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Presidente
Marcio Pochmann Presidente
José Marques de Melo
Diretor de Desenvolvimento Institucional
Fernando Ferreira Vice-Presidente
Diretor de Estudos e Relações Econômicas e Ana Silvia Lopes Davi Médola
Políticas Internacionais
Mário Lisboa Theodoro Diretora Administrativa
Anita Simis
Diretor de Estudos e Políticas do Estado, das
Instituições e da Democracia Diretora Relações Internacionais
José Celso Pereira Cardoso Júnior Margarida Maria Krohling Kunsch
Diretor de Estudos e Políticas
Diretor de Relações Nacionais
Macroeconômicas
Elias Gonçalves Machado
João Sicsú
Diretora de Estudos e Políticas Regionais,
Urbanas e Ambientais Site: www.socicom.org.br
Liana Maria da Frota Carleial
Socicom
Diretor de Estudos e Políticas Setoriais de
Federação Brasileira das Associações
Inovação, Regulação e Infraestrutura
Científicas e Acadêmicas de Comunicação
Marcio Wohlers de Almeida
Av. Brigadeiro Luis Antonio, 2050, 3º.
Diretor de Estudos e Políticas Sociais Andar – Bela Vista, SP
Jorge Abrahão de Castro CEP 01318-002
Chefe de Gabinete
E-mail: Socicom@hotmail.com
Pérsio Marco Antonio Davison
Assessor-chefe de Imprensa e Comunicação
Daniel Castro
URL: http://www.ipea.gov.br
Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea 2010
Inclui bibliografia.
Conteúdo: v.1. Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. – v. 2. Memória das associações científicas e acadêmicas da
comunicação no Brasil.– v. 3. Tendências na comunicação.
ISBN
CDD 384.0981
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E DAS
TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL
VOLUME 1
Organização
Daniel Castro
José Marques de Melo
Cosette Castro
Coordenação
José Marques de Melo
Anita Simis
Daniel Castro
Cosette Castro
João Cláudio Garcia
SUMÁRIO
VOLUME 1
COLABORAÇÕES PARA O DEBATE SOBRE TELECOMUNICAÇÕES E
COMUNICAÇÃO
Apresentação
Marcio Pochmann - Presidente do Ipea, José Marques de Melo - Presidente da Socicom
e Cezar Alvarez - Secretário-executivo do Ministério das Comunicações .......................11
Suco de Pitomba
Daniel Castro................................................................................................13
Indústrias criativas e de conteúdo: O dilema brasileiro para a
integração do massivo ao popular
José Marques de Melo..................................................................................16
Comunicação Digital - diálogos possíveis para a inclusão social
Cosette Castro..............................................................................................25
11
século o primeiro instituto de pesquisa acadêmica sobre os fenômenos sociais
da informação coletiva. Todavia, a ausência de uma interlocução com o Estado
ensejou o desenvolvimento de estudos nem sempre afinados com as demandas da
sociedade. Padecendo do “complexo do colonizado”, a vanguarda da comunidade
de pesquisadores em comunicação comportou-se mimeticamente, reproduzindo
muitas vezes modelos teóricos forâneos, carentes de sintonia com o ethos brasileiro.
Uma das metas da constituição da Socicom foi justamente superar essa
dependência paradigmática, o que adquiriu consistência por meio do convênio
celebrado com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e que conta com o
apoio do Programa Nacional de Banda Larga. Com este projeto, o Ipea legitimou
a relação comunicação-desenvolvimento ensejando a criação de um Observatório
das Políticas Públicas nesse campo. Além disso, planeja realizar séries históricas
destinadas a pensar sistemas democráticos de difusão coletiva, além de propor
indicadores na área de comunicação.
A obra Panorama Brasileiro da Comunicação e das Telecomunicações representa
um passo decisivo nessa direção. E, em seu terceiro volume, apresenta o resultado
(parcial) de quatro pesquisas realizadas por pesquisadores brasileiros da área
da comunicação sobre o Estado da Arte nesse campo do conhecimento. Neste
volume é possível conhecer o número de faculdades e cursos de pós-graduação
em comunicação no país, analisando áreas de concentração e/crescimento. Um
segundo ponto da pesquisa sobre o Panorama da Comunicação analisa as profissões
existentes hoje e as novas habilidades necessárias para que o país possa investir em
uma indústria de conteúdos e serviços digitais. A terceira parte do estudo analisa
as indústrias criativas e de conteúdos e os movimentos das empresas em direção
ao modelo digital. Finalmente, a pesquisa realiza estudo comparativo na área de
comunicação com outros países, possibilitando a análise de nossas fragilidades e
potencialidades.
12
SUCO DE PITOMBA
14
comunicação e telecomunicação ainda existe só nos manuais, pois no dia-a-dia
não há debate sobre uma que não use temas da outra.
Mas esse debate, no Ipea, está apenas começando. Acredito que essa
associação já deu frutos e tem tudo para decolar. O que não tenho certeza é
se conseguirá fazê-lo na mesma rapidez das transformações que nossa geração
presencia. Temo que os grupos de pesquisa – tanto do Ipea como da Socicom –
devam se debruçar menos pelo histórico e mais pela antecipação de novas ondas,
pois esse setor precisa, sim, ser mapeado, e não podemos assistir passivos às suas
mudanças. E essa parceria deve continuar, em nome da sociedade brasileira.
Daniel Castro
Organizador
Assessor-chefe de Imprensa e Comunicação do Ipea
15
INDÚSTRIAS CRIATIVAS E DE CONTEÚDO:
O DILEMA BRASILEIRO PARA A INTEGRAÇÃO DO MASSIVO AO POPULAR
Introdução
A sociedade midiática caracteriza-se pela prevalência das indústrias criativas
e de conteúdo no conjunto das atividades de produção e circulação dos bens
simbólicos que configuram e dão sentido à sua identidade cultural. O principal
indicador do desenvolvimento da indústria midiática é sem dúvida o fluxo dos
investimentos em publicidade. Quanto maior for a capacidade dos anunciantes
para comprar espaço nos jornais, rádio, televisão ou internet, mais recursos terão
os empresários do ramo para manter seus veículos, gerar empregos para jornalistas
e outros profissionais e naturalmente melhorar os produtos que difundem.
Nesse âmbito, a América Latina demonstrou tendência regressiva na
primeira década do século XXI. Apesar das recentes aplicações feitas no setor,
perfilou como o continente que menos investia em publicidade. A crise do
sistema financeiro provocou a redução do bolo publicitário, retirando-nos da
retaguarda mundial em 2009. A liderança permanece com a América do Norte
(35.4%), seguida da Europa Ocidental (24.1%), da Ásia/Pacífico (23.4%) e da
América Latina (6.9%).Na retaguarda encontram-se a Europa do Leste (6.2%) e
África/Oriente Médio (4.1%).
Segundo o anuário Mídia Dados 2010, baseado no Advertising Expenditure
Forecast (Zenith Optimedia, 2009), como decorrência “da expansão da economia
na maioria dos países do continente e da valorização das moedas locais diante
do dólar”, no período 2007/2009 houve uma um crescimento de 15% nos
investimentos publicitários da região. O Brasil, o México e a Colômbia
demonstram sinais de vitalidade. São os únicos países desta região sociocultural
incluídos no seleto clube dos maiores anunciantes mundiais.
A situação brasileira é conjunturalmente confortável. Aplicando US$ 11.5
milhões/ano, figura em 7º. lugar no volume de investimentos publicitários
(depois dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, China, Reino Unido e França)
e 0 3º. lugar no investimento publicitário em televisão, precedido apenas pelos
Estados Unidos e Japão.
Os grandes anunciantes são as corporações empresariais que atuam no
mercado financeiro, varejista, automobilístico ou telefônico, bem como as
poderosas empresas estatais. A top list dos investidores publicitários é composta
1Professor Emérito da Universidade de São Paulo, ocupando hoje o cargo de Diretor-Titular da Cátedra UN-
ESCO de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo. Fundador e atual Presidente do Comselho
Curador da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM
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por 15 empresas que aplicam verba unitária superior a US$ 200 milhões/ano.
A distribuição do bolo publicitário é feita de modo paradoxal segundo
os diferentes meios existentes no território brasileiro. Enquanto a indústria
audiovisual (televisão, radio) concentra dois terços dos recursos, a mídia impressa
(jornal, revista) absorve um quinto, restando quantia inexpressiva para os veículos
emergentes (internet, outdoor) e migalhas para os bolsões marginais (folkmídia).
Polarização
O desafio da interação entre os dois sub-sistemas confere singularidade à geografia
comunicacional brasileira. A natureza continental e a topografia acidentada
do espaço brasileiro inibiram durante vários séculos a interiorização dos fluxos
comunicacionais. Foi inevitável a constituição de culturas regionais, unificadas
pelo mesmo código lingüístico, mas diferenciadas pelos usos e costumes locais.
O maior contingente da nossa sociedade era constituído por escravos negros,
miseráveis e analfabetos. Sua libertação somente ocorreu no final do século XIX.
Abandonados à própria sorte, os remanescentes da escravidão agravaram o êxodo
rural, engrossando as comunidades marginais que deram origem às favelas hoje
espalhadas pelos cinturões metropolitanos. Nesses guetos, eles se comunicam de
forma rudimentar. Valendo-se de expressões folkcomunicaconais, enraizadas nas
tradições étnicas, vão se adaptando às cidades. E defrontam-se empaticamente
com as expressões culturais geradas pelos fluxos massivos (cinema, disco, radio,
televisão).
Esses dois Brasis confrontam-se e interagem continuamente. As
manifestações folkcomunicacionais decodificam e reinterpretam as expressões
da indústria cultural e esta procura retroalimentar-se nas fontes inesgotáveis da
cultura popular. O fosso entre as duas correntes reduziu-se muito lentamente,
durante o século XX, traduzindo a vacilação das nossas elites no sentido de
eliminar as desigualdades sociais. A integração ou ao menos o diálogo entre esses
dois sistemas constitui o maior desafio das vanguardas nacionais.
Raízes históricas
Quando, a partir do século XVI, o território brasileiro começou a ser disputado
pelos colonizadores europeus (portugueses, franceses e holandeses), o instrumento
de comunicação vigente em todo o litoral era o tupi-guarani. Essa “língua franca”
predominou até o século XVIII, tendo sido codificada, para fins pedagógicos,
pelos missionários jesuítas.
Durante o ciclo do ouro, os governantes portugueses interiorizam o
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povoamento, intensificando o fluxo populacional, através da importação de mão-
de-obra. Colonos brancos procedentes da Península Ibérica ou recrutados nas
colônias asiáticas, bem como escravos negros oriundos da África se misturam com
os mestiços resultantes do caldeamento entre lusos e nativos.
Para neutralizar os ruídos causados pelo confronto lingüístico entre os
nativos aculturados e os novos adventícios, os colonizadores lusitanos determinam
tardiamente a obrigatoriedade da língua portuguesa nas relações sociais.
Esse processo desencadeia tensões, acarretando a transformação do idioma
do império, que incorpora palavras ou expressões dos dialetos africanos ou das
línguas americanas. O resultado é a constituição de um código de comunicação
oral, empregado pelos contingentes subalternos, que se distancia do código
escrito, preservado pelas elites.
Assim sendo, o processo de comunicação das classes trabalhadoras preservou
laços estreitos com a oralidade, cultivada no interior da Colônia, enquanto as
classes ociosas permaneceram sintonizadas com o beletrismo típico da Corte
Imperial. Encontra-se nessa dissonância retórica a raiz da bipolarização dos
fluxos comunicacionais, configurando o sistema midiático vigente no Brasil
contemporâneo.
Arquipélago cultural
O diagnóstico exibe maior complexidade quando constatamos que o espaço
geográfico brasileiro, por sua natureza continental e sua geografia descontínua
e acidentada, inibiu durante vários séculos a interiorização dos fluxos
comunicacionais. Estes privilegiavam a via marítima, principalmente em direção
à Corte Portuguesa, mantendo incomunicadas as comunidades nacionais. Foi
inevitável a germinação de padrões culturais diferenciados, de região para região,
amalgamados tão somente pelo código lingüístico imposto pelo colonizador, mas
diferenciados pelos usos e costumes locais.
Esse “arquipélago cultural” permaneceu praticamente imutável até o século
XX, quando foram otimizadas as comunicações por via fluvial ou construídas as
rodovias e as ferrovias e desenvolvidas as aerovias, removendo as barreiras que
obstaculizavam a circulação de mercadorias ou de bens simbólicos.
Por outro lado, é indispensável mencionar o obscurantismo cultural
praticado pela Coroa Portuguesa durante todo o período colonial. Foi preservada
até as vésperas da independência nacional, no início do século XIX, a ausência de
escolas, universidade, imprensa, bibliotecas, correio e outros aparatos culturais, .
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Políticas públicas
Durante dois séculos, o comportamento do Estado Brasileiro manteve-se opaco
em relação às políticas públicas de comunicação. Não obstante existissem
diretrizes para regular o sistema nacional de comunicação massiva, primeiro a
imprensa e depois a mídia eletrônica, elas nunca foram articuladas num corpo
doutrinário autônomo. Na verdade, estavam embutidas (ou escondidas) na
legislação ordinária.
Em termos constitucionais, a única política transparente durante o Império
ou a República foi a do controle da informação. A tendência dominante pautou-
se muito mais pelo espírito repressivo do que pelo incentivo à comunicação
democrática.
Longos períodos autoritários marcaram a nossa organização política,
deixando marcas profundas no ethos brasileiro. De tal forma que a nossa postura
diplomática foi de hesitação, dubiedade ou dissimulação, justamente quando a
comunicação se impôs como tema relevante da agenda internacional, na segunda
metade do século XX.
O Brasil oscilou entre a simpatia pela retórica libertária dos países do Terceiro
Mundo e a adesão ao rolo compressor capitaneado pela potência hegemônica,
cuja estratégia era simplesmente desqualificar as decisões terceiromundistas
chanceladas pela UNESCO.
A Constituição Cidadã de 1988 representa o fim dessa tradição de tapar
o sol com a peneira. Pela primeira vez, os nossos legisladores enfrentam com
determinação os desafios da sociedade midiática, dedicando-lhe um capítulo
exclusivo da nossa carta magna.
Sob o titulo genérico “Da Comunicação Social”, os artigos 220-224
assimilam em grande parte as aspirações democráticas da nossa sociedade civil.
Mas passados 20 anos, somos obrigados a constatar que poucos avanços
foram contabilizados. Se logramos garantias constitucionais para comunicar
democraticamente, faltam-nos ainda instrumentos legais capazes de implementar
os princípios que as fundamentam.
Temos evidentemente uma grande conquista que merece reconhecimento.
Trata-se do respeito à liberdade de expressão pública. Nunca vivemos, em toda
a nossa trajetória republicana, conjuntura mais rica em termos de liberdade de
imprensa.
Tradição do impasse
Neste momento em que o País demonstra pujança democrática e altivez
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cultural, torna-se inadiável a formulação de políticas públicas de comunicação
consentâneas com as demandas do Século XXI.
Temos a expectativa de pavimentar a nossa passagem para a Sociedade do
Conhecimento, extirpando a exclusão comunicacional a que estão condenados
vastos contingentes da nossa população que passaram pela escola, mas não se
converteram em leitores de jornais, revistas ou livros.
Sedentos de leitura e famintos de cultura, esses bolsões marginais da
sociedade de consumo protagonizam papéis de segunda ou terceira classe, sem
exercer plenamente a cidadania.
O advento da sociedade digital recoloca na ordem do dia aquela observação
perspicaz feita, no apagar das luzes do século XIX, pelo intelectual paraense José
Veríssimo: o Brasil cultiva a “tradição do impasse”. A nação tem consciência
dos seus problemas fundamentais, vislumbrando os caminhos para solucioná-los,
porém as elites que controlam o poder hesitam em dar-lhes tratamento adequado,
optando por medidas paliativas que agravam a situação.
Nada melhor que o resgate dessa metáfora para entender o que ocorre na
complexa estrutura comunicacional brasileira, onde dois sistemas coexistem
paradoxalmente, neste início do século XI, interagindo no plano das trocas
simbólicas, sem integrar-se na esfera das providências estratégicas.
Esses dois Brasis se confrontam, interagem, complementam. As
manifestações folkcomunicanais do Brasil tradicional recodificam e reinterpretam
as expressões massivas do Brasil moderno. O fosso entre os dois fluxos se foi
reduzindo lentamente, no correr do século XX, traduzindo a pouca apetência
das elites brasileiras no sentido de eliminar as desigualdades sociais. A chegada
dos imigrantes estrangeiros no início do século passado acelerou, por exemplo,
a expansão da imprensa, cuja leitura era demandada pelas comunidades letradas
oriundas da Europa.
Mais recentemente, o incremento das oportunidades educacionais para
os trabalhadores urbanos acarretou o crescimento das tiragens dos jornais e das
revistas. A elevação do nível cultural das classes médias influiu na melhoria dos
conteúdos da televisão, como foi o caso das telenovelas.
Mas enquanto perdurar o impasse institucional, sem alterar-se o quadro da
exclusão social e da indigência educacional, os dois sistemas comunicacionaios
permanecerão ativos, correspondendo às demandas culturais de audiências
estanques ou segregadas
20
Fontes recentes para guiar novos itinerários
Brasil – Sociedade
Becker, Bertha & Egler, Cláudio
1993 – Brasil, uma nova potência regional, São Paulo, - Bertrand
Benjamin, Roberto
2003 – A África está em nós, 2 vols., Recife, Grafset
Bosi, Alfredo
2002 – Cultura Brasileira, temas e situações, São Paulo, Ática
Fausto, Boris
1995 – História do Brasil, São Paulo, EDUSP
Ortiz, Renato
1994 – A moderna tradição brasileira, São Paulo, Brasiliense
Page, Joseph
1996 – Brasil, el gigante vecino, Buenos Aires, Emecê
Pekic, Vojislav
1996 – Brasil, el gigante del sur, Madrid, Anaya, 1991
Ribeiro, Darcy
2006 – O povo brasileiro, São Paulo, Companhia de Bolso
21
1994 – Brasil, o trânsito da memória, São Paulo, EDUSP
Brasil – Comunicação
Alencar, Mauro
2002 – A Hollywood Brasileira – Panorama da Telenovela no Brasil, Rio,
Senac
Beltrão, Luiz
2001 – Folkcomunicação, Porto Alegre, Edipucrs
2006 – The Folkcommunication System, In: Gumucio & Tufte -
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2006 – Comunicação no Brasil, Anuário Unesco/Metodista de Comunicação
Regional, n. 10, São Bernardo do Campo, Editora Metodista
Bolaño, César
São Paulo – Mercado Brasileiro de Televisão, EDUC
Hallewell, Lawrence
2005 – O livro no Brasil, São Paulo, EDUSP
Mattos, Sergio
2002 – História da Televisão no Brasil, Petrópolis, Vozes
2005 – Mídia Censurada – A História da Censura no Brasil e no Mundo,
Paulus
23
Moreira & Bianco
2001 – Desafios do Rádio no Século XXI, Rio de Janeiro, Editora UERJ
Moreno, Antonio
1994 – Cinema Brasileiro, Niterói, EDUFF
Pinho, J.B.
2000 – Publicidade na internet, São Paulo, Summus
2002 – Relações Públicas na internet, São Paulo, Summus
2003 – Jornalismo na internet, São Paulo, Summus
Sá, Adisia
1999 – O Jornalista Brasileiro, Fortaleza, Fundação Demócrito Rocha
Werneck, Humberto
2000 – A Revista no Brasil, São Paulo, Editora Abril
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COMUNICAÇÃO DIGITAL - DIÁLOGOS POSSÍVEIS PARA A INCLUSÃO SOCIAL1
Cosette Castro2
Introdução
Este artigo forma parte das reflexões apresentadas durante o XIV Colóquio
Internacional da Escola do Pensamento Latino-Americano em Comunicação
(CELACOM) realizado em 2010. Nele, procuramos estabelecer as conexões
necessárias para pensar (desde os estudos de Comunicação) o mundo de forma
transdisciplinar e complexa (no sentido dado por Edgar Morin), onde a produção
de conhecimento e a circulação das informações não estão mais restritas aos espaços
formais e oficiais, como a escola, o Estado ou os meios de comunicação. Elas se
multiplicam na vida cotidiana através das redes sociais, sendo distribuídas através
de diferentes plataformas tecnológicas e repercutem nas pesquisas realizadas
no meio acadêmico e no mundo do trabalho. Desde o ponto de vista dos países
periféricos, como a América Latina e Caribe, nos interessa estudar as plataformas
tecnológicas3 abertas e gratuitas, como a televisão digital terrestre4, a televisão
digital acessada gratuitamente através dos celulares, assim como a convergência
de mídias, como espaço de inclusão social e digital.
A presente reflexão sobre o uso de plataformas gratuitas para populações
de baixa renda está diretamente relacionada às mudanças que vêm ocorrendo
nas sociedades ocidentais e seus paradoxos. Elas envolvem as transformações
econômicas, sociais, culturais, comportamentais e educativas pelas quais estamos
1. Este artigo foi escrito a partir do texto New Formats to Digital Television – use of interactivity and inter-
operability, escrito em parceria com André Barbosa Filho e das reflexões apresentadas no XIV Colóquio da
Escola Latino-Americana de Comunicação (Celacom), em maio de 2010.
2 Doutora em Comunicação pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), Espanha. Atualmente realiza
estudos de pós-doutorado na Cátedra da Unesco em Comunicação para o Desenvolvimento /UMESP. É profes-
sora do PPGCOM da Universidade Católica de Brasília (UCB), professora associada do PPGTVD da UNESP
e do PPGCOM da UnB. Prêmio Luis Beltrão/Intercom de Pesquisa Inovadora-2008. Autora de três livros:
Mídias Digitais, com André Barbosa Filho e Takashi Tome, Ed. Paulinas (2005); Por Que os Reality Shows
Conquistam as Audiências?, Ed. Paulus (2006) e Comunicação Digital, Ed. Paulinas, (2008). Coordena o GP
de Conteúdos Digitais e Convergência Tecnológica da INTERCOM.
3 Existem plataformas tangíveis e plataformas intangíveis. As plataformas tangíveis são os equipamentos onde
se concretiza um conteúdo digital. Exemplos de plataformas são tangíveis: a TV digital, rádio e cinema digital,
videogames em rede, celulares ou computadores mediados por internet. A plataforma intangível – que é o
caso da internet, onde circulam e se multiplicam os conteúdos digitais sem os limites da matéria e da noção de
linearidade.
4 Não estudamos a TV digital por assinatura por se tratar de um modelo pago de televisão, o que restringe o
número de pessoas que vêem TV por essa modalidade. Nos países latino-americanos e caribenhos questões
geográficas e a falta de conteúdos nacionais possibilitaram que as televisões por assinatura se desenvolvesse em
países como Argentina (problemas geográficos) ou Equador (falta de conteúdos nacionais), para citar dois exem-
plos. Tampouco o uso de IPTV é uma alternativa – desde o ponto de vista da inclusão social – para os países da
Região por pelo menos três motivos: se trata de um modelo pago; não é broadcast e o índice de computadores
com internet ainda é muito baixo na região.
25
passando desde o final do século XX. No campo econômico, a globalização da
economia foi ampliada a partir do acesso e uso das Tecnologias da Informação
e da Comunicação (TICs). Um exemplo desses paradoxos é, de um lado, a
crescente concentração de empresas5 e, de outro lado, a ampliação do mercado
dos países emergentes6, que oferecem novas possibilidades de negócios para a o
uso da televisão digital terrestre aberta. Esse é o caso do modelo de televisão nipo-
brasileiro utilizado em oito países da Região – Argentina, Brasil, Chile, Costa
Rica, Paraguai, Peru, Equador e Venezuela - cujos middlewares e softwares são
disponibilizados em código aberto.
Quadro 1 – Mapa de América Latina e Caribe
26
As transformações digitais incluem também os comportamentos e os afetos, com
novas sociabilidades virtuais, com a ampliação de um lado das redes sociais e as
possibilidades de interatividade e participação. O lado negativo é a visibilidade
ampliada de perversidades, como a pedofilia e o narcotráfico.
No mundo trabalho, conviemos com tecnologias que nos permitem estar
virtualmente em vários locais ao mesmo tempo, mas por outro lado, países e
empresas ampliaram a flexibilização e fragilidade dos contratos de trabalhos.
Além disso, o uso das plataformas tecnológicas como novas mídias digitais7 – deu
espaço para o surgimento de novas funções, sem que tenham ido alteradas as
legislações aprovadas em tempos analógicos, que não subsidiam ou defendem os
cidadãos no mundo digital. Junto a isso, convivemos com as mudanças na área
da educação, agora pensadas para toda a vida. A educação é apresentada de forma
presencial, semi-presencial ou a distância, enquanto a mentalidade da maior parte
dos professores e pesquisadores da América Latina e Caribe ainda se encontra
profundamente enraizada no mundo analógico, com dificuldade de aceitar as
mudanças digitais interativas que estão acontecendo.
Levando em conta que estamos frente a um mundo complexo (nos termos
de Morin) e que apenas uma teoria não da conta de explicar as transformações
que estamos passando necessitamos de vários olhares8 para tentar compreender
as possibilidades interativas e de convergência9 de mídias que as plataformas
tecnológicas apresentam. No campo da cultura, vale a pena observar as
contribuições de Clifford Geertz10 e Ulf Hannerz11 , onde cultura é vista como
uma rede de significados interconectada por cada indivíduo e pelo coletivo que se
movimenta por fluxos. Ou seja, a cultura é observada como um elemento que não
é estático ou eterno, mas que precisa ser constantemente vivida e é modificada
pelas pessoas.
Arjun Appadurai12 aponta a relação entre globalização e cultura. Para ele, a
globalização não está promovendo uma homogeneização cultural, mas envolve o
uso de uma variedade de instrumentos que são absorvidos na economia e culturas
locais sem serem repatriados, pois são resignificados no âmbito local. Featherstone
destaca que a mundialização da cultura não se resume à generalização, porque ela
também é capaz de diversificar. Para o autor, é possível pensar em cultura global
7 Celulares, computadores com internet e mesmo os videojogos em rede, além da televisão, do rádio e do
cinema digital.
8 Como pode ser observado a seguir os pesquisadores citados também representam a mundialização da cultura
em seu aspecto mais positivo: a circulação de conceitos, culturas e informações que somam a possibilitam o
diálogo entre os pesquisadores de diferentes lugares, línguas e origens.
9 Possibilidade de desenvolver produtos, formatos, programas e conteúdos digitais para diferentes plataformas
tecnológicas ao mesmo tempo, mas respeitando as características de cada plataforma
10 Antropólogo estadunidense já falecido, cuja obra é reconhecida mundialmente.
11 Professor de Antropologia da Universidade de Oslo, Noruega.
12 Professor inglês de origem indiana.
27
tomando-se os processos de integração e desintegração cultural transsociais em
que se baseiam os “fluxos de mercadorias, pessoas, informações, conhecimento
e imagens que dão origem aos processos de comunicação e adquirem certa
autonomia em nível global”. O sociólogo brasileiro Renato Ortiz destacou no
final do século XX que a formação de uma cultura mundializada não implica
o aniquilamento de outras manifestações culturais. O autor fala da criação da
cultura glocal – termo japonês que surgiu nos anos 90 do século XX na área de
negócios – para tratar da mistura entre a cultura local e a global; aonde a cultura
local se apropria e dá novos sentidos a cultura global.
Hannerz (1997) acredita que hoje existe uma cultura global, mas trata-se
de uma cultura que está assinalada por um organismo de diversidade e não por
um repetição de uniformidade. São as culturas locais e suas relações, trocas e
contatos cada vez mais acentuados que ajudam a formar a cultura global. Para
o autor sueco, devemos pensar o mundo como globalizado , onde os sujeitos e
objetos encontram-se em constante fluxos, onde são constantemente elaborados
novos significados e estabelecidas constituições culturais híbridas13 à medida que
as fronteiras tornam-se cada vez mais permeáveis.
É bem verdade que existem discursos no campo da política, da economia e
mesmo da tecnologia que tentam homogeneizar as culturas através dos discursos
que seus representantes oferecem, pelos meios analógicos e também através das
diferentes plataformas tecnológicas, entre elas a televisão e os computadores
mediados por internet. Mas isso não significa que esses discursos convençam as
pessoas, tornando-se necessariamente hegemônicos. Tampouco significa que as
pessoas passam a esquecer da sua própria cultura; o que ocorrem são os processos
de mestiçagem de que nos fala desde os anos 80 do século XX o pesquisador
espanhol que adotou a Colômbia, Jesus Martín-Barbero.
É cada vez mais difícil é falar em culturas puras, pois elas são atravessadas
por outras culturas, pelas correntes migratórias, pelo fim das fronteiras, pelos
fluxos intensos e contínuos de informação e imagens que nos chegam através das
mídias, assim como pelo intercambio de conhecimento e idéias que transitam
na esfera pública e privada diariamente. São essas mestiçagens que vão caracterizar
os novos formatos, conteúdos14 e programas pensados para a televisão digital
interativa (TVDi) e para a convergência de mídias.
Como bem recordou o pesquisador Otavio Ianni (2002), independente da
perspectiva teórica, das opções ideológicas ou do fato que examinam aspectos,
problemas e situações, compreendendo o “local”, o “provincial”, o “tribal”, o
“regional” ou o “nacional”, todos contribuem para instituir a “sociedade global”
13 Sobre as culturas híbridas, vale a pena conhecer a obra do pesquisador argentino que vive no México, Néstor
García Canclini.
14 Conteúdos digitais – todo o áudio, a imagem, o texto ou dados oferecidos às audiências pelas diferentes
plataformas tecnológicas.
28
como novo emblema das ciências sociais, compreendendo-se a sociedade global
em suas implicações políticas, econômicas, culturais, demográficas, lingüísticas,
religiosas, étnicas, de gênero e outras esferas da realidade. Tanto os conceitos
como as categorias de pensamento são desafiados a olhar o mundo de forma mais
ampla e complexa, apoiados nas Tecnologias da Informação e da Comunicação
(TICs) e atravessados por elas e pelas conseqüências de sua utilização e impacto
na vida social.
29
europeu de indústrias criativas – onde as empresas de radiodifusão trabalham
em conjunto com as empresas de telefonia móvel e a maior parte dos serviços
são pagos – é diferente do modelo latino-americano e caribenho, onde a oferta é
gratuita.
Mesmo o exemplar serviço público da BBC com seus vários canais de
televisão é diferente da oferta de televisão pública dos países latino-americanos e
caribenhos. A diferença vai além da qualidade ou quantidade dos conteúdos – que
não será debatida neste texto - mas na própria noção de público, pois nos países
da Região a televisão pública sinônimo de televisão gratuita. As pessoas não
pagam (e em sua maioria nem teriam orçamento para isso) para assistir televisão
aberta. Ou seja, qualquer projeto de conteúdos digitais interativos para televisão
aberta e para o uso da TVD através de celulares deve contemplar a inclusão social
e digital. Além disso, existe uma diferença importante quanto ao tratamento
da propriedade intelectual, fortemente defendida nos países centrais. Como se
fosse pouco, as indústrias criativas pensadas pelos britânicos, vão muito além da
Comunicação e do Design: incluem artesanato e museus, entre outros temas.
Não é por acaso que defendemos a emergente indústria de conteúdos
digitais interativos na Região, com ênfase na televisão digital interativa terrestre e
na convergência de mídias, ressaltando a necessidade de que seja disponibilizada
de forma gratuita para a população. A indústria de conteúdos pensada a partir do
modelo de televisão japonês-brasileiro19 já foi adotado em oito países da Região
(além de Filipinas, e recentemente Moçambique, Angola e Botswana), tem como
características:
1. Vem sendo desenvolvida através de plataformas gratuitas;
2. Tem como meta a inclusão social e digital, assim como o desenvolvimento
sustentável;
3. Oferece middlewares e softwares em código aberto para ampliar a
circulação de informações e de conhecimento;
4. No caso da televisão, recebe incentivo estatal para o desenvolvimento de
conteúdos para televisão digital (TVD) aberta e gratuita, assim como para
conteúdos voltados para a convergência de mídias;
5. Muitos conteúdos são desenvolvidos de forma compartilhada e coletiva,
ampliado o conhecimento sobre novos formatos interativos e gratuitos;
6. As redes sociais têm participação importante na formação de novos atores
sociais que também produzam conteúdos.
19 Além dos países citados, Uruguai e Colômbia adotaram o modelo europeu e o México e República Domini-
cana adotaram o padrão ATSC, consórcio formado por EUA, Canadá e Coréia. Existem outros dois modelos
usados na Região: Colômbia e Uruguai adotaram o consórcio europeu, mas ainda não começaram as transmis-
sões digitais, e o México utiliza o consorcio ATSC, sem interatividade.
30
Antes da Interatividade, a Criatividade
A passagem da televisão analógica aberta para o modelo digital marca o surgimento
de uma televisão híbrida20, diferente do que já se viu até então. Essa diferença
- representada pela digitalização, pela não linearidade, pela possibilidade de usar
recursos interativos e pela gratuidade - é o que define o valor agregado da nova
televisão em relação aos demais modelos. Em seus primeiros anos, é possível
afirmar que a televisão digital é uma mistura da televisão analógica, de cinema e de
computadores com recursos de internet e tende a seguir assim - meio computador
na televisão e meio TV analógica - até encontrar sua própria identidade. Algo
similar ao que ocorreu quando as primeiras televisões analógicas chegaram ao
mercado21: eram caras, as pessoas desconfiavam da qualidade de seus programas
e a linguagem era uma mistura da estética radiofônica com a cinematográfica.
Demorou um bom tempo – pelo menos 20 anos - até as empresas de televisão,
públicas e privadas, encontrarem uma linguagem e estéticas própria.
No caso do computador mediado por internet, Murray (2007:236) recorda
que “a capacidade de armazenamento e organização complexa do computador
pode ser usada como apoio para um universo narrativo bastante denso e exigente”.
Desse modo, a integração da televisão com o computador – utilizando os recursos
do computador na TV que a maioria da população possui em casa com ajuda de
uma caixa de retorno (set top box) - possibilita que nos desloquemos pelo mundo
narrativo, mudando de uma perspectiva para outra por nossa própria iniciativa.
Considerado o maior país da América Latina, o Brasil é um bom
exemplo do uso da televisão analógica. O país possui o quarto maior canal de
televisão do mundo ( Rede Globo), um parque televisivo analógico com 80
milhões de aparelhos e outros 15 milhões digitais22 e seus conteúdos ficcionais,
particularmente as telenovelas, são exportadas para diferentes países. No Brasil
a televisão analógica chegou em 1950 e demorou pelo menos 10 anos para ser
oferecida a preços populares. Além disso, demorou pelo menos 20 anos para
apresentar o padrão de qualidade que a diferencia tanto na oferta de produtos
ficcionais quanto de realidade. A exemplo do que acontece no Brasil, que vive
em uma sociedade audiovisual, a televisão analógica na América Latina e Caribe
representa muitas vezes a única fonte de informação para seus habitantes e isso
deverá se repetir com a chegada da TV digital terrestre, com a diferença que a
utilização de recursos interativos gratuitos pode colaborar para a inclusão social.
20 O pesquisador Carlos Scolari, argentino que trabalha na Espanha, criou o conceito de hipertelevisão para
tratar das mudanças que a TV está passando, mas sua perspectiva é – pelo menos até o momento - a do modelo
europeu; não a proposta aberta, gratuita e oferecida em software livre do projeto nipo-brasileiro.
21 No caso latino-americano e caribenho, a TV chega nos anos 50 do século XX. Em 2010, a televisão
comemora 60 anos de existência na Região.
22 Atualmente a população brasileira é de 172 milhões de habitantes. Isso significa que 98% dos lares urbanos
e 96% dos lares rurais possuem pelo menos um aparelho de TV.
31
A televisão digital se apropria de algumas características do modelo
analógico, como as rotinas de captação, produção e edição e também copia
as linguagens, narrativas e estéticas utilizadas na TV analógica. Por outro lado,
se apropria do uso da 3ª. dimensão desenvolvida no cinema e da interatividade
usada nos computadores, através da oferta de recursos interativos via controle
remoto onde as audiências podem participar desde casa ou na rua dos programas,
formatos e conteúdos digitais ofertados pelos canais digitais abertos. Como se
fosse pouco, as audiências que utilizam o middleware Ginga e possuem canal de
retorno ainda podem acessar o correio eletrônico ou internet enquanto assistem a
programação desde o controle remoto.
Muitos pesquisadores, principalmente aqueles que residem nos países
centrais, não acreditam no desenvolvimento da TV digital broadcasting e
apostam na TV digital usada através dos computadores (IPTV). Embora o uso
dos computadores seja amplo nos países europeus, assim como nos Estados
Unidos e Canadá, um informe da União Internacional das Telecomunicações
publicado em maio de 2010, aponta que apenas 26% da população mundial tem
acesso a internet e antes de 2015 não há possibilidade desse número alcançar
50%. Ou seja, até o processo ser universalizado, é preciso buscar alternativas
mais baratas para a inclusão social e uma delas passa pela tecnologia desenvolvida
pelo Brasil para uso de recursos interativos a partir de TV digital terrestre com
caixa de retorno, assim como o uso de celulares com oferta de conteúdos digitais
e serviços gratuitos à população.
Se os dados da UIT não fossem suficientes, bastaria apontar as diferenças
fundamentais entre a TV broadcasting e o uso da TV no computador. A televisão
digital broadcasting é gratuita, a qualidade das imagens é excelente e os conteúdos
de áudio, vídeo, texto e dados circulam com facilidade. Diferente do computador,
que é pensado para o uso individual, a assistência da televisão é coletiva e
socializada. Além disso, existe uma diferença importante entre as distâncias dos
conteúdos que serão assistidos em um computador de mesa e na sala de televisão.
Tecnologicamente, as aplicações para televisão são baseadas em vídeo enquanto
as aplicações dos computadores são baseados em texto, o que torna mais difícil
desenvolver conteúdos de televisão no computador. Isso sem contar na facilidade
da TV de estar simultaneamente na cada de milhões de pessoas ao mesmo tempo,
sem risco de sobrecarga de rede.
No caso da televisão, existem ainda vários dispositivos de exibição de forma
gratuita. Os programas e formatos digitais podem ser assistidos através de um
aparelho de TV fixo, em geral com tela grande, disponível em (um ou mais
ambientes de uma casa) e locais públicos, ou a partir de plataformas móveis. Essas
plataformas estão disponíveis através de televisores digitais pequenos (portáteis) e
dos celulares com tecnologia para assistir televisão digital aberta e gratuita.
32
A TV, o cinema e o rádio digital, os celulares, os videojogos em rede, os
computadores mediados por internet ou a convergência entre as mídias são
novas mídias que exigem novos conteúdos e formatos de programação. No caso
específico da televisão, são necessários novos tipos de roteiros (storyboards)23
voltados para diferentes níveis interativos para os programas de ficção e realidade
que podem ser assistidas nos subcanais digitais das empresas de televisão digital
com multiprogramação.
No padrão japonês-brasileiro de TVD, a multiprogramação em alta
definição permite a existência de quatro subcanais digitais. Com isso, uma
empresa de comunicação que tem a concessão de um canal analógico passa a
ter direito a quadro subcanais digitais, como é o caso das empresas de televisão
privadas cujos países já adotaram o modelo digital. As empresas que se definiram
pelo uso da programação em definição standard24 podem usar até oito canais, com
é o caso da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)25, instituição pública federal
concessionária da TV Brasil, passará a utilizar em 2011 e terá de desenvolver
conteúdos e serviços digitais para alimentar o interesse das audiências desses
oito26 canais durante 24 horas. Isso significa um aumento importante no mercado
de produção de conteúdos e serviços televisivos, já que a EBC informou que não
pretende ser desenvolvedora de conteúdos digitais interativos. O mesmo se repete
em países como a Argentina, que pretende desenvolver canal com conteúdo
infantil, para além dos jornalísticos e de ficção.
A TV digital interativa requer uma nova noção de grade de horários, pois a
interatividade permite a ampliação do horário original de um conteúdo digital.
Isto é, se um documentário for desenvolvido com três níveis de interatividade,
as audiências que tiverem canal de retorno na TVD aberta poderão, a partir
do controle remoto, acessar esses três níveis interativos, que podem ser, por
exemplo: acessar a obra do diretor do documentário, acessar a trilha sonora e ter
acesso a outras informações sobre o tema, com sugestões de filmes e livros. Além
disso, as audiências poderão enviar sua opinião sobre o documentário ou sugerir
outras pautas para a produção do programa.
Como dissemos, a grade de programação precisa ser flexibilizada, pois muda
a duração de um programa com vários níveis de interatividade, assim como
modifica as possibilidades de oferta publicitária que no mundo analógico eram
23 Com três colunas: espaço para o vídeo, o áudio e o texto. Também poderá ser oferecido em quatro colunas:
dividido em espaço para o vídeo, áudio, texto e níveis interativos.
24 O uso de maior número de canais corresponde a redução da qualidade de imagem da TV digital e também
a redução do uso das possibilidades interativas com as audiências.
25 A EBC foi criada em final de 2008 e herdou os funcionários, canais e equipamentos da antiga televisão
pública federal conhecida como Radiobrás.
26 Os conteúdos e serviços digitais serão desenvolvidos para dois canais educativos, um canal de notícias 24
horas, um canal da cultura, um canal da TV Brasil com programação diversa, um canal da saúde, um canal da
ciência e tecnologia e um canal da comunidade.
33
exibidas no “momento do comercial”. Mais recentemente, essa oferta publicitária
aparece também dentro da programação e dos diferentes formatos digitais, onde
podem ser comercializadas roupas, bijuterias ou jóias, carros, alimentos ou móveis,
etc., utilizados pelos principais personagens de uma série ou novela ou pelos
famosos. Isso permite que as audiências busquem as ofertas publicitárias mais
próximas a sua residência ou comprem diretamente desde o correio eletrônico
via televisão. Ou seja, abre novos modelos de negócios para os radiodifusores,
sejam eles de canais públicos ou privados. Nesse sentido, temos usado o conceito
de módulos para tratar da TV digital interativa. Esses módulos ganharam nova
dimensão a partir das experiências realizadas no laboratório Telemídia, localizado
na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) sobre o uso dos
recursos de interatividade e de multiprogramação.
Em 2009 um grupo de investigadores em Informática e Comunicação27, sob
a responsabilidade do pesquisador brasileiro Luis Fernando Gomes28 desenvolveu
um projeto para produção de conteúdos digitais com uso de interatividade nos
quatro subcanais de alta definição onde uma empresa de televisão pode oferecer
distintos níveis interativos – em uma escala que vai da interatividade zero até a
interatividade total – de um mesmo conteúdo ou formato digital em cada um
dos quatro canais. De acordo com um dos autores do projeto, Alan Angelucci
(2009), o programa experimental sobre turismo no Rio de Janeiro (Brasil) de
15 minutos caracteriza-se por ter um formato não-linear interativo; explora as
principais características de interatividade e sincronismo intermídia possibilitada
pelo Ginga-NCL; utiliza contextos para estruturar a aplicação e nós de alternativa,
possibilitando que as audiências criem suas próprias linhas narrativas da história.
Nessa visita turística ao Rio de Janeiro as audiências que possuem a TV digital
com o middleware Ginga e por conseqüência canal de retorno, têm varias
possibilidades de escolha:
1. Subcanal 1 - Podem escolher assistir uma história sem interatividade;
2. Subcanal 2 - Podem assistir uma história com apenas um recurso
interativo (exemplo: conhecer a praia de Copacabana);
3. Subcanal 3 - Podem decidir “passear” pela praia de Copacabana e pelo
Jardim Botânico;
4. Subcanal 4 - Podem “passear” por vários locais da cidade, cujos roteiros
foram pré-estabelecidos pelo campo da produção e podem entrar em
27 Entre eles o jovem mestre Alan Angelucci, que traduziu este livro para o inglês.
28 Considerado um dos pais do middleware Ginga, tecnologia brasileira que permite o uso da interatividade, da
interoperabilidade, da portabilidade e da mobilidade na televisão digital. it Esse middleware utiliza a linguagem
declarativa (NCL), mais simples, e a linguagem procedural (Java), mais elaborada, para permitir o uso da
interatividade na televisão, a partir de um canal de retorno, que garante a velocidade das imagens – algo que os
computadores não permitem, e a qualidade dos conteúdos de áudio, vídeo, textos e dados.
34
internet para obter mais informações sobre esses locais turísticos.
Mas a televisão digital permite muito mais opções. Pode ser usada para
acessar mails, ver diferentes ângulos na tela, sugerir pautas, entrevistados, avaliar
programas, usar serviços públicos de saúde, educação a distância (EAD), agendar
consultas médicas, checar processos e imposto de renda, realizar tele-medicina,
ver saldos bancários, etc. Também é possível entrar em páginas web desde o
próprio aparelho de TV usando o controle remoto como teclado (similar ao que
fazemos quando mandamos mensagens de texto - SMS - nos celulares). Outro
recurso que vem sendo desenvolvido no modelo japonês-brasileiro de televisão
digital é a possibilidade de uso de alguns recursos interativos, como respostas
em determinados programas de perguntas, diretamente para o celular sem ônus
para as audiências. A proposta, segundo Luis Fernando Gomes, é permitir uma
assistência coletiva de televisão digital com opção de uso de canal de retorno
individualizado.
Em termos de narrativas existem diferenças fundamentais na passagem da
televisão analógica para a digital, como pode ser observado a seguir:
35
Em um mundo de hipertelas
Os franceses Gilles Lipovetsky e Jean Serroy (2007) dizem que na era
contemporânea vivemos uma inflação de telas - celulares, TV analógica ou
digital, rádio digital, cinema, telões de festas, videogames, computadores, tablets,
livros digitais, (como o Kindle ou o Ipad) - que tomam contam de nosso olhar
durante o dia e a noite. Observando este mundo do olhar e das visualidades,
é possível desenvolver conteúdos ficcionais ou jornalísticos para TV digital
interativa e usar nos aparelhos de celulares desde que o conteúdo seja pensado para
dispositivos móveis. Isso representa um tamanho similar de tela, a possibilidade
de ser usado em qualquer lugar (em um parque, ônibus, metrô ou escola) e um
nível similar de definição de imagem voltada para esse tipo específico de tela.
Além disso, a temporalidade, ou seja, o tempo de duração do programa precisa
seguir a característica da plataforma tecnológica: no caso de conteúdos específicos
pensados para pequenas telas, os formatos são mais curtos, entre com duração
entre 1 e 3 minutos, levando em consideração que essas pequenas plataformas
podem ser levadas e assistidas em qualquer lugar, através de narrativas breves.
Mas se a proposta de conteúdos é pensada para diferentes meios de
comunicação digitais, com diferentes características, como ser fixo ou móvel, ou
as diversas dimensões de telas (celulares, televisores portáteis ou televisores de 72
polegadas) é preciso levar em consideração que exigem diferentes espacialidades,
temporalidades e mobilidades. Esses aparatos requerem outros tipos de
linguagem, conteúdos e formatos audiovisuais, assim como uma outra relação
com seus públicos e uso de diferenciados níveis de interatividade. Em termos
de interatividade, é preciso levar em consideração que nem todas as pessoas
se interessam em participar da programação; preferem simplesmente apreciar o
programa e o formato selecionado.
No caso da TV digital (TVD), os novos formatos audiovisuais já estão
sendo desenvolvidos pensando as possibilidades interativas do público com a
TVD que, no modelo nipo-brasileiro, é uma vantagem extra gratuita para as
audiências. Pela primeira vez na história, as audiências – e não apenas o restrito
grupo29 que possui computadores com internet em casa - poderá se relacionar
de perto com o campo da produção, isto é, com aqueles que produzem e dirigem
diariamente os diferentes programas de televisão. Além disso, através da televisão
digital terrestre com interatividade têm a oportunidade de usar correio eletrônico,
de usar internet, de produzir conteúdos audiovisuais digitais e disponibilizar
no espaço virtual, algo que até então, estava restrito ao campo da produção.
Através do canal de retorno acoplado interna ou externamente ao aparelho de TV,
é possível utilizar diferentes níveis de interatividade, como já comentamos em
29 No Brasil, segundo dados do Conselho Gestor de internet (CGI) em 2009, apenas 27% da população tinha
acesso a internet com banda larga em casa.
36
artigos anteriores (Barbosa Filho e Castro, 2007, 2008, 2009, Castro e Fernandes,
2009).
Entre os recursos interativos está a possibilidade de avaliar um programa
enquanto está ocorrendo enviando mensagens à produção a partir do controle
remoto; sugerir pautas ou entrevistados; baixar informações extras sobre o
programa e seus participantes, etc. Além disso, é possível utilizar recursos
interativos pensando a multiprogramação, onde cada um dos sub canais de uma
mesma empresa de comunicação poderá apresentar diferentes (ou nenhum) níveis
de interatividade com os públicos30. Também é possível encontrar interações mais
simples, como as informações previamente disponíveis sobre jogadores e a situação
de uma equipe durante uma partida do campeonato brasileiro, que já há alguns
anos é disponibilizada aos assinantes dos canais de televisão por assinatura.
Considerações Finais
Talvez a diferença mais importante da passagem do sistema analógico para o
digital em termos de televisão é que é possível mudar a origem da produção dos
conteúdos audiovisuais, até então restrita a grandes grupos de comunicação, como
Organizações Globo, SBT, Grupo Abril, Record, entre outros, no caso brasileiro.
A produção de conteúdos audiovisuais digitais poderá ser feita por profissionais
de Comunicação, por produtores independentes ou mesmo por profissionais
de diferentes áreas, como Design, Educação ou Informática em conjunto, por
exemplo. Eu acredito que aí resida o caráter revolucionário e profundamente
democrático das mídias digitais, pois as audiências e movimentos sociais têm a
possibilidade de sair da produção de comunicação de caráter alternativo e contra-
hegemônico para oferecer – de maneira mais equilibrada - outros pontos de vista
sobre a realidade e o mundo em tempo real (ou gravado) através de diferentes
plataformas tecnológicas conectadas ao mundo virtual.
É neste sentido que pode se tornar realidade o diálogo entre as diferentes
ciências e a comunicação digital para construir a inclusão social no Brasil e
nos países da Região, estimulando a emergente indústria de conteúdos digitais
interativos. Trata-se de um processo em construção, que exige reflexão, abertura
para novas teorias, formação profissional, capacitação atualização dos currículos
universitários e dos professores, novos modelos de negocio, investimentos, assim
como fomento a estudos transdisciplinares em pesquisa, desenvolvimento e
inovação (P,D&I). Temas que exigem um longo debate, mas já começaram a ser
discutidos dentro do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) e na academia
e também no mercado.
30 Projeto deste tipo vem sendo desenvolvido desde metade de 2009 no laboratório do professor Luis Fernando
Gomes, localizado na PUC/RJ.
37
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39
40
1ª. PARTE
TENDÊNCIAS ECONÔMICAS
41
42
CAPÍTULO 1
Marcio Pochmann 1
Conjunturas prévias
O aparecimento de novos elementos reestruturadores do capitalismo na passagem
do século 20 para o 21 transforma profundamente a evolução do sistema econômico
mundial. As mais recentes alterações na Divisão Internacional do Trabalho geram
oportunidades inéditas às economias periféricas de superação da condição de
subdesenvolvimento, especialmente nos países que comportam grandes escalas de
produção e consumo em ampla dimensão geográfica e populacional, como Brasil,
Índia e China.
Em vez da anterior identificação a respeito da rápida expansão econômica
em países de menor dimensão territorial e populacional, denominados de
tigres asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong), assiste-se à emergência
mundial dos países-baleias. Ainda que apresentem renda por habitante baixa ou
intermediária em posição mundial, os países-baleias rapidamente se reposicionam
no mundo frente à transição acelerada da antiga condição de sociedades agrárias
para crescentemente urbano-industrial. A elevação do nível de emprego urbano
da mão-de-obra e a retirada recente de parcelas significativas da população da
situação de pobreza e miséria indicam a importância da escala do mercado interno
de consumo relacionado ao forte ritmo de crescimento econômico.
Com isso, os países-baleias não somente passam a ocupar maior espaço na
composição do Produto Interno Bruto global e comércio internacional, como
respondem crescentemente pela maior sustentação da dinâmica econômica
mundial. Esse aspecto, em especial, segue tratado em duas partes distintas, porém
articuladas entre si. A primeira destaca a recente ascensão dos países-baleias na
Divisão Internacional do Trabalho, enquanto a segunda parte trata da atualidade
das trajetórias nacionais desiguais em termos da expansão econômica e da
repartição dos seus frutos para o conjunto de sua população.
43
A hora e a vez dos países-baleias
44
A hora e a vez dos países-baleias
atual, cada vez mais determinada pela dinâmica dos países não desenvolvidos.
O fato de nações como a China, Brasil e Índia responderem por mais da metade
do crescimento econômico após o quadro recessivo mundial de 2008 e 2009
acontece pela primeira vez desde a Grande Depressão de 1929.
Em contrapartida, o conjunto das nações desenvolvidas parece, cada vez
mais, prisioneiro do ciclo vicioso originado pela nova reprodução da armadilha
japonesa, constituída desde 1991 por força do tipo de crise que se abateu naquele
país. Ou seja, a combinação da anorexia do consumo familiar com a retenção
e adiamento dos investimentos das empresas, acrescido do desajuste fiscal e de
medidas ortodoxas de contenção do gasto social. O resultado disso reflete-se na
deterioração da confiança nacional potencializada pelo risco da deflação em meio
à onda das desvalorizações cambiais competitivas e, infelizmente, o ressurgimento
da marcha protecionista. Na sequência do desemprego em alta, ocorre a elevação
nas taxas de pobreza e de suicídios entre os países desenvolvidos.
Não parece haver dúvidas de que o abandono atual pelos países ricos da
convergência das políticas anticíclicas adotadas na crise de 2008 aponta para um
período relativamente longo de convivência com o baixo dinamismo econômico
e piora na distribuição de renda. Ademais, a prevalência de enormes assimetrias
de poder entre a força e os interesses das grandes corporações transnacionais e o
apequenamento das ações dos Estados nacionais, aliado ao contínuo esvaziamento
das instituições multilaterais, tende a tornar mais distante a coordenação urgente
e necessária da governança mundial.
Tal como na Grande Depressão de 1873 a 1896, que acompanhada pelo
circuito da industrialização retardatária ocorrido na Alemanha e nos Estados
Unidos permitiu surgir – meio século depois – o deslocamento do centro
dinâmico mundial assentado na hegemonia inglesa, percebe-se hoje, guardada
a devida proporção, o aparecimento de novas polaridades geoeconômicas no
desenvolvimento global. A China, Brasil e Índia são crescentemente apontados
como nações portadoras de futuro e de grande potencial necessário para assumir
maior centralidade na dinâmica do desenvolvimento mundial.
Por conta disso, torna-se interessante procurar compreender como o
comportamento do crescimento econômico e do padrão de distribuição de renda,
especialmente na China e Brasil, que rapidamente assumem referência de como
o novo mundo poderá se mover, com maior ou menor expansão e ampliada ou
contida desigualdade na repartição da renda. Ainda que se trate de países muito
diferentes, Brasil e China apresentam tendências recentes distintas em relação ao
crescimento econômico e à repartição da renda nacional entre seus habitantes.
46
A hora e a vez dos países-baleias
120
110
100
90
80
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Brasil China
Fonte: China Statistical Yearbook e IBGE (elaboração própria); estimativa para 2010
47
A hora e a vez dos países-baleias
Considerações finais
Para os próximos anos, a literatura especializada deverá dedicar-se cada vez
mais a tratar e entender a emergência da expansão econômica, política, social,
militar e cultural de países de grande dimensão territorial e populacional. A
hora dos países-baleias chegou, mesmo com as condições históricas herdadas
do subdesenvolvimento (enorme heterogeneidade estrutural e baixa renda por
habitante).
Tudo isso torna ainda mais relevante a situação de países como Brasil, China
e Índia, em especial por seus esforços nacionais de participarem dos novos pólos de
desenvolvimento mundial, o que altera profundamente a Divisão Internacional
do Trabalho. Dessa forma, a antiga hegemonia unipolar exercida pelos Estados
Unidos tende a conceder lugar à nova dinâmica mundial estimulada fortemente
pelas relações Sul-Sul, responsável atualmente por quase a metade de todo o
comercio mundial.
Não obstante o fortalecimento dos países-baleia, observa-se trajetória
distinta em relação à combinação do crescimento econômico e de sua repartição
no interior da população. O Brasil apesar de crescer bem menos que a China
consegue reduzir suas brutais desigualdades, ao contrário da realidade chinesa de
ampliação recente da concentração pessoal da renda
Referências Bibliográficas
ACIOLY, L. & LEÃO, R. (2010) A nova configuração do sistema político
econômico global. Brasília: Ipea.
ANGUIANO, E. (2010) Evolución reciente de las relaciones económicas
entre La República popular China y América Latina y Caribe. Caracas: SELA.
48
A hora e a vez dos países-baleias
49
50
2ª. PARTE
51
52
CAPÍTULO 1
Marcio Wohlers1
53
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?
55
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?
56
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?
57
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?
58
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?
alguns anos pelos autores franceses Jean-Charles Rochet e Jean Tirole Jean3 .
Economistas de renome internacional, os autores utilizam o enfoque denominado
two sided markets (mercado de dois lados). Alguns exemplos de mercados desse
tipo são clássicos, como as plataformas para o uso de cartões de crédito. As
plataformas interligam lojistas, de um lado, e consumidores, de outro. Outros
exemplos podem ser destacados, como o das redes telefônicas (plataformas),
que interconectam quem faz a ligação com quem recebe. O mesmo caso é
exemplificado por plataformas “físicas” de jornais, que interligam os dois lados
do mercado, o anunciante e o comprador. Enfim, no mercado de dois lados,
uma determinada plataforma tecnológica viabiliza o contato entre provedores e
usuários interessados em efetuar transações. Na internet, teríamos o usuário final
da web, eventualmente comprador de um serviço ou produto, e o provedor de
informação (conteúdo) que também é um usuário final da web, ambos interligados
pela plataforma que opera os protocolos TCP-IP. Ambos pagam um custo fixo
para aderirem à rede, como se pertencessem a um “clube” que cobra uma taxa
fixa de adesão e também uma taxa variável proporcional ao seu uso. Voltando ao
exemplo acima citado (rede telefônica convencional), o usuário paga para ter o
direito de acesso (taxa fixa para ser “membro” da comunidade telefônica, tendo
direito a um número telefônico), sendo que a operadora de telefonia também
tem um custo fixo, pois mantêm um cabo telefônico dedicado a esse usuário.
Ambos pagam a respectiva taxa variável, proporcional aos minutos efetivamente
utilizados durante uma ligação. No caso das operadoras, o custo de viabilizar a
conversação é o da manutenção de um canal de comunicação para a ligação.
Os autores afirmam que é suficiente mudar as taxas variáveis em cada
transação (mantendo constante a somatória dessas taxas variáveis) para que a
plataforma, em si, não apenas pague todos seus custos (os fixos e os variáveis, por
transação), mas também obtenha um lucro extraordinário.
A internet, igualmente ressaltada acima, também opera como um mercado
de dois lados. Os mesmos princípios do mercado de dois lados são aplicados,
mas sob premissas diferentes. Essas premissas incluem a informação assimétrica
entre ambos os lados do mercado e a não internalização de todos os benefícios
gerados pelas externalidades de redes – o princípio que valoriza as redes maiores
em detrimento das menores4 . Vale ressaltar que esses preços são de natureza
diferente daqueles cobrados atualmente pelos provedores de internet.
A demonstração dos professores conduz à conclusão de que, mesmo na
4. ROCHET, Jean-Charles e TIROLE, Jean. “Two-Sided Markets: An Overview”. IDEI Working Papers,
2004. Disponível em <https://noppa.tkk.fi/noppa/kurssi/s-38.4043/luennot/S-38_4043_pre-exam_article.
pdf>. Acesso em 1º de setembro de 2010.
5. Um exemplo simples refere-se a empresas aéreas. Mantidas as tarifas constantes, uma companhia maior que
oferece mais origens e destinos apresenta maior valor superior ao usuário do que uma operadora menor, que
oferece um número menor de origem e destinos..
59
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?
60
CAPÍTULO 2
Introdução
A infraestrutura de telecomunicações suporta todos os setores de uma economia.
Há estudos em que se comprova ser esta infraestrutura fundamental para o
desenvolvimento de novos bens e serviços para a “sociedade do conhecimento”.
As rápidas mudanças tecnológicas e a proliferação de uma gama de novos serviços
têm atuado como catalisadores principais das mudanças econômicas e das relações
globais. As transformações por que passam alguns países, a partir da adequada
regulação destas redes e de seus serviços, combinadas com a convergência
decorrente da inovação tecnológica, permitem encaminhar preocupações sociais,
em áreas como meio ambiente, saúde e educação.
No Brasil, que há 12 anos deixou o antigo sistema monopolista estatal das
telecomunicações para entrar num regime competitivo operado por empresas
privadas, os preços dos serviços de telecomunicações ainda continuam muito
elevados, especialmente quando comparados a outros países. A perspectiva
transformadora ainda parece distante. Os preços praticados constituem em
grande obstáculo à universalização do acesso à internet em banda larga e aos
consequentes benefícios das inovações tecnológicas extensivas a toda a sociedade
brasileira. De acordo com a União Internacional de Telecomunicações (UIT),
o preço relativo4 do serviço no Brasil chega a ser de cinco a dez vezes mais alto
que nas economias avançadas e está entre os mais altos do mundo. Em termos
de densidade, o desempenho do Brasil apresenta crescimento contínuo durante
os últimos anos, apesar de este indicador ser ainda de três a sete vezes mais baixo
que o observado em economias avançadas. Além disso, o acesso em banda larga
é notadamente concentrado no Brasil: enquanto as classes de maior renda e os
residentes em áreas mais densamente povoadas têm a internet em alta velocidade
como parte de sua vida quotidiana, tanto as famílias que moram afastadas dos
grandes centros urbanos, quanto as que estão na parte de baixo da pirâmide de
distribuição de renda continuam lutando para serem incluídos digitalmente.
1Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea
2 Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea
3 Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea
4 O preço relativo é definido pela UIT como a razão entre o valor de uma cesta de serviços de telecomunicações
e a renda per capita do país.
61
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
62
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
64
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
65
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
66
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
67
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
"
Áreas de alto custo
Acesso universal
Fronteira de
acessibilidade
Gap de
acesso
Acesso
universal
68
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
71
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
Serviços de informação e
14% comunicação
Outros serviços de
telecomunicações por fio
7,9
Outros serviços de
telecomunicações sem fio 1,7
Outros serviços
telecomunicações
3,2
Produção e pós-produção de
0,8
filmes, vídeos e programas
Rádio 1,2
Distribuição, comerc.,
1,1
licencenciamento e exibição
Serviços de processamento de
3,9
dados
Serviços de TI 30,0
72
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
Telecomunicações
8%
10%
Tecnologia da
Informação
Serviços audiovisuais
22% 60%
Edição, agências de
notícias e outros
serviços
5 A produtividade do trabalho é definida como o valor adicionado dividido pelo pessoal ocupado.
73
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
Tecnologia da
Informação
136,8 Serviços
104,3 117,5 audiovisuais
94,8
68,6 70,2
Edição, agências
de notícias e outros
serviços
Pessoal ocupado Produtividade
6 A densidade é normalmente representada pelo número total de terminais para cada grupo de 100 habitantes.
74
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
8
(terminais por 100 hab.)
Densidade
0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Ano
75
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
Figura 8 – Densidade, preço relativo e número de acessos fixos em banda larga, para
países selecionados – 2009
35 KOR
UK
30
Densidade
O Brasil é um país com dimensões continentais e uma população de quase
190 milhões de pessoas, marcado por fortes desigualdades no âmbito social e
regional. Essas características também se refletem na distribuição dos serviços
de banda larga. A Tabela 1 apresenta o percentual de domicílios com acesso
fixo em banda larga, por nível de renda domiciliar mensal e região geográfica.
Alguns dados da tabela merecem ser destacados. Primeiro, a capacidade de
usufruir o serviço está positivamente correlacionada com a renda domiciliar,
sendo severamente afetada por ela. Segundo, as três regiões com maior PIB per
capita têm densidade similar, em torno de 25%. Finalmente, as regiões Norte e
Nordeste, que possuem densidades demográficas mais baixas e, portanto, custos
mais elevados para implantação de infraestrutura de telecomunicações, têm
índices de acesso à banda larga piores em todas as classes de renda.
Tabela 1 – Percentual de domicílios com acesso fixo em banda larga fixa, por nível de
renda domiciliar mensal e região geográfica – 2008
76
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
Tabela 2 – Percentual de domicílios com acesso fixo em banda larga fixa, por áreas urbana
e rural – 2008
2593
2972 47%
53%
77
Estrutura de mercado
A Anatel contabiliza que existem mais de 1.600 provedores de internet
registrados regularmente no Brasil. Outras fontes indicam que existe uma
quantidade, no mínimo, equivalente a essa no mercado informal. Apesar desses
fatos, a Figura 10 retrata que apenas cinco operadoras controlam mais de 90%
do mercado total de acessos fixos de banda larga. Oi, Telefonica e CTBC são
também concessionárias de telefonia fixa, enquanto Net e GVT – a primeira
controlada pelo grupo Telmex e a segunda originalmente com capital israelense,
agora controlada pelo grupo francês Vivendi – são as principais competidoras. Oi,
Telefonica, GVT e CTBC baseiam-se na tecnologia de acesso DSL7 , transmitindo
dados por meio de cabos de par metálico. Por outro lado, Net utiliza a tecnologia
de cabo coaxial, já que é originalmente uma prestadora de TV a cabo. Quando se
considera a participação de mercado de cada empresa em relação a esse serviço,
parece haver certo grau de competição entre as três principais empresas.
7%
2%
6%
Oi
36% Net
Telefonica
24% GVT
CTBC
Outras
25%
Figura 10 – Participação de mercado dos provedores de banda larga fixa – março de 2010
Fonte: Teleco. Preparado pelos autores.
78
descrita como a relação de concentração de uma firma (CR1). Em síntese, em
quase 80% dos municípios brasileiros, o principal provedor tem participação
de mercado acima de 90%. Em mais de 90% dos municípios, essa participação
supera 70%, e praticamente em todos os municípios a participação do principal
provedor fica acima de 50%. Esses dados, apresentados por região geográfica,
estão expostos na Tabela 3.
Tabela 3 – Percentual de municípios com CR1 acima do limiar indicado – setembro de
2009
Preços
A Tabela 4 traz os preços médios mensais para acesso fixo em banda larga nas
capitais de estado, por região geográfica. Os dados foram coletados dos portais de
internet dos três principais provedores de banda larga no Brasil. A tabela também
expõe ponderações dos preços quanto às taxas de transmissão oferecidas pelos
provedores e à renda per capita da região. O resultado confirma que os preços são
mais baixos nas regiões mais ricas e mais densamente povoadas. Uma razão para
isso é a existência de maior grau de competição nessas regiões.
79
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
Tabela 4 – Preço mensal médio nas capitais de estado, por região geográfica – junho de
2010
Fonte: Extraído dos portais de internet dos três principais provedores de banda larga. Preparado pelos
autores.
Comunicações móveis
O uso da telefonia móvel passou indubitavelmente por um acréscimo
significativo no Brasil durante os últimos anos. Na Tabela 5, dois indicadores
demonstram a magnitude desse crescimento. No período de uma década, os
acessos móveis foram multiplicados por 12, e a densidade subiu quase 10 vezes.
Ao final de 2008, a densidade da telefonia móvel já se aproximava do nível de
80 acessos por 100 habitantes. Apesar disso, o acesso ao serviço não se tornou
tão difundido quanto se poderia inferir dessas estatísticas. De fato, a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2008 do IBGE destacou que,
naquele ano, apenas 86,4 milhões de pessoas tinham um telefone móvel pessoal.
Isso corresponde a uma densidade efetiva de 46,0, o que está bem distante
das avaliações feitas pela Anatel. Várias razões explicam essa enorme diferença.
Primeiro, os operadores tendem a superestimar o número efetivo de telefones pré-
pagos na sua rede e, portanto, um número desconhecido de linhas móveis não
está realmente em uso. Segundo, os acessos móveis são empregados em um grande
conjunto de aplicações: ramais corporativos, rastreamento de veículos, terminais
para cartões de crédito, etc. Essas linhas também são contadas como acessos, mas
não estão de fato expandindo a base de assinantes. Terceiro, executivos de alto
escalão e outros usuários de tráfego intenso também tendem a ter duas linhas:
uma para uso em serviço e outra para uso pessoal. Por fim, taxas elevadas para
terminação de chamadas levaram a uma situação em que os operadores tendem
a promover o tráfego interno à sua rede, geralmente oferecendo descontos
expressivos ou grandes pacotes de minutos grátis para chamadas internas. Em
80
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
81
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
licitação resultou num excelente negócio para o governo, que arrecadou cerca de
R$ 5 bilhões. No entanto, no nível do consumidor, esse tipo de investimento tende
a aumentar os custos do serviço e direcionar a banda larga móvel para as classes
de renda mais alta. Para reduzir esses efeitos, o modelo de licitação exigiu que os
provedores de 3G cumpram com obrigações de cobertura. Em resumo, a Anatel
impôs o seguinte: i) em 5 anos, todas as cidades com mais de 100.000 habitantes
e metade das cidades com mais de 30.000 habitantes precisam ter cobertura; ii)
em 8 anos, 60% das cidades com menos de 30.000 habitantes devem receber
o serviço. Em relação a essas exigências, uma cidade será considerada atendida
se os serviços de banda larga móvel estiverem disponíveis em mais de 80% da
respectiva área urbana. Seguindo essas condições, apenas dois terços da população
do país terão o serviço de banda larga móvel disponível no ano de 2016.
Durante o ano de 2008, começou a implantação dos serviços de 3G. No
fim de 2009, a Anatel informou que já havia mais de 8,7 milhões de linhas que
contemplavam tecnologias de transmissão de dados, com a maior parcela alocada
para o W-CDMA9 . Apesar de a difusão inicial do serviço ter sido mais rápida
que o imaginado por reguladores e operadoras, o crescimento futuro dependerá
não somente dos preços dos equipamentos 3G, que ainda estão muito altos,
mas também do preço e qualidade dos planos de serviços. A competição nesse
mercado ainda é limitada, devido a dois fatores: ainda resta uma licença de 3G
para ser licitada, e a tecnologia WiMax10 ainda não foi aprovada pela Anatel para
uso em terminais móveis.
Considerações finais
São dois os desafios trazidos pela convergência e que devem enfrentados pelas
ações do governo. A primeira questão refere-se ao hiato digital. Na sociedade
brasileira, marcada por fortes desníveis sociais, econômicos e culturais, a inclusão
digital deve ser colocada como estratégia para diminuir essas desigualdades. Assim,
a interferência do governo é fundamental para sinalizar aos agentes de mercado
que não restrinjam seu atendimento às classes de maior renda e aproveitem
as economias de escala para democratização das oportunidades geradas pela
convergência. Dessa forma, as políticas públicas têm a missão de asseverar a
justiça social e a possibilidade de utilização da tecnologia em todos os rincões do
país, sendo necessária a definição de objetivos claros de fomento ao setor, voltados
sobretudo à população de renda mais baixa.
Vale a pena comparar o caso brasileiro com as soluções encontradas em países
do Sudeste Asiático, onde os mercados de serviços de telecomunicações são muito
9 A tecnologia Wideband Code Division Multiple Access (W-CDMA) foi escolhida por todos os provedores
de 3G no Brasil.
10 Worldwide Interoperability for Microwave Access
82
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
Referências Bibliográficas
Fiani, R. (1999). ‘Uma abordagem abrangente da regulação de monopólios:
exercício preliminar aplicado a Telecomunicações’. Planejamento e políticas
públicas, 19, 189-218.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010). Análise e recomendações
para as políticas públicas de massificação de acesso à internet em banda larga.
83
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação
84
CAPÍTULO 3
Fernanda De Negri2
Leonardo Costa Ribeiro 3
Introdução
O setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) é um dos setores mais
intensivos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e um dos maiores responsáveis
pelos investimentos mundiais em P&D. Na economia norte-americana, por
exemplo, cerca de 35% dos investimentos privados em P&D são feitos por
empresas dos setores de TICs (tabela 1).
Recentemente, um estudo realizado pela Comissão Europeia (Lindmark et
al., 2008) mostrou que grande parte da distância existente entre Estados Unidos
e Europa em termos de investimentos privados em P&D se deve ao setor de
TICs4. O setor privado norte-americano investe 1,88% do produto interno bruto
(PIB) em P&D, contra 1,19% do setor privado europeu. No setor de TICs, estes
investimentos são de 0,65% do PIB nos EUA e 0,31% na Europa (tabela 1).
Tabela 1 – Investimentos privados em P&D como proporção do PIB: Europa, Estados Unidos e Brasil (%)
Fonte: Lindmark et al. (2008) e, para o Brasil, Ministério da Ciência e Tecnologia (indicadores disponíveis
em: <http://www.mct.gov.br>) e Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (PINTEC/IBGE) de 2005.
85
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
programa alocou €9 bilhões dos pouco mais de €50 bilhões previstos no plano
para investimentos em pesquisas na área de TICs; é o maior montante previsto
para um único setor do programa6.
No caso brasileiro, as diferenças – em termos de recursos alocados em P&D
– em relação aos EUA e à Europa são ainda mais marcantes. O setor privado
brasileiro investe, segundo dados de 2008 do Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), cerca de 0,5% do PIB em P&D, entre os quais apenas 20%, ou 0,1% do
PIB, são realizados pelos setores de TICs.
Entre os setores de TICs na Europa, os mais intensivos em P&D são o
de equipamentos de comunicação e o de software e serviços de informática.
Juntos, estes dois setores investiram quase €16 bilhões dos €31 bilhões investidos
pelos setores de TICs na Europa em 2004 (Lindmark et al., 2008). Serviços
de telecomunicações representam menos de 10% deste total, o que reflete a
tendência, observada nos últimos anos, de redução da pesquisa por parte das
operadoras de serviços e sua concentração nos fornecedores de equipamentos.
Por sua vez, as empresas brasileiras nos setores de TICs investiram, em 2005,
pouco mais de R$ 2 bilhões em P&D. Os setores que mais investiram foram os
de software e serviços de informática (pouco mais de R$ 650 milhões), e o setor
de serviços de telecomunicações (R$ 620 milhões). As empresas fabricantes de
equipamentos de comunicação ficaram na terceira posição, com investimentos de
pouco mais de R$ 550 milhões em P&D.
86
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
87
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Quadro 2 – Matrizes de interação entre ciência e tecnologia para as empresas líderes mundiais no
setor de fabricação de equipamentos de comunicação (1990 e 2006)
88
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Considerações finais
Mais que chegar a conclusões definitivas, este trabalho pretendeu levantar questões
que contribuam para que se possa avaliar as oportunidades e, especialmente, os
grandes desafios para o setor de telecomunicações no Brasil.
O setor de TICs é um dos mais dinâmicos em termos de inovações
tecnológicas em âmbito mundial. Os investimentos em P&D pelos grandes
players são extremamente significativos: sete das 20 maiores empresas inversoras
em P&D no mundo pertencem ao setor. No Brasil, apesar de ser um dos mais
inovadores em comparação com o conjunto da indústria brasileira, o setor de
TICs investiu, em 2005, o equivalente a 0,1% do PIB (seção 1). Isto é muito
pouco em comparação com países mais competitivos neste setor, embora seja
maior que Portugal (0,05% do PIB) e Espanha (0,08%)11 , países conhecidos do
Brasil no setor de telecomunicações.
Além disso, no Brasil, ao contrário do que se observa nos países desenvolvidos,
o segmento de serviços de telecomunicações continua sendo um dos que mais
investem em P&D no conjunto das TICs. Enquanto isso, a tendência mundial tem
sido, há vários anos, de ampliação dos investimentos em P&D dos fornecedores
de equipamentos de comunicação, além, é claro, de crescimento da importância
de setores de software e serviços de informática. Entretanto, o que explica esta
diferença de posicionamento brasileiro pode não ser, necessariamente, a pujança
tecnológica do país em serviços de telecomunicações, mas a baixa capacidade
inovativa dos demais segmentos de TICs, relativamente aos países desenvolvidos.
Se o Brasil pretende ser mais competitivo em telecomunicações e em TICs, de
modo geral, é crucial ampliar significativamente os esforços tecnológicos do país
nesta área.
Para isso, é preciso contar, também, com a produção científica e com uma
maior interação entre ciência e tecnologia. O que as matrizes de C&T mostram é
que a produção científica tem se tornado cada vez mais fundamental para ampliar
a inovação e o desenvolvimento tecnológico de um país ou setor de atividade.
Apesar disso, no caso brasileiro, ainda é muito pequeno o número de empresas que
utilizam os cientistas e a academia brasileira para dar suporte aos seus processos
inovativos. Da mesma forma, ainda é muito pequeno o número de pesquisadores
das universidades brasileiras envolvidos em parcerias com o setor privado.
10. A legenda para os domínios tecnológicos OST e áreas científicas ISI encontra-se no anexo
11. Lindmark et al., 2008.
90
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Referências Bibliográficas
ALBUQUERQUE, E. et al. Atividades de patenteamento em São Paulo e
no Brasil. In: FAPESP. Indicadores de ciência, tecnologia e inovação em São
Paulo. cap. 5, 2009.
LINDMARK, S.; TURLEA, G.; ULBRICH, M. Mapping R&D
investment by the European ICT business sector. Joint Research Center (JRC),
Reference Report, 2008.
RIBEIRO, L. C. et al. Matrices of science and technology interactions
and patterns of structured growth: implications for development.
Scientometrics. 2009. Disponível em: <http://www.springerlink.com/
content/2174610530365460/fulltext.pdf>.
91
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Anexo
92
CAPÍTULO 4
93
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
4. Segundo a Comissão Europeia, a partir de dados de 2004 e de 2007 relativos ao BERD (sigla em inglês
para dispêndios empresariais em pesquisa e desenvolvimento) de firmas atuantes na área de TIC – ver Lind-
mark et al. (2008) e Turlea et al. (2010).
5. Os Estados Unidos, grande player em qualquer setor, foram deixados de fora dessa comparação pela
dificuldade de se prospectar a sua produção total em telecomunicações valendo-se do portal ISI/Web of Sci-
ence. A busca disponível fornece respostas até o limite de 100 mil observações. Como o filtro para produção
específica em telecomunicações somente pode ser aplicado após a obtenção, para um dado ano, da produção
total do país pesquisado, as respostas que retornavam para os Estados Unidos eram sempre subdimensionadas.
Este mesmo problema sucedeu-se para a China, embora apenas para os anos de 2008 e de 2009. O leitor deve
atentar para o fato de que os chineses podem já ter ultrapassado os sul-coreanos na produção científica em
telecomunicações nos anos 2000, embora os números do gráfico 1 ainda não captem este movimento.
94
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
95
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
Figura 1 – Posição do Brasil nas próximas décadas frente a países selecionados, mantidas
as taxas do gráfico 2.
Elaboração do autor. Obs.: Números entre parênteses indicam intervalo estimado da quantidade
acumulada de artigos publicados entre 2000 e 2040.
7. A manutenção nos próximos 30 anos da mesma tendência verificada nos últimos dez é improvável, uma vez
que a trajetória dos países é dinâmica e sensível a uma série de fatores intervenientes, previsíveis ou não. De
todo modo, o exercício ilustrado na figura 1 dá uma ideia das dificuldades de o Brasil alcançar uma posição
de liderança em termos de capacitações científicas no setor, dado o quadro institucional sob o qual os artigos
científicos sobre telecomunicações foram produzidos na última década.
96
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
97
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
98
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
99
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
O mundo nos escuta quando falamos do que mais quer ele ouvir sobre
telecomunicações?
Szapiro (2009) aponta três temas como os de maior atração de investimentos no
campo das telecomunicações: banda larga, mobilidade e redes de nova geração. A
produção brasileira tem sido de maior impacto nestes temas que no setor como
um todo?
102
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
103
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
no setor, também são estados com PIB elevado para os padrões brasileiros 14.
Ademais, têm tradição em pesquisa15 . Ceará, Pernambuco e Paraíba, por sua vez,
são estados mais pobres, suas fundações de amparo à pesquisa não estão entre as de
maior orçamento e somente duas de suas instituições de pesquisa (a Universidade
Federal de Pernambuco e a Universidade Federal do Ceará) figuraram entre as 20
instituições brasileiras em número de artigos publicados em todas as áreas desde
2007. Um exame mais detalhado da trajetória em pesquisa destes três estados
nordestinos poderia lançar luz, no futuro, sobre as causas que concorreram para
seu sucesso na área de telecomunicações.
Apesar de não ser possível atribuir esse sucesso ao fator citado a seguir tão
somente com os dados aqui utilizados, vale destacar que, em muitos momentos da
década de 2000, as taxas de crescimento dos gastos em pesquisa e desenvolvimento
(P&D) dos estados seguidores foram maiores que a taxa nacional. No biênio
2003-2004, em relação ao biênio anterior, tais taxas foram de 30% a 60% maiores
na Paraíba, Santa Catarina, Paraná e Ceará que as taxas nacionais. Em 2007-
2008, em relação a 2005-2006, Paraíba, Santa Catarina e Ceará continuaram
com desempenho semelhante16 , aos quais se equiparou Pernambuco.
O mapa 1 mostra, ainda, a distribuição, por estado, dos 33 artigos
identificados em temas relacionados a banda larga, mobilidade e redes de nova
geração – os vetores de crescimento dos investimentos, segundo Szapiro (2009).
Os cinco artigos publicados sobre as dez tecnologias de destaque segundo previsão
de Gartner (2010) para 2010-2011 envolveram instituições de seis estados:
Amazonas, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná – indicados no
mapa com pontos de exclamação.
Considerações finais
Os dados apresentados sugerem que o Brasil encontra-se em processo de
catching up com os países de ponta na produção científica em temas diretamente
associados ao setor de telecomunicações. Os pesquisadores brasileiros da área
têm demonstrado capacidade de interlocução com seus pares de outros países
em proporção maior que a base científica nacional em geral, e têm estabelecido
parcerias com instituições localizadas em alguns dos países mais produtivos em
pesquisas relacionadas ao setor.
14. Em 2007, o PIB do Rio Grande do Sul foi o quarto do país, enquanto o do Paraná foi o quinto, e o de
Santa Catarina, o sétimo (fonte: IBGE).
15. Dos artigos com participação de pesquisadores brasileiros publicados em todas as áreas desde 2007, in-
dexados no Portal ISI/Web of Science até 22 de setembro de 2010, perto de um quarto deles tiveram entre os
autores ao menos um pesquisador vinculado a alguma instituição sediada na região Sul do Brasil. Cinco delas
despontaram entre as 20 mais produtivas do país no período.
16. Em um desses estados, o incremento nos gastos de P&D entre 2007 e 2008 chegou a ser quase 160%
maior que a taxa nacional. Todas essas taxas foram calculadas com dados disponíveis no site do Ministério da
Ciência e Tecnologia <www.mct.gov.br>, acessado em 24 de setembro de 2010.
104
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
Referências Bibliográficas
GARTNER. 10 mobile technologies to watch in 2010 and 2011, Gartner
Inc., Apr. 2010. Disponível em: <http://www.gartner.com>.
HIRSCH, J. E. An index to quantify an individual’s scientific research
output. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States
of America (PNAS), vol. 102, n. 46, p. 16569-16572, Nov. 2005.
KUBOTA, L. C.; DOMINGUES, E.; MILANI, D. A importância da
escala no mercado de equipamentos de telecomunicações. Radar n. 10, Brasília:
Ipea, out. 2010.
105
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?
106
CAPÍTULO 5
Introdução
O setor de tecnologias da informação e comunicação (TICs) é um dos mais
dinâmicos em termos de inovações tecnológicas em âmbito mundial. Em alguns de
seus segmentos, como o de aparelhos de telefonia, incluem-se ícones de consumo,
como o iPhone. Estima-se que o mercado de equipamentos de telecomunicações
cresça de 133 bilhões de euros em 2009 para 150 bilhões de euros em 2013,
segundo estimativas da firma de pesquisa de mercado Idate (COLCHESTER,
2010).
O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) realizado pelos
grandes atores internacionais é extremamente significativo. Segundo dados da
União Europeia, o setor de TICs é aquele que apresenta os maiores gastos em P&D
no conjunto das economias estadunidense, japonesa e europeia, representando
25% dos gastos empresariais em P&D e empregando 32,4% dos pesquisadores,
apesar de responder por apenas 4,8% do produto interno bruto – PIB (TURLEA
et al., 2010). Oito das 20 maiores empresas inversoras em P&D no mundo atuam
no setor, conforme ranking da Booz & Co (JARUZELSKI e DEHOFF, 2009).
Os dados da tabela 1 permitem observar as 20 firmas do setor com maiores gastos
em P&D. Em destaque estão indicadas as firmas classificadas como fabricantes de
equipamentos de telecomunicações.
1. Versão condensada e atualizada do relatório setorial sobre indústria de tecnologia da informação e co-
municação Projeto: Determinantes da acumulação de conhecimento para inovação tecnológica nos setores
industriais no Brasil. Belo Horizonte: ABDI, 2009. O presente artigo foi publicado inicialmente no Boletim
Radar no. 10, edição especial sobre Telecomunicações.
2. Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea.
3. Professor do Centro de Planejamento e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal de Minas
Gerais (Cedeplar/UFMG).
4. Pesquisadora do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD) no Ipea.
107
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
108
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
109
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
Cadeia produtiva
Uma matriz de insumo-produto revela as ligações entre os setores econômicos
nas compras e vendas de produtos entre os setores, no uso de fatores de produção
(capital e trabalho) e nas vendas dos setores para os componentes da demanda
final. Para o propósito deste estudo, uma matriz insumo-produto foi construída
a partir das informações disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2008) e dos dados obtidos pela equipe. Assim, procedeu-se à
abertura setorial da matriz para os setores em foco, quando necessário.
Os dados utilizados nesta etapa foram obtidos da Pesquisa Industrial Anual
(PIA), do IBGE, de 2005, e se referem à utilização de insumos intermediários
e valor bruto da produção. A identificação das cadeias produtivas seguiu a
metodologia tradicional (Haguenauer et al., 2001).
A delimitação das cadeias produtivas dos setores analisados considerou as
transações de maior valor, até o total de 70% do consumo e/ou fornecimento
intermediário. Foram desconsiderados, neste cálculo, para cada setor, o
autoconsumo (intrassetorial), os serviços e os insumos de uso difundido (tanto
compras quanto vendas).
A partir da matriz de insumo-produto, foi desenvolvido um modelo de
insumo-produto, que gerou os multiplicadores de produção e emprego dos setores
analisados, seguindo o padrão da literatura (por exemplo: Miller e Blair , 1985).
110
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
111
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
Figura 2 – Cadeia produtiva do setor aparelhos de telefonia e transmissores de TV, 2005 (em R$
milhões)
113
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
faturamento, os dispêndios das firmas líderes nacionais são até superiores aos das
líderes estrangeiras (6,5% contra 3,3% da RLV, respectivamente). Entretanto, em
termos absolutos são muito inferiores, e pouco expressivos quando comparados
ao que se observa na tabela 1. Os gastos em P&D de algumas firmas estrangeiras
são muito superiores ao faturamento das firmas nacionais.
Não se observou a ocorrência de firmas emergentes, e os valores das firmas
frágeis estrangeiras foram omitidos por motivo de confidencialidade. Esta situação
de mercado é fruto – em grande parte – da principal política industrial para o
setor: a Lei de Informática. Esta lei incentivou a instalação de firmas estrangeiras
no Brasil, prevendo incentivos fiscais em contrapartida a gastos em atividades de
P&D no país.
Maiores escalas de produção costumam estar associadas a maiores indicadores
de produtividade. Os dados indicam que as firmas estrangeiras apresentam maior
produtividade do trabalho. O VTI por pessoa ocupada das líderes estrangeiras
(R$ 385 mil) é mais de três vezes superior ao das líderes nacionais (R$ 120 mil).
O valor do mesmo indicador para as seguidoras estrangeiras (R$ 219 mil) é quase
duas vezes superior ao das líderes nacionais.
Considerações finais
Os resultados apresentados neste artigo são uma pequena parte de um extenso
relatório desenvolvido em parceria entre o Ipea e a ABDI. Este relatório
contemplou não apenas o setor de aparelhos de telefonia e transmissores de TV,
mas também o de máquinas para escritório e equipamentos de informática,
material eletrônico básico, rádio, TV, som e vídeo. As firmas estrangeiras atuam
com uma escala de operação de outra grandeza, quando comparadas às firmas
nacionais, no mercado brasileiro.
Embora os gastos das líderes brasileiras em atividades inovativas sejam –
em proporção ao faturamento – superiores aos das líderes estrangeiras, em
termos absolutos o total despendido pelas firmas brasileiras é muito inferior ao
gasto pelas multinacionais. Comparando-se com valores gastos pelas grandes
corporações internacionais que atuam no setor de computação e eletrônica, trata-
se de valores pouco expressivos. Visto que a maior parte das atividades de P&D
das multinacionais é concentrada nos países centrais, uma comparação entre
dispêndios em P&D não pode desconsiderar os valores gastos pelas corporações
estrangeiras no exterior.
É preciso ressaltar que os dados da tabela 3 não permitem separar com
segurança os equipamentos de rede de telecomunicações dos aparelhos telefônicos
e equipamentos transmissores de TV. Desse modo, é razoável supor que uma
114
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
Referências Bibliográficas
COLCHESTER, M. Alcatel muda mentalidade para tornar-se mais ágil.
Valor Econômico, p. B12, 21 set. 2010.
DAS, A.; CHON, G. Dúvidas ainda cercam Nokia Siemens. Valor Online,
22 jul. 2010.
HAGUENAUER, L. et al. Evolução das cadeias produtivas brasileiras na
década de 90. Brasília: Ipea, p. 61, 2001. (Texto para Discussão n. 786).
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).
Matriz Insumo-Produto 2005. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em:
<ftp://ftp.ibge.gov.br/Matriz_insumo-produto/MIPN55/2005.zip>. Acesso em:
set. de 2008.
JARUZELSKI, B.; DEHOFF, K. Profits down, spending stedy: the global
innovation 1000. Strategy and Business, n.57, Winter 2009.
MILLER, R. E.; BLAIR P. D. Input-output analysis: foundations and
extensions. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1985.
THOMSON, A. De carros a cafeteiras, Verizon quer tudo conectado sem
fio. Valor Econômico, p. B3, 23 set. 2010.
SPADINGER, R. Uma breve comparação entre os modelos de inovação
europeia e brasileira no mercado de telecomunicações. Ipea, Brasília, fev.
2010.
TURLEA, G. et al. The 2010 report on R&D in ICT in the European
Union. Luxembourg: European Commission, 2010.
115
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
Anexo 1
Descrição do escopo deste artigo, conforme a Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (CNAE) 1.0
32.2 Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e
de transmissores de televisão e rádio.
32.21-2 Fabricação de equipamentos transmissores de rádio e televisão e de
equipamentos para estações telefônicas, para radiotelefonia e radiotelegrafia,
inclusive de microondas e repetidoras.
32.22-0 Fabricação de aparelhos telefônicos, sistemas de intercomunicação
e semelhantes.
116
CAPÍTULO 6
Introdução
Em diferentes situações, o poder das compras governamentais pode ser utilizado
para estimular segmentos econômicos estratégicos para a economia. Alguns
estudos sobre a sua utilização como instrumento de política industrial sugerem
que seus impactos podem ir além do fortalecimento da base empresarial existente.
Em certos casos, estes efeitos proporcionam o estímulo à adoção de novas
combinações, geração de empreendimentos e criação de cadeias produtivas.
No momento atual em que se lança uma política pública visando à
massificação do acesso à internet em banda larga, discute-se a oportunidade de
se utilizar o poder de compras para incentivar o segmento de equipamentos de
telecomunicações. No entanto, uma questão crucial é se esta ferramenta reúne as
condições necessárias para ser aplicada de forma eficiente na reestruturação do
setor. Em artigo presente nesta publicação, Kubota, Domingues e Milani (2010)
afirmam que um dos requisitos mais importantes do setor é a escala de produção.
O objetivo deste estudo é, portanto, investigar se o volume das compras
públicas realizadas nos últimos anos para o segmento teria sido suficiente para
oferecer um patamar de consumo que viabilizasse o desenvolvimento da indústria
nacional. Adicionalmente, o trabalho examina quais são as tendências de
modificação do cenário vigente, a partir das projeções de investimento da Telebrás,
à qual cabe cumprir os objetivos do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL).
Por fim, o artigo verifica se é possível, e como, estimular a atividade empresarial,
interferindo de maneira proativa no ritmo e na direção do desenvolvimento da
indústria de telecomunicações no Brasil.
1. O presente artigo foi publicado inicialmente no Boletim Radar no. 10, edição especial sobre Telecomuni-
cações.
2. Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea.
3.Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea
117
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações
119
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações
– oferecendo uma margem de até 25% para os produtos com tecnologia nacional
–, mas também do aumento do investimento público em diversos setores. Para
o caso particular das telecomunicações, os investimentos públicos vinham sendo
direcionados a programas visando reduzir os índices de exclusão digital. Contudo,
para os próximos anos, o PNBL aparece como o principal veículo de investimento
público para o setor, por meio das aquisições de equipamentos para construção
da rede da Telebrás.
É importante ressaltar que as compras no setor de telecomunicações, sejam
públicas ou privadas, possuem uma dinâmica particular. Os fabricantes de
equipamentos e os operadores de rede de telecomunicações formam alianças, nas
quais a evolução tecnológica dos equipamentos é decidida de forma integrada
entre os participantes. Este tipo de relacionamento decorre da necessidade de
os fabricantes melhorarem a previsibilidade da trajetória futura de sua linha de
equipamentos, reduzindo o risco inerente ao desenvolvimento de novos produtos.
Por sua vez, os operadores também se beneficiam ao transferir a maior parte
do P&D para empresas com conhecimento especializado e que poderão obter
futuros ganhos de escala.
Embora as políticas brasileiras de incentivo à produção e ao desenvolvimento
tecnológico mencionem as compras públicas como elemento de estímulo à
inovação, existem evidências de que, na prática, acontece o contrário. Em geral,
empresas defasadas em termos mercadológicos, com pouco grau de diferenciação
e baixo potencial inovador, acabam sendo as maiores beneficiadas pelas compras
governamentais.
120
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações
Uma análise dos tipos de compras realizadas mostra que cerca de metade
das aquisições (47,8%) é formada por equipamentos de comunicação, detecção
e radiação coerente. Neste grupo estão os diversos tipos de rádios, antenas,
equipamentos óticos (transceptores, multiplexadores, acopladores etc.), modems,
telefones e outros equipamentos. Mesmo que os dados revelem certa oscilação das
compras deste grupo ao longo do tempo, confirma-se a necessidade sistemática
por este tipo de material. Outro grupo relevante é o de materiais, componentes,
conjuntos e acessórios de fibras óticas, correspondendo a 37,4% das aquisições.
Ele inclui os cabos de fibra ótica, conversores e terminadores.
121
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações
123
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações
Considerações finais
Este estudo, por seu caráter exploratório, não tem a intenção de prescrever
políticas públicas para o setor de telecomunicações. Em vez disso, o seu objetivo
foi discutir estudos de caso e trazer informações para esclarecer alguns pontos-
chave do setor, a fim de auxiliar a decisão sobre as políticas que devem ser adotadas.
Algumas questões relevantes sequer foram mencionadas no trabalho, tais como:
a possibilidade de exigir a preferência pela aquisição de produtos nacionais por
parte dos operadores privados; a conveniência ou a necessidade de oferecer novos
estímulos para as empresas produtoras de equipamentos de telecomunicações;
e os impactos atuais e futuros na difusão da banda larga ao se decidir por uma
política de desenvolvimento tecnológico para o setor.
No entanto, a partir do referencial teórico analisado e dos dados apresentados,
já se podem propor algumas recomendações pertinentes à formulação de uma
política consistente e eficiente de compras públicas no Brasil:
1. O marco legal das compras governamentais, durante décadas, privilegiou
o preço em detrimento do aspecto inovador. Embora a MP no 495/2010,
recentemente editada, modifique este marco para propiciar, ao mesmo tempo,
o desenvolvimento de novos mercados e o apoio às firmas mais inovadoras, a
124
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações
produzido no exterior.
Futuros desdobramentos devem incluir a avaliação das aquisições de
equipamentos de telecomunicações por parte de outras empresas públicas e de
economia mista, tais como Eletrobrás, Serviço Federal de Processamento de
Dados (Serpro), Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, uma vez que estas
empresas apresentam grande potencial de compra de equipamentos de redes de
comunicação, com requisitos de grande dispersão geográfica, necessidade de
elevado grau de confiabilidade e exigência de operação contínua.
Referências Bibliográficas
BLIND, K.; GAUCH, S. Trends in ICT standards: the relationship between
European standardisation bodies and standards consortia. Telecommunications
Policy, vol. 32, n. 7, p. 503-513, 2008.
BRASIL. Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). Brasília, 2010.
EUROPEAN COMMISSION. Public procurement for research and
innovation. Expert Group Report. Luxembourg: Office for Official Publications
of the European Communities, 2005.
FEDERAL COMMUNICATIONS COMMISION (FCC). Connecting
America: the National Broadband Plan. 2010.
KUBOTA, L.; DOMINGUES, E.; MILANI, D. A importância da escala
no mercado de equipamentos de telecomunicações. Radar n. 10, Brasília: Ipea,
2010.
MOREIRA, M.; VARGAS, E. O papel das compras governamentais na
indução de inovações. Contabilidade, Gestão e Governança, vol. 12, n. 2, p. 35-
43, 2009.
NYIRI, L. et al. Public procurement for the promotion of R&D and
innovation in ICT. Seville: Istitute for Prospective Technological Studies (IPTS),
2007.
126
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações
Anexo
127
128
CAPÍTULO 7
Introdução
Este trabalho propõe-se a estudar a balança comercial do segmento de
equipamentos de telecomunicações, a fim de reunir evidências a respeito do seu
potencial de demanda doméstica. Antes de se abordar, porém, especificamente
o segmento de equipamentos de telecomunicações, convém voltar a atenção,
na seção 2 deste artigo, ao complexo eletrônico, que é composto por mais três
segmentos: informática, eletrônica de consumo e componentes.
Na terceira seção, são detalhados os dados da balança comercial do segmento
de equipamentos de telecomunicações. A seção 4 é dedicada à análise dos dados
dos principais equipamentos de rede, mercado sobre o qual o Plano Nacional de
Banda Larga (PNBL) terá impacto direto. Procura-se definir os principais setores
envolvidos na importação e exportação de tais equipamentos. A quinta seção traz
as considerações finais.
O complexo eletrônico
O complexo eletrônico acelerou intensamente sua situação deficitária (tabela 1)
entre 2002 e 2008. A taxa de crescimento das importações foi bastante superior
à taxa de crescimento das exportações, gerando aumento do déficit. De fato,
enquanto a primeira registrou avanço de 137% entre 2004 e 2008, a segunda
elevou-se 60% no mesmo período, fazendo com que o déficit crescesse 169%.
Em termos comparativos, o déficit do complexo eletrônico, em módulo, equivale
a 65% do saldo comercial brasileiro.
1. O presente artigo foi publicado inicialmente no Boletim Radar no. 10, edição especial sobre Telecomuni-
cações.
2. Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea.
129
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
130
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
Gráfico 1 – Déficit comercial dos segmentos do complexo eletrônico – 2008 (em bilhões
de dólares)
Equipamentos de telecomunicações
Embora a balança comercial do setor apresentasse valores relativamente pequenos
entre 2002 e 2006, não ultrapassando US$ 1 bilhão, o segmento de equipamentos
de telecomunicações passa a exibir expressivos déficits comerciais em 2007 e
2008, de US$ 2,2 bilhões e US$ 4,5 bilhões, respectivamente, diminuindo para
US$ 3 bilhões em 2009 e retomando fortemente sua tendência de crescimento
no período pós-crise, com uma elevação de 101% no primeiro semestre de 2010
em relação ao primeiro semestre de 2009 (gráfico 2).
Gráfico 2 – Déficit comercial dos segmentos do complexo eletrônico – 2008 (em bilhões
de dólares)
8
7
6
5
4
3
2
1
0
-1 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2009* 2010*
Importações Exportações
131
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
132
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
Equipamentos de rede
A fim de se obterem dados mais específicos quanto aos equipamentos de rede,
foram excluídos da análise aparelhos telefônicos e partes e peças6 . Nota-se a
modesta quantia de importações destes equipamentos (US$ 798 milhões em
2007) em relação ao valor total importado pelo segmento de telecomunicações
(US$ 4,9 bilhões no mesmo período). Além disso, o valor das exportações é
ainda menor, US$ 124 milhões em 2007, relativamente às exportações totais do
segmento, de 2,74 bilhões no mesmo ano (tabela 2).
Outra característica marcante desse mercado é a grande concentração
da balança comercial em alguns produtos. Das importações realizadas em
2007, 63% delas foram referentes a roteadores digitais, aparelhos diversos para
transmissão e recepção de voz e dados em rede com fio (exceto hubs e modems) e
aparelhos emissores diversos com receptor incorporado, digitais. No que tange às
exportações, a concentração é mais acentuada: no mesmo ano de 2007, somente
6. Partes e peças foram excluídas, pois grande parcela destas é destinada à fabricação de aparelhos telefônicos.
133
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
134
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
7. Outro inconveniente diz respeito ao período de análise, visto que, para fins deste trabalho, não foram
disponibilizados microdados para além de 2007.
135
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
Considerações finais
Observando-se os dados apresentados, identifica-se uma tendência de deterioração
acelerada da balança comercial do complexo eletrônico. Os principais segmentos
responsáveis por esta tendência foram os de componentes e equipamentos de
telecomunicações – este, principalmente devido ao intenso crescimento de suas
importações.
A fabricação de aparelhos telefônicos e de outros equipamentos de
comunicação constitui o principal setor do segmento de equipamentos de
telecomunicações. Partes e peças de celulares e outros equipamentos de
comunicação respondem pela maior cifra de importação do segmento. Telefones
celulares correspondem ao item de maior valor de exportação.
Excluindo-se os itens referentes à fabricação de telefones celulares, de partes
e peças e de outros bens intermediários, chega-se à demanda por importação
de equipamentos de rede e à oferta destes equipamentos para exportação. Tanto
a demanda por importações quanto a oferta de exportações destes bens são
relativamente pequenas, comparando-se aos demais itens do segmento. Além de
modesto, o comércio exterior dos equipamentos de rede selecionado mostra-se
crescentemente deficitário, assim como todo o complexo de eletrônica.
As características citadas levantam questões relevantes concernentes à
escala de produção de equipamentos de rede no Brasil. A implantação do PNBL
certamente aumentará a demanda das fabricantes nacionais, mas, segundo se
pode constatar pelos dados apresentados, uma estratégia eficaz de fortalecimento
da indústria de equipamentos de telecomunicações nacional tem de ter como
ponto fundamental de sua estratégia a conquista de mercados externos, a fim de
ganhar escala e poder competir em um mercado altamente oligopolizado.
Referências Bibliográficas
LINDMARK, S.; TURLEA, G.; ULBRICH, M. Mapping R&D
8. Lindmark et al. (2008, p. 51) expõem dificuldade parecida em seu estudo.
136
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
Anexo 1
Descrição do escopo deste artigo, conforme a Classificação Nacional de
Atividades Econômicas (CNAE) 1.0
32.2 Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e
de transmissores de televisão e rádio.
32.21-2 Fabricação de equipamentos transmissores de rádio e televisão e de
equipamentos para estações telefônicas, para radiotelefonia e radiotelegrafia,
inclusive de microondas e repetidoras.
32.22-0 Fabricação de aparelhos telefônicos, sistemas de intercomunicação
e semelhantes.
137
138
3ª. PARTE
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO
139
140
CAPÍTULO 1
Introdução
Quem pensa que o uso da internet no computador vai acabar com o hábito de ver
TV, levante a mão. Pois quem imagina que a resposta afirmativa é a correta, está
equivocado(a). Enganam-se os que acreditam que, conforme aumenta o uso da
internet em diferentes plataformas no Brasil, menos tempo as pessoas dedicariam
à TV. Pelo que menos é o que constata a pesquisa ‘Estilos de Vida e Bem-Estar
Individual’, feita pela empresa Market Analysis2. Realizado com 483 adultos com
mais de 18 anos residentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre
durante o mês de julho de 2009, o estudo aponta que o percentual de brasileiros
que passou 11 horas ou mais por semana navegando na internet saltou de 11%
para 17%.
Em outros termos, isso significa que, numa semana sem feriados, um em cada
seis brasileiros fica metade do dia ou mais tempo acessando a internet, isto, claro,
dentro do grupo de pessoas que possuem internet. O aumento na quantidade
de horas na rede coincide com a expansão acelerada na venda de computadores
e da banda larga no Brasil. O percentual de internautas que dedicam o mesmo
tempo para assistir a TV, por sua vez, aumentou de 62% para 70,5% em um ano.
Segundo os responsáveis pela pesquisa, esses dados contradizem a ideia defendida
por alguns de que, com a expansão da rede, haveria uma profunda mudança
muito nos hábitos de consumo de mídia, a ponto de a TV perder espaço para a
rede mundial de computadores que, na oferta de conteúdos digitais, avança de
modo acentuado para os celulares e para as diversas plataformas de videojogos.
Este dado é significante para entender este novo cenário multiplataforma
que vivenciamos e nos reporta a outra importante questão: o que será o futuro da
televisão aberta e gratuita? Como sobreviverá num ambiente convergente, com
tantas ofertas de informação vindas de outros meios, a partir de outros modelos,
de outras estruturas de rede? Com entender o fascínio que a TV exerce mesmo
entre os ditos ‘nativos digitais’, aqueles que já nasceram em um mundo com
tecnologias digitais? A TV linear que temos e realizamos hoje, vai forçosamente
1Doutor em Comunicação pela USP. Atualmente é assessor especial da Casa Civil da Presidência da República.
2Disponível em http://www.marketanalysis.com.br/mab/conteudo.php?pg=biblioteca. Acesso em 23 de maio
de 2010.
141
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
142
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
143
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
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Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
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Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
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Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
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Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
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Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
149
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
Considerações Finais
O Sistema Brasileiro de TV Digital, lançado no dia 02/12/2007, representa
a evolução do sistema de TV analógica para o digital. Esta evolução amplia
possibilidades de lazer dos brasileiros, através da melhora significativa da
qualidade de imagem e som; permite a ampliação do acesso gratuito, através da
oferta de multiprogramação, e também possibilita o uso interativo da televisão.
Além do tempo de implantação da infra-estrutura pelos radiodifusores para a
geração do sinal digital em todas as capitais, a qual ocorrerá, segundo previsões da
ANATEL, até o final de 2010, será necessário o uso de Set Top Box para permitir
a visualização do sinal digital em aparelhos de TV analógicos. Com a oferta no
mercado brasileiro de aparelhos receptores de TV digital, prontos para oferecer
aplicativos de interatividade através de plataformas de conexão ou canais de
retorno tem início um processo longo de substituição do parque instalado de
TVs analógicas pelas modernas TVs digitais.
O mercado brasileiro produtor de aparelhos de TV vem se mantendo num
patamar fantástico, com produção anual de 12 milhões de unidades. Outro dado
importante é que o Brasil já conta com cerca de 100 milhões de televisores em
funcionamento. Assim, o objetivo de provermos a maioria dos lares brasileiros,
independente da classe social, de acessibilidade às transmissões de TV digital
é um grande desafio. O acesso das camadas da população com menor poder
aquisitivo à TV digital, principalmente visando à oferta e a utilização de serviços
televisivos interativos de interesse público (consultas médicas do SUS, declaração
de IR, Educação à distância, Bolsa de empregos, T-Governo, etc.) a serem
disponibilizadas, através do projeto de integração de plataformas comuns das TVs
públicas Federais - EBC, TV Justiça, TV Câmara, TV Senado, TV MEC, TV
da Cidadania -, agora com a possibilidade de ser incorporado a um plano mais
abrangente de oferta de informação digital somando-se ao Plano Nacional de
Banda Larga, inclusive com o compartilhamento de sites e antenas..
Tendo em vista o cumprimento dos objetivos ao longo dos dois próximos
anos de exploração comercial nas principais cidades brasileiras, os níveis de
preços praticados na venda dos “set top box” deveriam baixar o quanto antes. Com
a dimensão do mercado brasileiro, tanto para set top boxes como para TVs digitais
150
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão
Referências Bibliográficas
BARBOSA FILHO, André e MELONI, Luis Geraldo P.A TV Digital
interativa e na era das comunicações sem fio Trabalho apresentado no GP ‘Conteúdos
Digitais e Convergências Tecnológicas’, evento componente do XXXII Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de
2009.
BARBOSA Fº, André, CASTRO, Cosette e TOME, Takashi. Mídias
Digitais, Convergência Tecnológica e Inclusão Social. São Paulo: Paulinas, 2005.
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152
CAPÍTULO 2
Anita Simis2
153
Estado, Cinema e Indústrias Criativas e de Conteúdos
155
Estado, Cinema e Indústrias Criativas e de Conteúdos
157
158
CAPÍTULO 3
Gilberto Maringoni1
Um mundo em convulsão
A última década do século XX foi palco das mais profundas transformações no
terreno da mídia acontecidas após o advento da segunda Revolução Industrial, nos
anos 1870. As empresas e redes de comunicação, anteriormente compreendidas
em limites nacionais, têm se integrado a um verdadeiro sistema transnacional,
cujos polos irradiadores são os oligopólios midiáticos dos países centrais, em
especial os dos Estados Unidos.
As empresas que formam essas articulações, muitas vezes, não estão
apenas ligadas à área específica da informação. São corporações com interesses
no sistema financeiro e nas indústrias imobiliária, armamentista ou energética.
Por esse motivo, a lógica do setor aproxima-se à da que ocorre em outras esferas
do capitalismo internacional, com os mundos das finanças, do comércio e da
indústria, que se realizam cada vez mais em escala global.
Em tempo algum da história da humanidade tantas pessoas tiveram
tanto acesso à informação e a produtos comunicacionais. As redes de televisão,
de telefonia e de internet cobrem praticamente todos os pontos do planeta. A
redução das taxas de analfabetismo e a elevação dos padrões de vida em vários
países aumentaram de maneira inédita a circulação de meios impressos, cuja
sobrevivência é sempre colocada em questão. Nem mesmo a competição com
outros produtos tem reduzido suas tiragens em termos absolutos. A indústria de
informações jamais teve um alcance tão grande como nos dias que correm.
Ao mesmo tempo, nunca a propriedade dos emissores de informação esteve
tão concentrada nas mãos de poucos grupos. Os empreendimentos de porte do
setor exigem inversões de capital cada vez maiores, dificilmente realizadas por
empresas de âmbito local ou nacional.
1 Jornalista, doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade
de São Paulo (2006) e graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela mesma universidade (1986).
Tem experiência na área de História, com ênfase em América Latina contemporânea, História da imprensa
e História do Brasil Império. Tem estudos focados nos temas: imprensa, escravidão, relações internacionais,
endividamento público e modelos de desenvolvimento. É autor de dez livros, entre eles Barão de Mauá, o
empreendedor (Aori, 2007), A Venezuela que se inventa - poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez (Edi-
tora Fundação Perseu Abramo, 2004) e A revolução venezuelana (Edunesp, 2009). É professor de jornalismo
na Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, em São Paulo, e bolsista do Programa Nacional de Pesquisas
Econômicas (PNPE) no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)
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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)
2 Ulanovsky, Carlos, Paren lãs rotativas, diários, revistas y periodistas (1920-1969), emecé, Buenos Aires, 2005, pág. 21.
3 Idem, pág. 26. É nesta fase que o investimento em imprensa muda de patamar e de escala. Sai de cena o im-
proviso e colocam-se no mercado empresas de comunicação de porte até então inédito.
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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)
santandereanos e os cachaços4.
Gigantes da mídia
O traço fundamental da alteração do perfil dos negócios da mídia, delineado a partir
dos anos 1930-1940 e concretizado após a II Guerra, é a constituição de grupos
empresariais de comunicação. Estes se caracterizam pela propriedade cruzada
de vários meios, como revistas, jornais, emissoras de rádio e, posteriormente,
de televisão. O exemplo maior desses anos foram os Diários Associados. Suas
empresas se constituíram a partir do lançamento de O Jornal (1924), no Rio de
Janeiro, pelo empresário brasileiro Assis Chateaubriand (1892-1968).
O grupo consolidou-se com a publicação da revista semanal O Cruzeiro, em
1928, com tiragem inicial de 50 mil exemplares. Seu auge aconteceu nos anos
1950, quando alcançou 720 mil exemplares. Os Diários chegaram a compreender,
nos anos 1960, 36 estações de rádio, 34 jornais, 18 canais de televisão, uma revista
de circulação nacional, além de uma agência de notícias e outras publicações
periódicas.
A primeira grande cadeia de periódicos mexicanos começou a se formar a
partir dos anos 1930, com o lançamento do diário Novedades, das Publicações
Herrerías, empresa da família de mesmo nome. O jornal foi transferido, por
imposições políticas, a um grupo de empresários ligados a Miguel de Alemán,
presidente do país entre 1946 e 1952. As famílias O’Farrill e Alemán fizeram do
jornal a ponta de lança de um grande grupo empresarial de comunicações, que
incluía 36 publicações. A cadeia midiática mudou de mãos a partir de 1973,
passando a se denominar Organización Editorial Mexicana (OEM) e conta
com 70 periódicos, 24 emissoras de rádio, um canal de televisão e 43 sítios de
internet, chegando a ser, nos anos 1970, o maior grupo de comunicação em
língua espanhola em todo o mundo.
4 P areja, Reynaldo, Historia de la Radio en Colombia, Secom, Bogota, 1984, pág 177, citado por Barbeiro,
op. Cit., pág. 234.
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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
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matrizes estava a rentabilidade maior do mercado dos EUA, num tempo em que
se implantavam no país a TV a cabo e as transmissões por satélite.
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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)
O futuro, enfim
Que rumos podem ser vislumbrados para o desenvolvimento das comunicações
na América Latina, em meio a aceleradas mudanças nas composições societárias,
nos avanços tecnológicos e nas demandas diversificadas por informação?
A profunda reestruturação tecnológica assistida pelo mundo desde o final dos
anos 1970 e a própria alteração nos padrões de acumulação ensejaram a constituição
de novos tipos de conglomerados de alcance global. O desenvolvimento tecnológico
casou-se à perfeição com uma era de desregulamentação dos mercados em escala
internacional. A livre circulação de capitais, em velocidades inimagináveis há três
6 Informações de Dantas, Marcos, A lógica do capital-informação, Contraponto 2002, Rio de Janeiro, pág. 229.
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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)
décadas, foi possibilitada não apenas por conta da queda de barreiras legais em
cada país. Ela acontece também por força dos avanços na área de automação
bancária, de transmissão de dados e de alocação de investimentos em tempo real
por empresas que operam em diversos pontos do planeta.
Os velhos grupos familiares no continente – Clarín, Edwards, Mesquita,
Frias, Marinho, Civita etc. – se defrontam com duas forças contraditórias. De
um lado, a ameaça real de serem engolidos por organizações gigantescas, em um
ambiente cuja dinâmica não é impulsionada pelos mercados locais, mas pela lógica
de investimentos planetários. De outro, a uma pressão política de baixo para
cima, que reivindica direito à informação e democratização das informações. Para
alguns, a saída tem sido a abertura de seu capital. Para outros, ronda o espectro de
uma concorrência assimétrica, caso não se reestruturem. Repetindo: essa situação
resulta de um liberalismo radical, sempre defendido por eles mesmos.
Os velhos grupos de comunicação continentais percebem agora que a
abertura indiscriminada dos mercados nacionais tem prós e contras para seus
interesses. Se, de um lado, isso possibilita associações e fusões, com consequente
incremento na entrada de capitais para investimentos, de outro coloca a velha
mídia literalmente em xeque. Antigos grupos familiares têm sido obrigados a se
reestruturar à força, para não sucumbirem diante de empreendimentos muito
mais poderosos.
Monopolista, antidemocrática e elitista, a velha mídia dificilmente conseguirá
galvanizar a opinião pública para sua defesa. Há apenas um único ente com porte
e capacidade para realizar um contraponto e buscar garantir que os interesses e os
direitos da cidadania possam prevalecer nesse quadro geral. Trata-se do Estado.
Demonizado e acusado de ineficiente por quase três décadas consecutivas, este
tem condições de impor limites legais à formação de monopólios, outorgar e
suspender concessões públicas e de produzir uma comunicação democrática e de
qualidade, sem se vincular a interesses comerciais imediatos.
A independência do Estado em relação aos agentes privados será tanto maior
quanto mais pública e democrática forem suas características.
166
CAPÍTULO 4
Antonio Lassance1
Introdução
A comunicação é, ao mesmo tempo, uma das áreas mais importantes e sensíveis
para a gestão pública e uma das menos institucionalizadas. A regulamentação
é escassa, genérica, pouco associada aos objetivos da República e dominada,
em sua publicidade, por “maneirismos” mercadológicos. Possui uma ampla
margem de manobra, o bastante para que ela possa ser bem utilizada em prol
das políticas, programas e ações que precisam se tornar conhecidas, mas aberta
o suficiente para deixar brechas que podem ser distorcidas, ou cujo bom uso
depende não só das virtudes dos governantes, mas da virtude dos que comandam
a comunicação. Tal situação contraria um dos requisitos do funcionamento do
Estado, que é justamente o de ter mecanismos que induzam comportamentos
republicanos, diminuindo ao máximo o espaço para opções entre usar ou abusar
da comunicação.
A discussão aqui apresentada sugere um marco institucional para a
comunicação do Poder Executivo, seguindo o princípio essencial de que poder
público é poder do público sobre o Estado. Deriva daí o pressuposto de que a
comunicação deva ser prestada como uma modalidade a serviço do público.
Toma-se como pressuposto que a comunicação realizada por meio de
organismos estatais deve ser democrática, e pode sê-lo tanto ou mais que em
empresas privadas. Deve ser crítica – o que significa, muitas vezes, nadar contra
a corrente de opiniões largamente disseminadas. E deve ser afinada com os
direitos dos cidadãos, sem ter que simular uma independência do Estado. Não
existe independência em atividades financiadas exclusivamente pelo Estado, que
dependam de suas diretrizes e, principalmente, que tenham que obedecer ao
regramento legal estabelecido. O que pode e deve existir é autonomia, figura
conhecida em âmbito administrativo.
Um serviço público de comunicação é a forma concreta e sistemática de
institucionalização de um tipo próprio e peculiar de comunicação. Próprio porque,
em alguma medida, deve ser realizado diretamente pelo Estado, sem prejuízo
de eventualmente valer-se de serviços especializados contratados no mercado e,
1 Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e
da Democracia. Foi assessor da Secretaria de Comunicação da Presidência da República e presidente do Con-
selho de Administração da Radiobras.
167
Comunicação institucional do poder público
sobretudo, tendo que conectar-se a redes sociais que operam seus próprios canais
de transmissão de mensagens. Peculiar porque tem características diferenciadas
em relação à comunicação empresarial privada, à autocomunicação de massa ou
das organizações civis, e distinta mesmo da do Legislativo e Judiciário.
168
Comunicação institucional do poder público
170
Comunicação institucional do poder público
172
Comunicação institucional do poder público
Princípios
Os princípios da comunicação do poder público devem derivar dos princípios
fundamentais consagrados pelo Art. 1º da Constituição, que define o Estado
brasileiro como uma república federativa, Estado democrático de direito e tendo
como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político.
Tais princípios se articulam com os objetivos fundamentais da República
(Art. 3º) que concernem a:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.
São preceitos que devem fundamentar a atenção especial da comunicação
do Poder Executivo em torno de determinados temas da agenda pública. A
projeção internacional do Brasil, a integração latino-americana; a proteção aos
direitos humanos, no que tange à dignidade da pessoa, ao direito à vida, à saúde,
educação, segurança, trabalho, previdência, assistência social e a promoção da
igualdade; as oportunidades de desenvolvimento humano (econômico, social e
cultural), dentre outros, são focos que merecem figurar como pauta prioritária
nos esforços da comunicação institucional do poder público.
A lista de temas setoriais e ações é imensa. Seria importante que, a partir
desses princípios e objetivos propugnados pela Constituição, fossem extraídas
linhas de comunicação capazes de condensar blocos temáticos mais amplos. Em
termos práticos, evitaria que sua cobertura jornalística se embaraçasse num cipoal
de programas e ações e se perdesse no emaranhado de órgãos da administração
federal.
O ideal seria conformar campos de atenção orientados por macropolíticas,
como é o caso da política econômica, da política social e da política de
desenvolvimento. O esforço é grande pelo fato de os governos demonstrarem
dificuldade em estabelecer essas macropolíticas.
O princípio da soberania popular, previsto tanto na forma direta (plebiscito,
referendo e iniciativa popular) quanto na representativa, traz a diretriz que
é comum à maioria das empresas de comunicação financiadas pelo Estado,
em outros países: a de sempre aferir a sintonia entre as decisões tomadas e as
expectativas ou aflições dos cidadãos. Por isso, a importância da ação do poder
173
Comunicação institucional do poder público
público ser sempre testada diante da reação que provoca nas pessoas, seja para
demonstrar seu grau de conhecimento (e menos o desconhecimento, como é
comum nas reportagens que começam com a técnica de “o povo fala”), seja para
estampar suas dúvidas, ponderações ou críticas. A experiência das ouvidorias é
decisiva, mas essa sensibilidade seria expandida com a realização periódica de
pesquisas de opinião, quantitativas e qualitativas, de modo a ajustar seus padrões
de comunicação e mesmo sua programação.
O princípio da harmonia e independência entre os Poderes (Art. 2º da
Constituição) impõe a necessidade de contextualizar as decisões de acordo com
seu processo decisório, incluindo as ações de confirmação ou revisão que podem
ser realizadas pelos demais Poderes. Trata-se da explicitação do complexo sistema
de pesos (ou “freios”) e contrapesos, presentes em dispositivos como o da sanção
ou veto, da emenda e o da ação direta de inconstitucionalidade.
Por sua vez, deve-se entender a natureza do Poder Executivo, que seguindo a
trilha aberta pela teoria política moderna foi dotado de uma série de ingredientes
para que tivesse a devida capacidade para agir. A lista desses requisitos está
consubstanciada na formulação clássica das repúblicas federalistas (HAMILTON,
MADISON e JAY, 1787-1788), que sempre deixou claro que o Executivo é
feito para agir em nome do interesse público. Para tanto, precisa ter unidade
(coesão interna ao próprio Executivo), a necessária provisão de apoio (ou seja,
uma coalizão no Congresso capaz de garantir que as iniciativas do presidente
sejam aprovadas); e ser dotado de prerrogativas substantivas, ou seja, de um
conjunto de poderes suficientes e automáticos para agir (op. cit., p. 644). Tudo
isso contrabalançado por sua temporalidade (limitação do mandato).
Enquanto o parlamento é um poder por natureza plural, o Executivo,
conforme os federalistas clássicos, é um poder hierárquico. O Legislativo pode ser
lento, para que as decisões sejam tomadas consumindo o tempo requerido por
sua pluralidade. O Executivo tem a obrigação de ser rápido e ter uma orientação
unívoca (op. cit., p. 645-650). Sua unidade de comando é um requisito básico
inclusive para que suas falhas exponham eventuais responsáveis, individualmente.
A comunicação do poder público obedece a tais peculiaridades.
O princípio federalista se desdobra na importância de mostrar o longo
caminho que uma decisão tomada em Brasília percorre até tornar-se realidade em
um município, e o quanto esse caminho é afetado por problemas de implementação.
Deve-se esclarecer a lógica de muitos programas e o papel complementar que
se deve estabelecer na cooperação entre União, estados, municípios e Distrito
Federal. Os cuidados a serem tomados na comunicação, por conta da diversidade
do País, estão bem definidos no Art. 2º do Decreto nº 6.555 (de 8/09/2008), que
dispõe sobre as ações de comunicação do Poder Executivo Federal.
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Comunicação institucional do poder público
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Comunicação institucional do poder público
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Comunicação institucional do poder público
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Comunicação institucional do poder público
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Comunicação institucional do poder público
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LIMA, Venício. Mídia: Teoria e Política. São Paulo: Fundação Perseu
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Comunicação institucional do poder público
181
182
CAPÍTULO 5
Marina Nery1
São quatro civilizações distintas que se agruparam em bloco, mas que ainda não
se conhecem o suficiente: Brasil, Rússia, Índia e China, que formam o acróstico
BRIC. “Não é uma questão de informação, mas de uma diferença enorme de
interpretação dessa informação”, afirma Vladimir Davydov, diretor do Instituto
da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, responsável por um dos
maiores núcleos de estudos acadêmicos sobre os BRICs no mundo.
A ideia dos BRICs foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs,
Jim O´Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic
BRICs”. Fixou-se como categoria da análise nos meios econômico-financeiros,
empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o conceito deu origem a
um agrupamento, propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil,
Rússia, Índia e China.
Se esses países propuseram uma coalizão, mas precisam, digamos, se conhecer
melhor, é interessante notar que tipo de recursos de comunicação eles utilizam.
Em estudo do Boston Consulting Group (BCG) divulgado em setembro de
2009, a sigla foi ampliada para BRICI e incluiu a Indonésia para contabilizar
que, juntos, esses países terão 1,2 bilhão de internautas em 2015. Em 2009, já
alcançavam 610 milhões de internautas.
O estudo aponta que os hábitos nos BRICI são notadamente diferentes
daqueles de países desenvolvidos. “Mensagens instantâneas são muito mais
populares, assim como as músicas e os jogos online”, diz o relatório. Ele mostra
também que as redes sociais são muito mais utilizadas no Brasil e na Indonésia
que na China, Rússia e Índia. “E enquanto uma grande porcentagem de
consumidores digitais usa e-mail na Índia, na China mais mensagens instantâneas
são utilizadas.”
A quantidade de computadores ainda é relativamente pequena nesses países
– cerca de 400 milhões –, o que resulta na observação de que os usuários dos
BRICI devem se valer mais dos telefones móveis do que dos PCs. “A penetração
de computadores ainda é baixa, enquanto os telefones móveis são mais baratos
e ferramentas mais convenientes tanto para comunicação como para a busca de
entretenimento”, diz o relatório. “Nos BRICI já existem cerca de 1,8 bilhão de
assinantes de SIM Cards, mais de quatro vezes a soma dos EUA e do Japão”,
1 Assessora de Comunicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
183
Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics
completa o estudo.
Também foi constatado que os internautas dos cinco países são geralmente
jovens – mais de 60% têm menos de 35 anos –, o que significa que os hábitos dos
consumidores ainda estão sendo formados e que os padrões de comportamento
terão grandes implicações no futuro das atividades online.
De acordo com o estudo, um aspecto crítico sobre o Brasil é o alto custo da
banda larga no país, em média de US$ 27 por mês (aproximadamente R$ 50), e
disponível principalmente nos bairros ricos ou de classe média. O relatório indica
que o Brasil conta com 12 milhões de conexões em banda larga, mas ainda possui
9 milhões de acessos discados. E apenas um terço daqueles que têm computador
contam com acesso à rede.
Líder mundial na medição do mundo digital, a ComScore publicou outro
dado interessante sobre os dois mercados emergentes de internet da Índia e do
Brasil: ambos são dominados pelo site de buscas Google. “É interessante que a
dinâmica do uso do Google seja tão similar no Brasil e na Índia, dado que os
dois mercados estão em lados opostos do mundo e são culturalmente bastante
diferentes um do outro”, diz Alex Banks, diretor-administrativo da ComScore na
América Latina. No Brasil, o Google Sites representa 89.5 por cento de todas as
buscas conduzidas, enquanto que o Google Orkut tem uma posição dominante
em redes sociais (96.0 por cento de tempo gasto), assim como o Google Maps na
categoria de mapas (70.9 por cento de tempo gasto) e o YouTube, propriedade do
Google, na categoria multimídia (91.6 por cento).
Na Índia, o Google Sites representa 88.4 por cento de todas as buscas
conduzidas e tem importante fatia do tempo gasto em redes sociais com Orkut
(68.2 por cento), mapas com Google Maps (63.9 por cento), multimídia com
YouTube (82.8 por cento). Também dominou um pouco menos da metade de
todo o tempo gasto na categoria blogs com Blogger (47.6 por cento) e e-mail com
Gmail (46.8 por cento).
Dos quase 2 bilhões de internautas no mundo, a China ocupa o primeiro
lugar em número de usuários. Segundo Li Xiaoyu, conselheiro de imprensa da
Embaixada da China no Brasil, nas estatísticas de abril de 2010 “os internautas
chineses totalizam 404 milhões; os sites são 3,23 milhões, o número de internautas
que usam banda larga chega a 346 milhões, e o número de internautas que usam
celular para acessar a internet é de 233 milhões. Mais de 95,6% das vilas e aldeias
do país têm bandas largas. A rede 3G cobre quase todo o país. O tempo total
diário dos internautas completa um bilhão de horas e vai chegar a 2 bilhões de
horas em 2015”.
Os números chineses surpreendem em tudo. São mais de 2 mil jornais e
9 mil revistas. O consumo diário de jornais é de 82 milhões. Pelos números do
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Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics
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Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics
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CAPÍTULO 6
189
Novos desafios ao direito autoral no jornalismo
190
Novos desafios ao direito autoral no jornalismo
o empregado abre mão de pedir detalhes sobre a exploração econômica das obras.
Em geral, a explicação é de que o direito pecuniário já está contemplado na
remuneração. Assim, discutir direito patrimonial torna-se algo supérfluo para o
novo profissional, afligido pela concorrência. Em redações cada vez mais jovens,
o recém-egresso da universidade que consegue obter uma oportunidade sente-se
privilegiado diante de um mercado de trabalho competitivo: até 2008, havia no
Brasil 568 cursos de graduação presenciais de Jornalismo e Reportagem. Naquele
mesmo ano, 27.503 novos profissionais foram inseridos no mercado de trabalho6 ,
em um País onde os dez jornais diários de maior circulação não somam 2 milhões
de leitores a cada edição7.
Considerar o direito patrimonial sobre a matéria jornalística tacitamente
incluído na remuneração mensal percebida pelo funcionário apenas comprova
como tal direito tem sido negligenciado. O piso salarial médio do jornalista na
capital de São Paulo passou de R$ 1.130 em 2003/2004 para R$ 1.833 em 2010,
intervalo de rápida e dinâmica adaptação das empresas à era da internet. Em
Brasília, o piso evoluiu de R$ 1.293 em 2004/2005 para R$ 1.740. Durante esse
mesmo período, nota-se que os reajustes salariais dos jornalistas mal conseguiram
cobrir os índices de inflação. Amostras dos anos de 2005 e 2006 consolidadas pela
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), por exemplo, revelam que somente
em seis unidades federativas do País os aumentos representaram ganho real de ao
menos 1% (cálculo com base no INPC)8.
Chega-se, portanto, ao debate sobre a adequação do atual sistema de
repartição dos direitos patrimoniais diante da nova realidade no mercado de
jornalismo. Há de se recordar, ainda, que certamente dentro dos próximos
quatro anos, até a Copa do Mundo de 2014 e, pouco mais tarde, por ocasião da
Olimpíada de 2016, as maiores empresas do setor de comunicação no Brasil vão
empreender novos esforços no sentido de dar início – ou ampliar – a cobertura
jornalística em outros idiomas. Durante a Copa do Mundo da África do Sul,
o portal de notícias G1 realizou essa experiência. Quanto mais se esforça para
derrubar as barreiras de idiomas na comunicação, mais êxito se obtém no respeito
ao artigo 5º da Constituição – o qual prevê a liberdade de informação – e mais
desafios se impõem ao cumprimento da legislação de direitos autorais.
A mesma Lei 9.610/98, alinhada com a Convenção Internacional de Berna
(1886), estabelece que não é ofensa aos direitos autorais a “reprodução, na imprensa
diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diáriosou
periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de
onde foram transcritos”. Tal reprodução, ainda de acordo com a Convenção
6 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, www.inep.gov.br, Sinopses Estatísticas da Educação
Superior - Graduação
7 Associação Nacional dos Jornais, www.anj.org.br, Maiores Jornais do Brasil
8 Federação Nacional dos Jornalistas, www.fenaj.org.br, Reajustes e pisos anteriores
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Novos desafios ao direito autoral no jornalismo
de Berna, não pode se dar na íntegra, mas apenas por trechos. Gerenciar essa
complexa trama de transcrições atualmente, com a velocidade de transmissão de
dados pela internet em franca ascensão, é muito mais complicado que nos séculos
passados, quando o jornalismo era dominado pelos impressos e as publicações
raramente ultrapassavam as fronteiras nacionais. Casos de contrafação – cópia
não autorizada de uma obra – ou de plágio multiplicam-se.
A busca de um equilíbrio entre o respeito ao direito autoral e a garantia da
liberdade de informação prevista em democracias como o Brasil intriga também
outras nações há tempos. O tema começou a ser discutido em fóruns internacionais
por volta da década de 18509. Mesmo depois de formalizada a Convenção de Berna,
o debate continuou acalorado. Nos Congressos Internacionais de Imprensa do
final do século 19, Gaston Berardi, jornalista belga, tentou sem sucesso convencer
seus colegas de que as legislações sobre direito autoral precisariam se dobrar aos
novos tempos do jornalismo, reconhecendo que cada vez mais leitores e empresas
se preocupavam não com o caráter literário ou ideológico das obras, e sim com seu
caráter factual, noticioso e descritivo. As discussões sobre quais textos deveriam
ser protegidos, e de que forma se daria essa proteção, se arrastaram por décadas,
sem grandes consensos internacionais. Hoje, Estados Unidos e Reino Unido têm
leis mais flexíveis no que tange a cessão dos direitos patrimoniais.
Nesse labirinto de informações do século 21, diversas nações, inclusive o
Brasil, analisam novas propostas de lei sobre o direito autoral, propostas estas que
tentam impor barreiras à reprodução ilegal de conteúdo jornalístico na internet.
Regras mais atuais são necessárias para que a comunidade internacional possa agir
de maneira concertada em relação a ferramentas recentes como os agregadores
de conteúdo – sítios que consolidam notícias sobre determinado assunto
reproduzindo na íntegra os textos de terceiros. O Google News, talvez o mais
famoso desses agregadores, causou indignação entre empresas norte-americanas,
que passaram a proibir a reprodução não autorizada de matérias. Em 2009, jornais
europeus organizaram um manifesto internacional, chamado de Declaração de
Hamburgo, para criticar o serviço prestado pelos agregadores de conteúdo sem
aval dos autores. Diante de marcos legais desatualizados, batalhas judiciais entre
jornais e jornalistas contra impérios da internet, como os grandes serviços de
busca, ou mesmo contra blogueiros que reproduzem conteúdo ilegalmente, se
estendem sem prazo de conclusão. A forma como o Brasil agirá para assegurar os
direitos dos autores e os interesses das empresas jornalísticas sem impor obstáculos
ao direito à informação ainda é uma incógnita.
9 The First International Journalism Organization Debates News Copyright, 1894-1898, Ulf Jonas Bjork, Journal-
ism History, Vol. 22, 1996
192
193
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Inclui bibliografia.
Conteúdo: v.1. Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. – v. 2.Memória das associações científicas e acadêmicas da
comunicação no Brasil.– v. 3. Tendências na comunicação.
ISBN
CDD 384.0981
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E DAS
TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL
VOLUME 2
Organização
Daniel Castro
José Marques de Melo
Cosette Castro
Coordenação
José Marques de Melo
Ana Silvia Médola
Margarida Kunsch
Daniel Castro
Cosette Castro
O papel central da comunidade científica advém-lhe de ser a instância de
mediação entre o conhecimento científico e a sociedade no seu todo e na
sua tripla identidade sócio-econômica, jurídico-política e
ideológico-cultural. É nesta perspectiva exteriorizante que deve ser
estudada a estrutura interna da comunidade científica.
(Boaventura de Souza Santos)
SUMÁRIO
VOLUME 2
MEMÓRIA DAS ASSOCIAÇÕES CIENTÍFICAS E ACADÊMICAS DE
COMUNICAÇÃO NO BRASIL
Apresentação
Ana Silvia Médola.........................................................................................15
Introdução
Margarida Kunsch.........................................................................................17
A Emergência do Campo da Comunicação no Brasil
Maria Cristina Gobbi ...................................................................................19
Capítulo 1
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico
da Comunicação
Ana Silvia Médola........................................................................................29
Capítulo 2
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da
Comunicação
Antonio Hohlfeldt..........................................................................................35
Capítulo 3
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
José Marques de Melo..................................................................................47
Capítulo 4
A História da Compós – lógicas e desafios
José Luiz Braga.............................................................................................53
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Itania Maria Mota Gomes, Julio Pinto e Ana Carolina Escosteguy ..................63
Capítulo 5
Breve relato sobre a fundação da Socine, seus objetivos e primeiros anos
Fernão Pessoa Ramos....................................................................................81
Pensando a Socine
Depoimento de José Gatti.............................................................................90
A História da Forcine
Maria Dora Morão.........................................................................................92
11
Capítulo 6
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Carlos Eduardo Franciscato, Edson Spenthof, Mirna Tonus e Sérgio Luiz Gadini
....................................................................................................................99
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
Elias Machado ...........................................................................................117
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo- FNPJ
Gerson Luiz Martins e Carmen Pereira ........................................................124
Capítulo 7
As origens da Semiótica no Brasil
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira...............................................................133
ABES, recriação e percurso de uma associação
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira...............................................................143
Capítulo 8
Economia Política da Comunicação (EPC)
Anita Simis e Ruy Sardinha Lopes ...............................................................157
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
Valerio Brittos e Cesar Bolaño......................................................................169
Capítulo 9
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional
e das Relações Públicas
Ivone de Lourdes Oliveira ...........................................................................175
A História da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação
Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp)
Margarida Kunsch.......................................................................................187
Capítulo 10
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Eugênio Trivinho..........................................................................................195
Capítulo 11
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
Marialva Barbosa........................................................................................203
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Marialva Barbosa..............................................................................207
12
Capítulo 12
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado
profissional
Adolpho Queiroz .......................................................................................225
Capítulo 13
Folkcom - Origens da entidade
Betania Maciel............................................................................................243
Folkcomunicação: memória institucional
Cristina Schmidt..........................................................................................256
13
14
APRESENTAÇÃO
15
A descrição da comunidade acadêmica com seus indicadores de titulação e
dimensão quantitativa das instituições aqui representadas apresenta, por um lado,
os principais focos da pesquisa nas respectivas esferas de atuação das afiliadas da
SOCICOM, e, por outro, um panorama das tendências e perspectivas da área no
contexto nacional de ciência e tecnologia.
Em todos os textos o leitor vai identificar breves históricos de cada sub-área,
situando o processo de desenvolvimento cognitivo. Entretanto, em “História
da Mídia no Brasil, percurso de uma década”, Marialva Barbosa presidente da
Rede ALCAR, demonstra o crescimento expressivo das pesquisas envolvendo
especificamente a dimensão histórica dos meios de comunicação e os desafios
deste tipo de análise.
O trabalho de recuperação e registro dos dados constantes nessa publicação
caracteriza os diferentes momentos e trajetórias das investigações, bem como a
diversidade de objetos, temas e abordagens. A Economia Política da Comunicação
é um segmento de estudos abrigado pela União Latina de Economia Política
da Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC), descrito por Anita
Simis, presidente da ULEPICC, Capítulo – Brasil, e Ruy Sardinha Lopes, vice-
presidente; as questões relativas ao ensino e à pesquisa em cinema são abordadas
por Maria Dora Mourão, presidente da Socine e representante da Forcine.
Ivone Lourdes de Oliveira, presidente da Abrapcorp, discute as práticas
comunicativas das/nas organizações e o relacionamento com seus públicos; o
marketing político situado entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional é
apresentado pelo presidente da Politicom, Adolpho Queiroz; a Folkcom, por sua
vez, retoma a trajetória dos estudos relativos à interação entre cultura popular e
culturas midiática e erudita; a contribuição da semiótica como aporte teórico de
análise da significação em discursos e sua contribuição para a compreensão das
relações de comunicação estão presentes no texto de Ana Claudia Oliveria. Por
fim, pensar o jornalismo e a produção de conhecimento nessa área fundamental
na vida social do país, ficou sob a coordenação de Carlos Franciscato, presidente
da SBPjor e de representantes do FNPJ, Sérgio Luiz Gardini, presidente, Edson
Spenthof e Mirna Tônus, diretores.
Com essas contribuições, a presente publicação descreve a comunidade
acadêmica da Comunicação, possibilitando uma visão diacrônica do processo de
estruturação do conhecimento científico sobre a Comunicação Social no Brasil.
16
INTRODUÇÃO
17
Ao longo dos últimos anos, o curso de Comunicação Social, em suas
diferentes habilitações, tem sido um dos mais procurados nos vestibulares das
universidades e de outras instituições brasileiras de ensino superior. Isto se
explica, em parte, pelo crescimento expressivo que a área tem experimentado,
tanto no campo acadêmico quanto no mercado das indústrias das comunicações
e da comunicação organizacional/corporativa e pelo acentuado crescimento da
oferta do ensino superior em todas as áreas nos últimos anos.
No campo acadêmico, sobretudo a partir dos anos 1990, houve um salto
quantitativo e qualitativo bastante relevante nos cursos de graduação e pós-
graduação. O número de universidades e instituições de ensino superior com
o curso de comunicação social cresceu assustadoramente. Os cursos de pós-
graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) somam hoje 39 reconhecidos
pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Também os de especialização (pós-graduação lato sensu) têm aumentado
substancialmente a oferta em todas as regiões do país.
Todo esse crescimento alia-se também a um avanço da pesquisa, que vem
ocorrendo principalmente nas universidades públicas e confessionais, tanto
nos cursos de pós-graduação quanto nos de graduação (por meio de projetos
de iniciação científica), graças aos programas de apoio das agências nacionais e
estaduais de fomento à pesquisa.
O reflexo de tudo isso se dá na produção científica disponível, em forma
de livros, teses, dissertações, monografias de cursos de especialização, trabalhos
de conclusão de curso, projetos experimentais e, ainda, no reconhecimento
internacional, que pode ser comprovado por meio de publicações, participação
brasileira em congressos mundiais e convites para visitas científicas e estudos de
pós-graduação e pós-doutorado. Enfim, esse conjunto de fatores foi decisivo na
construção e consolidação da área das ciências da comunicação no país.
A criação da Federação Brasileira das Associações Acadêmicas e Científicas de
Comunicação (Socicom) em 2008 veio coroar todo esse crescimento vertiginoso
e contribuir para uma melhor sistematização das políticas e ações integradas do
campo comunicacional no meio acadêmico-científico do país.
Antes dos breves textos elaborados por autores que foram fundadores ou
que estiveram diretamente envolvidos na fundação da Socicom das entidades
de Comunicação a ela filiadas foi incluído um artigo da pesquisadora Maria
Cristina Gobbi, que oferece o contexto para compreender o percurso e as fases
dos estudos e reflexões sobre Comunicação no Brasil. Durante a edição do livro,
a ordem de apresentação respeitou os critérios de data de criação da entidade e
a proximidade por área de atividade, particularmente no caso do Cinema e do
Jornalismo2.
2 Até a data desta publicação a Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), filiada à Socicom, não
havia entregue o seu texto institucional.
18
A Emergência do Campo da Comunicação no Brasil
O século XXI tem sido marcado pela convergência e pelo interesse de entendimento
do lugar ocupado pela Comunicação. Caminhando entre status de ciência ou
como um campo de interseção de vários saberes, o mote da comunicação social
tem dividido opiniões. Marialva Barbosa (2000, p. 1-4), por exemplo, afirma
que um campo se consolida a partir de dois aspectos “1. A trajetória histórica
da constituição do próprio campo e 2. as lutas e embates claros ou sub-reptícios
travados ao longo deste percurso”. Mas essa compreensão perpassa os múltiplos
saberes. Para alcançar a estabilização, é necessário trabalhar a idéia de ordem,
no sentido de cooperação e inter-relação entre os vários conhecimentos. É uma
espécie de diálogo, de abandono do ponto de vista particular de cada disciplina
“para produzir um saber autônomo que resulte em novos objetos e novos
métodos”, desenvolvendo a integração entre as várias produções e seus processos.
Barbosa (2000, p. 5), discutindo os dois aspectos descritos, assegura que,
no contexto latino-americano, têm-se produzido gerações de pesquisadores em
comunicação preocupados com problemas reais. Ou seja, a aparente neutralidade
acadêmico-científica fica muito distante da realidade de alguns países quando são
tratados temas em que o investigador é o sujeito social e histórico.
As pesquisas em nossa região têm passado por diversos períodos que, além
de singulares, revelaram particularidades históricas, inseridas quase sempre em
movimentos políticos, econômicos e sociais. Essa trajetória tem sido carregada de
vieses que assimila o passado e busca reconstruir a própria identidade, em uma
luta de possibilidades de recuperação da identidade nacional.
Lozano Redón (1996) assegura que uma das maiores dificuldades enfrentadas
por pesquisadores da comunicação é constatar se as abordagens de seus estudos
podem ser tratadas sob a perspectiva de ciência ou de um conjunto de diferentes
ciências.
A grande questão caminha no sentido de desvendar se a comunicação tem
um objeto próprio ou, como pergunta Redón, trata-se de um fenômeno das
1. Pós-Doutora pelo Programa de Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo. Bol-
sista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Coordenadora da pesquisa sobre o Panorama da Co-
municação no Brasil, cuja meta era diagnosticar a produção de conhecimento nos principais segmentos da co-
municação nacionalmente institucionalizados. Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Televisão
Digital e professora do Programa em Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Professora
da Universidade de Sorocaba (UNISO). Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Pensamento Comunicacional
Latino-Americano” do CNPq. Diretora de documentação da INTERCOM. Coordenadora do GT Mídia, Cul-
turas e Tecnologias Digitais na América Latina da mesma Instituição. E-mail: mcgobbi@terra.com.br.
19
ciências sociais2.
Um campo científico pode ser definido como um conjunto de métodos,
estratégias e objetos legítimos de discussão (BOURDIEU, 1983, p. 84). Sendo
assim, em cada um desses elementos são diversos os procedimentos capazes de
contribuir para sua fragmentação ou sua consolidação.
Muitos são os estudos dedicados ao entendimento sobre as fronteiras do
campo e sua efetiva consolidação enquanto ciência. Também, nas especialidades
das Ciências Sociais que têm tornado possível descrever o desenvolvimento
real das pesquisas nesta área. A partir de 1950, as metodologias examinadas
apresentavam hipóteses sobre efeitos massivos e direitos da mídia em opiniões a
serem medidas. Posteriormente, houve a explosão da teoria cultural, dos estudos
quantitativos de recepção, das pesquisas sobre audiência e as investigações sobre
mídia e Comunicação, criando uma variedade de subespecialidades humanísticas
e científico-sociais. Todos esses trabalhos mostraram que a divisa do campo “são
suas fronteiras com outros campos e instituições, e que estão prontas para serem
movidas” (JENSEN, 2001, p. 69).
Por outro lado Newcomb (2001, p. 73) garante que, identificar trabalhos
inovadores e de peso que direcionem ou redirecionem a pesquisa e o conhecimento
nos estudos de comunicação, é muito mais difícil que em outras áreas. Para
ele, a comunicação não é uma disciplina. Se encarado como um “campo de
conhecimento”, é concebido sob dois aspectos. O primeiro, de uso mais comum,
“é o senso convencional de uma área de estudo”. O outro é usado para descrever
as “tentativas de fazer nosso caminho através de suas principais extensões” (2001,
p. 75).
Os caminhos são renovados constantemente. O Brasil atravessa um grande
momento de revitalização dos estudos comunicacionais. As tecnologias da
comunicação, mensagens, seus significados e discussões, bem como toda a busca
para delinear uma nova abertura renovaram vitalmente o “terreno intelectual
em que muitos de nós trabalhamos”, constituindo-se desta forma em uma nova
opção de estudos (NEWCOMB, 2001, p. 75-77).
Por outro lado, Miquel de Moragas SPA (1981, p. 12-28) afirma que os
estudos de comunicação não proporcionam uma reflexão sobre os problemas
epistemológicos da área. Para ele, a pesquisa em comunicação não pode ser
tratada de forma separada da evolução das ciências sociais em geral (Sociologia,
Psicologia, Economia Política, Antropologia Social etc). Mais que uma ciência,
2.“Podemos afirmar que existem duas correntes neste sentido. A primeira afirma que a comunicação é factível
e desejável. Esses pesquisadores estão ancorados em correntes positivistas, oriundas principalmente dos Estados
Unidos. Outros, com enfoques mais críticos, fruto de correntes européias, afirmam ser a comunicação um pro-
cesso tão amplo e complexo que requer uma abordagem interdisciplinar, tratando-se, portanto, de um processo
social”. (LOZANO REDÓN, 1996, p. 21). Tradução da autora.
20
a Comunicação é um processo que aparece “tanto nos níveis cognoscitivos
do indivíduo como em sua ação social”. Em suma, para Moragas, os estudos
comunicativos são uma reunião de distintas disciplinas já existentes, chamada
por ele de pluridisciplinariedade3. Neste sentido, as várias ciências se acercam
do campo comunicativo, cada uma delas dentro de sua própria perspectiva,
assegurando desta forma um objeto de estudos comum.
Para Moragas SPA (1981), a meta seria conseguir a interdisciplinaridade4
nos estudos da Comunicação. Somente assim seria possível intercambiar
métodos, pontos de vista e, como resultado, obter análises conjuntas nas várias
dimensões dos processos da comunicação. Porém, Lozano Redón (1996, p. 24-
25), argumenta que as pesquisas atuais buscam a compreensão da participação
dos mass media no contexto social, analisando o processo comunicativo e suas
relações com outras organizações e instituições sociais de forma integrada5
e visualizando os meios massivos como “organizações dedicadas à produção e
distribuição de significados sociais”.
Toda essa confluência de elementos presentes nos estudos dos fenômenos
da Comunicação de massa tem propiciado a proliferação de numerosos enfoques.
Esse olhar tem permitido a busca pela compreensão dos processos comunicativos,
confrontando postulados teóricos e práticos, em técnicas de pesquisa quanti
e qualitativas, buscando detectar em estudos quantificáveis tendências
comportamentais, atitudes pessoais e o aprofundamento, em casos específicos,
nos níveis conotativos e latentes das mensagens, nas investigações qualitativas.
Marques de Melo (2001) defende que qualquer campo do conhecimento
humano surge como conseqüência das demandas coletivas. Tem sua origem na
base da sociedade, desenvolvendo-se no “interior das organizações profissionais,
culminando com a sua legitimação cognitiva por parte da academia” (p. 93). Para
ele o estoque de saber acumulado provém de duas fontes. Da práxis, que tem
como meta o desenvolvimento de modelos produtivos e da teoria, que trata do
3. Cabe aqui trazer à tona a forma como Edgar Morin (s/d) define o conceito de disciplina. Para ele, trata-se
de uma categoria que agrupa um conjunto de saberes científicos, mas que organiza o conhecimento científico,
instituindo a divisão e a especialização do trabalho, englobando a diversidade dos saberes das ciências. Marialva
Barbosa (2000), citando alguns conceitos de Morin, afirma que, apesar de agrupar um conjunto científico,
uma disciplina tende naturalmente à autonomia pela delimitação de suas fronteiras, pela linguagem na qual
se constitui, pelas técnicas elaboradas no seu interior ou utilizadas por ela e pelas teorias que lhe são próprias.
4.O termo interdisciplinar de acordo com as definições do Dicionário Aurélio (1999) significa “comum a duas
ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento”. Alguns pesquisadores empregam o termo no sentido de rep-
resentar o “concurso de várias disciplinas científicas que se debruçam sobre uma matéria comum e empírica;
e de outra parte, o termo refere à constituição de uma disciplina com objeto de estudo singular a partir das
contribuições de várias outras disciplinas” (MARTINHO, 2000, p. 4-5).
5. Na verdade, para Lozano Redón, o enfoque crítico busca: estudar a comunicação dentro de um amplo
contexto social; questionar o rol de comunicação na desigualdade econômica e no poder político; seus par-
ticipantes não são neutros, como acontecia no enfoque positivista, mas seus pesquisadores se comprometem
com o câmbio social e finalmente, essa corrente questiona a produção comunicativa no reforço da ideologia
dominante (1996, p. 24-25).
21
saber legitimado pela academia, resultado do ensino e da pesquisa universitária.
Assim, ao buscarmos conceituar e entender a emergência do campo acadêmico
da comunicação social no contexto dos estudos latino-americanos e brasileiros
faz-se necessário navegar por teorias consolidadas nas práticas comunicativas.
Desta forma, torna-se possível afirmar que os estudos de Comunicação passaram
a pertencer a um campo6 científico, legitimado e reconhecido pelas Ciências
Sociais, a partir da segunda metade do século XX.
Embora a legitimação do campo tenha se estabelecido a partir da ampliação
dos estudos em jornalismo, principalmente depois da década de 1970, sendo
o sendo a imprensa o primeiro objeto de estudos, no início do século XX, as
pesquisas posteriores passaram a focar o cinema, o rádio e a televisão. Ao se afirmar
que o jornalismo estimulou o desenvolvimento do campo, deve-se considerar a
contribuição das demais disciplinas. Os estudos sob a égide das relações públicas,
da publicidade, do radialismo, da teledifusão e da cinematografia conquistaram
seu espaço, ainda em meados dos anos de 1970 (MARQUES DE MELO, 1998,
p. 97).
Todas essas considerações demonstram que o campo da comunicação social
emerge das ciências aplicadas. Bourdieu (1972, p. 174) afirma que a prática é a
condição necessária, embora relativamente autônoma, para a constituição desses
espaços de reflexão e ação. Sendo produto da relação dialética entre a situação e
o hábito7 , entendido como um sistema de disposições duradouras e transferíveis,
integrados pelas experiências passadas e formando as novas matrizes das apreciações
e ação do novo saber. Assim, a teoria de formação dos campos pode ser encarada
como um processo sociocultural e ideológico, gerador de produtos simbólicos,
que tem o cerne nas relações sociais, formando desta forma uma rede de práticas
comunicativas. “A luta pela autoridade científica é necessariamente uma luta ao
mesmo tempo política e científica; sua única singularidade é que contrapõe entre
si produtores que tendem a não ter outros clientes que não sejam seus mesmos
competidores” (BOURDIEU, 1975, p. 177).
Para o pesquisador Jesús Martín-Barbero (1997, p. 3) vivemos, atualmente,
6. Pierre Bourdieu (1988, p. 22) postula que as sociedades modernas se organizam em campos sociais (econômi-
co, político, cultural, artístico etc) e que funcionam com uma forte interdependência. Podemos afirmar que,
buscando os elos que permitem consolidar o novo espaço, uma “luta” é travada por todos os agentes que o con-
stituem. Dessa forma, esses “lugares” são estruturados, definidos e consolidados através de regras e objetos que
norteiam os seus limites de ação. Cada campo tem seus interesses específicos que são irredutíveis aos objetos e
interesses próprios de outros campos. Essas características somente são percebidas por aqueles que estão dotados
do hábito correspondente ou mesmo da cultura interiorizada pelo indivíduo, quer seja esta de uma época, de
uma classe ou de um grupo, constituindo dessa forma o princípio de sua ação.
7. “El habitus es a la vez un sistema de esquemas de producción de prácticas y un sistema de esquemas de per-
cepción y de apreciación de las prácticas y, en los dos casos, sus operaciones expresan la posición social en la cual
se ha construido. En consecuencia, el habitus produce prácticas y representaciones que están disponibles para
la clasificación, que están objetivamente diferenciadas; pero que no son inmediatamente percibidas como tales
más que por los agentes que poseen el código, los esquemas clasificatorios necesarios para comprender su sentido
social” (BOURDIEU, 1988, p. 134).
22
a idade da Comunicação. Inserida em um terreno fronteiriço entre a organização
e a operação; entre a compreensão dos fenômenos e o domínio dos aparatos
comunicacionais, ela
(...) mas que como un nuevo campo de especialización, la comunicación
adquirí estatuto científico en cuanto espacio interdisciplinario, desde
el que se hacen pensables las relaciones entre fenómenos naturales y
artificiales, entre las máquinas, los animales y los hombres. Wiener ve en
la comunicación una “nueva lengua del universo”, similar a la mathesis
universales de Galileo, de ahí que más que una nueva ciencia lo que
propone es una nueva manera de hacer ciencia, más que un sustantivo un
adverbio: pensar comunicativamente los fenómenos.
Desde os anos 1980 do século XX há uma completa inversão do sentido das
técnicas que, de meros instrumentos, passaram a designar a substância, o motor da
sociedade de informação. “Confundida com inovações tecnológicas (informática,
satélites, fibra ótica, TICs) a comunicação se converteu em um espaço de ponta
da modernização industrial, gerencial, estatal, educativa e na única instância
dinâmica da sociedade”. Desta forma, as relações entre comunicação e sociedade,
poder e igualdade social passam a receber sua legitimação teórica e política através
do chamado discurso da racionalidade tecnológica, inspirando dessa forma o que
chamamos, na atualidade, de Sociedade de Informação. Para o pesquisador “não
somente a modernização é identificada como o desenvolvimento das tecnologias
da informação, também a reformulação da vigência da modernidade e o
pensamento da pós-modernidade na comunicação ocupam um lugar estratégico”
(MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 11-15).
A pesquisa comunicacional na América Latina se legitimou como espaço
científico somente nos últimos 50 anos. Para Marques de Melo (1998) esse saber
autêntico, estocado ao longo do tempo, além de permitir o desenvolvimento em
vários âmbitos, possibilitou também múltiplas alternativas metodológicas.
Para Fuentes Navarro (1998) a multiplicação das publicações acadêmicas; a
participação de pesquisadores nos cenários (eventos) internacionais; o crescente
contato com outros investigadores em ciências sociais; o desenvolvimento de
programas de pós-graduação preocupados com a pesquisa em comunicação;
a formação de investigadores mais jovens; assim como a forte presença de
professores-pesquisadores nesses programas, mostram indícios claros e precisos
de que a configuração do campo se descortina como uma possibilidade
real, estabelecendo-se em uma especialidade, cuja institucionalização e
profissionalização avançam em termos de legitimação acadêmica, tanto científica
como social. Nesta re-configuração do campo da Comunicação há uma
relevância cada vez mais reconhecida de seu objeto genérico de estudos, ou seja,
a Comunicação na constituição do mundo contemporâneo. Essas condições,
juntamente com a utopia das discussões da Comunicação como transformadora
23
da sociedade, fizeram com que existisse “internamente” no campo um “núcleo
básico”, compartilhado pelos pesquisadores que o constituem. Dessa forma, fez
de seu “exterior”, a chave de sua aspiração como diferença legitima no campo
intelectual. (FUENTES NAVARRO, 1998, p. 54-55)
A Comunicação, enquanto objeto de estudo, despertou o interesse de
inúmeras disciplinas científicas. Mas enquanto campo acadêmico, sua identidade
tem se caracterizado pelo delineamento de fronteiras estabelecidas em função dos
suportes tecnológicos (mídia) que asseguram a difusão dos bens simbólicos e do
universo populacional a que se destinam (comunidades / coletividades). Assim, o
campo é delimitado por duas variáveis. São elas: a indústria midiática, tratando-se
neste caso de organizações manufatureiras ou distribuidoras culturais e as empresas
terciárias, dedicadas ao planejamento, produção e avaliação de mensagens, dados
e informações a serem difundidos pela mídia ou a ela concernentes. Além disso,
é um campo interdisciplinar, uma vez que seus objetos específicos são produtos
cujo conteúdo está presente nas demais disciplinas que constituem o universo
científico. (MARQUES DE MELO, 1998, p. 40).
No Brasil, a constituição da comunidade brasileira no campo das Ciências
da Comunicação, relatado nos estudos de Marques de Melo, apareceu após a
criação dos pioneiros cursos superiores de Jornalismo e dos institutos de pesquisa
de audiência da mídia, em meados dos anos 50. Mas se consolidou somente
na década de 1960, com o surgimento de novos segmentos sociais (cinema,
editoração, relações públicas, rádio-teledifusão, lazer, divulgação científica,
extensão rural), ocasionando uma mudança nos espaços de geração desses novos
conhecimentos. Dessa maneira, os estudos partiram da prática para a teoria,
gerada nas emergentes escolas de comunicação, através das pesquisas.
Marques de Melo (1998) definiu quatro fases que organizam a história
das Ciências da Comunicação na América Latina. A primeira, chamada de
desbravamento, entre os anos de 1873 a 1940, compreendeu o período em
que a imprensa tornou-se objeto de pesquisa e encerrou-se quando o ensino de
Comunicação encontrou no Jornalismo seu foco de estudos. Em outras palavras,
as pesquisas partiram do reconhecimento dos objetos peculiares ao campo. A
segunda fase, dos pioneiros, entre os anos de 1940-1950, encontrou nos estudos
do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, sobre a liberdade de imprensa, seu
referencial. Foi o início do empirismo. É possível observar nesta publicação a
mudança dos escritos como tratados jurídicos, ou textos históricos, e verifica-se a
clareza e a objetividade do trabalho, construindo “uma espécie de manual para o
fortalecimento da cidadania”. O fortalecimento, entre os 1947-1963, encontrou
na universidade o cenário ideal para seu desenvolvimento. Esse fortalecimento do
campo pode ser traduzido pela ampliação da rede institucional dedicada ao ensino
da comunicação. Os estudos empíricos baseavam-se nas demandas profissionais
24
geradas pela academia. Porém a consolidação ocorreu com o surgimento do
Centro Internacional de Estudos Superiores (Ciespal), em Quito, no Equador,
em 1960 e com o desenvolvimento da indústria cultural no Brasil, entre os anos
de 1964 a 1970. (MARQUES DE MELO, 1998, p. 98-143).
A década de 1970 foi marcada pela crítica ao conhecimento existente.
Abalizou este período o grupo dos inovadores, terceira fase, que definiu com maior
nitidez a natureza do campo comunicacional latino-americano. E finalmente, a
quarta fase, na década de 19808 foi constituída por reavaliações e contribuições de
um grupo chamado de renovadores e marcada pelos “avanços empíricos e reflexivos,
referenciados nas matrizes esboçadas pelos cientistas que os precederam”. Esse
período encerra-se com a realização do I Congresso Latino-Americano de
Ciências da Comunicação, em São Paulo, Brasil, no ano de 1992 (MARQUES
DE MELO, 2001, p. 99).
Com esse panorama, o interesse pelas pesquisas dos fenômenos da
comunicação ganhou espaço tanto nas universidades como nas empresas. Ambas
buscavam nas evidências empíricas, consolidadas pela cientificidade das escolas,
qualificarem profissionais, de forma a orientá-los nos novos caminhos das
“engrenagens midiáticas”. Desta forma, o desenvolvimento da pesquisa, marcado
até então pela atuação coletiva, deu lugar a uma comunidade científica, composta
por jovens pesquisadores, atuando “organicamente, porém de forma sintonizada
com as demandas locais e nacionais” (MARQUES DE MELO, 2001, p. 98-
100).
Um dos grandes dilemas da comunidade acadêmica, formada por
pesquisadores, analistas de discurso e estudiosos das mediações9 culturais, na
atualidade, é buscar as singularidades de sua identidade. Porém, o processo de
legitimação e de identidade acadêmica deste campo está diretamente relacionado
com a formação de profissionais competentes para a prática científica. Além,
é claro, da efetiva participação desses atores sociais nos cenários acadêmicos,
buscando equilíbrio entre a teoria e a prática profissional. Essa assimilação de
conteúdos tem permitido o aprendizado das metodologias indispensáveis à
8. Marques de Melo afirma que a consolidação de uma Escola de Pensamento Comunicacional na América Lati-
na foi o maior ganho desta época. Suas palavras são referendadas por Jesús Martín-Barbero que garante que “En
los años 80 empezamos no sólo a asumir el pensamiento propio en el campo de comunicación – que América
Latina tenía desde mucho antes -, sino que empezamos a valorarnos, a valorar nuevos puntos de partida desde
los cuales miramos sin despreciar para nada lo que se estaba haciendo en el resto del mundo, pero poniéndolo
en nuestra coordenadas históricas, culturales y políticas. El mayor logro de los 80 fue la configuración de lo que
ha denominado Marques de Melo la Escuela Latinoamericana de Pensamiento en Comunicación” (2001, p. 99).
9. Manuel Martín Serrano define las mediaciones como sistemas “institucionalizados para redução das dis-
sonâncias, que, cognitivamente, operam como modelos de ordem aplicados a qualquer conjunto de coisas
pertencentes a planos heterogêneos da realidade” (1977, p. 49). (Tradução da autora). Para completar, Martín
Serrano afirmou (1988, p. 1361) controlar a forma de mediar é aplicar ao conteúdo da realidade o modelo
de ordem e o tipo de significações que posteriormente serão utilizados pelo destinatário da informação para
compreender o presente, prever o futuro e, portanto, para atuar (Tradução da autora).
25
produção e à difusão científica.
A compreensão das teorias relativas aos efeitos sociais e culturais da mídia e
de seus sistemas de produção tem delineado o perfil profissionalizante dos cursos
de comunicação. Os resultados podem ser visualizados através dos estágios,
intercâmbios e financiamento das pesquisas. Essa interação entre a práxis e a
teoria tem permitido a difusão e a consolidação do campo da comunicação social,
não só no Brasil, como também no exterior.
Como desafio para as novas gerações está a busca e a consolidação de
modelos teórico-metodológicos universais, capazes de darem conta do campo e
de seus objetos de estudo, sem, contudo, abandonar a identidade cultural e a
autonomia científica. Essas novas matrizes não devem ter a pretensão de criar
uma ciência universal, mas de permitir o estudo de uma realidade comunicacional
multifacetada e complexa, sem o reducionismo à dimensão meramente
instrumental. Barbosa (2000, p. 9) garante que a partir do ano 2000 o mote é o
avanço no sentido de sedimentarmos teorias existentes, “através de uma atitude
reflexiva, propondo uma análise que visualiza não apenas novos saberes, mas,
sobretudo novos olhares. Só assim se constrói um campo de pesquisa maduro e
reconhecido como produtor de conhecimento válido”.
26
Economia Política da Ulepicc: União Latina de Economia Política da Informação,
Comunicação da Comunicação e da Cultura, fundada em 2004, congrega
pesquisadores e profissionais atuantes na Economia Política da
Comunicação, da Informação e da Cultura
Folkcomunicação Rede Folkcom: Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação,
fundada em 2003, congrega estudiosos em torno da temática da
comunicação popular.
História da Mídia Rede Alcar: Associação Brasileira de Pesquisadores de História da
Mídia, fundada em 2001, congrega estudiosos da história da mídia.
Jornalismo SBPJor: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo,
fundada em 2003, congrega aproximadamente 300 associados.
FNPJ: Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, fundado em
2004, congrega professores dos cursos de jornalismo de todo o país.
Semiótica ABES: Associação Brasileira de Semiótica, fundada em 1972,
congrega estudiosos dessa temática.
Fonte: Maria Cristina Gobbi.
27
28
CAPÍTULO 1
Conjunturas prévias
Em uma perspectiva mais ampliada, podemos considerar a fundação da
Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação
como o desdobramento de dois processos históricos simultâneos no campo
da comunicação, sendo um no circuito ibero-americano e o outro em âmbito
1 Membro da primeira diretoria da Socicom - Biênio 2008/2010, na função de vice-presidente.
29
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação
nacional.
Internamente, o expressivo crescimento da área de Comunicação no país
nas últimas décadas, evidenciado pela contínua expansão dos cursos de graduação
e pós-graduação, contabilizando em 2008, ano de fundação da Socicom, cerca de
200 mil alunos, distribuídos em mais de 700 cursos de graduação e no caso da
pós-graduação strictu sensu, 35 programas de mestrado e doutorado credenciados
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES).
Concomitantemente, o surgimento e a atuação das associações científicas e
acadêmicas desde o começo dos anos 70 do século passado contribuiu para a
consolidação das ciências da comunicação como área científica. Neste contexto
foram criadas as condições para a fundação de uma federação com o propósito
de organizar o debate sobre o desenvolvimento científico e tecnológico da
Comunicação, focalizando os problemas comuns, ampliando o conhecimento
mútuo e a cooperação entre as diversas entidades da área.
Já no contexto internacional, a fundação da Socicom se apresentou com
a perspectiva de integrar o Brasil ao movimento de criação da Confederação
Ibero-Americana das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação
(Confibercom), entidade fundada para desenvolver ações estratégicas capazes
de promover o reconhecimento e a valorização da produção científica ibero-
americana perante a comunidade mundial, conforme os termos do “Protocolo
de Guadalajara”. Firmado, em 23 de novembro de 2007, por 10 entidades
representativas do campo comunicacional ibero-americano, reunidas no México,
durante o X Ibercom – Encontro Ibero-americano de Comunicação - o “Protocolo
de Guadalajara” respaldou a criação de uma confederação ibero-americana que
reunisse as associações nacionais de Comunicação. A fundação da confederação
ibero-americana foi formalizada em abril de 2009 com a adesão de 12 entidades,
sendo oito nacionais Socicom (Brasil), AMIC (México), Fadecos (Argentina),
ABOIC (Bolívia), Invecom (Venezuela), APEIC (Peru), SOPCOM (Portugal),
AE-IC (Espanha)) e quatro mega-regionais (ALAIC, Felafacs, Assibercom e
Lusocom).
A articulação entre esses dois processos nas esferas nacional e internacional,
que culminaram com a fundação da Socicom, coube a José Marques de Melo,
agente aglutinador nos fóruns de debates e nas iniciativas voltadas a organizar as
representações institucionais. A Socicom foi criada, como se pode observar, para
fomentar iniciativas de estímulo à cooperação entre instituições congêneres e de
áreas conexas, no país e no exterior.
Fundação
O primeiro passo para a constituição da federação foi a realização do Fórum das
Sociedades Científicas de Comunicação (I Socicom), ocorrido entre 31 de agosto
30
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação
32
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação
33
34
CAPÍTULO 2
Antonio Hohlfeldt1
Introdução
Pode-se pensar uma periodização da pesquisa brasileira em Comunicação a partir
de diferentes paradigmas. José Marques de Melo, por exemplo, propõe uma
periodização em torno das pesquisadas realizadas a cada momento. Assim, ele
identifica seis diferentes momentos 2 3:
a)Estudos históricos e jurídicos – se levarmos em conta que o início da
imprensa brasileira se dá a partir de 1808, com a transferência da Família
Real portuguesa para a então colônia brasileira, e que não temos nenhuma
outra atividade comunicacional, como a classificamos hoje em dia, antes deste
momento, podemos marcar, de fato, o século XIX como o início dos estudos
sobre Comunicação no país, caracterizado aquele primeiro período por pesquisas
com perspectiva histórica ou teor jurídico, o que se vai estender pelo menos até
os anos 1930 (com o movimento revolucionário daquele ano). Tivemos, assim,
estudos memorialísticos ou que enfocavam personalidades destacadas do nascente
jornalismo brasileiro, assim como estudos vinculados a discussões jurídicas, como
o exame das legislações que regravam a imprensa nacional. Tais estudos foram
desenvolvidos especialmente por instituições como os Institutos Históricos e
Geográficos, as Ordens de Advogados do Brasil e as Associações de Imprensa que
começaram a se constituir;
b) Pesquisa mercadológica – entre os anos 1930 e 1950, a chegada das
primeiras empresas multinacionais e, conseqüentemente, a constituição de seus
departamentos de publicidade, a que se seguiu o desenvolvimento do rádio,
sobretudo quando ele assume uma característica mais comercial, segundo o
modelo norte-americano, com programas a serem patrocinados e batizados por
produtos industrializados no país, permitiu as primeiras pesquisas de opinião
pública e estudos comportamentais, assim como as pioneiras campanhas
publicitárias, quer nos jornais e revistas então em circulação, como nas emissoras
1 Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); pesquisador do
CNPq; Professor do PPG-COM da PUCRS; membro do Conselho Consultivo da – Sociedade Brasileira de
Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor). Autor, dentre outros, de “Teorias da Comunicação - Conceitos, escolas
e tendências” e “Última Hora – Populismo nacionalista nas páginas de um jornal”.
2 MELO, José Marques de – “A pesquisa da comunicação na transição política brasileira” in MELO, José
Marques (Org.) – Comunicação e transição democrática, Porto Alegre, Mercado Aberto. 1995, p. 264 e ss.
3 MELO, José Marques – “Panorama brasileiro da pesquisa em comunicação” in BARBOSA, Marialva (Org.)
– Vanguarda do pensamento comunicacional brasileiro: As contribuições da Intercom (1977-2007) , São Paulo,
INTERCOM. 2007, p. 25 e ss.
35
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
36
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
37
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
7 KUNSCH, Margarida M., Krohling – “Perspectivas e desafios para as profissões de comunicação no terceiro
milênio” in KUNSCH, Margarida M. Krohling (Org.) – Ensino de comunicação: Qualidade na formação
acadêmico-profissional, São Paulo, INTERCOM-ECA/USP-ARCO. 2007, p. 88.
38
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
Evolução histórica
É possível retornar um pouco ao passado e buscar sinalizar a evolução sofrida
tanto pelas tecnologias quanto pelo estudo e o surgimento das diferentes mídias
no país, até o momento presente. Foi com a imprensa que começou a experiência
brasileira no campo da comunicação, e com a imprensa permaneceria ao longo de
quase dois séculos nossa prática comunicacional.
Em sentido lato, pode-se considerar que o primeiro documento de caráter
jornalístico, produzido em terras brasileiras, foi o relato de Pero Vaz e Caminha ao
rei Dom Manuel, a respeito da descoberta de Pedro Álvares Cabral8. Em sentido
estrito, o jornalismo, segundo aquele conceito referido por José Marques de
Melo, enquanto atividade de comunicação coletiva9 ou, ainda, qualquer atividade
humana da qual resulte a transmissão de uma notícia ou informação de atualidade,
surgiria apenas após a chegada do rei Dom João VI ao Brasil, com a criação de
um arremedo de jornal10, a Gazeta do Rio de Janeiro, dirigido por Frei Tibúrcio
José da Rocha, a partir de 10 de setembro de 1808. Era nossa primeira aventura
com a imprensa, que coincidiria com outra iniciativa significativa, a de Hipólito
José da Costa e seu Correio Braziliense, editado a partir de junho de 1808, mas
que só chegaria à colônia brasileira, de fato, para ser lido pela Corte e por outros
interessados, provavelmente a partir de outubro daquele mesmo ano.
Os primeiros estudos formais sobre Comunicação se iniciaram em torno do
Jornalismo impresso, ainda no distante ano de 1859, com Fernandes Pinheiro11
, a que se seguiriam outras pesquisas, já em 188312. Anos mais tarde, outros
estudos de Vale Cabral (1881) e Pereira da Costa (1891) se seguiriam, até um dos
projetos pioneiros de pesquisa em torno da imprensa que se deveu ao historiador
Alfredo de Carvalho quem, em 29 de julho de 1907 propôs – e foi aceito – que o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a propósito do centenário da
criação da imprensa brasileira, que ocorreria no ano seguinte, desenvolvesse um
projeto coletivo de pesquisas em torno desse tema. O Secretário Geral Perpétuo
8 GUIRADO, Maria Cecília – Relatos do descobrimento do Brasil – As primeiras reportagens, Lisboa, Piaget.
2001
9 MELO, José Marques de – Teoria da comunicação: Paradigmas latino-americanos, Petrópolis, Vozes. 1998,
p. 72.
10 SODRÉ, Nelson Werneck – História da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Graal. 1977, p. 23.
11 MELO, José Marques de – A esfinge midiática, São Paulo, Paulus.2004, p. 61.
12 MELO, José Marques de – Teoria da comunicação: Paradigmas latino-americanos, op. cit., p. 172, e MELO,
José Marques de - A esfinge midiática, São Paulo, Paulus.2004, p. 61, onde identifica José Higino Duarte Pereira
como o pesquisador referido.
39
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
Cursos de Comunicação
A história dos cursos de Comunicação sempre esteve marcada por uma crise
permanente, traduzida na reformulação constante dos currículos a serem
cumpridos pelas faculdades. Em uma perspectiva bastante crítica, Eduardo
Meditsch mostra que, desde a primeira proposta de criação de um curso de
Jornalismo no Brasil, até as atuais escolas de Comunicação, com suas habilitações,
a elaboração dos currículos enfrenta o dilema entre orientar os cursos no sentido
13 O material encontra-se guardado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e microfilmado, podendo ser
consultado a partir de BERTOLETTI, Esther – Periódicos brasileiros em microforma. Catálogo coletivo. 1981.
A INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação homenageia o pioneiro
com o nome de REDE ALCAR – relativo a Alfredo de Carvalho – o conjunto de pesquisas que se desenvolve
atualmente, em nível nacional, sobre a história da imprensa brasileira, preparando o seu segundo centenário,
que ocorre em 2008.
14 BARBOSA, Rui – A imprensa e o dever da verdade, São Paulo, EDUSP/COM-ARTE, 1990. A conferência
seria pronunciada no dia 15 de janeiro de 1920, quando de visita do autor ao Abrigo dos Filhos do Povo. Rui
Barbosa, doente,não pode comparecer à cerimônia, mas o texto foi lido por João Mangabeira. O autor entregou
os originais para que fossem editados em benefício da entidade. Hoje em dia, pode-se ler, ainda, sobre a imp-
rensa, os textos integrados aos volumes 25 (1898), 26 (1899) e 27 (1900), das Obras completas, publicadas pelo
Ministério de Educação e Cultura, através da Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro.
15 JOBIM, Danton – Espírito do jornalismo, São Paulo, EDUSP-COMARTE. 1992; LACERDA, Carlos – A
missão da imprensa, São Paulo, EDUDSP/COMARTE.1990; LIMA SOBRINHO, Barbosa – O problema da
imprensa, São Paulo, EDUSP/COMARTE. 1997.
16 MELO FRANCO, Afonso Arinos de – Pela liberdade de imprensa, Rio de Janeiro, José Olympio. 1957.
17 Ver, a propósito, MELO, José Marques – vestígios da travessia. Da imprensa á internet. 50 anos de jornal-
ismo, São Paulo, Paulus. 2009, em que o autor revisa criticamente sua trajetória de vida e acadêmica.
40
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
41
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
42
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
pesquisa científica;
c) de 1969 aos nossos dias, após a regulamentação da profissão de Jornalista,
que torna a profissão privativa de quem detenha o diploma. É nesta etapa que as
antigas escolas e cursos se transformam em Faculdades e quando o Jornalismo é
genericamente englobado na Comunicação Social, com raras exceções25.
Diferentes currículos
O beletrismo marcou o primeiro currículo mínimo oficial, através do parecer do
Conselho Federal de Educação, de n. 323/1962, e também o segundo, através
do parecer n. 984/1965, ainda que já se pudesse divisar o início da passagem
para uma visão técnico-científica, sob a influência norte-americana da reforma
universitária que começava a se implantar no país, através do Acordo MEC/
USAID. O terceiro currículo, instituído pelo parecer n. 631/1969, denominado
por Eduardo Meditsch como fase positivista, introduz o curso de Comunicação
Social e reduz o papel e o significado do Jornalismo, diluído em meio a outras
habilitações e sob uma proposta pseudo-abrangente de preparar um profissional
múltiplo, o que acabou desagradando a todos, empresários da área e profissionais
em geral. Seguiu-se o currículo de 1979, que ele denomina burocrático: elaborado
originalmente pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa de Comunicação
(ABEPEC), foi distorcido e mereceu severas críticas da União Cristã Brasileira de
Comunicação (UCBC). Esse currículo intensificou a tendência à especialização,
e só foi rediscutido em 1984.
Seguiu-se o currículo desenvolvido a partir do parecer nº. 1203/1977, que
propõe aliar a formação teórica ao aspecto prático do ensino e ao fornecimento ao aluno,
do instrumental teórico e técnico de intervenção26. Esse currículo teve modificação
parcial no ano seguinte e foi substituído por um quinto currículo, graças ao
parecer nº. 480/1983, resultado de trabalho de uma comissão de especialistas
criada pelo Ministério de Educação. O principal aspecto deste novo currículo é
a obrigatoriedade quanto a certos quesitos de infra-estrutura que as Faculdades
devem cumprir, visando a melhoria qualitativa da formação profissional.
Segundo esse currículo, a função do Jornalismo está caracterizada pela
produção de informações, notícias, matérias, escritas ou faladas, contendo ou
não comentários, com correção redacional e adequação de linguagem, contando
com serviços técnicos como arquivos, pesquisas de dados, distribuição gráfica de
textos, fotografias, ilustrações, desenhos, sendo elaboradas para quaisquer veículos
25 A exceção mais polêmica e conhecida é a da Universidade Federal de Santa Catarina, que possui um curso
de Graduação em Jornalismo e que, no ano de 2007, acaba de instalar um Mestrado em Jornalismo, em nível
de Pós-Graduação.
26 MOURA, Cláudia Peixoto de – O curso de Comunicação Social no Brasil: Do currículo mínimo às novas
diretrizes curriculares, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2002, p. 88.
43
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
44
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
Publicidade e propaganda
Para muitos, a história da Publicidade e da Propaganda também se inicia em
1808, com o jornal Gazeta do Rio de Janeiro34. Esse periódico teria publicado o
mais antigo anúncio de que se tem notícia no país, a respeito de aluguel e venda
de casas. Ao mesmo tempo, já em sua primeira edição, divulgava publicações que
a Imprensa Régia estava preparando para lançamentos imediatos. Por volta de
1860, com o desenvolvimento urbano, começam a surgir os primeiros painéis
e placas de rua, bulas de remédios e panfletos de propaganda. Em 1875, os
jornais “Mequetrefe” e “O Mosquito” inauguram os reclames ilustrados (p. 133).
O aparecimento das revistas ilustradas, a partir de 1900, facilita a expansão do
anúncio.
A profissionalização do campo da Publicidade se inicia nos anos 1930,
quando já havia meia dúzia de agências no Brasil, dentre elas a Eclética (fundada
em 1914), a Edanee, a Valentin Harris, a Pedro Didier/Antonio Vaudagnoti e a
Pettinatti, todas operando desde antes dos anos 192035. Neusa Demartini Gomes
31 NÓBREGA, Maria Luiza – “INCINFORM – Uma experiência pioneira” in MELO, José Marques de et
GOBBI, Maria Cristina (Org.) – Gênese do pensamento comunicacional latino-americano: O protagonismo
das instituções pioneras, São Bernardo do Campo, UMESP/UNESCO. 2000, p.157 e ss.
32 CARVALHO, Samantha Viana Castelo Branco Rocha – “Luiz Beltrão: Da criação do INCINFORM à
teoria da folkcomunicação” in MELO, José Marques de et GOBBI, Maria Cristina (Org.) – Gênese do pen-
samento comunicacional latino-americano: O protagonismo das instituções pioneiras, São Bernardo do Cam-
po, UMESP/UNESCO. 2000, p.193 e ss.
33 BELTRÃO, Luiz – Folkcomunicação. Um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos
e expressão de idéias, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2001.
34 CARDOZO, Missila Loures; GOBBO, Sonia Maria et ARAÚJO, William Pereira de – “ESPM: A pioneira
escola de propaganda” in MELO, José Marques (Org.) – Pedagogia da comunicação: Matrizes brasileiras, op.
cit., p. 133.
35 GOMES, Neuse Demartini – “A comunicação publicitária no Brasil: Mercado, ensino e pesquisa” in LOPES,
Maria Immacolata Vassallo de; MELO, José Marques de; MOREIRA, Sônia Virgínia et BRAGANÇA, Aníbal
(Org.) – Pensamento organizacional brasileiro, São Paulo, INTERCOM.2005, p. 118 e ss.
45
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação
afirma que a primeira empresa anunciante regular foi a Bayer, com sua aspirina.
Em boa parte, contudo, esses primeiros anúncios vinham prontos dos Estados
Unidos. A chegada, em 1926, da General Motors, fabricante de automóveis,
trouxe consigo um conjunto de profissionais para o seu departamento de
Publicidade, que viriam a formar a Walter Thompson do Brasil, em 1929, à qual
a GM entregou sua conta (p. 118). Em 1930 foi a vez da N. W. Ayer & Son
instalar-se no país, tendo entre seus clientes a General Electric.
Pode-se afirmar que o aprendizado da Publicidade foi prático, do mesmo
modo que o de Jornalismo, porque primeiro aprendia-se a fazer e só muito mais
tarde começaram a surgir as escolas e os regramentos básicos da atividade36,
constituindo o que Neusa Demartini Gomes identifica como modelo americano
e modelo europeu, os quais embaralhamos na prática (p. 157).
46
CAPÍTULO 3
Introdução
Mais antiga sociedade científica em atuação no país no campo da Comunicação,
a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)
surge e progride no quadro de consolidação das ciências da comunicação como
área científica, decorrente também da atuação de outras associações científicas
e acadêmicas fundadas no apagar das luzes dos anos sessenta e limiar dos anos
setenta do século passado.
A primeira entidade aglutinadora de estudiosos da comunicação no Brasil
foi a Associação dos Amigos do Icinform, sigla do Instituto de Ciências da
Informação, criada por Luiz Beltrão, em Brasília, nos idos de 1966-67. Apesar
da existência de núcleos ativos em Brasília, Recife, São Paulo e Porto Alegre,
o agrupamento dissolveu-se na esteira dos acontecimentos que determinaram a
extinção do próprio Icinform2.
Logo em seguida, fundou-se em São Paulo (1969) uma associação voltada
para o estudo da comunicação eclesial. Trata-se da UCBC, sigla da União
Cristã Brasileira de Comunicação Social. Embora persista até os dias de hoje foi
perdendo, no correr do tempo, o caráter inicialmente analítico e reflexivo para se
tornar um núcleo militante de formação e produção.
Na seqüência, surgiu a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Comunicação (ABEPEC), criada em 1972, em São Paulo, cuja plataforma de
atuação foi pouco a pouco sendo implodida pela convivência pouco harmoniosa
entre professores e donos de escolas. Cinco anos depois de fundada, essa
associação perdeu a legitimidade, sendo substituída por duas entidades nacionais:
a Intercom (que subsiste até hoje), reunindo pesquisadores desde 1977, e a
ABECOM, associação de escolas e faculdades, fundada em 1984, mas desativada
paulatinamente. A seguir vieram: COMPÓS, 1992; Socine, 1996; Folkcom,
1998; Forcine, 2000, Rede Alcar, 2001 e SBPJor, 2003. As mais recentes são
a Ulepicc- Brasil 2004; FNPJ, 2005; Abrapcorp, 2006; ABciber, 2006; e
Compolítica, 2006.
47
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
Perfil
Constituída por mais de mil associados de todas as regiões do país ou residentes
no exterior, a Intercom é uma associação científica, interdisciplinar, sem fins
lucrativos, destinada a congregar professores, pesquisadores e profissionais, bem
como a prestar serviços à comunidade. A associação foi fundada em São Paulo,
a 12 de dezembro de 1977 e reconhecida como instituição de utilidade pública
pela Lei Municipal nº 28.135/89. Participa das redes nacionais de sociedades
científicas capitaneada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC) e pela Federação das Sociedades Científicas Nacionais de Comunicação
(Socicom). Está integrada às redes internacionais de Ciências da Comunicação
como entidade representativa da comunidade acadêmica brasileira:
1. Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación
(ALAIC),
2. International Association for Media and Communication Research
(IAMCR),
3. International Federation of Mass Communication Associations (IFCA)
4. Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (LUSOCOM)
Cada sócio da Intercom está nucleado por afinidade temática, num dos
Grupos de Pesquisa (GPs) estruturados sob a forma de redes nacionais que
estudam fenômenos específicos – Gêneros Jornalísticos, Telenovelas, Culturas
urbanas, Conteúdos Digitais, Cibercultura, etc. – ou tratam de áreas do saber
comunicacional - Comunicação Audiovisual, Organizacional, Folkcomunicação,
Jornalismo, Propaganda , Semiótica, Fotografia, Tecnologias, Teorias da
comunicação, entre outras.
Suas atividades anuais mobilizam os associados de todo o país. A principal
é o Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom Brasil),
megaevento pluritemático, freqüentado por toda a comunidade científica da
área. Mas a associação promove também encontros intra-regionais de estudantes
e professores, denominados Congressos Regionais de Ciências da Comunicação,
48
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
49
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
para Doutorandos.
Enquanto associação acadêmica comprometida com os destinos da sociedade
a que pertence e na qual atua responsavelmente, a Intercom tem vivido, nos
últimos anos, um período de transição institucional. Trata-se de processo balizado,
no plano externo, pela débâcle do mundo socialista e a conseqüente ascensão
dos Estados Unidos à condição de potência hegemônica. E, no plano interno,
pelo fortalecimento da democracia e pela alternância do poder republicano.
Esse quadro produziu as condições para a ascensão, pela primeira vez na nossa
História, de um partido político enraizado no mundo do trabalho, tendo que
pactuar com as elites até agora dominantes a posse do poder constitucional, que
lhe fora outorgado pelos cidadãos, através de eleições livres e soberanas.
Unidade na diversidade
O papel vanguardista da Intercom tem se caracterizado também pelas iniciativas
destinadas a romper as muralhas do gueto acadêmico, logrando maior interação
com a sociedade.
O balanço do último quinquênio indica que a associação rapidamente vem
alcançando resultados animadores. Nesse panorama, a dinamização dos Grupos
de Pesquisa, realizada pela atual diretoria, vem neutralizando a tendência inercial
que caracteriza muitos deles, convertidos em espaços receptores e seletores de
papers para exposição e debate durante o congresso anual. Pretende-se converter
os GPs em instâncias indutoras de estudos e pesquisas, criando redes integradas
que atuem coletivamente, no sentido de produzir conhecimento relevante para a
sociedade.
Para tanto, avaliou-se criteriosamente a estrutura do congresso anual,
criando oportunidades destinadas a atrair a participação dos jovens profissionais
que ingressam no mercado de trabalho e sentem necessidade permanente de
reciclar seu referencial cognitivo. Por sua vez, a seleção dos trabalhos inscritos
vem obedecendo a critérios de relevância social, inovação profissional e interesse
público. Boa parte da produção acumulada nas universidades vem sendo
direcionada para os Congressos Regionais, com periodicidade anual.
As parcerias estabelecidas com as Organizações Globo garantiram a presença
de profissionais jovens de todo o país nos seminários temáticos sobre Gestão de
indústrias midiáticas e sobre Indústrias do entretenimento, realizados anualmente,
no Rio de Janeiro.
Com a expectativa de neutralizar a babel terminológica, construindo bússola
taxionômica, a associação mobilizou a comunidade nacional para radiografar os
usos e costumes vigentes no Brasil, produzindo a “Enciclopédia Intercom de
50
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
51
52
CAPÍTULO 4
Introdução
No dia 16 de junho de 2011, a Associação Nacional dos Pós-Graduações em
Comunicação (Compós) completa 20 anos.
Qual o sentido de escrever a história de uma instituição? A memória, a
informação, a compreensão do sucedido, a reafirmação dos movimentos
fundadores, a inscrição de um percurso nos contextos em que a ação se organizou,
o entendimento das energias e as motivações que convergiram para produzir algo
que não existia.
Certamente, por tudo isso se escreve a história. Mas também se escreve
porque a compreensão do presente é iluminada pela percepção do passado, e para
com ela produzir o futuro. Para assegurar que a história não acontece – se faz.
Lembrar a história é lembrar que a cada momento podemos continuar fazendo
história.
Dentre as várias perspectivas viáveis para apreender a história da Compós,
parece-nos que entendê-la como apreensão do presente e reflexão sobre o futuro
seria o movimento mais motivador. Nessa perspectiva de aproximação, buscamos
as lógicas básicas que deram motivação e substância para a fundação ou se
constituíram na processualidade de sua história. A explicitação das dinâmicas que
caracterizam a Compós deve dar sentido à memória da origem, apreender os
encaminhamentos do presente e explicitar os desafios para a continuação.
O contexto da criação
O contexto acadêmico da área, no início dos anos 90, era favorável a iniciativas de
aproximação e intercâmbio. Ocorria então em diversos estados, para além daqueles
em que se concentrava a área, o planejamento de novos programas, decorrente do
desejo de pesquisadores e universidades de participar do ambiente reflexivo então
restrito a poucos programas de Pós-Graduação (PPGs). O programa mais recente
dentre os sete existentes, o da UFBA, tinha chegado ao grupo com uma dinâmica
voltada para o intercâmbio e para o desenvolvimento e consolidação da área de
conhecimento. Os programas estabelecidos também buscavam, em sua maioria,
rever processos e construir novos contatos. A Compós foi resultante direta dessa
1. Professor da Unisinos. Foi Presidente da COMPÓS, gestão 1993-95.
53
A História da Compós – lógicas e desafios
Fundação: Intercâmbio
A Compós foi fundada em dois movimentos, o primeiro levando quase
naturalmente ao segundo. No dia 20 de março de 1991, em Goiânia, representantes
dos sete programas de pós-graduação em Comunicação então existentes decidiram
a criação de um Fórum dos Programas de Pesquisa e Pós-Graduação do Campo
da Comunicação “como instrumento de integração e interação contínua dos
programas de pós-graduação em Comunicação em existência no país” (da Ata de
criação do Fórum). Foi criado um grupo de trabalho para encaminhar propostas
sobre formas para consolidar o processo de integração. Definiu-se imediatamente
uma segunda reunião para os dias 14 a 16 de junho do mesmo ano, em Belo
Horizonte, a ser acolhida pela UFMG.
Embora a data oficial de fundação seja o dia 16 de junho de 1991, com
a criação da nova Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação (que depois recebeu a sigla Compós), a referência a essa preparação
é relevante, pois evidencia, na frase-chave da motivação acima citada, um aspecto
central da dinâmica que a entidade mantém até hoje e lhe garante o perfil de
pluralismo. Tratava-se de assegurar o intercâmbio entre ambientes de produção
de conhecimento da área, como um fórum dos Programas.
O objetivo básico da associação só se realiza como efetiva interação na medida
em que o poder decisório se distribui igualmente entre todos os associados, que
são os programas e não pessoas isoladas. Este fato não só demarca as motivações de
origem, como também as lógicas de seu desenvolvimento. As demais características
e qualidades da entidade decorrem, direta ou indiretamente, dessa dinâmica
inicial, que se mantém na duração, assegurando pluralismo, participação nacional
e presença junto às agências de fomento com representatividade institucional.
Um ano depois, em 1992, era realizado no Rio de Janeiro, na UFRJ, o
primeiro congresso anual da associação. Foi relevante para sua história, pois aí
se definiu o formato para os debates acadêmicos que passariam a caracterizar
os Encontros da Compós: um grupo de pares, pesquisadores, submetendo seus
trabalhos ao debate dos colegas, assegurando uma processualidade agonística
54
A História da Compós – lógicas e desafios
A Diretoria
A estrutura da Compós se organiza com base nos procedimentos articulados
entre a ação deliberativa do Conselho e a ação executiva da Diretoria. Embora
conduza as reuniões do Conselho, não tem direito a voto nas deliberações. Como
a Diretoria é escolhida pelo Conselho, resulta naturalmente da confiança deste.
A Diretoria é condensada e ágil – apenas três participantes (Presidente, Vice-
Presidente, Secretário Geral). Sua articulação tem sido fundamental – as diretorias
se evidenciam produtivas na medida mesmo de uma articulação mais que apenas
formal entre seus componentes. Este é, também, um indicador de pluralidade:
os diversos PPGs têm fornecido nomes para as diretorias. Nas ocasiões em que
a apresentação de duas chapas levou a uma distinção entre eleitos e não eleitos,
tanto a Diretoria como o Conselho absorveram a decisão sem formação de grupos
clivados de modo apriorístico por essa distinção.
Ao lado das funções político-operacionais, uma diversidade de ações se
realiza, por iniciativa própria da Diretoria, por deliberação do Conselho, ou ainda
por proposta de um ou mais PPGs. Para isso, são criados frequentemente grupos
com atribuições específicas, articulados pela direção. A produtividade da entidade
se amplia, com flexibilidade estrutural.
Com base em procedimentos deste tipo foram realizados diversos
Seminários Interprogramas, reunião de pequeno ou médio porte, assumida por
57
A História da Compós – lógicas e desafios
um dos programas associados, para debate de temas de interesse geral da área. Até
o momento foram realizados cinco Seminários Interprogramas.
Para a divulgação de estudos, a Compós publica desde a criação um livro
anual. Inicialmente, este resultava de uma seleção feita pelos próprios GTs, dentre
os artigos debatidos no ano. Desde 2008, um tema geral, acolhido em Conselho,
gera uma chamada de textos específicos para a publicação. O livro é organizado por
uma Comissão Editorial ad-hoc, escolhida anualmente pelo próprio Conselho.
No início dos anos 2000, no ambiente da Compós, debates sobre
procedimentos de avaliação dos periódicos dos PPGs estimularam o intercâmbio
e a busca de padrões de rigor editorial. Mais recentemente, a revista e-Compós,
definida desde sua implantação como publicação na rede informatizada,
tem se demarcado por sua qualidade, sua procura e sua relevância acadêmica,
imediatamente acessível aos pesquisadores.
Finalmente, e com particular relevância, a Diretoria representa a Compós
perante outras instituições. É o instrumento fundamental para o objetivo
estatutário de refletir e agir sobre políticas acadêmicas em que a Diretoria se
desempenha com a autoridade de falar em nome de todos os Programas de Pós-
Graduação da área, com a sustentação da base deliberativa que é o Conselho.
58
A História da Compós – lógicas e desafios
59
A História da Compós – lógicas e desafios
60
A História da Compós – lógicas e desafios
Os desafios do futuro
Os desafios, em sua caracterização geral, continuam inscritos nos objetivos
assumidos desde a fundação da Compós. Entretanto, sua forma, sua processualidade
e as estratégias requeridas para seu enfrentamento são constantemente renovadas.
Tais mudanças decorrem de algumas dinâmicas que se manifestam em diferentes
pontos de incidência. O mais evidente é talvez o da avaliação CAPES, que se põe
crescentemente como um instrumento de política institucional nacional para o
desenvolvimento da pesquisa no país, gerando critérios de qualificação e metas
para ombreamento de nível internacional ascendente. O desafio é inicialmente
dos programas, em seu perfil singular, mas pelo conjunto, se torna um desafio
para a entidade representativa.
O CNPq, na ação correlata dos apoios e requisitos qualificadores da
pesquisa, faz complementar, em todos os objetivos da Compós, o requisito da
articulação de processos entre programas. Outro lugar de ação com incidência
direta sobre os processos da entidade é a dinâmica do próprio campo social da
comunicação, que se reformula não apenas na proliferação de novas tecnologias,
mas também e sobretudo nos processos de interação que acionam essas
tecnologias, na invenção social de usos (positivos ou negativos, democratizantes,
dispersivos ou concentradores) sempre a exigir novos olhares, outras teorizações,
investigação empírica mais sofisticada; e portanto novas problematizações e
melhor intercâmbio entre os pesquisadores e entre os programas.
Finalmente, a própria área de conhecimento e pesquisa, nos PPGs, pela
história mesmo de seus processos (da qual a história da Compós é um componente
intrínseco e dinâmico), redesenha de modo constante sua visada, a partir dos
atingimentos parciais, o que permite então antever outros ângulos antes não
suspeitados, novos desafios dentro dos mesmos objetivos abrangentes.
Um desafio, em especial, que se manifesta com clareza na metade da década
é o avanço decorrente das entidades especializadas conforme temas, problemas,
objetos de investigação e/ou bases teórico-metodológicas. Tal avanço demonstra a
maturidade da área, na busca de interlocuções específicas. Correlatamente, deve-
se buscar articulação e intercâmbios de natureza mais complexa que aqueles do
momento da fundação. A Compós comporta um ângulo de aprofundamento,
nos GTs, pelo encontro de uma diversidade relativa dentro do eixo que caracteriza
cada Grupo. No conjunto, pela circulação entre grupos, pela repercussão de
idéias e descobertas entre GTs, pela diversidade de ângulos e presença, a Compós
assegura o âmbito mais geral da área de conhecimento, na qual todos os PPGs
se reconhecem. É relevante, então, desenvolver articulações entre o campo de
abrangência e os campos especializados. Sem os âmbitos de especialização não é
mais possível constituir subáreas sólidas e bem fundamentadas. Sem o âmbito de
abrangência, os enfoques de especificação arriscariam o isolamento e a tautologia.
61
A História da Compós – lógicas e desafios
A Compós deve ser mais que o “lugar de encontro” da diversidade; deve buscar
interlocuções, transversalidades e fecundação mútua entre subáreas.
Esse desafio se duplica na necessidade, hoje fundamental, da busca de diálogo
entre posições teóricas, adoções metodológicas, objetos preferenciais. Não para
um embate excludente, em que cada posição, se pretendendo universalizante,
busque excluir outras posições; nem para a aceitação indiferente de um relativismo
fácil, mas para o tensionamento entre as vertentes, exigindo o desenvolvimento
rigoroso das mais promissoras de compreensão e conhecimento.
Em um primeiro momento, no contexto das origens da Compós, o
intercâmbio necessário, dada a então escassez de diálogo institucional e o
insuficiente ambiente comum a todos, era quase só o de se pôr em contato, o
de gerar aproximação, o de conhecer o que os demais propunham. Que hoje
a necessidade tenha se tornado mais complexa, menos previsível quanto aos
processos requeridos, parece ser, na verdade, uma demonstração da boa perspectiva
inicial, e do fato que esta fez caminho, produziu resultados e pede novos avanços.
62
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em
Comunicação
Introdução
O sistema de Pós-Graduação organiza-se, no Brasil, nos anos 60. A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 4.024/61, no art. 69, refere-se à Pós-
Graduação com dois níveis, o dos cursos de pós-graduação, “abertos a matrícula
de candidatos que hajam concluído o curso de graduação e obtido o respectivo
diploma”, e o dos cursos de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão. Mas a
regulamentação dos cursos de pós-graduação só viria com o Parecer nº 977/65,
do Conselho Federal de Educação, aprovado em dezembro de 1965, com a Lei nº
5.540/68, a Lei de Reforma Universitária, de 28/11/1968, do Regime Militar, e
com o Parecer nº 77/69, que estabelece as normas de funcionamento dos cursos
de pós-graduação.
Do ponto de vista normativo, o Parecer nº 977/65, do Conselho Federal de
Educação, estabelece as bases do que ainda hoje caracteriza o Sistema Nacional
de Pós-Graduação no Brasil. Ele ratifica a distinção entre a pós-graduação sensu
stricto e as especializações, aperfeiçoamentos e demais, define a natureza da
pós-graduação na sua estrita vinculação com a pesquisa científica e tecnológica
e constrói as diretrizes para a organização dos cursos pós-graduados. Tomando
o sistema estadunidense de estudos pós-graduados como referência, o Parecer
nº 977/65 estabelece a pós-graduação em dois níveis, mestrado e doutorado, e
justifica os motivos que requerem a sistematização da pós-graduação no Brasil:
“1) formar professorado competente que possa atender à expansão quantitativa
do nosso ensino superior garantindo, ao mesmo tempo, a elevação dos atuais
níveis de qualidade; 2) estimular o desenvolvimento da pesquisa científica por
meio da preparação adequada de pesquisadores; 3) assegurar o treinamento eficaz
de técnicos e trabalhadores intelectuais do mais alto padrão para fazer face às
necessidades do desenvolvimento nacional em todos os setores”2.
A visão que se destaca do Parecer nº 977/65 é de que a pós-graduação
stricto sensu realiza os fins essenciais da universidade, que abandona uma
1 Itania Maria Mota Gomes (http://lattes.cnpq.br/1249313747086140), Julio Pinto (http://lattes.cnpq.
br/6119752221984025) e Ana Carolina Escosteguy (http://lattes.cnpq.br/9828116606137239) são, respec-
tivamente, presidente, vice-presidente e secretária geral da COMPÓS, no biênio 2009/2011. Agradecemos o
apoio da secretária –executiva da COMPÓS, Valéria Vilas Bôas, na coleta e organização de dados históricos e
estatísticos que utilizamos aqui.
2 Ver Parecer CFE no 977/65, aprovado em 3 dez. 1965 in Revista Brasileira de Educação, nº30, Set /Out /
Nov /Dez 2005, p.165.
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
3 Ver Parecer CFE no 977/65, aprovado em 3 dez. 1965 in Revista Brasileira de Educação, nº30, Set /Out /
Nov /Dez 2005, p.164
4 Doutores 2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira, Brasília, DF: Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos, 2010, p. 63.
64
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
2% 0%
42% Mestrado
Mestrado/doutorado
Doutorado
56%
65
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
5 Este artigo foi finalizado em setembro de 2010 e, para fins de atribuição dos conceitos dos cursos strito sensu,
toma como referência o Relatório de Divulgação dos Resultados da Avaliação Trienal 2010, publicado pela
Capes em 14 de setembro de 2010. Como o calendário de avaliação prevê um prazo de 30 dias para os pedidos
de reconsideração sobre a Avaliação Trienal, pode haver alguma alteração nos dados até o final de outubro. Para
dados atualizados, após esse período, consultar o site da Capes http://www.capes.gov.br. * O Programa de Pós-
Graduação em Comunicação da Universidade de Marília recebeu conceito 3 na Avaliação Trienal 2007, mas foi
descredenciado pela Capes na divulgação da Avaliação Trienal 2010. Como ainda cabem recursos, adotamos o
procedimento de manter o Mestrado da Unimar no quadro, com o conceito em aberto.
66
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Mestrados e Doutorados, 27, - quase 70% do total - estão nas capitais brasileiras.
Apenas quatro cidades não-capitais possuem doutorados em Comunicação. São
elas: São Bernardo do Campo e Campinas, no Estado de São Paulo, Niterói, no
Rio de Janeiro e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
5,12%
7,60%
Sudeste
12,80% Sul
Nordeste
53,80% Centro-Oeste
20,50% Norte
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Cultura das Mídias Estudo de produtos e de processos culturais em suas relações com as esferas
tecnológicas, sociais, econômicas e históricas. Representações e identidades
na cultura das mídias e seus múltiplos atravessamentos. A comunicação como
prática social; as figurações emergentes na cultura tradicionalmente chamada
"de massa". Mídia e questões de enunciação: narrativa e discurso. Gostos,
repertórios estéticos e cultura midiática: crítica e valor. Cosmopolitismos,
culturas nacionais, culturas locais. Traduções interculturais. Disputas e tensões
nos processos de construção de hegemonia e controle social. Cultura pública
e políticas culturais. Busca de novas metodologias, a partir de perspectivas
teórico-críticas transdicisplinares, em face a contextos comunicacionais
liminares.
Estudos de Televisão O GT Estudos de televisão reunirá pesquisas que tenham por objeto a televisão
e seus produtos, considerados em sua complexidade e especificidade. Reúne
reflexões sobre aspectos econômicos, institucionais e tecnológicos; sobre
os contextos de produção, criação, fruição e recepção; sobre as dimensões
discursivas, informativas, pedagógicas, políticas, culturais e estéticas dos
programas, gêneros e formatos examinados. O GT apresenta-se como fórum
acadêmico de fomento, de convergência e de diálogo crítico de trabalhos de
diferentes vertentes que tratam de questões teóricas que buscam aprimorar os
aparatos metodológicos de análise dos fenômenos televisivos.
78
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Imagem e Imaginários Análises sobre teorias da imagem e/ou do imaginário. Reflexões sobre imagem
Midiáticos e/ou imaginário em seus diversos desdobramentos, seja em peças publicitárias,
em imagem empresarial e mercadológica, em fotografia, e em representações
no cinema, televisão e vídeo. Diálogos entre o imaginário midiático e outros
imaginários da cultura (mítico, tecnológico, artístico, religioso). Considerações
sobre imagens híbridas e/ou imaginários contemporâneos, em suas implicações
sociais, históricas e construturais.
Recepção, Usos e Análise dos processos e estratégias que envolvem a relação da sociedade
Consumo Midiáticos com os meios de comunicação, tendo como objeto de estudos a instância
da recepção e seu trabalho de interpretação, uso e consumo midiáticos. As
referências conceituais e empíricas do trabalho deste GT incluem e enfatizam
as novas “arquiteturas de processos comunicacionais” que reconfiguram a
existência da recepção e os modos de funcionamento de suas práticas. Elegendo
a pesquisa interdisciplinar em diferentes dimensões (teóricas, epistemológicas
e metodológicas), pretende-se estudar as dinâmicas e operações tecno-sócio-
simbólicas que organizam as formas de interação entre produtores e receptores
da comunicação midiática, do ponto de vista dos sujeitos. Ao priorizar tais
angulações, o GT em proposição enfatiza a importância da recepção como
instância produtiva, geradora de novos ‘produtos’, de práticas sócio-simbólicas
e de formas de saber derivadas das estratégias desenvolvidas pelos atores, em
situação de interação com as mídias.
79
80
CAPÍTULO 5
81
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
ascensão. Sem que tenha havido conflitos (mas sim absorção), havia referência,
neste jogo de gerações, um pequeno grupo de pesquisadores de cinema que já
atuava na academia, ainda ligado ao Centro de Pesquisadores e à visão chamada
museológica da pesquisa. A SOCINE, portanto, nasceu apesar do establishment
acadêmico da época, com algumas exceções, como a de Maria Dora Mourão (que
inclusive emprestou a casa para a reunião fundadora).
Mas o que os membros da SOCINE queriam, o que buscavam exatamente?
No que as reuniões de pesquisadores de cinema (e houve diversas nos anos 80)
deixavam aos participantes com uma profunda sensação de insatisfação? Onde
sentia-se que a herança de Paulo Emílio Salles Gomes estava se perdendo,
arriscando a ser dominada por uma pesquisa engessada e burocrática? O ponto
essencial (que hoje pode parecer banal) foi o de não restringir ao cinema brasileiro,
mas incorporar a dimensão internacional da produção cinematográfica, vista
então com reservas. Criados dentro da pesquisa acadêmica e sua metodologia,
os membros da SOCINE queriam um espaço maior para a teoria e uma visão de
estudos de cinema que não estivesse ligada às demandas da crítica jornalística e às
necessidades de produção de cineastas.
Buscava-se abrir a janela para o mundo e poder explorar as camadas mais
profundas do pensamento sobre cinema, sem ter a sensação de ser “bichos” de
outro planeta. A questão do cinema experimental e do vídeo (suporte tecnológico
de vanguarda na época) também estava no horizonte e respondia às necessidades
de diversos colegas. O fato é que a metodologia de pesquisa e a demanda de
publicações não era mais a dos pesquisadores críticos de cinema da primeira
metade do século XX.
Ao abrir a porta para a demanda reprimida, imediatamente impressionou
o volume da produção. Desde o primeiro momento a SOCINE deslanchou,
firmando rapidamente seu crescimento. Apesar das disputas, naturais em toda
sociedade científica, a instituição conseguiu, através dos anos, manter sua
unidade, tornando-se legítima representante da pesquisa em cinema no Brasil.
Quem, do outro lado do espelho, vê o produto pronto, não pode imaginar as
dúvidas, os receios e dificuldades que envolveram sua criação.
O modelo inicial para montar a SOCINE foi o da a Society for Cinema
Studies, entidade norte-americana da qual alguns de seus integrantes já tinha
participado. O primeiro estatuto da SOCINE inspirou-se diretamente do
estatuto norte-americano, buscando incorporar seu espírito desburocratizado.
Com o passar dos anos foi difícil manter este espírito, mas o objetivo inicial era
claro: uma sociedade de pares, pesquisadores, reunindo-se periodicamente para
trocar informações e buscar inspiração no contato humano. Este foi o espírito
detonador da SOCINE que sua diretoria luta para manter até hoje.
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Breve relato sobre a fundação da SOCINE
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Breve relato sobre a fundação da SOCINE
Pensando a Socine
A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE), é uma
associação de interesse científico e cultural, sem fins lucrativos, que congrega
pesquisadores da área do cinema e audiovisual.
Em 16 de Setembro de1996 é lançada a Carta de Salvador na qual um
grupo de professores, pesquisadores, ensaístas e estudantes de cinema constatam
“a inexistência de um espaço que possa aglutinar, sistematizar e divulgar nossas
experiências relativas ao estudo da imagem em movimento em suas diferentes
formas”. Nesse momento decidem “organizar a Sociedade Brasileira de Estudos
de Cinema que terá como objetivo primeiro o estudo e a pesquisa da história e
da teoria do cinema”. Alguns anos depois acrescenta-se o conceito de Audiovisual
ao nome da sociedade com a finalidade de ampliar o campo de estudos em um
movimento em consonância com a convergência determinada pelo digital. Seu
surgimento veio refletir o crescimento dessa área de conhecimento no Brasil.
Com a instituição da graduação e da pós-graduação em cinema a partir
do fim dos anos 60, a pesquisa em cinema se expande e se institucionaliza nas
Universidades imprimindo-lhe uma regularidade antes inexistente.
A Universidade de Brasília (UNB), é uma das pioneiras na implantação
de Cursos de Cinema (1962), seguida pela USP - Universidade de São Paulo
(1967) e pela UFF – Universidade Federal Fluminense (1969). Se na época
o principal objetivo desses cursos era a formação de diretores de cinema, a
84
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
86
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
Tendências
Os Encontros da SOCINE tem se estruturado nos últimos anos em torno de
Seminários temáticos, Mesas temáticas, Sessões de Comunicações individuais e
Painéis. Essa organização nos permite verificar quais são os focos de interesse de
pesquisa a cada ano. Os Seminários temáticos são os que podem nos assinalar os
temas do momento já que eles tem duração de quatro anos. Isso não significa que
toda a pesquisa na área se concentre nos temas dos seminários, mas nos dá alguns
parâmetros importantes dada a constância dos mesmos assuntos por um período
determinado.
Os temas são:
- Cinemas em português: aproximações/relações
- Os gêneros no cinema brasileiro e latino-americano: práticas,
transformações, remixagens e tendências
- Indústria e recepção cinematográfica e audiovisual
- Estudos de som
- Cinema, transculturalidade, globalização
- Cinema no Brasil: dos primeiros tempos à década de 1950
- Cinema como arte e vice-versa
- Ciências Sociais e cinema: metodologias e abordagens de uma pesquisa
interdisciplinar
- Cinema, estética e política: a resistência e os atos de criação
- Televisão – formas audiovisuais de ficção e documentário
Outro tema bastante recorrente nos últimos 10 anos é o gênero documental.
Essa preocupação vem de encontro à importância histórica que o documentário
vem retomando traduzida, principalmente, no surgimento de novas tendências
e da ampliação de espaços de exibição. Essa transformação tem sido objeto
de discussão e é vital ao se pensar o documentário como forma audiovisual
fundamental. Como pode ser verificado a gama de assuntos é abrangente e
denota a amplitude da área do cinema e audiovisual.
87
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
Mercado de trabalho
A área do cinema e audiovisual tem uma relação muito próxima com o mercado
de trabalho em vários níveis. Encontramos profissionais no campo da produção
cinematográfica e audiovisual independente, seja para a tela grande do cinema,
seja para a tela pequena da televisão ou para a tela menor do celular. A televisão
propriamente dita também absorve um numero significativo de profissionais.
O poder público também tem sido um espaço de atuação, assim como as
Universidades têm recrutado um bom número de docentes, não somente para a
área específica, mas, também, para a área da comunicação.
As relações com a comunidade acadêmica internacional se dão através de
convênios de pesquisa, de realização de mestrados, doutorados e pós-doutorados,
alem de intercâmbio de docentes e de publicações de mão dupla.
A SOCINE tem mantido estreita colaboração com a Society for Cinema
and Media Studies, organização internacional sediada nos Estados Unidos, e
através desse contato tem promovido o intercâmbio de pesquisadores de diferentes
países.
É importante citar que a SOCINE foi exemplo para a criação de três novas
entidades:
- ASAECA – Asociación Argentina de Estudios de Cine y Audiovisual,
Argentina
- SEPANCINE – Seminário Permanente de Análisis Cinematográfico,
México
- AIM – Associação dos investigadores da Imagem em Movimento,
Portugal
Está claro que não podemos dissociar a pesquisa do ensino na área do
Cinema e Audiovisual uma vez que, no Brasil, a pesquisa se dá prioritariamente
na Universidade.
Nessa perspectiva é importante apontar para o fato de que o interesse pela
formação na área está em plena expansão, o que pode ser facilmente detectado
nas estatísticas dos exames vestibulares em todas as regiões do país. A demanda
por novos cursos é significativa e resultou na ampliação da oferta levando à
necessidade de contratar professores que, por sua vez, necessitam cursar a pós-
graduação desenvolvendo pesquisa para obter seus títulos que lhes permitirão
trilhar a carreira acadêmica.
Quanto às carências, nos ressentimos ainda de uma maior valorização da
área em virtude de sua importância histórica e estratégica. Já é chavão dizer que o
mundo hoje se move em torno do audiovisual, mas não deixa de ser uma verdade
88
Breve relato sobre a fundação da SOCINE
89
Notas sobre a história da SOCINE
José Gatti3
90
Notas sobre a história da SOCINE
91
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine
Maria Dora G. Mourão4
Introdução
O Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual (Forcine) é uma
sociedade civil sem fins lucrativos que congrega e representa de forma permanente
as instituições e os profissionais brasileiros dedicados ao ensino de cinema e
audiovisual, visando o desenvolvimento e o fortalecimento desta atividade. O
processo de criação dessa entidade teve início no 3° Congresso Brasileiro de
Cinema (CBC), ocorrido em Porto Alegre, de 28 de junho a 1° de julho de
2000. Naquele momento, ainda não havia uma representação formal do setor
de ensino e formação do setor audiovisual no Brasil. Mas houve a formação de
um grupo de trabalho dedicado a questões de formação profissional, pesquisa
e preservação, do qual participaram representantes do Centro de Pesquisadores
do Cinema Brasileiro, da SOCINE. As escolas de cinema foram representadas
pela Professora Maria Dora Genis Mourão, da ECA-USP, à época integrante da
diretoria da Federação das Escolas Iberoamericanas de Imagem e Som (FEISAL).
No documento final do III CBC foram incluídos algumas deliberações
relativas ao ensino e à formação profissional, como é o caso dos itens 52 e 53:
52. Criar um fórum nacional permanente de escolas e centros de formação
profissional como instância institucional de interlocução
53. Implementar um projeto de mapeamento da demanda potencial e real
dos mercados de trabalho com o objetivo de reorientar o ensino das escolas de
cinema e audiovisual. (...)
Em dezembro do ano 2000, o Departamento de Cinema, Televisão e
Rádio (CTR) da ECA-USP organizou um seminário para discutir os rumos do
ensino de cinema no Brasil, tendo como coordenadora a Professora Maria Dora
Mourão. O evento foi denominado de Fórum de Ensino de Cinema e contou
com representantes de instituições de ensino públicas e privadas com atuação em
programas regulares de formação na área audiovisual em diferentes regiões do
Brasil. O encontro discutiu a situação do ensino dedicado ao cinema e ao vídeo,
sua relação com o ensino de televisão e as novas tecnologias e a necessidade de
constituição de uma entidade para representar o setor de ensino e formação junto
ao Congresso Brasileiro de Cinema (CBC).
Participaram deste encontro as seguintes instituições: Faculdade de
Tecnologia e Ciências (Salvador, BA); Fundação Armando Álvares Penteado (São
Paulo, SP); Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (RJ); Universidade
4. Professora titular do Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes da USP.
92
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine
Gama Filho (Rio de Janeiro, RJ); Universidade Federal de São Carlos (S. Carlos,
SP), Universidade de São Paulo (São Paulo, SP); Instituto Dragão do Mar de Artes
e Indústria Audiovisual (Fortaleza, CE); Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (Porto Alegre, RS); Universidade de Brasília (DF); Universidade
Federal Fluminense (Niterói, RJ); Universidade Estadual de Campinas (Campinas,
SP); Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG); Universidade
Federal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ) e Faculdades Integradas Hélio
Alonso (Rio de Janeiro, RJ. Todas figuram como as Inistituições de Ensino
Superior (IES) fundadoras do Forcine. Na condição de convidados estiveram
representados o Congresso Brasileiro de Cinema, o Sindicato dos Trabalhadores
da Indústria Cinematográfica do Estado de São Paulo, a Sociedade Brasileira de
Estudos de Cinema, a Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte e a
Universidade Metodista de São Paulo.
Ao final daquele seminário, os representantes decidiram pela criação do
Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual (Forcine) e elegeram a
primeira diretoria: Maria Dora Genis Mourão, presidente (ECA-USP); Antonio
Amaral Serra, vice-presidente (UFF); João Guilherme Barone Reis e Silva,
secretário geral (PUCRS) e Evandro Lemos da Cunha, tesoureiro (UFMG). Para
o conselho de representantes foram eleitos: Silas de Paula (Instituto Dragão do
Mar); Marcos Mendes (UNB); Jackson Saboya (FACHA); Messias Guimarães
Bandeira (FTC) e Adílson Ruiz (UNICAMP). A primeira missão dessa diretoria
foi a de organizar juridicamente a entidade, elaborar uma proposta de estatuto e
fixar o valor da contribuição financeira de seus associados.
Durante os anos de 2001 e 2002 os estatutos da entidade foram discutidos
e aprovados entre seus membros e o Forcine tornou-se pessoa jurídica. A diretoria
reuniu-se em várias ocasiões, em Goiânia, Rio de Janeiro e São Paulo. Em
novembro de 2001 foi realizada a primeira Assembléia Geral, na Universidade
Federal Fluminense (UFF), em Niterói, RJ, tendo como principal item da pauta,
a filiação do Forcine ao CBC e sua participação no IV Congresso Brasileiro de
Cinema, realizado no Rio de Janeiro, dias depois da Assembléia. No IV CBC, a
presidente do Forcine, Maria Dora Mourão, foi eleita para participar da diretoria
do CBC entidade.
Os congressos do Forcine
O I Congresso do Forcine ocorreu na Escola de Belas Artes da UFMG, em Belo
Horizonte, MG, de 15 a 19 de outubro de 2003. Através de grupos de trabalho,
painéis e sessões plenárias, foi o início de um processo de discussão sistemática das
grandes questões relativas ao ensino e formação audiovisual no Brasil. Questões
pedagógicas foram trabalhadas a partir da exibição de filmes produzidos pelas
93
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine
Conquistas da Forcine
Entre os eixos de ação prioritários do Forcine está o reconhecimento pelos agentes
da indústria audiovisual e pelo poder público do papel fundamental das escolas
de cinema e audiovisual como geradoras de inovação e qualificação capazes de
fortalecer o setor, mas também como produtoras de conteúdo.
No I Congresso Forcine, em outubro de 2003, o então titular da Secretaria
para o Desenvolvimento do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura,
Orlando Senna, reconheceu que a produção interna das escolas deveria contar
com o Ministério da Cultura, para, por exemplo, auxiliar a superar os problemas
95
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine
Representações Internacionais
Atualmente, entre as associações internacionais que representam coletivamente
as escolas de cinema, a mais importante é o Centre International de Liaison des
Ecoles de Cinéma et de Télévision (CILECT), uma associação mundial de escolas
de cinema e televisão. Seu objetivo é fornecer meios para a troca das idéias entre as
escolas membro, auxiliando na compreensão do ensino de audiovisual. O Centro
dedica-se à criação, ao desenvolvimento e à manutenção da cooperação regional
e internacional entre as escolas e ao incentivo do ensino de cinema e televisão no
mundo. Além disso, ajuda na compreensão do audiovisual como uma chave para
97
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine
98
CAPÍTULO 6
Introdução
Desde as experiências pioneiras de pesquisa histórica em Jornalismo de Alfredo
de Carvalho e Carlos Rizzini até as formulações teóricas de Danton Jobim e Luiz
Beltrão em meados do século passado, passando pela sedimentação acadêmica da
formação universitária em Jornalismo a partir da década de 1940, os estudos de
Jornalismo no Brasil têm alcançado um processo de crescimento científico que
demonstra vigor e maturidade das pesquisas nacionais. Como objeto complexo,
o Jornalismo tem sido passível de tratamento por diversas áreas de conhecimento,
de forma diversificada e complementar.
O Jornalismo antes de sua academização localiza suas raízes ainda no
século XIX. Propõe, então, uma periodização em três fases: 1) Emancipação
(século XIX); 2) Identificação (século XX); e 3) autonomização (século XXI). O
primeiro período, de emancipação, está ligado à dissociação gradual dos modelos
portugueses de compreender o Jornalismo, reminiscentes da Era Colonial, e a
busca de um modelo brasileiro de Jornalismo a partir da Independência do Brasil
e nas décadas seguintes do século XIX (MELO, 2009, p. 12-13).
O segundo período proposto pelo autor, o da identificação (MELO, 2009,
p. 13-19), expande-se por todo o século XX por meio de várias correntes de
pensadores. A primeira corrente é a dos fundadores, em que se encontram atores
políticos que identificam no Jornalismo uma função vital ao sistema político,
em um contexto de industrialização do país e seus efeitos sobre a informação
jornalística e a sociedade. Destaca-se o pensamento de Rui Barbosa, Barbosa
Lima Sobrinho e Carlos Lacerda. Uma segunda corrente deste período é a dos
sistematizadores, em que um olhar acadêmico tenta identificar fronteiras do
99
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
100
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
5 O primeiro curso de Jornalismo (1947) passa a se denominar, mais tarde, Faculdade de Comunicação Social
Cásper Líbero, de São Paulo/SP, e o segundo curso de Jornalismo criado no Brasil (1948) se torna, a partir de
1967, a Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MARQUES DE MELO, 1979).
101
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
102
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Universidade do Brasil, que serve de referência, mas vale ponderar que são poucos
os cursos mantidos e criados nesse período.
O currículo mínimo para a graduação em Comunicação Social surge em
1962, quando o Conselho Federal de Educação fixa uma grade básica aos cursos
superiores (Lei 5.540/68), deixando às universidades a tarefa de incluir outras
disciplinas, de acordo com a avaliação do que poderia contribuir na formação
profissional de cada área. Os cursos de Jornalismo passam a conviver, na área
de Comunicação Social, com as habilitações de Relações Públicas, Publicidade e
Propaganda e Editoração (GOBBI, 2004).
Até o final da década de 1980, o Brasil tinha o registro de aproximadamente
100 cursos de graduação em Comunicação Social entre as principais habilitações
mais procuradas pelos jovens interessados em ingressar na área, por meio da
Universidade: Jornalismo, Publicidade/Propaganda, Relações Públicas e, com
menor frequência, Cinema, Rádio e TV, ou Editoração. Pelas informações da
época, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul tinham entre três e cinco
cursos, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro concentravam um maior número
das escolas universitárias. As demais unidades da Federação possuíam um ou dois
cursos de Comunicação Social. E, claro, muitos estados não tinham sequer uma
escola de formação universitária na área até o início da década de 19907.
Regra geral, com algumas exceções, até a virada daquela década (1980/90),
o número relativamente baixo de faculdades de Jornalismo no Brasil pode ser
compreendido ao comparar-se a média e o crescimento populacional do País no
referido período8.
Com esse número, e considerando algumas dificuldades técnicas, é fácil
imaginar que, além das capitais estaduais, poucas cidades de porte médio do Brasil
tinham instituições de ensino superior com cursos de Comunicação Social.
A partir da entrada da década de 1990, contudo, o campo jornalístico
registra um aumento acelerado de procura por vagas universitárias. Na esteira
de uma suposta demanda reprimida – de vagas em cursos de Jornalismo – que as
universidades públicas (federais, em geral) não supriam, e aliadas a uma expectativa
(e promessa de governo) de liberalização da economia, em um anunciado processo
de “desmonte” do Estado do Direito, criam-se condições para que um número
7 Apenas para ilustrar, em 1947, quando o Brasil passou a contar com sua primeira escola de formação univer-
sitária em Comunicação Social, a população da época registrava aproximadamente 45 milhões de habitantes.
8 Dados do IBGE indicam que, em 1990, o Brasil tinha uma população estimada em 145 milhões de habit-
antes. O crescimento foi expressivo, considerando-se que, na virada da década anterior (1980), o País registrava
cerca de 120 milhões de habitantes (contribuintes, moradores, nativos ou migrantes, sendo estes provenientes
de deslocamentos internos ou externos). Considerando que, em uma década, o número de vagas ofertadas em
faculdades de Comunicação cresceu muito lentamente, a taxa média de crescimento populacional foi bem supe-
rior e, de forma mais acentuada ainda, no ritmo da urbanização. http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_pdf/
populacao.shtm
103
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
E se, por um lado, a população aumentava a uma taxa acelerada, desde a década
de 1940, quando o Brasil contava com 41 milhões de habitantes, por outro, o
aumento do número de vagas em universidades públicas não ocorria, deixando as
poucas IES particulares em reais condições de ofertar vagas em inúmeros cursos
com demanda de mercado a um custo economicamente alto para grande parte
da classe média.
Se a década de 1990, portanto, marcou a chamada fase de mercantilização
do ensino superior, com uma explosiva oferta de vagas, por parte de emergentes
IES privadas, a facilitação das condições técnicas, com o barateamento de
equipamentos que precisavam ampliar as condições de circulação e consumo,
também contribuiu para “deselitizar” o fazer mídia.
Era o mesmo início da década de 1990 que registrava a entrada da mídia
digital de música, com o CD (compact disk) que logo iria baratear a produção
musical e retirar do mercado uma incontável quantidade de discos (“bolachão”)
e fitas K7, analógicos. É de conhecimento público que, no Brasil, o lançamento
de novidades tecnológicas (produtos), em média, demora mais tempo que
o registrado em países de maior poder aquisitivo e distribuição de renda mais
equitativa.
Cerca de duas décadas depois, em 2010, o Brasil possui números bem
diferentes. Com 190 milhões de habitantes, cerca de 85% residindo na área
urbana, o País tem hoje cerca de 1.300 escolas superiores em Comunicação
Social, com mais de 400 cursos na habilitação Jornalismo.
Ao longo das duas décadas, que indicam a explosão quantitativa no número
de cursos de graduação em Jornalismo, o mercado de atuação profissional,
mesmo diante do crescimento urbano centrado em médias e grandes cidades,
registrou uma redução no número de postos de trabalho nos tradicionais
meios de informação. A mesma variável que facilitou a abertura – e, em certos
casos, certa proliferação descontrolada – de escolas universitárias de Jornalismo
contribuiu, simultaneamente, para a redução direta de espaços e funções de
trabalho. A informatização das redações de jornais, tanto quanto facilitou, retirou
inúmeros postos de atividade profissional de jornais e, de certo modo, também
de emissoras televisivas, à medida que, ao integrar em redes, dispensou equipes
outrora imprescindíveis para manter um programa ou periódico sem levar furo.
A rápida abertura de cursos de Jornalismo também gerou outra demanda:
a contratação de professores. Assim, de uma estimativa de 1.500 docentes que,
em 1990, atuavam nos então cursos de Jornalismo existentes no País, passa-se,
em 2010, para um número estimado em 6.000 professores que trabalham nas
escolas nesta área de formação universitária (em um número estimado de 400
cursos de graduação em Jornalismo, onde estão matriculados aproximadamente
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Categoria Distribuição %
Teorias do Jornalismo 35,5
Jornalismo Digital 20,8
Ética e Jornalismo 14,5
Estudos de linguagem 12,5
Produção de notícias e processos jornalísticos 8,3
História do jornalismo 8,3
Fonte: Machado (2005, p. 36)
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
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A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
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SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
Elias Machado9
9 Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Diretor de Relações Nacionais da Federação
Brasileira de Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Socicom).
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SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
Primeiros passos
Vencido o desafio da criação da entidade, o esforço passou a ser a viabilização
de um arrojado plano de trabalho elaborado pela diretoria e que incluía, entre
outros aspectos, a estruturação legal e financeira da associação, a organização
de congressos anuais, a filiação dos pesquisadores, a representação nas agências
de fomento, o apoio para projetos de abertura de programas de pós-graduação
específicos em Jornalismo, o lançamento de lista de discussão e de um jornal
eletrônico mensal, o SBPJor Notícias, a definição de uma política para as redes
de pesquisa, o lançamento de uma revista científica em inglês para divulgação
internacional da produção brasileira e a atuação em conjunto com as demais
entidades do campo do Jornalismo (FENAJ10 e FNPJ11 ).
A consolidação institucional
A política de institucionalização da SBPJOR pressupunha uma atuação em três
frentes:
1) uma para aumentar o número de filiados e profissionalizar mais as
atividades dos pesquisadores;
2) uma de relação com as demais associações científicas da área, com as
entidades do campo do Jornalismo e com as agências de fomento e
3) uma de contatos de caráter estratégico com os pesquisadores e com as
associações relacionadas com o Jornalismo no plano internacional.
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SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
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SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
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SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
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SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
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Fórum Nacional de Professores de Jornalismo- FNPJ
Introdução
A proposta de reunir professores dos cursos de Jornalismo surgiu do grupo que
participou do Seminário de Atualização para Professores de Jornalismo (Labjor/
Unicamp - 1994). Em seguida, foi levada para o Congresso da Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - Intercom 94 (Piracicaba/SP), na
busca de um espaço regular para que os professores de jornalismo pudessem se
reunir anualmente. Nesse momento, o Congresso da Intercom tinha organizado
um Encontro de Professores de Comunicação Comparada. O número de
professores de Jornalismo ampliou-se ano a ano, congresso a congresso. Assim,
foi marcado o I Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, num esforço
para debater questões inerentes ao Ensino de Jornalismo num momento e espaço
próprio. Em ambas as ocasiões foram feitas avaliações gerais sobre a realidade dos
cursos de Jornalismo e a necessidade de realizar discussões sistemáticas visando
à busca de novos caminhos a partir da experiência que vem sendo desenvolvida
pelos próprios docentes.
O Fórum Nacional de Professores de Jornalismo tem como objetivo reunir
professores e profissionais da área de jornalismo para debater e encaminhar
propostas sobre questões inerentes à formação do jornalista profissional.
Qualidade da formação, diretrizes curriculares, laboratórios, teoria e técnica
do jornalismo, pesquisa, desenvolvimento de novas habilidades e tecnologias,
ética e legislação, mercado de trabalho são as principais questões que envolvem
a formação jornalística e para as quais os participantes do Fórum buscam o
desenvolvimento e melhorias.
O I Encontro Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu no Congresso
da Intercom 95 (Aracaju/SE). Na oportunidade, vários temas foram levantados.
Entre eles o Projeto Pedagógico para o curso de Jornalismo, o perfil dos professores
de Jornalismo, o estágio e a inserção dos professores nos projetos de Pesquisa
e Extensão. Foi reafirmada, ainda, a oficialização do Núcleo de Professores de
Jornalismo junto à direção da Intercom, a fim de que as atividades desenvolvidas
passassem a fazer parte das ações da entidade. Como desdobramento foi realizado
o Simpósio Didático-Pedagógico de Professores de Jornalismo, em abril de 1996,
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Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ
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CAPÍTULO 7
Introdução
Ao retratar a história de uma teoria, a da semiótica, no Brasil, é que mais se
ilumina como se é levado a referir-se a uma série de contribuições de teóricos
que delinearam as várias correntes semióticas com os fundamentos de abordagens
dos sistemas e dos processos de linguagens. Como teoria dos signos, tem-se as
contribuições da Semiologia, de Roland Barthes e as da Semiótica, de Charles
Sanders Peirce; como teoria da significação os fundamentos são de Algirdas Julian
Greimas; como teoria do discurso, as referências são da vertente eslava com
destaque para Romam Jackobson, Mikahil Backhtin e Iuri Lotman. Enumerar
os marcos desses desenvolvimentos que garantiram a posição dessas teorias na
fundamentação de uma complexidade de objetos de estudo é pôr-se na trajetória
das idéias desses teóricos, mas também de personalidades acadêmicas brasileiras
que a difundiram no país. Essa abordagem é, pois, uma situação contextual inicial
que se coloca aberta a uma série de acréscimos a fim de contribuir para os retoques
desse retrato multifacetário.
Do muito que aqui está sendo exposto no relato de mais de cinco décadas de
estudos semióticos no Brasil tem havido ampla participação em uma comunidade
científica nacional atuante, por realizações que marcaram as correntes na
institucionalização que os brasileiros envolvidos foram lhe dando configurações.
A partir dessas, a proposta é de constituir um relato das contribuições das teorias
semióticas ao campo da comunicação que se organiza em três grandes partes para
oferecer detalhamento sem objetivar uma análise completa, uma vez que estamos
no ponto de partida da construção de um quadro histórico.
133
As origens da Semiótica no Brasil
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As origens da Semiótica no Brasil
de grande renome que levaram o ensino da teoria semiótica pelos quatro cantos
do país.
A equipe atual integrada por Waldir Beividas, Norma Discini, Luiz Tatit,
Ivã Lopes, entre outros, tem conseguido manter a avaliação máxima, nota 7, do
Sistema de avaliação da CAPES. Advém dessa pós-graduação a formação doutoral
da maioria dos professores que atuam no campo, destacando a UFRGS, a UFMG
e outras pós-graduações como a de Letras da UFF que tem uma linha em Teoria
semiótica do discurso. A Pós-Graduação em Comunicação da PUCSP, desde 1990,
implementou no seu eixo teórico a teoria semiótica francesa, denominando esses
estudos de semiótica discursiva ou sociossemiótica por ter sido implementada
pela ação de Eric Landowski, que atua ainda como professor visitante permanente
desta pós graduação e aí criou o Centro de Pesquisas Sociossemióticas (CPS),
como centro interinstitucional de pesquisa com Ana Claudia Mei Alves de
Oliveira e os amigos semioticistas da USP e da UNESP em 1994.
Outros grupos de pesquisa atuantes são: o Grupo Casa, fundado em
Araraquara por Ignácio Assis Silva em 2001. Hoje é dirigido por Maria de Lourdes
Baldan e congrega pesquisadores em semiótica das cidades vizinhas, Ribeirão
Preto, Franca, Bauru, São José do Rio Preto, por exemplo. NA USP, a criação
do Grupo de Estudos Semióticos (GES), hoje dirigido por Ivan e Marcos Lopes,
Waldir Beividas e Elizabeth Arcot, mantém uma programação mensal e eventos.
Na Universidade Federal Fluminense (UFF) funciona, em Niterói, o SEDI criado
por Lucia Teixeira e um grupo de jovens docentes. Em Bauru, organizou-se o
Grupo de Estudos de Semiótica da Comunicação, com a iniciativa de Maria
Lúcia Vissoto e a participação de Ana Silvia Médola Davi, Jean Christus Portella
e Matheus Nogueira Schwartzmann.
Em termos de publicação há as revistas sem continuidade hoje como Semiótica,
Acta Semiotica e Linguistica, Linguagens. Os Cadernos de Textos do CPS com nove
edições impressas e as demais digitais, duas coleções a de “Documentos de estudo
em semiótica” com cinco números publicados e a “Coleção Sociossemiótica” junto
a Editora Estação das Letras com dois livros lançados. Entre as revistas eletrônicas
tem-se a do grupo CASA dirigida por Arnaldo Cortina e Renata Marquezan;
a do GEL que foi dirigida várias vezes por semioticistas e a da Abralin, a outra
associação de lingüística que manteve um grupo de trabalhos em semiótica.
A Revista de Estudos Lingüísticos (GEL) teve início em 1978 e encontra-
se vinculada ao Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo, que foi
criado em 1968 tendo tido presidido por semioticistas José Luiz Fiorin e Arnaldo
Cortina. A criação da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN) em São
Paulo, de 1969, foi presidida por Diana Luz Pessoa de Barros. Desde 1972 a
Sociedade Brasileira de Professores de Linguística (SBPL) organizou a Revista
Brasileira de Lingüística com o apoio do Programa de Semiótica e Linguística da
137
As origens da Semiótica no Brasil
suas relações de contigüidade que é montada a partir de seleções dos signos nos
sistemas e das regras combinatórias, ou seja, das linguagens que passou por uma
explosão em novas linguagens, em especial, no campo midiático.
Com a atuação de Lúcia Santaella na sua coordenação expandiram-se nessa
Pós os estudos das várias midias que foram acompanhados da implementação
de outras teorias semióticas que são estudadas como eixos de fundamentação
do Programa. As várias linhas de pesquisa dão conta de uma vasta gama de
estudos intersemióticos que seu corpo docente praticava, inserindo também as
das organizações, design, música, teatro, performance, dança, corpo, arqutetura
e urbanismo. Afora a semiótica filosófica de Peirce o seu Pragmatismo, passou
a ser estudado pela contribuição de Iso Assad Ibri que mantém uma revista e
um evento anual na área. Foi ainda inserida uma tendência semiótica no escopo
das teorias da cultura e das mídias postulada por Norval Baitello Jr., seguindo
a linhagem dos trabalhos de Ivan Bystrina, Harry Pross e Dietmar Kamper. O
Centro Interdisciplinar de Semiótica e Cultura (CISC), mantém a publicação
digital de Ghrebh. As problemáticas dos novos meios foram tratadas com as novas
tecnologias que adentraram o seu curriculo também integrando os estudos dos
processos de criação nas várias mídias pela abordagem de Cecília Almeida Salles.
Trouxe também ao ambiente semiótico, as postulações do denominado semion,
ou a semiosfera, conceptualizada pelo semioticista estoniano Iuri Lotman, assim
como as do dialogismo de Michail Backthin que dedicou a vida à definição de
conceitos e categorias de análise da linguagem com base em discursos cotidianos,
artísticos, filosóficos, científicos e institucionais.
A ação de Irene Machado, José Amalio Pinheiro e Jerusa Pires Ferreira
animaram esses estudos com aspectos vários da cultura brasileira e a latinoamericana
nas várias produções das artes e das mídias. Ainda a semiótica interpretativa de
Umberto Ecco que visitou São Paulo se expandiu com a publicação de toda a sua
obra, muitas delas pela Perspectiva.
Por vários anos ligada ao Departametno de Artes da PUCSP foi produzida a
revista De Signos. No seu extinguir-se no âmbito do Programa de Comunicação e
Semiótica organizou-se e passou a ser publicada pela editora da PUCSP, a Educ, a
revista FACE que foi dirigida por Philadelpho Menezes que se dedicava à prática
da poesia visual e aos estudos das mídias. Por último, foi criada a revista Galáxia:
Revista Transdiciplinar de Comunicação, Semiótica, Cultura com a editoria
científica de sete números de Irene Machado, que foi responsável pelo projeto
gráfico. Nas suas palavras: “a proposta editorial do periódico abriga confluências e
conexões disciplinares com o objetivo de (1) compreender a produção, a circulação
e a recepção dos sentidos/signos comunicacionais; (2) demonstrar a variedade das
pesquisas na área da Comunicação, em termos de discursos, as práticas sociais
e condições de interação, tecnológicas ou não; e, (3) a partir do diálogo e do
139
As origens da Semiótica no Brasil
142
ABES, recriação e percurso de uma Associação
2 Presidente da ABES.
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ABES, recriação e percurso de uma Associação
Nos anos 70 e até meados dos anos 80, a então ABS atuou intensamente
realizando uma série de quatro Congressos Internacionais, dois seminários luso-
brasileiros de Semiótica, um seminário avançado de Semiótica e uma grande
quantidade de eventos locais com a criação de associações regionais. Essas
nucleações atingiram o número de cinco regionais, que foram muito importantes
nos seus estados, mantendo uma programação que marcava os interesses dos
membros congregados e uma troca entre esses por meio de ciclos de conferências
e reuniões de estudo e debates.
As regionais formadas pela ABS atestavam uma desnucleação da teoria
semiótica que deixava de ser unicamente desenvolvida no eixo São Paulo – Rio
de Janeiro e passava a reunir pesquisadores em outras regiões. A Regional de São
Paulo teve a coordenação de Ana Claudia Mei Alves de Oliveira e Ana Maria
Domingues Zilocchi; a do Rio de Janeiro foi coordenada por Mônica Rector e
Aloiso Trinta; a Regional Sul teve a participação das professoras Elizabeth Bastos
Duarte, Maria da Graça Kriger e Maria Lília de Castro. Também desenvolveram
atividades a Regional da Paraíba e a Regional de Brasília.
Graças a essas ações foram realizados nas diversas regiões do país um conjunto
de eventos da ABS. No Rio de Janeiro realizaram-se o I e II Congresso Brasileiro
de Semiótica; em São Paulo, além do III Congresso, o Seminário Avançado de
Semiótica no município de Águas de São Pedro; em Porto Alegre, o IV Congresso.
Cada evento manteve um número expressivo de convidados internacionais das
várias tendências teóricas da semiótica praticada no país, dando testemunhos
dos intensos intercâmbios entre a semiótica brasileira e a de centros de pesquisa
sediados fora do país.
O Brasil ocupou importantes cargos junto ao cenário internacional da
Semiótica com delegações nos vários eventos, desde a fundação da Associação
Internacional de Semiótica, em Milão, em 1974, com Décio Pignatari, integrando a
vice-presidência da International Association for Semiotic Studies (IASS)/ Association
Internationale de Sémiotique (AIS), nas duas línguas oficiais, o inglês e o francês.
Atualmente, também o espanhol é língua oficial na Associação. Os encontros
internacionais mostraram-se importantes em termos de troca e relacionamentos
entre os distintos cantos do mundo que se dedicavam às investigações semióticas.
Os eventos internacionais, ocorridos até esse ano, são uma dezena que listamos
abaixo com as localidades em que ocorreram, as datas e temário:
• 1. Milão, Itália, 2 a 6 de junho de 1974. Temário: A Semiotic Landscape.
• 2. Viena, Austria, 2 a 6 de julho de 1979. Temário: Semiotics Unfolding.
• 3. Palermo, Itália, 24 a 29 de junho de 1984. Temário: Semiotic Theory
and Practice.
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ABES, recriação e percurso de uma Associação
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ABES, recriação e percurso de uma Associação
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ABES, recriação e percurso de uma Associação
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ABES, recriação e percurso de uma Associação
(UFF). Uma eleição que fez a ABES voltar ao Estado do Rio de Janeiro, para
sediar em Niterói V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Estudos
Semióticos/X Congresso Brasileiro de Semiótica, justamente quando completará
10 anos de sua reorganização e reativação como associação científica, uma instância
legítima de representação das pesquisas semióticas dos estudiosos brasileiros no
âmbito nacional e internacional.
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ABES, recriação e percurso de uma Associação
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ABES, recriação e percurso de uma Associação
Homepage: http://www.semeiosis.com.br
• Grupo de Pesquisa Semiótica e Comunicação (GPESC) - criado
interinstitucionalmente em Porto Alegre. A sua coordenação é de
Alexandre Rocha da Silva (UFRGS). Reúne quatro núcleos de pesquisa :
1) Semiótica Crítica; 2) Design Estratégico; 3) Memória e Informação; 4)
Corporalidades, que são articulados em um mesmo diretório do CNPq.
Propõe debates acerca das linguagens voltadas à comunicação em diferentes
práticas disciplinares, metodológicas, estéticas e políticas. Objetiva a revisão
da Semiótica tradicional realizada a partir das obras de autores como Gilles
Deleuze, Michel Foucault e Jaques Derrida. Homepage: http://www.gpesc.
caosmose.net/
Desdobramentos
São muitas as pesquisas ainda a serem feitas para completar o quadro de vida da
ABES de forma a delinear o seu retrato. Entre as investigações emergentes a se
realizar destaca-se, além das atualizações das revistas e dos grupos de pesquisa,
a necessidade de levantar as obras das variadas correntes o que comporá um
mapeamento das investigações dos diversos campos semióticos e abrirá
possibilidades de realização de um estudo qualitativo da Semiótica desenvolvida
no Brasil. Por outro lado, faz-se urgente, igualmente, o levantamento das
faculdades com os cursos que inseriram a teoria semiótica em seus grupos pós-
graduados e graduados. Essas são tarefas a serem feitas que contribuirão para
um delineamento do retrato da Semiótica brasileira, por meio de suas variadas
práticas de vida e de presença em uma multiplicidade de campos do saber que
apenas começamos a configurar.
A todos que puderem colaborar, estou continuando essa coleta de dados
por julgá-la da maior importância para que a Associação Brasileira de Estudos
Semióticos (ABES) possa estar representada junto às várias áreas do saber da
CAPES, para as quais as teorias semióticas têm dado a sua colaboração efetiva.
De espectro amplo abrangendo da Medicina, Engenharia, Design, Arquitetura,
moda, música às áreas de arte, Letras, Literatura e Comunicação, essa tarefa
caberia a um grupo de investigadores representativos desse panorama.
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ABES, recriação e percurso de uma Associação
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CAPÍTULO 8
Anita Simis 1
Ruy Sardinha Lopes2
Introdução
A Economia Política da Comunicação (EPC) é um constructo teórico-
metodológico desenvolvido a partir das contribuições de Marx e se constitui como
um importante pólo estruturador do pensamento crítico comunicacional. Assim,
se a Economia Política Crítica surge para explicar o modo de funcionamento do
capitalismo, foi o aparecimento das indústrias da mídia no século XX – e seu papel
na lógica de reprodução do estágio monopolista do capitalismo – que aproximou
este campo disciplinar das comunicações. Desta forma, as contribuições de
Adorno, Horkheimer, Walter Benjamin e demais colegas da chamada Escola de
Frankfurt para o melhor entendimento das especificidades da produção cultural
e sua relação com os processos econômicos e sociais mais amplos abriram uma
frutífera e longa trajetória investigativa que, passando pelos Estudos Culturais,
desembocaram na EPC.
Tendo o canadense Dallas Smythe como pioneiro nesse campo (no final da
década de 1940 ofereceu o primeiro curso sobre EPC nos EUA) , será sobretudo
a partir da década de 1960 que esta nova perspectiva analítica começa a se
desenvolver. Para isso contribuíram diversos pesquisadores, que talvez possam ser
divididos em duas “escolas”: a “norte-americana”, na tradição de Baran e Sweezy,
Dallas Smythe e Herbert Schiller e a “européia”, com setores das academias
britânica e francesa, vinculadas à produção intelectual de Nicholas Garnham,
Peter Golding e Graham Murdock, de um lado, Patrice Flichy, Bernard Miège e
Dominique Leroy, de outro.
Seja criticando as teorias que viam os meios de comunicação massivos
apenas como uma esfera de produção de ideologia e estratégias discursivas e
enfatizando o papel da mercadoria audiência (Smythe), seja ressaltando a função
da publicidade como arma fundamental das estratégias competitivas das grandes
empresas oligopolistas (Baran e Sweezy), ou ainda, como o trabalho de Herbert
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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
América Latina
A história do campo da Comunicação na América Latina sempre ocupou papel
de destaque no cenário internacional, sobretudo no que se refere à discussão sobre
a aceleração desenvolvimentista presumivelmente proporcionada pelas novas
tecnologias de comunicação a serem transplantadas pra o terceiro mundo, numa
espécie de Plano Marshall comunicacional.
As reflexões dos economistas da Comissão Econômica Para a América Latina
e o Caribe (CEPAL), reticentes quanto a esta relação causal, que no campo da
comunicação derivam nas teorias da dependência ou do imperialismo cultural e
a discussão sobre a repartição dos fluxos globais de informação, sintetizada no
Relatório McBride, fruto do movimento em prol de uma Nova Ordem Mundial
da Informação e da Comunicação (NOMIC) tiveram, assim, grande importância
na luta contra-hegemônica e pela democratização da área.
Assim, como aponta Berger (2001), as demandas políticas e sociais, mais
do que as científicas, foram a mola propulsora da tradição do pensamento
comunicacional na região:
“Na América Latina, as marcas da dependência estrutural, que evoca uma
cultura do silêncio e da submissão, mas também de resistência e de luta,
são o pano de fundo da busca por compreender o que acontecia com
a comunicação e demarca as fronteiras do emergente campo de estudo”
(BERGER, 2001, p.241).
A Economia política da região, herdeira dessa herança intelectual, passa a
desafiar as premissas do funcionalismo modernizador, refinando os instrumentos
de análise das estruturas de poder e dominação, bem como na reflexão sobre o
papel das novas tecnologias para a integração hemisférica.
As mudanças estruturais que o Capitalismo sofreu a partir de meados da
década de 1970, a reconfiguração do sistema-mundo capitalista e a posição
central que os sistemas de informação e de comunicação passam a ter neste
processo reafirmaram a importância do constructo teórico-metodológico da
EPC, quer para o entendimento das funções macroeconômicas que a cultura e
a comunicação assumem no processo de acumulação, quer, devido à chamada
“convergência tecnológica”, para a análise de seus conteúdos, que cada vez mais
não podem ser apreendidos de forma independente das tecnologias de difusão e
transmissão da informação.
Uma nova agenda analítica se impõe à EPC quer no tocante a redefinição do
conceito de esfera pública, quer no que se refere aos mecanismos de regulação dos
sistemas midiáticos, por um lado ou no tocante ao funcionamento dos sistemas
globais de informação e comunicação, às determinações culturais e econômicas da
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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
A EPC no Brasil
No Brasil, ainda que reconhecendo, como o faz Marques de Melo (2008,p.10), a
precocidade de Barbosa Lima Sobrinho que, em 1923, enfatiza a ótica econômica
nos estudos sobre a imprensa brasileira, e de dois estudos marcantes dos anos
1970 – “Notícia, um produto à venda”, de Cremilda Medina (1978) e “O papel
do Jornal”, de Alberto Dines – o campo disciplinar da EPC teve de esperar até a
década de 1990 para se constituir.
Embora não seja o caso de aqui fazermos a genealogia do pensamento
brasileiro, mostrando os influxos nacionais e internacionais, com as honrosas
participações de Armand Mattelart e Herbert Schiller, cabe ressaltar o pioneirismo
de César Bolaño que, formado de Comunicação Social e pós-graduado junto
ao grupo de economistas pós-cepalinos da UNICAMP, soube como ninguém
articular o entrecruzamento destas duas áreas. Suas duas obras inaugurais –
“Mercado Brasileiro de Televisão” (1988) e “Indústria cultural, informação
e capitalismo” (2000) – revelam um pesquisador capaz não apenas de lidar de
forma crítica com os conceitos-chaves difundidos pelas duas “escolas” mestras,
mas também formulador de reflexão própria, contribuindo de forma decisiva
para a consolidação da EPC no Brasil.
Sua contribuição não pára nos bancos da academia. Em 1992 é fundado
o do Grupo de Trabalho (GT) de Economia Política das Telecomunicações, da
Informação e da Comunicação (EPTIC) da Intercom e existente, em sua primeira
fase, até o ano de 2000.
Se, àquela época, já se reconhecia a importância das análises do setor das
comunicações a partir do instrumental conceitual-metodológico da Economia
Política - o que sempre implicou a constituição de um campo de saber
intrinsecamente interdisciplinar –, os esforços empreendidos por este GT foram
fundamentais no sentido de reunir material analítico de um campo conceitual
que, ao contrário da tradição européia, mostrava-se ainda bastante incipiente no
Brasil e na América Latina.
Apenas para relembrarmos parte destes esforços, cabe citar a publicação dos
Boletins Eptic – distribuídos a todos os participantes do Grupo e interessados
em geral e a publicação de duas obras coletivas organizadas por César Bolaño
- Economia Política das Telecomunicações, da Informação e da Comunicação. São
Paulo: Intercom, 1995 e Globalização e Regionalização das Comunicações, editado
pelo EDUC e UFS, em 1999. Ou ainda a organização de mesas sobre o tema, em
1998, no XIII Congresso da Associação dos Cursos de Graduação em Economia,
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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
Pesquisadores
Adilson Cabral – UFF/RJ - acabral@comunicacao.pro.br
Alain Herscovici – UFES/ES - alhersco.vix@terra.com.br
Anita Simis – UNESP/SP – campus Araraquara – anita@fclar.unesp.br
César Bolaño – UFS/SE - bolano@ufs.br
Claudio Bertolli Filho - FAAC/UNESP, campus de Bauru - cbertolli@uol.
com.br
Clovis Ricardo Montenegro de Lima.- UFSC/ SC - clovis.mlima@uol.com.
br
Doris Fagundes Haussen – PUCRS - dorisfah@pucrs.br
Elizabeth Saad Corrêa – ECA/USP - bethsaad@yahoo.com.br
Eula Dantas Taveira Cabral – Universidade/RJ: euladtc@comunicacao.pro.
br
Fernando Oliveira Paulino – Universidade de Brasília/ DF - fopaulino@
gmail.com
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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)
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ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
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ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
5 Sobre a Rede EPTIC, vide BRITTOS, Valério Cruz. Gênese e constituição da Biblioteca EPTIC. Bibliocom
– Revista de Divulgação, Análise e Crítica da Produção Bibliográfica, Hemerográfica e Reprográfica em Ciências
da Comunicação, São Paulo, v. 1, n. 2, mar./abr. 2009. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/biblio-
com/dois/pdf/valeriobrittos.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010.
6 Um dos resultados do evento foi o livro BRITTOS, Valério Cruz; CABRAL, Adilson (Orgs.). Economia
Política da Comunicação: interfaces brasileiras. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. O livro referente ao II Encontro,
de 2008, está em fase de produção, devendo ser lançado durante o III Encontro, em 2010.
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ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
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ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
7 Vale ressaltar que todos os membros de todas as diretorias citadas são professores doutores de reconhecida
competência na área, com produção regular e elevados índices de produtividade, ainda que com diferentes níveis
de maturidade acadêmica. Isto significa que a EPC brasileira – que evidentemente não se limita a esses indi-
víduos – forma um bem consolidado programa de investigação em nível nacional, vinculado àquele mais amplo
da EPC latina e mundial. Para uma visão mais ampla da situação atual em termos de número de pesquisadores
e programas de pós-graduação que albergam grupos de EPC, vale consultar o seguinte trabalho apresentado ao
GT de Economia Política e Políticas de Comunicação da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Comuni-
cação (COMPÓS): BRITTOS; Valério Cruz; BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; ROSA, Ana Maria Oliveira.
O GT “Economia Política e Políticas de Comunicação” da COMPÓS e a construção de uma epistemologia
crítica da Comunicação. In: ENCONTRO NACIONAL DA COMPÓS, 19., 2010, Rio de Janeiro. Anais ...
Rio de Janeiro: Compós, 2010. 1 CD. Para uma discussão de ordem epistemológica e interdisciplinar partindo
do campo brasileiro da EPC, em diálogo com autores de outras origens, vide BOLAÑO, César Ricardo Siqueira
(Org). Comunicação e a crítica da Economia Política: perspectivas teóricas e epistemológicas. Aracaju: Editora
UFS, 2008.
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ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
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CAPÍTULO 9
Introdução
Para além do conhecimento organizacional e nas interfaces com outros
conhecimentos, a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas
constituem hoje um campo acadêmico já institucionalizado, o qual promove
estudos e pesquisas sobre as práticas comunicativas das/nas organizações, a
partir dos relacionamentos com seus públicos. Considerar esse campo como
acadêmico é trabalhar simultaneamente três dimensões: o corpus teórico que
fundamenta o campo e dá estrutura curricular aos cursos de graduação e pós-
graduação, a consequente evolução das pesquisas impulsionadas pelas inovações
nas abordagens teóricas e a contribuição das associações que contribuem para as
pesquisas acadêmicas e para dar visibilidade às práticas de mercado.
Nas relações entre organização e os grupos que afetam as práticas
comunicativas e/ou são afetados por elas, aspectos multidisciplinares se
evidenciam conforme a natureza e o objetivo dessas relações, o que faz com
que as pesquisas se voltem à análise de diversas temáticas. Tanto o ambiente
intraorganizacional, com as teorias administrativas (marketing, gestão de pessoas,
uso estratégico das tecnologias), quanto no ambiente interorganizacional, em seus
aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos, compõem a multiplicidade de
temas que fazem parte dos estudos e pesquisas, numa perspectiva multivariada,
que busca compreender a co-relação entre a sociedade e os processos/estruturas
organizacionais, os quais se condicionam mutuamente.
Curvello (2009), num mapeamento de 284 artigos apresentados no Núcleo
de Pesquisa de Relações Públicas e Comunicação Organizacional da Intercom, nos
anos de 2001 a 2008, reforça a transdisciplinaridade das pesquisas que atravessam
temas diversos, sendo os mais abordados, cultura organizacional, tecnologia,
linguagem, imagem, identidade, discurso, relação com consumidor, marketing
social, marketing institucional, ética, poder, conflitos, sustentabilidade.
Se por um lado o cenário atual do campo da Comunicação Organizacional
e das Relações Públicas apresenta institucionalização e reconhecimento
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Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
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Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
2 Segundo Kunsch (2006), data de 1951, em Volta Redonda (RJ), a implantação do primeiro departamento de
Relações Públicas auteticamente nacional, na Companhia Siderúrgica Nacional; e de 1952, a primeira consul-
toria que prestava serviços de Comunicação Social, em São Paulo, a Companhia Nacional deRelações Públicas
e Propaganda. Reis (2009) apresenta um dado que indica o “volume expressivo” de empresas e profissionais na
década de 1960: “mais de trezentas grandes empresas brasileiras possuem (...) departamento regulares e ativos
de relações públicas e muitas dependências governamentais instituíram departamentos semelhantes, como a
própria Presidênciada República. (...) Cerca de 5000 pessoas estão profissionalmente empenhadas em atividades
derelações públicas.” (REIS, apud CHAVES, 1966, p.7)
3 Reis (2009), tomando como referência Kunsch (2005), relata que no período mais duro da ditadura militar,
“um decreto federal originado da sugestão de um relações-públicas a um deputado amigo, levou à regulamen-
tação da profissão, sem discussões mais amplas com a categoria.” (Reis, 2009, p.142)
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Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
4 Reis (2009), tendo por referência Fausto (2006) contextualiza historicamente os anos 1990, período em que
ocorre uma “súbita incorporação do Brasil à realidade da globalização (...) foi em 1990 que o então presidente
Fernando Collor de Mello promoveu a abertura econômica do país, praticamente jogando as empresas nacionais
em uma realidade concorrencial de características absolutamente inesperadas, algo para a qual o mercado bra-
sileiro, protegido desde a época da instauração da ditadura, não estava preparado.” (Reis, 2009, p.155)
5 Mais a frente, Reis (2009) contextualiza de forma mais precisa os primeiros cursos de Relações Públicas ligados
inicialmente às escolas de administração.
6 Curvello (2009) faz um levantamento do cenário da pesquisa sticto sensu a partir do diretório da CNPQ e
chega a 49 grupos de pesquisa de Comunicação Organizacional e 172 de Relações Públicas.
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Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
existência das escolas de comunicação no final dos anos 1960. Segundo Reis
(2009, p.141), “a formação para a profissão se dava tanto em nível técnico, por
meio dos cursos ofertados quanto por instituições, como pelo Departamento
Administrativo do Serviço Público (Dasp), quanto como parte de cursos de
nível superior da área da administração.” Isso indica que, nos primeiros tempos,
a administração era o campo do conhecimento que mais se empenhava no
entendimento da atividade e na formação dos profissionais da área.
Compreender a atividade e capacitar os profissionais do ponto de vista
técnico-operacional eram demandas daquela época e com essa necessidade,
surgem as primeiras publicações nacionais especializadas, numa tradição
evidentemente prescritiva dado a conjuntura. Em 1963 Cândido Teobaldo de
Souza Andrade publica “Para entender as Relações Públicas” e aparecem os
manuais que prescrevem técnicas e programas de implantação da comunicação
de resultados. (Reis, 2009)
Em termos de produção e pesquisa acadêmicas, a regulamentação da
atividade de Relações Públicas junto aos cursos de Comunicação Social foi,
conforme Reis (2009) isenta de uma reflexão teórica e crítica, o que deixou
um vazio “identitário-epistemológico” quanto à natureza do conhecimento das
Relações Públicas.
Ressaltamos que, embora a pesquisa tenha chegado às Relações Públicas
com os cursos de mestrado implantados na ECA-USP e na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na década de 1970, os propósitos não eram
“epistemológicos (no sentido) de ajudar a identificar e caracterizar um novo
campo (ou sub-campo) disciplinar e sim, de subsidiar a busca da eficiência e
eficácia da atuação profissional.” (Reis, 2009, p.145)
Temos, ainda na década de 1970, uma expansão da base conceitual das
Relações Públicas que, em função do contexto sócio-político, adquirem uma
perspectiva mais crítica. Ainda de acordo com Reis (2009, p.147), novas frentes
de interesse ligadas aos movimentos sociais de participação, inserção social,
relações de trabalho proporcionaram uma “visão mais ampla, humanizada e
politizada da questão da comunicação (...)” e as reformas curriculares incluíram
disciplinas como comunicação comunitária, comunicação rural, comunicação
popular, mobilização social. Nesse movimento crítico, o público interno das
organizações torna-se objeto de estudo e em 1982, numa perspectiva inovadora,
Cicilia Peruzzo publica sua dissertação de mestrado no livro “Relações Públicas
no modo de produção capitalista”.
Essa contextualização é importante e necessária para entendermos porque,
só a partir das décadas de 1980 e 1990, condicionadas pelas mudanças sociais,
políticas e econômicas que afetaram as organizações, surgem os estudos sobre
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Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
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Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
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Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
182
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
GT 2 Nº de trabalhos
2007 14
2008 12
2009 14
2010 18
Total 58
GT 3 Nº de trabalhos
2007 08
2008 05
2009 10
2010 11
Total 34
GT 4 Nº de trabalhos
2007 08
2008 06
2009 12
2010 11
Total 37
GT 5 Nº de trabalhos
2007 07
2008 08
2009 06
2010 05
Total 26
GT 4 Nº de trabalhos
GT 6 Nº de trabalhos
2007 06
2008 07
2009 06
2010 07
Total 26
Considerações Finais
A partir do cenário traçado, podemos concluir que o campo acadêmico da
Comunicação Organizacional e das Relações Públicas se encontra configurado e
em processo de consolidação. A produção científica e a pesquisa crescem cada dia
mais e os grupos de pesquisa se fortalecem no diretório do CNPq. Atualmente
são registrados 49 grupos que desenvolvem pesquisas sobre Comunicação
Organizacional e 172 que trabalham com Relações Públicas.
No ano de 2010, ocorreu a conquista de um espaço fundamental para as
reflexões epistemológicas, com a criação na Compôs do GT Comunicação em
contextos organizacionais.
185
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas
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Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp
Histórico
A Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas (Abrapcorp) foi criada no dia 13 de maio de 2006,, em São
Paulo (SP), por ocasião do I Fórum Nacional em Defesa da Qualidade do Ensino
de Comunicação - Endecom 2006, promovido pela Escola de Comunicações
e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pela Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). A finalidade principal foi
estimular o fomento, a realização e a divulgação de estudos avançados dessas áreas
no campo das Ciências da Comunicação.
A iniciativa concreta de reunir pesquisadores dessas áreas na forma de uma
associação surgiu em outubro de 2005, durante o I Fórum de Pesquisadores
de Relações Públicas e Comunicação Organizacional, que teve lugar na ECA-
USP, em São Paulo (SP) e .no qual se debateu a proposta de reclassificação da
nova Tabela das Áreas de Conhecimento do CNPq – Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Essa nova entidade expressa a existência de uma comunidade atuante
de pesquisadores, originariamente integrados aos núcleos de pesquisa de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas da Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)8, hoje a maior e mais
importante associação das Ciências da Comunicação no País. Entidade autônoma,
a Abrapcorp, junto com outras doze associações, se vincula à Federação Brasileira
das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (Socicom), instituída
em setembro de 2008.
Com a fundação da Abrapcorp, um novo capítulo foi acrescentado à
história desses campos do conhecimento que florescem e se consolidam cada vez
mais no conjunto das Ciências da Comunicação. A existência de uma entidade
científica nesse contexto exerce um papel fundamental para estimular o fomento,
a realização e a divulgação de estudos avançados resultantes de pesquisa e que
possam contribuir para a transformação da sociedade, das instituições e das
organizações.
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Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
Objetivos
Com base no seu estatuto, a Abrapcorp tem como objetivos norteadores:
• Congregar pesquisadores de qualquer área do conhecimento, vinculados
ou não a organizações acadêmicas, científicas e profissionais, que tenham
por objeto de estudo a comunicação sob todas as suas perspectivas e
aplicações, em especial aqueles que se dedicam a temática da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas;
• Contribuir para o desenvolvimento intelectual de seus associados, por
meio do intercâmbio de experiências entre eles e outras organizações, para a
difusão do conhecimento científico da Comunicação Organizacional e das
Relações Públicas;
• Contribuir, por meio de estudos científicos da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas, para maior valorização e
democratização dessas atividades no ambiente acadêmico, profissional e
social;
• Contribuir para o desenvolvimento do País, promovendo e difundindo
o exercício da comunicação como forma de colaborar no processo
democrático;
• Representar os interesses dos associados perante a sociedade, junto às
associações congêneres e em fóruns competentes.
Estrutura organizacional
A Abrapcorp tem como órgãos gestores a Assembléia Geral e a Diretoria Executiva,
formada por presidente, vice-presidente, diretor administrativo, diretor
científico, diretor editorial e diretor de relações públicas. São órgãos auxiliares da
entidade o Conselho Consultivo e o Conselho Fiscal. O mandato dos membros
da Diretoria Executiva e dos Conselhos é de dois anos, podendo eles ser reeleitos
para apenas um período subseqüente.
Frentes de atuação
Nestes quatro primeiros anos de existência da entidade, os esforços se concentraram
na criação de uma infra-estrutura básica para o funcionamento da Secretaria,
nas providências para os registros jurídicos e contábeis, na institucionalização do
Congresso Anual, na formatação da dinâmica dos Grupos de Trabalhos Temáticos
(GTs Abrapcorp), na construção do site e na publicação de livros, entre outras
iniciativas em curso.
188
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
Congressos anuais
O I Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas – Abrapcorp 2007 foi realizado nos dias 3, 4 e 5 de maio do
ano de 2007, com a presença de pesquisadores e estudantes de todas as regiões do
Brasil e, também, de convidados internacionais dos Estados Unidos, da Europa e
da América Latina. Tendo como tema central “A Comunicação Organizacional e
as Relações Públicas no século XXI: um campo acadêmico e aplicado de múltiplas
perspectivas”, o evento confirmou que, tanto no âmbito acadêmico quanto na
esfera do próprio mercado de trabalho, existe hoje no País uma massa crítica capaz
de debater as interfaces, as modalidades e a produção científica nas duas áreas. O
congresso teve lugar na Universidade de São Paulo, tendo sido promovido em
parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
O II Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas – Abrapcorp 2008 aconteceu nos dias 28, 29 e 30 de abril de
2008, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), em
Belo Horizonte (MG), reunindo pesquisadores e estudantes das duas áreas de todo
o Brasil O tema central foi “Comunicação, sustentabilidade e organizações”, em
torno do qual se discutiram, entre outras questões, a contribuição da comunicação
para a sustentabilidade das organizações, ética e transparência nas organizações e
avaliação da ação comunicativa na sustentabilidade organizacional. Realizado em
parceria com a Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-Minas, o evento teve
um painel inaugural, quatro mesas-redondas, reuniões de oito grupos temáticos
para a apresentação de comunicações resultantes de pesquisas em nível de pós-
graduação e de trabalhos de iniciação científica, além de oficinas para alunos de
graduação.
O III Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp 2009 ocorreu nos dias 28, 29 e 30 de abril
de 2009, em São Paulo (SP), tendo sido realizado em parceria com a Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e seu
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, com o tema
central “Comunicação, humanização e organizações”. O evento contou com a
participação de cerca de quinhentos congressistas, provindos de todas as regiões
do País. Os debates levados a efeito nos painéis, nas mesas-redondas e no II
Fórum sobre as Bases Conceituais de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas ampliaram os horizontes dos estudos e da prática dessas áreas neste novo
contexto do século XXI..
O IV Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp 2010 ocorreu em maio de 2010, em Porto
Alegre (RS), em parceria com os Programas de Pós-Graduação em Comunicação
189
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
Cursos
Paralelamente à temática dos congressos anuais realizaram-se cursos com os
convidados internacionais, a fim de otimizar sua presença como professores
visitantes. Em 2007 foram oferecidos dois cursos de curta duração para alunos
pós-graduação participantes do congresso, ministrados por María Antonieta
Rebeil Corella (Escola de Comunicação da Universidad Anáhuac, do México) e
Antonio Castillo Esparcia (Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidad
de Málaga). Os temas por eles abordados foram, respectivamente, “Soluções de
comunicação para os ambientes organizacionais” e “Grupos de pressão, sociedade
da comunicação, lobby e Relações Públicas”. Em 2008, Stanley Deetz (University
of Colorado at Boulder) deu um curso dobre o tema “Comunicação estratégica
e colaborativa: tendências da comunicação organizacional”. Em 2009 foram
oferecidos os cursos “Estudos de Comunicação Organizacional numa perspectiva
crítica”, ministrado por Dennis Mumby (University of North Carolina at Chapel
Hill) e “Desenho e gestão de estratégia em contextos instáveis”, com Marcelo
Manucci (Universidad de Salamanca, Argentina). Em 2010, os cursos foram
“O sistema de mídia nas organizações”, a cargo de Nicole D’Almeida (Celsa-
Sorbonne, Paris) e “O conceito de utilidade pública na evolução da comunicação
pública”, oferecido por Rolando Stefano (IULMl – Universidade de Milão,
Itália).
190
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
Publicações
Uma das mais importantes frentes de atuação da Abrapcorp é a produção
de publicações impressas e eletrônicas das áreas de Relações Públicas e de
Comunicação Organizacional, como periódicos científicos e livros. A instituição
lança anualmente uma obra coletiva com os principais textos apresentados pelos
autores nos congressos, está nos planos produzir também uma serie didática
que possa contribuir diretamente com a formação acadêmica e profissional
nesses campos. Além desses meios fundamentais de comunicação, difusão e
democratização do conhecimento, a entidade criou e mantém também o seu
portal (www.abrapcorp.org.br).
Livros-coletâneas
A Abrapcorp, por meio de uma co-edição com a Difusão Editora, já lançou seus
três primeiros livros, com as temáticas dos congressos de 2007, 2008, e 2009,
dentro da Série Pensamento e Prática, que trará publicações originadas a partir
das discussões realizadas em cada edição do evento. Os temas mais relevantes para
a pesquisa em Comunicação Organizacional e em Relações Públicas apresentados
durante esses congressos anuais podem ser estudados com mais detalhes, graças à
publicação dessas coletâneas.
Produzidos por palestrantes, nacionais e internacionais, criteriosamente
selecionados pelos organizadores, os textos das obras abordam os temas de forma
mais profunda e mais completa que os anais dos congressos, com um conteúdo
rico e bem elaborado. Foi uma forma encontrada para democratizar a produção
do conhecimento que vem sendo gerado no âmbito da entidade.
A primeira obra tem o título Relações públicas e comunicação organizacional:
campos acadêmicos e aplicados de múltiplas perspectivas. Reunindo contribuições
do primeiro congresso da Abrapcorp (2007), ela é enriquecida com artigos
de autores renomados dos Estados Unidos, do México e da Espanha. Em 16
capítulos, distribuídos ao longo de três partes, se analisa a relevância das duas
áreas diante dos desafios da sociedade contemporânea, discutem-se as bases de
uma teoria brasileira para elas e se apresenta um panorama de seu “estado da
arte” no País, avaliando conquistas e tendências. A obra mostra que as interfaces
entre esses campos são uma realidade no Brasil, que já dispõe de massa crítica
para refletir sobre sua diversificada temática, contribuindo para sistematizar as
experiências vivenciadas na prática.
A segunda obra é A comunicação na gestão da sustentabilidade das
organizações, resultante das contribuições do segundo congresso anual da
Abrapcorp (2008). A sustentabilidade, que traz implicações para todos os
âmbitos, é o ponto de intersecção entre as estratégias de negócio de uma
organização e suas demandas econômicas, sociais e ecológicas. Abordar essa
temática, inserindo em sua discussão a dimensão comunicativa, é um dos
propósitos da obra. Com reflexões críticas de cunho acadêmico e técnico,
ela oferece subsídios a pesquisadores, profissionais e estudantes das áreas de
Comunicação Organizacional, Relações Públicas, Jornalismo, Publicidade,
Marketing, Administração e correlatas para compreender como a comunicação
pode contribuir com projetos de sustentabilidade.
192
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp
Perspectivas e tendências
O trabalho da Abrapcorp, por meio de suas frentes de atuação, já dá sinais concretos
de estar contribuindo para o avanço científico das áreas de Comunicação
Organizacional e de Relações Públicas. Os congressos anuais têm um histórico de
apenas quatro anos, mas já figuram entre os principais eventos científicos nacionais
da área de Comunicação Social do País. Os esforços da entidade fomentam a
produção acadêmica e o debate entre a universidade e a sociedade. E contribuem
para um frutuoso diálogo internacional entre pesquisadores brasileiros, latino-
americanos, norte-americanos e europeus.
O reconhecimento público da Abrapcorp se evidencia pelas parecerias
que tem feito para realização dos seus congressos anuais com Programas Pós-
Graduação em Comunicação de importantes universidades e pelo que tem
obtido apoio dos órgãos de fomento à pesquisa, tais como a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)e Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Os campos acadêmico-científicos de comunicação organizacional e
relações públicas estão instituídos no Brasil e contam com pesquisas e literatura
significativas. Essas áreas passam por um momento de grande efervescência
criativa e produtiva, tanto no meio acadêmico como no mercado profissional.
Enfim, as perspectivas são promissoras para as duas áreas. Os novos trabalhos
desenvolvidos indicam uma produção inovadora, com pesquisas empíricas e
reflexões teóricas com mais rigor metodológico e científico. O estágio avançado da
comunicação no Brasil e as novas exigências de uma crescente profissionalização
impulsionarão a universidade a criar mais espaços para a pesquisa e o ensino
nessas áreas. Temos hoje um mercado amplo e competitivo, tanto no âmbito das
organizações quanto no da prestação de serviços.
A conjuntura política do País, com o fortalecimento das instituições
democráticas, certamente contribuirá para o florescimento e a expansão das
duas áreas. Além disso, a nova postura das organizações diante da sociedade,
dos públicos e da opinião pública postula bases conceituais mais sólidas para a
prática profissional. E a Abrapcorp em todo esse contexto tem uma missão muito
importante a cumprir.
193
194
CAPÍTULO 10
Eugênio Trivinho1
Introdução
A Associação Brasiliera de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber2) constitui
entidade científica e cultural, interdisciplinar e sem fins lucrativos, com sede em
São Paulo/SP, cuja missão principal é congregar pesquisadores(as), Grupos de
Pesquisa, instituições e/ou entidades brasileiras em torno de temáticas pertinentes
ao campo de estudos sobre o fenômeno da Cibercultura; e de nuclear e consolidar
esse campo interdisciplinar de estudos, contribuindo para o desenvolvimento
científico, tecnológico e cultural do país (cf. Artigo 1 do respectivo Estatuto).
Fruto de um projeto semeado desde 2000, com a idéia preliminar lançada
no IX Encontro Nacional da COMPÓS, realizado na PUCRS, a ABCiber foi
fundada em 27 de setembro de 2006, por pesquisadores(as) de vários Programas
de Pós-Graduação de diferentes áreas das Ciências Humanas, Ciências Sociais
Aplicadas e Linguística, Letras e Artes no Brasil, então reunidos em Plenária
Especial do I Simpósio Nacional de Pesquisadores em Comunicação e
Cibercultura, organizado pelo CENCIB - Centro Interdisciplinar de Pesquisas
em Comunicação e Cibercultura, do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Comunicação e Semiótica da PUC-SP, e realizado nesta Universidade, no período
de 25 a 29 de setembro de 2006.
A criação da Associação foi divulgada em Nota Pública (de 07/10/2006)
para a comunidade nacional e internacional3.
Participaram da Plenária Especial de fundação os(as) seguintes
pesquisadores(as) (com seus vínculos institucionais à época):Adriana Amaral
(UTP);Alex Primo (UFRGS);André Lemos (UFBA);Diana Domingues
(UTP);Erick Felinto de Oliveira (UERJ);Eugênio Trivinho (PUC-SP);Fernanda
Bruno (UFRJ);Francisco Coelho dos Santos (UFMG);Henrique Antoun
(UFRJ);Juremir Machado da Silva (PUCRS);Lucrécia D´Alessio Ferrara (PUC-
SP);Marco Silva (UERJ e UNESA);Maria Cristina Franco Ferraz (UFF);Othon
Jambeiro (UFBA);Rogério da Costa (PUC-SP);Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro
(UFRJ);Simone Pereira de Sá (UFF);Theóphilos Rifiotis (UFSC);Vinícius
195
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Metas institucionais
1.Nuclear e consolidar no Brasil o campo interdisciplinar de estudos sobre
o fenômeno da Cibercultura, entendida em sentido amplo, como categoria
referente às configurações socioculturais contemporâneas articuladas por
tecnologias e redes digitais, contribuindo para o desenvolvimento científico do
país;
2.Congregar pesquisadores (as), Grupos de Pesquisa, instituições e/ou
entidades brasileiras em torno de temáticas pertinentes a esse campo de estudos;
3.Garantir condições institucionais e materiais necessárias à organização
continuada desse campo de estudos, atribuindo-lhe representação institucional
197
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Objetivos programáticos
1. Promover a circulação de conhecimento interdisciplinar renovado e
questionador no contexto de relações científicas, institucionais e culturais entre
2. Contribuir para a formação continuada de quadros intelectuais de
excelência, a partir da esfera de estudos da Cibercultura;
3. Organizar eventos científicos periódicos, com apoio de agências de
fomento e/ou instituições privadas, no âmbito de sua competência institucional
6 Os anais eletrônicos, indexados pela Biblioteca Nacional, contendo todas as conferências digitalizadas, estão
disponíveis em www.cencib.org/simposioabciber/anais.
198
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Apoios institucionais
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)
CAPES - Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Instituto Itaú Cultural
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FAPERJ - Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro
Apoios culturais
UCA - Teatro da Universidade Católica
Livraria Cortez (SP)
LocaWeb (provedor de acesso)
7 Uma apresentação geral da ABCiber e do campo da cibercultura no Brasil pode ser encontrada na con-
ferência de abertura desse Simpósio, disponível em http://www.cencib.org/simposioabciber/anais/mesas/
videos/?autor=Eugenio_Trivinho.
199
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
200
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Informações Relevantes
201
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
202
CAPÍTULO 11
203
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
204
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
205
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
5 MELO, José Marques de (organizador). Imprensa brasileira: personagens que fizeram história. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; São Brnardo do Campo, SP; Universidade Metodista de São Paulo.
Vol. 1 (2005). Vol. 2 (2005), Vol. 3 (2008) e Vol. 4 (2009).
6 Merece ser mencionado os quatro volumes organizados pelo GT de Publicidade e Propaganda, em torno das
reflexões sobre a história da publicidade no Brasil, bem como o livro organizado pelo GT de Mídia Sonora:
Klöckner, Luciano e Prata, Nair (Orgs.) HISTÓRIA DA MÍDIA SONORA Experiências, memórias e afetos de
Norte a Sul do Brasil, sob a forma de e-books, publicado pela EDIPUCRS, 2009, bem como MOURA, Claudia
(organizadora). História das Relações Públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
206
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Introdução2
Os estudos enfocando a historicidade dos meios de comunicação têm se
complexificado de forma acentuada, sobretudo, a partir do último decênio do
século XX. Ainda que possamos identificar uma longa tradição, sobretudo no
que diz respeito à história da imprensa, dos impressos e do jornalismo em geral,
a multiplicação dos processos comunicacionais nas últimas décadas acentuou a
necessidade de reflexões mais pontuais em torno dos meios eletros-acústicos e
digitais3.
Por outro lado, há que se considerar ainda que só recentemente os estudos
de história da mídia deixaram de considerar uma dinâmica linear para a análise
histórica dos meios de comunicação. Se durante o século XIX e boa parte do
século XX, dominaram as análises a perspectiva de uma história que pretendia
resgatar a integralidade do passado e, muitas vezes, limita-se a descrever práticas
desenvolvidas pelos atores sociais dominantes, observa-se gradativamente outro
direcionamento das análises, como procuraremos mostrar nesse texto.
Como quando nos referimos à história da mídia, estamos enfocando
complexos processos comunicacionais que dizem respeito ao jornalismo, às
mídias impressas em geral, às mídias visuais, audiovisuais, digitais e também
a uma reflexão historiográfica (envolvendo a dimensão teórica e metodológica
desses estudos) dos meios de comunicação, dividimos esta exposição em duas
etapas.
Na primeira parte vamos, mapear brevemente a tipologia dos estudos
históricos dos meios de comunicação, a partir dos 1183 trabalhos apresentados,
desde 2004, nos Congressos Anuais da Rede ALCAR, hoje, Associação Brasileira
dos Pesquisadores de História da Mídia. A partir desse diagnóstico numérico,
procuraremos enunciar os principais focos de pesquisa da área, a análise das
temáticas dos estudos históricos dos meios de comunicação, apresentando,
enfim, as tendências observadas no decênio 2000-2010. Num segundo momento
identificaremos os pesquisadores, descrevendo brevemente a comunidade
1 Presidente da Rede ALCAR.
2 Agradecemos os relatórios produzidos por Karina Woitowicz e Rozinaldo Antonio Miani (Mídia Alternativa);
Maria Berenice da Costa Machado (Publicidade e Propaganda); Claudia Moura (Relações Públicas); Ana Re-
gina Rego e José Ferreira Jr (Mídia Impressa); Luciano Klöckner (Mídia Sonora) e Valquíria Kneipp e Iluska
Coutinho (Mídia Visual e Audiovisual), sem os quais não teria sido possível a construção desse texto.
3 Sobre a longa tradição dos estudos históricos dos meios de comunicação, particularmente no que diz respeito
aos meios impressos cf. o prefácio de Marco Morel, em BARBOSA, Marialva. História Cultural da Imprensa
(1800-1900). Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.
207
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Diagnóstico em números
O primeiro Quadro (I), meramente quantitativo, indica o interesse crescente de
algumas áreas de estudos – como Mídia Impressa, Alternativa e Mídia Visual e
Audiovisual – e deixa evidente também a sedimentação, em termos numéricos,
de estudos em torno da história do Jornalismo, da história da mídia sonora e
da publicidade e propaganda, os que apresentaram, durante todo o período,
constância em termos de números de trabalhos apresentados nos Congressos.
Enquanto em Jornalismo, há uma média de 40 trabalhos apresentados em cada
um dos Congressos - com duas exceções, o menor número (29) no Congresso
de Santa Catarina, em 2004, e o maior número, no Congresso de Niterói, em
2008 (69) -, em Mídia Sonora obteve-se a média histórica de 30 trabalhos por
congresso. Já o GT Publicidade e Propaganda possui média histórica de 20
trabalhos por congresso (exceto, o Congresso de Niterói, que foi atípico).
208
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
autônoma a partir do II Encontro. No I Encontro havia apenas o de Mídia Impressa, englobando pesquisas
históricas de jornais, rádio e livro. 4) Ainda que os trabalhos de Mídia Visual e Audiovisual tenham sido
apresentados em separado, agrupamos no quadro os dois grupos, que a partir de 2008 passaram a
constituir um único GT. 5) No I Encontro não havia o GT de Midiologia que só foi criado em 2005. 6) No
I Encontro haviam seis grupos, assim constituídos: Mídia impressa (Jornal, Revista, Livro), Mídia Sonora
(Rádio, Disco), Mídia Visual (Fotografia, HQ, Cartazes), Audiovisual (Cinema, Televisão), Mídia Digital
(Web e NTCs), Mídia Persuasiva (Publicidade e RP).
209
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
210
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Número de trabalhos
Comunicação comunitária/independente/contra-hegemônica 26
Resistência à ditadura 19
Minorias sociais 15
Radiodifusão comunitária 10
Trabalhos conceituais 5
Aproximações temáticas 4
Trabalhos biográficos 2
Experiência acadêmica 1
4 Os quadros apresentam configurações um pouco díspares, uma vez que usamos a sistematização feita por cada
coordenador dos Grupos de Trabalho (GTs).
211
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
212
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
213
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
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História da mídia no Brasil, percurso de uma década
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História da mídia no Brasil, percurso de uma década
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História da mídia no Brasil, percurso de uma década
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História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Sudeste
Nordeste
Sul
Norte
219
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
220
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Considerações Finais
Deixamos para as últimas linhas desse texto algumas reflexões sobre o que, no
nosso entendimento, podem ser consideradas carências nos estudos envolvendo
a dimensão histórica dos meios de comunicação e as ações que a ALCAR pode
desenvolver no sentido de avançar essas reflexões.
Em que pese o crescimento expressivo das pesquisas, dos evidentes avanços
teóricos e metodológicos, observa-se ainda a carência de reflexões conceituais mais
globais sobre períodos, processos, meios de comunicação. Com isso, a pesquisa
apresenta-se, ainda, de forma fragmentada, o que impede, em certa medida,
maior complexificação das análises.
É, portanto, necessária a implantação de ações no sentido de construir
Núcleos Regionais fortes que, de maneira integrada, promovam pesquisas
também integradas sob temáticas pouco exploradas do ponto de vista das análises
conceituais.
A regionalização das ações da ALCAR, a constituição de núcleos de pesquisas
e a realização de pesquisas temáticas, com a participação de todas as regiões do país
são algumas das ações não apenas para solidificar a Associação, mas, sobretudo,
os estudos históricos sobre a mídia no Brasil. A primeira pesquisa desta natureza,
sobre as rádios de 21 regiões metropolitanas brasileiras foi realizada pelo GT
de Rádio. A segunda – A imprensa antes da Impressão – será realizada a partir
do início de 2011, sob a coordenação geral da Diretoria Científica da ALCAR.
221
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
222
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Anexo I
Instituições mais presentes nas oito edições dos Congressos da ALCAR
Região Norte Região Centro Região Nordeste Região Sudeste Região Sul
Oeste MG/ES/RJ/SP PR/SC/RGS
UFT UFMT UFRN UNI-BH UEL
UNIRON UNB UFPI UFMG UNICENTRO
UFJF
UFMA UEPG
UFV
UFC UFSC
UFSJ
UNIFOR UVV UTP
UFPE FAESA ........................
UFPB UFOP FEEVALE
UNIPAC
FIB UFRGS
..................
CEFET-AL PUCRS
UFRJ
UEPB UFF UFSM
AMI UNICARIOCA UCS
UEMA UERJ São Borja
UNIRIO
UNICEUMA UPF
UNESA
Fac. São Luiz UCAM UNIVATES
FSD UCPel
..................
UNIMAR
UNIFIAM
UMESP
MACKENZIE
UNISANTA
UNITAU
FACASPER
UNIP
UNESP
PUCCampinas
IHGSP
USP
CIEESP
ABERJE
223
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Anexo II
224
CAPÍTULO 12
Adolpho Queiroz1
Introdução
A redemocratização do Brasil, nos anos 1980, ensejou ao campo profissional e
acadêmico, no entorno da atividade político-comunicacional, um desenvolvimento
muito grande. Se antes dos dias mais difíceis da ditadura militar, era impossível
conjugar possibilidades de pesquisa e atividade profissional no campo, depois
dela, cresceu em interesse, proporção e competência, o espaço brasileiro de
observação, análise e inovação no campo da propaganda política.
A abertura política da década de 1980 trouxe consigo uma vida pluripartidária,
liberdade de imprensa e expressão em todos os veículos, bem como a necessidade
de profissionalização neste campo de atuação, fazendo surgir uma série de espaços
para a pesquisa, para o desenvolvimento profissional de jornalistas, publicitários,
relações públicas, cineastas, escritores e planejadores, que trouxeram para a
interface comunicação e política um nível de interesse acentuado.
Além de exportador de mão de obra qualificada para a realização de
campanhas eleitorais na América Latina, Europa e África, o Brasil possui hoje
um repertório acadêmico de excelente nível, por conta de suas ações no ensino
de graduação e nas pesquisas de pós-graduação. Vários cursos de Publicidade e
Propaganda – hoje são mais de 600 espalhados pelo país – possuem em sua grade
curricular, a disciplina “Propaganda Política”, onde seus alunos aprendem a realizar
campanhas eleitorais completas (briefing, planejamento, história do candidato e
da cidade onde ocorrerá o pleito, pesquisas de intenção de voto, agenda política e
mercadológica de uma campanha, legislação eleitoral, criação dos brindes gráficos
de uma campanha, produção de programas de rádio e televisão, planejamento de
mídia e dos custos de uma campanha).
Tais ações são desenvolvidas para o lançamento de campanhas municipais de
prefeitos e vereadores, tem apresentações públicas realizadas diante dos próprios
candidatos/clientes, que avaliam todos os aspectos técnicos e estéticos das peças e
discutem a viabilidade financeira dos exercícios propostos.
Em outras instituições, é comum os estudantes de graduação debruçarem-se
225
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
2 Entre os artigos apresentados nos congressos da INTERCOM e reunidos naquele volume estão “O pittagate
num jornal de causas”; “Mário Covas e o imaginário de um povo na mídia”; “Roseane Sarney, que era de vídeo
e se quebrou”; “As eleições de 2002 nas entrelinhas das revistas”.
3 Os livros são “Propaganda, história e modernidade”, Editora Degaspari: 2005, Piracicaba, onde é possível
encontrar os artigos “Floriano Peixoto, consolidador da República no Brasil”, de Bruna Vieira Guimarães;
“Marketing político de Lula em 2002: os posicionamentos das revistas Cartacapital, Veja e Primeira Leitura”,
de Ingrid Gomes e “Propaganda política no Estado Novo”, de Patrícia Polacow e Mauricio Romanini, todos
os alunos do programa de pós-graduação em Comunicação da UMESP. O outro livro referência é “Sotaques
regionais da propaganda”, Editora Arte e Ciência, São Paulo: 2006, onde é possível encontrar o artigo “A censura
na propaganda ideológica nos impressos no início da república”, de Bruna Vieira Guimarães, sendo os dois livros
organizados pelo autor deste artigo.
227
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
Neves, Prudente de Morais, José Sarney, Rodrigues Alves, Campos Sales, Castelo
Branco, Emilio Médici, Ernesto Geisel,Costa e Silva,Fernando Henrique
Cardoso,Washington Luiz,Nilo Peçanha,Artur Bernardes, e dois estudos
específicos sobre a vitória de Luis Inácio Lula da Silva, uma vendo a cobertura
jornalística através da Folha de S.Paulo e outra sobre as revistas CartaCapital, Veja
e Primeira Leitura.
Também foram defendidas três teses de doutorado sobre o tema: uma
fazendo um inventário das opções metodológicas utilizadas nas dissertações de
mestrado, mostrando de que forma os candidatos se articularam com jornais,
revistas, emissoras de rádio e televisão; outra mostrando a evolução do conceito de
marketing político na televisão brasileira; e uma terceira, mostrando de que forma
um ex-prefeito de cidade do interior conseguiu reverter um processo eleitoral
desfavorável ao seu candidato indicado, através do canal de TV local.
Há ainda em processo, estudos sobre as campanhas eleitorais de João Goulart,
João Baptista Figueiredo e o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso.
Outra tese de doutorado em construção discutirá o impacto da urna eletrônica no
processo comunicacional sobre eleições majoritárias e proporcionais no Brasil.
Em outra vertente, a UMESP, em parceria com a Cátedra UNESCO de
Comunicação para o desenvolvimento regional já organizou no seu próprio campus
e nos campi de outras instituições de ensino do Estado de São Paulo, o Sociedade
Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais em Comunicação e Marketing Político
(POLITICOM) que tem sido igualmente um espaço de difusão e troca de idéias
sobre o tema. Nas suas nove edições – três na UMESP, uma no Instituto Superior
de Ciências Aplicadas, de Limeira/SP, outro nas Faculdades Claretianas de Rio
Claro/SP, na Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara d Oeste, na Faculdade
Prudente de Moraes em Itu, na Universidade de Taubaté e em 2010, no Centro
Universitário Salesiano de Americana, Unisal reuniu especialistas de renome
como Gaudêncio Torquato, Carlos Eduardo Lins da Silva, Venício Artur de Lima,
Graça Caldas, Carlos Manhanelli, Marcelo Melo, Cristiane Salles, Letícia Costa,
Antonio Hohlfeldt (presidente da Intercom), Sonia Virginia Moreira, Luciana
Panke, Paulo Roberto Figueira Leal, além dos deputados Francisco Sardeli (PV),
Célia Leão (PSDB) e Roberto 0Felício(PT) e do diretor para assuntos da América
Latina da Fundação Konrad Adenauer, Peter Beherens.
Ao lado deles, pesquisadores de diversas universidades brasileiras
apresentaram suas comunicações, bem como estudantes de graduação puderam
apresentar trabalhos de pesquisa aplicada, com resultados concretos de
campanhas eleitorais construídas especialmente para esta finalidade. Em 2007
o evento aconteceu na Faculdade Anhangüera, em Santa Bárbara d´Oeste/SP e
além de palestras, conferências, lançamentos de livros e revistas especializadas,
o evento possui Grupos de Trabalho sobre propaganda política em jornais,
229
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
4 Entre os artigos, destaco “Prudente de Morais: a visão singular como sustentáculo do fenômeno coletivo”,
de Mauricio Romanini; “Getúlio Vargas: a propaganda ideológica na construção do líder e do mito”, de Karla
Amaral; “Peixe vivo em água fria: Juscelino e a propaganda política”, de João Carlos Picolin; “Jânio Quadros:
as representações metafóricas da vassoura no imaginário popular”, de Eduardo Grossi; “Tancredo Neves: muda
Brasil! Volta a sorrir meu Brasil!”, de Hebe Gonçalves; “José Sarney: você conhece o mapa da mina”, de Paulo
César D´Elboux; “Fernando Collor de Melo: encenações rituais do espetáculo político”, de Ricardo Costa;
“Itamar Franco: imagem política nas conotações do fusca”, de Aparecida Amorim Cavalcanti.
230
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
assunto.
Por fim, com estas informações e referências, é possível constatar que o
marketing político e a propaganda política deixaram de ser utilizados de forma
amadora no Brasil após a ditadura militar e têm experimentado um crescimento
muito grande no campo profissional e no âmbito da pesquisa científica. Setores
que se retro alimentam em períodos eleitorais, que refletem sobre causas/efeitos
na presença da mídia nos períodos eleitorais e, especialmente, que têm sido
levadas as salas de aula, presenciais ou virtuais, do Brasil contemporâneo, para
que seja compreendido teoricamente, aplicado metodologicamente e difundido
como ciência.
E mais do que isso, estas técnicas e procedimentos têm sido repassadas
também – a partir de sua dimensão teórica – a outras organizações que delas
se utilizam, como eleições que ocorrem periodicamente no País em sindicatos,
ONGs, associações de classe, clubes sociais/esportivos/recreativos.
231
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
rádio e ficou feliz da vida quando lhe compuseram uma marchinha de carnaval,
cuja estrofe dizia o seguinte:
Nos anos 50, Juscelino Kubistcheck de Oliveira, consagrou sua ação a partir
da criação de um slogan imbatível, construído pelas letras iniciais do seu próprio
nome. “JK” foi uma poderosa marca de comunicação no período em que ele
governou o Brasil, construiu Brasília, programou a primeira fábrica de automóveis
e adotou como marca a frase “fazer o Brasil crescer 50 anos em 5.”
Depois dele, Jânio Quadros, com seu estilo peculiar de fazer propaganda
política, vestindo-se como um ferroviário ou como molambento, criou outra
marca histórica da propaganda política do Brasil, utilizando-se de uma vassoura
como símbolo para eliminar a corrupção no cenário político nacional. É daquele
período o jingle “varre, varre, vassourinha...”
Os anos 60 encontraram o Brasil mergulhado numa profunda crise
institucional, com reflexos no desenvolvimento das ações político-partidárias, a
criação e manutenção de um regime de exceção sob governos militares , fechamento
do Congresso Nacional, perseguições a militantes políticos, entre outras ações
nefastas. É daquele período o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, cunhado pela
equipe do general Emílio Médici, como um convite às oposições para que se
calassem, condenando-as ao exílio. A apreensão do tablóide humorístico “O
Pasquim”, que satirizou o slogan, incluindo a ele o complemento, “Brasil, ame-o
ou deixe-o... e o último que sair, apague a luz”, é apenas uma das marcas da
censura e da repressão política no período, quando os jornais publicavam receitas
de bolo, poemas de Camões ou fotos de flores e borboletas quando tinham suas
matérias censuradas.
Os anos 70 pegaram o Brasil numa luta intensa pela sua redemocratização,
com movimentos de fortalecimento da sociedade civil, cujos slogans mais
marcantes foram o da “anistia, ampla, geral e irrestrita”, ou a convocação de uma
Assembléia Nacional Constituinte.
Nos anos 80, do ponto de vista da propaganda política, o movimento
pelas eleições “Diretas-Já”, foi sem dúvida o momento mais expressivo. Um
movimento nacional que empolgou a sociedade civil e promoveu grandes
concentrações populares. As “Diretas-Já” transformaram-se em slogan, jingles,
outdoors, cartazes e uma parafernália de peças que saíram dos grandes, médios e
232
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
pequenos centros urbanos para que o Brasil pusesse fim ao período da ditadura
militar. É do final dos anos 80 também o episódio da realização das primeiras
eleições livres e diretas para a escolha de um Presidente da República. Sob o
slogan “Caçador de marajás”, o governador de Alagoas, Fernando Collor de
Melo enfrentou as primeiras eleições sob um movimento cultural diferenciado
da propaganda política. Foi a primeira eleição que teve todos os requintes da
moderna comunicação de massa, envolvendo simultaneamente jornais, rádios,
televisões, outdoors, revistas e mídias promocionais e alternativas distribuídas
fartamente. Seu maior opositor, o ex-metalurgico Lula, do PT, criou o slogan
“sem medo de ser feliz”.
Os anos 90 surgem com o “impeachment” de Collor, a ascensão de Itamar
Franco ao poder, com a ridicularização do seu “topete” como marca registrada
dos chargistas contra sua postura de indeciso, ao lado de um provincianismo
marcante, que legaram poucos momentos criativos em termos de propaganda
política.
Seu sucessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso participou dos
embates políticos e da segunda eleição presidencial, tendo como símbolo a mão
espalmada, mostrando nos cinco dedos, suas prioridades políticas no campo da
educação, saúde, transportes, habitação e agricultura. Cardoso venceu as eleições
no primeiro turno, contra o slogan igualmente marcante de Lula, com o “Lula-
lá”.
Na seqüência foram oito anos do governo Lula, inspirados sob a propaganda
eleitoral e pós eleitoral de Duda Mendonça e João Santana, que coordena
também em 2010 a campanha da presidenciável Dilma Roussef pelo Partido dos
Trabalhadores.
A par destes acontecimentos nacionais, que nos ajudam a refletir sobre
o impacto da comunicação política, o restabelecimento dos procedimentos
democráticos e a realização de eleições livres e diretas em todos os níveis, de
vereador a Presidente da República, possibilitaram a presença de profissionais de
comunicação especializados em propaganda política.
Trata-se de um campo em busca de aperfeiçoamento de ações e de
aprofundamento qualitativo. Uma legislação em contínua mudança tem impedido
um planejamento mais adequado na área. A cada novo ano, uma novidade. A
novidade de 97 é a apresentação de forma diluída pelas emissoras de rádio e
televisão, em forma de “clips”, das propostas dos partidos.
O que virá pela frente? Os desafios nos levam a acreditar na pesquisa de
novas formas de utilização destes espaços como perspectiva inexorável para a
consolidação deste campo de ação. A construção da imagem pública de um ator
político deve passar pelo crivo inexorável da ética. Afinal, ao fabricarmos Collors
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Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
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Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional
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CAPÍTULO 13
Betania Maciel1
Introdução
Podemos afirmar que a teoria da Folkcomunicação é a primeira teoria brasileira
das Ciências da Comunicação e da Informação. Nasceu sob a égide de outras duas
iniciativas pioneiras: a fundação do primeiro Instituto de Ciências da Informação,
ICINFORM, e sua publicação oficial, o primeiro periódico de estudos e pesquisas
científicos em Comunicação do país, Comunicações & Problemas. Foi assim
que a cultura popular, como objeto de estudos científicos, ganhou dimensões
multidisciplinares.
De 1961 até sua morte, em 1986, o jornalista e pesquisador pernambucano
Luiz Beltrão (1918) preocupou-se em instalar e solidificar as bases da educação
superior e formação de jornalistas. Por influência do CIESPAL, agregou às suas
metas o incentivo à pesquisa sobre cultura e comunicação. No primeiro periódico
científico de estudos e pesquisas em comunicação do país, Comunicações &
Problemas, inspirado na publicação de excelência da época, Journalism Quarterly,
lançou as bases para a pesquisa de uma nova disciplina, a Folkcomunicação. Já
no primeiro número publica o artigo “O ex-voto como veículo jornalístico”, a
semente germinal das pesquisas em Folkcomunicação. Segundo definição do
próprio autor, o “estudo dos agentes e dos meios populares de informação de
fatos e expressão de ideias”. O universo da pesquisa proposto estende-se para o
estudo dos processos comunicacionais de significação, mediante o entendimento
do funcionamento das estratégias e enunciações, dos discursos, da produção
e recepção de manifestações culturais populares. Folkcomunicação é, assim, o
processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, ideias e
atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao
folclore (BELTRÃO,2007).
A Folkcomunicacão não é, pois, o estudo da cultura popular ou do Folklore,
é bom que se destaque. É o estudo dos procedimentos comunicacionais pelos quais
as manifestações da cultura popular ou do folclore se expandem, sociabilizam-
se, convivem com outras cadeias comunicacionais, sofrem modificações por
influência da comunicação massificada e industrializada ou se modificam quando
1 Presidente da Rede Folkcom. Professora titular da Faculdade Integrada de Pernambuco. Doutorado em Co-
municação pela Umesp, São Bernardo. Professora do Programa de Mestrado em Extensão Rural para o Desen-
volvimento Local - POSMEX na Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, professora titular da
Faculdade Santa Maria e da Faculdade Boa Viagem.
243
Folkcom - Origens da Entidade
A Rede Folkcom
A ideia de criar uma rede de pesquisadores da Folkcomunicação nasceu,
durante as discussões realizadas no seminário internacional sobre as identidades
culturais latino-americanas, promovido pela Universidade Metodista de São
Paulo (UMESP) em 1995, como evento preparatório para a instalação da Cátedra
UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional nesta instituição.
Sob a coordenação do professor José Marques de Melo, os pesquisadores se
reuniram e organizaram a I Conferência Brasileira de Folkcomunicação, realizada
na UMESP, em agosto de 1998, onde foi criada a Rede Folkcom. Desde então
seus pesquisadores vêm assumindo um papel decisivo no resgate do pensamento
comunicacional de Luiz Beltrão. Entre outras contribuições do mestre, José
Marques de Melo destaca “as ideias sobre interação entre cultura popular, cultura
midiática e cultura eruditas, decisivas para neutralizar o preconceito que certos
segmentos da nossa intelectualidade esboçam em relação ao saber popular”.
A Cátedra UNESCO possui um papel fundamental nesse processo, como
incentivadora e catalisadora de ações. Além de promover as conferências anuais,
a Cátedra decidiu realizar uma série de pesquisas comparativas, com a finalidade
de dar sentido acadêmico à Rede que começava a se constituir. A primeira foi
realizada em 1996, focalizando as imagens midiáticas do Natal brasileiro.
Porém, há um longo caminho a percorrer na luta para que a Folkcomunicação
seja aceita plenamente pela academia. Segundo ainda Marques de Melo (2006),
“A resistência acadêmica a novos campos da pesquisa faz parte da trajetória
conservadora das nossas universidades. As culturas popular e massiva, mesmo
depois de meio século da presença dos estudos de comunicação no Brasil,
ainda continuam a ser vistas com menosprezo por setores universitários
geralmente ancorados em postulados dogmáticos. Isso, contudo, não
nos deve atemorizar. Cabe aos pesquisadores de Folkcomunicação, como
de outras disciplinas conexas, enfrentar as resistências no plano teórico,
argumentando, além de avançar na produção de conhecimentos capazes de
demonstrar a pertinência dos referenciais escolhidos. A legitimação dos novos
campos do saber demanda tempo, competência e perseverança. Quanto mais
se avoluma e adquire densidade um novo segmento investigativo, é natural
que suscite reações, especialmente daqueles que se sentem ameaçados ao
constatar que perderam a hegemonia intelectual. Estamos vivendo uma
conjuntura marcada pelo pluralismo teórico e metodológico, onde há
espaço para todas as correntes de idéias”.
244
Folkcom - Origens da Entidade
FolkComunicação;
• II Folkcom´99 – Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei -
FUNREI - São João del Rei – MG. Tema: Homenagem especial ao
centenário de nascimento do folclorista Luís da Câmara Cascudo;
• III Folkcom´2000 - Universidade Federal da Paraíba - UFPB- João Pessoa
–PB. Tema: Folclore, Mídia e Turismo;
• IV Folkcom´2001 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS -Campo Grande -MS. Tema: As festas populares como processos
comunicacionais;
• V Folkcom´2002 - Centro Universitário Monte Serrrat -UNIMONTE-
Santos –SP. Tema: A imprensa do povo;
• VI Folkcom´2003 – Faculdade de Filosofia de Campos- Curso de
Comunicação Social Campos de Goytacazes – RJ. Tema: Folkmídia.
Difusão do folclore pelas indústrias midiáticas;
• VII Folkcom´2004 – UNIVATES - Centro Universitário - Lajeado –RS.
Tema: Folkcomunicação Política.
• VIII Folkcom´2005 - CEUT -Terezina –PI. Tema: A comunicação dos
pagadores de promessas: Do ex voto à indústria dos milagres;
• IX Folkcom´2006 - Universidade Metodista de São Paulo – UMESP -
São Bernardo do Campo –SP. Tema: Folkcomunicação e cibercultura a
voz e a vez dos excluídos na arena digital;
• X Folkcom´2007 - Departamento de Comunicação da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR) - Programa de Mestrado em Ciências
Sociais Aplicadas. Tema: A comunicação dos migrantes - Fluxos massivos,
contra-fluxos populares
Analisando as tendências existentes no país e suas perspectivas, neste ano
de 2007, comemoraram-se os dez anos do evento, tendo como abordagem as
perspectivas de pesquisa em Folkcomunicação que reconhecem como uma de
suas bases elementares a cultura dos “marginalizados”, entendida como espaço
de comunicação e expressão de modos de agir, crenças e referências identitárias.
Nesta abordagem, Luiz Beltrão (1980 e 2001) menciona a existência de três
tipos de exclusão: grupos rurais marginalizados, grupos urbanos marginalizados
e grupos culturalmente marginalizados. Embora esta perspectiva tenha sido
pensada em um contexto que remete aos anos de 1950 e 1970 no Brasil, ainda
mantêm sua atualidade e pertinência, permitindo determinadas contextualizações
em torno desta temática. A proposta temática, baseada nas contribuições dos
processos imigratórios e migratórios na construção da cultura, permite alguns
246
Folkcom - Origens da Entidade
248
Folkcom - Origens da Entidade
249
Folkcom - Origens da Entidade
uma oportunidade, (...) “por ser um campo virgem a ser pesquisado no Brasil”.
Em 2006, depois do mandato inicial de Cristina Schmidt, a professora
Betania Maciel assume a nova presidência da Rede que se propõe como
objetivo fortalecer esta rede de pesquisa através da captação de associados e
do fornecimento de serviços diferenciados a seus pesquisadores. Além disso, é
fixado o objetivo de ampliar os limites teóricos, práticos e metodológicos dos
estudos de Folkcomunicação, fazendo conexões com os estudos das culturas
populares, desenvolvimento local, inclusão social. Finalmente, destacou o papel
das tecnologias de informação e comunicação na mediação destes processos, para
permitir o trabalho colaborativo e agilizar a comunicação científica entre seus
membros e pesquisadores, com o desenvolvimento e lançamento de um portal
3
na Internet coordenado pelo professor Marcelo Sabbatini.
Uma das iniciativas foi a criação do Núcleo de Pesquisa através do Programa
de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX) da
Universidade Federal Rural de Pernambuco para desenvolver pesquisas temáticas
inter-regionais, com foco no uso das mediações culturais com o objetivo de
promover o desenvolvimento local junto a cooperativas, movimentos sociais,
assentamentos, quilombolas, comunidades indígenas e demais atores sociais
tradicionalmente excluídos do processo de comunicação, utilizando, além
disso, cortes de análise geracionais e de gênero.O estudo das culturas populares
através de suas expressões folclóricas busca fortalecer as condições materiais e
imateriais não somente de forma imediata, mas promover um programa de auto-
sustentabilidade em longo prazo para estas comunidades.
E em janeiro de 2008, sob a edição de Betania Maciel é publicado o número
especial da Revista Razón y Palabra4. Editada pelo Instituto Tecnológico de
Monterrey (México), a chamada “primeira revista eletrônica na América Latina
especializada em Comunicação” tem como coordenador de seu projeto Internet
o Professor Octavio Islas e membro da diretoria executiva da ALAIC. O número
especial Folkcomunicação destacou o papel desta teoria como genuinamente
brasileira e como uma das principais contribuições teóricas de seu fundador,
Luiz Beltrão, ao campo da Comunicação. Ao longo de suas páginas virtuais, a
edição trouxe nomes como José Marques de Melo, Heitor Costa da Lima Rocha,
Antonio Teixeira Barros, Osvaldo Trigueiro, Maria Cristina Gobbi, Irenilda
Souza Lima, Maria Érika Oliveira, Andréia Moreira, Augusto Aragão, Marcelo
Sabbatini para compor o cenário brasileiro da pesquisa, metodologia, teoria e
prática da Folkcomunicação, apresentando ao leitor internacional a perspectiva
futura desta disciplina, enlaces teóricos, seus fundamentos históricos, assim como
3 Disponível em http://www.redefolkcom.org
4 Disponível em http://www.razonypalabra.org.mx
250
Folkcom - Origens da Entidade
Perspectivas da Folkcomunicação
A Rede Folkcom, dentro de suas atividades para 2010 propõe a organização
de dois livros onde pesquisadores associados regulares participarão do
desenvolvimento editorial de dois trabalhos, cujo objetivo principal é consolidar
o conhecimento teórico e metodológico do campo da Folkcomunicação
contribuindo para sua melhoria e melhor especificidade da sub-área.
251
Folkcom - Origens da Entidade
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Folkcom - Origens da Entidade
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Folkcom - Origens da Entidade
por seu aspecto inovador e libertário inclusive em relação a seu objeto, talvez pelo
simples conservadorismo acadêmico, a comunidade acadêmica da comunicação
estaria hoje em prejuízo se ignorasse os aportes folkcomunicacionais.
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Folkcom - Origens da Entidade
255
Folkcomunicação: memória institucional
Cristina Schmidt1
Introdução
Há 43 anos Luiz Beltrão inaugura uma disciplina no campo da Comunicação
voltada ao estudo dos processos comunicacionais do folclore, a Folkcomunicação.
É a gênese de uma teoria autenticamente brasileira de Comunicação. Diferente
de outros estudos voltados para a comunicação do mundo, esse é um rico sistema
que contém “um traço de universalidade que advém de sua fundamentação no
folclore” com raízes bem arraigadas, independentemente das características de seus
agentes produtores. Beltrão salienta que “enquanto os discursos da comunicação
social são dirigidos ao mundo, os da folkcomunicação a um mundo em que
palavras, signos gráficos, gestos e atitudes, linhas e formas mantêm relações
muito tênues com o idioma, a escrita, a dança, os rituais, as artes plásticas, o
trabalho e o lazer, com a conduta, enfim, das classes integradas da sociedade”.
(BELTRÃO,1980, p.40)
Essa disciplina vem ganhando destaque a cada dia, e conquista
sintomaticamente um número crescente de adeptos – pesquisadores e professores
que trabalham com a temática a luz da teoria da Folkcomunicação e de metodologias
próprias. Esse crescimento se deve principalmente a dois aspectos, ligados ao
quadro sócio-econômico delineado no final do século passado com a globalização
acentuada e com a expansão de novas tecnologias de comunicação, configurando
novos espaços e linguagens para a inserção do popular e do folclórico.
No primeiro aspecto, verifica-se uma ampliação das culturas regionais
e locais com produtos e processos nas mídias massivas algumas vezes são
apropriadas, outras se posicionando e utilizando esses mecanismos em seu
benefício. Essa experiência faz com que as manifestações “atualizem-se” ou criem
linguagens próprias para inserção na sociedade midiatizada. Ainda dentro desse
ponto, e que favorece os estudos de folkcomunicação, existe uma tendência
mundial de regionalização, um olhar do “capital” sobre a cultura folk. Ocorre
uma visualização da cultura local como fator de desenvolvimento e consolidação
de diferenciais entre grupos, e de sua protagonização na cultura global. As
1 Doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na área de Comunicação e Semiótica. Pertence
ao Grupo de São Bernardo de pesquisadores, ligado à Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação Regional.
Atuou como professora e orientadora no Mestrado em Educação na Fundação Lusíada – Santos/SP. Coordena
o GP de Folkcomunicação na Intercom. Coordena os Cursos de Jornalismo e Radialismo (Rádio e TV) na
Universidade de Mogi das Cruzes/SP.
256
Folkcomunicação: memória institucional
2 Tomamos folclore como a “expressão das aspirações e expectativas populares” (CARNEIRO, 1965, p. 22) que
represente o pensar, o sentir e o agir das comunidades. E, ao mesmo tempo, entendendo-o como “ processo de
intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, idéias e atitudes da massa” (BELTRÃO, 1971, p. 15).
257
Folkcomunicação: memória institucional
A teoria brasileira
A perspectiva da Folkcomunicação de Luiz Beltrão, “encontrou dupla resistência:
a dos folcloristas conservadores (que pretendiam defender a cultura popular das
investidas midiáticas modernizantes) e a dos comunicólogos libertadores (que
pretendiam fazer da cultura popular o cavalo de tróia das suas batalhas políticas
em lugar de apreender nessas manifestações o limite da resistência possível de
comunidades empobrecidas cuja meta é a superação da marginalidade social)”,
explica Marques de Melo (2001).
Na verdade, a militância profissional de Luiz Beltrão irá colocá-lo sempre
como um desbravador de fronteiras no campo da comunicação e do jornalismo.
Nascido em 8 de agosto de 1918 na cidade de Recife, estado de Pernambuco,
criança ainda, escolheu seguir uma vida religiosa como padre católico. Entrou
para o Seminário de Olinda, mas o diretor da instituição logo percebeu seu
potencial e o apoiou para encontrar no jornalismo sua forma de conhecer povos,
culturas e alimentar sua vivacidade.
Inicia sua carreira no O Diário de Pernambuco, em 1936. Foi revisor,
arquivista de clichês, tradutor de telegrama e repórter. Recebeu o registro
profissional após quatro anos de atuação. Trabalhou em “rádio, revistas, agências
e assessoria de imprensa, acumulando experiência que incluiu passagens pelo DIP,
e pela presidência da Associação de Imprensa de Pernambuco e sua participação
na criação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais. Também trabalhou em
diversos jornais como Diário de Pernambuco, Correio do Povo e Jornal Pequeno,
nas agências de notícias Asa Press e France Press e nas revistas Tudo, Guanabara
Press, São Paulo Press e Capibaribe. Exerceu a profissão durante quase 30 anos.”
(GOBBI, in SCHMIDT, 2006, p.298.
A prática cotidiana do jornalismo é o campo motivador das reflexões de Beltrão,
e isso o leva a desenvolver estudos científicos sobre os processos de comunicação
dos grupos marginalizados. Intrigado com os mecanismos de comunicação dos
258
Folkcomunicação: memória institucional
259
Folkcomunicação: memória institucional
Áreas de pesquisa
Os estudos de Folkcomunicação foram ampliados por seguidores de Luiz Beltrão.
Ex-alunos e adeptos de suas teorias, têm expandido seus conceitos e estabelecem
relações novas e diversas com os meios de comunicação de massa e, também,
com o universo digital da internet. Originalmente a Folkcomunicação foi
proposta para o estudo dos processos comunicacionais populares autênticos,
“bem como a folkmídia enquanto recodificadora das mensagens previamente
veiculadas pelos mass media.” E como bem coloca Marques de Melo, esses novos
empreenderores no estudo da comunicação folk “procuram desvendar de que
maneira a folkcomunicação atua como retroalimentadora das indústrias culturais,
seja pautando matérias jornalísticas, gerando produtos ficcionais, embasando
campanhas publicitárias e de RP ou invadindo espaços de entretenimento”
(MELO, 2000, p.21)
O professor Roberto Benjamin, discípulo e continuador das idéias de
Beltrão, tem constantemente apresentado reflexões e inventariado as pesquisas
260
Folkcomunicação: memória institucional
A rede Folkcom
Passadas mais de quatro décadas com pesquisas regionais e nacionais, seminários
regionais e conferências nacionais, pesquisadores envolvidos com as reflexões e
produções acadêmicas em Folkcomunicação ganharam representatividade efetiva
no campo da comunicação e conquistaram espaços nas principais organizações
científicas, como a Intercom e a ALAIC com a criação de grupos de trabalho
específicos. Com o fortalecimento de um grupo significativo de pesquisadores,
constituiu-se em 2004 a organização não governamental Rede de Estudos e
Pesquisas em Folkcomunicação (Rede Folkcom). A Rede passou a ser, então, o
núcleo promotor de pesquisas, intercâmbios e diálogos.
262
Folkcomunicação: memória institucional
263
Folkcomunicação: memória institucional
proposta do Folkcom Imagem e Som, como uma mostra audiovisual das pesquisas
empíricas realizadas na área.
Outros pesquisadores emergentes que se envolvem com o campo da
Folkcomunicação em várias regiões do país: Marlei Sigristi (MS), Antonio Teixeira
Barros (DF), Karina Janz e Sergio Gadini (PR), Marcelo Oliveira e Marcelo
Corniani (SP) e Antonio Hohlfeldt (RS). Esses autores apresentam importantes
contribuições teóricas, na ordem: descreve e conceitua a festa como comunicação
popular, analisa a contribuição de Gilberto Freyre e das relações públicas para
o estudo teórico da Folkcomunicação, estuda as lendas e culturas imigrantes,
aborda o uso político de expressões populares, ao mesmo tempo, faz um percurso
metodológico para analisar as relações entre os estudos de mídia e política. Coloca
a história oral como método de estudo para as manifestações folk, trabalha o
universo da web e as manifestações culturais urbanas e, por fim, a partir de uma
re-visita às teorias iniciais aponta à interdisciplinaridade, necessária ao complexo
e relevante campo de estudo, e atualiza os conceitos iniciais.
A pesquisa de Folkcomunicação rompe fronteiras e se expande para
alguns países da América Latina e da Europa. Conta pesquisas da Colômbia,
México e Portugal com estudos sobre a radiodifusão e o folclore, religiosidade e
identidade regional, e em outros mares, com estudos de literatura oral nos setores
marginalizados lusitanos.
Todas essas contribuições estão organizadas na Rede Folkcom em quadro
grandes áreas de pesquisa: Teoria e Metodologia que apresenta as reflexões dos
conceitos e dos processos que resultam na compreensão ou na atualização do
arcabouço folkcomunicacional; Gêneros e Formatos desenvolve temas que
estudam as formas tradicionais de comunicação das camadas populares, conforme
enunciadas por Luiz Beltrão, bem como as diferentes mídias e conteúdos; Política
e Contemporaneidade discute as formas e as estratégias de ação política que
envolvem a Folkcomunicação - como apropriações efetuadas por organizações
políticas e/ou partidárias, ou como manifestações espontâneas de indivíduos
ou grupos que se posicionam na rede midiática; Festividades e Turismo, expõe
as análises sobre as festas populares, artesanato, culinária, músicas, danças; o
contexto, a apropriação pelo turismo e as novas abrangências organizacionais.
As conferências
265
Folkcomunicação: memória institucional
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Folkcomunicação: memória institucional
Espanha, Japão, EUA. Este painel foi coordenado pelo Professor José Marques
de Melo, coordenador da pesquisa. O resultado deste trabalho está disponível
no Anuário Unesco/Umesp nº 4, que pode ser encontrado na Cátedra Unesco/
Umesp.
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Folkcomunicação: memória institucional
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Folkcomunicação: memória institucional
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Folkcomunicação: memória institucional
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Folkcomunicação: memória institucional
professoras Betânia Maciel (UFRPE) e Érica Oliveira Lima (UFRN). Teve como
temática “A Cartografia Folkcomunicacional 1998 a 2008”, por meio de uma
pesquisa ampla envolvendo pesquisadores de diversos estados brasileiros.
A Cátedra UNESCO de Comunicação da Universidade Metodista
de São Paulo, através da Rede FOLKCOM - Rede Brasileira de Pesquisa em
Folkcomunicação, em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Folkcomunicação
da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e o
Grupo de Trabalho sobre Folkcomunicação da Associação Latino-Americana de
Pesquisadores em Comunicação (ALAIC), propôs a reconstituição do “Acervo da
Folkcomunicação”, inventariando “a fundação da FOLKCOM, que ocorreu no
ano de 1998 até seu estágio atual – 2008”.
Com a finalidade de descrever o estado da questão, contribuindo para a
formulação de diretrizes capazes de fazer avançar o conhecimento, a interpretação
e a exegese dos fenômenos da cultura popular, determinados pelos fluxos
midiáticos ou por eles intermediados. Configurou um mapeamento dos estudos
folkcomunicacionais, identificando: os marcos teóricos, os suportes metodológicos,
os objetos de estudo, os sujeitos investigantes, as fontes embasadoras, os canais de
difusa, e outras possíveis variáveis. O corpus da pesquisa compôs-se pelas fontes
impressas (Livros e fascículos, Artigos em periódicos, Verbetes em glossários);
Literatura cinzenta (Artigos em anais, Teses e dissertações, TCCs e IC’s); Fontes
eletrônicas (AudiovisuaisTextos em portais digitais.
Nesta conferência também foi oferecido o “Prêmio Câmara Cascudo de
Folkcomunicação”. Em território nordestino, em Natal, há 110 anos nascia Luis
da Câmara Cascudo, considerado o cientista maior da Cultura Popular. E em
Pernambuco, nascia há 90 anos aquele que ousaria criar uma nova disciplina
– Folkcomunicação – justamente na fronteira da Comunicação Massiva com a
Cultura Popular. O Prêmio Câmara Cascudo de Folkcomunicação destinou-se aos
autores de estudos que focalizaram incursões de Câmara Cascudo pelo território
folkcomucacional, dialogando direta ou implicitamente com os postulados
construídos por Luiz Beltrão, através de uma das seguintes formas de expressão:
Artigo científico, Reportagem – jornal, revista ou internet; Documentário –
produto videográfico para suportes audiovisuais.
E, momento de grande destaque o Simpósio comemorativo dos 90 anos
de Luiz Beltrão, evento organizado em parceria com a Intercom e apoio da
Globo Universidade. Foi desenvolvido em duas mesas; a primeira, coordenada
por Roberto Benjamin (UFRPE) trouxe os temas e pesquisadores: Itinerário de
Luiz Beltrão - Maria Cristina Gobbi (UMESP), Epistolografia de Luiz Beltrão –
Antonio Teixeira Barros (IESB), Trajetória sindical de Luiz Beltrão – Adisia Sá
(UFC), Percurso folkcomunicacional de Luiz Beltrão – Betania Maciel (UFRPE).
A segunda, coordenada por Antonio Hohlfeldt (Prêmio Luiz Beltrão 2007) foi
272
Folkcomunicação: memória institucional
Revista e site
Importante destacar mais dois importantes projetos da Rede Folkcom: a Revista
Internacional de Folkcomunicação (On line) que é um espaço editorial para
publicação de trabalhos, reflexões e pesquisas em torno da Folkcomunicação
(com base na perspectiva conceitual de Luiz Beltrão), seja enfocando aspectos
interdisciplinares, propostas e estratégias metodológicas de estudos afins ou
resultados de investigações folkcomunicacionais. A Revista (RIF) é editada
pela Rede Folkcom, em parceria com a Agência de Jornalismo da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR). Com periodicidade semestral, a Revista
Internacional de Folkcomunicação é publicada no final dos meses de Junho e
novembro.
Os Indexadores da revista são:
Portal Livre! http://livre.cnen.gov.br
Latindex http://www.latindex.unam.mx/latindex/busquedas1/index.html
Portal Periódicos (CAPES) http://www.periodicos.capes.gov.br
Red Iberoamericana de Revistas de Comunicación y Cultura http://
www.revistasdecomunicacion.org/listado.html
O Portal da Rede Folkcom - Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação,
foi concretizado no mês de abril de 2007, com o objetivo de ampliar e potencializar
274
Folkcomunicação: memória institucional
5 Disponível em www.redefolkcom.org .
275
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – 2010
Editorial
Coordenação
Cláudio Passos de Oliveira
Editoração
Shine Comunicação
Revisão
Assessoria de Comunicação do Ipea e Socicom
Capa
Shine Comunicação
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Políticas Internacionais
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Instituições e da Democracia Diretora Relações Internacionais
José Celso Pereira Cardoso Júnior Margarida Maria Krohling Kunsch
Diretor de Estudos e Políticas
Diretor de Relações Nacionais
Macroeconômicas
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João Sicsú
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Urbanas e Ambientais Site: www.socicom.org.br
Liana Maria da Frota Carleial
Socicom
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Inovação, Regulação e Infraestrutura Científicas e Acadêmicas de Comunicação
Marcio Wohlers de Almeida Av. Brigadeiro Luis Antonio, 2050, 3º.
Diretor de Estudos e Políticas Sociais Andar – Bela Vista, SP
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Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea 2010
Inclui bibliografia.
Conteúdo: v.1. Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. – v. 2. Memória das associações científicas e acadêmicas da
comunicação no Brasil.– v. 3. Tendências na comunicação.
ISBN
CDD 384.0981
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E DAS
TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL
VOLUME 3
TENDÊNCIAS NA COMUNICAÇÃO
Organização
Daniel Castro
José Marques de Melo
Cosette Castro
Coordenação
José Marques de Melo
Anita Simis
Elias Machado
Claudia Lago
Daniel Castro
Cosette Castro
SUMÁRIO
VOLUME 3
TENDÊNCIAS NA COMUNICAÇÃO
Apresentação
Cosette Castro..............................................................................................13
1º. Capítulo
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Maria Cristina Gobbi.....................................................................................15
2º. Capítulo
Tendências Ocupacionais e Profissionais
Andrea Ferraz
Fernandez....................................................................................................63
3º. Capítulo
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Alexandre Kieling........................................................................................173
4º. Capítulo
Panorama da Comunicação em 11 países da Comunidade Ibero-Americana
Sivaldo Pereira da Silva................................................................................231
Si estamos viviendo una crisis del quehacer
en las ciencias sociales de América Latina,
la tarea de quienes las practican es la de analizar sus características
y las exigencias que plantea,
siempre y cuando no se tenga una noción apocalíptica y fatalista de ella.
Esto implica reexaminar los paradigmas existentes,
desechar lo que hay que desechar,
renovar lo que se puede renovar
y construir nuevos instrumentos teóricos y conceptuales
para aquellos fenómenos que se nos presentan
sobre la marcha de los procesos sociales.
(Heinz R. Sonntag)
Apresentação
13
publicação de livros - como também para ofertar um olhar especializado sobre
as diferentes áreas temáticas da Comunicação em diálogo constante com outros
campos do saber.
A obra como não poderia deixar de ser, além de reflexões de fundo que
aparecem no volume 1, também traz a público a história das instituições de
pesquisa em Comunicação no país, no volume 2. Apresenta aos leitores uma
história que até então estava restrita aos muros acadêmicos e que em 2010 passa
a fazer parte da história do país, sendo ampliada e reconhecida em outros setores.
Uma historia de instituições, movida por pesquisadores, professores, estudantes de
graduação e pós-graduação cujas atividades tem levado o Brasil a ser reconhecido
como um dos importantes espaços de reflexão e pesquisa em Comunicação no
mundo. Trata-se de uma leitura do passado e do presente para pensar o futuro.
Cosette Castro
14
CAPÍTULO 1
Introdução
O desafio da pesquisa sempre enseja tratar o tema foco de forma exaustiva - o que
não seria possível em um artigo científico. Assim, esse primeiro resultado pontua
questões indicadas como de ordem geral, oferecendo um panorama nacional
para os motes relativos à Comunicação no Brasil. Nesse sentido, a metodologia
é um processo para a tomada de decisões e que permite a definição de fases e
a determinação de um espaço-temporal, onde o escopo será desenvolvido e
operado, em combinação aos critérios de validação da seleção dos dados. As
escolhas, ora apontadas, buscam determinar instrumentos para dar formato e
reforçar o cenário comunicativo, especialmente o desenhado nesta última década
e por diversos atores, quer institucionais ou individuais.
A pesquisa é sempre um espaço de forças, determinada pela lógica das
condições sociais de produção. Revela os pré-supostos do discurso, mas também
referencia o fazer produzido, onde atores encenam as práticas de uma autonomia
relativa, mas não dissociada das condições concretas de elaboração, difusão e
desenvolvimento daquilo que se está empreendo. Porém, as competências para
abordar esse ou aquele objeto e a forma dada a ele são desenhadas na natureza
de produção. Estas determinam o ponto de partida, a trajetória e definem o
objeto para a tomada de decisão Esse é, então, o primeiro estágio2 de uma matriz
de Indicadores sobre o campo da Comunicação no Brasil. Pretende servir de
subsídios a projetos que tenha atenção não só no saber comunicativo, mas na
qualidade daquilo que se empreende nesse campo, servindo de referência também
1. Pós-Doutora pelo Programa de Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo.
Bolsista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Pesquisadora responsável pela pesquisa sobre
a produção de conhecimento em Comunicação, nacionalmente institucionalizados. Vice-coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital e professora do Programa em Comunicação da Universidade
Estadual Paulista (UNESP). Professora da Universidade de Sorocaba (UNISO).Mail: mcgobbi@terra.com.br.
Assistentes de Pesquisa III: Francisco de Assis Guedes e Juliana C. G. Betti. Equipe de Apoio: Cecília Soares de
Paiva, Cristiane dos Santos Parnaíba, Faiga Toffollo e Rose Mara Vidal de Souza.
Este artigo é resultado da primeira etapa da pesquisa Panorama da Comunicação no Brasil, cuja meta era di-
agnosticar a produção de conhecimento nos principais segmentos da comunicação nacionalmente institucion-
alizados, desenvolvida no âmbito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) através do Programa de
Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD). Os resultados finais da investigação serão disponibilizados
em janeiro de 2011 pelo Ipea.
2. Este artigo é resultado da primeira etapa da pesquisa Panorama da Comunicação no Brasil, cuja meta
era diagnosticar a produção de conhecimento nos principais segmentos da comunicação nacionalmente
institucionalizados, desenvolvida no âmbito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) através do
Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD). Os resultados finais da investigação serão
disponibilizados em janeiro de 2011 pelo Ipea
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
para a tomada de decisão das futuras políticas públicas. Esse documento inicial
objetiva estruturar um conjunto de quesitos que possibilitem revelar e diminuir as
distâncias entre a teoria e a prática comunicativa, apontando para a possibilidade
da criação coletiva como ação transformadora, fruto do exercício de parceria
entre pesquisadores e instituições, não só desejável como inevitável nas ciências
contemporâneas.
Inserida neste contexto de inquietude, as experiências resultantes dessa
investigação possibilitarão a construção de novos conhecimentos, superando
a fragmentação dos saberes. Desta forma, um dos desafios foi o de alcançar
objetivos mais amplos e resultados plurais, numa perspectiva integradora não
apenas dos conteúdos, mas e, sobretudo, de pesquisadores e instituições. Assim,
à ameaça na formação de um campo da Comunicação autônomo, devido ao
uso indiscriminado e desconectado dos múltiplos conhecimentos poderá ser
superado com a sistematização e a reflexão constante dos participantes, para que
os diversos aportes teórico-metodológicos estejam voltados a um objetivo maior:
o entrecruzamento de ciências, de modo que sejam modificadas e repensadas em
função da Comunicação, de um novo olhar transformador.
Neste sentido, o resultado também oferece uma visão interdisciplinar,
possibilitando uma prática diferenciada, que pode dar conta da complexidade
e da dinâmica do campo da Comunicação, especialmente no Brasil. Esta prática
pode se traduzir pela possibilidade que a pesquisa, como um todo, oferece de
descrever e diagnosticar a produção do conhecimento comunicativo, analisando
o desenvolvimento, na última década, dos setores midiáticos; desenhar o
panorama da indústria nacional de informação e comunicação; analisar, mensurar
e descrever os setores das profissões legitimadas e das ocupações emergentes
no campo, além de traçar o perfil nacional da comunicação, evidenciando os
perfis socioeconômico, educativo-cultural, entre outros. Todo esse amplo escopo
possibilita a reflexão teórica baseada na construção coletiva prática de novos
conhecimentos, fundamental para o avanço da Ciência da Comunicação.
Avaliar o Estado do Conhecimento no campo acadêmico e profissional
da Comunicação Social no Brasil, na última década, passa por vários desafios.
Embora em estágio avançado, se comparado com outras regiões, principalmente
da América Latina, a área ainda busca a ampliação dos níveis de excelência na
formação universitária e na inserção dos egressos no mercado profissional. Outras
características da Comunicação Social altercadas são o amplo entendimento sobre
o conceito do campo comunicacional, as definições de suas fronteiras, objetos,
agentes (produtores e consumidores), cenários e produções.
Esse foi o escopo dado pela chamada pública nº 63/2010, do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Programa de Pesquisa para o
Desenvolvimento Nacional (PNPD). Com o título “Panorama da Comunicação
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Metodologia
Estamos diante de cenários diversificados e amplos, onde as “condições de
produção, circulação e recepção de mensagens” se alteraram de maneira radical.
A revolução digital tem permitido que “no campo da comunicação, pessoas
comuns (...) descubram possibilidades e talentos de expressão que nos modelos
tradicionais dificilmente poderiam exercer”. Tornaram-se produtores, “(...) nos
mais variados formatos (fotografia, música, audiovisual, textos, hipertextos,
conhecimento, cultura, educação, entretenimento etc)”. Grandes e variados
sistemas comunicativos, nas múltiplas etapas do processo, estão sendo criados e
amoldados, não mais e somente sob a ótica de um único e tradicional produtor,
mas do cidadão, que com “singular inteligência, renovação artesanal e industrial,
opera, ascende e flui nas culturas midiáticas” (MALDONADO, 2010, p. 1-2).
Toda essa mudança enseja a idéia de “dimensão multiforme”
(MALDONADO, 2010, p. 3-4), que a partir de pontos de distinção “concebem
essa dimensão como formas de vida (Wittgenstein, 1988) articuladas em uma
trama (...) comunicacional e (...) no interior delas é possível observar a inter
relação com organizações de outras espécies (técnica, política, econômica,
psicológica, lingüística)”. Assim, as “capacidades produtivas (artísticas, cognitivas,
experimentais, políticas, sócio-organizativas, culturais, poéticas e de trabalho)
são potencializadas, criando um caráter multidimensional para a comunicação”.
Quando são utilizados “recursos e técnicas digitais pode-se mostrar concretamente
as convergências hipertextuais, as formas de confluência, as misturas (...) e sua
transposição para as dimensões comunicativas”.
Para Maldonado (2010, p. 7) há uma “transformação tecnocultural
profunda que combina condições de produção digital com multiculturalidade
intensa, renovadora e conflitiva”, onde há novos modos de interpretar o receptor
multimidiático, situando-o a uma multidimensionalidade comunicacional,
socializando as possibilidades de intercâmbio de inteligências múltiplas no
processo de produção do conhecimento. Desta forma, argumenta Maldonado
(2010) essas inter-relações promovem a inserção de milhões de pessoas antes
excluídas por desconhecimento das técnicas e das competências produtivas do
processo comunicativo. “Hoje é possível produzir audiovisual, música, jornais,
revistas, artes visuais, textos, livros etc” (p. 8), sem uma infra-estrutura sofisticada.
21
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Materiais e métodos
Para atingir os objetivos empíricos propostos na pesquisa foram utilizadas métodos
e técnicas compostas por várias ferramentas.
Inicialmente partiu-se de várias bases documentais, tendo como corpus de
análise a distribuição de mestres e doutores em Comunicação, nos vários espaços
de divulgação científica do País. A coleta dos dados teve como identificador as
múltiplas informações sobre a produção comunicativa disponibilizada na web,
em vários ambiente de referência, como: Plataforma Lattes; homepages: Conselho
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Unidades de Estudo
As fontes de consulta de referência foram os anais e os livros de resumos dos
congressos anuais, revistas, websites, livros e outras produções que ofereceram o
panorama das contribuições das entidades e de pesquisadores nos últimos 10
anos. Para viabilizar o amplo levantamento dos dados, foram definidas duas
unidades de estudo.
a) Panorama holístico: objetivou sistematizar, diagnosticar e definir os
indicadores que contemplam a visão interdisciplinar, cuja fonte principal foi a
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)
e a perspectiva da pós-graduação, através do conhecimento acumulado pela
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
(COMPÓS)11.
INTERCOM: fundada em 1977, é na atualidade o maior e a mais
representativa entidade na área da comunicação, no país. Está integrada a diversas
redes internacionais de comunicação. Constituída nos moldes das sociedades
científicas agrupadas em torno da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), nasceu da idéia de criar um espaço que aglutinasse os pesquisadores da
comunicação, promovesse a troca de informações e estimulasse o fortalecimento
das áreas relacionadas à pesquisa e ao ensino da comunicação. Realizada congressos
anuais, cursos; edita livros, revistas e jornal, além de manter o PORTCOM (Rede
de Informação em Comunicação dos Países de Língua Portuguesa). Acumula parte
significativa do conhecimento gerado em instituições de ensino e de pesquisa em
comunicação, nos seus 33 anos de existência.
COMPÓS: fundada em 16 de junho de 1991, com o apoio da Capes e
do CNPq, congrega como associados os Programas de Pós-Graduação em
Comunicação em nível de Mestrado e/ou Doutorado de instituições de
ensino superior públicas e privadas no Brasil. Tem como objetivos principais
o fortalecimento e qualificação crescentes da Pós-Graduação em Comunicação
no país; a integração e intercâmbio entre os Programas existentes, bem como
o apoio à implantação de novos Programas; o diálogo com instituições afins
nacionais e internacionais; o estímulo à participação da comunidade acadêmica
em Comunicação nas políticas do país para a área, defendendo o aperfeiçoamento
profissional e o desenvolvimento teórico, cultural, científico e tecnológico no
campo da Comunicação.
b) Panorama Segmentado: a partir dos indicadores holísticos sobre a
produção de conhecimento nos principais segmentos da comunicação, desenhar
11. No volume 2 dessa coletânea estão disponíveis textos que evidenciam as contribuições dessas instituições.
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
o panorama segmentado dos espaços de reflexão que congregam a área. Para esse
aporte definimos, inicialmente, como temáticas e fontes principais de pesquisa
(ETAPA II – a ser disponibilizada em janeiro de 2011):
12. No volume 2 dessa coletânea estão disponíveis textos que evidenciam as contribuições dessas instituições.
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
INDICADORES
1. Indicadores institucionais estruturais de campo científico/acadêmico
1.1. Universidades e Faculdades
1.2. Cursos de Graduação, Pós-Graduação (Linhas de Pesquisa) e extensão
universitária;
1.3. Pesquisadores (fundadores, seniores, emergentes; apoio de agências de
fomento);
1.4. Titulação (IES e país);
1.5. Vínculos institucionais;
1.6. Grupos de Pesquisa (cadastrados ou não no CNPq);
1.7. Associações científicas;
1.8. Congressos regionais, nacionais e internacionais;
1.9. Periódicos científicos.
2. Indicadores de cruzamento interinstitucional (GTs e NPs em Associações históricas).
3. Indicadores de transparência (apoios financeiros públicos e privados).
4. Indicadores de formação (número de titulados na Graduação, Especialização,
Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado).
5 Indicadores bibliográficos (livros e artigos em periódicos e anais).
6. Indicadores de produção cultural (obras/produtos).
7. Indicadores de interdisciplinaridade.
8. Indicadores de intercâmbios internacionais.
9. Indicadores de Estado (projetos de lei tramitados ou em tramitação na década;
parcerias com órgãos federais e estaduais; projetos desenvolvidos ou em
desenvolvimento).
10. Indicadores de mercado / do campo corporativo (indústrias criativas, dimensão de
audiência/consumo)
11. Indicadores de tendências profissionais e ocupacionais.
12. Indicadores de horizonte (metas e tendências institucionais e desafios ao respectivo
campo na próxima década).
Estratégias metodológicas
Os procedimentos empíricos utilizados tiveram por base a pesquisa exploratória e
descritiva ao universo proposto, que posteriormente foi aprofundada para questões
interpretativas, estabelecendo uma correlação entre os aspectos quantitativos e
qualitativos, possibilitando a construção de indicadores que possam contribuir
para o desenho do panorama da Comunicação no Brasil.
Não se trata de um escopo fechado nas temáticas, entidades ou indicadores,
mas representam o critério de seleção para possibilitar o conhecimento sobre
a produção nos múltiplos espaços da área da Comunicação, que permite
as incursões que se pretende empreender. O desenvolvimento da pesquisa
nesse escopo possibilitará aferir indicadores capazes de desenhar o cenário
comunicativo na região. Outro fator de grande importância será a possibilidade
de verificação do fortalecimento do fenômeno da Comunicação a partir de
29
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
perspectivas interdisciplinares13.
Concluídas
1) Sistematizar, organizar, tabular e qualificar os dados dos currículos de
mestres e doutores disponíveis na Plataforma Lattes por geografia, sexo,
instituição e faixa etária, realizando o estudo qualitativo das informações
coletadas.
2) Desenhar o perfil das instituições Intercom e Compós, que definem o
panorama holístico da investigação, determinando o perfil de todos os seus
grupos de pesquisa.
3) Definir, tabular e analisar o perfil acadêmico e profissional dos mestres
e doutores e sua inserção atual no mercado de trabalho, a partir dos dados
disponibilizados na Plataforma Lattes, separados por região do país, área de
atuação e instituição de vínculo, realizado a análise qualitativa dos dados.
4) Levantamento dos grupos de pesquisa, cadastrados no CNPQ, no
âmbito da comunicação, procedendo a avaliação qualitativa dos dados, a
partir da definição das linhas de pesquisa e da divisão geográfica.
5) Levantamento qualitativo, tabulação e organização dos trabalhos
apresentados nos grupos e núcleos de pesquisas dos congressos da Intercom
e da Compós, nos anos de 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2006, 2007,
2009 e 2010, gerando tabelas contendo a produção, localidade, tema,
estado e instituição de origem e palavras-chave15.
6) Cruzamento dos itens anteriores, objetivando delinear o Panorama da
13. O termo interdisciplinar significa uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude
diferente a ser assumida frente ao problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção
fragmentária para uma concepção unitária de ser humano. “A atitude interdisciplinar nos ajuda a viver o
drama da incerteza e da insegurança. Possibilita-nos darmos um passo no processo de libertação do mito do
porto seguro. Sabemos o quanto é doloroso descobrirmos os limites de nosso pensamento, mas é preciso que
façamos”. (Japiassú, 1976). É na intersubjetividade desse processo, que ocorre a interação e o diálogo, como
únicas condições de possibilidade da interdisciplinaridade.
14 .Essa divisão foi necessária para atender os prazos inicias que previam a disponibilização dos primeiros
resultados ainda no mês de novembro de 2010, mas possibilitou a continuidade da investigação, com prazo final
para janeiro de 2011, quando os dados completos serão publicados.
15. Essa etapa não está integralmente concluída.
30
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
de Currículos Lattes traz um panorama dos rumos da ciência no Brasil, uma vez
que desde a iniciação científica, professores e estudantes devem ter seus currículos
cadastrados na Plataforma.
Os dados disponibilizados na Plataforma Lattes possibilitam, de modo
geral, a avaliação da produção científica nacional, através de vários indicadores
quantitativos. Esses dados permitiram a compreensão sobre a dinâmica da
produção científica nas várias áreas do conhecimento, bem como evidenciam o
mapa da formação de pesquisadores nas instituições de ensino e pesquisa no Brasil.
Também é no espaço da Plataforma Lattes que as agências de fomento, como a
Capes e o CNPq (nacionais), as estaduais e instituições internacionais “apóiam
o desenvolvimento de projetos e promovem a concessão de financiamentos
individuais para a pesquisa. Em todas essas instituições a produção científica
destaca-se como um dos requisitos mais importantes”. (SILVA, 2004, p. 34)
Por ser o escopo central da investigação o delineamento do Panorama da
Comunicação no Brasil, a Plataforma foi usada como fonte básica de mensuração,
uma vez que neste espaço estão disponibilizadas as atuais produções na área. O
Lattes também fornece dados estatísticos, tabelas e gráficos, separados por região,
sexo, formação, tipo de atividade desenvolvida, além do currículo individual do
pesquisador. Esse espaço é chamado de Painel Lattes.
Procedendo a análise da produção científica neste espaço há oito grandes áreas
do conhecimento. São elas: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da
Saúde; Ciências Exatas e da Terra; Ciências Humanas; Ciências Sociais Aplicadas;
Engenharias; Linguística, Letras e Artes. A Comunicação Social pertence grande
área de Ciências Sociais Aplicadas (CSA)18.
A Base de Currículos da Plataforma Lattes19, que têm por baldrame
currículos atualizados nos últimos 48 meses, apresenta dados de 04 de junho de
201020. Neste painel há 1.626.069 currículos cadastrados, nas diversas áreas do
conhecimento, sendo 8% de doutores, 14% de mestres, 18% de especialistas, 25%
de graduados, 13% de outros e 23% não informado. O número de currículos de
estudantes perfaz a cifra de 654.962, sendo 9% doutorandos, 12% mestrandos,
9% especialistas e 70% graduandos.
Analisando os dados da Evolução da Formação de Doutores e Mestres
no Brasil, no período dos anos de 2000 a 2009 (último ano disponível), há o
18. Juntamente com Comunicação, são definidos como profissões em CSA: Administração, Arquitetura
e Urbanismo, Ciências da Informação, Demografia, Desenho Industrial, Direito, Economia, Economia
Doméstica, Museologia, Planejamento Urbano Regional, Serviço Social e Turismo.
19. A Base de dados de Currículos da Plataforma Lattes nos fornece dados qualificados e atualizados sobre a
atuação de pesquisadores na área da Comunicação, permitindo análises da produção, dos setores econômicos,
evolução de formação, geografia, instituições etc. O material pode ser acessado no endereço http://lattes.cnpq.
br/painellattes/. Acesso em outubro de 2010.
20. A coleta de dados para a pesquisa foi realizada em outubro de 2010.
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Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Tabela 2 - Distribuição de Doutores e Mestres no Brasil (Geral) Anos 2000 a 2009, por
Região
Fonte: Dados dos autores
22. Pesquisa realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão
vinculado ao Ministério da Educação (MEC), disponível em http://trienal.capes.gov.br/?page_id=100. Acesso
em novembro de 2010.
23. Material disponível em http://www1.folha.uol.com.br/saber/798580-numero-de-cursos-de-mestrado-e-
doutorado-cresce-20-em-tres-anos-no-brasil.shtml. Acesso em novembro de 2010.
24. Para aprofundar as análises dessas questões podem ser consultadas diversas pesquisas realizadas por várias
instituições, nos últimos anos, dentre as quais citamos o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ), Ministério da Educação (MEC) e Instituo de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
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pós-graduação, diversas ações vem sendo empreendidas, nos mais variados níveis
de ensino. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes),
em vigor desde 2004, coordenado e supervisionado pela Comissão Nacional
de Avaliação da Educação Superior (Conaes) e operacionalizado pelo Instituto
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep), é um desses exemplos. Os Sinaes sopesam as instituições, os cursos e do
desempenho dos estudantes (Enade), verificando aspectos que “giram em torno
desses três eixos: o ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, o
desempenho dos alunos, a gestão da instituição, o corpo docente, as instalações e
vários outros aspectos”, conforme descrição no site da instituição.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que objetiva avaliar o
desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica, foi criado em 1998.
Também a Educação Básica é analisada pelo Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb), que verifica o desempenho de estudantes de 4ª a 8ª série (5º a 9º)
de escolas públicas e de forma amostral da rede privada. Outro investimento que
merece destaque é o Programa Universidade para Todos (ProUni), do Governo
Federal, que vem permitindo a acesso de milhares de estudantes a universidade38.
Sem dúvida que “o Brasil está avançando na área da educação”, mas como
afirma Jorge Abrahão39, do Ipea, “(...) apesar da ampliação do acesso à escola e do
aumento de financiamento no setor, as desigualdades regionais entre as diferentes
populações permanecem no país”. Para ele outra disparidade é que “(...) os 20%
mais ricos já têm 10 anos de estudo, enquanto metade da população brasileira
tem cerca de cinco a seis anos de estudo”. Para o pesquisador o analfabetismo 40
38. O ProUni (Programa Universidade para Todos) tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo in-
tegrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de
educação superior. Criado pelo Governo Federal em 2004. O programa já atendeu, desde sua criação até o
processo seletivo do segundo semestre de 2010, 748 mil estudantes, sendo 70% com bolsas integrais. Desde
2007, o ProUni - e sua articulação com o FIES - é uma das ações integrantes do Plano de Desenvolvimento
da Educação – PDE. Assim, o Programa Universidade para Todos, somado ao Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, a Universidade Aberta do Brasil e a expansão
da rede federal de educação profissional e tecnológica ampliam significativamente o número de vagas na edu-
cação superior, contribuindo para o cumprimento de uma das metas do Plano Nacional de Educação, que prevê
a oferta de educação superior até 2011 para, pelo menos, 30% dos jovens de 18 a 24 anos. Fonte dos dados:
http://www.inep.gov.br/ e http://prouniportal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=
124&Itemid=140, acesso em novembro de 2010.
39. Jorge Abrahão resume um dos pontos discutidos durante o seminário “PDE – resultados e desafios”, pro-
movido nos dias 14 e 15 de setembro, em São Paulo, pela Ação Educativa. Disponível em: http://www.anj.org.
br/jornaleeducacao/noticias/promover-a-equidade-e-um-dos-desafios-do-pde/, acesso em novembro de 2010.
40. Outro problema fundamental no País é o analfabetismo funcional (pessoas que sabem ler, escrever, contar
e ocupam cargos administrativos nas empresas, mas não conseguem compreender a palavra escrita de forma
adequada). “No Brasil, o índice é medido entre as pessoas com mais de 20 anos que não completaram quatro
anos de estudo formal. O conceito, porém, varia de acordo com o país . Na Polônia e no Canadá, por exemplo,
é considerado analfabeto funcional a pessoa que possui menos de 8 anos de escolaridade. Segundo a Declaração
Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, sendo que mais de 1/3
dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso e às novas tecnologias que poderiam melhorar
a qualidade de vida e ajudá-los a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. De acordo com esta declaração, o
analfabetismo funcional é um problema significativo em todos os países industrializados e em desenvolvimento.
39
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
No Brasil, 75% das pessoas entre 15 e 64 anos não conseguem ler, escrever e calcular plenamente. Esse número
inclui os 68% considerados analfabetos funcionais e os 7% considerados analfabetos absolutos, sem qualquer
habilidade de leitura ou escrita. Apenas 1 entre 4 brasileiros consegue ler, escrever e utilizar essas habilidades
para continuar aprendendo”. Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=700, acesso
novembro de 2010.
41 Naomar Monteiro de Almeida é Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)
e reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fonte: http://www.anj.org.br/jornaleeducacao/noticias/
promover-a-equidade-e-um-dos-desafios-do-pde/, acesso em novembro de 2010.
40
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
42 Fonte: Carlos Hasenbalg. O artigo é um dos produtos de pesquisa desenvolvida no âmbito do Núcleo In-
terdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade (NIED-PRONEX) e contou com recursos da bolsa “Cientistas
do Nosso Estado”, concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52582000000300001&script=sci_arttext, Nov de
2010.
41
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44
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
que, pelo menos no que tange a área da pesquisa científica, essas diferenças estão
superadas. Os números abaixo evidenciam esses dados.
Há no geral, 133.818 currículos de doutores e 232.752 mestres cadastrados
na Plataforma Lattes, sendo 61.418 do sexo masculino (M), equivalendo a 46%
do total e 72.400 do sexo feminino (F), representando 54% para o caso dos
doutores. As mestras são em número de 124.913 (54%) e o mestres, 107.739
(46%).
Na área da Comunicação o cenário também não é diferente. São 1.410
doutores, sendo 722 mulheres (51%) e 688 homens (49%) e 3.769 mestres46,
com 2.210 mulheres (59%) e 1.559 homens, representando 41%.
Na análise geral, por tipo de atividade desenvolvida, nas oito áreas definidas
na Plataforma, no ensino e pesquisa há uma pequena diferença, sendo os doutores
homens em maior número, com 44.990, equivalendo a 55% e as 36.850 doutoras,
representam 45%, se comparados com os 81.840 doutores que estão neste tipo
de atividade. Na área administrativa e técnica, com o total de 51.978 doutores,
47% (24.568) são mulheres e 53% (27.410), são do sexo masculino. Com
referência ao número de mestres, há uma inversão. São 57.968 em atividades de
ensino e pesquisa e desses, 30.805 (53%) são do sexo feminino e 27.163 (47%)
são do sexo masculino. Para as atividades técnicas e administrativas, são 174.684
mestres, com 94.108 (54%) de mulheres e 80.576 (46%) de homens.
Faixa Etária
A idade, até bem pouco tempo atrás, se desenhava como um obstáculo para
alcançar patamares altos nos postos de comando nas empresas e nas universidades.
O que se percebe na atualidade é que cada vez mais cedo, os egressos dos cursos
de graduação ingressam na pós-graduação. Talvez isso possa ser explicado pela
possibilidade de uma ascensão profissional mais rápida, garantindo, muitas
vezes, um melhor salário, com uma gama maior de oportunidades no mercado
de trabalho, além de muitas empresas do mercado comunicacional exigirem
formação de pós-graduado para os seus quadros funcionais. Para se ter uma idéia
dos números, as tabelas abaixo evidenciam a formação por faixa etária, separadas
por mestres e doutores.
46 É necessário observar que nesse quesito (sexo), a Plataforma Lattes informa que o número total de mestres, na
área da Comunicação é de 3.769, com uma diferença a menor de três, se comparado o número de mestres por
Região, que é de 3.772. Essa diferença se deve ao fato do pesquisador não ter informado o sexo na Plataforma,
quando do cadastro de seu currículo, por isso foi mantido, para efeitos das análises, os números informados na
Plataforma, ou seja, 3.769 mestres para as análises sobre o sexo e faixa etária (uma vez que esses dados estão em
uma mesma tabela e não é possível separar) e 3.772 para as outras análises.
47
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Faixa etária 19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65+ Total
Total 1 34 601 979 896 785 727 534 333 182 107 -
Doutores 0 0 4 95 187 246 263 218 193 115 89 1.410
Mestres 1 34 597 884 709 539 464 316 140 67 18 3.769
Tabela 7 - Distribuição de Mestres no Brasil, Anos 2000 a 2009, por faixa etária
48
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Tabela 8 - Distribuição por Setor Econômico e Área da Comunicação Anos 2000 a 2009,
por Doutores e Mestre
49
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Grupos de Pesquisa
É possível afirmar que este é um período onde a necessidade de definir formas de
produção de conhecimento está em ascensão. As instituições de ensino superior
público e privado buscam diversificar as formas de avaliação da produtividade de
seu corpo docente, pois construir conhecimento de forma isolada já não integra
as atividades de grande parte dos pesquisadores que estão nos espaços da pós-
graduação. As agências de fomento e as próprias universidades estimulam a prática
do diálogo entre as áreas, da produção conjunta e dos espaços de atividades que
possam reunir não somente doutores, mas mestres e estudantes dos vários níveis
(doutorandos, mestrandos e graduandos), além de técnicos e outros agentes.
Um grupo de pesquisa pode ser definido como “um conjunto de indivíduos
organizados em torno de um ou mais objetos de estudo”, geralmente sob a
liderança de um pesquisador, com titulação preferencialmente de doutor e
pela existência de mais estudantes de graduação, pós-graduação e técnicos de
nível superior. Para que as atividades sejam desenvolvidas é preciso que ocorra
o envolvimento profissional e permanente com atividade de pesquisa e que o
trabalho seja organizado em torno de linhas comuns de pesquisa.
Desenvolvido pelo CNPQ em 1992, as informações constantes nesse
espaço “(...) dizem respeito aos recursos humanos constituintes dos grupos
(pesquisadores, estudantes e técnicos), às linhas de pesquisa em andamento, às
especialidades do conhecimento, aos setores de aplicação envolvidos, à produção
científica e tecnológica e aos padrões de interação com o setor produtivo. Além
50
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Estados Grupos de
Pesquisa
Total Geral 366
Total Norte 10
Acre 1
Amazonas 2
Amapá –
Pará 3
Rondônia –
Roraima 1
Tocantins 3
Total Nordeste 66
Alagoas 3
Bahia 29
Ceará 4
Maranhão 2
Paraíba 6
Pernambuco 11
Piauí 3
Rio Grande do Norte 4
Sergipe 4
Total Centro-oeste 19
Distrito Federal 5
Goiás 3
Mato Grosso do Sul 7
Mato Grosso 4
Total Sudeste 180
Espírito Santo 7
Minas Gerais 24
Rio de Janeiro 33
São Paulo 116
Total Sul 91
Paraná 24
Rio Grande do Sul 47
Santa Catarina 20
52
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
doutores nos Estados do Acre, Amapá e Roraima, somente Amapá não tem
registrado nenhum grupo de pesquisa. Por outro lado, Rondônia que tem dez
doutores não possui nenhum grupo de pesquisa cadastrado.
Ao comparar os dados com o número de doutores e mestres nas regiões,
nota-se uma disparidade muito grande entre os dados, demonstrando que, embora
importante, parte significativa dos titulados não mantém grupos de pesquisa
cadastrados. Outra advertência que deve ser feita é que o pesquisador pode estar
ligado a mais de um grupo e nesse sentido, os dados poderiam demonstrar uma
variedade ainda maior.
É importante destacar que, na última década, houve um crescimento
considerável no número de grupos de pesquisa da área. Entre 2000 a 2008,
conforme ilustra a próxima Tabela, o montante saltou de 95 para 366,
representando um aumento de mais de 350%, sendo que o período de maior
ascensão – de um censo para outro – corresponde ao biênio 2003-2004.
55
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Como todo trabalho humano, esse também padece de incertezas, falhas e lacunas.
Mas buscou descortinar o cenário e mostrar os atores sociais que cotidianamente,
através de ações reais, tentam dirimir as angústias que permeiam habitualmente
suas produções, transformando-as em dados, estudos e resultados capazes, muitas
vezes, não de definir o caminho certo ou o errado, mas de oferecer a possibilidade
de escolha.
Assim, podemos afiançar que a pesquisa proposta pela SOCIOM e apoiada
pelo Ipea permite que as várias instituições aqui representadas possam transpor
fronteiras entre as diferentes áreas de conhecimento; agregando-se em torno de
um ou mais temas e possibilitando a convergência entre eles, contribuindo para
o avanço do conhecimento de forma integradora; para a formação de recursos
humanos com capacidade para enfrentar novos desafios.
O resultado final51 propiciará que grupos produtivos e comprometidos
com a pesquisa de qualidade se associem de forma independente, respeitando
as especificidades de cada espectro do conhecimento comunicativo, que é amplo
e não homogêneo; contribuindo para o crescimento com qualidade da área da
Comunicação, nas respeitando as especificidades que cada subárea oferece.
A base inicial de dados composto pelas subáreas consolidadas: jornalismo,
cinema e relações públicas, retratam a situação de cada entidade em suas propostas
de congregar pesquisadores em termo de eixos claros e específicos, oferecendo a
oportunidade de definir indicadores qualitativos.
Por outro lado e não menos importante, as subáreas emergentes: Cibermídia,
Folkcomunicação e Propaganda Política, possibilitarão (na segunda etapa da
pesquisa) o mapeamento das novas tendências e as singularidades do campo
comunicacionais, diante de cenários originais e amplos, como é o caso do Brasil.
O professor Marques de Melo (1998) garante que precisamos redimensionar
o trabalho científico, “aprofundando a interpretação dos fenômenos já conhecidos;
observar sistematicamente os novos fenômenos, dando-lhes registro crítico-
descritivo e cambiar as análises de fenômenos globais com os casos específicos”,
dessa maneira será possível o desenvolvimento de pesquisas calcadas nas próprias
necessidades e realidades do país, considerando sempre os estímulos externos,
mas não os priorizando.
É necessário que a pesquisa em Comunicação possa auxiliar as transformações
sociais, acumulando informações que realmente mostrem o cotidiano, ajudando
a construir novos modelos de produção e distribuição das riquezas de criação e
reprodução da cultura do país.
Os resultados aqui apresentados permitem observar que embora em
desenvolvimento, a área da Comunicação ainda tem muito por fazer. Os dados
51 Segunda etapa, que será disponibilizada e publicada em janeiro de 2011.
56
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
57
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
61
62
CAPÍTULO 2
Introdução
63
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
64
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Publicidade e Propaganda
Jornalismo
Radialismo
Relações Públicas
Editoração
Audiovisual e Cinema
53. As tabelas e gráficos que não apresentam fonte foram elaborados pela equipe de pesquisa.
54. A Capes aprovou recentemente a desvinculação do curso de Cinema da área de conhecimento Comunicação
Social passando-o para área de conhecimento Artes. Entretanto, existe uma Habilitação do curso de Comuni-
cação Social nomeada “Audiovisual e Cinema. Tal situação será detalhada neste trabalho.
65
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
contemporâneo.
A profissão de radialista, regulamentada em 30 de outubro de 1979, encontra-
se em cenário parecido. O próprio nome da profissão é um anacronismo, uma
vez que o perfil profissional desta habilitação, estabelecido pelo MEC, determina
que os profissionais oriundos dessa habilitação devam receber formação para a
produção audiovisual, cinematográfica, produção textual para produtos interativos
e de conteúdo para mídias digitais e móveis, além da formação específica para o
veículo de comunicação rádio.
Também a Habilitação em Audiovisual e Cinema apresenta peculiaridades
desta ordem, uma vez que incorpora inúmeras ocupações, todas elas regulamentadas
em 1978 por lei relativa aos Artistas e Técnicos em Empresas de Diversão. Este
campo profissional, fortemente vinculado ao campo artístico, destaca-se pela
grande quantidade de profissionais que atuam informalmente no mercado de
trabalho. Executam frequentemente trabalhos para projetos específicos, por
tempo determinado, sem vínculo formal de nenhum tipo entre contratantes e
contratados. Sabe-se ainda que uma parte desses profissionais desempenham
funções típicas dos egressos em Publicidade e em Radialismo, como criação e
produção de campanhas promocionais.
Para além das características gerais de cada profissão é importante levar
em conta as diferentes realidades temporais e geográficas, seja por demanda de
trabalho ou por valorização salarial, observadas nas profissões que se modificam
de acordo com a região onde os profissionais atuam. As diferenças regionais
estão refletidas nos pisos salariais, nas funções desempenhadas e nas atividades
executadas pelos profissionais e até mesmo no nome das ocupações, segundo a
denominação informada pelos profissionais.
O próprio mercado de trabalho adquire feições distintas conforme o
afastamento das grandes cidades, capitais e pólos produtivos. Ressalta-se ainda a
percepção de influência dos veículos de comunicação com penetração nacional
sobre as indústrias locais e a falta de autonomia regional da mídia, seja em termos
de conteúdo, seja em termos de mercado. Esses fatores remetem a relações do
mercado de trabalho com a formação dos profissionais ligados a esse mesmo
mercado. Os dados constam do texto como categorias de análise da presente
pesquisa, organizados da seguinte maneira:
1. Formação dos profissionais que atuam no mercado de trabalho da
Comunicação;
2. Atuação dos profissionais da Comunicação e outras áreas no mercado de
trabalho da Comunicação;
3. Tendências profissionais para o mercado de trabalho da Comunicação;
67
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
4. Questões sensíveis
Metodologia
Para o desenvolvimento desta pesquisa foram usadas técnicas estatísticas
qualitativas e quantitativas, além das metodologias próprias dos bancos de dados
consultados, como por exemplo, o Censo do Ensino Superior MEC/Inep/Deed58.
O projeto conta também com metodologia própria desenvolvida para arrecadação
de dados a partir de questionário distribuído e respondido em plataforma online,
discutidos detalhadamente nos anexos. A esses dados foram aplicadas as técnicas
tradicionais de quantificação e análise quantitativas e qualitativas.
68
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Matriz
A matriz da pesquisa foi o blog Tendências Profissionais, criado como ponto inicial
e de convergência das informações distribuídas e coletadas. A utilização dos blogs
com finalidade diferente da original é prevista por autores como Amaral, que
explica a ampla possibilidade de utilização dos blogs “Enquanto formato, o blog
pode ser e tem sido apropriado para as mais diversas possibilidades” (AMARAL ET
al, 2008, p. virtual). Embora em sua origem o uso dos blogs tenha sido associado
ora como função de filtro de links (BLOOD, 2000, p. virtual), ora como papel
de diários virtuais (LEMOS, 2002, p. virtual), o que se observa atualmente é
que “a versatilidade do formato faz com que ele seja suscetível as mais diversas
apropriações” (ZAGO, 2008, p. 2). Abaixo, a imagem do blog visualizada na tela
do computador:
60. “Blog é um formato típico de produção e disponibilização de conteúdos na web caracterizados pela apresen-
tação de informações em ordem cronológica inversa” (BLOOD, 2000, p. Virtual).
69
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
70
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Fonte: FRANCO, A.
71
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
62. Os sites de rede social Orkut, Facebook, Twitter e Linkedin estão entre os 100 sites mais visitados de acordo
com a Compania de Informações da Web: Alexa. Disponível em: <www.alexa.com>
63. Grafo é a representação de uma rede, constituída de nós e arestas que conectam esses nós. Definição de
Raquel Recuero.
72
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
64. O migre.me é um encurtador/compactador de URL integrado ao Twitter. Na página principal você pode
acompanhar os links mais clicados, os mais retuitados, ver as fotos mais visualizadas, os podcasts mais ouvidos,
ver o bookmark dos usuários ou até mesmo enviar o link via QR-Code para um celular. O migre.me também
pode ser usado como contador de acesso, enquete por email usando links, criar suas próprias funções usando a
API, etc. Fonte: http://migre.me/sobre/. Acesso 10 nov. de 2010
65. Malas diretas via email são um dos meios mais efetivos de divulgar um site, aplicativo ou serviço online.
Além de gerarem acessos e veicularem mensagens para públicos especializados, não são invasivas, podem ser
acessadas de diversos dispositivos e ter efeito multiplicador (viral). A definição pode ser encontrada em MAIL-
ER MAILER. Email Marketing Metrics Report 2008. Disponível em http://cdn.mailermailer.com/documents/
email-marketing-metrics-2008h2.pdf Acesso 14 nov. de 2010.
66. A lista de emails enviados não será divulgada por questões de confidencialidade.
73
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
dos emails enviados foi composta por grupos que representam nacionalmente
os profissionais da área da Comunicação, tanto no quesito formação; categorias
profissionais representadas por associações e sindicatos que representam
formalmente as categorias e grandes empresas de todos os segmentos. A coleta de
emails para a distribuição da matriz da pesquisa buscou atingir universalmente
os segmentos brasileiros que disponibilizaram os canais de retorno. A amostra
foi, portanto, composta aleatoriamente dentro do universo que engloba os
profissionais da área de Comunicação.
Amostragem Probabilística
A pesquisa usou o levantamento por amostragem, recurso que permite a obtenção
de informações a respeito de valores populacionais desconhecidos, por meio da
observação de apenas uma parte do seu universo de estudo (população). Na
amostragem probabilística todos os indivíduos da população possuem a mesma
chance de pertencer à amostra.
74
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
68. Primeiramente o pesquisador deverá decidir o valor máximo aceitável para o erro de amostragem, assim ele
estará fixando a precisão do processo de amostragem antes de selecionar a amostra e obter os resultados.
75
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Índice
Sexo Quant.
(%)
Masculino Feminino
47,8%
52,2%
76
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Branco 73%
Pardo 21,1%
Preto 4,4%
Amarelo 0,9%
Indígena 0,6%
77
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
30,4% 30,1%
13,3%
10,4% 9,9%
4,7%
0,3% 0,9%
Menos de 18 a 24 25 a 32 33 a 39 40 a 46 47 a 53 54 a 61 Acima de
17 61
78
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Índice
Estado Quant. (%)
Rio Grande do Norte 1 0,3
Alagoas 1 0,3
Amazonas 1 0,3
Tocantins 1 0,3
Piauí 2 0,6
Roraima 2 0,6
Espírito Santo 3 0,9
Pará 3 0,9
Ceará 6 1,7
Bahia 7 2,0
Rondônia 8 2,3
Santa Catarina 11 3,2
Paraná 12 3,5
Distrito Federal 13 3,8
Goiás 13 3,8
Pernambuco 17 4,9
Rio de Janeiro 22 6,4
Mato Grosso do Sul 23 6,7
Rio Grande do Sul 25 7,3
Minas Gerais 27 7,8
Mato Grosso 60 17,3
São Paulo 87 25,1
Total 345 100
Nas respostas sobre o lugar onde as pessoas residem, 25,1% reside no estado
de São Paulo, e o restando do país corresponde a 74,9%.
79
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
80
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Essa foi uma questão aberta, na qual as pessoas tiveram liberdade para
descrever qual era a sua posição profissional, e não necessariamente a descrição
formal das profissões que são regulamentadas. Diante disso a profissão que obteve
a maior porcentagem foi a de Jornalista com 36,1%, seguido de Professor 17,2%
e Publicitário com 11,3%.. Devido a grande variabilidade de respostas dadas pelos
sujeitos às suas profissões, houve necessidade de um agrupamento das respostas
levando em consideração o critério de semelhança entre as respostas obtidas na
pergunta sobre atividades realizadas. A categoria Outros traz as respostas que não
puderam ser agrupadas em outras categorias profissionais69 .
69. As respostas recebidas e catalogadas como Outros, citam as seguintes profissões: Adm. Empresas, Adminis-
tração, Administração e Marketing, Ciências Agrárias, Arquitetura, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Sociais,
Comunicação Social, Design, Artes Visuais e afins, Design, Artes Visuais e afins, Tecnologia da Informação,
Tecnologia digital, Tecnologia de , Desenvolvimento de Software e afins, Direito, Enfermagem, Engenharia,
Serviço Social, Geografia, Gestão de Marketing, História, Licenciatura e Educação, Produção Cultural, Pro-
fessor/Pesquisador, Professor, Sound Designer, Tecnologia da Informação, Tecnologia Digital, Tecnologia de
Desenvolvimento de Software e afins.
81
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Jornalista 36,1%
Professor 17,2%
Publicitário 11,3%
Comunicador 5,8%
Outros 5,2%
Cineasta 4,6%
Assessor de Comunicação 4,3%
Radialista 2,9%
Ilustrador / Animador 2,3%
Produtor audiovisual 2%
Game designer 1,4%
Social Media 1,4%
Designer gráfico 1,4%
Desenvolvedor Web 1,4%
Editor 1,2%
Fotógrafo 0,9%
Produtor cultural 0,6%
82
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Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
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Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
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Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
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Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
as seguintes:
• Desenvolver pesquisas e auditorias de opinião e imagem.
• Realizar diagnósticos com base em pesquisas e auditorias de opinião e
imagem.
• Elaborar planejamentos estratégicos de comunicação institucional.
• Estabelecer programas de comunicação estratégica para criação e
manutenção do relacionamento das instituições com seus públicos de interesse.
• Coordenar o desenvolvimento de materiais de comunicação, em
diferentes meios e suportes, voltados para a realização dos objetivos estratégicos
do exercício da função de Relações Públicas.
• Dominar as linguagens verbais e audiovisuais para seu uso efetivo a
serviço dos programas de comunicação que desenvolve.
• Identificar a responsabilidade social da profissão, mantendo os
compromissos éticos estabelecidos.
• Assimilar criticamente conceitos que permitam a compreensão das
práticas e teorias referentes às estratégias e processos de Relações Públicas.
87
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
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Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
89
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
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Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
91
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
habilidades ensinadas nem sempre são as exigidas para a realização das atividades
profissionais. A lacuna entre o que é aprendido nos cursos de Comunicação
Social e o que é solicitado pelo mercado de trabalho pode vir a ser preenchida por
profissionais formados em outras áreas do conhecimento, em cursos superiores
de bacharelado ou tecnológico, em cursos técnicos ou mesmo sem formação
específica – compondo um grupo de profissionais autodidatas.
92
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Superior entre 1999 e 2008, porém houve dificuldades em obter dados dos anos
anteriores a 2008, sendo este a última compilação de dados. De modo que a
equipe optou por fazer um espelho de 2008 que mostra a situação atual da
Comunicação. Os dados foram coletados no site do MEC/Inep/Deed, Censo do
Ensino Superior.
Foi feita uma análise descritiva dos dados, que consistiu em agrupar as
observações em tabelas com os índices (percentuais) para o número de cursos
de graduação presencias, número de matrículas e concluintes para a área de
Comunicação e áreas afins nas instituições públicas e privadas e também para os
cursos de graduação à distância na área de Comunicação e a distribuição desses
cursos nas regiões do Brasil.
O agrupamento de cursos nomeados como “áreas afins” foi constituído a
partir de outros cursos de graduação reconhecidos pelo MEC e não pertencentes
à Comunicação Social, porém relacionados às habilidades e competências
solicitadas aos profissionais que atuam no mercado de trabalho da Comunicação.
O agrupamento desses cursos nessa categoria denominada “áreas afins” foi
realizado a partir do início das respostas apuradas com o retorno do questionário
online enviado. Após catalogação dos dados similares e checagem com a lista de
cursos oferecida pelo MEC, chegou-se a uma tabela de cursos.
Para uma melhor visualização dos resultados, foram construídos gráficos de
barras com os percentuais para cada variável em estudo.
93
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
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Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Fonte: MEC/Inep/Deed
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96
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Eventos 2% 98%
Produção gráfica 100%
Tecnologia em gestão de telecomunicações 100%
Telemática 75% 25%
Telecomunicações 38% 62%
Tecnologia digital 100%
Engenharia de telecomunicações 22% 78%
Engenharia de redes de comunicação 50%
50%
Engenharia de comunicações 100%
Uso da internet 10% 90%
100%
Tecnologia da informação 16% 84%
Produção cultural 50%
50%
Estudos culturais 100%
Relações públicas 15% 85%
Publicidade e propaganda 14% 86%
Mercadologia (marketing) 3% 97%
Marketing e propaganda 100%
Rádio e tele-jornalismo 100%
Produção editorial 100%
Jornalismo 57% 43%
Cinema e vídeo 100%
Comunicação Social 14% 86%
Empreendedorismo 50%
50%
Administração em marketing 7% 93%
Ciência da informação 33% 67%
Som e imagem 100%
Programação visual 100%
Produção de música gravada 100%
Produção de multimídia 100%
Produção cinematográfica 25% 75%
Multimídia 33% 67%
Fotografia 100%
Criação gráfica 90%
10%
Audiovisuais 3% 97%
Cenografia 18% 82%
Projeto de produto 24% 76%
Design 18% 82%
Desenho e plástica 100%
Cinema e animação 50% 50%
Artes visuais 44% 56%
Artes e mídia 100%
Formação de professor de desenho 100%
Formação de professor de artes visuais 72%
28%
Privada Pública
Fonte: MEC/Inep/Deed
97
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Integração de Cursos
De Para
Artes gráficas Artes visuais
Ilustração Design / Artes visuais
Produção de rádio e TV Produção audiovisual
Comunicação visual Publicidade e Propaganda/ Design
Fonte: MEC/Inep/Deed
Cursos Ano
Programação visual
Telemática
Cursos que re-surgiram em 2007
Tecnologia em gestão de telecomunicações
Produção gráfica
Cinema e animação
Cursos que re-surgiram em 2008
Desenho e plástica
98
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Pública Privada
Fonte: MEC/Inep/Deed
Figura 10: Gráfico das projeções dos cursos para a Comunicação (2009-2011).
625
620
615
Número de Cursos
610
605
600
595
2009 2010 2011 2012 2013
Anos
100
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
300
200
100
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Anos
Evolução real Projeção
101
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Fonte: MEC/Inep/Deed
Como observa-se na tabela acima, 14% das matriculas são realizadas nas
instituições públicas, com 41.636 matriculados, e nas instituições privada
foram 86%, sendo 260.723 matriculados. Ou seja, temos um total de 302.359
matriculados nas instituições públicas e privadas. Isto mostra que as instituições
102
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Privada Pública
Fonte: MEC/Inep/Deed
103
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Fonte:MEC/Inep/Deed
33% 30%
11% 14%
Pública Privada
104
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Fonte: MEC/Inep/Deed
Previsões para o
número de Intervalo de confiança
Anos Real matriculas 95%
2000 19.752
2001 115.983
2002 141.187
Fonte: MEC/Inep/Deed
105
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Imagem 14: Gráfico da evolução das matrículas nos cursos presenciais na área de
Comunicação
200000
180000
160000
140000
120000
Número de Matrícula
100000
80000
60000
40000
20000
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Anos
Evolução real Projeção
106
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Índice de Índice de
cursos para cursos para
instituições instituições
Cursos Pública Privada públicas (%) privadas (%)
Formação de professores de artes
visuais 60 287 17 83
Formação de professores de desenho 8 - 100 -
Artes e mídia 6 - 100 -
Artes visuais 83 226 27 73
Design 93 1.129 8 92
Cenografia 11 66 14 86
Audiovisuais 13 220 6 94
Criação gráfica 48 453 10 90
Fotografia - 102 - 100
Multimídia 9 52 15 85
Produção cinematográfica 1 71 1 99
Produção de multimídia - 189 - 100
Produção de música gravada - 76 - 100
Programação visual - 1 - 100
Som e imagem 14 - 100 -
Ciência da informação 17 27 39 61
Administração em Marketing 6 171 3 97
Empreendedorismo - 23 - 100
Cinema e vídeo - - - -
Comunicação Social 3.282 23.979 12 88
Jornalismo 55 30 65 35
Produção editorial 6 - 100 -
Rádio e tele-jornalismo - 1 - 100
Marketing e propaganda - 317 - 100
Mercadologia (Marketing) 85 3.967 2 98
Publicidade e Propaganda 45 701 6 94
Relações públicas 31 371 8 92
Estudos culturais 12 - 100 -
Produção cultural 11 - 100 -
Tecnologia da informação 155 316 33 67
Tecnologia em desenho de softwares - 23 - 100
Uso da internet 17 405 4 96
Engenharia de comunicações - 7 - 100
Engenharia de redes de comunicação 14 - 100 -
Engenharia de telecomunicação 41 135 23 77
Tecnologia digital - 9 - 100
Telecomunicações 41 151 21 79
Telemática 15 15 50 50
Tecnologia em gestão de
telecomunicações - 62 - 100
Produção gráfica - 24 - 100
Eventos 6 191 3 97
TOTAL 4.185 33.797 - -
Fonte: MEC/Inep/Deed
107
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Eventos 3% 97%
Produção gráfica 100%
Tecnologia em gestão de telecomunicações 100%
Telemática 50%
50%
Telecomunicações 21% 79%
Tecnologia digital 100%
Engenharia de telecomunicação 23% 77%
Engenharia de redes de comunicação 100%
Engenharia de comunicações 100%
Uso da internet 4% 96%
Tecnologia em desenho de softwares 100%
Tecnologia da informação 33% 67%
Produção cultural 100%
Estudos culturais 100%
Relações públicas 8% 92%
Publicidade e propaganda 6% 94%
Mercadologia (marketing) 2% 98%
Marketing e propaganda 100%
Rádio e tele-jornalismo 100%
Produção editorial 100%
Jornalismo 65% 35%
Comunicação social 12% 88%
Cinema e vídeo
Empreendedorismo 100%
Administração em marketing 3% 97%
Ciência da informação 39% 61%
Som e imagem 100%
Programação visual 100%
Produção de música gravada 100%
Produção de multimídia 100%
Produção cinematográfica 1% 99%
Multimídia 15% 85%
Fotografia 100%
Criação gráfica 10% 90%
Audiovisuais 6% 94%
Cenografia 14% 86%
Design 8% 92%
Artes visuais 27% 73%
Artes e mídia 100%
Formação de professores de desenho 100%
Formação de professores de artes visuais 17% 83%
Privada Pública
Fonte: MEC/Inep/Deed
108
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Cinema e vídeo - - 0 0
Jornalismo 55 30 65 35
Publicidade e
Propaganda 45 701 6 94
Fonte:MEC/Inep/Deed
100% 100%
94% 92%
88%
65%
35%
12% 8%
6%
0% 0% 0% 0%
Pública Privada
109
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Fonte: MEC/Inep/Deed
Previsões para o
número de Intervalo de confiança
Anos Real concluintes 95%
2000 2.663
2001 14.022
2002 17.025
2003 19.950
Fonte: MEC/Inep/Deed
110
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Imagem 17: Gráfico da evolução dos concluintes nos cursos presenciais na área de
Comunicação
35000
30000
Número de Concluintes
25000
20000
15000
10000
5000
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Anos
2009 15 (9 ; 21)
111
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Imagem 18: Gráfico das estimativas dos cursos de graduação a distância para a área de
Comunicação
20
15
Estimativas
10
Estimado
5
0
2009 2010 2011 2012
Anos
72. Não há uma base de dados que contemple uma relação completa desses cursos. Os dados apresentados aqui
obtidos através de consulta por busca de palavras-chave na Internet.
112
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Total 31 100
113
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Figura 19: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Sudeste
Região Sudeste
Programação e Desenvolvimento
3,2%
de Sistemas
Telecomunicações 3,2%
Programação e Desenvolvimento
3,2%
de Sistemas
Como pode ser observado na tabela acima, a região Sul tem oferta de cursos
que apresentam formação específica para a área de Comunicação. Chama a
atenção o curso de jogos digitais, por ser o único do país nessa modalidade de
ensino.
114
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Figura 20: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Sul
Região Sul
Telecomunicações 12,5%
Total 9 100
115
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Figura 21: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Centro-Oeste
Região Centro-Oeste
44,4%
Telecomunicações 11,1%
Programação e Desenvolvimento de
22,2%
Sistemas
Índice
Cursos/Região Norte Quant. (%)
Figura 22: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Norte
Região Norte
116
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
A segunda maior oferta de cursos está na região Nordeste, como pode ser
visto na tabela acima. É a única região que oferece o curso técnico em multimeios
didáticos.
Figura 23: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Nordeste
Região Nordeste
75,8%
Técnico em Informática
Telecomunicações 6,1%
Técnico em Programação de
3,0%
Computadores
117
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Índice
Cursos\Região Sudeste Quant.
(%)
Análise e Desenvolvimento de Sistemas 1 0,5
Web Design 1 0,5
Processos Fotográficos 1 0,5
Tecnologia em Marketing 1 0,5
Telecomunicações 2 1,1
Comunicação Visual 8 4,4
Marketing 14 7,7
Informática para Internet 33 18,1
Técnico em Informática 121 66,5
Total 182 100
118
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Pode-se observar na tabela acima que, assim como nos cursos técnicos nos
tecnológicos é alto o índice de cursos em informática. Por outro lado, cresce
a presença dos cursos específicos da área da Comunicação, como por exemplo,
marketing e comunicação visual.
Região Sudeste
66,5%
Técnico em Informática
Marketing 7,7%
Telecomunicações 1,1%
Análise e Desenvolvimento de
0,5%
Sistemas
Índice
Cursos\Região Sul Quant.
(%)
Sistemas em Telecomunicações 1 100,0
Total 1
119
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Região Sul
Figura 26: Gráfico dos cursos tecnológicos de outras instituições/Região Centro Oeste
Região Centro-Oeste
Análise e Desenvolvimento de
100%
Sistemas
120
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Região Nordeste
Análise e Desenvolvimento de
25%
Sistemas
121
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Ensino Técnico 2%
122
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
123
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Jornalismo 45,5%
Outros 15,7%
Publicidade e Propaganda 15,4%
Audiovisual e Cinema 5,5%
Não Possui 5,2%
Jornalismo e outros 3,5%
Radio e TV 3,2%
Relações Públicas 1,5%
Não Informado 1,2%
Audiovisual e Cinema e outros 1,2%
Publicidade e propaganda e outros 0,9%
Radio e TV e outros 0,6%
Relações Públicas e outros 0,3%
Editoração 0,3%
124
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Importante 30,1%
24,6%
75,4%
125
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
126
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
127
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Radialismo
A regulamentação desta profissão considera radialista os empregados de empresas
de radiodifusão que exerçam as funções dispostas pelo decreto nº 84134, de 30
de outubro de 1979. O texto descreve o que são empresas de radiodifusão, a
documentação necessária para registro profissional, detenção de direitos autorais,
duração, condições de trabalho e divide as diversas funções dos radialistas nas três
grandes categorias: administração, produção e técnica.
Na classificação das funções dos radialistas, segundo o decreto de 1979,
observa-se a inclusão de profissionais de outras áreas do conhecimento. Entende-
se que profissionais como cabeleireiros, técnicos de manutenção, eletricistas
e cenógrafos podem prestar serviços em produções de áudio e vídeo. Sugere-
se que na próxima atualização da regulamentação esses profissionais seguem a
regulamentação de suas atividades principais.
A falta de atualização nessa legislação não contempla os profissionais das
mídias digitais, de modo que a classificação inclui profissões hoje em vias de
extinção, como a de editor de videoteipe, que foram substituídas por outras que
realizam funções semelhantes em outros equipamentos.
Publicidade e Propaganda
O decreto nº 57.690, de 1º de fevereiro de 1966 define como publicitário os
profissionais que atuam em agências de propaganda, veículos de comunicação
ou empresas que produzam “qualquer forma remunerada de difusão de idéias,
128
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Relações Públicas
A profissão de Relações Públicas foi regulamentada pelo decreto 5.377 de 11 de
fevereiro de 1967, que define como o objeto geral da profissão o esclarecimento e
a compreensão mútua entre as instituições públicas, privadas e grupos ou pessoas
as quais estejam ligadas. O texto jurídico versa sobre as atividades específicas
dos profissionais de Relações Públicas, o registro, o exercício profissional e exige
diploma de graduação para esses profissionais.
Cinema
Os profissionais de Cinema aparecem na legislação que dispõe sobre a
regulamentação dos profissionais de artista e técnico em espetáculos de
diversão: o decreto nº 82.385, de 5 de outubro de 1978. O texto denomina
artista o profissional que cria, interpreta ou executa obra de caráter cultural
de qualquer natureza para efeito de exibição ou divulgação pública, através de
meios de Comunicação de massa ou em locais onde se realizam espetáculos de
diversões públicas; e como técnico em espetáculos de diversão o profissional
que, mesmo em caráter auxiliar, participa, individualmente ou em grupo, de
atividade profissional ligada diretamente à elaboração, registro, apresentação ou
conservação de programas, espetáculos e produções. O texto jurídico explicita
que não estão inclusos nesta categoria os profissionais que prestam serviços a
empresas de radiodifusão.
Essa mesma legislação incorpora, além dos profissionais do Cinema, os
profissionais do circo e de fotonovelas. A regulamentação dispõem de anexo no
qual estão as descrições das atividades correspondentes a cada profissional.
Editoração
A profissão de Editoração ainda não possui regulamentação.
129
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
130
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Pisos salariais
Os pisos salariais para os profissionais de Comunicação Social são definidos por
sindicatos e associações. Durante a pesquisa foi observado que nem todas as
regiões disponibilizam dados ou que algumas habilitações não tem pisos definidos,
como é o caso dos profissionais de cinema. A partir do levantamento dos dados
disponíveis foi possível traçar a variação dos salários por região e calcular o salário
médio nas habilitações de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Cinema,
Audiovisual e Rádio e TV. Não foi possível encontrar definições para os pisos
salariais dos profissionais de Relações Públicas e Editoração.
Jornalismo
O cálculo para o salário médio da profissão de Jornalismo para as regiões do Brasil
foi feito a partir dos dados obtidos da Federação Nacional dos Jornalistas, onde
é fornecido o salário normativo que foi fixado pelo Tribunal do Trabalho, por
estados para os anos 2009/2010. Os dados foram agrupados em regiões, dentro
dos estados onde havia subdivisões como emissoras de televisão e rádios, empresas
jornalísticas da mídia eletrônica e impressa, sediadas em capitais e cidades do
interior etc. A partir do cálculo do salário médio desses estados e obteve-se uma
comparação do salário médio nas diversas regiões do Brasil, mostrada na tabela
abaixo.
131
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Figura 33: Gráfico dos salários médios dos jornalistas nas regiões do Brasil.
1.800,00
1.600,00
1.400,00
1.200,00
Salários
1.000,00
800,00
600,00
400,00
200,00
0,00
norte Nordeste Centro -Oeste Sul Sudeste
salário mèdio R$ 1.288,02 R$ 1.454,51 R$ 1.342 R$ 1.576,52 R$ 1.350,30
Tabela 35: Coeficientes de variação dos salários médio das regiões do Brasil
Salários médios para Capitais e Interiores dos Estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Espírito Santo
Existem indicativos de que os salários dos jornalistas nas capitais são maiores
em comparação ao interior. Com os dados obtidos da Federação Nacional dos
Jornalistas para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, foi
132
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Capital Interior
Salários médios R$1.549,529 R$1.266,807
Coeficiente de variação 45% 41%
Fonte: Federação Nacional dos Jornalistas.
Observa-se que nas capitais destes estados o salário médio dos jornalistas
é maior em relação ao interior, e possui um coeficiente de variação de 45% em
relação à média. No interior existe uma variação de 41%.
Publicidade e Propaganda
A seguir será mostrado o salário médio normativo para as regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste, para o período 2010/2011, e para a região Nordeste 2008/2009.
Rádio e TV
Audiovisual
Os dados disponíveis para o cálculo do piso Salarial Médio Normativo para
Audiovisual, não foi dividido por regiões, e sim em um único dado nacional. Para
estes dados, o Coeficiente de variação é de 43,6% que corresponde a uma Média
Salarial Normativa de R$ 858,99.
Nacional/semanal
Salário Médio R$858,99
Fonte: Sindicatos brasileiros, ver nota de rodapé 3
134
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
25 23,8% 23,8%
21,4%
20
14,2%
15
Índice
10 8,7% 7,8%
5
0,3%
0
Não Até 1.000 1.000 - 2.000 - 3.000 - 4.000 - Mais de
Informada 2.000 3.000 4.000 5.000 5.000
Renda mensal individual
135
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
12,00
40,9%
39,1%
10,00
Função densidade
8,00
6,00
4,00 11,6%
8,4%
2,00
0,00
Até 4 horas 4-8 8 - 12 Mais de 12 horas
Média de horas de trabalho
136
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
137
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
138
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Governo 7,5%
139
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
34,8%
25,2%
20,9%
11,6%
7,5%
140
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Índice
Tempo de trabalho na atividade atual Quant. (%)
Menos de 1 ano 76 22,0
1 a 3 anos 110 31,9
3 a 6 anos 58 16,8
6 a 10 anos 36 10,4
Mais de 10 anos 65 18,9
Total Geral 345 100
25
22%
20
Função densidade
31,9%
15
10
16,8% 18,9%
5 10,4%
0
Menos de 1 1 a 3 anos 3 a 6 anos 6 a 10 anos Mais de 10
ano anos
Tempo na atividade atual
141
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Profissões emergentes
Analista de palavras-chave
Trabalha principalmente com links patrocinados pelo Google, Yahoo e outros
sistemas de busca. Escolhe as palavras-chaves mais adequadas, compõe o texto
dos anúncios, acompanha o desempenho dos anúncios e define estratégias.
Este profissional é normalmente encontrado em agência de marketing digital e
campanhas74.
Animador Cultural
Apresentam e/ou animam programas de rádio e televisão, festas populares,
eventos, atrações circenses ou outros tipos de espetáculos; orientam-se por
roteiros ou fazem improvisações para divertir, informar e/ou instruir o público,
telespectador ou ouvinte75.
Animador
É quem anima os personagens e cenários, do movimento e faz a interatividade
dos personagens com o usuário. Nota dos autores: durante a pesquisa não foi
encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/ocupação.
Animação 2D e 3D, nesse tipo de animação, participam do processo profissionais
específicos para cada área: conceito original, modelagem, texturização, iluminação,
ambiente, artista especializado em personagem.
Arquiteto da informação
Desenvolvem e implantam sistemas informatizados dimensionando requisitos
e funcionalidade dos sistemas, especificando sua arquitetura, escolhendo
74. Fonte: http://www.e-commerce.org.br/profissoes-internet.php.
75. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho
142
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Blogger profissional
Administra a publicação de conteúdo e a manutenção de um blog. Pode trabalhar
em blogs corporativos ou para si próprio, obtendo receita de publicidade vinda de
seu blog. Pesquisa e publica conteúdo com regularidade. Deve escrever bem, ter
muita familiaridade com Internet, suas peculiaridades e conhecer bem ferramentas
de publicação de conteúdo como Blogger e Wordpress77.
Consultor BI
Business Intelligence é um conjunto de processos realizados em uma atividade
profissional de modo a torná-lo mais eficiente. A eficiência vem do fato de que as
decisões partem de dados que são analisados. Ao invés de decidir por intuição ou
pela percepção do que acontece, passa-se a decidir baseando-se em informações,
em dados que são colhidos no próprio negócio e fora dele. A maioria dos dados é
obtida por meio de ferramentas de automação comercial78.
Contra Hacker
Profissional que protege o sistema contra invasões. Nota dos autores: durante a
pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/
ocupação.
Copywriter
Profissional que atua em mídias digitais, tendo como objeto de trabalho não só
o texto propriamente dito, mas também toda e qualquer informação textual ou
visual que seja veiculada. Sendo assim, sua preocupação não deve estar restrita
à precisão, qualidade e criatividade do texto, mas também a questões ligadas à
organização e à facilidade de acesso à informação79.
143
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Educomunicadores
A educomunicação tem como meta construir a cidadania, a partir do pressuposto
básico do exercício do direito de todos à expressão e à comunicação81.
Engenheiro de Plataforma
Operam sistemas de computadores e microcomputadores, monitorando o
desempenho dos aplicativos, recursos de entrada e saída de dados, recursos
de armazenamento de dados, registros de erros, consumo da unidade central
de processamento (cpu), recursos de rede e disponibilidade dos aplicativos.
Asseguram o funcionamento do hardware e do software; garantem a segurança
das informações, por meio de cópias de segurança e armazenando-as em local
prescrito, verificando acesso lógico de usuário e destruindo informações sigilosas
descartadas. Atendem clientes e usuários, orientando-os na utilização de hardware
e software; inspecionam o ambiente físico para segurança no trabalho82.
Engenheiro de software
Projetam soluções em tecnologia da informação, identificando problemas e
oportunidades, criando protótipos, validando novas tecnologias e projetando
aplicativos em linguagem de baixo, médio e alto nível. Programam soluções
em tecnologia da informação, gerenciam ambientes operacionais, elaboram
documentação, fornecem suporte técnico e organizam treinamentos a usuários83.
Especialista em SEO
SEO é a sigla para Search Engine Optmization, em português, mecanismo de
otimização de busca. Pesquisa, analisa e realiza modificações no site, de forma
a melhorar o posicionamento nos sites de busca. Com o aumento do valor do
80. Fonte: http://curitiba.ifpr.edu.br/?page_id=1337
81. Fonte: http://www.usp.br/nce/aeducomunicacao/
82. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho
83. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho
144
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Gamer
É o que testa a jogabilidade, a navegação e a facilidade do game. O gamer, na
maioria das vezes, se forma em cursos de computação e Design de Games. Nota
dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências
para essa profissão/ocupação.
Hacker
Profissional contratado para tentar entrar em sistemas, e apontar possíveis falhas.
Nota dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com
referências para essa profissão/ocupação.
Marketólogo
Atua na definição do planejamento estratégico da empresa; define e executa
84. Fonte: http://www.e-commerce.org.br/profissoes-internet.php
85. Fonte: http://www.e-commerce.org.br/profissoes-internet.php
145
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Observadores midiáticos
Observam a cobertura midiática de certos temas, ajudam a perceber e a
compreender os mecanismos nem sempre evidentes de formação de opinião,
os vícios e os valores que permeiam as estratégias das empresas jornalísticas e
os próprios procedimentos dos jornalistas envolvidos. As práticas de análise e
crítica dos media watchers, observadores midiáticos, visam, entre outros objetivos,
contribuir para o aperfeiçoamento dos meios de comunicação87.
Ombudsman
É ele quem resolve solicitações de clientes, atende a demandas de parceiros
comerciais, de órgãos reguladores e de defesa do consumidor e ainda responde
cartas enviadas à diretoria e acionistas88.
Produtor audiovisual
Implementam projetos de produção. Para tanto criam propostas, realizam a pré-
produção e finalização dos projetos, gerindo os recursos financeiros disponíveis
para o mesmo89.
Research
Profissional da indústria de jogos eletrônicos responsável pela pesquisa para
contextualização dos cenários e roteiro do game. Nota dos autores: durante a
pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/
ocupação.
146
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências
para essa profissão/ocupação.
Roteirista de games
Profissional responsável pela criação da história de um jogo mantendo a
coerência, como em uma novela. Esse profissional produz pautando-se em lógicas
de interatividade entre jogo e jogador90.
Web designer
Profissional responsável pela elaboração de projetos estéticos e funcionais de um
web site. Requerem habilidades multidisciplinares como design e programação,
assim como referências sobre usabilidade e acessibilidade91.
Web master
Desenvolvem e dimensionam requisitos de funcionalidade dos sistemas,
especificando sua arquitetura, escolhendo ferramentas de desenvolvimento,
especificando programas, codificando aplicativos. Administram ambiente
informatizado, prestam suporte técnico ao cliente, elaboram documentação
técnica. Estabelecem padrões, coordenam projetos, oferecem soluções para
ambientes informatizados e pesquisam tecnologias em informática92.
147
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Webwriter
O Webwriter escreve texto jornalístico e realiza pesquisas para embasar o conteúdo
publicado. Além de saber escrever bem, precisa estar familiarizado com a web,
conhecer o perfil do internauta e padrão de comunicação mais eficiente neste
meio93.
Programador de internet
Desenvolvem sistemas e aplicações, determinando interface gráfica, critérios
ergonômicos de navegação, montagem da estrutura de banco de dados e
codificação de programas; projetam, implantam e realizam manutenção de
sistemas e aplicações; selecionam recursos de trabalho, tais como metodologias
de desenvolvimento de sistemas, linguagem de programação e ferramentas de
desenvolvimento. Planejam etapas e ações de trabalho94.
Programador de multimídia
Programador de aplicativos educacionais e de entretenimento; Programador de
CD-ROM95.
148
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Acesso a Internet
Desde 2004 o Brasil vem apresentando vertiginoso crescimento anual dos acessos
a internet rápida, haja vista que em 2009 o país contou com 21,7 milhões de
acessos à internet rápida, sendo 13 milhões de acessos fixos e 8,7 milhões de
acessos móveis. É esse potencial informacional que garante a migração de grande
parte dos trabalhos de Comunicação Social tem para a Internet. O comunicador
constrói texto, vídeo e imagem ou aplicativos utilizando uma linguagem
transmídia. A extensão do telejornal ou dos anúncios publicitários para a internet
demanda pouco investimento e devido ao aumento de acessos rápidos cada vez
mais usuários têm acesso a conteúdos online.
Fonte: Anatel
TV por assinatura
De 2008 a 2009 o número de assinantes dos serviços de TV por assinatura
registrou crescimento de quase 20% o maior aumento percentual da década. Esse
serviço somava 7,5 milhões de assinantes, conforme figura 42. E Considerando-
se o numero médio de 3,3 pessoas por domicílio segundo o IBGE na pesquisa
nacional de domicílios feita em 2008, os serviços de TV por Assinatura eram
distribuídos a quase 25 milhões de pessoas.
149
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Fonte: Anatel
150
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
151
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
152
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
153
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
97. As definições foram retiradas integralmente do documento Plano de capacitação: Necessidades de Formação
de Recursos Humanos no Contexto da Implantação de TV Digital Terrestre no Brasil
154
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Indústria de games
Considerada como área emergente, a indústria de games parece configurar-se
como novo segmento do mercado de trabalho da comunicação. A Associação
Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames), em 2008,
apresentou os resultados de um mapeamento que buscou identificar o crescimento
industrial do setor de games. A pesquisa98 focou o desenvolvimento da indústria,
98. Organizadores da pesquisa: Bernando Ivan Pequeno Reyes Manfredini (Consultor de Marketing); Raquel
Rizoli (Estatística); Beatriz Castro Dias Cuyabano (Estatística); André Gustavo Gontijo Penha (Presidente
Abragames); Winston George Andrade Petty (Vice Presidente Administrativo-Financeiro, Abragames). Os da-
dos completos da pesquisa estão disponíveis em < http://www.abragames.org/docs/Abragames-Pesquisa2008
155
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101. Este é o caso do Jornal Folha de São Paulo que prefere contratar jornalistas com pós-graduação.
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103. A decisão foi tomada a partir do capitulo V da Constituição Brasileira, art. 220. O documento está dis-
ponível no link <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/671360.pdf>. Acesso em 15 nov. de 2010.
104. O parecer completo, aprovado pela comissão no Senado, está disponível no endereço eletrônico<http://
legis.senado.gov.br/mate-pdf/70949.pdf>.
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Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
onde não existem leis específicas exigindo o diploma, observa-se a preferência dos
empregadores pelos profissionais oriundos dos cursos universitários. Portanto, ao
que parece, observando os resultados da pesquisa apresentados por Ribeiro, é que
o fato de um país não possuir lei exigindo o diploma superior em jornalismo para
o exercício profissional, não implica na falta de interesse dos estudantes daquele
país pela formação específica oferecida tanto em nível de graduação como de pós-
graduação ou doutorado na área.
No caso do Brasil, tendo em vista que na sociedade da informação o
conhecimento é bem e recurso e que a convergência tecnológica impõe sérios
ataques a ideia de reserva de mercado, será necessário investigar em profundidade
tais questões para entender os interesses dos atores sociais envolvidos no debate
e em que medida poder-se-á conciliar os direitos adquiridos e uma formação de
nível superior compatível com as novas habilidades necessárias ao exercício da
profissão no século XXI.
161
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Minas Gerais.
Termo de Convenção Coletiva Sindicato dos publicitários e trabalhadores
em agências
de propaganda de Belo Horizonte e Sindicato das agências de propaganda
do estado
de Minas Gerais. Disponível em http://www.sindapro-mg.com.br/index.
php?
option=com_content&view=article&id=20&Itemid=61. Acesso em 05 de
nov. de 2010
SINAPRO/PE – Sindicato das Agências de Propaganda de Pernambuco.
Disponível em http://www.sinapro-pe.com.br/. Acesso em 05 de nov. de 2010
SINAPRO/RJ – Sindicato das Agências de Propaganda do Estado do Rio
de Janeiro. Disponível em http://www.sinapro-rj.com.br/. Acesso em 04 de nov.
de 2010
SINAPRO/RS – Sindicato das Agências de Propaganda do Estado do Rio
Grande do Sul.
Disponível em http://www.sapergs.com.br/. Acesso em 04 de nov. de 2010
SINAPRO/SC – Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de Santa
Catarina. Disponível em < http://www.sinaprosc.com.br/>. Acesso em 10 de nov.
de 2010
SINAPRODF – Sindicato dos Publicitários do Distrito Federal. Disponível
em http://
www.sinaprodf.com.br/novo/. Acesso em 10 de nov. de 2010
SINAPROSP – Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de São
Paulo. Disponível em http://www.sinaprosp.org.br/. Acesso em 04 de nov. de
2010
SINTERCOM - Sindicato dos Radialistas de Mato Grosso do Sul http://
www.radialistasms.org.br/. Acesso em 04 de nov. de 2010
SINTERP/BA – Sindicato dos Trabalhadores em Rádio, TV e Publicidade
do Estado da Bahia. Disponível em http://www.sinterpba.org.br/. Acesso em 04
de nov. de 2010
STEPPR – Sindicato dos Publicitários do Paraná. Disponível em http://
www.steppr.com.br/. Acesso em 04 de nov. de 2010
STIC – Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indústria
171
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
172
CAPÍTULOS 3
Alexandre Kieling117
Atualmente, vive-se, no Brasil, um período de transição que vem substituindo, de
forma gradual, a produção e distribuição de conteúdos por meios analógicos pela
realizada por meios digitais que, por sua vez, impactam nas lógicas de consumo.
Diante de uma perspectiva de convergência, desses meios tecnológicos de
comunicação, por meio da digitalização, principia um processo que redimensiona
as relações entre emissor e receptor. Trata-se de uma nova dinâmica que vem
convidando aos pesquisadores e profissionais de mercado a uma reflexão sobre os
modelos comunicacionais e, sobretudo, sobre os sistemas de produção, circulação
e consumo, tais quais são compreendidos e ensinados ao longo do uso das
tecnologias analógicas.
A possibilidade de migrar da tinta e do papel, da película, das ondas
hertzianas, do fio de cobre para aparatos digitais móveis não redimensiona somente
os sistemas de produção dos conteúdos e as formas de expressão cultural e criativa.
Não se trata apenas de novas maneiras de fazer, publicar, divulgar. Há movimentos
mais agudos que aqueles que se operam no âmbito da tecnologia, do suporte, ou
das re-configurações das dinâmicas e dos processos no campo econômico. O que
a sociedade está vivenciando, em diferentes níveis, sinaliza importantes impactos
que, embora incluam tensões nas lógicas de mercado, nas hierarquias de controle
e produção, igualmente desalojam paradigmas sociais, culturais, econômicos,
políticos e, inclusive, tecnológicos. Emergem novas definições de indústria, de
sociabilidades, de produção da cultura e atuação política.
Verificam-se assim novas articulações conceituais. A noção de consumidor
ou usuário e, até mesmo de audiência articulada a partir da ideia de massa,
de passividade, de manipulação, que começou a esmaecer com os primeiros
resultados dos estudos culturais (anos 80 e 90), cambaleou com a rápida evolução
da internet e agora incorpora nova perspectiva. Com a digitalização do jornal,
116. Nesta edição aparecem os resultados parciais desta pesquisa, que será finalizada em janeiro de 2011.
117. Pesquisador Responsável. Doutor em Comunicação e professor do Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu da Universidade Católica de Brasília. Mail: alexandrek@ucb.br. Participaram da equipe como Assistentes
André Carvalho, Mestre em Comunicação e diretor do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica
de Brasília Mail:andrec@ucb.br e Elias Suaidem, Mestre em Comunicação. Pesquisador independente. Mail:
eliassuaiden@hotmail.com. Colaboraram com a pesquisa os estudantes de jornalismo Leonardo Coelho, Bruna
Carolli e Mariana Cordeiro (UCB).
173
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
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A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
para a próxima década, nos setores de mídia impressa e virtual, mídia sonora,
mídia audiovisual e multimídia”, foi de construir um primeiro panorama a partir
dos dados já disponíveis.
Partiu-se das informações coletadas pelas agências reguladoras, pelas
organizações de classe dos respectivos segmentos e por organizações de
monitoramento prestadoras de serviço ou independentes126.11Todo esforço foi no
sentido de resgatar essa base documental em busca de dados que contemplassem
as performances de produção, circulação e consumo de 2000 a 2010, tendo
como corpus analítico relatórios, gráficos e rankings presentes nos levantamentos
publicados ou fornecidos via e-mail pelos setores de monitoramento das
instituições referidas. Todavia, pelas características conservadoras de gestão e,
em razão do acompanhamento mais refinado do desempenho da maioria dessas
indústrias ser mais recente, nem todos os seguimentos estão com os dados de todo
o período disponíveis. A averiguação pautou-se pelos indicadores de produção,
com base nos números de títulos ou agentes produtores; de distribuição, com
base na infraestrutura de cada segmento; de consumo, com base na circulação,
audiência e faturamento.
Os dados foram confrontados e comparados, como poderá ser observado
no decorrer do texto. Em muitos casos, como já dito, percebe-se que havia pouca
preocupação por parte desses segmentos - como se pode observar, nitidamente,
por exemplo, com os dados disponíveis sobre radiodifusão e audiovisual no Brasil
– com a cultura de socialização pública dos seus indicadores. Assim, há referências
que se restringem aos últimos anos dessa década ou são dados deste ano. Já os
segmentos emergentes, como os videojogos e conteúdo para celular, ainda não
dispõem de um acompanhamento sistemático de indicadores.
Adotando a orientação do Instituto coordenador da pesquisa (Ipea), o esforço
destina-se à montagem de um panorama no qual se visualize o movimento das
indústrias criativas e de conteúdos digitais a partir dos indicadores de produção,
circulação e consumo. Desta maneira, os setores de mídia impressa e virtual, mídia
sonora, mídia audiovisual, multimídia, como já informado, serão observados com
base nos indicadores de quantidade e infraestrutura de produção, de circulação e
das bases que mensuram leitores, ouvintes, telespectadores e usuários.
No estudo são confrontados dois quadros gerais de conhecimento público.
126. ANJ – Associação Nacional de Jornais - Link: http://www.anj.org.br/. ABRE – Associação Brasileira de
Representantes de Veículos de Comunicação – Fonte: http://www.abre.inf.br/associacao.asp
ADJORI/SC – Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina – Fonte: http://www.adjorisc.com.br/
ADJORI/RS – Associação dos jornais, profissionais e veículos de comunicação do Rio Grande do Sul - http://
www.adjori-rs.com.br/site/
ADI/Brasil – Associação dos Diários do Interior – Fonte: http://www.adibr.com.br/
Mídia dados – Grupo de mídia São Paulo – Fonte: http://www.gm.org.br/
IVC – Índice Verificador de Circulação – Fonte: http://www.ivc.org.br/
Projeto Inter-Meios – Fonte: http://www.projetointermeios.com.br/
JOVE – Jovedata – preços de mídia – Fonte: http://www.jovedata.com.br/indexn.htm
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A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
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A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
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A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Domicílios Brasileiros (%) com Rádio TV, Telefone, Microcomputador e Micro com Acesso à internet
http://www.teleco.com.br/pnad.asp - acesso em 12/10/2010
Observe-se, por outro lado, que essa movimentação entre mídias analógicas
e digitais, considerando-se o processo de digitalização da radiodifusão, aponta na
direção da convergência de meios. O mundo da convergência parece sugerir a
efetivação da teoria da terceira onda, de Alvin Toffler (1981), de que os dispositivos
tecnológicos midiáticos promoveriam um movimento inverso à massificação e à
padronização produzidas pela revolução industrial (segunda onda). Na visão de
Toffler, a portabilidade e o custo dos novos dispositivos contribuíram para que
cada um pudesse exprimir-se no espaço público das mídias audiovisuais. Seria
a desmassificação numa perspectiva de “selft média”, em que se assistiria a uma
maior participação do cidadão, graças à possibilidade de escolha e de acesso aos
meios de expressão criativa e cultural. Pensa-se numa ruptura com o monopólio
editorial dos meios de comunicação social.
Essa demanda de consumo da população brasileira pelas tecnologias de
informação e comunicação, por exemplo, vem ajudando a impulsionar um novo
serviço chamado de triple play que reúne serviços de televisão, telefone e internet.
Uma modalidade que está ajudando a alavancar uma reação da TV por assinatura
como veremos mais adiante. Se verificarmos o universo monitorado pelo PNAD,
vamos perceber que ele abrange mais de 58 milhões de domicílios e, portanto,
da conta de um espectro de mercado consumidor significativo para qualquer
indústria.
181
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Rádio 88,0% 87,9% 87,8% 87,8% 88,0% 87,9% 88,1% 88,9% 87,9%
Televisão 89,0% 90,0% 90,1% 90,3% 91,4% 93,0% 94,5% 95,1% 95,7%
Telefone
58,9% 61,7% 62,0% 65,4% 71,6% 74,5% 77,0% 82,1% 84,30%
(Fixo ou Celular)
Microcomputador 12,6% 14,2% 15,3% 16,3% 18,6% 22,1% 26,6% 31,2% 34,7%
Microcomputador com acesso à
8,60% 10,3% 11,5% 12,2% 13,7% 16,9% 20,2% 23,8% 27,4%
Internet
Total de Domicílios (milhares) 46.507 48.036 49.712 51.753 53.053 54.610 56.344 57.557 58.577
Nota: Até 2003, não inclui a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e
Amapá.127
182
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Por sua vez, a radiodifusão, tanto rádio quanto TV, computa uma curva de
crescimento ao longo do período (tabela 3). No caso da TV a participação nas
receitas publicitárias que em 2006 estava em 59,37%, em 2009 chegou a 60,92%
(mais de 13 bilhões de reais). Essa performance revela uma reserva de combustível
da radiodifusão que, dependendo da acomodação dos agentes, pode assegurar a
manutenção da hegemonia, pontualmente no caso da TV, por mais tempo que
desejaria a previsão de democratização dos meios pela tecnologia de Toffler. É fato
a emergência das novas mídias digitais, mas as velhas mídias eletrônicas migram
para esse mundo do código binário carregando junto seu legado analógico.
183
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
184
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Afiliados ao 3.980 3.877 3.553 3.315 3.343 3.480 3.706 4.144 4.351 4.200
IVC
185
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Desta vez a marca dos hábitos culturais, das rotinas, da fidelidade do leitor,
de maneira geral, ajudou na resistência dessa mídia analógica diante da ebulição
das ofertas no mundo digital que induzem de a infidelidade. Observa-se que as
vendas avulsas passarem de 2.858 milhões, em 2002, para mais de 4 milhões em
2008. E em números absolutos só caíram de 2002 para 2003, em seguida, de ano
para ano se mostraram sempre crescentes, com duas grandes viradas, em 2005 e
2006, cujos acréscimos foram de um pouco menos e de mais de 500 mil em cada
um deles. Ao contrário do que ocorre com pequenas oscilações nas assinaturas.
186
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Trissemanal 34 39 35 35 36 40 - - -
Outros 31 108 86 30 30 - - -
TOTAL 1980 2.684 2.684 3.004 3.098 3.076 3.079 4.103 4.148
Fonte: ANJ, ABRE, ADJORI/SC, ADJORI/RS, ADI/Brasil e Mídia Dados – acesso em setembro de 2010-10-
08
* os dados acima de 2007, 2008 e 2009 não foram especificados pela fonte
188
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
189
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Revista
Produção – com base no número de revistas publicadas
No âmbito das revistas a evolução do número de títulos revela uma estabilidade
e mais, um crescimento no setor ao longo da década, especialmente no que se
refere às revistas que tem periodicidade regular. Triplicaram os títulos regulares,
partindo de 556 opções em 2000 para 3.285 em 2009.
Os indicadores de desempenho das revistas, nos quais este estudo se
baseia, são mapeados pelo Instituto de Verificação de Circulação (IVC). Pelos
190
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
cada ano
Fonte IVC
128. IVC – Índice Verificador de Circulação – Fonte: http://www.ivc.org.br/ Acesso em 10 de outubro 2010
191
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte IBOPE
192
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Faturamento 1.043 985 937 1.038 1.158 1.404 1.502 1.609 1.824 1.712
milhões / Reais
Os dados do IVC de 2007 a 2009 (tabela 16) ainda mostram que as cinco
revistas de maior circulação estão com suas sedes de produção concentradas entre
Rio e São Paulo e representam mais de 60% de participação no mercado do
setor com base na média de distribuição. Quase metade do mercado (49,9%)
está concentrado em três publicações de informação de caráter jornalístico. Do
ponto de vista do conteúdo, o indicador permite aferir que, apesar da diversidade
de opções, as revistas de informação lideram a lista de preferência do leitor. São
seguidas pelos títulos de entretenimento.
193
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
entre oferta, demanda e preço no Sudeste e Sul e menor equilíbrio das demais
Regiões / Estados Distribuição de IPC População
Revistas
Brasil 100,00 100,00 100,00
Norte 3,53 5,71 6,94
Rondônia 0,38 0,64 0,77
Acre 0,14 0,24 0,32
Amazonas 0,90 1,15 1,33
Roraima 0,15 0,18 0,20
Pará 1,42 2,69 3,38
Amapá 0,21 0,30 0,29
Tocantins 0,33 0,51 0,65
Nordeste 11,78 18,79 25,88
Maranhão 0,92 1,72 2,76
Piauí 0,55 0,96 1,50
Ceará 1,84 2,93 4,13
Rio Grande do N 0,89 1,23 1,53
Paraíba 0,78 1,44 1,86
Pernambuco 2,32 3,48 4,30
Alagoas 0,61 1,04 1,52
Sergipe 0,53 0,76 0,97
Bahia 3,33 5,23 7,31
Sudeste 62,32 51,41 44,21
Minas Gerais 7,99 10,47 10,51
Espírito Santo 1,32 1,87 1,84
Rio de Janeiro 11,76 11,10 9,23
São Paulo 41,25 27,96 22,54
Sul 15,54 16,32 15,57
Paraná 5,63 6,07 5,88
Santa Catarina 3,91 3,63 3,39
Rio Grande do Sul 6,01 6,61 6,30
Centro-Oeste 6,82 7,78 7,41
Mato Grosso do Sul 1,11 1,23 1,24
Mato Grosso 1,09 1,50 1,58
Goiás 1,92 3,17 3,24
Distrito Federal 2,69 1,88 1,34
Livro
Distribuição e consumo – volume vendas
O desempenho do mercado editorial brasileiro vem sendo monitorado pelo
Sindicato Nacional de Editores graças ao exaustivo trabalho da FIPE - Fundação
de Pesquisas Econômicas. Os indicadores disponíveis e consolidados, que dão
conta dos resultados auferidos de 2004 a 2009, mostram uma curva positiva.
194
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Tabela 18 – Mostra o número de exemplares vendidos por milhão para o mercado e para o governo
Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mercado Didáticos 56,55 69,86 66,75 75,32 73,54 84,33
Mercado Obras Gerais 51,50 57,22 59,90 59,32 63,55 62,78
Mercado Religiosos 28,65 35,35 36,90 43, 42 50,26 53,06
Mercado CTP 16,88 19,97 21,50 22,20 24,19 28,54
Total Mercado 153,58 182,59 185,05 200,26 211,54 288,71
Governo 135,10 87,80 125,31 128,72 121,72 142,23
TOTAL 288,68 270,39 310,36 329,20 333,26 370,94
Tabela 19 – Faturamento do setor incluindo vendas para o governo e para compradores privados
Fonte: FIPE
197
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
audiência nas cidades do interior, especialmente dos estados das regiões Sudeste
e Sul.
A fonte indica que o perfil do ouvinte é de ambos os sexos, das classes AB, C
e DE e tem entre 12 e 64 anos. Portanto, o rádio é transversal a toda a população,
Local Percentual de ouvintes
Dia da semana Segunda a Sábado Domingo
Sexta
Em Casa 53,34% 41,32% 34,04%
No Carro 10,34% 5,13% 3,75%
No Trabalho 10,53% 4,44% 1,82%
No Transporte 1,67% 0,43% 0,11%
Público
Fonte: ABPD (valores reportados pelas maiores companhias fonográficas operantes no país à ABPD).138
199
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte: ABPD (valores reportados pelas maiores companhias fonográficas operantes no país à ABPD).139
Fonte: ABPD140
Fontes143
Fonte144
142. ABPD - http://www.abpd.org.br/pirataria_dados_anos_2000.asp - acesso 13/10/2010
APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música) - http://www.apcm.org.br/ - acesso13/10/2010
APDIF (Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos) - http://www.apdif.org.br/estatisticas.php
- acesso em 13/10/2010
143. Idem.
144. Idem.
201
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Cinema
Consumo - número de espectadores de filmes nacionais e estrangeiros e
bilheteria
Os registros do cinema brasileiro, somente a partir de 2006, passaram a ser
acompanhados pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE). Antes o
monitoramento acontecia por meio de uma organização privada (Filme B). Em
razão disso, há uma limitação na disponibilidade dos indicadores consolidados
da indústria cinematográfica brasileira ao longo dessa primeira década. Entre os
dados da ANCINE e da Filme B há divergências. Mesmo assim, os números
mostram uma estabilidade no número de espectadores durante o período,
especialmente nos que se referem ao público dos filmes estrangeiros (na faixa
dos 90 milhões espectadores). Na filmografia nacional, embora se observe uma
média em torno de 10 milhões de espectadores, houve uma oscilação de bilheteria
(tabela 32) atípica em 2003 (22 milhões de espectadores) e 2004 (16 milhões de.
espectadores). Um fenômeno que tende a se repetir em 2010 (dados da Filme B),
quando apenas três filmes (“Tropa de Elite 2”, com mais de 8 milhões, “Nosso
Lar” e “Chico Xavier – O Filme”) superam os 15 milhões espectadores.
202
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Paralelamente à receita com bilheteria nas salas de todo o país ter ficado
na faixa dos 700 milhões de reais, pouco mais de 10% deste valor foi gerado a
partir dos filmes nacionais. Também no que se refere à arrecadação, os três filmes
brasileiros, fenômenos de público em 2010, já captaram juntos 150 milhões de
reais. Em 2009, “Se eu fosse você 2” foi a segunda maior bilheteria do ano, com
mais de 50 milhões de reais, atrás apenas de “A Era do Gelo 3”, que arredou 80
milhões de reais, menos que “Tropa de Elite 2” em 2010.
Na verificação por estados (tabela 33) observa-se um público cativo entre
3 e 5 milhões de espectadores na maior parte das áreas de concentração urbana
e em todas a regiões. Exceções para os estados do Rio e São Paulo, que juntos se
aproximam dos 40 milhões de espectadores. Pode-se aferir que no Brasil há um
público fiel do cinema que assegura um mercado estável no consumo geral da
indústria cinematográfica e que é sensível à produção nacional.
Fonte: Ancine146
146. http://www.ancine.gov.br acesso em 10/11/2010
203
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte: Ancine148
204
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
149.http://www.cultura.gov.br/site/wp_content/uploads/2009/10/cultura_em_numeros_2009_final.pdf.
Acesso em 12/10/201
150. Sobre o tema ver a obra Consumidores e Cidadãos, de Nestór Garcia Canclini.
151. http://www.filmeb.com.br/portal/html/graficosetabelas.php acesso em 09/11/2010.
205
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte:ANCINE152
Fonte : ANCINE154
Tabela 38 – preço médio em Reais
ANO PMI
2008 R$8,11
2009 R$8,22
Fonte: ANCINE153
152. http://www.ancine.gov.br/media/SAM/2008/LongasSalasExibicao/301.pdf acesso em 12/10/2010
154. idem
153. http://www.ancine.gov.br/media/ acesso em 12/10/2010
206
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Distribuidores 04 10 10 14 17 22 35 29 31 40
207
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
para uma primeira análise. Dados consolidados pelo Banco Central (tabela 41)
apontam para um forte aquecimento nas atividades de exibição cinematográfica,
sobretudo, entre 2008 e 2009, que se manteve ascendente em 2010. Quando
esses resultados contemplam as atividades de produção, as remessas de lucros
e dividendos mostram uma estabilidade, destacando um volume mais forte em
2009, mas um refluxo em 2010.
No que se refere a pagamento de royalties, verifica-se um relativo equilíbrio
no conjunto dos movimentos, incluindo exibição, produção e distribuição, tanto
para atividades no cinema quanto na TV. Já no que diz respeito a serviços há uma
tendência de crescimento conforme a performance anual de 2008 para 2010.
Esses dados ainda requerem uma investigação mais detalhada para que se
possa identificar os atores e suas atividades específicas (o que se pretende fazer
no decorrer das próximas etapas), mas já indicam que uma importante fatia do
mercado audiovisual no segmento é operado ou tem participação de organizações
estrangeiras.
208
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Televisão
TV Aberta – o modelo concentrado de produção e distribuição
Existem sete redes de emissoras de Televisão (tabela 42) que operam em VHF157, a
principal banda de canais analógicos, sendo duas com gestão pública e 5 com
gestão privada, conhecidas com TVs Comerciais. Entre as públicas a TV Cultura,
embora vinculada a uma Fundação estatutariamente autônoma, é financiada e
controlada pelo governo paulista, e a TV Brasil, apesar de subordinada a um
Conselho formado pela sociedade Civil é também financiada pelo Estado, no
caso o governo federal.
As redes privadas são controladas por quatro grupo familiares (caso das
Organizações Globo – família Marinho , SBT – família Abravanel, Bandeirantes
– família Saad e Rede TV – família Dallevo) e uma igreja (caso da Record,
vinculada aos pastores da Igreja Universal). Basicamente todas as cabeças de
rede (emissora que coordenada a grade de programação e transmite o conteúdo
âncora) estão localizadas no eixo Rio - São Paulo. No caso da TV Brasil essa
função operacional fica divida entre a principal emissora que fica no Rio e a
estrutura de Brasília onde fica a sede principal da rede.
209
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
AC 4 PA 11
AL 4 PB 2
AM 8 PE 6
AP 3 PI 3
BA 4 PR 13
CE 6 RJ 5
DF 4 RN 3
ES 4 RR 2
GO 3 RS 8
MA 8 RO 4
MG 10 SC 4
MS 5 SE 3
MT 7 SP 45
TO 4
Fonte: Anatel160
159. Sobre o tema, há estudos anteriores como os estudos de Venicio Lima, Suzy Santos, do Fórum Nacional
pela Democratização (FNDC) e o da Cartografia Audiovisual Brasileira (2006), entre outros.
160. Idem
210
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte: PNAB
Fonte:Inter-meios161
211
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte163
213
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Produção de conteúdo
Paralelamente ao desenvolvimento da TV Digital as emissoras enfrentam
um processo de substituição dos seus parques tecnológicos de transmissão e
produção. A renovação passa pelo treinamento das suas equipes e experimentos de
conteúdos em alta definição, conteúdos interativos, colaborativos e em processo
de distribuição multimídia. Todavia a maior parte da programação da TV ainda
privilegia conteúdos que asseguram a audiência que se mantém na TV Analógica.
Como é caso dos filmes estrangeiros exibidos em grande escala (tabela 48).
Fonte: Ancine168
O fato é que a maioria das redes segue optando por um modelo centralizado
de produção por meio do qual prioriza um controle do sistema de realização,
seja de custo, estético ou editorial. É verdade que, gradualmente, tem ganhado
volume (especialmente) nos últimos três anos o investimento em produtoras
independentes nacionais (notadamente o caso da BAND com o programa
CQC e outros). Uma experiência que tem se mostrado bem sucedida na TV por
assinatura e que, parece, começa a sensibilizar a TV Aberta.
TV Por assinatura
Além da TV Aberta, a TV por assinatura (TVA) também apresentou no final
da década uma curva ascendente, depois de um longo período de estagnação.
Conforme o monitoramento da ANATEL, o número de domicílios que recebem
soras operam nos dois sistemas. Hoje a Rede Globo digital cobre 46,5% da população, a Record cobre 22%,
SBT e Rede TV! cobrem 19,4% da população e a Band, 15,7%.
168. http://www.ancine.gov.br/media/SAM/2009/MonitoramentoObrasLongaMetragem/608.pdf acesso em
12/10/2010.
214
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte: Anatel170
169. Convém lembrar que os dados da Anatel não incluem os telespectadores que acessam a TVA através de
redes clandestinas, fenômeno comum na periferia das grande metrópoles.
170. http://www.anatel.gov.br/Portal . Acesso em 09/10/2010
215
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte: Anatel
Fonte: ABTA171
* Banda larga representa 35% do fatuamento das operadoras de Cabo/MMDS172
216
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte: Ancine173
Videojogos
Um segmento que vem crescendo na produção de conteúdos é o de videojogos.
Como se trata de um segmento emergente ainda não há um acompanhamento
regular. Mas uma pesquisa realizada em 2008 pela Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames) já indicava uma curva
promissora. De acordo com o levantamento, o Produto Nacional Bruto (PNB)
do setor de jogos chegava a R$ 87,5 milhões e 43% da produção nacional de
software para jogos se destinava à exportação. O número de empresas do setor já
superava a 40 organizações que na época empregavam cerca de 560 profissionais.
A progressão entre 2005 e 2008 (tabela 53). No indicador de faturamento o
setor vem crescendo tanto no que diz respeito a produção de software quanto de
hardware.
217
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte: Abragames
Fonte: Abragames
218
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Internet
No âmbito da internet, como já observado, na primeira parte deste relatório,
apresenta um acelerado índice de ampliação da sua penetrabilidade junto à
população brasileira. Conforme os indicadores do PNAD, computador com a
conexão à internet está presente em mais de 16 milhões de domicílios (tabela
57). Isto significa que próximo de 50 milhões pessoas estão conectadas à rede
mundial de computadores a partir das suas casas. No início da década era quatro
vezes menos o número de habitantes conectados. Inegavelmente, são números
animadores, mas ao mesmo tempo revelam que mais da 70% da população do
país ainda está fora desse universo digital.
Fonte: PNAB
Fonte: Inter-meios
219
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
220
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
% 2009 2010
Oi 37,0% 35,1%
Net 25,3% 25,3%
Telefonica 23,2% 24,2%
GVT 5,9% 7,2%
CTBC 1,8% 1,8%
Outras 6,8% 6,4%
Total 100% 100,0%
Telefonia
Como observado, as chamadas Telecom passam a atuar como protagonistas no
processo de digitalização. Hoje no Brasil há nove operadoras em cada segmento.
Na Fixa atuam a Oi, BrT, Telefonica,Embratel, GVT, CTBC, Sercomtel, Intelig
e Transit. Na móvel operam as companhias Vivo, Claro, Tim, Oi Móvel, BrT
Móvel, CTBC, Sercomtel, Aeiou (Unicel) e Nextel. Em agosto de 2010 o número
de aparelhos comercializados chegava a 189,4 milhões de unidades175. Essa
penetrabilidade vem impactando naturalmente na curva de faturamento do setor
(tabela 62).
221
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
ANO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Faturamento
Em milhões 11.431 7.431 8.760 13.006 16.451 16.742 17.465 21.546 18.367
(R$)
Fonte: Teleco176
Acessos em
Serviço 37,4 38,8 39,2 39,6 39,8 38,8 39,4 41,2 41,5
Acessos em
Serviço/100 21,4 21,9 21,8 21,7 21,6 20,8 20,9 21,7 21,6
hab.
Fonte: Anatel
222
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Fonte: IBGE - PNAD. Até 2003, exclusive a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas,
Roraima, Pará e Amapá.
Fonte: IBGE177
223
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Conclusões Preliminares
O cenário construído nesses anos 10 evidencia um processo mais complexo
na transição do analógico para o digital daquele presente no prognóstico dos
“futurólogos” das novas mídias como anunciado no primeiro período da década.
Imaginava-se que o fenômeno on line da internet juntamente com toda a
oferta de aplicativos disponível na rede de computadores dominaria o espaço
midiático relegando a um segundo plano os meios que passaram a ser classificados
pejorativamente como mídias tradicionais.
O movimento da sociedade de rede efetivamente aconteceu, sobretudo,
graças ao sucesso das redes sociais, e que gerou a sociedade virtualizada. A
velocidade do crescimento da penetrabilidade do computador e do acesso à
internet comparado com o percurso histórico das outras mídias é indiscutível (se
pensar no telefone celular então...). Os veículos tradicionais sentiram o impacto
da diluição dos seus públicos. Mas, a desaceleração e a atuação coadjuvante ainda
não se configuram de modo tão imperativo. Os dados do PNAB e do programa
Inter-meios, confrontados com os demais indicadores de monitoramento,
224
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
225
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
226
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
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em 12/10/2010
230
Capítulo 4
231
teor: (a) regulatório, (b) tecnológico, (c) sócio-econômico e (d) de formação, no
que tange à Comunicação Social.
A fim de melhor compreender as diferentes realidades nacionais que o
corpus analisado sustenta, na tabela a seguir (Tabela 1) têm-se a lista dos países
pesquisados seguidos de informações gerais sobre população, Produto Interno
Bruto (PIB) e dimensões territoriais:
Tabela 1: Informações gerais sobre países pesquisados
País População (em Produto Interno Extensão territorial
milhões de Bruto (PIB) (milhões (Km2)6
habitantes)4 de US$)5
4. Dados de 2010. Indicators on Population. In United Nations Statistics Division. Demographic and Social
Statistics. Statistical Products and Databases. Social Indicators, 2009. Disponível em <http://unstats.un.org/
unsd/demographic/products/socind/population.htm> Acesso 15 novembro de /2010.
5. Dados 2007. United Nations,United Nations Statistics Division, National Accounts Main Agregates
Database,Basic Data Selection, New York, 2008. Disponível em: <http://unstats.un.org/unsd/snaama/selec-
tionbasicFast.asp >. Acesso em 12 de março de 2009.
6. Dados 2007. United Nations,United Nations Statistics Division, National Accounts Main Agregates
Database,Basic Data Selection, New York, 2008. Disponível em: <http://unstats.un.org/unsd/snaama/selec-
tionbasicFast.asp >. Acesso em 12 de março de 2009.
232
Parâmetros metodológicos
O presente estudo deve ser observado como um esforço inicial de levantamento
de indicadores relevantes sobre o campo da comunicação em um conjunto
significativo de países da comunidade ibero-americana. Mais do que desenvolver
um diagnóstico definitivo, este trabalho tenta traçar linhas comparativas a partir
de uma abordagem que perpassa diferentes realidades nacionais e evoca diversas
áreas do conhecimento. Sobretudo, trata-se de uma pesquisa de mapeamento
que requer futuras atualizações de dados, desenvolvimento de séries históricas,
assim como contínuo aprimoramento metodológico a fim de garantir a obtenção
de resultados cada vez mais confiáveis e significativos.
Projetar tal panorama não é tarefa fácil, uma vez que os dados oficiais nem
sempre estão disponíveis ou obedecem a parâmetros internacionais. Em muitos
casos, as informações estão dispersas, desorganizadas, ou desatualizadas, como
ocorre com as buscas de dados no Paraguai e Uruguai, enquanto em outros há
uma melhor organização de estatísticas, bancos de dados e estudos que tratam
das diversas dimensões da comunicação (seja por ministérios, órgãos de fomento
científico, instituições de pesquisa etc.), realidade encontrada junto aos países
Portugal e Espanha, por exemplo.
Durante a primeira fase de trabalhos, a busca de dados foi direcionada às
áreas temáticas relacionadas a:
1) questões sócio-econômicos,
2) ao marco regulatório-institucional;
3) a temas tecnológico-estruturais e
4) a área educativa-formacional.
No Quadro 1 a seguir, foram alinhados cada indicador selecionado, seguido
da síntese de seu objetivo/especificação e área temática.
2 - Existência de pelo menos dois modelos de Detectar se há canais (TV ou rádio) de caráter Regulatória-institucional
radiodifusão público-estatal, de um lado, e comerciais, do
outro, operando simultaneamente
233
4 - Implantação do sistema de rádio digital “Implantado” significa que o padrão Tecnológico-estrutural
tecnológico foi definido e a transmissão digital
já ocorre, ainda que esteja no período de
simulcast.
5 - Número de usuários de internet Estimar o público que possui acesso à internet. Sócio-econômico
Considerar “usuários de internet” aqueles que
de algum modo acessam a rede seja de casa,
do trabalho, de lanhouses, telecentros etc.
6 - Leitura de jornal impresso Quantificar (ou pelo menos estimar) o montante Sócio-econômico
de jornais impressos (publicações) lidos a cada
conjunto de mil habitantes.
7. Como a noção de Comunicação é bastante polissêmica e pode tratar de coisas distintas que vão desde engenharia
de telecomunicações, até jornalismo, fitando às artes como é o caso de Cinema, foi preciso estabelecer um
corte sobre qual comunicação estamos tratando. Neste caso, optou-se pela seguinte delimitação: consideramos
apenas os cursos situados nas Ciências Humanas, que tratem dos processos de comunicação social mediada,
que possuam em sua denominação pelo menos uma das seguintes palavras-chaves: “mídia”, “comunicação”,
“televisão”, “rádio”, “publicidade”, “propaganda” e “audiovisual”. Assim, excluem-se cursos que lidam com a
“casa de máquinas da comunicação”, como é o caso de engenharias, técnicos em telecomunicações, analistas
redes etc. (isto é, todos aqueles que possuem ênfase tecnicista em seu horizonte e que possam se encaixar mais
em Ciências Exatas do que em Ciências Humanas). Também se excluem aqueles que entendem “comunicação”
no sentido apenas processual (por exemplo, “comunicação intra-celular” ; “comunicação robótica” etc.) ou
instrumental-linguístico (como “comunicação em língua inglesa”, “comunicação literária”, etc.).
8. Por exemplo, se a Faculdade X possuir um curso de “Cinema e arte visual”; se a Universidade Y possuir um
curso denominado “Cinema e audiovisual”; e a Faculdade Z possuir outro chamado de “Comunicação social:
habilitação Cinema”, somente as duas últimas seriam contabilizadas como curso de comunicação por sustentar-
em palavras-chaves (“comunicação”e “audiovisual”respectivamente). Embora esta opção de recorte possa parecer
excludente e arbitrária, trata-se, na verdade, de um cuidado metodológico em não forçar um encaixe quando
há casos em que os próprios cursos de Cinema se reconhecem mais nas Artes do que na Comunicação. Algo
que pode ser considerado “natural”, uma vez que o curso de Cinema se localiza em uma área fronteiriça entre
Comunicação e Arte. Contabilizar cursos de Cinema quando estes se situam no campo das Artes poderia ser
uma opção que distorceria os dados ao impor-lhes o rótulo de “comunicação”. Deste modo, a opção do recorte
considerar apenas aqueles que fazem menção direta de pertencimento à área, nos pareceu metodologicamente
mais cautelosa.
9. Não foram computados cursos de graduação ou pós-graduação transdisciplinar ou interdisciplinares que não
citem nominalmente, em sua titulação, o vínculo ao campo da Comunicação Social, conforme estipulado no
recorte desta pesquisa.
234
Feita a caracterização geral de cada indicador, convém ainda explicitar alguns
procedimentos e parâmetros adotados durante o processo de coleta, tabulação e
análise dos dados. Esses procedimentos e parâmetros podem ser sintetizados em
três questões relacionadas à:
(a) apuração;
(b) qualificação e
(c) significação dos dados.
Quanto à apuração dos dados, a dificuldade em obter informações precisas,
organizadas e atualizadas de fontes primárias ou de instituições especializadas é
bastante recorrente, mesmo havendo hoje um bom conjunto de arquivos digitais
públicos acessíveis através de sites institucionais na internet. Tal dificuldade
impôs algumas limitações no decorrer do processo, como o abandono de alguns
indicadores previamente estipulados por serem empiricamente inviáveis, isto é, de
difícil identificação e confirmação dos dados na totalidade dos países analisados.
Em muitos casos, as informações precisaram ser montadas a partir da depuração
de dados brutos extraídas de fontes oficiais, o que nem sempre é garantia de
precisão, completude ou atualidade dos dados10.
No que diz respeito à significação dos dados, a tentativa de criar uma lista de
indicadores para o campo da comunicação e tentar aplicá-los nos países estudados
é também uma busca metodológica. Os dados obtidos são úteis para oferecer
um panorama da Comunicação nestes países, mas não devem ser compreendidos
como números fechados e exatos, porque, além de possíveis desatualizações
de fontes oficiais primárias, há ainda a característica própria do campo da
comunicação que se estabeleceu como um setor extremamente dinâmico e em
plena fase de profundas transformações desde o final do século XX. Toda e
qualquer quantificação neste sentido sofrerá alterações ou atualizações de tempos
em tempos, por isso a realização de séries históricas para dar conta do panorama
da comunicação se faz necessária. Nesse sentido, os dados obtidos nesta pesquisa
se apresentam menos como números absolutos e mais como estimativas baseadas
em fontes minimamente confiáveis.
Quanto à apresentação dos dados, é importante lembrar que uma pesquisa
panorâmica sobre oito indicadores da área da Comunicação em 11 países oferece
um total de 88 itens avaliados. Cada um deles demanda um minucioso trabalho
de busca, seleção e, muitas vezes, de montagem de informação qualificada que
antes estava dispersa. Portanto, metodologicamente optou-se por um texto que
10. Por exemplo, na tabulação de dados sobre o número de instituições que ofertam cursos de comunicação
em países como o Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela foi preciso
organizar dados oficiais, extraindo de tabelas gerais as informações desejadas, montando uma lista a partir dos
parâmetros pré-estabelecidos no Quadro 1 .
235
privilegie a informação quantitativa, seguida de sua análise qualitativa levando
em conta:
(a) a caracterização,
(b) as tendências,
(c) as especificidades dos dados e
(d) eventuais cautelas na interpretação apressada.
Deste modo, o trabalho se encontra nos limites de uma pesquisa panorâmica,
com algum aprofundamento possível.
Na próxima seção, cada indicador será analisado conforme esta estrutura
analítica.
Argentina Sim
Brasil Sim
Chile Sim
Colômbia Sim
Equador Sim
Espanha Sim
México Sim
Paraguai Sim
236
Portugal Sim
Uruguai Sim
Venezuela Sim
Argentina SIM
Brasil SIM
Chile SIM
Colômbia SIM
Equador SIM
Espanha SIM
México SIM
Paraguai SIM
Portugal SIM
Uruguai SIM
Venezuela SIM
238
funcionamento em cada país (modelo comercial) ou se há, paralelamente, canais
estatais ou sistema público de comunicação11 (canais sem fins lucrativos) também
operando.
A resposta positiva para este indicador demonstra que os países sustentam
um modelo dual (ou misto) de radiodifusão. Como mostra a Tabela 3, todos
os países possuem tanto veículos de radiodifusão de caráter comercial como
veículos de caráter público (ou estatal) operando simultaneamente. Porém,
convém lembrar que por traz do “sim” existem realidades distintas. Há ainda
uma diferenciação importante no âmbito dos canais não-comerciais dentre: (a)
aqueles onde prevalece a dimensão estatal (isto é, subordinação à administração
governamental), ou que tende a pressionar a TV ou o rádio como veículo que
promove propaganda da gestão em curso (como é o caso das diversas rádios
estatais); (b) em outras realidades predomina a dimensão de um sistema público
(public broadcasting).
Em alguns casos há um sistema público de comunicação relativamente
autônomos e que se difere de veículos meramente estatais, como ocorre nos países
ibéricos, com o sistema Rádio e Televisão de Portugal (RTP); Radio Televisión
Española (RTVE); a Televisión Nacional de Chile (TVN) e o Canal Once, do
México. Há casos de controle estatal mais claro nas estruturas administrativas,
como é o caso da Televisión Pública de Argentina; Televisión Nacional del
Ecuador (RTV) e Televisión Nacional de Uruguay (TNU).
Em outros países há modalidades ambíguas, como é o caso da Colômbia que
possui uma rede de canais regionais relativamente autônomos12 e, ao mesmo tempo,
possui canais claramente subordinados ao governo como o Seña Institucional,
voltado para veicular informações do governo ou o Canal Congresso, órgão do
Poder Legislativo. Também, neste mesmo enquadramento, está a Venezuela, com
a TEVES de um lado, que tenta se aproximar de um modelo público de TV, com
conselho diretivo com cadeiras para segmentos civis e trabalhadores do setor e, do
outro lado, também possui veículos de caráter tipicamente governamental como
a Radio Nacional de Venezuela (RNV).
No caso brasileiro o cenário também é ambíguo, porém com uma evidente
exacerbação de poder para empresas privadas de radiodifusão que dominam o
serviço no país. A Constituição de 1988, em seu artigo 223, estipulou que deveria
existir complementaridade entre os sistemas estatal, privado e público, assim
dividido:
11. Compreende-se por “sistema público de comunicação” o mesmo que em língua inglesa se denominaria de
“public broadcasting”. Em síntese, consiste na radiodifusão não comercial, sustentada por recursos públicos, im-
postos ou doações de cidadãos. Geralmente sustentam alguma autonomia em relação aos governos, ao contrário
de emissoras puramente estatais onde a direção está sob pressão direta do governante no poder. Organizações
públicas de mídia mundialmente conhecidas como a BBC (do Reino Unido), a NHK do Japão, a SBS/NPR dos
EUA ou a ARD da Alemanha são alguns exemplos de entes que compõem um sistema público de comunicação.
12. Ainda que esta autonomia enfrente hoje problemas diversos. Sobre sistemas públicos de comunicação. So-
bre sistemas públicos de comunicação no mundo ver Leal Filho (1997) e Intervozes (2009).
239
- O sistema estatal seria composto pelos canais de rádio e TV gerenciados
pelos governos (governo federal, estadual, senado, câmara federal, assembléias
legislativas, órgãos do Poder Judiciário etc.);
- O sistema comercial constituído por empresas com fins lucrativos que
obteriam concessões públicas para operar e transmitir nos canais licenciados
para tal;
- O sistema público deveria ser caracterizado pelo financiamento dos
cofres públicos, sem que isso implicasse em perda da autonomia frente aos
governos.
Desses três, apenas o segundo (o sistema comercial) foi plenamente
desenvolvido, principalmente devido às escolhas e diretrizes governamentais,
principalmente desde a década de 60 que fomentou e privilegiou a emergência
de veículos comerciais. Com a criação da Empresa Brasileira de Comunicação
(EBC) em 2007, o país iniciou o projeto de criar um sistema público, uma vez
que só possuía até então iniciativas de canais isolados de fundações, como a TV
Cultura, que mais se aproximava do modelo público.
Argentina SIM
Brasil SIM
Chile SIM
Colômbia SIM
Equador SIM
Espanha SIM
México SIM
Paraguai SIM
Portugal SIM
Uruguai SIM
Venezuela SIM
240
transmissão e recepção dos conteúdos através das ondas eletromagnéticas, os países
adentraram no século XXI com a necessidade de estabelecer a migração do sistema
analógico para o sistema digital. Na prática, isso significa que as transmissões
analógicas estão sendo desativadas para dar lugar ao sinal binário: mais eficiente,
mais interativo, menos oneroso e mais versátil. No mundo, diversos países já
escolheram os padrões técnicos da TV ou rádio digital e já estão em período de
simulcast14. Como demonstra a Tabela 4, todos os países analisados já definiram
o padrão tecnológico de TV digital. Do grupo, os primeiros foram o México em
2004 e a Espanha em 2005. Os últimos foram Equador e Paraguai em 201015.
A definição do padrão tecnológico significa mais do que simplesmente a
opção por um design técnico específico: também representa grandes capitais e
mercados, afetando toda a cadeia produtiva da indústria da televisão (desde a
fabricação do aparelho digital de TV, passando pelos padrões de transmissão e
captação de imagens até a produção de conteúdos e serviços digitais). Por isso, há
todo um lobby em jogo neste processo de escolha.
Em meio a este embate, os principais padrões de TV digital em disputa no
mundo que despontaram foram:
(a) o Advanced Television System Comite (ATSC), de origem estadunidense
(conhecido como modelo do consórcio norte-americano), do qual
participam empresas canadenses e coreanas;
(b) o Digital Video Broadcasting (DVB) de consórcio europeu, o Integrated
System Digital Broadcasting (ISDB) de matriz japonesa e o ISDB-T, modelo
que mescla tecnologia japonesa e brasileira, como é o caso do midleware
Ginga, reconhecido pela União Internacional de Telecomunicações (UIT).
A maioria dos países tem se manifestado por uma dessas opções. Também
podemos citar o padrão chinês Digital Media Broadcasting Terrestrial (DMB),
cujos testes ainda não comprovaram sua qualidade e robustez.
No Quadro 2 aparece o ano em que foi implantado e o padrão tecnológico
escolhido em cada um dos países.
14. No Brasil, o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) teve seus os parâmetros de implantação publi-
cados em 20 de junho de 2006 através do decreto n° 5.820. O período de simulcast está sendo adotado na maio-
ria dos países com o intuito de marcar a passagem para o sistema digital de TV e rádio. Trata-se do espaço de
tempo onde o sinal analógico de televisão conviverá com o sinal digital simultaneamente, até ser definitivamente
extinto. No Brasil, o simulcast já está em curso com fim previsto para 2016. Após tal período de transição,
haverá apenas o sinal digital disponível e os aparelhos analógicos só funcionarão mediante um conversor digital
(o que vem sendo chamado de set-top box). Já o modelo de rádio digital ainda não foi escolhido no Brasil.
15. No caso do Brasil, a opção ocorreu bem mais cedo: em 2006. Optou-se pelo padrão japonês, com adendos
de tecnologia nacional, criando assim um padrão híbrido chamado nipo-brasileiro.
241
Quadro 2: Ano de implantação da TV digital e padrão tecnológico adotado
16. Em todas as siglas desta tabela, o “T” após hífen significa “terrestre”.
17. Sistema transmissões para equipamentos portáteis e móveis que necessita outro transmissor e outra faixa de
freqüência. Diferente do one-seg utilizado no ISDB-T, que chega gratuitamente aos usuários, o serviço DVB-H
é pago.
242
(simulcast) está previsto para terminar em 2010. Logo em seguida temos Portugal,
com previsão para 2012. Em outros países, esta espera é um pouco maior. No
caso da Argentina e do Chile a digitalização foi prevista para 2019; na Colômbia,
para 2020. Já no México, somente em 2022 o sinal analógico está previsto para
ser desativado. No Brasil, o ano é 2016.
Argentina NÃO
Brasil NÃO
Chile NÃO
Colômbia NÃO
Equador NÃO
Espanha SIM
México SIM
Paraguai NÃO
Portugal SIM
Uruguai NÃO
243
Radio Mondiale (DRM), que tem apresentado problemas semelhantes aos do
estadunidense. Para o especialista em rádio e assessor especial da Casa Civil
da Presidência da República, André Barbosa Filho19, existe até a possibilidade
de fundir os dois sistemas, para criar uma tecnologia adequada às necessidades
brasileiras, pois os sistemas digitais existentes no mundo hoje não trazem uma
qualidade muito superior a da apresentada pelas FMs (Frequência Modulada)
analógicas.
O especialista sugere o desenvolvimento de um middleware20 semelhante ao
Ginga, agregado ao padrão digital de TV terrestre, como uma possível solução
para adicionar valor ao serviço a ser oferecido pelo rádio digital. A possibilidade
de fazer pagamentos ou de baixar músicas, mediante pagamento, são exemplos de
modelos de negócios sustentáveis para a FM digital.
Barbosa Filho sustenta que o desenvolvimento de soluções deve atender não
apenas ao Brasil, mas a outros países, de forma envolver a indústria no projeto.
Ele lembra que o país é o segundo maior mercado de rádio do mundo, com 8
mil emissoras e que só perde para os Estados Unidos, com 13 mil, mas deixou
de fabricar receptores há 11 anos. Ainda assim, o rádio no Brasil ainda é um
importante meio de comunicação.
O Quadro 3 (a seguir), mostra o ano em que foi implantado o rádio digital
e o padrão tecnológico escolhido em cada um dos países:
19. Doutor em Comunicação pela USP. Fundou as rádios universitárias da USP e UMESP e trabalhou em
rádios comerciais. Foi professor da disciplina de rádio durante 30 anos. Possui livros e artigos publicados sobre
o tema.
20. O middleware Ginga é uma camada de software que permite, entre outras possibilidades, a interatividade e
a interoperabilidade na televisão digital.
21. “Não definido” significa que o país ainda não se posicionou oficialmente por um padrão tecnológico em
específico, pelo menos até novembro de 2010.
244
Embora tenham adotado oficialmente o Digital Audio Broadcasting (DAB)
- seguindo uma decisão da União Européia de Radiodifusão (UER) - Espanha
e Portugal possuem regiões que utilizam outro sistema, como o padrão Digital
Radio Mondiale (DRM). Isso ocorre devido às diferenças geográficas e outros
elementos de cunho técnico. Devido a estas barreiras, União Européia não tem
conseguido implantar uma política unificada em relação ao padrão de rádio
digital.
Tabela 6: Indicador sobre penetração da internet
INDICADOR 6 - Número de usuários de internet (em milhões)22
Argentina 13,7
Chile 7,0
Colômbia 22,5
Equador 3,3
Espanha 28,1
México 31,0
Paraguai 1,1
Portugal 5,1
Uruguai 1,4
Venezuela 8,9
Brasil 76,0
22. Fonte: International Telecommunication Union (ITU). Dados 2009. Trata-se de números aproximados.
Disponível em: < http://www.itu.int/ITU-D/icteye/Reporting/ShowReportFrame.aspx?ReportName=/WTI/
InformationTechnologyPublic&ReportFormat=HTML4.0&RP_intYear=2009&RP_intLanguageID=1&RP_
bitLiveData=False >. Acesso em: 16 de novembro de 2010.
23. Por exemplo, se é banda larga, domiciliar, discada ou telecentros etc.
245
menor número de indivíduos com acesso são Uruguai (1,4 milhão) e Paraguai
(1,1 milhão).
A comparação fica mais qualificada se cruzarmos os usuários com o número
de habitantes, obtendo assim o percentual da população com acesso. No gráfico a
seguir (Gráfico 1) temos uma melhor visualização neste sentido:
Espanha 63 %
Colômbia 49 %
Portugal 48 %
Uruguai 42 %
Chile 41 %
Brasil 39 %
Venezuela 31 %
Argentina 34 %
México 28 %
Equador 25 %
Paraguai 17 %
246
Gráfico 2: evolução do número de usuários de 1990 a 2008
Argentina 37,1
Brasil 57,3
Chile 43,8
Colômbia 37,4
Equador 70,2
Espanha 99,2
México 60,9
Paraguai 26,0
Portugal 59,5
Uruguai 53,5
Venezuela 97,1
247
jornais circulando no país. Já o Paraguai fica na última posição, com 26 jornais
por mil/habitantes (ver Tabela 7). A título de comparação convém notar que no
Brasil este indicador é de 57,3. Em países do Norte Europeu, com alto padrão
de desenvolvimento sócio-econômico o índice é alto, como é o caso da Noruega
cujo índice chega a 538,3.
Esta tabela não apresenta o número real de leitores de jornal, apenas
estabelece um dado relativo entre o número de cópias a cada 100 mil habitantes.
O número real de leitores pode ser escamoteado em pelo menos dois modos. O
primeiro é o caso do indivíduo que compartilha o jornal diário com sua família,
na biblioteca, no consultório médico etc., de modo que o mesmo exemplar circula
num grupo sendo lido por diversas pessoas. O segundo é quando o indivíduo
adquire o jornal diário de mais de um veículo concomitantemente, isto é, realiza
a leitura de dois jornais distintos, muitas vezes concorrentes entre si. Assim, os
dados contam apenas uma parte das características deste consumo. Sua melhor
qualificação deve ser feita em cruzamento com outros indicadores sobre o mesmo
nicho de consumo cultural.
Argentina25 47
Brasil26 423
Chile27 64
Colômbia28 36
Equador29 33
Espanha30 50
248
México31 1006
Paraguai32 22
Portugal33 43
Uruguai34 20
Venezuela35 31
31. Banco de Dados México. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Periodismo
en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em: <http://
www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 22 de outubro de 2010.
32. Banco de Dados Conosur. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Periodismo
en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em: <http://
www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 19 de outubro de 2010.
33. Direcção-Geral do Ensino Superior. Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Resultados ob-
tidos de busca realizada no banco de dados de 2010. Disponível em: <http://www.acessoensinosuperior.pt/
indmain.asp?frame=1>. Acesso em 28 de outubro de 2010.
34. Banco de Dados Conosur. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Periodismo
en América Latina y el Caribe. FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em: <http://
www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 15 de outubro de 2010.
35. Banco de Dados Países Andinos. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Perio-
dismo en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em:
<http://www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 23 de outubro de 2010.
36. Los antecedentes a los actuales estudios de comunicación los encontramos en las Escuelas de periodismo, de
radio y televisión y de publicidad que funcionaron durante el franquismo y que posteriormente desencadenaron
en las actuales facultades de Ciencias de la Información y de la Comunicación. Es cierto que anteriormente a
este periodo existen otras iniciativas que ponen las bases de estos estudios como es el caso del curso de perio-
dismo organizado por el catedrático y periodista Fernando Araujo y Gómez, en la Universidad de Salamanca,
en el año 1887 (MARTÍNEZ, 2005, p. 99).
249
investigações da Imprensa, em 1958 (VILLALOBOS, 2006). Em 1947 foi
inaugurada a primeira Escola em comunicação no Brasil, na Cásper Líbero.
Entretanto, foi somente na segunda metade do século que a estruturação e
consolidação dos programas institucionais ocorreram a esses países como um todo.
Em 1953, na Universidade do Chile e na Universidade de Concepción fundaram-
se as primeiras escolas de Jornalismo, com um enfoque profissionalizante que não
incluía estudos de comunicação, nem metodologia de pesquisa (CASTELLÓN,
2006). Em Portugal, embora vizinha geográfica da pioneira Espanha, o país
estabeleceu seus estudos nas Ciências da Comunicação tardiamente:
Em especial devido às condições políticas de um regime ditatorial, o
regime salazarista-marcelista (1936-1974) nunca esteve interessado no
desenvolvimento de estudos ou formação de cursos relacionados com
a comunicação pública e midiática. Esse sentimento foi de algum modo
perpassado às autoridades da Academia portuguesa e o estudo organizado
nos diferentes domínios daquilo que hoje se encobre no amplo campo das
Ciências da Comunicação, praticamente só vai surgir a partir de 1978.
(OLIVEIRA, 2002)
Sem dúvida, no acompanhamento histórico da amostra pesquisada, os anos
90 do século XX representaram o auge do incremento de cursos no campo da
comunicação. Isto foi incentivado pela demanda de uma maior especificação dos
profissionais da área por razão de já nos anos 80 ter havido certa generalização
– sobretudo nos países com maior desenvolvimento – de novos suportes
comunicativos, como os rádios FM, a TV por assinatura, entre elas o cabo e
o satélite, a televisão comercial aberta e, mais recentemente, a internet, a rádio
digital e a televisão digital terrestre (MARTÍNEZ, 2005).
Feita esta contextualização histórica, convém observar os resultados da
Tabela 8. Nota-se que, de forma geral, a oferta de ensino em comunicação é
bastante heterogênea dentre os países pesquisados. Nota-se uma variação média
entre 30 a 60 instituições por país, tendo como países divergentes aquém dessa
média o Paraguai, com 22, e o Uruguai, com 20 instituições37. Dentre aqueles
analisados, o México tem a maior estrutura de formação com 1006 instituições
ofertando cursos de Comunicação, seguido do Brasil, com 423 instituições. No
caso específico do México, mas que pode servir também para outros países, Rebeil
(2009) explica que a abundância ocorre em razão de um crescimento rápido e
desenfreado de programas sem nenhum registro para que pudessem atender a um
atrativo mercado rentável de estudantes que estavam dispostos a fazer uma carreira
37. Estes dados tratam de números absolutos. Comparações proporcionais (tomando como base, por exemplo,
o número de habitantes ou o PIB) podem apontar um desempenho talvez não tão fora da média quando com-
parada também proporcionalmente aos demais países. No caso do Uruguai, com uma população de 3,3 milhões
de habitantes, o número de 20 cursos é alto. De todo modo, o valor absoluto nos proporciona um panorama da
capacidade de cada país em formar contingentes de formados em comunicação.
250
sem grandes dificuldades acadêmicas. Nas palavras da pesquisadora mexicana:
Esto se debe a que en nuestro país a la enseñanza de la Comunicación se le
ve cada vez más como un negocio dado el glamour y el atractivo que tiene la
carrera en sí. Ello ha llevado a muchos empresarios de la educación a abrir
Escuelas de Comunicación de calidad dudosa. Muchas veces éstas existen en
instalaciones poco apropiadas para llevar a cabo los procesos de enseñanza-
aprendizaje. Muchas de estas Escuelas, detectadas por los investigadores del
CONEICC (Consejo Nacional para la Enseñanza y la Investigación de las
Ciencias de la Comunicación), no cuentan con registro oficial ante nuestra
Secretaría de Educación Pública (SEP) y por lo tanto carecen de registro de
validez.38
Por outro lado, este grande número também consolidou as universidades de
excelência científica, como positivo contraponto comparado ao elevado número
de programas de qualidade duvidosa (REBEIL, 2009).
No Chile a estabilização da carreira a partir de 2005 indica a saturação na
ocupação do mercado de trabalho, o que estimulou nesse momento a abertura por
parte das instituições de novos cursos que possibilitassem maior inserção dentro
da comunicação aplicada (organizacional, estratégica, corporativa) e na área de
linguagens de multimídia, por exemplo (GONZÁLEZ, 2009). Se no Chile isto
representou uma alteração positiva e adequada, no México a realidade foi diferente.
A formação em Comunicação foi se tornando cada vez mais especializada e
específica, de maneira que depois não encontrou respectiva recepção no mercado
de trabalho. Rebeil (2009) afirma que no México não se valoriza as carreiras afins
da Comunicação, de forma que esta possui uma posição precária perto de outras
carreiras mais tradicionais, como Medicina e Engenharia.
Na Colômbia, durante a década de 90 havia uma forte crítica à qualidade
da formação dos profissionais de comunicação, em especial aos jornalistas. Isto
estimulava, como também ocorria nos demais países, a ampliação da oferta
acadêmica, diversificada e especializada a exemplo dos cursos de produção
audiovisual e jornalismo cultural (PEREIRA; BURBANO, 2002).
Nos cursos de Comunicação venezuelanos os fatores políticos são
considerados determinantes e estão muito presentes na formação em jornalismo.
Há também forte desconexão acadêmica entre as instituições e poucos programas
entre elas de intercâmbio científico e de pesquisa. A tendência destas instituições
acabava sendo a de se vincular a programas no exterior, como Estados Unidos,
Europa e Brasil (QUIROZ, 2009).
38. María Antonieta Rebeil Corella. Centro de Investigación para la Comunicación Aplicada. Universidad
Anáhuac México Norte. Informações fornecidas por contato em e-mail em novembro de 2010.
251
Já o Brasil é o segundo país com maior quantidade de instituições ofertando
cursos de comunicação dentre o corpus analisado. Ficou atrás do México, que
possui aproximadamente o dobro. Porém, este quantitativo também nem sempre
significa maior qualidade no ensino. Em 2003, Peruzzo já afirmava que no Brasil
vive-se um momento de crise na qualidade do ensino em Comunicação Social.
Segundo a autora, essa crise é provocada, tanto pelo modelo curricular que
engessou os cursos, além da falta de atualização dos currículos da maioria das
instituições; como também pelo crescimento rápido, nem sempre em condições
adequadas, do número de cursos de Comunicação Social. A pesquisadora ainda
diz que, além da facilidade de ingresso do aluno, especialmente nas escolas
particulares, há outros problemas que devido ao
crescimento de cursos de graduação em Comunicação significou a criação
de cursos nem sempre adequadamente estruturados: ênfase em matérias
teóricas, às vezes ministradas por docentes sem a devida conexão com a
área da Comunicação; separação entre ciclo básico e ciclo profissionalizante;
inadequação ou inexistência de laboratórios de qualidade e em quantidade
requeridas; deficiências na preparação de uma parte dos professores para o
exercício da docência em comunicação etc. (PERUZZO, 2003, p. 12).
Este indicador, portanto, evidencia a oferta por parte das instituições de um
campo tão extenso e, ao mesmo tempo, tão diversificado, de maneira que implica
em inúmeros enfoques e titulações da carreira, díspares grades curriculares,
incluindo até mesmo a ampla variação de duração de carreira para carreira. Por
exemplo, em média, na Colômbia e no Paraguai o curso tem duração de quatro
a cinco anos, na Argentina a duração média é de 3,8 anos, no Chile é extensivo
em até seis anos. No texto final da pesquisa em andamento pretende-se dar
estimativas de cada país.39
No que se refere dimensão da estrutura de ensino em Comunicação e a
respectiva dimensão de cada país, a tabela a seguir (Tabela 9) traz uma estimativa
da proporção de quantas instituições existem para cada milhão de habitantes, o
que nos permite fazer avaliações comparativas mais adequadas:
39. Algo que demanda maiores análises, pois nem sempre há uniformidade entre as instituições de ensino de
um mesmo país quanto ao tempo de duração dos cursos, o que torna necessário a contabilização manual para se
apontar uma média em cada realidade nacional
252
Tabela 9: Instituições de ensino40 para cada milhão de habitantes
40. Especificamente instituições de ensino no nível de graduação com cursos de comunicação, conforme estipu-
lado nos parâmetros metodológicos desta pesquisa.
41. A noção de público não deve ser confundida com a noção de gratuidade ou do pagamento de taxas e afins.
O adjetivo “pública” é concebido aqui enquanto vinculação da instituição ao Estado, isto é, como algo que é
patrimônio público, de propriedade pública. Deste modo, aquelas que não possuírem tais vínculos são consid-
eradas privadas. Mesmo que uma universidade cobre mensalidades ou taxas, mas esteja juridicamente vinculada
ao Estado, esta é considerada uma instituição pública, ainda que este modelo possa receber críticas pelo fato
de não ser gratuito. Em outro exemplo, mesmo que uma universidade tenha seus cursos gratuitos (filantropia),
mas a sua propriedade pertença a uma fundação ou ente não-governamental, esta é considerada uma instituição
privada.
253
Tabela 10: Graduação em comunicação: proporção entre instituições públicas e privadas
254
nas privadas. Em relação às universidades públicas, embora haja dificuldade ao
acesso a melhores tecnologias, ainda conta com professores de dedicação exclusiva
e melhor nível de ensino do que em comparação às privadas (MARTINS, 2009).
Algumas outras reflexões e análises dos programas de comunicação em cada
país podem ser salientados e analisados a partir do indicador que se refere ao
número de instituições ofertantes de pós-graduação strictu sensu, conforme a
tabela a seguir (Tabela 11):
Argentina45 20
Brasil46 37
Chile47 10
Colômbia48 10
Equador49 12
Espanha50 36
México51 35
Paraguai52 4
Portugal53 37
Venezuela54 8
44. Dados referentes ao Uruguai estão em processo de confirmação junto à fontes oficiais e especialistas.
45. Títulos oficiais na Argentina,. 2010. Disponível em: <http://ses.siu.edu.ar/titulosoficiales/default.php/titu-
losoficiales/default.php>. Acesso em 15 de outubro de /2010.
46. Fonte: SILVA; BERTI, 2010.
47. Relação de carreiras. 2010. Disponível em: <http://directorio.educasup.cl/>. Acesso em 15 de outubro de
2010.
48. Tabela elaborada pelo professor colombiano José Miguel Pereira, fornecida por e-mail em novembro de
2010.
49. Consejo Nacional de Educación Superior (CONESUP). 2010. Disponível em: <http://www.conesup.net/>.
Acesso em 15 de outubro de 2010.
50. Relação de cursos de pós-graduação da Espanha. 2010. Disponível em: <http://www.guiauniversidades.uji.
es/postgrados/index.html>. Acesso em 15de outubro de 2010.
51. Informação dada pelo pesquisador mexicano Raul Fuentes Navarro, obtida por e-mail em novembro de
2010. “Aunque no hay información oficial actualizada, el cálculo es que haya entre 30 y 40 programas de maes-
tría operando en el país (7 en instituciones públicas y el resto en privadas), y sólo el Doctorado en Comunicación
Aplicada de la Universidad Anáhuac (privada), abierto en 2009.” A fim de se ter uma quantificação aproximada
desta pesquisa, calculou-se a média entre 30 e 40, resultando no número 35 como dado na construção da tabela.
52. Informação dada pelo pesquisador paraguaio Aníbal Orue, obtida por e-mail em novembro de 2010.
53. Lista de pós-graduação de Portugal. 2010. Disponível em: <http://www.dges.mctes.pt/DGES/pt/Oferta-
Formativa/CursosConferentesDeGrau/Cursos+Conferentes+de+Grau.htm>. Acesso em 15 out. de 2010.
54. Oferta de pós-graduação. 2010 na Venezuela. Disponível em: <http://www.ccnpg.gob.ve/directorio_na-
cional/default.asp>. Acesso em 15 out. de 2010.
255
Observa-se que Brasil, Espanha55, Portugal e México são os países que
possuem os maiores números de instituições de ensino de pós-graduação na área
de Comunicação em termos absolutos quando em comparação com os demais
países. Porém, no caso específico dos dois países europeus, há um número de
instituições com oferta em pós-graduação mais aproximado do quantitativo
do que o ofertado na graduação. Ou seja, na Espanha das 50 instituições que
ofertam graduação, 36 delas também ofertam pós-graduação. Em Portugal, se há
43 instituições que ofertam apenas graduação, há 37 instituições de pós-graduação
strictu sensu. Isto aponta tendências de maior consolidação da comunicação
como área de conhecimento e também amplia as possibilidades de fomento e
desenvolvimento de pesquisas específicas.
Na América Latina o cenário é distinto. Alguns países (Colômbia, Equador,
Venezuela e Paraguai) ofertam apenas o mestrado. No caso da Colômbia, o
pesquisador José Pereira56 aponta algumas justificativas para a referida ausência
em seu país, como a falta de apoio econômico por parte do governo:
No hay beca para maestrías y doctorados de manera masiva. La mayoría
son universidades privadas. El país tiene muy pocos doctores en todos los
campos del conocimiento. Muy pocos en comunicación, solo recientemente
se viene incrementando el número. [...] No hay apoyo del Estado o si lo hay,
es aún, muy poco.
Mesmo nos países latino-americanos onde foi encontrada alguma referência
de cursos de doutorado nota-se que esta oferta é ainda bem reduzida. Na Argentina
são seis cursos, no Chile existem dois cursos e no México apenas um, criado em
2009. Segundo Navarros (2010) embora no México a titulação de doutorado seja
obtida em áreas como Ciências Políticas e Sociais ou Estudos Humanísticos, há
seis dentre esses cursos que possuem áreas de concentração em Comunicação, o
que indica a presença de investigação científica e produção acadêmica maior do
que se poderia estimar quando se observa apenas os dados tangente ao grau de
doutoramento em Comunicação daquele país. Isto demonstra como alguns dados
podem escamotear realidades e contextos adversos, que merecem, por sua vez,
ser esmiuçados para qualificar e adensar a pesquisa, ainda que isto seja feito num
segundo momento de investigação.
Apenas no Brasil essa realidade é mais avançada em relação ao contexto
latino-americano, com 15 instituições ofertando doutorado em grandes centros
de excelência, embora grande parte dos doutorados ainda seja incipiente57.
Em relação à ampla margem dos mestrados sobre os doutorados observados
55. Destaca-se que o mestrado na Espanha não é regulado, de forma que não possui validade perante o minis-
tério da Educação, apenas o doutorado possui.
56. Informação dada pelo pesquisador colombiano José Pereira, obtida por e-mail em novembro de 2010.
57. Sobre o tema, ver a pesquisa de Maria Cristina Gobbi no primeiro capítulo deste volumem.
256
na América Latina, como diz Farías (2006), essa diferença é atribuída em grande
parte pela influência recebida do modelo de pesquisa universitário estadunidense
o qual vincula ensino e pesquisa à obtenção sequenciada de graus acadêmicos.
Esse fato as das chamadas especializações, que qualificam para o mercado de
trabalho do que propriamente contribuir para o desenvolvimento do campo de
investigação e ensino.
Pereira e Burbano (2002) esclarecem as implicações da baixa participação da
pós-graduação nos estudos de Comunicação para a Colômbia:
Dado que son pocas las ofertas de formación superior en maestrías y
doctorados, no hay programas y grupos de investigación consolidados con
líneas y proyectos de investigación específicas, lo que evidencia una ausencia
de comunidad académica en el campo de las comunicaciones en el país.
No caso do Chile, a escassa estrutura de formação de doutores interfere
na própria avaliação da excelência do ensino superior como um todo, já que
os alunos de graduação acabam sendo orientados por professores com pouca
titulação (CASTELLÓN, 2006).
No Brasil é possível afirmar que houve uma expansão do ensino da
Comunicação durante os anos 90. Em meio ao “boom” da explosão dos cursos
na área, compartilhada por diversos outros países desse estudo, houve avanço
considerável nos programas de pós-graduação strictu sensu para a região,
principalmente nos últimos cinco anos.
Nas palavras de Silva e Berti (2010) “a autorização58 de novos programas de
pós-graduação (PPGs) nos últimos cinco anos fez com que área comunicacional
tivesse considerável incremento e desse um salto quantitativo e qualitativo para
sua sedimentação” (p. 3).
Estes últimos cinco anos (2005-2010)59 ocasionaram um aumento de
praticamente 100 por cento no número de programas, que passaram de pouco
menos de 20 para quase 40. É interessante notar que o Brasil é, mesmo em meio
aos dois países europeus, o que possui maior número de instituições ofertantes de
pós-graduação. E, na América Latina, sem dúvida, é o mais avançado em matéria
de pesquisas e incentivos na área. Junto ao Cone Sul e aos dois países europeus, o
Brasil é um dos que mais publica revistas e desenvolve pesquisas, destacando-se na
América Latina os seus centros de investigação (MARTINS, 2009).
No que diz respeito ao momento de criação da pós-graduação na América
Latina, o quadro a seguir (Quadro 4) apresenta um panorama histórico,
58. Autorização esta realizada pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
órgão do governo federal responsável pela autorização dos programas de pós-graduação stricto sensu.
59. Mais detalhes sobre o tema, ver a pesquisa de Maria Cristina Gobbi.
257
destacando-se o papel pioneiro do Brasil na região latino-americana, conforme
dados de Farías (2006):
60. País acrescentado à lista de Farías (2006), conforme informação dada pelo pesquisador mexicano Raúl
Fuentes Navarro. Novembro de 2010.
61. Dados referentes ao Uruguai estão em processo de confirmação junto a fontes oficiais e especialistas.
258
parte da agência de fomento Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FONDECYT). Isto implica em menor incentivo às pesquisas em
comunicação no país (CASTELLÓN, 2006).
A falta de participação pública mais ativa também é compartilhada pela
Colômbia, que, conforme já dito anteriormente, há ínfimo incentivo econômico
por parte do governo. O cruzamento de dados como estes podem ajudar a
identificar os baixos índices de cursos ofertados em pós-graduação, já que é
mais comum o incentivo a investigações acadêmicas e melhoria da qualidade de
produção científica em regiões onde há forte participação e apoio do governo,
ainda que não seja esta uma relação direta ou fechada. Em Portugal e Espanha
essa porcentagem prevalecente na participação do ensino público já era prevista,
dada a forte presença das universidades públicas em números absolutos tanto na
graduação, quanto na pós-graduação. Por fim, importante observar que no Brasil
os dados demonstram que há uma inversão em relação ao que foi detectado na
graduação quando comparada à pós-graduação, ou seja, a maioria das instituições
que oferta cursos de mestrado/doutorado é pública, conforme apontou a tabela
anterior.
Considerações finais
Este capítulo teve como objetivo traçar um panorama da Comunicação Social
em 11 países da comunidade ibero-americana. Um conjunto de oito indicadores
serviu como âncora para compor este quadro priorizando informações que
pudessem trazer uma visão geral de temas considerados mais estruturantes como
regulação, tecnologia, acesso/consumo e formação acadêmica em comunicação.
Os resultados aqui dispostos devem ser compreendidos como parte de um
estudo ainda maior, em andamento, que inclui uma série de outros indicadores
sobre os temas abordados neste capítulo, mas que também, para além destes,
abordam outras temáticas como estrutura de serviços, mercados, consumo de
mídia e profissionalização. Estes e outros temas serão tratados na segunda fase
da pesquisa, compondo assim um panorama mais completo de questões, com
maiores possibilidades para o cruzamento de dados, para identificação de padrões
e comparações pertinentes.
Neste percurso de pesquisa, algumas áreas de investigação se demonstraram
especialmente dificultosas por tratarem de dados que nem sempre estão
devidamente publicados ou devidamente tabulados.
Esta dificuldade se amplia quando se nota que:
(1) embora circunscrito à grande área comunicação, o estudo dialoga com
campos distintos do conhecimento ou de áreas distintas da vida social
259
(como educação, economia, tecnologia, legislação), cujas informações não
estão centralizadas, ao contrário, se encontram dispersas, cada uma numa
base de dados diferentes;
(2) ao mesmo tempo, a busca por cada indicador é multiplicado por 11
realidades nacionais distintas, onde a simples confirmação se um país possui
ou não um determinado dado torna-se um elemento bastante complexo
de ser pesquisado. Por exemplo, os indicadores inexistentes tendem a se
comportar para o pesquisador como um indicador invisível. O fato de não
possuir “registro na realidade” torna-se assim um elemento complicador,
pois demanda tempo para se chegar à conclusão e confirmação desta lacuna.
A opção por alguns indicadores e não por outros nesta primeira fase da
pesquisa se justifica:
(a) ocorreu a partir de sua função estruturante (como é o caso da digitalização
da TV e do rádio; da formação em comunicação social; da penetração da
internet em cada país, etc.) e
(b) sua viabilidade na obtenção de dados (algumas informações demandam
buscas em documentos oficiais e relatórios disponíveis, outros necessitam de
entrevistas ou visitas a embaixadas, por exemplo);
(c) sua diversidade temática (isto é, que compusessem um mosaico de
elementos capazes de apontar caminhos e indícios comparativos no conjunto
de países pesquisados).
Além de trazer outros indicadores em processo de coleta de dados sobre as
11 realidades nacionais aqui selecionadas, o resultado final da pesquisa também
busca informações sobre mais quatro países que ficaram de fora desta primeira
fase. São eles: Cuba, China, Índia e Rússia, sendo que os três últimos ao lado do
Brasil, formam o BRIC.
Os quatro países são, inclusive, os países com maiores barreiras para obtenção
de dados: seja pelo volume de informações que precisam ser depuradas; seja
pelo próprio perfil político destas nações, muitas delas com uma tradição mais
hermética cujas estruturas oficiais-governamentais tendem a ser menos abertas
(como é o caso dos países de regime comunista como China e Cuba).
Para retomar e alinhar algumas considerações sobre os resultados obtidos
nesta primeira fase da pesquisa, tratamos os indicadores pesquisados através de
quatro grandes categorias ou temas:
260
(a) regulação;
(b) tecnologia;
(c) acesso/uso e
(d) formação.
No que se refere às questões regulatórias, os dados apresentados demonstram
que, pelo menos formalmente, o conjunto de países analisados dão à Comunicação
um papel importante na dinâmica da vida pública, reconhecendo-a através
das noções ou bandeiras clássicas da liberdade de expressão, de opinião, de
manifestação ou de imprensa como direitos inalienáveis. Isso não significa afirmar
que tais direitos são devidamente cumpridos e respeitados em cada realidade,
mas o fato é que existe tal reconhecimento constitucional, o que se torna um
elemento importante para reivindicações sociais. Uma outra característica de teor
regulatório e estrutural que merece destaque é a existência de canais comerciais
e não-comerciais de radiodifusão em todos os países pesquisados, ainda que
sustentem realidades distintas, como vimos.
No tocante ao item tecnologia, os indicadores analisados se concentraram
em identificar quais países já iniciaram o processo de digitalização da TV e no
rádio.
No caso da televisão, os resultados demonstram que a definição de padrão
tecnológico e o início da fase de implementação do sistema digital já são uma
realidade e ocorre nos 11 países examinados. Embora três diferentes padrões
tecnológicos tenham sido escolhidos, o padrão nipo-brasileiro foi o mais
adotado pelo grupo de países estudados. Já no caso do rádio digital, o cenário é
distinto: há ainda muita indefinição e apenas três dos países (Espanha, Portugal
e México) estão com seus sistemas implantados, mesmo assim, ainda buscam
resolver problemas técnicos no caminho de sua plena funcionalidade. Nos países
selecionados, os debates nacionais demonstram que até o final de 2010 havia
uma tendência, dentre aqueles que ainda não definiram padrão, em adotar a
tecnologia IBOC. Porém, este cenário pode mudar a depender dos debates, do
lobby empregado e, principalmente, no caso brasileiro, na definição de políticas
públicas para pesquisa, desenvolvimento e inovação nacional nessa área.
Embora pouco exploradas nesta pesquisa, as questões referentes ao acesso,
consumo ou uso dos meios de comunicação foram tratadas em dois indicadores
que tratam de internet e mídia impressa.
Sobre internet, os dados sugerem que, pelo menos até 2010, apenas a
Espanha (63%), Colômbia (49%) e Portugal (48%) conseguiram atingir ou estão
próximos de inserir a metade de seus cidadãos como usuários de internet. Em
relação ao consumo da mídia impressa, os dados levantados apontam pistas sobre
261
a dinâmica deste setor em cada país. O quadro é bastante heterogêneo e não
segue uma lógica simples, por exemplo, nem sempre os países que possuem bons
índices de alfabetização ou índices de desenvolvimento humano (IDH) aparecem
no topo da listagem (como é o caso da Argentina) quanto ao quantitativo de
cópias impressas que circulam em relação ao número de habitantes.
Ao mesmo tempo, países como a Venezuela e Equador (na América Latina)
e Espanha (na Europa) possuem um quantitativo superior quando comparados
aos demais países (ainda que cheguem ao patamar de países como a Noruega).
O que indica que tais países possuem uma circulação de impressos acima da
média do grupo pesquisado. O que pode apontar para uma cultura de compra de
jornais impressos mais efervescente ou pode indicar a existência de mais veículos
também. De todo modo, são hipóteses que precisam ser examinadas. Para este
segmento, é preciso realizar cruzamentos de dados capazes de desdobrar em
percepções mais sólidas.
No que se refere aos indicadores sobre formação superior, os dados
demonstram que a América Latina ainda enfrenta enormes desafios no ensino
em Comunicação. Mesmo com o crescimento da oferta de cursos nos anos 90
do século XX isso não significou uma concreta melhoria da qualidade de ensino.
Algo que também se reflete na pós-graduação, onde boa parte dos países latino-
americanos oferta apenas o mestrado (como acontece na Colômbia, no Equador
e na Venezuela). Mesmo em países de proporções maiores e mais próximas do
Brasil, como o México, a existência de cursos de doutorado é incipiente (apenas
um criado em 2009). Neste país, a pesquisa e a formação de doutores que atuam e
pesquisam Comunicação é feita em áreas afins, o que demonstra que a área ainda
não adquiriu autonomia e força para deslanchar.
Já no caso dos países europeus estudados (Portugal e Espanha) esse quadro é
diferente: os dois países possuem os maiores quantitativos de instituições de ensino
em pós-graduação em Comunicação quando em comparação com os demais.
Há nos dois casos menor distância entre a quantidade de cursos de graduação
e pós-graduação. Embora esta proximidade entre quantidade graduação e pós-
graduação não ocorra no Brasil (que tem cerca de 423 instituições com graduação
e 37 com mestrado/doutorado), o país possui a melhor estrutura de pós-graduação
na América Latina dentre os países estudados.
Convém ressaltar que os números, informações e análises aportados nesta
pesquisa (em relação aos oito indicadores) precisam ser continuamente revisitados
e acompanhados por pesquisas futuras e longitudinais. O exercício de se elencar
indicadores da comunicação que possam ser comparados entre as diversas realidades
nacionais é imprescindível num mundo globalizado e inevitavelmente conectado.
Metodologias precisam ser testadas e meios de monitoramento precisam ser
desenvolvidos e aprimorados para que tal acompanhamento se torne viável e
262
qualificado. Órgãos governamentais e institutos de pesquisa também necessitam
estar sensibilizados da importância de produzir, organizar e disponibilizar este
tipo de informação. Finalmente, contatos e intercâmbios entre centros de estudos
e a formação de redes de especialistas também merecem especial atenção, pois a
criação de estruturas desta natureza pode tornar a coleta, análise e atualização de
dados mais efetiva.
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Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – 2010
Editorial
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