relato de
uma utopia que pode ter sido e não se realizou.
O Grão Pará que o narrador apresenta no romance, e que o escritor costuma
defender em seus ensaios (SOUZA, 2004), é uma sociedade baseada na manufatura
de produtos locais e seu comércio com a Europa, resultado do projeto que o Marquês
de Pombal tentou implantar na região, na tentativa de integrá-la, bem como o reino
português, à primeira revolução industrial. Essa sociedade praticamente desconhecia
o trabalho escravo, o latifúndio ou a monocultura, as grandes máculas que o narrador
atribui à sociedade do Império do Brasil. Predominavam, além de pequenos
proprietários; coletores de matérias primas da selva amazônica, a borracha e as
famosas drogas do sertão; manufatureiros, transformadores dessa matéria prima;
trabalhadores de estaleiros para construção de barcos; e, sobretudo, as atividades
comerciais. O narrador trata de pintar, com cores suaves, um quadro que reproduz
uma sociedade feliz que é abruptamente desequilibrada com a chegada dos
“mercenários” a serviço do Império Brasileiro, dispostos a transformar a região em
uma espécie de periferia degradada à margem do Império.
O chefe das tropas brasileiras é um mercenário inglês, dos muitos contratados
pelo novo império para suprir a existência de um exército regular, o marinheiro
John Grenfell (1800-1869), famoso pela violência com que resolvia os problemas.
Os massacres perpetrados em Belém ficaram na memória histórica local, embora
seja um capítulo esquecido da história do Brasil. O mais importante desses
acontecimentos que passou à história como “o massacre do Brigue Palhaço”, conta
como 252 paraenses, principalmente negros, caboclos e indígenas, foram jogados
no porão do referido barco, onde morreram sufocados, sem a menor piedade por
parte do almirante inglês. Trata-se de um dos episódios mais impressionantes do
romance, contra o qual o protagonista e seus amigos nada puderam fazer.
Ao lado de personagens ficcionais, como Fernando, ou sua amada, a francesa
Simone, surgem personagens históricos imortalizados nos turbulentos tempos da
“Adesão do Pará” ao Brasil. Entre os personagens históricos, o mais importante é
sem dúvida o Cônego Batista Campos (1782-1834), que na narrativa é amigo de
Fernando. Esse religioso jacobino era um árduo defensor da liberdade da região, a
quem o sanguinário Grenfell amarra à boca de um canhão, do qual só escapa pela
interferência das autoridades locais. Esse fato, que é histórico, aparece reconstruído
no romance com tanto realismo que o leitor menos versado na história da região,
poderia pensar tratar-se de pura ficção.
As ideias revolucionárias importadas da França entraram no Pará mais que
pelo contato direto da elite ilustrada que estudava na Europa, pela Guiana Francesa,
região ocupada pelos portugueses, e seus sócios brasileiros, como represália à
invasão de Portugal por Napoleão. O exército luso ocupou Caiena entre 1809 e 1817
e na ficção de Márcio Souza Fernando faz parte das tropas de ocupação. Ali ele
conhece o Agente do Diretório Revolucionário Francês, Victor Hughes (1762-1826),
que tinha aparecido como um dos protagonistas do romance El siglo de la luces, de
1962, de Alejo Carpentier, um dos fundadores do novo romance histórico hispano-
americano. Disso de aproveita o escritor amazonense, prestando uma espécie de
homenagem intertextual ao célebre escritor cubano, ao fazer com que Fernando
conheça Simone, a filha de um certo Dr. Carpentier, médico francês, pela qual ele se
apaixona e com quem estabelece interessantes diálogos em que discutem a situação
política do momento.
Os brasileiros finalmente vencem os conflitos do Pará de 1823 e instalam no
poder o representante do Imperador Pedro I. A situação, no entanto, era tensa e não
se resolveu. Uma década mais tarde, entre 1835 e 1840, explode na região uma forte
rebelião popular, que se transforma numa feroz guerra civil, conhecida como
Cabanagem, consequência da desintegração econômica da região, causada pela
integração ao Brasil. Novamente o Rio de Janeiro intervém violentamente, dizimando
quase um quarto da população da região, de acordo com os historiadores locais.
Esse novo acontecimento, no entanto, será o núcleo central do segundo romance da
tetralogia de Márcio Souza, uma vez que Fernando, o protagonista de Lealdade
tinha morrido no conflito anterior.
criação da República Juliana (1836) aliada aos rebeldes gaúchos, o rebelde conheceu
uma jovem local que o acompanhou até o fim de seus dias e que passou à história
como a “heroína dos dois continentes”. Idealizada pelo marido em suas memórias,
dele ela herdou nome e fama. A obscura Ana Maria de Jesus, da qual pouco se
conhece antes de conhecer ao famoso italiano, passou à história como Anita Garibaldi
(1821?-1849) e entrou para a literatura como protagonista de uma série de romances
históricos, escritos nas varias línguas das regiões por onde passou: Brasil, Argentina,
Uruguai e Itália.
Assim, a jovem brasileira que seguiu o amado desde a pequena Laguna em
que vivia quando o conheceu, para ir morrer na distante Itália, sai das páginas da
história para ocupar o protagonismo em Anita, romance de Flávio Aguiar, publicado
em 1999. Na história de Anita, de seus amores com Garibaldi e da participação de
ambos na guerra dos esfarrapados gaúchos em defesa de uma república contra o
Império brasileiro, Flávio Aguiar se vale de um foco diferenciado. O narrador do
romance é um certo Costa, mulato alfabetizado e culto, que participa das mesmas
aventuras sempre ao lado do casal e, que tendo sobrevivido a ambos, rememora os
fatos em sua velhice.
Além do constante jogo metaficcional, uma vez que o que o leitor tem diante
dos olhos seriam as memórias apócrifas de Costa, a narrativa também se dedica a
discutir a história de Garibaldi e de sua participação nas guerras da região da bacia
do Prata, nelas incluída a Guerras dos Farrapos brasileiros. Discute, sobretudo, as
versões hegemônicas de várias histórias e, sobretudo o cânone literário brasileiro
do século XIX.
O fato de contar um período da história brasileira e do cânone literário
brasileiro sob o ponto de vista de um africano culto e alfabetizado, constitui-se
numa clara inversão. Também contribui nesse processo de descentralização o fato
de tratar de uma mulher analfabeta que abandonou um marido e seu país para seguir
o amado revolucionário. Trata-se, enfim de uma interessante inversão de focos, que
pode trazer uma revisão da história brasileira do século XIX. Nesse contexto, aparece
a Guerra dos Farrapos, cujos protagonistas, incluindo o celebrado Bento Gonçalves
(1788-1847) e os não menos heroicos David Canabarro (1796-1867) e o General
Neto (1803-1866), caudilhos do Rio Grande, são apeados de seus pedestais e
aparecem pintados com cores fortes, às vezes na grandiosidade de sua humanidade,
outras vezes na pequenez de atos sórdidos que costumam ser frequentes em uma
guerra.
Por outro lado, o romance conta os episódios da Revolução Farroupilha,
colocando o foco, não no revolucionário italiano, mas em uma mulher, oriunda de
uma região periférica, para ser mais exato, da periferia da periferia, que é o que
representa Laguna, na primeira metade do século XIX, não já com relação a Paris, o
centro do mundo, mas com relação à própria Itália, então em processo de unificação,
ou mesmo em relação à capital do Império Brasileiro, a provinciana cidade do Rio
de Janeiro.
Da mesma, outra categoria de ex-cêntricos ocupa o centro do romance: negros
e mulatos. Anita, no romance aprende a ler pelas mãos de Costa, o mulato alfabetizado.
No exército farroupilha, o romance dá destaque ao “Corpo de Lanceiros Negros”,
comandado pelo abolicionista Teixeira Nunes (1802-1844), formado em sua maioria
por negros e mulatos que lutavam por sua liberdade e por uma sociedade mais
igualitária. Da mesma forma, o romance dá certo protagonismo para as “soldadeiras”,
essas mulheres que acompanhavam seus companheiros durante as marchas e as
batalhas e que eram praticamente responsáveis por boa parte da logística, quando
não lhes tocava também pegar em armas.
Enfim, o romance de Flávio Aguiar cumpre aquilo que Linda Hutcheon (1991)
aponta como uma das marcas da pós-modernidade, em especial da metaficção
historiográfica: o herói tradicional é desalojado de seu pedestal e o protagonismo
passa para os antes marginalizados, figuras periféricas da historia hegemônica que
abandonam sua posição ex-cêntrica para ocupar o centro da história.
Isso se faz com relação a um acontecimento histórico que costuma ser tratado
pela história, tanto pela história hegemônica da capital da nação, o Rio de Janeiro,
mas especialmente pela história do Rio Grande do Sul, com fortes traços épicos. O
contexto local costuma exaltar de modo exagerado os heróis gaúchos, uma espécie
de centauros da pampa, símbolo máximo do machismo e do patriarcalismo branco.
No contexto nacional, não se pode esquecer que o vencedor dos farroupilhas é o
futuro duque de Caxias, profissional em derrotar insurreições ao longo do Império,
que mais tarde será o patrono do exército nacional. Na galeria desses personagens,
quase sempre duplamente montados, em seus cavalos e em seus altos pedestais,
não havia lugar nem para os lanceiros negros do major Teixeira Nunes, nem para as
soldadeiras que acompanhavam seus homens pelos campos de batalha.
A MODO DE CONCLUSÃO
pelos guindastes das classes dominantes como forma de garantir com mais facilidade
o controle da população em geral.
O significado da cultura brasileira surge assim dos interstícios dessas leituras,
que translada o valor para heróis anônimos, surgidos do sofrimento e da opressão.
São os ex-cêntricos, verdadeiros heróis que construíram esse país heterogêneo e
mestiço que é o Brasil. Pode parecer uma leitura ingênua e utópica, dirigida de
modo monofônico. Entretanto, no complexo tecido narrativo sempre surgem fissuras
que estilhaçam as verdades monolíticas, instaurando, em seu lugar, verdades
individuais através das quais os brasileiros podem encontrar uma identidade possível,
uma identidade cambiante e móvel, é bem verdade, mas que servem para elucidar
suas dúvidas momentâneas. E que, principalmente, mantenha viva a chama da
memória, espantando para longe o fantasma do esquecimento.
Ao fazer o leitor penetrar no mundo fantástico da ficção que recria o passado,
estes romances tentam indicar caminhos que não devem ser trilhados, ou caminhos
que podem ser trilhados, sugerindo por exclusão as opções mais plausíveis para se
chegar a um mundo utópico onde não haja a exploração do homem pelo homem. E
mesmo que o leitor prefira não seguir por essas sendas, ao regressar da viagem pelo
mundo da fantasia, estará mais preparado para suportar a realidade que o cerca e
quase nunca se aproxima de seus desejos. Melhor preparado, ele poderá, de modo
mais consciente, escolher qualquer outro caminho. Até mesmo começar a trabalhar
para a mudança dessa realidade com a qual não está de acordo.
NOTAS
* Professor Livre Docente da FCL-UNESP-ASSIS, onde atua nos Cursos de Graduação e Pós-
Graduação em Letras.
REFERÊNCIAS
MILTON, Heloisa Costa. O romance histórico e a invenção dos signos da história. In CUNHA, E.
L.; SOUZA, E. M. de (Orgs.). Literatura comparada: ensaios. Salvador: EDUFBA, 1996.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004.
SOUZA, Márcio. Lealdade. São Paulo: Marco Zero, 1997.
SOUZA, Márcio. A literatura na Amazônia: as letras na pátria dos mitos. Coluna Literatura. 2004.
Em http://www.marciosouza.com.br/interna.php?nomeArquivo=coluna_literatura. Acesso 26 nov
2010.
SOBRE O AUTOR:
ISSN 1809-5313
VOL. 6 - Nº 8 - 2010
U NIOESTE / CASCAVEL
P. 113-121
RESUMO: O presente artigo propõe-se a explorar, a partir de uma análise concisa, as relações
entre os discursos mítico e histórico no romance de Gabriel García Márquez El otoño del
patriarca (1975). A produção literária hispano-americana que aflorou no chamado movimento do
Boom editorial em meados da década de sessenta do século passado manteve intensa relação
com a história do continente americano. A memória do continente é reelaborada no espaço
inventivo do discurso ficcional, no cerne do qual o tempo mítico e o tempo histórico enfrentam-
se num tour de force plurissignificativo. De Colombo à presença norte-americana em terras
latinas, o romance reconstitui o passado por meio de uma linguagem simbólica, evocadora. Para
tanto, a narrativa inverte a perspectiva do colonizador, do discurso oficial, dando a palavra ora ao
ser autóctone, ora ao cidadão americano, mestiço, muitas vezes, asseclas a serviço do poder
estrangeiro. O relato polifônico é, assim, pluridimensionado, tendo como foco a figura atemporal
do patriarca, personagem sem nome que remete ao arquétipo do ditador latino-americano. O
escritor colombiano consegue em El otoño del patriarca conduzir com primor seus leitores pela
estranha realidade de um país tão mítico quanto seu ditador, realidade esta que vai se revelando
não menos absurda e complexa que a história sobre a qual ela se erige.
PALAVRAS-CHAVE: Gabriel García Márquez; El otoño del patriarca; América; história; ficção.
RESUMEN: El presente artículo se propone a explorar, a partir de un breve análisis, las relaciones
entre los discursos mítico e histórico en la novela de Gabriel García Márquez El otoño del
patriarca (1975). La producción literaria hispanoamericana que surgió con el llamado movimiento
del Boom editorial a mediados de la década de los sesenta del siglo pasado mantuvo intensa
relación con la historia del continente americano. La memoria del continente es reelaborada en
el espacio inventivo del discurso ficcional, en cuyo interior el tiempo mítico y el tiempo histórico
se enfrentan en un tour de force plurissignificativo. De Colón a la presencia norteamericana en
tierras latinas, la novela reconstituye el pasado por medio de un lenguaje simbólico, evocador.
Para eso, la narrativa invierte la perspectiva del colonizador, del discurso oficial, dando la palabra
http://e-revista.unioeste.br 113
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 113-121
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
ora al ser autóctono, ora al ciudadano americano, mestizo, muchas veces, sectarios al servicio del
poder extranjero. El relato polifónico es, así, pluridimensionado, teniendo como foco la figura
atemporal del patriarca, personaje sin nombre que remite al arquetipo del dictador latinoamericano.
El escritor colombiano consigue en El otoño del patriarca conducir con maestría sus lectores por
la extraña realidad de un país tan mítico como su dictador, realidad ésta que se va revelando no
menos absurda y compleja que la historia sobre la cual ella se erige.
PALABRAS-CLAVE: Gabriel García Márquez; El otoño del patriarca; América; historia; ficción.
VE
ALABRAS-CLAVE
no era cierto que los torturadores tuvieran sueldo de ministros como decían, al contrario,
se ofrecían gratis para demostrar que eran capaces de descuartizar a su madre y echarles
los pedazos a los puercos sin que se les notara en la voz, en lugar de cartas de recomendación
y certificados de buena conducta, ofrecían testimonios de antecedentes atroces para que
les dieran el empleo a las órdenes de los tortutadores franceses que son racionalistas mi
general, y por consiguiente son metódicos en la crueldad y refractarios a la compasión.
(GARCÍA MÁRQUEZ, 1996, p.232)
La llamada literatura mágica de América Latina, que es tal vez la literatura más realista del
mundo, está circunscrita a un área cultural muy concreta, el Caribe y Brasil. Se piensa que
su carga mágica se debe al elemento negro. Pero en realidad es anterior. La primera obra
maestra de la literatura mágica es el “Diario de Cristóbal Colón”. Y ya estaba tan contaminado
de la magia del Caribe que la propia historia del libro es inverosímil. (GARCÍA MÁRQUEZ,
Apud MANTILLA, 1979, p. 196)
y por fin encontró quién le contara la verdad, mi general, que habían llegado unos forasteros
que parloteaban en lengua ladina pues no decían el mar sino la mar y llamaban papagayos
a las guacamayas, almadías a los cayucos y azagayas a los arpones, y que habiendo visto que
salíamos a recibirlos nadando entorno de sus naves se encarapitaron en los palos de la
arboladura y se gritaban unos a otros que mirad qué bien hechos, de muy fermosos cuerpos
y muy buenas caras, y los cabellos gruesos y casi como sedas de caballos, y habiendo visto
que estábamos pintados para no despellejarnos con el sol se alborotaron como cotorras
mojadas [...] (GARCÍA MÁRQUEZ, 1996, p. 44-45)
Todos los que vi eran [...] muy bien hechos, de muy fermosos cuerpos y muy buenas caras
[...] y todos de buena estatura, gente muy fermosa, los cabellos no crespos, salvo corredíos
y gruesos como sedas de cavallo, y todos de la frente y cabeça muy ancha [...] y los ojos muy
fermosos y no pequeños [...]. (VARELA, 1986, p. 110-111).
Era una noche de vastos silencios, como en los estuarios colosales de los Llanos, cuya
resonancia permitía escuchar conversaciones íntimas a varias leguas de distancia. Cristóbal
Colón había vivido un instante como ése, y había escrito en su diario: ‘Toda la noche sentí
pasar las aves’. Pues la tierra estaba próxima al cabo de sesenta y nueve días de navegación.
También el general las sintió Empezaron a pasar como a las ocho, mientras Carreño
dormía, y una hora después había tantas sobre su cabeza, que el viento de las alas era más
fuerte que el viento ... ‘¡Dios de los pobres!,’ suspiró el general. ‘Estamos llegando’. Y así
era. Pues ahí estaba el mar, y del otro lado del mar estaba el mundo. (GARCÍA MÁRQUEZ,
1989, p.137)
Embora Colombo não seja figura central em nenhum dos romances de García
Márquez, ao contrário do que acontece em inúmeros outros ao longo do século XX
na literatura hispano-americana1 , sua presença aponta para os eventos relacionados
à conquista. Certamente Colombo é um dos personagens mais intermitentes na obra
do escritor colombiano, que jamais fez questão de negar-lhe seu repúdio, conforme
declarou a Plinio Apuleyo Mendoza. Quando indagado sobre o personagem histórico
que mais detestava, não hesitou: “Cristóbal Colón. Además tenía la ‘pava’” (GARCÍA
MÁRQUEZ, 1982, p. 173).
O excerto supracitado de El otoño del patriarca, no qual Colombo figura
como personagem-símbolo, recria o encontro entre as civilizações europeia e
americana, com destaque para a linguagem irônica e polifônica, que por sua vez
configura a paródia da descoberta da América “querían cambiar a uno de nosotros
por un jubón de terciopelo para mostrarnos en las Europas, imagínese usted mi
general, qué despelote [...]” (GARCÍA MÁRQUEZ, 1996, p. 45).
Inverte-se a posição do discurso oficial, escrito sob a visão dos
conquistadores, e abre-se espaço para a visão dos conquistados, detentores da
narração, cuja essência encontra-se na multiplicidade e na ironia do discurso. Segundo
vemos, o estrangeiro é visto pelos povos autóctones com humor e uma acentuada
crítica observada no uso de uma língua estranha “parloteaban en lengua ladina” e
um comportamento descrito com tom irônico e humorístico “se alborotaron como
cotorras mojadas”.
As diversas vozes narradoras apontam a inadequação linguística dos europeus
“no decían el mar sino la mar”, bem como a insuficência lexical para nomear a
riqueza do mundo novo “llamaban papagayos a las guacamayas, almadías a los
cayucos y azagayas a los arpones”.
Abre-se espaço para um discurso contestador, sustentado por uma consciência
crítica, ausente do ponto de vista dos textos históricos oficiais, nos quais os nativos
foram retratados como selvagens e qualificados de acordo com a seguinte tríade:
sem alma, nem rei, nem lei. Essa consciência crítica aflora na sequência:
[…] y nos cambiaban todo lo que teníamos por estos bonetes colorados y estas sartas de
pepitas de vidrio que nos colgábamos en el pescuezo por hacerles gracia, y también por
estas sonajas de latón de las que valen un maravedí y por bacinetas y espejuelos y otras
mercerías de Flandes, de las más baratas mi general [...] (GARCÍA MÁRQUEZ, 1996,
p.45)
Os estrangeiros são, então, conduzidos pelos povos nativos “sin que se dieran
cuenta”, isto é, não são mais os invasores que conduzem e enganam; estes obtêm
outro papel no processo de encontro das civilizações: são inseridos e absorvidos
pela cultura americana. Inversamente aos relatos canônicos, predomina no texto
ficcional a ótica dos nativos, perceptível na descrição dos estrangeiros como “buenos
servidores y de buen ingenio” e na linguagem que caracteriza o relato, marcada pelo
tom oralizante de sintagmas como “puta madre”, e a preferência pelo estilo direto,
sem pontuação, que realça a ironia e a crítica ao dar voz livre aos personagens
nativos.
O desfecho do primeiro capítulo culmina com a mudança da voz narrativa,
que enfoca o posicionamento do patriarca em relação à chegada do homem branco e
a descrição dessa pelos nativos:
Pero él estaba tan confundido que no acertó a comprender si aquel asunto de lunáticos era
de la incumbencia de su gobierno, de modo que volvió al dormitorio, abrió la ventana del
mar por si acaso descubría una luz nueva para entender el embrollo que le habían contado,
y vio el acorazado de siempre que los infantes de marina habían abandonado en el muelle,
y más allá del acorazado, fondeadas en el mar tenebroso, vio las tres carabelas. (GARCÍA
MÁRQUEZ, 1996, p. 45-6)
NOTAS
REFERÊNCIAS
CAMACHO, José Manuel Delgado. Césares, tiranos y santos en el otoño del patriarca: La falsa
biografía del guerrero. Sevilla: Diputación de Sevilla, 1997.
VARELA, Consuelo. Cristóbal Colón: los cuatro viajes. Testamento. Madrid: Alianza, 1986.
GRÜTZMACHER, £ukasz. ¿El descubridor descubierto o inventado? Cristóbal Colón como
protagonista de la novela histórica española e hispanoamericana de los últimos 25 años del siglo
XX. Varsovia: Instituto de Estudios Ibéricos e Iberoamericanos da Universidade de Varsovia, 2005.
GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. El olor de la guayaba – Conversaciones con Plinio Apuleyo Mendoza.
Barcelona: Bruguera, 1982.
GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. El otoño del patriarca. Buenos Aires: Sudamericana, 1975.
GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. El general en su laberinto. Bogotá: Editorial Oveja Negra, 1989.
GONZÁLEZ BERMEJO, E. “García Márquez: ahora doscientos años de soledad”, In: Gabriel
García Márquez. Madrid: Taurus, 1982.
MECKLED, Morkos. “García Márquez, el patriarca, el extranjero y la historia”, In: Cuadernos
Hispanoamericanos, 419, Madrid (mayo 1985), p.5-23.
PALENCIA-ROTH, Michael. Gabriel García Márquez: La línea, el círculo y las metamorfosis del
mito. Madrid: Gredos, 1983.
SOBRE O AUTOR:
ISSN 1809-5313
VOL. 6 - Nº 8 - 2010
U NIOESTE / CASCAVEL
MOLINA, Hebe Beatriz (UNCuyo-CONICET)1
P. 123-138 hebemol@logos.uncu.edu.ar
RESUMO: Os jovens da Geração argentina de 1837, liderados por Esteban Echeverría, propõem-
se a conseguir a independência cultural, o que implica na argentinização das práticas sociais,
entre outros fatores. No âmbito literário, primeiro procuram fazê-lo por meio do artigo de
costumes; logo após, pelo romance. Os próprios autores (principalmente Vicente Fidel López,
Bartolomé Mitre y Ángel Julio Blanco) justificam sua escolha do gênero romanesco como instru-
mento formativo, propondo uma teoria literária básica, segundo a qual a moralidade e a verossi-
milhança são características essenciais de todo romance, tanto o histórico como o sentimental e
o de costumes. Para que o relato ficcional se converta em modelo de vida, os romancistas
pretendem que seus textos sejam um “espelho” no qual se reflita a sociedade tal qual é, mas este
espelho não é plano (objetivo e verídico), porém côncavo pois, mesmo quando mostra a realidade
com certo realismo, é subjetivo e idealizador. Neste artigo revisaremos a poética do romance que
configura estes escritores, particulamente no que se refere ao modo como o discurso romanesco
“reflete” a sociedade e propõe a axiologia ideal que deveria regular as prácticas sociais da nova
nação.
RESUMEN: Los jóvenes de la Generación argentina de 1837, liderados por Esteban Echeverría, se
proponen alcanzar la independencia cultural, lo que implica la argentinización de las prácticas
sociales, entre otros factores. En el ámbito literario, primero intentan hacerlo por medio del
artículo de costumbres; luego, a través de la novela. Los propios autores (principalmente Vicente
Fidel López, Bartolomé Mitre y Ángel Julio Blanco) justifican su elección del género novelesco
como instrumento formativo proponiendo una teoría literaria básica, según la cual la moralidad y
la verosimilitud son los rasgos esenciales de toda novela, tanto la histórica como la sentimental
y la costumbrista. Para que el relato ficcional se convierta en modelo de vida, los novelistas
pretenden que sus textos sean un “espejo” en el que se refleje la sociedad tal cual es, pero este
espejo no es plano (objetivo y veraz) sino cóncavo pues, aun cuando muestra la realidad con
cierto realismo, es subjetivo e idealizador. En este artículo revisaremos la poética de la novela
que configuran estos escritores, particulamente en lo relativo al modo en que el discurso nove-
http://e-revista.unioeste.br 123
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 123-138
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
lesco “refleja” la sociedad y propone la axiología ideal que debería regular las prácticas sociales de
la nueva nación.
PALABRAS CLACLAVESVES
VES: novela argentina; novela de costumbres; Vicente Fidel López; Bartolomé
Mitre; Ángel Julio Blanco.
[…] que pierdan su tiempo de ocio leyendo, si lo hacen, novelas inmorales, vacias ó
ridiculas –como el Hijo del Carnaval, la Abadesa, el Solitario, el Renegado y tanta otra que,
como estas, no sirven sino para extraviar la razon y el gusto, y por hacerlos incapaces hasta
de leer dos páginas seguidas, no solo de un libro serio y útil, sino tambien de un buen
romance; de un romance como los de Walter Scott, los de Victor Hugo, Vigny, Saint-Beuve
y demas romancistas de genio (La Moda, 1938, p. 187)3 .
López resume las críticas habituales que reciben por aquel entonces algunas
novelas –las “inmorales, vacias ó ridiculas” – y también recurre a la táctica más
frecuente por medio de la cual se defienden otras: el recurso a la autoridad de
renombrados escritores europeos y a su condición de “genios”. Entonces se produce
una doble paradoja: por una parte, que los intelectuales – futuros novelistas –
fomentan estas lecturas al tiempo que recomiendan cautela, pues se mantiene la
acusación de inmoralidad que – por diversas concepciones – pesan sobre ellas
desde el siglo XVIII (MOLINA, 2006); por otra parte, que se utilice un elemento
extranjero para nacionalizar costumbres. Tengamos en cuenta, además, que los
argentinos leen novelas desde mucho antes de que se animen a escribirlas y estos
ensayos novelescos recién nacidos deben competir con producciones extranjeras ya
consolidadas.
No obstante, poco a poco los escritores van descubriendo las ventajas de la
novela, sobre todo, que sea un tipo textual flexible pues no está condicionado por la
[ ] La novela […] es una obra de partido i qe puede servir con eficacia para favorecer toda
clases de miras. Como la novela pone en accion toda clase de caractéres, puede sublimar
los unos i humillar los otros, promoviendo simpatías o antipatías llenas de veemencia i
capaces de servir poderosamente las pretensiones del autor (1845, p. 302).
agregar Capitán Vargas (ca. 1846), novela inconclusa y todavía inédita de Vicente F.
López.
El patrón de la novela como “obra de partido” es aprovechado por José Mármol,
quien en Amalia (Montevideo, 1851-1852; versión completa: Buenos Aires, 1855)
construye, desde un enfoque prospectivamente histórico, dos mundos antinómicos
totalmente irreconciliables: el patriótico, justo y magnámino de los protagonistas –
Daniel y Eduardo, los jóvenes de la Nueva Generación y los unitarios – vs. el
perverso y abusivo del antagonista por antonomasia, el tirano Juan Manuel de Rosas.
Esta visión dicotómica de la Argentina de 1840 pronto se convierte en modelo
novelístico y genera lo que hemos denominado el Ciclo de la Tiranía (MOLINA,
2007), compuesto por una docena de textos, tanto de varones (Estanislao del Campo,
Laurindo Lapuente, Felisberto Pélissot, Toribio Aráuz, José Víctor Rocha, Carlos L.
Paz, Francisco López Torres, Federico Barbará y Eusebio F. Gómez) como de mujeres
(Juana Paula Manso de Noronha y Juana Manuela Gorriti). El propósito de la mayor
parte de estos escritores es doble: no solo recordar ese nefasto período político
sino también alertar sobre posibles futuros tiranos; en definitiva, dar una lección
histórica a los ciudadanos.
La novela popularizaria nuestra historia […], pintaria los [sic] costumbres originales y
desconocidas de los diversos pueblos de este continente […] y haria conocer nuestras
sociedades […] representándolas en el momento de su transformación, cuando la crisálida
se transforma en brillante mariposa (1928, pp. 94-95).
hispanoamericano por extensión, que se anime a iniciar ese segundo estadio, o sea,
que crezca como sociedad nueva y renovada. Él mismo, en su novela, plantea un
modelo de sociedad, no perfecta pero sí perfectible, en donde los problemas los
resuelven las personas virtuosas de forma ética (UNZUETA, 1996, p. 142-170; 2006).
En esta conceptualización de la novela, interesa destacar la metáfora que
emplea el autor de Soledad: “Es un espejo fiel en que el hombre se contempla tal
cual es con sus vicios y virtudes, y cuya vista despierta por lo jeneral profundas
meditaciones o saludables escarmientos” (MITRE, 1928, p. 94). De modo similar a
López, Mitre opina que la novela refleja la realidad con un alto grado de fidelidad y
que, si en ella aparecen seres viciosos, la culpa no es del novelista sino de la
realidad, que los contiene.
El espejo, como ha explicado detalladamente Meyer Abrams, es la metáfora
que repiten los neoclásicos para sintetizar su teoría de la poesía como imitación de
la realidad, pero no de cualquier realidad sino de una que – por razones morales –
es despojada de particularidades, es generalizada y universal4 . En cambio, en la
definición de Mitre se confunden el principio neoclásico de la imitación con el
axioma romántico de la obra de arte como manifestación de la subjetividad del
autor, de modo tal que ese espejo del que habla Mitre no es uno plano (como el
paradigma neoclásico proponía), sino uno cóncavo5 .
Cabe ahora preguntarnos acerca de cómo inciden estas teorías en la producción
novelística. Mitre, López y los cincuenta novelistas (varones y mujeres) que publican
entre 1850 y 1870 anclan sus personajes en Buenos Aires, Chaco, Lima, Madrid,
Florencia o en cualquier otro lugar geográfico puntual y reconocible (con la excepción
de unos pocos relatos de Juana Manuela Gorriti). Los diversos narradores, en diálogo
permanente con sus destinatarios, aseguran una y otra vez que los hechos narrados
son “verídicos” o “históricos”, que han sido testigos de los hechos o han conocido
personalmente a los protagonistas, quienes les han contado sus cuitas, siendo todos
ellos dignos de confianza. En otras palabras: acercan el espejo a la realidad para
que el lector la reconozca y crea en la historia contada que ocurre en ese escenario
identificable, por lo tanto verosímil. Esto se observa especialmente en los relatos
sobre la tiranía de Rosas: el autor-narrador se esfuerza por que parezca que la
novela refleja la realidad sin desviaciones. Pero la novela es un espejo cóncavo: el
mayor acercamiento entre el objeto y el espejo permite una mejor definición de la
imagen, pero el tamaño del objeto imaginado es mayor que el original. Rosas y sus
secuaces son, entonces, una impresión nítida pero agrandada respecto del original.
El procedimiento contrario, el distanciamiento entre realidad y novela que se
produce cuando el autor ansía plasmar un mundo más ideal y más puro, ocasiona
están en lugar preciso: al costado del convento de los recoletos. Otros detalles
posteriores ayudarán a crear una imagen verista. Además, en el tercer folletín, cuando
el narrador está por presentar otro momento tormentoso para la naturaleza y para
los personajes, reflexiona sobre lo que está por describir y lo hace desde una
perspectiva que podríamos calificar como positivista, fomentada quizás por los
estudios de agrimensura de Tomás Gutiérrez:
[…] Existe la creencia en cierto modo quimérica de que la naturaleza acompaña en sus
desgracias al mortal, enlutando sus galas en aquellas situaciones últimas y escepcionales
de su vida, será verdad? no lo creemos, y sin embargo las apariencias, ó la casualidad, mas
bien, lo sanciona, aunque pensamos que somos nosotros únicamente los que
metamorfoseamos la natura segun el estado de nuestra alma.
[ ] Mil veces nos ha sucedido estar alegrísimos, y esas mil ocasiones nos ha parecido
cuanto nos rodeaba tan alegre como nosotros, aunque el cielo haya estado velado por la
tormenta […].
[ ] Luego, no hay duda, somos nosotros, ó es la casualidad solamente.
[…] Lo hemos creido siempre, con la frialdad del que raciocina; asi pensábamos ayer,
exentos de los grandes sentimientos de la tierra; lo creemos hoy? no, porqué? Porque hoy
padecemos, hoy estamos afectados por la agitacion de sentimientos hondos y encontrados.
[ ] Tal dirian los personages que vamos á ver (23 abr. 1858).
Nuestros lectores al leer estas palabras que pongo en boca de Alberto Castillo, se
sorprenderán, diciendo quizas en sus adentros que hay inverosimilitud en ellas, puesto
que si Alberto había amado tan apasionadamente, era muy repentina é innatural su frialdad,
ó indiferencia, hácia el objeto de su antiguo amor. Pero no hay tal (26-27 abr.).
El narrador enumera luego unas cinco razones que justifican el interés naciente
de Alberto por Carlota, a contracara de su “antiguo amor” por Enriqueta, quien
resulta ser hermana menos de la protagonista. Termina el debate con estas palabras:
“el lector puede pensarlo de otro modo, mas esa es nuestra opinion”.
El foco de atención pasa de la verdad aprehensible por la razón, fundamento
neoclásico e ilustrado, a la verdad de los sentimientos del poeta romántico. El
espejo de la realidad se vuelve un espejismo, o sea, una ficción subjetiva con la que,
no obstante, los novelistas intentan construir una Argentina verosímil.
132 NOVELAS SOCIALIZADORAS PARA EDUCAR http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, vol. 6 nº 8 2010 p. 123-138
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE C ASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
[…] no tenemos nada nuestro: […] somos como los monos, imitadores, ó como los
chinos, rutineros–ó nos estacionamos ó copiamos; esa es nuestra vida.
Una costumbre sola nos pertenece y debemos reclamar su privilegio – la de no estar en
paz ni aun con nuestra conciencia; – pero como la guerra no se aviene á mi carácter dejo
que esa costumbre de verter sangre la describa otro. […] Que escriba sobre sangre, el
que sea tan desnaturalizado que pretenda educar para la sangre una juventud que debe
tener otro destino (1859, p. 9).
¿Qué seria del hombre sin el concurso del hombre?.... La humanidad entera está vinculada
por un deber sagrado – la proteccion al desvalido: – asi lo enseñan las teorías religiosas de
todas las sectas del universo y el catolicismo mas que cualquiera de ellas. […] Esa
hermandad, ese vínculo está en las leyes mismas de la naturaleza […]; esa hermandad,
esa proteccion es la vitalidad de la sociedad humana, y sin ella nada noble, nada grande,
nada bello se produciria en el universo (1859, p. 10).
amoroso que venera la vida (se es fiel a aquello que se ama) y, por ello, el fundamento de
la dignidad personal. Su opuesto, la traición, se manifiesta a través del adulterio, el abandono
de padres, hijos y cónyuges; la inconstancia y la coquetería; mentiras, robos y estafas;
cobardías y engaños de todo tipo; violaciones, delaciones, homicidios, suicidios y abortos,
abusos de poder político o eclesiástico; es decir, traición como odio y muerte (MOLINA,
2010, p. 202).
NOTAS
1 Doctora en Letras por la Universidad Nacional de Cuyo. Investigadora del Conicet. Profesora
Titular de Metodología de la Investigación, Facultad de Filosofía y Letras (U. N. de Cuyo -
Argentina). Miembro del Comité Académico y Profesor Estable de la Maestría en Literatu-
ra Argentina Contemporánea.
2 El número 1 del tomo II (del 15 de octubre de 1838) está integrado en su totalidad por
narraciones novelescas, sentimentales o históricas. Téngase en cuenta, además, que en el
último número de El Iniciador (t. II, nº 4, 1º de enero de 1839) se edita íntegramente el
“Código ó declaracion de los principios que constituyen la creencia social de la Republica
Argentina. Introduccion. Palabras Simbólicas de la fe de la Joven Generacion Argentina” (El
Iniciador, 1941, pp. 421-441).
3 En esta y en todas las demás citas respeto la grafía del original.
4 Esta metáfora es una analogía “constitutiva” porque proporciona “el plano o trazado y los
elementos estructurales” de esa teoría literaria (ABRAMS, 1962, p. 52).
5 Un espejo cóncavo es como el interior de un cucharón. Si colocamos un objeto frente a él, se
verá reflejado pero no con la fidelidad de un espejo plano: la calidad de la imagen dependerá
de la distancia entre el objeto y el espejo. Si los alejamos, el objeto se verá más borroso,
más pequeño e invertido. Si los acercamos, el objeto se verá más grande, también inver-
tido, pero la imagen quedará mejor definida. Sólo si aproximamos aún más el objeto al
espejo, aquél formará una imagen derecha, mayor, pero virtual, porque estará situada
detrás del espejo. Adviértase que las características de la imagen producida por el espejo
dependen de las decisiones que tome el físico: según qué imagen quiera obtener será la
distancia a la que coloque el espejo.
6 He modificado esta oración para hacerla inteligible. El original dice: “Es allí donde pensamos
á llevar nuestros lectores”.
REFERENCIAS
ABRAMS, M[eyer]. H[oward]. El espejo y la lámpara: Teoría romántica y tradición crítica acerca del
hecho literario. Trad. de Gregorio Aráoz. Buenos Aires: Nova, 1962.
BLANCO, Ángel Julio. “[Dedicatoria al] Señor D. José Manuel Lafuente”. En: Museo Literario:
Periódico semanal de literatura en general, teatro y modas. Carlos L. Paz y Lisandro Paganini, eds.
Buenos Aires: Imprenta de Mayo, 1859, p. 9-10.
CURIA, Beatriz. “Miguel Cané, (1812-1863), primer novelista argentino”. En: Decimonónica, vol.
4, n° 1, invierno de 2006 (a). En línea. http://www.decimonica.org
______. “Nosotros y los de extranjeris: La identidad como programa; Homenaje a Esteban Echeverría
en el bicentenario de su nacimiento (1805-2005)”. En: Revista de Literaturas Modernas, n. 36,
2006 (b), p. 79-99.
ECHEVERRIA, Esteban. Obras completas. Comp. y biografía de Juan María Gutiérrez. 2ª ed.
Buenos Aires: Ediciones Antonio Zamora, 1972.
El Iniciador. Ed. facsimilar. Est. preliminar de Mariano de Vedia y Mitre. Buenos Aires: Kraft, 1941.
FAJARDO, Heraclio C. “Laurindas. (Poesias de L. Lapuente)”. En: La Tribuna, Buenos Aires, 24 de
junio de 1865.
GONZÁLEZ ALCÁZAR, Felipe. “Teorías sobre la novela en los preceptistas españoles del siglo
XIX”. En: Dicenda: Cuadernos de Filología Hispánica, n. 23, 2005, pp. 109-124.
GUTIÉRREZ, Tomás. “Carlota ó La hija del pescador”. En: La Tribuna, Buenos Aires, 19-20, 21, 23,
24, 25, 26-27, 28 de abril de 1858, folletines.
La Moda: Gacetín semanal de música, de poesía, de literatura, de costumbres; 1838. Ed. facsimilar.
Pról. y notas de José A. Oría. Buenos Aires: Academia Nacional de la Historia, 1938.
LÓPEZ, Vicente Fidel. Cuaderno de apuntes. Colección de los López. Archivo General de la
Nación, Buenos Aires. Doc. 5451.
______. Curso de Bellas Letras. Santiago de Chile: Imprenta del Siglo, 1845.
MITRE, Bartolomé. Soledad: Novela original. Nota preliminar de Juan Millé y Giménez. Publicaciones
del Instituto de Literatura Argentina, Sección de documentos, serie 4ed. – Novela, I.4. Buenos
Aires: Universidad de Buenos Aires, Facultad de Filosofía y Letras, 1928, p. 89-168.
MOLINA, Hebe Beatriz. “Un nacimiento acomplejado: Justificación de la novela en el contexto
decimonónico argentino”. En: Alba de América, vol. 25, n. 47, 2006, p
______. “Las novelas prospectivamente históricas (en la década de 1850)”. Ponencia expuesta en
el III Congreso Interoceánico de Estudios Latinoamericanos. Universidad Nacional de Cuyo, Facultad
de Filosofía y Letras, Mendoza, 3, 4 y 5 de octubre de 2007.
______. “Una poética argentina de la novela: Vicente Fidel López (1845)”. En: Hofstra Hispanic
Review, n° 8/9, Summer/verano - Fall/otoño de 2008 (a), p. 18-32.
______. “Vaivenes de la novela argentina: Entre la teoría, la escritura y la recepción (1838-1872)”.
En: Decimonónica, vol. 5, n° 2, verano de 2008 (b), pp. 33-48. En línea: <www.decimononica.org>
______. “De la nación soñada a la sociedad real según las novelas argentinas de 1860”. En:
Palabra y Persona, 2° época, a. V, n° 8-9, Capítulos de dos siglos, 1810- 2010, abril de 2010, pp.
187-208. Disponible también en <www.editorialteseo.com/archives/2665>.
PÉREZ, Alberto Julián. Los dilemas políticos de la cultura letrada (Argentina – Siglo XIX). Buenos
Aires: Corregidor, 2002.
SOBRE A AUTORA:
PALABRAS CLAVES: Arturo Uslar Pietri, La isla de Róbinson, construcción de sentido, imaginario
social, liberalismo, ideas políticas.
Dos aspectos nos parecen relevantes en esta vertiente teórica, a los efectos
de nuestro trabajo: El primero de ellos se refiere a la construcción de sentido acerca
de nuestras sociedades a partir del relato que nos proporciona la literatura
latinoamericana. Esta condición instituyente de la literatura y de la crítica literaria
ha sido señalada por reconocidas voces.
que no por entreverada, heterogénea y fluida deja de definirnos en el azaroso curso de una
historia que tanto hacemos como nos construye (CORNEJO POLAR, 1993, p. X)
Y lo peor es que no soy yo quien va a pedir ayuda si no quien va a ofrecerla. Soy yo quien
puede ayudarlo a completar la gran obra que está incompleta. Soy yo quien tiene las ideas
para que la independencia se transforme en la creación de una nueva sociedad. Soy yo el
dadivoso, el que regala, el que ofrece posibilidades que ellos ni siquiera sospechan (USLAR
PIETRI, 1984, p. 123).
de las Ideas como disciplina de la Ciencia Política, aquellos juicios de valor acerca
de la sociedad latinoamericana, y su posibilidad de ingresar en la modernidad política
a partir de la quiebra del orden colonial y su posterior sustitución por un nuevo
orden político.
El análisis de las significaciones importa, desde nuestra perspectiva, adentrarse
en la tensión entre lo instituyente y lo instituido – en términos de Castoriadis
(1999) – como constituyentes del sentido y la historicidad misma de las sociedades
en cuyo seno la política adquiere su propia significación.
Esta perspectiva de análisis interesa sobre todo porque permite poner el
énfasis en el proceso de legitimación de las nuevas repúblicas americanas. Posibilidad
que Simón Rodríguez pone frecuentemente en duda. “El mal de América es inveterado.
Tres siglos de ignorancia y abandono en el Pueblo y de indiferencia en el Gobierno
dan mucho que hacer hoy a los que emprenden instruir, animar y poner en actividad”
(USLAR PIETRI, 1984, p. 187).
Pero también porque nos permite acceder a otras dimensiones, menos
formalizadas desde el punto de vista ideológico, pero que forman parte del “sentido
común” que a modo de cosmovisión se instala en una sociedad y opera como
fundamento legitimante de una determinada forma (fórmula podría decirse también)
de dominación.1
Decimos ‘sentido común’ porque aparece ligado no sólo al discurso de las clases
dominantes, sino por formar parte de la cultura política y de las prácticas sociales de
nuestras sociedades, siendo, en ocasiones, fuente de interpretación del conflicto (o
expresión del mismo) aun por parte de los sujetos que lo padecen” (FUNES y ANSALDI,
2004; p. 451)
Otra respuesta posible para el cómo puede referirse al proceso por el cual
esos contenidos del sentido común pasan a formar parte del imaginario social.
En nuestro caso, encontramos una respuesta que nos parece adecuada para la
perspectiva que hemos elegido en el enfoque de Pierre Bourdieu, quien demanda la
necesidad de reinsertar “la obra o el autor en el sistema de relaciones constitutivas
de los hechos (reales o posibles) del que forma parte socio-lógicamente.” Para
trascender lo que denomina el “estudio ideográfico” de los casos particulares por sí
mismos y en ellos mismos, propone un abordaje superador de la tradición positivista.
(BOURDIEU, 2000, p. 23)
Así la teoría de la biografía como integración retrospectiva de toda historia personal del
artista en un presupuesto puramente estético, o de la representación de la ‘creación’
Entonces todavía no había resuelto llamarse Róbinson. Era Simón Rodríguez o Simón
Carreño. Fue después cuando comprendió que su destino era el de Róbinson, el del
hombre solitario en la isla de naufragios. Todos irían llegando a la isla. [….] Llegaban a la
isla los hombres y las ciudades, los continentes y los paisajes […]. La isla era él mismo.
Allí llegaban todos. Los años y las gentes. Llegaban y partían. Nadie más que él era
Róbinson. Todo lo había tenido que hacer él mismo. Con lo que encontraba al azar, con lo
que lograba rescatar de los naufragios, con las manos, con la imaginación. Solo la mayor
parte del tiempo. (USLAR PIETRI, 1984, p. 13).
Ha llegado un nuevo tiempo. Todo va a cambiar en bien o en mal y los hombres no se dan
cuenta aferrados a sus innumerables costumbres y caducos privilegios. […] Cambian los
tiempos y las gentes pero la prédica no puede concluir. Ha llegado un nuevo tiempo y hay
que preparar una nueva humanidad. (USLAR PIETRI, 1984, p. 25).
La educación republicana tiene que ser distinta para formar republicanos. Educar hombres
para la razón, la libertad, la dignidad, el libre examen, el orden racional libremente aceptado.
La república no se puede hacer en los campos de batalla sino en la escuela. (USLAR
PIETRI, 1984, p. 127)
Mientras tanto, ¿cómo hacer una república sin republicanos? En una solución
típicamente Roussoniana, Simón Rodríguez recurre al “legislador providencial” en
el que la voluntad general se reconoce plenamente cuando las voluntades particulares
se extravían. Legislador que no podía ser otro que Simón Bolívar, su discípulo y
luego su mentor y protector.
144 IMAGINÁRIO POLÍTICO Y CONSTRUCCIÓN... http://e-revista.unioeste.br
Revista de Literatura, vol. 6 nº 8 2010 p. 139-155
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE C ASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
La oportunidad era en América y el único hombre que tenía capacidad para entender
aquello y poder para realizarlo era precisamente Bolívar. Simón, su amigo, su discípulo, su
compañero de tanto sueño y de tanta esperanza. (USLAR PIETRI, 1984, p. 122).
En Francia y con el fracaso de la Revolución, se había vuelto al viejo orden. El error estuvo
en no darse cuenta de que no era la guillotina lo que se necesitaba sino la escuela Siempre
terminaba por caer en el tema de la escuela. Era su obsesión. (USLAR PIETRI, 1984, p.
40).
Lo que falla aquí es la perspectiva histórica del largo plazo, que revela con
claridad que la Revolución fue una obra burguesa, interesada en conquistar libertades
y desconfiada de las manifestaciones democráticas. Estas habrían de desarrollarse
con posterioridad merced a la generalización de los conflictos sociales los cuales
tendrían su punto culminante- al menos en lo que a esta etapa del proceso histórico
se refiere- en las revoluciones de 1848, fecha en la que no por casualidad, se
publica el Manifiesto Comunista.
Esta implantación social de la república democrática sin conflictos merced a
la mediación de la educación, es también una revolución sin sujeto revolucionario,
ya que la burguesía como clase social se encontraba ausente en el proceso
revolucionario americano. “El drama de América Latina es que la democracia burguesa,
proclamada como objetivo, carece de su sujeto principal, la burguesía democrática.
(ANSALDI, 2008, (1) 35).
De un modo más general pueden anotarse el desconocimiento del conflicto
social y la función hegemonizadora de la educación en el control social como dos
características centrales en el modo de discurrir la concepción de la sociedad en el
pensamiento liberal.
No es que se pretenda desconocer aquí la capacidad de la educación para
impulsar los cambios y la movilidad social ni la originalidad de la pedagogía
propuesta por el maestro de Bolívar. La ignorancia no es la contrapartida de ningún
progreso en la conformación de la sociedad. Sólo nos interesa señalar el papel
sustitutivo del conflicto social que aquí se le asigna y que explica de un modo más
convincente el fracaso de las iniciativas individuales de Simón Rodríguez por instalar
una nueva orientación de la educación en los países liberados por Bolívar, que la
Ahora veía que estaban los unos sobre los otros como carga añadida sobre carga. Sobre el
lomo del esclavo, sobre el lomo del capataz, sobre el lomo del amo, sobre el lomo del
corregidor, cobre el lomo del gobernador. Hasta llegar a aquel rey, a tres meses de barco,
a seis días de diligencia, a semanas de antesala y reverencia. (USLAR PIETRI, 1984, p. 7).
También hay que anotar que este espacio puede sostener su existencia pública
y abierta porque posee una cierta legitimación frente al poder que consiente por lo
menos en tolerarlo sin someterlo a represión. Las libertades civiles aparecen como
fundadas en el derecho natural de base racional, principio moderno por antonomasia,
que en su expresión más extrema se arroga el derecho de someter a crítica el orden
social y político imperante. Este derecho está reservado para quienes están calificados
por la riqueza y la cultura, condiciones características de la burguesía en ascenso,
que desconfía de la mayoría popular y la excluye conscientemente porque teme por
su participación en el poder. Ciudadanía es aquí sinónimo de ilustración, y el voto
censitario, que restringe el sufragio a los que poseen determinado nivel de ingresos,
establece de una manera taxativa los criterios de inclusión en los derechos políticos
y, por consecuencia, en el espacio público.
Precisamente en el extremo opuesto se encuentran los pueblos americanos,
privados de la participación en el gobierno por falta de riqueza e instrucción:
Pero todavía de una manera más evidente puede observarse este vínculo en la
entrevista que mantiene con Andrés Bello, a la sazón instalado en el aparato de
poder en la República de Chile.
Refiriéndose al poema bucólico de Bello, diseñado “para que nuestra gente
sienta la belleza y el sentido religioso que hay en las simples tareas de la tierra.
Para que se olviden de la fama militar y de la ambición política.” (USLAR PIETRI,
1984, 121)
No le parecía mal a Róbinson, pero pensaba que era necesario darle otra dimensión a ese
deseo tan noble. ‘Hay que preparar a la gente para vivir en la sociedad nueva. El mundo está
cambiando. Ya no es el campo la única fuente de riqueza. Cada día aumentan más la
industria y las artes mecánicas. Hay que enseñar a nuestros hombres a valerse de los
metales’. ‘Va a ser difícil cantar a esas chimeneas que vomitan humo negro y esas máquinas
que resoplan y se agitan como pailas del diablo.’
Era el tema favorito de Róbinson. (USLAR PIETRI, 1984, 121)
‘El descubrimiento de la pólvora acabó con la nobleza’. ‘Le voy a pasar las publicaciones de
los saintsimonianos que tengo conmigo. La industria va a transformar el mundo. Habrá que
reorganizar todo para esa realidad nueva. Ahora existe el hecho social. Ya no más reyes, no
más nobleza, el mundo del mañana lo van a gobernar los industriales. Ya no más revoluciones
sino una nueva organización. El gobierno de la sociedad futura tendrá que ser científico. La
sociedad actual no es otra cosa que el mundo al revés.’ (USLAR PIETRI, 1984, 121).
Además de las referencias a las publicaciones, las alusiones aquí son precisas
y puntuales: preeminencia de la industria en la conformación de la nueva sociedad,
gobierno de la ciencia y de los industriales en un modelo tecnocrático de dominación.
El desconocimiento de las formalidades propias de una administración aunque
rudimentaria administración estatal, su desprecio por las formas burocráticas y su
desconocimiento del poder ejercido por los titulares de esas formas, completan si
se quieren este cuadro de desprecio por el poder político organizado, que contrasta,
como en los socialistas utópicos, con la confianza ilimitada en la aplicación de su
sistema- en su caso la educación- para producir la transformación de las sociedades.
Es decir una revolución si conflictos ni enfrentamientos de clase.
Las diferentes clases y fracciones de clase están comprometidas en una lucha propiamente
simbólica para imponer la definición del mundo social más conforme a sus intereses, el
campo de las tomas de posición ideológicas que reproduce, bajo una forma transfigurada,
el campo de las posiciones sociales. Agregando en nota aclaratoria: Las tomas de posición
ideológicas de los dominantes son estrategias de reproducción que tienden a reforzar en
la clase y fuera de la clase la creencia en la legitimidad de la dominación de la clase
Más allá, por tanto, difícilmente podría seguir suponiéndose una ingenua pluralidad de
lecturas que se estructuran en una homogénea estrategia discursiva; es casi obvio que la
[…] no es difícil inferir las consecuencias de estas luchas para el resto de la producción
literaria, extensiva a las demás expresiones de la cultura. Sin discutir aquí sus presupuestos,
puede verse con claridad el papel de los estudios culturales y la discusión de sus problemas,
respecto de la visibilidad de los intereses y posiciones de aquellos que buscan su lugar
como sujetos de la cultura y, en consecuencia, portadores de legitimidad social frente a los
recortes de quienes profesan los cánones-medidas de inclusión y de exclusión- y por tanto
el valor y la legitimidad de la producción cultural de los diversos actores sociales. La
muerte de los grandes relatos ha ocasionado, también, la confianza en el relato integrador
y homogeneizante del Estado-nación, abriendo paso a una multitud de relatos que buscan
recomponer la identidad de los sujetos. (BORDIEU, 2000, p. 160).
NOTAS
REFERENCIAS:
ANSALDI, Waldo. A mucho viento, poca vela. Las condiciones históricas de la democracia en
América Latina. Una introducción, en ANSALDI, Waldo, (Director). La democracia en América
Latina, un barco a la deriva, Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2008. p. 29-50.
ANSALDI, Waldo. (2) La democracia en América Latina, un barco a la deriva, tocado en la línea de
flotación y con piratas a estribor. Una explicación de larga duración; en ANSALDI, Waldo, (Director)
La democracia en América Latina, un barco a la deriva, Buenos Aires, Fondo de Cultura Económica,
2008. p. 53-121.
BERZOSA, Carlos, SANTOS, Manuel. Los socialistas utópicos. Marx y sus discípulos. Madrid:
Editorial síntesis, 2000.
BOURDIEU, Pierre. Intelectuales, política y poder. Buenos Aires: Eudeba, 2000.
CAPPELLETTI, Ángel J. El socialismo utópico. Rosario: Grupo Editor de Estudios Sociales, 1968.
CORNEJO POLAR, Antonio; «Presentación». In MARIACA ITURRI, Guillermo. El poder de la
palabra. Ensayos sobre la modernidad de la crítica literaria hispanoamericana. La Paz, Bolivia:
SOBRE EL AUTOR:
P. 157-165
RESUMEN: Desde la consolidación del estructuralismo en las Ciencias Humanas a mediados del
siglo XX, que derrumbó los pilares que sostenían, de acuerdo con el positivismo del siglo XIX,
el discurso de la historia, catalogado como ciencia, historiadores, filósofos, críticos literarios y
otros pensadores mantienen un rico debate sobre los posibles límites y/o relaciones entre
literatura e historia y el papel de las narrativas en primera persona en la construcción del discurso
de la historia. Dichos planteamientos, a pesar de algunas posiciones extremadas que ponen en
duda la capacidad que tendría el historiador en poder captar objetivamente el hecho histórico,
una vez que siempre va a depender de la mediación del lenguaje, producen interesantes resulta-
dos al tratar de memorias individuales, generalmente tratadas con desconfianza, pues son narra-
tivas construidas en el ámbito de la subjetividad. El presente trabajo trata de algunos aspectos de
dicha discusión, señalando hacia una solución mediadora, a partir de las reflexiones de Paul
http://e-revista.unioeste.br 157
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 157-165
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
Ricoeur, en su libro La memoria, la historia y el olvido (2007). Para los historiadores que se valen
de la memoria como fuente de la historia, se abre una nueva perspectiva teórica, ya que para el
filósofo francés, los textos memorialísticos hacen surgir nuevas zonas de comunicabilidad entre
grupos aparentemente desconectados y establecen zonas de interdependencia entre lo público
y lo privado, un eslabón necesario en la cadena entre el historiador ahincado en el presente y el
pasado que trata de reconstruir en sus investigaciones.
Entretanto, na última década do século XX, com o fim das utopias políticas e
sociais representada pelo colapso do sistema socialista iniciou-se uma nova era que
Beatriz Sarlo (2007) classificou como tempos de guinada subjetiva no campo das
Ciências Humanas, caracterizada pelo retorno do interesse pelos percursos
individuais. De acordo com Sarlo:
Uma breve incursão sobre o tema, tanto no âmbito das Letras, quanto no
âmbito da própria História deixa evidente essa complexidade. Para Jean-Philippe
Miraux, por exemplo, as memórias fariam parte de um gênero mais abrangente que
Georges Gusdorf denomina as escritas do eu, composto também pela autobiografia,
reminiscências, anti-memórias e diários íntimos. Segundo Miraux,
[...] em sua forma estrita, [as memórias] devem ser escritas por alguém que desempenhou
um papel importante na História, alguém que foi testemunha de acontecimentos históricos
notáveis, que freqüentou e observou aos grandes deste mundo, aqueles que em maior ou
menor medida influenciaram na vida de uma nação, nas decisões de um Estado, no espírito
de um povo. Nas memórias, salvo célebres exceções a escrita não se centra na história
pessoal do escritor, e o narrador apresenta-se mais como um relator, como um cronista e
não como personagem central. (MIRAUX, 2005, p. 17, tradução minha)
A autobiografia não pode ser tomada como documento histórico, pois é o testemunho do
modo como alguém se via a si mesmo, de como formulava a crença de que era o outro que
atendia pelo nome do eu, um outro sem dúvida aparentado ao eu que agora escreve, com
reações semelhantes e uma história idêntica, mas sempre uma outra, a viver sob a ilusão
da unidade. (COSTA LIMA Apud HERVOT & SAVIETTO, 2009, p. 34)
grupos e não mais aos indivíduos, às estruturas sócio-econômicas e não mais aos
acontecimentos [fato que] teve a vantagem de reconciliar os historiadores com as
exigências científicas que as ciências sociais fizeram avançar. (BURGUIÈRE, 1997,
p.52)
Essa apreensão da memória como fonte da História ocorreu após a longa era
das utopias coletivas, representada pela crítica literária estruturalista e pela leitura
marxista da História, período durante o qual pouco valor dava-se às expressões do
“eu’. Entretanto, nas duas últimas décadas com o crescente interesse pelo indivíduo,
expresso no boom editorial de biografias e “discursos de memória” os historiadores
passaram a mobilizar a memória como fonte da História e essa mobilização mostrou
haver uma vulnerabilidade teórica, um descompasso entre a prática e a teoria.
Os manuais historiográficos não fazem referência à memória individual como
conceito nem como fonte da História, ainda que não seja difícil perceber o uso cada
vez mais freqüente dessa fonte na elaboração de textos biográficos. O Dicionário
das Ciências Sociais, de André Burguière, por exemplo, inclui o verbete “Memória
coletiva”, mas não faz alusão à “Memória individual”. Em História e Memória, Jacques
Le Goff, ao tratar das relações entre história e memória coletiva, esclarece que o
conceito de memória é crucial, pois entende que “a memória coletiva foi posta em
jogo de forma importante na luta das forças sociais pelo poder” (LE GOFF, 2003, p.
422). Entretanto, seu texto, apenas incidentalmente, faz referências à memória
individual. E quando Pierre Nora fala em lugares de memória ou quando, na expressão
de Arno Mayer, vive-se “um frenesi de memória”, (MAYER, Apud SEIXAS, 2004, p.
43) é na questão da memória coletiva que esses historiadores centram sua atenção
e não na memória individual.
Esta situação tem suscitado interessantes discussões sobre a questão. Um
exemplo significativo pode ser encontrado em textos como o de Jacy Alves de Seixas,
cujo propósito é discutir a questão da memória no âmbito dos estudos históricos.
Para a historiadora, trata-se de um
[...] fenômeno novo e salutar que está na raiz de importantes movimentos identitários
(sociais e/ou políticos) e de afirmação de novas subjetividades, de novas cidadanias [...]
Responsável, por um debate que teve como desdobramento o aparecimento de novas
noções como as de “memórias subterrâneas”, “lembranças dissidentes”, “lembranças
proibidas”, “memórias enquadradas”, “memórias silenciadas, mas não esquecidas” e outras
que buscam dar conta da complexidade do fenômeno contemporâneo da memória [...]
(SEIXAS, 2004, p. 43)
Paul Ricoeur (2007) obra na qual o pensador francês propõe um novo olhar, positivo,
sobre o problema das relações entre a memória e História. Segundo Ricoeur:
[...] apesar das armadilhas que o imaginário arma para a memória, pode-se afirmar que uma
busca específica da verdade está implícita no olhar sobre a coisa passada [...] Essa busca da
verdade especifica a memória como grandeza cognitiva. Mais precisamente, é no momento
do reconhecimento, no qual se conclui o esforço da lembrança, que essa busca da verdade
se declara. Sentimos e sabemos então que algo se passou, que algo aconteceu, que nos
implicou como agentes, como pacientes como testemunhas. (RICOEUR Apud LORIGA in
CASTRO GOMES, A & SCHMIDT B. B [Orgs], 2009, p. 19).
[...] ela é o nosso único recurso para significar o caráter passado daquilo de que declaramos
nos lembrar. [...] Para falar sem rodeio, não temos nada melhor que a memória para
significar que algo aconteceu, ocorreu, se passou antes que declarássemos nos lembrar
dela. (RICOEUR, 2007, p. 40)
Variação de distância, mas também variação nas modalidades ativas e passivas dos jogos de
distanciamento e de aproximação que fazem da proximidade uma relação dinâmica
constantemente em movimento: tornar-se próximo, sentir-se próximo. Assim, a proximidade
seria a réplica da amizade, dessa philia celebrada pelos Antigos, a meio caminho entre o
indivíduo solitário e o cidadão definido pela sua contribuição à politéia, à vida e à ação das
polis. (RICOEUR, 2007, p. 141).
Ricoeur levanta ainda outra questão. Ele se indaga em qual trajeto de atribuição
da memória se situam esses próximos. Para ele, a ligação com os próximos “corta
transversal e eletivamente tanto as relações de filiação e de conjugabilidade quanto
às relações sociais dispersas, segundo as formas múltiplas de pertencimento ou as
ordens respectivas de grandezas.” (RICOEUR, 2007, p. 141) Nesse sentido, é possível
pensar que os textos memorialísticos criam novas zonas de comunicabilidade entre
grupos aparentemente desconexos ou ainda estabelecem zonas de interdependência
entre o público e o privado.
Ao pensar positivamente a memória individual, Paul Ricoeur está indiretamente
propondo um novo olhar para o papel do memorialista. Ele não o percebe como um
simples auxiliar do historiador, mas como um elo na cadeia entre o historiador
fincado no presente e o passado que este busca reconstituir através de suas pesquisas.
Parece evidente que o historiador possa e deva desconfiar da imparcialidade
das narrativas memorialísticas, afinal todo memorialista confessa que vai contar
uma verdade, verdade esta que materializa uma visão particular dos fatos, mas o
historiador sabe que tal verdade é parcial e seu trabalho residiria em confrontá-la
com os fatos que se cristalizam pela produção de outros documentos e pela própria
memória dos demais personagens que participaram e narraram a sua verdade dos
mesmos fatos.
Com relação ao processo escritural e no âmbito dos estudos literários, Philippe
Lejeune (2008, p. 104) parece seguir na mesma direção do pensamento de Ricoeur,
ao destacar que o fato de que a identidade individual, na escrita como na vida, ao
passar pela narrativa não significa de modo algum que ela seja uma ficção. Ao se
colocar por escrito, o indivíduo apenas prolonga aquele trabalho de criação da
“identidade coletiva” em que consiste qualquer vida. É claro que, ao tentar ver-se
melhor, continua se criando, passando a limpo os rascunhos de sua identidade e
nesse movimento vai provisoriamente estilizá-los ou simplificá-los. Mas esse
indivíduo não brinca de se inventar. Ao seguir as vias da narrativa, ao contrário, ele
é fiel à sua verdade: todos os homens que andam na rua são homens-narrativas; é
por isso que conseguem parar em pé. Se a identidade é um discurso imaginário, a
autobiografia que corresponde a esse imaginário está do lado da verdade. Não há
nenhuma relação com o jogo deliberado da ficção. (LEJEUNE, 2008, p. 104).
NOTAS
REFERÊNCIAS
SOBRE O AUTOR
P. 167-179
RESUMO: La isla de Róbinson, de Arturo Uslar Pietri, é, do nosso ponto de vista, uma das obras
mais exitosas dentro da produção deste venezuelano que nasceu em Caracas em 1901 e que
morreu em 2006. Nesse trabalho trataremos de três características importantes da produção
Uslariana que ressaltam ao longo desse romance histórico, os quais se vinculam à urgência que
existe no autor de converter o lápis em pincel do pensamento. A primeira delas será tratar da obra
La Isla de Róbinson como um romance histórico; a segunda é a sua pertinência, também, a outro
ramo literário muito conhecido, como é a literatura de viagens e, a terceira, a relação da escrita
com a realidade e o pensamento; problemática que subjaz ao longo de todo o texto. Este romance
histórico narra um dos períodos mais importantes na história da Venezuela e da América latina,
sua Independência. O narrador escolhe o momento em que ela rompe os limites do território da
Venezuela para se converter em um acontecimento Latino-americano e mundial. A obra é uma
reflexão sobre o sentido que teve este acontecimento para os latino-americanos, principalmente
através do pensamento de um de seus mais grandes ideólogos, Simón Rodríguez
RESUMEN: La isla de Róbinson, de Arturo Uslar Pietri es, desde nuestro punto de vista, una de
las obras más logradas, dentro de la producción de este venezolano quien nace en Caracas en
1901 y muere en 2006.En este trabajo trataremos tres rasgos importantes de la producción
Uslariana que resaltan dentro de esta novela histórica, los cuales se engloban en la urgencia que
existe en el autor de convertir el lápiz en pincel del pensamiento. El primero de ellos será tratar
a La Isla de Róbinson como novela histórica, el segundo, su pertenencia también a otra rama
literaria muy conocida, como es la literatura de viajes y la tercera, la relación de la escritura con
la realidad y el pensamiento; problemática que subyace a través de todo el texto. Esta novela
histórica narra uno de los períodos más importantes en la historia de Venezuela y de Latinoamérica,
http://e-revista.unioeste.br 167
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 167-179
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
su Independencia. El narrador escoge el momento en que ella rompe los límites del territorio de
Venezuela para convertirse en un suceso Latinoamericano y mundial. La obra es una reflexión
sobre el sentido que tuvo este acontecimiento para los latinoamericanos, principalmente a través
del pensamiento de uno de sus más grande ideólogos, Simón Rodríguez.
INTRODUCCIÓN:
La isla de Róbinson, de Arturo Uslar Pietri, es, desde nuestro punto de vista,
una de las obras más logradas, dentro de la producción de este venezolano quien
nace en Caracas en 1901, vive una vida llena de ricas experiencias, tanto en el campo
de la literatura como en el de la acción política y muere en el 2006.
Esta afirmación sobre la novela ha sido confirmada por Alexis Márquez
Rodríguez, cuando dice:
La isla de Róbinson es la mejor lograda de las novelas de Uslar Pietri. La más madura, la
más acabada, la mejor concebida y realizada. En ella se combinan mejor que en todas las
demás, por una parte la precisión y el enfoque temático y anecdótico, y por la otra un
acopio de recursos técnicos y de lenguaje de una extraordinaria riqueza. Todo lo cual se
estructura sabiamente y con una alta calidad estética, para formar un corpus relatístico en
verdad excepcional. (MÁRQUEZ RODRÍGUEZ, 1986, p. 23).
sobre artistas plásticos como Giotto y Leonardo de Vinci. Su primera novela histórica
Las Lanzas Coloradas (1930) escrita en París, cuando disfrutaba de la compañía de
Miguel Ángel Asturias y Alejo Carpentier, ha sido traducida hoy a muchos idiomas.
En este trabajo trataremos tres rasgos importantes de la producción Uslariana
que resaltan dentro de esta novela histórica, los cuales se engloban en la urgencia
que existe en el autor de convertir el lápiz en pincel del pensamiento. El primero de
ellos será tratar a la Isla de Róbinson como novela histórica, el segundo, su
pertenencia también a otra rama literaria muy conocida como es la literatura de
viajes y la tercera, la relación de la escritura con la realidad y el pensamiento;
problemática que subyace a través de todo el texto.
Las aristas de estos tres problemas confluyen en uno solo, la creación de la
novela. Ninguno de ellos es tan rígido como una cárcel, como tampoco es firme la
identidad para el personaje principal, quien se inicia como Simón Rodríguez, cambia
su nombre al de Samuel Róbinson y nuevamente termina llamándose Simón
Rodríguez. Esto viene relacionado con su condición de hijo expósito, a quien ni su
padre ni su madre confirieron una identidad. Lo mismo sucede, parcialmente, con
otros personajes importantes de las novelas de Arturo Uslar Pietri, Fernando e Inés
Fonta en las Lanzas Coloradas, que a pesar de tener padre legítimo no poseen
conexión afectiva con él y Don Juan de Austria, el hijo bastardo de Felipe II, quien
pasa sus primeros años de vida sin conocer a su padre y sin saber su verdadera
identidad. Uslar Pietri parece sentirse fascinado por estos personajes, que están
muy cerca de definir al sujeto latinoamericano, que en su gran mayoría carece de
representación de la figura paterna.
Eran infinitas voces de una legión de hombres. Pero siempre era la suya. Hasta aquella de
ahora con que llamaba a Cocho, entre el ruido del mar. Voz de viejo, cascada, seca, tosida.
No te sientes allí. No sobre la caja de papeles, no sobre aquel rescoldo de incendio, no
sobre aquel eco de lo más viviente de todo lo que él había vivido. (USLAR PIETRI, 1981, p.
183).
La obra puede ser considerada como novela histórica porque narra uno de
los períodos más importantes en la historia de Venezuela y Latinoamérica, su
Independencia.2 Pero no se habla solamente en ella de este período histórico sino
también de aquellos precursores que contribuyeron con sus pensamientos y acciones
a realizar el sueño de una América libre y productiva. En el ensayo magistral Godos,
insurgentes y visionarios analizará la contribución de muchos de ellos en la
construcción del imaginario del continente, por eso esta novela nos describe la
personalidad de algunos de los que fueron contemporáneos de Simón Rodríguez.
Muchos de ellos comparten ese terreno movedizo que limita con la locura,
como es el caso de Fray Servando Teresa Mier quien afirmaba que “El evangelio fue
predicado en América al mismo tiempo que en el resto de los otros continentes.
Desde el siglo I de la Era Cristiana por Santo Tomás-Quetzalcoatl.” (USLAR PIETRI,
1981, p. 37). También nuestro imaginario participa de la visión del indio que tenía
René de Chateaubriand en Atala o los amores de dos salvajes que Simón Rodríguez
traduce del francés. “Había que ser un francés, como aquel fino y modulado hablar,
para haber podido tener aquella visión del indio. Nunca los habíamos visto así
Servando.”3
Basta esta pequeña frase para analizar el juego que establece el autor entre el
estilo directo e indirecto en la novela. Las pinturas del narrador aparecen en estilo
indirecto, mientras que las frases de los personajes tomadas de otros textos, aparecen
entre comillas. Así el narrador nos introduce a través de estas señales gráficas
dentro de su juego temporal que pretende darnos la sensación de un mundo con
tiempos diferentes. No es lo mismo el tiempo lento de la Colonia caraqueña que el
tiempo rápido de la República norteamericana, ni estos se parecían al tiempo en el
París Postrevolucionario. Ni tampoco sería el mismo que nos dibuja cuando la
balsa conduce a Simón Rodríguez hacia su morada definitiva. “La velocidad y la
densidad del tiempo habían ido cambiando a su alrededor.” (USLAR PIETRI, 1981,
p. 44).
Para esta novela Arturo Uslar Pietri escoge como nudo principal de la trama
el momento en que la Revolución de Independencia escapa a los límites de un solo
territorio para convertirse en un suceso Latinoamericano y mundial. Las Lanzas
Coloradas, primera novela de Arturo Uslar Pietri describe los inicios de este proceso
en el territorio venezolano.
¿Todavía me tiene usted por loco? Antonio José de Irisarri negó con azoramiento y
vehemencia.” […].
“Esto no está para escribir historia. Don Antonio José, sino más bien para hacer una novela
picaresca increíble. Todos los Rinconetes, los Lazarillos, los Guzmanes, los Pablos, se
quedarían chiquitos. Hágala usted. (USLAR PIETRI, 1981, p. 325).
momento en que el alma criolla pudo entregarse con fruición posesiva a la irrestricta
expresión de su ser. […]
La novela es para él maestra de la vida, y su condición imaginaria no invalida su mensaje de
comprensión y acercamiento al proceso social de un pueblo. (CASTRO, 2002, p. 632).
Le confió que la Asamblea le iba a pedir que redactara el proyecto de constitución para el
nuevo Estado. Ya tenemos la experiencia de todos estos años y deberíamos conocer las
fallas y los errores de los sistemas constitucionales que hemos ensayado. Vamos a proponer
instituciones que no sean meras copias, sino respuestas directas a nuestras necesidades
y características. (USLAR PIETRI, 1981, p. 228).
Uno de los ideales más queridos para el maestro Simón Rodríguez es crear
un cuerpo social donde cada uno de los individuos concientizara su papel dentro de
él: Los hombres viven juntos, Peña, pero carecen de la idea fundamental de la
asociación que es pensar cada uno en todos para que todos piensen en él. Eso no lo
enseñaba nadie. […]. Por eso viven todos contra todos y no hay sociedad.4 (USLAR
PIETRI, 1981, p. 162).
Además de las virtudes ciudadanas, Simón Rodríguez le concede un papel
muy importante a la productividad en la sociedad americana, que debe ser lograda a
través de la educación y el trabajo: “Enseñen y tendrán quien sepa, eduquen y tendrán
quien haga. Enseñar a trabajar, a vivir en sociedad, a producir.” (USLAR PIETRI,
1981, p. 198). Y también, “El hombre no es ignorante porque es pobre, sino al
contrario. (USLAR PIETRI, 1981, p. 206).
No sólo hablaba de la educación del hombre en la sociedad, sino de la del
hombre individual, como persona, al que se le habían aplicado normas que lo habían
prostituido:
Si no se cambia al hombre nada se cambia. Hay que tomarlo tierno y fresco. Sin nada todavía
en la cabeza. […] Es por la cabeza por donde se le hace, o por donde se le permite
¿Cómo le iba a explicar a ella que pensaba marcharse para aquella tierra perdida en el fondo
del mundo llena de guerras, indios, monos y loros? Parecía que iban juntos por la calle pero
se perdían en la más completa separación de pensamientos e imaginaciones. (USLAR
PIETRI, 1981, p. 146).
Estos mojigatos de Lima le han hecho ver que es escandaloso que yo me muestre en su
casa. Que debemos vencernos nosotros mismos. Ha visto usted, señor Rodríguez, mayor
disparate. Que ya no podemos unirnos legalmente ante los hombres debemos hacer el
sacrificio de separarnos. ¡Qué gracioso! ¡Qué fácil! Él seguirá para el Sur donde no le
faltarán toda clase de descocadas, zorras, tías, busconas, gamberras. Allá se las halla. Y que
yo me vuelva, como chica regañada, a la casa del inglés. No señor, no y mil veces no.
(USLAR PIETRI, 1981, p. 196).
2- EL LIBRO DE VIAJES:
Fue con esas garras y con esas fauces, disimuladas, escondidas, untuosas, con las que lo
atraparon y lo destruyeron. Todo lo cambiaban, lo adulteraban, lo fingían. El venía a buscar
a Bolívar y se lo habían escamoteado. Él quería organizar una república y lo que brotaba a
su espalda, como retoño de mala hierba tenaz, era la vieja mentira, el orden vetusto de
salas, patios y corrales, el mi amo de la indiada, el orgullo de los señores de nada. Él
sembraba una escuela y que brotaba era un hospicio de mendigos. (USLAR PIETRI, 1981,
p. 152).
Al describir a Ud. todas las locuras de este caballero tendría que ser muy largo. Ud.
pensará que yo estoy muy enfadado con él y no es así. Considero a Don Samuel un hombre
muy instruido, benéfico cual nadie, desinteresado hasta lo sumo y bueno por carácter y por
sistema; pero lo considero también una cabeza alborotada con ideas extravagantes, y con
incapacidad para desempeñar el puesto que tiene bajo el plan que él dice y que yo no sé
cuál es; porque diferentes veces le he pedido que me traiga por escrito el sistema que él
quiere adoptar para que sirva de regla y en ocho meses no me lo ha podido presentar.
(USLAR PIETRI, 1981, p. 234).
No era nada escribir en el rincón del cuarto pobre donde se acodaba por horas, abstraído
de todo. Lo peor era la disputa continua con el impresor. ¿Qué necesidad hay de ser tantos
tipos distintos de letras de todos tamaños? La gente se va a confundir. No se preocupe
usted. Ya aprenderán. Escribir es pintar ideas. Lo que yo trato es de pintarlas con más
claridad. ¿Cómo sabe uno donde está lo importante en esas páginas grises y parejas de los
libros ordinarios? (USLAR PIETRI, 1981, p. 260).
NOTAS
Doutora em História pela Universidade Católica Andrés Bello de Caracas, Venezuela. Profes-
sora da Universidade Metropolitana de Caracas, Venezuela.
1 Paréntesis de la autora.
2 Para Uslar toda novela era histórica. “El campo de la novela es el tiempo, pero no la época,
sino la acción del pasado en el presente y la transformación continua del presente en pasado
a través del personaje, sus relaciones y sus fantasmas.
Es en este sentido que toda la novela es histórica por naturaleza, porque es una tentativa de
contener un tiempo y de mantenerlo vivo en términos de presente, aunque la acción que se
relate haya ocurrido muchos siglos antes.” (Uslar, 2002, p. 886)
3 La itálica está entre comillas en el texto.
4 Las itálicas sustituyen a las comillas en el texto.
REFERÊNCIAS
DELPRAT, Francois. (Coord.) Arturo Uslar Pietri. Las Lanzas coloradas. Primera narrativa. Madrid;
Barcelona; La Habana; Lisboa; París; México; Buenos Aires; São Paulo; Lima; Guatemala; San José;
Caracas: ALLCA XX, 2002.
FEBRES, Laura. (Comp.) A los amigos invisibles Visiones de Arturo Uslar Pietri. Caracas:
Universidad Metropolitana, 2006.
GARCÍA ARAUJO, Mauricio; et all. Todo Uslar. Caracas: Universidad Metropolitana, 2001.
MÁRQUEZ RODRÍGUEZ, Alexis. Arturo Uslar Pietri y la nueva novela histórica. Caracas: Contraloría
General de la República, 1986.
RODRÍGUEZ, Simón. Sociedades americanas. Caracas: Biblioteca Ayacucho- versión digital- 1990.
USLAR PIETRI, Arturo. La isla de Róbinson. Barcelona, Caracas, México: Seix Barral, 1981.
______. Las Lanzas Coloradas. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1979.
______. La vista en el tiempo. Bogotá: Editorial Norma, 1990.
______. El globo de colores. (1975). Caracas: Monte Ávila, 1975.
______. Godos, insurgentes y visionarios. Barcelona: Seix Barral, 1986.
______. Giotto y compañía. Caracas: Fundación Mendoza, 1987.
SOBRE A AUTORA
RESUMO: O libro de contos Madejas de Clío (2007), da escritora paraguaia Gloria Muñoz
Yegros, revela as lacunas deixadas pela história convencional. O discurso dos setores hegemônicos
nunca manifestou, como jamais o fará, a visão, a sensibilidade, as motivações e nem as circunstân-
cias do desemparo, da exploração y marginalização dos setores sociais desprotegidos do Paraguai.
O texto de Muñoz Yegros converte-se, nesse sentido, em uma proposta narrativa alternativa, por
meio da qual se concede a palavra aos que a história oficial negou o direito à expressão da voz. O
livro de Muñoz apresenta-se para nós como uma prática escritural alternativa, a qual se empenha
em romper com os moldes culturais homogêneos da literatura hegemônica. A autora paraguaia
põe de manifesto, de forma direta, as vozes dos que fazem parte da história subalterna. Madejas
de Clío dá conta dos rastros que deixaram as vozes dos deslocados e silenciados, marcando os
seus modos de resistência e assinalando os pontos “álgidos” da história paraguaia.
RESUMEN: El libro de cuentos Madejas de Clío (2007) de la escritora paraguaya Gloria Muñoz
Yegros, pone al descubierto las lagunas dejadas por la historia convencional. El discurso de los
sectores hegemónicos nunca manifestó ni lo hará la visión, la sensibilidad, las motivaciones ni las
circunstancias de desamparo, explotación y marginación de los sectores sociales desprotegidos
del Paraguay. El texto de Muñoz Yegros se convierte, en este sentido, en una propuesta narrativa
alternativa a través de la cual se hace hablar a quienes la historia oficial les ha negado una voz. El
libro de Muñoz se nos presenta como una práctica alternativa que se empeña en romper los
moldes culturales homogeneos de la literatura hegemónica. La autora paraguaya pone de manifiesto
de forma directa las voces de los que forman parte de la historia subalterna. Madejas de Clío da
cuenta de las huellas que han dejado las voces de los desplazados y silenciados, marcando sus
modos de resistencia y señalando los puntos álgidos de la historia paraguaya.
PALABRAS CLAVE: Literatura paraguaya, historia paraguaya, Madejas de Clío, Gloria Muñoz
Yegros, velamientos, develamientos, lagunas de la historia oficial.
http://e-revista.unioeste.br 181
Revista de Literatura, v ol. 6 nº 8 2010 p. 181-190
História e Memória I SSN 180 9-5313
1809-5313
UNIOESTE CAMPUS DE CASCAVEL
2010: Reflexões sobre o bicentenário
de independências na América
[…], es mucho más que una metáfora del Paraguay porque entre el primer cuento y el
último hay un tránsito en círculos, […] para mostrar a nuestras mujeres, de nuestra
América, para mostrar a las mujeres de Paraguay que van hilando en una madeja, […] una
historia de rebeldía, de dignidades muy dolorosas y también de solitarias dignidades […]
y todo va saliendo, […], como si Gloria extendiera la mano para que pudieran escapar
estas mujeres de esas condenas diversas que les impuso la sociedad colonial al desarrollo
de la historia de Paraguay […] (STELLA CALLONI, Buenos Aires, 2007).
Gloria Muñoz pone en tela de juicio los modos como la historia oficial
observa, registra y da cuenta de los acontecimientos. Muñoz en sus relatos articula
los hechos del pasado con los del presente: desde los momentos conflictivos de la
conquista (“Año 1540. ¡Arde, Juliana, arde!” y “Año 1570. Elvira y el trópico”),
pasando por el período colonial (“Año 1648. La excomunión de don Diego” y “Año
1725. La cama portuguesa”), siguiendo por la independencia (“Año 1821. El primo
Gaspar” y “Año 1865. A la sombra el viejo Brigadier”), la posguerra del ’70 (“Año
1873. La vara de guayabo y el general” y “Año 1877. Los conjurados”), el período de
los sucesivos golpes de estado y cortos gobiernos dictatoriales (“Año 1905. El
nombre de la mujer más hermosa de la historia”, “Año 1915. Si tuvieran madrina”,
“Año 1922. La sopa del triunfo”, “Año 1933. Madrina de guerra”, “Año 1935. Llueve y
está oscuro” y “Año 1940. Leche de víbora”), dando cuenta de los momentos de la
dictadura de Alfredo Stroessner (“Año 1975. El juez sin camisa” y “Año 1982. Carta
a Angelina”), hasta llegar a la transición democrática (“Año 1997. El secreto tormento
de lo cotidiano”) y el momento actual (“Año 2005. Cartas a España” y “Año 2006.
El viaje de don Calixto”).
La autora pone el dedo en la llaga, al mostrarnos los lados problemáticos y
las tensiones de la historia remota y la más inmediata del Paraguay. Clío-Gloria
Muñoz, teje el anverso y el envés de la historia paraguaya. Se trata de las historias
de los(as) desamparados(as) en un registro inusual de las voces solitarias del pueblo
paraguayo. Las historias de los Yegros, protagonistas de la independencia del
Paraguay, de Don Diego, el Viejo Brigadier, el primo Gaspar se apoyan en parte en
registros documentales y, en gran medida, se inspiran en la memoria colectiva, en
lo que queda de ellos de leyenda.
Es preciso destacar que aunque en el libro de Muñoz Yegros existan historias
de personajes masculinos, en la mayoría de los cuentos la figura protagónica es
femenina y cumple un rol relevante. El hecho de que las instancias femeninas
sobresalgan en el texto de Gloria Muñoz, responde a la misma historia de Paraguay,
protagonizada en gran medida por mujeres. Es decir, fueron ellas quienes tuvieron
la osadía histórica de reconstruir desde las cenizas a un país desvastado por dos
guerras funestas y a quienes les tocó redimir la memoria usurpada al pueblo
paraguayo. Por ello, distinguiremos del libro Madejas de Clío las historias de
mujeres, en particular, los relatos “Año 1540 ¡Arde, Juliana, arde!” y “Año 1570.
Elvira y el trópico”. Nos referiremos a “Año 1725. La cama portuguesa” y “Año 1877.
Los conjurados”, con el propósito de enfatizar ciertos recursos expresivos-narrativos
recurrentes y significativos. Lamentablemente, por cuestiones de espacio y tiempo
no podremos referirnos al resto de los cuentos que componen Madejas de Clío.
Todas ellas fueron bautizadas y sus floridos nombres guaraníes cambiados por otros sin
sentido ni alma, su desnudez vestida por aquellos bastos y mezquinos lienzos para habitar
decentes las casas de lujuria de sus señores españoles, como concubinas y como siervas,
en fin, para todo servicio, desde el lecho a los surcos de la siembra, al cuidado del ganado,
al acarreo del agua y todos los trabajos que se precisasen […] (MUÑOZ, 2007, p. 14).
[…] El aire caliente fue desprendiendo de su cuerpo las medias, los sobrevestidos, los
corpiños, los zapatos y, aún aligerada, su carne seguía ardida, con un calor que desataba
deseos impuros, imperativos, que no menguaban con los embarazos ni el puerperio. Se
había aficionado, ya durante su estancia en San Vicente, al pecaminoso baño diario, no
podía prescindir de las aguas que absorbían el fervor de su piel, una caricia de seda que la
aplacaba e incitaba al mismo tiempo (MUÑOZ, 2007, p. 24).
Gloria Muñoz, nos muestra el desarraigo al que está sujeta la mujer, cuando
se le arroja de la casa de su propio ser, obligándola a negar lo que ella es en sí, para
sí y por sí misma. Tanto la una como la otra (cada una representando a las de su
bando, su frontera) son despojadas y acosadas por las redes del poder masculino. A
pesar de ello, ambas responden, a su modo, transgrediendo las fronteras que las
confinan y las limitan. Juliana y Elvira, son protagonistas a las que les toca vivir y
luchar solitariamente contra los estereotipos familiares, los prejuicios de la época y
la reclusión masculina. A estas historias de mujeres, “sepultadas también en el
olvido” (Presentación de Stella Calloni, Buenos Aires, 5-XII-07), se les restituye su
sentido en el curso del relato de ficción. En estos textos se nos muestra los actos de
liberación femenina que implica defender su derecho a la diferencia, más allá de la
mera reivindicación. Porque Juliana, Elvira y las otras mujeres se levantan contra la
subordinación a unos sistemas genealógicos exclusivamente masculinos, organizados
en una sola línea de filiación entre hombres y que desconoce el origen de las relaciones
de las mujeres con su entorno.
Los distintos relatos que conforman el libro de Muñoz cumplen la función de
problematizar ciertos aspectos frágiles de la historia oficial, como el que concierne
al ideologema del mestizaje. A través de este paradigma no se llega a dilucidar los
aspectos conflictivos de los procesos de interacción cultural. El mestizaje no
constituye una herramienta metodológica idónea con la cual analizar los procesos
NOTAS
REFERENCIAS:
DELEUZE, Guilles. “Introducción: Rizoma”. En: Mil Mesetas. Capitalismo y esquizofrenia, Valencia/
España: Pre-Textos, 1997.
LIENHARD, Martin. La voz y su huella. México: Editores Casa Juan Pablos y Universidad de
Ciencias y Artes de Chiapas, 4a. Edición, 2003.
MUÑOZ Yegros, Gloria. Madejas de Clío. Asunción/Paraguay: Arandurã, FONDEC (Fondo Nacional
de la Cultura y las Artes), 2007.
SOBRE LA AUTORA: