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Sun Tzu, por volta do ano 400 antes de Cristo, apresentou seu livro
para Ho-lü, ou Wu Helu, rei do pequeno povo semibárbaro de Wu. O
rei, após ler os treze capítulos, chamou Sun Tzu e elogiou seu
trabalho. Perguntou se era possível utilizá-lo com suas tropas. Sun
Tzu respondeu com alegria que sim. Depois perguntou o rei, em tom
de zombaria, se poderia aplicá-lo às mulheres. O general, ressentido,
disse sim.
O rei imediatamente mandou reunir suas 180 concubinas no pátio do
palácio e lhes deu armas. Sun Tzu dividiu-as em dois grupos,
liderados pelas duas favoritas do rei, que a tudo assistia do púlpito.
E então perguntou:
- Vocês conhecem as posições "frente", "esquerda", "direita" e
"retaguarda"?
- Sim. Responderam as moças, que estavam dispersas e riam da
situação.
- Ótimo, pois quando eu disser "frente" olhem para frente. Quando
eu disser "esquerda", "direita" e "retaguarda" olhem nessas
direções. Façam o que eu mandar. Está claro?
Mas uma vez, as moças responderam que sim por entre os risinhos.
Sun Tzu sinalizou para a guarda e falou:
- Estejam prontos para punir quem me desobedecer. - Os guardas
prontamente desembainharam suas espadas.
O general levantou sua bandeira e sinalizou, gritando a plenos
pulmões:
- Frente!. - As concubinas desataram a rir, displicentes. Sun Tzu
refletiu:
- A incapacidade de dar ordens claras é uma falha do comandante.
Explicarei novamente. Quando eu disser "frente", "esquerda",
"direita" e "retaguarda", olhem nessas direções.
Levantou novamente sua bandeira e apontando para o lado gritou:
- Esquerda!
As moças desataram a gargalhar.
Sun Tzu falou:
- A incapacidade de dar ordens claras é uma falha do comandante.
Mas quando elas são claras, a culpa é dos soldados.
Assim, ordenou aos guardas:
- Matem quem me desobedeceu! Poupem as moças, mas não suas
líderes!
As moças, acuadas, pediram piedade ao rei, que interveio:
- Sei agora que você é um bom comandante, mas não gostaria de
perder minhas concubinas favoritas. Deixe-as ir, não as mate. -
Pediu o rei, animado com a cena.
- Não. - Retrucou Sun Tzu - Como comandante, não posso aceitar
interferências no comando das tropas.
Virou-se para os guardas e ordenou:
- Executem-nas em público! - E os soldados, sem o menor traço de
piedade, obedeceram. O rei e as concubinas assistiram ao espetáculo
aflitos.
Sun Tzu escolheu mais duas moças para liderar as tropas e orientou-
as novamente. Desta vez nenhuma moça ousou rir e todas elas
marcharam de acordo com o rufar dos tambores.
O general dirigiu-se ao rei e exortou:
- Elas agoras estão treinadas e prontas para a inspeção, majestade.
Podereis usá-las como bem entender, estão prontas para realizar a
tarefa mais difícil em vosso nome.
O rei, contrariado, retirou-se. Mas reconheceu o gênio de Sun Tzu e
nomeou-o General de suas tropas. Neste período o pequeno estado
Wu anexou os reinos ao norte e oeste, transformando-se numa
grande potência graças aos feitos de Sun Tzu.
c HISTÓRICO
c COMENTÁRIOS
Como explicar a longevidade de uma obra como A Arte da Guerra, do
general chinês SunTzu, se os instrumentos de batalha evoluíram
tanto no espaço de tempo entre o surgimento deste texto milenar e
os nossos dias?
Uma pista estaria na maioria dos tratados militares feitos pelos
gregos e romanos, que sempre tiveram a preocupação de discutir
uma estratégia em particular, ou de resolver um problema de ordem
tática. Eles discutiam planos mirabolantes que se aplicavam a uma
única situação, como os estratagemas propostos por Arquimedes.
Sun Tzu garantiu seu espaço na posteridade ao observar os aspectos
constitutivos da guerra, seus elementos formadores. Ateve-se aos
pontos que são comuns a todas as batalhas e com isso foi além de
todas elas.
O autor usa como ponto de partida o importante papel que a guerra
desempenha na vida social, sendo a causa da desgraça dos povos.
Analisa sua influência na economia e observa o quanto ela é
prejudicial ao povo; como general, sabia o quanto a manutenção das
tropas custava ao Estado e como a passagem das tropas aumentava
a inflação nas províncias. Assim, é do interesse de todos que o
conflito, quando necessário, seja resolvido de maneira sucinta,
diminuindo a extensão dos danos que invariavelmente provoca.
A partir daí, Sun Tzu avalia que elementos devem ser levados em
consideração pelo general na busca pelo êxito, salientando sempre a
constante necessidade de avaliação da situação estabelecida e de
planejamento do passo seguinte. O centro da estratégia é deslocado
para o inimigo. Uma vez que sempre os mesmos fatores (terreno,
clima, disciplina, comando e moral) devem ser examinados sob a luz
das situações possíveis, cabe ao general observar o cumprimento de
tais diretrizes e esperar que o inimigo deixe de realizar uma delas
para atacar. Só através de toda essa preparação uma nação poderia
tornar-se apta a entrar em um conflito armado e obter chances de
vitória.
É interessante notar como o general chinês e Maquiavel aproximam-
se por caminhos opostos. Como gênio militar, Sun Tzu observa a
necessidade da política no jogo da guerra. Já o pensador italiano
parte da política para perceber o jogo da guerra. Ambos
consideravam a dissimulação um elemento essencial no trato com os
inimigos. Vale salientar que dificilmente Maquiavel teve acesso ao
texto chinês, visto que a primeira tradução de A Arte da Guerra no
Ocidente só viria a aparecer em 1772.
A questão da espionagem, que é fortemente defendida na Arte da
Guerra, tem o embasamento lógico de que numa guerra necessita-se
de informações, de fontes seguras, sobre o inimigo. Sun Tzu utiliza-
se do artifício maquiavélico dos "fins que justificam os meios" para
poder passar por cima do forte código moral da época e legitimar o
ardil.
Outra área que também foi explorada de maneira afim foi a
Psicologia Social, através de uma série de atitudes a serem tomadas
no trato com as massas, tendo em vista um efeito em particular. Se
por um lado Maquiavel orienta de que maneira o governante deve
lidar com os súditos, Sun Tzu preocupa-se com o que deve fazer um
general para ser respeitado e temido por seus subordinados e
opositores, além de ensinar a reconhecer o verdadeiro estado
emocional reinante entre as tropas. Estas são as semelhanças mais
significantes entre as obras.
Aos olhos de hoje, tais idéias nos parecem arrojadas. Agora, imagine
que avanço significaram entre os povos semibárbaros que habitavam
a China de 2.400 anos atrás, onde guerras poderiam ser provocadas
por uma simples desfeita, movidas pelo ímpeto.
c O TAO DA GUERRA
c RESUMO DA OBRA
Com muitos cálculos pode-se vencer, com poucos não. Mas sem
eles as chances são nulas.
Capítulo X - Terreno
Aquele que tem uma boa estratégia ataca por todos os lados.
Evita a comunicação entre as tropas inimigas, confude-as.
Ataque quando for favorável.
Se atacado por inimigo superior, descubra que ponto ele visa e
ocupa-o com todas as suas forças. Ele cederá.
Aproveite-se do despreparo do inimigo, mova-se em direções
inesperadas e ataque locais desprotegidos.
Lembre-se, na guerra a velocidade é crucial.