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Governo Federal

Secretaria de Assuntos Estratégicos da


Presidência da República
Ministro Samuel Pinheiro Guimarães Neto

Fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Socicom – Federação Brasileira das


Estratégicos da Presidência da República, o Ipea fornece Associações Científicas e Acadêmicas
suporte técnico e institucional às ações governamentais de Comunicação
– possibilitando a formulação de inúmeras políticas
públicas e programas de desenvolvimento brasileiro –
e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos
realizados por seus técnicos.

Presidente
Marcio Pochmann Presidente
José Marques de Melo
Diretor de Desenvolvimento Institucional
Fernando Ferreira Vice-Presidente
Diretor de Estudos e Relações Econômicas e Ana Silvia Lopes Davi Médola
Políticas Internacionais
Mário Lisboa Theodoro Diretora Administrativa
Anita Simis
Diretor de Estudos e Políticas do Estado, das
Instituições e da Democracia Diretora Relações Internacionais
José Celso Pereira Cardoso Júnior Margarida Maria Krohling Kunsch
Diretor de Estudos e Políticas
Diretor de Relações Nacionais
Macroeconômicas
Elias Gonçalves Machado
João Sicsú
Diretora de Estudos e Políticas Regionais,
Urbanas e Ambientais Site: www.socicom.org.br
Liana Maria da Frota Carleial
Socicom
Diretor de Estudos e Políticas Setoriais de
Federação Brasileira das Associações
Inovação, Regulação e Infraestrutura
Científicas e Acadêmicas de Comunicação
Marcio Wohlers de Almeida
Av. Brigadeiro Luis Antonio, 2050, 3º.
Diretor de Estudos e Políticas Sociais Andar – Bela Vista, SP
Jorge Abrahão de Castro CEP 01318-002
Chefe de Gabinete
E-mail: Socicom@hotmail.com
Pérsio Marco Antonio Davison
Assessor-chefe de Imprensa e Comunicação
Daniel Castro

URL: http://www.ipea.gov.br
Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea 2010

Panorama da comunicação e das telecomunicações no Brasil / organizadores:


Daniel Castro, José Marques de Melo, Cosette Castro. - Brasília : Ipea,
2010. 3 v. : gráfs., tabs.

Inclui bibliografia.
Conteúdo: v.1. Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. – v. 2. Memória das associações científicas e acadêmicas da
comunicação no Brasil.– v. 3. Tendências na comunicação.
ISBN

1. Comunicação. 2. Telecomunicações. 3. Brasil. I. Castro, Daniel. II. Melo,


José Marques de. III. Castro, Cosette. IV. Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. V. Título: Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. VI. Título: Memória das associações científicas e acadêmicas de
comunicações no Brasil. VII. Título: Tendências na comunicação.

CDD 384.0981
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E DAS
TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL

VOLUME 1

COLABORAÇÕES PARA O DEBATE SOBRE


TELECOMUNICAÇÕES E COMUNICAÇÃO

Organização
Daniel Castro
José Marques de Melo
Cosette Castro

Coordenação
José Marques de Melo
Anita Simis
Daniel Castro
Cosette Castro
João Cláudio Garcia
SUMÁRIO

VOLUME 1
COLABORAÇÕES PARA O DEBATE SOBRE TELECOMUNICAÇÕES E
COMUNICAÇÃO

Apresentação
Marcio Pochmann - Presidente do Ipea, José Marques de Melo - Presidente da Socicom
e Cezar Alvarez - Secretário-executivo do Ministério das Comunicações .......................11
Suco de Pitomba
Daniel Castro................................................................................................13
Indústrias criativas e de conteúdo: O dilema brasileiro para a
integração do massivo ao popular
José Marques de Melo..................................................................................16
Comunicação Digital - diálogos possíveis para a inclusão social
Cosette Castro..............................................................................................25

1ª. Parte - Tendências Econômicas


Capítulo 1
A hora e a vez dos países-baleias
Marcio Pochmann.........................................................................................43

2ª. Parte - Tendências nas Telecomunicações


Capítulo 1
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?
Marcio Wohlers ...........................................................................................53
Capítulo 2
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento
dos serviços de informação e comunicação
Rodrigo Abdalla Filgueiras de Sousa, João Maria de Oliveira e Luis Cláudio
Kubota.........................................................................................................61
Capítulo 3
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações
Fernanda De Negri e Leonardo Costa Ribeiro ...............................................85
Capítulo 4
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações
Paulo Meyer Nascimento...............................................................................93
Capítulo 5
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações
Luis Claudio Kubota, Edson Domingues e Daniele Nogueira Milani...............107
Capítulo 6
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda pública por
equipamentos de telecomunicações
Rodrigo Abdalla Filgueiras de Sousa e João Maria de Oliveira......................117
Capítulo 7
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações
Lucas Ferraz Vasconcelos.............................................................................129

3ª. Parte - Panorama da Comunicação


Capítulo 1
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como
um modelo internacional de inclusão
André Barbosa Filho ..................................................................................141
Capítulo 2
Estado, Cinema e Indústrias Criativas e de Conteúdos
Anita Simis ................................................................................................153
Capítulo 3
Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e
concentração de capital (1870-2008)
Gilberto Maringoni ....................................................................................159
Capítulo 4
Comunicação institucional do poder público
Antonio Lassance ......................................................................................167
Capítulo 5
Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics
Marina Nery...............................................................................................183
Capítulo 6
Novos desafios ao direito autoral no jornalismo
João Cláudio Garcia ..................................................................................189
APRESENTAÇÃO

O texto de Apresentação da obra Panorama da Comunicação e das Telecomunicações


no Brasil foi escrito a seis mãos, uma consequência do mundo complexo que
estamos vivenciando, onde as análises não podem mais se restringir a apenas um
campo do saber. A obra é uma iniciativa inédita no Brasil, pois um mesmo projeto
apresenta diferentes dimensões que se complementam e ajudam a pensar futuras
políticas públicas para os campos da Comunicação e das Telecomunicações no
país e, particularmente, colaboram para subsidiar o governo federal, em suas
políticas para reduzir a inclusão social e digital.
O primeiro volume desta obra é dividido em duas partes: a primeira
apresenta o estudo das tendências nas telecomunicações, e reúne artigos escritos
exclusivamente para este livro, além de cinco textos publicados originalmente
no Boletim Radar – Tecnologia, Produção e Comércio Exterior nº 10, uma edição
especial de telecomunicações lançada pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) em outubro de 2010. A segunda parte traz artigos que colaboram
para o pensamento na área de comunicação e oferecerem um panorama das
indústrias criativas e de conteúdos.
A escolha por unir os estudos sobre telecomunicações e comunicação e sua
relação com a economia se justifica. Além das fronteiras entre os dois campos
estarem se diluindo rapidamente, o setor de tecnologias da informação e da
comunicação (TICs) é um dos mais dinâmicos em termos de inovações em âmbito
mundial. E cada vez mais, os pesquisadores incluem a comunicação, a cultura e
a educação como partes do processo de inovação. No âmbito tecnológico, os
investimentos em P&D pelos grandes players são extremamente significativos:
sete das 20 maiores empresas inversoras em P&D no mundo pertencem ao setor.
No outro lado da cadeia produtiva, na área de conteúdos e serviços digitais,
não poderia ser diferente. Os estudos internacionais mostram que as indústrias
criativas e de conteúdos digitais rendem bilhões de dólares anualmente e tendem
a aumentar esses valores nos próximos anos. Essa é uma das razões pelas quais o
Programa Nacional de Banda Larga conta em seu plano de ação com a área de
conteúdos e serviços digitais, que passou a funcionar no segundo semestre de
2010.
O segundo volume desta obra é dedicado a resgatar, como o próprio título
diz, a Memória das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação no Brasil,
como resultado de parceria realizada entre o Ipea e a Federação Brasileira das
Sociedades Científicas de Comunicação (Socicom). A comunidade brasileira no
âmbito das ciências da comunicação avançou significativamente desde que Luiz
Beltrão, o fundador do campo de conhecimento da comunicação, criou há meio

11
século o primeiro instituto de pesquisa acadêmica sobre os fenômenos sociais
da informação coletiva. Todavia, a ausência de uma interlocução com o Estado
ensejou o desenvolvimento de estudos nem sempre afinados com as demandas da
sociedade. Padecendo do “complexo do colonizado”, a vanguarda da comunidade
de pesquisadores em comunicação comportou-se mimeticamente, reproduzindo
muitas vezes modelos teóricos forâneos, carentes de sintonia com o ethos brasileiro.
Uma das metas da constituição da Socicom foi justamente superar essa
dependência paradigmática, o que adquiriu consistência por meio do convênio
celebrado com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e que conta com o
apoio do Programa Nacional de Banda Larga. Com este projeto, o Ipea legitimou
a relação comunicação-desenvolvimento ensejando a criação de um Observatório
das Políticas Públicas nesse campo. Além disso, planeja realizar séries históricas
destinadas a pensar sistemas democráticos de difusão coletiva, além de propor
indicadores na área de comunicação.
A obra Panorama Brasileiro da Comunicação e das Telecomunicações representa
um passo decisivo nessa direção. E, em seu terceiro volume, apresenta o resultado
(parcial) de quatro pesquisas realizadas por pesquisadores brasileiros da área
da comunicação sobre o Estado da Arte nesse campo do conhecimento. Neste
volume é possível conhecer o número de faculdades e cursos de pós-graduação
em comunicação no país, analisando áreas de concentração e/crescimento. Um
segundo ponto da pesquisa sobre o Panorama da Comunicação analisa as profissões
existentes hoje e as novas habilidades necessárias para que o país possa investir em
uma indústria de conteúdos e serviços digitais. A terceira parte do estudo analisa
as indústrias criativas e de conteúdos e os movimentos das empresas em direção
ao modelo digital. Finalmente, a pesquisa realiza estudo comparativo na área de
comunicação com outros países, possibilitando a análise de nossas fragilidades e
potencialidades.

Brasília, dezembro de 2010.

Marcio Pochmann, presidente do Ipea


José Marques de Melo, presidente da Socicom
Cezar Alvarez, secretário-executivo do Ministério das Comunicações

12
SUCO DE PITOMBA

Brasileiro, nordestino, maranhense e ludovicense que sou, tive uma criação


semelhante à de boa parte da população brasileira estudada pelo Ipea: os pobres –
financeiramente, óbvio. E, na minha infância, foi comum conviver com quintais
e plantas frutíferas, coisa que está praticamente extinta nas grandes cidades
brasileiras, mesmo nos condomínios das elites nacionais e estrangeiras que vivem
aqui.
E nessa convivência com quintais e plantas destaco uma delas que talvez
grande parte dos brasileiros não conheça: a pitomba. Esse fruto – em geral tem um
a dois caroços revestidos por uma camada fina e suculenta, adocicada e um pouco
ácida – é encontrado nativamente desde a região Amazônica até a Mata Atlântica.
Sua árvore chega a ter 12 metros de altura e é fácil ser usada por moleques, como
eu à época, para altos papos e centro de “reuniões” sobre a próxima brincadeira,
etc. Além de constar no cardápio dos seres humanos, a fruta é consumida por
muitos outros animais.
Mas o que tem a pitomba a ver com a comunicação/comunicações, ou com
o debate sobre comunicação/comunicações? Óbvio que nada! Aparentemente.
Ela pode ser usada como metáfora para entender que o debate atual sobre
comunicação (comunicações) assemelha-se a um suco de pitomba.
Apesar de ser possível se extrair dessa fruta – ou de qualquer outra – líquido
que possa se transformar em suco, no caso da pitomba não há registro de que
isso seja feito. Mas é o que se tenta há anos fazer no caso da comunicação/
comunicações: tentar vender a ideia de que é possível se extrair do meio (Estado,
governos, veículos, empresas, leis, etc.) algo que não se caracterize numa coisa
estranha, mesmo que seja possível. O “suco” do debate sobre comunicação/
comunicações seria algo não palatável e por isso tão cheio de medos e desafios. E,
nesse caso, é melhor não extrair nada e não beber esse “suco”. Será?
Não é preciso consultar a literatura ou pesquisar em bibliotecas para se
registrar que nunca na história deste país, como diz nosso presidente Lula, se
debateu tanto a comunicação/comunicações. E isso não é um fenômeno do
Brasil. A eleição de Obama (EUA) colocou na sala de estar – hipotecada, claro
– americana o debate sobre o poder do quarto poder e sua participação política,
empresarial e social. Aqui no Brasil, nos últimos anos, têm ocorrido seminários
quase que diários para se debater os rumos da comunicação de massa. Com um
agravante: os veículos dedicam quase nada de espaço para esse debate, a não ser
quando organizados pela própria empresa detentora do veículo organizador. Ufa!
Outra coisa que chega a ser desnecessária é o registro sobre a situação surreal
que vive o setor de comunicação/comunicações. Apesar das novas tecnologias,
13
como a internet, que em tese favoreceriam a expansão de grupos e empresas do
setor – o que de fato ocorreu –, o que se tem visto é uma troca de guarda. Grandes
conglomerados têm se transformado e pedido água. Tradução: quebrado ou se
hipotecado. Mas alguns ainda tentam esconder do público que a vaca já está no
brejo. Isso é visto nos veículos impressos, por exemplo. Não é preciso pesquisa
para saber que a garotada – os maduros de amanhã – não lê jornais impressos.
Então, quem os lerá?
Por outro lado – isso é o que explica a situação surreal –, os pequenos
veículos, na rede, claro, crescem a cada dia em visitação e procura. Não há essa
pesquisa, óbvio, mas deve-se estimar que boa parte da população mundial já
possua um registro na rede. E muitos, para desespero de alguns, não só têm esse
registro, como alimentam redes incríveis de comunicação/comunicações.
Agora, apesar de muitos debates, pouco ou nada se coloca no papel pelos
órgãos de Estado que deveriam fazê-lo. E esse era o caso do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea). Em 46 anos, sua produção deixou passar ao largo
essa temática, como se o setor não fosse estratégico. Não se sabe se não estudou
porque não quis estudar, ou se não estudou porque não era conveniente estudar.
Sei lá!
Não querendo transformar o debate em suco de pitomba, o Ipea se deu
conta de que, para ter essa produção de conhecimento – e que esta, sim, fosse
palatável –, era necessário reconhecer, primeiro, as redes de pesquisa já existentes.
No caso, procurar parcerias com a Federação Brasileira das Associações Científicas
e Acadêmicas de Comunicação (Socicom). Essa busca foi exitosa, pois encontrou
na diretoria da Socicom a demanda por parcerias com o Estado. Juntou a fome
com a vontade de comer.
Outro fator importante foi reconhecer que deveria haver um planejamento
estratégico para produção de conhecimento nessa área. Esse planejamento
passaria pela oferta de recursos em formação de quadros pelo próprio Ipea, o
que se solucionou pela Chamada Pública 63/2010, a qual selecionou doutores e
mestres, em todo o Brasil, para consolidar um primeiro painel de pesquisa – que
tem seus primeiros resultados nesta obra.
Por fim, também era necessário aglutinar o debate, colocando como meta
a aproximação entre os pesquisadores em comunicação – da Socicom – e os
técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea. O que teve guarida na Diretoria
de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset)
do Ipea. Registro que essa aproximação ainda é embrionária, mas observo que
ela se dará em breve – acredito – por meio da formação de um núcleo dentro
dessa diretoria para estudar o assunto, até porque o Ipea já tem liderança na área
de estudos de telecomunicações. E digo isso como proposta. A distância entre

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comunicação e telecomunicação ainda existe só nos manuais, pois no dia-a-dia
não há debate sobre uma que não use temas da outra.
Mas esse debate, no Ipea, está apenas começando. Acredito que essa
associação já deu frutos e tem tudo para decolar. O que não tenho certeza é
se conseguirá fazê-lo na mesma rapidez das transformações que nossa geração
presencia. Temo que os grupos de pesquisa – tanto do Ipea como da Socicom –
devam se debruçar menos pelo histórico e mais pela antecipação de novas ondas,
pois esse setor precisa, sim, ser mapeado, e não podemos assistir passivos às suas
mudanças. E essa parceria deve continuar, em nome da sociedade brasileira.

Daniel Castro
Organizador
Assessor-chefe de Imprensa e Comunicação do Ipea

15
INDÚSTRIAS CRIATIVAS E DE CONTEÚDO:
O DILEMA BRASILEIRO PARA A INTEGRAÇÃO DO MASSIVO AO POPULAR

José Marques de Melo1

Introdução
A sociedade midiática caracteriza-se pela prevalência das indústrias criativas
e de conteúdo no conjunto das atividades de produção e circulação dos bens
simbólicos que configuram e dão sentido à sua identidade cultural. O principal
indicador do desenvolvimento da indústria midiática é sem dúvida o fluxo dos
investimentos em publicidade. Quanto maior for a capacidade dos anunciantes
para comprar espaço nos jornais, rádio, televisão ou internet, mais recursos terão
os empresários do ramo para manter seus veículos, gerar empregos para jornalistas
e outros profissionais e naturalmente melhorar os produtos que difundem.
Nesse âmbito, a América Latina demonstrou tendência regressiva na
primeira década do século XXI. Apesar das recentes aplicações feitas no setor,
perfilou como o continente que menos investia em publicidade. A crise do
sistema financeiro provocou a redução do bolo publicitário, retirando-nos da
retaguarda mundial em 2009. A liderança permanece com a América do Norte
(35.4%), seguida da Europa Ocidental (24.1%), da Ásia/Pacífico (23.4%) e da
América Latina (6.9%).Na retaguarda encontram-se a Europa do Leste (6.2%) e
África/Oriente Médio (4.1%).
Segundo o anuário Mídia Dados 2010, baseado no Advertising Expenditure
Forecast (Zenith Optimedia, 2009), como decorrência “da expansão da economia
na maioria dos países do continente e da valorização das moedas locais diante
do dólar”, no período 2007/2009 houve uma um crescimento de 15% nos
investimentos publicitários da região. O Brasil, o México e a Colômbia
demonstram sinais de vitalidade. São os únicos países desta região sociocultural
incluídos no seleto clube dos maiores anunciantes mundiais.
A situação brasileira é conjunturalmente confortável. Aplicando US$ 11.5
milhões/ano, figura em 7º. lugar no volume de investimentos publicitários
(depois dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, China, Reino Unido e França)
e 0 3º. lugar no investimento publicitário em televisão, precedido apenas pelos
Estados Unidos e Japão.
Os grandes anunciantes são as corporações empresariais que atuam no
mercado financeiro, varejista, automobilístico ou telefônico, bem como as
poderosas empresas estatais. A top list dos investidores publicitários é composta
1Professor Emérito da Universidade de São Paulo, ocupando hoje o cargo de Diretor-Titular da Cátedra UN-
ESCO de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo. Fundador e atual Presidente do Comselho
Curador da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM

16
por 15 empresas que aplicam verba unitária superior a US$ 200 milhões/ano.
A distribuição do bolo publicitário é feita de modo paradoxal segundo
os diferentes meios existentes no território brasileiro. Enquanto a indústria
audiovisual (televisão, radio) concentra dois terços dos recursos, a mídia impressa
(jornal, revista) absorve um quinto, restando quantia inexpressiva para os veículos
emergentes (internet, outdoor) e migalhas para os bolsões marginais (folkmídia).

Polarização
O desafio da interação entre os dois sub-sistemas confere singularidade à geografia
comunicacional brasileira. A natureza continental e a topografia acidentada
do espaço brasileiro inibiram durante vários séculos a interiorização dos fluxos
comunicacionais. Foi inevitável a constituição de culturas regionais, unificadas
pelo mesmo código lingüístico, mas diferenciadas pelos usos e costumes locais.
O maior contingente da nossa sociedade era constituído por escravos negros,
miseráveis e analfabetos. Sua libertação somente ocorreu no final do século XIX.
Abandonados à própria sorte, os remanescentes da escravidão agravaram o êxodo
rural, engrossando as comunidades marginais que deram origem às favelas hoje
espalhadas pelos cinturões metropolitanos. Nesses guetos, eles se comunicam de
forma rudimentar. Valendo-se de expressões folkcomunicaconais, enraizadas nas
tradições étnicas, vão se adaptando às cidades. E defrontam-se empaticamente
com as expressões culturais geradas pelos fluxos massivos (cinema, disco, radio,
televisão).
Esses dois Brasis confrontam-se e interagem continuamente. As
manifestações folkcomunicacionais decodificam e reinterpretam as expressões
da indústria cultural e esta procura retroalimentar-se nas fontes inesgotáveis da
cultura popular. O fosso entre as duas correntes reduziu-se muito lentamente,
durante o século XX, traduzindo a vacilação das nossas elites no sentido de
eliminar as desigualdades sociais. A integração ou ao menos o diálogo entre esses
dois sistemas constitui o maior desafio das vanguardas nacionais.

Raízes históricas
Quando, a partir do século XVI, o território brasileiro começou a ser disputado
pelos colonizadores europeus (portugueses, franceses e holandeses), o instrumento
de comunicação vigente em todo o litoral era o tupi-guarani. Essa “língua franca”
predominou até o século XVIII, tendo sido codificada, para fins pedagógicos,
pelos missionários jesuítas.
Durante o ciclo do ouro, os governantes portugueses interiorizam o

17
povoamento, intensificando o fluxo populacional, através da importação de mão-
de-obra. Colonos brancos procedentes da Península Ibérica ou recrutados nas
colônias asiáticas, bem como escravos negros oriundos da África se misturam com
os mestiços resultantes do caldeamento entre lusos e nativos.
Para neutralizar os ruídos causados pelo confronto lingüístico entre os
nativos aculturados e os novos adventícios, os colonizadores lusitanos determinam
tardiamente a obrigatoriedade da língua portuguesa nas relações sociais.
Esse processo desencadeia tensões, acarretando a transformação do idioma
do império, que incorpora palavras ou expressões dos dialetos africanos ou das
línguas americanas. O resultado é a constituição de um código de comunicação
oral, empregado pelos contingentes subalternos, que se distancia do código
escrito, preservado pelas elites.
Assim sendo, o processo de comunicação das classes trabalhadoras preservou
laços estreitos com a oralidade, cultivada no interior da Colônia, enquanto as
classes ociosas permaneceram sintonizadas com o beletrismo típico da Corte
Imperial. Encontra-se nessa dissonância retórica a raiz da bipolarização dos
fluxos comunicacionais, configurando o sistema midiático vigente no Brasil
contemporâneo.

Arquipélago cultural
O diagnóstico exibe maior complexidade quando constatamos que o espaço
geográfico brasileiro, por sua natureza continental e sua geografia descontínua
e acidentada, inibiu durante vários séculos a interiorização dos fluxos
comunicacionais. Estes privilegiavam a via marítima, principalmente em direção
à Corte Portuguesa, mantendo incomunicadas as comunidades nacionais. Foi
inevitável a germinação de padrões culturais diferenciados, de região para região,
amalgamados tão somente pelo código lingüístico imposto pelo colonizador, mas
diferenciados pelos usos e costumes locais.
Esse “arquipélago cultural” permaneceu praticamente imutável até o século
XX, quando foram otimizadas as comunicações por via fluvial ou construídas as
rodovias e as ferrovias e desenvolvidas as aerovias, removendo as barreiras que
obstaculizavam a circulação de mercadorias ou de bens simbólicos.
Por outro lado, é indispensável mencionar o obscurantismo cultural
praticado pela Coroa Portuguesa durante todo o período colonial. Foi preservada
até as vésperas da independência nacional, no início do século XIX, a ausência de
escolas, universidade, imprensa, bibliotecas, correio e outros aparatos culturais, .

18
Políticas públicas
Durante dois séculos, o comportamento do Estado Brasileiro manteve-se opaco
em relação às políticas públicas de comunicação. Não obstante existissem
diretrizes para regular o sistema nacional de comunicação massiva, primeiro a
imprensa e depois a mídia eletrônica, elas nunca foram articuladas num corpo
doutrinário autônomo. Na verdade, estavam embutidas (ou escondidas) na
legislação ordinária.
Em termos constitucionais, a única política transparente durante o Império
ou a República foi a do controle da informação. A tendência dominante pautou-
se muito mais pelo espírito repressivo do que pelo incentivo à comunicação
democrática.
Longos períodos autoritários marcaram a nossa organização política,
deixando marcas profundas no ethos brasileiro. De tal forma que a nossa postura
diplomática foi de hesitação, dubiedade ou dissimulação, justamente quando a
comunicação se impôs como tema relevante da agenda internacional, na segunda
metade do século XX.
O Brasil oscilou entre a simpatia pela retórica libertária dos países do Terceiro
Mundo e a adesão ao rolo compressor capitaneado pela potência hegemônica,
cuja estratégia era simplesmente desqualificar as decisões terceiromundistas
chanceladas pela UNESCO.
A Constituição Cidadã de 1988 representa o fim dessa tradição de tapar
o sol com a peneira. Pela primeira vez, os nossos legisladores enfrentam com
determinação os desafios da sociedade midiática, dedicando-lhe um capítulo
exclusivo da nossa carta magna.
Sob o titulo genérico “Da Comunicação Social”, os artigos 220-224
assimilam em grande parte as aspirações democráticas da nossa sociedade civil.
Mas passados 20 anos, somos obrigados a constatar que poucos avanços
foram contabilizados. Se logramos garantias constitucionais para comunicar
democraticamente, faltam-nos ainda instrumentos legais capazes de implementar
os princípios que as fundamentam.
Temos evidentemente uma grande conquista que merece reconhecimento.
Trata-se do respeito à liberdade de expressão pública. Nunca vivemos, em toda
a nossa trajetória republicana, conjuntura mais rica em termos de liberdade de
imprensa.

Tradição do impasse
Neste momento em que o País demonstra pujança democrática e altivez
19
cultural, torna-se inadiável a formulação de políticas públicas de comunicação
consentâneas com as demandas do Século XXI.
Temos a expectativa de pavimentar a nossa passagem para a Sociedade do
Conhecimento, extirpando a exclusão comunicacional a que estão condenados
vastos contingentes da nossa população que passaram pela escola, mas não se
converteram em leitores de jornais, revistas ou livros.
Sedentos de leitura e famintos de cultura, esses bolsões marginais da
sociedade de consumo protagonizam papéis de segunda ou terceira classe, sem
exercer plenamente a cidadania.
O advento da sociedade digital recoloca na ordem do dia aquela observação
perspicaz feita, no apagar das luzes do século XIX, pelo intelectual paraense José
Veríssimo: o Brasil cultiva a “tradição do impasse”. A nação tem consciência
dos seus problemas fundamentais, vislumbrando os caminhos para solucioná-los,
porém as elites que controlam o poder hesitam em dar-lhes tratamento adequado,
optando por medidas paliativas que agravam a situação.
Nada melhor que o resgate dessa metáfora para entender o que ocorre na
complexa estrutura comunicacional brasileira, onde dois sistemas coexistem
paradoxalmente, neste início do século XI, interagindo no plano das trocas
simbólicas, sem integrar-se na esfera das providências estratégicas.
Esses dois Brasis se confrontam, interagem, complementam. As
manifestações folkcomunicanais do Brasil tradicional recodificam e reinterpretam
as expressões massivas do Brasil moderno. O fosso entre os dois fluxos se foi
reduzindo lentamente, no correr do século XX, traduzindo a pouca apetência
das elites brasileiras no sentido de eliminar as desigualdades sociais. A chegada
dos imigrantes estrangeiros no início do século passado acelerou, por exemplo,
a expansão da imprensa, cuja leitura era demandada pelas comunidades letradas
oriundas da Europa.
Mais recentemente, o incremento das oportunidades educacionais para
os trabalhadores urbanos acarretou o crescimento das tiragens dos jornais e das
revistas. A elevação do nível cultural das classes médias influiu na melhoria dos
conteúdos da televisão, como foi o caso das telenovelas.
Mas enquanto perdurar o impasse institucional, sem alterar-se o quadro da
exclusão social e da indigência educacional, os dois sistemas comunicacionaios
permanecerão ativos, correspondendo às demandas culturais de audiências
estanques ou segregadas

20
Fontes recentes para guiar novos itinerários

Brasil – Sociedade
Becker, Bertha & Egler, Cláudio
1993 – Brasil, uma nova potência regional, São Paulo, - Bertrand

Benjamin, Roberto
2003 – A África está em nós, 2 vols., Recife, Grafset

Bosi, Alfredo
2002 – Cultura Brasileira, temas e situações, São Paulo, Ática

Câmara Cascudo, Luis da


2004 – Civilização e Cultura, São Paulo, Global

Conniff, Michael & McCann, Frank


1991 – Modern Brazil, Univ. of Nebraska Press,

Fausto, Boris
1995 – História do Brasil, São Paulo, EDUSP

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Brasil – Comunicação
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2002 – A Hollywood Brasileira – Panorama da Telenovela no Brasil, Rio,
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Communication for Social Change Anthology, South Orange
2006 – Comunicação no Brasil, Anuário Unesco/Metodista de Comunicação
Regional, n. 10, São Bernardo do Campo, Editora Metodista

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São Paulo – Mercado Brasileiro de Televisão, EDUC

Castelo Branco, Renato e outros


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Costa, Helouise & Silva, Renato Rodrigues da


2004 – A fotografia moderna no Brasil, São Paulo, Cosac Naif
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Fausto Neto, Antonio e outros
1994 – Brasil, Comunicação, Cultura e Política, Rio de Janeiro, Diadorim
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2006 – Mídia Dados 2006. São Paulo,. www.gm.org.br

Hallewell, Lawrence
2005 – O livro no Brasil, São Paulo, EDUSP

Hohlfeldt & Gobbi


2004 – Teoria da Comunicação – Antologia de Pesquisadores Brasileiros, Porto
Alegre, Sulina

Lopes, Maria Immacolata Vassalo e outros


2005 – Brazilian Communication Research, São Paulo, INTERCOM

Marques de Melo, José


1993 – Communication for a NewWorld, Brazilian Perspectives, São Paulo,
ECA-USP,
2006 – Pedagogia da Comunicação: matrizes brasileiras, São Paulo, Angellara

Marques de Melo & Queiroz


1998 – Identidade da Imprensa Brasileira no Final do Século, São Bernardo
do Campo, Editora Metodista

Marques de Melo, Gobbi & Santos


2001 – Contribuições Brasileiras ao Pensamento Comunicacional Latino-
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Mattos, Sergio
2002 – História da Televisão no Brasil, Petrópolis, Vozes
2005 – Mídia Censurada – A História da Censura no Brasil e no Mundo,
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Moreira, Sonia Virginia


1991 – O Rádio no Brasil, Rio de Janeiro, Rio Fundo Editora

23
Moreira & Bianco
2001 – Desafios do Rádio no Século XXI, Rio de Janeiro, Editora UERJ

Moreno, Antonio
1994 – Cinema Brasileiro, Niterói, EDUFF

Pinho, J.B.
2000 – Publicidade na internet, São Paulo, Summus
2002 – Relações Públicas na internet, São Paulo, Summus
2003 – Jornalismo na internet, São Paulo, Summus

Sá, Adisia
1999 – O Jornalista Brasileiro, Fortaleza, Fundação Demócrito Rocha

Werneck, Humberto
2000 – A Revista no Brasil, São Paulo, Editora Abril

24
COMUNICAÇÃO DIGITAL - DIÁLOGOS POSSÍVEIS PARA A INCLUSÃO SOCIAL1

Cosette Castro2

Introdução
Este artigo forma parte das reflexões apresentadas durante o XIV Colóquio
Internacional da Escola do Pensamento Latino-Americano em Comunicação
(CELACOM) realizado em 2010. Nele, procuramos estabelecer as conexões
necessárias para pensar (desde os estudos de Comunicação) o mundo de forma
transdisciplinar e complexa (no sentido dado por Edgar Morin), onde a produção
de conhecimento e a circulação das informações não estão mais restritas aos espaços
formais e oficiais, como a escola, o Estado ou os meios de comunicação. Elas se
multiplicam na vida cotidiana através das redes sociais, sendo distribuídas através
de diferentes plataformas tecnológicas e repercutem nas pesquisas realizadas
no meio acadêmico e no mundo do trabalho. Desde o ponto de vista dos países
periféricos, como a América Latina e Caribe, nos interessa estudar as plataformas
tecnológicas3 abertas e gratuitas, como a televisão digital terrestre4, a televisão
digital acessada gratuitamente através dos celulares, assim como a convergência
de mídias, como espaço de inclusão social e digital.
A presente reflexão sobre o uso de plataformas gratuitas para populações
de baixa renda está diretamente relacionada às mudanças que vêm ocorrendo
nas sociedades ocidentais e seus paradoxos. Elas envolvem as transformações
econômicas, sociais, culturais, comportamentais e educativas pelas quais estamos
1. Este artigo foi escrito a partir do texto New Formats to Digital Television – use of interactivity and inter-
operability, escrito em parceria com André Barbosa Filho e das reflexões apresentadas no XIV Colóquio da
Escola Latino-Americana de Comunicação (Celacom), em maio de 2010.
2 Doutora em Comunicação pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), Espanha. Atualmente realiza
estudos de pós-doutorado na Cátedra da Unesco em Comunicação para o Desenvolvimento /UMESP. É profes-
sora do PPGCOM da Universidade Católica de Brasília (UCB), professora associada do PPGTVD da UNESP
e do PPGCOM da UnB. Prêmio Luis Beltrão/Intercom de Pesquisa Inovadora-2008. Autora de três livros:
Mídias Digitais, com André Barbosa Filho e Takashi Tome, Ed. Paulinas (2005); Por Que os Reality Shows
Conquistam as Audiências?, Ed. Paulus (2006) e Comunicação Digital, Ed. Paulinas, (2008). Coordena o GP
de Conteúdos Digitais e Convergência Tecnológica da INTERCOM.
3 Existem plataformas tangíveis e plataformas intangíveis. As plataformas tangíveis são os equipamentos onde
se concretiza um conteúdo digital. Exemplos de plataformas são tangíveis: a TV digital, rádio e cinema digital,
videogames em rede, celulares ou computadores mediados por internet. A plataforma intangível – que é o
caso da internet, onde circulam e se multiplicam os conteúdos digitais sem os limites da matéria e da noção de
linearidade.
4 Não estudamos a TV digital por assinatura por se tratar de um modelo pago de televisão, o que restringe o
número de pessoas que vêem TV por essa modalidade. Nos países latino-americanos e caribenhos questões
geográficas e a falta de conteúdos nacionais possibilitaram que as televisões por assinatura se desenvolvesse em
países como Argentina (problemas geográficos) ou Equador (falta de conteúdos nacionais), para citar dois exem-
plos. Tampouco o uso de IPTV é uma alternativa – desde o ponto de vista da inclusão social – para os países da
Região por pelo menos três motivos: se trata de um modelo pago; não é broadcast e o índice de computadores
com internet ainda é muito baixo na região.

25
passando desde o final do século XX. No campo econômico, a globalização da
economia foi ampliada a partir do acesso e uso das Tecnologias da Informação
e da Comunicação (TICs). Um exemplo desses paradoxos é, de um lado, a
crescente concentração de empresas5 e, de outro lado, a ampliação do mercado
dos países emergentes6, que oferecem novas possibilidades de negócios para a o
uso da televisão digital terrestre aberta. Esse é o caso do modelo de televisão nipo-
brasileiro utilizado em oito países da Região – Argentina, Brasil, Chile, Costa
Rica, Paraguai, Peru, Equador e Venezuela - cujos middlewares e softwares são
disponibilizados em código aberto.
Quadro 1 – Mapa de América Latina e Caribe

As mudanças sociais também apresentam paradoxos. De um lado, há uma


crescente inclusão social em países como Argentina, Brasil, Colômbia e Chile
convivendo lado a lado com índices preocupantes de exclusão digital nesses países
ou mesmo em Estados vizinhos, como Bolívia, Paraguai, Nicarágua ou Honduras.
5 Em todos os setores, inclusive entre empresas de comunicação e entretenimento. Sobre o tema ver os estudos
realizados pelos teóricos da Economia Política da Comunicação.
6 Países do BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China - são um bom exemplo das novas relações que se estabelecem
entre os países centrais e periféricos.

26
As transformações digitais incluem também os comportamentos e os afetos, com
novas sociabilidades virtuais, com a ampliação de um lado das redes sociais e as
possibilidades de interatividade e participação. O lado negativo é a visibilidade
ampliada de perversidades, como a pedofilia e o narcotráfico.
No mundo trabalho, conviemos com tecnologias que nos permitem estar
virtualmente em vários locais ao mesmo tempo, mas por outro lado, países e
empresas ampliaram a flexibilização e fragilidade dos contratos de trabalhos.
Além disso, o uso das plataformas tecnológicas como novas mídias digitais7 – deu
espaço para o surgimento de novas funções, sem que tenham ido alteradas as
legislações aprovadas em tempos analógicos, que não subsidiam ou defendem os
cidadãos no mundo digital. Junto a isso, convivemos com as mudanças na área
da educação, agora pensadas para toda a vida. A educação é apresentada de forma
presencial, semi-presencial ou a distância, enquanto a mentalidade da maior parte
dos professores e pesquisadores da América Latina e Caribe ainda se encontra
profundamente enraizada no mundo analógico, com dificuldade de aceitar as
mudanças digitais interativas que estão acontecendo.
Levando em conta que estamos frente a um mundo complexo (nos termos
de Morin) e que apenas uma teoria não da conta de explicar as transformações
que estamos passando necessitamos de vários olhares8 para tentar compreender
as possibilidades interativas e de convergência9 de mídias que as plataformas
tecnológicas apresentam. No campo da cultura, vale a pena observar as
contribuições de Clifford Geertz10 e Ulf Hannerz11 , onde cultura é vista como
uma rede de significados interconectada por cada indivíduo e pelo coletivo que se
movimenta por fluxos. Ou seja, a cultura é observada como um elemento que não
é estático ou eterno, mas que precisa ser constantemente vivida e é modificada
pelas pessoas.
Arjun Appadurai12 aponta a relação entre globalização e cultura. Para ele, a
globalização não está promovendo uma homogeneização cultural, mas envolve o
uso de uma variedade de instrumentos que são absorvidos na economia e culturas
locais sem serem repatriados, pois são resignificados no âmbito local. Featherstone
destaca que a mundialização da cultura não se resume à generalização, porque ela
também é capaz de diversificar. Para o autor, é possível pensar em cultura global
7 Celulares, computadores com internet e mesmo os videojogos em rede, além da televisão, do rádio e do
cinema digital.
8 Como pode ser observado a seguir os pesquisadores citados também representam a mundialização da cultura
em seu aspecto mais positivo: a circulação de conceitos, culturas e informações que somam a possibilitam o
diálogo entre os pesquisadores de diferentes lugares, línguas e origens.
9 Possibilidade de desenvolver produtos, formatos, programas e conteúdos digitais para diferentes plataformas
tecnológicas ao mesmo tempo, mas respeitando as características de cada plataforma
10 Antropólogo estadunidense já falecido, cuja obra é reconhecida mundialmente.
11 Professor de Antropologia da Universidade de Oslo, Noruega.
12 Professor inglês de origem indiana.

27
tomando-se os processos de integração e desintegração cultural transsociais em
que se baseiam os “fluxos de mercadorias, pessoas, informações, conhecimento
e imagens que dão origem aos processos de comunicação e adquirem certa
autonomia em nível global”. O sociólogo brasileiro Renato Ortiz destacou no
final do século XX que a formação de uma cultura mundializada não implica
o aniquilamento de outras manifestações culturais. O autor fala da criação da
cultura glocal – termo japonês que surgiu nos anos 90 do século XX na área de
negócios – para tratar da mistura entre a cultura local e a global; aonde a cultura
local se apropria e dá novos sentidos a cultura global.
Hannerz (1997) acredita que hoje existe uma cultura global, mas trata-se
de uma cultura que está assinalada por um organismo de diversidade e não por
um repetição de uniformidade. São as culturas locais e suas relações, trocas e
contatos cada vez mais acentuados que ajudam a formar a cultura global. Para
o autor sueco, devemos pensar o mundo como globalizado , onde os sujeitos e
objetos encontram-se em constante fluxos, onde são constantemente elaborados
novos significados e estabelecidas constituições culturais híbridas13 à medida que
as fronteiras tornam-se cada vez mais permeáveis.
É bem verdade que existem discursos no campo da política, da economia e
mesmo da tecnologia que tentam homogeneizar as culturas através dos discursos
que seus representantes oferecem, pelos meios analógicos e também através das
diferentes plataformas tecnológicas, entre elas a televisão e os computadores
mediados por internet. Mas isso não significa que esses discursos convençam as
pessoas, tornando-se necessariamente hegemônicos. Tampouco significa que as
pessoas passam a esquecer da sua própria cultura; o que ocorrem são os processos
de mestiçagem de que nos fala desde os anos 80 do século XX o pesquisador
espanhol que adotou a Colômbia, Jesus Martín-Barbero.
É cada vez mais difícil é falar em culturas puras, pois elas são atravessadas
por outras culturas, pelas correntes migratórias, pelo fim das fronteiras, pelos
fluxos intensos e contínuos de informação e imagens que nos chegam através das
mídias, assim como pelo intercambio de conhecimento e idéias que transitam
na esfera pública e privada diariamente. São essas mestiçagens que vão caracterizar
os novos formatos, conteúdos14 e programas pensados para a televisão digital
interativa (TVDi) e para a convergência de mídias.
Como bem recordou o pesquisador Otavio Ianni (2002), independente da
perspectiva teórica, das opções ideológicas ou do fato que examinam aspectos,
problemas e situações, compreendendo o “local”, o “provincial”, o “tribal”, o
“regional” ou o “nacional”, todos contribuem para instituir a “sociedade global”
13 Sobre as culturas híbridas, vale a pena conhecer a obra do pesquisador argentino que vive no México, Néstor
García Canclini.
14 Conteúdos digitais – todo o áudio, a imagem, o texto ou dados oferecidos às audiências pelas diferentes
plataformas tecnológicas.

28
como novo emblema das ciências sociais, compreendendo-se a sociedade global
em suas implicações políticas, econômicas, culturais, demográficas, lingüísticas,
religiosas, étnicas, de gênero e outras esferas da realidade. Tanto os conceitos
como as categorias de pensamento são desafiados a olhar o mundo de forma mais
ampla e complexa, apoiados nas Tecnologias da Informação e da Comunicação
(TICs) e atravessados por elas e pelas conseqüências de sua utilização e impacto
na vida social.

Antes da Interatividade, a Criatividade


Uma das características mais marcantes dos seres humanos é a habilidade
criativa, onde é possível aprender e antever conseqüências de atos imaginados.
Isto nos permite fazer “modelos” de mundo. Conseguimos “rodar” um programa
simulador em nossa mente e imaginar histórias, estéticas, misturar culturas, assim
como desenvolver conteúdos e formatos (analógicos ou digitais). Criar, nesse
sentido, é ter habilidade de simular – simular situações e imaginar mundos15.
Há 50 anos, a criatividade estava restrita ao mundo da arte e da comunicação,
mas só gerava dinheiro na indústria do cinema16 dominada até então pelos Estados
Unidos. A chegada das tecnologias de informação e comunicação muda esse
panorama, (re) valorizando a criatividade, a inovação tecnológica, a prestação de
serviços e abrindo novos mercados, como é o caso do cinema indiano e do cinema
de animação produzido pelos chineses. Ou seja, enquanto a sociedade industrial
valorizava o trabalho manual, a sociedade da informação e do conhecimento
valoriza as habilidades mentais, a criatividade, a inovação e os serviços. No campo
da comunicação, esses serviços podem ser oferecidos a partir de conteúdos para
televisão, rádio e cinema digital, celulares, videojogos em rede e computadores
mediados por internet, assim como para a convergência de mídias17.
Pensando nisso, em 1998 o ex-primeiro ministro britânico Tony Blair
investiu nas indústrias criativas e na inovação tecnológica – lançadas pouco depois
para os demais países da União Européia18, como fatores de desenvolvimento da
Grã-Bretanha e demais países da Região para o século XXI. Só que o modelo
15 Não existe apenas uma definição de criatividade e ela pode ser abordada desde diferentes aspectos, como o
ponto de vista cognitivo, neuro-científico, computacional ou humano.
16 Já que a indústria televisiva, mesmo gerando importantes recursos, nunca alcançou o status de produto “artís-
tico” no mesmo nível alcançado pela sétima arte. Além disso, durante muitos anos os conteúdos e programas
televisivos sofreram com a discriminação de pesquisadores e intelectuais das Ciências Sociais, da Filosofia, da
Economia Política, da Educação e mesmo da Comunicação em diferentes países que os consideravam produtos
de segunda categoria. Essa desvalorização da televisão e do gosto popular ainda encontra importantes redutos no
mundo acadêmico. Acreditamos que mais do que censurar ou criticar, é necessário ampliar a oferta de conteúdos
televisivos diversificados.
17 Uma mídia, segundo Eliseo Verón (2001), é a articulação de uma plataforma, de um suporte, mais uma
prática social.
18 Sobre o tema, ver o Plano Dott, de 2000.

29
europeu de indústrias criativas – onde as empresas de radiodifusão trabalham
em conjunto com as empresas de telefonia móvel e a maior parte dos serviços
são pagos – é diferente do modelo latino-americano e caribenho, onde a oferta é
gratuita.
Mesmo o exemplar serviço público da BBC com seus vários canais de
televisão é diferente da oferta de televisão pública dos países latino-americanos e
caribenhos. A diferença vai além da qualidade ou quantidade dos conteúdos – que
não será debatida neste texto - mas na própria noção de público, pois nos países
da Região a televisão pública sinônimo de televisão gratuita. As pessoas não
pagam (e em sua maioria nem teriam orçamento para isso) para assistir televisão
aberta. Ou seja, qualquer projeto de conteúdos digitais interativos para televisão
aberta e para o uso da TVD através de celulares deve contemplar a inclusão social
e digital. Além disso, existe uma diferença importante quanto ao tratamento
da propriedade intelectual, fortemente defendida nos países centrais. Como se
fosse pouco, as indústrias criativas pensadas pelos britânicos, vão muito além da
Comunicação e do Design: incluem artesanato e museus, entre outros temas.
Não é por acaso que defendemos a emergente indústria de conteúdos
digitais interativos na Região, com ênfase na televisão digital interativa terrestre e
na convergência de mídias, ressaltando a necessidade de que seja disponibilizada
de forma gratuita para a população. A indústria de conteúdos pensada a partir do
modelo de televisão japonês-brasileiro19 já foi adotado em oito países da Região
(além de Filipinas, e recentemente Moçambique, Angola e Botswana), tem como
características:
1. Vem sendo desenvolvida através de plataformas gratuitas;
2. Tem como meta a inclusão social e digital, assim como o desenvolvimento
sustentável;
3. Oferece middlewares e softwares em código aberto para ampliar a
circulação de informações e de conhecimento;
4. No caso da televisão, recebe incentivo estatal para o desenvolvimento de
conteúdos para televisão digital (TVD) aberta e gratuita, assim como para
conteúdos voltados para a convergência de mídias;
5. Muitos conteúdos são desenvolvidos de forma compartilhada e coletiva,
ampliado o conhecimento sobre novos formatos interativos e gratuitos;
6. As redes sociais têm participação importante na formação de novos atores
sociais que também produzam conteúdos.
19 Além dos países citados, Uruguai e Colômbia adotaram o modelo europeu e o México e República Domini-
cana adotaram o padrão ATSC, consórcio formado por EUA, Canadá e Coréia. Existem outros dois modelos
usados na Região: Colômbia e Uruguai adotaram o consórcio europeu, mas ainda não começaram as transmis-
sões digitais, e o México utiliza o consorcio ATSC, sem interatividade.

30
Antes da Interatividade, a Criatividade
A passagem da televisão analógica aberta para o modelo digital marca o surgimento
de uma televisão híbrida20, diferente do que já se viu até então. Essa diferença
- representada pela digitalização, pela não linearidade, pela possibilidade de usar
recursos interativos e pela gratuidade - é o que define o valor agregado da nova
televisão em relação aos demais modelos. Em seus primeiros anos, é possível
afirmar que a televisão digital é uma mistura da televisão analógica, de cinema e de
computadores com recursos de internet e tende a seguir assim - meio computador
na televisão e meio TV analógica - até encontrar sua própria identidade. Algo
similar ao que ocorreu quando as primeiras televisões analógicas chegaram ao
mercado21: eram caras, as pessoas desconfiavam da qualidade de seus programas
e a linguagem era uma mistura da estética radiofônica com a cinematográfica.
Demorou um bom tempo – pelo menos 20 anos - até as empresas de televisão,
públicas e privadas, encontrarem uma linguagem e estéticas própria.
No caso do computador mediado por internet, Murray (2007:236) recorda
que “a capacidade de armazenamento e organização complexa do computador
pode ser usada como apoio para um universo narrativo bastante denso e exigente”.
Desse modo, a integração da televisão com o computador – utilizando os recursos
do computador na TV que a maioria da população possui em casa com ajuda de
uma caixa de retorno (set top box) - possibilita que nos desloquemos pelo mundo
narrativo, mudando de uma perspectiva para outra por nossa própria iniciativa.
Considerado o maior país da América Latina, o Brasil é um bom
exemplo do uso da televisão analógica. O país possui o quarto maior canal de
televisão do mundo ( Rede Globo), um parque televisivo analógico com 80
milhões de aparelhos e outros 15 milhões digitais22 e seus conteúdos ficcionais,
particularmente as telenovelas, são exportadas para diferentes países. No Brasil
a televisão analógica chegou em 1950 e demorou pelo menos 10 anos para ser
oferecida a preços populares. Além disso, demorou pelo menos 20 anos para
apresentar o padrão de qualidade que a diferencia tanto na oferta de produtos
ficcionais quanto de realidade. A exemplo do que acontece no Brasil, que vive
em uma sociedade audiovisual, a televisão analógica na América Latina e Caribe
representa muitas vezes a única fonte de informação para seus habitantes e isso
deverá se repetir com a chegada da TV digital terrestre, com a diferença que a
utilização de recursos interativos gratuitos pode colaborar para a inclusão social.

20 O pesquisador Carlos Scolari, argentino que trabalha na Espanha, criou o conceito de hipertelevisão para
tratar das mudanças que a TV está passando, mas sua perspectiva é – pelo menos até o momento - a do modelo
europeu; não a proposta aberta, gratuita e oferecida em software livre do projeto nipo-brasileiro.
21 No caso latino-americano e caribenho, a TV chega nos anos 50 do século XX. Em 2010, a televisão
comemora 60 anos de existência na Região.
22 Atualmente a população brasileira é de 172 milhões de habitantes. Isso significa que 98% dos lares urbanos
e 96% dos lares rurais possuem pelo menos um aparelho de TV.

31
A televisão digital se apropria de algumas características do modelo
analógico, como as rotinas de captação, produção e edição e também copia
as linguagens, narrativas e estéticas utilizadas na TV analógica. Por outro lado,
se apropria do uso da 3ª. dimensão desenvolvida no cinema e da interatividade
usada nos computadores, através da oferta de recursos interativos via controle
remoto onde as audiências podem participar desde casa ou na rua dos programas,
formatos e conteúdos digitais ofertados pelos canais digitais abertos. Como se
fosse pouco, as audiências que utilizam o middleware Ginga e possuem canal de
retorno ainda podem acessar o correio eletrônico ou internet enquanto assistem a
programação desde o controle remoto.
Muitos pesquisadores, principalmente aqueles que residem nos países
centrais, não acreditam no desenvolvimento da TV digital broadcasting e
apostam na TV digital usada através dos computadores (IPTV). Embora o uso
dos computadores seja amplo nos países europeus, assim como nos Estados
Unidos e Canadá, um informe da União Internacional das Telecomunicações
publicado em maio de 2010, aponta que apenas 26% da população mundial tem
acesso a internet e antes de 2015 não há possibilidade desse número alcançar
50%. Ou seja, até o processo ser universalizado, é preciso buscar alternativas
mais baratas para a inclusão social e uma delas passa pela tecnologia desenvolvida
pelo Brasil para uso de recursos interativos a partir de TV digital terrestre com
caixa de retorno, assim como o uso de celulares com oferta de conteúdos digitais
e serviços gratuitos à população.
Se os dados da UIT não fossem suficientes, bastaria apontar as diferenças
fundamentais entre a TV broadcasting e o uso da TV no computador. A televisão
digital broadcasting é gratuita, a qualidade das imagens é excelente e os conteúdos
de áudio, vídeo, texto e dados circulam com facilidade. Diferente do computador,
que é pensado para o uso individual, a assistência da televisão é coletiva e
socializada. Além disso, existe uma diferença importante entre as distâncias dos
conteúdos que serão assistidos em um computador de mesa e na sala de televisão.
Tecnologicamente, as aplicações para televisão são baseadas em vídeo enquanto
as aplicações dos computadores são baseados em texto, o que torna mais difícil
desenvolver conteúdos de televisão no computador. Isso sem contar na facilidade
da TV de estar simultaneamente na cada de milhões de pessoas ao mesmo tempo,
sem risco de sobrecarga de rede.
No caso da televisão, existem ainda vários dispositivos de exibição de forma
gratuita. Os programas e formatos digitais podem ser assistidos através de um
aparelho de TV fixo, em geral com tela grande, disponível em (um ou mais
ambientes de uma casa) e locais públicos, ou a partir de plataformas móveis. Essas
plataformas estão disponíveis através de televisores digitais pequenos (portáteis) e
dos celulares com tecnologia para assistir televisão digital aberta e gratuita.

32
A TV, o cinema e o rádio digital, os celulares, os videojogos em rede, os
computadores mediados por internet ou a convergência entre as mídias são
novas mídias que exigem novos conteúdos e formatos de programação. No caso
específico da televisão, são necessários novos tipos de roteiros (storyboards)23
voltados para diferentes níveis interativos para os programas de ficção e realidade
que podem ser assistidas nos subcanais digitais das empresas de televisão digital
com multiprogramação.
No padrão japonês-brasileiro de TVD, a multiprogramação em alta
definição permite a existência de quatro subcanais digitais. Com isso, uma
empresa de comunicação que tem a concessão de um canal analógico passa a
ter direito a quadro subcanais digitais, como é o caso das empresas de televisão
privadas cujos países já adotaram o modelo digital. As empresas que se definiram
pelo uso da programação em definição standard24 podem usar até oito canais, com
é o caso da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)25, instituição pública federal
concessionária da TV Brasil, passará a utilizar em 2011 e terá de desenvolver
conteúdos e serviços digitais para alimentar o interesse das audiências desses
oito26 canais durante 24 horas. Isso significa um aumento importante no mercado
de produção de conteúdos e serviços televisivos, já que a EBC informou que não
pretende ser desenvolvedora de conteúdos digitais interativos. O mesmo se repete
em países como a Argentina, que pretende desenvolver canal com conteúdo
infantil, para além dos jornalísticos e de ficção.
A TV digital interativa requer uma nova noção de grade de horários, pois a
interatividade permite a ampliação do horário original de um conteúdo digital.
Isto é, se um documentário for desenvolvido com três níveis de interatividade,
as audiências que tiverem canal de retorno na TVD aberta poderão, a partir
do controle remoto, acessar esses três níveis interativos, que podem ser, por
exemplo: acessar a obra do diretor do documentário, acessar a trilha sonora e ter
acesso a outras informações sobre o tema, com sugestões de filmes e livros. Além
disso, as audiências poderão enviar sua opinião sobre o documentário ou sugerir
outras pautas para a produção do programa.
Como dissemos, a grade de programação precisa ser flexibilizada, pois muda
a duração de um programa com vários níveis de interatividade, assim como
modifica as possibilidades de oferta publicitária que no mundo analógico eram
23 Com três colunas: espaço para o vídeo, o áudio e o texto. Também poderá ser oferecido em quatro colunas:
dividido em espaço para o vídeo, áudio, texto e níveis interativos.
24 O uso de maior número de canais corresponde a redução da qualidade de imagem da TV digital e também
a redução do uso das possibilidades interativas com as audiências.
25 A EBC foi criada em final de 2008 e herdou os funcionários, canais e equipamentos da antiga televisão
pública federal conhecida como Radiobrás.
26 Os conteúdos e serviços digitais serão desenvolvidos para dois canais educativos, um canal de notícias 24
horas, um canal da cultura, um canal da TV Brasil com programação diversa, um canal da saúde, um canal da
ciência e tecnologia e um canal da comunidade.

33
exibidas no “momento do comercial”. Mais recentemente, essa oferta publicitária
aparece também dentro da programação e dos diferentes formatos digitais, onde
podem ser comercializadas roupas, bijuterias ou jóias, carros, alimentos ou móveis,
etc., utilizados pelos principais personagens de uma série ou novela ou pelos
famosos. Isso permite que as audiências busquem as ofertas publicitárias mais
próximas a sua residência ou comprem diretamente desde o correio eletrônico
via televisão. Ou seja, abre novos modelos de negócios para os radiodifusores,
sejam eles de canais públicos ou privados. Nesse sentido, temos usado o conceito
de módulos para tratar da TV digital interativa. Esses módulos ganharam nova
dimensão a partir das experiências realizadas no laboratório Telemídia, localizado
na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) sobre o uso dos
recursos de interatividade e de multiprogramação.
Em 2009 um grupo de investigadores em Informática e Comunicação27, sob
a responsabilidade do pesquisador brasileiro Luis Fernando Gomes28 desenvolveu
um projeto para produção de conteúdos digitais com uso de interatividade nos
quatro subcanais de alta definição onde uma empresa de televisão pode oferecer
distintos níveis interativos – em uma escala que vai da interatividade zero até a
interatividade total – de um mesmo conteúdo ou formato digital em cada um
dos quatro canais. De acordo com um dos autores do projeto, Alan Angelucci
(2009), o programa experimental sobre turismo no Rio de Janeiro (Brasil) de
15 minutos caracteriza-se por ter um formato não-linear interativo; explora as
principais características de interatividade e sincronismo intermídia possibilitada
pelo Ginga-NCL; utiliza contextos para estruturar a aplicação e nós de alternativa,
possibilitando que as audiências criem suas próprias linhas narrativas da história.
Nessa visita turística ao Rio de Janeiro as audiências que possuem a TV digital
com o middleware Ginga e por conseqüência canal de retorno, têm varias
possibilidades de escolha:
1. Subcanal 1 - Podem escolher assistir uma história sem interatividade;
2. Subcanal 2 - Podem assistir uma história com apenas um recurso
interativo (exemplo: conhecer a praia de Copacabana);
3. Subcanal 3 - Podem decidir “passear” pela praia de Copacabana e pelo
Jardim Botânico;
4. Subcanal 4 - Podem “passear” por vários locais da cidade, cujos roteiros
foram pré-estabelecidos pelo campo da produção e podem entrar em
27 Entre eles o jovem mestre Alan Angelucci, que traduziu este livro para o inglês.
28 Considerado um dos pais do middleware Ginga, tecnologia brasileira que permite o uso da interatividade, da
interoperabilidade, da portabilidade e da mobilidade na televisão digital. it Esse middleware utiliza a linguagem
declarativa (NCL), mais simples, e a linguagem procedural (Java), mais elaborada, para permitir o uso da
interatividade na televisão, a partir de um canal de retorno, que garante a velocidade das imagens – algo que os
computadores não permitem, e a qualidade dos conteúdos de áudio, vídeo, textos e dados.

34
internet para obter mais informações sobre esses locais turísticos.
Mas a televisão digital permite muito mais opções. Pode ser usada para
acessar mails, ver diferentes ângulos na tela, sugerir pautas, entrevistados, avaliar
programas, usar serviços públicos de saúde, educação a distância (EAD), agendar
consultas médicas, checar processos e imposto de renda, realizar tele-medicina,
ver saldos bancários, etc. Também é possível entrar em páginas web desde o
próprio aparelho de TV usando o controle remoto como teclado (similar ao que
fazemos quando mandamos mensagens de texto - SMS - nos celulares). Outro
recurso que vem sendo desenvolvido no modelo japonês-brasileiro de televisão
digital é a possibilidade de uso de alguns recursos interativos, como respostas
em determinados programas de perguntas, diretamente para o celular sem ônus
para as audiências. A proposta, segundo Luis Fernando Gomes, é permitir uma
assistência coletiva de televisão digital com opção de uso de canal de retorno
individualizado.
Em termos de narrativas existem diferenças fundamentais na passagem da
televisão analógica para a digital, como pode ser observado a seguir:

Quadro 2 – Diferenças entre a televisão analógica e a TVD

35
Em um mundo de hipertelas
Os franceses Gilles Lipovetsky e Jean Serroy (2007) dizem que na era
contemporânea vivemos uma inflação de telas - celulares, TV analógica ou
digital, rádio digital, cinema, telões de festas, videogames, computadores, tablets,
livros digitais, (como o Kindle ou o Ipad) - que tomam contam de nosso olhar
durante o dia e a noite. Observando este mundo do olhar e das visualidades,
é possível desenvolver conteúdos ficcionais ou jornalísticos para TV digital
interativa e usar nos aparelhos de celulares desde que o conteúdo seja pensado para
dispositivos móveis. Isso representa um tamanho similar de tela, a possibilidade
de ser usado em qualquer lugar (em um parque, ônibus, metrô ou escola) e um
nível similar de definição de imagem voltada para esse tipo específico de tela.
Além disso, a temporalidade, ou seja, o tempo de duração do programa precisa
seguir a característica da plataforma tecnológica: no caso de conteúdos específicos
pensados para pequenas telas, os formatos são mais curtos, entre com duração
entre 1 e 3 minutos, levando em consideração que essas pequenas plataformas
podem ser levadas e assistidas em qualquer lugar, através de narrativas breves.
Mas se a proposta de conteúdos é pensada para diferentes meios de
comunicação digitais, com diferentes características, como ser fixo ou móvel, ou
as diversas dimensões de telas (celulares, televisores portáteis ou televisores de 72
polegadas) é preciso levar em consideração que exigem diferentes espacialidades,
temporalidades e mobilidades. Esses aparatos requerem outros tipos de
linguagem, conteúdos e formatos audiovisuais, assim como uma outra relação
com seus públicos e uso de diferenciados níveis de interatividade. Em termos
de interatividade, é preciso levar em consideração que nem todas as pessoas
se interessam em participar da programação; preferem simplesmente apreciar o
programa e o formato selecionado.
No caso da TV digital (TVD), os novos formatos audiovisuais já estão
sendo desenvolvidos pensando as possibilidades interativas do público com a
TVD que, no modelo nipo-brasileiro, é uma vantagem extra gratuita para as
audiências. Pela primeira vez na história, as audiências – e não apenas o restrito
grupo29 que possui computadores com internet em casa - poderá se relacionar
de perto com o campo da produção, isto é, com aqueles que produzem e dirigem
diariamente os diferentes programas de televisão. Além disso, através da televisão
digital terrestre com interatividade têm a oportunidade de usar correio eletrônico,
de usar internet, de produzir conteúdos audiovisuais digitais e disponibilizar
no espaço virtual, algo que até então, estava restrito ao campo da produção.
Através do canal de retorno acoplado interna ou externamente ao aparelho de TV,
é possível utilizar diferentes níveis de interatividade, como já comentamos em
29 No Brasil, segundo dados do Conselho Gestor de internet (CGI) em 2009, apenas 27% da população tinha
acesso a internet com banda larga em casa.

36
artigos anteriores (Barbosa Filho e Castro, 2007, 2008, 2009, Castro e Fernandes,
2009).
Entre os recursos interativos está a possibilidade de avaliar um programa
enquanto está ocorrendo enviando mensagens à produção a partir do controle
remoto; sugerir pautas ou entrevistados; baixar informações extras sobre o
programa e seus participantes, etc. Além disso, é possível utilizar recursos
interativos pensando a multiprogramação, onde cada um dos sub canais de uma
mesma empresa de comunicação poderá apresentar diferentes (ou nenhum) níveis
de interatividade com os públicos30. Também é possível encontrar interações mais
simples, como as informações previamente disponíveis sobre jogadores e a situação
de uma equipe durante uma partida do campeonato brasileiro, que já há alguns
anos é disponibilizada aos assinantes dos canais de televisão por assinatura.

Considerações Finais
Talvez a diferença mais importante da passagem do sistema analógico para o
digital em termos de televisão é que é possível mudar a origem da produção dos
conteúdos audiovisuais, até então restrita a grandes grupos de comunicação, como
Organizações Globo, SBT, Grupo Abril, Record, entre outros, no caso brasileiro.
A produção de conteúdos audiovisuais digitais poderá ser feita por profissionais
de Comunicação, por produtores independentes ou mesmo por profissionais
de diferentes áreas, como Design, Educação ou Informática em conjunto, por
exemplo. Eu acredito que aí resida o caráter revolucionário e profundamente
democrático das mídias digitais, pois as audiências e movimentos sociais têm a
possibilidade de sair da produção de comunicação de caráter alternativo e contra-
hegemônico para oferecer – de maneira mais equilibrada - outros pontos de vista
sobre a realidade e o mundo em tempo real (ou gravado) através de diferentes
plataformas tecnológicas conectadas ao mundo virtual.
É neste sentido que pode se tornar realidade o diálogo entre as diferentes
ciências e a comunicação digital para construir a inclusão social no Brasil e
nos países da Região, estimulando a emergente indústria de conteúdos digitais
interativos. Trata-se de um processo em construção, que exige reflexão, abertura
para novas teorias, formação profissional, capacitação atualização dos currículos
universitários e dos professores, novos modelos de negocio, investimentos, assim
como fomento a estudos transdisciplinares em pesquisa, desenvolvimento e
inovação (P,D&I). Temas que exigem um longo debate, mas já começaram a ser
discutidos dentro do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) e na academia
e também no mercado.

30 Projeto deste tipo vem sendo desenvolvido desde metade de 2009 no laboratório do professor Luis Fernando
Gomes, localizado na PUC/RJ.

37
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39
40
1ª. PARTE

TENDÊNCIAS ECONÔMICAS

41
42
CAPÍTULO 1

A hora e a vez dos países-baleias

Marcio Pochmann 1

Conjunturas prévias
O aparecimento de novos elementos reestruturadores do capitalismo na passagem
do século 20 para o 21 transforma profundamente a evolução do sistema econômico
mundial. As mais recentes alterações na Divisão Internacional do Trabalho geram
oportunidades inéditas às economias periféricas de superação da condição de
subdesenvolvimento, especialmente nos países que comportam grandes escalas de
produção e consumo em ampla dimensão geográfica e populacional, como Brasil,
Índia e China.
Em vez da anterior identificação a respeito da rápida expansão econômica
em países de menor dimensão territorial e populacional, denominados de
tigres asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong), assiste-se à emergência
mundial dos países-baleias. Ainda que apresentem renda por habitante baixa ou
intermediária em posição mundial, os países-baleias rapidamente se reposicionam
no mundo frente à transição acelerada da antiga condição de sociedades agrárias
para crescentemente urbano-industrial. A elevação do nível de emprego urbano
da mão-de-obra e a retirada recente de parcelas significativas da população da
situação de pobreza e miséria indicam a importância da escala do mercado interno
de consumo relacionado ao forte ritmo de crescimento econômico.
Com isso, os países-baleias não somente passam a ocupar maior espaço na
composição do Produto Interno Bruto global e comércio internacional, como
respondem crescentemente pela maior sustentação da dinâmica econômica
mundial. Esse aspecto, em especial, segue tratado em duas partes distintas, porém
articuladas entre si. A primeira destaca a recente ascensão dos países-baleias na
Divisão Internacional do Trabalho, enquanto a segunda parte trata da atualidade
das trajetórias nacionais desiguais em termos da expansão econômica e da
repartição dos seus frutos para o conjunto de sua população.

Emergência dos países-baleias na Divisão Internacional do Trabalho


A passagem do século 20 para o 21 trouxe consigo dois grandes eixos reestruturadores
da Divisão Internacional do Trabalho. Por um lado, o movimento global de
1. Professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho
da Universidade Estadual de Campinas. Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

43
A hora e a vez dos países-baleias

reorganização do capital acompanhado de sinais crescentes da decadência relativa


dos Estados Unidos impôs o deslocamento do antigo centro dinâmico capitalista
unipolar para a multipolarização geoeconômica mundial (Estados Unidos, União
Europeia, Rússia, Índia, China e Brasil).
Como a crise internacional de 2008 segue ainda sem resolução definitiva
nos países ricos e intercalada por avanço concomitante da revolução tecnológica
e do segundo ciclo de industrialização tardia na Ásia, a dinâmica econômica
mundial prevalece extremamente desigual e, por que não dizer, combinada.
Economias desenvolvidas submetidas ao quadro de semiestagnação, enquanto
emerge ascensão das relações econômicas e comerciais Sul-Sul.
O comportamento econômico entre nações tende a se agravar ainda mais
quando se consideram as medidas adotadas mais recentemente nos países centrais,
fazendo crer que a crise internacional reproduz traços similares aos verificados
anteriormente na armadilha japonesa dos anos 1990, quando predominou o
baixo dinamismo no consumo das famílias e a postergação dos investimentos
produtivos. O resultado aponta para o risco permanente da deflação dos preços
e da desvalorização cambial competitiva em busca de maior ampliação dos
mercados externos por parte dos países ricos.
Por força disso, os países não desenvolvidos tendem a assumir crescente
responsabilidade pela dinâmica econômica mundial, indicando, pela primeira
vez desde a Depressão de 1929, que a recuperação da produção global segue
estimulada fundamentalmente pelas regiões periféricas, especialmente nos países
de grandes escalas produtivas, como China, Índia e Brasil. Ademais, percebe-se
também o predomínio na convergência de vantagens competitivas da expansão
industrial a se concentrar em alguns países considerados até então pobres, quando
não no setor da agroindústria.
Por outro lado, nota-se que a adoção de distintos modelos de ajustes nos
países a partir da crise global indica, em geral, evolução diferenciada na trajetória
futura dos países-baleias. Dependendo das ações nacionais em torno da aceitação
ou não da valorização de suas moedas e do aprofundamento da heterogeneidade
estrutural das economias periféricas, pode prevalecer decréscimo nas vantagens
comparativas construídas no setor de manufatura e serviços de maior valor
agregado do que nos segmentos primário-exportadores. Neste caso, observa-
se que mesmo persistindo a expansão econômica nacional, o diferencial de
produtividade doméstica em relação às nações ricas não diminui necessariamente,
o que pode gerar, por consequência, o risco crescente do aprisionamento das
estruturas de produção e de exportações primarizadas, com baixa intensidade
ocupacional e de remuneração mais elevada.
Nos países da União Europeia, percebe-se, por exemplo, que a reprodução
de tradicionais programas de ajuste fiscal produz maior pressão na elevação das
exportações frente ao desânimo do consumo doméstico. A redução no gasto

44
A hora e a vez dos países-baleias

público impõe, por consequência, prejuízos aos trabalhadores, ao mesmo tempo


em que favorece a redução de custos no setor privado voltado às exportações,
geralmente de bens e serviços de maior valor agregado. Nos Estados Unidos,
principalmente, não tem havido medidas substanciais de ajuste fiscal, embora a
pressão por elevação das exportações de bens e serviços de maior valor agregado
seja crescente. Como o consumo interno permanece contido, não obstante as
baixas taxas de juros e elevada liquidez em dólares, cabe ao governo a defesa das
medidas de desvalorização do dólar para tornar mais competitivos os produtos
estadunidenses.
Frente a isso, a reação dos países-baleias não tem sido convergente,
necessariamente. Pela perspectiva chinesa, por exemplo, percebe-se a crescente
correlação na expansão produtiva e das exportações de manufatura com a
elevação das importações de produtos primários, o que permitiu multiplicar por
quase 5 vezes sua presença no comércio externo entre 2000 e 2009. A redução
dos preços de bens industriais chineses tem permitindo ocupar novos espaços
comerciais adicionais, com forte ênfase na desvalorização de sua moeda e pressão
inflacionária doméstica.
No caso brasileiro, nota-se que a valorização de sua moeda nacional estanca
a alta dos preços internos, mas impõe o aprofundamento da heterogeneidade
de sua estrutura produtiva, com decréscimo relativo na vantagem comparativa
da manufatura e serviços de maior valor agregado em relação ao setor primário-
exportador. Como resultado, constata-se que em relação à China, o Brasil
conseguiu multiplicar as exportações por quase três vezes entre 2005 e 2009 com
base na expansão relativa da presença de produtos primários (minério de ferro,
soja, madeira, entre outros), que passou de 65% para 79,2% do total da pauta do
comércio externo.
A Índia, por sua vez, segue o esforço contínuo pelo caminho exportador –
especialmente nos serviços –, frente à persistência do déficit na balança comercial
de bens. Em 2009, por exemplo, a Índia respondeu por 2,8% das exportações
mundiais de serviços, contra 1,1% em 2000. No mesmo período de tempo,
a região latino-americana e caribenha reduziu sua participação relativa nas
exportações mundiais de serviços de 3,2% (2000) para 2,8% (2009).
Resumidamente, a emergência dos países-baleia altera a Divisão Internacional
do Trabalho neste início do século 21, com redução do peso relativo dos países do
centro do capitalismo mundial. Apesar disso, a trajetória dos países-baleia segue
desigual e combinada, com distintos impactos internos em termos de combinação
dos desempenhos econômicos e sociais, conforme tratado a seguir.

Distintas trajetórias socioeconômicas


Uma das principais novidades surgidas no contexto de evolução da crise global
de 2008 encontra-se justamente associada à recuperação econômica mundial
45
A hora e a vez dos países-baleias

atual, cada vez mais determinada pela dinâmica dos países não desenvolvidos.
O fato de nações como a China, Brasil e Índia responderem por mais da metade
do crescimento econômico após o quadro recessivo mundial de 2008 e 2009
acontece pela primeira vez desde a Grande Depressão de 1929.
Em contrapartida, o conjunto das nações desenvolvidas parece, cada vez
mais, prisioneiro do ciclo vicioso originado pela nova reprodução da armadilha
japonesa, constituída desde 1991 por força do tipo de crise que se abateu naquele
país. Ou seja, a combinação da anorexia do consumo familiar com a retenção
e adiamento dos investimentos das empresas, acrescido do desajuste fiscal e de
medidas ortodoxas de contenção do gasto social. O resultado disso reflete-se na
deterioração da confiança nacional potencializada pelo risco da deflação em meio
à onda das desvalorizações cambiais competitivas e, infelizmente, o ressurgimento
da marcha protecionista. Na sequência do desemprego em alta, ocorre a elevação
nas taxas de pobreza e de suicídios entre os países desenvolvidos.
Não parece haver dúvidas de que o abandono atual pelos países ricos da
convergência das políticas anticíclicas adotadas na crise de 2008 aponta para um
período relativamente longo de convivência com o baixo dinamismo econômico
e piora na distribuição de renda. Ademais, a prevalência de enormes assimetrias
de poder entre a força e os interesses das grandes corporações transnacionais e o
apequenamento das ações dos Estados nacionais, aliado ao contínuo esvaziamento
das instituições multilaterais, tende a tornar mais distante a coordenação urgente
e necessária da governança mundial.
Tal como na Grande Depressão de 1873 a 1896, que acompanhada pelo
circuito da industrialização retardatária ocorrido na Alemanha e nos Estados
Unidos permitiu surgir – meio século depois – o deslocamento do centro
dinâmico mundial assentado na hegemonia inglesa, percebe-se hoje, guardada
a devida proporção, o aparecimento de novas polaridades geoeconômicas no
desenvolvimento global. A China, Brasil e Índia são crescentemente apontados
como nações portadoras de futuro e de grande potencial necessário para assumir
maior centralidade na dinâmica do desenvolvimento mundial.
Por conta disso, torna-se interessante procurar compreender como o
comportamento do crescimento econômico e do padrão de distribuição de renda,
especialmente na China e Brasil, que rapidamente assumem referência de como
o novo mundo poderá se mover, com maior ou menor expansão e ampliada ou
contida desigualdade na repartição da renda. Ainda que se trate de países muito
diferentes, Brasil e China apresentam tendências recentes distintas em relação ao
crescimento econômico e à repartição da renda nacional entre seus habitantes.

46
A hora e a vez dos países-baleias

Gráfico 1: Evolução do Índice de Gini no Brasil e China (1995=100)


130

120

110

100

90

80
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Brasil China

Fonte: China Statistical Yearbook e IBGE (elaboração própria); estimativa para 2010

No Brasil, por exemplo, observa-se que para cada 1 ponto percentual de


expansão da economia, a China consegue crescer 2,5 pontos percentuais a mais.
Entre 1995 e 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi multiplicado
por 1,6 vezes, enquanto o PIB chinês foi multiplicado por 3,9 vezes. O modelo
veloz de crescimento econômico da China praticamente não se alterou entre os
anos de 1995 a 2003 e de 2004 a 2010 (crescimento médio anual de 10%), ao
contrário do Brasil, que registrou expansão média anual de 2,1% de 1995 a 2003
e de 4,5% de 2004 a 2010.
Por outro lado, percebe-se divergência importante em relação ao padrão
de desigualdade na repartição de renda entre os brasileiros e chineses. Entre
1995 e 2010, o índice de Gini aumentou 21% na China, enquanto no Brasil
caiu 14%. Ou seja, para cada 1 ponto percentual de queda no índice de Gini
brasileiro, a China eleva em 1,4 ponto percentual o grau de desigualdade na
renda. Interessante notar ainda que de 1995 a 2001, o comportamento no índice
de Gini se manteve relativamente inalterado, apesar das oscilações anuais, de
2,6% para mais na China e de 0,83% para menos no Brasil. Todavia, constata-se
que a partir daí houve uma grande diferenciação na trajetória da repartição da
renda na China e no Brasil. Com o crescimento econômico maior no Brasil, o
comportamento do índice de Gini tornou-se mais decrescente (-12,2%), ao passo
que a China, que manteve inalterada a trajetória de alta expansão do PIB, passou
a registrar ampliado aumento no grau de desigualdade na repartição pessoal da
renda (+17,9%).
Em síntese, nota-se que desde 2004 o PIB brasileiro tem crescido, como
média anual, quase a metade do ritmo de aumento do Produto Interno Bruto
chinês, ao contrário do período anterior (1995 e 2003), quando a expansão

47
A hora e a vez dos países-baleias

econômica brasileira representava somente 25% do crescimento do PIB chinês.


Com a maior expansão das atividades da economia brasileira no período recente
houve concomitantemente o aprofundamento da queda no grau de desigualdade
da renda pessoal, diferentemente da situação chinesa, com forte piora na repartição
do conjunto dos rendimentos dos seus habitantes.
Essas diferenças tornam-se importantes e devem ser ressaltadas, especialmente
quando se avaliam as novas trajetórias mundiais possíveis a partir da sequência da
crise nos países desenvolvidos iniciada em 2008. Não obstante o menor ritmo de
crescimento econômico, o Brasil revela melhor trajetória de repartição da renda
em relação ao desempenho chinês recente.

Considerações finais
Para os próximos anos, a literatura especializada deverá dedicar-se cada vez
mais a tratar e entender a emergência da expansão econômica, política, social,
militar e cultural de países de grande dimensão territorial e populacional. A
hora dos países-baleias chegou, mesmo com as condições históricas herdadas
do subdesenvolvimento (enorme heterogeneidade estrutural e baixa renda por
habitante).
Tudo isso torna ainda mais relevante a situação de países como Brasil, China
e Índia, em especial por seus esforços nacionais de participarem dos novos pólos de
desenvolvimento mundial, o que altera profundamente a Divisão Internacional
do Trabalho. Dessa forma, a antiga hegemonia unipolar exercida pelos Estados
Unidos tende a conceder lugar à nova dinâmica mundial estimulada fortemente
pelas relações Sul-Sul, responsável atualmente por quase a metade de todo o
comercio mundial.
Não obstante o fortalecimento dos países-baleia, observa-se trajetória
distinta em relação à combinação do crescimento econômico e de sua repartição
no interior da população. O Brasil apesar de crescer bem menos que a China
consegue reduzir suas brutais desigualdades, ao contrário da realidade chinesa de
ampliação recente da concentração pessoal da renda

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A hora e a vez dos países-baleias

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países de América Latina y el Caribe. Caracas: SELA.

49
50
2ª. PARTE

TENDÊNCIAS NAS TELECOMUNICAÇÕES

51
52
CAPÍTULO 1

Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?

Marcio Wohlers1

Diante do alto poder de mercado dos chamados “gigantes da internet”, como


o Google, Yahoo, e-Bay e outros, e em face do alto tamanho dos arquivos
transacionados pela rede, o consenso praticamente absoluto quanto à neutralidade
de redes (NN) passou a ser a questionado em vários países. O pressuposto de
que todos os pacotes de bytes (datagramas) não sofreriam qualquer espécie
de discriminação – de natureza pessoal, política, ideológica e econômica –
tornou-se objeto de amplo debate. O comércio eletrônico de serviços cujos
arquivos são de grande volume, como os de cinema 3D, encabeça a pauta de
discussões. Seguem-no os sites de jogos on-line, que mantêm centenas de usuários
permanentemente conectados, e as aplicações peer-to-peer (P2P), como o sistema
de compartilhamento BitTorrent – todos exigem grande quantidade de banda
passante. De fato, o protocolo BitTorrent continua sendo o mais utilizado no
mundo para tráfego P2P, sendo que na América do Norte 53,3% do tráfego de
entrada (upstream) ao longo de um dia médio são feitos por P2P.
Notórios defensores da internet livre e aberta, amplamente desregulamentada,
sem interferência de nenhuma entidade pública, passam agora a exigir que
o governo ou os órgãos reguladores imponham normas e regulamentem o
funcionamento da rede mundial, garantindo, particularmente, a neutralidade de
redes. É simples entender essa mudança de postura. Ora, diante da necessidade de
viabilizar o tráfego para qualquer tipo de usuário, incluindo todos os envolvidos
(provedores e usuários de informação) em transações eletrônicas e face à relativa
escassez de largura de banda, os operadores de rede e fornecedores de conectividade
à internet efetuam o gerenciamento do tráfego e acabam reduzindo a qualidade
do serviço QoS (Quality of Service – sigla em inglês).
Este fato acontece geralmente na última milha, ou seja, na conexão entre
o usuário final e o servidor de tráfego que distribui os dados para esse usuário.
Em outras palavras, as operadoras das plataformas de rede e de conectividade,
ao efetuarem o “gerenciamento de tráfego”, priorizam a transferência de
determinados arquivos em detrimento de uma conexão mais rápida em outros
1 Doutor em economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), onde é professor licenciado com especiali-
zação na área da economia e inovação das telecomunicações. Foi assessor especial do Ministério das Comuni-
cações (2003-2005) e pesquisador da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal - Nações
Unidas), no Programa Sociedade da Informação (Santiago do Chile), entre 2005 e 2007, e desenvolveu pesqui-
sas na área do impacto regulatório da convergência tecnológica nas telecomunicações. Integra o Comitê Cientí-
fico da European Communications Policy Research (EuroCPR), rede europeia de pesquisadores e reguladores
de telecomunicações.

53
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?

pontos da rede e da qualidade de transmissões de dados mais complexas, como


a VoIP (voz sobre IP), que chegam ser encerradas abruptamente, ou por decisão
da operadora da plataforma, ou por alguma instabilidade da própria internet.
Definitivamente, falta transparência nos procedimentos adotados pelas operadoras
e nas responsabilidades sobre o desempenho da rede. Usuários e consumidores
interconectados à internet estão às escuras.
A questão da neutralidade de redes também conduz a um debate sobre
a evolução da concorrência e da inovação no âmbito da internet, que podem
ser vistos como os dois lados da mesma moeda. De um, a garantia (ou não) da
neutralidade de rede é uma interferência nas formas de concorrência e inovação
na rede. De outro, maiores níveis e incentivos à inovação e o reforço do ambiente
competitivo também influenciam a neutralidade de redes.

Aspectos da inovação na internet


A fusão das telecomunicações com internet, a partir da década de XX, produziu
mudanças radicais entre o mundo das “velhas telecomunicações” e o das TICs
(Tecnologias de Informação e Comunicação). Devido à ampliação da convergência
tecnológica e econômica no âmbito das TICs e à tendência da oferta generalizada
de conexões de banda larga, está ocorrendo uma movimentação das fronteiras das
empresas, dos mercados e de setores das próprias TICs. Uma das maneiras mais
apropriadas para representar essas alterações é por intermédio de um modelo de
camadas, proposto por Martim Fransman (2004 e 2007).
O modelo de Fransman é composto por quatro camadas, sendo que a
camada de cima está sempre apoiada funcionalmente na de baixo. Na camada
1, inferior, estão representados os produtores dos chamados elementos de rede,
ou seja, a produção de hardware e software que são utilizados para implementar
as redes de telecomunicações. Nesta camada situa-se a produção de roteadores,
computadores, chips, software básicos e aplicados etc. A camada dois, por sua
vez, apresenta as diferentes redes de telecomunicações formadas pelos diferentes
tipos de HW e SW sejam por fios, cabos e fibras óticas, ou por sistemas sem fio,
como a segunda, terceira e quarta gerações de transmissão de dados para telefonia
celular ou outras transmissões de dados. Nesta camada, enfim, estão presentes
os operadores das redes de telecomunicações e das redes de televisão aberta ou
fechada.
Em seguida, há um elemento de conectividade, entre as camadas 2 e 3,
onde operam os protocolos TCP-IP que propiciam a conexão ao mundo da
internet. Por sua vez, na camada 3 situam-se os denominados Internet Content
Applications Providers (ICAP), os quais providenciam middleware, navegadores,
aplicativos e milhares de ofertas dos mais variados tipos de conteúdo de ordem
54
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?

pessoal, comercial e governamental. Finalmente, na camada 4 está representado


o consumo das informações, sendo que, na era da web 2.0, o consumidor é,
também, um produtor de informações nas redes sociais, nos blogs, nos videoblogs
e em outros meios de operação do consumidor/produtor de informações.
O modelo de inovação visto pela estrutura de camadas de Fransman requer
que, na prática, cada uma dessas camadas seja lida de forma diferente. A ideia
é que dentro de cada camada existam produtores e usuários de inovações que
estejam em permanente contato para que a inovação seja customizada de acordo
com as exigências do usuário. Essa mesma ideia vale para as interações (contato
permanente) entre os agentes de cada uma das camadas, ou seja, agentes da
camada 1 interagem com os da camada 2, os da camada 2 com os da 3, e os da 3
com os da 4. E ainda há que se considerar os demais pares de interação produtor-
usuário de inovação: (1-3), (1-4), (2-4) e, finalmente, (3-1).
A neutralidade de rede (conectividade sem discriminação) nesse modelo
está situada entre as camadas 2 e 3, onde operam os protocolos TCP-IP. O
provedor da conectividade necessariamente deve estar apoiado em uma rede de
telecomunicações, a qual, como vimos acima, deveria ser igualmente neutra nos
aspectos tecnológicos, econômicos e também político-ideológicos de transmissão
de informações. Ou seja, neutralidade equivale à inexistência de qualquer filtro
em relação à fluidez da informação.

Aspectos da concorrência na internet


O comércio na internet apresenta fatores que tornam a concorrência muito
acirrada, sobretudo no setor de eletrônicos. Dois fatores, a desintermediação e
a diminuição dos custos de transação, merecem destaque. A desintermediação
decorre da eliminação dos agentes intermediários que aumentam a margem global
de custos entre produtores e consumidores finais. À medida que a rede torna possível
a transação direta entre produtores e consumidores, o grau de concorrência entre
os produtores aumenta. Esse fenômeno atinge fortemente o segmento de varejo,
mas seu impacto depende do tipo de setor e de produtos e serviços envolvidos.
Produtos mais padronizados, como aparelhos eletroeletrônicos, livros, CDs,
computadores e periféricos, têm um potencial de desintermediação relativamente
alto. Outros produtos não tão padronizados, portanto, mais personalizados,
como vestuário fino, relógios, jóias etc., usualmente requerem um contato mais
direto e pessoal entre o vendedor e o consumidor. Nesses casos, o potencial de
desintermediação é menor.
Os custos de transação, por sua vez, englobam os custos de toda a efetivação
do negócio. Custo de uma seleção adequada das partes da transação (vendedor e
comprador), custo de elaboração do contrato e ainda custos diversos, incluindo

55
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?

ainda os riscos de não cumprimento dos termos acordados. Na internet, os custos


de transação tendem a cair devido à maior transparência e acesso às informações
sobre as partes, entre outros motivos.
Além desses fatores positivos, ainda existem outras características da internet
que se referem ao aumento da escala e escopo na produção e distribuição das
informações e o forte papel das externalidades de redes. Essas características fazem
ampliar intensamente o mercado virtual, abrindo espaço para novos usuários e
agentes provedores de informação. Ou seja, contribuem para a ampliação da
concorrência na internet. No entanto, é também necessário ressaltar os fatores
que podem dificultar a concorrência: o efeito lock-in, ou seja, o aprisionamento
e custos de mudança impostos ao consumidor diante de uma possível troca de
padrão (como o referente ao navegador da Microsoft, por exemplo) e ainda a falta
de aprendizagem, seja das empresas, seja dos consumidores, para o aproveitamento
das crescentes oportunidades do mundo digital.
No entanto, com o desenvolvimento da rede, começaram a emergir
usuários com grande poder de mercado, diminuindo a concorrência na rede.
Como veremos mais adiante, esses grandes usuários estão influindo fortemente
no problema da neutralidade de redes.

Experiências internacionais e brasileira


A maior parte das discussões sobre neutralidade de rede (NN) remete diretamente
ao papel central dos organismos reguladores das telecomunicações, os quais
devem ter capacidade técnica, normativa-legislativa, sancionadora (punição), de
modo a garantir o principio da NN. Em várias partes do mundo, a discussão
sobre essa nova função dos reguladores já está acontecendo.
Nos Estados Unidos, a discussão sobre a neutralidade tem ampla abrangência.
Envolve especialistas, imprensa geral e especializada e, particularmente, o órgão
regulador central norte-americano, o FCC (Federal Communications Commission).
Um dos primeiros e mais importante fato regulatório referente à NN refere-se à
empresa Comcast, que utiliza cabos coaxiais para distribuir TV por assinatura e
também para prover o acesso aos serviços por meio de banda larga. Em meados da
presente década, essa operadora passou a filtrar (impedir) aplicações que exigem
grande quantidade de dados, como o aplicativo P2P BitTorrent. O caso foi parar
nas mãos do órgão regulador FCC, que considerou ilegal o procedimento da
Comcast e determinou seu imediato cancelamento. A Comcast recorreu da
sentença e ganhou. Criou-se então um vácuo regulatório que permanece até hoje.
Recentemente, a grande empresa de telecomunicações Verizon, por meio
de sua unidade de telefonia celular, celebrou um acordo com o Google segundo

56
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?

o qual todo o conteúdo desse gigante da internet teria privilégios em termos de


quantidade de banda passante. Por sua vez, a Verizon teria acesso privilegiado ao
conteúdo veiculado pelo Google, no que se refere à velocidade de download de
filmes, videoblogs, como o YouTube e outros aplicativos. Somente os assinantes
da Verizon móvel desfrutariam dessa regalia. Na prática, é uma quebra da NN,
uma vez que não há mais isonomia para todos os usuários. Vale ressaltar que a
FCC lançou, em 2009, o NPRM (Notice of Proposed Rulemaking in the Matter of
Preserving the Open Internet), a fim de coletar opiniões de todos interessados, mas
por enquanto não há notícia de um novo marco legal.
Da mesma forma, a União Europeia recentemente também lançou uma
consulta pública contendo várias perguntas sobre o tema. Elaborada pela
Comissão Europeia (Information Society and Media Directorate-General) com o
propósito de ampliar o debate sobre a internet livre e a neutralidade de rede, a
lista de 14 macroperguntas, abrangeu vários temas: a internet aberta e o princípio
end-to-end; o gerenciamento e a discriminação do tráfego; estrutura de mercado;
qualidade de serviço (QoS) e os consumidores; e, ainda, dimensões políticas,
culturais e sociais. A consulta quer medir a extensão e a gravidade dos problemas,
saber como essas questões afetam os cidadãos, de que maneira poderia se dar
algum controle e quais seriam as possíveis soluções para alguns impasses diante
da evolução tecnológica recente.
No Chile, por meio da Lei 20.453, promulgada em 18 de agosto de 2010,
foi institucionalizado o princípio da neutralidade na rede para os consumidores e
usuários da internet. Um dos artigos da lei é claro e contundente: os operadores
de internet são obrigados a “não bloquearem, interferirem, discriminarem,
impedirem nem restringirem arbitrariamente o direito de qualquer usuário da
internet a utilizar, enviar, receber ou oferecer qualquer conteúdo, aplicação ou
serviço legal”. No entanto, as empresas operadoras de redes de telecomunicações
podem gerenciar seu tráfego e suas redes sempre que não afetem a livre concorrência
e haja transparência nessa medida.
No Brasil, existem discussões esparsas sobre o tema em fóruns empresarias
e em artigos na imprensa especializada. A Anatel, em seu Plano de Melhoria
Regulatória PGR, colocou a questão da NN como uma medida a ser discutida
no médio prazo.

Discussão dos resultados


O debate entre intelectuais especializados no tema, em particular os
norteamericanos, é muito intenso. O professor Timothy Wu2, especializado em
3. WU, Tim, entrevista ao documentário Net At Risk, disponível em: http://www.pbs.org/moyers/moyerson-
america/net/watch.html , acessado em 20/10/2010

57
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?

telecomunicações, é um dos intelectuais norte-americanos que lideram a defesa


da NN, abordando o tema de modo transversal. Para ele, as operadoras querem
cobrar duas vezes: uma para os grandes provedores de informação, como Google
e Yahoo, e outra para os consumidores que necessitam de mais velocidade.
Entretanto, estes já pagam a taxa usual para ter acesso à internet. Isso pode resultar
em discriminação. Na opinião de Wu , a internet tem que funcionar como as
estradas, os portos ou a rede de energia elétrica. Todos devem poder ingressar no
sistema nas mesmas condições (pagando, direta ou indiretamente, apenas uma
taxa de adesão), sem discriminação de tamanho, de tipo de negócio etc. Quem faz
um contraponto direto a Wu é Robert Frieden. Ele concorda que a internet nasceu
livre e assim deve permanecer. Não obstante, ressalva que o custo da internet não
era percebido. Somente agora, diante do problema da neutralidade de rede, a
sociedade se deu conta de que não apenas há um custo, mas que é muito alto. No
Brasil, os defensores da NN em geral se referem a questões de ordem política e
ideológica. Para Carlos Afonso, diretor de Planejamento da Rede de Informações
para o Terceiro Setor, por exemplo, “um elemento central para a neutralidade
da rede é não haver censura nem interferência no tráfego de conteúdo, seja este
qual for”. Afonso também atribui a NN a uma questão regulatória: “Não se pode
penalizar ninguém por ‘usar demais’ sua conexão. Se um fornecedor de conteúdo
tem grande sucesso e contratou uma banda de determinada capacidade com uma
operadora, é responsabilidade da operadora garantir essa banda, só isso. Não
interessa à operadora se a banda contratada vai ser efetivamente utilizada ou não.
Se for, a operadora que se prepare para isso e honre o contrato”. Generalizando,
o que está em questão é a democracia na internet, cuja governança, desde o
princípio, foi instituída para tratar todo “cidadão” conectado de forma isonômica
e igualitária. Essa democracia deveria ser garantida pelos reguladores devidamente
dotados de poderes para essa nova tarefa.
Ocorre que a quantidade de tráfego na rede é abissal e implica uma
necessidade urgente de modernização (instalação de fibras ópticas em várias
partes da rede) para atender igualmente aos usuários, ou seja, para manter o
princípio da neutralidade de rede (NN). Mas a quem cabe a responsabilidade
do financiamento desse custo (investimento)? Aos fornecedores de informação?
Aos proprietários de rede e conectividade? Aos usuários? Cada um deles tem sua
própria perspectiva e benefício, ou, no caso das empresas, seu modelo de negócio
voltado a ampliar as respectivas taxas de lucro. Mas quem financiaria a melhoria
da rede que traz benefício a todos? Ou seja, o problema não é de regulação, é
de economia. Uma vez solucionado o problema econômico, a democracia volta
a ser soberana. Ou seja, estamos diante de ambos os problemas, sendo que o
econômico precede o democrático.
Uma solução pertinente para o problema econômico foi proposta há

58
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?

alguns anos pelos autores franceses Jean-Charles Rochet e Jean Tirole Jean3 .
Economistas de renome internacional, os autores utilizam o enfoque denominado
two sided markets (mercado de dois lados). Alguns exemplos de mercados desse
tipo são clássicos, como as plataformas para o uso de cartões de crédito. As
plataformas interligam lojistas, de um lado, e consumidores, de outro. Outros
exemplos podem ser destacados, como o das redes telefônicas (plataformas),
que interconectam quem faz a ligação com quem recebe. O mesmo caso é
exemplificado por plataformas “físicas” de jornais, que interligam os dois lados
do mercado, o anunciante e o comprador. Enfim, no mercado de dois lados,
uma determinada plataforma tecnológica viabiliza o contato entre provedores e
usuários interessados em efetuar transações. Na internet, teríamos o usuário final
da web, eventualmente comprador de um serviço ou produto, e o provedor de
informação (conteúdo) que também é um usuário final da web, ambos interligados
pela plataforma que opera os protocolos TCP-IP. Ambos pagam um custo fixo
para aderirem à rede, como se pertencessem a um “clube” que cobra uma taxa
fixa de adesão e também uma taxa variável proporcional ao seu uso. Voltando ao
exemplo acima citado (rede telefônica convencional), o usuário paga para ter o
direito de acesso (taxa fixa para ser “membro” da comunidade telefônica, tendo
direito a um número telefônico), sendo que a operadora de telefonia também
tem um custo fixo, pois mantêm um cabo telefônico dedicado a esse usuário.
Ambos pagam a respectiva taxa variável, proporcional aos minutos efetivamente
utilizados durante uma ligação. No caso das operadoras, o custo de viabilizar a
conversação é o da manutenção de um canal de comunicação para a ligação.
Os autores afirmam que é suficiente mudar as taxas variáveis em cada
transação (mantendo constante a somatória dessas taxas variáveis) para que a
plataforma, em si, não apenas pague todos seus custos (os fixos e os variáveis, por
transação), mas também obtenha um lucro extraordinário.
A internet, igualmente ressaltada acima, também opera como um mercado
de dois lados. Os mesmos princípios do mercado de dois lados são aplicados,
mas sob premissas diferentes. Essas premissas incluem a informação assimétrica
entre ambos os lados do mercado e a não internalização de todos os benefícios
gerados pelas externalidades de redes – o princípio que valoriza as redes maiores
em detrimento das menores4 . Vale ressaltar que esses preços são de natureza
diferente daqueles cobrados atualmente pelos provedores de internet.
A demonstração dos professores conduz à conclusão de que, mesmo na
4. ROCHET, Jean-Charles e TIROLE, Jean. “Two-Sided Markets: An Overview”. IDEI Working Papers,
2004. Disponível em <https://noppa.tkk.fi/noppa/kurssi/s-38.4043/luennot/S-38_4043_pre-exam_article.
pdf>. Acesso em 1º de setembro de 2010.
5. Um exemplo simples refere-se a empresas aéreas. Mantidas as tarifas constantes, uma companhia maior que
oferece mais origens e destinos apresenta maior valor superior ao usuário do que uma operadora menor, que
oferece um número menor de origem e destinos..

59
Neutralidade de redes na internet: democracia ou economia?

ausência de custos fixos e nenhuma soma monetária envolvida entre usuários


e provedores de informação, basta conservar constante a somatória dos custos
variáveis (a) para gerar resultados úteis às partes envolvidas (usuários, provedores
e proprietários de rede e de conectividade). Para tanto, basta mudar a composição
dos custos variáveis ap e au, sendo a = ap + au. Ao alterar simplesmente a
composição dos custos variáveis (ap e au), onde um menor custo variável de um
lado implica uma diminuição do outro e vice-versa, a formulação de Charles
Rochet e Jean Tirole Jean (pág. 22) conclui que é possível remunerar todos os
custos da plataforma e ainda gerar um lucro extraordinário a ser devidamente
aplicado para financiar a melhoria das redes (substituindo as redes antigas por
fibra óptica, por exemplo).
Em resumo, é possível visualizar dois cenários: um é o tendencial (CT), onde
é proposto tão somente o empowerment dos reguladores para garantir efetivamente
a manutenção da NN. No entanto, pode-se inferir que tal posição conduziria a
uma lenta, mas crescente fragmentação da NN. Outro cenário é o de renovação
(CR), mais otimista, onde haveria uma nova repactuação do comportamento
entre os principais atores, a partir de uma nova forma mais eficiente de operação
econômica da internet: mudança das respectivas taxas variáveis entre provedores
e usuários de informação, adequando-o ao modelo de mercado de dois lados,
como o apresentado por Rochet e Tirole. Uma vez encaminhado de forma
adequada um novo sistema de preços na rede, proposto no cenário de renovação
CR, o passo seguinte é apresentar e introduzir as novas formas de precificação
para a respectiva vigilância dos órgãos regulatórios. Vale ressaltar que adaptar ao
mundo real a conceituação teórica proposta por Tirole e Rochet envolve uma
nova concepção de funcionamento comercial da rede e, portanto, de mudança
de comportamento, como já observado, dos agentes envolvidos. A questão básica
é segregar da rentabilidade das operadoras de rede e de conectividade o lucro
extraordinário advindo da mudança de taxas variáveis e utilizá-lo exclusivamente
para financiar a modernização da rede. Feito isso, haverá banda para todos os
usuários e a rede seguirá seu curso, livre e aberta, como quando nasceu.

60
CAPÍTULO 2

Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para


fomento dos serviços de informação e comunicação

Rodrigo Abdalla Filgueiras de Sousa1


João Maria de Oliveira2
Luis Cláudio Kubota3

Introdução
A infraestrutura de telecomunicações suporta todos os setores de uma economia.
Há estudos em que se comprova ser esta infraestrutura fundamental para o
desenvolvimento de novos bens e serviços para a “sociedade do conhecimento”.
As rápidas mudanças tecnológicas e a proliferação de uma gama de novos serviços
têm atuado como catalisadores principais das mudanças econômicas e das relações
globais. As transformações por que passam alguns países, a partir da adequada
regulação destas redes e de seus serviços, combinadas com a convergência
decorrente da inovação tecnológica, permitem encaminhar preocupações sociais,
em áreas como meio ambiente, saúde e educação.
No Brasil, que há 12 anos deixou o antigo sistema monopolista estatal das
telecomunicações para entrar num regime competitivo operado por empresas
privadas, os preços dos serviços de telecomunicações ainda continuam muito
elevados, especialmente quando comparados a outros países. A perspectiva
transformadora ainda parece distante. Os preços praticados constituem em
grande obstáculo à universalização do acesso à internet em banda larga e aos
consequentes benefícios das inovações tecnológicas extensivas a toda a sociedade
brasileira. De acordo com a União Internacional de Telecomunicações (UIT),
o preço relativo4 do serviço no Brasil chega a ser de cinco a dez vezes mais alto
que nas economias avançadas e está entre os mais altos do mundo. Em termos
de densidade, o desempenho do Brasil apresenta crescimento contínuo durante
os últimos anos, apesar de este indicador ser ainda de três a sete vezes mais baixo
que o observado em economias avançadas. Além disso, o acesso em banda larga
é notadamente concentrado no Brasil: enquanto as classes de maior renda e os
residentes em áreas mais densamente povoadas têm a internet em alta velocidade
como parte de sua vida quotidiana, tanto as famílias que moram afastadas dos
grandes centros urbanos, quanto as que estão na parte de baixo da pirâmide de
distribuição de renda continuam lutando para serem incluídos digitalmente.
1Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea
2 Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea
3 Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea
4 O preço relativo é definido pela UIT como a razão entre o valor de uma cesta de serviços de telecomunicações
e a renda per capita do país.

61
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

A evolução das estruturas de comunicação e o impulso que se espera ter do


atual processo de convergência de redes, serviços e terminais devem levar também
a nova definição de políticas publicas. Em particular, a convergência exigirá uma
revisão de certo número de elementos da atual estrutura de regulação econômica
dos mercados de comunicações, a fim de assegurar que os potenciais benefícios
dessas tecnologias sejam difundidos rapidamente na economia e na sociedade, de
forma geral. Recentemente, tem se intensificado o debate a respeito da necessidade
de alterações no modelo econômico vigente. Uma razão é o reconhecimento cada
vez maior da importância de promover políticas para a inclusão digital, pois
diversos estudos já comprovaram os seus efeitos positivos, tanto sociais, quanto
econômicos. Além disso, os impactos da inclusão digital podem se amplificar
em diversos outros setores. Não obstante ser necessário atacar também outras
importantes variáveis, tais como o analfabetismo digital e a baixa densidade de
computadores pessoais por domicílio, a disponibilidade de infraestrutura de
telecomunicações é um fator-chave para a promoção do acesso em banda larga.
Dois exemplos das mudanças propostas pelo governo são emblemáticos.
Primeiro, foi o lançamento do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), por meio
do Decreto nº 7175/2010, que, dentre outras medidas, determinou a reativação
da Telebrás para “prestar apoio e suporte a políticas públicas de conexão à internet
em banda larga para universidades, centros de pesquisa, escolas, hospitais,
postos de atendimento, telecentros comunitários e outros pontos de interesse
público”. Segundo, foi a edição da Medida Provisória (MP) nº 495/2010, que
incluiu a “promoção do desenvolvimento nacional” como um dos princípios das
licitações, oferecendo uma margem de preferência de até 25% para os produtos
com tecnologia desenvolvida no país. Assim, não só o governo federal pretende
envidar esforços e recursos públicos para estender o uso da banda larga no país,
como também tem a intenção de promover uma política industrial que favoreça
o setor.
O presente artigo tem o objetivo geral de trazer à discussão o fenômeno da
convergência ante a realidade do mercado brasileiro de serviços de informação
e comunicação. Especial ênfase é dada às questões relacionadas ao acesso à
internet em banda larga, por ser esta a plataforma que viabiliza todo o processo
de convergência já iniciado nas economias mais avançadas e que provocará
profundas mudanças nos segmentos envolvidos. Inicialmente o texto apresenta
uma breve avaliação dos diferentes tipos e níveis de convergência ora em curso no
mundo. Em seguida, expõe algumas razões para a necessidade e a conveniência
de se conceder incentivos governamentais para a implantação de redes de banda
larga: quais os impactos das tecnologias da informação e comunicação (TICs) na
produtividade e no crescimento econômico; e quais são as potenciais falhas de
mercado às quais o setor de telecomunicações está sujeito. O texto ainda aduz

62
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

uma avaliação do conjunto de instrumentos de política pública disponíveis para


uso específico para banda larga e discute os mecanismos regulatórios para superar
as dificuldades na implantação de infraestrutura de telecomunicações. Após uma
avaliação sucinta do mercado brasileiro de serviços de informação e comunicação,
também apresenta detalhamento da atividade de acesso à internet em banda
larga, considerando as variáveis de densidade, preço, mercado e regulação. Por
fim, o artigo traça algumas considerações a respeito da aplicação desses conceitos
e das avaliações, considerando a necessária inclusão digital e o fenômeno da
convergência sobre a realidade do país.

Convergência e mercado das comunicações


O processo de digitalização de meios e conteúdos permitiu uma serie de inovações
tecnológicas e converteu-se em fator importante na condução da mudança no
mercado das comunicações. Ao mesmo tempo em que reduziu custos permitindo
acesso a maiores faixas da sociedade, aumentou a capacidade das redes para suportar
novos serviços e aplicações. Neste cenário de evolução e inovação tecnológicas,
há que se ampliar a visão além da atividade de telecomunicações dentro. A partir
de desenvolvimentos históricos diferentes, o audiovisual, as telecomunicações e
a informática atualmente têm as suas delimitações tradicionais cada vez menos
nítidas. Inicialmente, a evolução das tecnologias de telecomunicações juntamente
com a informática tratou de aproximar essas duas atividades. O caminho para a
convergência foi inicialmente liderado pela crescente digitalização dos conteúdos,
a utilização de redes IP, difusão do acesso em banda larga de alta velocidade e a
disponibilidade de comunicação multimídia em dispositivos de computação. Mais
recentemente, com avanço da digitalização dos conteúdos, o setor audiovisual e
grande parte das indústrias criativas, segundo conceituação de Jaguaribe (2006),
foram arrastados para esse processo evolutivo denominado de convergência.
A convergência tecnológica compreende diferentes aspectos e níveis
fundamentais: i) a convergência de rede – impulsionada pela mudança para redes
de banda larga baseadas em IP, aí incluída a “convergência de três telas” (TV,
celular e computador); ii) a convergência de serviços – decorrente da convergência
de redes e do aparecimento de equipamentos inovadores que permitem o acesso
a aplicações e serviços novos e tradicionais que se integram gerando valor
agregado; iii) a convergência da indústria/mercado – que reúne no mesmo campo
indústrias como as de tecnologia da informação, telecomunicações e audiovisuais,
as quais anteriormente operavam em mercados distintos; iv) a convergência
regulatória, legislativa e institucional – que decorre na necessidade de regulação
e monitoramento da convergência ocorridas nos níveis já tratados e da necessária
regulamentação que trate conteúdos e/ou serviços de forma independente das
redes sobre as quais eles são fornecidos (regulação tecnologicamente neutra).
63
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

O advento da internet contribuiu fortemente para a evolução tecnológica do


armazenamento, do tratamento e da transmissão de conteúdo no formato digital,
possibilitando a rápida evolução de produtos e serviços. Neste cenário instante
em que geração e transmissão de informações puderam ser realizadas entre meios
de comunicação e equipamentos de uma e outra atividades, não é mais possível
tratá-los isolada ou mesmo separadamente. Não há mais critérios técnicos e
econômicos que impeçam uma operadora de telecomunicações, incluindo banda
larga, de gerar conteúdo e transmiti-lo em sua rede. Também não há obstáculos
técnicos e econômicos para que uma geradora de conteúdo televisivo, incluindo
conteúdo multimídia na internet, possa fornecer serviços de comunicações,
como por exemplo, telefone fixo. Esta é a realidade da convergência funcional
dos diferentes serviços existentes ou até mesmo da geração de novos serviços que
se utiliza da integração física e tecnológica dos meios e equipamentos.
É evidente que esses eventos geraram novas oportunidades e demandas
econômicas, que possibilitam sinergias entre organizações e a criação de novas
organizações concentradas nesse novo ambiente de negócios. Exemplos desses
movimentos são: a exploração de TV digital, o VOD – Video On Demand (vídeo
sob demanda), livros sob demanda, música on-line, serviços financeiros nas redes
telefônicas, etc. Essa convergência corporativa está se produzindo, em alguns
casos, de maneira evolutiva e, em outros, por meio de rupturas. Em alguns países,
isso ocorre à margem do espaço regulatório, enquanto em outros um novo marco
regulatório beneficia o cidadão e lhe confere o beneficio da inclusão digital,
controlando a avidez natural das organizações econômicas. Em todos os casos,
as atividades envolvidas no processo têm expressiva participação no contexto
econômico desses países.
Esses diversos níveis e aspectos, inerentes ao processo da convergência como
um todo, amplificam o grau de complexidade das atividades de regulação em
relação às atividades envolvidas. Isso ocorre em função de envolver pelo menos
três distintos regimes regulatórios, com bases conceituais e trajetórias históricas
diversas. As legislações de propriedade intelectual e direito autoral perpassam
os segmentos audiovisual e de tecnologias da informação, mas também estão
presentes nos serviços de telecomunicações. O regime da regulação direta,
normalmente associada às telecomunicações, também começa a valer para os
segmentos audiovisual e de tecnologias da informação, na medida em que eles
passem a operar em nichos de mercados antes ocupados somente por prestadoras
de telecomunicações. Finalmente, aplicam-se também a todo esse grupo de
atividades as normas de proteção à concorrência, previstas na lei antitruste.
Portanto, neste contexto de convergência, é necessária a articulação de políticas
regulatórias entre, no mínimo, três diferentes entidades: o Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (Inpi), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e

64
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

o Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico (Cade).

Produtividade, crescimento econômico e falhas de mercado


Pelo aspecto social, a atual dinâmica de difusão da banda larga levou à existência
de uma segregação digital, gerada pela distância do conhecimento das ferramentas,
infraestrutura disponível ou capacidade econômica entre uma grande parcela da
população que não pode sequer experimentar o serviço e a outra parte que tem, de
fato, a opção de usufruir dele. Além dessas questões relativas à equidade, existem
pelo menos dois outros fatores que podem justificar os incentivos governamentais
para a expansão da banda larga. O primeiro trata da produtividade e o crescimento
econômico que surge a partir da banda larga. O segundo relaciona-se com as
falhas de mercado. Estes dois assuntos serão adiante explorados com maior grau
de detalhe.
O impacto da banda larga na produtividade e no crescimento econômico
Alguns autores afirmam que as TICs estão no centro das principais transformações
sociais e econômicas, pelas quais o mundo tem passado nos últimos 25 anos. A
globalização, por exemplo, considerada uma tendência fundamental da economia
do século XXI, tornou-se possível apenas por causa das TICs, que proporcionam
integração mais próxima e ampla para mercados de produtos, serviços, trabalho e
finanças. Além disso, essas tecnologias são responsáveis por remodelar processos
internos de organizações e reduzir custos de transação. Algumas razões suportam
essas capacidades: preços declinantes, desempenho crescente e melhoria na
usabilidade. Esses fatores permitem que as empresas rearranjem a sua demanda
por insumos, trabalhadores e capital.
Por seus extensos e profundos efeitos na economia, as TICs são classificadas
como tecnologias de uso geral. Esse tipo de tecnologia possui algumas características
em comum: seu uso é amplo e irrestrito; seu preço e desempenho melhoram ao
longo do tempo; e, mais importante, facilita a introdução de produtos, processos
e modelos de negócios inovadores. Uma vez que tais indústrias, baseadas no
desenvolvimento de novas tecnologias, aumentam o nível de produtividade e
inovação, elas devem ser apoiadas por políticas públicas, tais como aumento do
financiamento à pesquisa, adoção de aplicativos e serviços eletrônicos por parte
dos governos, estímulo à educação para gerar trabalhadores mais qualificados e
incentivos à implantação de infraestrutura para banda larga.
Outros benefícios das TICs podem ser observados nas Metas de
Desenvolvimento do Milênio, especialmente naquelas relacionadas a saúde,
educação e promoção da igualdade de gênero. Os efeitos econômicos causados
por TICs também incluem aumento de riqueza e a facilitação da mobilidade

65
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

social e progresso econômico, resultantes dos ganhos de produtividade ligados ao


desenvolvimento e implantação das TICs. Além disso, as TICs permitem diversos
outros desdobramentos: a criação de comércio por meio de menores custos,
melhor informação e leque expandido de produtos; aumento das oportunidades
de emprego, por meio de investimento direto e mudanças estruturais;
flexibilização das condições de trabalho, com alteração de horários, localização e
práticas laborais alternativas, contribuindo para reduzir o congestionamento de
tráfego de veículos e poluição urbana; e, finalmente, a criação de novos modelos
de negócios.
Apesar de os efeitos na produtividade serem difíceis de serem mensurados,
por causa de dificuldades metodológicas e da falta de dados estatísticos adequados,
existem evidências que indicam uma correlação positiva entre a adoção das TICs
e o crescimento econômico. Um estudo do Banco Mundial já amplamente
discutido, preparado por Qiang (2009), argumenta que os investimentos no setor
de telecomunicações têm efeitos positivos no curto e no longo prazos. A geração
de empregos e o aumento na demanda agregada são consequências imediatas dos
pacotes de estímulo econômico lançados por vários países desenvolvidos. Para
o longo prazo, o estudo aponta que diversas análises empíricas mostraram uma
conexão importante entre infraestrutura de telefonia e crescimento econômico. A
influência das redes de telecomunicações sobre o crescimento econômico é maior
em países em desenvolvimento e também é mais intensa na adoção da banda
larga do que no uso da telefonia ou internet. Finalmente, o estudo do Banco
Mundial sugere que os recursos públicos devem ser usados para proporcionar
investimentos tempestivos em infraestrutura para banda larga, que podem
trazer externalidades de rede e efeitos de transbordamentos, que melhoram a
produtividade de toda a econômica. Um estudo do Ipea conduzido por Macedo
e Carvalho (2010) revelou que os efeitos da penetração da banda larga sobre o
crescimento econômico pode ser até mais alto que os já mencionados. Numa
abordagem neoclássica, a produtividade total dos fatores em mercadorias com
o uso de TICs tende a ser mais intensa, embora a aplicação dessas tecnologias
reforce o uso de capital e eleve a produtividade do trabalho.
Falhas de mercado
A infraestrutura de telecomunicações é geralmente retratada como uma típica
indústria de rede, que tem basicamente três características: infraestrutura baseada
em rede, o que gera externalidades de rede; instalações essenciais, formada
por recursos que não podem ser duplicados; e economias de escala e escopo,
com elevados custos fixos e baixos custos marginais. Não obstante ter havido
o aparecimento de competição entre plataformas e tecnologias e, portanto, ter
enfraquecido a segunda característica, existem elementos que não podem ser
duplicados, como o espectro de radiofrequência, e outros que, embora passíveis

66
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

de replicação, a sua reprodução é impedida ou dificultada por diversos fatores


legais, técnicos e econômicos, como é o caso de construção de torres e dutos.
Por suas peculiaridades, a indústria de telecomunicações está sujeita a
diversas falhas de mercado. Entre as mais relevantes, pode-se citar a existência
de poder de mercado, a presença de externalidades, o dilema dos investimentos
interdependentes e a ocorrência de informação assimétrica. Com respeito ao
poder de mercado, as operadoras dominantes têm diversas vantagens quando
comparadas a novos competidores: controle da infraestrutura existente, integração
vertical, subsídios cruzados e inércia do consumidor. Consequentemente, elas
adotam comportamentos estratégicos para aumentar o seu lucro, por meio de
práticas como negação de acesso à infraestrutura de redes a seus competidores,
provimento de serviços aos competidores em bases discriminatórias, colocação de
preços predatórios em serviços onde existe competição usando subsídios cruzados
e administração de custos para fidelização de seus usuários.
Atinentes à segunda falha são as externalidades de produção, consumidor
e rede. As primeiras aparecem nas questões relacionadas à produtividade;
redistribuição da renda, riqueza e poder; segurança nacional; e ambiente. As
externalidades do consumidor resultam do menor congestionamento de tráfego
devido ao trabalho a distância, ou teletrabalho. Finalmente, as externalidades de
rede surgem quando a utilidade de um único consumidor da rede depende do
número total de seus membros. Em outras palavras, quanto maior o número
de consumidores na rede, maior a utilidade percebida por cada um deles. Logo,
encoraja-se uma intervenção governamental quando esses efeitos não podem ser
internalizados pelas próprias forças de mercado.
A terceira falha pode ser descrita como o dilema dos investimentos
interdependentes, uma situação relacionada à falta de coordenação entre o
lançamento da infraestrutura e a provisão dos serviços. Se a infraestrutura e os
serviços são prestados por diferentes entidades, cada uma tem uma forte e mútua
dependência com a decisão da outra. Por conseguinte, os investimentos nessa
situação podem ser paralisados ou retardados.
Por fim, a ocorrência de informações assimétricas, a quarta falha de mercado,
acontece durante a introdução de novos produtos e serviços de telecomunicações.
Até que o consumidor tenha experimentado o novo item, ele não saberá qual a
sua utilidade real. Esta atitude leva a uma situação em que a eficiência dinâmica
da economia fica abaixo da ótima possível.

67
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

Políticas públicas para implantação de infraestrutura de


telecomunicações
Proposto inicialmente por Navas-Sabater, Dymond and Juntunen (2002), o modelo
do Banco Mundial para análise das políticas aplicáveis às telecomunicações define
dois tipos de lacunas entre o nível ideal de acesso aos serviços de telecomunicações
e a situação observada. O primeiro é chamado de lacuna de eficiência de mercado
(market efficency gap) e corresponde à diferença entre o nível atual de densidade
do serviço e aquele que poderia ser alcançado em um mercado competitivo,
sob um regime regulatório estável e eficiente. A lacuna de acesso (access gap) é
representada por situações em que alguns grupos da população não conseguem
ter acesso aos serviços, devido aos altos preços ou baixo nível de renda. Portanto,
para tornar os serviços de telecomunicações disponíveis aos grupos situados
dentro da lacuna de acesso, deve ser considerado o uso de subsídios públicos. A
Figura 1 retrata esquematicamente as explicações anteriores.

Figura 1 – Modelo de lacunas de eficiência de mercado e acesso

"
Áreas de alto custo

Acesso universal

Fronteira de
acessibilidade
Gap de
acesso

Alcance e acesso Gap de


Áreas de baixo custo

atual da rede mercado

Acesso
universal

Domicílios de alta renda D omicílios de baixa renda

Fonte: Banco Mundial (adaptado)

Existe um amplo leque de alternativas para políticas públicas que os


governos devem considerar para melhorar a densidade do acesso em banda larga,
que podem ser classificadas em três grupos de instrumentos. O primeiro refere-
se diretamente ao domínio da regulação. O segundo conjunto inclui variadas
possibilidades para reduzir o custo do investimento privado, complementando-o
ou substituindo-o em áreas pouco atrativas, ou para ajudar na coordenação de

68
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

múltiplos investidores. O terceiro grupo envolve medidas direcionadas para o


crescimento no nível geral da procura por acesso em banda larga, seja estimulando
a demanda de consumidores e empresas, seja expandindo a demanda de natureza
pública.
Podem-se citar múltiplas iniciativas adotadas por governos locais e centrais
ao redor do mundo e que podem ser enquadradas na classificação acima.
Algumas delas são: estímulo à competição no mercado de telecomunicações, em
particular no nível do acesso local; agregação da demanda pública por serviços
de banda larga; redefinição das obrigações de universalização para incluir
serviços de banda larga; suporte financeiro aos municípios; suporte financeiro
aos usuários finais; propriedade da infraestrutura de banda larga pelo governo;
parcerias público-privadas; estímulos à demanda; coordenação das obras civis
necessárias à implantação de conexões em banda larga; adoção de obrigações
de compartilhamento em relação aos dutos de fibra ótica recém-construídos;
programas de mapeamento territorial; promoção de padrões tecnológicos
específicos; simplificação de processos administrativos; políticas de gerenciamento
e racionalização de uso do espectro de frequências; e políticas industriais.
Há algumas vantagens na adoção destas políticas. Por exemplo, em certas
áreas geográficas, existe pouco incentivo financeiro para as empresas investirem
no provimento de acesso em banda larga para consumidores residenciais, pois
os custos são altos em relação às receitas. Além disso, se o governo construir e
detiver a infraestrutura, ele poderá ceder a sua capacidade excedente da sua rede
para todos os novos entrantes em bases não discriminatórias. Outra vantagem é a
possibilidade de antecipar a implantação da infraestrutura de banda larga, o que
permitiria que empregos e outras oportunidades econômicas fossem alavancados
o mais cedo possível. Por fim, as políticas asseguram que o governo aja pelo
interesse público, tomando decisões sobre o potencial do serviço de banda larga,
mesmo que ainda não exista demanda efetiva.
Também as desvantagens devem ser mencionadas. Como o desenvolvimento
da infraestrutura da banda larga ainda está em estágio inicial, não fica claro em
quais áreas geográficas o serviço não seria viável comercialmente. Ademais, existe
uma falta de coordenação entre as atividades regulatórias e os formuladores de
políticas públicas, bem como entre diferentes níveis de governo. Outro problema
é que as redes governamentais podem resultar na recriação de monopólios locais,
com implicações negativas sobre a inovação na indústria e eficiência. Finalmente,
o investimento em infraestrutura de redes é mais difícil de ser justificado, exceto
em circunstâncias excepcionais.
A regulação é necessária para lidar com problemas relacionados à implantação
de infraestrutura de telecomunicações, mas é necessária uma abordagem
abrangente para tratar o tema. O modelo de Fiani (1999) para análise do contexto
69
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

regulatório é constituído por seis elementos fundamentais: 1) a firma regulada


(monopolista ou detentora de poder de mercado significativo); 2) a estrutura
institucional (representada por todas as entidades governamentais envolvidas na
regulação); 3) os fornecedores (englobando toda a indústria de equipamentos); 4)
os usuários (residenciais e comerciais); 5) os competidores (efetivos e potenciais);
e 6) o mercado estrangeiro (exportador de bens). Várias questões emergem a
partir do relacionamento entre os elementos desse complexo arranjo regulatório e
podem ser sintetizadas da seguinte forma: variações no ambiente político; possível
captura da agência regulatória; natureza pública ou privada da propriedade da
firma regulada; existência de grupos de pressão em disputa por poder político,
buscando influenciar a decisão do agente regulador; absorção de objetivos de
política industrial; redução de barreiras regulatórias para facilitar a entrada de
firmas especializadas, que provêm serviços inovadores ou com foco em nichos
de mercado; contrapartidas entre universalização, que requer preços mais altos,
e competitividade internacional das empresas baseadas em TICs; impacto das
políticas na balança comercial, uma vez que a modernização das redes geralmente
requer importação de equipamentos; e, finalmente, paradoxo entre preço justo,
obrigações de universalização e competição. Portanto, as atividades regulatórias
têm um escopo incrivelmente amplo e complexo no tocante às telecomunicações.
Um extenso trabalho conduzido por The Berkman Center for Internet &
Society (2010) analisou a experiência de vários países e concluiu que as políticas
de livre acesso contribuíram mais para o desenvolvimento do acesso em banda
larga do que a competição por infraestrutura. Além disso, outras lições relevantes a
partir de práticas exitosas também devem ser observadas. Primeiro, as políticas de
livre acesso e a desagregação de redes em particular tiveram um papel importante
para facilitar a entrada de novos competidores. Esse novo grau de competição
levou a mais investimentos, taxas de transmissão mais elevadas, progresso técnico,
menores preços e/ou inovação em serviços. Segundo, um regulador que, de
fato, implemente políticas de livre acesso é mais importante que a sua própria
adoção formal, uma vez que as operadoras dominantes sempre resistem a esse
tipo de política. Terceiro, os provedores de banda larga devem ter sua função de
provimento de infraestrutura regulada de forma separada à de acesso. Quarto,
as políticas de livre acesso devem ser aplicáveis também à próxima geração de
redes, particularmente à fibra ótica. Quinto, a tendência de acesso ubíquo levou
os reguladores a aceitar a integração vertical entre provedores de acessos fixos e
móveis de banda larga. Sexto, a separação funcional causou efeitos rápidos sobre
a competição, densidade, preços e velocidades, sendo crescentemente adotada
pelos países analisados para garantir o livre acesso na nova geração de redes.
Sétimo, as duas formas de competição, baseada em plataforma ou em acesso, são
complementares. Finalmente, os custos esperados para a transição para a próxima
geração de redes estão forçando empresas e países a buscar o compartilhamento
70
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

de custos, riscos e instalações, em vez de construir infraestrutura duplicada.


Duas abordagens podem ser consideradas a respeito da relação entre o
investimento em infraestrutura de telecomunicações e as atividades de regulação:
o impacto da regulação de preços sobre o investimento e os efeitos da regulação
de acesso sobre o investimento. Com relação à primeira abordagem, o arcabouço
teórico oferece algumas opções aos reguladores: taxa de retorno, preço-teto, divisão
dos lucros e participação nas receitas. O método da taxa de retorno estimula a
implantação de nova infraestrutura, uma vez que o risco é diluído, enquanto o
esquema de preço-teto promove incentivos à eficiência, entendida como redução
de custos. As outras duas formas são usadas menos frequentemente. Quanto à
regulação do acesso, o tema é controverso. A teoria da escada de investimentos
afirma que os elementos de rede devem ser obrigatoriamente compartilhados
com os entrantes. De acordo com ela, novos competidores poderão participar do
mercado utilizando a capacidade dos operadores dominantes, até que reúnam as
condições para construir suas próprias redes. No entanto, outras teorias alegam
que a desagregação de redes obrigatória pode desencorajar o investimento das
firmas, tanto das dominantes, quanto das entrantes.

Panorama dos serviços de informação e comunicação no Brasil


A fim de ilustrar o referencial teórico referido anteriormente, serão apresentados
alguns indicadores econômicos do grupo de atividades de informação e
comunicação. Em seguida, será exposto um estudo de caso a respeito da situação
da banda larga no Brasil, no qual serão abordados temas como: a posição do
país no cenário internacional; a distribuição do serviço de banda larga, segundo
classes sociais e regiões geográficas; a estrutura do mercado e as principais
empresas participantes; os preços cobrados pelos serviços, de acordo com as
regiões geográficas; e a evolução dos serviços de comunicação móvel no Brasil,
que podem se colocar como um substituto importante para algumas aplicações
dos serviços de acesso em banda larga.
Mercado de serviços de informação e comunicação
A participação do grupo de atividades denominado “serviços de informação
e comunicação”, definido pela composição das atividades inseridas no processo
da convergência, é bastante relevante em relação ao conjunto dos serviços não-
financeiros no Brasil. A parcela da receita líquida operacional oriunda desses
serviços situa-se em patamar superior a um terço do total. A Figura 2 apresenta
os dados da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2008 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) sobre a distribuição da receita operacional líquida,
por grupos de atividade.

71
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

Figura 2 – Participação da receita operacional líquida, por grupos de atividade – 2008

Serviços de informação e
14% comunicação

35% Transportes, serviços


auxiliares aos transportes e
21% correio
Serviços profissionais,
administrativos e
complementares
Serviços prestados às
30% famílias e outras atividades

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Preparado pelos autores.

Além de seu destaque em relação às demais atividades de serviços, as


atividades de informação e comunicação revelam suas grandes dimensões também
em valores absolutos. Conforme o Suplemento Especial da PAS 2007, o conjunto
dessas atividades teve receita operacional líquida que somou mais de R$ 150
bilhões em 2007. A Figura 3 mostra a separação da receita operacional líquida,
de acordo com os seus principais serviços.
Figura 3 – Receita operacional líquida (em bilhões de R$), por serviço prestado – 2007
Serviços de telefonia móvel 44,9

Serviços de telefonia fixa 36,4

Outros serviços de
telecomunicações por fio
7,9

Serviços ligados à internet 5,4

Outros serviços de
telecomunicações sem fio 1,7

Outros serviços
telecomunicações
3,2

Serviços de telecomunicações 99,5

Televisão aberta 10,7

Televisão por assinatura 7,0

Produção e pós-produção de
0,8
filmes, vídeos e programas

Rádio 1,2

Distribuição, comerc.,
1,1
licencenciamento e exibição

Outras atividades relacionadas


0,2
a serviços audiovisuais

Serviços audiovisuais 21,0

Software sob encomenda 8,4

Serviços de consultoria em TI 5,6

Serviços de processamento de
3,9
dados

Software não customizável 3,0

Software customizável 2,7

Gestão de serviços de TI 2,2

Outros serviços relacionados


à TI
4,1

Serviços de TI 30,0

Total TICs 150,4

Telecom Audiovisual TI Total

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Preparado pelos autores.

72
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

Dentre os serviços apresentados, os que mais tiveram incremento entre os


anos 2006 e 2007 foram o software customizável, a televisão por assinatura e os
serviços de telefonia móvel, com crescimento de 23%, 22% e 20%, respectivamente.
Destes, os dois últimos já estão diretamente envolvidos com os processos de
convergência já observáveis. Embora em escala mais limitada, o primeiro também
já apresenta alguns reflexos desses processos, pois produz elementos que suportam
os modelos de negócios das operadoras de telecomunicações e empresas de
audiovisual.
As telecomunicações ainda são o maior de todos os serviços, representando
cerca de 60% do total da receita líquida operacional. Comparando os dados da
PAS 2008 com os de anos anteriores, percebe-se que essa atividade vem mantendo
estável a sua participação ao longo tempo. A Figura 4 traz informações sobre a
participação de cada uma das atividades desse grupo.
Figura 4 – Participação da receita operacional líquida, por atividade – 2008

Telecomunicações
8%
10%
Tecnologia da
Informação

Serviços audiovisuais
22% 60%

Edição, agências de
notícias e outros
serviços

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Preparado pelos autores.

Um aspecto importante a ser considerado é o impacto que essa convergência


terá sobre a mão-de-obra nestes setores, bem como sobre suas respectivas
qualificações. Em termos de estoque de pessoal ocupado, o setor de tecnologia da
informação, que produz conteúdo e aplicações, é o mais expressivo. Trata-se de uma
atividade que deverá ser muito demandada nesse processo de convergência, uma
vez que haverá grande necessidade de aplicações novas por serem desenvolvidas e
também a adaptação de aplicações existentes ao novo ambiente. Por outro lado,
o setor de telecomunicações é o que tem a maior produtividade do trabalho5 ,
pois é o que também exige o maior investimento de capital. Ele deverá ser o mais
afetado, na medida em que sua atividade será a mais impactada pela convergência
tecnológica.

5 A produtividade do trabalho é definida como o valor adicionado dividido pelo pessoal ocupado.

73
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

A Figura 5 expõe os dados detalhados da análise anterior.


Figura 5 – Pessoal ocupado (em milhares) e produtividade do trabalho (em milhares de
R$), por atividade – 2008

367,7 374,5 Telecomunicações

Tecnologia da
Informação

136,8 Serviços
104,3 117,5 audiovisuais
94,8
68,6 70,2
Edição, agências
de notícias e outros
serviços
Pessoal ocupado Produtividade

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Preparado pelos autores.

Outra questão a ser impactada pela convergência de mercado é o numero


de empresas. A Figura 6 mostra que o número de empresas classificadas como
sendo de tecnologias de informação é muito maior que aquelas classificadas
nas demais atividades. Não se espera uma mudança significativa nesse grupo.
Já nas atividades de telecomunicações pode haver o aumento do número de
empresas, em função de mudanças no ambiente regulatório que estimulem a
competitividade e o acesso a essas tecnologias. Também há de se considerar que a
convergência poderá aumentar a indústria de serviços audiovisuais e de notícias,
nas dimensões de concepção, gestão e difusão de recursos e conteúdos.

Avaliação da situação da banda larga no Brasil


Posição internacional
Alguns dados internacionais podem ser úteis para ilustrar a fraca posição
do Brasil no tocante à difusão da banda larga, em relação à de outros países.
Usando a densidade6 do serviço de acesso fixo em banda larga como uma
primeira abordagem, percebe-se que o Brasil está muito distante da condição
vista nas economias avançadas. De acordo com dados da UIT, esse índice no
Brasil ficou em 7,5 acessos por 100 habitantes em 2009, enquanto países como
Coreia, França e Estados Unidos ostentam patamares de densidade de 33,8, 31,1
e 27,1, respectivamente, no mesmo ano. Em relação a nossos vizinhos da América
Latina, a situação parece bem menos discrepante. A Figura 7 compara a trajetória
de nove países selecionados da América Latina através dos anos. Percebe-se que,
em todos os países, os níveis de penetração do serviço ainda estão bastante aquém
dos verificados nas economias avançadas. Mesmo assim, o Brasil está apenas na

6 A densidade é normalmente representada pelo número total de terminais para cada grupo de 100 habitantes.

74
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

quarta posição na região, empatado com o Uruguai e atrás de Chile, México e


Argentina. Nessa amostra, o Brasil fica à frente apenas de Colômbia, Bolívia, Peru
e Paraguai. Embora o Brasil tenha apresentado crescimento constante do número
de usuários de banda larga desde 1999, esses dados relevam que o Brasil precisa
melhorar muito as suas políticas para o serviço se pretender alcançar pelo menos
a liderança regional.
Figura 7 – Densidade de acessos fixos em banda larga, para países selecionados da
América Latina
10

8
(terminais por 100 hab.)
Densidade

0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Ano

Chile México Argentina Brasil Uruguai Colômbia Bolívia Peru Paraguai

Fonte: União Internacional de Telecomunicações (UIT). Preparado pelos autores.

A Figura 8 apresenta uma análise com 12 países selecionados, confrontando


densidade, preço relativo e número de acessos fixos em banda larga para o ano
de 2009. Há uma clara diferença entre o grupo das economias avançadas e o
dos países em desenvolvimento. O primeiro é bastante homogêneo, tanto no
quesito de densidade, que varia entre 24 e 32, quanto na dimensão de preço
relativo, que oscila entre 0,5 e 1,4. A quantidade de acessos em banda larga varia,
mas todos os países desse grupo têm grandes mercados. Já o grupo dos países
em desenvolvimento tem densidades que se alternam entre 0,4 e 8,5, e preços
relativos que se situam num intervalo de 2 a 9. O tamanho do mercado flutua
ainda mais que no grupo dos países desenvolvidos. No entanto, o Brasil se destaca
com um número considerável de usuários: está atrás de China, Estados Unidos
e Japão, mas seu mercado atual em termos absolutos é equivalente ao da Coreia
e do Reino Unido. Em termos de densidade, os indicadores brasileiros são entre
três e sete vezes menores que os do grupo dos países desenvolvidos. Já em termos
de preços, o acesso da banda larga no Brasil custa entre cinco e dez vezes mais caro
que nas economias avançadas.

75
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

Figura 8 – Densidade, preço relativo e número de acessos fixos em banda larga, para
países selecionados – 2009
35 KOR
UK
30

(terminais por 100 hab.)


25
JAP
Densidade
20
US
15
CHN
10 MEX ARG CHL
URU BRA
COL
5
IND
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Preço relativo
(preço m ensal por renda per capita )

Fonte: União Internacional de Telecomunicações (UIT). Preparado pelos autores.

Densidade
O Brasil é um país com dimensões continentais e uma população de quase
190 milhões de pessoas, marcado por fortes desigualdades no âmbito social e
regional. Essas características também se refletem na distribuição dos serviços
de banda larga. A Tabela 1 apresenta o percentual de domicílios com acesso
fixo em banda larga, por nível de renda domiciliar mensal e região geográfica.
Alguns dados da tabela merecem ser destacados. Primeiro, a capacidade de
usufruir o serviço está positivamente correlacionada com a renda domiciliar,
sendo severamente afetada por ela. Segundo, as três regiões com maior PIB per
capita têm densidade similar, em torno de 25%. Finalmente, as regiões Norte e
Nordeste, que possuem densidades demográficas mais baixas e, portanto, custos
mais elevados para implantação de infraestrutura de telecomunicações, têm
índices de acesso à banda larga piores em todas as classes de renda.
Tabela 1 – Percentual de domicílios com acesso fixo em banda larga fixa, por nível de
renda domiciliar mensal e região geográfica – 2008

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Preparado pelos autores.

76
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

Conclusões similares podem ser extraídas da análise da Tabela 2, que expõe


a penetração do acesso em banda larga em áreas urbanas e rurais. Novamente, as
áreas mais lucrativas (centros urbanos nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste)
têm melhores índices de densidade do que as áreas rurais, de maneira geral, ou as
áreas urbanas em regiões mais pobres. Uma vez mais, as áreas rurais do Norte e
Nordeste estão em situação muito pior que as outras três regiões brasileiras.

Tabela 2 – Percentual de domicílios com acesso fixo em banda larga fixa, por áreas urbana
e rural – 2008

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Preparado pelos autores.

Outro exemplo de falha de mercado refere-se à difusão do próprio serviço e


pode ser observado na Figura 9. Em estudo anterior do Ipea (2010), verificou-se
que, ao final do terceiro trimestre de 2009, as operadoras ofereciam acesso em
banda larga em menos da metade dos municípios brasileiros.
Figura 9 – Número e percentual de domicílios, por disponibilidade de acesso em banda
larga – 2009

2593
2972 47%
53%

Disponível Não disponível

Fonte: Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Preparado pelos autores.

77
Estrutura de mercado
A Anatel contabiliza que existem mais de 1.600 provedores de internet
registrados regularmente no Brasil. Outras fontes indicam que existe uma
quantidade, no mínimo, equivalente a essa no mercado informal. Apesar desses
fatos, a Figura 10 retrata que apenas cinco operadoras controlam mais de 90%
do mercado total de acessos fixos de banda larga. Oi, Telefonica e CTBC são
também concessionárias de telefonia fixa, enquanto Net e GVT – a primeira
controlada pelo grupo Telmex e a segunda originalmente com capital israelense,
agora controlada pelo grupo francês Vivendi – são as principais competidoras. Oi,
Telefonica, GVT e CTBC baseiam-se na tecnologia de acesso DSL7 , transmitindo
dados por meio de cabos de par metálico. Por outro lado, Net utiliza a tecnologia
de cabo coaxial, já que é originalmente uma prestadora de TV a cabo. Quando se
considera a participação de mercado de cada empresa em relação a esse serviço,
parece haver certo grau de competição entre as três principais empresas.

7%
2%
6%
Oi
36% Net
Telefonica
24% GVT
CTBC
Outras

25%

Figura 10 – Participação de mercado dos provedores de banda larga fixa – março de 2010
Fonte: Teleco. Preparado pelos autores.

Apesar disso, Oi, Telefonica e CTBC operam em regiões distintas. Juntas,


eles dominam 61,8% do mercado. A competição baseada em serviços (livre acesso
ou desagregação de redes) ainda não foi implementada no Brasil, e a competição
por plataformas está restrita a algumas poucas cidades. De acordo com dados da
Anatel, em março de 2010 os operadores de TV por MMDS8 ofereciam serviços
em 207 cidades, e os prestadores de TV a cabo em apenas 149. A GVT informa que
está presente em 91 cidades em todo o território brasileiro. Quando comparado
ao total de 5.565 municípios em que está definida a organização política do país,
esses números apontam para um nível insuficiente de competição nesse mercado.
Em nível local, as estatísticas mostram uma intensa concentração, medida pela
participação de mercado do principal provedor da respectiva área, formalmente
7 Digital Subscriber Line
8 Multichannel Mutipoint Distribution System

78
descrita como a relação de concentração de uma firma (CR1). Em síntese, em
quase 80% dos municípios brasileiros, o principal provedor tem participação
de mercado acima de 90%. Em mais de 90% dos municípios, essa participação
supera 70%, e praticamente em todos os municípios a participação do principal
provedor fica acima de 50%. Esses dados, apresentados por região geográfica,
estão expostos na Tabela 3.
Tabela 3 – Percentual de municípios com CR1 acima do limiar indicado – setembro de
2009

Fonte: Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Preparado pelos autores.

Preços
A Tabela 4 traz os preços médios mensais para acesso fixo em banda larga nas
capitais de estado, por região geográfica. Os dados foram coletados dos portais de
internet dos três principais provedores de banda larga no Brasil. A tabela também
expõe ponderações dos preços quanto às taxas de transmissão oferecidas pelos
provedores e à renda per capita da região. O resultado confirma que os preços são
mais baixos nas regiões mais ricas e mais densamente povoadas. Uma razão para
isso é a existência de maior grau de competição nessas regiões.

79
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

Tabela 4 – Preço mensal médio nas capitais de estado, por região geográfica – junho de
2010

Fonte: Extraído dos portais de internet dos três principais provedores de banda larga. Preparado pelos
autores.

Comunicações móveis
O uso da telefonia móvel passou indubitavelmente por um acréscimo
significativo no Brasil durante os últimos anos. Na Tabela 5, dois indicadores
demonstram a magnitude desse crescimento. No período de uma década, os
acessos móveis foram multiplicados por 12, e a densidade subiu quase 10 vezes.
Ao final de 2008, a densidade da telefonia móvel já se aproximava do nível de
80 acessos por 100 habitantes. Apesar disso, o acesso ao serviço não se tornou
tão difundido quanto se poderia inferir dessas estatísticas. De fato, a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2008 do IBGE destacou que,
naquele ano, apenas 86,4 milhões de pessoas tinham um telefone móvel pessoal.
Isso corresponde a uma densidade efetiva de 46,0, o que está bem distante
das avaliações feitas pela Anatel. Várias razões explicam essa enorme diferença.
Primeiro, os operadores tendem a superestimar o número efetivo de telefones pré-
pagos na sua rede e, portanto, um número desconhecido de linhas móveis não
está realmente em uso. Segundo, os acessos móveis são empregados em um grande
conjunto de aplicações: ramais corporativos, rastreamento de veículos, terminais
para cartões de crédito, etc. Essas linhas também são contadas como acessos, mas
não estão de fato expandindo a base de assinantes. Terceiro, executivos de alto
escalão e outros usuários de tráfego intenso também tendem a ter duas linhas:
uma para uso em serviço e outra para uso pessoal. Por fim, taxas elevadas para
terminação de chamadas levaram a uma situação em que os operadores tendem
a promover o tráfego interno à sua rede, geralmente oferecendo descontos
expressivos ou grandes pacotes de minutos grátis para chamadas internas. Em
80
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

contrapartida, o tráfego para outros operadores é tarifado pesadamente. Os


usuários, por sua vez, se adaptaram a esse cenário, fazendo assinatura de linhas de
mais de um provedor. Isso também explica por que os aparelhos móveis com dois
e até mesmo três chips tiveram uma aceitação tão grande em todo o país. Logo,
fica claro que uma grande parcela da população ainda não consegue usufruir dos
serviços de telefonia móvel no Brasil, pois os seus preços ainda estão entre os mais
altos do mundo.
Tabela 5 – Número de terminais móveis e densidade da telefonia móvel no Brasil

Fonte: Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Preparado pelos autores.

Com respeito à banda larga móvel, parece que o quadro anteriormente


mencionado não mudará no curto prazo. As bandas de frequências para a terceira
geração de serviços móveis (3G) foram leiloadas no fim de 2007. O processo de

81
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

licitação resultou num excelente negócio para o governo, que arrecadou cerca de
R$ 5 bilhões. No entanto, no nível do consumidor, esse tipo de investimento tende
a aumentar os custos do serviço e direcionar a banda larga móvel para as classes
de renda mais alta. Para reduzir esses efeitos, o modelo de licitação exigiu que os
provedores de 3G cumpram com obrigações de cobertura. Em resumo, a Anatel
impôs o seguinte: i) em 5 anos, todas as cidades com mais de 100.000 habitantes
e metade das cidades com mais de 30.000 habitantes precisam ter cobertura; ii)
em 8 anos, 60% das cidades com menos de 30.000 habitantes devem receber
o serviço. Em relação a essas exigências, uma cidade será considerada atendida
se os serviços de banda larga móvel estiverem disponíveis em mais de 80% da
respectiva área urbana. Seguindo essas condições, apenas dois terços da população
do país terão o serviço de banda larga móvel disponível no ano de 2016.
Durante o ano de 2008, começou a implantação dos serviços de 3G. No
fim de 2009, a Anatel informou que já havia mais de 8,7 milhões de linhas que
contemplavam tecnologias de transmissão de dados, com a maior parcela alocada
para o W-CDMA9 . Apesar de a difusão inicial do serviço ter sido mais rápida
que o imaginado por reguladores e operadoras, o crescimento futuro dependerá
não somente dos preços dos equipamentos 3G, que ainda estão muito altos,
mas também do preço e qualidade dos planos de serviços. A competição nesse
mercado ainda é limitada, devido a dois fatores: ainda resta uma licença de 3G
para ser licitada, e a tecnologia WiMax10 ainda não foi aprovada pela Anatel para
uso em terminais móveis.

Considerações finais
São dois os desafios trazidos pela convergência e que devem enfrentados pelas
ações do governo. A primeira questão refere-se ao hiato digital. Na sociedade
brasileira, marcada por fortes desníveis sociais, econômicos e culturais, a inclusão
digital deve ser colocada como estratégia para diminuir essas desigualdades. Assim,
a interferência do governo é fundamental para sinalizar aos agentes de mercado
que não restrinjam seu atendimento às classes de maior renda e aproveitem
as economias de escala para democratização das oportunidades geradas pela
convergência. Dessa forma, as políticas públicas têm a missão de asseverar a
justiça social e a possibilidade de utilização da tecnologia em todos os rincões do
país, sendo necessária a definição de objetivos claros de fomento ao setor, voltados
sobretudo à população de renda mais baixa.
Vale a pena comparar o caso brasileiro com as soluções encontradas em países
do Sudeste Asiático, onde os mercados de serviços de telecomunicações são muito
9 A tecnologia Wideband Code Division Multiple Access (W-CDMA) foi escolhida por todos os provedores
de 3G no Brasil.
10 Worldwide Interoperability for Microwave Access

82
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

competitivos e o processo de convergência já está em franco desenvolvimento.


Mesmo com preços baixos – variando entre US$ 2 e US$ 5 por mês – e margens
muito estreitas, o modelo de negócios se tornou viável. Entre outros fatores,
isso foi conseguido pela combinação de ausência de risco de crédito, qualidade
limitada dos serviços e alta taxa de utilização da rede. Devido ao sucesso desses
modelos, essa é opção dos asiáticos em relação às políticas de universalização do
serviço de acesso à internet em banda larga: encontrar novas formas de aumentar
a competição no setor.
O segundo desafio está relacionado à regulação de segmentos econômicos tão
distintos como a prestação de serviços de telecomunicações, a criação de conteúdos
audiovisuais e a produção de aplicativos de tecnologias da informação. Embora
esses segmentos estejam gradualmente convergindo e se transformando para
formar uma única indústria no futuro, as suas distintas origens geraram diferentes
arcabouços regulatórios. Portanto, neste novo ambiente, o papel do Estado deve
ir além da tradicional regulação econômica e tecnológica. É essencial articular as
variantes regulatórias hoje existentes para assegurar diversidade, concorrência e
atratividade ao novo arranjo mercadológico que se instalará. Assim, duas questões
se interpõem. Primeiro, como garantir diversidade e concorrência e, ao mesmo
tempo, garantir acesso aos serviços convergentes em todos os níveis da sociedade
e em todas as regiões do país? E, segundo, quais são os mecanismos para tratar
a possível transnacionalização de parte de nossa indústria geradora de conteúdo,
considerando que esse processo ocorreu nos setores de telecomunicações e de
informática?
Em uma sociedade multicultural como a nossa, e agora multimídia, a
defesa do pluralismo e da diversificação tanto de fontes de informação quanto de
conteúdo parece ser o caminho para evitar a homogeneidade cultural. As políticas
públicas de regulação econômica dos mercados de comunicações devem assegurar
que os potenciais benefícios dessas tecnologias convergentes possam se difundir
rapidamente na economia, bem como fomentar a heterogeneidade cultural típica
da diversidade deste país. Para tanto, a convergência, alterando os limites e as
características dos serviços, exigirá que os novos mercados sejam regulados de
forma diferente dos existentes.

Referências Bibliográficas
Fiani, R. (1999). ‘Uma abordagem abrangente da regulação de monopólios:
exercício preliminar aplicado a Telecomunicações’. Planejamento e políticas
públicas, 19, 189-218.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010). Análise e recomendações
para as políticas públicas de massificação de acesso à internet em banda larga.
83
Efeitos da convergência sobre a aplicação de políticas públicas para fomento dos serviços de
informação e comunicação

Comunicado do Ipea nº 46. Brasília: o mesmo.


Jaguaribe, A. (2010). Indústrias criativas. Disponível em http://portalliteral.
terra.com.br, acessado em 03/11/2010.
Macedo, H. & Carvalho, A. (2010). Serviço de acesso à internet em banda
larga e seu possível impacto econômico: análise através de sistema de equações
simultâneas de oferta e demanda. Texto para discussão nº 1495. Brasília: Ipea.
Navas-Sabater, J.; Dymond, A. & Juntunen, N. (2002). Telecommunications
and Information Services for the Poor. Washington, DC: World Bank.
Qiang, C. (2009). Broadband infrastructure investment in stimulus packages:
relevance for developing countries. Washington: World Bank.
The Berkman Center for internet & Society (2010). Next generation
connectivity: a review of broadband transitions and policy around the world.
Cambridge: Harvard University.

84
CAPÍTULO 3

Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações1

Fernanda De Negri2
Leonardo Costa Ribeiro 3
Introdução
O setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) é um dos setores mais
intensivos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e um dos maiores responsáveis
pelos investimentos mundiais em P&D. Na economia norte-americana, por
exemplo, cerca de 35% dos investimentos privados em P&D são feitos por
empresas dos setores de TICs (tabela 1).
Recentemente, um estudo realizado pela Comissão Europeia (Lindmark et
al., 2008) mostrou que grande parte da distância existente entre Estados Unidos
e Europa em termos de investimentos privados em P&D se deve ao setor de
TICs4. O setor privado norte-americano investe 1,88% do produto interno bruto
(PIB) em P&D, contra 1,19% do setor privado europeu. No setor de TICs, estes
investimentos são de 0,65% do PIB nos EUA e 0,31% na Europa (tabela 1).

Tabela 1 – Investimentos privados em P&D como proporção do PIB: Europa, Estados Unidos e Brasil (%)

Fonte: Lindmark et al. (2008) e, para o Brasil, Ministério da Ciência e Tecnologia (indicadores disponíveis
em: <http://www.mct.gov.br>) e Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (PINTEC/IBGE) de 2005.

Não por acaso, o sétimo programa marco de P&D europeu5, que é o


principal instrumento da Comunidade Europeia para o financiamento à pesquisa
na Europa, entre 2007 e 2013, deu ênfase significativa para o setor de TICs. Este
1 O presente artigo foi publicado inicialmente no Boletim Radar no. 10, edição especial sobre Telecomuni-
cações.
2 Diretora-adjunta da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Produção e Infraestrutura (Diset)
do Ipea.
3 Analista do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro)
4 Incluindo-se equipamentos, componentes e serviços de informática; equipamentos e serviços de telecomuni-
cações; equipamentos de multimídia; e instrumentos de medição e controle
5. Ver: <http://cordis.europa.eu/fp7/home_es.html>.

85
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

programa alocou €9 bilhões dos pouco mais de €50 bilhões previstos no plano
para investimentos em pesquisas na área de TICs; é o maior montante previsto
para um único setor do programa6.
No caso brasileiro, as diferenças – em termos de recursos alocados em P&D
– em relação aos EUA e à Europa são ainda mais marcantes. O setor privado
brasileiro investe, segundo dados de 2008 do Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), cerca de 0,5% do PIB em P&D, entre os quais apenas 20%, ou 0,1% do
PIB, são realizados pelos setores de TICs.
Entre os setores de TICs na Europa, os mais intensivos em P&D são o
de equipamentos de comunicação e o de software e serviços de informática.
Juntos, estes dois setores investiram quase €16 bilhões dos €31 bilhões investidos
pelos setores de TICs na Europa em 2004 (Lindmark et al., 2008). Serviços
de telecomunicações representam menos de 10% deste total, o que reflete a
tendência, observada nos últimos anos, de redução da pesquisa por parte das
operadoras de serviços e sua concentração nos fornecedores de equipamentos.
Por sua vez, as empresas brasileiras nos setores de TICs investiram, em 2005,
pouco mais de R$ 2 bilhões em P&D. Os setores que mais investiram foram os
de software e serviços de informática (pouco mais de R$ 650 milhões), e o setor
de serviços de telecomunicações (R$ 620 milhões). As empresas fabricantes de
equipamentos de comunicação ficaram na terceira posição, com investimentos de
pouco mais de R$ 550 milhões em P&D.

Patentes das líderes mundiais em equipamentos de telecomunicações:


tendências recentes7
Dado que o setor de equipamentos de telecomunicações é um dos destaques
nas TICs, em termos de investimentos em P&D, cabe perguntar quais tipos de
inovação vêm sendo desenvolvidos pelas principais empresas deste setor ao redor
do mundo. Outra questão importante tem relação com o tipo de competências
científicas que estão sendo demandadas para realizar estas inovações.
Para isso, analisam-se, neste trabalho, as patentes registradas no United
States Patent and Trademark Office (USPTO) pelas principais empresas
mundiais fabricantes de equipamentos de telecomunicações , nos anos de 1990,
1998 e 2006. Embora existam questionamentos sobre a qualidade das patentes
como indicador tecnológico, elas ainda constituem um dos poucos indicadores
comparáveis mundialmente, e o único indicador que possibilita a análise feita
neste artigo. As patentes foram, na tabela 2, agrupadas segundo a classificação de
6. Ainda assim, vale ressaltar os números apontados pelo terceiro artigo deste boletim, que mostram que os
investimentos em P&D das maiores empresas do setor de TICs superam em muito esses valores.
7. Resultados preliminares.

86
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

subdomínios tecnológicos proposta pelo Observatoire des Sciences et Techniques


(OST). A primeira análise que se pode fazer diz respeito às variações nos principais
domínios tecnológicos das patentes do setor nos últimos anos. O domínio
tecnológico de telecomunicações – que contém patentes de equipamentos de
rede, sistemas de comunicação e transmissão, antenas, radiodifusão etc. – é o
mais expressivo, representando cerca de 24% das patentes registradas pelas
empresas do setor. Entretanto, o mais interessante é verificar que outros domínios
tecnológicos são também importantes nestas patentes, e que alguns têm ganhado
espaço nos últimos anos. Componentes elétricos, ótica e semicondutores têm
perdido espaço nas patentes destas empresas nos últimos anos, sugerindo que
estes segmentos, ao contrário do que ocorria em outros períodos, não são os
que estão impulsionando a fronteira tecnológica do setor. Por sua vez, cresce a
importância da informática – que inclui computadores, memórias, periféricos
etc. – nas patentes destas empresas, especialmente entre 1990 e 1998, o que
evidencia a crescente convergência entre informática e telecomunicações e a
também crescente integração entre empresas de ambos os setores.
Tabela 2 – Participação percentual dos principais domínios tecnológicos nas patentes das empresas do
setor de fabricação de equipamentos de comunicação registradas no USPTO (1990, 1998, 2006)

Fonte: USPTO. Elaboração dos autores.

Além da análise de subdomínios tecnológicos, a partir da observação das


patentes depositadas no USPTO, é possível estudar as citações a artigos científicos
existentes em cada patente. Estes artigos foram classificados em áreas científicas, a
partir da classificação do Institute for Scientific Information (ISI). Identificando-se
a área científica do artigo citado e o subdomínio tecnológico da patente, foram
construídas matrizes de interação entre ciência e tecnologia para as empresas do
setor de telecomunicações8 . Este exercício foi feito tanto para operadores (quadro
8. A metodologia utilizada baseou-se no trabalho de Albuquerque et al. (2009) e Ribeiro et al. (2009).

87
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

1) quanto para fornecedores de equipamentos (quadro 2) e as matrizes podem


ser observadas a seguir. No eixo OST, estão os subdomínios tecnológicos das
patentes; no eixo ISI, as áreas científicas citadas9 e no eixo N, o número de vezes
em que uma determinada área científica é citada pelas patentes de determinados
domínios tecnológicos. Uma matriz mais completa significa maior interação
entre produção tecnológica e produção científica.
Quadro 1 – Matrizes de interação entre ciência e tecnologia para as empresas líderes mundiais em
serviços de telecomunicações: 1990 e 2006.

Fonte: USPTO. Elaboração dos autores.

Quadro 2 – Matrizes de interação entre ciência e tecnologia para as empresas líderes mundiais no
setor de fabricação de equipamentos de comunicação (1990 e 2006)

Fonte: USPTO. Elaboração dos autores.

O primeiro movimento importante que pode ser observado a partir dessas


9. A legenda para os domínios tecnológicos OST e áreas científicas ISI encontra-se no anexo

88
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

matrizes é a redução da interação entre ciência e tecnologia no caso das empresas


operadoras (quadro 1) em paralelo a uma maior diversificação desta interação no
caso dos fornecedores de equipamentos (quadro 2). Embora o número absoluto de
interações tenha crescido em ambos os casos, para as operadoras a diversidade de
domínios tecnológicos e de áreas científicas se reduz drasticamente, evidenciando
esta menor interação entre ciência e tecnologia.
Por um lado, isso reflete o fato, já conhecido, de que as inovações
tecnológicas no setor de telecomunicações passaram a ser realizadas muito mais
pelos fornecedores de equipamentos que pelas operadoras. Por outro lado, o que
também se pode observar a partir destes dados é que este movimento ocorre ao
mesmo tempo que a pesquisa científica vai se tornando cada vez mais importante
para as inovações dos fornecedores e cada vez menos relevante para as inovações
desenvolvidas pelas empresas operadoras. Vale ressaltar que, no conjunto da
economia, o movimento que pode ser observado é justamente o de ampliação da
interação entre ciência e tecnologia.
No caso dos fornecedores, paralelamente a um maior espalhamento das
interações entre domínios tecnológicos e áreas científicas, refletido em poucos
espaços vazios na matriz, também ocorre uma concentração dos picos de interação.
Em 1990, as principais interações observadas na matriz eram, em primeiro lugar,
entre o domínio tecnológico de telecomunicações e a área científica de engenharia
eletrônica. A seguir vinham os semicondutores com física, e semicondutores com
engenharia eletrônica; e, em quarto lugar, informática com engenharia eletrônica.
Em 2006, o principal pico de interação se deu entre informática e engenharia
eletrônica. A interação entre telecomunicações e engenharia eletrônica caiu para
o segundo lugar, enquanto informática com outras engenharias e informática com
ciência dos materiais passam a ser importantes picos de interação.
Esses números, além de reforçarem o crescimento do domínio tecnológico
de informática e a redução da importância dos semicondutores, mostram
a emergência de outras áreas científicas. A área de outras engenharias (na
qual está classificada a engenharia mecatrônica) e a ciência dos materiais, por
exemplo, passaram a ser mais relevantes na produção de inovações no setor de
telecomunicações.
A engenharia eletrônica continua a ser a área científica mais relevante para o
desenvolvimento tecnológico do setor, com praticamente 30% de todas as citações
nas patentes das empresas de telecomunicações. A área de química inorgânica
e engenharia química, assim como a área de outras engenharias (mecânica,
mecatrônica), mantém sua importância ao longo dos últimos anos (cada uma
destas duas áreas com cerca de 14% das citações feitas nas patentes). A física, por
sua vez, perde relevância, enquanto ganha importância a ciência dos materiais
como uma área emergente nas patentes das empresas de telecomunicações. Isto
89
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

sugere, provavelmente, uma ampliação das pesquisas para a utilização de materiais


diferenciados e/ou novos materiais (com maior condutividade, por exemplo) para
a fabricação de equipamentos eletrônicos e de comunicação10 .

Considerações finais
Mais que chegar a conclusões definitivas, este trabalho pretendeu levantar questões
que contribuam para que se possa avaliar as oportunidades e, especialmente, os
grandes desafios para o setor de telecomunicações no Brasil.
O setor de TICs é um dos mais dinâmicos em termos de inovações
tecnológicas em âmbito mundial. Os investimentos em P&D pelos grandes
players são extremamente significativos: sete das 20 maiores empresas inversoras
em P&D no mundo pertencem ao setor. No Brasil, apesar de ser um dos mais
inovadores em comparação com o conjunto da indústria brasileira, o setor de
TICs investiu, em 2005, o equivalente a 0,1% do PIB (seção 1). Isto é muito
pouco em comparação com países mais competitivos neste setor, embora seja
maior que Portugal (0,05% do PIB) e Espanha (0,08%)11 , países conhecidos do
Brasil no setor de telecomunicações.
Além disso, no Brasil, ao contrário do que se observa nos países desenvolvidos,
o segmento de serviços de telecomunicações continua sendo um dos que mais
investem em P&D no conjunto das TICs. Enquanto isso, a tendência mundial tem
sido, há vários anos, de ampliação dos investimentos em P&D dos fornecedores
de equipamentos de comunicação, além, é claro, de crescimento da importância
de setores de software e serviços de informática. Entretanto, o que explica esta
diferença de posicionamento brasileiro pode não ser, necessariamente, a pujança
tecnológica do país em serviços de telecomunicações, mas a baixa capacidade
inovativa dos demais segmentos de TICs, relativamente aos países desenvolvidos.
Se o Brasil pretende ser mais competitivo em telecomunicações e em TICs, de
modo geral, é crucial ampliar significativamente os esforços tecnológicos do país
nesta área.
Para isso, é preciso contar, também, com a produção científica e com uma
maior interação entre ciência e tecnologia. O que as matrizes de C&T mostram é
que a produção científica tem se tornado cada vez mais fundamental para ampliar
a inovação e o desenvolvimento tecnológico de um país ou setor de atividade.
Apesar disso, no caso brasileiro, ainda é muito pequeno o número de empresas que
utilizam os cientistas e a academia brasileira para dar suporte aos seus processos
inovativos. Da mesma forma, ainda é muito pequeno o número de pesquisadores
das universidades brasileiras envolvidos em parcerias com o setor privado.
10. A legenda para os domínios tecnológicos OST e áreas científicas ISI encontra-se no anexo
11. Lindmark et al., 2008.

90
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Existem outros desafios tão importantes quanto a interação entre ciência e


tecnologia para que o Brasil possa construir e sustentar vantagens competitivas nas
tecnologias de informação e comunicação. O certo é que, assim como a ampliação
dos investimentos em inovação é condição necessária para o crescimento das
TICs no Brasil, o próprio desenvolvimento destas tecnologias também é condição
fundamental para a competitividade da economia brasileira como um todo.

Referências Bibliográficas
ALBUQUERQUE, E. et al. Atividades de patenteamento em São Paulo e
no Brasil. In: FAPESP. Indicadores de ciência, tecnologia e inovação em São
Paulo. cap. 5, 2009.
LINDMARK, S.; TURLEA, G.; ULBRICH, M. Mapping R&D
investment by the European ICT business sector. Joint Research Center (JRC),
Reference Report, 2008.
RIBEIRO, L. C. et al. Matrices of science and technology interactions
and patterns of structured growth: implications for development.
Scientometrics. 2009. Disponível em: <http://www.springerlink.com/
content/2174610530365460/fulltext.pdf>.

91
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Anexo

Áreas científicas – ISI Domínios tecnológicos – OST


1 Mathematics 1 Electrical components
2 Materials Science 2 Audiovisual
3 Electronic Engineering 3 Telecommunications
4 Nuclear Sciences 4 Information technology
5 Mechanical, Civil and Other Engineering 5 Semiconductors
6 Inorganic Chemistry and Engineering 6 Optics
7 Analytical Chemistry 7 Analysis, measurement and control
8 Physical Chemistry 8 Medical engineering
9 Organic Chemistry 9 Organic fine chemicals
10 Applied Physics 10 Macromolecular chemistry
11 Solid State Physics 11 Pharmaceuticals and cosmetics
12 Geosciences 12 Biotechnology
13 Other Physics 13 Agricultural and food products
14 Ecology 14 Technical procedures
15 Food Science and Agriculture 15 Surface technology and coating
16 Biotechnology 16 Material processing
17 Microbiology 17 Materials and metallurgy
18 General Biology 18 Thermal techniques
19 Pharmacology and Pharmacy 19 Basic chemical processing
20 Public Health 20 Environment and pollution
21 Pathology 21 Machine tools
22 Neuroscience 22 Engines, pumps and turbines
23 Reproduction Medicine and Geriatrics 23 Mechanical components
24 General Medicine 24 Handling and printing
25 Internal Medicine 25 Agricultural and food machinery
26 Research Medicine 26 Transport
27 Immunology 27 Nuclear engineering
28 Space technology and weapons
29 Consumer goods and equipment
30 Civil engineering and building

92
CAPÍTULO 4

Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:


o que se pode depreender da evolução recente da produção
de artigos na área?1

Paulo A. Meyer M. Nascimento2


Introdução
Este trabalho é um ensaio inicial de um estudo em andamento sobre capacitações
científicas brasileiras. Espera-se que os dados apresentados e analisados, centrados
em telecomunicações, contribuam com o debate em voga sobre as perspectivas
brasileiras no setor, tema que permeia a discussão de todos os ensaios publicados
nesta edição do Radar.
As próximas seções buscarão indicar o caminho para se chegar a respostas
a cinco perguntas relacionadas às capacitações científicas nacionais no setor de
telecomunicações: a) Como estamos em relação a outros países? b) Com quem
mais interagimos? c) O mundo nos escuta quando falamos em telecomunicações?
d) O mundo nos escuta quando falamos do que mais quer ele ouvir sobre
telecomunicações? e) Como estão distribuídas nossas competências internamente?
Para perseguir esta finalidade, partiu-se da base de artigos indexados em
periódicos internacionais que se encontra disponível no portal ISI/Web of
Science, acessível às instituições que subscrevem o portal de periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), tendo
sido limitada a busca para o período que compreende os anos de 2000 a 20103
. Cada uma das cinco seções que seguem traz como título uma das indagações
elencadas no parágrafo anterior, e explora dados que ajudam a responder à sua
respectiva pergunta-problema. A seção final traz algumas conclusões e suas
possíveis implicações.

Como estamos em relação a outros países?


Para o período de 1º de janeiro de 2000 a 22 de setembro de 2010, o portal ISI/
Web of Science relata a existência de 383 artigos completos publicados sobre
1. O autor agradece o empenho de Leonardo Aguirre, Ligier Modesto Braga, Calebe Figueiredo, Gustavo
Alvarenga e Thiago Araújo, fundamentais na organização de alguns dados e, principalmente, na elaboração do
mapa 1. Agradecimentos também aos colegas do Ipea que contribuíram com sugestões e comentários. Erros e
omissões remanescentes são de inteira responsabilidade do autor. O presente artigo foi publicado inicialmente
no Boletim Radar no. 10, edição especial sobre Telecomunicações.
2. Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea.
3. Contagem relativa a 2010 restrita aos artigos já indexados no portal ISI/Web of Science até 22/09/2010.

93
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

telecomunicações em que ao menos um dos seus autores informa o Brasil como o


país de sua atuação profissional. Este nível de produção revela uma contribuição
ainda incipiente do Brasil para a produção científica global na área, conforme se
pode depreender do gráfico 1.
No gráfico 1, o desempenho pátrio aparece como o menor em um
comparativo com outros 13 países. A produção brasileira entre 2000 e 2010 foi
comparada à de Rússia, Índia e China (países que, junto com o Brasil, formam
o acrônimo BRIC – gráfico 1a); à dos cinco países com maior investimento
privado em pesquisa e desenvolvimento no setor de tecnologias da informação
e da comunicação – TIC4 (Finlândia, Taiwan, Coreia do Sul, Suécia e Japão –
gráfico 1b); e à dos cinco países com maior número de coautorias, depois dos
Estados Unidos5, em artigos publicados com participação de brasileiros (França,
Inglaterra, Canadá, Alemanha e Itália – gráfico 1c).

Gráfico 1 – Número de artigos sobre telecomunicações publicados entre 2000 e 2010 –


Brasil e países ou blocos econômicos selecionados

Fonte: Portal ISI/Web of Science. Elaboração do autor.v


Obs.: Para fins de comparação, a produção brasileira não foi computada nos blocos que o Brasil integra
(Mercosul e Aladi).

4. Segundo a Comissão Europeia, a partir de dados de 2004 e de 2007 relativos ao BERD (sigla em inglês
para dispêndios empresariais em pesquisa e desenvolvimento) de firmas atuantes na área de TIC – ver Lind-
mark et al. (2008) e Turlea et al. (2010).
5. Os Estados Unidos, grande player em qualquer setor, foram deixados de fora dessa comparação pela
dificuldade de se prospectar a sua produção total em telecomunicações valendo-se do portal ISI/Web of Sci-
ence. A busca disponível fornece respostas até o limite de 100 mil observações. Como o filtro para produção
específica em telecomunicações somente pode ser aplicado após a obtenção, para um dado ano, da produção
total do país pesquisado, as respostas que retornavam para os Estados Unidos eram sempre subdimensionadas.
Este mesmo problema sucedeu-se para a China, embora apenas para os anos de 2008 e de 2009. O leitor deve
atentar para o fato de que os chineses podem já ter ultrapassado os sul-coreanos na produção científica em
telecomunicações nos anos 2000, embora os números do gráfico 1 ainda não captem este movimento.

94
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

A produção brasileira somente aparece com maior destaque quando com-


parada à proveniente de países integrantes de blocos econômicos formados por
países latino-americanos ou por países africanos. Para esta comparação, o gráfico
1d exibe o desempenho brasileiro frente ao de blocos econômicos regionais da
América Latina, África, Eurásia e do Sudeste Asiático – todos formados por
outros países em desenvolvimento6. Apesar de muito atrás dos líderes, o Brasil
é um dos que, no período, mais aumentaram a sua participação na produção
científica em telecomunicações. Entre os países comparados, apenas a China
teve crescimento mais ostensivo. O gráfico 2 mostra que a produção brasileira
no triênio 2007-2009 (ou seja, final da última década) foi 384% superior ao do
triênio 2001-2003 (início da década).

Gráfico 2 – Evolução da produção científica em telecomunicações nos anos 2000 – Brasil e


países selecionados.

Fonte: Portal ISI/Web of Science. Elaboração do autor.

Essa evolução brasileira indica que o país encontra-se em um processo de


catching up em relação àqueles mais próximos da fronteira científica na área.
Ainda assim, como a produção brasileira em telecomunicações continua sendo
muito pequena em comparação com a dos países líderes, o país permanece longe
de efetivamente aproximar-se destes. Para se ter uma ideia, mesmo que as taxas
6. Foram considerados no gráfico 1d os artigos publicados por pesquisadores de instituições sediadas nos de-
mais países membros do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e da Associação Latinoamericana de Integração
(Aladi), ou associados a eles, bem como das instituições sediadas nos países membros das ou associados às
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), Comunidade dos Estados Independentes
(CEI) e Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Também se buscou incluir a produção dos países
membros da ou associados à Comunidade Caribenha (Caricom). No entanto, como o número de artigos
publicados por pesquisadores de instituições sediadas em seus 20 países membros efetivos ou associados foi de
apenas cinco no período de análise (2000-2010), este bloco econômico foi excluído da análise.

95
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

de crescimento mostradas no gráfico 2 fossem mantidas exatamente iguais para as


próximas décadas7, a produção total do Brasil desde 2000 somente ultrapassaria,
ao final de 2019, a de Rússia, Finlândia e Suécia. Índia, Alemanha e Japão apenas
ficariam para trás na década seguinte, quando o país se aproximaria de França,
Inglaterra e Itália, países a serem ultrapassados ao longo da década de 2030.
Taiwan, Canadá e Coreia do Sul chegariam a 2040 com produção científica
em telecomunicações ainda em patamares entre três e seis vezes superiores aos
do Brasil, enquanto a China já estaria a publicar cerca de 30 vezes mais artigos
científicos na área que o Brasil, no acumulado desde 2000. A figura 1 retrata esta
perspectiva.Inglaterra, Canadá, Alemanha e Itália – gráfico 1c).

Figura 1 – Posição do Brasil nas próximas décadas frente a países selecionados, mantidas
as taxas do gráfico 2.

Elaboração do autor. Obs.: Números entre parênteses indicam intervalo estimado da quantidade
acumulada de artigos publicados entre 2000 e 2040.

7. A manutenção nos próximos 30 anos da mesma tendência verificada nos últimos dez é improvável, uma vez
que a trajetória dos países é dinâmica e sensível a uma série de fatores intervenientes, previsíveis ou não. De
todo modo, o exercício ilustrado na figura 1 dá uma ideia das dificuldades de o Brasil alcançar uma posição
de liderança em termos de capacitações científicas no setor, dado o quadro institucional sob o qual os artigos
científicos sobre telecomunicações foram produzidos na última década.

96
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

Com quem mais interagimos?


Tendo em vista a condição do Brasil de país seguidor, identificar os países com os
quais os pesquisadores brasileiros mais interagem torna-se importante não apenas
por destacar por onde passam as conexões da parcela da academia que se debruça
sobre o tema, mas também porque esta informação fornece indícios acerca de
transferência de tecnologia envolvendo o Brasil no setor de telecomunicações.
Assim, cabe perguntar:
a) Os pesquisadores brasileiros interagem fortemente com os de outros
países?
b) Com que países mais interagem?
c) Os campeões de popularidade entre os autores brasileiros fazem pesquisa
em países líderes, seguidores ou colaboramos majoritariamente com quem
anda atrás de nós mesmos em termos de capacitações científico-tecnológicas
em telecomunicações?
A coautoria com pesquisadores vinculados a instituições estrangeiras em
37,4% dos 383 artigos publicados entre 2000 e 2010 sugere que a resposta à
primeira pergunta seja positiva. Afinal, este percentual assemelha-se ao de
pesquisadores chineses (37,2%) e ao de pesquisadores canadenses (39,3%) no
próprio setor de telecomunicações no mesmo período – junto com o Brasil,
China e Canadá são os países cuja produção científica em telecomunicações mais
tem crescido desde 2000 (gráfico 2). Ademais, a coautoria de brasileiros com
estrangeiros é mais frequente na área de telecomunicações que no universo total
de artigos publicados por brasileiros – destes, apenas 28,9% foram escritos em
coautoria com estrangeiros.
Por sua vez, a resposta ao segundo questionamento passa pela tabela 1,
a qual apresenta o número de coautorias de brasileiros com pesquisadores
vinculados a instituições sediadas em outros países. São, ao todo, 32 países com
cujos pesquisadores os brasileiros estabeleceram parcerias em publicações no
período analisado. No topo da lista, Estados Unidos e França. Em um segundo
patamar, Inglaterra e Canadá aparecem com menos da metade do número de
parcerias estabelecidas com pesquisadores da França, a segunda colocada. Bem
abaixo, situa-se a Alemanha, com sete coautorias, e a Itália, com quatro. Um
conjunto de seis países (China, Suécia, Espanha, Portugal, Suíça e Hungria) surge
com apenas três. Daí por diante, Finlândia, Cuba e Argélia, com duas coautorias
cada, antecedem uma lista de 17 países com os quais foram estabelecidas parcerias
científicas unicamente com um pesquisador e em um artigo isolado.

97
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

Tabela 1 – Países cujos pesquisadores publicaram artigos sobre telecomunicações em


coautoria com brasileiros entre 2000 e 2010.

Fonte: Portal ISI/Web of Science. Elaboração do autor.


Obs.: 1. Foram, ao todo, 171 coautores estrangeiros com quem os brasileiros escreveram 143 artigos.
Obs.: 2. Os 17 países com os quais houve apenas uma vez coautoria de seus residentes com pesquisadores
de instituições brasileiras foram: Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela, Trindade e Tobago, México, Gana,
Líbia, Irlanda, Noruega, Dinamarca, Rússia, Polônia, Israel, Índia, Taiwan e Japão.

Examinar mais detidamente o desempenho dos países onde está a maioria


dos parceiros de pesquisa dos brasileiros pode indicar a resposta ao terceiro item
colocado no início desta seção. Os dados apresentados na figura 2 contribuem
para isto. Nela estão informados, para o Brasil e para cada um dos seus parceiros
em mais de três ocasiões, o contingente de artigos publicados e seus respectivos
impactos revelados na área de telecomunicações nos triênios 2001-2003, 2004-
2006 e 2007-2009.

Figura 2 – Brasil e seus principais parceiros acadêmicos no setor de telecomunicações –


artigos publicados nos triênios 2001-2003, 2004-2006 e 2007-2009 e seus respectivos
H-index.

Fonte: Portal ISI/Web of Science. Elaboração do autor.


Obs.: O eixo vertical remete ao número de artigos publicados. O tamanho das circunferências é
proporcional ao H-index da produção, no respectivo triênio, dos países que representam.

98
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

A quantidade de artigos publicados por cada país é informado pelo eixo


vertical da figura 2, ao passo que o indicador de impacto utilizado, representado
pelo tamanho das circunferências da figura 2, é o H-index8 . Trata-se de um
fator calculado a partir da lista de publicações enumeradas pela ferramenta de
busca do portal ISI/Web of Science. Estas publicações são ranqueadas em ordem
decrescente de acordo com o número de citações recebidas por cada uma, e a
partir disto o índice é calculado. O valor de h é igual ao número de artigos (N)
presentes na lista que tenham sido citados N ou mais vezes no período observado.
Assim, por exemplo, o H-index de valor oito atribuído ao Brasil no triênio 2007-
2009 equivale a dizer que oito dos artigos sobre telecomunicações publicados
por brasileiros nestes três anos foram citados oito ou mais vezes por artigos
posteriores.
A redução do H-index de um triênio para outro é natural: como este índice
baseia-se no número de citações, artigos mais recentes tendem a ser menos citados
nos primeiros anos seguintes à sua publicação que os que já estão disponíveis há
mais tempo. Visto que os H-index informados na figura 2 referem-se aos artigos
publicados em cada um dos três períodos, seu valor para um dado país no triênio
t+1 é quase sempre menor que no triênio t. Dessa forma, comparações entre
países devem ser feitas com base em: i) eventuais mudanças de posição entre eles
ao longo do tempo; e ii) alargamento ou redução da distância entre seus H-index
de um triênio para outro, assim mesmo tendo em mente que a distância entre os
mais e os menos influentes tende a aumentar à medida que o tempo passa e os
artigos são mais citados.
Entre os parceiros preferenciais9 mostrados na figura 2, o Canadá foi o que
maior impacto apresentou em todos os três períodos – e, nos últimos dois, sua
produção foi líder também em quantidade de artigos. Em termos de H-index,
Alemanha, Itália e Inglaterra vinham invertendo posições entre si nos dois
primeiros triênios, mas, até a data de levantamento dos dados para este estudo10 ,
a Itália foi o único destes três países cujos artigos publicados no último triênio da
década aproximaram-se dos canadenses na medida de impacto apresentada. Por
seu turno, a Inglaterra destacou-se mais pela quantidade, sempre superior às de
Itália e Alemanha e, no triênio inicial, à do próprio Canadá. A Alemanha perdeu
terreno tanto em quantidade quanto em qualidade, encerrando o ciclo atrás da
França em ambos os aspectos. Esta publicava artigos de menor impacto no início
da década, mas no último triênio seu H-index, além de superar o da Alemanha, já
havia alcançado o da Inglaterra.
Os dados da figura 2 sugerem que parcerias com pesquisadores canadenses e
8. O H-index foi desenvolvido por J.E. Hirsch, que o divulgou pela primeira vez em Hirsch (2005).
9. O H-index não foi calculado para a produção estadunidense pelas razões expostas na terceira nota de
rodapé.
10. A saber, 22 de setembro de 2010

99
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

italianos deveriam ser mais incentivadas, aproveitando-se as conexões já existentes


com estes países para intensificar-se a produção com pesquisadores mais próximos
da fronteira científica do setor. De todo modo, França, Inglaterra e Alemanha
estão também mais próximas da fronteira de conhecimento na área que o Brasil.
Vale destacar, ademais, que, embora apenas três chineses tenham trabalhado
em coautoria com brasileiros em artigos sobre telecomunicações entre 2000 e
2010 (tabela 1), a intensificação de parcerias com pesquisadores de instituições
chinesas seria desejável nesta área. Pelo menos três dados apresentados neste
estudo justificam esta posição: i) a China está entre os países que mais produzem
artigos sobre telecomunicações (gráfico 1); ii) é o país cuja produção na área
mais cresce entre os países confrontados no gráfico 2; iii) seu H-index na área foi
de 18 no triênio 2007-2009, igualando-a à Itália e deixando-a atrás apenas do
Canadá, em termos de impacto das publicações, entre os países plotados na figura
2. Os números apresentados, portanto, sugerem que as respostas às indagações
que abrem esta seção sejam afirmativas: a base científica brasileira, além de dispor
de um bom número de conexões com o exterior, as estabelece com um conjunto
de países mais influentes que o Brasil na área. Apesar disso, ressalte-se que alguns
dos mais influentes deste conjunto têm ainda um grau de interlocução apenas
intermediário ou mesmo incipiente com os pesquisadores brasileiros.
E quanto à nossa própria produção? O que se pode destacar sobre seu grau
de influência no mundo científico?

O mundo nos escuta quando falamos de telecomunicações?


A figura 2 mostra que os artigos publicados por brasileiros na área de
telecomunicações na última década têm quantidade e qualidade menor que os
artigos publicados por residentes dos países de seus principais parceiros. A escala
da produção nacional chegou a ser, no primeiro triênio da década de 2000, de
11 a 16 vezes menor que a de seus parceiros preferenciais plotados na figura 2.
Nos dois triênios seguintes, graças ao maior crescimento relativo da produção
brasileira (gráfico 2), o contingente de artigos brasileiros publicados oscilou entre
patamares de quatro a dez vezes inferiores aos verificados para tais parceiros. O
H-index dos artigos brasileiros evoluiu de dez, no triênio 2001-2003, para 12, no
triênio seguinte, ficando em oito no triênio final da década.
Esse desempenho é, por um lado, substancialmente menor que o de Canadá,
Itália, Inglaterra, França e Alemanha. Por outro lado, os artigos brasileiros mais
recentes na área vêm se tornando relativamente mais influentes. O H-index
brasileiro para 2004-2006 foi maior que o observado para 2001-2003, embora
o esperado fosse o contrário, pelo fato de o H-index tender a ser menor quanto
mais recente o artigo. O H-index de valor oito verificado para o último triênio
100
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

deixou o Brasil qualitativamente menos distante dos demais países ilustrados na


figura 2 que os índices alcançados nos triênios anteriores.
A escala e a influência brasileira no meio científico têm, portanto, crescido,
no que tange a telecomunicações. Este crescimento, todavia, ainda é marginal.
Além disso, cabe investigar o impacto dos artigos brasileiros sobre os temas de
maior atração de investimentos e sobre as tecnologias de fronteira do setor de
telecomunicações.

O mundo nos escuta quando falamos do que mais quer ele ouvir sobre
telecomunicações?
Szapiro (2009) aponta três temas como os de maior atração de investimentos no
campo das telecomunicações: banda larga, mobilidade e redes de nova geração. A
produção brasileira tem sido de maior impacto nestes temas que no setor como
um todo?

Tabela 2 – Quantidade e H-index para artigos sobre telecomunicações publicados no


período 2000-2010 abordando os tópicos relacionados a banda larga, mobilidade e redes
de nova geração.

Fonte: Portal ISI/Web of Science. Elaboração do autor.

A tabela 2 traz, inclusive, o desempenho estadunidense nesses tópicos. Isto


foi possível porque, ao se restringir a busca inicial aos tópicos de interesse, a
produção total dos Estados Unidos não superou o máximo suportado pelo sistema
de buscas do portal. O H-index dos Estados Unidos, no caso em tela, alcançou
56, bem acima dos 21 que a Inglaterra exibe na segunda posição.
O valor de quatro para o Brasil sinaliza que o país está ficando para trás
na produção de conhecimento nos temas de maior potencial de atração de
investimentos. Esta tendência mostra-se ainda mais acentuada quando são
buscados artigos sobre as tecnologias apontadas como mais promissoras no setor
no curto prazo. Silva Mello (2010), citando Gartner (2010), identifica as dez
tecnologias que deverão ter maior difusão no mercado de TIC até o final de 2011.
101
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

A tabela 3 mostra, por país, o número de artigos (e seus H-index) encontrados


sobre elas no Portal ISI/Web of Science para o período de 2000 a 2010. O
desempenho brasileiro mostra-se ainda mais frágil que o verificado na tabela 2
para os vetores de investimento apontados por Szapiro: somente cinco artigos
foram identificados sobre as tecnologias a que se referem Silva Mello e Gartner11.

Tabela 3 – Quantidade e H-index para artigos sobre telecomunicações publicados no


período 2000-2010 abordando os tópicos relacionados às dez tecnologias principais no
curto prazo (2010-2011)
Fonte: Portal ISI/Web of Science. Elaboração do autor.

Onde estão distribuídas nossas competências internamente?


Cumpre observar por onde está distribuída a massa crítica em telecomunicações
no território brasileiro. O mapa 1 ilustra isto.
Os estados líderes na produção científica em telecomunicações estão no
Sudeste: São Paulo (192 artigos), Rio de Janeiro (103) e Minas Gerais (64).
Receberam essa alcunha por apresentarem produção bem acima dos demais. Um
segundo grupo, denominado seguidores ou emergentes, abrange os três estados
da região Sul, mais Pernambuco, Ceará e Paraíba, com produções que variaram
de 13 (Santa Catarina) a 34 (Paraná) artigos. A produção em telecomunicações,
entre 2000 e 2010, mostrou-se ainda incipiente no Amazonas, Pará, Maranhão,
Espírito Santo, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Bahia e Goiás – estados
nos quais o número de artigos indexados não ultrapassou a marca de sete.
Pesquisadores de instituições do Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins,
Piauí e Mato Grosso do Sul não publicaram, no período analisado, artigos sobre
telecomunicações que tenham sido indexados nos periódicos internacionais
constantes da base ISI/Web of Science.
Os três estados líderes do mapa 1 são também os de maior produto
11. Os termos utilizados na busca no portal, definidos a partir de Silva Mello (2010), foram: bluetooth,
mobile web, low energy, mobile widget, platformindependent mobile AD tool, app store, enhanced location
awareness, mobile broadband, touchscreen, machine to machine, device-independent security, e suas variações
e siglas.

102
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

interno bruto (PIB). Em pesquisa sobre telecomunicações, a liderança dos três é


devida principalmente às capacitações já consolidadas em seis instituições neles
localizadas12 . É possível que a localização na região Sudeste do centro decisório das
maiores companhias do setor atuantes no mercado brasileiro também contribua
para este resultado. Some-se a isto o peso das fundações de amparo à pesquisa
destes estados na disponibilidade de recursos13 e decerto suas receitas de sucesso
estarão formuladas.

Mapa 1 – Estados brasileiros segundo seus níveis de produção científica em telecomunicações


entre 2000 e 2010

Fonte: Portal ISI/Web of Science. Elaboração de Ligier Modesto Braga.


Obs.: A classificação dos estados está de acordo com o número de artigos atribuídos a pesquisadores
vinculados a instituições sediadas em seus territórios.

Os estados da região Sul, no mapa 1 entre os emergentes em pesquisa


12. Pesquisadores vinculados à Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP) ou ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Teleco-
municações (CPqD) participam de quase 65% dos artigos atribuídos aos três estados líderes.
13. Juntas, as fundações de amparo à pesquisa de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (FAPESP, FAPERJ
e FAPEMIG) apareceram em 20,2% das vezes em que houve informação sobre fontes de financiamento
nos artigos aqui considerados. Depois do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), estas três fundações somadas foram a principal fonte de financiamento dos artigos com participação
de brasileiros em que seus autores declararam ter acessado algum recurso externo para a sua elaboração. Juntas
superaram, inclusive, a Capes. De todo modo, vale destacar que em apenas 72 dos 383 artigos brasileiros
analisados houve declaração de alguma fonte de financiamento externa.

103
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

no setor, também são estados com PIB elevado para os padrões brasileiros 14.
Ademais, têm tradição em pesquisa15 . Ceará, Pernambuco e Paraíba, por sua vez,
são estados mais pobres, suas fundações de amparo à pesquisa não estão entre as de
maior orçamento e somente duas de suas instituições de pesquisa (a Universidade
Federal de Pernambuco e a Universidade Federal do Ceará) figuraram entre as 20
instituições brasileiras em número de artigos publicados em todas as áreas desde
2007. Um exame mais detalhado da trajetória em pesquisa destes três estados
nordestinos poderia lançar luz, no futuro, sobre as causas que concorreram para
seu sucesso na área de telecomunicações.
Apesar de não ser possível atribuir esse sucesso ao fator citado a seguir tão
somente com os dados aqui utilizados, vale destacar que, em muitos momentos da
década de 2000, as taxas de crescimento dos gastos em pesquisa e desenvolvimento
(P&D) dos estados seguidores foram maiores que a taxa nacional. No biênio
2003-2004, em relação ao biênio anterior, tais taxas foram de 30% a 60% maiores
na Paraíba, Santa Catarina, Paraná e Ceará que as taxas nacionais. Em 2007-
2008, em relação a 2005-2006, Paraíba, Santa Catarina e Ceará continuaram
com desempenho semelhante16 , aos quais se equiparou Pernambuco.
O mapa 1 mostra, ainda, a distribuição, por estado, dos 33 artigos
identificados em temas relacionados a banda larga, mobilidade e redes de nova
geração – os vetores de crescimento dos investimentos, segundo Szapiro (2009).
Os cinco artigos publicados sobre as dez tecnologias de destaque segundo previsão
de Gartner (2010) para 2010-2011 envolveram instituições de seis estados:
Amazonas, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná – indicados no
mapa com pontos de exclamação.

Considerações finais
Os dados apresentados sugerem que o Brasil encontra-se em processo de
catching up com os países de ponta na produção científica em temas diretamente
associados ao setor de telecomunicações. Os pesquisadores brasileiros da área
têm demonstrado capacidade de interlocução com seus pares de outros países
em proporção maior que a base científica nacional em geral, e têm estabelecido
parcerias com instituições localizadas em alguns dos países mais produtivos em
pesquisas relacionadas ao setor.
14. Em 2007, o PIB do Rio Grande do Sul foi o quarto do país, enquanto o do Paraná foi o quinto, e o de
Santa Catarina, o sétimo (fonte: IBGE).
15. Dos artigos com participação de pesquisadores brasileiros publicados em todas as áreas desde 2007, in-
dexados no Portal ISI/Web of Science até 22 de setembro de 2010, perto de um quarto deles tiveram entre os
autores ao menos um pesquisador vinculado a alguma instituição sediada na região Sul do Brasil. Cinco delas
despontaram entre as 20 mais produtivas do país no período.
16. Em um desses estados, o incremento nos gastos de P&D entre 2007 e 2008 chegou a ser quase 160%
maior que a taxa nacional. Todas essas taxas foram calculadas com dados disponíveis no site do Ministério da
Ciência e Tecnologia <www.mct.gov.br>, acessado em 24 de setembro de 2010.

104
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

Ainda assim, o país prossegue longe do nível de produção científica dos


líderes. Tanto que, mesmo com a tendência recente bastante favorável, um salto
ainda mais significativo seria necessário para o Brasil efetivamente se aproximar
do papel já desempenhado ou a ser assumido por países como EUA, China e
Coreia do Sul. Esta diferença é ainda maior quando é investigada a produção nos
temas mais próximos da fronteira tecnológica em telecomunicações.
Esse conjunto de resultados sugere à primeira vista que, para vir a exercer
um papel de liderança no setor de telecomunicações, o Brasil necessitaria de
avanços ainda mais significativos que os que já vem apresentando em termos
de capacitações científicas. É possível que a emergência de uma grande empresa
nacional competitiva internacionalmente viesse a gerar transbordamentos
positivos sobre a base científica – transbordamentos estes hoje limitados, tendo
em vista o atual ecossistema brasileiro de telecomunicações, no qual a indústria
nacional mostra-se pouco inovativa e essencialmente reativa às tendências
globais, como identifica o ensaio das próximas páginas17. De qualquer forma,
dado o cenário corrente, um eventual champion brasileiro teria que inicialmente
importar algumas competências científicas, sobretudo as mais próximas da
fronteira tecnológica do setor, sem o domínio das quais dificilmente geraria
inovações competitivas.
Não obstante essas restrições, cabe destacar três fatos positivos: i) a crescente
produtividade da base científica já instalada no país; ii) sua distribuição por
diferentes regiões, inclusive por aquelas menos tradicionais em P&D; e iii) sua
boa interlocução com a base de outros países. Isto indica que, com investimentos
corretos e bem canalizados às tecnologias de fronteira, aliados ao estreitamento
de parcerias estratégicas com países avançados no tema, o Brasil poderá, em
cerca de três décadas, desenvolver as competências necessárias para tornar-se um
respeitável player global em telecomunicações.

Referências Bibliográficas
GARTNER. 10 mobile technologies to watch in 2010 and 2011, Gartner
Inc., Apr. 2010. Disponível em: <http://www.gartner.com>.
HIRSCH, J. E. An index to quantify an individual’s scientific research
output. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States
of America (PNAS), vol. 102, n. 46, p. 16569-16572, Nov. 2005.
KUBOTA, L. C.; DOMINGUES, E.; MILANI, D. A importância da
escala no mercado de equipamentos de telecomunicações. Radar n. 10, Brasília:
Ipea, out. 2010.

17. Ver Kubota, Domingues e Milani (2010).

105
Capacitações científicas do Brasil em telecomunicações:
o que se pode depreender da evolução recente da produção de artigos na área?

LINDMARK, S.; TURLEA, G.; ULBRICH, M. Mapping R&D


Investment by the European ICT business sector. Joint Research Center (JRC),
Reference Report, Luxemburgo: Comissão Européia, 2008.
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA (MCT). Indicadores
nacionais de ciência e tecnologia. Disponível em: <http://www.mct.gov.br>.
Acesso em: 24 de set. 2010.
PORTAL ISI/WEB OF SCIENCE. Disponível em: <http://
apps.isiknowledge.com/WOS_GeneralSearch_input.do?highlighted_
tab=WOS&product=WOS&last_prod=WOS&SID=1Aio587Hf4jj8jFc68d&se
arch_mode=GeneralSearch>. Acesso em: 22 de set. de 2010.
SILVA MELLO, L. Política industrial para o setor de equipamentos de
telecomunicações no Brasil. In: Desafios e oportunidades para o setor de
telecomunicações no Brasil, Ipea, Brasília, 15 set. 2010.
SZAPIRO, M. Sistema produtivo de eletrônica: subsistema de
equipamentos de telecomunicações. Rio de Janeiro: Projeto Perspectivas de
Investimento no Brasil, 2009.
TURLEA, G. et al. The 2010 report on R&D in ICT in the European
Union. Joint Research Center (JRC), Reference Report, Luxemburgo: Comissão
Europeia, 2010.

106
CAPÍTULO 5

Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações1

Luis Claudio Kubota2


Edson Domingues3
Daniele Nogueira Milani4

Introdução
O setor de tecnologias da informação e comunicação (TICs) é um dos mais
dinâmicos em termos de inovações tecnológicas em âmbito mundial. Em alguns de
seus segmentos, como o de aparelhos de telefonia, incluem-se ícones de consumo,
como o iPhone. Estima-se que o mercado de equipamentos de telecomunicações
cresça de 133 bilhões de euros em 2009 para 150 bilhões de euros em 2013,
segundo estimativas da firma de pesquisa de mercado Idate (COLCHESTER,
2010).
O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) realizado pelos
grandes atores internacionais é extremamente significativo. Segundo dados da
União Europeia, o setor de TICs é aquele que apresenta os maiores gastos em P&D
no conjunto das economias estadunidense, japonesa e europeia, representando
25% dos gastos empresariais em P&D e empregando 32,4% dos pesquisadores,
apesar de responder por apenas 4,8% do produto interno bruto – PIB (TURLEA
et al., 2010). Oito das 20 maiores empresas inversoras em P&D no mundo atuam
no setor, conforme ranking da Booz & Co (JARUZELSKI e DEHOFF, 2009).
Os dados da tabela 1 permitem observar as 20 firmas do setor com maiores gastos
em P&D. Em destaque estão indicadas as firmas classificadas como fabricantes de
equipamentos de telecomunicações.

1. Versão condensada e atualizada do relatório setorial sobre indústria de tecnologia da informação e co-
municação Projeto: Determinantes da acumulação de conhecimento para inovação tecnológica nos setores
industriais no Brasil. Belo Horizonte: ABDI, 2009. O presente artigo foi publicado inicialmente no Boletim
Radar no. 10, edição especial sobre Telecomunicações.
2. Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea.
3. Professor do Centro de Planejamento e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal de Minas
Gerais (Cedeplar/UFMG).
4. Pesquisadora do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD) no Ipea.

107
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

Tabela 1 – Vinte firmas de TICs com maiores gastos em P&D (2007)

Fonte: Turlea et al. (2010).

A necessidade de escala norteou a fusão de grandes grupos econômicos,


como a Alcatel-Lucent e Nokia Siemens Motorola. Segundo analistas de mercado,
a escala é fundamental neste negócio5 . Não obstante o porte destas empresas, seu
desempenho financeiro não é muito animador, em parte devido à concorrência
baseada em preço dos concorrentes chineses. A Alcatel-Lucent, por exemplo,
só obteve lucro em dois dos últimos oito trimestres (COLCHESTER, 2010).
A Nokia-Siemens teve prejuízo operacional de € 1,6 bilhão em 2009 (DAS e
CHON, 2010).
No mercado brasileiro, a indústria de informática – protegida pela Lei
5. “Não podemos visualizar a Alcatel-Lucent dando lucro simplesmente porque ela ainda é formada por vários
negócios pequenos sem muita escala”, diz Richard Windsor, analista da Nomura (Colchester, 2010, p. B12).
Comentário sobre a aquisição de divisão da Motorola pela Nokia Siemens: “Isso também significa mais escala,
e a escala comanda tudo nesse negócio: quando mais escala você tem, mais lucro pode gerar”, escreveu o
analista Pierre Ferragu, da Sanford C. Bernstein (Das e Chon, 2010).

108
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

de Informática – e o setor de telefonia – cujas compras de equipamentos eram


realizadas pelo sistema Telebrás – sofreram profundas modificações decorrentes
da abertura de mercado e da privatização. A década de 1990 caracterizou-se por
um forte ingresso de empresas estrangeiras que, em alguns casos, passaram a ter
no Brasil plantas voltadas para exportação, especialmente no caso de aparelhos
celulares.
O setor apresenta características ambíguas no Brasil. Por um lado, tem
indicadores de inovação e de esforço tecnológico mais elevado que a média do
setor industrial, em função das características já citadas. Por outro lado, o setor
apresenta duas fraquezas estruturais, que têm relação entre si. Em primeiro lugar,
existe uma forte dependência da importação de componentes eletrônicos, que
têm importância crescente no valor agregado dos produtos. Em segundo lugar,
as firmas brasileiras em geral não participam da determinação dos novos padrões
tecnológicos (como o LTE), que é feita por meio de alianças entre grandes
corporações internacionais, em alguns casos com participação governamental.
Neste mercado, as economias de rede são cruciais para a competitividade.

Figura 1 – Comparação entre os ecossistemas de telecomunicações europeu e brasileiro

Fonte: Spadinger (2010).

Além dessa baixa participação em órgãos de padronização, a figura 1 capta


outras características do mercado brasileiro. Uma delas é a visão de curto prazo,
quando se compara com mercados maduros, como o europeu. Outra é a de que o
mercado brasileiro é – salvo exceções – “seguidor”, no qual se analisam e se filtram

109
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

desenvolvimentos tecnológicos realizados inicialmente no exterior.


A relação entre operadoras e fornecedores no mercado europeu é marcada
por uma mistura de cooperação e competição (“coopetition”, em inglês), na qual as
partes, ao mesmo tempo que colaboram, competem pelos resultados das inovações.
A Verizon, por exemplo, criou o LTE Innovation Center em Massachussets, um
laboratório de 2.450 m², no qual os fabricantes de eletrônicos podem testar
novos produtos em uma rede 4G totalmente funcional. Alcatel-Lucent e Ericsson
Wireless fizeram uma parceria com a Verizon e proporcionam apoio técnico para
os fabricantes de aparelhos (THOMSON, 2010).
Conforme pode ser observado em outro artigo publicação – Capacitações
científicas do Brasil em telecomunicações –, a produção científica brasileira no setor
fica muito aquém do que se verifica em outros países. Este estudo apresenta um
levantamento do esforço tecnológico do setor de equipamentos de telefonia e
transmissores de rádio e TV (anexo 1), procurando identificar sua cadeia produtiva
e seus indicadores de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Cadeia produtiva
Uma matriz de insumo-produto revela as ligações entre os setores econômicos
nas compras e vendas de produtos entre os setores, no uso de fatores de produção
(capital e trabalho) e nas vendas dos setores para os componentes da demanda
final. Para o propósito deste estudo, uma matriz insumo-produto foi construída
a partir das informações disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2008) e dos dados obtidos pela equipe. Assim, procedeu-se à
abertura setorial da matriz para os setores em foco, quando necessário.
Os dados utilizados nesta etapa foram obtidos da Pesquisa Industrial Anual
(PIA), do IBGE, de 2005, e se referem à utilização de insumos intermediários
e valor bruto da produção. A identificação das cadeias produtivas seguiu a
metodologia tradicional (Haguenauer et al., 2001).
A delimitação das cadeias produtivas dos setores analisados considerou as
transações de maior valor, até o total de 70% do consumo e/ou fornecimento
intermediário. Foram desconsiderados, neste cálculo, para cada setor, o
autoconsumo (intrassetorial), os serviços e os insumos de uso difundido (tanto
compras quanto vendas).
A partir da matriz de insumo-produto, foi desenvolvido um modelo de
insumo-produto, que gerou os multiplicadores de produção e emprego dos setores
analisados, seguindo o padrão da literatura (por exemplo: Miller e Blair , 1985).

110
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

As vendas setoriais foram decompostas em quatro categorias para a


demanda final: exportações, consumo das famílias, formação bruta de capital fixo
(investimento) e outras demandas (consumo do governo e variação de estoques).
A demanda intermediária corresponde ao consumo de todos os setores produtivos
da economia.

Tabela 2 – Distribuição da demanda do setor de aparelhos de telefonia e transmissores de


TV, por categoria da demanda final e intermediária (2005)

Fonte: IBGE (2008). Elaboração dos autores.

Os dados da tabela 2 indicam que o investimento (R$ 14,7 bilhões) e o


consumo das famílias (R$ 8,1 bilhões) são os maiores componentes da demanda
final do setor. Os setores de serviços representam 70% das vendas intermediárias.
As exportações aparecem como um componente menos significativo da demanda
do setor, corroborando os resultados apresentados no artigo Balança comercial de
equipamentos de telecomunicações desta edição do Radar.
Na figura 2, é possível observar que o setor de material eletrônico básico
mostra-se como fornecedor importante de aparelhos de telefonia. Esta ligação é
exemplo de importantes elos entre as cadeias produtivas dos setores de TIC.

111
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

Figura 2 – Cadeia produtiva do setor aparelhos de telefonia e transmissores de TV, 2005 (em R$
milhões)

Fonte: IBGE (2008). Elaboração dos autores.

Indicadores de pesquisa, desenvolvimento e inovação


No âmbito do projeto Determinantes da acumulação de conhecimento para inovação
tecnológica nos setores industriais no Brasil, desenvolvido em parceria entre o Ipea
e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), as firmas foram
classificadas em líderes, seguidoras, frágeis e emergentes (anexo 2). A tabela 3
apresenta variáveis selecionadas para o setor de equipamentos de telefonia e
transmissores de rádio e TV, de acordo com esta classificação e a origem de capital.
Consideram-se apenas firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas.
É possível constatar que as firmas estrangeiras operam em uma escala muito
superior à das congêneres nacionais, mesmo no mercado brasileiro. A remuneração
média por pessoa ocupada nas firmas líderes estrangeiras é de R$ 76 mil/ano,
contra R$ 28 mil/ano nas líderes nacionais. Mesmo a remuneração média das
seguidoras estrangeiras é superior à das líderes nacionais: R$ 36 mil/ano.
Com relação à receita média por empresa, as líderes estrangeiras faturam R$
2 bilhões por firma, contra R$ 20 milhões das líderes nacionais. O faturamento
médio das seguidoras estrangeiras é de R$ 518 milhões, contra R$ 21 milhões das
seguidoras nacionais.
A receita líquida de vendas (RLV) das firmas estrangeiras supera os R$ 23
bilhões, ao passo que a RLV das brasileiras é de R$ 1,1 bilhão. No que diz respeito
aos gastos com atividades inovativas, é possível observar que, em relação ao
112
Tabela 3 – Variáveis selecionadas das empresas do setor de equipamentos de telefonia e transmissores de TV, conforme origem do
capital e categoria – firmas com 30 ou mais pessoas ocupadas (2005)

Fonte: Dados da Pesquisa


Industrial Anual (PIA) e Pesquisa
Industrial de Inovação Tecnológica
(PINTEC), do IBGE; da Relação
Anual de Informações Sociais
(Rais), do Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE); e da Secretaria
de Comércio Exterior (Secex) do
Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior
(MDIC). Elaboração dos autores.
Obs.: Valores monetários
atualizados pelo IPCA até 2009
(inclusive).
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

113
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

faturamento, os dispêndios das firmas líderes nacionais são até superiores aos das
líderes estrangeiras (6,5% contra 3,3% da RLV, respectivamente). Entretanto, em
termos absolutos são muito inferiores, e pouco expressivos quando comparados
ao que se observa na tabela 1. Os gastos em P&D de algumas firmas estrangeiras
são muito superiores ao faturamento das firmas nacionais.
Não se observou a ocorrência de firmas emergentes, e os valores das firmas
frágeis estrangeiras foram omitidos por motivo de confidencialidade. Esta situação
de mercado é fruto – em grande parte – da principal política industrial para o
setor: a Lei de Informática. Esta lei incentivou a instalação de firmas estrangeiras
no Brasil, prevendo incentivos fiscais em contrapartida a gastos em atividades de
P&D no país.
Maiores escalas de produção costumam estar associadas a maiores indicadores
de produtividade. Os dados indicam que as firmas estrangeiras apresentam maior
produtividade do trabalho. O VTI por pessoa ocupada das líderes estrangeiras
(R$ 385 mil) é mais de três vezes superior ao das líderes nacionais (R$ 120 mil).
O valor do mesmo indicador para as seguidoras estrangeiras (R$ 219 mil) é quase
duas vezes superior ao das líderes nacionais.

Considerações finais
Os resultados apresentados neste artigo são uma pequena parte de um extenso
relatório desenvolvido em parceria entre o Ipea e a ABDI. Este relatório
contemplou não apenas o setor de aparelhos de telefonia e transmissores de TV,
mas também o de máquinas para escritório e equipamentos de informática,
material eletrônico básico, rádio, TV, som e vídeo. As firmas estrangeiras atuam
com uma escala de operação de outra grandeza, quando comparadas às firmas
nacionais, no mercado brasileiro.
Embora os gastos das líderes brasileiras em atividades inovativas sejam –
em proporção ao faturamento – superiores aos das líderes estrangeiras, em
termos absolutos o total despendido pelas firmas brasileiras é muito inferior ao
gasto pelas multinacionais. Comparando-se com valores gastos pelas grandes
corporações internacionais que atuam no setor de computação e eletrônica, trata-
se de valores pouco expressivos. Visto que a maior parte das atividades de P&D
das multinacionais é concentrada nos países centrais, uma comparação entre
dispêndios em P&D não pode desconsiderar os valores gastos pelas corporações
estrangeiras no exterior.
É preciso ressaltar que os dados da tabela 3 não permitem separar com
segurança os equipamentos de rede de telecomunicações dos aparelhos telefônicos
e equipamentos transmissores de TV. Desse modo, é razoável supor que uma

114
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

parcela considerável dos valores apresentados refere-se a aparelhos telefônicos,


e é possível ter uma ordem de grandeza a partir dos valores apresentados na
tabela 2, que discrimina o consumo das famílias do consumo intermediário e do
investimento.
Por seu turno, os valores referentes a equipamentos de rede de
telecomunicações das empresas nacionais eram ainda menos expressivos que os
apresentados na tabela 3. É importante frisar também que os dados referem-se
unicamente a empresas de manufatura. Alguns dados indicam que se trata de
um mercado no qual é difícil se obterem bons resultados financeiros, em parte
devido à concorrência dos produtos de baixo custo fornecidos pelas concorrentes
chinesas. Esta análise de mercado está sendo aprofundada em outro estudo.

Referências Bibliográficas
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Valor Econômico, p. B12, 21 set. 2010.
DAS, A.; CHON, G. Dúvidas ainda cercam Nokia Siemens. Valor Online,
22 jul. 2010.
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década de 90. Brasília: Ipea, p. 61, 2001. (Texto para Discussão n. 786).
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE).
Matriz Insumo-Produto 2005. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em:
<ftp://ftp.ibge.gov.br/Matriz_insumo-produto/MIPN55/2005.zip>. Acesso em:
set. de 2008.
JARUZELSKI, B.; DEHOFF, K. Profits down, spending stedy: the global
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MILLER, R. E.; BLAIR P. D. Input-output analysis: foundations and
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THOMSON, A. De carros a cafeteiras, Verizon quer tudo conectado sem
fio. Valor Econômico, p. B3, 23 set. 2010.
SPADINGER, R. Uma breve comparação entre os modelos de inovação
europeia e brasileira no mercado de telecomunicações. Ipea, Brasília, fev.
2010.
TURLEA, G. et al. The 2010 report on R&D in ICT in the European
Union. Luxembourg: European Commission, 2010.

115
Diferenças de escala no mercado de equipamentos de telecomunicações

Anexo 1
Descrição do escopo deste artigo, conforme a Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (CNAE) 1.0
32.2 Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e
de transmissores de televisão e rádio.
32.21-2 Fabricação de equipamentos transmissores de rádio e televisão e de
equipamentos para estações telefônicas, para radiotelefonia e radiotelegrafia,
inclusive de microondas e repetidoras.
32.22-0 Fabricação de aparelhos telefônicos, sistemas de intercomunicação
e semelhantes.

Anexo 2 – Categorização das firmas


Empresas líderes: i) inovadora de produto novo para o mercado e exportadora com
preço-prêmio; ou ii) inovadora de processo novo para o mercado, exportadora e
de menor relação entre custo e faturamento (quartil inferior).
Empresas seguidoras: i) demais exportadoras não líderes; ou ii) empresas
que têm produtividade do trabalho igual ou superior às exportadoras não líderes.
Empresas frágeis são as demais firmas, voltadas para o mercado interno. Em
geral, não inovam, e operam com maiores custos.
Emergentes são empresas não classificadas como líderes ou seguidoras, mas
que investem continuamente em P&D, ou inovam produto novo para o mercado
mundial, ou possuem laboratórios de P&D (departamentos de P&D com mestres
ou doutores ocupados em P&D).

116
CAPÍTULO 6

Compras governamentais: análise de aspectos da demanda


pública por equipamentos de telecomunicações1

Rodrigo Abdalla Filgueiras de Sousa 2


João Maria de Oliveira 3

Introdução
Em diferentes situações, o poder das compras governamentais pode ser utilizado
para estimular segmentos econômicos estratégicos para a economia. Alguns
estudos sobre a sua utilização como instrumento de política industrial sugerem
que seus impactos podem ir além do fortalecimento da base empresarial existente.
Em certos casos, estes efeitos proporcionam o estímulo à adoção de novas
combinações, geração de empreendimentos e criação de cadeias produtivas.
No momento atual em que se lança uma política pública visando à
massificação do acesso à internet em banda larga, discute-se a oportunidade de
se utilizar o poder de compras para incentivar o segmento de equipamentos de
telecomunicações. No entanto, uma questão crucial é se esta ferramenta reúne as
condições necessárias para ser aplicada de forma eficiente na reestruturação do
setor. Em artigo presente nesta publicação, Kubota, Domingues e Milani (2010)
afirmam que um dos requisitos mais importantes do setor é a escala de produção.
O objetivo deste estudo é, portanto, investigar se o volume das compras
públicas realizadas nos últimos anos para o segmento teria sido suficiente para
oferecer um patamar de consumo que viabilizasse o desenvolvimento da indústria
nacional. Adicionalmente, o trabalho examina quais são as tendências de
modificação do cenário vigente, a partir das projeções de investimento da Telebrás,
à qual cabe cumprir os objetivos do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL).
Por fim, o artigo verifica se é possível, e como, estimular a atividade empresarial,
interferindo de maneira proativa no ritmo e na direção do desenvolvimento da
indústria de telecomunicações no Brasil.

1. O presente artigo foi publicado inicialmente no Boletim Radar no. 10, edição especial sobre Telecomuni-
cações.
2. Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea.
3.Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea

117
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

Fomento às atividades econômicas por meio das compras governamentais


Diversos estudos mostram que as compras governamentais têm sido extensivamente
utilizadas por governos de vários países – com utilização mais intensa por parte
das nações desenvolvidas – para a implementação de políticas públicas. Estas
são direcionadas, em geral, a pelo menos um dos objetivos a seguir: incentivo
à indústria; aumento do investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D),
combinado com estímulo à inovação; e melhoria na prestação de serviços públicos.
A União Europeia, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Tratado
Norte-Americano de Livre Comércio (conhecido pela sigla inglesa Nafta), por
exemplo, têm legislação e procedimentos específicos para compras públicas. No
caso particular dos Estados Unidos, existe ainda uma clara conduta de preferência
para bens de produção doméstica nas compras do governo.
Embora as compras públicas sejam reconhecidas como um importante
instrumento para a execução de políticas, isto não significa que o seu uso seja
uniforme. Ocorrem variações, por exemplo, com relação ao nível de centralização
das compras, à forma de execução dos leilões, às condições de preferência por
pequenas e médias empresas, entre outras. Evidentemente, a origem destas
diferenças está vinculada às peculiaridades econômicas e legais de cada país.
Com relação à sua finalidade, o poder de compra governamental pode ser
usado de duas formas: para adquirir bens prontamente disponíveis no mercado
ou para desenvolver novos produtos. Esta segunda forma de contratação
tem especial relevância quando as metas da política incluem o aumento do
investimento em P&D e a promoção da inovação. Os benefícios podem ser
resumidos como a indução de uma demanda por produtos com tecnologias mais
avançadas e a redução do risco inerente às atividades de P&D no país. Com isso,
aparecem oportunidades para melhorar a qualidade dos serviços públicos e, como
consequência, a produtividade da economia.
No exterior, o uso das compras públicas para promover a inovação já se
tornou comum. O Research Investment Action Plan, da Comissão Europeia, por
exemplo, usa este instrumento para alcançar a meta de investimento de 3%
do produto interno bruto (PIB) em P&D. Para orientar o papel das compras
públicas, Moreira e Vargas (2009) entendem que o governo pode utilizar três
opções de trajetórias para induzir a inovação: i) como mercado potencial, gerando
requisitos inovadores; ii) como fonte de interação com as empresas, alterando
a concepção analítica dos novos produtos; e iii) como agente de mercado,
auxiliando a difusão das soluções inovadoras desenvolvidas. Os autores destacam
que “a efetiva indução de inovações com as compras governamentais requer não
apenas a intencionalidade política, mas também capacitação governamental
para a adoção de requisitos de fornecimento efetivos na indução de soluções
genuinamente inovadoras”.
118
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

Para o caso específico das políticas de compras públicas voltadas ao setor de


telecomunicações, tanto para equipamentos quanto para serviços, Blind e Gauch
(2008) recomendam que se dê especial atenção aos padrões tecnológicos. Novas
iniciativas de políticas de inovação induzida pela demanda preveem um uso ainda
mais intensivo do processo de normalização como forma de acelerar a difusão das
novas tecnologias.
Alguns exemplos bastante elucidativos do uso das compras para a inovação
no setor de telecomunicações e o seu relacionamento com o setor de defesa
são observados nos EUA. Primeiro, o papel das agências de pesquisa ligadas
à defesa (Defense Advanced Research Projects Agency – Darpa) e à academia
de ciências (National Sciences Foundation – NSF) foi fundamental para a
criação da rede mundial de computadores. Segundo, o plano de banda larga
norte-americano inclui como uma de suas recomendações o provimento de
conectividade em redes de acesso em banda larga de ultra-alta velocidade para
as instalações do Departamento de Defesa (Department of Defense – DoD),
o que atende simultaneamente aos objetivos de criar um mercado pioneiro,
aumentar a qualidade do serviço público e ampliar o investimento em P&D.
Terceiro, o desenvolvimento da própria indústria de semicondutores nos EUA –
historicamente ligada ao setor de telecomunicações – no final dos anos 1960 foi
impulsionada pelo setor de defesa do país, em que as compras governamentais
foram apontadas como fator essencial para absorção dos altos custos da curva de
aprendizado.
Relatório apresentado por Nyiri, Osimo, Ozcivelek, Centeno e Cabrera
(2007) ratifica a importância das compras governamentais para a inovação. No
Canadá, em pesquisa conduzida entre 1945 e 1978, constatou-se que cerca de
25% das inovações foram adquiridas primeiramente pelo setor público, e o setor
de telecomunicações aparece entre as áreas mais inovadoras.
Embora não haja dados precisos, estima-se que o volume das compras
governamentais relacionadas às tecnologias da informação e comunicação
(TICs) seja expressivo, tanto no Brasil quanto no exterior. Na União Europeia,
por exemplo, acredita-se que, pelo menos, 20% do mercado de tecnologias da
informação (TI) correspondam às compras governamentais. No Brasil, avalia-se
que esta participação fique entre 10% e 15%. Não obstante o governo federal
ser o principal comprador, uma grande parte dos gastos também está distribuída
pelas administrações estaduais e municipais.
Também no Brasil, o uso das compras públicas parece despontar como
um poderoso instrumento à disposição do governo. Isto decorre não somente
da publicação recente da Medida Provisória (MP) no 495/2010, que incluiu a
“promoção do desenvolvimento nacional” entre um dos princípios das licitações

119
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

– oferecendo uma margem de até 25% para os produtos com tecnologia nacional
–, mas também do aumento do investimento público em diversos setores. Para
o caso particular das telecomunicações, os investimentos públicos vinham sendo
direcionados a programas visando reduzir os índices de exclusão digital. Contudo,
para os próximos anos, o PNBL aparece como o principal veículo de investimento
público para o setor, por meio das aquisições de equipamentos para construção
da rede da Telebrás.
É importante ressaltar que as compras no setor de telecomunicações, sejam
públicas ou privadas, possuem uma dinâmica particular. Os fabricantes de
equipamentos e os operadores de rede de telecomunicações formam alianças, nas
quais a evolução tecnológica dos equipamentos é decidida de forma integrada
entre os participantes. Este tipo de relacionamento decorre da necessidade de
os fabricantes melhorarem a previsibilidade da trajetória futura de sua linha de
equipamentos, reduzindo o risco inerente ao desenvolvimento de novos produtos.
Por sua vez, os operadores também se beneficiam ao transferir a maior parte
do P&D para empresas com conhecimento especializado e que poderão obter
futuros ganhos de escala.
Embora as políticas brasileiras de incentivo à produção e ao desenvolvimento
tecnológico mencionem as compras públicas como elemento de estímulo à
inovação, existem evidências de que, na prática, acontece o contrário. Em geral,
empresas defasadas em termos mercadológicos, com pouco grau de diferenciação
e baixo potencial inovador, acabam sendo as maiores beneficiadas pelas compras
governamentais.

Compras públicas de equipamentos de telecomunicações no Brasil


Para avaliar o porte da demanda pública por equipamentos de telecomunicações
no Brasil, este estudo analisou três dimensões. A primeira está relacionada às
compras da administração pública; a segunda refere-se às aquisições da Petrobras,
que possui uma extensa rede para comunicação corporativa; e a terceira faz
previsões do mercado potencial, a partir de estimativas de investimento por parte
da Telebrás.
Para a dimensão das compras da administração pública, foi utilizada a base
de dados do sistema Comprasnet, disponibilizada pela Secretaria de Logística e
Tecnologia da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão (MPOG). Nesta base, encontram-se as compras governamentais
registradas entre os anos de 2002 e 2010. Também estão disponíveis informações
de alguns governos estaduais e municipais, que fazem suas aquisições utilizando o
mesmo sistema. Foram selecionados apenas os materiais relacionados com o setor

120
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

de equipamentos de telecomunicações, pertencentes às oito classes indicadas no


anexo.
O gráfico 1 traz os valores anuais das compras da administração pública,
classificadas por grupos de materiais. Apenas os últimos quatro anos foram
apresentados, pois, somente a partir de 2007, todos os órgãos e instituições da
administração pública federal passaram a utilizar o sistema para realizar as suas
aquisições. Pelo gráfico, verifica-se que a demanda pública por equipamentos
de telecomunicações é relativamente pequena, quando comparada aos valores
de receita líquida de vendas (RLV) do setor de telecomunicações, indicados por
Kubota et al. (2010). Tomando-se como referência o valor médio das aquisições
(R$ 29,1 milhões por ano), a ordem de grandeza do gasto realizado pelo governo
é pouco expressiva para ser utilizada como justificativa de indução setorial.

Gráfico 1 – Valor corrente das compras governamentais de equipamentos de


telecomunicações, entre 2007 e 2010, por grupo de material (em milhões de reais)

Fonte: Comprasnet (SLTI/MPOG).

Uma análise dos tipos de compras realizadas mostra que cerca de metade
das aquisições (47,8%) é formada por equipamentos de comunicação, detecção
e radiação coerente. Neste grupo estão os diversos tipos de rádios, antenas,
equipamentos óticos (transceptores, multiplexadores, acopladores etc.), modems,
telefones e outros equipamentos. Mesmo que os dados revelem certa oscilação das
compras deste grupo ao longo do tempo, confirma-se a necessidade sistemática
por este tipo de material. Outro grupo relevante é o de materiais, componentes,
conjuntos e acessórios de fibras óticas, correspondendo a 37,4% das aquisições.
Ele inclui os cabos de fibra ótica, conversores e terminadores.
121
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

A situação da década de 2000 não foi particularmente favorável ao uso


do poder de compras governamentais no país para fomentar a indústria de
telecomunicações. Primeiro, por causa da própria privatização do sistema
Telebrás, que transferiu o poder de decisão sobre compras de equipamentos
para os operadores privados. Segundo, por conta da falta de instrumentos legais
e regulatórios que estimulassem a competição por inovação, no âmbito das
licitações de equipamentos e serviços de telecomunicações para o poder público.
O gasto relativamente baixo é explicado não apenas pela operação privada
das redes de telecomunicações, mas também pela preferência dos gestores
públicos pela licitação de serviços de telecomunicações que incluam a colocação
e manutenção dos equipamentos necessários. Dessa forma, em razão de uma
solução mais eficiente, a administração pública deixa de comprar diretamente os
produtos de telecomunicações, o que não significa que não possa mais influenciar
a demanda por equipamentos de telecomunicações. Por meio da escolha de
requisitos técnicos adequados, ainda é possível direcionar a demanda intermediária
(os produtos que serão usados posteriormente nas soluções completas), conforme
o tipo e a qualidade dos serviços a serem prestados.
Vale destacar, no entanto, a participação dos comandos militares na
aquisição de equipamentos de telecomunicações. Dependendo do período e do
foco da análise, as Forças Armadas possuem uma participação que varia de 20%
a 30% deste orçamento. A razão para isto é que, por questões de segurança, as
Forças Armadas optaram por conservar as suas próprias redes de comunicação,
ou pelo menos parte delas. Consequentemente, precisam adquirir materiais e
equipamentos para manter e expandir as suas operações. Exemplos destas redes
militares são o Sistema Brasileiro de Comunicação Militar por Satélite (Siscomis) e
o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam).
Outras redes ainda estão em fase de concepção, como o Sistema Integrado de
Monitoramento das Fronteiras (Sisfron) e o Satélite Geoestacionário Brasileiro
(SGB). Dessa forma, cabe observar em um maior grau de detalhamento a demanda
das Forças Armadas por materiais relacionados ao setor de telecomunicações.
Usando dados de 2009, o detalhamento das compras da Defesa revela que
elas estão concentradas em: equipamentos para comunicação móvel, sistemas de
radar, monitores de imagem e equipamentos para comunicação por satélite. Em
um período mais abrangente (2007 a 2010), ganham importância também as
compras de cabos de fibra ótica e de equipamentos para simulação.
A importância da Defesa para o desenvolvimento das telecomunicações
fica evidente não somente nas duas situações mencionadas na seção anterior
(criação da internet e investimento em banda larga para instalações do DoD),
mas também pode ser notada em outros dois casos. Primeiro, o impulso à
tecnologia de espalhamento espectral (spread spectrum) ocorreu durante os anos
122
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

1940, a partir da necessidade de segurança para as comunicações militares, no


tocante aos quesitos de confiabilidade (proteção contra interferências) e de sigilo
(inviolabilidade das informações). Hoje, esta tecnologia é usada na maior parte
dos aparelhos que necessitam compartilhar banda espectral de forma segura em
faixas de frequências não licenciadas (por exemplo: telefones sem fio, roteadores
wireless etc.), e também está presente na terceira e quarta gerações da telefonia
móvel (3G e LTE, respectivamente). Segundo, o desenvolvimento da tecnologia
de satélites e sua posterior aplicação comercial para comunicações somente foi
possível a partir de pesados investimento feitos na área de Defesa, no período
da Guerra Fria. Portanto, em uma abordagem inicial, talvez seja interessante a
aproximação das políticas de compras de equipamentos de telecomunicações do
governo, em sentido amplo, com as especificidades do setor de defesa brasileiro.
A segunda dimensão da análise utilizou uma base de dados da Petrobras4
, contendo informações sobre aquisições de bens e serviços contratados pela
empresa entre 2004 e 2008. Neste período, o volume de compras da Petrobras
relacionado a equipamentos de telecomunicações alcançou um total de R$
43,1 milhões. Em maior nível de detalhe, observa-se que 89,7% daquele valor
correspondem a compras que podem ser classificadas no grupo equipamentos
de comunicação, detecção e radiação coerente. Novamente, percebe-se que a
quantia gasta pela Petrobras em equipamentos de telecomunicações (pouco mais
de R$ 10 milhões por ano) é pouco significativa para ser utilizada como forma de
estímulo às empresas do setor.
A terceira e última dimensão da análise busca avaliar o impacto da futura
demanda da Telebrás, reativada recentemente para implementar a parte do PNBL
relacionada à infraestrutura de redes. A empresa prevê que, até o final de 2014,
estarão em serviço no Brasil 39,8 milhões de acessos domiciliares. De acordo com
estimativas efetuadas pelos autores, o investimento necessário para implantar a
rede da Telebrás em 26 estados é de cerca de R$ 560 milhões (somente backbone e
backhaul), sendo R$ 330 milhões em equipamentos de telecomunicações e outros
R$ 230 milhões na infraestrutura propriamente dita. Portanto, as aquisições dos
equipamentos de telecomunicações por parte da Telebrás ampliarão de forma
bastante significativa a demanda governamental: de uma média anual de R$ 29,1
milhões, conforme o gráfico 1, passará para um patamar quase quatro vezes maior
(R$ 112 milhões).
No entanto, o próprio perfil dos equipamentos será modificado. Enquanto
a demanda atual se caracteriza por equipamentos corporativos, os produtos a
serem usados na rede da Telebrás requererão maior índice de confiabilidade e
deverão ser de maior capacidade. Este fato altera de forma considerável o nível de
4. O presente artigo foi publicado inicialmente no Boletim Radar no. 10, edição especial sobre Telecomuni-
cações.

123
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

exigência em relação àqueles atualmente adquiridos. Também há a previsão de se


investir, até 2014, cerca de R$ 600 milhões em equipamentos para rede de acesso,
conforme estimativas realizadas pelos autores. Estes investimentos poderão ser
realizados pela Telebrás, por provedores privados ou mesmo por ambos. Portanto,
parte deste valor poderá se incorporar aos investimentos já arrolados, elevando
um pouco mais o volume das compras governamentais.
Em síntese, a análise dessas três dimensões revela a pequena escala das compras
governamentais em relação ao mercado de equipamentos de telecomunicações.
Apesar disso, a demanda pública, por meio das aquisições da Telebrás, pode vir
a ocupar nichos importantes deste mercado. Em relação a certas tecnologias,
ela poderá ser o principal ou até mesmo o único comprador no país. De forma
análoga ao setor de saúde, no qual se observa a existência de medicamentos em
que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem presença de quase 100%, o poder das
compras do governo pode ser exercido de forma efetiva nestas situações.
A partir da análise do arcabouço legal e dos resultados apresentados em
estudos anteriores, também se verifica a pouca coordenação e a falta de incentivo
à inovação das políticas brasileiras. Portanto, estas importantes questões, e não
somente o volume das compras públicas, devem ser levadas em consideração no
momento da reformulação das políticas para o setor de telecomunicações.

Considerações finais
Este estudo, por seu caráter exploratório, não tem a intenção de prescrever
políticas públicas para o setor de telecomunicações. Em vez disso, o seu objetivo
foi discutir estudos de caso e trazer informações para esclarecer alguns pontos-
chave do setor, a fim de auxiliar a decisão sobre as políticas que devem ser adotadas.
Algumas questões relevantes sequer foram mencionadas no trabalho, tais como:
a possibilidade de exigir a preferência pela aquisição de produtos nacionais por
parte dos operadores privados; a conveniência ou a necessidade de oferecer novos
estímulos para as empresas produtoras de equipamentos de telecomunicações;
e os impactos atuais e futuros na difusão da banda larga ao se decidir por uma
política de desenvolvimento tecnológico para o setor.
No entanto, a partir do referencial teórico analisado e dos dados apresentados,
já se podem propor algumas recomendações pertinentes à formulação de uma
política consistente e eficiente de compras públicas no Brasil:
1. O marco legal das compras governamentais, durante décadas, privilegiou
o preço em detrimento do aspecto inovador. Embora a MP no 495/2010,
recentemente editada, modifique este marco para propiciar, ao mesmo tempo,
o desenvolvimento de novos mercados e o apoio às firmas mais inovadoras, a

124
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

administração pública brasileira não tem experiência com este instrumento de


política pública. Em tese, a nova legislação pode tanto beneficiar um grupo de
empresas extremamente competitivas como ser utilizada para sustentar firmas
ineficientes, a depender de sua execução. Para usar as compras governamentais
de forma efetiva, é necessário que os gestores públicos busquem a adequada
capacitação técnica que possibilite a seleção de requisitos genuinamente
inovadores;
2. A política de desenvolvimento tecnológico deve prever a elaboração
de um mapa contendo a trajetória esperada de novos produtos e tecnologias,
definindo prioridades de financiamento, a exemplo do plano de banda larga
norte–americano. O governo deve demonstrar seu compromisso por meio de
aquisições aderentes ao mapa tecnológico, permitindo assim às empresas do setor
uma maior previsibilidade para seus investimentos em P&D;
3. As diferentes esferas (federal, estadual e municipal) e órgãos (administração
direta, empresas públicas e de economia mista, fundações, autarquias etc.) de
governo devem agir de forma coordenada para maximizar os benefícios da
política: incentivo à indústria, aumento do investimento em P&D e melhoria
da qualidade do serviço público. Em especial, é preciso avaliar a inclusão das
aquisições das Forças Armadas na política, pelo papel preponderante da Defesa no
desenvolvimento de novas tecnologias das telecomunicações. Mesmo no contexto
brasileiro, as Forças Armadas possuem participação considerável no orçamento da
administração pública direta, respondendo por cerca de um quarto das compras
públicas de equipamentos de telecomunicações feitas pelo governo federal no
último ano;
4. A participação mais ativa de instituições públicas e empresas privadas em
organismos internacionais de normalização tende a incrementar a taxa de difusão
de novas tecnologias para o mercado consumidor. Esta participação associada
à construção do mapa tecnológico, discutido no item 2 destas considerações,
permite influenciar e acompanhar as definições de tendências tecnológicas
do mercado. Esta estratégia de liderança é adotada por países desenvolvidos,
conforme apontado no referencial teórico.
Por fim, deve-se considerar que o essencial é utilizar o poder das compras
governamentais para o desenvolvimento de tecnologias no país, não sendo
determinante a origem do capital das empresas. Assim, para o caso brasileiro,
pode ser mais adequado trilhar um caminho alternativo, buscando unir as
competências das firmas estrangeiras e nacionais com as demandas produzidas
pelo Estado. Estas alianças podem ser interessantes tanto do ponto de vista de
custo, por reduzirem os investimentos necessários ao desenvolvimento integral
da tecnologia, quanto sob a ótica de tempo, por eliminarem as etapas iniciais
da curva de aprendizado, substituindo-as pela absorção do conhecimento já
125
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

produzido no exterior.
Futuros desdobramentos devem incluir a avaliação das aquisições de
equipamentos de telecomunicações por parte de outras empresas públicas e de
economia mista, tais como Eletrobrás, Serviço Federal de Processamento de
Dados (Serpro), Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, uma vez que estas
empresas apresentam grande potencial de compra de equipamentos de redes de
comunicação, com requisitos de grande dispersão geográfica, necessidade de
elevado grau de confiabilidade e exigência de operação contínua.

Referências Bibliográficas
BLIND, K.; GAUCH, S. Trends in ICT standards: the relationship between
European standardisation bodies and standards consortia. Telecommunications
Policy, vol. 32, n. 7, p. 503-513, 2008.
BRASIL. Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). Brasília, 2010.
EUROPEAN COMMISSION. Public procurement for research and
innovation. Expert Group Report. Luxembourg: Office for Official Publications
of the European Communities, 2005.
FEDERAL COMMUNICATIONS COMMISION (FCC). Connecting
America: the National Broadband Plan. 2010.
KUBOTA, L.; DOMINGUES, E.; MILANI, D. A importância da escala
no mercado de equipamentos de telecomunicações. Radar n. 10, Brasília: Ipea,
2010.
MOREIRA, M.; VARGAS, E. O papel das compras governamentais na
indução de inovações. Contabilidade, Gestão e Governança, vol. 12, n. 2, p. 35-
43, 2009.
NYIRI, L. et al. Public procurement for the promotion of R&D and
innovation in ICT. Seville: Istitute for Prospective Technological Studies (IPTS),
2007.

126
Compras governamentais: análise de aspectos da demanda
pública por equipamentos de telecomunicações

Anexo

Tabela de códigos e descrição de classes de material

127
128
CAPÍTULO 7

Balança comercial de equipamentos de telecomunicações1

Lucas Ferraz Vasconcelos2

Introdução
Este trabalho propõe-se a estudar a balança comercial do segmento de
equipamentos de telecomunicações, a fim de reunir evidências a respeito do seu
potencial de demanda doméstica. Antes de se abordar, porém, especificamente
o segmento de equipamentos de telecomunicações, convém voltar a atenção,
na seção 2 deste artigo, ao complexo eletrônico, que é composto por mais três
segmentos: informática, eletrônica de consumo e componentes.
Na terceira seção, são detalhados os dados da balança comercial do segmento
de equipamentos de telecomunicações. A seção 4 é dedicada à análise dos dados
dos principais equipamentos de rede, mercado sobre o qual o Plano Nacional de
Banda Larga (PNBL) terá impacto direto. Procura-se definir os principais setores
envolvidos na importação e exportação de tais equipamentos. A quinta seção traz
as considerações finais.

O complexo eletrônico
O complexo eletrônico acelerou intensamente sua situação deficitária (tabela 1)
entre 2002 e 2008. A taxa de crescimento das importações foi bastante superior
à taxa de crescimento das exportações, gerando aumento do déficit. De fato,
enquanto a primeira registrou avanço de 137% entre 2004 e 2008, a segunda
elevou-se 60% no mesmo período, fazendo com que o déficit crescesse 169%.
Em termos comparativos, o déficit do complexo eletrônico, em módulo, equivale
a 65% do saldo comercial brasileiro.

1. O presente artigo foi publicado inicialmente no Boletim Radar no. 10, edição especial sobre Telecomuni-
cações.
2. Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea.

129
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações

Tabela 1 – Balança comercial do complexo eletrônico (em bilhões de dólares)

Fonte: Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior


(Secex/MDIC) – agregação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), IpeaData
e Banco Central do Brasil (BCB)3 .

Outra evidência de que o movimento descrito aponta para uma tendência de


agravação do déficit diz respeito à forte recuperação das importações no primeiro
semestre de 2010 frente ao mesmo período do ano anterior (59,7%). Ao mesmo
tempo, observa-se a estagnação das exportações no mesmo período de análise
(2,1%), do que se depreende que o pós-crise afetou de forma desigual empresas
nacionais e estrangeiras do complexo eletrônico: enquanto as primeiras sofreram
as consequências da queda de demanda em mercados estrangeiros combalidos
pela crise e/ou a competição mais agressiva em mercados recuperados, as últimas
beneficiaram-se do dinamismo do mercado interno no pós-crise e ampliaram
rapidamente as exportações para o mercado brasileiro.
Muito embora o maior déficit entre os segmentos que compõem o complexo
eletrônico seja referente a componentes (US$ 7,3 bilhões em 2008), a maior taxa
de crescimento do déficit comercial entre 2004 e 2008 foi devida ao segmento de
equipamentos de telecomunicações (364%), conforme constatado no gráfico 1.
Portanto, pode-se concluir que, embora todos os segmentos tenham aumentado
sua situação deficitária no período, a contribuição para a elevação do déficit
comercial do complexo eletrônico foi devida, em grande parte, ao segmento de
componentes, por sua grande representatividade na composição do déficit, e ao
segmento de equipamentos eletrônicos, pela expansão do déficit no período.

3. Refere-se ao primeiro semestre.

130
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações

Gráfico 1 – Déficit comercial dos segmentos do complexo eletrônico – 2008 (em bilhões
de dólares)

Fonte: Secex/MDIC – agregação do BNDES 4.

Equipamentos de telecomunicações
Embora a balança comercial do setor apresentasse valores relativamente pequenos
entre 2002 e 2006, não ultrapassando US$ 1 bilhão, o segmento de equipamentos
de telecomunicações passa a exibir expressivos déficits comerciais em 2007 e
2008, de US$ 2,2 bilhões e US$ 4,5 bilhões, respectivamente, diminuindo para
US$ 3 bilhões em 2009 e retomando fortemente sua tendência de crescimento
no período pós-crise, com uma elevação de 101% no primeiro semestre de 2010
em relação ao primeiro semestre de 2009 (gráfico 2).

Gráfico 2 – Déficit comercial dos segmentos do complexo eletrônico – 2008 (em bilhões
de dólares)
8
7
6
5
4
3
2
1
0
-1 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2009* 2010*

Importações Exportações

Fonte: Secex/MDIC – agregação do BNDES 5.

4. Refere-se ao primeiro semestre.


5. Refere-se ao primeiro semestre.

131
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações

A dinâmica das importações de equipamentos de telecomunicações está


bastante pautada pelos investimentos realizados pelas operadoras no país. Os
anos de 2002 e 2003 são marcados por baixos investimentos no segmento de
telecomunicações no Brasil. Há duas razões para isto: a intensa crise mundial
deflagrada no setor entre 2001 e 2003, bem como a concentração dos investimentos
de telecomunicações em 2001, resultado do cumprimento antecipado, por parte
das operadoras, das metas de universalização da Anatel, cujo prazo de vigência
estendia-se até 2003 (Szapiro , 2005).
Esses fatores de estagnação do investimento terminam por conter a
importação de equipamentos de telecomunicações. Contudo, a partir de 2004,
com a retomada dos investimentos no setor, o crescimento das importações é
intensificado, culminando em 2008. Com a crise financeira mundial, deflagrada
no último trimestre de 2008, reduzem-se significativamente as importações, por
conta do adiamento dos planos de investimento das operadoras.
O cenário econômico interno favorável em 2010, frente à demanda
estagnada dos países desenvolvidos, pode promover dois movimentos simultâneos:
a retomada dos planos de investimentos por parte das operadoras (que tinham
sido suspensos no ano anterior) e o acirramento da concorrência (por conta da
economia mundial desaquecida) com fabricantes estrangeiros, principalmente
chineses, que, de acordo com o Anuário Telecom (2009), têm disputado
agressivamente o mercado nacional nos últimos anos.
O desempenho exportador do segmento de equipamentos de
telecomunicações está muito associado à exportação de telefones celulares e
mostra-se bastante instável, de acordo com as estratégias mundiais das grandes
fabricantes de celulares instaladas no país.
As exportações mantiveram-se estagnadas, por volta de US$ 1,5 bilhão,
entre 2002 e 2003. Elevaram-se a um patamar significativo em 2005 e 2006
(US$ 3,2 bilhões e US$ 3,6 bilhões, respectivamente), para, em seguida, caírem,
em 2007, para US$ 2,7 bilhões, por conta de mudanças estratégicas de duas das
grandes empresas do setor (Motorola e Nokia) instaladas no país (Szapiro , 2009).
O advento da crise intensificou a queda das exportações e, diferentemente das
importações, as vendas ao mercado externo de equipamentos de telecomunicações
não apresentam evidências de recuperação. De fato, o primeiro semestre de 2010
apresentou leve queda das exportações em relação ao mesmo período de 2009.
Partes e peças, telefones celulares e fios e cabos compreendem grande parte
do valor das importações realizadas em 2008 (54%, 10% e 9%, respectivamente).
A grande parcela de insumos na pauta de importações do segmento (US$ 4,1
bilhões em 2008) sugere alto conteúdo estrangeiro nos equipamentos fabricados
no país. Por exemplo, segundo o Anuário Telecom (2004), os telefones celulares

132
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações

fabricados no Brasil possuem ao menos 80% de conteúdo importado. Por sua


vez, conforme mencionado, a exportação de equipamentos de telecomunicações é
bastante concentrada nas vendas externas de telefones celulares, sendo responsável
por 72% das exportações.

Gráfico 3 – Composição da balança comercial de equipamentos de telecomunicações (em


milhões de dólares)

Fonte: Secex/MDIC – agregação do BNDES

A forte presença de produtos ligados ao setor de fabricação de celulares


na corrente de comércio do segmento de equipamentos de telecomunicações
distorce a análise das importações e exportações de equipamentos de rede, que
serão diretamente afetados pelo PNBL.

Equipamentos de rede
A fim de se obterem dados mais específicos quanto aos equipamentos de rede,
foram excluídos da análise aparelhos telefônicos e partes e peças6 . Nota-se a
modesta quantia de importações destes equipamentos (US$ 798 milhões em
2007) em relação ao valor total importado pelo segmento de telecomunicações
(US$ 4,9 bilhões no mesmo período). Além disso, o valor das exportações é
ainda menor, US$ 124 milhões em 2007, relativamente às exportações totais do
segmento, de 2,74 bilhões no mesmo ano (tabela 2).
Outra característica marcante desse mercado é a grande concentração
da balança comercial em alguns produtos. Das importações realizadas em
2007, 63% delas foram referentes a roteadores digitais, aparelhos diversos para
transmissão e recepção de voz e dados em rede com fio (exceto hubs e modems) e
aparelhos emissores diversos com receptor incorporado, digitais. No que tange às
exportações, a concentração é mais acentuada: no mesmo ano de 2007, somente
6. Partes e peças foram excluídas, pois grande parcela destas é destinada à fabricação de aparelhos telefônicos.

133
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações

duas categorias de produto, estação rádio base (ERB) de telefonia celular e


comutadores, abrangem 69% de todo o montante.

Tabela 2 – Balança comercial de equipamentos de rede (em milhões de dólares)

Fonte: Secex/MDIC. Elaboração do autor.

Para determinar quais setores importam ou exportam equipamentos de


rede, utilizaram-se os dados fornecidos pela Secretaria de Comércio Exterior
(Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

134
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações

(MDIC), combinados aos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais),


do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na qual é informado o código da
Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae) associado à empresa.
Embora este método traga algum inconveniente, pois nem todas as empresas
existentes são cadastradas na Rais, a subestimação dos valores de importação
e exportação é bastante pequena, dada a magnitude dos valores envolvidos7 .
O método utilizado mostra-se bastante eficaz para a identificação dos setores
importadores e exportadores dos equipamentos em questão.
Por meio da combinação dessas bases de dados, pode-se determinar quais
são os setores importadores de equipamentos de rede com base em seu código
Cnae. A tabela 3 demonstra que parcela expressiva das importações é realizada
pelo comércio atacadista e por representações comerciais, provavelmente por
empresas que, por não possuírem fábrica em território nacional, importam os
equipamentos prontos, para venda às operadoras.
Quanto às importações realizadas por fabricantes de equipamentos
transmissores de comunicação e equipamentos de informática, estas
provavelmente devem-se: i) às estratégias de produção global de grandes empresas
multinacionais, que podem produzir determinado equipamento em somente uma
de suas filiais no mundo e exportá-lo aos outros países em que está presente; e ii)
à complementação do pacote de produtos das pequenas empresas nacionais, uma
vez que seus clientes (em grande parte as operadoras de telecomunicações) exigem
soluções que contemplem todos os equipamentos necessários para a instalação da
rede.
Tabela 3 – Setores importadores e exportadores de equipamentos de rede (em milhões de
dólares)

Fonte: Secex/MDIC e Rais/MTE. Elaboração do autor.

7. Outro inconveniente diz respeito ao período de análise, visto que, para fins deste trabalho, não foram
disponibilizados microdados para além de 2007.

135
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações

Pode-se constatar que as exportações são predominantemente realizadas


por setores constituintes do próprio segmento de telecomunicações. Há certa
dificuldade em distinguir empresas classificadas na Cnae 2631-1 (fabricação de
equipamentos transmissores de comunicação) e 2632-9 (fabricação de aparelhos
telefônicos e de outros equipamentos de comunicação), pois algumas das maiores
fabricantes de equipamentos de rede são também fabricantes de telefones celulares,
dadas as características de diversificação das atividades das empresas deste setor8.

Considerações finais
Observando-se os dados apresentados, identifica-se uma tendência de deterioração
acelerada da balança comercial do complexo eletrônico. Os principais segmentos
responsáveis por esta tendência foram os de componentes e equipamentos de
telecomunicações – este, principalmente devido ao intenso crescimento de suas
importações.
A fabricação de aparelhos telefônicos e de outros equipamentos de
comunicação constitui o principal setor do segmento de equipamentos de
telecomunicações. Partes e peças de celulares e outros equipamentos de
comunicação respondem pela maior cifra de importação do segmento. Telefones
celulares correspondem ao item de maior valor de exportação.
Excluindo-se os itens referentes à fabricação de telefones celulares, de partes
e peças e de outros bens intermediários, chega-se à demanda por importação
de equipamentos de rede e à oferta destes equipamentos para exportação. Tanto
a demanda por importações quanto a oferta de exportações destes bens são
relativamente pequenas, comparando-se aos demais itens do segmento. Além de
modesto, o comércio exterior dos equipamentos de rede selecionado mostra-se
crescentemente deficitário, assim como todo o complexo de eletrônica.
As características citadas levantam questões relevantes concernentes à
escala de produção de equipamentos de rede no Brasil. A implantação do PNBL
certamente aumentará a demanda das fabricantes nacionais, mas, segundo se
pode constatar pelos dados apresentados, uma estratégia eficaz de fortalecimento
da indústria de equipamentos de telecomunicações nacional tem de ter como
ponto fundamental de sua estratégia a conquista de mercados externos, a fim de
ganhar escala e poder competir em um mercado altamente oligopolizado.

Referências Bibliográficas
LINDMARK, S.; TURLEA, G.; ULBRICH, M. Mapping R&D
8. Lindmark et al. (2008, p. 51) expõem dificuldade parecida em seu estudo.

136
Balança comercial de equipamentos de telecomunicações

investment by the European ICT business sector.


JRC Reference Reports, Luxemburg, 2008.
PLANO EDITORIAL. Anuário TELECOM. 2004.
______. Anuário TELECOM. 2009.
SZAPIRO, M. H. S. Reestruturação do setor de telecomunicações na
década de noventa: um estudo comparativo dos impactos sobre o sistema de
inovação no Brasil e na Espanha. Tese (Doutorado), IE/UFRJ, 2005.
______. Projeto perspectivas do investimento no Brasil: equipamentos
de telecomunicações. Rio de Janeiro, 2009.

Anexo 1
Descrição do escopo deste artigo, conforme a Classificação Nacional de
Atividades Econômicas (CNAE) 1.0
32.2 Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e
de transmissores de televisão e rádio.
32.21-2 Fabricação de equipamentos transmissores de rádio e televisão e de
equipamentos para estações telefônicas, para radiotelefonia e radiotelegrafia,
inclusive de microondas e repetidoras.
32.22-0 Fabricação de aparelhos telefônicos, sistemas de intercomunicação
e semelhantes.

Anexo 2 – Categorização das firmas


Empresas líderes: i) inovadora de produto novo para o mercado e exportadora
com preço-prêmio; ou ii) inovadora de processo novo para o mercado,
exportadora e de menor relação entre custo e faturamento (quartil inferior).
Empresas seguidoras: i) demais exportadoras não líderes; ou ii) empresas
que têm produtividade do trabalho igual ou superior às exportadoras não
líderes.
Empresas frágeis são as demais firmas, voltadas para o mercado interno. Em
geral, não inovam, e operam com maiores custos.
Emergentes são empresas não classificadas como líderes ou seguidoras, mas
que investem continuamente em P&D, ou inovam produto novo para o
mercado mundial, ou possuem laboratórios de P&D (departamentos de
P&D com mestres ou doutores ocupados em P&D).

137
138
3ª. PARTE

PANORAMA DA COMUNICAÇÃO

139
140
CAPÍTULO 1

Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa


como um modelo internacional de inclusão

André Barbosa Filho1

Introdução
Quem pensa que o uso da internet no computador vai acabar com o hábito de ver
TV, levante a mão. Pois quem imagina que a resposta afirmativa é a correta, está
equivocado(a). Enganam-se os que acreditam que, conforme aumenta o uso da
internet em diferentes plataformas no Brasil, menos tempo as pessoas dedicariam
à TV. Pelo que menos é o que constata a pesquisa ‘Estilos de Vida e Bem-Estar
Individual’, feita pela empresa Market Analysis2. Realizado com 483 adultos com
mais de 18 anos residentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre
durante o mês de julho de 2009, o estudo aponta que o percentual de brasileiros
que passou 11 horas ou mais por semana navegando na internet saltou de 11%
para 17%.
Em outros termos, isso significa que, numa semana sem feriados, um em cada
seis brasileiros fica metade do dia ou mais tempo acessando a internet, isto, claro,
dentro do grupo de pessoas que possuem internet. O aumento na quantidade
de horas na rede coincide com a expansão acelerada na venda de computadores
e da banda larga no Brasil. O percentual de internautas que dedicam o mesmo
tempo para assistir a TV, por sua vez, aumentou de 62% para 70,5% em um ano.
Segundo os responsáveis pela pesquisa, esses dados contradizem a ideia defendida
por alguns de que, com a expansão da rede, haveria uma profunda mudança
muito nos hábitos de consumo de mídia, a ponto de a TV perder espaço para a
rede mundial de computadores que, na oferta de conteúdos digitais, avança de
modo acentuado para os celulares e para as diversas plataformas de videojogos.
Este dado é significante para entender este novo cenário multiplataforma
que vivenciamos e nos reporta a outra importante questão: o que será o futuro da
televisão aberta e gratuita? Como sobreviverá num ambiente convergente, com
tantas ofertas de informação vindas de outros meios, a partir de outros modelos,
de outras estruturas de rede? Com entender o fascínio que a TV exerce mesmo
entre os ditos ‘nativos digitais’, aqueles que já nasceram em um mundo com
tecnologias digitais? A TV linear que temos e realizamos hoje, vai forçosamente
1Doutor em Comunicação pela USP. Atualmente é assessor especial da Casa Civil da Presidência da República.
2Disponível em http://www.marketanalysis.com.br/mab/conteudo.php?pg=biblioteca. Acesso em 23 de maio
de 2010.

141
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

mudar, diante da oferta de informações baseadas na hipertextualidade3 , da


superposição de dados, vídeos e sons presentes nas criações e produtos digitais.
Uma das propostas do ISDB-Tb, o padrão de TV Digital adotado pelo Brasil
e, até o momento, por mais oito paises da América do Sul e Central (Argentina,
Bolivia, Chile, Peru, Paraguai, Equador, Venezuela e Costa Rica), Filipinas,
na Asia, e mais recentemente, Moçambique, Angola, Butzania, na Africa, é o
de entender o fenômeno da TV analógica no Brasil e nestes países e buscar as
direções para realizar a migração para o digital. A ideia é construir um cenário
de implantação da TVD aproveitando o alto interesse do público em geral pela
programação da TV analógica e introduzir a oferta de produtos e conteúdos
interativos, no aguardo de um novo tempo onde as infra-estruturas e os serviços
de banda larga estejam também a disposição de todos. Mas como realizar este
salto qualitativo? Como preparar realizadores, produtores, o próprio público para
o mundo da interatividade pela TV? O que o ISDB-Tb oferece como ferramenta
para atingir estes nobres objetivos? Sem dúvida, algo que os demais padrões não
tem: o middleware4 Ginga!.
A palavra ginga em Português tem muitos significados5 No caso da televisão
digital terrestre, o Ginga é a camada de software intermediário – middleware- que
permite o desenvolvimento de aplicações interativas para a TV Digital de forma
independente da plataforma de hardware dos fabricantes de terminais de acesso
- STB6 Desenvolvido nos laboratórios da PUC/RJ e da Universidade Federal da
Paraíba, é um projeto voltado para a inclusão social/digital e ao conhecimento
aberto e livre. O Ginga é uma tecnologia que conecta as pessoas a todos os meios
para que ele obtenha acesso à informação, educação à distância e serviços sociais
apenas usando sua televisão e também os celulares.
3 Hipertexto é o termo que remete a um texto em formato digital, ao qual se agrega outros conjuntos de infor-
mação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas
denominadas hiperlinks, ou simplesmente links. Esses links ocorrem na forma de termos destacados no corpo de
texto principal, ícones gráficos ou imagens e têm a função de interconectar os diversos conjuntos de informação,
oferecendo acesso sob demanda as informações que estendem ou complementam o texto principal.
4 Middleware é um termo geral, normalmente utilizado para um tipo de código de software que atua como um
aglutinador, ou mediador, entre dois programas existentes e independentes. Sua função é trazer independência
das aplicações com o sistema de transmissão. Permite que vários códigos de aplicações funcionem com diferentes
equipamentos de recepção. Através da criação de uma máquina virtual no receptor, os códigos das aplicações
são copilados no formato adequado para cada sistema operacional. Resumidamente, de terminais de recepção
ou vice-versa. O Middleware se faz necessário para resolver o novo paradigma que foi introduzido com a TV
Digital: a combinação da TV tradicional (broadcast) com a interatividade, textos e gráficos. Esta interatividade
necessitará de várias características e funcionalidades, encontradas no ambiente WEB: representação gráfica;
identificação do usuário; navegação e utilização amigável etc.
5 Ginga o movimento básico da capoeira. É a parte da “dança” da capoeira. É comum esconder na “ginga, nos
movimentos”, a malandragem do capoeirista para enganar o adversário. A ginga serve também para descanso,
mas não tirando a possibilidade de ataque e contra-ataque. É a dança que se usa antes de atacar o oponente, com
objetivo de distraí-lo, e também uma oportunidade para raciocinar a luta e pensar nos golpes.Disponível em
http://www.softwarepublico.gov.br/ver-comunidade?community_id=1101545 Acesso em 24 de maio de 2010
6 Set top box (STB) – Caixa de conversão do sinal de analógico-digital para as transmissões dos sistemas de
radiodifusão de sons e imagens, podendo ser externas ou internas ao aparelho de TV, munidas apenas de proces-
sadores de sinal e/ou de browsers para conexão à internet ou de placa Ginga Full para ações de interatividade.

142
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

Dividido em dois subsistemas principais, o middleware Ginga permite o


desenvolvimento de aplicações, dependendo das funcionalidades requeridas
no projeto de cada aplicação. O Ginga leva em consideração a importância da
televisão, presente em 98% dos lares brasileiros como um meio complementar para
inclusão social/digital. Trata-se de uma especificação aberta, de fácil aprendizagem
e livre de royalties, permitindo que as audiências, independente do país, produzam
conteúdo interativo, o que dará novo impulso às TVs comunitárias, as produtoras
independentes e à produção de conteúdo pelas grandes emissoras
Em breve ficará mais simples para as audiências entenderem exatamente o
que os televisores e os STB disponíveis no mercado serão capazes de fazer com
relação à interatividade, uma das principais características do sistema de TV Digital
aberta implantado no País. A validação dos dois perfis interativos pelo Fórum
SBTVD, durante reunião do Conselho Consultivo realizada em janeiro de 2010,
foi o sinal verde para que o Módulo Técnico finalizasse a reorganização das normas
já existentes para o Ginga, o middleware criado no Brasil, tornando-as mais claras
para a própria indústria. Estas já estão disponíveis desde 15.04.2010, na página
eletrônica da Associação Brasileira de Normas Técnicas, (ABNT). Estes dois
perfis são baseados no que o mercado convencionou chamar até aqui de ‘Ginga
Full’ ou completo, com os módulos Ginga-NCL e Ginga-Java. A diferença é que
o Perfil 2, mais avançado, será capaz de executar monomídias7 de videoclipes, ou
seja, permite a execução de vídeos. Pense na transmissão de um jogo de futebol.
Nos dois perfis será possível interagir com a programação consultando tabelas de
classificação, escalações, e outras informações em texto ou fotos. Mas só no Perfil
2, mais avançado, será possível assistir a qualquer momento ao replay do gol, sem
que esse vídeo se sobreponha totalmente ao vídeo principal8.
A aprovação e publicação das normas pela ABNT são pré-requisitos para
a que outras partes do Ginga, além do módulo NCL, sejam reconhecidas pela
União Internacional de Telecomunicações -UIT, e a arquitetura do middleware
brasileiro, harmonizada tecnicamente com a dos outros três padrões mundiais
(o americano ATSC, o europeu DVB e o japonês ISDB) passe a ser adotada
como estrutura modelo para “o padrão internacional” definido para UIT. Esta
recomendação será capaz de garantir que aplicações criadas para qualquer um
deles possam ser reconhecidas por todos os sistemas de TV digital.
Esta ação, também dá início também a uma nova etapa do esforço de
transformar a TV Digital em uma TV interativa: a de certificação de aparelhos
e aplicações em conformidade com o padrão técnico estabelecido. O Fórum
SBTVD, responsável por auxiliar a implantação do sistema de TV Digital no país,
7 Monomídias - conjunto de aplicativos que formam um padrão específico voltado ao reconhecimento de da-
dos, vídeos ou áudios por uma plataforma digital
8 Entrevista da Sra. Ana Elisa Faria e Silva, concedida ao site Convergência Digital. Disponível em www.con-
vergenciadigital.com.br Acesso em 24.de maio de 2010, às 12:35

143
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

já trabalha na definição de uma plataforma de testes de conformidade que possa


ser usada por todo o ecossistema do Ginga. Alguns produtos Ginga começaram
a abastecer as lojas de produtos eletroeletrônicos no primeiro semestre de 2010.
As primeiras TVs com interatividade foram anunciadas no mês de maio desse
ano, aliadas a disponibilidade de um aparelho celular interativos estando, esses
produtos, em conformidade com as normas publicadas. Sabe-se que outros
grandes fabricantes de televisores e pequenos fabricantes de conversores já têm
produtos praticamente prontos para serem lançados no primeiro semestre de
2010.
Acertados os termos da consulta pública sobre as normas dos perfis
de interatividade da TV Digital - o Fórum SBTVD ainda se debruça sobre
outra componente do sistema: o padrão para uso da internet. Na reunião do
Fórum SBTVD, realizada na em 08 de fevereiro de 2010, o governo insistiu na
incorporação do IPv6, o padrão de endereçamento na rede mundial, enquanto
a indústria mostrou-se preocupada com o legado existente de IPv4. O Ipv4 é o
padrão atual, mas já se sabe que ele está chegando perto do limite de capacidade.
O IPv4 usa endereços de 32 bits, enquanto o IPv6 de 128 bits.
Existe todo um parque de equipamentos acumulado com IPv4. Por outro
lado, a substituição do padrão é inevitável, em razão do crescimento exponencial
da internet. Assim, há a necessidade de se tomar uma decisão tecnológica de olho
no futuro. Mas não é possível deixar a interatividade sem definições na TV Digital
até que exista escala para o IPv6. Daí o encaminhamento das negociações para
uma solução mista, por sinal, a exemplo do que internacionalmente se discute,
de manter-se o IPv4 com espaço para crescimento do IPv6. Assim, a certificação
dos produtos é encarada pelos técnicos do Fórum SBTVD como uma das formas
de assegurar a produção de conversores e televisores DTV poderosos, do ponto
de vista da interatividade, e baratos. Discute-se atualmente no Módulo Técnico
o quanto a adoção do protocolo IPV6, em vez do IPV4, pode impactar no preço
final do hardware e gerar legado.
Outro tema decisivo para a implantação plena da TV digital interativa é o
canal de interatividade. A norma brasileira prevê o uso de diferentes tecnologias
para estas finalidades. Estas decisões são fundamentais para a consolidação de
um padrão que mantenha sua força diante do avanço irreversível dos modelos
digitais de acesso à informação, baseados em protocolos IP e que, na maioria
esmagadora dos casos, são remunerados. Nos sistemas de comunicação digital, a
interatividade plena oferece às audiências a possibilidade de troca de informações
entre os receptores e servidores presentes na internet. A comunicação de dados com
os receptores é realizada por meio de aplicações interativas que são transmitidas
em conjunto com os sinais de vídeo e áudio junto ao radiodifusor. No sentido
inverso, a comunicação é provida por meio de deste canal de interatividade, que

144
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

no caso do ISDB-Tb permite a comunicação bidirecional.


Vivemos a era da convergência das tecnologias digitais, aonde o recente
êxito da implantação do sistema brasileiro de televisão digital vai ao encontro
das tecnologias de comunicação sem fio na internet, pavimentando o caminho
da aguardada interatividade plena. Um importante desafio se apresenta com a
possibilidade do país assumir um papel de liderança na definição de um novo
perfil de operação do WiMAX9 abaixo de 1 GHz, denominado WiMAX-700.
Ao desempenhar um papel promissor como canal de interatividade do ISDB-Tb,
amplia as possibilidades de produção de conteúdos audiovisuais digitais10.
Este novo perfil cobre uma faixa ampla do espectro de 400 MHz a 1 GHz
como banda primária e, opcionalmente, de 54 MHz a 400 MHz como banda
secundária. As principais vantagens do WiMAX-700 são:
• Excelente propagação do sinal – até 70 km;
• Melhor penetração em edificações, muito melhor que os demais perfis do
WiMAX;
• Menor desvio Doppler11 gerador de reflexões nas ondas elétricas causando
interferência.
• Reflete em menor custo de implantação de torres e estruturas de suporte
para as áreas remotas ou rurais ou com baixa densidade populacional, isto
representa num menor investimento para a implantação do serviço, ou seja, por
exemplo, um menor número de estações rádio bases;
• Compartilham o espectro dentro do canal de 6 MHz pelo uso de segmentos
do sistema ISDB-T;
• Utilizam outros canais de TV como canais secundários;
• A alocação dos canais é dinâmica, pois uma vez que o serviço primário
tenha sido alocado, o sistema permite o uso de outros canais de forma flexível.
Em outros termos, o WI-MAX 700 pode ser utilizado a partir da mesma
estrutura de transmissão de sinais da TV Digital. Esta tecnologia utiliza parte
do espectro que compreende a banda de transmissão de UHF e oferece canal
de interatividade de modo distinto das outras tecnologias que permitem o canal
de interatividade como as redes de telefonia fixa, as redes de telefonia celular,
9 O WiMAX é um padrão de comunicações sem fio definido pelo IEEE – The Institute of Electrical and Elec-
tronics Engineers – que permite a cobertura abrangente para serviços de comunicações em banda larga sem fio.
10 BARBOSA FILHO, André e MELONI, Luis Geraldo P.A TV Digital interativa e na era das comunicações
sem fio Trabalho apresentado no GP ‘Conteúdos Digitais e Convergências Tecnológicas’, evento componente
do XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009
11 O Efeito Doppler é uma característica observada nas ondas quando emitidas ou refletidas por um objeto que
está em movimento com relação ao observador. Foi-lhe atribuído esse nome em homenagem a Johann Christian
Andreas Doppler, que o descreveu teoricamente pela primeira vez em 1842

145
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

os satélites, as redes de fibras óticas, ou seja, independente do uso das redes de


telecomunicações.
Todo este movimento pró-ativo, em nome do desenvolvimento de
tecnologias nos centros de pesquisa e universidades brasileiras, nos remete a
urgência das discussões sobre uma equação que tem como fatores, a inovação, o
desenvolvimento de uma robusta indústria de tecnologia e internacionalização
destes resultados. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea - já
detectou o salto qualitativo dado por muitas empresas brasileiras graças à
inovação industrial, o que nem sempre foi percebido com clareza pelos analistas
e economistas na atualidade.
Quantos analistas acostumados a reduzir o Brasil à macroeconomia
compreenderam a ascensão das exportações? Quantos perceberam as mudanças
que ocorreram no interior das empresas? Nos últimos anos, muitas empresas
brasileiras entraram em sintonia com o novo cenário mundial. Em 2007, as
economias emergentes responderam por cerca de metade do PIB mundial. Desde
que China, Índia, Brasil e Rússia começaram a abrir suas economias, a força de
trabalho global dobrou. Em dez anos, cerca de um bilhão de novos consumidores
entrarão nos mercados, graças ao crescimento dos países emergentes.
A participação dos países em desenvolvimento nas exportações mundiais
foi de mais de 40% em 2009, quando era de 20% nos anos 70. Esses países
já respondem por mais de metade da energia consumida no planeta e tendem
a mudar a qualidade de suas economias com fortes impactos sociais. Empresas
chinesas e indianas já são líderes mundiais em vários setores da economia. Em
algumas áreas tecnológicas, o Brasil também avançou, mas, no conjunto,
apesar do aperfeiçoamento de seus recursos humanos e do visível crescimento
de sua produtividade, as empresas brasileiras ainda precisam modernizar-se para
tornarem-se competitivas.
A integração crescente dos países emergentes à economia global desenha
cenários que apontam para um novo reposicionamento das nações não observado
desde a Revolução Industrial no século 19. Resta saber se eles conseguirão
melhorar efetivamente a vida de seus povos, já que detém mais de 70% das reservas
mundiais. O Produto Interno Bruto – PIB -, a soma das riquezas produzidas por
um país, dos emergentes representa mais de 43% do PIB mundial, enquanto
os PIBs dos EUA e da Europa somados não chegam a 36%. A economia dos
emergentes contribuiu em 2007 com cerca de 70% para o crescimento do PIB
mundial; os países europeus e os EUA contribuíram com menos de 20%.
Se a projeção se confirmar, o volume de capital privado circulando será o
terceiro maior dos últimos 30 anos, perdendo apenas para os recordes de 2006
e 2007. A retomada do fôlego da economia nestas regiões acontece quando a

146
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

economia mundial ainda atravessa recessão. O reaquecimento teria começado


em meados de 2009, quando a tendência de queda teria sido revertida, e deve
prosseguir em 2010, com fluxo de US$ 720 bilhões, e 2011, quando chegará a
US$ 798 bilhões. A retomada, afirma o relatório do Instituto of International
Finance - IIF12 , ocorre no momento em que “o cenário econômico global é
mais propício do que nunca para fluxos em direção a economias emergentes”, em
especial de recursos privados, que responderão por dois terços do total.
Nesta direção, como já mencionamos acima, a ação de internacionalização
do padrão de TV Digital interativa, ISDB-T, é efetivo. Os governos brasileiro e
japonês estão trabalhando em conjunto para mostrar os seus benefícios a todos os
países da América do Sul,Central e da África enfatizando os benefícios sociais da
inclusão digital através da TV digital e a qualidade de imagem, som e robustez do
sinal ISDB-T. Também apresentam outros importantes diferenciais deste sistema
como a recepção por TV móvel com qualidade e interatividade na TV. Oito
países já decidiram pelo mesmo padrão. Outras nações, como se pode observar
no quadro abaixo, estão em fase de decisão
A proposta brasileiro/japonesa gira em torno de ofertas consistentes de apoio
à implantação do padrão ISDB-T. São atividades de desenvolvimento conjunto,
transferências de tecnologia, cooperação em recursos humanos, financiamento
e investimentos industriais. Com relação ao equipamento e à tecnologia
relacionada à televisão digital, o Brasil tem claro o potencial significativo para
o desenvolvimento indústrial conjunto, incluindo a produção de receptores e
de conversores para o desenvolvimento de aplicações interativas. A respeito da
produção de equipamentos transmissores e receptores, o Governo brasileiro tem
se comprometido a envidar esforços para estimular a criação de investimentos
compartilhados entre companhias brasileiras e dos paises que adotem o ISDB-T.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil
(BNDES) dispõe dos seguintes instrumentos para apoiar a implantação do
sistema ISDB-T no estrangeiro:
1. Programa PROTVD13 – Provedor: apoio à exportação aos adotantes do
sistema ISDB-T de bens e serviços, por empresas brasileiras produtoras de
‘software’, de equipamentos de recepção e de produção de conteúdo, de
infra-estrutura para rede de transmissão e de componentes eletrônicos;
2. BNDES-exim Pós-embarque: financiamento à comercialização ao
exterior de bens e serviços produzidos por empresas brasileiras, seja como
“buyer credit” (financiamento contratado diretamente com o importador),
seja como “supplier credit” (refinanciamento ao exportador, mediante o
desconto de títulos de crédito ou a cessão dos direitos creditícios relativos à
12 Institute of international Finance (IFF)– com sede em Genebra, Suiça
13 Programa de Apoio à Implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital .

147
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

exportação), com participação de até 100% (em qualquer Incoterm) e prazo


de até 12 anos (de acordo com o tipo de bem ou serviço comercializado).
O BNDES poderá oferecer financiamento na linha BNDES-Exim Pós-
embarque para as exportações de bens e serviços brasileiros para o paises
parceiros. As garantias do financiamento deverão ser oferecidas por bancos
localizados em Moçambique ou submetidas à aprovação pelo Comitê de
Financiamento e Garantia das Exportacções (COFIG) do governo brasileiro.
3. Investimento Direto Externo (IDE): beneficia empresas privadas com
sede no Brasil que tenham na sua estratégia de crescimento a implantação
de unidades no exterior, incluindo ‘joint-ventures’ com produtores locais,
para que desenvolvam atividades industriais ou serviços de engenharia.
O Brasil poderá oferecer apoio técnico aos paises parceiros no processo de
planejamento do espectro radioelétrico com vistas à migração para a televisão
digital. Nesse sentido, a Agência Nacional de Telecomunicações do Brasil
(ANATEL) poderá fornecer assistência técnica a sua contraparte, incluindo, se
for o caso, o acesso aos sistemas desenvolvidos pela Agência brasileira, de forma a
possibilitar a execução do referido planejamento.
O Brasil propõe aos adotantes, através da Agência Brasileira de Cooperação
(ABC), estudar a possibilidade de fornecer equipamentos, prestar assistência
técnica e promover o treinamento de recursos humanos moçambicanos, com
vistas à criação de um Centro de Desenvolvimento de Aplicações de Interatividade
baseadas no ‘middleware’ Ginga, assim como de um Centro de Produção de
Conteúdos Digitais Interativos e Interoperáveis. Os referidos Centros, que seriam
criados com inversões de aproximadamente US$ 300 mil, poderão ser objeto de
um acordo específico entre a Agência Brasileira de Cooperação e sua contraparte.
As áreas de interesse dos dois Centros poderão envolver o desenvolvimento de
aplicativos de ‘software’ para produção de conteúdos; a produção de conteúdos
audiovisuais digitais para diversas plataformas tecnológicas e para a convergência
de meios; e o desenvolvimento de conteúdos e serviços interativos e interoperáveis,
com usabilidade, acessibilidade, mobilidade e portabilidade.
A cooperação acadêmica com Brasil incluiria a colaboração com universidades
brasileiras envolvidas no projeto Ginga e no desenvolvimento de equipamentos
para televisão digital, bem como aquelas que participaram no processo de seleção
e implantação do sistema ISDB-T no Brasil, tais como Universidade de São
Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade Federal da Paraíba,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, entre outras.
Com respeito à capacitação de recursos humanos, o Brasil oferece aos
parceiros, negociações entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior – (CAPES), responsável pelo apoio e pela avaliação da pós-

148
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

graduação, e sua contraparte moçambicana, com o objetivo de conceder bolsas


de mestrado e doutorado para moçambicanos no Brasil, ademais do intercâmbio
de professores e pesquisadores, por intermédio de projetos de pesquisa, com a
participação da CAPES e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq). A CAPES, vinculada ao Ministério da Educação
brasileiro, cumpre um importante papel na expansão e na consolidação de
estudos de pós-graduação “stricto sensu” (cursos de mestrado e doutorado) em
todos os estados brasileiros. Entre os programas estratégicos financiados pela
CAPES, há o Programa de Treinamento de Recursos Humanos em Televisão
Digital (RH-TVD), lançado em novembro de 2007, com o objetivo de produzir
pesquisa científica e tecnológica e o treinamento em televisão digital de recursos
humanos em nível de pós-graduação. São áreas prioritárias cobertas pelo referido
programa:
• Engenharia de software direcionada para a pesquisa e desenvolvimento
de “software” básico, “middleware”, sistemas operacionais e “firmwares14”;
• Propagação eletromagnética, de microondas, de ondas e antenas;
• Informática, engenharia elétrica e eletrônica, nas suas aplicações na
plataforma de TVD, cobertura física e envolvida (transmissão e radiodifusão),
codificação (condensação e codificação de vídeo digital e processamento
de áudio e digital de imagens), cobertura de transporte e interatividade (o
processamento dos sinais digitais e os protocolos de transmissão de dados);
• Gestão, produção, geração, radiodifusão, interatividade e educação em
linha na televisão digital;
• Materiais semicondutores e componentes para o desenvolvimento de
componentes microeletrônicos – microprocessadores, circuitos digitais
de alta velocidade, equipamento para os processos microeletrônicos,
especificamente dirigidos para aplicações de TVD; e
• Telecomunicações.
O Brasil incentivará a cooperação e o intercâmbio de experiências entre
o Fórum Brasileiro de TV Digital (Fórum SBTVD) e instituições dos paises
adotantes do sistema ISDB-T, mediante a entrega da documentação disponível
sobre a implantação da televisão digital no Brasil, incluindo normas do ISDB-T
em inglês, espanhol e português. O Fórum Brasileiro de TV Digital poderá
fornecer assistência aos governos interessados, assim como aos radiodifusores e
demais de suas empresas, com vistas à criação de um fórum nacional similar ao
brasileiro.
14 Em eletrônica e computação, Firmware é o conjunto de instruções operacionais programadas diretamente
no hardware de um equipamento eletrônico. É armazenado permanentemente num circuito integrado (chip)
de memória de hardware

149
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

Ao adotar o ISDB-T como norma de televisão digital, o pais adotante


participará do Fórum Internacional do Sistema ISDB-T, criado em Lima em
21 de setembro de 2009, em igualdade de condições com os seus demais países
constituintes, no qual as Partes podem trabalhar conjuntamente os temas técnicos,
de capacitação de recursos humanos, de transferência tecnológica, de propriedade
intelectual e de harmonização das normas internacionais do sistema ISDB-T.

Considerações Finais
O Sistema Brasileiro de TV Digital, lançado no dia 02/12/2007, representa
a evolução do sistema de TV analógica para o digital. Esta evolução amplia
possibilidades de lazer dos brasileiros, através da melhora significativa da
qualidade de imagem e som; permite a ampliação do acesso gratuito, através da
oferta de multiprogramação, e também possibilita o uso interativo da televisão.
Além do tempo de implantação da infra-estrutura pelos radiodifusores para a
geração do sinal digital em todas as capitais, a qual ocorrerá, segundo previsões da
ANATEL, até o final de 2010, será necessário o uso de Set Top Box para permitir
a visualização do sinal digital em aparelhos de TV analógicos. Com a oferta no
mercado brasileiro de aparelhos receptores de TV digital, prontos para oferecer
aplicativos de interatividade através de plataformas de conexão ou canais de
retorno tem início um processo longo de substituição do parque instalado de
TVs analógicas pelas modernas TVs digitais.
O mercado brasileiro produtor de aparelhos de TV vem se mantendo num
patamar fantástico, com produção anual de 12 milhões de unidades. Outro dado
importante é que o Brasil já conta com cerca de 100 milhões de televisores em
funcionamento. Assim, o objetivo de provermos a maioria dos lares brasileiros,
independente da classe social, de acessibilidade às transmissões de TV digital
é um grande desafio. O acesso das camadas da população com menor poder
aquisitivo à TV digital, principalmente visando à oferta e a utilização de serviços
televisivos interativos de interesse público (consultas médicas do SUS, declaração
de IR, Educação à distância, Bolsa de empregos, T-Governo, etc.) a serem
disponibilizadas, através do projeto de integração de plataformas comuns das TVs
públicas Federais - EBC, TV Justiça, TV Câmara, TV Senado, TV MEC, TV
da Cidadania -, agora com a possibilidade de ser incorporado a um plano mais
abrangente de oferta de informação digital somando-se ao Plano Nacional de
Banda Larga, inclusive com o compartilhamento de sites e antenas..
Tendo em vista o cumprimento dos objetivos ao longo dos dois próximos
anos de exploração comercial nas principais cidades brasileiras, os níveis de
preços praticados na venda dos “set top box” deveriam baixar o quanto antes. Com
a dimensão do mercado brasileiro, tanto para set top boxes como para TVs digitais

150
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

built-in (que utilizarão os set-top-box embutidos na TV), é de esperar que os


preços dos componentes caiam drasticamente, a médio prazo, ainda mais com a
mencionada adesão de vários países ao ISDB-Tb.
O sistema de TV Digital, adotado em nosso País, impõe o uso de alguns
padrões tecnológicos ao ISDB-T japonês original como, por exemplo, o uso do
H264 (MPEG4) como ferramenta de compressão de vídeo, mais eficiente do que
o MPEG2 utilizado pelos outros sistemas internacionais e que possibilita o uso da
multiprogramação ou transmissão simultânea de quatro ou mais programações
pelo mesmo canal. As vantagens que a multiprogramação garantem a expansão
da produção de conteúdos audiovisuais são fáceis de perceber.
Com esta iniciativa de atingir um nível de oferta a preços acessíveis a todos
os brasileiros das caixas conversoras do sinal de TV digital, completaremos a
tríade composta pela infra-estrutura que está sendo construída com o projeto
das plataformas comuns de transmissão de sinal digital das emissoras públicas
federais e do projeto de disseminação de conteúdos interativos. Deste modo
estaremos a partir da América Latina, atingindo um novo patamar para o uso
indiscriminado da TV Digital interativa, de acordo com o nosso objetivo maior
qual seja, o de aproveitá-la, o mais breve possível, como ferramenta de inclusão
digital e passaporte para a cidadania plena.

Referências Bibliográficas
BARBOSA FILHO, André e MELONI, Luis Geraldo P.A TV Digital
interativa e na era das comunicações sem fio Trabalho apresentado no GP ‘Conteúdos
Digitais e Convergências Tecnológicas’, evento componente do XXXII Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de
2009.
BARBOSA Fº, André, CASTRO, Cosette e TOME, Takashi. Mídias
Digitais, Convergência Tecnológica e Inclusão Social. São Paulo: Paulinas, 2005.
BARBOSA FILHO, André, CASTRO, Cosette (2008). Comunicação
Digital- educação, tecnologia e novos comportamentos. São Paulo: Ed. Paulinas,
2008.
Entrevista da Sra. Ana Elisa Faria e Silva, concedida ao site Convergência
Digital. Disponível em www.convergenciadigital.com.br Acesso em 24.de maio
de 2010.
Disponível em http://www.marketanalysis.com.br/mab/conteudo.
php?pg=biblioteca. Acesso em 23 de maio de 2010.
Disponível em www.wikipedia.org/wiki/Ginga Acesso em 24 de maio de

151
Aspectos técnicos e econômicos da implantação da TV Digital Interativa como um modelo internacional
de inclusão

2010.
Disponível em HTTP://www.softwarepublico.gov.br/ver-
comunidade?community_id=1101545 Acesso em 24 de maio de 2010.
Disponível em www.ginga.org.br Acesso em 24 de maio de 2010 .

152
CAPÍTULO 2

Estado, Cinema e Indústrias Criativas e de Conteúdos1

Anita Simis2

Em julho de 1990, portanto, há mais de 20 anos, publiquei no Jornal do Brasil um


artigo intitulado “De volta ao cinema dos anos 20?”. Vivíamos então o chamado
desmanche do Estado, quando o governo extinguiu ou dissolveu diversos órgãos
e criou a Secretaria da Cultura. Diversas instituições simplesmente deixavam de
existir: o Ministério da Cultura (1985), que significava apenas 0,5% do orçamento
da União, a Fundação do Cinema Brasileiro (1987), que além de realizar festivais
e conceder prêmios, desenvolvia a pesquisa, a conservação de filmes e a formação
profissional, o Concine (1976), que exercia a função de normatizar, controlar
e fiscalizar as atividades cinematográficas e de vídeo e produzia dados diversos
sobre o desenvolvimento da atividade, a Embrafilme (1969), agência criada
durante o regime militar e responsável por diversas atividades entre as quais o
financiamento, a distribuição e a exibição dos filmes nacionais.
Ironizando o fato, procurei mostrar que haviam escolhido mal o cenário
para o enredo de um filme nacional oficial, afinal, desmantelando as instituições
voltávamos à estaca dos anos 1920. E acrescentava: “Se o enredo voltasse aos
anos 10, certamente os defensores da ausência de uma política cultural teriam
argumentos mais sólidos. No entanto, os anos 10 parecem estar a léguas de
distância, enquanto os anos 20 em tudo se assemelham à nossa atual situação”.
A comparação se justificava ao demonstrar que a argumentação neoliberal
fazia sentido para um tempo em que o cinema brasileiro era produzido com base
na lei do livre mercado, num estado de nostálgica melancolia mofada. Na toada
liberal, alguns artigos enfatizavam inclusive que desenvolvimento da produção
cultural rimava com o uso das próprias forças da arte, que para superar a crise dos
anos 1980 era necessário valer-se de uma dose de inventividade, saúde e coragem!
Esse estado existia no período entre 1908 e 1913, quando o Brasil alcançou
uma produção de 963 títulos, quando não havia uma cisão entre produtores e
exibidores, funções que na verdade se traduziam na mesma pessoa, e isso sem
esquecermos que as distribuidoras norte-americanas só se estabeleceram no Brasil
após a Primeira Guerra, cabendo a importação dos filmes igualmente à mesma

1 Comunicação apresentada no Fórum Panorama Brasileiro da Comunicação: Perspectivas do Século XXI,


Ipea/Socicom. Fundação Joaquim Nabuco, Recife, 10 de setembro de 2010.
2 Professora Livre-Docente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da Universidade Estadual Paulista – UNESP.

153
Estado, Cinema e Indústrias Criativas e de Conteúdos

pessoa do produtor/exibidor. Assim, filmes como Os Estranguladores (1908) e Paz


e Amor (1910) não sofreram restrições, sendo o primeiro exibido mais de 800
vezes em dois meses, e o segundo mais de 900!
Já nos anos 1920, vários pontos de intersecção podiam ser identificados com
os 1990, pois a atuação do governo Collor no campo cultural pretendia voltar
aos tempos em que o Estado ainda não havia ensaiado qualquer intervenção
que favorecesse o florescimento de uma indústria cinematográfica, deixando os
produtores brasileiros livres para encontrar as vias de expressão, mas, sublinhe-se,
num mercado agora totalmente organizado em função dos interesses do cinema
estrangeiro.
Essa aversão ao Estado, como agente capaz de sinalizar uma política,
especialmente no âmbito da cultura, com o argumento de que o Estado que
empresa espetáculos patrocina artistas ou promove iniciativas na verdade favorece
uma “cultura oficial”, foi a tônica repisada na imprensa durante vários anos. Com
as devidas ressalvas, mesmo Fernando Henrique Cardoso somava suas teses ao
argumento, declarando em 1990: “O pensamento da esquerda, especialmente
na América Latina, se baseou muito na ideia de que o fundamental era o
desenvolvimento, de que o Estado era a agência central para esse desenvolvimento
e de que os instrumentos coletivos de ação primavam sobre os individuais. Hoje,
a tese de que o Estado é fundamental para o desenvolvimento não deve ser
mais um dogma de esquerda. Já há categorias sociais específicas que cuidam do
desenvolvimento, os empresários”. (Folha de S. Paulo, 11/3/1990).
Por outro lado, analisando vastos períodos da política cultural e do
desenvolvimento da indústria cultural, não podemos deixar de notar que a
intervenção do Estado nos períodos fechados foi intensa e muitas vezes tolheu a
liberdade e criatividade de expressão. Mas, se desde os primórdios da preocupação
do Estado com questão cultural, ainda no século XIX, quando, sob influência
europeia, sob a ideologia positivista, o Brasil precisava ser “civilizado”, quando
cultura significava civilização e estava imbricada na educação, foram criadas a
partir do Estado instituições como bibliotecas, escolas de belas artes, museus,
arquivos, hoje, a preocupação já não é com a nação, mas com a sociedade. Já
superamos o paradigma da nacionalidade, não se trata mais de construir uma
nação, mas de democratizar uma sociedade injusta e desigual, de construirmos
um diálogo aberto para o mundo.
Evidentemente, não podemos deixar de evidenciar o peso desse legado e
perceber o quanto somos ainda credores dos resquícios desse passado, mas já
podemos enxergar avanços significativos. Assim, já não se propõe um Estado
para intervir, centralizar decisões, principalmente para difundir o nacionalismo
e propor uma integração nacional pelo alto. Sem a contundência e eficácia do
caráter repressivo, controlador e centralizador dos regimes autoritários, felizmente
154
Estado, Cinema e Indústrias Criativas e de Conteúdos

desmoronaram seus mecanismos e, caso se notem vestígios, são prontamente


denunciados. Tal como no pós 1945, podemos olhar no espelho retrovisor das
políticas que a partir do final do regime militar houve uma intensa atuação no
sentido de procurar uma via de organização dos produtores de cultura em busca
de sua sobrevivência, de medidas que se ajustassem no sentido de destravar
amarras que os ligassem ao Estado, sem, no entanto, prescindir de sua presença
justamente no sentido de garantir a competição no mercado, especialmente no
âmbito da indústria cultural, onde predomina o produto estrangeiro, produto
que, por sua vez, aproveitou para se desvencilhar de toda e qualquer obrigação
tributária ou restrição com base regulamentar.
Talvez a última crise de 2009 ainda não tenha colocado com a devida ênfase
que só o Estado pode favorecer normas consensuais para um regime de livre
iniciativa, de livre concorrência e da prevenção ao abuso do poder econômico.
Sem essas normas, o que se apresenta é um mercado onde a livre concorrência se
impõe entre leões e macacos no terreno deserto, sem qualquer árvore que possa
salvar ao menos uma família de macacos.
É nesse sentido que entendemos a atual disposição de efetuar o convênio
entre Ipea e Socicom. Particularmente em seu subprojeto 2, que trata das
Indústrias Criativas, propõem-se bases para uma política que sinalize as vias
de desenvolvimento das indústrias da comunicação e da cultura que estão
estruturadas a partir das tecnologias da informação e da comunicação (TICs).
A fundação, em conjunto com representantes de 14 entidades que compõem a
federação, se propõe a patrocinar e instrumentalizar governo e sociedade com
uma pesquisa inédita no âmbito das Indústrias Criativas.
Trata-se de iniciar uma análise acerca do desenvolvimento, na primeira
década do novo século, e as perspectivas para a próxima década, nos setores
de mídia impressa e virtual (jornal, revista e livro), mídia sonora (rádio, disco,
telefone e novos suportes), mídia audiovisual (cinema, televisão, videojogos e
vídeo), multimídia (internet, outdoor, aparatos móveis e convergência de mídias).
Estão previstos, assim, os seguintes indicadores a serem perseguidos nos próximos
anos:
1. Mídia impressa e virtual: jornal, revista e livro.
1.1. Jornal: assinantes por ano, número de jornais existentes por ano, volume
de vendagem de jornais por ano, investimento publicitário por jornal.
1.2. Revista: assinantes por ano, número de revistas publicadas por ano,
volume de vendagem de revistas por ano, investimento publicitário por revista.
1.3. Livro: vendas de livros por ano, número de livros publicados por ano,
volume de vendagem de livros por ano.

155
Estado, Cinema e Indústrias Criativas e de Conteúdos

2. Mídia sonora: rádio, disco e novos suportes.


2.1. Rádio: número de empresas existentes por ano, número de empresas
de rádios digitais existentes por ano, número de emissoras de rádio por estado,
investimento publicitário.
2.2. Indústria fonográfica: formatos (disco, CD, VHS, DVD, digital),
número de discos/DVD vendidos por ano, número de músicas digitais vendidas
por ano, número de empresas gravadoras por ano, número de CDs e DVDs
piratas apreendidos por ano, consumo do repertório nacional, internacional e
clássico no mercado fonográfico brasileiro 2001-2009.
3. Mídia audiovisual: cinema, televisão, videojogos e vídeo.
3.1. Cinema: número de espectadores de filmes nacionais por ano, número de
espectadores de filmes estrangeiros por ano, número de produtoras existentes por
ano, longa metragem e curta metragem, número de filmes nacionais produzidos
por ano, número de filmes nacionais exibidos por ano, número de filmes
estrangeiros exibidos por ano, número de cineclubes por estado, número de salas
de cinema por estado, número de assentos nas salas de cinema por estado, total
de espectadores por ano, preço médio de ingressos vendidos por cinema, remessa
dos lucros dos filmes estrangeiros com dados sobre o remetente, o favorecido no
exterior e o valor por ano (Banco Central), número de distribuidoras nacionais e
internacionais, número de redes de exibição e exibidores independentes.
3.2. Televisão e TV por assinatura: número de redes de televisão por região,
número de aparelhos de televisão por região, número de assinantes por ano,
número de espectadores de TV aberta por ano, número de assinantes de TV por
assinatura por ano, número de filmes estrangeiros exibidos na TV aberta por ano,
número de filmes nacionais exibidos na TV aberta por ano, número de filmes
nacionais exibidos na TV por assinatura por ano, número de filmes estrangeiros
exibidos na TV por assinatura por ano, horas/semana por categorias/gênero
dos programas por região, horas de programação nacional exportadas por ano e
por emissora, investimento publicitário e número de redes de televisão, abertas,
fechadas e em UHF.
3.3. Vídeo: número de videolocadoras existentes por ano, número de vídeos
nacionais lançados por ano, número de vídeos estrangeiros lançados por ano.
3.4. Videojogos: produção de videojogos nacionais, investimentos
publicitários em videojogos, espaços midiáticos especializados em programas
de videojogos, número de empresas brasileiras que desenvolvem videojogos,
resultados econômicos do setor; exportação de videojogos.
4. Multimídia: internet, outdoor, telefonia, aparatos móveis, investimento
publicitário por cada um dos veículos.
156
Estado, Cinema e Indústrias Criativas e de Conteúdos

4.1. Internet: número de operadoras por ano, número de casas de lan-house


por ano, número de computadores conectados (domicílios, escolas, empresas).
4.2. Outdoor: número de outdoors por ano.
4.3. Aparatos móveis, número de Iphones, número de Ipods, número de
podcasts, número de smartphones.
4.4. Telefonia: número de empresas produtoras de aparelhos móveis e fixos
de telefone, número de celulares móveis e fixos vendidos, produção de conteúdos
digitais para celulares, mercado publicitário para celulares e número de usuários
de telefone com acesso a banda larga.
A realização da pesquisa leva em conta a combinação de métodos qualitativos
(análise de dados primários em fontes estatísticas e congêneres, bem como a
consulta a fontes bibliográficas e hemerográficas) e quantitativos (elaboração de
índices comparativos e projetivos). Essa pesquisa compreenderá uma publicação
impressa e um site com a indicação de dados e fontes para a alimentação contínua
de um Observatório Nacional das Políticas Públicas de Comunicação. Esse
Observatório será um instrumento fundamental para produção de indicadores
sequenciais capazes de compreender as tendências na comunicação, e em
particular das Indústrias Criativas, e assim orientar a constituição de uma política
planejada. Para tanto, será imprescindível a interlocução entre organismos oficiais
(ministérios, agências, institutos, principalmente o IBGE, etc.) e privados (Itaú
Cultural, Sesc, Senac, Observatórios, etc.).
Esse trabalho poderá, assim, fortalecer mecanismos de planejamento
sistêmico na área, submetendo o improviso a um controle, mas sem inibir a
disposição para uma política original, ou, ao menos, quando já introduzida em
outros países, nunca posta em prática no Brasil. Quem sabe assim não voltemos
mais aos anos 1920, quando o cineasta ou outros produtores de cultura eram
vistos como aventureiros, vagabundos e até vigaristas, constituindo uma sólida
indústria criativa que afaste o pessimismo daqueles que pregavam bordões como:
“O Brasil não produz filmes, assim como não produz cerejas”.

157
158
CAPÍTULO 3

Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e


concentração de capital (1870-2008)

Gilberto Maringoni1

Um mundo em convulsão
A última década do século XX foi palco das mais profundas transformações no
terreno da mídia acontecidas após o advento da segunda Revolução Industrial, nos
anos 1870. As empresas e redes de comunicação, anteriormente compreendidas
em limites nacionais, têm se integrado a um verdadeiro sistema transnacional,
cujos polos irradiadores são os oligopólios midiáticos dos países centrais, em
especial os dos Estados Unidos.
As empresas que formam essas articulações, muitas vezes, não estão
apenas ligadas à área específica da informação. São corporações com interesses
no sistema financeiro e nas indústrias imobiliária, armamentista ou energética.
Por esse motivo, a lógica do setor aproxima-se à da que ocorre em outras esferas
do capitalismo internacional, com os mundos das finanças, do comércio e da
indústria, que se realizam cada vez mais em escala global.
Em tempo algum da história da humanidade tantas pessoas tiveram
tanto acesso à informação e a produtos comunicacionais. As redes de televisão,
de telefonia e de internet cobrem praticamente todos os pontos do planeta. A
redução das taxas de analfabetismo e a elevação dos padrões de vida em vários
países aumentaram de maneira inédita a circulação de meios impressos, cuja
sobrevivência é sempre colocada em questão. Nem mesmo a competição com
outros produtos tem reduzido suas tiragens em termos absolutos. A indústria de
informações jamais teve um alcance tão grande como nos dias que correm.
Ao mesmo tempo, nunca a propriedade dos emissores de informação esteve
tão concentrada nas mãos de poucos grupos. Os empreendimentos de porte do
setor exigem inversões de capital cada vez maiores, dificilmente realizadas por
empresas de âmbito local ou nacional.
1 Jornalista, doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade
de São Paulo (2006) e graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela mesma universidade (1986).
Tem experiência na área de História, com ênfase em América Latina contemporânea, História da imprensa
e História do Brasil Império. Tem estudos focados nos temas: imprensa, escravidão, relações internacionais,
endividamento público e modelos de desenvolvimento. É autor de dez livros, entre eles Barão de Mauá, o
empreendedor (Aori, 2007), A Venezuela que se inventa - poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez (Edi-
tora Fundação Perseu Abramo, 2004) e A revolução venezuelana (Edunesp, 2009). É professor de jornalismo
na Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, em São Paulo, e bolsista do Programa Nacional de Pesquisas
Econômicas (PNPE) no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)

Tal desenvolvimento se deu por meio da formação de grupos que enfeixam a


propriedade de várias empresas de ramos diversos, através de sólidos adensamentos
verticais. O fenômeno foi facilitado pela convergência de mídias, possibilitada
pelo avanço da tecnologia digital. Os interesses comuns vão da área editorial
impressa, passando pelas indústrias fonográfica, cinematográfica, de telefonia, de
internet, institutos de pesquisa, até a televisão e o rádio. À concentração vertical
se soma o domínio horizontal – isto é, por várias regiões – dos principais meios
por um mesmo empreendimento.
Essa conformação não é nova. Ela vem se desenhando há mais de um século
pelo continente.

A imprensa e os ciclos históricos continentais


O desenvolvimento da atividade de imprensa na América Latina e sua
constituição como grande empresa capitalista, nas duas últimas décadas do século
XIX, são produtos de pelo menos dois processos históricos simultâneos: uma
nova inserção do continente no mercado mundial e os avanços tecnológicos
possibilitados pela segunda Revolução Industrial (1870). Até então, a atividade
era predominantemente artesanal, caracterizada por prelos manuais, baixas
tiragens e ausência de profissionalismo.
A partir de 1870, um novo quadro de crescimento econômico, advindo
das atividades agroexportadoras, alargou os mercados internos em cada país,
possibilitou a ampliação das camadas médias da população, reduziu as taxas de
analfabetismo, incrementou o consumo de bens manufaturados e criou condições,
entre outras atividades, para o desenvolvimento de meios de comunicação
impressos.
O progresso técnico do período, para o setor, pode ser sintetizado pela
chegada da máquina rotativa, nos anos 1880-1890. Além desta, outras novidades
tecnológicas melhoraram a qualidade, facilitaram a reprodução e baratearam o
preço unitário final de produtos impressos. Um conjunto de inovações mais ou
menos concomitantes mudou a forma de se fazer jornal. Foram elas: o uso do
telégrafo para a transmissão rápida de informações, o linotipo a quente para a
composição de textos, a clicheria para a utilização de imagens, a zincografia como
meio de impressão e a máquina rotativa como forma de reprodução em larga
escala.
No Brasil, a marca dessa época foi o surgimento do Jornal do Brasil, em 9
de abril de 1891. Na Argentina, os grandes marcos do jornalismo dessa fase são
La Prensa (1869) e La Nación (1870). La Prensa tem uma tiragem inicial de 25

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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)

mil exemplares2 e alcança 77 mil em 1900. Seu concorrente, La Nación, surgido


três meses depois, em janeiro de 1870, era resultado de uma sociedade de cotas,
liderada pelo ex-presidente da República Bartolomé Mitre. A tiragem inicial era
modesta, mil exemplares. Logo, o jornal passou a utilizar os serviços de agências
de notícias, como Havas (França), Reuters (Inglaterra) e Wolf (Alemanha). Seu
serviço de correspondentes internos, na primeira fase, era baseado em serviços de
pombos-correio3.
O espaço para a convivência entre iniciativas de pequenos grupos e vultosos
empreendimentos reduz-se. Os órgãos menores – editados a partir de pequenas
cotizações – que não desapareceram tiveram sua importância editorial e política
bastante limitada. Há uma tendência à redução do número de títulos disponíveis
ao público.

Desenvolvimentismo, nacionalismo e comunicações


O período histórico que se convencionou arbitrariamente chamar de era do rádio
coincide com os anos classificados como os do populismo na política continental.
Mais tarde, no segundo pós-Guerra, um neologismo seria criado para classificar
a matriz econômica desses tempos: o nacional desenvolvimentismo, ou período de
substituição de importações.
O desenvolvimento tecnológico e a ampliação do número de emissoras
fez com que os países começassem a esboçar dispositivos legais para regular algo
inteiramente novo, o ar como espaço público. A suposição básica era a de que o
espaço radioelétrico não é ilimitado e pertence à nação. A maioria dos Estados
entendeu que o funcionamento das emissoras deveria ser feito sob o regime de
concessão pública, renovável ou não, embora a maioria das emissoras tivesse
caráter privado. As emissões radiofônicas mostraram uma capacidade ímpar de
consolidar a ideia de nação.
O caso colombiano desse processo é exemplar. Vejamos as palavras do
historiador Reynaldo Pareja:
Antes da aparição e da difusão nacional do rádio, o país era um quebra-
cabeças de regiões altamente fechadas em si próprias. A Colômbia podia
ser denominada, antes de 1940, mais como um país de países do que como
uma nação. Com as ressalvas do caso, a radiodifusão permitiu vivenciar-
se na Colômbia uma unidade nacional invisível, uma ‘identidade cultural’
compartilhada simultaneamente pelos costeños, os paisas, os pastusos os

2 Ulanovsky, Carlos, Paren lãs rotativas, diários, revistas y periodistas (1920-1969), emecé, Buenos Aires, 2005, pág. 21.
3 Idem, pág. 26. É nesta fase que o investimento em imprensa muda de patamar e de escala. Sai de cena o im-
proviso e colocam-se no mercado empresas de comunicação de porte até então inédito.

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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)

santandereanos e os cachaços4.
Gigantes da mídia
O traço fundamental da alteração do perfil dos negócios da mídia, delineado a partir
dos anos 1930-1940 e concretizado após a II Guerra, é a constituição de grupos
empresariais de comunicação. Estes se caracterizam pela propriedade cruzada
de vários meios, como revistas, jornais, emissoras de rádio e, posteriormente,
de televisão. O exemplo maior desses anos foram os Diários Associados. Suas
empresas se constituíram a partir do lançamento de O Jornal (1924), no Rio de
Janeiro, pelo empresário brasileiro Assis Chateaubriand (1892-1968).
O grupo consolidou-se com a publicação da revista semanal O Cruzeiro, em
1928, com tiragem inicial de 50 mil exemplares. Seu auge aconteceu nos anos
1950, quando alcançou 720 mil exemplares. Os Diários chegaram a compreender,
nos anos 1960, 36 estações de rádio, 34 jornais, 18 canais de televisão, uma revista
de circulação nacional, além de uma agência de notícias e outras publicações
periódicas.
A primeira grande cadeia de periódicos mexicanos começou a se formar a
partir dos anos 1930, com o lançamento do diário Novedades, das Publicações
Herrerías, empresa da família de mesmo nome. O jornal foi transferido, por
imposições políticas, a um grupo de empresários ligados a Miguel de Alemán,
presidente do país entre 1946 e 1952. As famílias O’Farrill e Alemán fizeram do
jornal a ponta de lança de um grande grupo empresarial de comunicações, que
incluía 36 publicações. A cadeia midiática mudou de mãos a partir de 1973,
passando a se denominar Organización Editorial Mexicana (OEM) e conta
com 70 periódicos, 24 emissoras de rádio, um canal de televisão e 43 sítios de
internet, chegando a ser, nos anos 1970, o maior grupo de comunicação em
língua espanhola em todo o mundo.

Televisão, a mão visível do Estado


A partir de 1950, tem início outra etapa da constituição dos sistemas de
comunicação de massa na América Latina. Trata-se do terceiro grande salto
tecnológico, marcado pela chegada da televisão. Privilégio de poucos, nos seus
primórdios, em menos de uma década ela já era um fenômeno popular.
O surgimento da televisão na América Latina se dá, nos maiores países,
preferencialmente pelas mãos do Estado. Isso acontece na Argentina (1951),
como parte da expansão dos meios de comunicação durante o governo de
Juán Domingo Perón (1946-1955), no Chile (1959), através de universidades

4 P areja, Reynaldo, Historia de la Radio en Colombia, Secom, Bogota, 1984, pág 177, citado por Barbeiro,
op. Cit., pág. 234.

162
Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)

católicas, Venezuela (1952), como parte do esforço de legitimação da ditadura do


general Marcos Pérez Jimenez (1948-1958), e na Colômbia (1954), como peça
do departamento de propaganda da ditadura do general Gustavo Rojas Pinilla
(1953-1962).
No México (1950), há uma particularidade. Seu desenvolvimento esteve
estritamente vinculado à trajetória do PRI (Partido Revolucionário Institucional),
que governou o país por mais de 70 anos, e, por conseguinte, do Estado. Tanto o
consórcio Televisa como seu predecessor, Telesistema Mexicano (1955), cresceram
à sombra do sistema unipartidário. Houve, durante décadas, uma clara aliança
entre governo e os empresários da Televisa.
A América Latina dos anos 1950 apresentava escassa industrialização, e seus
países seguiam sendo primário-exportadores. À exceção de Argentina e Chile,
todos tinham a maioria de suas populações vivendo no meio rural. A televisão
foi, em todos eles, uma espécie de passaporte para a modernidade. No entanto,
a maioria do empresariado duvidava das possibilidades daquela tela iluminada.
O próprio meio publicitário não acreditava em sua eficácia. Houve, além disso,
um entrave crônico ao pleno desenvolvimento do novo veículo: a carência de
capitais.
No início dos anos 1960, uma realidade começa a se impor e uma nova base,
além do Estado, aparece para sustentar o empreendimento: o capital externo, em
especial o estadunidense. Representantes das redes ABC (American Broadcasting
Company), NBC (National Broadcasting Company), CBS (Columbia
Broadcasting Company) e Time-Life Broadcast Station percorrem a região,
oferecendo parcerias. Os aportes de capital não são a única interferência externa.
Ao mesmo tempo, chega boa parte da programação para televisão, cinema e
publicidade, além de vasta gama de produtos industriais. Com tais investimentos,
as emissoras locais conseguiram se viabilizar, atingir públicos crescentes e se tornar
negócios atraentes.
Em muitos países, como subproduto da fase de substituição de importações
e do nacional-desenvolvimentismo, as legislações impunham restrições à entrada
de capital externo no ramo das comunicações. Legislações desse tipo foram
aprovadas na Argentina, no Brasil, na Colômbia, no Chile e no México.
Embora as legislações nacionais fossem claras ao impedir associações com
estrangeiros, a aplicação de tais normas sempre foi flexível. O investimento
estadunidense espalhou-se por vários países. Mas, nos últimos anos da década de
1960, a maioria dos capitais externos saiu das emissoras da Argentina, do Brasil,
do Peru e da Venezuela. Se de um lado isso reduziu os orçamentos das emissoras,
de outro o fato ocorreu quando os empreendimentos já tinham amadurecido e
andavam com as próprias pernas. Entre as causas dessa saída de capitais rumo às

163
Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)

matrizes estava a rentabilidade maior do mercado dos EUA, num tempo em que
se implantavam no país a TV a cabo e as transmissões por satélite.

Tecnologia digital, o caminho da internacionalização


O quarto marco do desenvolvimento das comunicações na América Latina se
deu no início dos anos 1990, com avanços no terreno da tecnologia digital e da
informática. Esse salto se concretiza em diversas modalidades, como a televisão
digital, as transmissões por cabo e via satélite, a telefonia móvel, a internet etc.,
materializando uma inédita convergência tecnológica. No terreno econômico-
empresarial, a mídia também se internacionaliza. Investimentos, desenvolvimento
tecnológico e estratégias de crescimento passam a ter escala planetária, formando
um mercado cada vez menos competitivo, tendendo à uniformidade de
conteúdos e marcado por intensa concentração de capitais, por meio de fusões e
aquisições por toda parte. Para conformar tal mudança de padrões, legislações são
modificadas em vários países.
Em quase todo o continente, o ponto definidor dessa fase se deu a partir das
políticas de privatização dos anos 1990. De acordo com o pesquisador Marcos
Dantas, as privatizações continentais do setor começaram com a venda da estatal
Compañía de Telecomunicaciones de Chile (CTC), em 1987. O especulador
australiano Alan Bond arrematou a empresa por US$ 270 milhões. Depois de
obter aumentos de preços de tarifas, o empresário elevou em 88% seus lucros em
1998. No ano seguinte, os lucros atingiram US$ 95 milhões. Em 1990, Bond
vendeu 47,7% de suas ações na empresa para a Telefónica de España por US$
390 milhões5.
Em novembro de 1991, a Telecom Argentina – atuante no centro-norte
– foi entregue a um consórcio formado pela France Télécom, STET (hoje Itália
Telecom) e pelo Banco Morgan Stanley. A Entel, que atuava no centro-sul do
país, foi adquirida pela Telefónica de España e pelo Citicorp.
Em dezembro do mesmo ano, a próspera Telmex mexicana foi privatizada
em favor do consórcio France Télécom, Bell South e Grupo Carso, de Carlos
Slim.
Quase nos mesmos dias, a Compañía Anónima Nacional de Teléfonos
de Venezuela (CANTV) foi vendida para o consórcio formado pelas empresas
Telefónica de España, AT&T e GTE. A Telefónica também comprou a Telefónica
Larga Distancia (TLD) porto-riquenha no mesmo ano, e a Entel peruana em
1994.
5 Ruelas, Ana Luz, México y Estados Unidos en laRevolución Mundia l de las Telecomunicaciones, Institute
of Latin American Studies, Austin, Texas, 1995, disponível em http://lanic.utexas.edu/la/mexico/telecom/Li-
bro_TELECOM.pdf

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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)

Em 1998, o sistema controlado pelo sistema Telebrás, no Brasil, é fatiado


e vendido aos pedaços – pois não havia investidor capaz de adquiri-lo em sua
totalidade – para os conglomerados Telefónica de España, Grupo Jereissati,
Grupo Opportunity, alguns fundos de pensão e especuladores e aventureiros
internacionais6. A Telebrás era, à época, o maior sistema de comunicações da
periferia capitalista.

Legalização do capital externo


A internacionalização provocada pelas privatizações dos anos 1990, combinada
com o alto endividamento em dólar das empresas de comunicação – em uma
época de crises cambiais na periferia –, levou vários governos da região a
quebrar uma dos pilares das legislações sobre comunicação. Assim, a proibição
de investimentos estrangeiros foi suprimida em graus variados na Argentina, no
Brasil, no Chile, no México, entre outros.
Com crises cambiais sucessivas – especialmente no México (1994), no
Brasil (1999) e na Argentina (2001) –, as empresas locais pressionaram governos
a alterarem legislações, com o objetivo de receberem investimentos de fora.
Na América Latina, a história dos meios de comunicação é a história de
como se constituíram as oligarquias locais e regionais, de como se moldaram
os Estados nacionais e de como o capitalismo se desenvolveu neste pedaço do
mundo. É essencialmente uma história política, de favorecimentos a classes ou
setores de classes em detrimento de outras, em sociedades desiguais, nas quais a
propriedade e a renda são extremamente concentradas.
A sincronização detectada na evolução histórica dos diversos países evidencia
que a mídia continental sempre foi um braço do poder político, incentivando,
apoiando e disseminando medidas próprias de sua lógica.

O futuro, enfim
Que rumos podem ser vislumbrados para o desenvolvimento das comunicações
na América Latina, em meio a aceleradas mudanças nas composições societárias,
nos avanços tecnológicos e nas demandas diversificadas por informação?
A profunda reestruturação tecnológica assistida pelo mundo desde o final dos
anos 1970 e a própria alteração nos padrões de acumulação ensejaram a constituição
de novos tipos de conglomerados de alcance global. O desenvolvimento tecnológico
casou-se à perfeição com uma era de desregulamentação dos mercados em escala
internacional. A livre circulação de capitais, em velocidades inimagináveis há três
6 Informações de Dantas, Marcos, A lógica do capital-informação, Contraponto 2002, Rio de Janeiro, pág. 229.

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Comunicações na América Latina: progresso tecnológico, difusão e concentração de capital (1870-
2008)

décadas, foi possibilitada não apenas por conta da queda de barreiras legais em
cada país. Ela acontece também por força dos avanços na área de automação
bancária, de transmissão de dados e de alocação de investimentos em tempo real
por empresas que operam em diversos pontos do planeta.
Os velhos grupos familiares no continente – Clarín, Edwards, Mesquita,
Frias, Marinho, Civita etc. – se defrontam com duas forças contraditórias. De
um lado, a ameaça real de serem engolidos por organizações gigantescas, em um
ambiente cuja dinâmica não é impulsionada pelos mercados locais, mas pela lógica
de investimentos planetários. De outro, a uma pressão política de baixo para
cima, que reivindica direito à informação e democratização das informações. Para
alguns, a saída tem sido a abertura de seu capital. Para outros, ronda o espectro de
uma concorrência assimétrica, caso não se reestruturem. Repetindo: essa situação
resulta de um liberalismo radical, sempre defendido por eles mesmos.
Os velhos grupos de comunicação continentais percebem agora que a
abertura indiscriminada dos mercados nacionais tem prós e contras para seus
interesses. Se, de um lado, isso possibilita associações e fusões, com consequente
incremento na entrada de capitais para investimentos, de outro coloca a velha
mídia literalmente em xeque. Antigos grupos familiares têm sido obrigados a se
reestruturar à força, para não sucumbirem diante de empreendimentos muito
mais poderosos.
Monopolista, antidemocrática e elitista, a velha mídia dificilmente conseguirá
galvanizar a opinião pública para sua defesa. Há apenas um único ente com porte
e capacidade para realizar um contraponto e buscar garantir que os interesses e os
direitos da cidadania possam prevalecer nesse quadro geral. Trata-se do Estado.
Demonizado e acusado de ineficiente por quase três décadas consecutivas, este
tem condições de impor limites legais à formação de monopólios, outorgar e
suspender concessões públicas e de produzir uma comunicação democrática e de
qualidade, sem se vincular a interesses comerciais imediatos.
A independência do Estado em relação aos agentes privados será tanto maior
quanto mais pública e democrática forem suas características.

166
CAPÍTULO 4

Comunicação institucional do poder público

Antonio Lassance1

Introdução
A comunicação é, ao mesmo tempo, uma das áreas mais importantes e sensíveis
para a gestão pública e uma das menos institucionalizadas. A regulamentação
é escassa, genérica, pouco associada aos objetivos da República e dominada,
em sua publicidade, por “maneirismos” mercadológicos. Possui uma ampla
margem de manobra, o bastante para que ela possa ser bem utilizada em prol
das políticas, programas e ações que precisam se tornar conhecidas, mas aberta
o suficiente para deixar brechas que podem ser distorcidas, ou cujo bom uso
depende não só das virtudes dos governantes, mas da virtude dos que comandam
a comunicação. Tal situação contraria um dos requisitos do funcionamento do
Estado, que é justamente o de ter mecanismos que induzam comportamentos
republicanos, diminuindo ao máximo o espaço para opções entre usar ou abusar
da comunicação.
A discussão aqui apresentada sugere um marco institucional para a
comunicação do Poder Executivo, seguindo o princípio essencial de que poder
público é poder do público sobre o Estado. Deriva daí o pressuposto de que a
comunicação deva ser prestada como uma modalidade a serviço do público.
Toma-se como pressuposto que a comunicação realizada por meio de
organismos estatais deve ser democrática, e pode sê-lo tanto ou mais que em
empresas privadas. Deve ser crítica – o que significa, muitas vezes, nadar contra
a corrente de opiniões largamente disseminadas. E deve ser afinada com os
direitos dos cidadãos, sem ter que simular uma independência do Estado. Não
existe independência em atividades financiadas exclusivamente pelo Estado, que
dependam de suas diretrizes e, principalmente, que tenham que obedecer ao
regramento legal estabelecido. O que pode e deve existir é autonomia, figura
conhecida em âmbito administrativo.
Um serviço público de comunicação é a forma concreta e sistemática de
institucionalização de um tipo próprio e peculiar de comunicação. Próprio porque,
em alguma medida, deve ser realizado diretamente pelo Estado, sem prejuízo
de eventualmente valer-se de serviços especializados contratados no mercado e,
1 Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e
da Democracia. Foi assessor da Secretaria de Comunicação da Presidência da República e presidente do Con-
selho de Administração da Radiobras.

167
Comunicação institucional do poder público

sobretudo, tendo que conectar-se a redes sociais que operam seus próprios canais
de transmissão de mensagens. Peculiar porque tem características diferenciadas
em relação à comunicação empresarial privada, à autocomunicação de massa ou
das organizações civis, e distinta mesmo da do Legislativo e Judiciário.

O lugar da comunicação do poder público


Pode-se tipificar a comunicação conforme critérios diversos. Tomando-se como
critério o emissor, há quatro tipos fundamentais:
• Comunicação pessoal: aquela estabelecida por cada pessoa, em espaços
públicos ou privados. Tem como meios as conversas pessoais, telefonemas,
e-mails, cartas etc;
• Comunicação do poder público: é a comunicação dos órgãos da
administração pública, sob as mais diferentes formas: desde os comunicados
internos, diários oficiais, notícias veiculadas em seus próprios meios de
comunicação, publicidade (mesmo que paga e veiculada em meios empresariais
privados) e até os pronunciamentos e discursos proferidos pelas autoridades. É
uma comunicação ao mesmo tempo do Estado, de seus órgãos e de seus agentes,
na medida em que estejam no exercício de funções estatais;
• Comunicação empresarial: é a comunicação tradicional dos veículos que
têm a informação e o entretenimento como negócio. É orientada a consumidores
dispostos a pagar, direta (por exemplo, quando compra jornais e revistas) ou
indiretamente (quando consome publicidade no rádio ou na TV aberta). No
mesmo campo se insere a comunicação realizada por empresas de outros ramos
(automóveis, bebidas, roupas, aparelhos eletrônicos), que buscam vender suas
mercadorias e, para tanto, propagandeiam seus atributos ao mercado consumidor.
As próprias empresas de comunicação, aliás, fazem uso intenso de publicidade
para oferecerem-se como mercadoria para o consumo;
• Comunicação das organizações civis: aquela veiculada por partidos,
sindicatos, igrejas, associações, ONGs etc.
Manuel Castells (2007 e 2009) cunha a expressão autocomunicação de
massa para analisar o atual momento de alastramento do uso dos computadores
pessoais conectados à internet, abrindo novas possibilidades comunicativas a
um número cada vez maior de pessoas. Blogs e redes sociais tornaram-se sua
forma preferencial. Mas mesmo essa novidade se enquadra entre os quatros tipos
descritos, sendo a web uma plataforma massiva utilizada principalmente para a
comunicação de caráter pessoal.
É preciso abrir um parêntesis para a crítica ao conceito de “comunicação

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Comunicação institucional do poder público

pública”. As visões que se afirmaram em torno deste conceito partem do


paradigma liberal, segundo o qual a comunicação, para atender aos requisitos da
sociedade, deve afastar-se do Estado, e não se aproximar dele para interferir em
suas diretrizes e ações. Tal falácia normalmente ampara a defesa de uma pretensa
independência da comunicação social financiada pelo poder público em relação
aos governos. Outro problema é a omissão quanto à figura do Estado, da qual o
governo é apenas uma de suas organizações.
Normalmente, se acaba recaindo em uma simulação que pode resultar em
algo mais grave, a dissimulação, ou a tentativa de maquiar a fonte da informação
e os interesses que estão por trás daquela mensagem.
Neste quadro, o conceito de comunicação pública apresenta-se como
deslocado, inconsistente e redundante.
Deslocado porque não identifica claramente seu emissor. Ao contrário,
esforça-se por escondê-lo, o que desrespeita um princípio essencial da comunicação
que é o de deixar clara a fonte dessa informação. Comunicação com credibilidade
depende de que o emissor esteja explícito, para que o público saiba quem é ele e
que interesses representa. Quem recebe uma mensagem tem o direito de conhecer
seu emissor, sem subterfúgios.
Para o Estado, esse reconhecimento é central à sua comunicação. Na medida
em que o público adquira confiança na mensagem recebida e possa livremente
modular sua relevância, pode mais facilmente credenciar sua disseminação. Com
uma revolução comunicativa em curso, as informações a serem disseminadas
dependem muito da credibilidade que gozam e da adesão que alcançam diante dos
filtros estabelecidos pelas pessoas. Se passarem por tais filtros, serão transportadas
para dentro de redes sociais por interlocutores que emprestarão sua própria
credibilidade à mensagem.
O conceito de comunicação pública é inconsistente por ser uma transposição
incorreta do conceito de esfera pública para dentro da organização do Estado, o
que contradiz a própria noção de esfera pública (HABERMAS, 1984). Habermas,
por sinal, enfatiza a importância da opinião formada pelos canais informais (não
estatais e não organizados burocrática e empresarialmente) de comunicação
política (HABERMAS, 1992).
A ideia que se tentou propagar como “modelo” de comunicação para o
setor público não tem lastro teórico algum. Está baseada em algo que se referia
mais apropriadamente à comunicação feita em público, em espaços públicos. A
discussão até ganharia algum sentido se partisse da teoria da participação, que
encontra alguma afinidade com a concepção habermasiana de esfera pública, ou
se estivesse associada à teoria da democracia deliberativa (THOMPSON, 2002).
Mas não foi assim que a ideia foi recepcionada no Brasil.
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Comunicação institucional do poder público

Finalmente, trata-se de um conceito redundante, posto que, a rigor,


toda comunicação tem alguma dimensão pública. Ainda pior é a expressão
“jornalismo público” (conforme alerta KUCINSKI, 2006). Todo emissor se
dirige a algum público. Mesmo a comunicação pessoal tem um destinatário, um
interlocutor, alguém que se constituiu em receptor daquela mensagem. Na era
da autocomunicação de massa, mais ainda, mesmo os sentimentos e os humores
mais íntimos tornam-se objeto de “comunicação pública”.
Em sua contraparte, a dissimulação sobre as responsabilidades quanto ao
que deixou de ser feito, do que foi desfeito ou mal feito – e dos prejuízos causados
a todos –, é uma das formas de favorecer a septicemia da credibilidade do poder
público, que generaliza convicções pessimistas sobre as virtudes do regime
democrático, seus agentes políticos e servidores. É muito comum ver expressões
como “governo analisa...”, “governo concede...”, “autoridades do governo...”,
o que não permite ao cidadão identificar corretamente o responsável pela ação
informada. A ideia de que todos são irresponsáveis anda junto com a percepção
equivocada de que ninguém é responsabilizado.
A comunicação do poder público, portanto, tem atribuições características e
papéis essenciais a serem cumpridos no regime republicano, quais sejam:
1) Comunicar a decisão tomada e esclarecer sua motivação, alcance e
possíveis consequências;
2) Zelar para que a mensagem transmitida seja fiel à decisão oficial. Este é o
requisito básico da qualidade da informação do poder público: fornecer ao
cidadão a fonte oficial da decisão e replicar seu exato teor;
3) Garantir o caráter universal da informação. Significa que ela deve ser
clara a todos os públicos e sua disseminação deve ser irrestrita, gratuita e
rápida, o mais imediata e diretamente possível, garantida a sua qualidade,
valendo-se, para tanto, de meios próprios ou do apoio de outros tipos de
comunicação que amplifiquem seu alcance;
4) Esmiuçar o caráter contraditório das decisões. A atenção para este aspecto
deve estar no fato de que contradição não significa patrocinar a ambivalência,
muito menos a ambiguidade, que são problemas para as políticas públicas
(ZAHARIADIS, 1999; SUBIRATS, 2006). Assumir o caráter polêmico
das decisões é preparar-se para o momento em que elas serão contraditadas.
A comunicação se insere como uma das responsáveis por esmiuçar as
dúvidas suscitadas, rebater as críticas levantadas, apresentar os dados que
fundamentaram a decisão tomada e oferecer exemplos e comparativos, a
partir de situações análogas.
A polêmica permite o exercício da pluralidade, mas não no sentido de

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Comunicação institucional do poder público

dissimular isenção ou imparcialidade, mas de enfrentar o debate, em vez de


escamoteá-lo. É sua obrigação esclarecer a posição do Poder Executivo e exercitá-
la diante do contraditório.
É possível verificar, entre os estudiosos da relação entre comunicação,
opinião pública e políticas públicas, a percepção de que o raquitismo do uso
da comunicação pelo Poder Executivo em alguns países acaba sendo prejudicial
ao desvendamento do que está verdadeiramente em jogo por trás das decisões,
principalmente em tentativas de alterar o status quo. A falta de comunicação ou
sua fragilidade acabam incentivando outro tipo comum de dissimulação: a de que
os assuntos públicos são para especialistas, difíceis de serem abertos a qualquer
um, ao mesmo tempo em que se apregoa uma desqualificação da informação
governamental, tratada normalmente de forma negativa (HOWLETT, 2000).
A comunicação do poder público tem um lugar especial e distinto das
demais. É exercida de modo próprio, autônomo, sem prescindir da colaboração
de outros emissores. Por isso mesmo, embora haja muito a aprender com os casos
de excelência das mais variadas mídias, não lhe cabe imitar o jornalismo privado
ou o marketing comercial, nem competir com modelos e padrões de comunicação
referenciados na concorrência, e não no interesse público.
Deve ser dada ênfase ao caráter imediato, gratuito e de qualidade da
informação prestada. A urgência, cada vez mais exigida, pode interferir na
qualidade da comunicação, ou seja, na fidelidade ao teor das decisões tomadas e
no sentido a elas conferido pelo poder público. O caráter gratuito é dificultado
pela situação de oligopólio da mídia no Brasil (FONSECA, 2010; LIMA, 2001),
haja vista que a disseminação das informações produzidas pelas fontes oficiais é
intermediada em larga escala pelos veículos privados.
Nessa intermediação, a linha que separa a decisão oficial tomada e as
interpretações feitas sobre a mesma é turvada. A cobertura jornalística tradicional
é francamente editorializada, o que é uma característica não só da liberdade de
imprensa, mas do poder imperial que as linhas editoriais exercem sobre a pauta
de cada veículo. Isso acarreta uma dificuldade para o cidadão em identificar
claramente o cerne das decisões (seu teor e alcance), as motivações do poder
público e os interesses da própria imprensa.
No entanto, parte relevante da responsabilidade pela difusão de informações
enviesadas pode ter como origem os próprios agentes políticos e servidores, quando
usam a imprensa na disputa por destaque pessoal ou na busca por interferir na
tomada de decisão.
É uma obrigação do poder público abastecer todas as mídias com notícias.
Mas é preciso abolir a tradição de se alimentar indevidamente alguns veículos
da mídia privada de informações privilegiadas, o que atenta contra os padrões
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Comunicação institucional do poder público

republicanos e o princípio da isonomia. Afinal, os que exercem cargos públicos


estão impedidos de dar qualquer preferência ou tratamento diferenciado a quem
quer que seja, o que inclui os veículos de imprensa privados. Práticas corriqueiras
e naturalizadas de se conceder a determinados veículos e jornalistas os troféus,
apelidados de “furos”, desrespeita o primado da impessoalidade, diante de uma
relação francamente pessoal e comercial (são informações postas à venda no
mercado).
A existência do “off”, por exemplo, é o reconhecimento cabal de que uma
informação dada de maneira particular pode ser injustificável publicamente. A
experiência das páginas pessoais de autoridades, como blogs e microblogs, que
são públicos, é uma boa forma de garantir um fluxo alternativo de informações e
opiniões não institucionais, mantendo a imprensa abastecida, sem a necessidade
de subterfúgios.
Igualmente no caso dos embargos noticiosos que se prestem à barganha de
espaço nos veículos, quando este instrumento deveria se prestar, ampla, e não
restritamente, a alimentar a comunidade de jornalistas especializados, para que
possam oferecer análises melhor trabalhadas e qualificadas.
Assim sendo, uma reformulação da comunicação do poder público deverá
implicar um aprendizado que envolva os profissionais da própria comunicação
e também os gestores governamentais. Estes últimos precisam ser educados a
descumprir uma das regras de ouro do jornalismo tradicional: a de que não se dá
a mesma informação para mais de um jornalista, a não ser para fornecer detalhes
sobre uma mesma decisão, o que poderia permitir nuances, ao gosto de cada
veículo.
A orientação básica deveria ser a de buscar, em primeiro lugar, os veículos de
comunicação do próprio poder público, para formatar a informação e prepará-la
exaustivamente, de forma a evitar justamente a ambivalência e a ambiguidade.
Mas nem sempre é possível ao gestor, principalmente aos que participam da alta
administração, dispor de tempo suficiente para tal. Nestes casos, as coletivas
funcionam como a melhor maneira de expor uma decisão a todos os veículos,
simultaneamente, e permitir que a astúcia de cada jornalista faça diferença,
publicamente.
Nada impede também a concessão de entrevistas ou artigos exclusivos,
quando servem à manifestação de opiniões, e não à antecipação de decisões ou a
um esclarecimento que ainda não tenha se tornado público. É no mínimo digno
de reflexão o costume das exclusivas concedidas por autoridades a veículos que
tornarão aquela informação disponível apenas para assinantes. É desfazer todas as
praxes que apagam a necessária distinção entre o público e o privado em matéria
de comunicação.

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Comunicação institucional do poder público

Princípios
Os princípios da comunicação do poder público devem derivar dos princípios
fundamentais consagrados pelo Art. 1º da Constituição, que define o Estado
brasileiro como uma república federativa, Estado democrático de direito e tendo
como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político.
Tais princípios se articulam com os objetivos fundamentais da República
(Art. 3º) que concernem a:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.
São preceitos que devem fundamentar a atenção especial da comunicação
do Poder Executivo em torno de determinados temas da agenda pública. A
projeção internacional do Brasil, a integração latino-americana; a proteção aos
direitos humanos, no que tange à dignidade da pessoa, ao direito à vida, à saúde,
educação, segurança, trabalho, previdência, assistência social e a promoção da
igualdade; as oportunidades de desenvolvimento humano (econômico, social e
cultural), dentre outros, são focos que merecem figurar como pauta prioritária
nos esforços da comunicação institucional do poder público.
A lista de temas setoriais e ações é imensa. Seria importante que, a partir
desses princípios e objetivos propugnados pela Constituição, fossem extraídas
linhas de comunicação capazes de condensar blocos temáticos mais amplos. Em
termos práticos, evitaria que sua cobertura jornalística se embaraçasse num cipoal
de programas e ações e se perdesse no emaranhado de órgãos da administração
federal.
O ideal seria conformar campos de atenção orientados por macropolíticas,
como é o caso da política econômica, da política social e da política de
desenvolvimento. O esforço é grande pelo fato de os governos demonstrarem
dificuldade em estabelecer essas macropolíticas.
O princípio da soberania popular, previsto tanto na forma direta (plebiscito,
referendo e iniciativa popular) quanto na representativa, traz a diretriz que
é comum à maioria das empresas de comunicação financiadas pelo Estado,
em outros países: a de sempre aferir a sintonia entre as decisões tomadas e as
expectativas ou aflições dos cidadãos. Por isso, a importância da ação do poder

173
Comunicação institucional do poder público

público ser sempre testada diante da reação que provoca nas pessoas, seja para
demonstrar seu grau de conhecimento (e menos o desconhecimento, como é
comum nas reportagens que começam com a técnica de “o povo fala”), seja para
estampar suas dúvidas, ponderações ou críticas. A experiência das ouvidorias é
decisiva, mas essa sensibilidade seria expandida com a realização periódica de
pesquisas de opinião, quantitativas e qualitativas, de modo a ajustar seus padrões
de comunicação e mesmo sua programação.
O princípio da harmonia e independência entre os Poderes (Art. 2º da
Constituição) impõe a necessidade de contextualizar as decisões de acordo com
seu processo decisório, incluindo as ações de confirmação ou revisão que podem
ser realizadas pelos demais Poderes. Trata-se da explicitação do complexo sistema
de pesos (ou “freios”) e contrapesos, presentes em dispositivos como o da sanção
ou veto, da emenda e o da ação direta de inconstitucionalidade.
Por sua vez, deve-se entender a natureza do Poder Executivo, que seguindo a
trilha aberta pela teoria política moderna foi dotado de uma série de ingredientes
para que tivesse a devida capacidade para agir. A lista desses requisitos está
consubstanciada na formulação clássica das repúblicas federalistas (HAMILTON,
MADISON e JAY, 1787-1788), que sempre deixou claro que o Executivo é
feito para agir em nome do interesse público. Para tanto, precisa ter unidade
(coesão interna ao próprio Executivo), a necessária provisão de apoio (ou seja,
uma coalizão no Congresso capaz de garantir que as iniciativas do presidente
sejam aprovadas); e ser dotado de prerrogativas substantivas, ou seja, de um
conjunto de poderes suficientes e automáticos para agir (op. cit., p. 644). Tudo
isso contrabalançado por sua temporalidade (limitação do mandato).
Enquanto o parlamento é um poder por natureza plural, o Executivo,
conforme os federalistas clássicos, é um poder hierárquico. O Legislativo pode ser
lento, para que as decisões sejam tomadas consumindo o tempo requerido por
sua pluralidade. O Executivo tem a obrigação de ser rápido e ter uma orientação
unívoca (op. cit., p. 645-650). Sua unidade de comando é um requisito básico
inclusive para que suas falhas exponham eventuais responsáveis, individualmente.
A comunicação do poder público obedece a tais peculiaridades.
O princípio federalista se desdobra na importância de mostrar o longo
caminho que uma decisão tomada em Brasília percorre até tornar-se realidade em
um município, e o quanto esse caminho é afetado por problemas de implementação.
Deve-se esclarecer a lógica de muitos programas e o papel complementar que
se deve estabelecer na cooperação entre União, estados, municípios e Distrito
Federal. Os cuidados a serem tomados na comunicação, por conta da diversidade
do País, estão bem definidos no Art. 2º do Decreto nº 6.555 (de 8/09/2008), que
dispõe sobre as ações de comunicação do Poder Executivo Federal.

174
Comunicação institucional do poder público

A comunicação também tem referência explícita no Art. 37 (Da


Administração Pública), que manda que seja obedecido, pelos órgãos de todas
as esferas, o princípio da publicidade, intimamente associado ao da legalidade,
impessoalidade, moralidade e eficiência. Embora muitas vezes entendido de
forma restrita, o princípio da publicidade vai além da obrigação de proceder à
publicidade legal que torna lícitos os atos, desde as leis e decretos quanto as portarias
de nomeação e contratação de serviços e os editais de abertura de concursos. A
publicidade se refere à necessidade de dar transparência aos atos, estimular os
cidadãos à fiscalização e à participação. Obriga a que sejam fornecidas explicações
que fundamentem as motivações dos atos praticados pela administração, e que
se abra a todos a oportunidade de participar das realizações do poder público.
O parágrafo 1º do referido Art. 37 da Constituição diz ainda que “a
publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela
não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou servidores públicos”. Isso não exime o poder público de
cumprir informar quem são os gestores responsáveis pelas respectivas ações. Mas
cabe uma melhor especificação de como as autoridades e os servidores devem ser
apresentados ao conhecimento público.
Exige-se que os órgãos sejam devidamente dotados de profissionais
qualificados (o que não significa dizer exclusivamente jornalistas) para exercerem
as funções de porta-vozes, ou mais exatamente, o papel de explicadores das ações
em curso: seus desafios, benefícios e problemas enfrentados. O aperfeiçoamento
da comunicação do Estado requer a formação dos gestores para que sejam
permanentemente capacitados a enfrentar o público em geral e os jornalistas,
em particular. Neste sentido, o papel dos profissionais da área de comunicação
(jornalistas, publicitários, relações públicas e, cada vez mais, os profissionais de
internet) é o de preparar os gestores governamentais para agregarem uma nova
competência gerencial: a competência comunicativa.
Cabe à comunicação dos poderes públicos regulamentar com maior
exatidão o que está previsto para a comunicação social, conforme o Art. 221 da
Constituição, ou seja:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção
independente que objetive sua divulgação;
III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme
percentuais estabelecidos em lei;
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

175
Comunicação institucional do poder público

Entre 2003 e 2010, a Secretaria de Comunicação da Presidência da


República promoveu uma mudança significativa em seus critérios de publicidade
e patrocínio para atender a tal preceito constitucional, além de ter adotado
critérios claros de remuneração dos veículos, que inexistiam anteriormente.
Um tema candente se refere aos conselhos de comunicação social.
O Congresso Nacional (Lei 8.389, de 1991) e, mais recentemente, várias
assembléias legislativas estaduais criaram conselhos para a realização de estudos,
pareceres, recomendações e outras solicitações, e para subsidiar a discussão
sobre a regulação do mercado da comunicação. A EBC (Empresa Brasil de
Comunicação, sucedânea da Radiobras) instituiu (Decreto/6689, de 2008) um
conselho curador, responsável por estabelecer diretrizes e zelar pelo cumprimento
das obrigações dadas pela lei que criou a empresa.
Ao contrário do Poder Legislativo, Executivo e Judiciário não dispõem
de conselhos de comunicação, que poderiam servir de mecanismos de
aconselhamento e definição de diretrizes para a sua própria comunicação, além
de servir de fórum de discussão e sugestão de propostas regulatórias no âmbito
da comunicação social.
O Conselho de Comunicação, no caso do Executivo, deveria ter como
tarefa a supervisão das atividades de comunicação deste poder, contribuindo
para o paulatino detalhamento de suas normas reguladoras. Progressivamente,
proporcionaria a institucionalização da comunicação social do Executivo.
Hoje, a comunicação encontra-se precariamente institucionalizada. Os
profissionais atuam com alto grau de discricionariedade, o que permite maior
flexibilidade, também riscos crescentes. A área da comunicação tem sido regulada
de forma enviesada, por meio de sucessivos acórdãos do TCU, destinados
sobretudo a orientar e direcionar as práticas operacionais de publicidade e
patrocínio.
Um eventual Conselho de Comunicação do Executivo Federal deveria
ser necessariamente formado pela combinação de profissionais de notório
saber e gestores diretamente encarregados da comunicação federal, pois estes
têm detalhes do processo de comunicação muitas vezes ausentes da discussão
acadêmica, da visão dos parlamentares e do ativismo dos órgãos de controle. A
contribuição, tanto do Legislativo quanto do Judiciário, poderia ser incorporada
mediante convites para que os mesmos sugerissem nomes a serem apreciados pelo
Executivo para sua composição.
Uma lista tríplice poderia ser oferecida também pelas conferências de
comunicação, que deveriam ter sua periodicidade estabelecida e sua importância
igualmente formalizada como uma das atribuições do Conselho (convocar,
presidir e sistematizar as sugestões das conferências). O Poder Executivo pode
176
Comunicação institucional do poder público

induzir o processo de institucionalização da comunicação do poder público


também nos estados, municípios e Distrito Federal, seja definindo normas gerais,
seja garantindo a participação nas conferências nacionais de comunicação de
representantes escolhidos nas conferências estaduais. O modelo das conferências
desenvolvido atualmente na maioria dos ministérios segue esse procedimento.
A necessidade de se fixar normas gerais para regular a comunicação dos órgãos
do poder público de todas as esferas é patente. Registre-se que a comunicação
em âmbito federal tem sido positivamente acompanhada com lupa, tanto pela
imprensa, quanto pelos órgãos de controle federais, enquanto pouco se percebe
que em nível estadual e municipal, não raro, ocorrem graves abusos. Sem contar
que o volume de recursos empregados pela comunicação federal está bem abaixo
do patamar despendido por muitos estados, municípios e pelo Distrito Federal.
O princípio da publicidade é requisito à transparência do poder público.
Expandir a regulação da atividade de comunicação federal não só aumentaria o
volume de informações disponíveis ao cidadão como forneceria mensagens mais
apropriadas a sua diversidade.

Em prol de um serviço público de comunicação


A comunicação do poder público tem avançado nos últimos anos, em termos da
modernização de seus padrões, da incorporação de novas plataformas tecnológicas
e da melhoria de sua relação com os cidadãos. Os desafios que se apresentam
dizem respeito à institucionalização de sua atividade, partindo de princípios
republicanos essenciais e detalhando seu modus operandi a partir de consultas
sucessivas, participação popular (conselhos e conferências) e estreita cooperação
com os outros poderes e os órgãos de controle.
O processo deve resultar na formulação de iniciativas legislativas a serem
encaminhadas ao Congresso, além da expedição de decretos e instruções
normativas que forneçam tal detalhamento. No que se refere às normas internas
ao Poder Executivo, a melhor estratégia é a de tornar alguns casos exemplares de
comunicação como passíveis de generalização, transformando-os em regra, e não
em exceção. Os exemplos positivos são muitas vezes exaltados, mas nem sempre
replicados.
Em paralelo, é fundamental organizar a comunicação como serviço público.
Isso demandaria, no Poder Executivo, um redesenho da estrutura da Secom,
criando uma área exclusivamente dedicada a essa tarefa. Atualmente, as áreas
existentes funcionam assoberbadas por funções de atendimento à imprensa,
produção de comunicados oficiais do Presidente e seus ministros, produção
publicitária, realização de eventos e orientação do cumprimento das normas

177
Comunicação institucional do poder público

legais por toda a comunicação do Governo. A inexistência de uma área específica


para conceber e implementar a institucionalização da comunicação faz com que
os esforços empreendidos até o momento ocorram de maneira eventual, e não
sistemática.
Da mesma forma, deve-se reconstituir a área encarregada diretamente pela
comunicação do Poder Executivo Federal. Hoje, tal tarefa se acha “terceirizada”,
sob a incumbência de uma diretoria da EBC denominada EBC serviços. Canais
como a NBR, muito importantes para o Poder Executivo e que já foram de
um padrão exemplar, graças à excelência dos profissionais da antiga Radiobras,
hoje encontram-se aquém da qualidade de imagem, som e conteúdo de seus
congêneres da Câmara, Senado e Justiça. Ao contrário também de seus similares,
o Executivo é o único que não tem um canal de TV aberta e de rádio (a TV e
as rádios Nacional não têm esse perfil). A TV internacional do Brasil (ou TV
Brasil Internacional) é essencial a um país que tem a perspectiva de se tornar a 7ª
economia mundial, entre 2011 e 2012, e a 5ª maior do mundo até 2022.
Um ponto central diz respeito à necessidade de estruturar a carreira dos
gestores da comunicação federal, no âmbito do Executivo. Os profissionais
atualmente trabalham diretamente ligados aos ministros, e não aos ministérios.
Num regime onde os dirigentes superiores são escolhidos em função do
imperativo da montagem de uma coalizão governante, capaz de garantir maioria
congressual, é natural que os órgãos tenham uma cota de cargos de livre nomeação
preenchidos pelo critério de confiança. Isso permite reforçar as diretrizes
políticas, que são fruto da decisão da alta administração, e não de procedimentos
meramente burocráticos.
No entanto, a comunicação precisa ter um corpo de servidores próprios,
de carreira, capazes de acumular competências que são decisivas para se evitar
perder tempo com a inexperiência ou cometer erros primários. A comunicação
também não pode ficar refém da situação, muito comum, da alta rotatividade
desses profissionais, que perambulam com base nas ofertas de remuneração, ora
mais vantajosas no serviço público, ora mais generosas no mercado.
O Brasil encontra-se em um momento crucial de sua história, tanto pelo que
conseguiu conquistar em sua trajetória recente – e de modo bastante acelerado,
quanto pelas oportunidades que se abrem para o futuro. Internamente, várias
de suas políticas alcançam seu ponto de maturidade. Começam a apresentar
resultados mais robustos e a fornecer histórias de vida cada vez mais exuberantes.
A comunicação deveria institucionalizar a responsabilidade de recolher e
sistematizar as histórias que dão rosto às transformações do País. Isso faz parte de
um processo de aprendizado do povo brasileiro, na medida em que evidencia que
a ação do poder público, se bem realizada, gera resultados coletivos que devem

178
Comunicação institucional do poder público

ser incorporados à sua noção de democracia. Muito do que se faz é traduzido em


números, e não em olhares e falas. Estão representadas em coberturas episódicas
e muito centradas em seus dirigentes, e não nas pessoas que são a razão de ser das
políticas públicas e que devem estar no primeiro plano de uma visão republicana
de Estado.
Neste sentido, a comunicação governamental, como a de muitos outros
tipos, acaba reproduzindo o profundo desconhecimento do povo brasileiro
pelos próprios brasileiros. Trazer a comunicação para o cotidiano faz sentido
para a afirmação de uma identidade brasileira e para combater preconceitos
que, infelizmente, se têm generalizado. Sem contar as formas mais tradicionais
e naturalizadas, que desmerecem a mulher, o negro, o deficiente físico, os
homossexuais e os migrantes.
Dada a sua projeção, o Brasil será cada vez mais demandado a se apresentar
ao mundo. Precisará urgentemente produzir conteúdo em várias línguas para
estar à altura do papel que já cumpre internacionalmente.
A busca por cooperação internacional do Brasil tem se intensificado
largamente, a pedido de países da América do Sul e Caribe e do continente
africano. Muito do que se faz em matéria de cooperação técnica poderia
contar com o suporte da produção audiovisual sobre suas políticas sociais e de
desenvolvimento.
A comunicação tem ainda sentido estratégico para que o Brasil tenha
mecanismos robustos de autodefesa baseada em informação, aptos a esclarecer e
defender sua visão de mundo. Inclusive contrapondo-se a possíveis (e previsíveis)
investidas contra sua imagem internacional. Isso já tem sido feito pelo trabalho
da Secom em âmbito internacional, mas o apoio a essa iniciativa também
demandará a produção, em larga escala, de “matéria-prima” sobre a atuação do
Poder Executivo.
As vantagens para esses desafios é que, como tem ocorrido com tantas
outras políticas públicas, os avanços alcançados pela comunicação até o momento
chegaram a um ponto de maturação suficiente para que possam ser devidamente
institucionalizados. Se o que se tem até o momento tornou-se possível graças
ao virtuosismo dos profissionais que estiveram encarregados da comunicação do
Poder Executivo, seu legado pode inscrever-se como traço característico do Estado
republicano. Seria uma garantia para a cidadania brasileira de que o caminho
percorrido, ao ser talhado em suas instituições, seguirá avançando e resistirá ao
tempo.

179
Comunicação institucional do poder público

Referências Bibliográficas
BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto nº 4.563 , de
30.12.2002, que dispõe sobre a atividade de publicidade. <http://www.secom.
gov.br/sobre-a-secom/legislacao/normas-para-o-sicom/decretos/decreto-no-
4.563-de-30.12.2002/at_download/file
BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto nº 6.555 , de
08.09.2008, que regulamenta a atividade de comunicação social do Poder
Executivo. <http://www.secom.gov.br/sobre-a-secom/legislacao/normas-para-o-
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BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Instrução Normativa
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181
182
CAPÍTULO 5

Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics

Marina Nery1

São quatro civilizações distintas que se agruparam em bloco, mas que ainda não
se conhecem o suficiente: Brasil, Rússia, Índia e China, que formam o acróstico
BRIC. “Não é uma questão de informação, mas de uma diferença enorme de
interpretação dessa informação”, afirma Vladimir Davydov, diretor do Instituto
da América Latina da Academia de Ciências da Rússia, responsável por um dos
maiores núcleos de estudos acadêmicos sobre os BRICs no mundo.
A ideia dos BRICs foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs,
Jim O´Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic
BRICs”. Fixou-se como categoria da análise nos meios econômico-financeiros,
empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o conceito deu origem a
um agrupamento, propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil,
Rússia, Índia e China.
Se esses países propuseram uma coalizão, mas precisam, digamos, se conhecer
melhor, é interessante notar que tipo de recursos de comunicação eles utilizam.
Em estudo do Boston Consulting Group (BCG) divulgado em setembro de
2009, a sigla foi ampliada para BRICI e incluiu a Indonésia para contabilizar
que, juntos, esses países terão 1,2 bilhão de internautas em 2015. Em 2009, já
alcançavam 610 milhões de internautas.
O estudo aponta que os hábitos nos BRICI são notadamente diferentes
daqueles de países desenvolvidos. “Mensagens instantâneas são muito mais
populares, assim como as músicas e os jogos online”, diz o relatório. Ele mostra
também que as redes sociais são muito mais utilizadas no Brasil e na Indonésia
que na China, Rússia e Índia. “E enquanto uma grande porcentagem de
consumidores digitais usa e-mail na Índia, na China mais mensagens instantâneas
são utilizadas.”
A quantidade de computadores ainda é relativamente pequena nesses países
– cerca de 400 milhões –, o que resulta na observação de que os usuários dos
BRICI devem se valer mais dos telefones móveis do que dos PCs. “A penetração
de computadores ainda é baixa, enquanto os telefones móveis são mais baratos
e ferramentas mais convenientes tanto para comunicação como para a busca de
entretenimento”, diz o relatório. “Nos BRICI já existem cerca de 1,8 bilhão de
assinantes de SIM Cards, mais de quatro vezes a soma dos EUA e do Japão”,
1 Assessora de Comunicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

183
Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics

completa o estudo.
Também foi constatado que os internautas dos cinco países são geralmente
jovens – mais de 60% têm menos de 35 anos –, o que significa que os hábitos dos
consumidores ainda estão sendo formados e que os padrões de comportamento
terão grandes implicações no futuro das atividades online.
De acordo com o estudo, um aspecto crítico sobre o Brasil é o alto custo da
banda larga no país, em média de US$ 27 por mês (aproximadamente R$ 50), e
disponível principalmente nos bairros ricos ou de classe média. O relatório indica
que o Brasil conta com 12 milhões de conexões em banda larga, mas ainda possui
9 milhões de acessos discados. E apenas um terço daqueles que têm computador
contam com acesso à rede.
Líder mundial na medição do mundo digital, a ComScore publicou outro
dado interessante sobre os dois mercados emergentes de internet da Índia e do
Brasil: ambos são dominados pelo site de buscas Google. “É interessante que a
dinâmica do uso do Google seja tão similar no Brasil e na Índia, dado que os
dois mercados estão em lados opostos do mundo e são culturalmente bastante
diferentes um do outro”, diz Alex Banks, diretor-administrativo da ComScore na
América Latina. No Brasil, o Google Sites representa 89.5 por cento de todas as
buscas conduzidas, enquanto que o Google Orkut tem uma posição dominante
em redes sociais (96.0 por cento de tempo gasto), assim como o Google Maps na
categoria de mapas (70.9 por cento de tempo gasto) e o YouTube, propriedade do
Google, na categoria multimídia (91.6 por cento).
Na Índia, o Google Sites representa 88.4 por cento de todas as buscas
conduzidas e tem importante fatia do tempo gasto em redes sociais com Orkut
(68.2 por cento), mapas com Google Maps (63.9 por cento), multimídia com
YouTube (82.8 por cento). Também dominou um pouco menos da metade de
todo o tempo gasto na categoria blogs com Blogger (47.6 por cento) e e-mail com
Gmail (46.8 por cento).
Dos quase 2 bilhões de internautas no mundo, a China ocupa o primeiro
lugar em número de usuários. Segundo Li Xiaoyu, conselheiro de imprensa da
Embaixada da China no Brasil, nas estatísticas de abril de 2010 “os internautas
chineses totalizam 404 milhões; os sites são 3,23 milhões, o número de internautas
que usam banda larga chega a 346 milhões, e o número de internautas que usam
celular para acessar a internet é de 233 milhões. Mais de 95,6% das vilas e aldeias
do país têm bandas largas. A rede 3G cobre quase todo o país. O tempo total
diário dos internautas completa um bilhão de horas e vai chegar a 2 bilhões de
horas em 2015”.
Os números chineses surpreendem em tudo. São mais de 2 mil jornais e
9 mil revistas. O consumo diário de jornais é de 82 milhões. Pelos números do
184
Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics

chefe-correspondente do Diário do Povo da China no Brasil, descritos no livro


Reflexão sobre as políticas nacionais de Comunicação, organizado por Daniel Castro
e publicado pelo Ipea em 2010, a tiragem total dos diários chineses ocupa o
primeiro lugar no mundo há oito anos sucessivos. Estatísticas oficiais de 2008
apontam 257 rádios e 277 televisões.
E mais: o número de assinantes de telefonia móvel na China alcançou 796
milhões no fechamento de maio de 2010, segundo o governo chinês. No mesmo
mês, o número de assinantes 3G quase dobrou em relação a 2009. O país mais
populoso do mundo ganhou 48,5 milhões de assinantes de celulares entre janeiro
e maio de 2010. Para se ter uma ideia, em maio do mesmo ano o Brasil chegou
a 183,7 milhões de acessos de telefonia móvel. Mais de 9,4 milhões de novos
assinantes aderiram aos serviços de telefonia móvel em maio, o que contribuiu
para o total, no ano, de 48,5 milhões de novos usuários, revelou o Ministério da
Indústria de Informação da China.
Embora a China permaneça como o maior mercado global móvel em
termos de assinantes, o mercado da Índia tem crescido rapidamente. A Índia
ganhou 16,3 milhões de assinantes móveis em maio, de acordo com a Autoridade
Regulatória de Telecomunicações da Índia. O total de assinantes móveis no país
chegou a 617,5 milhões naquela data. E, atualmente, com o acesso da internet via
telefone, a comunicação mundial está diretamente ligada a esse tipo de conexão.
Segundo Natalya Krasnoboka, pesquisadora da Faculdade de Ciências
Políticas e Sociais da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, 78% dos russos
usam telefones celulares – em 2005, eram 32%. Na capital, Moscou, 90 por cento
da população utilizam celulares.
A internet é usada por 35% dos russos. No interior, esse número cai para
12%. A maior parte dos usuários da internet têm entre os 18 e 24 anos de idade
e está em Moscou (49%), mas cerca de 54% dos russos nunca usaram a rede. As
ligações nas principais cidades – Moscou e São Petersburgo – são mais rápidas e
mais baratas que no resto do país.
Com relação à função da internet em suas vidas, 41% dos russos a utilizam
para fins de informação, 38% para a comunicação, 23% para fins relacionados ao
trabalho, 14% para ver notícias e 12% para educação e aprendizado. Apenas 2%
utilizam a internet para fazer compras online.
Conexões de internet para e-mail são usadas por 79% dos russos, e 76% as
utilizam para as redes sociais. Fóruns online são acessados por 49% dos usuários
da Rússia. Os chats são utilizados por 43%, enquanto que os blogs são utilizados
por 23%.
Todos os jornais, rádios e TVs líderes da Rússia têm sites. Os recursos online

185
Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics

mais utilizados são as informações da agência Regnum, do jornal online Lenta.


Ru e da agência de notícias Interfax. Ao mesmo tempo, apenas 23% dos russos
consideram mídia online uma fonte confiável de informação. Compare isso com
os 70% dos russos que consideram a televisão a fonte mais confiável.
Odnoklassniki.ru é a rede social mais popular na Rússia, utilizada por 75%
dos russos entre 25 e 35 anos. A segunda rede social mais popular é VKontakte.
Seus usuários são mais jovens que os da Odnoklassniki.ru. Por um longo tempo,
o LiveJournal foi particularmente popular entre os blogueiros russos. No entanto,
o blog continua a ser popular entre os jornalistas russos e políticos, inclusive o
atual presidente, Medvedev, conhecido por seu uso intensivo da internet. O líder
da oposição russa Garry Kasparov tem uma presença online visível.
O canal de TV estatal para as crianças, Bibigon, criou uma rede social online
para as crianças. Ele oferece uma gama de jogos online, vídeos, livros, músicas,
etc. Crianças também pode criar agendas e álbuns de fotos. Outro recurso é a
famosa linha de internet do canal de TV Kanal Internet. Da mesma forma é
popular o jogo online do canal Igrovoj Kanal. Ao contrário dos brasileiros e
indianos, os usuários de internet da Rússia preferem o site de buscas russo Yandex
às ferramentas de pesquisa internacionais, como o Google.
Geograficamente, a Rússia está localizada na Europa e também na Ásia. É
o maior país do mundo em termos de território e o nono maior em termos de
população. O tamanho da população da Rússia continua a declinar, embora não
tão rapidamente como em anos anteriores. Um aumento contínuo da imigração
para a Rússia a partir de outras ex-repúblicas da União Soviética quase compensa
a dinâmica negativa do tamanho da população.
O espaço de mídia russa mudou drasticamente desde o período soviético.
A mídia impressa foi particularmente afetada, tornando-se muito volátil nos
primeiros 15 anos após a independência do país. Muitos veículos desapareceram
do dia para a noite e a maioria dos estabelecimentos mudou de dono várias vezes.
Segundo a Associação Nacional de Emissoras de Rádio e TV, existem 2.168
empresas de TV e rádio na Rússia. Dessas, 161 têm uma licença combinada (TV
e rádio), 799 são empresas de TV e 888 são estações de rádio. Existem cerca de
1.511 operadores de cabo.
Há 35.500 jornais registrados na Rússia. Segundo o Instituto de Estatística
da Unesco, havia 1,7 jornal diário por 1 milhão de habitantes na Rússia em 2004.
A circulação média total de jornais diários por mil habitantes foi de 91,8 em 2004.
A participação dos jornais não diários foi de 50,2 por 1 milhão de habitantes.
Vários jornais populares sobreviveram à transição pós-soviética e continuam
a ser populares hoje. Entre eles, Komsomolskaya Pravda, Izvestia, Trud, e
Moskovskiy Komsomolets. Outros estabelecimentos populares incluem o
186
Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics

semanário Argumenty eu Fakty e os jornais Kommersant e Nezavisimaya Gazeta.


Popularidade e números de circulação exatos são difíceis de obter. Supõe-se
que Komsomolskaya Pravda tenha a maior circulação da Rússia e da Comunidade
dos Estados Independentes. Rossijskaya Gazeta é o boletim diário do governo
russo. Sua circulação é de cerca de 432 mil exemplares. O Moscou Times é
um jornal diário em inglês publicado na Rússia desde 1992, com circulação de
aproximadamente 35 mil exemplares. Outros tipos de mídia em inglês incluem o
russo Newsweek e Notícias de Moscou. Novaya Gazeta é o jornal mais conhecido
nacionalmente, sendo abertamente crítico às autoridades russas, com circulação
de 535 mil exemplares.
A estatal de rádio Radio Rossii é o maior canal de rádio difundido no país
(1.100 transmissores). A emissora foi lançada em 1990 e transmite 174 programas
originais. Seu público potencial diário é superior a 120 milhões de pessoas. Mayak
é outra estação de rádio estatal, que transmite programas de informação e música.
A Voz da Rússia é uma estação de rádio estatal em inglês que funciona
desde 1929. Seu objetivo é informar o mundo sobre a Rússia e sua visão sobre os
acontecimentos mundiais. Além disso, a estação tenta criar uma imagem positiva
da Rússia no exterior e promover a cultura russa. Ela transmite em 160 países.
Existem três principais canais de TV federal na Rússia, que, em conjunto
cobrem mais de 90 por cento do território do país. Rossiya (abrange 98,5 por
cento do território do país) é um canal estatal. Foi criado em 1991. O canal
Pervyj Kanal (cobre 98,8 por cento do território da Rússia) é 51% estatal e 49%
de propriedade privada. O terceiro canal – NTV (cobre 84 por cento do território
nacional) – era de Vladimir Gusinsky Aleksandrovich, mas é agora propriedade
da gigante de energia Gazprom. É transmitido por 700 redes de cabo em toda a
Rússia.
Vesti é o canal de notícias. Foi criado em 2006 e é o único canal de
informação russo com um serviço de notícias 24 horas. Em 2005, a Rússia lançou
um canal via satélite em Inglês, Russia Today. O canal é transmitido em mais de
100 países.
Existem cerca de 400 agências de notícias da Rússia. As três maiores são
ITAR-TASS, RIA Novosti e Interfax. A ITAR-TASS é a agência de notícias
estatal, fundada em 1904, que emprega mais de 500 correspondentes na Rússia e
no exterior. É a maior agência de notícias russa e uma das quatro maiores agências
de notícias do mundo, juntamente com a Reuters, Associated Press e Agence
France-Presse. Em uma base diária, a ITAR-TASS oferece entre 350 e 650 itens
de notícias. A agência tem o maior arquivo de fotos na Rússia.
RIA Novosti é uma outra agência de notícias estatal, fundada em 1941.

187
Números impressionantes e diversidade marcam a mídia dos Brics

Possui correspondentes em 40 países e transmite em 14 idiomas. Já a Interfax,


fundada em 1989, é uma agência de notícias privada.
A maior organização de mídia no país é a União de Jornalistas da Rússia. Ela
reúne 84 sindicatos regionais, bem como mais de 40 associações, corporações e
comunidades. Existem vários sites de projetos educativos para jovens jornalistas.
O cenário da mídia russa dos últimos anos caracteriza-se pela contínua
expansão do papel do Estado nas atividades de mídia. O Estado está diretamente
envolvido na posse de alguns meios de comunicação e indiretamente envolvido
em outros, por meio de seus estreitos laços com o mundo dos negócios. Além
disso, o Estado controla as atividades de mídia por meio dos órgãos reguladores e
da legislação relacionada à mídia.
O envolvimento direto do Estado russo no mercado de mídia impressa é
menos pronunciado. Mas a internet continua sendo o espaço para as vozes de
oposição e crítica. Blogar se tornou uma das principais atividades online para a
elite política, intelectual e jornalística. Ao mesmo tempo, a participação nas redes
sociais da Rússia é a atividade online mais popular do país.
Brasil, Rússia, Índia e China formam um grupo especial por causa do
tamanho de suas economias e pelo papel crescente devido ao seu alto potencial
tanto econômico como político. Embora tenham culturas bem diferentes, como
já vimos aqui, os BRICs possuem traços semelhantes. Eles são donos de um vasto
território, com abundância de recursos naturais, suas indústrias são razoalvelmente
desenvolvidas e sua população é enorme, o que significa muita mão-de-obra
e potencial mercado de consumo. E o melhor: embora tenham diferenciados
recursos de comunicação, alguns bem modernos, parecem prometer também
uma verdadeira revolução nesta área nos próximos anos.

188
CAPÍTULO 6

Novos desafios ao direito autoral no jornalismo

João Cláudio Garcia1

Informação é um ativo de importância crescente, mas valor ainda impreciso.


Esse valor, no sentido financeiro, patrimonial, tem sido há décadas ditado pela
“mão invisível” do mercado. Quanto mais informação disponível, maior a
probabilidade de encontrá-la por um custo menor. As tentativas de se precisar o
valor da informação tornaram-se ainda mais frustrantes com a disseminação da
internet e seu acesso por meio de equipamentos portáteis, como celulares 3G e
tablets.
Se o valor da informação pouco oscila e mantém-se baixo diante de sucessivas
inovações tecnológicas, se veículos de comunicação ainda obtêm da publicidade
parte relevante de seu sustento, a remuneração daqueles que produzem informação
também é, por consequência, reduzida. Nas duas últimas décadas, praticamente
todos os grandes e médios jornais impressos brasileiros adaptaram-se para oferecer
conteúdo na internet. Repórteres alteraram suas rotinas para assumir novas
tarefas. Em um dos casos de transição mais radicais no mundo, o britânico The
Daily Telegraph decidiu que o impresso não seria mais prioridade e treinou seus
funcionários para atuarem como “jornalistas totais”, capazes de escrever, editar
vídeos e áudios, operando em uma mesma mesa de trabalho ferramentas voltadas
para tais mídias.
No Brasil, a maioria dos veículos não optou por transição completa para
o mundo digital, apenas adaptou-se a ele. De qualquer forma, o trabalho do
jornalista tornou-se mais diversificado e acessível ao público pela internet. Versões
de textos para a web, podcasts, comentários em streaming, entrevistas em vídeo
e gráficos animados em flash ganharam espaço sítios dos jornais. A rapidez da
informação conquistou terreno diante da qualidade.
Em um exercício interessante de cálculo da velocidade da informação,
Gregory Clark2 lembra que, em 1805, notícias sobre a Batalha de Trafalgar
demoraram 17 dias para chegar a Londres, “viajando”, portanto, a uma velocidade
de 4,3 quilômetros por hora. As primeiras informações sobre o assassinato do
presidente norte-americano Lincoln, em 1865, cruzaram o oceano e aportaram
na capital inglesa após 13 dias, o que corresponde a 19,3 km/h. Em 2008,

1 Coordenador de Multimídia na Assessoria de Comunicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada


(Ipea), ex-editor de Mundo no Correio Braziliense
2 A farewell to alms: a brief economic history of the world, Princeton University Press, 2007.

189
Novos desafios ao direito autoral no jornalismo

apenas sete minutos3 depois do devastador terremoto de Sichuan, na China, os


primeiros relatos – já em inglês – sobre os estragos despontavam no Twitter. A
informação viajou a impressionantes 61,5 mil km/h. A tecnologia que permite
essa comunicação veloz também possibilita que alertas sobre tsunamis sejam
disseminados mais rápido que as próprias ondas gigantes e poupem vidas.
Oferecer informação mais rapidamente implica que a notícia terá, também,
vida útil mais curta. Logo, as empresas de comunicação acostumam-se a oferecer
cada vez mais conteúdo, seja por texto, vídeo ou áudio, e o usuário escolhe o que
consumir. Na teoria, produção jornalística mais rápida e para mídias diferentes
deveria resultar em remuneração maior e direitos autorais fortalecidos. Na prática,
essa relação evoluiu de maneira desigual. Embora exista lei que regulamente a
questão do direito autoral sobre matérias jornalísticas no Brasil (Lei 9.610/98),
na verdade os grandes protagonistas quando se discute o assunto são os contratos
de trabalho.
Cada obra de “criação do espírito”4 – seja matéria jornalística, fotografia,
pintura, escultura, etc. – é formada por prerrogativas morais e pecuniárias5. As
morais dizem respeito a direitos como o de reivindicar a paternidade da obra,
de assegurar sua integridade, retirá-la de circulação ou de modificá-la. Essas
prerrogativas são, segundo a mesma lei, inegociáveis, irrevogáveis e inalienáveis.
Já as prerrogativas pecuniárias, que tratam dos direitos de exploração econômica
da obra, estas sim podem ser negociadas pelo autor.
Do ponto de vista das empresas, a Lei 9.610 dá ampla margem para que
os direitos patrimoniais sobre a obra sejam regulados via contrato de trabalho.
Diz o artigo 36: o direito de utilização econômica dos escritos publicados pela
imprensa, diária ou periódica, com exceção dos assinados ou que apresentem sinal de
reserva, pertence ao editor, salvo convenção em contrário. A Associação Brasileira da
Propriedade Intelectual dos Jornalistas Profissionais (Apijor), por sua vez, lembra
que o artigo 5º da Constituição Federal concede aos criadores, intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas, em seu inciso 28, o direito
de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que
participarem.
O que a Apijor e as entidades de classe tentam evitar é a assinatura de
contratos abusivos e a prática de coação. No entanto, a realidade tem mostrado
que, em troca do salário pago em dia e de um bom começo de relação empregatícia,
3 How Fast Information Travels, From 1805 Until Today, Terrence O’Brien, 6 de setembro de 2009, revista
eletrônica Switched
4 Termo utilizado para descrever criações humanas, resultados da criatividade. Aparece no artigo 7º da Lei
9.610/98: “são obras intelectuais protegidas as criações do espírito expressas por qualquer meio ou fixadas em
qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro”.
5 A Comunicação e os Direitos Intelectuais, Ângela Kretschmann, in Estudos Jurídicos, revista da Unidade de
Ciências Jurídicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), vol. 37, nº 101, 2004.

190
Novos desafios ao direito autoral no jornalismo

o empregado abre mão de pedir detalhes sobre a exploração econômica das obras.
Em geral, a explicação é de que o direito pecuniário já está contemplado na
remuneração. Assim, discutir direito patrimonial torna-se algo supérfluo para o
novo profissional, afligido pela concorrência. Em redações cada vez mais jovens,
o recém-egresso da universidade que consegue obter uma oportunidade sente-se
privilegiado diante de um mercado de trabalho competitivo: até 2008, havia no
Brasil 568 cursos de graduação presenciais de Jornalismo e Reportagem. Naquele
mesmo ano, 27.503 novos profissionais foram inseridos no mercado de trabalho6 ,
em um País onde os dez jornais diários de maior circulação não somam 2 milhões
de leitores a cada edição7.
Considerar o direito patrimonial sobre a matéria jornalística tacitamente
incluído na remuneração mensal percebida pelo funcionário apenas comprova
como tal direito tem sido negligenciado. O piso salarial médio do jornalista na
capital de São Paulo passou de R$ 1.130 em 2003/2004 para R$ 1.833 em 2010,
intervalo de rápida e dinâmica adaptação das empresas à era da internet. Em
Brasília, o piso evoluiu de R$ 1.293 em 2004/2005 para R$ 1.740. Durante esse
mesmo período, nota-se que os reajustes salariais dos jornalistas mal conseguiram
cobrir os índices de inflação. Amostras dos anos de 2005 e 2006 consolidadas pela
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), por exemplo, revelam que somente
em seis unidades federativas do País os aumentos representaram ganho real de ao
menos 1% (cálculo com base no INPC)8.
Chega-se, portanto, ao debate sobre a adequação do atual sistema de
repartição dos direitos patrimoniais diante da nova realidade no mercado de
jornalismo. Há de se recordar, ainda, que certamente dentro dos próximos
quatro anos, até a Copa do Mundo de 2014 e, pouco mais tarde, por ocasião da
Olimpíada de 2016, as maiores empresas do setor de comunicação no Brasil vão
empreender novos esforços no sentido de dar início – ou ampliar – a cobertura
jornalística em outros idiomas. Durante a Copa do Mundo da África do Sul,
o portal de notícias G1 realizou essa experiência. Quanto mais se esforça para
derrubar as barreiras de idiomas na comunicação, mais êxito se obtém no respeito
ao artigo 5º da Constituição – o qual prevê a liberdade de informação – e mais
desafios se impõem ao cumprimento da legislação de direitos autorais.
A mesma Lei 9.610/98, alinhada com a Convenção Internacional de Berna
(1886), estabelece que não é ofensa aos direitos autorais a “reprodução, na imprensa
diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diáriosou
periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de
onde foram transcritos”. Tal reprodução, ainda de acordo com a Convenção
6 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, www.inep.gov.br, Sinopses Estatísticas da Educação
Superior - Graduação
7 Associação Nacional dos Jornais, www.anj.org.br, Maiores Jornais do Brasil
8 Federação Nacional dos Jornalistas, www.fenaj.org.br, Reajustes e pisos anteriores

191
Novos desafios ao direito autoral no jornalismo

de Berna, não pode se dar na íntegra, mas apenas por trechos. Gerenciar essa
complexa trama de transcrições atualmente, com a velocidade de transmissão de
dados pela internet em franca ascensão, é muito mais complicado que nos séculos
passados, quando o jornalismo era dominado pelos impressos e as publicações
raramente ultrapassavam as fronteiras nacionais. Casos de contrafação – cópia
não autorizada de uma obra – ou de plágio multiplicam-se.
A busca de um equilíbrio entre o respeito ao direito autoral e a garantia da
liberdade de informação prevista em democracias como o Brasil intriga também
outras nações há tempos. O tema começou a ser discutido em fóruns internacionais
por volta da década de 18509. Mesmo depois de formalizada a Convenção de Berna,
o debate continuou acalorado. Nos Congressos Internacionais de Imprensa do
final do século 19, Gaston Berardi, jornalista belga, tentou sem sucesso convencer
seus colegas de que as legislações sobre direito autoral precisariam se dobrar aos
novos tempos do jornalismo, reconhecendo que cada vez mais leitores e empresas
se preocupavam não com o caráter literário ou ideológico das obras, e sim com seu
caráter factual, noticioso e descritivo. As discussões sobre quais textos deveriam
ser protegidos, e de que forma se daria essa proteção, se arrastaram por décadas,
sem grandes consensos internacionais. Hoje, Estados Unidos e Reino Unido têm
leis mais flexíveis no que tange a cessão dos direitos patrimoniais.
Nesse labirinto de informações do século 21, diversas nações, inclusive o
Brasil, analisam novas propostas de lei sobre o direito autoral, propostas estas que
tentam impor barreiras à reprodução ilegal de conteúdo jornalístico na internet.
Regras mais atuais são necessárias para que a comunidade internacional possa agir
de maneira concertada em relação a ferramentas recentes como os agregadores
de conteúdo – sítios que consolidam notícias sobre determinado assunto
reproduzindo na íntegra os textos de terceiros. O Google News, talvez o mais
famoso desses agregadores, causou indignação entre empresas norte-americanas,
que passaram a proibir a reprodução não autorizada de matérias. Em 2009, jornais
europeus organizaram um manifesto internacional, chamado de Declaração de
Hamburgo, para criticar o serviço prestado pelos agregadores de conteúdo sem
aval dos autores. Diante de marcos legais desatualizados, batalhas judiciais entre
jornais e jornalistas contra impérios da internet, como os grandes serviços de
busca, ou mesmo contra blogueiros que reproduzem conteúdo ilegalmente, se
estendem sem prazo de conclusão. A forma como o Brasil agirá para assegurar os
direitos dos autores e os interesses das empresas jornalísticas sem impor obstáculos
ao direito à informação ainda é uma incógnita.

9 The First International Journalism Organization Debates News Copyright, 1894-1898, Ulf Jonas Bjork, Journal-
ism History, Vol. 22, 1996

192
193
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – 2010

Editorial

Coordenação
Cláudio Passos de Oliveira

Editoração
Shine Comunicação

Revisão
Assessoria de Comunicação do Ipea e Socicom

Capa
Shine Comunicação

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SBS – Quadra 1 – Bloco J – Ed. BNDES,
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Estratégicos da Presidência da República, o Ipea fornece Associações Científicas e Acadêmicas
suporte técnico e institucional às ações governamentais de Comunicação
– possibilitando a formulação de inúmeras políticas
públicas e programas de desenvolvimento brasileiro –
e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos
realizados por seus técnicos.

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© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea 2010

Panorama da comunicação e das telecomunicações no Brasil / organizadores:


Daniel Castro, José Marques de Melo, Cosette Castro. - Brasília : Ipea,
2010. 3 v. : gráfs., tabs.

Inclui bibliografia.
Conteúdo: v.1. Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. – v. 2.Memória das associações científicas e acadêmicas da
comunicação no Brasil.– v. 3. Tendências na comunicação.
ISBN

1. Comunicação. 2. Telecomunicações. 3. Brasil. I. Castro, Daniel. II. Melo,


José Marques de. III. Castro, Cosette. IV. Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. V. Título: Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. VI. Título: Memória das associações científicas e acadêmicas de
comunicações no Brasil. VII. Título: Tendências na comunicação.

CDD 384.0981
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E DAS
TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL

VOLUME 2

MEMÓRIA DAS ASSOCIAÇÕES CIENTÍFICAS E


ACADÊMICAS DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL

Organização
Daniel Castro
José Marques de Melo
Cosette Castro

Coordenação
José Marques de Melo
Ana Silvia Médola
Margarida Kunsch
Daniel Castro
Cosette Castro
O papel central da comunidade científica advém-lhe de ser a instância de
mediação entre o conhecimento científico e a sociedade no seu todo e na
sua tripla identidade sócio-econômica, jurídico-política e
ideológico-cultural. É nesta perspectiva exteriorizante que deve ser
estudada a estrutura interna da comunidade científica.
(Boaventura de Souza Santos)
SUMÁRIO

VOLUME 2
MEMÓRIA DAS ASSOCIAÇÕES CIENTÍFICAS E ACADÊMICAS DE
COMUNICAÇÃO NO BRASIL

Apresentação
Ana Silvia Médola.........................................................................................15
Introdução
Margarida Kunsch.........................................................................................17
A Emergência do Campo da Comunicação no Brasil
Maria Cristina Gobbi ...................................................................................19
Capítulo 1
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico
da Comunicação
Ana Silvia Médola........................................................................................29
Capítulo 2
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da
Comunicação
Antonio Hohlfeldt..........................................................................................35
Capítulo 3
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade
José Marques de Melo..................................................................................47
Capítulo 4
A História da Compós – lógicas e desafios
José Luiz Braga.............................................................................................53
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação
Itania Maria Mota Gomes, Julio Pinto e Ana Carolina Escosteguy ..................63
Capítulo 5
Breve relato sobre a fundação da Socine, seus objetivos e primeiros anos
Fernão Pessoa Ramos....................................................................................81
Pensando a Socine
Depoimento de José Gatti.............................................................................90
A História da Forcine
Maria Dora Morão.........................................................................................92

11
Capítulo 6
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo
Carlos Eduardo Franciscato, Edson Spenthof, Mirna Tonus e Sérgio Luiz Gadini
....................................................................................................................99
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo
Elias Machado ...........................................................................................117
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo- FNPJ
Gerson Luiz Martins e Carmen Pereira ........................................................124
Capítulo 7
As origens da Semiótica no Brasil
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira...............................................................133
ABES, recriação e percurso de uma associação
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira...............................................................143
Capítulo 8
Economia Política da Comunicação (EPC)
Anita Simis e Ruy Sardinha Lopes ...............................................................157
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira
Valerio Brittos e Cesar Bolaño......................................................................169
Capítulo 9
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional
e das Relações Públicas
Ivone de Lourdes Oliveira ...........................................................................175
A História da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação
Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp)
Margarida Kunsch.......................................................................................187
Capítulo 10
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura
Eugênio Trivinho..........................................................................................195
Capítulo 11
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”
Marialva Barbosa........................................................................................203
História da mídia no Brasil, percurso de uma década
Marialva Barbosa..............................................................................207

12
Capítulo 12
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado
profissional
Adolpho Queiroz .......................................................................................225
Capítulo 13
Folkcom - Origens da entidade
Betania Maciel............................................................................................243
Folkcomunicação: memória institucional
Cristina Schmidt..........................................................................................256

13
14
APRESENTAÇÃO

A constituição da Comunicação como área de conhecimento no Brasil está presente


nos textos que compõem este segmento intitulado Estado do Conhecimento. No
âmbito do Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil revelou-se
fundamental descrever e diagnosticar a produção de conhecimento nos principais
segmentos da Comunicação nacionalmente institucionalizados ou publicamente
legitimados nesta primeira década do século XXI. A colaboração dos renomados
pesquisadores da área que assinam os textos nesta sessão constrói um painel onde
é possível perceber a trajetória da institucionalização dos saberes e das práticas
comunicativas a partir da inserção dos meios de comunicação na vida social
brasileira.
A força da Comunicação enquanto campo científico pode ser dimensionada
pelas entidades que integram a Federação Brasileira das Associações Científicas e
Acadêmicas de Comunicação (Socicom) e o registro do Estado do Conhecimento
realizado nesse volume, mediado pelo olhar de entidades como a Intercom,
Compós, ULEPICC-Brasil, Rede Alcar, Abrapcorp, SBPJor, FNPJ, Folkcom,
Socine, Forcine, Politicom, ABES, definem as especificidades e as demandas de
cada segmento.
Os antecedentes, desenvolvimento e os desafios acadêmicos da comunicação
são explanados por Antonio Hohlfeldt, Presidente da Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom, a mais antiga e mais
abrangente das associações científicas da área. O autor apresenta um recorte a
partir de uma periodização dos enfoques, entre os quais, estudos históricos e
jurídicos, pesquisa mercadológica, abordagens comparativas e difusionistas, até
a variabilidade dos estudos, passando pela politização e legitimação acadêmica.
Tal legitimação é evidenciada na estrutura de pós-graduação da área,
contemplada no texto assinado pelos membros da diretoria da Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS),
Itania Maria Mota Gomes, presidente, Julio Pinto, vice-presidente e Ana
Carolina Escosteguy, secretária. Ao sistematizarem os primórdios, as tendências
e as perspectivas da pós-graduação em Comunicação, os autores oferecem ao
leitor uma minuciosa descrição dos mecanismos e processos que estruturam a
produção de conhecimento em centros de pós-graduação, principais responsáveis
pelo desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica. Apresentando-se como
condição para o fortalecimento do sistema universitário, os autores demonstram
como a pós-graduação em Comunicação revela-se fundamental também para o
desenvolvimento dos projetos de inovação capazes de atender às demandas da
sociedade.

15
A descrição da comunidade acadêmica com seus indicadores de titulação e
dimensão quantitativa das instituições aqui representadas apresenta, por um lado,
os principais focos da pesquisa nas respectivas esferas de atuação das afiliadas da
SOCICOM, e, por outro, um panorama das tendências e perspectivas da área no
contexto nacional de ciência e tecnologia.
Em todos os textos o leitor vai identificar breves históricos de cada sub-área,
situando o processo de desenvolvimento cognitivo. Entretanto, em “História
da Mídia no Brasil, percurso de uma década”, Marialva Barbosa presidente da
Rede ALCAR, demonstra o crescimento expressivo das pesquisas envolvendo
especificamente a dimensão histórica dos meios de comunicação e os desafios
deste tipo de análise.
O trabalho de recuperação e registro dos dados constantes nessa publicação
caracteriza os diferentes momentos e trajetórias das investigações, bem como a
diversidade de objetos, temas e abordagens. A Economia Política da Comunicação
é um segmento de estudos abrigado pela União Latina de Economia Política
da Informação, da Comunicação e da Cultura (ULEPICC), descrito por Anita
Simis, presidente da ULEPICC, Capítulo – Brasil, e Ruy Sardinha Lopes, vice-
presidente; as questões relativas ao ensino e à pesquisa em cinema são abordadas
por Maria Dora Mourão, presidente da Socine e representante da Forcine.
Ivone Lourdes de Oliveira, presidente da Abrapcorp, discute as práticas
comunicativas das/nas organizações e o relacionamento com seus públicos; o
marketing político situado entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional é
apresentado pelo presidente da Politicom, Adolpho Queiroz; a Folkcom, por sua
vez, retoma a trajetória dos estudos relativos à interação entre cultura popular e
culturas midiática e erudita; a contribuição da semiótica como aporte teórico de
análise da significação em discursos e sua contribuição para a compreensão das
relações de comunicação estão presentes no texto de Ana Claudia Oliveria. Por
fim, pensar o jornalismo e a produção de conhecimento nessa área fundamental
na vida social do país, ficou sob a coordenação de Carlos Franciscato, presidente
da SBPjor e de representantes do FNPJ, Sérgio Luiz Gardini, presidente, Edson
Spenthof e Mirna Tônus, diretores.
Com essas contribuições, a presente publicação descreve a comunidade
acadêmica da Comunicação, possibilitando uma visão diacrônica do processo de
estruturação do conhecimento científico sobre a Comunicação Social no Brasil.

Ana Silvia Médola

16
INTRODUÇÃO

Memória das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação


no Brasil

Margarida M. Krohling Kunsch1

Esta parte da presente obra registra a memória das entidades da área de


comunicação no Brasil. Trata-se de um resgate bastante significativo já que
são essas associações científicas e acadêmicas as grandes impulsionadoras do
crescimento e consolidação do campo das ciências da comunicação no país.
A institucionalização desse campo no país se deu a partir do modelo
ou formato concebido pelo Ministério de Educação, por meio dos cursos nas
escolas ou faculdades de comunicação social, compreendendo as habilitações
de jornalismo, publicidade/propaganda, relações públicas, radialismo – rádio
e televisão, cinema/comunicação audiovisual e produção editorial/editoração
multimídia, entre outras novas que estão surgindo, a partir da implantação das
Novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Comunicação Social em
julho de 2001.
A proposta atual do Ministério da Educação - MEC é acabar com as
“habilitações”, transformando-as em “cursos” e reduzir o número excessivo das
nomenclaturas vigentes para terminologias específicas dos cursos existentes.
Assim, por exemplo, a Comunicação Social é a grande área de conhecimento e as
respectivas habilitações ora vigentes se converteriam em cursos. Nessa direção, a
primeira iniciativa na área da Comunicação Social foi do curso superior do Cinema
que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação de
Cinema e Audiovisual, por meio da Resolução n. 10, de 27 de junho de 2006.
Mais recentemente as iniciativas em curso são das áreas de Jornalismo e
Relações Públicas. O MEC, por meio da Portaria nº 203/2009, de 12 de fevereiro
de 2009, instituiu a comissão de especialistas que elaborou as novas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo, que se encontram em trâmite
no Conselho Nacional de Educação. Em 2010, foi criada também a comissão de
especialistas para elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso
de Relações Públicas, conforme Portaria no 595/2010, de 24 de maio de 2010,
cuja proposta foi entregue ao Ministério de Educação em em 21 de outubro de
2010.Neste contexto registra-se também o papel das entidades que promoveram
a regulamentação e a proposição dos códigos de ética e de auto-regulamentação
para o exercício profissional nas comunicações.

1. Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Corporativa e Relações Públicas


(Abrapcorp) e Diretora de Relações Internacionais da Socicom. Professora titular da ECA-USP. Ex-presidente
da Alaic e da Intercom. Autora de vários livros sobre Comunicação Organziacional.

17
Ao longo dos últimos anos, o curso de Comunicação Social, em suas
diferentes habilitações, tem sido um dos mais procurados nos vestibulares das
universidades e de outras instituições brasileiras de ensino superior. Isto se
explica, em parte, pelo crescimento expressivo que a área tem experimentado,
tanto no campo acadêmico quanto no mercado das indústrias das comunicações
e da comunicação organizacional/corporativa e pelo acentuado crescimento da
oferta do ensino superior em todas as áreas nos últimos anos.
No campo acadêmico, sobretudo a partir dos anos 1990, houve um salto
quantitativo e qualitativo bastante relevante nos cursos de graduação e pós-
graduação. O número de universidades e instituições de ensino superior com
o curso de comunicação social cresceu assustadoramente. Os cursos de pós-
graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) somam hoje 39 reconhecidos
pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Também os de especialização (pós-graduação lato sensu) têm aumentado
substancialmente a oferta em todas as regiões do país.
Todo esse crescimento alia-se também a um avanço da pesquisa, que vem
ocorrendo principalmente nas universidades públicas e confessionais, tanto
nos cursos de pós-graduação quanto nos de graduação (por meio de projetos
de iniciação científica), graças aos programas de apoio das agências nacionais e
estaduais de fomento à pesquisa.
O reflexo de tudo isso se dá na produção científica disponível, em forma
de livros, teses, dissertações, monografias de cursos de especialização, trabalhos
de conclusão de curso, projetos experimentais e, ainda, no reconhecimento
internacional, que pode ser comprovado por meio de publicações, participação
brasileira em congressos mundiais e convites para visitas científicas e estudos de
pós-graduação e pós-doutorado. Enfim, esse conjunto de fatores foi decisivo na
construção e consolidação da área das ciências da comunicação no país.
A criação da Federação Brasileira das Associações Acadêmicas e Científicas de
Comunicação (Socicom) em 2008 veio coroar todo esse crescimento vertiginoso
e contribuir para uma melhor sistematização das políticas e ações integradas do
campo comunicacional no meio acadêmico-científico do país.
Antes dos breves textos elaborados por autores que foram fundadores ou
que estiveram diretamente envolvidos na fundação da Socicom das entidades
de Comunicação a ela filiadas foi incluído um artigo da pesquisadora Maria
Cristina Gobbi, que oferece o contexto para compreender o percurso e as fases
dos estudos e reflexões sobre Comunicação no Brasil. Durante a edição do livro,
a ordem de apresentação respeitou os critérios de data de criação da entidade e
a proximidade por área de atividade, particularmente no caso do Cinema e do
Jornalismo2.
2 Até a data desta publicação a Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), filiada à Socicom, não
havia entregue o seu texto institucional.
18
A Emergência do Campo da Comunicação no Brasil

Maria Cristina Gobbi1

O século XXI tem sido marcado pela convergência e pelo interesse de entendimento
do lugar ocupado pela Comunicação. Caminhando entre status de ciência ou
como um campo de interseção de vários saberes, o mote da comunicação social
tem dividido opiniões. Marialva Barbosa (2000, p. 1-4), por exemplo, afirma
que um campo se consolida a partir de dois aspectos “1. A trajetória histórica
da constituição do próprio campo e 2. as lutas e embates claros ou sub-reptícios
travados ao longo deste percurso”. Mas essa compreensão perpassa os múltiplos
saberes. Para alcançar a estabilização, é necessário trabalhar a idéia de ordem,
no sentido de cooperação e inter-relação entre os vários conhecimentos. É uma
espécie de diálogo, de abandono do ponto de vista particular de cada disciplina
“para produzir um saber autônomo que resulte em novos objetos e novos
métodos”, desenvolvendo a integração entre as várias produções e seus processos.
Barbosa (2000, p. 5), discutindo os dois aspectos descritos, assegura que,
no contexto latino-americano, têm-se produzido gerações de pesquisadores em
comunicação preocupados com problemas reais. Ou seja, a aparente neutralidade
acadêmico-científica fica muito distante da realidade de alguns países quando são
tratados temas em que o investigador é o sujeito social e histórico.
As pesquisas em nossa região têm passado por diversos períodos que, além
de singulares, revelaram particularidades históricas, inseridas quase sempre em
movimentos políticos, econômicos e sociais. Essa trajetória tem sido carregada de
vieses que assimila o passado e busca reconstruir a própria identidade, em uma
luta de possibilidades de recuperação da identidade nacional.
Lozano Redón (1996) assegura que uma das maiores dificuldades enfrentadas
por pesquisadores da comunicação é constatar se as abordagens de seus estudos
podem ser tratadas sob a perspectiva de ciência ou de um conjunto de diferentes
ciências.
A grande questão caminha no sentido de desvendar se a comunicação tem
um objeto próprio ou, como pergunta Redón, trata-se de um fenômeno das

1. Pós-Doutora pelo Programa de Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo. Bol-
sista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Coordenadora da pesquisa sobre o Panorama da Co-
municação no Brasil, cuja meta era diagnosticar a produção de conhecimento nos principais segmentos da co-
municação nacionalmente institucionalizados. Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Televisão
Digital e professora do Programa em Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Professora
da Universidade de Sorocaba (UNISO). Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Pensamento Comunicacional
Latino-Americano” do CNPq. Diretora de documentação da INTERCOM. Coordenadora do GT Mídia, Cul-
turas e Tecnologias Digitais na América Latina da mesma Instituição. E-mail: mcgobbi@terra.com.br.

19
ciências sociais2.
Um campo científico pode ser definido como um conjunto de métodos,
estratégias e objetos legítimos de discussão (BOURDIEU, 1983, p. 84). Sendo
assim, em cada um desses elementos são diversos os procedimentos capazes de
contribuir para sua fragmentação ou sua consolidação.
Muitos são os estudos dedicados ao entendimento sobre as fronteiras do
campo e sua efetiva consolidação enquanto ciência. Também, nas especialidades
das Ciências Sociais que têm tornado possível descrever o desenvolvimento
real das pesquisas nesta área. A partir de 1950, as metodologias examinadas
apresentavam hipóteses sobre efeitos massivos e direitos da mídia em opiniões a
serem medidas. Posteriormente, houve a explosão da teoria cultural, dos estudos
quantitativos de recepção, das pesquisas sobre audiência e as investigações sobre
mídia e Comunicação, criando uma variedade de subespecialidades humanísticas
e científico-sociais. Todos esses trabalhos mostraram que a divisa do campo “são
suas fronteiras com outros campos e instituições, e que estão prontas para serem
movidas” (JENSEN, 2001, p. 69).
Por outro lado Newcomb (2001, p. 73) garante que, identificar trabalhos
inovadores e de peso que direcionem ou redirecionem a pesquisa e o conhecimento
nos estudos de comunicação, é muito mais difícil que em outras áreas. Para
ele, a comunicação não é uma disciplina. Se encarado como um “campo de
conhecimento”, é concebido sob dois aspectos. O primeiro, de uso mais comum,
“é o senso convencional de uma área de estudo”. O outro é usado para descrever
as “tentativas de fazer nosso caminho através de suas principais extensões” (2001,
p. 75).
Os caminhos são renovados constantemente. O Brasil atravessa um grande
momento de revitalização dos estudos comunicacionais. As tecnologias da
comunicação, mensagens, seus significados e discussões, bem como toda a busca
para delinear uma nova abertura renovaram vitalmente o “terreno intelectual
em que muitos de nós trabalhamos”, constituindo-se desta forma em uma nova
opção de estudos (NEWCOMB, 2001, p. 75-77).
Por outro lado, Miquel de Moragas SPA (1981, p. 12-28) afirma que os
estudos de comunicação não proporcionam uma reflexão sobre os problemas
epistemológicos da área. Para ele, a pesquisa em comunicação não pode ser
tratada de forma separada da evolução das ciências sociais em geral (Sociologia,
Psicologia, Economia Política, Antropologia Social etc). Mais que uma ciência,
2.“Podemos afirmar que existem duas correntes neste sentido. A primeira afirma que a comunicação é factível
e desejável. Esses pesquisadores estão ancorados em correntes positivistas, oriundas principalmente dos Estados
Unidos. Outros, com enfoques mais críticos, fruto de correntes européias, afirmam ser a comunicação um pro-
cesso tão amplo e complexo que requer uma abordagem interdisciplinar, tratando-se, portanto, de um processo
social”. (LOZANO REDÓN, 1996, p. 21). Tradução da autora.

20
a Comunicação é um processo que aparece “tanto nos níveis cognoscitivos
do indivíduo como em sua ação social”. Em suma, para Moragas, os estudos
comunicativos são uma reunião de distintas disciplinas já existentes, chamada
por ele de pluridisciplinariedade3. Neste sentido, as várias ciências se acercam
do campo comunicativo, cada uma delas dentro de sua própria perspectiva,
assegurando desta forma um objeto de estudos comum.
Para Moragas SPA (1981), a meta seria conseguir a interdisciplinaridade4
nos estudos da Comunicação. Somente assim seria possível intercambiar
métodos, pontos de vista e, como resultado, obter análises conjuntas nas várias
dimensões dos processos da comunicação. Porém, Lozano Redón (1996, p. 24-
25), argumenta que as pesquisas atuais buscam a compreensão da participação
dos mass media no contexto social, analisando o processo comunicativo e suas
relações com outras organizações e instituições sociais de forma integrada5
e visualizando os meios massivos como “organizações dedicadas à produção e
distribuição de significados sociais”.
Toda essa confluência de elementos presentes nos estudos dos fenômenos
da Comunicação de massa tem propiciado a proliferação de numerosos enfoques.
Esse olhar tem permitido a busca pela compreensão dos processos comunicativos,
confrontando postulados teóricos e práticos, em técnicas de pesquisa quanti
e qualitativas, buscando detectar em estudos quantificáveis tendências
comportamentais, atitudes pessoais e o aprofundamento, em casos específicos,
nos níveis conotativos e latentes das mensagens, nas investigações qualitativas.
Marques de Melo (2001) defende que qualquer campo do conhecimento
humano surge como conseqüência das demandas coletivas. Tem sua origem na
base da sociedade, desenvolvendo-se no “interior das organizações profissionais,
culminando com a sua legitimação cognitiva por parte da academia” (p. 93). Para
ele o estoque de saber acumulado provém de duas fontes. Da práxis, que tem
como meta o desenvolvimento de modelos produtivos e da teoria, que trata do
3. Cabe aqui trazer à tona a forma como Edgar Morin (s/d) define o conceito de disciplina. Para ele, trata-se
de uma categoria que agrupa um conjunto de saberes científicos, mas que organiza o conhecimento científico,
instituindo a divisão e a especialização do trabalho, englobando a diversidade dos saberes das ciências. Marialva
Barbosa (2000), citando alguns conceitos de Morin, afirma que, apesar de agrupar um conjunto científico,
uma disciplina tende naturalmente à autonomia pela delimitação de suas fronteiras, pela linguagem na qual
se constitui, pelas técnicas elaboradas no seu interior ou utilizadas por ela e pelas teorias que lhe são próprias.
4.O termo interdisciplinar de acordo com as definições do Dicionário Aurélio (1999) significa “comum a duas
ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento”. Alguns pesquisadores empregam o termo no sentido de rep-
resentar o “concurso de várias disciplinas científicas que se debruçam sobre uma matéria comum e empírica;
e de outra parte, o termo refere à constituição de uma disciplina com objeto de estudo singular a partir das
contribuições de várias outras disciplinas” (MARTINHO, 2000, p. 4-5).
5. Na verdade, para Lozano Redón, o enfoque crítico busca: estudar a comunicação dentro de um amplo
contexto social; questionar o rol de comunicação na desigualdade econômica e no poder político; seus par-
ticipantes não são neutros, como acontecia no enfoque positivista, mas seus pesquisadores se comprometem
com o câmbio social e finalmente, essa corrente questiona a produção comunicativa no reforço da ideologia
dominante (1996, p. 24-25).

21
saber legitimado pela academia, resultado do ensino e da pesquisa universitária.
Assim, ao buscarmos conceituar e entender a emergência do campo acadêmico
da comunicação social no contexto dos estudos latino-americanos e brasileiros
faz-se necessário navegar por teorias consolidadas nas práticas comunicativas.
Desta forma, torna-se possível afirmar que os estudos de Comunicação passaram
a pertencer a um campo6 científico, legitimado e reconhecido pelas Ciências
Sociais, a partir da segunda metade do século XX.
Embora a legitimação do campo tenha se estabelecido a partir da ampliação
dos estudos em jornalismo, principalmente depois da década de 1970, sendo
o sendo a imprensa o primeiro objeto de estudos, no início do século XX, as
pesquisas posteriores passaram a focar o cinema, o rádio e a televisão. Ao se afirmar
que o jornalismo estimulou o desenvolvimento do campo, deve-se considerar a
contribuição das demais disciplinas. Os estudos sob a égide das relações públicas,
da publicidade, do radialismo, da teledifusão e da cinematografia conquistaram
seu espaço, ainda em meados dos anos de 1970 (MARQUES DE MELO, 1998,
p. 97).
Todas essas considerações demonstram que o campo da comunicação social
emerge das ciências aplicadas. Bourdieu (1972, p. 174) afirma que a prática é a
condição necessária, embora relativamente autônoma, para a constituição desses
espaços de reflexão e ação. Sendo produto da relação dialética entre a situação e
o hábito7 , entendido como um sistema de disposições duradouras e transferíveis,
integrados pelas experiências passadas e formando as novas matrizes das apreciações
e ação do novo saber. Assim, a teoria de formação dos campos pode ser encarada
como um processo sociocultural e ideológico, gerador de produtos simbólicos,
que tem o cerne nas relações sociais, formando desta forma uma rede de práticas
comunicativas. “A luta pela autoridade científica é necessariamente uma luta ao
mesmo tempo política e científica; sua única singularidade é que contrapõe entre
si produtores que tendem a não ter outros clientes que não sejam seus mesmos
competidores” (BOURDIEU, 1975, p. 177).
Para o pesquisador Jesús Martín-Barbero (1997, p. 3) vivemos, atualmente,
6. Pierre Bourdieu (1988, p. 22) postula que as sociedades modernas se organizam em campos sociais (econômi-
co, político, cultural, artístico etc) e que funcionam com uma forte interdependência. Podemos afirmar que,
buscando os elos que permitem consolidar o novo espaço, uma “luta” é travada por todos os agentes que o con-
stituem. Dessa forma, esses “lugares” são estruturados, definidos e consolidados através de regras e objetos que
norteiam os seus limites de ação. Cada campo tem seus interesses específicos que são irredutíveis aos objetos e
interesses próprios de outros campos. Essas características somente são percebidas por aqueles que estão dotados
do hábito correspondente ou mesmo da cultura interiorizada pelo indivíduo, quer seja esta de uma época, de
uma classe ou de um grupo, constituindo dessa forma o princípio de sua ação.
7. “El habitus es a la vez un sistema de esquemas de producción de prácticas y un sistema de esquemas de per-
cepción y de apreciación de las prácticas y, en los dos casos, sus operaciones expresan la posición social en la cual
se ha construido. En consecuencia, el habitus produce prácticas y representaciones que están disponibles para
la clasificación, que están objetivamente diferenciadas; pero que no son inmediatamente percibidas como tales
más que por los agentes que poseen el código, los esquemas clasificatorios necesarios para comprender su sentido
social” (BOURDIEU, 1988, p. 134).

22
a idade da Comunicação. Inserida em um terreno fronteiriço entre a organização
e a operação; entre a compreensão dos fenômenos e o domínio dos aparatos
comunicacionais, ela
(...) mas que como un nuevo campo de especialización, la comunicación
adquirí estatuto científico en cuanto espacio interdisciplinario, desde
el que se hacen pensables las relaciones entre fenómenos naturales y
artificiales, entre las máquinas, los animales y los hombres. Wiener ve en
la comunicación una “nueva lengua del universo”, similar a la mathesis
universales de Galileo, de ahí que más que una nueva ciencia lo que
propone es una nueva manera de hacer ciencia, más que un sustantivo un
adverbio: pensar comunicativamente los fenómenos.
Desde os anos 1980 do século XX há uma completa inversão do sentido das
técnicas que, de meros instrumentos, passaram a designar a substância, o motor da
sociedade de informação. “Confundida com inovações tecnológicas (informática,
satélites, fibra ótica, TICs) a comunicação se converteu em um espaço de ponta
da modernização industrial, gerencial, estatal, educativa e na única instância
dinâmica da sociedade”. Desta forma, as relações entre comunicação e sociedade,
poder e igualdade social passam a receber sua legitimação teórica e política através
do chamado discurso da racionalidade tecnológica, inspirando dessa forma o que
chamamos, na atualidade, de Sociedade de Informação. Para o pesquisador “não
somente a modernização é identificada como o desenvolvimento das tecnologias
da informação, também a reformulação da vigência da modernidade e o
pensamento da pós-modernidade na comunicação ocupam um lugar estratégico”
(MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 11-15).
A pesquisa comunicacional na América Latina se legitimou como espaço
científico somente nos últimos 50 anos. Para Marques de Melo (1998) esse saber
autêntico, estocado ao longo do tempo, além de permitir o desenvolvimento em
vários âmbitos, possibilitou também múltiplas alternativas metodológicas.
Para Fuentes Navarro (1998) a multiplicação das publicações acadêmicas; a
participação de pesquisadores nos cenários (eventos) internacionais; o crescente
contato com outros investigadores em ciências sociais; o desenvolvimento de
programas de pós-graduação preocupados com a pesquisa em comunicação;
a formação de investigadores mais jovens; assim como a forte presença de
professores-pesquisadores nesses programas, mostram indícios claros e precisos
de que a configuração do campo se descortina como uma possibilidade
real, estabelecendo-se em uma especialidade, cuja institucionalização e
profissionalização avançam em termos de legitimação acadêmica, tanto científica
como social. Nesta re-configuração do campo da Comunicação há uma
relevância cada vez mais reconhecida de seu objeto genérico de estudos, ou seja,
a Comunicação na constituição do mundo contemporâneo. Essas condições,
juntamente com a utopia das discussões da Comunicação como transformadora
23
da sociedade, fizeram com que existisse “internamente” no campo um “núcleo
básico”, compartilhado pelos pesquisadores que o constituem. Dessa forma, fez
de seu “exterior”, a chave de sua aspiração como diferença legitima no campo
intelectual. (FUENTES NAVARRO, 1998, p. 54-55)
A Comunicação, enquanto objeto de estudo, despertou o interesse de
inúmeras disciplinas científicas. Mas enquanto campo acadêmico, sua identidade
tem se caracterizado pelo delineamento de fronteiras estabelecidas em função dos
suportes tecnológicos (mídia) que asseguram a difusão dos bens simbólicos e do
universo populacional a que se destinam (comunidades / coletividades). Assim, o
campo é delimitado por duas variáveis. São elas: a indústria midiática, tratando-se
neste caso de organizações manufatureiras ou distribuidoras culturais e as empresas
terciárias, dedicadas ao planejamento, produção e avaliação de mensagens, dados
e informações a serem difundidos pela mídia ou a ela concernentes. Além disso,
é um campo interdisciplinar, uma vez que seus objetos específicos são produtos
cujo conteúdo está presente nas demais disciplinas que constituem o universo
científico. (MARQUES DE MELO, 1998, p. 40).
No Brasil, a constituição da comunidade brasileira no campo das Ciências
da Comunicação, relatado nos estudos de Marques de Melo, apareceu após a
criação dos pioneiros cursos superiores de Jornalismo e dos institutos de pesquisa
de audiência da mídia, em meados dos anos 50. Mas se consolidou somente
na década de 1960, com o surgimento de novos segmentos sociais (cinema,
editoração, relações públicas, rádio-teledifusão, lazer, divulgação científica,
extensão rural), ocasionando uma mudança nos espaços de geração desses novos
conhecimentos. Dessa maneira, os estudos partiram da prática para a teoria,
gerada nas emergentes escolas de comunicação, através das pesquisas.
Marques de Melo (1998) definiu quatro fases que organizam a história
das Ciências da Comunicação na América Latina. A primeira, chamada de
desbravamento, entre os anos de 1873 a 1940, compreendeu o período em
que a imprensa tornou-se objeto de pesquisa e encerrou-se quando o ensino de
Comunicação encontrou no Jornalismo seu foco de estudos. Em outras palavras,
as pesquisas partiram do reconhecimento dos objetos peculiares ao campo. A
segunda fase, dos pioneiros, entre os anos de 1940-1950, encontrou nos estudos
do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, sobre a liberdade de imprensa, seu
referencial. Foi o início do empirismo. É possível observar nesta publicação a
mudança dos escritos como tratados jurídicos, ou textos históricos, e verifica-se a
clareza e a objetividade do trabalho, construindo “uma espécie de manual para o
fortalecimento da cidadania”. O fortalecimento, entre os 1947-1963, encontrou
na universidade o cenário ideal para seu desenvolvimento. Esse fortalecimento do
campo pode ser traduzido pela ampliação da rede institucional dedicada ao ensino
da comunicação. Os estudos empíricos baseavam-se nas demandas profissionais

24
geradas pela academia. Porém a consolidação ocorreu com o surgimento do
Centro Internacional de Estudos Superiores (Ciespal), em Quito, no Equador,
em 1960 e com o desenvolvimento da indústria cultural no Brasil, entre os anos
de 1964 a 1970. (MARQUES DE MELO, 1998, p. 98-143).
A década de 1970 foi marcada pela crítica ao conhecimento existente.
Abalizou este período o grupo dos inovadores, terceira fase, que definiu com maior
nitidez a natureza do campo comunicacional latino-americano. E finalmente, a
quarta fase, na década de 19808 foi constituída por reavaliações e contribuições de
um grupo chamado de renovadores e marcada pelos “avanços empíricos e reflexivos,
referenciados nas matrizes esboçadas pelos cientistas que os precederam”. Esse
período encerra-se com a realização do I Congresso Latino-Americano de
Ciências da Comunicação, em São Paulo, Brasil, no ano de 1992 (MARQUES
DE MELO, 2001, p. 99).
Com esse panorama, o interesse pelas pesquisas dos fenômenos da
comunicação ganhou espaço tanto nas universidades como nas empresas. Ambas
buscavam nas evidências empíricas, consolidadas pela cientificidade das escolas,
qualificarem profissionais, de forma a orientá-los nos novos caminhos das
“engrenagens midiáticas”. Desta forma, o desenvolvimento da pesquisa, marcado
até então pela atuação coletiva, deu lugar a uma comunidade científica, composta
por jovens pesquisadores, atuando “organicamente, porém de forma sintonizada
com as demandas locais e nacionais” (MARQUES DE MELO, 2001, p. 98-
100).
Um dos grandes dilemas da comunidade acadêmica, formada por
pesquisadores, analistas de discurso e estudiosos das mediações9 culturais, na
atualidade, é buscar as singularidades de sua identidade. Porém, o processo de
legitimação e de identidade acadêmica deste campo está diretamente relacionado
com a formação de profissionais competentes para a prática científica. Além,
é claro, da efetiva participação desses atores sociais nos cenários acadêmicos,
buscando equilíbrio entre a teoria e a prática profissional. Essa assimilação de
conteúdos tem permitido o aprendizado das metodologias indispensáveis à
8. Marques de Melo afirma que a consolidação de uma Escola de Pensamento Comunicacional na América Lati-
na foi o maior ganho desta época. Suas palavras são referendadas por Jesús Martín-Barbero que garante que “En
los años 80 empezamos no sólo a asumir el pensamiento propio en el campo de comunicación – que América
Latina tenía desde mucho antes -, sino que empezamos a valorarnos, a valorar nuevos puntos de partida desde
los cuales miramos sin despreciar para nada lo que se estaba haciendo en el resto del mundo, pero poniéndolo
en nuestra coordenadas históricas, culturales y políticas. El mayor logro de los 80 fue la configuración de lo que
ha denominado Marques de Melo la Escuela Latinoamericana de Pensamiento en Comunicación” (2001, p. 99).
9. Manuel Martín Serrano define las mediaciones como sistemas “institucionalizados para redução das dis-
sonâncias, que, cognitivamente, operam como modelos de ordem aplicados a qualquer conjunto de coisas
pertencentes a planos heterogêneos da realidade” (1977, p. 49). (Tradução da autora). Para completar, Martín
Serrano afirmou (1988, p. 1361) controlar a forma de mediar é aplicar ao conteúdo da realidade o modelo
de ordem e o tipo de significações que posteriormente serão utilizados pelo destinatário da informação para
compreender o presente, prever o futuro e, portanto, para atuar (Tradução da autora).

25
produção e à difusão científica.
A compreensão das teorias relativas aos efeitos sociais e culturais da mídia e
de seus sistemas de produção tem delineado o perfil profissionalizante dos cursos
de comunicação. Os resultados podem ser visualizados através dos estágios,
intercâmbios e financiamento das pesquisas. Essa interação entre a práxis e a
teoria tem permitido a difusão e a consolidação do campo da comunicação social,
não só no Brasil, como também no exterior.
Como desafio para as novas gerações está a busca e a consolidação de
modelos teórico-metodológicos universais, capazes de darem conta do campo e
de seus objetos de estudo, sem, contudo, abandonar a identidade cultural e a
autonomia científica. Essas novas matrizes não devem ter a pretensão de criar
uma ciência universal, mas de permitir o estudo de uma realidade comunicacional
multifacetada e complexa, sem o reducionismo à dimensão meramente
instrumental. Barbosa (2000, p. 9) garante que a partir do ano 2000 o mote é o
avanço no sentido de sedimentarmos teorias existentes, “através de uma atitude
reflexiva, propondo uma análise que visualiza não apenas novos saberes, mas,
sobretudo novos olhares. Só assim se constrói um campo de pesquisa maduro e
reconhecido como produtor de conhecimento válido”.

Quadro das Instituições que participam da Socicom, Federação criada em 2008

Audiovisual: cinema, FORCINE: Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual,


vídeo, televisão e rádio congrega mais de 20 instituições;
SOCINE: A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual,
fundada em conta com 364 sócios, que representam cerca de 18
universidades brasileiras.
Cibercultura ABCiber: Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura:
fundada em 2006, congrega pesquisadores(as), Grupos de Pesquisa,
instituições e/ou entidades brasileiras que estudam cibercultura.
Comunicação ABRAPcorp: Associação Brasileira de Pesquisadores de
Organizacional e Comunicação Organizacional e Relações Públicas, fundada
Relações Públicas 2006, com o objetivo geral de estimular o fomento, a realização
e a divulgação de estudos avançados dessas áreas no campo das
Ciências da Comunicação.
Comunicação e Politicom: Sociedade Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais
Marketing Político de Comunicação e Maketing Político, fundada 2008, congrega
estudiosos de propaganda política.
Divulgação Científica ABJC: Associação Brasileira de Jornalismo Científico, fundada em
1977, congrega pesquisadores em torno de temas ligados a CT&I.

26
Economia Política da Ulepicc: União Latina de Economia Política da Informação,
Comunicação da Comunicação e da Cultura, fundada em 2004, congrega
pesquisadores e profissionais atuantes na Economia Política da
Comunicação, da Informação e da Cultura
Folkcomunicação Rede Folkcom: Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação,
fundada em 2003, congrega estudiosos em torno da temática da
comunicação popular.
História da Mídia Rede Alcar: Associação Brasileira de Pesquisadores de História da
Mídia, fundada em 2001, congrega estudiosos da história da mídia.
Jornalismo SBPJor: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo,
fundada em 2003, congrega aproximadamente 300 associados.
FNPJ: Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, fundado em
2004, congrega professores dos cursos de jornalismo de todo o país.
Semiótica ABES: Associação Brasileira de Semiótica, fundada em 1972,
congrega estudiosos dessa temática.
Fonte: Maria Cristina Gobbi.

27
28
CAPÍTULO 1

Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel


estratégico da Comunicação

Ana Silvia Lopes Davi Médola1

A Socicom, sigla da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas


de Comunicação, tem uma existência de apenas dois anos (começou a funcionar
em 2008), um período muito curto, mas com registro de ações relevantes
para a área da comunicação no Brasil. Entre os mais significativos destaca-se
o fato de congregar praticamente todas as associações científicas e acadêmicas
da comunicação em torno de objetivos comuns voltados ao crescimento e
fortalecimento da área.
A força decorrente da participação de suas 14 afiliadas levou a Federação
a firmar um convênio inédito com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) para a elaboração do primeiro estudo quantitativo e qualitativo destinado
a traçar o Panorama Brasileiro da Comunicação. Um marco que tem o propósito
de identificar as tendências da Comunicação no país na primeira década do século
XXI a partir do inventário do estado atual do conhecimento, em comparação com
os indicadores nacionais e mundiais da economia, da educação, da sociedade e
cultura. Nesses dois anos de atividade da Socicom, o projeto que nesta publicação
se materializa pretende oferecer informações de qualidade para subsidiar o
desenvolvimento de políticas públicas para a comunicação no país.
Outra ação relevante e que deverá permanecer em uma visão diacrônica dos
primórdios de uma história ainda em construção da Socicom, é a organização
do I Congresso Mundial da Confibercom – Confederação Ibero-americana de
Comunicação, da qual a Socicom é instituição fundadora. Tais projetos são
os resultados mais evidentes de uma trajetória marcada por ações estratégicas
e articuladas que culminaram na constituição da federação, conforme será
detalhado mais adiante.

Conjunturas prévias
Em uma perspectiva mais ampliada, podemos considerar a fundação da
Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação
como o desdobramento de dois processos históricos simultâneos no campo
da comunicação, sendo um no circuito ibero-americano e o outro em âmbito
1 Membro da primeira diretoria da Socicom - Biênio 2008/2010, na função de vice-presidente.

29
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação

nacional.
Internamente, o expressivo crescimento da área de Comunicação no país
nas últimas décadas, evidenciado pela contínua expansão dos cursos de graduação
e pós-graduação, contabilizando em 2008, ano de fundação da Socicom, cerca de
200 mil alunos, distribuídos em mais de 700 cursos de graduação e no caso da
pós-graduação strictu sensu, 35 programas de mestrado e doutorado credenciados
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES).
Concomitantemente, o surgimento e a atuação das associações científicas e
acadêmicas desde o começo dos anos 70 do século passado contribuiu para a
consolidação das ciências da comunicação como área científica. Neste contexto
foram criadas as condições para a fundação de uma federação com o propósito
de organizar o debate sobre o desenvolvimento científico e tecnológico da
Comunicação, focalizando os problemas comuns, ampliando o conhecimento
mútuo e a cooperação entre as diversas entidades da área.
Já no contexto internacional, a fundação da Socicom se apresentou com
a perspectiva de integrar o Brasil ao movimento de criação da Confederação
Ibero-Americana das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação
(Confibercom), entidade fundada para desenvolver ações estratégicas capazes
de promover o reconhecimento e a valorização da produção científica ibero-
americana perante a comunidade mundial, conforme os termos do “Protocolo
de Guadalajara”. Firmado, em 23 de novembro de 2007, por 10 entidades
representativas do campo comunicacional ibero-americano, reunidas no México,
durante o X Ibercom – Encontro Ibero-americano de Comunicação - o “Protocolo
de Guadalajara” respaldou a criação de uma confederação ibero-americana que
reunisse as associações nacionais de Comunicação. A fundação da confederação
ibero-americana foi formalizada em abril de 2009 com a adesão de 12 entidades,
sendo oito nacionais Socicom (Brasil), AMIC (México), Fadecos (Argentina),
ABOIC (Bolívia), Invecom (Venezuela), APEIC (Peru), SOPCOM (Portugal),
AE-IC (Espanha)) e quatro mega-regionais (ALAIC, Felafacs, Assibercom e
Lusocom).
A articulação entre esses dois processos nas esferas nacional e internacional,
que culminaram com a fundação da Socicom, coube a José Marques de Melo,
agente aglutinador nos fóruns de debates e nas iniciativas voltadas a organizar as
representações institucionais. A Socicom foi criada, como se pode observar, para
fomentar iniciativas de estímulo à cooperação entre instituições congêneres e de
áreas conexas, no país e no exterior.

Fundação
O primeiro passo para a constituição da federação foi a realização do Fórum das
Sociedades Científicas de Comunicação (I Socicom), ocorrido entre 31 de agosto
30
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação

e 1º de setembro de 2007, no campus da universidade Unisanta, em Santos,


durante o congresso anual da Intercom. Na ocasião, as entidades científicas e
acadêmicas de Comunicação formaram uma comissão para encaminhar os
trabalhos de criação de uma federação, o que ocorreu um ano depois, no dia 2 de
setembro de 2008, em Natal, no Rio Grande do Norte.
A assembléia de aprovação do estatuto de fundação da Socicom teve a
participação das seguintes instituições:
1. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
(Intercom), representada pelo professor José Marques de Melo;
2. Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
(Compós), representada pela professora Ana Silvia Médola;
3. Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Corporativa e
Relações Públicas (Abrapcorp), representada pela sua presidente, professora
Margarida Maria Krohling Kunsch;
4. Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), representado pelo
professor Gerson Luiz Martins;
5. Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor),
representada pelo professor Elias Machado Gonçalves;
6. União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e
Cultura – Seção Brasileira - ULEPICC-Brasil, representada pelo professor
César Bolaño;
7. Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura – (ABCiber),
representada pelo presidente, professor Eugenio Rondini Trivinho;
8. Associação Brasileira de Pesquisa em História da Mídia (Rede Alcar),
representada pela professora Marialva Barbosa;
9. Associação Brasileira de Pesquisa em Comunicação - Rede de Estudo
e Pesquisa em Folkcomunicação (Folkcom) representada pela presidente,
professora Betania Maciel;
10. Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), representada
pelo professor Adolpho Queiroz.
11. Embora impossibilitados de enviar representantes naquele momento,
a Forcine e a Socine, também são consideradas entidades fundadoras da
Socicom.
A Socicom nasceu, portanto, com grande representatividade e com o
objetivo primeiro de criar as condições de diálogo entre as entidades da área,
constituindo-se em um espaço para o debate constante sobre o desenvolvimento
31
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação

científico, artístico e tecnológico da Comunicação.


Em sua estrutura de funcionamento, a federação é constituída por um
Conselho Deliberativo e uma Diretoria Executiva. A primeira diretoria da
Socicom foi eleita já na assembléia de fundação com a incumbência de regularizar
o registro da federação, criando as condições legais para a instalação do Conselho
Deliberativo em 01 de dezembro de 2008, que na ocasião aprovou o plano de
gestão para o biênio 2009-2010.

A primeira diretoria da Socicom (2009-2010) foi composta pelos professores:


- José Marques de Melo, presidente;
- Ana Silvia Médola, vice-presidente,
- Margarida Kunsch, diretora de relações internacionais;
- Elias Machado Gonçalves, diretor de relações nacionais;
- Anita Simis, diretora administrativa.

Participaram da reunião de instalação do Conselho Deliberativo, sede da


federação em São Paulo, todos os membros da diretoria da Socicom, além dos
seguintes representantes das entidades filiadas: Adolpho Queiroz – Sociedade de
Estudos Interdisciplinares em Comunicação, Intercom, Vera Regina Veiga França,
da Associação Brasileira de Programas de Pós-Graduação em Comunicação,
Compós; Cesar Ricardo Bolaño, da União Latinoamericana de Economia Política
da Informação, da Comunicação e da Cultura, Capítulo Brasil, ULEPICC-Brasil;
Eugenio Trivinho, da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura,
ABCiber, Gizely Coelho Hime, representando Marialva Barbosa da Associação
Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia, Rede Alcar; e Betania Maciel da
Rede de Estudo e Pesquisa em Folkcomunicação, Folkcom.
Nesta primeira reunião ordinária Cesar Bolaño foi eleito presidente do
Conselho Deliberativo e também foi aprovado o plano de metas apresentado pela
diretoria da Socicom para o biênio 2009-2010. Em linhas gerais o plano previa
a estruturação da entidade, consolidação das vias de diálogo entre os dirigentes
das associações filiadas e segmentos da sociedade e divulgação das atividades da
federação e do pensamento comunicacional brasileiro.
Os primeiros resultados puderam ser observados na realização de dois
seminários anuais de integração nacional e na criação do site da federação no sítio
www.Socicom.org.br , concentrando todas as informações sobre a instituição. O
I Seminário de Integração Nacional ocorreu em março de 2009, na Universidade

32
Socicom: associações científicas e acadêmicas em torno do papel estratégico da Comunicação

Estadual Paulista – UNESP, em São Paulo, reunindo os dirigentes das associações


filiadas com o propósito de estreitar as relações entre as entidades. A intensificação
do conhecimento mútuo entre as associações favoreceu a identificação de
problemas comuns e a conseqüente busca por soluções.
No II Seminário, realizado em 2010, na Universidade de São Paulo – USP,
a ênfase dos debates esteve concentrada nas iniciativas para fortalecer e consolidar
as Ciências da Comunicação no sistema nacional de ciência e tecnologia. Nesse
sentido, um dos pontos de convergência referiu-se à necessidade de constituição
de uma base de dados com informações atualizadas sobre a área de Comunicação
no país capaz de centralizar os dados de diferentes fontes, de modo a subsidiar a
instalação de um Observatório de Políticas Públicas na área da Comunicação.
A idéia de produzir uma base de informações sobre o setor da comunicação
já estava incorporada. Por atuação do presidente da Socicom, José Marques de
Melo, juntamente com o Assessor-chefe de Imprensa e Comunicação do Ipea,
jornalista Daniel Castro, representantes das duas entidades estiveram reunidos
em 25 de fevereiro de 2010, na sede do instituto em Brasília para estabelecer um
protocolo de cooperação. A receptividade do presidente do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, Marcio Pochmann, possibilitou a realização do convênio
entre IPEA e Socicom para o desenvolvimento do projeto sobre o Panorama da
Comunicação no Brasil, projeto materializado na presente publicação.
Para um futuro bem próximo, a perspectiva é fomentar a criação do
Observatório Nacional de Políticas Públicas de Comunicação e divulgar o
Pensamento Comunicacional Brasileiro. A realização do I Congresso Mundial
da Confibercom em agosto de 2011, com o tema “Sistemas de comunicação e
diversidade cultural” e sob a coordenação da diretora de relações internacionais
da Socicom será uma ocasião importante para referendar o papel da comunidade
brasileira no circuito ibero-americano de produção científica na área.
Reconhecendo a Comunicação um dos setores estratégicos para a inserção
do país de forma soberana na Nova Ordem Econômica Mundial, espera-se que as
ações da Socicom registradas neste breve período de sua história, possam subsidiar
principalmente políticas de comunicação que fortaleçam a democracia no Brasil.

33
34
CAPÍTULO 2

Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da


Comunicação

Antonio Hohlfeldt1
Introdução
Pode-se pensar uma periodização da pesquisa brasileira em Comunicação a partir
de diferentes paradigmas. José Marques de Melo, por exemplo, propõe uma
periodização em torno das pesquisadas realizadas a cada momento. Assim, ele
identifica seis diferentes momentos 2 3:
a)Estudos históricos e jurídicos – se levarmos em conta que o início da
imprensa brasileira se dá a partir de 1808, com a transferência da Família
Real portuguesa para a então colônia brasileira, e que não temos nenhuma
outra atividade comunicacional, como a classificamos hoje em dia, antes deste
momento, podemos marcar, de fato, o século XIX como o início dos estudos
sobre Comunicação no país, caracterizado aquele primeiro período por pesquisas
com perspectiva histórica ou teor jurídico, o que se vai estender pelo menos até
os anos 1930 (com o movimento revolucionário daquele ano). Tivemos, assim,
estudos memorialísticos ou que enfocavam personalidades destacadas do nascente
jornalismo brasileiro, assim como estudos vinculados a discussões jurídicas, como
o exame das legislações que regravam a imprensa nacional. Tais estudos foram
desenvolvidos especialmente por instituições como os Institutos Históricos e
Geográficos, as Ordens de Advogados do Brasil e as Associações de Imprensa que
começaram a se constituir;
b) Pesquisa mercadológica – entre os anos 1930 e 1950, a chegada das
primeiras empresas multinacionais e, conseqüentemente, a constituição de seus
departamentos de publicidade, a que se seguiu o desenvolvimento do rádio,
sobretudo quando ele assume uma característica mais comercial, segundo o
modelo norte-americano, com programas a serem patrocinados e batizados por
produtos industrializados no país, permitiu as primeiras pesquisas de opinião
pública e estudos comportamentais, assim como as pioneiras campanhas
publicitárias, quer nos jornais e revistas então em circulação, como nas emissoras
1 Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); pesquisador do
CNPq; Professor do PPG-COM da PUCRS; membro do Conselho Consultivo da – Sociedade Brasileira de
Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor). Autor, dentre outros, de “Teorias da Comunicação - Conceitos, escolas
e tendências” e “Última Hora – Populismo nacionalista nas páginas de um jornal”.
2 MELO, José Marques de – “A pesquisa da comunicação na transição política brasileira” in MELO, José
Marques (Org.) – Comunicação e transição democrática, Porto Alegre, Mercado Aberto. 1995, p. 264 e ss.
3 MELO, José Marques – “Panorama brasileiro da pesquisa em comunicação” in BARBOSA, Marialva (Org.)
– Vanguarda do pensamento comunicacional brasileiro: As contribuições da Intercom (1977-2007) , São Paulo,
INTERCOM. 2007, p. 25 e ss.

35
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

de rádio que começavam a se popularizar;


c) Comparativismo e difusionismo – na primeira metade dos anos 1960, sob
a influência do Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo para
América Latina (CIESPAL) – graças aos professores franceses e norte-americanos
que desenvolvem seus cursos na Colômbia, surgem estudos comparativistas –
sobretudo em jornalismo e radialismo – e projetam-se as primeiras pesquisas
difusionistas, que valorizam a possibilidade de modernização das sociedades
latino-americanas, inclusive a brasileira, através das mensagens difundidas pelos
meios de comunicação de massa, em especial a televisão, que então começava
a se popularizar; é o momento em que um professor brasileiro, Luiz Beltrão,
tornar-se-á figura pioneira na pesquisa nacional, cujos resultados ampliar-se-ão
nas décadas seguintes;
d)Deslumbramento e apocalipse – o golpe militar de 1964 faz com
que o final da década mude bruscamente de tendência, o que se estenderá
até a primeira metade da década de 1970. Sem se perder as linhas de estudo
anteriormente mencionadas, a pesquisa crítica ganha notoriedade. Assim, passa-
se, repentinamente, de estudos entusiasmados sobre a comunicação de massa e
suas vantagens para, sob a influência dos pensadores da Escola de Frankfurt, que
começam a ser traduzidos no Brasil, para uma crítica ideológica radicalizada dessa
mesma indústria cultural, ainda que tal indústria alcance sua legitimação junto à
sociedade brasileira, sobretudo depois do surgimento da TV Globo (1962) e das
demais redes de televisão que serão então gradualmente implantadas no país;
e)Legitimação acadêmica – em que pese a continuidade da ditadura, a
reforma universitária de 1968 começa a produzir efeitos, com o surgimento dos
primeiros cursos de Mestrado e, logo adiante, de Doutorado, também no campo
da Comunicação. A distensão política, ao mesmo tempo, permite a retomada
de estudos mais amplos e variados, sobretudo a partir da Universidade de São
Paulo (USP); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade
de Brasília (UnB). Os estudos aí desenvolvidos começam a ter um foco mais
específico dirigido à comunicação e a valer-se de bibliografia especializada;
f )Politização dos estudos – a partir da década de 1980, com a transição
democrática, os programas de Pós-Graduação se multiplicam e as linhas de
pesquisa igualmente alcançam enorme variedade. É neste âmbito que surgem
as entidades representativas do campo, como a Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), fundada em 12 de dezembro de
1977, em São Paulo4 e que existiria articulada e paralelamente à União Cristã
Brasileira de Comunicação (UCBC), entidade pioneira que, durante os mais duros

4 LOPES, Maria Immacolata Vassallo de – “Intercom e as ciências da comunicação no Brasil” in BARBOSA,


Marialva (Org.) – Vanguarda do pensamento comunicacional brasileiro: As contribuições da Intercom (1977—
2007), op. cit., p. 157.

36
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

anos da ditadura, recebeu e discutiu os principais temas da Comunicação, dando


ênfase à chamada Comunicação alternativa ou popular, também identificada
como comunicação das classes subalternas.
A UCBC, fundada em 19695 , hoje em dia, tem praticamente encerradas as
suas atividades, mas outras entidades foram se constituindo gradualmente, como
a COMPÓS – que reúne os Programas de Pós-Graduação de Comunicação; ou as
entidades mais específicas de cada segmento, desde a Abracorp (2006), de Relações
Públicas e Comunicação Organizacional; a Socine (1996), de pesquisadores de
cinema e a SBPJOr (2003), agregando os pesquisadores do jornalismo; a ABciber
(2006), que reúne os pesquisadores de cibercultura, até a mais recente, a Politicom
(2008), associando pesquisadores em torno da comunicação política, etc. Talvez
a denominação de politização não seja a melhor, pois que a institucionalização
traduziria melhor o processo então experimentado.
g)Variabilidade de estudos – a partir dos anos 1990, com a expansão dos
Programas de Pós-Graduação e a entrada das novas tecnologias de informação
e comunicação no país, multiplicam-se as linhas de pesquisa, as bibliografias
referidas e a produção dos pesquisadores, abrindo-se leques importantes inclusive
para a formação de equipes interdisciplinares, grupos interinstitucionais e também
pesquisas internacionais que se desenvolvem com a participação de pesquisadores
brasileiros.
Outra periodização proposta é a de Margarida M. Krohling Kunsch6,
que se preocupa principalmente com a tendência institucional dos estudos
comunicacionais. Assim, ela distingue apenas três períodos, ainda que se deva
levar em conta que, provavelmente, atualizada, esta mesma periodização incluiria
um novo momento, o que se pode deduzir até mesmo a partir do título de seu
artigo, que fala sobre o desafio dos anos 90:
a) Formação de pessoal – ao longo dos anos 1950 e 1960, tendo
em conta a criação da CAPES e no CNPq, no ano de 1951. Havia, naquele
primeiro momento em que os cursos de jornalismo começam a ser constituídos,
preocupação com a formação de professorado competente; estímulo à pesquisa
científica e treinamento adequado de técnicos profissionais;
b) Diversificação de cursos – nos anos 1970, multiplicam-se os cursos de
Graduação e começam a se estruturar os cursos de Pós-Graduação (legislação
de 1965), o que gera um circuito positivo em que um segmento incide sobre
o outro, qualificando-se mutuamente, na medida em que cresce o universo de
estudantes e profissionais envolvidos, do mesmo modo que aumenta a audiência
5 MELO, José Marques de – “Prefácio” in MELO, José Marques de (Org.). – Pedagogia da comunicação:Matrizes
brasileiras, São Paulo, Angellara. 2006, p. 36.
6 KUNSCH, Margarida M. Krohling – “Pesquisa brasileira de comunicação: Os desafios dos anos 90” in Revis-
ta Brasileira de Comunicação, São Paulo, INTERCOM, Vol. XVI, nº. 2, Julho-Dezembro de 1993, p. 44 e ss.

37
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

dos meios de comunicação de massa em todo o país, graças à industrialização e


à institucionalização das redes de comunicação que o regime militar patrocina,
como a implantação dos sistemas DDD e DDI e, mais adiante, os satélites de
comunicação. Ao mesmo tempo, desenvolve-se a indústria de bens eletrônicos,
como o rádio e a televisão, lado a lado com o automóvel e a casa própria, que
exige ainda a chamada linha branca de equipamentos; como ocorrera nas
décadas de 1930 em diante, mas com uma intensidade bem maior, o circuito
industrialização-publicidade permite um forte crescimento da indústria cultural
em todo o país;
c) Consolidação e destaque à pesquisa – a partir dos anos 1980, a chamada
redemocratização do país permite a emancipação cultural e universitária do
controle ideológico e censorial dos administradores políticos. O país se diversifica,
as eleições se sucedem e o campo da comunicação é importante espaço do embate
democrático. Os cursos de Mestrado surgem nos anos 1970 e os de Doutorado
na década de 1980. Crescem as produções e a necessidade de profissionais se
multiplica.
Os cursos de Pós-Graduação interferem na realidade cotidiana, na medida
em que seus pesquisadores voltam-se para o entorno imediato a respeito do qual
discutem.
No artigo de Kunsch, fala-se no desafio dos anos 1990, que a autora
assim resume: desenvolver estudos sobre as novas tecnologias de informação e
comunicação (TICs) que então emergem no país; capacitar para a análise de
fenômenos emergentes produzidos pelas mesmas TICs; diminuir o descompasso
entre a pesquisa, a realidade social e as necessidades do mercado profissional;
buscar reais melhorias para a sociedade brasileira a partir das novas tecnologias;
revisar de paradigmas existentes; construir de um campo teórico da Comunicação
autônomo; sair do isolamento dos cursos de Pós-Graduação, levando a que as
pesquisas neles desenvolvidas se aproximem cada vez mais dos interesses da
sociedade do entorno.
Pode-se dizer que o “campo profissional e acadêmico da comunicação social
no Brasil se encontra hoje num estágio altamente avançado se comparado com
países da América Latina e mesmo da Europa. Essa constatação deve servir de
estímulo para se buscar uma melhoria de qualidade e os níveis de excelência na
formação universitária e um aperfeiçoamento contínuo no mercado profissional”7
. Margarida Kunsch, neste outro texto, mais recente, salienta que “as perspectivas
são muitas, se considerarmos um conjunto de fatores, desde o poder e a
imprescindibilidade da Comunicação em todos os sentidos da vida humana e

7 KUNSCH, Margarida M., Krohling – “Perspectivas e desafios para as profissões de comunicação no terceiro
milênio” in KUNSCH, Margarida M. Krohling (Org.) – Ensino de comunicação: Qualidade na formação
acadêmico-profissional, São Paulo, INTERCOM-ECA/USP-ARCO. 2007, p. 88.

38
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

na sociedade até as novas possibilidades advindas com a revolução tecnológica


da informação e das comunicações. Outro aspecto relevante a considerar é o
crescimento e a pujança das indústrias das comunicações no Brasil, consideradas
das mais avançadas do mundo” (ps. 89 e 90).

Evolução histórica
É possível retornar um pouco ao passado e buscar sinalizar a evolução sofrida
tanto pelas tecnologias quanto pelo estudo e o surgimento das diferentes mídias
no país, até o momento presente. Foi com a imprensa que começou a experiência
brasileira no campo da comunicação, e com a imprensa permaneceria ao longo de
quase dois séculos nossa prática comunicacional.
Em sentido lato, pode-se considerar que o primeiro documento de caráter
jornalístico, produzido em terras brasileiras, foi o relato de Pero Vaz e Caminha ao
rei Dom Manuel, a respeito da descoberta de Pedro Álvares Cabral8. Em sentido
estrito, o jornalismo, segundo aquele conceito referido por José Marques de
Melo, enquanto atividade de comunicação coletiva9 ou, ainda, qualquer atividade
humana da qual resulte a transmissão de uma notícia ou informação de atualidade,
surgiria apenas após a chegada do rei Dom João VI ao Brasil, com a criação de
um arremedo de jornal10, a Gazeta do Rio de Janeiro, dirigido por Frei Tibúrcio
José da Rocha, a partir de 10 de setembro de 1808. Era nossa primeira aventura
com a imprensa, que coincidiria com outra iniciativa significativa, a de Hipólito
José da Costa e seu Correio Braziliense, editado a partir de junho de 1808, mas
que só chegaria à colônia brasileira, de fato, para ser lido pela Corte e por outros
interessados, provavelmente a partir de outubro daquele mesmo ano.
Os primeiros estudos formais sobre Comunicação se iniciaram em torno do
Jornalismo impresso, ainda no distante ano de 1859, com Fernandes Pinheiro11
, a que se seguiriam outras pesquisas, já em 188312. Anos mais tarde, outros
estudos de Vale Cabral (1881) e Pereira da Costa (1891) se seguiriam, até um dos
projetos pioneiros de pesquisa em torno da imprensa que se deveu ao historiador
Alfredo de Carvalho quem, em 29 de julho de 1907 propôs – e foi aceito – que o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a propósito do centenário da
criação da imprensa brasileira, que ocorreria no ano seguinte, desenvolvesse um
projeto coletivo de pesquisas em torno desse tema. O Secretário Geral Perpétuo
8 GUIRADO, Maria Cecília – Relatos do descobrimento do Brasil – As primeiras reportagens, Lisboa, Piaget.
2001
9 MELO, José Marques de – Teoria da comunicação: Paradigmas latino-americanos, Petrópolis, Vozes. 1998,
p. 72.
10 SODRÉ, Nelson Werneck – História da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Graal. 1977, p. 23.
11 MELO, José Marques de – A esfinge midiática, São Paulo, Paulus.2004, p. 61.
12 MELO, José Marques de – Teoria da comunicação: Paradigmas latino-americanos, op. cit., p. 172, e MELO,
José Marques de - A esfinge midiática, São Paulo, Paulus.2004, p. 61, onde identifica José Higino Duarte Pereira
como o pesquisador referido.

39
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

do IHGB, Max Fleuiss, aceitou de imediato a proposta e assim a Revista do


Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em seu Tomo I, de 1908, dedicado
inteiramente ao Primeiro Centenário da Imprensa Periódica no Brasil, reunia,
pela primeira vez, um conjunto de monografias sobre o assunto13.
Um pioneiro foi Rui Barbosa, com o seu famoso discurso, não pronunciado,
chamado “A imprensa e o dever da verdade”14 . Novos estudos surgiriam nas
décadas seguintes, com Barbosa Lima Sobrinho (1923), B. dos Santos Leitão
(1926), J. Canito Mendes de Almeida (1931), Ernani Macedo de Carvalho (1940),
Rubens Porto (1941), Vitorino Prata Castelo Branco (1943), Carlos Rizzini
(1946), etc. Uma série significativa de estudos teóricos, ainda hoje reeditados, é
integrada por Danton Jobim (1957), Luiz Beltrão (1960), Carlos Lacerda (1990)
e Barbosa Lima Sobrinho (1997)15. Deve-se lembrar, ainda, a obra de Afonso de
Arinos de Melo Franco, Pela liberdade de imprensa16. A partir dos anos 1960,
com cerca de meia centena de títulos, José Marques de Melo é, indiscutivelmente,
o pesquisador mais produtivo e qualificado de todo o país, discípulo de Luiz
Beltrão, seu seguidor e difusor, e também permanente incentivador de todas as
gerações que se sucederiam, não apenas no campo do jornalismo quanto no de
todas as demais práticas da comunicação social17.

Cursos de Comunicação
A história dos cursos de Comunicação sempre esteve marcada por uma crise
permanente, traduzida na reformulação constante dos currículos a serem
cumpridos pelas faculdades. Em uma perspectiva bastante crítica, Eduardo
Meditsch mostra que, desde a primeira proposta de criação de um curso de
Jornalismo no Brasil, até as atuais escolas de Comunicação, com suas habilitações,
a elaboração dos currículos enfrenta o dilema entre orientar os cursos no sentido
13 O material encontra-se guardado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e microfilmado, podendo ser
consultado a partir de BERTOLETTI, Esther – Periódicos brasileiros em microforma. Catálogo coletivo. 1981.
A INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação homenageia o pioneiro
com o nome de REDE ALCAR – relativo a Alfredo de Carvalho – o conjunto de pesquisas que se desenvolve
atualmente, em nível nacional, sobre a história da imprensa brasileira, preparando o seu segundo centenário,
que ocorre em 2008.
14 BARBOSA, Rui – A imprensa e o dever da verdade, São Paulo, EDUSP/COM-ARTE, 1990. A conferência
seria pronunciada no dia 15 de janeiro de 1920, quando de visita do autor ao Abrigo dos Filhos do Povo. Rui
Barbosa, doente,não pode comparecer à cerimônia, mas o texto foi lido por João Mangabeira. O autor entregou
os originais para que fossem editados em benefício da entidade. Hoje em dia, pode-se ler, ainda, sobre a imp-
rensa, os textos integrados aos volumes 25 (1898), 26 (1899) e 27 (1900), das Obras completas, publicadas pelo
Ministério de Educação e Cultura, através da Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro.
15 JOBIM, Danton – Espírito do jornalismo, São Paulo, EDUSP-COMARTE. 1992; LACERDA, Carlos – A
missão da imprensa, São Paulo, EDUDSP/COMARTE.1990; LIMA SOBRINHO, Barbosa – O problema da
imprensa, São Paulo, EDUSP/COMARTE. 1997.
16 MELO FRANCO, Afonso Arinos de – Pela liberdade de imprensa, Rio de Janeiro, José Olympio. 1957.
17 Ver, a propósito, MELO, José Marques – vestígios da travessia. Da imprensa á internet. 50 anos de jornal-
ismo, São Paulo, Paulus. 2009, em que o autor revisa criticamente sua trajetória de vida e acadêmica.

40
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

profissionalizante, para formar mão-de-obra especializada, ou no sentido teórico-


crítico, para formar agentes capazes de uma intervenção transformadora na
realidade social18.
Para ele, foi a preocupação em diplomar burocratas, e não em atender às
necessidades do Jornalismo brasileiro, que levou as autoridades brasileiras a criar
o primeiro curso de Jornalismo no país, na década de 1940. Daí a tendência
beletrista daqueles primeiros cursos, inclusive de uma frustrada tentativa de
Anísio Teixeira, na Universidade do Distrito Federal (na época, o Rio de Janeiro),
ainda nos anos 1930, o que só se encerraria, em tese, nos anos 1960.
A primeira proposta, realizada no I Congresso Brasileiro de Jornalistas, de
1918, resultou na criação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e defendeu
um curso eminentemente prático, montado a partir de um jornal-laboratório19.
A proposta repetia, de certo modo, a idéia de Gustavo de Lacerda, idealizador
de uma Casa do Jornalista, em 1908, que abrigaria um Clube de Repórteres
e também uma Escola de Jornalismo: Lacerda pretendia, com isso, resolver o
descompasso entre os jornalistas intelectuais, que vinham das classes médias, com
excelente formação cultural, e a dos candidatos populares a jornalista, que não só
desconheciam a própria profissão, sem ter oportunidade de nela formar-se nem
teórica nem praticamente, quanto evidenciavam baixo nível cultural. Lacerda
faleceu sem ver seu sonho concretizado, mas o Congresso dos Jornalistas de 1918
retomaria sua idéia20.
O mesmo modelo inspirou a pioneira escola de Cásper Líbero, a partir
de 194321, concretizada em 1947. A última tentativa de desenvolver um curso
semelhante, na Universidade de Brasília, foi interrompida em 1965, graças ao
golpe militar do ano anterior.
José Marques de Melo lembra que, depois da experiência da Universidade
do Distrito Federal, seguiu-se um decreto de 1943, que instituía formalmente
o Curso de Jornalismo, e um outro, de 1946, que estabelecia as normas de
funcionamento para esse curso22.
18 MEDISTCH, Eduardo – “A questão curricular: Do impasse à reinvenção” in MELO, José Marques (Org.) –
Ensino de comunicação no Brasil: Impasses e desafios, São Paulo, ECA/USP. 1987, mimeo, p.22.
19 MEDITSCH, Eduardo – “A qualidade do ensino na perspectiva do jornalismo: Dos anos 1980 ao inicio do
novo século” in KUNSCH, Margarida M. Krohling (Org.) – Ensino de comunicação – Qualidade na formação
acadêmico-profissional, São Paulo, INTERCOM/ECA-USP/Associação de Apoio à Arte e Comunicação. 2007,
p.127 e ss.
20 MELO, José Marques de – “O campo acadêmico da comunicação: História concisa” in MELO, José
Marques de (Org.) – Pedagogia da comunicação: Matrizes brasileiras, São Paulo, Angellara. 2006, ps. 19 e 20
21 Político, empresário e editor, proprietário, dentre outros, do jornal A Gazeta, Gazeta desportiva e Rádio
Gazeta, Cásper Líbero, pouco antes de falecer, em agosto de 1943, registrou em cartório um testamento em que
criava a primeira escola de jornalismo do país (in MELO, José Marques de – “Cásper Libero, pioneiro do ensino
de jornalismo no Brasil” in MELO, José Marques de (Org.) – Transformações do Jornalismo brasileiro – ética e
técnica, São Paulo, INTERCOM. 194, p.13.
22 MELO, José Marques de – “O ensino do jornalismo” in MELO, José Marques de (Org.) – O Ensino do

41
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

Após a criação da Faculdade Cásper Líbero, em 1947, segue-se o da


Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, em 1948; a Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) abriu seu Curso de
Jornalismo no dia 31 de julho de 1951, sob a égide da Faculdade de Filosofia23,
vindo a transformar-se em Faculdade de Comunicação Social em 1999, depois de
se independizar, enquanto Escola de Jornalismo, em 1964, e tornar-se Faculdade
dos Meios de Comunicação Social, em 1965. A Universidade Católica de
Pernambuco cria seu curso de Jornalismo em 1961, coordenado por Luiz Beltrão;
a Universidade de Brasília inicia sua Faculdade de Comunicação de Massa, em
1963, e, em 1966, a Universidade de São Paulo cria a Escola de Comunicações e
Artes (ECA).
Contrariando Luiz Beltrão e José Marques de Melo, contudo, Sérgio Mattos
escreve:
“O ensino de jornalismo no Nordeste não foi iniciado no ano de 1959;
tampouco os primeiros jornalistas profissionais nordestinos a portarem
título universitário colaram grau em 1961. Isto porque, historicamente,
a Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia aprovou o seu
Regimento Interno, em sessão do Conselho Universitário de 28 de abril de
1949 e nele foi inserido o curso de Jornalismo, instalado no ano de 1950
com grande afluência de candidatos. O Ministro da Educação, na época,
era o baiano Clemente Mariani que facilitou a instalação do curso durante
o reitorado de Edgard Santos. Os primeiros bacharéis em Jornalismo pela
Universidade Federal da Bahia colaram grau em 1952, quando 64 dos
quase 120 ingressos, concluíram o curso (...) No período de 1953 a 1961, o
curso de jornalismo da UFBA ficou sem funcionar, voltando a ser oferecido
em 1962. Nesse intervalo surgiu, em Salvador, o Instituto de Jornalismo
da Bahia – fundado por Germano Machado, Hermano Gouveia Neto e
Antonio Virgílio Sobrinho – que entre 1950 e 1964 ministrou vários cursos
práticos de jornalismo de curta duração”24.
É a partir de então que os cursos vão sendo organizados, podendo-se
distinguir três diferentes momentos quanto à sua evolução:
a) de 1946 a 1960 – surgimento das primeiras escolas de Jornalismo com
implantação de metodologias européias e norte-americanas;
b) de 1961 a 1969 – coincide com o funcionamento do CIESPAL na América
Latina, introduz novos parâmetros de ensino do Jornalismo e a mentalidade da
jornalismo – Documentos da IV Semana de Estudos de Jornalismo, São Paulo, ECA/USP. 1972, p. 9.
23 CLEMENTE, Elvo – “O curso de Jornalismo” in DORNELLES, Beatriz (Org.) – PUCRS – 50 anos for-
mando jornalistas, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2002, p. 14.
24 MATTOS, Sérgio – “Ensino de jornalismo: Sem a integração teoria/prática não haverá solução” in MELO,
José Marques de (Org.) – Transformações do jornalismo brasileiro: Ética e técnica, op. cit., p. 29.

42
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

pesquisa científica;
c) de 1969 aos nossos dias, após a regulamentação da profissão de Jornalista,
que torna a profissão privativa de quem detenha o diploma. É nesta etapa que as
antigas escolas e cursos se transformam em Faculdades e quando o Jornalismo é
genericamente englobado na Comunicação Social, com raras exceções25.

Diferentes currículos
O beletrismo marcou o primeiro currículo mínimo oficial, através do parecer do
Conselho Federal de Educação, de n. 323/1962, e também o segundo, através
do parecer n. 984/1965, ainda que já se pudesse divisar o início da passagem
para uma visão técnico-científica, sob a influência norte-americana da reforma
universitária que começava a se implantar no país, através do Acordo MEC/
USAID. O terceiro currículo, instituído pelo parecer n. 631/1969, denominado
por Eduardo Meditsch como fase positivista, introduz o curso de Comunicação
Social e reduz o papel e o significado do Jornalismo, diluído em meio a outras
habilitações e sob uma proposta pseudo-abrangente de preparar um profissional
múltiplo, o que acabou desagradando a todos, empresários da área e profissionais
em geral. Seguiu-se o currículo de 1979, que ele denomina burocrático: elaborado
originalmente pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa de Comunicação
(ABEPEC), foi distorcido e mereceu severas críticas da União Cristã Brasileira de
Comunicação (UCBC). Esse currículo intensificou a tendência à especialização,
e só foi rediscutido em 1984.
Seguiu-se o currículo desenvolvido a partir do parecer nº. 1203/1977, que
propõe aliar a formação teórica ao aspecto prático do ensino e ao fornecimento ao aluno,
do instrumental teórico e técnico de intervenção26. Esse currículo teve modificação
parcial no ano seguinte e foi substituído por um quinto currículo, graças ao
parecer nº. 480/1983, resultado de trabalho de uma comissão de especialistas
criada pelo Ministério de Educação. O principal aspecto deste novo currículo é
a obrigatoriedade quanto a certos quesitos de infra-estrutura que as Faculdades
devem cumprir, visando a melhoria qualitativa da formação profissional.
Segundo esse currículo, a função do Jornalismo está caracterizada pela
produção de informações, notícias, matérias, escritas ou faladas, contendo ou
não comentários, com correção redacional e adequação de linguagem, contando
com serviços técnicos como arquivos, pesquisas de dados, distribuição gráfica de
textos, fotografias, ilustrações, desenhos, sendo elaboradas para quaisquer veículos
25 A exceção mais polêmica e conhecida é a da Universidade Federal de Santa Catarina, que possui um curso
de Graduação em Jornalismo e que, no ano de 2007, acaba de instalar um Mestrado em Jornalismo, em nível
de Pós-Graduação.
26 MOURA, Cláudia Peixoto de – O curso de Comunicação Social no Brasil: Do currículo mínimo às novas
diretrizes curriculares, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2002, p. 88.

43
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

de comunicação, com fins de divulgação27.


Depois da sanção da chamada Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira, de 1996, haveria ainda a proposição de um novo currículo para os
cursos de Comunicação Social, aí incluído o Jornalismo, em 1998, através
da Portaria Ministerial nº. 54, parcialmente modificada no ano seguinte e,
finalmente, homologada em 2001, através do parecer nº. 492, do Conselho
Nacional de Educação.
Periodicamente, empresas jornalísticas e até mesmo autoridades, inclusive
do Judiciário, tentam desobrigar do diploma, conforme o Decreto-Lei nº. 972,
de 17 de outubro de 1969, aos profissionais de jornalismo. Comenta Meditsch:
“As empresas que reclamam o fim dos cursos de Comunicação e, com isso,
pretendem alcançar o monopólio não só do fazer, mas também do saber-fazer
geralmente investem muito pouco no aperfeiçoamento de seus profissionais,
quando não impedem que eles exerçam suas capacidades, negando-lhes as
mínimas condições de trabalho para tanto”28.
Desde 1990, o Brasil vem enfrentando a chamada guerra do canudo29,
quando o então Presidente Fernando Collor de Mello iniciou seu projeto
desregulamentador, retirando as legislações de 15 profissões. Mais tarde,
recuperado o status profissional, a juíza Carla Abrantkoski Rister, a partir de
uma demanda do Ministério Público de São Paulo, voltou a incidir sobre a
legislação profissional, desobrigando o diploma. Entre marchas e contramarchas,
formalmente, no país, no momento em que se escreve este artigo, a profissão,
regulamentada pela lei nº. 6612, que revogava o decreto-lei 972, de 17 de
outubro de 1969, e que sempre causava constrangimentos aos profissionais, por
ter sido editada durante o período da Junta Militar que governou logo após a
morte do General Costa e Silva, está desobrigada de ser cumprida pelos órgãos de
comunicação social do país. Derrubada recentemente a chamada lei de imprensa
e também decidida, pelo STF, a não-obrigatoriedade do diploma para o exercício
do jornalismo, aguarda-se, no momento, a tramitação de emenda constitucional,
a ser votada pelo Congresso Nacional, que reinsere tal obrigatoriedade na
própria Carta Magna da nação. A título de ilustração, é bom lembrar-se que, no
Brasil, a regulamentação da profissão antecedeu a criação dos próprios cursos de
Jornalismo 30
A primeira revista especializada, em nível acadêmico, sobre o fenômeno
27 MOURA, Cláudia Peixoto de – O curso de Comunicação Social..., op. cit., p.123. O livro apresenta ainda,
em seu Anexo 2, utilíssima “Cronologia do Ensino de Comunicação Social no Brasil”
28 MEDITSCH, Eduardo – “A questão curricular: Do impasse à reinvenção”, op. cit., p. 32.
29 SCHROEDER, Celso – “A guerra do canudo” in DORNELLES, Beatriz (Org.) – PUCRS – 50 anos for-
mando jornalistas, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2002, p. 95 e ss.
30 AFONSO, Maria Rita Teixeira – “Ensino: Sonhos e pesadelos do curso pioneiro” in MELO, José Marques de
(Org.) – Pedagogia da comunicação: Matrizes brasileiras, São Paulo, Angellara. 2006, p. 37 e ss.

44
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

comunicacional, nasce no Curso de Jornalismo da Universidade Católica


de Pernambuco, graças a Luiz Beltrão, que alcançara oficializá-lo em 1960 e
conseguira sua autonomia no ano seguinte. Tratava-se de “Comunicações &
Problemas”, publicada pelo Instituto de Ciências da Informação (Icinform), que
também fora criado por aquele pesquisador. Instalado no dia 13 de dezembro de
1963, comemorou assim a formatura da primeira turma do curso de jornalismo
daquela universidade, que então tinha apenas três anos de currículo31. É a partir
deste conjunto de estudos pioneiros que, mais tarde, surgirá a inspiração de Luiz
Beltrão para a formulação da teoria da Folkcomunicação32 , que ele consubstanciará
mais tarde, em sua tese de doutoramento33.
Quanto às demais áreas de atividades da Comunicação social, podemos
começar com a Publicidade e a Propaganda.

Publicidade e propaganda
Para muitos, a história da Publicidade e da Propaganda também se inicia em
1808, com o jornal Gazeta do Rio de Janeiro34. Esse periódico teria publicado o
mais antigo anúncio de que se tem notícia no país, a respeito de aluguel e venda
de casas. Ao mesmo tempo, já em sua primeira edição, divulgava publicações que
a Imprensa Régia estava preparando para lançamentos imediatos. Por volta de
1860, com o desenvolvimento urbano, começam a surgir os primeiros painéis
e placas de rua, bulas de remédios e panfletos de propaganda. Em 1875, os
jornais “Mequetrefe” e “O Mosquito” inauguram os reclames ilustrados (p. 133).
O aparecimento das revistas ilustradas, a partir de 1900, facilita a expansão do
anúncio.
A profissionalização do campo da Publicidade se inicia nos anos 1930,
quando já havia meia dúzia de agências no Brasil, dentre elas a Eclética (fundada
em 1914), a Edanee, a Valentin Harris, a Pedro Didier/Antonio Vaudagnoti e a
Pettinatti, todas operando desde antes dos anos 192035. Neusa Demartini Gomes
31 NÓBREGA, Maria Luiza – “INCINFORM – Uma experiência pioneira” in MELO, José Marques de et
GOBBI, Maria Cristina (Org.) – Gênese do pensamento comunicacional latino-americano: O protagonismo
das instituções pioneras, São Bernardo do Campo, UMESP/UNESCO. 2000, p.157 e ss.
32 CARVALHO, Samantha Viana Castelo Branco Rocha – “Luiz Beltrão: Da criação do INCINFORM à
teoria da folkcomunicação” in MELO, José Marques de et GOBBI, Maria Cristina (Org.) – Gênese do pen-
samento comunicacional latino-americano: O protagonismo das instituções pioneiras, São Bernardo do Cam-
po, UMESP/UNESCO. 2000, p.193 e ss.
33 BELTRÃO, Luiz – Folkcomunicação. Um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos
e expressão de idéias, Porto Alegre, EDIPUCRS. 2001.
34 CARDOZO, Missila Loures; GOBBO, Sonia Maria et ARAÚJO, William Pereira de – “ESPM: A pioneira
escola de propaganda” in MELO, José Marques (Org.) – Pedagogia da comunicação: Matrizes brasileiras, op.
cit., p. 133.
35 GOMES, Neuse Demartini – “A comunicação publicitária no Brasil: Mercado, ensino e pesquisa” in LOPES,
Maria Immacolata Vassallo de; MELO, José Marques de; MOREIRA, Sônia Virgínia et BRAGANÇA, Aníbal
(Org.) – Pensamento organizacional brasileiro, São Paulo, INTERCOM.2005, p. 118 e ss.

45
Antecedentes, desenvolvimento e desafios do campo acadêmico da Comunicação

afirma que a primeira empresa anunciante regular foi a Bayer, com sua aspirina.
Em boa parte, contudo, esses primeiros anúncios vinham prontos dos Estados
Unidos. A chegada, em 1926, da General Motors, fabricante de automóveis,
trouxe consigo um conjunto de profissionais para o seu departamento de
Publicidade, que viriam a formar a Walter Thompson do Brasil, em 1929, à qual
a GM entregou sua conta (p. 118). Em 1930 foi a vez da N. W. Ayer & Son
instalar-se no país, tendo entre seus clientes a General Electric.
Pode-se afirmar que o aprendizado da Publicidade foi prático, do mesmo
modo que o de Jornalismo, porque primeiro aprendia-se a fazer e só muito mais
tarde começaram a surgir as escolas e os regramentos básicos da atividade36,
constituindo o que Neusa Demartini Gomes identifica como modelo americano
e modelo europeu, os quais embaralhamos na prática (p. 157).

36 GOMES, Neusa Demartini – “Pensando o ensino de publicidade e propaganda: Contribuições da academia


e do mercado para uma melhor sintonia” in KUNSCH< Margarida M. Krohling (Org.) - Ensino de comuni-
cação: Qualidade na formação acadêmico-profissional. São Paulo, INTERCOM-ECA/USP-ARCO. 2007, p.
155 e ss.

46
CAPÍTULO 3

Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade

José Marques de Melo1

Introdução
Mais antiga sociedade científica em atuação no país no campo da Comunicação,
a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)
surge e progride no quadro de consolidação das ciências da comunicação como
área científica, decorrente também da atuação de outras associações científicas
e acadêmicas fundadas no apagar das luzes dos anos sessenta e limiar dos anos
setenta do século passado.
A primeira entidade aglutinadora de estudiosos da comunicação no Brasil
foi a Associação dos Amigos do Icinform, sigla do Instituto de Ciências da
Informação, criada por Luiz Beltrão, em Brasília, nos idos de 1966-67. Apesar
da existência de núcleos ativos em Brasília, Recife, São Paulo e Porto Alegre,
o agrupamento dissolveu-se na esteira dos acontecimentos que determinaram a
extinção do próprio Icinform2.
Logo em seguida, fundou-se em São Paulo (1969) uma associação voltada
para o estudo da comunicação eclesial. Trata-se da UCBC, sigla da União
Cristã Brasileira de Comunicação Social. Embora persista até os dias de hoje foi
perdendo, no correr do tempo, o caráter inicialmente analítico e reflexivo para se
tornar um núcleo militante de formação e produção.
Na seqüência, surgiu a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
Comunicação (ABEPEC), criada em 1972, em São Paulo, cuja plataforma de
atuação foi pouco a pouco sendo implodida pela convivência pouco harmoniosa
entre professores e donos de escolas. Cinco anos depois de fundada, essa
associação perdeu a legitimidade, sendo substituída por duas entidades nacionais:
a Intercom (que subsiste até hoje), reunindo pesquisadores desde 1977, e a
ABECOM, associação de escolas e faculdades, fundada em 1984, mas desativada
paulatinamente. A seguir vieram: COMPÓS, 1992; Socine, 1996; Folkcom,
1998; Forcine, 2000, Rede Alcar, 2001 e SBPJor, 2003. As mais recentes são
a Ulepicc- Brasil 2004; FNPJ, 2005; Abrapcorp, 2006; ABciber, 2006; e
Compolítica, 2006.

1 Diretor-Titular da Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação, integrou a equipe de docentes fundadores


da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Presidente da Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação – Intercom (2005-2008).
14. A última edição da revista Comunicações & Problemas (n. 11/12, 1969, 0. 232) noticia um encontro des-
sas “sessões regionais” do Icinform, com indicação de ações planejadas para o Rio de Janeiro, São Paulo e Belo
Horizonte.

47
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade

Motivada pela fragilidade institucional da área de Comunicação, como


decorrência da fragmentação do campo de estudos, a Intercom promoveu,
durante o XXX Congresso de Ciências da Comunicação, em Santos, São Paulo
(agosto/2007), o I Fórum das Sociedades Científicas da Comunicação, com o
objetivo de abrir um diálogo entre as referidas entidades. Ao final, foi constituída
a Socicom, federação destinada a representar, de modo articulado, os interesses
da área frente aos órgãos públicos e privados, contribuindo para a formulação
consensual de uma política científica, tecnológica e de inovação.

Perfil
Constituída por mais de mil associados de todas as regiões do país ou residentes
no exterior, a Intercom é uma associação científica, interdisciplinar, sem fins
lucrativos, destinada a congregar professores, pesquisadores e profissionais, bem
como a prestar serviços à comunidade. A associação foi fundada em São Paulo,
a 12 de dezembro de 1977 e reconhecida como instituição de utilidade pública
pela Lei Municipal nº 28.135/89. Participa das redes nacionais de sociedades
científicas capitaneada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC) e pela Federação das Sociedades Científicas Nacionais de Comunicação
(Socicom). Está integrada às redes internacionais de Ciências da Comunicação
como entidade representativa da comunidade acadêmica brasileira:
1. Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación
(ALAIC),
2. International Association for Media and Communication Research
(IAMCR),
3. International Federation of Mass Communication Associations (IFCA)
4. Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (LUSOCOM)
Cada sócio da Intercom está nucleado por afinidade temática, num dos
Grupos de Pesquisa (GPs) estruturados sob a forma de redes nacionais que
estudam fenômenos específicos – Gêneros Jornalísticos, Telenovelas, Culturas
urbanas, Conteúdos Digitais, Cibercultura, etc. – ou tratam de áreas do saber
comunicacional - Comunicação Audiovisual, Organizacional, Folkcomunicação,
Jornalismo, Propaganda , Semiótica, Fotografia, Tecnologias, Teorias da
comunicação, entre outras.
Suas atividades anuais mobilizam os associados de todo o país. A principal
é o Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom Brasil),
megaevento pluritemático, freqüentado por toda a comunidade científica da
área. Mas a associação promove também encontros intra-regionais de estudantes
e professores, denominados Congressos Regionais de Ciências da Comunicação,
48
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade

conhecidos como Intercom Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul.


Da mesma forma, existem outras atividades periódicas, como por exemplo
os Colóquios Bi-Nacionais de Ciências da Comunicação – reuniões de trabalho
das equipes: Brasil/França, Brasil/Espanha, Brasil/Portugal, Brasil/Itália, Brasil/
Dinamarca - ou americanos: Brasil/México, Brasil/Canadá, Brasil/Estados
Unidos, Brasil/Argentina e Brasil/Chile. Os Seminários Temáticos são eventos
realizados em parceria com universidades, empresas e organizações sociais para
debater temas da agenda pública.
A partir de 2007, ocupou papel de realce na agenda o Café INTERCOM,
que corresponde a eventos promovidos em parceria com a FNAC (São Paulo e
Curitiba), Biblioteca Nacional (Rio) e outras instituições para o lançamento de
livros ou para a realização de palestras.
A linha de publicações tem constituído fator-chave para a legitimação
acadêmica da entidade. A Intercom Edições vem lançando livros, anais, coletâneas,
bibliografias, monografias produzidos pelos associados, organizados em seis
coleções accessíveis na “Livraria Virtual”. É editada também a INTERCOM –
Revista Brasileira de Ciências da Comunicação – o mais antigo periódico da área,
detentor do conceito elevado no Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia.
Circulando há 30 anos, cada semestre, em formatos impresso e digital, essa revista
vem sendo financiada continuamente pelos Ministérios da Educação (MEC) e da
Ciência e Tecnologia (MCT).
Catalisando os interesses de públicos segmentados, a Intercom instituiu
várias redes acadêmicas: Portcom, Expocom, Intercom Junior e Intercom Jovem.
A Rede de Informação em Ciências da Comunicação nos Países de Língua Portuguesa
(Portcom) forma um banco de dados que registra as fontes do saber comunicacional
produzido no Brasil, em Portugal e nos países de língua portuguesa da África e
Oceania. A Rede de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) possui
amplitude inter-regional, incentivando a melhoria de qualidade dos projetos
laboratoriais desenvolvidos pelos estudantes de graduação. Por sua vez, a
rede Intercom Junior destina-se a aglutinar estudantes dos cursos de graduação
engajados ou interessados em projetos de iniciação científica. Enquanto isso, a
rede Intercom Jovem pretende atualizar e complementar a formação acadêmica dos
egressos dos cursos de graduação, bem como dos jovens docentes que pretendem
desenvolver projetos no campo da Comunicação.
Cinco Prêmios, outorgados anualmente, despertam interesse coletivo. O
Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação é disputado por pesquisadores
e instituições. Enquanto o Prêmio Vera Giangrande é cobiçado por Estudantes de
Graduação e o Prêmio Ligia Averbuck por Estudantes de Especialização, foram
instituídos o Prêmio Francisco Morel, para Mestrandos e o Prêmio Freitas Nobre,

49
Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade

para Doutorandos.
Enquanto associação acadêmica comprometida com os destinos da sociedade
a que pertence e na qual atua responsavelmente, a Intercom tem vivido, nos
últimos anos, um período de transição institucional. Trata-se de processo balizado,
no plano externo, pela débâcle do mundo socialista e a conseqüente ascensão
dos Estados Unidos à condição de potência hegemônica. E, no plano interno,
pelo fortalecimento da democracia e pela alternância do poder republicano.
Esse quadro produziu as condições para a ascensão, pela primeira vez na nossa
História, de um partido político enraizado no mundo do trabalho, tendo que
pactuar com as elites até agora dominantes a posse do poder constitucional, que
lhe fora outorgado pelos cidadãos, através de eleições livres e soberanas.

Unidade na diversidade
O papel vanguardista da Intercom tem se caracterizado também pelas iniciativas
destinadas a romper as muralhas do gueto acadêmico, logrando maior interação
com a sociedade.
O balanço do último quinquênio indica que a associação rapidamente vem
alcançando resultados animadores. Nesse panorama, a dinamização dos Grupos
de Pesquisa, realizada pela atual diretoria, vem neutralizando a tendência inercial
que caracteriza muitos deles, convertidos em espaços receptores e seletores de
papers para exposição e debate durante o congresso anual. Pretende-se converter
os GPs em instâncias indutoras de estudos e pesquisas, criando redes integradas
que atuem coletivamente, no sentido de produzir conhecimento relevante para a
sociedade.
Para tanto, avaliou-se criteriosamente a estrutura do congresso anual,
criando oportunidades destinadas a atrair a participação dos jovens profissionais
que ingressam no mercado de trabalho e sentem necessidade permanente de
reciclar seu referencial cognitivo. Por sua vez, a seleção dos trabalhos inscritos
vem obedecendo a critérios de relevância social, inovação profissional e interesse
público. Boa parte da produção acumulada nas universidades vem sendo
direcionada para os Congressos Regionais, com periodicidade anual.
As parcerias estabelecidas com as Organizações Globo garantiram a presença
de profissionais jovens de todo o país nos seminários temáticos sobre Gestão de
indústrias midiáticas e sobre Indústrias do entretenimento, realizados anualmente,
no Rio de Janeiro.
Com a expectativa de neutralizar a babel terminológica, construindo bússola
taxionômica, a associação mobilizou a comunidade nacional para radiografar os
usos e costumes vigentes no Brasil, produzindo a “Enciclopédia Intercom de

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Intercom: 33 anos de pluralismo, soberania e liberdade

Ciências da Comunicação”. A idéia inicial pretendeu resgatar o projeto histórico


“Temas Básicos em Comunicação” (1983). Outras iniciativas nos segmentos da
epistemologia e lexicologia continuam a desafiar a imaginação da nossa vanguarda
acadêmica.
Instalada em sede própria, na cidade de São Paulo, a Intercom mantém dois
auditórios: o Intercom Brigadeiro e Intercom Pinheiros para a realização de cursos,
seminários, colóquios e debates, todos organizados com a finalidade de prestar
serviços aos seus associados e à sociedade brasileira. Além disso, mantém uma
página web (www.intercom.org.br) onde os interessados poderão acompanhar
com mais detalhes as informações disponibilizadas neste texto.

51
52
CAPÍTULO 4

A História da Compós – lógicas e desafios

José Luiz Braga1

Introdução
No dia 16 de junho de 2011, a Associação Nacional dos Pós-Graduações em
Comunicação (Compós) completa 20 anos.
Qual o sentido de escrever a história de uma instituição? A memória, a
informação, a compreensão do sucedido, a reafirmação dos movimentos
fundadores, a inscrição de um percurso nos contextos em que a ação se organizou,
o entendimento das energias e as motivações que convergiram para produzir algo
que não existia.
Certamente, por tudo isso se escreve a história. Mas também se escreve
porque a compreensão do presente é iluminada pela percepção do passado, e para
com ela produzir o futuro. Para assegurar que a história não acontece – se faz.
Lembrar a história é lembrar que a cada momento podemos continuar fazendo
história.
Dentre as várias perspectivas viáveis para apreender a história da Compós,
parece-nos que entendê-la como apreensão do presente e reflexão sobre o futuro
seria o movimento mais motivador. Nessa perspectiva de aproximação, buscamos
as lógicas básicas que deram motivação e substância para a fundação ou se
constituíram na processualidade de sua história. A explicitação das dinâmicas que
caracterizam a Compós deve dar sentido à memória da origem, apreender os
encaminhamentos do presente e explicitar os desafios para a continuação.

O contexto da criação
O contexto acadêmico da área, no início dos anos 90, era favorável a iniciativas de
aproximação e intercâmbio. Ocorria então em diversos estados, para além daqueles
em que se concentrava a área, o planejamento de novos programas, decorrente do
desejo de pesquisadores e universidades de participar do ambiente reflexivo então
restrito a poucos programas de Pós-Graduação (PPGs). O programa mais recente
dentre os sete existentes, o da UFBA, tinha chegado ao grupo com uma dinâmica
voltada para o intercâmbio e para o desenvolvimento e consolidação da área de
conhecimento. Os programas estabelecidos também buscavam, em sua maioria,
rever processos e construir novos contatos. A Compós foi resultante direta dessa
1. Professor da Unisinos. Foi Presidente da COMPÓS, gestão 1993-95.

53
A História da Compós – lógicas e desafios

movimentação – e se implantou no momento eficaz para representar e articular


os esforços, estimulando sua convergência e ampliação.
Nesse contexto, a iniciativa de reunir os representantes dos programas foi dos
professores Antonio Fausto Neto e Sérgio Dayrell Porto, na época representantes
da área de conhecimento, respectivamente, junto ao CNPq e à CAPES. O Estatuto
votado na fundação referenda a sintonia com o momento, na seguinte proposição:
“[oferecer] apoio pertinente a cursos de pós-graduação em implantação...” (Art.
4º, alínea “c”) – prefigurando assim os 20 anos subseqüentes.

Fundação: Intercâmbio
A Compós foi fundada em dois movimentos, o primeiro levando quase
naturalmente ao segundo. No dia 20 de março de 1991, em Goiânia, representantes
dos sete programas de pós-graduação em Comunicação então existentes decidiram
a criação de um Fórum dos Programas de Pesquisa e Pós-Graduação do Campo
da Comunicação “como instrumento de integração e interação contínua dos
programas de pós-graduação em Comunicação em existência no país” (da Ata de
criação do Fórum). Foi criado um grupo de trabalho para encaminhar propostas
sobre formas para consolidar o processo de integração. Definiu-se imediatamente
uma segunda reunião para os dias 14 a 16 de junho do mesmo ano, em Belo
Horizonte, a ser acolhida pela UFMG.
Embora a data oficial de fundação seja o dia 16 de junho de 1991, com
a criação da nova Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação (que depois recebeu a sigla Compós), a referência a essa preparação
é relevante, pois evidencia, na frase-chave da motivação acima citada, um aspecto
central da dinâmica que a entidade mantém até hoje e lhe garante o perfil de
pluralismo. Tratava-se de assegurar o intercâmbio entre ambientes de produção
de conhecimento da área, como um fórum dos Programas.
O objetivo básico da associação só se realiza como efetiva interação na medida
em que o poder decisório se distribui igualmente entre todos os associados, que
são os programas e não pessoas isoladas. Este fato não só demarca as motivações de
origem, como também as lógicas de seu desenvolvimento. As demais características
e qualidades da entidade decorrem, direta ou indiretamente, dessa dinâmica
inicial, que se mantém na duração, assegurando pluralismo, participação nacional
e presença junto às agências de fomento com representatividade institucional.
Um ano depois, em 1992, era realizado no Rio de Janeiro, na UFRJ, o
primeiro congresso anual da associação. Foi relevante para sua história, pois aí
se definiu o formato para os debates acadêmicos que passariam a caracterizar
os Encontros da Compós: um grupo de pares, pesquisadores, submetendo seus
trabalhos ao debate dos colegas, assegurando uma processualidade agonística
54
A História da Compós – lógicas e desafios

fundamental para o avanço do conhecimento. Foi expressa uma recusa de basear a


entidade em apresentações “de performance”, que concentrariam a disseminação
de conhecimentos na voz de poucos, os ouvintes se limitando a aprender e
aplaudir. O processo foi assegurado, desde o início, por uma distribuição de
tempo igual para todos os participantes de cada grupo; pela pré-definição de um
colega do mesmo grupo para fazer um relato crítico, e pela especificação de um
tempo generoso para o debate, maior que o da simples exposição. No primeiro
encontro foram também definidos os grupos de trabalho que fariam chamadas de
texto para o II Encontro.
O segundo congresso, em 1993, na UFBA, em Salvador, funcionou nesse
formato que desde então é uma característica central dos encontros. O formato
dos debates, fundante para a constituição do valor científico no ambiente
então constituído, mantém-se como eixo das lógicas de interação acadêmica da
entidade.

Os grupos de trabalho (GTs) e a reclivagem


Havia então poucos grupos, criados a partir de propostas que agregaram
proponentes nos primeiros encontros. O sistema de criação de um grupo, bastante
espontâneo, consistia apenas na proposta de tema e ementa, feita diretamente na
reunião do Conselho – aprovado, o grupo se reunia no ano seguinte. Embora não
se delimitasse o número de participantes, a dimensão do encontro era correlata
ao tamanho da área, com seus sete programas, e poucos outros mais nos anos
seguintes.
A boa produtividade do processo e o interesse despertado entre os
pesquisadores fez rapidamente crescer o número dos participantes. Na IV
Compós (UnB, Brasília) alguns grupos apresentavam um número de participantes
constatado como excessivo, por reduzir o tempo de debate. Alguns grupos
novos foram propostos e imediatamente aprovados para reunião desde o ano
subseqüente.
Em 1996, na V Compós (USP, São Paulo), com a dinâmica mesmo do
crescimento, foi proposta a criação, por diversos colegas, de sete novos GTs – o que
quase duplicaria a dimensão do evento anual. Decidiu-se, na própria reunião do
Conselho durante o evento, que não seria possível criar imediatamente mais que
dois dos GTs propostos. Nos debates intensos que decorreram, uma das críticas
apresentadas à restrição quantitativa foi que a clivagem da área entre poucos GTs
não permitiria abranger a riqueza de sub-áreas e de objetos de interesse do Campo
da Comunicação.
Foi votada, então, a criação de um grupo-tarefa para estudar uma
regulamentação adequada quanto à dimensão; e para propor um encaminhamento
55
A História da Compós – lógicas e desafios

de revisão da clivagem representada pelos GTs existentes.


Juntamente com uma regulamentação cuidadosa do funcionamento dos
GTs – até aí se desenvolvendo com base em práticas consuetudinárias – o grupo-
tarefa encaminhou à reunião do Conselho, em novembro do mesmo ano, uma
proposta que definia o número de GTs e o número máximo de participantes por
GT. Propôs, ainda, uma redefinição coletiva da clivagem então existente, uma
reclivagem experimental a ser feita em 1998 que, na medida de sua eficácia, passaria
a ser repetida a cada quatro anos. Na impossibilidade de ampliar indefinidamente
o Encontro, e para garantir dimensões sustentáveis em operacionalidade,
seletividade acadêmica, qualidade dos debates e viabilidade material, a área se
dotava de flexibilidade para abrir novas frentes e só manter ângulos estabelecidos
quando estes consigam demonstrar ao Conselho sua relevância.
No ano de uma reclivagem, todos os grupos cessam sua continuidade. Para
serem reconduzidos devem ser repropostos e passar pelo crivo de uma seleção,
juntamente com propostas novas. Obteve-se assim a garantia de uma dimensão
compatível com a operacionalidade do rigor, ao mesmo tempo evitando uma
cristalização que arriscaria estagnar a entidade. O fato de que desde então a
reclivagem tenha entrado nos costumes da Compós evidencia a pertinência do
processo.
Na mesma regulamentação foi especificada a importância de que cada grupo
deve interessar diretamente a vários programas de pós-graduação – assegurando
assim o valor de intercâmbio que é uma das metas principais da Compós. Por isso
mesmo os GTs, como ambiente de debate, ultrapassam as pesquisas individuais
ou por tendência, repercutindo em atividades e articulações entre os diferentes
PPGs de que participam os pesquisadores.
O episódio e os processos estabelecidos de reclivagem periódica ilustram bem
uma das dinâmicas da entidade. Algumas atividades desenvolvem procedimentos
ad-hoc, na busca coletiva da eficácia. Quando os gestos são adequados a seus
propósitos, a tendência é criar uma espécie de direito consuetudinário. Quando
surgem tensões ou dilemas, a deliberação conjunta do Conselho formaliza um
novo padrão normativo.

Pluralismo - o processo decisório


Essa mesma dinâmica agonística marca um processo decisório equilibrado entre
os dois órgãos permanentes que conduzem as atividades sistemáticas da Compós
– a Diretoria e o Conselho – assim constituídos desde a fundação. A palavra
final é equilibradamente distribuída entre os Programas, por seus representantes,
conforme a obtenção da maioria de votos. Uma característica que tem assegurado
a flexibilidade democrática do Conselho é o fato, constatado, de que as maiorias
56
A História da Compós – lógicas e desafios

se formam em torno das questões específicas em pauta – sem posições aprioristas.


Isso parece assegurar decisões ponderadas e com boa pertinência para as questões
encaminhadas e para as decisões em geral.
Na fundação, o Conselho era composto por dois representantes de cada
PPG. Com sete Programas (e, na década de 90, com um crescimento paulatino),
dois representantes por PPG ofereciam uma diversidade necessária de reflexões
e de posições, para obter boas deliberações. Com o crescimento exponencial do
número de Programas, essa estrutura estatutária arriscava gerar um Conselho
com dimensão excessiva, em que as deliberações se confundiriam no número de
vozes e no surgimento de micro-diferenças. Além disso, o custo para o número
crescente de participantes dificultava a operacionalidade do Conselho.
Por proposta da diretoria (em junho de 2005) o Conselho deliberou por
sua própria redução numérica, para um representante por PPG (modificação do
art. 5º do Estatuto), retomando assim uma dimensão de eficácia. Este episódio
mostra uma prática deliberativa freqüente: a manutenção de continuidade nos
processos essenciais; com flexibilidade, entretanto, para fazer ajustes requeridos
pela modificação das condições.

A Diretoria
A estrutura da Compós se organiza com base nos procedimentos articulados
entre a ação deliberativa do Conselho e a ação executiva da Diretoria. Embora
conduza as reuniões do Conselho, não tem direito a voto nas deliberações. Como
a Diretoria é escolhida pelo Conselho, resulta naturalmente da confiança deste.
A Diretoria é condensada e ágil – apenas três participantes (Presidente, Vice-
Presidente, Secretário Geral). Sua articulação tem sido fundamental – as diretorias
se evidenciam produtivas na medida mesmo de uma articulação mais que apenas
formal entre seus componentes. Este é, também, um indicador de pluralidade:
os diversos PPGs têm fornecido nomes para as diretorias. Nas ocasiões em que
a apresentação de duas chapas levou a uma distinção entre eleitos e não eleitos,
tanto a Diretoria como o Conselho absorveram a decisão sem formação de grupos
clivados de modo apriorístico por essa distinção.
Ao lado das funções político-operacionais, uma diversidade de ações se
realiza, por iniciativa própria da Diretoria, por deliberação do Conselho, ou ainda
por proposta de um ou mais PPGs. Para isso, são criados frequentemente grupos
com atribuições específicas, articulados pela direção. A produtividade da entidade
se amplia, com flexibilidade estrutural.
Com base em procedimentos deste tipo foram realizados diversos
Seminários Interprogramas, reunião de pequeno ou médio porte, assumida por

57
A História da Compós – lógicas e desafios

um dos programas associados, para debate de temas de interesse geral da área. Até
o momento foram realizados cinco Seminários Interprogramas.
Para a divulgação de estudos, a Compós publica desde a criação um livro
anual. Inicialmente, este resultava de uma seleção feita pelos próprios GTs, dentre
os artigos debatidos no ano. Desde 2008, um tema geral, acolhido em Conselho,
gera uma chamada de textos específicos para a publicação. O livro é organizado por
uma Comissão Editorial ad-hoc, escolhida anualmente pelo próprio Conselho.
No início dos anos 2000, no ambiente da Compós, debates sobre
procedimentos de avaliação dos periódicos dos PPGs estimularam o intercâmbio
e a busca de padrões de rigor editorial. Mais recentemente, a revista e-Compós,
definida desde sua implantação como publicação na rede informatizada,
tem se demarcado por sua qualidade, sua procura e sua relevância acadêmica,
imediatamente acessível aos pesquisadores.
Finalmente, e com particular relevância, a Diretoria representa a Compós
perante outras instituições. É o instrumento fundamental para o objetivo
estatutário de refletir e agir sobre políticas acadêmicas em que a Diretoria se
desempenha com a autoridade de falar em nome de todos os Programas de Pós-
Graduação da área, com a sustentação da base deliberativa que é o Conselho.

Políticas acadêmicas para a área


Dois ângulos se constituíram no ambiente de interação nucleado na entidade:
a busca de políticas internas, entre PPGs, gerando linhas de ação transversal; e
junto às agências de fomento. Em cada um dos dois ângulos, uma preocupação
dupla – defender a área, reivindicando e obtendo apoio e qualificar a área por
uma constante discussão de critérios de rigor, de auto-exigência, como consta,
aliás, do Estatuto, desde a fundação. Estas duas ações se apóiam mutuamente. O
diálogo com instituições afins estimula a participação da comunidade acadêmica
nas políticas da área, com repercussões sobre suas atividades de intercâmbio.
A Compós tem sido o ambiente natural para o debate das questões
operacionais, normativas e reflexivas de articulação da área de conhecimento com
as agências nacionais de fomento. No final dos anos 90, início dos anos 2000,
desenvolveu-se uma forte articulação entre a Compós e a representação da área
na CAPES. Sendo esta agência responsável pela avaliação dos programas de pós-
graduação e pesquisa, a lógica básica da avaliação é a de inscrever nos padrões
gerais da CAPES as perspectivas de cada área de conhecimento. O lugar de escolha
para as consultas na constituição dos critérios de área é justamente o Conselho
da Compós, que representa legítima e diretamente os programas. Mesmo quando
as reuniões dos coordenadores e seus representantes não se caracterizam na forma
de Reunião do Conselho, o fato de que sejam as mesmas pessoas, na mesma

58
A História da Compós – lógicas e desafios

função de representação, com suas preocupações em comum, faz repercutir no


ambiente deliberativo da entidade posturas e proposições decorrentes, assim
como, inversamente, posições debatidas pelo Conselho se desenvolvem em
iniciativas dos Programas junto às agências, estimulando sintonias transversais
entre os PPGs.
A presença articulada dos PPGs, na forma de deliberações democráticas e
caracterizadoras das melhores reflexões e dos projetos de qualificação, caracteriza
uma potencialidade de efetiva interlocução com as agências. Essa interlocução se
manifesta tanto nas reivindicações da área, como na convergência com as agências
na busca do aperfeiçoamento acadêmico e da pesquisa.

O Encontro Anual – abrangência e especificidade


No que se refere à produtividade acadêmica e a intensidade do intercâmbio,
o processo nuclear da Compós é, desde o início, o Encontro Anual, congresso
que tem reunido cerca de 120 artigos por ano, de pesquisadores da área, para
apresentação e debate – 12 GTs com 10 participantes cada. Há previsão de
passagem a 14 GTs, na reclivagem de 2010.
A inevitável e necessária seletividade em tal processo não apenas assegura
a presença dos textos com maior grau de prontidão, no momento da seleção,
mas sobretudo funciona como constituição de um padrão crescente de rigor na
produção dos estudos; e de aperfeiçoamento continuado das pesquisas, a partir
do esquadrinhamento feito pelos pares no momento dos debates. Além disso,
o funcionamento dos GTs tem demonstrado outras potencialidades. Embora
alguns GTs se caracterizem por um perfil de especialidade em seus estudos, o
que marca o processo de modo mais abrangente é a própria diversidade potencial
de inscrição de sub-temas e de problematizações variadas dentro do ângulo
principal de cada GT. O debate não se faz, assim, apenas entre especialistas que se
entendem por meias palavras e que falam em radical sintonia. Em coerência com
as características de uma área em construção continuada, a diversidade de ângulos
específicos nos debates de um GT propicia a inscrição de cada trabalho em um
âmbito no qual a pesquisa do autor individual encontra sempre a oferta de novas
perspectivas e desafios.
O encontro das variações não deixa espaço para a mera reafirmação de
proposições – o desafio do “outro ângulo” é um estímulo para o aprofundamento
e a revisão. Uma das grandes potencialidades do ambiente e da processualidade da
Compós nestes 20 anos é certamente o intercâmbio da diversidade, sem redução
apriorística de estímulos investigativos. O Encontro Anual põe em contato
diferentes perspectivas e experiências que vicejam nas linhas de pesquisa e áreas
de concentração dos programas.

59
A História da Compós – lógicas e desafios

Isso permitiu também o encontro das semelhanças, das preocupações em


comum, das perspectivas que podem entrar em sintonia. Melhor que isso, talvez:
tem viabilizado a construção de semelhanças e a busca de sintonias.
De alguns anos para cá, a partir do intercâmbio na Compós, nessa
construção da sintonia, e do ambiente ampliado de intercâmbio entre programas
de pesquisa no país, pesquisadores, estimulados para um aprofundamento da
investigação entre especialistas, sentiram a necessidade de outro ambiente, em que
desenvolveriam enfoques mais especializados. Surgem então variadas entidades
especificamente constituídas em torno de objetos, temas e investigações focadas,
em que as reuniões se fazem com tônica na proximidade maior de especializações.
Esse novo ambiente de circulação e estudos compõe, juntamente com a
Compós, um espaço relevante para a continuidade do desenvolvimento da
área de conhecimento. As entidades especializadas oferecem um ambiente de
aprofundamento, de elaboração de conceitos e métodos voltados para o rigor
no tratamento de seus objetos específicos. É o lugar da constituição de objetos e
tendências específicas.
A Compós, como entidade abrangente, assegura o âmbito do trabalho de
inscrição das especialidades na área de conhecimento, da realimentação mútua,
do teste de segunda instância para as proposições, quando estas devem sair de
seu ambiente de pares na mesma especialidade para entrar no tensionamento do
“próximo”, das perspectivas em que o atrito é que permite o desenvolvimento.
A vocação abrangente da Compós se manifesta, além da busca mesmo
de ângulos diversos que constituem o campo da Comunicação (em suas
possibilidades de diálogo interagente), também na abertura para perspectivas
não diretamente geradas em PPGs. Desde o início, e mantido como abertura
saudável, são aceitos textos de pesquisadores não pertencentes a um Programa
de Pós-Graduação. Essa flexibilidade mantém uma porosidade com outros
ambientes produtivos de conhecimento. No mesmo sentido, embora docentes de
PPGs sejam necessariamente doutores, acolhe-se também artigos de mestrandos e
doutorandos. Em qualquer dos casos, o critério claro de seleção é o da qualidade
do texto e de sua prontidão para o debate.
A participação nesse ambiente de abrangência e diversidade gera a percepção
de que a diversidade não é “domável” por uma teoria unificadora, por teorias
universalizantes excludentes. Daí decorre um estímulo para a diversidade da
pesquisa, como espaço de produtividade e de reflexão coletiva sobre o campo,
exigindo, entretanto, uma ampliação do diálogo entre posições diversas, para
evitar a mera dispersão. A meta da Compós, aqui, não é buscar a explicação
unificadora, mas investir em outras e outras perguntas, na manutenção produtiva
de um lugar de agonística.

60
A História da Compós – lógicas e desafios

Os desafios do futuro
Os desafios, em sua caracterização geral, continuam inscritos nos objetivos
assumidos desde a fundação da Compós. Entretanto, sua forma, sua processualidade
e as estratégias requeridas para seu enfrentamento são constantemente renovadas.
Tais mudanças decorrem de algumas dinâmicas que se manifestam em diferentes
pontos de incidência. O mais evidente é talvez o da avaliação CAPES, que se põe
crescentemente como um instrumento de política institucional nacional para o
desenvolvimento da pesquisa no país, gerando critérios de qualificação e metas
para ombreamento de nível internacional ascendente. O desafio é inicialmente
dos programas, em seu perfil singular, mas pelo conjunto, se torna um desafio
para a entidade representativa.
O CNPq, na ação correlata dos apoios e requisitos qualificadores da
pesquisa, faz complementar, em todos os objetivos da Compós, o requisito da
articulação de processos entre programas. Outro lugar de ação com incidência
direta sobre os processos da entidade é a dinâmica do próprio campo social da
comunicação, que se reformula não apenas na proliferação de novas tecnologias,
mas também e sobretudo nos processos de interação que acionam essas
tecnologias, na invenção social de usos (positivos ou negativos, democratizantes,
dispersivos ou concentradores) sempre a exigir novos olhares, outras teorizações,
investigação empírica mais sofisticada; e portanto novas problematizações e
melhor intercâmbio entre os pesquisadores e entre os programas.
Finalmente, a própria área de conhecimento e pesquisa, nos PPGs, pela
história mesmo de seus processos (da qual a história da Compós é um componente
intrínseco e dinâmico), redesenha de modo constante sua visada, a partir dos
atingimentos parciais, o que permite então antever outros ângulos antes não
suspeitados, novos desafios dentro dos mesmos objetivos abrangentes.
Um desafio, em especial, que se manifesta com clareza na metade da década
é o avanço decorrente das entidades especializadas conforme temas, problemas,
objetos de investigação e/ou bases teórico-metodológicas. Tal avanço demonstra a
maturidade da área, na busca de interlocuções específicas. Correlatamente, deve-
se buscar articulação e intercâmbios de natureza mais complexa que aqueles do
momento da fundação. A Compós comporta um ângulo de aprofundamento,
nos GTs, pelo encontro de uma diversidade relativa dentro do eixo que caracteriza
cada Grupo. No conjunto, pela circulação entre grupos, pela repercussão de
idéias e descobertas entre GTs, pela diversidade de ângulos e presença, a Compós
assegura o âmbito mais geral da área de conhecimento, na qual todos os PPGs
se reconhecem. É relevante, então, desenvolver articulações entre o campo de
abrangência e os campos especializados. Sem os âmbitos de especialização não é
mais possível constituir subáreas sólidas e bem fundamentadas. Sem o âmbito de
abrangência, os enfoques de especificação arriscariam o isolamento e a tautologia.
61
A História da Compós – lógicas e desafios

A Compós deve ser mais que o “lugar de encontro” da diversidade; deve buscar
interlocuções, transversalidades e fecundação mútua entre subáreas.
Esse desafio se duplica na necessidade, hoje fundamental, da busca de diálogo
entre posições teóricas, adoções metodológicas, objetos preferenciais. Não para
um embate excludente, em que cada posição, se pretendendo universalizante,
busque excluir outras posições; nem para a aceitação indiferente de um relativismo
fácil, mas para o tensionamento entre as vertentes, exigindo o desenvolvimento
rigoroso das mais promissoras de compreensão e conhecimento.
Em um primeiro momento, no contexto das origens da Compós, o
intercâmbio necessário, dada a então escassez de diálogo institucional e o
insuficiente ambiente comum a todos, era quase só o de se pôr em contato, o
de gerar aproximação, o de conhecer o que os demais propunham. Que hoje
a necessidade tenha se tornado mais complexa, menos previsível quanto aos
processos requeridos, parece ser, na verdade, uma demonstração da boa perspectiva
inicial, e do fato que esta fez caminho, produziu resultados e pede novos avanços.

62
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em
Comunicação

Itania Maria Mota Gomes,


Julio Pinto e
Ana Carolina Escosteguy1

Introdução
O sistema de Pós-Graduação organiza-se, no Brasil, nos anos 60. A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 4.024/61, no art. 69, refere-se à Pós-
Graduação com dois níveis, o dos cursos de pós-graduação, “abertos a matrícula
de candidatos que hajam concluído o curso de graduação e obtido o respectivo
diploma”, e o dos cursos de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão. Mas a
regulamentação dos cursos de pós-graduação só viria com o Parecer nº 977/65,
do Conselho Federal de Educação, aprovado em dezembro de 1965, com a Lei nº
5.540/68, a Lei de Reforma Universitária, de 28/11/1968, do Regime Militar, e
com o Parecer nº 77/69, que estabelece as normas de funcionamento dos cursos
de pós-graduação.
Do ponto de vista normativo, o Parecer nº 977/65, do Conselho Federal de
Educação, estabelece as bases do que ainda hoje caracteriza o Sistema Nacional
de Pós-Graduação no Brasil. Ele ratifica a distinção entre a pós-graduação sensu
stricto e as especializações, aperfeiçoamentos e demais, define a natureza da
pós-graduação na sua estrita vinculação com a pesquisa científica e tecnológica
e constrói as diretrizes para a organização dos cursos pós-graduados. Tomando
o sistema estadunidense de estudos pós-graduados como referência, o Parecer
nº 977/65 estabelece a pós-graduação em dois níveis, mestrado e doutorado, e
justifica os motivos que requerem a sistematização da pós-graduação no Brasil:
“1) formar professorado competente que possa atender à expansão quantitativa
do nosso ensino superior garantindo, ao mesmo tempo, a elevação dos atuais
níveis de qualidade; 2) estimular o desenvolvimento da pesquisa científica por
meio da preparação adequada de pesquisadores; 3) assegurar o treinamento eficaz
de técnicos e trabalhadores intelectuais do mais alto padrão para fazer face às
necessidades do desenvolvimento nacional em todos os setores”2.
A visão que se destaca do Parecer nº 977/65 é de que a pós-graduação
stricto sensu realiza os fins essenciais da universidade, que abandona uma
1 Itania Maria Mota Gomes (http://lattes.cnpq.br/1249313747086140), Julio Pinto (http://lattes.cnpq.
br/6119752221984025) e Ana Carolina Escosteguy (http://lattes.cnpq.br/9828116606137239) são, respec-
tivamente, presidente, vice-presidente e secretária geral da COMPÓS, no biênio 2009/2011. Agradecemos o
apoio da secretária –executiva da COMPÓS, Valéria Vilas Bôas, na coleta e organização de dados históricos e
estatísticos que utilizamos aqui.
2 Ver Parecer CFE no 977/65, aprovado em 3 dez. 1965 in Revista Brasileira de Educação, nº30, Set /Out /
Nov /Dez 2005, p.165.

63
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

concepção essencialmente voltada ao ensino e à formação profissional para


dedicar-se também à pesquisa científica e tecnológica. A pós-graduação aparece
como condição mesma de consolidação do sistema universitário, visto que só ela
poderia transformar a universidade num centro de pesquisa, ciência e cultura.
A pós-graduação volta-se para estudos e pesquisas avançadas de modo regular
e permanente, para a elaboração de novos conhecimentos e para a atividade de
pesquisa científica e tecnológica inovadora. Mestrados e, em especial, doutorados
são um grau acadêmico de alta competência científica em determinado ramo
do conhecimento e visam objetivos essencialmente científicos. No sistema
universitário, a pós-graduação aparecia como “uma superestrutura destinada à
pesquisa, cuja meta seria o desenvolvimento da ciência e da cultura em geral, o
treinamento de pesquisadores, tecnólogos e profissionais de alto nível” 3.
A implantação sistemática dos cursos pós-graduados, a criação do ambiente
e dos recursos adequados para o desenvolvimento da pesquisa científica e
tecnológica passou a ser objetivo articulado ao espírito de modernização do
Regime Militar e visava criar capacidade para formação dos cientistas e tecnólogos
nas universidades brasileiras. Em que pesem as características da modernização
pretendida pelos militares e as ações de restrição ao livre pensamento e à pesquisa
durante a ditadura, o Sistema Nacional de Pós-Graduação consolidou-se: em
1965, quando da aprovação do Parecer nº 977/65, foram reconhecidos 11 cursos
de doutorado; dez anos depois, o numero dos doutorados chegava a 149; vinte e
três anos depois, em 1998, já existiam 782 programas de doutorado, um número
mais de cinco vezes maior do que o de 1975. No período entre 1998 e 2008
ocorreu um crescimento de 68,8 por cento no numero total de doutorados4.
Considerando dados de 2009, o Brasil tem 40 cursos de doutorado, 1.054
mestrados e 1.391 programas de pós-graduação (mestrado e doutorado), nas mais
diversas áreas do conhecimento.

3 Ver Parecer CFE no 977/65, aprovado em 3 dez. 1965 in Revista Brasileira de Educação, nº30, Set /Out /
Nov /Dez 2005, p.164
4 Doutores 2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira, Brasília, DF: Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos, 2010, p. 63.

64
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

Gráfico 1: Proporção entre mestrados, doutorados e programas de pós-graduação no Brasil

2% 0%

42% Mestrado
Mestrado/doutorado
Doutorado
56%

Fonte: GEOCAPES, Programas de Pós-Graduação por Nível, 2009.

Na Sub-Área de Comunicação (Ciências Sociais Aplicadas I) a expansão


se deu com outras características. Os primeiros mestrados em Comunicação no
Brasil entraram em funcionamento no início da década de 70 e os doutorados
são da década de 80 do século XX. Os dados da Avaliação Trienal 2010/CAPES
mostram que a Comunicação tem hoje 39 Mestrados e Doutorados, sendo 24
Mestrados e 15 Programas de Mestrado e Doutorado, como mostra o quadro
abaixo.

65
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

Quadro 1. Mestrados e Doutorados em Comunicação, por ano de criação e conceito na


Avaliação da Capes5

Fonte: os autores, a partir de dados da CAPES e da COMPÓS

5 Este artigo foi finalizado em setembro de 2010 e, para fins de atribuição dos conceitos dos cursos strito sensu,
toma como referência o Relatório de Divulgação dos Resultados da Avaliação Trienal 2010, publicado pela
Capes em 14 de setembro de 2010. Como o calendário de avaliação prevê um prazo de 30 dias para os pedidos
de reconsideração sobre a Avaliação Trienal, pode haver alguma alteração nos dados até o final de outubro. Para
dados atualizados, após esse período, consultar o site da Capes http://www.capes.gov.br. * O Programa de Pós-
Graduação em Comunicação da Universidade de Marília recebeu conceito 3 na Avaliação Trienal 2007, mas foi
descredenciado pela Capes na divulgação da Avaliação Trienal 2010. Como ainda cabem recursos, adotamos o
procedimento de manter o Mestrado da Unimar no quadro, com o conceito em aberto.

66
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

No final do século XX, existiam 15 Mestrados e Doutorados, sendo sete


Mestrados e oito Programas de Mestrado e Doutorado em Comunicação. Entre
2000 e 2010, 18 Mestrados e seis Programas de Mestrado e Doutorado foram
criados. Os dados mostram que, nesse período, a área cresceu 260 por cento em
termos de oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu.
A área da Comunicação formou 4.991 mestres e 1.719 doutores nos últimos
14 anos6, num total de 6.710 pesquisadores. Se considerarmos que, em 1996, os
PPGs em Comunicação formaram 146 mestres e 54 doutores e que, em 2009,
esses números foram de 506 mestres e 122 doutores, temos uma evolução de
346,7 por cento na capacidade de formação de mestres e de 225,9 por cento na
capacidade de formação de doutores na área. Em média, hoje, 141 doutores e 439
mestres são formados por ano7.
Em relação ao corpo docente, em 2009, os PGGS em Comunicação
envolviam 537 professores, sendo 429 professores permanentes e 108 colaboradores
e visitantes. Na Avaliação Trienal 2007 (dados de 2004, 2005 e 2006), o número
total de docentes era de 384 – 304 permanentes e 80 colaboradores e visitantes.
Houve um crescimento de 39,8% em relação ao total de docentes. Por categoria,
a evolução foi de 70,8 para os permanentes e de 35% em relação aos colaboradores
e visitantes. A proporção de número de titulados versus número de docentes, em
termos globais8, em dados de 2009, é de 1,17 mestre ou doutor formado por
professor.
Apesar do crescimento na oferta de cursos de pós-graduação, na quantidade
de docentes envolvidos e na quantidade de mestres e doutores titulados, porém,
permanecem nossos problemas relativos à internacionalização e às assimetrias
regionais.
Do ponto de vista das assimetrias regionais, verifica-se um “desequilíbrio
dos programas por região do país. Com efeito, dos 39 Programas existentes
atualmente no Campo da Comunicação, 21 estão localizados na região Sudeste
(53,8%), sendo que, destes, 14 (35,8%) no Estado de São Paulo; oito (20,5%), na
região Sul; 5 (12, 8%), na região Nordeste; três (7,6%), na região Centro-Oeste e
dois (5, 12%), na região Norte”9. Dos doutorados, apenas dois estão localizados
no Nordeste. Não há doutorado em Comunicação na região Norte. Além dos
desequilíbrios regionais, intra-regionais e entre estados, há ainda o desequilíbrio
em relação à presença da pós-graduação nos municípios brasileiros: dos 39
6 CAPES, Relatório de Avaliação 2007/2009, sub-área Ciências Sociais Aplicada I, p. 47. O documento con-
sidera dados a partir de 1996.
7 Consideramos a média de titulação dos anos de 2007 (389 mestres; 165 doutores), 2008 ( 422 mestres; 136
doutores) e 2009 ( 506 mestres; 122 doutores).
8 Para o cálculo, consideramos a totalidade de mestres e doutores titulados, 628, versus todos os 537 docentes,
independentemente da categoria.
9 CAPES, Documento de Área Ciências Sociais Aplicadas I, 2009, p. 2.

67
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

Mestrados e Doutorados, 27, - quase 70% do total - estão nas capitais brasileiras.
Apenas quatro cidades não-capitais possuem doutorados em Comunicação. São
elas: São Bernardo do Campo e Campinas, no Estado de São Paulo, Niterói, no
Rio de Janeiro e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

Gráfico 2: Distribuição de Mestrados e Doutorados em Comunicação, por Região geográfica

5,12%

7,60%

Sudeste
12,80% Sul
Nordeste
53,80% Centro-Oeste

20,50% Norte

Fonte: CAPES, Documento de Área Ciências Sociais Aplicadas I, 2009.

Do ponto de vista da inserção internacional, é notável o fato de que, embora


seus primeiros mestrados e doutorados datem da década de 70 do século XX,
apenas um dos programas de pós-graduação em Comunicação conseguiu atingir
a nota 6 no sistema de avaliação da pós-graduação. Trata-se do Programa de Pós-
Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
o que ocorreu na Avaliação Trienal 2010. Ainda que as notas 6 e 7 não sejam
exclusivamente vinculadas à internacionalização – outros critérios são levados em
conta - o entendimento da área e da Capes parece ser esse: no Documento de Área
Ciências Sociais Aplicadas I, 2009, no item “V – Considerações e definições sobre
atribuição de notas 6 e 7 – inserção internacional”, p. 27, requer-se dos programas
que apresentem desempenho equivalente aos dos centros internacionais de
excelência na área, desempenho avaliado a partir de aspectos tais como publicação
docente internacional, acordos de cooperação, pós-doutoramentos, entre outros.
Nesse aspecto, a internacionalização está na agenda da maior parte dos cursos da
área.
É no interior do Sistema Nacional de Pós-Graduação que ocorre a atividade

68
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

da pesquisa científica e tecnológica brasileira de alto nível10. Se for tomado como


marco o Parecer nº 977/65, veremos que a estreita vinculação entre a pesquisa
científica e tecnológica e a pós-graduação caracterizam a pós-graduação stricto
sensu no Brasil desde seu começo, apresentando-se como diretriz fundamental
para a formulação de políticas públicas de ensino e pesquisa, para a legislação,
para o sistema de avaliação de cursos de pós-graduação e instituições de ensino
superior nos últimos 45 anos. Em Comunicação, os resultados alcançados
evidenciam que uma política deliberada e consistente de consolidação da pós-
graduação, por parte dos Ministérios da Educação e de Ciência e Tecnologia e
das agências de fomento, recebeu decidido engajamento da área, através dos seus
programas de pós-graduação.
A Comunicação participa e tem liderado os esforços da área de Ciências
Sociais Aplicadas I na consolidação do Sistema Nacional de Pós-Graduação. A
área tem considerável experiência na institucionalização dos critérios, parâmetros
e princípios empregados pelas suas subcomissões na avaliação dos cursos11.
Desde 1996, a área realiza reuniões sistemáticas, com periodicidade semestral
ou sempre que haja necessidade, entre os coordenadores de programas de pós-
graduação, liderados pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação, a COMPÓS, fundada em 199112, e os coordenadores de área
na CAPES, para definir os princípios, diretrizes, critérios e procedimentos da
avaliação.
No mesmo sentido, as reuniões do Conselho Geral da COMPÓS, realizadas
em três períodos do ano, contam regularmente com a presença dos representantes
do Comitê Assessor - Artes, Ciência da Informação e Comunicação/CNPq
(CA). Em várias oportunidades, a COMPÓS realizou reuniões conjuntas entre
os coordenadores dos programas de pós-graduação, os representantes no CA e
diretores e pessoal técnico-administrativo do CNPq. A última dessas reuniões
foi realizada em abril de 2010. Nessas reuniões, CNPq e os programas de pós-
graduação da comunicação discutem as políticas, diretrizes, procedimentos e
critérios de julgamento do CNPq para a Ciência, Tecnologia e Inovação, no que
se refere à Comunicação.
Nesses seus quase 20 anos de existência, registra-se grande colaboração
entre a COMPÓS e órgãos do governo Federal na construção de parâmetros
de avaliação de programas, de produção, na colaboração com os representantes
10 CAPES, Plano Nacional de Pós-Graduação 2005-2010.
11 CAPES, Documento de Área Ciências Sociais Aplicadas, 2009.
12 Em setembro de 2010, são 37 os programas de pós-graduação em Comunicação filiados à COMPÓS. Ap-
enas não estão filiados à COMPÓS, dado serem recentes, os dois últimos mestrados aprovados pela CAPES, o
de Comunicação da Universidade Federal do Paraná, aprovado no final de 2009, e o de Comunicação, Cultura
e Amazônia, da Universidade Federal do Pará, aprovado neste ano de 2010. Para uma relação dos PPGs filiados
à COMPÓS, com informações sobre seus endereços, sites, áreas de concentração e linhas de pesquisa, ver www.
compos.org.br

69
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

de área, na elaboração e aprovação de tabelas das Áreas de Conhecimento. Essa


colaboração está registrada nas atas de reuniões do Conselho Geral da COMPÓS,
através dos informes dos representantes de área e das discussões de temas propostas
pelo Conselho. As reuniões com o CNPq e a CAPES são fundamentais para a
construção coletiva do campo da Comunicação.
A vinculação entre a pesquisa científica e tecnológica e a pós-graduação se
evidencia através das áreas de concentração, das linhas e grupos de pesquisa dos
PPGs e dos Grupos de Trabalho da COMPÓS. Uma análise dos modelos de
organização e das áreas de concentração e linhas de pesquisa, tomando por base
as informações constantes nos sites dos PPGs em setembro de 2010, evidencia
algumas características da pós-graduação em Comunicação no país.
O Brasil tem adotado os grupos de pesquisa como um espaço privilegiado
para a formação de mestres e doutores, para a realização da pesquisa científica e
tecnológica de excelência e para a inovação. Os grupos de pesquisa, vinculados
aos projetos de pesquisa docente, às linhas de pesquisa e áreas de concentração
dos PPGs reúnem todos os docentes, doutorandos e mestrandos a eles vinculados,
além de bolsistas de Iniciação Científica e alunos da graduação em realização de
trabalho final de curso relacionado aos objetos de investigação dos grupos, um
aspecto que favorece a formação para a pesquisa e a integração entre graduação e
pós-graduação. A integração entre pós-graduação e graduação tem aparecido como
altamente benéfico para ambos os níveis de formação pós-graduada. Dos PPGs
em Comunicação atualmente existentes, apenas um não é vinculado a Cursos
de Graduação, o Programa de Pós-Graduação em Multimeios, da Universidade
de Campinas. O Documento de Área Ciências Sociais Aplicadas, 2009,
pactuado entre a CAPES e os coordenadores dos programas de pós-graduação
em Comunicação, explicitamente valoriza a integração entre a graduação e a
pós-graduação como meio de favorecer a formação de jovens pesquisadores e de
profissionais mais qualificados.
A COMPÓS, em documento enviado a CAPES como subsídio para a
elaboração do Plano Nacional de Pós-Graduação 2011/2020, reforçou o papel
da iniciação científica e dos trabalhos de conclusão de curso na formação de
pesquisador e recomendou a atribuição de créditos às atividades que resultem em
produção científica ou tecnológica e a manutenção da possibilidade de realização
dos Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCCs) em modalidades de monografias
e trabalhos laboratoriais de pesquisa vinculados à pesquisa científica e tecnológica
e à inovação realizada no âmbito dos cursos de pós-graduação.
Um diagnóstico da sub-área de Comunicação, a partir da análise das áreas
de concentração e das linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação permite
traçar algumas tendências. Como se pode observar no Quadro 2, abaixo, as áreas
de concentração configuram-se, inicialmente, em áreas bastante abrangentes e
70
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

enfatizam as relações entre Comunicação e Cultura, Comunicação e Sociedade,


Comunicação e Linguagens, Comunicação e Tecnologia. Por muitos anos,
apenas o Programa de Pós-Graduação em Multimeios, da Unicamp, tinha sua
área de concentração voltada para as especificidades do cinema e da fotografia.
Mais recentemente, começam a surgir PPGs com áreas de concentração mais
específicas, como o de Jornalismo, da Universidade Federal de Santa Catarina, o
de Comunicação Visual, da Universidade Estadual de Londrina, ou o de Imagem
e Som, da Universidade Federal de São Carlos, só para citar alguns.
Quanto às linhas de pesquisa, elas se organizam em torno das interfaces
da Comunicação com áreas mais definidas como Semiótica, com esferas mais
abrangentes como cultura e sociedade, em torno de processos, sobretudo, aqueles
vinculados aos meios de Comunicação/mídia, considerando aí a existência de
práticas específicas ou então em torno de meios e produtos.

Quadro 2. Áreas de Concentração e Linhas de pesquisa dos Mestrados e Doutorados em


Comunicacão

IES CURSO Áreas de Linhas de Pesquisa


Concentração
PUC/SP COMUNICAÇÃO E Signo e Significação - Cultura e Ambientes Midiáticos
SEMIÓTICA nas Mídias - Processos de Criação nas Mídias
- Análise das Mídias
UFRJ COMUNICAÇÃO Comunicação e Cultura - Mídia e Mediações Socioculturais
- Tecnologias da Comunicação e Estéticas
USP CIÊNCIAS DA - Teoria e Pesquisa em - Comunicação e Cultura
COMUNICAÇÃO Comunicação - Comunicação Impressa e Audiovisual
- Estudo dos Meios e - Educomunicação
da Produção Mediática - Epistemologia, Teoria e Metodologia da
Comunicação
- Interfaces Sociais da - Estética e História da Comunicação
Comunicação - Linguagem e Produção de Sentido em
Comunicação
- Políticas e Estratégias de Comunicação
- Técnicas e Poéticas da Comunicação
- Tecnologias da Comunicação e Redes
Interativas

UNB COMUNICAÇÃO Comunicação e - Jornalismo e Sociedade


Sociedade - Políticas de Comunicação e de Cultura
- Teorias e Tecnologias da Comunicação
- Imagem e Som
UMESP C O M U N I C A Ç Ã O Comunicação e - Processos Comunicacionais Midiáticos
SOCIAL Sociedade - Processos de Comunicação
Institucional e Mercadológica
- Processos da Comunicação Científica e
Tecnológica

71
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

UNICAMP MULTIMEIOS --- - História, estética e domínios de


aplicação do cinema e da fotografia
UFBA COMUNICAÇÃO Comunicação - Análise de Produtos e Linguagens da
E CULTURA e Cultura Cultura Mediática
CONTEMPORÂNEA Contemporânea - Cibercultura
- Comunicação e Política
PUC/RS COMUNICAÇÃO Práticas e culturas - Práticas culturais nas mídias,
SOCIAL da comunicação comportamentos e imaginários da
sociedade da comunicação
- Práticas profissionais e processos
sociopolíticos nas mídias e na
comunicação das organizações
UNISINOS CIÊNCIAS DA Processos Midiáticos - Mídias e Processos Audiovisuais
COMUNICAÇÃO - Linguagem e Práticas Jornalísticas
- Cultura, Cidadania e Tecnologias da
Comunicação
- Midiatização e Processos Sociais

UFMG COMUNICAÇÃO Comunicação - Processos comunicativos e práticas


SOCIAL e sociabilidade sociais
contemporânea - Meios e produtos da comunicação
UFRGS COMUNICAÇÃO E Comunicação e - Informação, Redes Sociais e
INFORMAÇÃO Informação Tecnologias
- Jornalismo e Processos Editoriais
- Linguagem e Culturas da Imagem
- Mediações e Representações Culturais
e Políticas
UFF COMUNICAÇÃO Comunicação - Comunicação e Mediações
- Tecnologias da Comunicação e da
Informação
- Análise da Imagem e do Som
UNIMAR COMUNICAÇÃO Mídia e Cultura - Ficção na mídia
- Produção e Recepção da Mídia
UNIP COMUNICAÇÃO Comunicação e - Configuração de Linguagens e
Cultura Midiática Produtos Audiovisuais na Cultura
Midiática
- Contribuições da Mídia para a
Interação em Grupos Sociais

72
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

UTP COMUNICAÇÃO E Processos - Estratégias Midiáticas e Práticas


LINGUAGENS Comunicacionais Comunicacionais
- Estudos de Cinema
UFPE COMUNICAÇÃO Comunicação - Linguagem dos Meios
- Mídias e Processos Sociais
- Estética e Cultura Midiática
U N E S P / COMUNICAÇÃO Comunicação - Processos Midiáticos e Práticas
BAU Midiática Socioculturais
- Produção de Sentido na Comunicação
Midiática
- Gestão e Políticas da Informação e da
Comunicação Midiática
UERJ COMUNICAÇÃO Comunicação Social - Cultura de Massa, Cidade e
Representação Social
- Tecnologias de Comunicação e Cultura
PUC-RIO COMUNICAÇÃO Comunicação Social - Cultura de massa e representações
sociais
- Cultura de massa e práticas sociais
FACASPER COMUNICAÇÃO Comunicação na - Processos Midiáticos: Tecnologia e
Contemporaneidade Mercado
- Produtos Midiáticos: Jornalismo e
Entretenimento
UFSM COMUNICAÇÃO Comunicação - Mídia e Identidades Contemporâneas
Midiática - Mídia e Estratégias Comunicacionais
ESPM COMUNICAÇÃO Comunicação - Impactos socioculturais da
E PRÁTICAS DE comunicação orientada para o mercado
CONSUMO - Estratégias de comunicação e
produção de mensagens midiáticas
voltadas às práticas de consumo
UNISO COMUNICAÇÃO E Comunicação e - Teorias da comunicação e da cultura
CULTURA Cultura - Análise de processos e produtos
mediáticos
UAM COMUNICAÇÃO Comunicação - Análises em Imagem e Som
Contemporânea - Mediação, tecnologia e processos
sociais.
PUC/MG COMUNICAÇÃO Interações Midiáticas - Midiatização e processos de interação
SOCIAL - Linguagem e mediação sociotécnica
UFJF COMUNICAÇÃO Comunicação e - Tecnologias da Comunicação
Sociedade - Comunicação e Identidades
UFG COMUNICAÇÃO Comunicação, - Mídia e cidadania
cultura e cidadania - Mídia e cultura

73
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

UFSC JORNALISMO Jornalismo - Processos e produtos jornalísticos


- Fundamentos do Jornalismo
UEL COMUNICAÇÃO Comunicação Visual - Imagem e mídia
- Linguagens e poéticas fotográficas
UFSCAR IMAGEM E SOM Imagem e Som - Narrativa Audiovisual
- História e Políticas do Audiovisual
UCB COMUNICAÇÃO Processos - Processos Comunicacionais na Cultura
Comunicacionais Mediática
- Processos Comunicacionais nas
Organizações
UFPB COMUNICAÇÃO Comunicação e - Mídia e Cotidiano
E CULTURAS Culturas Midiáticas - Culturas Midiáticas Audiovisuais
MIDIÁTICAS
UFC COMUNICAÇÃO Comunicação e - Fotografia e Audiovisual;
Linguagens - Mídia e Práticas Sócio-Culturais.
UFAM CIÊNCIAS DA Ecossistemas - Ambientes comunicacionais midiáticos
COMUNICAÇÃO comunicacionais - Processos informacionais científicos
USCS COMUNICAÇÃO Comunicação, - Transformações Comunicacionais e
Inovação e Comunidades
Comunidades - Inovações na Linguagem e na Cultura
Midiática
UFRN ESTUDOS DA Comunicação - Estudos de Mídia e Práticas Sociais;
MÍDIA Midiática: Práticas - Estudos de Mídia e Produção de
Sociais e de Sentido Sentido.
USP MEIOS E Meios e Processos - História, teoria e crítica
PROCESSOS Audiovisuais - Poéticas e Técnicas
AUDIOVISUAIS
- Práticas de Cultura Audiovisual
UFPR COMUNICAÇÃO Comunicação e - Comunicação, educação e formações
Sociedade socioculturais
- Comunicação, política e atores
UFPA COMUNICAÇÃO,
CULTURA E
AMAZÔNIA
Fonte: sites dos PPGs em Comunicação, em setembro de 2010

Os Grupos de Trabalho (GTs) são o principal mecanismo para viabilizar o


trabalho científico da COMPÓS. Através dos GTs busca-se o intercâmbio entre
os pesquisadores e os programas de pós-graduação associados, criando-se redes de
interesse acadêmico comum que atravessam as diversas instituições participantes.
Desse modo, a COMPÓS estimula a ampliação das estruturas de pesquisa no país

74
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

e a superação do isolamento dos pesquisadores e grupos de pesquisa. O objetivo


dos Grupos de Trabalho da COMPÓS é oferecer um espaço de interlocução
científica no qual o debate sobre os resultados das pesquisas de seus participantes
resulte em estímulo para o desenvolvimento da reflexão. A instância principal
dos procedimentos do GT, em busca da realização qualitativa deste objetivo, é o
debate realizado anualmente entre os participantes.
Os critérios para criação, funcionamento e avaliação dos GTs partem de
premissas sugeridas pela história da Associação, pelas práticas de funcionamento
dos Grupos, pelas decisões do Conselho Geral da COMPÓS e pelo processo
de discussão permanentemente mantido pela entidade no sentido de assegurar
a manutenção de procedimentos que têm demonstrado serem produtivos para
o bom atendimento dos objetivos da COMPÓS e alcançar a flexibilidade
necessária para responder aos novos problemas teórico-práticos e a uma renovação
continuada de métodos de trabalho, de temas abordados e de clivagens de nosso
campo de estudo.
Podem participar dos GTs os estudiosos e pesquisadores interessados no
desenvolvimento da pesquisa em Comunicação, quer pertençam ou não ao quadro
docente de um dos programas associados, podendo enviar textos a quaisquer dos
GTs, buscando espaço para sua discussão no Encontro Anual da COMPÓS. Os
textos selecionados para discussão levam em conta o atendimento de, pelo menos,
três critérios: a) qualidade das reflexões apresentadas no texto; b) relevância de sua
contribuição para a área; c) pertinência à área temática definida pela ementa do
GT.
Os Grupos de Trabalho da COMPÓS abrangem uma área temática indicada
pela sua denominação e os encontros dos GTs se caracterizam, essencialmente,
como reuniões de trabalho científico em que se busca implementar uma reflexão
conjunta indispensável para o progresso da pesquisa na área. A dinâmica de
funcionamento dos GTs consiste na apresentação e discussão de um conjunto de
trabalhos científicos, selecionados pelo coordenador do GT e por ao menos dois
pareceristas que não apresentem trabalhos e distribuídos para leitura prévia entre
os participantes. Cada texto é relatado por um participante do grupo. Os relatos
constituem-se em peças de crítica e de estímulo ao debate. Eles não se caracterizam
como simples resenhas dos textos, mas devem assinalar as contribuições a serem
aprofundadas, apontar objeções que solicitem respostas, levantar os melhores
ângulos de leitura, sugerir desenvolvimentos, repensar aplicabilidades, evidenciar
premissas não explicitadas, indicar conseqüências da linha de reflexão adotada,
comentar estruturas, debater as construções metodológicas, e tudo o mais que se
veja pertinente enquanto trabalho acadêmico sobre o texto relatado.
A perspectiva de trabalho coletivo pretende superar, nesta estrutura específica
dos GTs, um modelo que enfatizaria a simples apresentação e divulgação de
75
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

resultados ou sessões didáticas de proposição/escuta. De modo a garantir o


tempo adequado para as discussões, cada GT seleciona um máximo de dez textos
para discussão, podendo aprovar um número menor de textos. Não deverão ser
agregados textos apenas para fazer número e que não atendam os critérios.
Os Grupos de Trabalho da COMPÓS passam por um processo de reclivagem
a cada quatro anos. A proposição de novo GT deve atender aos critérios de inovação
(um GT deve buscar a construção de espaços de interlocução não redundantes
com aqueles já oferecidos pelos grupos existentes no momento da proposta, bem
como refletir novos temas emergentes na área); de interlocução (deve ser capaz
de refletir e estimular as potencialidades de interlocução entre grupos de pesquisa,
linhas de pesquisa e programa de pós-graduação da área de comunicação); de
pertinência em relação à COMPÓS (deve apresentar coerência com os processos
de trabalhos e com a abrangência de objetivos da Associação); e adequação da
estrutura em relação aos objetivos da COMPÓS (deve explicitar a adequação
dos objetivos e atividades dos proponentes às condições de funcionamento dos
GTs, de maneira a assegurar que o perfil de funcionamento dos GTs de fato
ofereça ambiente adequado e estimulante para o desenvolvimento da interlocução
e da pesquisa científica. O Quadro 3 apresenta os 15 GTs atualmente em
funcionamento na COMPÓS, com seus títulos e ementas. Aprovados na reunião
do Conselho Geral da COMPÓS em 11 de junho de 2010, eles funcionarão até
o Encontro Anual de 2014, quando todos serão extintos e um novo processo de
reclivagem acontecerá.

Quadro 3: Títulos e Ementas dos Grupos de Trabalho da Compós, 2011/2014

Grupos de Trabalho Ementas


Comunicação e O GT Comunicação e Cibercultura tem por objetivo debater trabalhos na
Cibercultura intersecção da comunicação e da cibercultura. Por cibercultura compreendem-
se as relações emergentes entre as tecnologias de comunicação e informação
(TICs) e a cultura contemporânea. Busca-se, assim, entender o papel das TICs
em interface com os problemas da comunicação sob diversas perspectivas
(histórica, sociológica, filosófica, política, estética, imaginária, material, etc.).

Comunicação e Aspectos teóricos e metodológicos de experiências e práticas comunicacionais


Cidadania e mediáticas relacionados às esferas das cidadanias econômica, sociopolítica,
cultural, intercultural, transnacional, global e socioambiental e de uma
cidadania comunicativa. Estudo das articulações entre comunicação,
cidadania e cultura nos campos da comunicação mediada e não mediada.
Processos comunicacionais no âmbito das culturas populares, dos movimentos
sociais, comunitários, populares e sindicais no marco de uma pedagogia da
comunicação. Pesquisas sobre apropriações e os usos das tecnologias da
comunicação por redes de movimentos comunitários e sociais que envolvam
práticas cidadãs relacionadas a dimensões sócio-identitárias como classe
social, gênero, etnia, religiosidade.

76
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

Comunicação e Cultura Comunicação, cultura e história: os meios de comunicação e as culturas em


diferentes configurações históricas. Ecologia da comunicação: cenários da
cultura da comunicação; ação integradora e efeitos culturais das práticas
midiáticas. As questões da imagem e seus desdobramentos: imaginário cultural
e cultura da imagem. Articulação entre corpo, texto e imagem, crises e tensões.
As representações culturais da visualidade, da oralidade, da audibilidade, da
gestualidade e dos territórios simbólicos em sua relação com as diferentes
mídias. Cultura, memória e registro. Paradigmas, teorias e autores para uma
reflexão acerca da relação entre comunicação e cultura. Teorias da comunicação,
da cultura e suas interfaces.
Comunicação e O GT busca apontar caminhos na interseção entre os fenômenos
Experiência Estética comunicacionais e as teorias estéticas, contribuindo para a reflexão e a crítica
das manifestações expressivas, tanto em trabalhos teóricos quanto analíticos.
Busca compreender questões vinculadas à dimensão estética dos processos
comunicacionais e dos produtos da cultura contemporânea (na medida em que
impliquem a dimensão ativa da sensibilidade) e ainda aos aspectos teórico-
metodológicos da apreensão da experiência estética nas práticas internacionais.

Comunicação e Política Abrange estudos sobre comunicação e política desenvolvidos a partir de


fenômenos, linguagens, discursos e instituições em perspectiva histórica.
Os eixos temáticos desse Grupo de Trabalho privilegiam a comunicação
política; mídia e democracia; teorias políticas e o campo da comunicação;
regimes políticos e relações com os meios de comunicação; opinião pública;
propaganda política; o espaço da política nos meios de comunicação; a política
contemporânea e as novas mídias.

Comunicação e Estudo relacional dos fenômenos comunicativos e dos processos sociais,


Sociabilidade buscando identificar uma problemática específica da comunicação em diversos
contextos socioculturais e políticos. No âmbito desta preocupação, destacamos
como alvo privilegiado de análise: a) os modos de subjetivação em jogo nas
práticas comunicativas; b) as sociabilidades e as configurações subjetivas
implicadas na produção midiática e os modos e efeitos de apropriação dessa
produção; c) a experiência urbana como lugar de emergência de práticas
comunicativas e de subjetivação.

Comunicação Os processos de mediação e significação em contextos organizacionais. Os


em Contextos sistemas, processos, estruturas e meios de comunicação das e nas organizações
Organizacionais públicas e privadas. A construção de sentidos no contexto organizacional. As
relações político-comunicacionais entre indivíduos, organizações e sociedades.
As dimensões da imagem, da cultura e da identidade. As organizações inseridas
como atores políticos nas redes sociais contemporâneas. As relações entre a
comunicação e as transformações nas relações de trabalho. Os movimentos
em torno da legitimação de novas idéias e valores. A comunicação estratégica.
Os estudos sobre opinião pública, opinião de públicos e formação da imagem
pública. Os processos comunicacionais no branding, nas marcas e nas dinâmicas
do consumo. Os conflitos e as disputas em torno de discursos e representações
organizacionais.

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Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

Cultura das Mídias Estudo de produtos e de processos culturais em suas relações com as esferas
tecnológicas, sociais, econômicas e históricas. Representações e identidades
na cultura das mídias e seus múltiplos atravessamentos. A comunicação como
prática social; as figurações emergentes na cultura tradicionalmente chamada
"de massa". Mídia e questões de enunciação: narrativa e discurso. Gostos,
repertórios estéticos e cultura midiática: crítica e valor. Cosmopolitismos,
culturas nacionais, culturas locais. Traduções interculturais. Disputas e tensões
nos processos de construção de hegemonia e controle social. Cultura pública
e políticas culturais. Busca de novas metodologias, a partir de perspectivas
teórico-críticas transdicisplinares, em face a contextos comunicacionais
liminares.

Epistemologia da O GT se propõe a estudar a definição do objeto e características da


Comunicação Comunicação e de seu conhecimento científico. Para tanto, podem ser
debatidas propostas de correntes teóricas, seus principais idealizadores,
respectivas linguagens e metodologias, suas inter-relações com os campos do
saber, mantida a centralidade da comunicação, além de relatos e resultados de
experimentações empírico-analíticas. Propõe-se também a acolher avaliações
epistemológico-teórico-metodológicas de pesquisas empíricas relatadas pela
área de conhecimento; análises epistemológicas de pesquisas em andamento;
e observações críticas sobre os processos de investigação nos estudos da
Comunicação. O GT poderá contribuir, também, para a caracterização de
paradigmas em desenvolvimento, eventualmente confrontando-os com as
bases originais da comunicação como área científica.

Estudos de Jornalismo De uma perspectiva crítica e analítica, o GT busca aprofundar o estudo do


jornalismo como um campo do conhecimento, destacando abordagens
relativas à função social, à história, aos conceitos, aos modelos, às teorias e à
epistemologia do jornalismo. Da mesma forma, visando problematizar e discutir
o jornalismo em seus distintos modos de estruturação, apuração, produção,
circulação, recepção e consumo, este GT também se interessa por estudos que
abordam as teorias da linguagem, os métodos de pesquisa, as metodologias
de ensino, os impactos das tecnologias e as tendências que orientam a práxis
jornalística nas sociedades contemporâneas.

Estudos de Televisão O GT Estudos de televisão reunirá pesquisas que tenham por objeto a televisão
e seus produtos, considerados em sua complexidade e especificidade. Reúne
reflexões sobre aspectos econômicos, institucionais e tecnológicos; sobre
os contextos de produção, criação, fruição e recepção; sobre as dimensões
discursivas, informativas, pedagógicas, políticas, culturais e estéticas dos
programas, gêneros e formatos examinados. O GT apresenta-se como fórum
acadêmico de fomento, de convergência e de diálogo crítico de trabalhos de
diferentes vertentes que tratam de questões teóricas que buscam aprimorar os
aparatos metodológicos de análise dos fenômenos televisivos.

Estudos de cinema, Investigações e análises teóricas, históricas e estéticas acerca do cinema e da


fotografia e audiovisual fotografia, nas suas especificidades, expansões, hibridismos e desdobramentos,
considerados como traços fundamentais do audiovisual e para compreensão
da cultura e da sociedade contemporâneas. As dinâmicas postas em circulação
pelo cinema, pela fotografia e pelo audiovisual no campo da comunicação, bem
como sua contribuição às práticas sociais, culturais e artísticas.

78
Antecedentes, tendências e perspectivas da Pós-Graduação em Comunicação

Imagem e Imaginários Análises sobre teorias da imagem e/ou do imaginário. Reflexões sobre imagem
Midiáticos e/ou imaginário em seus diversos desdobramentos, seja em peças publicitárias,
em imagem empresarial e mercadológica, em fotografia, e em representações
no cinema, televisão e vídeo. Diálogos entre o imaginário midiático e outros
imaginários da cultura (mítico, tecnológico, artístico, religioso). Considerações
sobre imagens híbridas e/ou imaginários contemporâneos, em suas implicações
sociais, históricas e construturais.

Práticas interacionais O GT investiga os diversos fenômenos de comunicação como práticas interativas,


e linguagens na considerando a linguagem, a partir dos seus usos e determinações, bem como
comunicação de suas éticas e estéticas correspondentes, como instância privilegiada de
análise. Com esse escopo investigativo, pretende: 1) realizar um mapeamento
das várias contribuições teóricas e metodológicas que têm permitido ao
campo da comunicação avançar na descrição e análise de processos e
procedimentos de linguagens nas mídias, contribuindo para a descrição dos
modos de funcionamento dos textos nos meios impresso, eletrônico, digital;
2) analisar as transformações da linguagem e a emergência de novas formas
técnico-expressivas a partir da convergência dos meios; 3) inventariar os tipos
de processos interacionais postos em cena nas distintas produções e objetos
midiáticos, bem como seus modos de articulação de sentido; 4) desenvolver
uma reflexão sobre os modos de circulação, vinculação e compartilhamento do
conhecimento, das relações sociais e dos afetos nas práticas midiáticas.

Recepção, Usos e Análise dos processos e estratégias que envolvem a relação da sociedade
Consumo Midiáticos com os meios de comunicação, tendo como objeto de estudos a instância
da recepção e seu trabalho de interpretação, uso e consumo midiáticos. As
referências conceituais e empíricas do trabalho deste GT incluem e enfatizam
as novas “arquiteturas de processos comunicacionais” que reconfiguram a
existência da recepção e os modos de funcionamento de suas práticas. Elegendo
a pesquisa interdisciplinar em diferentes dimensões (teóricas, epistemológicas
e metodológicas), pretende-se estudar as dinâmicas e operações tecno-sócio-
simbólicas que organizam as formas de interação entre produtores e receptores
da comunicação midiática, do ponto de vista dos sujeitos. Ao priorizar tais
angulações, o GT em proposição enfatiza a importância da recepção como
instância produtiva, geradora de novos ‘produtos’, de práticas sócio-simbólicas
e de formas de saber derivadas das estratégias desenvolvidas pelos atores, em
situação de interação com as mídias.

A análise dos antecedentes históricos e das tendências da pós-graduação


em Comunicação evidencia que a área se consolida em consonância com o
Sistema Nacional de Pós-Graduação, mas estabelecendo seus próprios rumos.
Na sub-área, a pós-graduação se realiza na estrita vinculação com a pesquisa
científica e tecnológica e com a inovação, vinculação que constrói as diretrizes
para a organização dos cursos pós-graduados e que se apresenta como condição
fundamental de fortalecimento do sistema universitário.

79
80
CAPÍTULO 5

Breve relato sobre a fundação da SOCINE

Fernão Pessoa Ramos1

A ata de fundação da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema (SOCINE)


data de 14 de novembro de 1996. Sua primeira diretoria, eleita pelos presentes,
foi composta por Fernão Pessoa Ramos (presidente), Maria Dora Mourão (vice),
Afrânio Catani (secretário) e Luiz Felipe Miranda (tesoureiro). O documento
que detona a articulação da SOCINE intitula-se Carta de Salvador. Foi escrito
e distribuído dois meses antes de sua fundação, durante o tradicional festival
de cinema ‘Jornada de Salvador’. Seu primeiro parágrafo especifica: “Nós,
professores, pesquisadores, ensaístas e estudantes de cinema, reunidos em
Salvador, em 16 de setembro de 1996, constatamos a inexistência de um espaço
que possa aglutinar, sistematizar e divulgar nossas experiências relativas ao estudo
da imagem em movimento em suas diferentes formas. A partir da constatação
deste estado de insuficiência no intercâmbio de nossas atividades de pesquisa,
decidimos organizar uma Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema que terá
como objetivo primeiro o estudo e a pesquisa da história e da teoria do cinema”.
A Carta de Salvador foi articulada aproveitando-se da presença de
pesquisadores de todo país na capital baiana, tendo sido assinada por colegas que
mais tarde teriam importância, em diferentes momentos, na vida da SOCINE,
como (em ordem alfabética): Bernadette Lyra, Dácia Ibiapina da Silva, Fernão
Pessoa Ramos, Ivana Bentes, José Gatti, Júlio César Lobo, Linda Rubim, Lúcia
Nagib, Umbelino Brasil, entre outros.
Os dois documentos refletem uma ebulição concreta, que se delineia de
modo mais forte desde 1995, para a formação de uma sociedade de estudos de
cinema moderna e dinâmica. O grupo responsável pela criação da SOCINE
compõe-se de jovens pesquisadores, em sua maior parte de origem acadêmica. A
SOCINE foi, antes de tudo, uma questão de geração. Até sua criação, os estudos
de cinema no Brasil eram dominados por pesquisadores e jornalistas voltados
basicamente para levantamento de fontes primárias, num recorte metodológico
baseado na garimpagem de material de pioneiros, exclusivamente em cinema
brasileiro. Este foi o pólo contra o qual a instituição afirmou sua singularidade, se
distanciando do grupo que dominava a pesquisa de cinema no Brasil, reunido no
Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro.
A SOCINE responde à ascensão vertiginosa dos Estudos de Cinema na
academia durante os anos 90 e à geração que navega de modo afirmativo nesta
1. Professor do Departamento de Cinema do Instituto de Artes da Unicamp. Ex-presidente da SOCINE.

81
Breve relato sobre a fundação da SOCINE

ascensão. Sem que tenha havido conflitos (mas sim absorção), havia referência,
neste jogo de gerações, um pequeno grupo de pesquisadores de cinema que já
atuava na academia, ainda ligado ao Centro de Pesquisadores e à visão chamada
museológica da pesquisa. A SOCINE, portanto, nasceu apesar do establishment
acadêmico da época, com algumas exceções, como a de Maria Dora Mourão (que
inclusive emprestou a casa para a reunião fundadora).
Mas o que os membros da SOCINE queriam, o que buscavam exatamente?
No que as reuniões de pesquisadores de cinema (e houve diversas nos anos 80)
deixavam aos participantes com uma profunda sensação de insatisfação? Onde
sentia-se que a herança de Paulo Emílio Salles Gomes estava se perdendo,
arriscando a ser dominada por uma pesquisa engessada e burocrática? O ponto
essencial (que hoje pode parecer banal) foi o de não restringir ao cinema brasileiro,
mas incorporar a dimensão internacional da produção cinematográfica, vista
então com reservas. Criados dentro da pesquisa acadêmica e sua metodologia,
os membros da SOCINE queriam um espaço maior para a teoria e uma visão de
estudos de cinema que não estivesse ligada às demandas da crítica jornalística e às
necessidades de produção de cineastas.
Buscava-se abrir a janela para o mundo e poder explorar as camadas mais
profundas do pensamento sobre cinema, sem ter a sensação de ser “bichos” de
outro planeta. A questão do cinema experimental e do vídeo (suporte tecnológico
de vanguarda na época) também estava no horizonte e respondia às necessidades
de diversos colegas. O fato é que a metodologia de pesquisa e a demanda de
publicações não era mais a dos pesquisadores críticos de cinema da primeira
metade do século XX.
Ao abrir a porta para a demanda reprimida, imediatamente impressionou
o volume da produção. Desde o primeiro momento a SOCINE deslanchou,
firmando rapidamente seu crescimento. Apesar das disputas, naturais em toda
sociedade científica, a instituição conseguiu, através dos anos, manter sua
unidade, tornando-se legítima representante da pesquisa em cinema no Brasil.
Quem, do outro lado do espelho, vê o produto pronto, não pode imaginar as
dúvidas, os receios e dificuldades que envolveram sua criação.
O modelo inicial para montar a SOCINE foi o da a Society for Cinema
Studies, entidade norte-americana da qual alguns de seus integrantes já tinha
participado. O primeiro estatuto da SOCINE inspirou-se diretamente do
estatuto norte-americano, buscando incorporar seu espírito desburocratizado.
Com o passar dos anos foi difícil manter este espírito, mas o objetivo inicial era
claro: uma sociedade de pares, pesquisadores, reunindo-se periodicamente para
trocar informações e buscar inspiração no contato humano. Este foi o espírito
detonador da SOCINE que sua diretoria luta para manter até hoje.

82
Breve relato sobre a fundação da SOCINE

A SOCINE, é importante frisar, foi, em seu campo, uma entidade pioneira


na América Latina, demonstrando a forte estruturação acadêmica da área em
relação ao continente. Embora não tenha aberto asas em direção a um processo
mais profundo de internacionalização, sempre houve contatos fortes seja com
a América Latina (onde a SOCINE serviu de inspiração para a fundação de
entidades semelhantes na Argentina, no México e na Colômbia), seja com
os Estados Unidos (mantendo um diálogo sempre presente com os estudos
culturalistas), ou ainda com a França (em contato próximo com os herdeiros da
semiologia).
A estrutura de encontros anuais, que ainda não estava evidente nos primeiros
momentos da SOCINE, acabou revelando-se a base e o motor desta sociedade. Os
encontros deram personalidade ao projeto inicial e permitiram sua expansão de
modo homogêneo através do Brasil. Os 10 volumes já publicados dos Estudos de
Cinema SOCINE (incluindo o conjunto de textos do I Encontro, publicados nos
números 13 e 14 da Revista CINEMAIS)2, refletem a densa produção intelectual
dos Encontros, constituindo o resultado palpável do que significou a SOCINE
para a afirmação da área de estudos de cinema no Brasil.
O primeiro encontro da SOCINE, em 1997, deveria ser realizado na
UNICAMP, em São Paulo, pelo fato da presidência da entidade haver centralizado
a organização. A diretoria preferiu a ECA/USP, por achar que ainda não havia
massa crítica para fazer com que colegas se deslocassem até Campinas, correndo
risco de esvaziamento do evento. A participação da Universidade de São Paulo,
neste que foi o encontro fundador da SOCINE, reduziu-se a boa vontade, e ao
apoio, de seu diretor, Eduardo Peñuela, nos cedendo a melhor sala da Escola,
cafezinho e bolachas.
O II Encontro da entidade, consolidando definitivamente a SOCINE,
foi organizado na ECO/URFJ. Consuelo Lins centralizou a organização do
evento, promovendo as articulações e as condições necessárias para uma reunião
que nos trouxe crescimento qualitativo. O III Encontro, realizado na capital
do país, afirmou definitivamente a SOCINE como sociedade nacional, aberta
para pesquisadores de todo o Brasil. A SOCINE crescia então a olhos vistos. As
2. 1) CINEMAIS - nº 13, setembro/outubro 1998; CINEMAIS nº 14, novembro/dezembro 1998; 2) Estudos
de Cinema II e III (Annablume, 1999), com organização de Fernão Pessoa Ramos; 3) Estudos de Cinema 2000
(Sulina, 2002), com organização de Fernão Pessoa Ramos, Maria Dora Mourão, Afrânio Catani e José Gatti; 4)
Estudos Socine de Cinema Ano III (Sulina 2003), com organização de Maria Rosaria Fabris, João Guilherme
Barone e outros; 5) Estudos Socine de Cinema ano IV (Panorama, 2003), com organização de Afrânio Catani,
Wilton Garcia e outros; 6) Estudos Socine de Cinema ano V (Panorama, 2004) com organização de Maria Ro-
saria Fabris, Afrânio Catani e outros; 7) Estudos de Cinema Socine ano VI (Nojosa, 2005) com organização de
Maria Rosaria Fabris, Wilton Garcia e Afranio Catani; 8) Estudos de Cinema Socine (Annablume, 2006), com
organização de Rubens Machado, Rosana Lima Soares e Luciana Corrêa; 9) Estudos de Cinema Socine (Anna-
blume, 2007) com organização de Rubens Machado, Rosana de Lima Soares e Luciana Correa de Araújo; e 10)
Estudos de Cinema Socine ano IX, com organização de Esther Hamburgo, Gustavo Souza, Leandro Mendonça
e Tunico Amâncio (Annablume, 2008).

83
Breve relato sobre a fundação da SOCINE

apresentações de comunicações deixaram de ser em uma única sala, passando a


se distribuir por lugares diversos. O III Encontro significou o momento em que
a entidade abandonou definitivamente o berço de sua criação e passou a andar
com pernas próprias. A organização deste Encontro ficou a cargo de João Lanari,
“nosso homem no Itamaraty”, e Denilson Lopes.
Ao criar a SOCINE, pensou-se no cinema em suas diversas fronteiras, na
sua história e no diálogo com outros campos das humanidades, na análise das
diversas expressões estéticas que compõem sua forma narrativa, na densidade da
teoria que se articula em torno da cinematografia. O projeto da SOCINE ainda
está em aberto e o dinamismo de seu formato atual mostra que o grupo de jovens
que se reuniu há 15 anos, buscando espaços mais amplos para expor suas idéias e
sua paixão pelo cinema, estava correto em suas ambições.
Como foi pressentido no início, o cinema era maior e podia ocupar um
espaço social mais amplo. A SOCINE é a expressão deste ensejo. A dinâmica de
sua história demonstra que a forma artística que a sustenta respira com fôlego
mais amplo que geralmente supõe-se.

Pensando a Socine
A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE), é uma
associação de interesse científico e cultural, sem fins lucrativos, que congrega
pesquisadores da área do cinema e audiovisual.
Em 16 de Setembro de1996 é lançada a Carta de Salvador na qual um
grupo de professores, pesquisadores, ensaístas e estudantes de cinema constatam
“a inexistência de um espaço que possa aglutinar, sistematizar e divulgar nossas
experiências relativas ao estudo da imagem em movimento em suas diferentes
formas”. Nesse momento decidem “organizar a Sociedade Brasileira de Estudos
de Cinema que terá como objetivo primeiro o estudo e a pesquisa da história e
da teoria do cinema”. Alguns anos depois acrescenta-se o conceito de Audiovisual
ao nome da sociedade com a finalidade de ampliar o campo de estudos em um
movimento em consonância com a convergência determinada pelo digital. Seu
surgimento veio refletir o crescimento dessa área de conhecimento no Brasil.
Com a instituição da graduação e da pós-graduação em cinema a partir
do fim dos anos 60, a pesquisa em cinema se expande e se institucionaliza nas
Universidades imprimindo-lhe uma regularidade antes inexistente.
A Universidade de Brasília (UNB), é uma das pioneiras na implantação
de Cursos de Cinema (1962), seguida pela USP - Universidade de São Paulo
(1967) e pela UFF – Universidade Federal Fluminense (1969). Se na época
o principal objetivo desses cursos era a formação de diretores de cinema, a

84
Breve relato sobre a fundação da SOCINE

sedimentação dos cursos de pós-graduação senta as bases para o crescimento dos


estudos na área, fazendo com que os cursos de graduação passassem a incluir em
suas estruturas curriculares disciplinas de reflexão teórica que, junto com as de
realização, imprimiam aos cursos um perfil universitário. A formação teórica não
se limitava apenas à capacidade metodológica de interpretação da realidade ou à
teoria científica, mas envolvia também o domínio dos saberes derivados da análise
dessas práticas contidos nas dimensões que unem teoria à arte, teoria à vida social
e cultural.
A partir dos anos 90, com o avanço tecnológico e a convergência digital,
caíram as barreiras que impediam uma aproximação entre os meios, principalmente
entre o cinema e a televisão. Se no passado foram profissões excludentes, hoje
constituem um campo vasto de especializações ligadas ao universo do que se
convencionou chamar de Audiovisual. A aproximação entre os meios é definitiva,
com saudável reflexo nas estruturas de ensino e pesquisa.
O final do século XX apontou decisivamente para uma indústria unificada
sob o nome abrangente do audiovisual. Os meios de produção já compartilham
equipamentos comuns, os mercados cada vez menos distinguem produtos segundo
sua origem – fotográfica ou eletrônica – até mesmo porque esses processos são
conversíveis, a televisão tende a cumprir o seu papel privilegiado de veículo de
uma produção audiovisual elaborada muitas vezes por empresas autônomas que
também produzem cinema.
Os objetivos da SOCINE são:
a) aglutinar, sistematizar e divulgar experiências relativas ao estudo da
imagem em movimento, em seus diferentes suportes, e áreas afins;
b) organizar encontros, seminários, simpósios e congressos;
c) promover o relacionamento de seus integrantes com entidades similares
do País e do exterior
A entidade já realizou 14 Encontros nas mais diversas regiões brasileiras,
sempre acolhidos por universidades notórias pelo ensino e pesquisa nessa área
de conhecimento. Como resultado dos Encontros, a SOCINE já promoveu a
publicação de dez livros incorporando trabalhos apresentados em suas reuniões
e é reconhecida, tanto no Brasil como no exterior, como a mais importante
instituição que promove a pesquisa em cinema e audiovisual em nosso país. A
partir de 2010 o livro Estudos de Cinema e Audiovisual passa a ser uma publicação
digital podendo ser encontrado na página web da associação.
Esse reconhecimento pode ser confirmado pelo crescimento exponencial de
associados que atinge hoje o numero de 1011 sócios entre os que estão ativos
e os inativos (, ainda, pelo fato de que a partir de 2005 os encontros passaram
85
Breve relato sobre a fundação da SOCINE

a receber pesquisadores de fora do Brasil como, por exemplo, do México, da


Inglaterra, de Portugal e da África do Sul. Alem disso, os órgãos financiadores como
CAPES, CNPq e FAPESP têm apoiado os Encontros da SOCINE contribuindo
financeiramente para a viabilização dos mesmos. O MinC, através da Secretaria
do Audiovisual (SAV), também colabora para a realização dos eventos.
De acordo com o portal do MEC há hoje, no Brasil, 54 instituições de
ensino superior com cursos de graduação (bacharelado, seqüenciais e cursos
superiores de tecnologia) de cinema, televisão, vídeo, produção audiovisual,
realização audiovisual – tanto em instituições públicas como em privadas.
Dos 37 programas de pós-graduação vinculados à área de Comunicação,
três deles estão voltados especificamente para a área do cinema e audiovisual:
- UFSCar – Universidade Federal de São Carlos – Programa em Imagem e
Som
- UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas – Programa em
Multimeios
- USP – Universidade de São Paulo – Programa em Meios e Processos
Audiovisuais
Em sete desses programas há linhas de pesquisa na área:
- UNISINOS- Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Mídias e Processos
Audiovisuais
- UFF- Universidade Federal Fluminense – Análise da Imagem e do Som
- UTP – Universidade Tuiuti do Paraná – Estudos de Cinema
- UNIP – Universidade Paulista – Configuração de Linguagens e Produtos
Audiovisuais na Cultura Midiática
- UAM- Universidade Anhembi Morumbi – Análises em Imagem e Som
- UFPB – Universidade Federal da Paraíba – Culturas Midiáticas
Audiovisuais
- UFC – Universidade Federal do Ceará – Fotografia e Audiovisual
É interessante notar que não é somente nos cursos específicos que
encontramos a pesquisa em cinema e audiovisual, pesquisa-se e são produzidas
dissertações e teses também nos cursos e programas de Comunicação, Ciências
Sociais, Filosofia, História, Letras. É fato de que o cinema e audiovisual tem
uma relação próxima com essas áreas do conhecimento, principalmente com a
Comunicação, por tratar-se de campo cuja especificidade dialoga de maneira
transdisciplinar com os outros.

86
Breve relato sobre a fundação da SOCINE

Nos 14 anos de existência da SOCINE chegou-se a um numero de 1011


associados, tendo hoje 50% deles em plena atividade participando de todos
os Encontros, e os outros 50% flutuantes. Desse total, 454 são doutores ou
doutorandos, sendo que a grande maioria são professores universitários.

Tendências
Os Encontros da SOCINE tem se estruturado nos últimos anos em torno de
Seminários temáticos, Mesas temáticas, Sessões de Comunicações individuais e
Painéis. Essa organização nos permite verificar quais são os focos de interesse de
pesquisa a cada ano. Os Seminários temáticos são os que podem nos assinalar os
temas do momento já que eles tem duração de quatro anos. Isso não significa que
toda a pesquisa na área se concentre nos temas dos seminários, mas nos dá alguns
parâmetros importantes dada a constância dos mesmos assuntos por um período
determinado.
Os temas são:
- Cinemas em português: aproximações/relações
- Os gêneros no cinema brasileiro e latino-americano: práticas,
transformações, remixagens e tendências
- Indústria e recepção cinematográfica e audiovisual
- Estudos de som
- Cinema, transculturalidade, globalização
- Cinema no Brasil: dos primeiros tempos à década de 1950
- Cinema como arte e vice-versa
- Ciências Sociais e cinema: metodologias e abordagens de uma pesquisa
interdisciplinar
- Cinema, estética e política: a resistência e os atos de criação
- Televisão – formas audiovisuais de ficção e documentário
Outro tema bastante recorrente nos últimos 10 anos é o gênero documental.
Essa preocupação vem de encontro à importância histórica que o documentário
vem retomando traduzida, principalmente, no surgimento de novas tendências
e da ampliação de espaços de exibição. Essa transformação tem sido objeto
de discussão e é vital ao se pensar o documentário como forma audiovisual
fundamental. Como pode ser verificado a gama de assuntos é abrangente e
denota a amplitude da área do cinema e audiovisual.

87
Breve relato sobre a fundação da SOCINE

Mercado de trabalho
A área do cinema e audiovisual tem uma relação muito próxima com o mercado
de trabalho em vários níveis. Encontramos profissionais no campo da produção
cinematográfica e audiovisual independente, seja para a tela grande do cinema,
seja para a tela pequena da televisão ou para a tela menor do celular. A televisão
propriamente dita também absorve um numero significativo de profissionais.
O poder público também tem sido um espaço de atuação, assim como as
Universidades têm recrutado um bom número de docentes, não somente para a
área específica, mas, também, para a área da comunicação.
As relações com a comunidade acadêmica internacional se dão através de
convênios de pesquisa, de realização de mestrados, doutorados e pós-doutorados,
alem de intercâmbio de docentes e de publicações de mão dupla.
A SOCINE tem mantido estreita colaboração com a Society for Cinema
and Media Studies, organização internacional sediada nos Estados Unidos, e
através desse contato tem promovido o intercâmbio de pesquisadores de diferentes
países.
É importante citar que a SOCINE foi exemplo para a criação de três novas
entidades:
- ASAECA – Asociación Argentina de Estudios de Cine y Audiovisual,
Argentina
- SEPANCINE – Seminário Permanente de Análisis Cinematográfico,
México
- AIM – Associação dos investigadores da Imagem em Movimento,
Portugal
Está claro que não podemos dissociar a pesquisa do ensino na área do
Cinema e Audiovisual uma vez que, no Brasil, a pesquisa se dá prioritariamente
na Universidade.
Nessa perspectiva é importante apontar para o fato de que o interesse pela
formação na área está em plena expansão, o que pode ser facilmente detectado
nas estatísticas dos exames vestibulares em todas as regiões do país. A demanda
por novos cursos é significativa e resultou na ampliação da oferta levando à
necessidade de contratar professores que, por sua vez, necessitam cursar a pós-
graduação desenvolvendo pesquisa para obter seus títulos que lhes permitirão
trilhar a carreira acadêmica.
Quanto às carências, nos ressentimos ainda de uma maior valorização da
área em virtude de sua importância histórica e estratégica. Já é chavão dizer que o
mundo hoje se move em torno do audiovisual, mas não deixa de ser uma verdade

88
Breve relato sobre a fundação da SOCINE

indiscutível. Nesse sentido há a necessidade de pensar em políticas públicas que


incentivem o avanço da pesquisa na área e organizem o ensino e a formação
profissional.
Outra questão fundamental é a necessidade de dar ao jovem do ensino
médio uma formação em linguagem audiovisual (leitura critica e produção), não
só para inseri-lo na contemporaneidade, mas, principalmente, para fomentar a
capacidade critica e reflexiva sobre as imagens e sons em movimento.

Estudos e pesquisas de Cinema e Audiovisual no sistema de pós-graduação


Os pesquisadores da área vêm debatendo o lugar dos estudos e pesquisas de
cinema e audiovisual no sistema nacional de pós-graduação. Historicamente, o
cinema viveu até 1990 uma situação esquizofrênica pois, no nível de graduação,
era considerado uma habilitação de Comunicação Social, e no nível de pós-
graduação sempre esteve na área de Artes. A partir daquela data os cursos de
graduação que assim o desejassem foram autorizados a implantar currículos
autônomos, ou seja, currículos específicos que independem do vínculo às Artes
ou às Comunicações.
Essa esquizofrenia histórica foi reconhecida recentemente pelos próprios
órgãos financiadores que, atendendo a um pedido das associações no sentido de
dar um melhor atendimento à área de cinema e audiovisual, concentraram na área
da Comunicação o encaminhamento para avaliação dos projetos de pesquisa.
É fundamental aplicar ao cinema uma flexibilização capaz de legitimar a
diversidade de enfoques que a nossa área não apenas abriga como exige, para
que se possa dar conta da reflexão sobre as experiências e práticas do cinema,
do vídeo, da televisão e de todas as manifestações da área conhecidas hoje como
audiovisual, incluindo os novos meios digitais.
Uma área que possa precisar a especificidade do olhar investigativo do
domínio do Audiovisual, tanto sobre seus “fenômenos” próprios, como sobre
os de outras áreas (como no caso do pesquisador de Audiovisual que estuda a
formação de platéias e se referencia por conhecimentos de história social -- e
ele continua sendo um “estudioso da área do Audiovisual”, ou daquele que se
debruça sobre o mercado a partir de noções de economia, etc). Cabe ressaltar que
o Cinema construiu, seja no seu exercício, seja na crítica e análise, uma matriz
teórica indiscutivelmente peculiar e irredutível (mas dialogante) com outras
matrizes, como as da lingüística, da semiótica, etc. E que por isso ela transcende,
em muito, as especificidades das chamadas Ciências Socialmente Aplicáveis, se
tangencia com as Linguagens e Artes, e está inevitavelmente conectada com a
psicologia, a economia, a filosofia, assim como com várias outras áreas.

89
Notas sobre a história da SOCINE
José Gatti3

A criação da SOCINE está ligada ao crescimento da área de estudos de cinema


nas últimas décadas no Brasil. Desde a criação, nos anos 1960, dos primeiros
cursos especializados criados por Paulo Emílio Salles Gomes na Universidade
de Brasília (UnB) e na Universidade de São Paulo (USP), surgiram diversos
programas de pós-graduação na área da Comunicação Social dedicados ao
cinema, assim como linhas de pesquisa especializadas em cursos de artes, letras,
história, ciências sociais e outros. A área se caracteriza, portanto, por uma intensa
interdisciplinaridade. Esse caráter interdisciplinar foi mantido, assim como foi
dado espaço para o entendimento do cinema como uma área que vai além dos
estudos fílmicos, abrangendo a televisão e as novas tecnologias relacionadas com
o campo discursivo do audiovisual.
Um nome importante nesse processo: o do saudoso prof. Arlindo Castro, da
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Quando estudávamos juntos na
New York University, nos anos 1980, conhecemos a Society for Cinema and Media
Studies (SCMS), a maior entidade do mundo nessa área, que realiza conferências
anuais dentro e fora dos Estados Unidos. A participação numa das conferências
da SCMS ajudou a pensar na criação de uma entidade congênere no Brasil.
Arlindo foi um entusiasta da criação da SOCINE, tendo redigido a primeira
versão de seus estatutos. Seu falecimento inesperado impediu que participasse de
nossos Encontros, mas é importante lembrar seu nome como um dos criadores
da SOCINE. A entidade seria imaginada de forma mais concreta num almoço na
UnB, em 1995, durante a realização de um dos encontros da Compós. Eduardo
Peñuela Canizal, Lúcia Nagib, Fernão Ramos, Mauro Baptista e eu conversamos
sobre a possibilidade de realização de um encontro de pesquisadores da área.
Durante a realização da Jornada de Curtas de Salvador, em setembro de
1996, Fernão Ramos e eu demos continuidade à discussão e Fernão tomou a
iniciativa de redigir a Carta de Salvador, o primeiro documento que marcou a
criação da SOCINE. A Carta subscrita por todos os participantes em ato solene, e
levou à convocação de nosso primeiro Encontro de pesquisadores, na ECA/USP,
no mês de novembro.
Desde então, temos realizado Encontros anuais, em diferentes regiões do
país, com o reconhecimento e o apoio de agências de de fomento à pesquisa,
como o CNPq, a Capes, a Fapesp e outras instituições dedicadas ao campo
do audiovisual no Brasil. Participamos ativamente da criação de entidades
irmãs no México (Sepancine) e na Argentina (Asaeca) e nossos pesquisadores
3. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina. Foi secretário, vice-presidente e presidente da SOCINE.

90
Notas sobre a história da SOCINE

têm comparecido a seus respectivos congressos. A SOCINE conta, hoje, com


reconhecimento internacional e, em número de sócios, já é a segunda maior
entidade especializada em estudos de cinema no mundo. Temos contado com
a presença de pesquisadores da França, dos Estados Unidos, Portugal, Canadá,
África do Sul, Nova Zelândia e outros países. Um de nossos próximos desafios
será o de consolidar essa inserção internacional.

91
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine
Maria Dora G. Mourão4

Introdução
O Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual (Forcine) é uma
sociedade civil sem fins lucrativos que congrega e representa de forma permanente
as instituições e os profissionais brasileiros dedicados ao ensino de cinema e
audiovisual, visando o desenvolvimento e o fortalecimento desta atividade. O
processo de criação dessa entidade teve início no 3° Congresso Brasileiro de
Cinema (CBC), ocorrido em Porto Alegre, de 28 de junho a 1° de julho de
2000. Naquele momento, ainda não havia uma representação formal do setor
de ensino e formação do setor audiovisual no Brasil. Mas houve a formação de
um grupo de trabalho dedicado a questões de formação profissional, pesquisa
e preservação, do qual participaram representantes do Centro de Pesquisadores
do Cinema Brasileiro, da SOCINE. As escolas de cinema foram representadas
pela Professora Maria Dora Genis Mourão, da ECA-USP, à época integrante da
diretoria da Federação das Escolas Iberoamericanas de Imagem e Som (FEISAL).
No documento final do III CBC foram incluídos algumas deliberações
relativas ao ensino e à formação profissional, como é o caso dos itens 52 e 53:
52. Criar um fórum nacional permanente de escolas e centros de formação
profissional como instância institucional de interlocução
53. Implementar um projeto de mapeamento da demanda potencial e real
dos mercados de trabalho com o objetivo de reorientar o ensino das escolas de
cinema e audiovisual. (...)
Em dezembro do ano 2000, o Departamento de Cinema, Televisão e
Rádio (CTR) da ECA-USP organizou um seminário para discutir os rumos do
ensino de cinema no Brasil, tendo como coordenadora a Professora Maria Dora
Mourão. O evento foi denominado de Fórum de Ensino de Cinema e contou
com representantes de instituições de ensino públicas e privadas com atuação em
programas regulares de formação na área audiovisual em diferentes regiões do
Brasil. O encontro discutiu a situação do ensino dedicado ao cinema e ao vídeo,
sua relação com o ensino de televisão e as novas tecnologias e a necessidade de
constituição de uma entidade para representar o setor de ensino e formação junto
ao Congresso Brasileiro de Cinema (CBC).
Participaram deste encontro as seguintes instituições: Faculdade de
Tecnologia e Ciências (Salvador, BA); Fundação Armando Álvares Penteado (São
Paulo, SP); Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (RJ); Universidade
4. Professora titular do Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes da USP.

92
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine

Gama Filho (Rio de Janeiro, RJ); Universidade Federal de São Carlos (S. Carlos,
SP), Universidade de São Paulo (São Paulo, SP); Instituto Dragão do Mar de Artes
e Indústria Audiovisual (Fortaleza, CE); Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (Porto Alegre, RS); Universidade de Brasília (DF); Universidade
Federal Fluminense (Niterói, RJ); Universidade Estadual de Campinas (Campinas,
SP); Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG); Universidade
Federal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ) e Faculdades Integradas Hélio
Alonso (Rio de Janeiro, RJ. Todas figuram como as Inistituições de Ensino
Superior (IES) fundadoras do Forcine. Na condição de convidados estiveram
representados o Congresso Brasileiro de Cinema, o Sindicato dos Trabalhadores
da Indústria Cinematográfica do Estado de São Paulo, a Sociedade Brasileira de
Estudos de Cinema, a Secretaria Municipal de Cultura de Belo Horizonte e a
Universidade Metodista de São Paulo.
Ao final daquele seminário, os representantes decidiram pela criação do
Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual (Forcine) e elegeram a
primeira diretoria: Maria Dora Genis Mourão, presidente (ECA-USP); Antonio
Amaral Serra, vice-presidente (UFF); João Guilherme Barone Reis e Silva,
secretário geral (PUCRS) e Evandro Lemos da Cunha, tesoureiro (UFMG). Para
o conselho de representantes foram eleitos: Silas de Paula (Instituto Dragão do
Mar); Marcos Mendes (UNB); Jackson Saboya (FACHA); Messias Guimarães
Bandeira (FTC) e Adílson Ruiz (UNICAMP). A primeira missão dessa diretoria
foi a de organizar juridicamente a entidade, elaborar uma proposta de estatuto e
fixar o valor da contribuição financeira de seus associados.
Durante os anos de 2001 e 2002 os estatutos da entidade foram discutidos
e aprovados entre seus membros e o Forcine tornou-se pessoa jurídica. A diretoria
reuniu-se em várias ocasiões, em Goiânia, Rio de Janeiro e São Paulo. Em
novembro de 2001 foi realizada a primeira Assembléia Geral, na Universidade
Federal Fluminense (UFF), em Niterói, RJ, tendo como principal item da pauta,
a filiação do Forcine ao CBC e sua participação no IV Congresso Brasileiro de
Cinema, realizado no Rio de Janeiro, dias depois da Assembléia. No IV CBC, a
presidente do Forcine, Maria Dora Mourão, foi eleita para participar da diretoria
do CBC entidade.

Os congressos do Forcine
O I Congresso do Forcine ocorreu na Escola de Belas Artes da UFMG, em Belo
Horizonte, MG, de 15 a 19 de outubro de 2003. Através de grupos de trabalho,
painéis e sessões plenárias, foi o início de um processo de discussão sistemática das
grandes questões relativas ao ensino e formação audiovisual no Brasil. Questões
pedagógicas foram trabalhadas a partir da exibição de filmes produzidos pelas

93
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine

escolas afiliadas. Na ocasião, a diretoria fundadora foi eleita para um primeiro


mandato após a aprovação dos Estatutos. O Documento Final deste I Congresso
declara como de fundamental importância inserir no panorama brasileiro, a
discussão sobre a formação profissional para o audiovisual, destacando que “no
momento em que se retoma a produção de maneira significativa, em que as novas
tecnologias oferecem instrumentos diferenciados para a realização e abrem-se
novos espaços de circulação para produtos audiovisuais, é importante refletir
sobre o significado e os parâmetros para a formação profissional na área”.
Segue o documento: “a maioria dos cursos existentes no Brasil está integrada
a Universidades o que, se por um lado é altamente positivo, ao tomarmos
como parâmetro um ensino no qual a reflexão e a experimentação têm papéis
importantes, por outro, há sérios problemas no que diz respeito ao saber mais
especializado, do ponto de vista tecnológico, pois as Universidades públicas, por
exemplo, não têm incentivos que lhes permitam acompanhar os rápidos avanços
na área”.
E vai mais além: “É chegada a hora de debater propostas de políticas de
formação que acompanhem as discussões sobre as políticas de incentivo à criação
de uma indústria do cinema e audiovisual no Brasil. A produção, assim como
a distribuição e exibição, não podem, em hipótese alguma, estar dissociadas
da pesquisa (tecnológica, estética, dramatúrgica, de linguagem, de preservação
e de mercado), e da formação em todos os níveis (técnico profissionalizante,
de alta capacitação profissional e universitário). Discute-se como incentivar o
aumento da produção, principalmente a cinematográfica. Tomamos consciência
do problema de que não adianta discutir produção, sem ter como distribuir e
exibir de maneira adequada, mas não se cuida da formação que é, sem dúvida,
uma das sustentações de uma indústria do cinema e do audiovisual. Convicto da
importância da definição e implantação de uma política pública, o I Congresso
Forcine apresenta os resultados do debate promovido, destacando o papel
do ensino e da formação profissional como estratégia para uma política de
desenvolvimento do audiovisual.”
Para levar a cabo estas resoluções, o Congresso deliberou por “atuar junto
ao Ministério da Cultura (MinC), Ministério da Educação (MEC), Ministério
das Comunicações (Minicom) e Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) com
o objetivo de encaminhar o desenvolvimento de ações conjuntas de apoio às
instituições que se caracterizam pela integração entre ensino, produção e pesquisa
em cinema e audiovisual” (Documento final do I Congresso Forum Brasileiro do
Ensino do Cinema e do Audiovisual – Forcine)
No II Congresso Forcine, realizado em Salvador, BA, com apoio da FTC,
de 20 a 24 de outubro de 2004, o tema central foi “Pedagogia e Sistemas de
Produção e Difusão nas Instituições de Ensino de Cinema e Audiovisual”. Foram
94
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine

também iniciadas as propostas de novas diretrizes curriculares para os cursos


superiores de cinema e audiovisual, considerando as grandes transformações do
ambiente profissional por conta das novas tecnologias. Representantes do MEC/
SESU estiveram presentes ao evento, dando início a uma interlocução inédita
com as escolas de cinema.
No III Congresso, realizado na ECA-USP, em outubro de 2005, ao lado dos
avanços na proposta de novas diretrizes curriculares, houve espaço para debater
“o lugar dos estudos e pesquisas do cinema e audiovisual no sistema nacional de
pós-graduação”, com a participação de representantes da CAPES, SOCINE e
COMPÓS.
No IV Congresso, realizado em Fortaleza, CE, em dezembro de 2006, com
apoio da UFC, o tema central foi “por uma política nacional de ensino e formação
para o setor audiovisual”. O documento final foi encaminhado ao MEC e houve
também contribuições pontuais incorporadas no Programa Nacional de Cultura
a pedido do MinC, que enviou um representante ao encontro. Houve também
espaço para discutir as relações das escolas com o mercado. Neste Congresso,
o Forcine já havia conquistado a implantação de novas Diretrizes Curriculares
para os Cursos Superiores de Cinema e Audiovisual, publicadas pelo Conselho
Nacional de Educação (CNE) em abril.
No V Congresso, realizado em Tiradentes, com apoio da UFMG e da
Fundação Rodrigo de Melo Franco, o tema central foi “inovação das escolas
e relações com as televisões universitárias”. Houve também um painel sobre
Perspectivas das Escolas a partir da implantação das novas Diretrizes Curriculares.
No VI Congresso, realizado na UFF, em março de 2010, o tema central
foi “inserção profissional: novos desafios a formação audiovisual”, com debates
importantes sobre as questões relacionadas ao mundo do trabalho. Na Assembléia,
houve alterações dos Estatutos e eleições para a Diretoria Executiva, Conselho de
Representantes e Conselho Fiscal.

Conquistas da Forcine
Entre os eixos de ação prioritários do Forcine está o reconhecimento pelos agentes
da indústria audiovisual e pelo poder público do papel fundamental das escolas
de cinema e audiovisual como geradoras de inovação e qualificação capazes de
fortalecer o setor, mas também como produtoras de conteúdo.
No I Congresso Forcine, em outubro de 2003, o então titular da Secretaria
para o Desenvolvimento do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura,
Orlando Senna, reconheceu que a produção interna das escolas deveria contar
com o Ministério da Cultura, para, por exemplo, auxiliar a superar os problemas

95
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine

de recursos na realização dos trabalhos de conclusão dos alunos, como forma do


MinC valorizar o que as escolas produzem. Naquele momento iniciou-se um
processo conjunto para a criação de uma seleção pública para apoio aos filmes de
escolas, culminando no Programa SAV-MinC/ Forcine de Apoio a Trabalhos de
Conclusão de Curso (TCCs).
O Programa tinha como objetivo apoiar a produção dos TCCs das escolas,
através do repasse de recursos financeiros, visando à melhoria das condições
técnicas de produção, finalização e difusão de projetos audiovisuais de curta-
metragem desenvolvidos por alunos em final de curso. A realização da primeira
edição do Programa, em 2004, atendeu à recomendação do Documento Final do
I Congresso Forcine. A operação do Programa foi feita através de convênio entre o
Forcine e a Secretaria do Audiovisual do MinC, com recursos do Fundo Nacional
de Cultura, ficando o Forcine responsável pela execução. Na primeira edição do
Programa foram contemplados projetos de produção das seguintes escolas: EBA-
UFMG, Belo Horizonte; UnB, Brasília; UNISUL, Florianópolis; UFF, Niterói e
UFSCar, São Carlos. Cada projeto recebeu apoio no valor de 25 mil reais.
A segunda edição deste Convênio, iniciada em 2006, possibilitou a
finalização de mais seis filmes, destinando 30 mil reais a cada um. Foram
selecionados projetos da ECO-UFRJ, Rio de Janeiro; UFSCar, São Carlos; FAAP,
São Paulo; UFF, Niterói; UNISUL, Florianópolis e ECA- USP, São Paulo.
Atualmente, o Forcine trabalha junto à Secretaria do Audiovisual do MinC
para a publicação de um novo edital para os estudantes de ensino superior
de cinema e audiovisual. Nesse edital seriam contemplados 24 projetos de
documentários, de 24 minutos cada, a serem exibidos em canais universitários
e outros espaços. Para cumprir com os seus objetivos estatutários, o Forcine vem
trabalhando na organização do setor e na interlocução política com instâncias
públicas como MEC-SESU, Min C/SAV, ANCINE, CNPq e CAPES.
Junto ao Ministério da Educação a atuação do Forcine foi essencial e decisiva
para a proposição e elaboração das novas Diretrizes Curriculares para Cursos
Superiores de Cinema e Audiovisual. O Forcine trabalhou ao lado da Secretaria
de Ensino Superior (SESU) na formação de um Grupo Especial de Trabalho
com representantes de universidades públicas e privadas, realizando seminários
e debates que resultaram numa proposta encaminhada e aprovada pelo CNE,
através da RESOLUÇÃO Nº 10, de 27 de junho de 2006.
Em 2006 a diretoria da entidade repassou os itens constantes do Plano
Nacional de Ensino e Formação para o Setor Audiovisual no Brasil, documento
aprovado no IV Congresso, realizado em dezembro de 2006 em Fortaleza,
prontamente encaminhado ao MEC.
No V Congresso CBC, realizado em novembro de 2003 em Fortaleza, foi
96
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine

eleito João Guilherme Barone (PUCRS) como representante do Forcine na nova


Diretoria. A partir de 27 de novembro de 2003 o Fórum passou a ter assento junto
ao Conselho Consultivo da Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual do
Ministério da Cultura, criado por portaria assinada pelo Ministro da Cultura.
O organismo é composto por membros de outras entidades representativas
do setor audiovisual e liderado pelo Secretário, com a função de assessorar a
SAV. O relacionamento com a SAV tem sido altamente produtivo, não só pela
interlocução, mas também pelos convênios e o apoio essencial para a realização
dos Congressos.
A qualificação das IES associadas vem sendo constantemente reconhecida,
eis que há anos o Forcine é convidado a indicar representantes para todas as
comissões de seleção de editais de cinema e audiovisual do Ministério da Cultura
e para os da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
Até 2010 a estrutura administrativa foi composta por uma Diretoria e um
Conselho de Representantes, tendo como órgão deliberativo máximo a Assembléia
Geral, cujas reuniões ordinárias aconteciam anualmente, durante a realização
do Congresso Forcine. A diretoria eleita no V Congresso, em Tiradentes, MG,
em novembro de 2007 foi formada por Evandro Lemos da Cunha, presidente
(UFMG); Aída Marques, vice-presidente (UFF); João Guilherme Barone Reis e
Silva, secretário geral (PUCRS) e Luciana Rodrigues, tesoureira (FAAP)
Em 2009 o então presidente do Forum, Evandro Lemos da Cunha, pediu
afastamento da função e depois foi destituído em Assembléia Geral, assumindo
a presidência a representante da UFF, Aída Marques. Em março de 2010, em
Niterói, na Universidade Federal Fluminense, realizou-se o VI Congresso do
Forcine. Esse Congresso foi essencial para a retomada da mobilização nacional,
com ampla participação das escolas associadas e de novas escolas, em processo
de filiação. As propostas da plenária final seguem anexadas. A Assembléia Geral
decidiu pela realização do VII Congresso em 2011, na FAAP, SP e votou a
mudança estatutária.

Representações Internacionais
Atualmente, entre as associações internacionais que representam coletivamente
as escolas de cinema, a mais importante é o Centre International de Liaison des
Ecoles de Cinéma et de Télévision (CILECT), uma associação mundial de escolas
de cinema e televisão. Seu objetivo é fornecer meios para a troca das idéias entre as
escolas membro, auxiliando na compreensão do ensino de audiovisual. O Centro
dedica-se à criação, ao desenvolvimento e à manutenção da cooperação regional
e internacional entre as escolas e ao incentivo do ensino de cinema e televisão no
mundo. Além disso, ajuda na compreensão do audiovisual como uma chave para
97
A História do Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual - Forcine

o desenvolvimento cultural e das comunicações, atuando como ferramenta de


instrução, informação, documentação e pesquisa na área.
A fundação do CILECT foi em Cannes, em 1955, com a intenção de
estimular um diálogo entre escolas de cinema no mundo, raro nestas épocas.
Sua sociedade foi iniciada com oito países: Grã Bretanha, Checoslováquia,
França, Itália, Polônia, Espanha, União Soviética e os Estados Unidos. Em 2000,
CILECT já contava com 108 instituições de 50 países, em cinco continentes,
tendo revisto suas atividades e se adaptado às necessidades contemporâneas,
explorando as potencialidades das novas tecnologias para instrução, informação
e entretenimento.
No Brasil são membros CILECT: a Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo; a Universidade Estadual de Campinas, Programa
de Pós-Graduação em Multimeios, a Universidade Federal Fluminense,
Departamento de Cinema e Vídeo e a Escola de Belas Artes da Universidade
Federal de Minas Gerais.
Em agosto de 2002 a maioria das escolas ibero-americanas filiadas ao CILECT
decidiu se organizar em um grupo denominado CILECT Ibero-América (CIBA)
com o intuito de representarem dentro da entidade internacional, CILECT, a
região ibero-americana. Até aquele momento a região era representada pela
Federação de Escolas Ibero-americanas de Imagem e Som (FEISAL), inicialmente
denominada Federação de Escolas de Imagem e Som da América Latina. A
FEISAL deixou de representar a região ibero-americana em CILECT dado seu
crescimento em função da incorporação de um número grande de escolas latino-
americanas que não são diretamente filiadas a CILECT. As escolas se organizaram
para serem suas próprias representantes a partir de CIBA. As escolas são: Brasil:
ECA-USP e UFF / Argentina: UBA, FUC, ENERC / Chile: UNIACC / México:
CCC e CUEC / Cuba: EICTV / Portugal: Escola de Cinema de Lisboa / Espanha:
ESCAC de Barcelona

98
CAPÍTULO 6

A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Carlos Eduardo Franciscato1


Edson Spenthof 2
Mirna Tonus3
Sérgio Luiz Gadini4

Introdução
Desde as experiências pioneiras de pesquisa histórica em Jornalismo de Alfredo
de Carvalho e Carlos Rizzini até as formulações teóricas de Danton Jobim e Luiz
Beltrão em meados do século passado, passando pela sedimentação acadêmica da
formação universitária em Jornalismo a partir da década de 1940, os estudos de
Jornalismo no Brasil têm alcançado um processo de crescimento científico que
demonstra vigor e maturidade das pesquisas nacionais. Como objeto complexo,
o Jornalismo tem sido passível de tratamento por diversas áreas de conhecimento,
de forma diversificada e complementar.
O Jornalismo antes de sua academização localiza suas raízes ainda no
século XIX. Propõe, então, uma periodização em três fases: 1) Emancipação
(século XIX); 2) Identificação (século XX); e 3) autonomização (século XXI). O
primeiro período, de emancipação, está ligado à dissociação gradual dos modelos
portugueses de compreender o Jornalismo, reminiscentes da Era Colonial, e a
busca de um modelo brasileiro de Jornalismo a partir da Independência do Brasil
e nas décadas seguintes do século XIX (MELO, 2009, p. 12-13).
O segundo período proposto pelo autor, o da identificação (MELO, 2009,
p. 13-19), expande-se por todo o século XX por meio de várias correntes de
pensadores. A primeira corrente é a dos fundadores, em que se encontram atores
políticos que identificam no Jornalismo uma função vital ao sistema político,
em um contexto de industrialização do país e seus efeitos sobre a informação
jornalística e a sociedade. Destaca-se o pensamento de Rui Barbosa, Barbosa
Lima Sobrinho e Carlos Lacerda. Uma segunda corrente deste período é a dos
sistematizadores, em que um olhar acadêmico tenta identificar fronteiras do

1 Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Professor adjunto da Universi-


dade Federal de Sergipe (UFS).
2 Diretor do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ). Jornalista. Mestre em História e professor
da Universidade Federal de Goiás. (UFG).
3 Diretora do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ). Doutorado em Multimeios pela Unicamp
e professora adjunta da Universidade Federal de Uberlândia (MG).
4 Presidente do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ). Doutor em Comunicação pela Unisinos/
RS. Professor concursado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR).

99
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Jornalismo em relação a outras formas de pensamento, como a literatura, seja


numa abordagem histórica, sociológica, estética ou filosófica. Neste grupo estão
Alceu Amoroso Lima, Danton Jobim e Luiz Beltrão.
Uma terceira corrente de pensamento sobre o Jornalismo neste período
de Identificação é denominada por Marques de Melo como polemista, na qual
jornalistas como Alberto Dines e acadêmicos como Cremilda Medina e Adelmo
Genro Filho produzem uma visão crítica sobre a sociedade, o Jornalismo e o
governo militar autoritário da segunda metade do século XX. Por último, uma
corrente de consolidadores, que aprofundam uma abordagem acadêmica sobre o
Jornalismo.
A terceira fase na formação de um pensamento sobre o Jornalismo, classificada
por Marques de Melo como de autonomização (2009, p. 19-23), engloba uma
nova geração de pesquisadores dedicados a constituir uma comunidade acadêmica
de estudiosos do Jornalismo. Neste período, que engloba a primeira década do
século XIX, surge uma corrente de revigoramento de uma análise crítica do
Jornalismo (os problematizadores) e uma corrente mais preocupada em legitimar
o Jornalismo como um campo acadêmico capaz de produzir um conhecimento
científico (os institucionalizadores).
Embora este tipo de periodização indique aparentes divisões, não foi
proposta do autor considerar formas de pensar separadas, mas observá-las
em um movimento complementar, sem a criação de rupturas substantivas.
O último grupo de pesquisadores, por exemplo, têm buscado, por meio da
institucionalização, uma sedimentação de diferentes correntes de pesquisa sobre
o Jornalismo, seja junto aos programas de pós-graduação brasileiros, seja junto às
agências governamentais de fomento à pesquisa.
Com a institucionalização, a produção de conhecimento sobre o Jornalismo
exige uma constituição formal conforme os procedimentos de pesquisa científica.
Um dos desafios contemporâneos é, então, a construção disciplinar do campo,
que passa, além da especificidade do objeto, pela solidez e clareza de categorias
fundamentais para tratá-lo, por um conjunto teórico harmônico que gere
conhecimento articulado e coerente e pela própria definição de eixos metodológicos
específicos em relação a outras áreas do conhecimento. O amadurecimento do
campo do Jornalismo enfrenta o desafio de avançar encontrando um ponto de
equilíbrio entre, por um lado, os diálogos teórico-metodológicos entre disciplinas
que chegam ao objeto por meio de um tratamento multidisciplinar e, por
outro, o esforço de uma construção disciplinar específica, que lhe dê identidade
metodológica para desencadear um diálogo com disciplinas de outros campos
científicos.
Além desta perspectiva histórica, o percurso de caracterização da produção

100
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

de conhecimento em Jornalismo será apresentado em cinco outros aspectos:


1) Descrição da comunidade acadêmica do Jornalismo (surgimento e a
consolidação das escolas de jornalismo, da pesquisa e da pós-graduação em
jornalismo );
2) A identificação das principais áreas de pesquisa em Jornalismo;
3) A publicação de periódicos científicos especializados em Jornalismo;
4) A inserção internacional da pesquisa em Jornalismo;
5) A relação entre a academia, o setor produtivo e a profissão de jornalista.

A comunidade acadêmica da área de Jornalismo


Ao longo do século XX, representantes de entidades de classe (como
os sindicatos estaduais dos jornalistas, a Associação Brasileira de Imprensa e a
Federação Nacional dos Jornalistas), têm defendido a criação de cursos para
qualificar o acesso à profissão e propiciar aos jornalistas a consequente melhora
das condições de vida e trabalho de todos que atuavam na área. O marco desta
histórica luta pela formação universitária é o I Congresso Brasileiro de Jornalistas,
realizado no Rio de Janeiro em 1918.
Os primeiros cursos de graduação em Jornalismo, contudo, só foram de
fato criados e passam a funcionar na segunda metade da década de 1940. O
primeiro, em 1947, na Faculdade Casper Líbero, na ocasião, ligada à Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, e o segundo curso, junto à Faculdade
Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, em 19485. Oportuno considerar
que houve uma primeira tentativa de criar um curso universitário em Jornalismo
em 1935, na Universidade do Distrito Federal, que valorizava uma formação
humanista, por iniciativa de Anísio Teixeira. O Estado Novo, no entanto, acabou
com o projeto, fechando a referida universidade. Somente em 13 de maio de
1943, Getúlio Vargas fundou o Curso de Jornalismo na Universidade do Brasil,
que passou a funcionar em 1948.
Osni Dias (2004) situa a história dos cursos de Jornalismo no Brasil a partir
de um dos pioneiros na criação de curso livre profissionalizante na área. A iniciativa
coube ao paulista Vitorino Prata Castelo Branco, em 1943, “considerado um
precursor dentro da comunidade brasileira de Ciências da Comunicação, ao lado
de personagens como Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Rizzini e Danton Jobim,
entre outros”, afirma Dias.

5 O primeiro curso de Jornalismo (1947) passa a se denominar, mais tarde, Faculdade de Comunicação Social
Cásper Líbero, de São Paulo/SP, e o segundo curso de Jornalismo criado no Brasil (1948) se torna, a partir de
1967, a Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MARQUES DE MELO, 1979).

101
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Com as transformações políticas, sociais e econômicas que ocorriam no


País, marcado pela crescente urbanização, os jornais impressos ganham fôlego
e modernizam-se pelo uso de imagens (fotográficas ou ilustrações), aumentam
tiragens e, assim, contratam mais profissionais para produção editorial. É neste
contexto que o I Congresso Brasileiro de Jornalistas discute e aprova a defesa de
criação de escola de Jornalismo, baseada nas experiências profissionais de outros
países, como a França (que mantinha curso desde 1889) e Estados Unidos, que
mantêm cursos desde 1912, na Universidade de Columbia, por iniciativa de
Joseph Pulitzer.
No início dos anos 1940, Castelo Branco, em São Paulo, fazia palestras
e conferências. Em 1942, em visita pela Argentina, participa de “um curso
na Sociedad Argentina de Periodismo y Redacción, onde recebe o certificado
de conclusão com o resultado sobresaliente”. Na Argentina, Castelo conhece o
Círculo de Periodistas de Buenos Aires e a Escola Argentina de Periodismo, da
Universidad Nacional de la Plata. “Ali, conhece a estrutura da Escola de Periodismo
e seus antecedentes, seu primeiro plano de estudos, o regulamento e a início de
seus cursos, em 1935”, como explica Dias (2004), obtendo as bases para criar, em
1943, aquele que é considerado o primeiro Curso Livre de Jornalismo no Brasil.
O desdobramento dessa demanda pela profissionalização com formação
universitária iria se consolidar, aos poucos, também pelo reconhecimento da
atividade jornalística. E um desses momentos acontece com a “edição, pelo
Presidente Getúlio Vargas, em 3 de novembro de 1938, do Decreto-lei nº 910,
que dispôs sobre a criação de escolas de preparação ao jornalismo. Vargas fora
jornalista no Rio Grande do Sul antes de ser alçado ao Ministério da Fazenda no
Governo Washington Luís e era sensível às questões de interesse da comunidade
profissional que integrara. Apesar da censura e de outras restrições que impôs à
imprensa sob o Estado Novo (1937-1945), Vargas instituiu uma série de medidas
e inovações que favoreceram os jornalistas e a imprensa”. Mais tarde, “o presidente
Jânio Quadros editou em 22 de agosto de 1961, três dias antes da sua renúncia,
o Decreto n.º 51.218, que regulamentou o Decreto-lei n.º 910 de 1938 que
instituía o curso de Jornalismo e estabeleceu a exigência da formação de nível
superior para o exercício da atividade profissional de jornalista, mas ressalvando
o direito dos jornalistas que exercessem há dois anos a profissão de continuar a
fazê-lo, como jornalistas profissionais provisionados”6.
No período entre o final da década de 1940, quando surgem os primeiros
cursos, até início dos anos 1960, a base das iniciativas profissionalizantes
pelo ensino que surgem em outras cidades do País é o curso de Jornalismo da
6 Informações constantes na manifestação do presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azedo,
na Comissão Especial que analisou a proposta de Emenda à Constituição Nº 386-A, que “altera dispositivos da
Constituição Federal para estabelecer a necessidade de curso superior em Jornalismo para o exercício da profis-
são de jornalista”, sob relatoria do deputado Hugo Leal (RJ).

102
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Universidade do Brasil, que serve de referência, mas vale ponderar que são poucos
os cursos mantidos e criados nesse período.
O currículo mínimo para a graduação em Comunicação Social surge em
1962, quando o Conselho Federal de Educação fixa uma grade básica aos cursos
superiores (Lei 5.540/68), deixando às universidades a tarefa de incluir outras
disciplinas, de acordo com a avaliação do que poderia contribuir na formação
profissional de cada área. Os cursos de Jornalismo passam a conviver, na área
de Comunicação Social, com as habilitações de Relações Públicas, Publicidade e
Propaganda e Editoração (GOBBI, 2004).
Até o final da década de 1980, o Brasil tinha o registro de aproximadamente
100 cursos de graduação em Comunicação Social entre as principais habilitações
mais procuradas pelos jovens interessados em ingressar na área, por meio da
Universidade: Jornalismo, Publicidade/Propaganda, Relações Públicas e, com
menor frequência, Cinema, Rádio e TV, ou Editoração. Pelas informações da
época, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul tinham entre três e cinco
cursos, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro concentravam um maior número
das escolas universitárias. As demais unidades da Federação possuíam um ou dois
cursos de Comunicação Social. E, claro, muitos estados não tinham sequer uma
escola de formação universitária na área até o início da década de 19907.
Regra geral, com algumas exceções, até a virada daquela década (1980/90),
o número relativamente baixo de faculdades de Jornalismo no Brasil pode ser
compreendido ao comparar-se a média e o crescimento populacional do País no
referido período8.
Com esse número, e considerando algumas dificuldades técnicas, é fácil
imaginar que, além das capitais estaduais, poucas cidades de porte médio do Brasil
tinham instituições de ensino superior com cursos de Comunicação Social.
A partir da entrada da década de 1990, contudo, o campo jornalístico
registra um aumento acelerado de procura por vagas universitárias. Na esteira
de uma suposta demanda reprimida – de vagas em cursos de Jornalismo – que as
universidades públicas (federais, em geral) não supriam, e aliadas a uma expectativa
(e promessa de governo) de liberalização da economia, em um anunciado processo
de “desmonte” do Estado do Direito, criam-se condições para que um número

7 Apenas para ilustrar, em 1947, quando o Brasil passou a contar com sua primeira escola de formação univer-
sitária em Comunicação Social, a população da época registrava aproximadamente 45 milhões de habitantes.
8 Dados do IBGE indicam que, em 1990, o Brasil tinha uma população estimada em 145 milhões de habit-
antes. O crescimento foi expressivo, considerando-se que, na virada da década anterior (1980), o País registrava
cerca de 120 milhões de habitantes (contribuintes, moradores, nativos ou migrantes, sendo estes provenientes
de deslocamentos internos ou externos). Considerando que, em uma década, o número de vagas ofertadas em
faculdades de Comunicação cresceu muito lentamente, a taxa média de crescimento populacional foi bem supe-
rior e, de forma mais acentuada ainda, no ritmo da urbanização. http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_pdf/
populacao.shtm

103
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

crescente de instituições de ensino superior (IES) particulares entre no mercado


de ensino superior privado. Elas passaram a ofertar grande quantidade de cursos
que, até então, registravam alta procura diante de um limitado número de vagas.
A redução das condições de exigência para abertura de cursos universitários criou,
assim, um mercado para que um expressivo número de IES passasse a ofertar
cursos, entre os quais estava o Jornalismo.
Aliado a essa variável – de “incentivo” e diante da promessa governista de uma
liberalização das relações econômicas, em um gradual processo de terceirização,
privatização ou redução da ação estatal em diversos setores da economia –,
considere-se que as universidades públicas registravam um “engessamento”
em suas estruturas de gestão, fosse pelo momento de transição política porque
passava o País – a partir do final do regime militar, 1964-85 –, fosse pelas opções
de governo por rediscutir o papel das universidades federais.
A motivação por parte dos emergentes empresários do ensino superior
privado brasileiro não se reduziu, entretanto, às facilitações administrativas,
observadas a partir do (não) controle dos órgãos responsáveis em nível federal.
Existiu, aí, também um incentivo tecnológico, que sinalizava para uma real baixa
nos custos de instalação e manutenção de cursos em Jornalismo.
Até início dos anos 1990, fazer televisão, por exemplo, era coisa para quem
tinha condições financeiras e uma respeitada estrutura de produção. Em tempos
de equipamento analógico, tudo era mais caro, também pelo fato de que a
maioria de tais equipamentos envolvia importação de peças e mesmo de alguns
suprimentos, que hoje seriam básicos.
Por consequência, equipar e manter em funcionamento um laboratório de
telejornalismo para operar com funções didáticas em uma faculdade de Jornalismo
era, de certo modo, um “luxo” de investimento em uma carreira profissional.
Guardadas as proporções, as dificuldades também estavam na manutenção de um
periódico escolar (laboratorial) impresso, em um estúdio de radiodifusão, entre
outros materiais básicos para pensar em produção editorial de mídia em tempos
de estrutura analógica.
A situação, portanto, criava um universo em que, se por um lado as
universidades públicas não conseguiam a liberação de recursos para atualizar
seus laboratórios, as poucas faculdades particulares que conseguiam manter
esses espaços mais atualizados (não necessariamente “de ponta”) sentiam-se,
praticamente, no “direito” de cobrar taxas ou mensalidades a valores bem acima
das reais condições que boa parte da população conseguiria bancar.
Nesse contexto, não apenas no campo da Comunicação (e do Jornalismo),
entrar e manter-se na universidade ainda era, até meados dos anos 1990, uma
conquista distante para a grande maioria dos brasileiros que entravam na escola.
104
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

E se, por um lado, a população aumentava a uma taxa acelerada, desde a década
de 1940, quando o Brasil contava com 41 milhões de habitantes, por outro, o
aumento do número de vagas em universidades públicas não ocorria, deixando as
poucas IES particulares em reais condições de ofertar vagas em inúmeros cursos
com demanda de mercado a um custo economicamente alto para grande parte
da classe média.
Se a década de 1990, portanto, marcou a chamada fase de mercantilização
do ensino superior, com uma explosiva oferta de vagas, por parte de emergentes
IES privadas, a facilitação das condições técnicas, com o barateamento de
equipamentos que precisavam ampliar as condições de circulação e consumo,
também contribuiu para “deselitizar” o fazer mídia.
Era o mesmo início da década de 1990 que registrava a entrada da mídia
digital de música, com o CD (compact disk) que logo iria baratear a produção
musical e retirar do mercado uma incontável quantidade de discos (“bolachão”)
e fitas K7, analógicos. É de conhecimento público que, no Brasil, o lançamento
de novidades tecnológicas (produtos), em média, demora mais tempo que
o registrado em países de maior poder aquisitivo e distribuição de renda mais
equitativa.
Cerca de duas décadas depois, em 2010, o Brasil possui números bem
diferentes. Com 190 milhões de habitantes, cerca de 85% residindo na área
urbana, o País tem hoje cerca de 1.300 escolas superiores em Comunicação
Social, com mais de 400 cursos na habilitação Jornalismo.
Ao longo das duas décadas, que indicam a explosão quantitativa no número
de cursos de graduação em Jornalismo, o mercado de atuação profissional,
mesmo diante do crescimento urbano centrado em médias e grandes cidades,
registrou uma redução no número de postos de trabalho nos tradicionais
meios de informação. A mesma variável que facilitou a abertura – e, em certos
casos, certa proliferação descontrolada – de escolas universitárias de Jornalismo
contribuiu, simultaneamente, para a redução direta de espaços e funções de
trabalho. A informatização das redações de jornais, tanto quanto facilitou, retirou
inúmeros postos de atividade profissional de jornais e, de certo modo, também
de emissoras televisivas, à medida que, ao integrar em redes, dispensou equipes
outrora imprescindíveis para manter um programa ou periódico sem levar furo.
A rápida abertura de cursos de Jornalismo também gerou outra demanda:
a contratação de professores. Assim, de uma estimativa de 1.500 docentes que,
em 1990, atuavam nos então cursos de Jornalismo existentes no País, passa-se,
em 2010, para um número estimado em 6.000 professores que trabalham nas
escolas nesta área de formação universitária (em um número estimado de 400
cursos de graduação em Jornalismo, onde estão matriculados aproximadamente

105
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

60 mil estudantes, de acordo com projeções do Fórum Nacional de Professores


de Jornalismo (FNPJ).
E, aqui, vale considerar que as variadas formas e relações de trabalho em IES
de diferentes regiões e estados do Brasil dificultam inclusive o mapeamento das
condições de ensino e trabalho, por parte dos professores. Tais variações vão desde
a condição de professor horista (que tem contrato de remuneração apenas pela
hora do tempo físico, direta, em que ministra aula) à de docentes que se dedicam,
em tempo integral, às referidas IES, atuando em variadas ações que envolvem
o ensino superior (da graduação à pós-graduação). No intervalo entre as duas
condições, há professores em tempo parcial apenas para aula, em tempo parcial
com dedicação para aula e atividades de pesquisa ou extensão. Além daqueles
com tempo de 30 ou 40 horas, dividido entre atividades de ensino, pesquisa ou
extensão.

A institucionalização da pesquisa em Jornalismo no sistema de pós-


graduação em Comunicação
A primeira tese de doutorado em jornalismo no Brasil foi defendida pelo professor
José Marques de Melo em 1972 junto à Universidade de São Paulo (USP). Era
um tempo de uma intensa presença de estudos de Comunicação de Massa, seja
em uma perspectiva funcionalista norte-americana ou crítica européia, que, como
vimos, influenciou a organização acadêmica dos cursos na forma de Comunicação
Social. Na década de 1970, a comunidade acadêmica de Comunicação estava
recém experimentando os primeiros cursos de Mestrado na área (o primeiro
surgiu em 1970 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Em 1978, a
PUC-SP inaugurou o primeiro doutorado em Comunicação.
Hoje, a área possui 39 programas de pós-graduação em Comunicação
aprovados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES). Importa, neste artigo, considerar qual a posição relativa das pesquisas
em Jornalismo na construção deste campo acadêmico. Ao analisarmos cada
um dos programas brasileiros de mestrado e doutorado em Comunicação em
atividade, por meio de suas linhas de pesquisa, é possível obter uma percepção
mais precisa do conhecimento científico sobre o Jornalismo.
O Quadro 1 apresenta uma descrição das áreas de pesquisa dos programas
de pós-graduação conforme dados mais recentes disponíveis (ano de 2007) no
site da CAPES sobre as áreas de concentração, linhas de pesquisa e projetos
de pesquisa registrados em cada curso. Em alguns casos, foram colhidos dados
publicados pelos programas em seus sites institucionais.

106
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Quadro 1 – Jornalismo como um objeto central nos programas de pós-graduação em


Comunicação

Linha de pesquisa Curso / Instituição Ementa


Jornalismo e Mestrado e Doutorado Esta Linha de Pesquisa tem como objeto o
Sociedade em Comunicação (UnB) jornalismo enquanto campo teórico e prático e
seus desdobramentos em torno de uma Teoria
da Notícia. Aborda a compreensão do jornalismo
como categoria cognitiva de representação da
realidade, a partir de uma leitura crítica dos
processos de produção da notícia (da seleção dos
acontecimentos à edição dos fatos hierarquizados)
e de uma análise da narrativa jornalística, tendo
em vista a correlação estrutural entre realidade e
ficção consistente nos valores-notícia. O principal
objetivo desta Linha é a realização de estudos e
pesquisas sobre gêneros e práticas jornalísticas,
de modo a encontrar respostas conciliadoras
para as tensões existentes entre as utopias do
jornalismo como função pública e social e as reais
possibilidades do jornalismo enquanto práxis
(ação transformadora da realidade social).
Linguagem Mestrado e Doutorado Pesquisa os processos midiáticos e seus
e práticas em Ciências da desdobramentos em produtos jornalísticos.
jornalísticas Comunicação (Unisinos) Considera as rotinas produtivas, os contextos,
as mensagens e a configuração de memórias na
sociedade midiatizada. Contempla as formulações
teóricas específicas do jornalismo articuladas em
perspectiva multidisciplinar.
Fundamentos do Mestrado em Estudo dos pressupostos teóricos, princípios
Jornalismo Jornalismo (UFSC) filosóficos, condicionantes e desdobramentos
do jornalismo desde a modernidade. Privilegia-
se nesta linha a observação do jornalismo como
fenômeno específico dentro das sociedades
complexas, com o objetivo de investigar sua
fundamentação epistemológica e suas múltiplas
dimensões conceituais. Considerando diferentes
contextos espaciotemporais, a linha localiza o
jornalismo em suas configurações como processo
histórico e político, prática social, exercício
ético e estético, mediação cultural, estratégia
comunicativa, gênero de discurso e produção de
conhecimento.

107
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Processos Mestrado em Estudos sobre o funcionamento do jornalismo


e Produtos Jornalismo (UFSC) a partir da análise de seus produtos e de seus
Jornalísticos processos de produção, com ênfase para as
profundas mudanças porque passa a prática do
jornalismo em decorrência da disseminação das
Tecnologias da Informação e da Comunicação nas
sociedades contemporâneas. Esta linha comporta
pesquisas sobre os gêneros, formatos, conteúdos,
linguagens, técnicas e tecnologias jornalísticas,
assim como das organizações, políticas editoriais,
rotinas, estratégias e mediações relacionadas aos
seus processos de produção.
Produtos Mestrado em Dimensão informativa, dimensão lúdica,
Midiáticos: Comunicação (FCL) transformações nos conceitos de recepção e
Jornalismo e interação, cultura da imagem: na sociedade
Entretenimento contemporânea, os produtos da mídia (re)elaboram
fatos e conteúdos tanto da realidade quanto da
ficção, gerando aproximações entre jornalismo e
entretenimento. Por vezes, esse contexto tende ao
esvaziamento da função pública da informação.
Nesta Linha de Pesquisa, pretende-se investigar as
narrativas da contemporaneidade e as produções
que exploram o universo do imaginário, as
relações entre jornalismo e espetáculo. Jornalismo
impresso, jornalismo televisivo, jornalismo on-
line e demais produções que transitam como
multimídia ou hipermídia e as decorrentes
mudanças no receptor/usuário interagente são
objetos de reflexão.

Fontes: CAPES (www.capes.gov.br); sites institucionais dos Programas

Algumas observações podem ser obtidas do Quadro 1 e análises conseqüentes:


a) No sistema brasileiro de pós-graduação em Comunicação, o Jornalismo
é um objeto tradicionalmente presente como tema de dissertações e
teses. Entretanto, apenas em quatro programas há um reconhecimento
que o fenômeno jornalístico exige um conjunto de conhecimentos que
se especializam e geram identidade de pesquisa, tendo consistência para
constituir linhas de pesquisa autônomas;
b) O crescimento das linhas de pesquisa específicas em jornalismo é um
processo recente característico desta primeira década do século XXI no sistema
de pós-graduação. Duas experiências são exceções a esta “recenticidade”:
o curso de pós-graduação da Universidade de Brasília, que pode ser
considerado o mais tradicional curso em atividade que institucionalizou a
pesquisa em jornalismo; e o programa da Escola de Comunicações e Artes
108
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

da Universidade de São Paulo, uma referência na pesquisa em jornalismo


nas décadas de 1970 e 1980. Este, no entanto, executou um processo
de reformulação a partir de 2001, extinguindo as linhas de pesquisa
específicas, como a voltada para o jornalismo, e privilegiando abordagens
transdisciplinares da comunicação;
c) No Quadro 1, os três demais programas (UFSC, Unisinos e FCL)
institucionalizaram o foco específico em jornalismo em anos recentes
desta década. O Mestrado em Jornalismo da UFSC foi criado em 2007,
sendo inovador no sistema de pós-graduação em Comunicação por ser
exclusivamente direcionado para estudos de Jornalismo.
d) Nas cinco linhas de pesquisa em Jornalismo apresentadas no Quadro
1, ao menos três vertentes de estudo se destacam: uma preocupação em
explorar e desenvolver perspectivas teóricas específicas à investigação em
Jornalismo, seja em uma perspectiva interna/conceitual ou na relação entre
Jornalismo e sociedade; consideração das linguagens, gêneros e narrativas
peculiares ao Jornalismo; análise dos processos de produção jornalística,
seus específicos aspectos organizacionais, operacionais e tecnológicos e seu
respectivo produto;
e) A pesquisa em jornalismo, mesmo não estando institucionalmente
demarcada em linhas de pesquisa, está presente como fator articulador de
docentes e projetos de pesquisa em diversos programas de pós-graduação,
como por exemplo, a presença de um reconhecido grupo de pesquisa em
Jornalismo online dentro da linha de pesquisa em Cibercultura no programa
da Universidade Federal da Bahia;

A institucionalização da pesquisa em Jornalismo nas associações científicas


A produção científica tendo o Jornalismo como objeto central de pesquisa vem
crescendo significativamente nos últimos 10 anos no Brasil, a se considerar
também a atuação das associações científicas e os eventos por elas produzidos.
Indicadores deste incremento podem ser percebidos ao considerarmos o número
de trabalhos científicos apresentados anualmente nos dois principais congressos
brasileiros de pesquisa em Comunicação da Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS) -, nos congressos
realizados pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) desde 1995
e na criação, em 2003, da Sociedade Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo
(SBPJor).
Estes movimentos revelam uma intenção dos pesquisadores em produzir um
avanço teórico do campo, melhor definição de metodologias adequadas ao estudo
109
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

do Jornalismo e aprofundamento no conhecimento das especificidades do objeto


em relação com conhecimentos sobre a comunicação e a sociedade.
A expansão da pesquisa em jornalismo levou a Intecom a diversificar, em seu
congresso anual, os grupos de trabalhos dedicados ao jornalismo. Em seu XXXIII
Congresso em 2010, foram cinco grupos de trabalho em Jornalismo: Gêneros
Jornalísticos, História do Jornalismo, Jornalismo Impresso, Telejornalismo e Teoria
do Jornalismo. No 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo (ENPJ),
em 2010, foram seis grupos com relatos de experiências de ensino e pesquisa:
Atividades de Extensão; Ensino de Ética e Teorias do Jornalismo; Pesquisa na
Graduação; Produção Laboratorial Eletrônicos; Produção Laboratorial Impressos;
e Projetos Pedagógicos e Metodologias de Ensino.
Em 2003, pesquisadores em jornalismo reuniram-se na Universidade de
Brasília (UnB) e fundaram a Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo
(SBPJor). A entidade busca agregar pesquisadores que têm o Jornalismo como
objeto de pesquisa e desenvolvem, a partir de seu estudo, a consolidação da área
de conhecimento do Jornalismo, atuando em conjunto com as demais associações
científicas ou profissionais já existentes no campo da Comunicação.
A SBPJor realiza, desde seu primeiro ano de funcionamento, um encontro
nacional de pesquisadores em Jornalismo. A Tabela 1 a seguir mostra, de forma
sintética, a evolução dos congressos nacionais da SBPJor. Ressalte-se que este é o
número de trabalhos efetivamente aprovados para apresentação, após a etapa de
seleção conduzida pela Diretoria Científica da entidade.

Tabela 1 – Encontros anuais da SBPJor

Encontro Ano Cidade Universidade Realizadora Trabalhos apresentados


1º 2003 Brasília UnB (Universidade de Brasília) 60
2º 2004 Salvador UFBA (Universidade Federal 95
da Bahia)
3º 2005 Florianópolis UFSC (Universidade Federal de 129
Santa Catarina)
4º 2006 Porto Alegre UFRGS (Universidade Federal 113
do Rio Grande do Sul)
5º 2007 Aracaju UFS (Universidade Federal de 114
Sergipe)
6º 2008 São Bernardo UMESP (Universidade 152
Metodista de São Paulo)
7º 2009 São Paulo USP (Universidade de São 158
Paulo)
Fonte: SBPJor (www.sbpjor.org.br)

110
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Prêmio Adelmo Genro Filho de pesquisa em Jornalismo


Como a pesquisa em Jornalismo tem uma longa tradição nas universidades e
programas de pós-graduação, a SBPJor decidiu criar, em 2004, uma premiação
anual para eleger os melhores trabalhos desenvolvidos em monografias de final de
curso de graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado que tenham
o Jornalismo como objeto central. Sua finalidade é identificar anualmente quais
os pesquisadores que apresentaram contribuições relevantes para o campo da
pesquisa em Jornalismo, de modo a construir/consolidar a identidade do nosso
campo científico.
Esta premiação anual foi denominada “Prêmio Adelmo Genro Filho de
Pesquisa em Jornalismo”. Além destas três categorias de premiação (monografias,
dissertações e teses), anualmente a SBPJor elege um pesquisador sênior, a fim de
identificar, na comunidade científica, pessoas cuja obra de pesquisa em jornalismo
seja vasta, tenha repercussões e influências no desenvolvimento teórico em
Jornalismo e esteja contribuindo para consolidação científica do campo.

A inserção internacional da pesquisa em Jornalismo


Além do crescimento dos estudos sobre Jornalismo no País, os pesquisadores da
área têm traçado estratégias de inserção destes trabalhos em fóruns internacionais
de pesquisa em Jornalismo. Duas estratégias têm sido mais utilizadas: a publicação
de estudos brasileiros em revistas disponíveis à comunidade internacional; e a
realização de eventos e intercâmbios internacionais.
Conforme Marques de Melo e Moreira (2009, p. 5), a primeira vez em
que os estudos brasileiros em Jornalismo ganharam alcance internacional foi com
a publicação de um trabalho de Danton Jobim em 1954 na revista Journalism
Quarterly. Nas décadas seguintes, poucos pesquisadores brasileiros em Jornalismo
conseguiram disseminar internacionalmente suas investigações.
Nos últimos anos, porém, novos esforços têm sido empreendidos para dar
conhecimento em outros países das investigações feitas no Brasil. Talvez um dos
indicativos de que estes esforços vêm obtendo algum êxito foi a edição especial da
conceituada revista científica Journalism: Theory, Practice and Criticism em 2009
com cinco artigos de autores brasileiros dando um panorama da pesquisa em
jornalismo no País. Um segundo esforço bem sucedido ocorreu com uma missão
exploratória de pesquisadores em jornalismo brasileiros na África do Sul em
2009 para participar de seminários com investigadores sul-africanos. Este evento
resultou na publicação dos papers apresentados neste encontro em uma edição
especial da revista Communicatio em 2010, com o tema Journalism in the global
South: South Africa and Brazil.

111
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Além da busca pela aprovação de artigos em periódicos internacionais, outra


estratégia de internacionalização tem sido a revista Brazilian Journalism Research,
editada pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). A
proposta desta revista tem sido obter reconhecimento como um periódico científico
de referência internacional para o campo de estudos em jornalismo. Esta linha de
trabalho se definiu desde o lançamento da primeira edição da BJR, em 2005,
ao optar pela publicação de artigos em língua inglesa para estimular a inserção
internacional da pesquisa brasileira em Jornalismo. A partir de 2008, tornou-se
bilíngue, com versões também em português para facilitar o aproveitamento dos
textos junto aos cursos de graduação em Jornalismo no Brasil.
Nas suas dez edições nestes cinco anos de existência, foram publicados
104 artigos científicos apresentando as principais correntes e tendências
contemporâneas da pesquisa em jornalismo, com a participação de 148 autores
vinculados a instituições caracterizadas por sua diversidade regional. Ressalte-se
que, destes autores, 31 são oriundos de universidades estrangeiras.
Outra forma de busca por inserção internacional da pesquisa em Jornalismo
tem sido a realização de eventos internacionais. Em 2004, a SBPJor participou
da organização do “V Congreso Iberoaricano de periodismo em Internet”, realizado
em Salvador, Bahia, promovido pela Sociedad Iberoamericana de Acadêmicos,
Investigadores y Profesionales del Periodismo en Internet. Em 2006, a SBPJor
promoveu a primeira edição da Journalism Brazil Conference em Porto Alegre, em
parceria com o Grupo de Estudos em Jornalismo da International Communication
Association (ICA), com a Seção de Educação Profissional da International
Association for Media and Communication Research (IAMCR) e com a Seção
de Estudos de Jornalismo da European Communication Research and Education
Association (ECREA). O congresso reuniu pesquisadores de 18 países: África do
Sul, Alemanha, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Finlândia, França, Gambia,
Ghana, Grécia, Inglaterra, México, Nigéria, Porto Rico, Portugal, Suíça, Turquia
e Zimbabwe. Ao todo, houve 210 inscritos – 180 brasileiros e 30 estrangeiros.

Descrição das principais áreas de pesquisa em jornalismo


A expansão da pesquisa em Jornalismo tem se dado aliada a uma diversificação
de tópicos, enfoques e problemas. As tabelas a seguir descrevem os temas mais
recorrentes em três cenários diferentes:
a) os papers apresentados no grupo de trabalho Estudos de Jornalismo, dos
encontros anuais da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação (COMPÓS) nos anos de 2000 a 2003 (Tabela 2);
b) um total de 263 papers apresentados em 2003 e 2004 no congresso
da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
112
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

(Intercom), no congresso da COMPÓS e no congresso da SBPJor (Tabela


3);
c) 67 grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico em 2004 que foram localizados
por meio da palavra-chave “jornalismo”. Em seu resumo de identificação,
estes 67 grupos de pesquisa citaram 101 campos de pesquisa em Jornalismo,
descritos sumariamente na Tabela 4.

Tabela 2 – Trabalhos apresentados no Grupo de Trabalho Estudos de Jornalismo, da


COMPÓS (2000-2003)

Categoria Distribuição %
Teorias do Jornalismo 35,5
Jornalismo Digital 20,8
Ética e Jornalismo 14,5
Estudos de linguagem 12,5
Produção de notícias e processos jornalísticos 8,3
História do jornalismo 8,3
Fonte: Machado (2005, p. 36)

Tabela 3 – Temas de trabalhos apresentados em seis congressos brasileiros (COMPÓS,


Intercom e SBPJor) em 2003 e 2004

Tema Distribuição (263 trabalhos)%


Enquadramento / Temas e cobertura 24,3
Linguagem / Narrativa / Formato 23,6
Produção Jornalística / Newsmaking 13,7
Teorias do Jornalismo 9,9
História do Jornalismo 9,1
Recepção e efeitos 4,2
Estudos da profissão 2,4
Novas tecnologias 1,9
Fonte: Meditsch e Segala (2005, p. 53)

113
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Tabela 4 – Estudos em jornalismo nos Grupos de Pesquisa do CNPq

Categoria Distribuição (67 grupos) %


Produção de notícias e processos 26,73
jornalísticos
Estudos de linguagem 22,77
Jornalismo especializado 12,87
Jornalismo digital 9,90
Teoria do jornalismo 9,90
História do jornalismo 7,92
Estudos de recepção 5,94
Ética e jornalismo 2,97
Jornalismo e educação 1,00
Fonte: Machado (2005, p. 33)

Ao observar as três tabelas, é possível perceber a presença de algumas áreas


cuja pesquisa em Jornalismo é mais intensa:
a) há um grupo de pesquisadores que se dedica a analisar os modos como
os jornalistas produzem seu material noticioso, suas rotinas de trabalho, as
regras, valores e procedimentos organizacionais. Isto reflete a absorção, pelos
pesquisadores brasileiros, de uma literatura sociológica de língua inglesa
sobre a produção noticiosa, cuja pesquisa teve vigor nos anos de 1970 e
1980;
b) Deve-se considerar um esforço em buscar a consolidação teórica do
campo do jornalismo ao tentar constituir e consolidar uma teoria do
jornalismo como quadro conceitual de análise do fenômeno jornalístico.
Conforme apresentado anteriormente, a teorização sobre o Jornalismo não
é recente nos estudos brasileiros, mas esta afirmação de uma terminologia
que destaca uma especificidade teórica para se investigar este objeto mostra
uma preocupação em delimitar e institucionalizar campos de competência e
de fundamentação epistemológica;
c) Os estudos em jornalismo articulam-se a quadros teórico-metodológicos
consolidados nas ciências humanas, como os estudos de linguagem, estudos
de recepção, aspectos éticos da atividade ou abordagens históricas;
d) Há a emergência de um novo campo de pesquisa, a produção jornalística
nos ambientes digitais em rede. Estes trabalhos já ganharam força na
primeira metade da década e tenderam a se diversificar e complexificar com
a expansão desta tecnologia.

114
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

A publicação de periódicos científicos especializados em Jornalismo


Ao realizar um estudo sobre os periódicos científicos brasileiros na área de
comunicação, Elias Machado (2010) constatou que, em quase 40 anos de
existência destas publicações, oito podem ser considerados especializados em
jornalismo:
1. Cadernos de Jornalismo e Editoração – lançado em 1970 pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo;
2. Pauta Geral – Revista Brasileira de Jornalismo – publicado desde 1993
pelos pesquisadores Elias Machado e Sergio Gadini;
3. Anuário de Jornalismo – 1991, ECA-USP;
4. Anuário de Jornalismo – Cásper Líbero, 1999-2004;
5. Estudos em Jornalismo e Mídia, editada desde 2004 pelo programa de
pós-graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina;
6. Pensamento Jornalístico Brasileiro – PJ:Br, vinculada ao Departamento de
Jornalismo da ECA-USP;
6. Brazilian Journalism Research, editada a partir de 2005 pela Associação
Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor);
7. Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo – REBEJ, publicada pelo Fórum
Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) desde 2007.
A maioria destas revistas (Brazilian Journalism Research, Pauta Geral,
Jornalismo e Mídia, PJ:Br e REBEJ) continua sendo publicada regularmente e
disponível em formato online e com livre acesso.

115
A produção de conhecimento no campo do Jornalismo

Referências Bibliográficas e Sites


DIAS, Osni T. “Vitorino Prata Castelo Branco e o primeiro Curso Livre de
Jornalismo do Brasil”. Trabalho apresentado no II Encontro Nacional da Rede
Alfredo de Carvalho. Florianópolis, de 15 a 17 de abril de 2004. Disponível em
http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/artigos/1257.html
GOBBI, M.C. (coord). “Projetos Experimentais: entre a teoria e a prática
do fazer jornalismo”. Revista PJ:BR Revista de Jornalismo Brasileiro. Nº 4, 2º
semestre de 2004. São Paulo: ECA/USP, 2004.
MACHADO, Elias. Challenges for the consolidation of Brazilian scientific
journals in the journalism and communication areas. Routledge/UNISA Press:
Communicatio: South African Journal for Communication Theory and
Research, Volume 36 Issue 2 2010.
MACHADO, Marcia Benetti. Data and Reflections on Three Journalism
Research Environments. Brazilian Journalism Research. Vol 1, Number 1,
Semester 1, 2005.
MARQUES DE MELO, José. Journalistic thinking: Brazil’s modern
tradition. Sage: Journalism, 2009. Vol. 10(1).
MARQUES DE MELO, José; LINS DA SILVA, Carlos Eduardo e FADUL,
Anamaria (org.). Ideologia e poder no ensino de comunicação. São Paulo,
Cortez & Moraes, 1979.
MARQUES DE MELO, José; MOREIRA, SONIA VIRGINIA. Brazilian
journalism – the state of research, education and media. Sage: Journalism, 2009.
Vol. 10(1).
MEDITSCH, Eduardo; SEGALA, Mariana. Trends in Three 2003/4
Journalism Academic Meetings. Brazilian Journalism Research. Vol 1, Number
1, Semester 1, 2005.

116
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo

Elias Machado9

O trabalho para a constituição de uma comunidade de pesquisadores brasileiros


em Jornalismo conta com antecedentes de muitos nomes ilustres, com destaque
para os pioneiros no estudo deste objeto no país como Alfredo de Carvalho, Alceu
de Amoroso Lima, Antonio Olinto, Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Rizzini, Luiz
Beltrão, José Marques de Melo, Nilson Lage, Cremilda Medina, Muniz Sodré,
Luiz Gonzaga Motta, Juarez Bahia, Ciro Marcondes Filho e Adelmo Genro Filho,
entre outros. Sem as ações destes desbravadores para a legitimação do Jornalismo
como objeto digno de atenção acadêmica, dificilmente se conseguiria, anos
depois, a fundação de uma sociedade científica especializada.
No período que vai do final do século XIX até o começo dos anos 70
do século XX, a pesquisa em Jornalismo dependia de ações individuais dos
interessados no tema devido à inexistência de centros de pós-graduação, com
grupos de especialistas na temática. Após a abertura dos primeiros programas
de pós-graduação em Comunicação no Rio de Janeiro e São Paulo e a criação
de grupos de trabalho na Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação (Intercom), o Jornalismo voltou a ganhar relevância como objeto
de estudo.
Ao menos desde o começo dos anos 90, quando do lançamento do GT de
Jornalismo da Intercom, liderado pelo professor José Marques de Melo, existia
a preocupação de articular um espaço permanente para institucionalização do
Jornalismo como área científica com status próprio, o intercâmbio de discussões
acadêmicas, desenvolvimento de metodologias de pesquisa e defesa dos interesses
da comunidade dentro do campo multifacetado das Ciências da Comunicação.
No lançamento do GT da Intercom, em 1993, na cidade de Vitória, no Espírito
Santo, tivemos as presenças de alguns nomes históricos, como José Marques de
Melo, Nilson Lage e Sérgio Mattos e de jovens pesquisadores, então estudantes
de Mestrado ou Doutorado como Paulo Roberto Botão, Sergio Gadini, Elias
Machado, Victor Gentilli e Gerson Martins. O grande obstáculo para uma maior
institucionalização era a falta de pesquisadores doutores.
Desde o começo dos anos 2000 o quadro tinha mudado muito. A maioria
dos principais pesquisadores, de diferentes gerações, das mais experientes às mais
jovens, havia concluído o doutorado e trabalhava em algum dos mais de 20
programas de pós-graduação em Comunicação existentes. O cenário possibilitava
a concretização do sonho de uma entidade própria, antes deixado em segundo

9 Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Diretor de Relações Nacionais da Federação
Brasileira de Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Socicom).

117
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo

plano por absoluta falta de especialistas em número suficiente para viabilizar o


projeto. Durante as Jornadas de Jornalismo, na Universidade Fernando Pessoa,
em abril de 2003, em Portugal, o tema passou das conversas até então isoladas
para uma articulação mais concreta da proposta. Depois de consultas aos colegas
presentes a discussão foi ampliada.
Dois meses depois, aproveitando a reunião dos pesquisadores no GT
de Jornalismo da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em
Comunicação (COMPÓS), em Recife, no mês de junho, foi marcada uma
reunião para aprovar um Comitê Nacional para formalizar a convocação do I
Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, em Brasília, nos dias 28 e
29 de novembro, que tinha como um de seus objetivos a fundação da Sociedade
Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR). A Comissão Organizadora
estava formada por pesquisadores da Bahia, Brasília, Espírito Santo, Pernambuco,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Com mais
de 100 participantes e 66 trabalhos apresentados, o congresso terminou com a
aprovação dos estatutos e a eleição da primeira diretoria da SBPJOR.
A constituição da SBPJOR era uma demonstração de que a comunidade
de pesquisadores que havia cumprido um a um com a quase totalidade dos pré-
requisitos considerados indispensáveis para a legitimação do Jornalismo como
disciplina científica:
1) definição do objeto; 2) adaptação de metodologias; 3) incorporação como
disciplina acadêmica; 4) titulação em nível de doutorado dos pesquisadores; 5)
criação de fóruns para discussão das pesquisas; 6) grupos de pesquisa e 7) edição
de periódicos científicos, estava madura o suficiente para garantir a sua autonomia
dentro do multifacetado campo das Ciências da Comunicação.

Primeiros passos
Vencido o desafio da criação da entidade, o esforço passou a ser a viabilização
de um arrojado plano de trabalho elaborado pela diretoria e que incluía, entre
outros aspectos, a estruturação legal e financeira da associação, a organização
de congressos anuais, a filiação dos pesquisadores, a representação nas agências
de fomento, o apoio para projetos de abertura de programas de pós-graduação
específicos em Jornalismo, o lançamento de lista de discussão e de um jornal
eletrônico mensal, o SBPJor Notícias, a definição de uma política para as redes
de pesquisa, o lançamento de uma revista científica em inglês para divulgação
internacional da produção brasileira e a atuação em conjunto com as demais
entidades do campo do Jornalismo (FENAJ10 e FNPJ11 ).

10 Federação Nacional dos Jornalistas.


11 Fórum Nacional de Professores de Jornalismo
118
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo

Passado menos de um ano, quando da realização do II Encontro Nacional


de Pesquisadores em Jornalismo, na UFBA, em Salvador, em novembro de 2004,
a SBPJOR estava legalizada, em plena atividade e com mais de 200 associados,
47 doutores. Neste congresso decidimos adotar uma estrutura diferenciada
para apresentação de trabalhos, fugindo dos tradicionais GTs, com dois tipos
de comunicações: 1) as comunicações coordenadas, com até seis trabalhos
articulados em torno de um tema comum e 2) as comunicações individuais, para
os pesquisadores com trabalhos isolados. Com as mesas coordenadas a SBPJOR
queria estimular a formação de redes de pesquisa, em consonância com as novas
políticas científicas determinadas pelas agências de fomento como CNPq e
CAPES.
Neste mesmo ano foi criado o Prêmio Adelmo Genro Filho para reconhecer
os melhores trabalhos produzidos pelos pesquisadores em Jornalismo, o
regulamento com as pré-condições para a montagem dos encontros nacionais
e as normas para as redes de pesquisa, uma das apostas estratégicas da SBPJOR.
Enquanto o regulamento entrou em vigor de imediato, o Prêmio Adelmo Genro
Filho teve que esperar até 2006 pela primeira edição e as redes de pesquisa até
2007, com a oficialização das primeiras propostas encaminhadas para a diretoria
nas áreas de telejornalismo e de observatórios de imprensa.
Em 2005 vivemos um dos momentos políticos mais importantes para a
legitimação institucional da SBPJOR. Se desde 2004 contávamos com o apoio
da CAPES e do CNPq para os nossos congressos anuais, neste ano passamos
pela prova de fogo de ter que reverter a proposta apresentada pelo CNPq que
simplesmente transformava o Jornalismo de subárea em especialidade. A posição
de vanguarda na defesa da pluralidade das Ciências da Comunicação contribuiu
que fosse consensuada nova versão da Tabela de Área de Conhecimento que
acatava as sugestões feitas pelos pesquisadores em Jornalismo.

A consolidação institucional
A política de institucionalização da SBPJOR pressupunha uma atuação em três
frentes:
1) uma para aumentar o número de filiados e profissionalizar mais as
atividades dos pesquisadores;
2) uma de relação com as demais associações científicas da área, com as
entidades do campo do Jornalismo e com as agências de fomento e
3) uma de contatos de caráter estratégico com os pesquisadores e com as
associações relacionadas com o Jornalismo no plano internacional.

119
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo

No plano interno, a direção desenvolveu um mapeamento dos pesquisadores


e lançou uma campanha de filiações, através de contatos diretos com cada um dos
filiados em potencial. Ato contínuo definiu critérios padronizados para a escolha
dos trabalhos submetidos aos encontros anuais, revisados por dois consultores
escolhidos entre os associados seniores. Ao mesmo tempo passou a publicar,
em 2005, a Brazilian Journalism Research, (BJR), com um conselho editorial
internacional e a primeira da área com textos em inglês, o que obrigava nossos
pesquisadores a melhorar o nível dos seus trabalhos.
Desde a criação da SBPJOR, em 2003, tivemos o cuidado de estreitar
relações com as agências de fomento, com as demais associações científicas,
acadêmicas e sindicais, convidando para os congressos anuais os representantes
de área no CNPq e na CAPES e os presidentes FENAJ e do FNPJ. Na fundação
da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, além destas entidades
contamos com as presenças de diretores da Intercom e da Sociedade Brasileira
Para Ciência (SBPC).
Depois a instituição passou a fazer contatos com colegas pesquisadores de
renome nos cinco continentes para que integrassem o conselho editorial da BJR e
com a FENAJ e o FNPJ para fortalecer o campo do Jornalismo. Também houve
reuniões com representantes de algumas das principais associações internacionais
como International Association for Media Communication Research e a International
Communication Association para desenvolver parcerias como a Journalism Brazil
Conference, um congresso bi-anual projetado para reunir no país pesquisadores de
primeira linha no mundo.

Defesa do campo do Jornalismo


Na defesa do campo do Jornalismo a direção da SBPJOR, resguardando as
particularidades de cada uma das entidades, (acadêmicas, científicas e sindicais),
sempre esteve em sintonia com a FENAJ e FNPJ na luta por projetos comuns.
A ação conjunta das entidades contribuiu para manifestar a posição unificada
do campo do Jornalismo, antes fragmentado em distintas frentes e sem uma voz
articulada no plano nacional.
Em 2005 foi articulado o apoio da FENAJ e do FNPJ quando das
negociações com o CNPq para manter o Jornalismo como subárea na Tabela
de Áreas de Conhecimento (TAC). Entre 2006 e 2007 a SBPJOR participou
na discussão das Diretrizes para os Cursos de Graduação então propostas pelo
Ministério da Educação e que recomendava a redução do tempo de formação
para três anos e a volta dos dois anos de básico.
Nos anos de 2008 e 2009 a SBPJOR manteve participação unificada

120
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo

com a FENAJ e o FNPJ durante as ações em defesa da exigência da formação


superior específica para o exercício da profissão, na elaboração da proposta de
Novas Diretrizes para o Ensino de Jornalismo e durante as audiências públicas
convocadas pelo Congresso Nacional para discussão da Proposta de Emenda
Constitucional que restitui a obrigatoriedade do diploma em Jornalismo.

Legitimação como área científica


A SBPJOR representa um marco, possibilitando identificar um antes e um depois,
na legitimação do Jornalismo como área científica com status próprio. Ao longo
destes últimos setes anos houve crescimento contínuo em diversos indicadores
de produção neste campo de conhecimento como número de pesquisadores com
doutorado, de grupos de pesquisa registrados no CNPq, de linhas e projetos
de pesquisa em programas de pós-graduação, de trabalhos apresentados nos
congressos anuais e de pesquisadores PQ do CNPq.
Em menos de 20 anos, desde o primeiro levantamento do CNPq em 1993,
o total de grupos de pesquisa relacionados com o jornalismo havia saltado de zero
em 1993, para 15 em 2002 e, como resultado das articulações existentes entre
os especialistas da área, 47, em 2003. Em 2005, o total de grupos de pesquisa
passou para 68; dois anos depois, em 2007, a cifra atingiu 106 e uma consulta
ao diretório do CNPq em outubro de 2010 revela que o total de grupos chegou
a 155.
O número de filiados passou de 94 no ato de fundação para 319 em 2007
e está em 380 em 2010. O total de associados doutores que era 47 em 2004
saltou para mais de 150 em 2010. O número de programas de pós-graduação
com linhas de pesquisa em Jornalismo passou de um em 2003 para quatro em
2010 e, mais importante que todos estes fatos, em 2007, a CAPES aprovou o
primeiro Programa de Pós-Graduação com Área de concentração em Jornalismo,
na Universidade Federal de Santa Catarina. Na avaliação trienal da CAPES em
2010 o Programa da UFSC subiu de nota 3 para 4, que indica uma consolidação
do projeto.
Em 2010, ao comemorar os cinco anos de existência regular, a Brazilian
Journalism Research divulgou um levantamento que ao longo de suas 10 primeiras
edições publicou 104 artigos científicos apresentando as principais correntes
e tendências contemporâneas da pesquisa, com a participação de 148 autores
vinculados a instituições caracterizadas por sua diversidade regional. Destes
autores, 31 são oriundos de universidades estrangeiras, fator que reforça a
proposta inicial da BJR de ser um periódico científico de referência internacional
para os estudos em Jornalismo.

121
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo

Para o VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, organizado


em novembro de 2010 em São Luiz, na Universidade Federal do Maranhão, foram
selecionados 150 trabalhos. Nas comunicações livres 100 foram aprovados por
uma comissão de pareceristas formada por mais de 80 sócios plenos (doutores).
A Região Nordeste teve o maior número de trabalhos inscritos (43), seguida pela
Região Sudeste (40) e Região Sul (32). Nas comunicações coordenadas foram
selecionados 50 trabalhos nas 10 mesas coordenadas. No total participaram
97 doutores. Dividido por regiões, os trabalhos ficam classificados em: Região
Sudeste (19), Região Sul (13), Região Nordeste (11), Região Centro-Oeste (7).
Ainda que em ritmo lento, vem crescendo o número de pesquisadores
relacionados ao Jornalismo contemplados com bolsas de produtividade pelo
CNPq, chegando a 24 no total dentre os 106 bolsistas ativos: Ada Machado,
Antonio Fausto Neto, Alfredo Vizeu, Afonso Albuquerque, Antonio Hohlfeldt,
Ciro Marcondes Filho, Christa Berger, Eduardo Meditsch, Elias Machado,
Jacques Wainberg, José Luiz Aidar Prado, Juremir Machado, Luiz Martins, Marcia
Benetti, Marialva Barbosa, Mayra Rodrigues, Muniz Sodré, Paulo Bernardo
Vaz, Raquel Paiva, Rosana Lima Soares, Rogerio Christofoletti, Sonia Virginia
Moreira, Tattiana Teixeira e Zelia Adghirni.

Atuação na Área de Comunicação


A SBPJOR defende o pressuposto de que a legitimação plena do Jornalismo
passa pela consolidação das Ciências da Comunicação como Grande Área do
Conhecimento. Para concretizar este propósito a SBPJOR estabeleceu relações com
as outras associações e estimulou a criação de novas entidades como a Associação
Brasileira de Pesquisadores de Relações Públicas e Comunicação Organizacional
e integrou o movimento a favor da Federação Brasileira de Associações Científicas
e Acadêmicas da Comunicação (Socicom) e da Confederação Ibero-americana de
Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Confibercom).
A SBPJOR esteve na linha de frente com a Intercom nas articulações
para a fundação da Socicom, tendo participado na comissão de redação dos
estatutos e indicado o ex-presidente Elias Machado para compor a primeira
diretoria, eleita em 2008 e Carlos Franciscato e Claudia Lago para integrar o
Conselho Deliberativo. A SBPJOR apoiou as propostas aprovadas pela Socicom
e compareceu aos seminários anuais de integração. No plano internacional, a
SBPJOR esteve no congresso de fundação da Confederação Ibero-americana de
Associações Científicas e Acadêmicas da Comunicação (Confibercom), em abril
de 2009, na cidade de Funchal, na Ilha da Madeira, em Portugal. Como no
caso da Socicom, o ex-presidente da SBPJOR, Elias Machado, que representou a
delegação brasileira nas negociações com os diretores das associações dos outros

122
SBPJOR: Uma conquista dos pesquisadores em Jornalismo

países, assumiu o cargo de Diretor Administrativo da Confibercom.


Entre as ações institucionais mais relevantes lideradas pela SBPJOR está a
atuação para indicar os representantes nas agências de fomento como CAPES e
CNPq a partir de acordos entre as entidades com direito a voto. Desde 2007,
antes mesmo da existência da Socicom, a SBPJOR tem feito contatos para a
indicação consensual dos representantes no CNPq. Naquele ano, a SBPJOR
fechou uma lista tríplice com a Intercom. Três anos depois, em 2010, a SBPJOR
voltou a participar de uma articulação desta vez com a ABJC. Do ponto de
vista institucional a SBPJOR defende que nestes casos que envolvem interesses
estratégicos a decisão seja consensual, apoiando nomes comprometidos com o
conjunto da Área de Comunicação.

123
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo- FNPJ

Gerson Luiz Martins12


Carmen Pereira13

Introdução
A proposta de reunir professores dos cursos de Jornalismo surgiu do grupo que
participou do Seminário de Atualização para Professores de Jornalismo (Labjor/
Unicamp - 1994). Em seguida, foi levada para o Congresso da Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - Intercom 94 (Piracicaba/SP), na
busca de um espaço regular para que os professores de jornalismo pudessem se
reunir anualmente. Nesse momento, o Congresso da Intercom tinha organizado
um Encontro de Professores de Comunicação Comparada. O número de
professores de Jornalismo ampliou-se ano a ano, congresso a congresso. Assim,
foi marcado o I Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, num esforço
para debater questões inerentes ao Ensino de Jornalismo num momento e espaço
próprio. Em ambas as ocasiões foram feitas avaliações gerais sobre a realidade dos
cursos de Jornalismo e a necessidade de realizar discussões sistemáticas visando
à busca de novos caminhos a partir da experiência que vem sendo desenvolvida
pelos próprios docentes.
O Fórum Nacional de Professores de Jornalismo tem como objetivo reunir
professores e profissionais da área de jornalismo para debater e encaminhar
propostas sobre questões inerentes à formação do jornalista profissional.
Qualidade da formação, diretrizes curriculares, laboratórios, teoria e técnica
do jornalismo, pesquisa, desenvolvimento de novas habilidades e tecnologias,
ética e legislação, mercado de trabalho são as principais questões que envolvem
a formação jornalística e para as quais os participantes do Fórum buscam o
desenvolvimento e melhorias.
O I Encontro Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu no Congresso
da Intercom 95 (Aracaju/SE). Na oportunidade, vários temas foram levantados.
Entre eles o Projeto Pedagógico para o curso de Jornalismo, o perfil dos professores
de Jornalismo, o estágio e a inserção dos professores nos projetos de Pesquisa
e Extensão. Foi reafirmada, ainda, a oficialização do Núcleo de Professores de
Jornalismo junto à direção da Intercom, a fim de que as atividades desenvolvidas
passassem a fazer parte das ações da entidade. Como desdobramento foi realizado
o Simpósio Didático-Pedagógico de Professores de Jornalismo, em abril de 1996,

12 Diretor de Relações Institucionais do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ).


13 Diretora Sudeste do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ).

124
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ

na PUC/Minas, quando o debate sobre o processo pedagógico foi aprofundado.


Foi decidida a realização de uma pesquisa sobre o Perfil do Professor de Jornalismo,
sob a responsabilidade da PUC/Campinas e do Labjor, e a publicação de uma
revista reunindo experiências do ensino de Jornalismo.
O II Encontro Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu no Intercom
96 (Londrina/PR). Dentre as deliberações, ficou aprovada a denominação
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo como identificadora do grupo. Foi
reafirmado o compromisso do Departamento de Comunicação Social da PUC/
Minas de editar uma revista anual sobre o ensino de Jornalismo e apresentado o
projeto para a realização da pesquisa Perfil do Professor de Jornalismo visando
a obter, entre outras informações, o número de professores, grade curricular,
recursos pedagógicos disponíveis e perfil dos dirigentes destas unidades.
O Currículo nas Escolas de Comunicação foi o tema central das discussões a
partir da exposição dos professores Erasmo Nuzzi sobre “Atualização das Normas
do Ensino de Comunicação Social”, e de Celso Luiz Falaschi sobre “O Jornalismo
Brasileiro em crise: a dicotomia entre a formação e o mercado de trabalho”.
Foi decidido que o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo retomaria a
discussão no Congresso Nacional Extraordinário dos Jornalistas, promovido pela
FENAJ, em maio de 1997, em Vila Velha/ES. Nesse evento alguns professores
participaram como delegados indicados pelos sindicatos, pois o tema central foi a
qualidade do ensino de Jornalismo.
A revista criada pelo Fórum Nacional de Professores de Jornalismo recebeu
o nome de Cadernos do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo e foi publicada
em agosto de 1997, editada pela professora Sandra Freitas, com o apoio da PUC-
Minas. A revista apresenta textos dos professores Celso Falaschi, intitulado “Jornal-
Laboratório estimula primeiranistas”; Carlos Alexandre, “Projeto Sinopse”;
Teresinha Maria de Carvalho Cruz Pires, “Teóricos e metodólogos”; Maurício
Lara Camargos, “Um ovo de Colombo?”; Maria Isabel Tim, “A produção de
hipertextos e a formação de jornalistas”; Dirceu Fernandes Lopes – “Reflexões
sobre o ensino de jornalismo”; Victor Gentilli – “Nova prática no ensino de
jornalismo: uma experiência no Espírito Santo”; Celso Falaschi – “O jornalismo
brasileiro em crise: a dicotomia entre a formação e o mercado de trabalho” e
Sandra Maria de Freitas – “Olhos que querem ver”.
O III Encontro Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu no Intercom
97 (Santos/SP). Na oportunidade, foi lançada a revista sob o título Cadernos do
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo reunindo experiências de professores
do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo e apresentados os
resultados da pesquisa Perfil do Professor de Jornalismo. Também foi apresentado
um relato das propostas do Núcleo de Professores de Jornal-Laboratório.

125
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ

O IV Encontro Nacional de Professores de Jornalismo foi em Recife (PE)


durante o Intercom 98. No primeiro semestre de 1999, o Fórum Nacional de
Professores de Jornalismo promoveu junto com a FENAJ e a PUC/Campinas o
Seminário Nacional de Diretrizes Curriculares do Ensino de Jornalismo visando
a discutir a proposta para as Diretrizes Curriculares do Ensino de Comunicação
formulada pela Comissão de Especialistas SESu/MEC.
O V Encontro Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu no Rio de
Janeiro no Intercom 99. O tema central foi As Diretrizes Curriculares do Ensino
de Comunicação a partir da mesa-redonda que contou com a participação dos
professores Sebastião Faro, André Parente, Eduardo Meditsch, Victor Gentilli,
sob a coordenação da professora Sandra Freitas. O VI Encontro Nacional de
Professores de Jornalismo ocorreu em Manaus, no Intercom 2000.
O 4º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu em Campo
Grande, entre os dias 26 e 29 de abril de 2001. A reclassificação da numeração dos
Encontros ocorreu porque os três últimos Encontros, de Recife, Rio de Janeiro e
Manaus não tiveram uma participação efetiva dos professores e nenhum registro
foi realizado desses Encontros. O evento em Campo Grande foi uma iniciativa
do professor Gerson Luiz Martins em contato com os professores Victor Gentilli,
Eduardo Meditsch e Carmen Pereira, naquele momento os interlocutores do
FNPJ.
O Encontro de 2001 se caracterizou como um Seminário no qual foram
convidados alguns pesquisadores em jornalismo para apresentar reflexões de
interesse dos professores. Foram convidados os professores Nilson Lage, que
falou sobre O ensino do jornalismo no século XXI; Eduardo Meditsch, sobre
Problemas a superar na pesquisa em jornalismo; Luiz Martins da Silva, sobre Um
projeto pioneiro; Francisco Karam, sobre Formação e ética jornalística; e Valci
Zucoloto, sobre A qualidade do ensino de jornalismo.
O Encontro de Campo Grande também foi marcado pelo retorno dos
Encontros Nacionais autônomos, ou seja, fora dos Congressos da Intercom.
Este Encontro teve uma grande participação de professores e coordenadores de
curso de jornalismo, pois foi realizado concomitantemente com o Seminário de
Avaliação do Exame Nacional de Cursos – ENC (Provão) de Jornalismo. Esse fato
facilitou a presença de inúmeros coordenadores de curso, tendo em vista que as
universidades e faculdades subsidiavam a presença de seus representantes. Também
neste Encontro foi realizada uma reunião dos professores e coordenadores de curso
de Jornalismo das universidades federais, que, naquele momento, enfrentavam
graves dificuldades de infraestrutura nos cursos. Nessa reunião, com a participação
do Diretor de Avaliação do Ensino Superior do INEP, professor Tancredo Maia
Filho, se definiu por agendar uma reunião com o ministro da Educação, Paulo
Renato com objetivo de equacionar o problema de infraestrutura dos cursos.
126
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ

Da reunião com o ministro da Educação resultou o Fungrandão que proveu


os cursos de jornalismo das universidades federais de inúmeros equipamentos
para compor os laboratórios de comunicação deficitários. Ainda neste 4º
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ficou definido a realização anual
dos Encontros e a alteração de formato para um evento que possibilitasse aos
professores e pesquisadores em jornalismo apresentar experiências, pesquisas,
projetos sobre ensino de jornalismo. Neste encontro também ficaram na
coordenação nacional do FNPJ os professores Carmen Pereira, Gerson Luiz
Martins e Sandra de Deus. O Encontro de 2002 ficou programado para Porto
Alegre, organizado pela UFRGS.
O 5º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu em Porto Alegre,
na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (FABICO) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, coordenado pelas professoras Sandra de Deus
e Márcia Benetti Machado, entre os dias 28 e 30 de abril de 2002. Para este
evento foram criados Grupos de Trabalho, espaços para a apresentação de
trabalhos dos professores, pesquisadores de jornalismo, divididos nos seguintes
temas: Pesquisa na Graduação, coordenado pelo professor Gerson Luiz Martins;
Projetos Pedagógicos, coordenado pela professora Carmen Pereira; Atividades de
Extensão, coordenado pela professora Sandra de Deus e Produção Laboratorial,
coordenado pelo professor Juliano Carvalho.
Neste encontro a conferência de abertura foi realizada pelo professor da
Escola de Comunicações da USP, Bernardo Kucinski com o tema “Uma nova ética
para uma nova modernidade”. Também foi publicada a Carta de Porto Alegre que,
entre outros temas, definia a “defesa da exigência do diploma de jornalismo”, a
parceria do FNPJ com a FENAJ, a institucionalização do FNPJ, a regulamentação
dos encontros nacionais e uma nova estrutura para os Grupos de Trabalho que
ficaram assim definidos: Projetos Pedagógicos, coordenado pela professora Sandra
Freitas; Pesquisa na Graduação, coordenado pelo professor Gerson Luiz Martins;
Atividades de Extensão, coordenado pela professora Sandra de Deus; Produção
Laboratorial nos Meios Eletrônicos, coordenador pelo professor Juliano Carvalho
e Produção Laboratorial no Meio Impresso, coordenado pela professora Carmen
Pereira.
O 6º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu em Natal
(RN), em 2003, na Universidade Potiguar (UnP) entre os dias 1 e 3 de maio. A
conferência de abertura do Encontro foi realizada pela professora da UFRJ Ana
Arruda Calado sobre o tema O desafio do ensino diante da vocação pública do
jornalismo. Os Grupos de Trabalho tiveram trabalhos inscritos por professores
e pesquisadores em jornalismo. Foram sete trabalhos para o GT de Pesquisa na
Graduação; 20 trabalhos para o GT Projetos Pedagógicos; oito trabalhos para o
GT Atividades de Extensão; sete trabalhos para o GT Projetos Laboratoriais –

127
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ

Eletrônicos e 14 trabalhos para o GT Projetos Laboratoriais – Impressos.


O 7º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu em Florianópolis,
em 2004, entre os dias 18 e 20 de abril, com o tema “Os desafios do ensino
de jornalismo na transição tecnológica” e conferência realizada pelo professor e
pesquisador em jornalismo da Universidade Nova de Lisboa, Nelson Traquina.
O Encontro de Florianópolis marcou uma nova etapa do FNPJ, após 10 anos de
sua criação. Os professores, pesquisadores, profissionais de jornalismo presentes
no evento realizaram a institucionalização da entidade e elegeram a primeira
diretoria. Além disso, foi realizado o terceiro Pré-Fórum da Fenaj, sessão realizada
na pré-programação do Encontro Nacional de Professores de Jornalismo.
Os Grupos de Trabalhos foram coordenados pelos professores Cristóvão
Pereira – Projetos Pedagógicos; Sandra de Deus – Atividades de Extensão; Gerson
Luiz Martins, Pesquisa na Graduação; Carmen Pereira – Produção Laboratorial
– Impressos; e Sandra Freitas – Produção Laboratorial – Eletrônicos. A primeira
diretoria eleita do FNPJ foi composta pelos professores Presidente: Gerson
Martins – UFRN; Vice-presidente: Carmen Pereira - UCB – RJ; Diretora
Administrativa: Sandra de Deus – UFRGS; Diretor Científico: Luis Martins da
Silva - UnB – DF; Diretora Editorial e de Comunicação: Sandra Freitas - PUC
– MG; Diretor Regional Norte: Narciso Lobo - UNAM – AM; Diretor Regional
Nordeste: Boanerges Lopes – UFAL; Diretor Regional Centro-Oeste: Edson
Spenthof – UFG; Diretor Regional Sudeste: Juliano Carvalho – PUC- Campinas
– SP; Diretora Regional Sul: Valci Zuculoto – UFSC; Conselho Consultivo: José
Marques de Melo - UMESP/USP – SP; Ana Arruda Callado - PUC-RJ/UFRJ;
Victor Gentilli - UFES – ES; Maria Luiza Nóbrega – UFPE; Celso Schröder
- PUC-RS; Joaquim Lannes - UPCB – MG; Cristóvão Pereira - UNP – RN e
Conselho Fiscal: Carmem Vieira – UFMG; Moacir Barbosa de Sousa – UFPB;
Marcel Cheida – PUC- Campinas – SP.
O 8º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo ocorreu em 2005,
entre os dias 21 e 23 de abril, em Maceió, organizado pela Universidade Federal
de Alagoas e coordenado pelo professor Boanerges Lopes, teve como tema
Formação e Responsabilidade no Jornalismo e a conferencia do jornalista Zuenir
Ventura. Com base na institucionalização da entidade ocorrida no ano anterior, o
Encontro de Maceió consolidou os Grupos de Trabalho e o formato como evento
híbrido, científico e acadêmico, com apresentação de trabalhos de pesquisa e
experiências pedagógicas no âmbito dos cursos de jornalismo. Em Maceió, foi
realizada a primeira Assembleia Geral de associados após a eleição da diretoria. O
8º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo também confirmou a parceria
com a FENAJ na realização do 4º Pré-Fórum e a nova parceria com a Agência de
Notícias dos Direitos da Infância - ANDI para realização de uma mesa de debates
sobre o Ensino de Jornalismo e a Agenda Social Brasileira.

128
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ

O 9º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu na cidade de


Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, em 2006, entre os dias 28 e
30 de abril, na Faculdade de Filosofia de Campos e teve como tema geral “Novas
tendências no ensino de jornalismo”, com conferência de abertura do professor
Eduardo Meditsch. Na programação também ocorreu a participação do professor
da Universidade de Brasília, Dr. Venício Lima que falou sobre o “Método Paulo
Freire e o Ensino de Jornalismo”. O Encontro de Campos foi coordenado pelo
professor Andral Tavares. A Carta de Campos, documento final do 9º Encontro
Nacional do FNPJ, se destacou pela proposta de suspensão do SINAES, fato que
gerou polêmica nos órgãos públicos da educação superior.
O 10º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo foi realizado em
Goiânia, entre os dias 27 e 30 de abril de 2007, organizado pela Universidade
Federal de Goiás e, coordenado pelo professor Joãomar Carvalho, marcou outra
etapa dos eventos do FNPJ. A partir de 2007, os Encontros Nacionais adotaram
nova nomenclatura, não mais Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, que
identifica a entidade da associação de professores, pesquisadores de jornalismo e
jornalista sobre ensino de jornalismo; mas sim a denominação Encontro Nacional
de Professores de Jornalismo (ENPJ). Também no Encontro de Goiânia, o FNPJ
iniciou o processo eletrônico de submissão e avaliação dos trabalhos inscritos com
a plataforma “Open Acess Research” disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de
Informação, Ciência e Tecnologia.
Essa plataforma possibilitou que os Anais dos Encontros Nacionais
recebessem o registro ISSN. O tema geral do 10º ENPJ foi “Os 60 anos de ensino
de jornalismo no Brasil e suas implicações sociais, profissionais e institucionais”.
A conferência de abertura foi realizada pelo professor Dr. José Marques de Melo,
além de se realizarem homenagens aos pioneiros do ensino de jornalismo no
Brasil, para a Fundação Cásper Líbero, Escola de Comunicação da UFRJ e para o
professor Nilson Lage. Neste Encontro também foram realizados os lançamentos
da Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo (REBEJ) e do Prêmio Daniel
Herz para Projetos Pedagógicos, TCCs e Reportagens sobre Democratização da
Comunicação. E se realizou, pela primeira vez, um Encontro de Coordenadores
de Cursos de Jornalismo.
Os Grupos de Trabalho tiveram uma reformulação com o incremento de
mais um GT, que ficaram organizados da seguinte forma: Atividades de Extensão,
coordenado pela professora Sandra de Deus; Ensino de Ética e de Teorias do
Jornalismo, coordenado pelo professor Edson Spenthof; Pesquisa na Graduação,
coordenado pelo professor Luiz Martins; Produção Laboratorial – Eletrônicos,
coordenado pelo professor Juliano Carvalho; Produção Laboratorial – Impressos,
coordenado pela professora Carmen Pereira e Projetos Pedagógicos e Metodologias
de Ensino, coordenado pela professora Valci Zuculoto.

129
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ

O 11º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo foi realizado


na Universidade Mackenzie, em São Paulo, entre os dias 18 e 21 de abril de
2008, e teve como tema geral “Perfil e condições para o exercício da docência
em Jornalismo”, com conferência ministrada pela professora da ECA/USP,
Cremilda Medina. Em São Paulo, foi realizado o 2º Encontro de Coordenadores
de Jornalismo, coordenado pela professora Carmen Pereira. Neste Encontro foi
realizado o 1º Colóquio Ibero-americano de Ensino de Jornalismo que teve a
participação dos professores Ramón Salaverría, da Universidade de Navarra,
Espanha, e de Nilson Lage, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ainda
estava previsto a participação do professor João Canavilhas da Universidade
da Beira Interior, Portugal, mas, devido a problemas de saúde, não pode estar
presente. Após dois mandatos consecutivos do professor Gerson Luiz Martins,
o 11º ENPJ marcou a eleição para presidente do FNPJ do professor da UFG,
Edson Spenthof.
O 12º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu em Belo
Horizonte (MG), coordenado pela professora Sandra Freitas e organizado por três
instituições de ensino superior: Centro Universitário Una, Centro Universitário
de Belo Horizonte (Uni-BH) e Faculdade Pitágoras. O tema central do Encontro
foi “O ensino de jornalismo nas universidades: impactos na prática profissional
e conquistas para a sociedade”, com conferência do professor Dr. Alfredo Viseu
da Universidade Federal de Pernambuco; no Encontro foram realizados o 3º
Encontro Nacional de Coordenadores de Cursos de Jornalismo, o 5º Colóquio
ANDI, o 8º Pré-Fórum da Fenaj e o 2º Colóquio Ibero-americano de Ensino de
Jornalismo com a participação dos professores João Canavilhas, de Portugal, do
jornalista Miguel Wiñaski, da Argentina; do professor Carlos Gerardo Agudelo
Castro, da Colômbia, e do professor Sérgio Luiz Gadini, representante brasileiro.
Neste Encontro, o FNPJ promoveu um avanço nos Grupos de Pesquisa. O
encontro dos GTs se transforma em Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de
Jornalismo, o que configura essa seção do Encontro Nacional de Professores de
Jornalismo como espaço de intercâmbio e desenvolvimento do conhecimento
científico. Tendo em vista que o Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de
Jornalismo se configurou num novo formato dos antigos Grupos de Trabalho, a
direção e associados do FNPJ decidiu caracterizar o Ciclo conforme o número de
Encontros dos GTs realizados até então. Em Belo Horizonte, foi realizado o VIII
Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de Jornalismo.
O 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo aconteceu na
Universidade Católica de Pernambuco, coordenado pelo professor Ricardo
Mello, teve como tema “Ensino de Jornalismo: Novas Diretrizes e Novos
Cenários Jurídicos, Profissionais, Tecnológicos e Econômicos”. Neste Encontro
foram realizados o 6º Colóquio da ANDI; o 9º Pré-Fórum da Fenaj; o 4º

130
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ

Encontro Nacional de Coordenadores de Curso de Jornalismo e o 3º Colóquio


Ibero-americano de Ensino de Jornalismo, que teve as participações do jornalista
e professor Miguel Paz da Escola de Jornalismo Diego Portales; do jornalista e
professor Celso Augusto Schröder, da PUC do Rio Grande do Sul e presidente
da Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe; e ainda do jornalista e
professor Gerardo Albarrán, coordenador do Instituto Sala de Prensa do México,
ausente por razões profissionais, devido a um incidente ocorrido com colegas
jornalistas.
Foi realizado o 9º Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino de Jornalismo com
seis Grupos de Trabalho: Atividades de Extensão, coordenado pela professora
Sandra de Deus (UFRGS); Ensino de Ética e de Teorias do Jornalismo, coordenado
pelo professor Sérgio Gadini (UEPG); Pesquisa na Graduação, coordenado pelo
professor Gerson Luiz Martins (UFMS); Produção Laboratorial – Eletrônicos,
coordenado pelo professor Juliano Carvalho (UNESP); Produção Laboratorial
– Impressos, coordenado pelo professor Josenildo Guerra (UFS); e Projetos
Pedagógicos e Metodologias do Ensino, coordenado pelo professor Leonel Aguiar
(PUC-Rio).
O 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo marca a eleição da
nova diretoria do FNPJ, composta por: Presidente: Sérgio Luiz Gadini (UEPG/
PR); Vice-presidente: Mirna Tonus (UFU/MG); Secretaria-Geral: Ricardo Mello
(UNICAP/PE); Segundo Secretário: Edson Spenthof (UFG/GO)Tesoureira:
Sílvio Melatti (IELUSC/SC); Segunda-Tesouraria: Sandra Freitas (PUC/MG);
Diretoria Científica: Socorro Veloso (UFRN/RN); Vice-diretoria Científica:
Marcelo Bronosky (UEPG/PR); Diretor Editorial e de Comunicação: Paulo
Roberto Botão (UNIMEP/SP); Vice- diretor Editorial e de Comunicação:
Demétrio Soster (UNICS/RS); Diretor de Relações Institucionais: Gerson
Martins (UFMS/MS); Vice-diretor de Relações Institucionais: Juliano Carvalho
(UNESP/SP). Diretoria Regionais:; Norte I: Cynthia Mara (TO); Norte II: Lucas
Milhomens (UFAM/AM); Nordeste I: Mônica Celestino (FSBA/BA); Nordeste
II: Fernando Firmino da Silva (UEPB/PB); Sudeste I: Erivam de Oliveira (UFV/
MG); Sudeste II: Wanderley Garcia (PUC-CAMPINAS/UNIMEP/SP); Sul I:
Tomás Barreiros (FACINTER/PR); Sul II: Jorge Arlan Pereira (UnoChapecó/
SC); Centro-Oeste I: Samuel Lima (UnB/DF); Centro-Oeste II: Álvaro Fernando
Ferreira Marinho (FIAVEC/MT); Conselho Consultivo: Antonio Francisco
Magnoni (Unesp/SP); Boanerges Lopes (UFJF/MG); Franklin Valverde
(UniRadial/SP); Joaquim Lannes (UFV/MG); Josenildo Guerra (UFS/SE);
Leonel Azevedo de Aguiar (PUC/RJ); Valci Zuculoto (UFSC/SC)e Conselho
Fiscal composto por Marcel Cheida (Puc/Camp/SP); Sandra de Deus (UFRGS/
RS) e Victor Gentilli (UFES/ES).
Também neste Encontro o FNPJ decide pela realização dos Encontros

131
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo - FNPJ

Nacionais no período de dois em dois anos e Encontros Regionais ou Estaduais nos


anos de intervalo dos Encontros Nacionais. Evento que merece destaque realizado
no 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo foi a homenagem da
Unicap ao professor Dr. José Marques de Melo, egresso da Unicap, por ocasião
da comemoração dos 50 anos de lançamento do livro do professor Luiz Beltrão,
“Iniciação à Filosofia do Jornalismo”, também marcado por um debate com os
professores José Marques de Melo e Alfredo Vizeu. Neste Encontro, durante
Assembleia Geral dos associados do FNPJ, o professor Gerson Luiz Martins
propôs a transformação do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo em
Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo. O tema gerou uma ampla discussão
e se iniciou um estudo para encaminhar a proposta.

132
CAPÍTULO 7

As Origens da Semiótica no Brasil

Ana Claudia Mei Alves de Oliveira1

Introdução
Ao retratar a história de uma teoria, a da semiótica, no Brasil, é que mais se
ilumina como se é levado a referir-se a uma série de contribuições de teóricos
que delinearam as várias correntes semióticas com os fundamentos de abordagens
dos sistemas e dos processos de linguagens. Como teoria dos signos, tem-se as
contribuições da Semiologia, de Roland Barthes e as da Semiótica, de Charles
Sanders Peirce; como teoria da significação os fundamentos são de Algirdas Julian
Greimas; como teoria do discurso, as referências são da vertente eslava com
destaque para Romam Jackobson, Mikahil Backhtin e Iuri Lotman. Enumerar
os marcos desses desenvolvimentos que garantiram a posição dessas teorias na
fundamentação de uma complexidade de objetos de estudo é pôr-se na trajetória
das idéias desses teóricos, mas também de personalidades acadêmicas brasileiras
que a difundiram no país. Essa abordagem é, pois, uma situação contextual inicial
que se coloca aberta a uma série de acréscimos a fim de contribuir para os retoques
desse retrato multifacetário.
Do muito que aqui está sendo exposto no relato de mais de cinco décadas de
estudos semióticos no Brasil tem havido ampla participação em uma comunidade
científica nacional atuante, por realizações que marcaram as correntes na
institucionalização que os brasileiros envolvidos foram lhe dando configurações.
A partir dessas, a proposta é de constituir um relato das contribuições das teorias
semióticas ao campo da comunicação que se organiza em três grandes partes para
oferecer detalhamento sem objetivar uma análise completa, uma vez que estamos
no ponto de partida da construção de um quadro histórico.

A Semiótica da qual a Lingüística é uma das partes


No final da década de 60, no interior do Estado de São Paulo, dois jovens professores
Edward Lopes e Ignácio Assis Silva trabalhavam juntos na implementação das
novas correntes da lingüística na área de estudos lingüísticos e literários que era
marcado por uma forte ação dos estudos da língua latina no país. As novas idéias
desencadeadas a partir da publicação do Curso de lingüística geral, de Ferdinand de
Saussure compilado por três de seus alunos revolucionou as pesquisas brasileiras.
As atividades se davam na Faculdade de Letras e Estudos Literários da Unesp
sediada em Araraquara. Nos raios dessa cidade, na São José do Rio Preto onde
1 Professora da PUCSP.

133
As origens da Semiótica no Brasil

os dois também trabalhavam, havia um outro colega, Eduardo Peñuela Cañizal,


espanhol radicado no Brasil bastante ligado aos estudos de literatura hispânica,
latino-americana, e um apaixonado por pintura e cinema. E, na cidade de Ribeirão
Preto, na Universidade Barão do Mauá, Edward Lopes animava essa ebulição da
Lingüística no Brasil.
Os conceitos saussurianos de “estrutura”, “relação”, “diferença” e as
dicotomias: “língua vs fala”, “diacronia vs sincronia”, “paradigma vs sintagma”,
“sistema vs processo”, foram conceitos-chave do desenvolvimento do pensamento
lingüístico, mas também dos estudos das ciências sociais, a partir da década de 40.
Essa difusão de uma perspectiva de estudo se constituiu nas tendências conhecidas
pela nomeação de Estruturalismo, cujas obras capitais são: A fenomenologia da
percepção de Maurice Mearleu-Ponty (1945), Antropologia estrutural (1958), de
Claude Lévi-Strauss, Elementos de semiologia (1965) de Roland Barthes, Semântica
estrutural (1966) de Algirdas Julien Greimas, Escritos (1966) de Jacques Lacan.
Disseminadoras da perspectiva nova em formação, essas obras foram centrais
para a vertente francesa de estudos das práticas culturais e das sociais que, no
Brasil, e, em especial, em São Paulo, se alicerçou anos antes da tradução dessas
obras para o português. A própria presença de Lévi-Strauss no Brasil no início de
seus trabalhos antropológicos, quando esteve ligado à criação da Universidade de
São Paulo em 1936, proporcionou o grande estado de animo que contaminou as
investigações exploratórias das recém criadas disciplinas nas ciências humanas.
Os trabalhos de Merleau-Ponty e de Lévi-Strauss merecem ainda destaque por
estarem nas bases do escrito de Greimas L’Actualité du saussurisme (1956), no qual
postula que a partir de Saussure um mundo estruturado é apreensível nas suas
significações. Ligados por um modo de pensar, esses autores se articulam pelo
objetivo comum de elaboração de uma metodologia unificada para as ciências
sociais. Com o exame das relações e das funções dos elementos que constituem
os inúmeros sistemas das línguas humanas, das suas práticas culturais de contos
folclóricos aos textos literários, por exemplo, a semiótica e a semiologia deixaram
rastros definidores das investigações das ciências das linguagens, das artes e da
Comunicação.
Greimas e Barthes estiveram bem próximos no início das duas disciplinas
distintas que conceberam. Encontraram-se quando lecionaram juntos em
Alexandria. No grupo de jovens professores aí sediados, eles leram além de
Saussure, também Louis Hjelmeslev. Leituras que debateram e ruminaram, mas
que na fatura teórica de ambos frutificou em conceituações teóricas diferentes.
Referindo-se a esse período de germinação Greimas afirma que as leituras dos
dois podem ser tomadas como sendo uma o avesso da outra, observação que se
depreende de um estudo comparativo entre elas.
O primeiro estudo de impacto de Barthes Mitologias, datado de 1957, é um
134
As origens da Semiótica no Brasil

estudo da cultura francesa com os impactos da cultura de massa. Escritos sobre o


cotidiano que mostram da publicidade, notícias de jornal, revistas, cinema, a um
prato do dia a dia: o bife com batata frita, e outro grande ícone do século XX,
o automóvel, entre tantos outros mais, que destacam como o semiólogo estava
interessado em estudar a representação sígnica e a circulação dos valores no social.
Todavia, a partir desses estudos dos mitos Barthes foi levado em sua semiologia a
se conduzir rumo ao entendimento dos sistemas de signos, usados na formação
cultural que a sociedade empreende ao se construir.
Por via diversa, Greimas foi abordar o outro pólo da dicotomia saussurreana
montada com “sistema”, exatamente o “processo”, do qual se ocupa a fim de
dar conta do exame dos usos das linguagens dos distintos sistemas. É o arranjo
hierárquico do sentido com seus procedimentos em níveis que permitem ao
analista reconstuir a significação por seu percurso gerativo do sentido, a edificação
de uma gramática da narrativa, definida a narratividade como um dos universais,
tratamento do discurso pela sintaxe da enunciação e a semântica dos temas e
de suas figuratividades enquanto operações intersemióticas que as linguagens
operam no seu edificar mundos tradutores do mundo e das línguas naturais.
As suas teses de doutoramento, a de Barthes, O sistema da moda e a de
Greimas La mode em 1830, defendidas na França, são exemplares dos caminhos
que distanciaram as duas vertentes do saussureanismo de uma teoria da produção
de sentido social. Enquanto a semiologia foi assumida por Barthes como uma
ciência dos signos, que o sistema da moda é um exemplar do potencial signo e de
suas regras de combinação, a semiótica de Greimas postulava-se enquanto uma
disciplina com rigor científico para o estudo da significação de usos da linguagem
cuja unidade de análise é o texto, uma totalidade de sentido. Nas rotas distintas
de sistematização de conceitos e métodos, as duas teorias se edificaram voltadas
para a produção do sentido no seio da vida social realizando diferentemente a
projetada teoria antevista por Saussure da qual a lingüística era somente uma das
partes da semiologia.
A obra de Barthes foi traduzida para o português por uma crítica literária
Leyla Perrone-Moyses que contribuiu para a sua difusão no Brasil, em especial, no
âmbito da crítica literária e musical, mas também de cinema, televisão.
Lopes e Assis Silva trouxeram Greimas para seu primeiro e único curso
no Brasil: “Semiótica da narrativa” em julho de 1973, sob os auspícios da
Universidade Barão de Mauá. A primeira pedra de edificação da semiótica de
Greimas no Brasil estava lançada com um grupo de não mais de vinte pessoas que
seguiram esses encontros e criaram o Centro de Estudos Semióticos A.J. Greimas
(CESAJG).
Em um trabalho intenso de grupo de pesquisa, a equipe de Araraquara

135
As origens da Semiótica no Brasil

(SP) levou adiante os estudos das concepções semióticas de Greimas no Brasil.


O lançamento de Maupassant : la sémiotique du texte, exercices pratiques (1975)
deu uma impulsão à toda gama de análises semióticas. Mas essa obra demorou
a ser traduzida no Brasil quase uma década, apesar de ter sido central para os
desdobramentos semióticos dos estudos enquanto gramática narrativa. Por sua
vez, a sistemática tradução conjunta de uma outra obra, publicada na França do
ano de 1979, o Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, sob a direção de
Greimas e Joseph Courtès, efetivou a compilação dos conceitos e procedimentos
metodológicos da teoria da significação. Se Greimas havia deixado a lexicologia
em prol da semântica, seus preceitos se efetivaram neste trabalho de dicionário
estabelecido coletivamente na França pelo grupo de colaboradores formado
entorno de Greimas, o Groupe de recherche sémio-linguistique. O mapeamento
dos fundamentos conceituais da teoria semiótica orienta-se por um eixo diacrônico
dos estudos e outro sincrônico do estágio atual das concepções sendo possível
demarcar os plurais aprofundamentos da disciplina. A tradução do dicionário
pelo grupo de estudiosos brasileiros em 1983, deu continuidade na semiótica
brasileira das mesmas bases de compartilhamento e debate rigoroso dos conceitos
centrais da teoria, ao mesmo tempo em que os seus translados epistemológicos
para os campos de interesse dos nossos estudiosos que se caracterizavam por
estudos das línguas e seu ensino, estudos literários de prosa e poesia, estudos da
visualidade, em particular, pintura e escultura, estudos audiovisuais de cinema e
televisão, estudos da canção que pautaram muitas discussões dos seminários de
discussão em Araraquara.
Para escoar essas primeiras produções bibliográficas em Semiótica, eles
criaram a revista BACAB- Estudos Semiológicos, em 1970, metamorfoseada, em
1973, em Significação – Revista Brasileira de Semiótica, que ainda é bastante
atuante no país. No inverno de 2009, com 30 números publicados, Significação
assume-se “Revista de cultura audiovisual” mantendo o mesmo ISSN 1516-
4330, sediada no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e, publicada pela Editora
Annablume, a revista conseguiu verba do CNPq.
Em grande parte esse modus operantis fez com que a teoria fosse muito
disseminada em análises de textos e objetos da cultura brasileira dando nascimento
a vários distintos sub-grupos de desenvolvimento dos estudos semióticos. Como
eixo teórico ocupa vários Programas de estudos pós-graduados do país. A saber,
tem se mantido presente nos Estudos Literários e Lingüisticos da Pós-Graduação
de Letras de Araraquara. Merece destaque todo o trabalho que a Pós graduação
em Semiótica e Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da USP que contou no início com as contribuições de Cidmar Teodoro Paes, a
seguir com as de José Luiz Fiorin, Diana Luz Pessoa de Barros, Beth Brait, Luiz
Tatit, entre outros. Esse corpo docente tem formado profissionais e pesquisadores
136
As origens da Semiótica no Brasil

de grande renome que levaram o ensino da teoria semiótica pelos quatro cantos
do país.
A equipe atual integrada por Waldir Beividas, Norma Discini, Luiz Tatit,
Ivã Lopes, entre outros, tem conseguido manter a avaliação máxima, nota 7, do
Sistema de avaliação da CAPES. Advém dessa pós-graduação a formação doutoral
da maioria dos professores que atuam no campo, destacando a UFRGS, a UFMG
e outras pós-graduações como a de Letras da UFF que tem uma linha em Teoria
semiótica do discurso. A Pós-Graduação em Comunicação da PUCSP, desde 1990,
implementou no seu eixo teórico a teoria semiótica francesa, denominando esses
estudos de semiótica discursiva ou sociossemiótica por ter sido implementada
pela ação de Eric Landowski, que atua ainda como professor visitante permanente
desta pós graduação e aí criou o Centro de Pesquisas Sociossemióticas (CPS),
como centro interinstitucional de pesquisa com Ana Claudia Mei Alves de
Oliveira e os amigos semioticistas da USP e da UNESP em 1994.
Outros grupos de pesquisa atuantes são: o Grupo Casa, fundado em
Araraquara por Ignácio Assis Silva em 2001. Hoje é dirigido por Maria de Lourdes
Baldan e congrega pesquisadores em semiótica das cidades vizinhas, Ribeirão
Preto, Franca, Bauru, São José do Rio Preto, por exemplo. NA USP, a criação
do Grupo de Estudos Semióticos (GES), hoje dirigido por Ivan e Marcos Lopes,
Waldir Beividas e Elizabeth Arcot, mantém uma programação mensal e eventos.
Na Universidade Federal Fluminense (UFF) funciona, em Niterói, o SEDI criado
por Lucia Teixeira e um grupo de jovens docentes. Em Bauru, organizou-se o
Grupo de Estudos de Semiótica da Comunicação, com a iniciativa de Maria
Lúcia Vissoto e a participação de Ana Silvia Médola Davi, Jean Christus Portella
e Matheus Nogueira Schwartzmann.
Em termos de publicação há as revistas sem continuidade hoje como Semiótica,
Acta Semiotica e Linguistica, Linguagens. Os Cadernos de Textos do CPS com nove
edições impressas e as demais digitais, duas coleções a de “Documentos de estudo
em semiótica” com cinco números publicados e a “Coleção Sociossemiótica” junto
a Editora Estação das Letras com dois livros lançados. Entre as revistas eletrônicas
tem-se a do grupo CASA dirigida por Arnaldo Cortina e Renata Marquezan;
a do GEL que foi dirigida várias vezes por semioticistas e a da Abralin, a outra
associação de lingüística que manteve um grupo de trabalhos em semiótica.
A Revista de Estudos Lingüísticos (GEL) teve início em 1978 e encontra-
se vinculada ao Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo, que foi
criado em 1968 tendo tido presidido por semioticistas José Luiz Fiorin e Arnaldo
Cortina. A criação da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN) em São
Paulo, de 1969, foi presidida por Diana Luz Pessoa de Barros. Desde 1972 a
Sociedade Brasileira de Professores de Linguística (SBPL) organizou a Revista
Brasileira de Lingüística com o apoio do Programa de Semiótica e Linguística da
137
As origens da Semiótica no Brasil

USP e o de Tecnologia da informação e Educação da Universidade Brás Cuba. Foi


dirigida por Cidmar Teodoro Pais. A Revista Gragoatá é vinculada ao Instituto
de Letras – UFF, a Revista: SIGNUM - Estudos da Linguagem é sediada em
Londrina no Paraná, no Curso de Mestrado em Letras da Universidade Estadual
de Londrina.

A semiótica dos signos e das traduções intersemióticas


Em outro contexto, o da prática poética e da prática da tradução, Décio Pignatari
e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos que atuaram juntos formando, em
1952, o grupo Noigandres com Eugen Gomringer, e tinham uma ativa produção
poética que veio a ser denominada movimento concretista de repercursão
internacional, atuavam juntos no Programa de Pós-graduação em Teoria Literária
da PUCSP. Idealizado a partir de 1968, no Departamento de Artes da PUCSP, foi
criado em 1970 e coordenado por Lucrecia D’Aléssio Ferrara. Transformou-se em
Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica em 1972, como um lugar de ensino
e contato com a teoria filosófica do norte americano Charles Sanders Peirce e, em
especial, com a sua teoria semiótica, um dos ramos de sua arquitetura filosófica
que passou a ser estudada como campo de intersemioses entre as artes poéticas do
verbal, mas também as da visualidade e das várias artes, assim como as do design
e da comunicação com a explosão, após o rádio e cinema, da televisão brasileira, e
dos experimentos em vídeo, holografia e, mais recentemente nas mídias móveis.
A ênfase era a dos estudos das operações de trânsito entre as linguagens, dos
estudos intersemióticos. O pensamento do semiólogo francês Roland Barthes foi
aí ministrado pela especialista em literatura brasileira e portuguesa Leila Perrone-
Moysés que se destacou além da tradução de suas obras para o português, por sua
atividade de crítica literária. Também aí atuou o maestro e compositor Gilberto
Mendes, com a tradução do verbal e da visualidade para sistemas musicais.
Boris Schnaiderman foi outro semioticista bastante presente nesse circuito de
práticas semiótica tanto por seu ofício de tradutor de obras primas do russo para
o português, tanto por seus conhecimentos de poetas russos como Maiakóvski
que interessava muito os poetas concretas. Eles tinham juntos uma prática de
confronto das traduções que faziam do francês e do inglês com as direta do russo
de Schnaiderman.
Ainda esse engenheiro agrônomo de formação foi docente na USP, onde
criou o ensino da língua russa e tornou conhecida no Brasil a vasta corrente teórica
de semiótica que se desenvolveu em vários países da extinta URSS, obra que foi
publicada pela editora Perspectiva e foi decisiva na formação de pesquisadores que
atuam na PUCSP como Arlindo Machado e Irene Machado.
Uma das características da semiótica praticada na PUCSP nesses tempos
dominados pela semiótica de Peirce caracterizou-se pelo estudo dos signos nas
138
As origens da Semiótica no Brasil

suas relações de contigüidade que é montada a partir de seleções dos signos nos
sistemas e das regras combinatórias, ou seja, das linguagens que passou por uma
explosão em novas linguagens, em especial, no campo midiático.
Com a atuação de Lúcia Santaella na sua coordenação expandiram-se nessa
Pós os estudos das várias midias que foram acompanhados da implementação
de outras teorias semióticas que são estudadas como eixos de fundamentação
do Programa. As várias linhas de pesquisa dão conta de uma vasta gama de
estudos intersemióticos que seu corpo docente praticava, inserindo também as
das organizações, design, música, teatro, performance, dança, corpo, arqutetura
e urbanismo. Afora a semiótica filosófica de Peirce o seu Pragmatismo, passou
a ser estudado pela contribuição de Iso Assad Ibri que mantém uma revista e
um evento anual na área. Foi ainda inserida uma tendência semiótica no escopo
das teorias da cultura e das mídias postulada por Norval Baitello Jr., seguindo
a linhagem dos trabalhos de Ivan Bystrina, Harry Pross e Dietmar Kamper. O
Centro Interdisciplinar de Semiótica e Cultura (CISC), mantém a publicação
digital de Ghrebh. As problemáticas dos novos meios foram tratadas com as novas
tecnologias que adentraram o seu curriculo também integrando os estudos dos
processos de criação nas várias mídias pela abordagem de Cecília Almeida Salles.
Trouxe também ao ambiente semiótico, as postulações do denominado semion,
ou a semiosfera, conceptualizada pelo semioticista estoniano Iuri Lotman, assim
como as do dialogismo de Michail Backthin que dedicou a vida à definição de
conceitos e categorias de análise da linguagem com base em discursos cotidianos,
artísticos, filosóficos, científicos e institucionais.
A ação de Irene Machado, José Amalio Pinheiro e Jerusa Pires Ferreira
animaram esses estudos com aspectos vários da cultura brasileira e a latinoamericana
nas várias produções das artes e das mídias. Ainda a semiótica interpretativa de
Umberto Ecco que visitou São Paulo se expandiu com a publicação de toda a sua
obra, muitas delas pela Perspectiva.
Por vários anos ligada ao Departametno de Artes da PUCSP foi produzida a
revista De Signos. No seu extinguir-se no âmbito do Programa de Comunicação e
Semiótica organizou-se e passou a ser publicada pela editora da PUCSP, a Educ, a
revista FACE que foi dirigida por Philadelpho Menezes que se dedicava à prática
da poesia visual e aos estudos das mídias. Por último, foi criada a revista Galáxia:
Revista Transdiciplinar de Comunicação, Semiótica, Cultura com a editoria
científica de sete números de Irene Machado, que foi responsável pelo projeto
gráfico. Nas suas palavras: “a proposta editorial do periódico abriga confluências e
conexões disciplinares com o objetivo de (1) compreender a produção, a circulação
e a recepção dos sentidos/signos comunicacionais; (2) demonstrar a variedade das
pesquisas na área da Comunicação, em termos de discursos, as práticas sociais
e condições de interação, tecnológicas ou não; e, (3) a partir do diálogo e do

139
As origens da Semiótica no Brasil

confronto de diferentes pontos de vista, firmar soluções metodológicas num


campo do saber cujas bases teóricas e epistemológicas encontram-se em densa
discussão. Três outros números foram editados por Eugênio Trivinho, Lucrecia
D’Aléssio Ferrara e Ana Claudia de Oliveira. Nos números a seguir a editoria
passou a ser de José Luiz Aidar Prado com os trabalhos colaborativos essenciais
de Leda Tenório da Motta e José Amálio Pinheiro. A avaliação da revista recebeu
e tem mantido a qualificação máxima do Qualis-Capes de periódicos nacionais.
Desde 2009, a revista Galáxia tornou-se unicamente digital.

ABES: Associação Brasileira de Estudos Semióticos


No âmbito dos estudos pós-graduados, os representantes das várias teorias
semióticas fundaram a Associação Brasileira de Semiótica (ABS), anos antes
de se realizar o I International Congress of Semiotics, em Mlião, na Itália,
em 1974. Com a participação da ABS no cenário internacional houve uma
consecutiva presença de brasileiros na diretoria internacional, que começou pela
vice-presidência de Décio Pignatari, depois Lucia Santaella e Eduardo Peñuella
Cañizal. A ABS começou em São Paulo, onde o desenvolvimento das pesquisas
semióticas se concentrava, mas à medida em que outros núcleos se organizavam
passaram a ser formadas associações regionais.
A partir de 1979 vamos ter a de São Paulo presidida por Ana Claudia Mei
Alves de Oliveira e Ana Maria Domingues Zilocchi; a do Rio de Janeiro, dirigida
por Mônica Rector que organizou dois importantes colóquios. A Regional do Rio
Grande do Sul, que teve como impulsionadoras: Maria Graça Krieger, Elizabeth
Bastos Duarte, Maria Lílian de Castro e organizou o III Congresso. Havia a
atuante Regional da Paraíba e a de Brasília que elaborou um site com uma larga
sistematização de seus dados. E sem formalização em uma regional havia uma
representação em Salvador, Bahia.
Responsáveis por eventos regionais, em 1978, a Regional do Rio de Janeiro,
na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, organizou I Colóquio de
Semiótica com a publicação dos Anais do Primeiro Colóquio de Semiótica. (São
Paulo: Loyola, Rio de Janeiro: PUC, 1980) e o II Colóquio em 1980 (Anais do
II Colóquio de Semiótica (São Paulo: Loyola, 1983). Thomas A. Sebeok presente
no evento incentivou os brasileiros a fazerem pesquisas ligadas ao Centro
de documentação de Peirce em Bloomington, assim como a participar dos
seminários de verão da Indiana University. Essa troca acompanhava a que sempre
existiu entre os participantes da Escola Francesa de Semiótica que freqüentavam
os seminários de Greimas e seu grupo na Ecole des Hautes Études em Sciences
Sociales, em funcionamento desde o final da década de sessenta. Essas condições
caracterizam o intenso diálogo entre as semióticas produzidas no país e as dos
demais países que se estende a nossos dias.
140
As origens da Semiótica no Brasil

Em 1984, foi organizado o I Colóquio Luso-Brasileiro de Semiótica


na Universidade Federal Fluminense em Niterói. Em 1985, foi organizado o
III Colóquio Brasileiro de Semiótica com a presidência de Lucia Santaella, na
Universidade de São Paulo. A associação Semiótica – Regional São Paulo teve
participação na organização com a atuação de Ana Claudia de Oliveira. O
destaque foi a grande presença do público brasileiro e representações no evento
de semioticistas latino-americanos, norte-americanos e europeus. Além de uma
exposição, três livros registram os textos do evento com a editoria de Ana Claudia
de Oliveira e Lucia Santaella, com o patrocínio da FAPESP. Esses livros são
intitulados: Semiótica e outras ciências, Semiótica da Literatura e Semiótica das Artes
e da Arquitetura (São Paulo, Educ, 1985).
Em agosto de 1990, foi organizado em Porto Alegre, o IV Colóquio
Brasileiro de Semiótica pelas representantes da Regional Sul da ABS. Com
renomados semioticistas das várias correntes semióticas, o evento também
marcou a dissolução dessa primeira associação, mesmo que em 1996 tenha
havido um evento internacional organizado na PUCSP, com a coordenação de
Lucia Santaella com três livros de seus resultados denominados Caos e Ordem
(São Paulo, Hacker, 1998). Em 1996, também as universidades USP (FAU e
F.F.L.C.H.), e Anhembi Morumbi em reunião com a PUCSP, sediou o IV então
sob a presidência brasileira de Ana Claudia Mei Alves de Oliveira.
A rearticulação dos associados só se deu uma década depois pela ação
levada a cabo por Irene Machado, quando atuava na PUCSP:COS. Para ato de
refundação da Associação, foi organizado o V Colóquio Brasileiro de Semiótica,
em 2001, na Faculdade Belas Artes em São Paulo, conseguindo o feito de reunir as
principais tendências das semióticas em vigor no país e mais de duzentas pessoas
participantes.
Se as correntes maiores da semiótica se ligam à lingüística, aos estudos
literários, aos de cultura brasileira, mas também aos estudos da comunicação e da
produção das mídias, do design, também o campo da filosofia, do pragmatismo,
das neurociências, da computação e da música foram marcados e constituíram
grupos de pesquisa por essas concepções teóricas e metodológicas diversas.
Entre as tendências da semiótica desenvolvidas no Brasil foram destacadas:
1) a semiótica de origem na lingüística de Saussure e no estrutralismo que é
representada entorno da teoria da significação de Algirdas Julien Greimas e da
semiologia de Roland Barthes; 2) a semiótica de Charles Sanders Peirce com a
vertente filosófica que além dos campos da semiótica da comunicação, dos estudos
poéticos de várias mídias, dos estudos da produção midiática e dos meios com o
transito das linguagens em seus processos tradutórios, também o pragmatismo;
3) uma vertente de semiótica psicanalítica com diálogo com Freud e Lacan;
4) uma semiótica do texto literário a partir dos desenvolvimentos de teóricos
141
As origens da Semiótica no Brasil

como: Tzvetan Todorov, Claude Brémond, Roland Barthes e Julia Kristeva; 5)


uma semiótica da cultura com foco em Yuri Lotmam, Mikhail Bahktin; 6) uma
semiótica da cultura com foco em Ivan Bystrina, Harry Pross, and Dietmar
Kamper;7) uma semiótica performativa orientada pela filosofia da linguagem de
John Searle e John C. Austin.
A ABES foi inteiramente reestruturada a partir de 2001 e sob sua ação tem-
se a edição do quinto congresso dos associados em preparação para o ano 2011,
quando a reorganização da Associação Brasileira de Estudos Semióticos celebrará
a sua primeira década de renovação. Entre os seus sócios, identifica-se uma parcela
de docentes e pesquisadores atuantes na área da Comunicação. As várias teorias
semióticas que delineamos a trajetória no país fazem-se presentes nas estruturas
curriculares e nas linhas de pesquisa de vários dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação.

142
ABES, recriação e percurso de uma Associação

Ana Claudia Mei Alves de Oliveira2

A ABES é a Associação Brasileira de Estudos Semióticos. Seu percurso de


nascimento, em 2001, tem no país uma narrativa de passos de reagrupamento
dos pesquisadores em semiótica, dispersos em núcleos de pesquisas de várias
correntes da teoria semiótica. Esses foram convocados por Irene Machado e um
grupo de interessados que vislumbraram as condições de fazer renascer o primeiro
agrupamento de semioticistas brasileiros: a Associação Brasileira de Semiótica,
extinta ABS. Consta no site da ABES, na sessão “histórico”, a seguinte descrição
abaixo, como relato desse primeiro agrupamento:
“A Associação Brasileira de Semiótica foi fundada em 1972 na cidade
de São Paulo com o objetivo de reunir semioticistas e estudiosos
interessados no desenvolvimento e aplicação científica e cultural dos
estudos semióticos. A primeira reunião com vistas à fundação da ABS
aconteceu no dia 09 de março de 1972, na capital de São Paulo. Naquele
momento criou-se uma diretoria provisória constituída pelos seguintes
membros: Presidente: Décio Pignatari; Vice-Presidentes: Leyla Perrone-
Moisés e Lucrecia D’Aléssio Ferrara; Secretária Executiva e Tesoureira:
Lucia Helena França Ferraz; Editor: Haroldo de Campos. Em notícia
publicada no caderno de Educação do jornal Folha de S. Paulo, de 19
de abril de 1974, pág. 23, anunciou-se ao público a reunião científica
de fundação da ABS aconteceu entre 19 e 20 de abril de 1974, na Rua
Bartira, 387, sala 1, em São Paulo. Nessa assembléia estavam presentes os
seguintes estudiosos das ciências dos signos:
Décio Pignatari, Lucrecia D’Aléssio Ferrara, Mônica Rector, Mônica
Galceran, Geraldo Mattos, Fernando Segolin, Samira Chalhub, Jorge
Rosa, Saldete de Almeida Cara, Dirce Tereza Ceribeli, Lucia Helena
Ferraz e Maria Lucia Santaella Braga.
A assembléia houve por bem indicar Décio Pignatari para presidir os
trabalhos e Mônica Rector para secretariá-lo. Decidiu-se na reunião que
os objetivos prioritários da Associação Brasileira de Semiótica seriam:
- Congregar estudiosos da área de semiótica;
- Promover o desenvolvimento dessa ciência no Brasil, bem como
estabelecer contatos internacionais”.

2 Presidente da ABES.

143
ABES, recriação e percurso de uma Associação

Nos anos 70 e até meados dos anos 80, a então ABS atuou intensamente
realizando uma série de quatro Congressos Internacionais, dois seminários luso-
brasileiros de Semiótica, um seminário avançado de Semiótica e uma grande
quantidade de eventos locais com a criação de associações regionais. Essas
nucleações atingiram o número de cinco regionais, que foram muito importantes
nos seus estados, mantendo uma programação que marcava os interesses dos
membros congregados e uma troca entre esses por meio de ciclos de conferências
e reuniões de estudo e debates.
As regionais formadas pela ABS atestavam uma desnucleação da teoria
semiótica que deixava de ser unicamente desenvolvida no eixo São Paulo – Rio
de Janeiro e passava a reunir pesquisadores em outras regiões. A Regional de São
Paulo teve a coordenação de Ana Claudia Mei Alves de Oliveira e Ana Maria
Domingues Zilocchi; a do Rio de Janeiro foi coordenada por Mônica Rector e
Aloiso Trinta; a Regional Sul teve a participação das professoras Elizabeth Bastos
Duarte, Maria da Graça Kriger e Maria Lília de Castro. Também desenvolveram
atividades a Regional da Paraíba e a Regional de Brasília.
Graças a essas ações foram realizados nas diversas regiões do país um conjunto
de eventos da ABS. No Rio de Janeiro realizaram-se o I e II Congresso Brasileiro
de Semiótica; em São Paulo, além do III Congresso, o Seminário Avançado de
Semiótica no município de Águas de São Pedro; em Porto Alegre, o IV Congresso.
Cada evento manteve um número expressivo de convidados internacionais das
várias tendências teóricas da semiótica praticada no país, dando testemunhos
dos intensos intercâmbios entre a semiótica brasileira e a de centros de pesquisa
sediados fora do país.
O Brasil ocupou importantes cargos junto ao cenário internacional da
Semiótica com delegações nos vários eventos, desde a fundação da Associação
Internacional de Semiótica, em Milão, em 1974, com Décio Pignatari, integrando a
vice-presidência da International Association for Semiotic Studies (IASS)/ Association
Internationale de Sémiotique (AIS), nas duas línguas oficiais, o inglês e o francês.
Atualmente, também o espanhol é língua oficial na Associação. Os encontros
internacionais mostraram-se importantes em termos de troca e relacionamentos
entre os distintos cantos do mundo que se dedicavam às investigações semióticas.
Os eventos internacionais, ocorridos até esse ano, são uma dezena que listamos
abaixo com as localidades em que ocorreram, as datas e temário:
• 1. Milão, Itália, 2 a 6 de junho de 1974. Temário: A Semiotic Landscape.
• 2. Viena, Austria, 2 a 6 de julho de 1979. Temário: Semiotics Unfolding.
• 3. Palermo, Itália, 24 a 29 de junho de 1984. Temário: Semiotic Theory
and Practice.

144
ABES, recriação e percurso de uma Associação

• 4. Barcelona, Espanha e Perpignan, França, 31 de Março a 4 de abril de


1989. Temário: Signs of Humanity/L’homme et ses signes.
• 5. Berkeley, USA, 12 a18 de junho de 1994. Temário: Signs of the World.
Synthesis in Diversity.
• 6. Guadalajara, Mexico, 13 a 18de julho de 1997. Temário : Semiotics
Bridging Nature and Culture/La sémiotique: carrefour de la nature et de la
culture/La semiotica. Intersección de la naturaleza y de la cultura.
• 7. Dresden, Alemanha, 6 a 11 de outubro de 1999. Temário: Sign
Processes in Complex Systems/Zeichenprozesse in komplexen Systemen.
• 8. Lyon, França, 7 a 12 de julho de 2004. Temário: Signes du monde.
Interculturalité et globalisation / Signs of the World. Interculturality and
Globalization / Zeichen der Welt: Interkulturalität und Globalisierung / Los
signos del mundo: Interculturalidad y Globalización.
• 9. Helsinki e Imatra, Finlândia, 11 a 17 de junho de 2007. Temário:
Understanding/Misunderstanding.
• 10. La Coruña, Espanha, 22 a 26 de setembro de 2009. Temário: Culture
of Communication/Communication of Culture.
Os temários propostos mostram como as teorias semióticas foram
caminhando para os grandes interesses de seu tempo com destaque para as
questões da Comunicação quer por suas linguagens, sistemas complexos de
articulação intersemióticas, quer em termos interculturais na era da globalização,
de compreensão e incompreensão, de eficácia, e, sobretudo, da cultura da
Comunicação. A comunicação esteve sempre presente mostrando no horizonte
dos desenvolvimentos teóricos e metodológicos a vocação da semiótica de ser
uma das epistemologias para descrição e análise das codificações em sistemas
comunicacionais, bem como de seus modos de organização dos processos que
elaboram.
Em todos os encontros internacionais, o Brasil manteve atuações significantes
e ocupou cargos representando a semiótica brasileira. Entre os nomes de destaque
é possível citar: Haroldo de Campos, Lucia Santaella, Eduardo Peñuella Cañizal
e Diana Luz Pessoa de Barros, entre outros.
Desde 1989 foi criada a International Association for Visual Semiotics/
Association Internationale de Sémiotique Visuelle/Asociación Internacional de
Semiótica Visual cujas línguas oficiais são inglês, francês, italiano e espanhol. Os
congressos realizados foram:
1. Blois (França) 1989
2. Bilbao (Espanha) 1992
145
ABES, recriação e percurso de uma Associação

3. Berkeley ( EUA) 1994


4. São Paulo (Brasil) 1996
5. Siena (Itália) 1999
6. Québec (Canadá) 2001
7. Cidade do México (México) 2003
8. Lyon (França) 2004
9. Istambul (Turquia) 2007
10. Veneza (Itália) 2010
O próximo congresso será na América do Sul, em Buenos-Aires (Argentina)
em 2012, quando a Semiótica brasileira terá amplas condições de se fazer mais
presente e expor os estudos das mídias audiovisuais, visuais e impressas na era
digital, discutir os processos comunicacionais, interativos nas práticas sociais em
grande expansão nas pesquisas desenvolvidas no país sobre espaço e urbanidade.
Na Associação de Semiótica Visual (AISV/IAVS) o Brasil ocupou a
presidência com Ana Claudia Mei Alves de Oliveira, organizando o IV Congresso
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1996, com uma
representação da Universidade de São Paulo (USP) com os seguintes apoios:
Diana Luz Pessoa de Barros e Cidmar Teodoro Paes (Faculdade de Filosofia Letras
e Ciências Humanas); Lucrecia D’Aléssio Ferrara (Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo) e Eduardo Peñuela Cañizal (Escola de Comunicação e Arte). Integrou,
ainda, a realização do evento oferecendo apoio de equipamentos técnicos para as
sessões de comunicação a recém criada Universidade Anhembi Morumbi.
Três livros do evento foram publicados pela Hackers editora, lançados em
1998, com a organização de Ana Claudia de Oliveira e Yvana Fechine, intitulados:
Semiótica da Arte, Visualidade, intertextualidade, urbanidade, Imagens técnicas. O
evento também contou com uma exposição de arte tecnológica, performances e
apresentações no campus, além de uma intervenção nas vitrinas e passagem do
Shopping Center Vitrine, na rua Augusta, em São Paulo, organizado por Ana
Claudia de Oliveira e Silvia Demetresco.
Na década de 90, a associação viveu momentos de dispersão. Ainda que
houvesse reuniões científicas importantes, essas representaram muito mais os
pólos individuais de estudo e não conseguiram compor reuniões mais frutíferas
de diálogos e interfaces entre as teorias semióticas.
Somente no ano de 2001, em São Paulo, voltou a ocorrer uma iniciativa
de reorganização da associação. No campus da Faculdade Belas Artes (SP),
antigos membros, incentivados por Irene Machado, tiveram a iniciativa de reunir

146
ABES, recriação e percurso de uma Associação

um grande número de representantes, atuantes em vários grupos de pesquisa


cadastrados no CNPq. O V Congresso Brasileiro de Semiótica foi formado com uma
denominação que indicava a continuidade dos eventos passados e interrompidos
e carregou essa vontade de diálogo e estudo compartilhado. A partir desse
agrupamento, projetou-se a realização de eventos de periodicidade bianual, com
a denominação de Congresso Internacional de Semiótica.
O V Congresso foi assim o marco do renascer da idéia de associação brasileira,
contando com representação de instituições de ensino e pesquisa, de grupos e
centros de pesquisas das várias correntes semióticas. Todavia, a interrupção dos
trabalhos da associação tornou impossível a manutenção da mesma denominação
e, no ato de sua recriação, a entidade passou a ser chamada de Associação Brasileira
de Estudos Semióticos (ABES).
A renomeação foi em parte benéfica, pois tratava-se de uma segunda geração
de semioticistas que se orientava muito mais por um trabalho coletivo e que visava
a integração das várias vertentes teóricas. Todo o mérito cabe justamente a Irene
Machado que, dialogicamente, operou os passos dessa recriação, congregando
representantes das várias linhas teóricas da Semiótica já bastante sedimentadas
em várias instituições do país. O evento foi marcado por uma homenagem aos
semioticistas que integrara essa primeira fase associativa da Semiótica brasileira
em sinal de reconhecimento ao trabalho de edificação da semiótica no Brasil.
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com o seu
Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Semiótica (PEPGCOS)
e a Faculdade de Comunicação e Filosófica (COMFIL), uniram-se no
empreendimento de Irene Machado para realizar em 2001 o V Congresso Brasileiro
de Semiótica com o temário “Semiótica e Representação”. Com o apoio financeiro
da FAPESP, o evento ocorreu no período de 19 a 22 de setembro de 2001, na
Faculdade de Belas Artes de São Paulo, que não apenas sediou o Congresso como
ofereceu toda a infra-estrutura de laboratórios para a apresentação dos trabalhos,
em dez sessões de Comunicação, com um público inscrito de 200 pesquisadores
das várias regiões do país.
Essa participação significativa forneceu um quadro bastante diversificado da
pesquisa Semiótica que se realizava no início da década passada, com destaques
para a Semiótica Visual (artes, design, arquitetura, webdesign, artemídia); Semiótica
Discursiva (linguística, análise do discurso, comunicação, design, arte, canção
popular, literatura, poesia); Semiótica da Música; Semiótica das Mídias (mídia
impressa, publicidade, televisão, rádio, fotografia, vídeo, cinema, comunicação
digital e redes); Semiótica da Cultura (rituais, moda, objetos do design,
organizações, leis); Semiótica Cognitiva (comunicação, corpo, dança); Semiótica
e Política. Também permitiu uma localização da presença institucional das teorias
semióticas, a saber: nas universidades do Estado de São Paulo: USP, UNESP de
147
ABES, recriação e percurso de uma Associação

Bauru e Araraquara, UNIMAR de Marília, Unicamp, PUCCAMP, PUC-SP;


nas da cidade do Rio de Janeiro (UFRJ, PUC-Rio, UERJ; nas universidades do
Estado de Minas Gerais: PUC-Minas, UFJF, UFMG; no Estado do Paraná: UEL,
CEFET, Tuiuti, UFPR; e no Estado do Rio Grande do Sul: UFRGS e Unisinos.
Houve participação dos alunos de Pós-Graduação e de Graduação.
Além do evento atestar um delineamento do estado da arte das teorias
semióticas em seus distintos lugares, ele apontou as práticas de estudo voltadas para
a cultura brasileira em várias de suas manifestações culturais, políticas, artísticas,
educacionais, midiáticas e urbanísticas. Em termos das pesquisas semióticas, a
novidade foi o foco nas mídias digitais e nas massivas que apareceram ao lado de
outros universos de estudo já consagrados nas teorias semióticas voltados para os
estudos das artes plásticas, estudos literários e lingüísticos.
O V Congresso marcou a reorganização dos pesquisadores atuantes nas mais
variadas regiões do país e acenou para a grande urgência de se empreender um
levantamento do ensino da Semiótica no país no âmbito das graduações e das
pós-graduações; de verificar o lugar da fundamentação teórica em Semiótica nas
várias redes de pesquisa em desenvolvimento. Também apontou a necessidade de
inventariar o número de titulados mestres e doutores e sua atuação no mercado
profissional.
A Associação Brasileira de Estudos Semióticos elegeu a sua primeira diretoria
em assembléia deliberativa, ocorrida no evento, e determinou neste ato que as
eleições ocorreriam bianualmente para que houvesse um rodízio da direção entre
associados, conforme os grupos organizados, estando todos aptos a assumir essa
construção do lugar das teorias semióticas no cenário da pesquisa de nosso país.
Sob a presidência de Irene Machado, o segundo evento foi então realizado
dois anos depois, em 2003, em uma das nascentes da teoria semiótica: a UNESP,
de Araraquara, que sediou o II Congresso Internacional da ABES/VI Congresso
Brasileiro de Semiótica no coração do estado de São Paulo. Com trabalhos
entrosados dos semioticistas que aí ensinam, em um diálogo sustentável entre
letras, lingüística, estudos literários e estudos voltados para as ciências sociais e
políticas, as pesquisas aí se concentram na linha da Teoria Semiótica do Discurso,
também conhecida como Semiótica Narrativa de Algirdas Julien Greimas e
seus colaboradores. Foi assim que a recém criada Associação realizou o seu II
Congresso Internacional/VI Congresso Brasileiro de Semiótica de 8 a 11 de
outubro de 2003.
O temário do VI Congresso foi “Percepção e Sentido: Tendências atuais
dos estudos semióticos”. Com mais de 300 inscritos, os textos dos expositores em
sessões de comunicação foram reunidos em um CD Room com a apresentação de
129 trabalhos, dos quais 94 se mostraram sendo de caráter aplicado, utilizando os

148
ABES, recriação e percurso de uma Associação

métodos teórico-analíticos discursivos; conceitos operatórios peirceanos e ainda


conceitos originários das correntes russas de semiótica.
Uma nova diretoria da ABES foi eleita no evento que recebeu da anterior
a missão de dar continuidade à representação da semiótica desenvolvida no
Brasil. Pela formação da diretoria ligada a PUCSP, o III Congresso Internacional
da Associação Brasileira de Estudos Semióticos/VII Congresso Brasileiro de
Semiótica foi marcado para ser realizado em São Paulo, pelo Programa de Pós-
graduação em Comunicação e Semiótica e pela Faculdade de Comunicação e
Filosofia.
De 14 a 16 de novembro de 2005, com a presidência de Ana Claudia Mei
Alves de Oliveira, o congresso realizou-se no Teatro TUCA com o temário:
“Brasil: Identidade e alteridade” e teve tradução simultânea do inglês e do francês
dos convidados internacionais para o português, o que propiciou a participação
dos discentes dos cursos de graduação desta instituição em que a semiótica faz-
se presente em várias faculdades. O evento reuniu mais de 400 participantes,
com a edição dos Anais em CD que registrou as apresentações das 10 sessões de
Comunicação, apresentadas simultaneamente.
No âmbito das atividades, a assembléia elegeu uma nova diretoria encabeçada
por Moema Lúcia Rebouças representante, juntamente com seus colegas, de
uma terceira geração de semioticistas formados em São Paulo. A sua alocação
na Universidade do Espírito Santo (UES) permitiria um saudável deslocamento
do evento para Vitória que acolheu conciliadoramente os desenvolvimentos das
teorias semióticas. Por sua atuação na Pós-graduação em Educação da UFES, o
evento mostrou também como nesta localidade as teorias semióticas encontravam-
se em grande trânsito de discussão sobre o seu oferecer fundamentação teórica e
metodologia a distintos cursos de graduação tais como os de Comunicação, Artes,
Arquitetura, Letras e Linguística ao lado da Administração e Educação.
Ocorreu um diálogo aberto entre as correntes teóricas da semiótica alavancado
pela proposta temática do III Congresso Internacional da Associação Brasileira de
Estudos Semióticos//VIII Congresso Brasileiro de Semiótica intitulada: Semiótica
e Interações Sociais. O evento, realizado de 14 a 17 de novembro de 2007,
reuniu 250 pessoas inscritas com 100 apresentações de trabalhos nas sessões de
Comunicação, publicadas em Cd. Uma nova diretoria da ABES foi eleita no
evento com representantes de distintas instituições de São Paulo e presidida por
Lauer Nunes dos Santos, da Universidade Federal de Pelotas (RS).
A concentração de paulistas fez com que o IV Congresso Internacional da
Associação Brasileira de Estudos Semióticos/IX Congresso Brasileiro de Semiótica
fosse realizado na Universidade Anhembi Morumbi, organizado pela Pós-
graduação em Design, marcando uma área emergente de aproximação das teorias

149
ABES, recriação e percurso de uma Associação

semióticas. Outro destaque no evento foi a concentração de estudos semióticos


sobre moda, formas de urbanidade com seus modos de vida, formas de consumo
diversas. O evento recebeu mais de 200 participantes inscritos.
O temário do IV Congresso Internacional e do IX Congresso Brasileiro
de Semiótica foi Semiótica, Hábitos e Estilos de Vida. Um tema que assume uma
posição quase limite entre as questões de base que vêm, ao longo do tempo,
ocupando os estudos semióticos e alguns dos problemas que são apresentados
pelas novas formas de produção e difusão do sentido e da informação. Com esse
temário, os hábitos foram problematizados nos seus redimensionamentos das
noções de tempo e espaço, bem como na redefinição dos modos de sociabilidade –
ou de mediação da sociabilidade. Nesse contexto, uma das formas de compreender
os processos de significação foi proposta justamente na desconstrução, a partir
de metodologias específicas, daquilo já incorporado aos comportamentos como
hábitos – maneira usual de ser, fazer, sentir, individual ou coletivamente – de
modo a resgatar ou rever possibilidades outras e que são consideradas “naturais”
e, por isso mesmo, isentas de atenção.
Nos dias 3 a 5 de maio de 2010, a ABES indicava contar com 173 membros
filiados, que representam 18 universidades brasileiras, nas quais a Semiótica é
uma disciplina reconhecida nos cursos de graduação e/ou pós-graduação, assim
como na formação dos seus estudantes, professores e pesquisadores.
Desde sua reestruturação em 2001, o principal objetivo da ABES tem sido
promover o intercâmbio de pesquisas e estudos orientados pelas abordagens
semióticas nas mais distintas áreas com o propósito de propiciar meios para
dinamizar os debates. Sua tarefa emergencial é a de realizar um mapeamento
dos pesquisadores, dos seus objetos de pesquisa, dos centros, núcleos e grupos de
pesquisas atuantes e dos resultados de sua inserção em variados campos do saber o
que torna significante saber mais sobre o lugar da pesquisa semiótica nos quadros
das áreas de conhecimento em vigência no país.
Vocacionada para a interdisciplinaridade, as teorias semióticas constituem,
hoje, em um referencial teórico e metodológico nos programas de pós-graduação
em Comunicação, Ciência da Informação, Marketing, Artes, Arquitetura, Design,
Literatura, Letras e Linguística, Educação, Política, configurando-se assim em
meio de interlocução multidisciplinar e interinstitucional.
Um dos compromissos que a Associação Brasileira de Estudos Semióticos,
por sua quinta vez, renovou na assembléia de sócios foi o ato de eleger a diretoria,
que se torna assim uma porta-voz não só de seus associados, mas também das
pesquisas realizadas nas várias teorias semióticas que se desenvolvem em todo
o país. Em 2010, a diretoria eleita é presidida por Lucia Teixeira de Siqueira
e Oliveira, da Pós-graduação em Letras da Universidade Federal Fluminense

150
ABES, recriação e percurso de uma Associação

(UFF). Uma eleição que fez a ABES voltar ao Estado do Rio de Janeiro, para
sediar em Niterói V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Estudos
Semióticos/X Congresso Brasileiro de Semiótica, justamente quando completará
10 anos de sua reorganização e reativação como associação científica, uma instância
legítima de representação das pesquisas semióticas dos estudiosos brasileiros no
âmbito nacional e internacional.

Nucleações das pesquisas em semiótica


Por necessitar ainda uma pesquisa mais sistemática apenas são destacados em
termos de Grupos, Núcleos e Grupos de pesquisa algumas de suas constituições.
Essas informações são até então parciais cabendo ser mais aprofundadas a fim de
compor uma visão mais integral da construção do saber e das pesquisas produzidas
pelas teorias semióticas no Brasil. As nucleações de pesquisas levantadas são:
• CISC – Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia -
criado em 1992, com coordenação de Norval Baitello Jr. e Malena Segura
Contrera. Linhas de pesquisa: 1) Comunicação e Cultura; 2) Comunicação
e Imagem; 3) Comunicação e Mídia. Home page: http://www.pucsp.
br/~cos-puc
• Grupo de pesquisa em processos de criação - criado em 1993, sediado
na PUCSP, com coordenação de Cecília Almeida Salles e Christiane Pires
Nelson de Mello. Linhas de pesquisa: 1) Processos de criação nas mídias; 2)
Teorias da criação. Home page: http://www.pucsp.br/~cos-puc
• Centro de Pesquisas Sociossemióticas ( CPS) - criado em 1994, sediado
na PUCSP:COS, com coordenação de Ana Claudia Mei Alves de Oliveira
e Eric Landowski (CNRS, CEVIPOF). Linhas de pesquisa em semiótica
discursiva: 1) Análise de textos, produtos e práticas sociais; 2) Fundamentos
da Semiótica, Comunicação e outras áreas; 3) Processos de intertextualidade
e interdiscursividade; 4) Regimes de sentido, regimes de interação, regimes
de visibilidade. Home page: http://www.pucsp.br/pos/cos/cps
• Centro Internacional de Estudos Peirceanos (CIEP) - criado em 1996,
está sediado na PUCSP, com coordenação é de Maria Lucia Santaella
Braga e Ana Maria Guimarães Jorge. Linhas de pesquisa são: 1) Semiótica
Interdisciplinar; 2) Semiótica Teórica; 3) Semióticas Específicas. Home
page: http://www.pucsp.br/pos/tidd/ciep/
• OKTIABR - Grupo de pesquisa para o estudo da semiosfera -
constituído em outubro de 2002 para estudar semiótica russa, sediado
na PUCSP:COS. Linhas de pesquisa: 1) conhecimento das linguagens
da comunicação (segundo a perspectiva da ecologia da comunicação); 2)

151
ABES, recriação e percurso de uma Associação

relação entre os sistemas culturais (tal como a arqueologia das mídias e de


suas medições Homepage: http://semiosfera.iv.org.br/portal/grupo/grupo
• GEARTE - Grupo interinstitucional vinculados à linha de pesquisa
Educação: Arte Linguagem Tecnologia, do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadores
de diferentes instituições, docentes e estudantes, constituído desde 1997.
Investiga as relações entre educação e arte, dialogando com as áreas da cultura
visual, semiótica discursiva, estética, história, teoria e crítica da arte. Tem
cinco linhas de atuação: pesquisa; ensino; publicação; assessoria; estudos
específicos. Linhas de pesquisa: 1) educação e artes visuais; 2) educação:
arte, linguagem, tecnologia; 3) estudos em arte: mídia, discurso e formação.
Homepage: http://www.gearte.ufrgs.br/
• Grupo de Estudos Semióticos (GES), da FFLCH-USP - criado em
2001, Caracteriza-se pelas discussão de questões semióticas em geral, com
destaque para a escola francesa. Linhas de pesquisa:1) Análise dos discursos
sociais (verbais e não-verbais); 2) Linguagem da canção; 3) Teoria semiótica.
Homepage: www.fflch.usp.br/dl/semiotica
• Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA) - criado na UNESP de
Araraquara em 2002, por Ignácio Assis Silvia. Com coordenação de Maria
de Lourdes Ortiz Gandini Baldan. Está sediado na UNESP: Faculdade
de Ciências e Letras de Araraquara. Linhas de pesquisa: 1) Estrutura,
organização e funcionamento discursivos e textuais; 2) Semiótica do texto
literário. Homepage: http://seer.fclar.unesp.br/index.php/casa
• Grupo de pesquisa Semiótica, leitura e produção de textos (SELEPROT)
- criado em 2002 na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A
coordenação é de Darcília Simões. Linhas de pesquisa: 1) Análise linguístico-
semiótica; 2) Linguagens, Tecnologias, Culturas; 3) Semiótica das Culturas.
Home page: http://www.darciliasimoes.pro.br
• Espaço-Visualidade/Comunicação-Cultura (ESPACC) - criado 2006,
está sediado na PUCSP e sua coordenação é de Lucrecia D’Alessio Ferrara
e Regiane Miranda de Oliveira Nakagawa. Linhas de pesquisa: 1) Cidade
como Manifestação Social da Cultura; 2) Espaço como Desafio Científico
para uma Epistemologia da Comunicação; 3) Espaço e Midias Visuais - do
bidimensional ao social ; 4) Espaço e Processos de Mediação e Interação.
Home page: http://espacc.incubadora.fapesp.br
• Laboratório Multidisciplinar em Semiótica (LABSEM) - criado em 2008
na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) como um espaço de
trabalho em que os graduandos (entre outros) operam com equipamentos
digitais realizando um estágio semi-profissional de qualificação para o
152
ABES, recriação e percurso de uma Associação

mercado de trabalho. Sua coordenadora é Darcilia Marindir Pinto Simões.


Linhas de pesquisa são: 1) os textos verbais e não-verbais; 2) o objeto
literário; 3) o desenho de produtos e 4) a comunicação visual. Home page:
http://labsemuerj.blogspot.com/
• Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Linguagem (NIEL).
Hopmepage: http://dgp.cnpq.br/diretorioc/fontes/detalhegrupo.
jsp?grupo=0338801IRY8KT1
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.
jsp?grupo=0326802KF6LE99
• Grupo Avançado de Pesquisa em Semiótica - Criado em 2005 na
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A
coordenação é de Eliana Pibernat Antonini. Dedica-se aos estudos sobre
iconicidade, entreligados às produções televisivas nacionais que alcançaram
repercussão internacional. Linha de pesquisa: Cultura Midiática e
Tecnologias do Imaginário. Homepage:http://www.portcom.intercom.
org.br/francobrasil/detalhe.php?c22=grupo&id=381&c10=Brasil&c9=RS
• Semiótica, design e arte - criado em 2005 na Universidade Federal de
Pelotas. Sua coordenação é de Lauer Alves Nunes dos Santos. Linhas de
pesquisa: 1) Arte: reflexão e significação. 2) Design e identidade; 3) Design:
planejamento e produção. 4) Semiótica discursiva. Homepage: não indicada
• Comunicação e Cultura: Barroco e Mestiçagem - criado em 2005, sediado
na PUCSP, a sua coordenação é de José Amalio de Branco Pinheiro. Linhas
de pesquisa: 1) Ambientes Midiáticos e Mestiçagem. 2) Comunicação e
Barroco nas Américas. Homepage: http://br.groups.yahoo.com/group/
comunicpuc
• Semiótica e discurso (SEDI) - criado em 2006, na Universidade Federal
Fluminense, Departamento de Ciências da Linguagem. O grupo de pesquisa
reúne pesquisadores em Semiótica que trabalham com análise de textos e
discursos e produzem reflexão teórica e metodológica sobre a produção de
sentido em textos de diversas materialidades significantes. A coordenação
é de Lucia Teixeira de Siqueira e Oliveira e Silvia Maria de Sousa. Linha de
pesquisa: 1) Discurso e interação. Homepage: http://www.uff.br/sedi/links.
htm
• Semiótica da Comunicação - criado em 2009, na Universidade São
Paulo ( ECA). A coordenação é de Irene de Araújo Machado e Anderson
Vinicius Romanin. Linhas de pesquisa: 1) Design da comunicação; 2)
Epistemologia, Teoria e Metodologia da Comunicação; 3) Fundamentos
sistêmicos da semiótica da comunicação; 3) Linguagens da comunicação.

153
ABES, recriação e percurso de uma Associação

Homepage: http://www.semeiosis.com.br
• Grupo de Pesquisa Semiótica e Comunicação (GPESC) - criado
interinstitucionalmente em Porto Alegre. A sua coordenação é de
Alexandre Rocha da Silva (UFRGS). Reúne quatro núcleos de pesquisa :
1) Semiótica Crítica; 2) Design Estratégico; 3) Memória e Informação; 4)
Corporalidades, que são articulados em um mesmo diretório do CNPq.
Propõe debates acerca das linguagens voltadas à comunicação em diferentes
práticas disciplinares, metodológicas, estéticas e políticas. Objetiva a revisão
da Semiótica tradicional realizada a partir das obras de autores como Gilles
Deleuze, Michel Foucault e Jaques Derrida. Homepage: http://www.gpesc.
caosmose.net/

Periódicos científicos de Semiótica


Igualmente é parcial o levantamento das revistas que se declaram dedicadas aos
estudos semióticos. Com conselhos editoriais para seleção de artigos e ligados ao
sistema de avaliação Qualis da CAPES, os periódicos levantados até então são:
Galáxia, Significação, Itinerários, Alfa, Signum, Casa, Cadernos de Textos do CPS,
REVISTA DOSSIÊ GPESC.

Desdobramentos
São muitas as pesquisas ainda a serem feitas para completar o quadro de vida da
ABES de forma a delinear o seu retrato. Entre as investigações emergentes a se
realizar destaca-se, além das atualizações das revistas e dos grupos de pesquisa,
a necessidade de levantar as obras das variadas correntes o que comporá um
mapeamento das investigações dos diversos campos semióticos e abrirá
possibilidades de realização de um estudo qualitativo da Semiótica desenvolvida
no Brasil. Por outro lado, faz-se urgente, igualmente, o levantamento das
faculdades com os cursos que inseriram a teoria semiótica em seus grupos pós-
graduados e graduados. Essas são tarefas a serem feitas que contribuirão para
um delineamento do retrato da Semiótica brasileira, por meio de suas variadas
práticas de vida e de presença em uma multiplicidade de campos do saber que
apenas começamos a configurar.
A todos que puderem colaborar, estou continuando essa coleta de dados
por julgá-la da maior importância para que a Associação Brasileira de Estudos
Semióticos (ABES) possa estar representada junto às várias áreas do saber da
CAPES, para as quais as teorias semióticas têm dado a sua colaboração efetiva.
De espectro amplo abrangendo da Medicina, Engenharia, Design, Arquitetura,
moda, música às áreas de arte, Letras, Literatura e Comunicação, essa tarefa
caberia a um grupo de investigadores representativos desse panorama.
154
ABES, recriação e percurso de uma Associação

Graças à Socicom e ao apoio do Ipea em fomentar um depoimento sobre o


modo como as associações atuam na área da Comunicação, esse primeiro passo
foi dado. Contudo, trata-se apenas de um esboço preliminar que buscou retratar
a trajetória de uma organização instalada no país há meio século e que está por ser
continuado por muitas orquestrações, visando realizar um exame qualitativo das
contribuições da Semiótica para os estudos do campo da Comunicação no Brasil.
Seria necessário outros pesquisadores de campos teóricos, de ensino e pesquisa da
Semiótica darem as mãos para juntos desenvolverem esse projeto de traçado dos
resultados e contribuições da semiótica nos vários campos de saber. Meu gesto é
apenas um e só pode significar se formar uma aliança a fim de construirmos junto
esse retrato coletivo. Meus braços se estendem a todos em um chamado para
realizarmos juntos essa tarefa que não pode mais esperar para acontecer.

155
156
CAPÍTULO 8

Economia Política da Comunicação (EPC)

Anita Simis 1
Ruy Sardinha Lopes2

Introdução
A Economia Política da Comunicação (EPC) é um constructo teórico-
metodológico desenvolvido a partir das contribuições de Marx e se constitui como
um importante pólo estruturador do pensamento crítico comunicacional. Assim,
se a Economia Política Crítica surge para explicar o modo de funcionamento do
capitalismo, foi o aparecimento das indústrias da mídia no século XX – e seu papel
na lógica de reprodução do estágio monopolista do capitalismo – que aproximou
este campo disciplinar das comunicações. Desta forma, as contribuições de
Adorno, Horkheimer, Walter Benjamin e demais colegas da chamada Escola de
Frankfurt para o melhor entendimento das especificidades da produção cultural
e sua relação com os processos econômicos e sociais mais amplos abriram uma
frutífera e longa trajetória investigativa que, passando pelos Estudos Culturais,
desembocaram na EPC.
Tendo o canadense Dallas Smythe como pioneiro nesse campo (no final da
década de 1940 ofereceu o primeiro curso sobre EPC nos EUA) , será sobretudo
a partir da década de 1960 que esta nova perspectiva analítica começa a se
desenvolver. Para isso contribuíram diversos pesquisadores, que talvez possam ser
divididos em duas “escolas”: a “norte-americana”, na tradição de Baran e Sweezy,
Dallas Smythe e Herbert Schiller e a “européia”, com setores das academias
britânica e francesa, vinculadas à produção intelectual de Nicholas Garnham,
Peter Golding e Graham Murdock, de um lado, Patrice Flichy, Bernard Miège e
Dominique Leroy, de outro.
Seja criticando as teorias que viam os meios de comunicação massivos
apenas como uma esfera de produção de ideologia e estratégias discursivas e
enfatizando o papel da mercadoria audiência (Smythe), seja ressaltando a função
da publicidade como arma fundamental das estratégias competitivas das grandes
empresas oligopolistas (Baran e Sweezy), ou ainda, como o trabalho de Herbert

1 Diretora Administrativa da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação


(Socicom) e participa da Redecult e do CULT. Foi presidente da União Latina de Economia Política da In-
formação, da Comunicação e da Cultura – Ulepicc-Brasil e coordenadora da revista Estudos de Sociologia. É
professora livre-docente na Unesp – campus Araraquara.
2 Doutor em Filosofia pela FFLCH-USP. Professor e pesquisador do Departamento e do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia da USP de São Carlos. Coordenador do
Núcleo de Estudos sobre as Espacialidades Contemporâneas (NEC) e presidente do capítulo Brasil da União
Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (Ulepicc-BR)

157
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

Schiller, estabelecendo os vínculos orgânicos entre os sistemas de comunicação e


as operações do capital transnacional, os autores norte-americanos.
Já na Europa, os estudos de Graham Murdock e Peter Golding voltaram–se
para a relação entre os aspectos simbólicos e materiais das comunicações públicas,
superando, desta forma aqueles estudos que centravam o foco analítico em um
dos lados; como, por exemplo, as análises sobre os processos de construção e
consumo de sentidos oriundas dos Estudos Culturais.
Na França, onde predomina a expressão Economia da Cultura e da
Comunicação, a par das análises econômicas sobre as artes cênicas realizadas por
William Baumol (1968) e Dominique Leroy (1980), ganharam maior repercussão
internacional as figuras de Bernard Miège e Patrice Flichy, economistas ligados
ao GRESC, da Universidade Stendhall, de Grenoble. O estudo dos processos de
trabalho e de valorização dos produtos culturais e suas especificidades, a análise
das estruturas dos mercados culturais, a distinção entre setores de edição (livro,
disco, vídeo, CD etc)) e a culture de flot (rádio, TV) e a substituição do termo
“indústria cultural” por “indústrias culturais” são algumas das importantes
contribuições da Economia Política francesa para o campo comunicacional.
Ao sintetizar a contribuição dos estudos em EPC, Herscovici, Bolaño e
Mastrini (2010) afirmam:
“No seu conjunto os estudos em Economia Política da Comunicação
representam uma ruptura com certas análises marxistas que, a partir de uma
aceitação não problemática do modelo base/superestrutura, entendem
os meios de comunicação como instrumentos do domínio das classes
no poder. Essa visão reducionista do papel dos meios de comunicação
na sociedade foi rebatido a partir da economia política que, embora
assumindo a importância da estrutura econômica no funcionamento
dos meios e, especialmente a necessidade de analisá-la, insistiu em não
cair no erro de uma transferência mecanicista dos efeitos dos meios. Por
outro lado, os estudos da economia dos meios se distanciam das teorias
que proclamam uma excessiva autonomia dos níveis ideológicos ou
políticos, eliminando qualquer influência das relações econômicas no
processo de significação. A esse respeito, Garnham (1979) assinala: “essa
posição desenvolve corretamente as instituições de escola de Frankfurt sobre
a importância da superestrutura e da mediação, mas prescinde do fato de
que, na época do capitalismo monopolista, a superestrutura se industrializa,
é invadida pela estrutura”. Aparece assim a reivindicação de deixar de
considerar os meios de comunicação como aparelho ideológico e se
investe na necessidade de centrar-se na sua função econômica”.

158
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

América Latina
A história do campo da Comunicação na América Latina sempre ocupou papel
de destaque no cenário internacional, sobretudo no que se refere à discussão sobre
a aceleração desenvolvimentista presumivelmente proporcionada pelas novas
tecnologias de comunicação a serem transplantadas pra o terceiro mundo, numa
espécie de Plano Marshall comunicacional.
As reflexões dos economistas da Comissão Econômica Para a América Latina
e o Caribe (CEPAL), reticentes quanto a esta relação causal, que no campo da
comunicação derivam nas teorias da dependência ou do imperialismo cultural e
a discussão sobre a repartição dos fluxos globais de informação, sintetizada no
Relatório McBride, fruto do movimento em prol de uma Nova Ordem Mundial
da Informação e da Comunicação (NOMIC) tiveram, assim, grande importância
na luta contra-hegemônica e pela democratização da área.
Assim, como aponta Berger (2001), as demandas políticas e sociais, mais
do que as científicas, foram a mola propulsora da tradição do pensamento
comunicacional na região:
“Na América Latina, as marcas da dependência estrutural, que evoca uma
cultura do silêncio e da submissão, mas também de resistência e de luta,
são o pano de fundo da busca por compreender o que acontecia com
a comunicação e demarca as fronteiras do emergente campo de estudo”
(BERGER, 2001, p.241).
A Economia política da região, herdeira dessa herança intelectual, passa a
desafiar as premissas do funcionalismo modernizador, refinando os instrumentos
de análise das estruturas de poder e dominação, bem como na reflexão sobre o
papel das novas tecnologias para a integração hemisférica.
As mudanças estruturais que o Capitalismo sofreu a partir de meados da
década de 1970, a reconfiguração do sistema-mundo capitalista e a posição
central que os sistemas de informação e de comunicação passam a ter neste
processo reafirmaram a importância do constructo teórico-metodológico da
EPC, quer para o entendimento das funções macroeconômicas que a cultura e
a comunicação assumem no processo de acumulação, quer, devido à chamada
“convergência tecnológica”, para a análise de seus conteúdos, que cada vez mais
não podem ser apreendidos de forma independente das tecnologias de difusão e
transmissão da informação.
Uma nova agenda analítica se impõe à EPC quer no tocante a redefinição do
conceito de esfera pública, quer no que se refere aos mecanismos de regulação dos
sistemas midiáticos, por um lado ou no tocante ao funcionamento dos sistemas
globais de informação e comunicação, às determinações culturais e econômicas da

159
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

convergência tecnológica, à concentração dos sistemas midiáticos em poderosos


oligopólios etc., por outro lado.

A EPC no Brasil
No Brasil, ainda que reconhecendo, como o faz Marques de Melo (2008,p.10), a
precocidade de Barbosa Lima Sobrinho que, em 1923, enfatiza a ótica econômica
nos estudos sobre a imprensa brasileira, e de dois estudos marcantes dos anos
1970 – “Notícia, um produto à venda”, de Cremilda Medina (1978) e “O papel
do Jornal”, de Alberto Dines – o campo disciplinar da EPC teve de esperar até a
década de 1990 para se constituir.
Embora não seja o caso de aqui fazermos a genealogia do pensamento
brasileiro, mostrando os influxos nacionais e internacionais, com as honrosas
participações de Armand Mattelart e Herbert Schiller, cabe ressaltar o pioneirismo
de César Bolaño que, formado de Comunicação Social e pós-graduado junto
ao grupo de economistas pós-cepalinos da UNICAMP, soube como ninguém
articular o entrecruzamento destas duas áreas. Suas duas obras inaugurais –
“Mercado Brasileiro de Televisão” (1988) e “Indústria cultural, informação
e capitalismo” (2000) – revelam um pesquisador capaz não apenas de lidar de
forma crítica com os conceitos-chaves difundidos pelas duas “escolas” mestras,
mas também formulador de reflexão própria, contribuindo de forma decisiva
para a consolidação da EPC no Brasil.
Sua contribuição não pára nos bancos da academia. Em 1992 é fundado
o do Grupo de Trabalho (GT) de Economia Política das Telecomunicações, da
Informação e da Comunicação (EPTIC) da Intercom e existente, em sua primeira
fase, até o ano de 2000.
Se, àquela época, já se reconhecia a importância das análises do setor das
comunicações a partir do instrumental conceitual-metodológico da Economia
Política - o que sempre implicou a constituição de um campo de saber
intrinsecamente interdisciplinar –, os esforços empreendidos por este GT foram
fundamentais no sentido de reunir material analítico de um campo conceitual
que, ao contrário da tradição européia, mostrava-se ainda bastante incipiente no
Brasil e na América Latina.
Apenas para relembrarmos parte destes esforços, cabe citar a publicação dos
Boletins Eptic – distribuídos a todos os participantes do Grupo e interessados
em geral e a publicação de duas obras coletivas organizadas por César Bolaño
- Economia Política das Telecomunicações, da Informação e da Comunicação. São
Paulo: Intercom, 1995 e Globalização e Regionalização das Comunicações, editado
pelo EDUC e UFS, em 1999. Ou ainda a organização de mesas sobre o tema, em
1998, no XIII Congresso da Associação dos Cursos de Graduação em Economia,
160
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

em Aracaju e no XXVI Encontro Nacional de Economia/ANPEC, em Vitória e,


em 1999, no IV Encontro Nacional de Economia política (SEP), em Porto Alegre
e na Sociedade Brasileira de História da Ciência.
Em continuidade a esse esforço, em 1999 forma-se a Rede de Economia
Política das Tecnologias da Informação e da Comunicação, ligada ao
Observatório de Comunicação (OBSCOM) do Departamento de Economia
da Universidade Federal de Sergipe, tendo coordenação geral de. César Bolaño.
Divergindo do pensamento único, na multiplicidade organizacional, o Grupo
foca seus estudos em Economia Política da Comunicação, em tópicos como o
processo de oligopolização da mídia, as políticas de comunicação, as inovações
na área informacional, a funcionalidade da cultura no capitalismo e os lugares da
democracia e da diversidade nessas dinâmicas.
O principal espaço de encontro, articulação e diálogo dos pesquisadores
é o portal EPTIC (www.eptic.com.br/), que reúne conteúdos na área de
Economia Política da Comunicação, incluindo livros digitais, teses, dissertações,
monografias, textos para discussão, boletim noticioso e uma revista acadêmica, de
periodicidade quadrimestral, a Eptic On line-Revista Electrónica Internacional
de Economía de las Tecnologías de la Información y de la Comunicación, a qual
tem como editor Valério Cruz Brittos. O portal Eptic, que em 2003 recebeu
o Prêmio Luiz Beltrão da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação (Intercom) e tem registrado mais de 130 mil acessos anualmente,
articula uma rede de pesquisadores de diferentes países da Europa e da América
Latina, participantes de diversos grupos de trabalho vinculados ao tema.
Em 2002, a Rede lançou a Biblioteca Eptic, uma coleção sobre Economia
Política da Comunicação, que pretende suprir a lacuna da baixa quantidade de
obras com este enfoque no país, através do lançamento de títulos individuais e
coletivos, de pesquisadores do Brasil e do exterior. Por seu intermédio, pretende-
se debater como a essencialidade da discussão do papel da mídia e do espaço
público eleva-se na medida em que aumenta a tendência mundial de concentração
da propriedade midiática, assumindo os meios crescente relevância econômica,
política e cultural. O objetivo é que a Biblioteca Eptic consista numa instância
de fomento à comunidade acadêmica – e mesmo à sociedade civil – refletir sobre
o campo midiático, alinhada com metas de pluralidade e democracia e somando
colaborações às pesquisas especialmente de Programas de Pós-Graduação em
Comunicação, Ciências Sociais, Ciências da Informação, Economia, dentre
outros. Nesta dinâmica, objetiva participar do processo de construção de novas
pontes comunicacionais, mais públicas e pluralistas.
Até o momento, foram lançados os seguintes títulos pela Biblioteca EPTIC:
1) Comunicação, informação e espaço público: exclusão no mundo

161
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

globalizado – BRITTOS, Valério (Org.). Rio de Janeiro: Papel & Virtual,


2002.
2) Comunicação, informação e cultura: dinâmicas globais e
estruturas de poder – JAMBEIRO, Othon; BRITTOS, Valério; BOLAÑO,
César (Orgs.). Salvador: Edufba, 2004.
3) Comunicação, hegemonia e contra-hegemonia – JAMBEIRO,
Othon; BRITTOS, Valério; BENEVENUTO JR., Álvaro (Orgs.). Salvador:
Edufba, 2005.
4) Comunicação na Fase da Multiplicidade da Oferta – BRITTOS,
Valério (Org.). Porto Alegre: Nova Prova, 2007.
5) Comunicação, educação, economia e sociedade no Brasil:
desenvolvimento histórico, estrutura atual e os desafios do século
XXI – BOLAÑO, César (Org.). São Cristóvão: Ed. UFS, 2008.
6) A firma-rede e as novas configurações do trabalho nas
telecomunicações brasileiras – SANTOS, Verlane Aragão. São Cristóvão: Ed.
UFS, 2008.
7) Comunicação e a Crítica da Economia Política: perspectivas
teóricas e epistemológicas – BOLAÑO, César (Org.). São Cristóvão: Ed.
UFS, 2008.
8) Rádios comunitárias no Brasil e na França: democracia e esfera
pública – LEAL, Sayonara de Amorim Gonçalves. São Cristóvão: Ed. UFS,
2008.
O passo decisivo para a consolidação da EPC no Brasil e na América
Latina foi dado, entretanto, através da realização do I e II Encuentro de Economia
Política de la Comunicación Del Mercosur, respectivamente em maio de 2001, na
Universidade de Buenos Aires, e março de 2002, na Universidade de Brasília,
culminando na criação da Unión Latina de Economia Política de la Comunicación,
la Información y la Cultura (ULEPICC) (http://www.ulepicc.org ), formalizada
no III Encuentro Latino de Economia Política de la Comunicación, em julho de
2002, na Universidade de Sevilla.
Como podemos observar em seu texto fundador, a Carta de Buenos Aires,
formava-se com a ULEPICC o foro ideal à abordagem crítica dos setores da
comunicação, alternativa ao “pensamento único”, prioritamente tecnocrático e
instrumental, dominante nos estudos sobre as comunicações na América Latina.
A partir de sua formalização, a ULEPICC teve até o momento duas
juntas diretivas, a primeira (2003-2007) presidida por César Bolaño e a atual
(2007-2011), por Luis A. Albornoz (Universidad Carlos III de Madrid). Neste

162
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

período, sete encontros internacionais foram organizados, reunindo intelectuais,


pesquisadores, profissionais e alunos de pós-graduação dos mais variados países:
2001 - I Encuentro de Economía Política de la Información y la
Comunicación del MERCOSUR
Tema: “Concentración y convergencia en las industrias culturales”
Local: Universidad de Buenos Aires, Argentina
2002 - II Encuentro Latino de Economía Política de la Comunicación
Tema: “Sociedade da Informação e Nova Economia: ruptura ou
continuidade? A visão da Economía Política.
Local: Universidade de Brasília, Brasília.
2003 - III Encuentro Iberoamericano de Economía Política de la
Comunicación
Tema: “Comunicación y Desarrollo en La Sociedad Global de La
Información”
Local: Universidad de Sevilla, Sevilla
2005- V Encontro Latino de Economia Política da Informação, Comunicação
e Cultura
Tema: “Sociedade do Conhecimento e Controle da Informação e da
Comunicação”
Local: Universidade Federal da Bahia, Salvador
2007 – VI Encuentro Internacional de la Unión Latina de Economía Política
de la Información, Comunicación y la Cultura
Tema: Inovaciones tecnológicas, comunicación y cambio social
Local: Universidad Autonoma Metropolitana, Cidade do México
2009 - VII Congreso Internacional de la Unión Latina de Economía
Política de la Información, la Comunicación y la Cultura
Tema: “Políticas de cultura y comunicación: creatividad, diversidad y
bienestar en la Sociedad de la Información”.
Local: Universidad Carlos III de Madrid, Madri
Estruturada como uma Federação, uma das consequências mais profícuas
desta entidade foi a criação dos Capítulos nacionais: a ULEPICC-Espanha
(http://www.ulepicc.es ), fundada em março de 2002 e presidida por Ramón
Zallo (Universidad del País Vasco), a ULEPICC-Brasil (http://www.ulepicc.

163
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

org.br ), fundada em março de 2004 e a ULEPICC-Moçambique (http://


ulepiccmozambique.blogspot.com), criada em junho de 2008 e presidida por
João Miguel (Universidade Eduardo Mondlaner, Maputo).
A ULEPICC-Brasil vem ocupando papel de destaque no cenário acadêmico
nacional. Em estreita associação com os demais espaços voltados para EPC em
âmbito nacional e internacional, a entidade volta-se, dentre outras atividades,
para:
a) realização de eventos de estudos de Comunicação, numa abordagem
interdisciplinar;
b) desenvolvimento de pesquisas e atividades que representem uma
contribuição para o campo;
c) promoção do intercâmbio de informações e experiências entre especialistas
da área;
d) efetivação de acordos com entidades congêneres, institutos e órgãos de
fomento à investigação social;
e) publicação de obras de cunho científico
Desde sua fundação, a entidade passa por sua terceira junta diretiva: 2004-
2006 – presidente: Valério Brittos (UNISINOS, RS), 2006-2008 – presidente
Valério Brittos (UNISINOS,RS) e 2008-2010, presidente: Anita Simis (UNESP,
SP).
Foram realizados três Encontros Nacionais:
2006 – I Encontro da ULEPICC-Brasil
Tema: Economia Política da Comunicação: Interfaces Sociais e Acadêmicas
do Brasil
Local: Universidade Federal Fluminense, Niterói
2008 – II Encontro da ULEPICC-Brasil
Tema: Digitalização e Sociedade
Local: Universidade Estadual Paulista, Bauru
2010 – III Encontro da ULEPICC-Brasil
Tema: A formação da Economia Política da Comunicação e da Cultura
no Brasil e na América Latina: conquistas e desafios
Local: Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão
Se a constituição da Rede EPTIC e da ULEPICC-Brasil marcam, de forma
inequívoca, a consolidação deste campo disciplinar, não menos importante é a
164
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

formação dos Grupos de Trabalhos (existentes nas diversas entidades científicas.


Na Intercom, sob a coordenação de Valério Brittos, o GT, significou ratificar o
diálogo profícuo deste campo com a Intercom e a necessidade da formação do
pensamento crítico comunicacional. O conjunto de trabalhos apresentados nas
seções deste GT nos dois Congressos Brasileiros de Ciência da Comunicação,
de 2009 e 2010, a presença de pesquisadores de relevante expressão nacional e a
qualidade do debate ali travado indicam um futuro promissor.
Assim, a ementa propunha que como decorrência da centralidade econômica
e política que a informação, comunicação e cultura ganharam no processo de
valorização capitalista, foram colocados novos desafios políticos e epistemológicos
aos agentes sociais que lutam por uma sociedade mais democrática e inclusiva.
A Economia Política crítica, ao mesmo tempo em que reconhece a importância
de uma “economia” da informação, da comunicação e da cultura, salienta a
insuficiência das abordagens estritamente econômicas e tecnicistas na apreensão
e análise deste fenômeno social. Acreditando, pois, que o Social e o Político, em
suas múltiplas dimensões, se situam no centro das análises e decisões econômicas
a EPC propõe, metodologicamente, a abordagem interdisciplinar e heterodoxa,
capaz de pôr em interação diversos campos disciplinares como a Economia, a
Comunicação, a Sociologia, a Ciência Política, a Filosofia e os Estudos Culturais
Críticos, como necessária à constituição deste corpus teórico-crítico.
Este GP propõe ser um fórum de comunicação, debate e reflexão entre os
investigadores e profissionais destes campos disciplinares no sentido de formar
matéria crítica necessária à apreensão e análise dos fenômenos comunicacionais
e culturais contemporâneos, tais como o avanço dos processos de privatização das
telecomunicações, a convergência tecnológica, a expansão e novas configurações
das indústrias culturais, a digitalização dos meios eletrônicos, TV digital, a
privatização do conhecimento, o desenvolvimento de todas as formas de capital
intangível, etc.
Já na COMPÓS, na coordenação de Elizabeth Saad Correa, a ementa
enfatizou que a Economia Política é campo teórico-conceitual multidisciplinar
essencial à análise e compreensão da Questão Social e suas potencialidades de
emancipação. Neste GT, ela está associada ao estudo e pesquisa das Políticas de
Comunicação, entendidas como o conjunto de princípios, disposições
constitucionais, leis, regulamentos e instituições estatais, públicas e privadas
que compõem o ambiente normativo da televisão, cinema, rádio, internet,
publicidade, produção editorial, indústria fonográfica, artes e espetáculos. A
ênfase teórico-conceitual do GT na Economia Política é confluente com outras
áreas pertinentes do saber, como Filosofia Política, Ciência Política, Sociologia
Política e Estudos Culturais Críticos.
Outra instituição importante de atuação foi a ALAIC, sob a coordenação de
165
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

César Bolaño. Para o GT então atuante, a análise econômica das comunicações é


fundamental para a compreensão dos grandes temas subjacentes à atual crise do
capitalismo. A tradição européia dos estudos da economia política da comunicação
contrasta com sua pequena difusão no Brasil ou a América Latina onde se
encontram raros trabalhos que se dedicam ao tema.
Sabe-se o quanto é importante discutir em bases objetivas assuntos específicos
urgentes da área latino-americana que não podem prescindir de uma análise
econômica. Forma parte dessa necessidade temas como: O desenvolvimento
acelerado da chamada “neo-teve”; as novas tecnologias da comunicação em
nossos países; o preocupante avanço do neoliberalismo; a privatização acelerada
das telecomunicações em certas áreas e a própria expansão internacional de
nossas indústrias culturais que não incluíram internamente os temas primários
relacionados à estrutura democrática dos meios de comunicação de massa.
Este GT tem por objetivo servir à organização dos investigadores latino-
americanos de comunicação preocupados com a temática. Trata-se de criar um
canal de comunicação entre os investigadores, economistas, comunicólogos,
politicólogos. Em fim, intelectuais críticos capazes de contribuir para a construção
do corpo teórico e analítico interdisciplinar que o conhecimento da complexa
realidade latino-americana exige na área.

Pesquisadores
Adilson Cabral – UFF/RJ - acabral@comunicacao.pro.br
Alain Herscovici – UFES/ES - alhersco.vix@terra.com.br
Anita Simis – UNESP/SP – campus Araraquara – anita@fclar.unesp.br
César Bolaño – UFS/SE - bolano@ufs.br
Claudio Bertolli Filho - FAAC/UNESP, campus de Bauru - cbertolli@uol.
com.br
Clovis Ricardo Montenegro de Lima.- UFSC/ SC - clovis.mlima@uol.com.
br
Doris Fagundes Haussen – PUCRS - dorisfah@pucrs.br
Elizabeth Saad Corrêa – ECA/USP - bethsaad@yahoo.com.br
Eula Dantas Taveira Cabral – Universidade/RJ: euladtc@comunicacao.pro.
br
Fernando Oliveira Paulino – Universidade de Brasília/ DF - fopaulino@
gmail.com

166
Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

Flávia Seliman – UNISINOS/RS - FLAVIAS@unisinos.br


Laurindo Leal Filho – ECA/USP - laloleal@usp.br
Leandro Ramires – UnC/RS - ramires@uncnet.br
Marcos Dantas Loureiro- UFRJ/RJ - mdantas@inventhar.com.br
Maria Teresa Miceli Kerbauy - UNESP/ SP- kerbauy@travelnet.com.br
Maximiliano Martín Vicente - FAAC-UNESP - Campus de Bauru -
maxvicente@faac.unesp.br
Micael Herschmann – UFRJ/RJ: micael@alternex.com.br
Murilo César Ramos- UnB/DF - mcr.fac@terra.com.br
Ruy Sardinha Lopes – USP/SP – campus São Carlos - rsardinhalopes@
sc.usp.br
Sayonara Leal. – UnB/DF -sayonaraleal@uol.com.br
Sérgio Capparelli – UFRGS/RS - capparel@terra.com.br
Suzy Santos- UFRJ/RJ - suzysantos@gmail.com
Valério Cruz Brittos – UNISINOS/RS: val.bri@terra.com.br
Verlane Aragão Santos – UFS/SE - verloca@oi.com.br
William Dias Braga –UFRJ/RJ - db.william@gmail.com

Referências Bibliográficas e sites


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A. HOHLFELDT, L. C. MARTINO; V. V. FRANÇA (Org.). Teorias da
comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis, Vozes.
BOLAÑO, César (2000). Industria cultural. Informação e capitalismo.
Hucitec y Polis, São Pablo.
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UFS, Aracajú.
BOLAÑO, César; G. MASTRINI y F. SIERRA (2005) (eds.).
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latinoamericana. La crujía, Buenos Aires.
GARNHAM, N. (1979). Contribution to a political economy of mass
media, in GARNHAM, Nicholas (ed.) “Capitalism and communication”.
Londres, Sage, 1990.

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Economia Poliítica da Comunicação (EPC)

HERSCOVICI, Alain (1994), Économie de la Culture et de la


Communication. L´Harmattan, Paris.
MATTELART, A., MATTELART, M. (1999). História das teorias da
comunicação. São Paulo, Loyola.
MIÈGE, B. et P. PAJON e J. SALAÜn (1986). L’industrialisation de
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MIÈGE, B. et P. PAJON (1990). La syntaxe des réseaux. Médias et
Communication en Europe, PUG, Grenoble.
MOSCO, V. 1996. The political economy of communication. London,
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MURDOCK, G., GOLDING, P. 1997. For a political economy of mass
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SCHILLER, H. (1969). Communicación de masas e imperalismo
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_____________ (1986). Información y economía en tiempos de crisis,
Madrid, Fundesco.
ZALLO, Ramón (1988). Economía de la comunicación y la cultura.
Akal, Madrid, 207.

168
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira

Valério Cruz Brittos3


César Ricardo Siqueira Bolaño 4

O Capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da


Comunicação e da Cultura (Ulrpicc–Brasil) foi fundado em março de 2004, em
Aracaju (SE), como seção nacional da Unión Latina de Economía Política de la
Información, la Comunicación y la Cultura (Ulepicc–Federação), criada, por sua
vez, em Sevilha (ES), em 2002, no bojo do terceiro encontro de uma rede de
pesquisadores do campo da Economia Política da Comunicação, da Informação
e da Cultura (EPC). Os dois primeiros encontros ocorreram em Buenos
Aires (2001) e Brasília (2002), tendo como objetivo, justamente, congregar
pesquisadores de países de língua latina, visando organizar e fomentar a reflexão
e o debate pluralista no interior da EPC e desta com outros campos das Ciências
Sociais e das Humanidades.
Tanto o Capítulo Brasil, como as demais seções nacionais (Espanha,
Moçambique e México, até o momento) e a Federação consideram a EPC
como parte do pensamento crítico, diretamente vinculada às transformações
das organizações de mediação sócio-simbólica que, no capitalismo monopolista,
tomam a forma de indústria cultural, servindo diretamente à reprodução do
sistema, em nível material (pela importância que adquire a publicidade para a
realização das mercadorias) e em nível simbólico (propaganda). Cabe à Economia
Política explicar como funcionam os mercados culturais (em geral, oligopólios)
em suas conexões com o processo mais amplo da reprodução social, bem como
assinalar as contradições inerentes a sua estrutura, na medida em que se a
constituição de sistemas de comunicação social e tecnologicamente mediados se dá
basicamente no sentido de reforçar o controle social, abre também possibilidades
de comunicação horizontal tendencialmente contra-hegemônica.
No referido encontro de Sevilha, definiu-se pela realização do IV Encontro,
em 2003, em Salvador, e que os encontros sucessivos da Ulepicc–Federação
passariam a ter periodicidade bianual. Assim, foram realizados os encontros
de Caracas, México DF e Madri, em 2005, 2007 e 2009, respectivamente. O
VIII Encontro da Ulepicc está previsto para 2011, no Chile, com atividades em
Santiago (Universidade do Chile) e em Temuco (Universidad de La Frontera). A

3 Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do


Rio dos Sinos (UNISINOS) e vice-presidente da Unión Latina de Economía Política de la Información, la
Comunicación y la Cultura (Ulepicc-Federación).
4 Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e presidente da Associação Latino-Americana de Pesquisa-
dores da Comunicação (ALAIC). Doutor em Economia pela Unicamp. Tem vários livros publicados na área da
Economia Política da Comunicação.

169
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira

organização do II Encontro (preparatório) em Brasília, do IV (já com estrutura de


congresso internacional) em Salvador, bem como o fato de o Brasil ter constituído
o primeiro capítulo nacional da entidade (e o primeiro encontro nacional)
atestam a vitalidade do grupo brasileiro na entidade, presidida inicialmente por
César Bolaño (Universidade Federal de Sergipe), que passou a presidência a Luis
Albornoz, tendo este como vice, Valério Brittos (UNISINOS).
A própria origem da Ulepicc remete ao diálogo acadêmico entre pesquisadores
de Economia Política da Comunicação, em que a Rede de Economia Política
das Tecnologias da Informação e da Comunicação (EPTIC), fundada em 1999,
a partir dos GT homônimos da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicação (Intercom), fundado em 1992, e da Asociación Latinoamericana
de Investigadores de la Comunicación (ALAIC), teve um papel protagonista. O
portal EPTIC (www.eptic.com.br), produzido no Observatório de Economia
e Comunicação (OBSCOM), laboratório acadêmico criado em 1995 e
integrante do Núcleo de Pesquisa e Pós-Graduação em Economia (NUPEC) e ao
Departamento de Economia (DEE) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) é
o espaço na Internet em que se localiza, entre outras coisas, a revista EPTIC ON
LINE, cujo diretor é César Bolaño (UFS) e o editor, Valério Brittos (Unisonos),
contando ainda com um extenso conselho editorial, do qual fazem parte vários
dos ícones da EPC mundial5. Com periodicidade quadrimestral, a revista se
encontra no seu décimo primeiro ano de publicação ininterrupta.
Fundada em 2004, a Ulepicc–Brasil decidiu por realizar encontros também
bi-anuais em anos pares, para não coincidir com os congressos da Federação.
O primeiro encontro do Capítulo Brasil foi, assim, realizado em 2006, em
Niterói (RJ), na Universidade Federal Fluminense (UFF) e teve como temática
central “interfaces acadêmicas e sociais do Brasil”, constituindo-se com uma
ocasião de diálogo e debate com outras abordagens da comunicação, envolvendo
essencialmente questões de tecnologia, mídias alternativas e relações com a política.
O objetivo foi aproximar os programas de pós-graduação em Comunicação e
Ciências Sociais afins, especialmente os do Estado do Rio de Janeiro, bem
como organizações da sociedade civil envolvidas na luta pela democratização da
comunicação6.
Essa preocupação com o diálogo interdisciplinar, especialmente no interior
do campo da Comunicação, mas não só, é uma característica muito marcante do

5 Sobre a Rede EPTIC, vide BRITTOS, Valério Cruz. Gênese e constituição da Biblioteca EPTIC. Bibliocom
– Revista de Divulgação, Análise e Crítica da Produção Bibliográfica, Hemerográfica e Reprográfica em Ciências
da Comunicação, São Paulo, v. 1, n. 2, mar./abr. 2009. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/biblio-
com/dois/pdf/valeriobrittos.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010.
6 Um dos resultados do evento foi o livro BRITTOS, Valério Cruz; CABRAL, Adilson (Orgs.). Economia
Política da Comunicação: interfaces brasileiras. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. O livro referente ao II Encontro,
de 2008, está em fase de produção, devendo ser lançado durante o III Encontro, em 2010.

170
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira

Capítulo Brasileiro e um ponto de força na luta epistemológica maior a que toda


a Ulepicc se vincula, em favor do pensamento crítico e socialmente engajado.
Assim, sem descuidar do rigor científico, e atuando essencialmente nos ambientes
acadêmicos, os pesquisadores vinculados a esse paradigma teórico encaram
a ciência como parte das dinâmicas sociais. Com isso, a Ulepicc reafirma-se
como uma sociedade civil que reúne pesquisadores e profissionais atuantes na
Economia Política da Comunicação, da Informação e da Cultura e se posiciona
explicitamente no campo crítico, colocando a sua capacidade criadora e de seus
membros a serviço da sociedade, ao propor, por exemplo, a formulação de políticas
efetivamente públicas e democráticas de comunicação, informação e cultura.
Essa perspectiva está claramente definida na Carta de Buenos Aires,
produzida em 2001, ao final do I Encontro, que lançou as bases e a estratégia de
constituição daquilo que viria a ser a Ulepicc. A Carta representa os compromissos
éticos e políticos da Ulepicc Federação e de seus capítulos nacionais, situando
a comunicação no capitalismo re-configurado dos anos 2000 e deixando claro
o papel do campo crítico na construção de uma alternativa de comunicação
democrática e libertadora, o que passa por uma alteração da condição atual, de um
mercado altamente oligopolista, vinculado aos interesses políticos e econômicos
hegemônicos.
A segunda edição do encontro ocorreu em 2008, na Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) – Campus de Bauru,
abordando a temática “comunicação e sociedade”, sustentada pela importância
que as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) assumiram no
capitalismo contemporâneo, como instrumento de reestruturação do sistema e,
secundariamente, como lugares para novas experiências e possibilidades. Com
foco nas pesquisas de seus integrantes e com convidado do exterior, no caso, Luis
Albornoz, presidente da Ulepicc–Federação, vinculado ao Capítulo espanhol, o
objetivo foi avançar na superação de entraves históricos, reconhecendo-se que,
hoje, a democratização em geral passa pela discussão sobre o papel das tecnologias
sócio-midiáticas, o que requer a ultrapassar os muros acadêmicos.
O III Encontro está programado para outubro de 2010, em Aracaju,
na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Assim, a Ulepicc volta a seu local
de origem, já que sua criação se de naquela cidade, durante o II Colóquio
Internacional “Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento”, organizado pelo GT
de mesmo nome, do CNPq, sediado no OBSCOM/UFS. O IV Colóquio será
realizado, em 2010, como evento paralelo ao III Encontro da Ulepicc–Brasil. A
assembléia de constituição, em 2004, foi convocada por Valério Brittos e César
Bolaño e a primeira diretoria ficou assim constituída: presidente Valério Cruz
Brittos (UNISINOS); vice-presidente Othon Jambeiro (UFBA), secretária-geral
Anita Simis (UNESP), tesoureiro Alain Hercovici (UFES) e vogais William Dias

171
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira

Braga (UFRJ), Fernando Matos (PUCCAMP), Álvaro Bevenuto Júnior (UCS) e


Verlane Aragão Santos (UFS).
A diretoria seguinte (2006/2008) foi assim formada: presidente Valério Cruz
Brittos (Unisinos), vice-presidente Laurindo Leal Filho (USP), secretária-geral
Anita Simis (UNESP), tesoureira Suzy dos Santos (UFRJ) e vogais William Dias
Braga (UFRJ), Leandro Ramires Comassetto (UnC) e Adilson Carvalho (UFF). A
terceira diretoria (2008/2010) tem na presidência, Anita Simis (UNESP), sendo
os demais cargos assim ocupados: vice-presidente Ruy Sardinha Lopes (USP),
secretária-geral Jacqueline Dourado (UFPI), tesoureira Suzy dos Santos (UFRJ)
e vogais Bruno Lima Rocha (Unesp), Juliano Carvalho (Unesp), Sayonara Leal
(UnB) e William Dias Braga (UFRJ)7.
Sinteticamente, a Ulepicc–Brasil volta-se, dentre outras atividades, para:
realização de eventos, estudos, pesquisas e outras atividades que representem
uma contribuição para o desenvolvimento do campo da Comunicação e afins,
numa abordagem interdisciplinar; promoção do intercâmbio de informações
e experiências entre especialistas da área; efetivação de acordos com entidades
congêneres, institutos e órgãos de fomento à investigação social; publicação de
obras de cunho científico. Tudo para consolidar o campo científico da Economia
Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, organizando a subárea,
em articulação com o pensamento crítico em geral.
Desde o segundo semestre de 2007 o Capítulo Brasil da União Latina de
Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (Ulepicc–Brasil)
mantém um sítio na internet. O objetivo é promover o debate crítico no interior
da comunidade acadêmica, favorecendo a integração e a produção coletiva de
conhecimento, dinamizando a rede de cooperação para o estudo do campo
midiático, das políticas culturais e dos processos de comunicação e informação. O
sitio é vinculado ao portal da Ulepicc–Federação, ambos inicialmente produzidos
no interior do portal Eptic, com a utilização da linguagem PHP – padrão 5 – de
software livre, sob a forma de bancos de dados em MySql, hospedado em um

7 Vale ressaltar que todos os membros de todas as diretorias citadas são professores doutores de reconhecida
competência na área, com produção regular e elevados índices de produtividade, ainda que com diferentes níveis
de maturidade acadêmica. Isto significa que a EPC brasileira – que evidentemente não se limita a esses indi-
víduos – forma um bem consolidado programa de investigação em nível nacional, vinculado àquele mais amplo
da EPC latina e mundial. Para uma visão mais ampla da situação atual em termos de número de pesquisadores
e programas de pós-graduação que albergam grupos de EPC, vale consultar o seguinte trabalho apresentado ao
GT de Economia Política e Políticas de Comunicação da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Comuni-
cação (COMPÓS): BRITTOS; Valério Cruz; BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; ROSA, Ana Maria Oliveira.
O GT “Economia Política e Políticas de Comunicação” da COMPÓS e a construção de uma epistemologia
crítica da Comunicação. In: ENCONTRO NACIONAL DA COMPÓS, 19., 2010, Rio de Janeiro. Anais ...
Rio de Janeiro: Compós, 2010. 1 CD. Para uma discussão de ordem epistemológica e interdisciplinar partindo
do campo brasileiro da EPC, em diálogo com autores de outras origens, vide BOLAÑO, César Ricardo Siqueira
(Org). Comunicação e a crítica da Economia Política: perspectivas teóricas e epistemológicas. Aracaju: Editora
UFS, 2008.

172
ULEPICC-Brasil: a institucionalização da EPC brasileira

servidor Apache, em sintonia com as mais recentes tendências de produção digital


convergente. O site divulga atividades da ULEPICC, além de eventos, produções
acadêmicas e notícias de interesse tanto da entidade quanto do público ligado
à área de Comunicação ou interessado no debate das políticas de informação,
comunicação e cultura.
Destaca-se ainda a atuação permanente da Ulepicc-Brasil no processo de
formação da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de
Comunicação (Socicom)8. Primeiramente a entidade integrou, através de seu
então presidente Valério Brittos, a comissão que formulou a proposta de criação
da federação, com a convicção da necessidade da relevância da instituição de uma
entidade para representar os interesses da área de comunicação como um todo,
em particular frente às agências de fomento e os órgãos de governo, contribuindo
na elaboração de uma política de ciência e tecnologia. Formada a Socicom, a
Ulepicc conta com dois de seus membros em cargos diretivos: Anita Simis é
diretora administrativa e César Bolaño, presidente do Conselho Consultivo.

Referências bibliográficas e sites


BOLAÑO, César Ricardo Siqueira (Org). Comunicação e a crítica da Economia
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Bibliocom – Revista de Divulgação, Análise e Crítica da Produção Bibliográfica,
Hemerográfica e Reprográfica em Ciências da Comunicação, São Paulo, v. 1, n.
2, mar./abr. 2009. Disponível em: http://www.intercom.org.br/bibliocom/dois/
pdf/valeriobrittos.pdf. Acesso em: 20 jun. 2010.
BRITTOS; Valério Cruz; BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; ROSA,
Ana Maria Oliveira. O GT “Economia Política e Políticas de Comunicação” da
COMPÓS e a construção de uma epistemologia crítica da Comunicação. In:
ENCONTRO NACIONAL DA COMPÓS, 19., 2010, Rio de Janeiro. Anais ...
Rio de Janeiro: Compós, 2010. 1 CD.
BRITTOS, Valério Cruz; CABRAL, Adilson (Orgs.). Economia Política
da Comunicação: interfaces brasileiras. Rio de Janeiro: E-papers, 2008.

8 Do mesmo modo a ULEPICC–Federação participou ativamente da formação da Confederação Ibero-Amer-


icana das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (Confibercom), tendo dois representantes na
sua primeira diretoria.

173
174
CAPÍTULO 9

Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação


Organizacional e das Relações Públicas

Ivone de Lourdes Oliveira1

Introdução
Para além do conhecimento organizacional e nas interfaces com outros
conhecimentos, a Comunicação Organizacional e as Relações Públicas
constituem hoje um campo acadêmico já institucionalizado, o qual promove
estudos e pesquisas sobre as práticas comunicativas das/nas organizações, a
partir dos relacionamentos com seus públicos. Considerar esse campo como
acadêmico é trabalhar simultaneamente três dimensões: o corpus teórico que
fundamenta o campo e dá estrutura curricular aos cursos de graduação e pós-
graduação, a consequente evolução das pesquisas impulsionadas pelas inovações
nas abordagens teóricas e a contribuição das associações que contribuem para as
pesquisas acadêmicas e para dar visibilidade às práticas de mercado.
Nas relações entre organização e os grupos que afetam as práticas
comunicativas e/ou são afetados por elas, aspectos multidisciplinares se
evidenciam conforme a natureza e o objetivo dessas relações, o que faz com
que as pesquisas se voltem à análise de diversas temáticas. Tanto o ambiente
intraorganizacional, com as teorias administrativas (marketing, gestão de pessoas,
uso estratégico das tecnologias), quanto no ambiente interorganizacional, em seus
aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos, compõem a multiplicidade de
temas que fazem parte dos estudos e pesquisas, numa perspectiva multivariada,
que busca compreender a co-relação entre a sociedade e os processos/estruturas
organizacionais, os quais se condicionam mutuamente.
Curvello (2009), num mapeamento de 284 artigos apresentados no Núcleo
de Pesquisa de Relações Públicas e Comunicação Organizacional da Intercom, nos
anos de 2001 a 2008, reforça a transdisciplinaridade das pesquisas que atravessam
temas diversos, sendo os mais abordados, cultura organizacional, tecnologia,
linguagem, imagem, identidade, discurso, relação com consumidor, marketing
social, marketing institucional, ética, poder, conflitos, sustentabilidade.
Se por um lado o cenário atual do campo da Comunicação Organizacional
e das Relações Públicas apresenta institucionalização e reconhecimento

1 Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas


(Abracorp). Pesquisadora da área de Comunicação, com ênfase em Comunicação Organizacional. É professora
adjunta da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Leciona no Mestrado de Comunicação sobre
Interações Midiáticas. É diretora da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas.

175
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

acadêmicos, com cursos de graduação e pós-graduação (lato e stricto sensu),


publicações científicas, grupos de pesquisa, congressos nacionais e internacionais
específicos, por outro deve-se reconhecer que limites ainda precisam ser superados.
Os estudos de Curvello (2009) apontam o estabelecimento de um corpus teórico
mais robusto e homogêneo, a integração dos grupos de pesquisa, a reflexão
epistemológica, mas mostram também a necessidade de aperfeiçoamento dos
métodos como desafios a serem superados. Nessa mesma direção, Kunsch (2006)
comenta acerca da polissemia do termo Relações Públicas que, segundo a autora,
gera pouca legitimação junto aos governos e organizações por estes desconhecerem
o seu verdadeiro significado.
Embora esses limites ainda persistam, eles são necessários ao desenvolvimento
da Comunicação Organizacional e Relações Públicas, enquanto campo
acadêmico. Na breve trajetória histórica do surgimento e desenvolvimento das
Relações Públicas, que como atividade profissional no Brasil está próxima de
completar seu centenário, pode-se perceber uma evolução cognitiva no modo de
concebê-la e praticá-la. De simples atividade profissional, tecnicamente concebida
como ferramenta a serviço da administração (Reis, 2009), as Relações Públicas
se configuram, hoje, como um campo acadêmico e profissional em constante
aperfeiçoamento e ampliação de sua legitimidade junto à academia e ao mercado.

Trajetória histórica das Relações Públicas e Comunicação Organizacional


Antes de iniciar o relato histórico, é importante ressaltar que o atual cenário
do campo das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional é resultado
de decisões e tendências que fazem parte da trajetória da atividade profissional,
da produção acadêmica, evolução das teorias, metodologias e pesquisas. As
associações que fomentam a articulação entre mercado e academia, sendo, por
vezes, as responsáveis por apresentar inovações práticas e antever tendências e
desafios. Assim, esta breve trajetória histórica pretende contextualizar esses três
âmbitos de atuação que juntos, cada qual na especificidade de seu propósito,
contribuem para o desenvolvimento e aprimoramento do campo em questão.
Na perspectiva da atividade profissional, as Relações Públicas iniciaram
sua trajetória no Brasil há quase um século, nos anos 1914, com a implantação
do primeiro departamento de RP na multinacional canadense Ligth and Power,
atual Eletropaulo (Eletricidade de São Paulo S.A.). Neste início, e principalmente
na década de 1950 e no subsequente período militar com o incentivo nacional
da política de desenvolvimento industrial (Kunsch, 2006), as Relações Públicas
constituíram menos como um campo acadêmico e mais como uma atividade
profissional que, junto com as indústrias de comunicação (agências de propaganda,
institutos de pesquisa, conglomerados de jornais, revistas e rádios), ganhavam

176
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

espaço e aplicabilidade nas organizações privadas e estatais daquela época2.


Em 11 de dezembro de 1967, a profissão de Relações Públicas foi
oficializada pela lei nº 5.377 e, em setembro de 1968, regulamentada e aprovada
pelo decreto-lei nº 63.283, vinculando a atividade aos bacharéis do curso de
Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas. Esta regulamentação foi
um fato controverso, já que as Relações Públicas ainda não eram reconhecidas
pela sociedade como campo acadêmico. Sua regulamentação se deu sob o regime
militar brasileiro, na dubiedade do controle e da fiscalização, o que lhe rendeu
a imagem de atividade meramente capitalista, suspeita e enganosa, (Kunsch,
2006), que carrega ainda hoje uma desconfiança.
Contudo, foi essa regulamentação que despertou algumas reflexões
epistemológicas acerca da natureza administrativa e comunicacional das Relações
Públicas3(Reis, 2009) que se formou, segundo Kunsch (2006), toda a estrutura
acadêmica e dos órgãos de classe que, em suas respectivas atuações, contribuíram
para o início da institucionalização das Relações Públicas não só como profissão,
mas também como campo acadêmico.
Com a reabertura política e a redemocratização do Brasil, na década de 1980,
as organizações remodelam suas estruturas e um processo estratégico começa a
se instalar na gestão da comunicação, que passa a adotar uma perspectiva mais
integrada. É nesta década que as inovações teóricas e de mercado acontecem e dão
um salto qualitativo à atividade profissional. Em 1985 ocorre um movimento, a
partir da experiência da empresa Rhodia, de integração das atividades de jornalismo
(assessoria de imprensa e publicações), relações públicas (projetos institucionais
e comunitários) e publicidade, (marketing, pesquisa de mercado, e atendimento
ao consumidor) desenvolvidas no ambiente organizacional na perspectiva do
campo, de forma a entender a globalidade dos processos comunicacionais das/nas
organizações. Neste momento surgem os primeiros estudos sobre a comunicação
neste contexto, denominada de comunicação organizacional.
Ocorre, então, um processo de redefinição estratégica, tanto teórica quanto
prática, que atinge seu ápice na década de 1990 e vem numa crescente até

2 Segundo Kunsch (2006), data de 1951, em Volta Redonda (RJ), a implantação do primeiro departamento de
Relações Públicas auteticamente nacional, na Companhia Siderúrgica Nacional; e de 1952, a primeira consul-
toria que prestava serviços de Comunicação Social, em São Paulo, a Companhia Nacional deRelações Públicas
e Propaganda. Reis (2009) apresenta um dado que indica o “volume expressivo” de empresas e profissionais na
década de 1960: “mais de trezentas grandes empresas brasileiras possuem (...) departamento regulares e ativos
de relações públicas e muitas dependências governamentais instituíram departamentos semelhantes, como a
própria Presidênciada República. (...) Cerca de 5000 pessoas estão profissionalmente empenhadas em atividades
derelações públicas.” (REIS, apud CHAVES, 1966, p.7)
3 Reis (2009), tomando como referência Kunsch (2005), relata que no período mais duro da ditadura militar,
“um decreto federal originado da sugestão de um relações-públicas a um deputado amigo, levou à regulamen-
tação da profissão, sem discussões mais amplas com a categoria.” (Reis, 2009, p.142)

177
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

contemporaneidade4, quando a globalização, as novas tecnologias e a ascensão


do mercado consumidor, das relações comunitárias e globais de sustentabilidade,
passam a exigir gestão estratégica dos relacionamentos das organizações com a
sociedade.
Do ponto de vista da formação acadêmica, foi na década de 1960 que
os cursos de graduação começaram a se institucionalizar. O primeiro curso de
Comunicação Social a oferecer habilitação em Relações Públicas foi a Escola de
Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo - ECA/USP em 19675. É
na década de 1970 que surgem novos cursos de graduação e também os primeiros
cursos de pós-graduação que contribuíram, sobremaneira, para a evolução
das pesquisas e o incremento do corpus teórico do campo da Comunicação
Organizacional e Relações Públicas 6.
A partir de sucessivas reformas curriculares e da atuação do Ministério da
Educação, o campo acadêmico da Comunicação Social é formatado de modo a
pertencer ao âmbito das Ciências Sociais Aplicadas e a abranger várias habilitações
- Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV, Cinema, Produção Editorial/
Editoração - dentre elas, as Relações Públicas.

A consolidação do campo da Comunicação Organizacional e Relações


Públicas
Incentivados pelas pesquisas dos programas de pós-graduação ao longo dos anos
1990, as Relações Públicas deixam de adotar uma perspectiva técnico-operacional,
com valorização excessiva das ferramentas de comunicação para aproximarem-se,
conforme Reis (2009), de uma visão mais holística da comunicação nas e das
organizações.
A autora, com objetivo de configurar uma identidade disciplinar para as
Relações Públicas e Comunicação Organizacional, faz uma contextualização
histórica do campo, a qual pode nos ajudar a compreender o processo de
questionamento da perspectiva técnico-instrumental. Os primeiros cursos de
formação profissional nos anos 1950 foram ofertados por iniciativa da Escola
de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (RJ), antes mesmo da

4 Reis (2009), tendo por referência Fausto (2006) contextualiza historicamente os anos 1990, período em que
ocorre uma “súbita incorporação do Brasil à realidade da globalização (...) foi em 1990 que o então presidente
Fernando Collor de Mello promoveu a abertura econômica do país, praticamente jogando as empresas nacionais
em uma realidade concorrencial de características absolutamente inesperadas, algo para a qual o mercado bra-
sileiro, protegido desde a época da instauração da ditadura, não estava preparado.” (Reis, 2009, p.155)
5 Mais a frente, Reis (2009) contextualiza de forma mais precisa os primeiros cursos de Relações Públicas ligados
inicialmente às escolas de administração.
6 Curvello (2009) faz um levantamento do cenário da pesquisa sticto sensu a partir do diretório da CNPQ e
chega a 49 grupos de pesquisa de Comunicação Organizacional e 172 de Relações Públicas.

178
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

existência das escolas de comunicação no final dos anos 1960. Segundo Reis
(2009, p.141), “a formação para a profissão se dava tanto em nível técnico, por
meio dos cursos ofertados quanto por instituições, como pelo Departamento
Administrativo do Serviço Público (Dasp), quanto como parte de cursos de
nível superior da área da administração.” Isso indica que, nos primeiros tempos,
a administração era o campo do conhecimento que mais se empenhava no
entendimento da atividade e na formação dos profissionais da área.
Compreender a atividade e capacitar os profissionais do ponto de vista
técnico-operacional eram demandas daquela época e com essa necessidade,
surgem as primeiras publicações nacionais especializadas, numa tradição
evidentemente prescritiva dado a conjuntura. Em 1963 Cândido Teobaldo de
Souza Andrade publica “Para entender as Relações Públicas” e aparecem os
manuais que prescrevem técnicas e programas de implantação da comunicação
de resultados. (Reis, 2009)
Em termos de produção e pesquisa acadêmicas, a regulamentação da
atividade de Relações Públicas junto aos cursos de Comunicação Social foi,
conforme Reis (2009) isenta de uma reflexão teórica e crítica, o que deixou
um vazio “identitário-epistemológico” quanto à natureza do conhecimento das
Relações Públicas.
Ressaltamos que, embora a pesquisa tenha chegado às Relações Públicas
com os cursos de mestrado implantados na ECA-USP e na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na década de 1970, os propósitos não eram
“epistemológicos (no sentido) de ajudar a identificar e caracterizar um novo
campo (ou sub-campo) disciplinar e sim, de subsidiar a busca da eficiência e
eficácia da atuação profissional.” (Reis, 2009, p.145)
Temos, ainda na década de 1970, uma expansão da base conceitual das
Relações Públicas que, em função do contexto sócio-político, adquirem uma
perspectiva mais crítica. Ainda de acordo com Reis (2009, p.147), novas frentes
de interesse ligadas aos movimentos sociais de participação, inserção social,
relações de trabalho proporcionaram uma “visão mais ampla, humanizada e
politizada da questão da comunicação (...)” e as reformas curriculares incluíram
disciplinas como comunicação comunitária, comunicação rural, comunicação
popular, mobilização social. Nesse movimento crítico, o público interno das
organizações torna-se objeto de estudo e em 1982, numa perspectiva inovadora,
Cicilia Peruzzo publica sua dissertação de mestrado no livro “Relações Públicas
no modo de produção capitalista”.
Essa contextualização é importante e necessária para entendermos porque,
só a partir das décadas de 1980 e 1990, condicionadas pelas mudanças sociais,
políticas e econômicas que afetaram as organizações, surgem os estudos sobre

179
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

Comunicação Organizacional. A produção acadêmica torna-se menos normativa e


mais explicativa, interpretativa, na construção teórica e de inovação metodológica
que fundamentam o campo. Sem essa “identidade disciplinar” que nos primeiros
tempos não foi bem definida (Reis, 2009), o desafio de chegar a uma base
conceitual mais coesa e fundamentada, bem como integrar os diversos grupos de
pesquisas num raciocínio mais uniforme, persiste até hoje.
A perspectiva integrada, processual, estratégica e de interlocução
entre organização e públicos confere às Relações Públicas e à Comunicação
Organizacional uma fundamentação teórica e uma concepção que as levam para
uma reflexão mais especializada e coloca a discussão na indicação da interface com
outros conhecimentos. O termo comunicação organizacional passa a ser utilizado
“de forma incipiente, para representar essa concepção mais ampla da atividade de
relações públicas.” (Reis, 2009, p.151) É importante lembrar que os dois livros
“Processo de Relações Públicas” (Hebe Wey, 1983) e “Planejamento das Relações
Públicas na Comunicação Integrada ( Margarida Kunsch ,1986) tornaram-se as
referências conceituais utilizadas e discutidas no ambiente acadêmico.
A partir da década de 1990 inicia-se uma discussão epistemológica,
provocando mudanças no campo, reflexo da produção nos cursos de pós-
graduação sricto sensu. Embora o número de doutores e mestres ainda fosse
pequeno, o diálogo com outras áreas de conhecimento, especialmente com as
teorias de comunicação, dando menos ênfase às teorias administrativas foi
ganhando espaço acadêmico. Os estudos e pesquisas da área caminham para a
transdisciplinaridade, caracterizando a produção científica do campo das Relações
Públicas e Comunicação Organizacional.
A criação de entidades e associações, de acordo com Kunsch (2006) marca
também o crescimento da área das Relações Públicas. A criação, em 1954, da
Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP), responsável, naquela época,
por realizar congressos, seminários e promover o intercâmbio com universidades
de outros países é um marco histórico significativo.
No início da década de 1980, a ABRP criou-se o Prêmio Opinião Pública
com o objetivo de homenagear os melhores trabalhos de Relações Públicas
desenvolvidos pelas organizações públicas, privadas e/ou não-governamentais e
para atender o campo acadêmico criou o Concurso Universitário de Monografias
e Projetos Experimentais que até os dias atuais estimulam a produção intelectual
nos cursos de graduação.
Juntamente com a criação dos primeiros cursos de pós-graduação stricto
sensu nos anos de 1970, nascem também os espaços de discussão nas associações
científicas, que desenvolvem um papel fundamental de institucionalizar do
debate acadêmico. Essa é a contribuição da Intercom – Sociedade Brasileira de

180
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

Estudos Interdisciplinares da Comunicação criada no final da década de 1970.


No entanto, a área de Relações Públicas concretiza sua participação somente em
1988, no seu XI Congresso Brasileiro realizado em Viçosa- Minas Gerais com
o I Simpósio Brasileiro de Relações Públicas coordenado por Ivone de Lourdes
Oliveira
As Relações Públicas e a Comunicação Organizacional só são representadas
nos da Intercom em 1992 Grupos de Trabalho (Gs) com a criação do Grupo de
Relações Públicas e do GT de Comunicação Organizacional.. Em 2001 as duas
áreas se juntaram e foi constituído o Núcleo de Pesquisa de Relações Públicas e
Comunicação Organizacional, numa proposta de pesquisa multidisciplinar. Este
espaço de discussão teórica e produção acadêmica foram fundamentais para o
crescimento e o processo de consolidação do campo acadêmico.
A Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) criada em
1967, contribui também para o crescimento acadêmico dos campos analisados,
já que reúne cerca de mil organizações públicas e privadas e tem como missão
compartilhar o conhecimento de comunicação produzido. Além disso, preocupa-
se em difundir e discutir práticas de vanguarda e inovação na gestão das estratégias
de relacionamento das organizações com a sociedade.
A mais recente entidade científica é a Associação Brasileira de Pesquisadores
Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp) criada em 2006,
abrindo um importante capítulo da trajetória histórica e consolidação do campo.

Abrapcorp - um marco histórico


Durante o I Fórum de Pesquisadores de Relações Públicas e Comunicação
Organizacional, realizado em São Paulo em outubro de 2005 sob a coordenação
da professora Margarida Kunsch, profissionais e pesquisadores votam, em
uníssono, pela criação da associação científica Abrapcorp com fins de organizar
a comunidade de pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações
Públicas do Brasil para ter maior representatividade junto ao Ministério de
Ciência e Tecnologia, ao CNPq e aos demais órgãos de fomento à pesquisa, bem
como na própria comunidade da área de comunicação do país.
Atualmente é uma associação indutora e reverbera Dora de pesquisa, que
integra pesquisadores e se propõe a provocar a reflexão epistemológica, aproximar
os grupos de pesquisa, investir na pesquisa conjunta, na teorização e no
aperfeiçoamento dos métodos de investigação. Com quatro anos de vida, podemos
afirmar que a associação está consolidada, possui identidade e respeitabilidade no
campo da comunicação no Brasil e se tornou conhecida internacionalmente.
A Abrapcorp realiza, por ano, um congresso brasileiro com participação

181
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

de pesquisadores internacionais, que ministram cursos em parcerias com os


programas de pós-graduação nas universidades, onde são realizados os congressos.
Já foram desenvolvidos cursos nos programas de pós-graduação da Escola de
Comunicações e Artes da USP, na Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-
Minas, da PUCRS e da UFRGS em Porto Alegre.
Com a preocupação de torna-se um espaço abrangente de debate e acolher
às tendências de pesquisa, a Associação se constituiu em sete grupos de trabalho
(GTs) que consubstancializam a diversidade da produção e da pesquisa do
campoi. São eles: Teorias, história e metodologia dos estudos em Comunicação
Organizacional e Relações Públicas coordenado por Maria Aparecida Ferrari da
USP; Gestão, processos, políticas e estratégias de comunicação nas organizações
sob a coordenação de Cleusa Andrade Scroferneker da PUCRS; Comunicação
digital, inovações tecnológicas e os impactos nas organizações, coordenado por
Elisabeth Saad Corrêa da USP; Linguagem, retórica e análise dos discursos
institucionais, sob a coordenação de Luiz Carlos Assis Iasbeck do UCB; Relações
Públicas comunitárias, comunicação no terceiro setor e responsabilidade social,
coordenado por Márcio Simeone Henriques da UFMG; Comunicação pública,
governamental e política, coordenado por Maria Helena Weber da UFRGRS
e a partir de 2009 por Ana Lúcia Coelho Romero Novelli da UCB e o de
Iniciação Científica coordenado por Valéria de Serqueira Castro Lopes, que tem
a preocupação de formar jovens pesquisadores, incentivando a apresentação de
reflexões desenvolvida nos projetos de conclusão de curso de graduação e dos
projetos de iniciação científica
A análise quantitativa dos trabalhos apresentados nesses Grupos de Trabalhos
(GTs), totalizando 272 artigos no decorrer dos quatro anos de sua realização
(2007 a 2010) demonstra uma vasta produção acadêmica. Fica, no entanto,
um trabalho qualitativo a fazer, tanto junto aos coordenadores de GT´s que
acompanharam por quatro anos a evolução das produções acadêmicas, quanto
uma análise dos conteúdos apresentados, evidenciando as tendências teóricas, as
metodologias utilizadas, as discussões geradas e os avanços propostos. A produção
acadêmica quantitativamente é assim representada:
GT 1 Nº de trabalhos
2007 12
2008 06
2009 06
2010 08
Total 32

182
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

GT 2 Nº de trabalhos
2007 14
2008 12
2009 14
2010 18
Total 58

GT 3 Nº de trabalhos
2007 08
2008 05
2009 10
2010 11
Total 34

GT 4 Nº de trabalhos
2007 08
2008 06
2009 12
2010 11
Total 37

GT 5 Nº de trabalhos
2007 07
2008 08
2009 06
2010 05
Total 26

GT 4 Nº de trabalhos
GT 6 Nº de trabalhos
2007 06
2008 07
2009 06
2010 07
Total 26

O questionamento dos modelos tradicionais, da perspectiva funcionalista e


das influências dos estudos da Administração que tratavam a comunicação como
ferramenta no contexto organizacional, transformaram o campo e o levou a um
183
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

patamar diferenciado. As questões epistemológicas passam a ser estudadas e são


notórias as mudanças dos temas pesquisados e das posturas dos pesquisadores:
Discurso e retórica organizacional; Questões epistemológocas do campo; Novas
tecnologias no espaço organizacional; Marca/Imagem e reputação; Avaliação e
Mensuração; Responsabilidade social e sustentabilidade.
A Revista “Organicom”, lançada em 2004, com periodicidade semestral é
um instrumento efetivo de debate e aproximação entre os estudos acadêmicos e
experiências profissionais.

Consolidação da produção acadêmica


Para identificar e caracterizar os lócus de produção da pesquisa brasileira no
campo da Comunicação Organizacional e Relações Públicas, Curvello (2009)
identifica os programas de mestrado e doutorado, que têm explicitamente linhas
de pesquisa vinculadas ao campo em questão. Acrescenta-se a esta dimensão os
pesquisadores que fomentam as pesquisas, através dos grupos de pesquisa, em
suas respectivas instituições nos programas de pós-graduação.
Na Escola de Comunicação e Artes (USP) a linha de pesquisa que trabalha
as temáticas da área é denominada Políticas e Estratégias de Comunicação. Fica
evidente a multiplicidade de temas relacionados à Comunicação Organizacional
que o programa abarca, num trabalho de interface com outros conhecimentos e
num alinhamento com a realidade organizacional e social da contemporaneidade.
Dentre os pesquisadores, encontram-se Maria Aparecida Ferrari, Mitsuru Higuchi
Yanaze, Paulo Roberto Nassar de Oliveira e Margarida Maria Krohling Kunsch,
A Universidade Metodista de São Paulo – UMESP tem na figura de Wilson
da Costa Bueno um pesquisador importante para o campo. A linha de pesquisa
dessa instituição Processos de Comunicação Institucional e Mercadológica busca uma
integração entre áreas que contemple as interfaces entre comunicação e consumo,
processo de gestão, estratégia empresarial, mobilização social, construção das
marcas e a correlação entre imagem, reputação das organizações.
Na PUC do Rio Grande do Sul, a linha de pesquisa parte de uma perspectiva
mais ampla da comunicação e engloba aspectos do campo da comunicação
organizacional, denominada Das práticas profissionais e processos sócio-políticos nas
mídias e na comunicação das organizações, A linha de pesquisa tem como principais
pesquisadoras Cláudia Peixoto Moura e Cleusa M. A. Scroferneker.
Ainda na região Sul, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
a linha de pesquisa denomina-se Mediações e Representações Culturais e Políticas e o
campo da Comunicação Organizacional e Relações Públicas encontra-se inserido no
macro campo de pesquisa da Comunicação Social. Karla Muller, Maria Helena
Weber e Rudimar Baldissera são pesquisadores ligados a essa instituição.
184
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

Na Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, a linha Mídia e Estratégias


Comunicacionais diz respeito às estratégias que a esfera midiática promove na
articulação com os demais cursos, incluindo nessa linha as estratégias de
comunicação organizacional. As pesquisadoras Maria Ivete T. Fossá e Eugênia
Maria. M. R. Barichello trabalham com a gestão da comunicação e modelos de
comunicação institucional.
Em Minas, a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e a Pontifícia
Universidade católica de Minas Gerais - PUC-Minas não explicitam as temáticas
da Comunicação Organizacional e Relações Públicas em suas linhas de pesquisa.
As pesquisas sobre a comunicação no contexto organizacional no Programa de pós-
graduação da PUC-Minas são desenvolvidas, na linha de pesquisa Midiatização
e Processos de Interação. Ana Luisa de Castro Almeida desenvolve pesquisas sobre
imagem e reputação e Ivone de Lourdes Oliveira, com o grupo “Comunicação
no contexto organizacional: aspectos teóricos-conceituais”, busca aprimorar os
referenciais teóricos que fundamentam o campo da Comunicação Organizacional
e Relações Públicas., Na UFMG Márcio Simeone Henriques compõe o grupo de
docentes que estão na linha de pesquisa Processos Comunicativos e Práticas Sociais
e Maria do Carmo Reis, por muitos anos, foi a referência de pesquisadora na
temática sobre Comunicação Organizacional e Relações Públicas neste programa
de pós-graduação .
No recente mestrado criado na Universidade Católica de Brasília (UCB), a
linha de pesquisa Processos comunicacionais nas organizações faz menção explícita ao
campo. Desenvolve pesquisas relacionadas às temáticas como relações de poder,
jogos de cooperação e competição, imagem, identidade, discursos institucionais,
e estratégias de comunicação. O quadro de pesquisadores da linha é composto
pelos professores João José Azevedo Curvello, Luiz Carlos Assis Iasbeck, Ana
Lúcia Coelho Romero Novelli e Jorge Antônio Menna Duarte, estes dois últimos
como professores colaboradores externos.

Considerações Finais
A partir do cenário traçado, podemos concluir que o campo acadêmico da
Comunicação Organizacional e das Relações Públicas se encontra configurado e
em processo de consolidação. A produção científica e a pesquisa crescem cada dia
mais e os grupos de pesquisa se fortalecem no diretório do CNPq. Atualmente
são registrados 49 grupos que desenvolvem pesquisas sobre Comunicação
Organizacional e 172 que trabalham com Relações Públicas.
No ano de 2010, ocorreu a conquista de um espaço fundamental para as
reflexões epistemológicas, com a criação na Compôs do GT Comunicação em
contextos organizacionais.

185
Evolução e perspectivas do campo acadêmico da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

Não poderia deixar de mencionar neste texto a importância de Margarida


Maria Krolling Kunsch para o crescimento e avanço deste campo. Ela é uma
pesquisadora de referência nacional, liderança que sempre esteve à frente de todas
as iniciativas de desenvolvimento das experiências acadêmicas e de implantação
de espaços de reflexão sobre as temáticas analisadas. Não se cansa de lutar pelo
aprimoramento deste campo acadêmico e pelas novas possibilidades que surgem
na contemporaneidade.
A sociedade contemporânea, que tem as organizações como centralidade
exige da comunidade acadêmica entender sua complexidade e as novas exigências
buscando ultrapassar os limites de uma ciência positivista e do corporativismo
sem eco nos ambientes sociais e organizacionais.

Referências Bibliográficas e Sites


CURVELLO, João José. Relações Públicas e comunicação organizacional
no Núcleo de Pesquisa da Intercom. In: Relações Públicas e comunicação
organizacional: campos acadêmicos e aplicados de múltiplas perspectivas.
São Caetano de sul, SP: Difusão Editorial, 2009.
KUNSCH, Margarida M. Krohling. Gestão das Relações Públicas na
contemporaneidade e a sua institucionalização profissional e acadêmica no Brasil.
In: Organicom, ano 3, nº 5 (2º semestre de 2006), São Paulo: GESTCORP/
ECA/USP, 2006.
REIS, Maria do Carmo. A construção de uma identidade disciplinar e de
um corpus teórico para os estudos de comunicação organizacional e relações
públicas no Brasil. In: Relações Públicas e comunicação organizacional:
campos acadêmicos e aplicados de múltiplas perspectivas. São Caetano de sul,
SP: Difusão Editorial, 2009.

186
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp

Margarida M. Krohling Kunsch7

Histórico
A Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas (Abrapcorp) foi criada no dia 13 de maio de 2006,, em São
Paulo (SP), por ocasião do I Fórum Nacional em Defesa da Qualidade do Ensino
de Comunicação - Endecom 2006, promovido pela Escola de Comunicações
e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pela Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). A finalidade principal foi
estimular o fomento, a realização e a divulgação de estudos avançados dessas áreas
no campo das Ciências da Comunicação.
A iniciativa concreta de reunir pesquisadores dessas áreas na forma de uma
associação surgiu em outubro de 2005, durante o I Fórum de Pesquisadores
de Relações Públicas e Comunicação Organizacional, que teve lugar na ECA-
USP, em São Paulo (SP) e .no qual se debateu a proposta de reclassificação da
nova Tabela das Áreas de Conhecimento do CNPq – Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Essa nova entidade expressa a existência de uma comunidade atuante
de pesquisadores, originariamente integrados aos núcleos de pesquisa de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas da Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)8, hoje a maior e mais
importante associação das Ciências da Comunicação no País. Entidade autônoma,
a Abrapcorp, junto com outras doze associações, se vincula à Federação Brasileira
das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (Socicom), instituída
em setembro de 2008.
Com a fundação da Abrapcorp, um novo capítulo foi acrescentado à
história desses campos do conhecimento que florescem e se consolidam cada vez
mais no conjunto das Ciências da Comunicação. A existência de uma entidade
científica nesse contexto exerce um papel fundamental para estimular o fomento,
a realização e a divulgação de estudos avançados resultantes de pesquisa e que
possam contribuir para a transformação da sociedade, das instituições e das
organizações.

7 Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Corporativa e Relações Públicas


(Abrapcorp) e Diretora de Relações Internacionais da Socicom .Professora titular da Escola de Comunicações
e Artes Universidade de São Paulo. Ex-presidente da ALAIC e da Intercom. Tem vários livros publicados sobre
Relações Públicas e Comunicação Organizacional.
8 Para mais informações sobre a Intercom, consultar www.intercom.org.br

187
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp

Objetivos
Com base no seu estatuto, a Abrapcorp tem como objetivos norteadores:
• Congregar pesquisadores de qualquer área do conhecimento, vinculados
ou não a organizações acadêmicas, científicas e profissionais, que tenham
por objeto de estudo a comunicação sob todas as suas perspectivas e
aplicações, em especial aqueles que se dedicam a temática da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas;
• Contribuir para o desenvolvimento intelectual de seus associados, por
meio do intercâmbio de experiências entre eles e outras organizações, para a
difusão do conhecimento científico da Comunicação Organizacional e das
Relações Públicas;
• Contribuir, por meio de estudos científicos da Comunicação
Organizacional e das Relações Públicas, para maior valorização e
democratização dessas atividades no ambiente acadêmico, profissional e
social;
• Contribuir para o desenvolvimento do País, promovendo e difundindo
o exercício da comunicação como forma de colaborar no processo
democrático;
• Representar os interesses dos associados perante a sociedade, junto às
associações congêneres e em fóruns competentes.

Estrutura organizacional
A Abrapcorp tem como órgãos gestores a Assembléia Geral e a Diretoria Executiva,
formada por presidente, vice-presidente, diretor administrativo, diretor
científico, diretor editorial e diretor de relações públicas. São órgãos auxiliares da
entidade o Conselho Consultivo e o Conselho Fiscal. O mandato dos membros
da Diretoria Executiva e dos Conselhos é de dois anos, podendo eles ser reeleitos
para apenas um período subseqüente.

Frentes de atuação
Nestes quatro primeiros anos de existência da entidade, os esforços se concentraram
na criação de uma infra-estrutura básica para o funcionamento da Secretaria,
nas providências para os registros jurídicos e contábeis, na institucionalização do
Congresso Anual, na formatação da dinâmica dos Grupos de Trabalhos Temáticos
(GTs Abrapcorp), na construção do site e na publicação de livros, entre outras
iniciativas em curso.

188
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp

Congressos anuais
O I Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas – Abrapcorp 2007 foi realizado nos dias 3, 4 e 5 de maio do
ano de 2007, com a presença de pesquisadores e estudantes de todas as regiões do
Brasil e, também, de convidados internacionais dos Estados Unidos, da Europa e
da América Latina. Tendo como tema central “A Comunicação Organizacional e
as Relações Públicas no século XXI: um campo acadêmico e aplicado de múltiplas
perspectivas”, o evento confirmou que, tanto no âmbito acadêmico quanto na
esfera do próprio mercado de trabalho, existe hoje no País uma massa crítica capaz
de debater as interfaces, as modalidades e a produção científica nas duas áreas. O
congresso teve lugar na Universidade de São Paulo, tendo sido promovido em
parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
O II Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de
Relações Públicas – Abrapcorp 2008 aconteceu nos dias 28, 29 e 30 de abril de
2008, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), em
Belo Horizonte (MG), reunindo pesquisadores e estudantes das duas áreas de todo
o Brasil O tema central foi “Comunicação, sustentabilidade e organizações”, em
torno do qual se discutiram, entre outras questões, a contribuição da comunicação
para a sustentabilidade das organizações, ética e transparência nas organizações e
avaliação da ação comunicativa na sustentabilidade organizacional. Realizado em
parceria com a Faculdade de Comunicação e Artes da PUC-Minas, o evento teve
um painel inaugural, quatro mesas-redondas, reuniões de oito grupos temáticos
para a apresentação de comunicações resultantes de pesquisas em nível de pós-
graduação e de trabalhos de iniciação científica, além de oficinas para alunos de
graduação.
O III Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp 2009 ocorreu nos dias 28, 29 e 30 de abril
de 2009, em São Paulo (SP), tendo sido realizado em parceria com a Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e seu
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, com o tema
central “Comunicação, humanização e organizações”. O evento contou com a
participação de cerca de quinhentos congressistas, provindos de todas as regiões
do País. Os debates levados a efeito nos painéis, nas mesas-redondas e no II
Fórum sobre as Bases Conceituais de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas ampliaram os horizontes dos estudos e da prática dessas áreas neste novo
contexto do século XXI..
O IV Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e
de Relações Públicas – Abrapcorp 2010 ocorreu em maio de 2010, em Porto
Alegre (RS), em parceria com os Programas de Pós-Graduação em Comunicação
189
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp

da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do


Rio Grande do Sul (Famecos/PUC-RS) e da Faculdade de Comunicação e
Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O
tema central do evento foi “Comunicação pública: interesses públicos e privados”.

Cursos
Paralelamente à temática dos congressos anuais realizaram-se cursos com os
convidados internacionais, a fim de otimizar sua presença como professores
visitantes. Em 2007 foram oferecidos dois cursos de curta duração para alunos
pós-graduação participantes do congresso, ministrados por María Antonieta
Rebeil Corella (Escola de Comunicação da Universidad Anáhuac, do México) e
Antonio Castillo Esparcia (Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidad
de Málaga). Os temas por eles abordados foram, respectivamente, “Soluções de
comunicação para os ambientes organizacionais” e “Grupos de pressão, sociedade
da comunicação, lobby e Relações Públicas”. Em 2008, Stanley Deetz (University
of Colorado at Boulder) deu um curso dobre o tema “Comunicação estratégica
e colaborativa: tendências da comunicação organizacional”. Em 2009 foram
oferecidos os cursos “Estudos de Comunicação Organizacional numa perspectiva
crítica”, ministrado por Dennis Mumby (University of North Carolina at Chapel
Hill) e “Desenho e gestão de estratégia em contextos instáveis”, com Marcelo
Manucci (Universidad de Salamanca, Argentina). Em 2010, os cursos foram
“O sistema de mídia nas organizações”, a cargo de Nicole D’Almeida (Celsa-
Sorbonne, Paris) e “O conceito de utilidade pública na evolução da comunicação
pública”, oferecido por Rolando Stefano (IULMl – Universidade de Milão,
Itália).

Grupos temáticos – GTs Abrapcorp


A criação e formatação dos Grupos Temáticos da Abrapcorp (GTs Abrapcorp)
representam um salto qualitativo de grande relevância para os estudos de
Comunicação Organizacional e Relações Públicas no Brasil. O objetivo dos
GTs é incentivar a produção e difusão de relatos científicos de pesquisa, com
reflexões sobre os aspectos abordados, a partir de investigações de cunho teórico
e prático. Os pesquisadores precisam pensar nos campos das Relações Públicas
e da Comunicação Organizacional, apresentando trabalhos de vanguarda que
fortaleçam e sustentem novas concepções para essas áreas. Isso possibilita a
realização de pesquisas em diferentes eixos temáticos, tanto para explorar relações
complementares como para ampliar as discussões.
São cinco os GTs permanentes: GT 1 – História, Teoria e Pesquisa em

190
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp

Relações Públicas; GT 2 – Processos, Políticas e Estratégias de Comunicação


Organizacional; GT 3 - Comunicação Digital, Inovações Tecnológicas e os
Impactos nas Organizações; GT 4 – Estudos do Discurso, da Imagem e da
Identidade Organizacionais; GT 5 - Comunicação Pública e Política, Relações
Públicas Comunitárias e Comunicação no Terceiro Setor. Além disso, a entidade
tem o Espaço para Iniciação Científica. Os trabalhos inscritos e selecionados para
discussão nos GTs da Abrapcorp devem ser resultantes de pesquisas realizadas
em nível de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) e lato sensu
(especialização).

Publicações
Uma das mais importantes frentes de atuação da Abrapcorp é a produção
de publicações impressas e eletrônicas das áreas de Relações Públicas e de
Comunicação Organizacional, como periódicos científicos e livros. A instituição
lança anualmente uma obra coletiva com os principais textos apresentados pelos
autores nos congressos, está nos planos produzir também uma serie didática
que possa contribuir diretamente com a formação acadêmica e profissional
nesses campos. Além desses meios fundamentais de comunicação, difusão e
democratização do conhecimento, a entidade criou e mantém também o seu
portal (www.abrapcorp.org.br).

Organicom – Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações


Públicas
Em 2006 a Abrapcorp fez uma parceria com o Curso de Gestão Estratégica em
Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Gestcorp), do Departamento
de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA-USP para dar continuidade
à publicação da Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações
Públicas - Organicom, periódico científico dessas áreas de conhecimento.
A Organicom criada em 2004, tem como propósito ser um meio de
comunicação capaz de reunir os grandes temas contemporâneos dessas duas
áreas que estão sendo estudados na universidade e que constituem necessidades
e demandas sociais. Com periodicidade semestral, seu projeto editorial reúne
contribuições de estudiosos e especialistas brasileiros e de outros países, tendo
em cada número, como seção básica, um dossiê temático que atenda demandas
de assuntos contemporâneos ligados aos campos das Relações Públicas e da
Comunicação Organizacional.
A revista conta com excelente aceitação no meio acadêmico e no mercado
profissional, por ser uma referência e estar na vanguarda do pensamento nesses
191
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp

campos, ajudando a analisar as tendências e a contribuir com fundamentos


conceituais em temas pouco explorados na literatura corrente. Sua abordagem se
caracteriza pela diversidade e pluralidade temática e do pensamento dos autores.

Livros-coletâneas
A Abrapcorp, por meio de uma co-edição com a Difusão Editora, já lançou seus
três primeiros livros, com as temáticas dos congressos de 2007, 2008, e 2009,
dentro da Série Pensamento e Prática, que trará publicações originadas a partir
das discussões realizadas em cada edição do evento. Os temas mais relevantes para
a pesquisa em Comunicação Organizacional e em Relações Públicas apresentados
durante esses congressos anuais podem ser estudados com mais detalhes, graças à
publicação dessas coletâneas.
Produzidos por palestrantes, nacionais e internacionais, criteriosamente
selecionados pelos organizadores, os textos das obras abordam os temas de forma
mais profunda e mais completa que os anais dos congressos, com um conteúdo
rico e bem elaborado. Foi uma forma encontrada para democratizar a produção
do conhecimento que vem sendo gerado no âmbito da entidade.
A primeira obra tem o título Relações públicas e comunicação organizacional:
campos acadêmicos e aplicados de múltiplas perspectivas. Reunindo contribuições
do primeiro congresso da Abrapcorp (2007), ela é enriquecida com artigos
de autores renomados dos Estados Unidos, do México e da Espanha. Em 16
capítulos, distribuídos ao longo de três partes, se analisa a relevância das duas
áreas diante dos desafios da sociedade contemporânea, discutem-se as bases de
uma teoria brasileira para elas e se apresenta um panorama de seu “estado da
arte” no País, avaliando conquistas e tendências. A obra mostra que as interfaces
entre esses campos são uma realidade no Brasil, que já dispõe de massa crítica
para refletir sobre sua diversificada temática, contribuindo para sistematizar as
experiências vivenciadas na prática.
A segunda obra é A comunicação na gestão da sustentabilidade das
organizações, resultante das contribuições do segundo congresso anual da
Abrapcorp (2008). A sustentabilidade, que traz implicações para todos os
âmbitos, é o ponto de intersecção entre as estratégias de negócio de uma
organização e suas demandas econômicas, sociais e ecológicas. Abordar essa
temática, inserindo em sua discussão a dimensão comunicativa, é um dos
propósitos da obra. Com reflexões críticas de cunho acadêmico e técnico,
ela oferece subsídios a pesquisadores, profissionais e estudantes das áreas de
Comunicação Organizacional, Relações Públicas, Jornalismo, Publicidade,
Marketing, Administração e correlatas para compreender como a comunicação
pode contribuir com projetos de sustentabilidade.
192
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas –
Abrapcorp

A terceira obra. A comunicação como fator de humanização nas


organizações, trata do tema em dois subtemas: a organização como espaço de
diálogo e construção de significado e a comunicação como lugar e processo de
humanização da organização nas relações de trabalho.

Perspectivas e tendências
O trabalho da Abrapcorp, por meio de suas frentes de atuação, já dá sinais concretos
de estar contribuindo para o avanço científico das áreas de Comunicação
Organizacional e de Relações Públicas. Os congressos anuais têm um histórico de
apenas quatro anos, mas já figuram entre os principais eventos científicos nacionais
da área de Comunicação Social do País. Os esforços da entidade fomentam a
produção acadêmica e o debate entre a universidade e a sociedade. E contribuem
para um frutuoso diálogo internacional entre pesquisadores brasileiros, latino-
americanos, norte-americanos e europeus.
O reconhecimento público da Abrapcorp se evidencia pelas parecerias
que tem feito para realização dos seus congressos anuais com Programas Pós-
Graduação em Comunicação de importantes universidades e pelo que tem
obtido apoio dos órgãos de fomento à pesquisa, tais como a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)e Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Minas Gerais (Fapemig).
Os campos acadêmico-científicos de comunicação organizacional e
relações públicas estão instituídos no Brasil e contam com pesquisas e literatura
significativas. Essas áreas passam por um momento de grande efervescência
criativa e produtiva, tanto no meio acadêmico como no mercado profissional.
Enfim, as perspectivas são promissoras para as duas áreas. Os novos trabalhos
desenvolvidos indicam uma produção inovadora, com pesquisas empíricas e
reflexões teóricas com mais rigor metodológico e científico. O estágio avançado da
comunicação no Brasil e as novas exigências de uma crescente profissionalização
impulsionarão a universidade a criar mais espaços para a pesquisa e o ensino
nessas áreas. Temos hoje um mercado amplo e competitivo, tanto no âmbito das
organizações quanto no da prestação de serviços.
A conjuntura política do País, com o fortalecimento das instituições
democráticas, certamente contribuirá para o florescimento e a expansão das
duas áreas. Além disso, a nova postura das organizações diante da sociedade,
dos públicos e da opinião pública postula bases conceituais mais sólidas para a
prática profissional. E a Abrapcorp em todo esse contexto tem uma missão muito
importante a cumprir.
193
194
CAPÍTULO 10

ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura

Eugênio Trivinho1

Introdução
A Associação Brasiliera de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber2) constitui
entidade científica e cultural, interdisciplinar e sem fins lucrativos, com sede em
São Paulo/SP, cuja missão principal é congregar pesquisadores(as), Grupos de
Pesquisa, instituições e/ou entidades brasileiras em torno de temáticas pertinentes
ao campo de estudos sobre o fenômeno da Cibercultura; e de nuclear e consolidar
esse campo interdisciplinar de estudos, contribuindo para o desenvolvimento
científico, tecnológico e cultural do país (cf. Artigo 1 do respectivo Estatuto).
Fruto de um projeto semeado desde 2000, com a idéia preliminar lançada
no IX Encontro Nacional da COMPÓS, realizado na PUCRS, a ABCiber foi
fundada em 27 de setembro de 2006, por pesquisadores(as) de vários Programas
de Pós-Graduação de diferentes áreas das Ciências Humanas, Ciências Sociais
Aplicadas e Linguística, Letras e Artes no Brasil, então reunidos em Plenária
Especial do I Simpósio Nacional de Pesquisadores em Comunicação e
Cibercultura, organizado pelo CENCIB - Centro Interdisciplinar de Pesquisas
em Comunicação e Cibercultura, do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Comunicação e Semiótica da PUC-SP, e realizado nesta Universidade, no período
de 25 a 29 de setembro de 2006.
A criação da Associação foi divulgada em Nota Pública (de 07/10/2006)
para a comunidade nacional e internacional3.
Participaram da Plenária Especial de fundação os(as) seguintes
pesquisadores(as) (com seus vínculos institucionais à época):Adriana Amaral
(UTP);Alex Primo (UFRGS);André Lemos (UFBA);Diana Domingues
(UTP);Erick Felinto de Oliveira (UERJ);Eugênio Trivinho (PUC-SP);Fernanda
Bruno (UFRJ);Francisco Coelho dos Santos (UFMG);Henrique Antoun
(UFRJ);Juremir Machado da Silva (PUCRS);Lucrécia D´Alessio Ferrara (PUC-
SP);Marco Silva (UERJ e UNESA);Maria Cristina Franco Ferraz (UFF);Othon
Jambeiro (UFBA);Rogério da Costa (PUC-SP);Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro
(UFRJ);Simone Pereira de Sá (UFF);Theóphilos Rifiotis (UFSC);Vinícius

1 Professor da PUC-SP. Presidente da ABCiber.


2 O endereço de referência da entidade é a Rua Ministro Godoy, 969, 4. andar, bloco B, sala 4A-08, Perdizes,
São Paulo/SP, CEP 05.015-901.
3 Disponível em http://abciber.org/nota_publica_fundacao.pdf.

195
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura

Andrade Pereira (UERJ e ESPM);Yara Rondon Guasque Araujo (UDESC).


A necessidade institucional de integração da ABCiber ao sistema jurídico
brasileiro levou a primeira Diretoria a adotar procedimentos administrativos,
documentais e operacionais necessários ao registro da Associação em Cartório
da cidade de São Paulo, nomeadamente no 6. Cartório de Títulos e Documentos
e Civil de Pessoa Jurídica, e, posteriormente, à obtenção do CNPJ – n.
11.294.169/0001-18 – junto à Receita Federal. Esses procedimentos incluíram
a convocação de uma assembléia geral especial, igualmente liminar, para efeito
de fundação de direito da Associação, encontro este realizado na PUC-SP, no dia
05 de outubro de 2009. Participaram dessa assembléia para fins de legalização da
entidade os(as) seguintes pesquisadores(as):Eugênio Trivinho (PUC-SP);Gilberto
Prado (USP);Gisela Castro (ESPM);Lucia Santaella (PUC-SP);
Sebastião Squirra (UMESP);Sueli Mara Ferreira (USP);Lucrécia D´Alessio
Ferrara (PUC-SP); Rogério da Costa (PUC-SP).
À luz da sistemática axiológica referencial do ordenamento jurídico, os(as)
pesquisadores(as) que participaram da Plenária Especial de 26 de setembro de
2007 passaram a ser considerados formalmente como “fundadores históricos ou
de fato” da ABCiber; e os(as) pesquisadores(as) participantes da assembléia de
fundação jurídica, os seus “fundadores de direito”.
A história da ABCiber testemunha, com convicção, que um dos legados
intelectuais e éticos mais vigorosos e fundamentais que a criação de uma entidade
científica nacional pode oferecer às áreas de conhecimento que a constituem, ao
seu desenvolvimento.

Estrutura funcional e representatividade nacional


A estrutura institucional e o modo de funcionamento da entidade foram
estabelecidos em duas reuniões científicas realizadas na PUC-SP, em março e
novembro de 2007. O Estatuto da ABCiber prevê uma Diretoria, um Conselho
Científico Deliberativo (CCD) e uma Assembléia Geral (de associados). Em
março de 2007, foi aprovado um Conselho de Ética, cuja implementação
ficou para momento futuro. O CCD constitui instância superior de consulta e
deliberação; a Diretoria, instância executiva e propositiva. Acima de ambas, está
a Assembléia Geral, órgão máximo de decisão. O Conselho de Ética, por sua
vez, se destinará a avaliar e julgar matérias internas e externas atinentes a valores
de natureza ética e moral. Além dessas instâncias, o Estatuto prevê Comissões
Especiais de Assessoramento da Diretoria e/ou do CCD, para cumprimento de
objetivos específicos.
A Diretoria, com mandato de dois anos, é formada por 11 pesquisadores
196
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura

(as). O CCD, na gestão 2007-2009, foi formado por 21 membros (as); e a


gestão 2009-2011, por 20 (até a realização da III Assembléia geral, no dia 02 de
novembro de 2010).
Participaram da primeira gestão, pesquisadores (as) de 11 Universidades/
Programas de Pós-Graduação (cinco federais, dois estaduais, duas Pontifícias/
Comunitárias e duas instituições privadas). Compuseram o CCD pesquisadores
(as) de 15 Instituições de Ensino Superior (IES), /16 Programas de Pós-Graduação
(PPGs). No total, 18 IES/20 PPGs estiveram representados nessa gestão,
abrangendo as áreas de Comunicação, Ciência da Informação, Antropologia,
Psicologia Social, Educação, Semiótica e Artes, conforme segue (com os vínculos
institucionais à época):
Na gestão 2009-20114, participam pesquisadores (as) de 10 Universidades/11
Programas de Pós-Graduação (duas federais, três estaduais, duas Pontifícias/
Comunitárias e três privadas). Compõem o CCD pesquisadores (as) de 17 IES/15
PPGs. No total, 20 IES, com 21 PPGs estiveram representados nessa gestão,
abrangendo as áreas de Comunicação, Ciência da Informação, Antropologia,
Psicologia Social, Educação, Semiótica, Design e Artes.
Os(as) membros(as) da Diretoria interatuam com frequência via respectiva
lista de discussão. O CCD se reúne uma vez a cada semestre [no segundo, durante
o Simpósio Nacional (em novembro)] e, sempre que necessário, online, em lista
de discussão própria. A Assembléia Geral (ordinária) é realizada anualmente
(também durante o Simpósio Nacional).

Metas institucionais e objetivos programáticos5

Metas institucionais
1.Nuclear e consolidar no Brasil o campo interdisciplinar de estudos sobre
o fenômeno da Cibercultura, entendida em sentido amplo, como categoria
referente às configurações socioculturais contemporâneas articuladas por
tecnologias e redes digitais, contribuindo para o desenvolvimento científico do
país;
2.Congregar pesquisadores (as), Grupos de Pesquisa, instituições e/ou
entidades brasileiras em torno de temáticas pertinentes a esse campo de estudos;
3.Garantir condições institucionais e materiais necessárias à organização
continuada desse campo de estudos, atribuindo-lhe representação institucional

4 O Plano de Gestão referente a este biênio está disponível em http://abciber.org/diretoria1024.html.


5 Cf. Capítulo II do Estatuto

197
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura

unificada e autônoma em relação às demais associações científicas e culturais


vigentes e possibilitando a expansão da respectiva pesquisa de excelência no país;
4.Estimular intercâmbios com pesquisadores(as), Grupos de Pesquisa e
entidades estrangeiras dedicados(as) ao mesmo campo de conhecimento.

Objetivos programáticos
1. Promover a circulação de conhecimento interdisciplinar renovado e
questionador no contexto de relações científicas, institucionais e culturais entre
2. Contribuir para a formação continuada de quadros intelectuais de
excelência, a partir da esfera de estudos da Cibercultura;
3. Organizar eventos científicos periódicos, com apoio de agências de
fomento e/ou instituições privadas, no âmbito de sua competência institucional

Eventos realizados e projetados


I Simpósio Nacional de Pesquisadores em Comunicação e Cibercultura
- organizado pelo Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Comunicação
e Cibercultura (CENCIB), do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Comunicação e Semiótica da PUC-SP, e realizado nesta Universidade, no período
de 25 a 29 de setembro de 2006, com apoio da CAPES e do Itaú Cultural e apoio
cultural do Teatro da Universidade Católica (TUCA) e da Livraria Cortez.
Estruturado em 15 sessões de trabalho, dentre as quais 11 painéis temáticos,
o Simpósio reuniu, em cinco dias consecutivos, 34 pesquisadores (as) - entre
conferencistas e mediadores(as) - de Programas de Pós-Graduação das Ciências
Humanas e Ciências Sociais Aplicadas de vários Estados brasileiros. O evento
integrou as comemorações dos 60 anos da PUC-SP e dos 34 anos de seu Programa
de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica.
II Simpósio Nacional da ABCiber - organizado pelo CENCIB/PEPGCOS/
PUC-SP e realizado nesta Universidade, no período de 10 a 13 de novembro
de 2008, com apoio da CAPES e do Itaú Cultural e apoio cultural do TUCA,
da Livraria Cortez e do provedor Locaweb. O Simpósio6 abrigou mais de 130
palestras, distribuídas em quase 50 painéis temáticos (científicos e de arte digital),
formados a partir das respostas da comunidade científica ao Call for papers
institucional. Igualmente, o evento somou, além de quatro plenárias especiais, 25
conferências ministradas por membros (as) da Diretoria e do CCD e realizadas

6 Os anais eletrônicos, indexados pela Biblioteca Nacional, contendo todas as conferências digitalizadas, estão
disponíveis em www.cencib.org/simposioabciber/anais.

198
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura

em dez mesas, nos três primeiros dias7.


III Simpósio Nacional - organizado pelo Grupo de Pesquisas em Comunicação
e Práticas de Consumo, do Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas
de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), e realizado
nesta Universidade, no período de 16 a 18 de novembro de 2009.
O IV Simpósio Nacional, foi organizado pelo Programa de Pós-Graduação
em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e
realizado nos dias 01 a 03 de novembro de 2010, depois da escritura deste artigo.

Apoios institucionais e culturais recebidos


Desde a sua fundação, a ABCiber recebeu apoio das seguintes Universidades,
agências federais e estaduais de fomento e empresas:

Apoios institucionais
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM)
CAPES - Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Instituto Itaú Cultural
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FAPERJ - Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro

Apoios culturais
UCA - Teatro da Universidade Católica
Livraria Cortez (SP)
LocaWeb (provedor de acesso)

A cada ano, Associação renova o seu interesse de expandir suas parcerias


interinstitucionais para patrocínio e/ou promoção de seus Simpósios e projeto

7 Uma apresentação geral da ABCiber e do campo da cibercultura no Brasil pode ser encontrada na con-
ferência de abertura desse Simpósio, disponível em http://www.cencib.org/simposioabciber/anais/mesas/
videos/?autor=Eugenio_Trivinho.

199
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura

Programa de Incentivo a Produção Científica e Cultural


Este programa constitui empreendimento institucional destinado ao fomento
da produção bibliográfica e artística no campo interdisciplinar de estudos da
Cibercultura.
O Programa abrange a Coleção ABCiber de textos sobre cultura digital
e a Coleção ABCiber de poéticas em mídias e redes interativas (nomenclatura
referencial provisória). Ambas coleções são caracterizadas em Projetos próprios,
a saber:

1.Projeto Editorial da Coleção ABCiber, contendo as normas para proposição,


seleção, publicação e divulgação de e-books científicos e/ou reflexivos; e
2.Projeto Curatorial e Editorial da Coleção ABCiber Arte (idem notação
acima), abrangendo normas para a proposição e seleção de curadorias e mostras
online, workshops presenciais (durante os Simpósios Nacionais anuais) e catálogos
de arte digital.

Abrigando textos e criações nacionais e estrangeiras, ambas as Coleções


permanecerão disponíveis no site da ABCiber, para acesso universal, conforme
decisão do Conselho Científico Deliberativo da Associação, em sua IV Reunião
ordinária, realizada na UERJ, nos dias 21 e 22 de maio de 2009.
Sem descarte de intervenções pontuais necessárias no processo político
e social brasileiro, em relação a matérias atinentes ao seu campo de interesse,
a ABCiber prioriza, com este Programa editorial, implementado entre seus
Simpósios, a sua missão intelectual de esclarecimento público acerca das
condições sociais, culturais, políticas e econômicas da vida humana na civilização
tecnológica contemporânea.
Em cumprimento ao Capítulo II do Estatuto da Associação (reproduzido
no tópico acima), esse foco institucional recai – enfatize-se – sobre o que
evidentemente consiste no principal legado de uma associação de pesquisadores:
contribuir, em sentido extenso, para o desenvolvimento científico, cultural
e tecnológico do país, em partilha necessária do conhecimento produzido no
contexto internacional.

E-books da Coleção ABCiber publicados e previstos


O volume inaugural da Coleção ABCiber de textos sobre cultura digital – A
cibercultura e seu espelho: campo de conhecimento emergente e nova vivência humana

200
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura

na era da imersão interativa – foi lançado em fevereiro de 20108. O e-book de


referência do II Simpósio Nacional, cotado como volume 2 dessa Coleção,
encontrava-se em fase final de edição e foi lançado no IV Simpósio Nacional, na
UFRJ, realizado no dia 02 de novembro de 2010. O e-book de referência do III
Simpósio está previsto para meados de 2011 e seu lançamento oficial ocorrerá no
V Simpósio Nacional, em IES e período a serem ainda definidos.

Informações Relevantes

Nota Pública em defesa da liberdade na Internet


Em 07 de julho de 2007, a ABCiber, por proposição de seus conselheiros André
Lemos (UFBA) e Sérgio Amadeu da Silveira (Cásper Líbero), emitiu Nota Pública
em defesa da liberdade na Internet, manifestando preocupação com o teor do
Projeto de Lei Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo e empenhando integral
apoio à carta-aberta de autoria dos mencionados(as) professores(as)9.

Dossiês sobre Cibercultura


Cibercultura revisitada
Galáxia, revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e
Semiótica da PUC-SP, n. 16 (dez. 2008)10.

Dossiê ABCiber (II Simpósio Nacional, 2008)


Famecos: mídia, cultura e tecnologia - revista do Programa de Pós-Graduação
em Comunicação da PUCRS, n. 37 (dez. 2008)11.

Os dossiês representam o estado da arte das pesquisas em desenvolvimento


em Programas de Pós-Graduação brasileiros em diferentes áreas das Ciências
Humanas, Ciências Sociais Aplicadas (em especial a Comunicação) e Linguística,
Letras e Artes.
Os artigos põem em discussão o encadeamento simbólico entre mídia de massa
e mídia interativa; o fenômeno glocal e seu bunker típico; as tecnologias móveis e

8 Está disponível em http://www.abciber.org/publicacoes/livro1.


9 A Nota Pública, com a íntegra da carta, está disponível em http://abciber.org/nota_publica.pdf.
10 Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/issue/current/showToc.
11 Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/issue/view/337/showToc.

201
ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura

a reconfiguração dos lugares; as relações entre território e identidade em práticas


online e off-line; as comunidades virtuais; as interfaces multissensoriais; a inclusão
social; a apropriação do ciberespaço na periferia; a vigilância eletrônica; os sites
de relacionamento; as trocas afetivas online; a nova indústria do entretenimento;
o YouTube e a cultura trash; os fotologs; a estética e a sociedade de controle; o
jornalismo digital; os commons; os ambientes virtuais de aprendizagem e a
produção científica, entre outros temas emergentes e relevantes.

Campanha de filiação e horizontes


Desde o seu II Simpósio Nacional, a ABCiber mantém-se em campanha de filiação
com anuidade referenciada em novembro de 200812. A trajetória da ABCiber
confirma, para os próximos anos, a intensificação e ampliação do trabalho de
nucleação e desenvolvimento do campo de estudos da Cibercultura no país, com
amplo apoio de professores(as)/pesquisadores(as), alunos de Pós-Graduação e
Graduação e profissionais interessados(as) em compreender as múltiplas relações
entre as tecnologias/redes digitais e a vida social, cultural, política e econômica
contemporânea.

12 Planilha disponível em http://abciber.org/comoassociar1024.html

202
CAPÍTULO 11

ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”

Marialva Carlos Barbosa1


A Associação Brasileira dos Pesquisadores de História da Mídia (ALCAR)
foi, oficialmente, constituída como associação científica de caráter nacional,
no VI Congresso de História da Mídia, realizado em 14 de maio de 2008, na
Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ). Naquela ocasião, 81
sócios fundadores assinaram a ata de constituição da Associação, em plenária
realizada na noite que marcou o encerramento do Congresso. Ainda que o ato
formal de instituição da Associação tenha se dado em maio de 2008, um longo
caminho fora percorrido até então. É um pouco desse percurso que esse texto-
depoimento, misto de trabalho memorável e documental, procurará enfocar.
A história começa sete anos antes: exatamente em 5 de abril de 2001,
quando, em reunião realizada na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI),
um grupo de pesquisadores que se dedicava há à temática da história dos meios,
reuniu-se para dar início as ações de uma Rede de Pesquisadores que tinha como
propósito constituir, até 2008 – ano dos 200 anos de implantação da imprensa no
Brasil - um inventário crítico reflexivo sobre a história da mídia no Brasil.
Espécie de utopia idealizada por José Marques de Melo, tinha como
objetivo refazer o percurso realizado na alvorada do século XX pelo pesquisador
pernambucano Alfredo de Carvalho, que mapeou a imprensa brasileira em todas
as suas regiões para um estudo alentado produzido para ser apresentado durante
as comemorações do centenário da implantação da imprensa brasileira, em 1908.
Objetiva-se, no início do século XXI, ações semelhantes aquela feita por
Alfredo de Carvalho, na medida em que a plataforma de ação da Rede Alfredo de
Carvalho incluía, como item prioritário, a atualização do inventário da imprensa
brasileira, com o propósito de completar as lacunas deixada pelo inventário de
1908, além de avançar na crítica reflexiva desse mapa inventarial das pesquisas
brasileiras, até 2008.
Como enfatizou, na época, o idealizador da Rede, José Marques de Melo, num
texto síntese do “pragmatismo utópico da Rede Alfredo de Carvalho”2, “deseja-se
completar as lacunas deixadas pela equipe de 1908, além de fazê-lo avançar até 2008.
Mais do que isso: pretende-se realizar a interpretação dos dados acumulados,

1 Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná


(UTP). Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia - ALCAR.
2 MELO, José Marques de. O pragmatismo utópico da Rede Alfredo de Carvalho. Preservando a Memória e
construindo a História dos 200 anos da Imprensa no Brasil. In http://comunicacao.feevale.br/redealcar/index.
php?option=com_content&view=article&id=59&Itemid=66. Acesso em 20/05/2010.

203
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”

construindo indicadores capazes de balizar o trabalho dos historiadores e dos


cientistas da comunicação”.
Naquela reunião pioneira estiveram presentes, além do idealizador da Rede,
José Marques de Melo, o então Presidente da ABI, Fernando Sigismundo, Cibelle
Ipanema, representando oficialmente o IHGB, Ana Arruda Calado (ABI),
Esther Bertoletti (MinC), Francisco Karam (UFSC), Marco Morel (UERJ),
Tania Bressone (UERJ) e Lúcia Neves (UERJ), Ana Paula Goulart Ribeiro
(UFRJ) e Marialva Carlos Barbosa (UFF). Ali mesmo, na sede da Associação
Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, a Rede, uma iniciativa conjunta da
Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação e Cátedra FENAJ/UFSC de
Jornalismo, ampliava substancialmente o seu escopo de atuação, incluindo, já
no primeiro ano de criação, dezenas de instituições e pesquisadores.A partir daí
outros pesquisadores foram convocados a participar desse percurso e passaram a
apresentar o resultado de suas pesquisas em diversos encontros e, sobretudo, nos
congressos anuais realizados.
O primeiro Congresso, ainda em 2002, foi realizado na UERJ e na
Univercidade, no Rio de Janeiro, com a presença de 100 pessoas. Um número
reduzido, mas estava lançada a senha para a recuperação da importância histórica
dos processos midiáticos brasileiros. O resultado mais visível desse encontro foi
a publicação do livro História e Imprensa: representações culturais e práticas
de poder, organizado por Lucia Maria Bastos P. Neves, Marco Morel e Tania
Maria Bessone de C. Ferreira, com apoio institucional da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)3.
A caminhada de construção da Associação nesse momento fundador
incluiu também a promoção de uma dezena de eventos realizados em todo o
país para despertar o interesse dos pesquisadores; constituiu-se os Grupos
de Trabalho, inicialmente em torno de cinco propostas; foi construída uma
metodologia unificada para possibilitar o trabalho de inventário, sobretudo, das
fontes impressas. A Rede tinha hora marcada para terminar: esperava-se que o
trabalho estaria encerrando em 2008. “Essa pesquisa deverá estar concluída em
2008, esperando-se cobrir todo o território nacional. Os levantamentos e análises
tomarão a cidade como espaço referencial, buscando-se, em fase mais avançada,
tecer as malhas das conexões regionais, identificando também aqueles traços
nacionalmente hegemônicos”, sentenciava José Marques, no seu texto fundador.
Ainda em 2001 foi programado um calendário de eventos para conquistar
novas adesões acadêmicas e angariar apoios instutucionais. O início do que
chamou então “maratona cultural” foi em Salvador, com a realização de um
ciclo de conferências, entre os dias 25 e 27 de abril de 2001. A Rede também
3 NEVES, Lucia, MOREL, Marco, FERREIRA, Tania (organizadores). História e imprensa: representações
culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro: DP&A; FAPERJ, 2006, 448 p.

204
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”

esteve presente na 51ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso


da Ciência (SBPC), em julho daquele ano. Iniciou-se também a programação
dos Congressos anuais, sendo o primeiro realizado, em 2003, no Rio de Janeiro.
No ano seguinte, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sediou
o II Encontro de História da Mídia e, a partir daí, sem qualquer interrupção,
todos os anos os pesquisadores sabiam que tinham um encontro anual marcado
em torno do pragmatismo utópico da ALCAR. Foram seis os encontros anuais
realizados até a constituição formal da instituição, em 2008: em 2003, na UERJ
e na Univercidade, no Rio de Janeiro, o seguinte em Santa Catarina (UFSC),
seguido dos encontros de Novo Hamburgo (Feevale), São Luis (AMI), São Paulo
(Casper Líbero) e Niterói (UFF).
Assim, do objetivo inicial de “desenvolver ações públicas destinadas a
comemorar os 200 anos de implantação da imprensa no Brasil”, a partir do
desejo de centenas de pesquisadores que se filiavam a rede ano após ano, foi
constituída em 2008 a Associação Brasileira de Pesquisadores de História da
Mídia, que manteve como sigla complementar ao nome, ALCAR. Essa marca
indica a vinculação aos propósitos da Rede de Pesquisadores que deu início a uma
utopia que se transformou em ações orgânicas no sentido de construir reflexões
críticas conceituais duradouras em torno dos processos históricos dos meios de
comunicação no Brasil.
Convém relembrar a plataforma original da Rede Alfredo de Carvalho
(ALCAR). Além do objetivo de “contribuir para o avanço da mídia impressa no
novo século, de forma integrada com a mídia eletrônica e a digital, tornando-a
patrimônio coletivo do povo brasileiro”, tinha como motivação principal “alavancar
iniciativas capazes de converter a imprensa em instrumento civilizatório”. A partir
do conhecimento dos processos históricos dos meios de comunicação poder-se-ia
“sociabilizar seus benefícios culturais por toda a sociedade” e não apenas entre
os que são nominados como elites, “como vem ocorrendo historicamente nos
dois primeiros séculos de sua existência em território nacional”4. O objetivo de
reflexão profunda sobre os processos históricos de um passado longínquo ou mais
recente com a intenção de, pelo conhecimento, produzir ações duradouras na
sociedade brasileira era (e é) a marca mais emblemática da Associação.
Além do programa de estudos, através de pesquisas desenvolvidas em
todo o país, refazendo, aprofundando e atualizando as pesquisas históricas dos
meios de comunicação no Brasil, a ALCAR mantém, também, desde o início,
amplo programa de eventos, com a realização não só dos encontros anuais, mas
de simpósios, colóquios e outras iniciativas destinadas a fortalecer a identidade
da imprensa brasileira. Faz parte ainda das ações da instituição a publicação de
4 Cf. Plataforma da Rede Alfredo de Carvalho. In: http://comunicacao.feevale.br/redealcar/index.
php?option=com_content&view=article&id=59&Itemid=66. Acesso em 20/05/2010.

205
ALCAR: a história de um “pragmatismo utópico”

“reedição de coleções, livros raros e outras peças, potencializando os recursos das


tecnologias digitais e contribuindo para a difusão do conhecimento estocado
sobre a memória da imprensa brasileira”.
Constitui-se em momento fundador dessas ações, a organização dos quatro
volumes dos “personagens que fizeram história” e que, inicialmente, foram
publicados como encarte na Revista Imprensa, durante todo o período que
antecedeu o bi-centenário da implantação da imprensa no Brasil5. Destacam-
se também edições de livros conjuntos organizados no interior dos Grupos de
Trabalho da Associação, mostrando claramente a ampliação e sedimentação das
pesquisas históricas em torno dos meios de comunicação no Brasil6.
Depois da constituição da ALCAR como associação, as ações têm se voltado
para sedimentar as pesquisas em torno da temática histórica e fomentar estudos
integrados, de forma a construir pesquisas duradouras e reflexões em torno de
generalizações históricas, indispensáveis para esta área de estudos. A regionalização
das ações da ALCAR, a constituição de núcleos de pesquisas integradas e a
realização de uma pesquisa verdadeiramente integrada a nível nacional sobre
processos históricos fundadores da mídia no país (Projeto “A Imprensa antes da
Impressão”) são ações no sentido de solidificar uma Associação que possui, no
final da primeira década do século XXI, apenas dois anos de constituída. Jovem,
nascida de uma utopia, quer continuar fazendo do pragmatismo utópico lugar de
produção de reflexões duradouras em torno de processos históricos que, falando
do passado, informam muito das práticas e valores de uma comunicação que se
volta, sempre, para o futuro.

5 MELO, José Marques de (organizador). Imprensa brasileira: personagens que fizeram história. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; São Brnardo do Campo, SP; Universidade Metodista de São Paulo.
Vol. 1 (2005). Vol. 2 (2005), Vol. 3 (2008) e Vol. 4 (2009).
6 Merece ser mencionado os quatro volumes organizados pelo GT de Publicidade e Propaganda, em torno das
reflexões sobre a história da publicidade no Brasil, bem como o livro organizado pelo GT de Mídia Sonora:
Klöckner, Luciano e Prata, Nair (Orgs.) HISTÓRIA DA MÍDIA SONORA Experiências, memórias e afetos de
Norte a Sul do Brasil, sob a forma de e-books, publicado pela EDIPUCRS, 2009, bem como MOURA, Claudia
(organizadora). História das Relações Públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.

206
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Marialva Carlos Barbosa1

Introdução2
Os estudos enfocando a historicidade dos meios de comunicação têm se
complexificado de forma acentuada, sobretudo, a partir do último decênio do
século XX. Ainda que possamos identificar uma longa tradição, sobretudo no
que diz respeito à história da imprensa, dos impressos e do jornalismo em geral,
a multiplicação dos processos comunicacionais nas últimas décadas acentuou a
necessidade de reflexões mais pontuais em torno dos meios eletros-acústicos e
digitais3.
Por outro lado, há que se considerar ainda que só recentemente os estudos
de história da mídia deixaram de considerar uma dinâmica linear para a análise
histórica dos meios de comunicação. Se durante o século XIX e boa parte do
século XX, dominaram as análises a perspectiva de uma história que pretendia
resgatar a integralidade do passado e, muitas vezes, limita-se a descrever práticas
desenvolvidas pelos atores sociais dominantes, observa-se gradativamente outro
direcionamento das análises, como procuraremos mostrar nesse texto.
Como quando nos referimos à história da mídia, estamos enfocando
complexos processos comunicacionais que dizem respeito ao jornalismo, às
mídias impressas em geral, às mídias visuais, audiovisuais, digitais e também
a uma reflexão historiográfica (envolvendo a dimensão teórica e metodológica
desses estudos) dos meios de comunicação, dividimos esta exposição em duas
etapas.
Na primeira parte vamos, mapear brevemente a tipologia dos estudos
históricos dos meios de comunicação, a partir dos 1183 trabalhos apresentados,
desde 2004, nos Congressos Anuais da Rede ALCAR, hoje, Associação Brasileira
dos Pesquisadores de História da Mídia. A partir desse diagnóstico numérico,
procuraremos enunciar os principais focos de pesquisa da área, a análise das
temáticas dos estudos históricos dos meios de comunicação, apresentando,
enfim, as tendências observadas no decênio 2000-2010. Num segundo momento
identificaremos os pesquisadores, descrevendo brevemente a comunidade
1 Presidente da Rede ALCAR.
2 Agradecemos os relatórios produzidos por Karina Woitowicz e Rozinaldo Antonio Miani (Mídia Alternativa);
Maria Berenice da Costa Machado (Publicidade e Propaganda); Claudia Moura (Relações Públicas); Ana Re-
gina Rego e José Ferreira Jr (Mídia Impressa); Luciano Klöckner (Mídia Sonora) e Valquíria Kneipp e Iluska
Coutinho (Mídia Visual e Audiovisual), sem os quais não teria sido possível a construção desse texto.
3 Sobre a longa tradição dos estudos históricos dos meios de comunicação, particularmente no que diz respeito
aos meios impressos cf. o prefácio de Marco Morel, em BARBOSA, Marialva. História Cultural da Imprensa
(1800-1900). Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.

207
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

acadêmica envolvida com os estudos históricos dos meios de comunicação e as


instituições a que pertencem. E, finalmente, apresentamos uma reflexão a partir
desse diagnóstico, indicando as carências e que ações devem ser propostas para
fazer avançar o conhecimento teórico-conceitual em torno dos estudos históricos
da comunicação.

Diagnóstico em números
O primeiro Quadro (I), meramente quantitativo, indica o interesse crescente de
algumas áreas de estudos – como Mídia Impressa, Alternativa e Mídia Visual e
Audiovisual – e deixa evidente também a sedimentação, em termos numéricos,
de estudos em torno da história do Jornalismo, da história da mídia sonora e
da publicidade e propaganda, os que apresentaram, durante todo o período,
constância em termos de números de trabalhos apresentados nos Congressos.
Enquanto em Jornalismo, há uma média de 40 trabalhos apresentados em cada
um dos Congressos - com duas exceções, o menor número (29) no Congresso
de Santa Catarina, em 2004, e o maior número, no Congresso de Niterói, em
2008 (69) -, em Mídia Sonora obteve-se a média histórica de 30 trabalhos por
congresso. Já o GT Publicidade e Propaganda possui média histórica de 20
trabalhos por congresso (exceto, o Congresso de Niterói, que foi atípico).

Quadro I - Total de trabalhos apresentados

GTS 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 TOTAL


Impressa 17 20 22 22 10 33 34 158
Jornalismo 40 29 38 41 44 69 42 303
Visual e Audiovisual - - 16 11 18 39 38 122
Sonora 24 29 21 24 37 31 166
Digital - 5 13 8 11 28 18 83
Publicidade/Propaganda 13 14 20 18 20 43 23 151
Alternativa - - 10 15 11 27 19 82
RP 8 12 7 4 11 - 42
Midiologia - - 17 13 10 17 12 69
Total 70 100 177 156 152 304 217 1183
Obs: 1) O grupo de Mídia Alternativa só foi instituído a partir de 2005. O GT de Publicidade e Propaganda
existiu com esta denominação de 2004 a 2008. Em 2003, denominava-se Mídia Persuasiva. Em 2009,
com a fusão dos GTs História da Publicidade e História das Relações Públicas, passou a ter nome História
da Comunicação Persuasiva e Institucional. 2) Não apresentamos os resultados referentes ao I Encontro
de Pesquisadores, realizado no Rio de Janeiro, entre 1 e 5 de junho de 2003, pois tivemos acesso a um
pequeno número de trabalhos então apresentados. Como foram pouco mais de 70 trabalhos em todos
os grupos, a falta desses dados não altera o diagnóstico. 3) O GT Jornalismo passou a existir de maneira

208
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

autônoma a partir do II Encontro. No I Encontro havia apenas o de Mídia Impressa, englobando pesquisas
históricas de jornais, rádio e livro. 4) Ainda que os trabalhos de Mídia Visual e Audiovisual tenham sido
apresentados em separado, agrupamos no quadro os dois grupos, que a partir de 2008 passaram a
constituir um único GT. 5) No I Encontro não havia o GT de Midiologia que só foi criado em 2005. 6) No
I Encontro haviam seis grupos, assim constituídos: Mídia impressa (Jornal, Revista, Livro), Mídia Sonora
(Rádio, Disco), Mídia Visual (Fotografia, HQ, Cartazes), Audiovisual (Cinema, Televisão), Mídia Digital
(Web e NTCs), Mídia Persuasiva (Publicidade e RP).

No Quadro I, pode-se notar igualmente o crescimento do número de


trabalhos desde o III Encontro, realizado em Novo Hamburgo - RS, mostrando
uma espécie de represamento das discussões em torno da temática História da
Mídia, em todas as suas possibilidades. Mesmo grupos menores, como Midiologia
ou RP, mostraram certa constância – ainda que o número de trabalhos fosse menos
expressivo – em termos de discussões nos congressos anuais. A demanda menor
de pesquisadores nessas duas áreas levou a integração do Grupo de RP no de
Comunicação Persuasiva e Institucional, englobando Publicidade e Propaganda,
Relações Públicas e Comunicação Organizacional.
O mapeamento de 1183 trabalhos de pesquisadores de todas as regiões
brasileiras, representando também a quase totalidade dos programas de pós-
graduação em Comunicação do país, deixa evidente a importância dos estudos
em torno das práticas e processos históricos midiáticos na área de comunicação
no Brasil, fornecendo material teórico-conceitual e empírico de importância
considerável.
O Quadro II é bem mais representativo para um diagnóstico dos focos de
pesquisa e para a análise das tendências observadas no decênio. Complementado
pela análise das temáticas enfocadas nos textos (Ver Quadros III – A a I), resultado
a maioria das vezes de pesquisas empíricas, apresentados nos encontros anuais dos
pesquisadores, fornece um mapa operacional dos estudos da área.
Observamos, em primeiro lugar, a ampla supremacia da pesquisa empírica,
como meio fundamental para o desenvolvimento dos estudos, o que, a nosso
ver, resulta da própria natureza dessas pesquisas: focadas em estudos de
caso, envolvendo um veículo, uma instituição, um personagem localizável
historicamente; ou concentradas em períodos claramente demarcados em torno
de práticas midiáticas qualificadas como pertencendo a um dado passado. Dos
1183 trabalhos, aproximadamente, 70% foram classificados como resultado
de pesquisa empírica, contra 30% predominantemente enfocando estudos de
natureza teórica.
Observando mais detalhadamente os números dos quadros a seguir (II e II
A), nota-se, como exceção em relação aos demais grupos, a natureza dos trabalhos
de Mídia Digital apresentar resultados não advindos necessariamente de análises
empíricas, sendo objetos muitas vezes de impressões reflexivas, tendo como foco

209
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

igualmente a característica presentista dessas análises.


No que diz respeito aos estudos de Publicidade/Propaganda observa-se
paridade entre esses dois universos de análise: 72 trabalhos de natureza teórica
e 73 trabalhos decorrentes de análises empíricas. Merece atenção também a
inconteste supremacia das análises decorrentes de pesquisa empírica nos estudos
de Jornalismo (231), Mídia Sonora (160), Mídia Impressa (103) e Mídia
Alternativa (75).

Quadro II - Natureza da Pesquisa - Teórica

GTS 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 TOTAL


Alternativa - - - - - 07
Digital - 2 8 1 7 11 7 36
Impressa - 1 - - - 4 8 13
Jornalismo - 10 2 1 4 7 4 28
Midiologia - - 7 7 4 9 4 31
Publicidade/Propaganda 4 8 7 6 9 18 20 72
RP - 38
Sonora - 1 1 2 1 1 0 06
Visual e Audiovisual - 3 6 9 19 4 41
TOTAL 235

Quadro IIA- Natureza da Pesquisa-Empírica

GTS 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 TOTAL


Alternativa - - - - - 75
Digital - 3 5 7 4 17 11 47
Impressa 19 22 22 10 4 26 103
Jornalismo 19 36 40 40 62 34 231
Midiologia - - 10 6 6 8 8 38
Publicidade/Propaganda 9 6 13 12 11 25 14 73
RP 22
Sonora - 23 28 20 22 36 31 160
Visual e Audiovisual 13 5 9 20 14 61
TOTAL 772
Obs.: Dois GTs apresentaram o resultado agrupado pelo total (RP e Mídia Alternativa), razão pela qual
não reproduzimos a quantificação por ano.

210
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Nas pesquisas que envolvem análises empíricas, destacam-se os chamados


estudos de caso: a maioria foca preferencialmente um veículo de comunicação,
uma instituição (emissora de rádio, emissora de televisão, uma universidade,
um curso, etc.). A análise das temáticas mostra também a supremacia de focos
demarcados pela natureza dos objetos de pesquisa: jornais, emissoras de rádio,
cinema, documentário, fotografia, etc. Gradualmente, observa-se que questões
mais holísticas começam a ter certa supremacia: memória, identidade, minorias,
resistência, estratégias, política, etc. Ou seja, de maneira geral e esquemática,
podemos dizer que as pesquisas dos processos históricos midiáticos são
demarcadas, sobretudo, pela natureza do veículo/instituição analisada, mas que,
cada vez mais, a partir de marcos teórico focais procura-se interpretar processos
mais abrangentes.
Apresentamos, a seguir, o levantamento das temáticas das pesquisas
apresentadas nos Encontros anuais, divididas por Grupos de Trabalhos. A partir
da análise desses quadros algumas conclusões a cerca da perspectiva dos estudos
da área se sobressaem4.

Quadro III (A) - Temática – Mídias Alternativa (82)

Número de trabalhos
Comunicação comunitária/independente/contra-hegemônica 26
Resistência à ditadura 19
Minorias sociais 15
Radiodifusão comunitária 10
Trabalhos conceituais 5
Aproximações temáticas 4
Trabalhos biográficos 2
Experiência acadêmica 1

4 Os quadros apresentam configurações um pouco díspares, uma vez que usamos a sistematização feita por cada
coordenador dos Grupos de Trabalho (GTs).

211
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Quadro III (B) - Temática – Mídia Digital (83)

2004 2005 2006 2007 2008 2009 TOTAL


Linguagens 1 2 1 1 3 8
Cultura do Ciberespaço 3 5 3 11
Jornalismo 3 5 4 1 4 4 21
TV Digital/Vídeo 1 1 1 3 6
Games 2 4 6
Rádio Digital 1 1
Marketing/Publicidade/
Com. Organizacional 1 2 2 4
Redes Sociais 4 1 5
Blog 1 1 2
Twitter 2 2
Ensino 1 1
Política 2 1 3
Inclusão Digital 2 3 5
Portais 1 1
CD Room 1 1
Outros 2 2

Quadro III (C) - Temática – Mídia Impressa (158)

Processos Gráficos e Redacionais Processos Históricos Processos Espaço/Temporal

Artes gráficas 4 Censura 7 Imprensa Regional 65


Design gráfico 4 Gênese 10 Imprensa Partidária 2
Desing da notícia 4 Anti-Comunismo 1 Imprensa Nacional 2
Livro reportagem 1 Nazismo 1 Revistas Nacionais 8
Sensacionalismo 1 Imprensa Internacional 2
Fotojornalismo 2 Imprensa Esportiva 1

Anúncios Classificados 1 Imprensa Infanto- 1


Juvenil
Gêneros Jornalísticos 2 Estudos Jornalismo 15
Imprensa Feminina 1
Imprensa e Educação 1

212
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Tal como os trabalhos de Mídia Impressa, também nos de Jornalismo


sobressaem-se os estudos de caso, que, no que diz respeito às análises históricas,
são extremamente importantes, já que só podemos passar às generalizações
depois de estabelecer marcos que se refiram a momentos/produções específicas.
Mais de uma centena de veículos de comunicação (jornais, revistas, emissoras de
rádio, de televisão, etc.) foi estudada por uma centena de pessoas que, de fato, se
constituíram numa rede de pesquisadores dos processos históricos da comunicação.
O avanço das reflexões e a densidade das análises também são flagrantes nesses
estudos. Se somarmos as duas categorias nas quais as análises particularistas dão
oportunidades para as futuras generalizações indispensáveis, temos 93 trabalhos
dessa natureza (71 de caráter regional e mais 22 estudos enfocando personagens
da história da mídia – jornalistas, donos de publicações, etc.).
Há que se referir ainda, no que diz respeito aos estudos de Jornalismo, ao
avanço das reflexões em torno das práticas profissionais, das rotinas produtivas,
da chamada identidade profissional (35 trabalhos) e o declínio gradual das
pesquisas que, focando os discursos/coberturas da imprensa realizados num
tempo considerado passado, acreditavam estar realizando estudos de natureza
historiográfica dos meios. Essa tendência parece configurar um processo de
amadurecimento dos estudos históricos da área, no qual a questão das coberturas
e a caracterização discursiva da imprensa cedem lugar às análises que visualizam
os processos comunicacionais e os sistemas de comunicação em toda a sua
complexidade.

Quadro III (E) - Temática – Midiologia (69)

2005 2006 2007 2008 2009 TOTAL


Fronteiras/Globalização 1 1 2
Mídia Regional 1 4 1 5
Personagens 3 3 6 5 17
Televisão 1 1 3 3 8
Produção Científica 1 1
Jornalismo 2 2 1 5
Linguagem/Discurso 1 1 1 2 2 7
Instituições de Ensino/Pesquisa 2 1 3
Revistas Acadêmicas 1 1
Censura 4 4
Outros 4 1 2 4 3 14

213
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

O quadro anterior reproduz um pouco a tendência dos estudos de midiologia


quando inseridos num contexto cuja perspectiva de análise é dominantemente
histórica. Nesse viés, destacam-se as reflexões em torno de personagens que
construíram com ações educacionais e/ou profissionais históricas em torno de
instituições de comunicação. Assim, ao lado de uma pulverização temática, as
pesquisas do grupo concentram-se, sobretudo, em torno da análise de personagens
singulares

Quadro III (F) - Temática – Publicidade e Propaganda (168)

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 TOTAL


Estratégias 3 3 7 6 3 11 6 39
Mídias 1 4 4 5 3 10 10 37
Publicitários e Agências 1 0 4 2 4 5 3 19
Ensino 1 1 0 0 0 4 6 12
Propaganda Política 9 5 4 2 7 4 3 34
Questões Contempo- 2 1 1 3 3 9 8 27
râneas

Quadro III (G) - Temática – Relações Públicas (42)

ANO Temática A Temática B


Reflexões e Ações de Relações Ensino e Formação de Relações
Públicas Públicas
2004 4 4
2005 6 6
2006 3 4
2007 4 --
2008 9 2
Total 26 16

Os dois quadros anteriores, apresentando as temáticas mais recorrentes dos


GTs de Publicidade e Propaganda e Relações Públicas, mostram igualmente um
avanço das reflexões da história da mídia nesses segmentos em torno de processos
históricos delimitados por questões teórico-metodológicas envolvendo dois
grandes eixos temáticos: práticas e processos históricos das ações de propaganda/
relações públicas e reflexões em torno do ensino e da formação dos profissionais.
Tanto no primeiro, quanto no segundo grupo destacam-se os chamados estudos
de caso, envolvendo a análise de agências, instituições, estratégias, personagens
que fizeram essa história.

214
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Quadro III (H) - Temática – Mídia Sonora (166)

2009 2008 2007 2006 2005 2004 TOTAL


1.TEMÁTICAS 31 artigos 37 artigos 24 artigos 21 artigos 29 artigos 24 artigos 166
1.1 Educação no rádio 4 2 2 2 1 - 11
1.2 Memória do rádio 9 20 8 11 10 9 67
1.3 Perfil de personagens 3 5 2 1 2 - 13
radiofônicos
1.4 Música no rádio/ 1 4 2 - 3 - 10
indústria fonográfica
1.5 Política/Propaganda 2 1 2 2 2 1 10
no rádio
1.6 Comunicação pública 4 - - - - - 4
radiofônica
1.7 Religião e rádio 1 - 2 - - 2 5
1.8 Tecnologia e o rádio 6 - 1 - - - 7
1.9 História oral/rádio - 1 - - - - 1
1.10 Audiência no rádio - 1 - - - - 1
1.11 Linguagem - 2 - - - - 2
radiofônica
1.12 Publicidade no rádio 1 - 2 - - - 3
1.13 Gênero no rádio - - 1 - - 1 2
(mulher/criança)
1.14 Rádio e jornalismo - - 2 - 3 1 6
1.14 Rádio e sociedade - - - 1 - 1 2
1.15 Censura no rádio - - - 3 1 - 4
1.16 Mediação cultural - - - 1 - - 1
no rádio
1.17 Construção da - - - - 1 - 1
identidade
1.18 Recepção - - - - 1 - 1
1.19 Rádio e - - - - 1 - 1
desenvolvimento
1.20 Rádio e a II Guerra - - - - 3 3
1.21 Rádio e a - - - - 1 1
interatividade
1.22 Futebol e o rádio - - - - 1 1 2
1.23 Suicídio de Getúlio - - - - - 8 8
Vargas e o rádio

215
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Quadro III (I) - Temática – Audiovisual/Visual (122)

2005 2006 2007 2008 2009


Cinema Cinema Animação 2D/ 3D Adaptação Artes visuais,
Comunicação Espaço público Cinema Cineclubes Audiovisual,
católicos Biblioteca Nacional,
Cultura Identidade Comunicação
Cinema Cinema,
Documentário Jornalismo Documentário
Comunicação Comunicação,
Educação à Memória Educação
distância Cultura Constituição de
Nazismo Efeitos Visuais
1988,
HDTV Democratização
Política Fantasia medieval
da comunicação Dança
Identidade
sociedade História em contemporânea,
regional Documentário
quadrinhos
Televisão Divulgação
Internet Educação
Iconografia Científica,
Interatividade Identidade
Linguagem verbal Ditadura militar,
Língua e não-verbal Imprensa
Documentário,
Portuguesa
Políticas de Interculturalidade
Entretenimento,
Memória comunicações
Literatura
Fotografia,
Programação Técnicas de Brasileira
local Animação Homossexualidade,
Memória
Televisão Televisão Humor,
Narrativa ficcional
televisiva IPTV,
Qualidade da TV Jornalismo,
Reality Show Melodrama,
Televisão Memória,
Videodança Neo-realismo,
Videorreportagem Poder Político,
Produção de
Sentido,
Reality show,
Televisão,
Web 2.0

216
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Os dois últimos quadros – referentes à temática de Mídia Sonora e de


Mídia Visual e Audiovisual – sedimentam, de certa forma, as análises que fizemos
anteriormente sobre as tendências dos estudos em história da mídia. Se, por
um lado, é possível observar aparente dispersão temática, por outro, um olhar
mais acurado revela a tendência das pesquisas em concentrar-se em torno de
duas grandes linhas de análise: a memória histórica dos meios de comunicação
e a construção de perfis dos personagens chaves agentes dessa história. É assim
que no grupo de Mídia Sonora registra-se dos 166 trabalhos apresentados, 67
enfocando diretamente a memória do rádio. Em segundo lugar, aparecem os
perfis dos personagens radiofônicos (13).
Em Mídia Visual e Audiovisual também não é diferente: a televisão e o
cinema assumem a dianteira temática, seguida de diversas outras expressões
audiovisuais que são analisadas, na maioria das vezes, sob a forma metodológica
dos estudos de caso, que, como já enfatizamos, se constitui numa espécie
de marca indicial dos estudos de história da mídia nesta primeira década de
constituição da Rede de Pesquisadores de História da Mídia. Devemos agora,
ultrapassar essa fase, corrigindo uma carência fundamental, decorrente do ainda
incipiente desenvolvimento de pesquisas integradas. Só em 2009 foi realizada a
primeira pesquisa verdadeiramente integrada da Rede, desenvolvida pelo Grupo
de Mídia Sonora, e coordenado por Nair Prata, inventariando e mapeando as
rádios existentes em 28 regiões metropolitanas brasileiras.

Quem é quem nesse universo


A Rede de Pesquisadores de História da Mídia reúne professores, alunos e
pesquisadores de todas as regiões do país, de uma centena de universidades
brasileiras e de praticamente todos os programas de pós-graduação em
Comunicação do Brasil.
Evidentemente, que algumas regiões detêm a supremacia da pesquisa,
enquanto outras se destacam pela formação de grupos orgânicos que
sistematicamente e, nos últimos anos, de maneira mais integrada realizam
pesquisas em torno dos múltiplos processos históricos envolvendo os meios de
comunicação.
Apresentamos a seguir quadros e gráficos que sistematizam a participação
dos pesquisadores tanto nos Encontros Anuais, como nos Regionais, e nas
pesquisas desenvolvidas sob a égide dos Coordenadores dos Grupos de Trabalho.
Evidentemente, fora esses pesquisadores, que constituem o núcleo mais dinâmico
da Associação e da Rede de Pesquisadores de História da Mídia, há outros que,
eventualmente, participam das ações.

217
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Coordenadores dos Grupos de Trabalho (2004-2010)


Nome Instituição GT Período
Adolpho Queiroz UMESP/Mackenzie Publicidade e 2003-2007
Propaganda
Ana Baumworcel UFF Mídia Sonora 2004-2007
Ana Paula Goulart UFRJ Jornalismo 2008-2011
Ribeiro
Ana Regina Rego UFPI Impressa 2009-2011
Antonio Brasil UERJ Mídia Digital 2003
Claudia Moura PUC RS Relações Públicas 2004-2008
Cristiano Max P. FEEVALE Mídia Digital 2009-2011
Pinheiro
Iluska Coutinho UFJF Audiovisual/Visual 2009-2011
José Amaral Argolo UFRJ Midiologia 2005
José Ferreira Jr UFMA Impressa 2009-2011
José Marques de Melo Cátedra UNESCO/ Midiologia 2004-2005
(*) UMESP/INTERCOM
Karina Woitowicz UEPG Alternativa 2005-2008
Luciano Klöckner PUC RS Mídia Sonora 2009-2011
Luis G. Tavares NEHIB Mídia Impressa 2004-2008
Maria Berenice da UFRGS Publicidade e 2008-2011
Costa Machado Propaganda
Marialva Carlos UFF Jornalismo 2003-2007
Barbosa
Marlene Blois UNICARIOCA Audiovisual 2003
Nair Prata UNI BH Mídia Sonora 2009-2011
Robson Bastos UNITAU Mídia Visual 2005-2008
Rosa Maria Ferreira Midiologia 2004-2009
Nava
Rozinaldo Antonio UEL Alternativa 2009-2011
Miani
Ruth Vianna UFMT Audiovisual 2006-2008
Sonia Luyten UNISANTOS Visual 2003-2004
Sonia Virginia Moreira UERJ Midia Sonora 2003
Valquíria Kneipp UFRN Audiovisual/Visual 2009-2011
Walter Teixeira Lima Jr Cásper Libero Mídia Digital 2004-2008
Obs. (*) José Marques de Melo, criador da Rede, foi também coordenador geral dos Grupos e de todos
os Congressos até 2008.

218
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Para melhor caracterização da comunidade acadêmica participante da


Associação, apresentamos a seguir indicadores da dimensão quantitativa do grupo
de pesquisadores mais atuante, organizado numericamente, inicialmente, por
Regiões e depois por Instituições parceiras. Há que se acrescentar também que
a Rede ALCAR é constituída de diversos Núcleos Regionais, também listados a
seguir.

Instituições por Região

Sudeste
Nordeste
Sul
Norte

Os pesquisadores da ALCAR aglutinam-se além dos Grupos de Pesquisa,


também, por Núcleos Regionais. São os seguintes os Núcleos Regionais (NE) da
ALCAR:
1. Núcleo de Alagoas – coordenado pela prof. Rossana Gaia (CEFET-AL)
2. Núcleo da Bahia – coordenado pelo prof. Luiz Guilherme Pontes Tavares
(NEHIB)
3. Ceará – coordenado pela prof. Erotilde Honório (UNIFOR)
4. Rio Grande do Norte – coordenado pelas professoras Maria Érica
(UFRN), Valquíria Kneipp (UFRN) e Maria Angela Pavan (UFRN)
5. Campina Grande – liderado pelo prof. Luis Custódio (UEPB)
6. Maranhão – em Imperatriz, coordenado por Roseana Pinheiro (UFMA –
campus Imperatriz) e em São Luiz, coordenado por José Ferreira Jr (UFMA)
7. Piauí – coordenado por Ana Regina Leal (UFPI) e Samantha Castelo
Branco (UFPI
8. Rondônia – coordenado pelo prof. Edileuson Almeida (UNIRON)

219
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

9. Juiz de Fora- coordenado pela prof. Iluska Coutinho (UFJF)


10. Belo Horizonte – coordenado pela prof. Sandra Freitas (PUC Minas)
11. Vitória – coordenado pela prof. Jussara Brittes (UFES/UFOP), Hérica
Lene (UFES) e José Antonio Martinuzzo (UFES)
12. Viçosa – coordenado pela prof. Kátia Fraga (UFV)
13. Ouro Preto – coordenado pela prof. Nair Prata (UFOP)
14. São João Del Rei – coordenado pelo prof.
15. Santa Catarina – coordenado pelo prof. Francisco Karam (UFSC)
16. Paraná – Curitiba, coordenado pela prof. Cláudia Quadros (UTP);
Ponta Grossa – coordenado pelo prof. Sérgio Gadini (UEPG) e Karina
Woitowicz (UEPG); Guarapuava – coordenado pelo prof. Márcio Fernandes
(UNICENTRO) e pela prof. Ariane Pereira (UNICENTRO)
17. Rio Grande do Sul – coordenado pelas professoras Maria Berenice Costa
Machado (UFRGS) e Claudia Moura (PUCRS)
18. Rio de Janeiro – coordenado por Joëlle Rouchou (FCRB e
UNICARIOCA) e por Esther Bertoletti (IHGB). Destaca-se também no Rio
de Janeiro a participação do Grupo de Pesquisadores de Mídia, Memória e
História, integrado por professores, graduandos, mestrandos e doutorandos
da UFRJ, além de egressos, e da UFF (Ana Paula Goulart Ribeiro, Marco
Roxo, Igor Sacramento, Danielle Ramos Brasiliense, Letícia Cantarela
Matheus, Silvana Louzada, Hérica Lene, José Antonio Martinuzzo, Cássia
Louro Palha, Renata Rezende, Bruno Fernando Castro, Fernanda Lima
Lopes, Márcio Castilho, entre outros).
19. São Paulo – coordenado pelas professoras Gisely Hime (UNIFIAM),
Angela Shawn (Mackenzie), Adolpho Queiroz (UMESP), Ciça Guirado
(UNIMAR), Graças Caldas (UNICAMP).
No que se refere às parcerias internacionais, a Rede ALCAR desenvolve
ações de cooperação com as seguintes instituições:
EUROPA
1. Université Versailles;
2. EHESS (Paris)
3. Universidade Fernando Pessoa (Porto)
AMÉRICA CENTRAL E LATINA
1. Universidade de Córdoba

220
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

2. Universidade de Buenos Aires


3. Universidade do México
4. Pontifícia Universidade Católica do Peru.
Do ponto de vista das parcerias nacionais, mantemos cooperação com as
seguintes instituições: Intercom; Socicom; Globo Universidade; Cátedra Unesco/
UMESP para o Desenvolvimento Regional; Cátedra FENAJ; Revista Imprensa;
Associação Maranhense de Imprensa (AMI); Instituto Histórico e Geográfico do
Brasil (IHGB); Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (NEHIB); Biblioteca
Nacional (FBN); entre outros.
Do ponto de vista da recorrência de pesquisadores em todas as edições
nacionais dos Congressos da ALCAR, mapeamos, ainda, as instituições que mais
se fizeram representar nesses oito anos de funcionamento da Rede (Anexo I). Mais
uma vez observamos o predomínio dos pesquisadores da Região Sudeste, seguidos
dos da Região Sul, em decorrência, sobretudo, da supremacia das pesquisas pós-
graduadas nessas duas regiões.

Considerações Finais
Deixamos para as últimas linhas desse texto algumas reflexões sobre o que, no
nosso entendimento, podem ser consideradas carências nos estudos envolvendo
a dimensão histórica dos meios de comunicação e as ações que a ALCAR pode
desenvolver no sentido de avançar essas reflexões.
Em que pese o crescimento expressivo das pesquisas, dos evidentes avanços
teóricos e metodológicos, observa-se ainda a carência de reflexões conceituais mais
globais sobre períodos, processos, meios de comunicação. Com isso, a pesquisa
apresenta-se, ainda, de forma fragmentada, o que impede, em certa medida,
maior complexificação das análises.
É, portanto, necessária a implantação de ações no sentido de construir
Núcleos Regionais fortes que, de maneira integrada, promovam pesquisas
também integradas sob temáticas pouco exploradas do ponto de vista das análises
conceituais.
A regionalização das ações da ALCAR, a constituição de núcleos de pesquisas
e a realização de pesquisas temáticas, com a participação de todas as regiões do país
são algumas das ações não apenas para solidificar a Associação, mas, sobretudo,
os estudos históricos sobre a mídia no Brasil. A primeira pesquisa desta natureza,
sobre as rádios de 21 regiões metropolitanas brasileiras foi realizada pelo GT
de Rádio. A segunda – A imprensa antes da Impressão – será realizada a partir
do início de 2011, sob a coordenação geral da Diretoria Científica da ALCAR.

221
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Há também uma necessidade premente de dar maior visibilidade às pesquisas


que vêm sendo realizadas, seja através de ações pontuais (divulgação através do
site da Rede, reimplementação do Jornal da ALCAR, etc.), ou mais duradouras
(dinamização do site, criação de revista científica on-line, produção de livros
temáticos, tal como já faz, por exemplo, o GT de Publicidade e Propaganda que
já editou três livros dessa natureza).
A contigüidade com outros campos de saberes – notadamente a história – o
que leva a uma natural aproximação com pesquisadores desta área das Ciências
Humanos, por outro nos obriga a sedimentar nossos referenciais teóricos e
metodológicos de análise, para que possamos ter reconhecido o nosso lugar de
pesquisadores históricos da mídia, não abandonando a idéia de que a troca de
conhecimento entre os dois campos é fundamental. Nesse sentido, a participação
freqüente e sistemática de pesquisadores oriundos da história tem enriquecido
as discussões nos grupos. Assim, no nosso entendimento, torna-se fundamental
a institucionalização dessas parcerias, fazendo do campo de estudos de história
da mídia um lugar de participação plural, com a necessária multiplicidade de
olhares, sem que percamos a liderança do processo.
Detentora do universo do chamado tempo presente para as suas análises, que
se realizam em concomitância com a vida que se desenvolve em processos cada
vez mais complexos, nos quais as ações de comunicação assumem protagonismo
inconteste, os estudos de Comunicação não valorizam, de maneira geral, a
dimensão histórica. Há, portanto, que mostrar na própria área e para os nossos
próprios pares as razões da urgência da inclusão da dimensão histórica em nossas
análises. Não por mera questão de construção de um lugar de fala reconhecido
e validado, mas por acreditar que o entendimento de processos que se faz em
concomitância com o tempo da vida só pode ser compreendido numa dimensão
que é, sempre, histórica.

222
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Anexo I
Instituições mais presentes nas oito edições dos Congressos da ALCAR

Região Norte Região Centro Região Nordeste Região Sudeste Região Sul
Oeste MG/ES/RJ/SP PR/SC/RGS
UFT UFMT UFRN UNI-BH UEL
UNIRON UNB UFPI UFMG UNICENTRO
UFJF
UFMA UEPG
UFV
UFC UFSC
UFSJ
UNIFOR UVV UTP
UFPE FAESA ........................
UFPB UFOP FEEVALE
UNIPAC
FIB UFRGS
..................
CEFET-AL PUCRS
UFRJ
UEPB UFF UFSM
AMI UNICARIOCA UCS
UEMA UERJ São Borja
UNIRIO
UNICEUMA UPF
UNESA
Fac. São Luiz UCAM UNIVATES
FSD UCPel
..................
UNIMAR
UNIFIAM
UMESP
MACKENZIE
UNISANTA
UNITAU
FACASPER
UNIP
UNESP
PUCCampinas
IHGSP
USP
CIEESP
ABERJE

223
História da mídia no Brasil, percurso de uma década

Anexo II

Data/Local Congresso Instituições Promotoras


1-5/06/2003 I Encontro Nacional da Rede ABI, ABL, IHGB, ABECOM,
Rio de Janeiro Alfredo de Carvalho INTERCOM, UERJ e UniCarioca

15-17/04/2004 II Encontro Nacional da Rede Cátedra FENAJ - UFSC de


Florianópolis Alfredo de Carvalho Jornalismo
Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de Santa Catarina
UFSC
1-5/06/2005 III Encontro Nacional da Rede Centro Universitário FEEVALE
Novo Hamburgo, RS Alfredo de Carvalho
30/05-2/06/2006 IV Encontro Nacional de AMI, UNICEUMA, UFMA,
São Luís – MA História da Mídia Faculdade São Luis
30/05-2/06/2007 V Congresso Nacional de Faculdade Casper Líbero,
São Paulo – SP História da Mídia Centro de Integração Empresa-
Escola

13-16/05/2008 VI Congresso Nacional de Universidade Federal


Niterói – RJ História da Mídia Fluminense (UFF)
19-21/08/2009 VII Encontro Nacional de Universidade de Fortaleza
História da Mídia (UNIFOR)

ENCONTROS REGIONAIS – 2010

13-14/05/2010 I Encontro de História da Mídia Universidade Federal do Rio


Natal, Rio Grande do Norte Regional NE Grande do Norte - UFRN
12-13/05/2010 III Encontro de História da Pontifícia Universidade Católica
Porto Alegre, RGS Mídia RS do RGS – PUCRS
17-18/06/2010 I Encontro de História da Mídia UNICENTRO
Guarapuava, PR PR/SC
9-10/07/2010 I Encontro de História da Mídia Faculdade Santa Dorotéia, Nova
Nova Friburgo, RJ do RJ Friburgo
29-30/04/2010 I Encontro de História da Mídia Universidade Mackenzie
São Paulo, SP do Sudeste
7-8/10/2010 I Encontro de História da Mídia Universidade Federal de
Palmas, TO do Norte Tocantins - UFT

224
CAPÍTULO 12

Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado


profissional

Adolpho Queiroz1

Introdução
A redemocratização do Brasil, nos anos 1980, ensejou ao campo profissional e
acadêmico, no entorno da atividade político-comunicacional, um desenvolvimento
muito grande. Se antes dos dias mais difíceis da ditadura militar, era impossível
conjugar possibilidades de pesquisa e atividade profissional no campo, depois
dela, cresceu em interesse, proporção e competência, o espaço brasileiro de
observação, análise e inovação no campo da propaganda política.
A abertura política da década de 1980 trouxe consigo uma vida pluripartidária,
liberdade de imprensa e expressão em todos os veículos, bem como a necessidade
de profissionalização neste campo de atuação, fazendo surgir uma série de espaços
para a pesquisa, para o desenvolvimento profissional de jornalistas, publicitários,
relações públicas, cineastas, escritores e planejadores, que trouxeram para a
interface comunicação e política um nível de interesse acentuado.
Além de exportador de mão de obra qualificada para a realização de
campanhas eleitorais na América Latina, Europa e África, o Brasil possui hoje
um repertório acadêmico de excelente nível, por conta de suas ações no ensino
de graduação e nas pesquisas de pós-graduação. Vários cursos de Publicidade e
Propaganda – hoje são mais de 600 espalhados pelo país – possuem em sua grade
curricular, a disciplina “Propaganda Política”, onde seus alunos aprendem a realizar
campanhas eleitorais completas (briefing, planejamento, história do candidato e
da cidade onde ocorrerá o pleito, pesquisas de intenção de voto, agenda política e
mercadológica de uma campanha, legislação eleitoral, criação dos brindes gráficos
de uma campanha, produção de programas de rádio e televisão, planejamento de
mídia e dos custos de uma campanha).
Tais ações são desenvolvidas para o lançamento de campanhas municipais de
prefeitos e vereadores, tem apresentações públicas realizadas diante dos próprios
candidatos/clientes, que avaliam todos os aspectos técnicos e estéticos das peças e
discutem a viabilidade financeira dos exercícios propostos.
Em outras instituições, é comum os estudantes de graduação debruçarem-se

1 É pós-doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade Federal Fluminense e atualmente é o presidente


da Politicom.

225
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

sobre outras metodologias, como a análise de discurso e de conteúdo, para avaliar


de que forma jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, e sites na internet,
cobrem o dia-a-dia de um candidato, reforçando nestes estudantes, noções de
cidadania, de compromisso com a ética profissional e, sobretudo, fazendo uma
crítica à realidade política e comunicacional das cidades, Estados e do próprio
País.
A realização no Brasil de eleições a cada dois anos – para presidente da
República, senadores, deputados federais e deputados estaduais, num momento e,
de prefeitos e vereadores, no período seguinte, fez com que emergissem os estudos
de caso, análises sobre o comportamento dos candidatos diante da imprensa,
às críticas aos abusos do poder econômico e os exageros das alianças políticas
com a finalidade de ampliação da presença do candidato no horário eleitoral
de propaganda gratuita; a divulgação de pesquisas eleitorais, pelos institutos
apropriados ou por prestadores de serviços locais/regionais, deu ao campo, uma
tensão saudável para o exercício da comunicação como ferramenta necessária e
estratégica aos processos eleitorais.
Simultaneamente ao crescimento do ensino das noções do marketing
político em cursos de graduação em Publicidade e Propaganda pelo País, há
um avanço das contribuições oferecidas pelos programas de pós-graduação em
Comunicação, especialmente no desenvolvimento de teses, dissertações e artigos
científicos sobre esta temática.
Vale registrar os espaços para a difusão científica sobre comunicação e
política em diversas entidades científicas e profissionais, que realizam encontros
anuais pelo País, caso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação (Intercom) que através do núcleo de pesquisa sobre Publicidade
e Propaganda, tem aberto nos congressos anuais, espaços para apresentação de
comunicações científicas sobre o tema.
Em 2005, em conjunto com alunos do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da Universidade Metodista de São Bernardo (UMESP), foi debatido
um texto, construído coletivamente, mostrando “De Quintino Bocayuva a Duda
Mendonça: breve história dos marqueteiros políticos no Brasil republicano”,
posteriormente transformado em artigo para a revista Comunicação e Política,
editada em 2006 pela Universidade Fernando Pessoa, da cidade do Porto, em
Portugal.
A entidade co-irmã da Intercom na América Latina, a Associação Latino-
Americana de Pesquisadores de Comunicação (ALAIC), nos seus encontros bi-
anuais, também tem aberto espaços para este diálogo em dois GTs: em Publicidade
e Propaganda e no de Comunicação Política.
A Intercom, em colaboração com a Cátedra UNESCO de Comunicação
226
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

para o Desenvolvimento Regional, também apoiou a publicação do livro


“Marketing político brasileiro, ensino pesquisa e mídia”, em 2005, onde foram
reunidos parte dos artigos apresentados com os alunos nos congressos anuais da
entidade. Outro espaço de destaque foi o convite para participar do colóquio bi-
nacional, Brasil/Itália, do qual resultou o texto “Reflexos fascistas na propaganda
política do Brasil”2.
Já na Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação, a COMPOS, o GT de Comunicação e Política, tem-se mostrado,
nos últimos anos, um dos mais ativos e produtivos, com uma contribuição
enriquecedora aos estudos sobre comunicação e política. É possível encontrá-los
agrupados no site da entidade.
Outro grupo que tem se mostrado simpático à temática é a Rede Alfredo
de Carvalho, Rede (ALCAR), montada com o objetivo de estudar a história da
imprensa no Brasil, que completou dois séculos em 2008. Esta Rede formou
também o seu Grupo de Publicidade e Propaganda, que além de publicar livros
nos últimos congressos, abriu espaços expressivos para comunicações sobre
propaganda política3.
Tem havido espaço também para o diálogo entre comunicadores, sociólogos,
historiadores e pesquisadores cujo interesse comum tem sido a política e a
comunicação, nos congressos nacionais da Associação Nacional de História
(ANPUH) e na Associação Nacional de Ciências Sociais (ANPOCS), em cujos
congressos se reservam espaços para o diálogo, debates e produção no campo.
Há que se registrar também as contribuições de duas entidades paradigmáticas.
Uma é o Instituto de Pesquisas Eleitorais da Universidade Cândido Mendes
do Rio de Janeiro (IUPERJ), que além de contribuições fundamentais para a
formação deste campo, possui o maior acervo de fitas de vídeo sobre programas
eleitorais veiculados pela televisão brasileira. Outra instituição deste porte é a
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro que concentra microfilmados ou preservada
originalmente, grande coleções de jornais impressos e revistas do país, onde tem
sido possível realizar inventários e pesquisas temáticas sobre comunicação e
política.

2 Entre os artigos apresentados nos congressos da INTERCOM e reunidos naquele volume estão “O pittagate
num jornal de causas”; “Mário Covas e o imaginário de um povo na mídia”; “Roseane Sarney, que era de vídeo
e se quebrou”; “As eleições de 2002 nas entrelinhas das revistas”.
3 Os livros são “Propaganda, história e modernidade”, Editora Degaspari: 2005, Piracicaba, onde é possível
encontrar os artigos “Floriano Peixoto, consolidador da República no Brasil”, de Bruna Vieira Guimarães;
“Marketing político de Lula em 2002: os posicionamentos das revistas Cartacapital, Veja e Primeira Leitura”,
de Ingrid Gomes e “Propaganda política no Estado Novo”, de Patrícia Polacow e Mauricio Romanini, todos
os alunos do programa de pós-graduação em Comunicação da UMESP. O outro livro referência é “Sotaques
regionais da propaganda”, Editora Arte e Ciência, São Paulo: 2006, onde é possível encontrar o artigo “A censura
na propaganda ideológica nos impressos no início da república”, de Bruna Vieira Guimarães, sendo os dois livros
organizados pelo autor deste artigo.

227
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

Foi criada em dezembro de 2006, a Associação Nacional dos Pesquisadores


de Comunicação e Política (Compolítica), em evento realizado na Universidade
Federal da Bahia (UFBA), um dos grandes centros de pesquisa sobre esta temática
no País. Trata-se da reunião de um grupo seleto integrado pelos mais experientes
pesquisadores instalados nas principais universidades públicas e privadas do
Brasil, que também passará a realizar congressos anuais com o objetivo de discutir
as várias dimensões da comunicação política no rádio, televisão, jornais e revistas,
Internet entre outras temáticas.
Em todos estes segmentos a interface ensino/pesquisa/difusão tem sido
muito acentuada, mostrando o vigor e o interesse pela temática. Além destes
segmentos acadêmicos ressalte-se ainda a existência da Associação Brasileira de
Consultores Políticos (ABCOP), entidade que reúne profissionais e pesquisadores,
que trabalham no dia–a-dia de campanhas eleitorais por todo o País. Fundada
em 1991, a entidade reúne centenas de profissionais das áreas de planejamento,
pesquisa, produtoras de vídeo e áudio, que atuam em campanhas eleitorais,
bem como dão suporte aos políticos e partidos, desde vereadores ao Presidente
da República. A entidade realiza periodicamente o seu Congresso Brasileiro
de Estratégias Eleitorais e Marketing Político e têm estimulado a publicação,
entre seus associados, de livros, boletins eletrônicos e informações visando à
troca de experiências sobre resultados obtidos a partir das técnicas tradicionais e
contemporâneas de comunicação política.
Vale ainda registrar o interesse do jornal especializado em propaganda, “Meio
e Mensagem”, no assunto. O periódico realizou em abril de 2002 no Brasil um
evento denominado “Maxivoto, Encontro Internacional de Marketing Político”,
que reuniu na ocasião especialistas ligados ao mercado, como representantes do
Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) ou publicitários
famosos como Duda Mendonça e Nizan Guanaes e estrelas do marketing político
norte-americano como Joe Napolitan, um dos pioneiros da área e Dick Morris,
consultor de marketing político do ex-presidente americano Bill Clinton.

As contribuições da UMESP/UNIMEP à pesquisa sobre propaganda política


Desde 1998, quando obtive meu titulo de doutor em Comunicação pela
Universidade Metodista de São Paulo, venho conduzindo um projeto de pesquisa
que procura recuperar a memória das eleições presidenciais brasileiras, na ótica
da propaganda política. De lá pra cá, já foram defendidas 29 dissertações de
mestrado, que mostraram de que forma os ex-presidentes brasileiros venceram
suas eleições e quais as estratégias comunicacionais utilizadas. São estudos que
reúnem as contribuições de pesquisadores de diversas universidades brasileiras
sobre Deodoro da Fonseca, Getulio Vargas (o primeiro e o segundo governos),
Jânio Quadros, Juscelino Kubitsheck, Fernando Collor, Itamar Franco, Tancredo
228
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

Neves, Prudente de Morais, José Sarney, Rodrigues Alves, Campos Sales, Castelo
Branco, Emilio Médici, Ernesto Geisel,Costa e Silva,Fernando Henrique
Cardoso,Washington Luiz,Nilo Peçanha,Artur Bernardes, e dois estudos
específicos sobre a vitória de Luis Inácio Lula da Silva, uma vendo a cobertura
jornalística através da Folha de S.Paulo e outra sobre as revistas CartaCapital, Veja
e Primeira Leitura.
Também foram defendidas três teses de doutorado sobre o tema: uma
fazendo um inventário das opções metodológicas utilizadas nas dissertações de
mestrado, mostrando de que forma os candidatos se articularam com jornais,
revistas, emissoras de rádio e televisão; outra mostrando a evolução do conceito de
marketing político na televisão brasileira; e uma terceira, mostrando de que forma
um ex-prefeito de cidade do interior conseguiu reverter um processo eleitoral
desfavorável ao seu candidato indicado, através do canal de TV local.
Há ainda em processo, estudos sobre as campanhas eleitorais de João Goulart,
João Baptista Figueiredo e o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso.
Outra tese de doutorado em construção discutirá o impacto da urna eletrônica no
processo comunicacional sobre eleições majoritárias e proporcionais no Brasil.
Em outra vertente, a UMESP, em parceria com a Cátedra UNESCO de
Comunicação para o desenvolvimento regional já organizou no seu próprio campus
e nos campi de outras instituições de ensino do Estado de São Paulo, o Sociedade
Brasileira dos Pesquisadores e Profissionais em Comunicação e Marketing Político
(POLITICOM) que tem sido igualmente um espaço de difusão e troca de idéias
sobre o tema. Nas suas nove edições – três na UMESP, uma no Instituto Superior
de Ciências Aplicadas, de Limeira/SP, outro nas Faculdades Claretianas de Rio
Claro/SP, na Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara d Oeste, na Faculdade
Prudente de Moraes em Itu, na Universidade de Taubaté e em 2010, no Centro
Universitário Salesiano de Americana, Unisal reuniu especialistas de renome
como Gaudêncio Torquato, Carlos Eduardo Lins da Silva, Venício Artur de Lima,
Graça Caldas, Carlos Manhanelli, Marcelo Melo, Cristiane Salles, Letícia Costa,
Antonio Hohlfeldt (presidente da Intercom), Sonia Virginia Moreira, Luciana
Panke, Paulo Roberto Figueira Leal, além dos deputados Francisco Sardeli (PV),
Célia Leão (PSDB) e Roberto 0Felício(PT) e do diretor para assuntos da América
Latina da Fundação Konrad Adenauer, Peter Beherens.
Ao lado deles, pesquisadores de diversas universidades brasileiras
apresentaram suas comunicações, bem como estudantes de graduação puderam
apresentar trabalhos de pesquisa aplicada, com resultados concretos de
campanhas eleitorais construídas especialmente para esta finalidade. Em 2007
o evento aconteceu na Faculdade Anhangüera, em Santa Bárbara d´Oeste/SP e
além de palestras, conferências, lançamentos de livros e revistas especializadas,
o evento possui Grupos de Trabalho sobre propaganda política em jornais,
229
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

rádios, televisão, internet, pesquisa aplicada de campanhas eleitorais e teoria da


propaganda política, reunindo centenas de participantes.
Outra contribuição expressiva da nossa Universidade se dá através da Revista
Comunicação e Sociedade ou por intermédio das publicações editadas pela
Cátedra UNESCO. Nas edições de números 30 e 33, a revista publicou ensaios
e dossiês contendo farta referenciação bibliográfica produzida no Brasil pelos
comunicadores políticos, bem como montou um dossiê sobre o tema telepolítica,
mostrando o impacto da televisão nos processos eleitorais brasileiros, reunindo
autores como Albino Rubim e Neusa Gomes.
Periodicamente a revista tem-se aberto a contribuições sobre comunicação e
política em suas páginas. Já através da Cátedra UNESCO são editados anualmente
os seus Anuários UNESCO/UMESP de comunicação para o desenvolvimento
regional, que tem feito a divulgação do Politicom, bem como aberto espaços
para divulgação de textos de reflexão sobre o campo. O livro “Pensamento
Comunicacional Latino-Americano, da pesquisa denúncia ao pragmatismo
utópico”, organizado por José Marques de Melo e Maria Cristina Gobbi, foram
abertos espaços para a difusão de conceitos sobre a evolução do marketing político
no continente latino-americano, entre outras idéias sobre o campo.
Dos vários desdobramentos do projeto que ora coordeno na UMESP, vale,
por fim, um registro importante, que foi a transformação—através de um conjunto
de artigos – no livro “Na arena do marketing político, ideologia e propaganda nas
campanhas presidenciais brasileiras”, editado pela Summus Editorial, uma das
mais prestigiadas editoras ligadas ao campo da comunicação no Brasil. Nele são
divulgadas parcelas das pesquisas que – com apoio dos meus orientandos – ajudei
a concluir4.
Outra contribuição importante são os ebooks lançados a partir destes
congressos, côo “A propaganda política no Brasil contemporâneo”, em 2008;
”Marketing internacional, a propaganda ideológica diante da globalização”,
em 2009 e “Eleições brasileiras, estratégias de propaganda política 2010, que
superam 25 mil acessos”. Além da produção científica em livros, artigos, espaços
na Internet, CD’s dos eventos, todas estas discussões recentes sobre o papel do
marketing político na consolidação da democracia do Brasil tem sido difundidas
através de artigos e entrevistas para jornais, emissoras de rádio e de televisão
do país, sites e blogs especializados, fazendo com que aumente o interesse pelo

4 Entre os artigos, destaco “Prudente de Morais: a visão singular como sustentáculo do fenômeno coletivo”,
de Mauricio Romanini; “Getúlio Vargas: a propaganda ideológica na construção do líder e do mito”, de Karla
Amaral; “Peixe vivo em água fria: Juscelino e a propaganda política”, de João Carlos Picolin; “Jânio Quadros:
as representações metafóricas da vassoura no imaginário popular”, de Eduardo Grossi; “Tancredo Neves: muda
Brasil! Volta a sorrir meu Brasil!”, de Hebe Gonçalves; “José Sarney: você conhece o mapa da mina”, de Paulo
César D´Elboux; “Fernando Collor de Melo: encenações rituais do espetáculo político”, de Ricardo Costa;
“Itamar Franco: imagem política nas conotações do fusca”, de Aparecida Amorim Cavalcanti.

230
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

assunto.
Por fim, com estas informações e referências, é possível constatar que o
marketing político e a propaganda política deixaram de ser utilizados de forma
amadora no Brasil após a ditadura militar e têm experimentado um crescimento
muito grande no campo profissional e no âmbito da pesquisa científica. Setores
que se retro alimentam em períodos eleitorais, que refletem sobre causas/efeitos
na presença da mídia nos períodos eleitorais e, especialmente, que têm sido
levadas as salas de aula, presenciais ou virtuais, do Brasil contemporâneo, para
que seja compreendido teoricamente, aplicado metodologicamente e difundido
como ciência.
E mais do que isso, estas técnicas e procedimentos têm sido repassadas
também – a partir de sua dimensão teórica – a outras organizações que delas
se utilizam, como eleições que ocorrem periodicamente no País em sindicatos,
ONGs, associações de classe, clubes sociais/esportivos/recreativos.

A propaganda política no Brasil no século XX


O século XX iniciou-se no Brasil com o impacto da industrialização da imprensa.
A proclamação da República e o estímulo às atividades jornalísticas, fizeram
florescer o debate político-partidário. A partidarização da imprensa naqueles
tempos é uma das marcas notáveis do processo.
O surgimento das revistas de sátira e humor, como “Careta”, “Fon” e
“O Malho”, fizeram com que as figuras políticas de presidentes da república,
governadores, prefeitos passassem a receber um olhar severo e crítico. O
humor político foi, portanto, uma expressão para popularizar e estigmatizar
os representantes do poder público. Já o surgimento do rádio, em 1922, com
uma inauguração festiva feita no Rio de Janeiro, tendo como principal orador o
Presidente Epitácio Pessoa, deu ao veículo, uma amplitude maior de comunicação
para as ações políticas.
Essa percepção se confirmou a partir da sua utilização durante a II Guerra
Mundial, de forma intensa pelo então Ministro da Propaganda do governo
dirigido pelos nazistas, Joseph Goebbels. Sob este tipo de influências, o então
Presidente brasileiro, Getúlio Vargas, criou o D.I.P., Departamento de Imprensa e
Propaganda, com o duplo objetivo de controlar as emissoras de rádios, os jornais
e revistas através da censura e da distribuição de verbas públicas para a construção
de uma imagem pública que lhe fosse favorável.
Nos anos 40, Getúlio não tinha receio de ser caricaturado pelos cartunistas
e chargistas da época; orgulhava-se de ser chamado pelo apelido de “Gegê”, era
freqüentador habitual de programas de auditório promovidos pelas emissoras de

231
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

rádio e ficou feliz da vida quando lhe compuseram uma marchinha de carnaval,
cuja estrofe dizia o seguinte:

“Bota o retrato do velho / bota no mesmo lugar/


o retrato do velhinho,/ faz a gente trabalhar. “

Nos anos 50, Juscelino Kubistcheck de Oliveira, consagrou sua ação a partir
da criação de um slogan imbatível, construído pelas letras iniciais do seu próprio
nome. “JK” foi uma poderosa marca de comunicação no período em que ele
governou o Brasil, construiu Brasília, programou a primeira fábrica de automóveis
e adotou como marca a frase “fazer o Brasil crescer 50 anos em 5.”
Depois dele, Jânio Quadros, com seu estilo peculiar de fazer propaganda
política, vestindo-se como um ferroviário ou como molambento, criou outra
marca histórica da propaganda política do Brasil, utilizando-se de uma vassoura
como símbolo para eliminar a corrupção no cenário político nacional. É daquele
período o jingle “varre, varre, vassourinha...”
Os anos 60 encontraram o Brasil mergulhado numa profunda crise
institucional, com reflexos no desenvolvimento das ações político-partidárias, a
criação e manutenção de um regime de exceção sob governos militares , fechamento
do Congresso Nacional, perseguições a militantes políticos, entre outras ações
nefastas. É daquele período o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, cunhado pela
equipe do general Emílio Médici, como um convite às oposições para que se
calassem, condenando-as ao exílio. A apreensão do tablóide humorístico “O
Pasquim”, que satirizou o slogan, incluindo a ele o complemento, “Brasil, ame-o
ou deixe-o... e o último que sair, apague a luz”, é apenas uma das marcas da
censura e da repressão política no período, quando os jornais publicavam receitas
de bolo, poemas de Camões ou fotos de flores e borboletas quando tinham suas
matérias censuradas.
Os anos 70 pegaram o Brasil numa luta intensa pela sua redemocratização,
com movimentos de fortalecimento da sociedade civil, cujos slogans mais
marcantes foram o da “anistia, ampla, geral e irrestrita”, ou a convocação de uma
Assembléia Nacional Constituinte.
Nos anos 80, do ponto de vista da propaganda política, o movimento
pelas eleições “Diretas-Já”, foi sem dúvida o momento mais expressivo. Um
movimento nacional que empolgou a sociedade civil e promoveu grandes
concentrações populares. As “Diretas-Já” transformaram-se em slogan, jingles,
outdoors, cartazes e uma parafernália de peças que saíram dos grandes, médios e

232
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

pequenos centros urbanos para que o Brasil pusesse fim ao período da ditadura
militar. É do final dos anos 80 também o episódio da realização das primeiras
eleições livres e diretas para a escolha de um Presidente da República. Sob o
slogan “Caçador de marajás”, o governador de Alagoas, Fernando Collor de
Melo enfrentou as primeiras eleições sob um movimento cultural diferenciado
da propaganda política. Foi a primeira eleição que teve todos os requintes da
moderna comunicação de massa, envolvendo simultaneamente jornais, rádios,
televisões, outdoors, revistas e mídias promocionais e alternativas distribuídas
fartamente. Seu maior opositor, o ex-metalurgico Lula, do PT, criou o slogan
“sem medo de ser feliz”.
Os anos 90 surgem com o “impeachment” de Collor, a ascensão de Itamar
Franco ao poder, com a ridicularização do seu “topete” como marca registrada
dos chargistas contra sua postura de indeciso, ao lado de um provincianismo
marcante, que legaram poucos momentos criativos em termos de propaganda
política.
Seu sucessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso participou dos
embates políticos e da segunda eleição presidencial, tendo como símbolo a mão
espalmada, mostrando nos cinco dedos, suas prioridades políticas no campo da
educação, saúde, transportes, habitação e agricultura. Cardoso venceu as eleições
no primeiro turno, contra o slogan igualmente marcante de Lula, com o “Lula-
lá”.
Na seqüência foram oito anos do governo Lula, inspirados sob a propaganda
eleitoral e pós eleitoral de Duda Mendonça e João Santana, que coordena
também em 2010 a campanha da presidenciável Dilma Roussef pelo Partido dos
Trabalhadores.
A par destes acontecimentos nacionais, que nos ajudam a refletir sobre
o impacto da comunicação política, o restabelecimento dos procedimentos
democráticos e a realização de eleições livres e diretas em todos os níveis, de
vereador a Presidente da República, possibilitaram a presença de profissionais de
comunicação especializados em propaganda política.
Trata-se de um campo em busca de aperfeiçoamento de ações e de
aprofundamento qualitativo. Uma legislação em contínua mudança tem impedido
um planejamento mais adequado na área. A cada novo ano, uma novidade. A
novidade de 97 é a apresentação de forma diluída pelas emissoras de rádio e
televisão, em forma de “clips”, das propostas dos partidos.
O que virá pela frente? Os desafios nos levam a acreditar na pesquisa de
novas formas de utilização destes espaços como perspectiva inexorável para a
consolidação deste campo de ação. A construção da imagem pública de um ator
político deve passar pelo crivo inexorável da ética. Afinal, ao fabricarmos Collors
233
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

e Pittas—com dois eles e dois tês—nós publicitários e jornalistas especializados


estamos prestando um desserviço à democracia.
Também nos anos 90 iniciei, com apoio da Universidade Metodista de
Piracicaba, um projeto de disseminação de conteúdos sobre propaganda política
nos cursos de graduação. Entre os resultados a partir da realização de quatro projetos
de pesquisa, no ano de 1997, feitos por professores do Curso de comunicação, em
Cooperação com o Núcleo de Pesquisa e Documentação Regional, e professores
do Departamento de Ciências sociais e Geo-História da própria Universidade
Metodista de Piracicaba, representa outra referência importante para o trabalho
de sistematização das ações da propaganda política na cidade de Piracicaba.
Com linhas de pesquisa voltadas para acontecimentos local-regionais no
campo da Comunicação, temos procurado contribuir para o desenvolvimento
do repertório sobre assuntos relativos à comunicação política. A realização
destes quatro estudos resgatou parcelas das eleições municipais de Piracicaba
no período que compreende os anos 1968/92 e publicadas em 1996 em livro
intitulado “Imprensa e eleições em Piracicaba”, contribuiu igualmente para o
aperfeiçoamento deste trabalho.
O livro contém basicamente textos que enfocam as eleições municipais e
as eleições gerais daquele período. E noutra vertente, faz a análise do discurso do
principal periódico da cidade, o “jornal de Piracicaba”, mostrando a evolução da
cobertura jornalística que desenvolveu nos últimos anos, passando pelo período
de maior presença de seu diretor-proprietário, que atuava de forma crítica e
opinativa sobre os pleitos eleitorais e evoluindo para uma fase em que a opinião
deu lugar ao noticiário, reportagens, pesquisas, maior volume de fotos, etc.
Este livro, em seus vários capítulos, virou igualmente obra de referência
para o curso de “Propaganda Política”. Percebe-se que a disciplina “Propaganda
Política”, ao invés de trabalhar como elemento de desagregação e desinteresse dos
estudantes, tem feito esforços significativos no sentido de consolidar-se como
peça importante para a ampliação dos conhecimentos entre os estudantes do
Curso de Publicidade e Propaganda.
À falta de uma melhor sistematização das suas ações, estas iniciativas
começam a lhe dar um perfil mais sugestivo. E o debate, sempre presente entre
os estudantes e professores da área, pode ampliar o grau de compreensão sobre o
seu papel no conjunto das disciplinas e atividades do curso. Bem como despertar
novas vocações e talentos para virem a trabalhar, de forma conseqüente, em
projetos de campanhas políticas e eleitorais no futuro.

234
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

Politicom, a regionalidade na propaganda política


Desde que foi estabelecida a Cátedra UNESCO de Comunicação para o
Desenvolvimento Regional, junto ao Programa de Pós-Graduação da Universidade
Metodista de São Paulo, em 1998, a meta dos seus executores foi a de dar
visibilidade para temas contemporâneos, construindo repertórios adequados para
interpretá-los.
A partir de 29 de agosto de 2002, no anfiteatro do Edifício Capa, do
Programa de Pós- Graduação em Comunicação da UMESP, começou a ser
escrita uma nova história na área de Comunicação. Primeiramente com o nome
de Seminários Brasileiros de Marketing Político e depois renomeado em 2006,
com as comemorações dos 10 anos da Cátedra UNESCO em São Bernardo,
transformado em Conferência Brasileira de Marketing Político. E finalmente em
2008 determinado como sendo o Congresso Brasileiro de Marketing Político.
Com modéstia, naquele ano, o então reitor da Universidade, Davi Ferreira
Barros, ao lado do diretor da Cátedra UNESCO, José Marques de Melo, abriram
solenemente o encontro que percorreu três períodos do dia, entre palestras,
apresentações de trabalho, culminando com uma conferência pronunciada pelo
jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva sobre a temática do marketing político e
eleitoral. Entre alunos do mestrado e doutorado da Metodista, fixou-se o objetivo
de dar prosseguimento ao evento no ano seguinte.
Em 2003, ainda no mesmo auditório, tendo como convidado especial
Gaudêncio Torquato, o II Politicom já recebeu uma estrutura organizacional mais
adequada. Teve até cartaz e folder e uma programação rica apreciada igualmente
por alunos de pós e de graduação da Metodista. Foi também em agosto de 2004
que o III Politicom realizou-se sob o patrocínio do Instituto Superior de Ciências
Aplicadas, de Limeira/SP, tendo como coordenadora local. Adriana Pessate
Azolino e como conferencista Graça Caldas, do programa de pós-graduação
em comunicação da Metodista. Naquela ocasião, a primeira vez que o evento
saia de São Bernardo, optou-se também por agregar às palestras, a apresentação
de trabalhos em GTs, Grupos de trabalho que receberam contribuições da
propaganda política no rádio,televisão, Internet, jornais, revistas, bem como um
especial, tratando das campanhas políticas desenvolvidas pelos alunos dos cursos
de publicidade das várias instituições de ensino superior presentes.
O IV Politicom realizou-se também em agosto de 2005, nas Faculdades
Claretianas de Rio Claro/SP, sob a coordenação local de João Carlos Picolin e
colocou o evento na modernidade, construindo o seu primeiro site de divulgação,
feito especialmente pelos acadêmicos da agência escola de publicidade da
instituição. O presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos
(ABCOP), Carlos Manhanelli fez então a conferência de abertura, mostrando

235
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

um pouco da facetado mercado aos presentes.


A comemoração dos dez anos de existência da Cátedra, realizada entre 9 a 11
de outubro de 2006, fez com que inúmeros eventos simultâneos fossem realizados,
para comemorar a efeméride. Junto com o V Politicom, realizaram-se as etapas do
Folkcom, ComSaúde, Regiocom, Unescom, Celacom, promovidos igualmente
pela Cátedra. E o evento ganhou nova denominação, passando a chamar-se
Conferência Brasileira de Marketing Político. Além disso, ganhou um tema
central para as suas discussões. “Comunicação política na Internet” ficou sendo
um marco importante no debate, que reuniu pela primeira vez pesquisadores de
universidade públicas e privadas, como da Universidade Federal de Juiz de Fora/
MG, Universidade Federal de Tocantins/TO, Universidade Federal do Paraná,
Universidade federal de São Carlos, entre outras.
Pelo sexto ano consecutivo, foi realizado o Congresso Brasileiro de Marketing
Político (Politicom), em outubro de 2007 no campus da Universidade Metodista
de São Paulo, em comemoração aos dez anos de instalação da Cátedra Unesco/
UMESP. O evento recebeu 42 papers de diversas universidades brasileiras, que
trataram de temáticas contemporâneas sobre comunicação e política, quer sob o
viés mercadológico, ideológico ou sob a ótica dos estudos das linguagens. Durante
dois dias, pesquisadores dividiram-se entre Grupos de Trabalho e apresentaram
comunicações sobre propaganda política no rádio, na televisão, na Internet,
nos jornais impressos e outdoors. Na mesma oportunidade, alunos de cursos
de graduação de universidades paulistas, como as Faculdades Claretianas de Rio
Claro ou do Instituto Superior de Ciências Aplicadas, de Limeira da própria
Unisal e das Faculdades Anhanguera, de Santa Bárbara d´Oeste apresentaram
trabalhos de conclusão de curso, versando sob o tem,a onde os estudantes foram
estimulados a realizar campanhas eleitorais completas (planejamento estratégico
e de mídia, criação, custos,etc.) que tem sido desenvolvidos nos cursos de
publicidade daquelas instituições. Do Centro Universitário Barão de Mauá, de
Ribeirão Preto, vieram estudos de linguagem sobre o comportamento da mídia
nas eleições presidenciais de 2006.
Análises de linguagem e discurso, apresentadas por professores de programas
de comunicação das Universidades Federais do Paraná, de São Carlos e de Juiz de
Fora, mostraram de que forma a imprensa brasileira vem evoluindo na cobertura
das eleições brasileiras, quer no nível nacional, quer no municipal, através de
estudos de caso contemporâneos. Da Universidade Federal de Palmas/Tocantins,
um grupo de iniciação científica mostrou de que forma os outdoors e a Internet
influíram nas eleições municipais da cidade no ano passado.
As eleições presidenciais brasileiras de 2006 também ensejaram um criterioso
estudo realizado pelos alunos do programa de pós-graduação em comunicação
da UMESP, que inventariaram o comportamento da mídia em doze jornais
236
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

regionais brasileiros: Correio Braziliense, Correio do Estado/Mato Grosso do Sul;


Meio Norte/Teresina-PI e mais nove jornais do Estado de São Paulo, mostrando
os espaços dados aos principais concorrentes das eleições presidenciais deste
ano. Além de dar destaques a charges, caricaturas, títulos, fotografias, noticias,
entrevistas, reportagens, cartas de leitores, entre outros gêneros jornalísticos.
No espaço dedicado às conferências, várias personalidades e pesquisadores
dividiram-se para avaliar os efeitos da Internet nos processos de comunicação
política do Brasil e do exterior. Carlos Manhaneli, presidente da ABCOP,
Associação Brasileira de Consultores Políticos, defendeu, por exemplo, que a
Internet tem muito mais valor do ponto de vista administrativo e de gerenciamento
de campanhas, como motivadora de adeptos e difusora rápida de informações, do
que como instrumento de comunicação política. Para ele, o processo de difusão
através da Internet ainda é mal feito pelos partidos políticos, admitindo que há
muito ainda a ser feito para a consolidação deste veículo como fundamental para
processos de comunicação eleitoral.
Paulo D‘Elboux, mestre em comunicação pela UMESP e diretor das
Faculdades Anhanguera, na mesma linha de Manhaneli, contou episódios sobre
a força da Internet em campanhas eleitorais contemporâneas, mostrando que em
sua cidade natal, Santa Bárbara d´oeste, a Internet funcionou como indutora de
um voto de protesto nas eleições municipais de 2004, quando um catador de
papel – de apelido Arruia –foi eleito como um dos vereadores mais votados da
cidade, sem fazer campanha, apenas com o voto dos internautas da cidade.
Débora Tavares doutora em comunicação pela UMESP e professora das
Faculdades Prudente de Moraes, Itu, mostrou de que forma as relações políticas
entre Brasil e Canadá podem ser feitas, através das ações partidárias. Um estudo
comparativo entre seis partidos dos dois países mostrou as similaridades e diferenças
entre os sites existentes. Noutro estudo de marketing político internacional, alunos
do programa de mestrado da UMESP, Ingrid Gomes, Bruna Vieira Guimarães
e Moises Barel apresentaram um amplo panorama da propaganda política na
China, apresentando de que forma a Internet tem contribuído para a difusão do
conhecimento político naquele país, bem como apresentando as contradições e os
desafios de um veículo aberto como a Internet, num país com as singularidades
ideológicas da China.
Quando atingiu sua sexta edição, o Politicom voltou ao interior de são
Paulo, desta vez a convite da Faculdade Anhanguera, de santa Bárbara d´Oeste/
SP, sob a coordenação local de. Paulo César D´Elboux, tendo como convidado
para discutir o tema “Eleições municipais”, novamente o presidente da ABCOP,
Carlos Manhanelli e de Letícia Costa, da Unitau e no painel de encerramento, a
presença dos deputados Célia Leão (PSDB), Chico Sardeli (PV) e Roberto Felício
(PT), que na condição de parlamentares e clientes, opinaram sobre a importância
237
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

da profissionalização do campo. Posteriormente, o deputado Chico Sardelli (PV),


redigiu uma moção de aplauso ao evento, que foi aprovada pelo plenário da
Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.
Entrando em sua sétima edição, sob a coordenação de Victor Kraide Corte
Real, da Faculdade Prudente de Moraes, em Itu/SP, o Politicom entra na sua
sétima edição e caminha para a sua consolidação institucional, lançando um
e-book, uma revista e preparando-se para tornar-se uma Oscip, capaz de, em
2009, ser capaz de avançar ainda mais nos seus objetivos e propósitos iniciais:
ampliar o repertório, os conhecimentos e a visibilidade do campo da propaganda
política no Brasil.
A cidade de Taubaté, no interior do estado de São Paulo foi escolhida para
ser a sede da oitava edição do Congresso Brasileiro de Marketing Político, que foi
realizado nos dias 15 e 16 de outubro de 2009 .Um dos eventos mais importantes
da área no país, o Politicom é promovido anualmente pela cátedra Unesco de
Comunicação para o Desenvolvimento Regional. A Universidade de Taubaté
(Unitau) sediará a edição deste ano, que tem como seu principal tema: “O Rádio
na Propaganda Política”. O congresso será marcado pelo lançamento da revista do
Politicom e pelas conferências de acadêmicos e profissionais de renome na área da
comunicação política no Brasil.
A temática principal do Politicom de 2010 foi o rádio. O tema foi escolhido
pelo fato de o rádio ser um veículo ao qual o marketing político atual atribui
pouca importância. Dentre os principais nomes da conferência de 2010 estavam
Sonia Virgínia Moreira, docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
considerada uma das principais pesquisadoras da radiocomunicação no Brasil, e
Fernando José, o comentarista político da Rádio Jovem Pan de São Paulo,. Eles
participaram de um simpósio intitulado: “A propaganda política nas ondas do
rádio no Brasil”. Outra conferência de destaque da oitava edição do Politicom foi
a apresentação de um trabalho inédito sobre a importância histórica dos jingles
nas campanhas eleitorais brasileiras, realizada pelo presidente da Associação
Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhaneli.
Além das conferências foram realizadas apresentações de pesquisas e de
projetos relacionados ao marketing político nos vários meios de comunicação.
As apresentações desses trabalhos foram feitas em salas temáticas, organizadas
em grupos de modo a agrupar os estudos sobre o mesmo veículo ou sobre temas
semelhantes. Os grupos se dividiram em rádio, televisão, internet, impressos,
projetos experimentais e temas livres
A coordenadora do curso de pós-graduação em Comunicação e Marketing
Político da Unitau, Letícia Costa, que foi uma das organizadoras do evento,
destacou a presença de palestras e debates regionais no congresso. Um exemplo foi

238
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

a mesa-redonda sobre o tema: “Rádio elege. Participaram do debate o jornalista


da rádio Metropolitana e vereador de Taubaté, Alexandre Vilela (PMDB); o
jornalista da rádio Unitau e profissional de marketing político, Ednelson Prado e
o jornalista da TV Câmara Taubaté, Miguel Kater. Fabio Ricci, cientista político
e docente da Unitau mediou a discussão.
Durante o 8º Congresso Brasileiro de Marketing Político (Politicom),
foi realizada uma sessão de lançamentos de diversos livros de pesquisadores e
profissionais da área do marketing político. Também foi feito o lançamento
da revista institucional do evento. O mestrado em Gestão e Desenvolvimento
Regional da Unitau, que também participou da organização do evento, produziu
um dossiê sobre as principais conferências do evento, publicado no periódico do
mestrado, a Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional.
O Congresso Brasileiro de Marketing Político, que neste ano realizou a sua
oitava edição, consagra-se como um dos maiores eventos da área de comunicação
política no Brasil. Mas a grande dimensão do evento só foi atingida com o
tempo. O evento surgiu a partir de um projeto de Adolpho Queiróz, docente
do Programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Metodista de
São Paulo (Umesp) sobre a propaganda política no Brasil Republicano. Com o
incentivo da Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional,
sediada na própria instituição, Queiróz decidiu criar um conjunto de seminários
com o objetivo de divulgar as pesquisas sobre marketing político realizadas na
instituição.
Com o sucesso das primeiras edições e o apoio de diversas instituições de
ensino e de vários pesquisadores, o evento foi crescendo ano a ano e ganhando
proporções maiores. Esse crescimento do Politicom culminou na criação da
Sociedade Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing
Político em 2008, durante a sétima edição do congresso, realizado na cidade de
Itu, no interior de São Paulo.
Ao conciliar a pesquisa acadêmica e a prática profissional para o estudo e
para o desenvolvimento do marketing político, o congresso não se restringe apenas
aqueles que tem formação na área da Comunicação. Além desses profissionais,
professores e pesquisadores, o Politicom tem atraído pessoas de outras áreas do
conhecimento, principalmente os que têm formação em Sociologia, Antropologia,
Psicologia, História e Geografia, mas que atuam ou desejam atuar na área do
marketing político.
Ao ser realizado em diferentes cidades e instituições de ensino a cada edição,
o Politicom também tem contribuído para a formação e para o desenvolvimento
de uma mão-de-obra especializada na área do marketing político nas regiões
em que acontece. Em 2010, no Centro Universitário Salesiano de Americana

239
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

(Unisal), realizou-se o IX Congresso, tendo como tema “a importância do


marketing político nas eleições brasileiras de 2010” que contou com as presenças
de Antonio Hohlfeldt, presidente da Intercom, de Luciana Panke, Universidade
Federal do Paraná, Paulo Roberto Figueira Leal, Universidade Federal de Juiz
de Fora, do publicitário Chico Santa Rita e do diretor para a América Latina da
Fundação Konrad Adenauer, Peter Behrens. Na mesma ocasião ficou definida
realização do X Congresso do Politicom, em agosto de 2011, na Universidade
Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

Criação da Sociedade Politicom


Ao chegar a sua VII Conferência Brasileira de Marketing Político em outubro de
2008, o evento, promovido pela Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação
para o Desenvolvimento Regional, aproveitou sua estada na cidade de Itu/SP,
berço da República do Brasil, para a criação e posse da primeira diretoria da
Sociedade Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing
Político - Politicom.
A entidade foi constituída tendo como objetivos promover a difusão do
conhecimento no campo do marketing político, realizar seminários, congressos,
cursos, publicar revistas, livros, integrar-se como rede científica de pesquisadores
e profissionais e contribuir para o aperfeiçoamento do processo democrático no
país.
Fazem parte da primeira diretoria os professores Adolpho Queiroz,
presidente (UMESP); Paulo D´Elboux, vice –presidente (Faculdade Anhanguera
de Santa Bárbara d´Oeste); secretário, Victor Kraide Corte Real (PUCCamp
e Isca Faculdades/Limeira); diretor científico, João Carlos Picolin (Faculdade
Claretiana de Rio Claro); diretor de planejamento, Mauricio Romanini,(Centro
Universitário da Fundação Educacional Guaxupé/MG); diretor editorial, Roberto
Gondo Macedo (UMESP); diretor de relações internacionais, Carlos Manhanelli
(ABCOP); diretora de documentação, Ingrid Gomes (Centro Universitário
Barão de Mauá,Ribeirão Preto); diretores regionais, Luciana Pank, Universidade
Federal do Paraná/Região Sul; Débora Tavares,Universidade Federal de Mato
Grosso/Cuiabá ,Centro-oeste e Sander Neves, Faculdade Metodista do Espírito
Santo,Sudeste e Andréia Rego, região Norte e Daiane Rufino,Nordeste. Como
membros do Conselho Fiscal foram eleitos os professores Jorge Vidigal, da
UNIMEP; Daniel Galindo, UMESP e Bruna Vieira Guimarães, UNIP.

240
Politicom: o marketing político entre a pesquisa acadêmica e o mercado profissional

Referências bibliográficas e sites


QUEIROZ, Adolpho. (org). Na arena do marketing político. Summus: São
Paulo, 2006.
_________________ (org) Marketing político brasileiro, ensino,
pesquisa e mídia. Editora INTERCOM/Cátedra Unesco: São Paulo, 2006.
_________________ Voto, mídia e pesquisa, propaganda política no
Brasil. Revista Comunicação e Sociedade, São Bernardo do Campo: Pós-Com
UMESP, nº. 30, 2º sem. 1998”.
__________________ Introdução ao dossiê sobre telepolítica. Revista
Comunicação e Sociedade, São Bernardo do Campo: Pós-Com UMESP, nº.
33.
__________________ Maxivoto: Pensamento Comunicacional Latino
Americano. São Bernardo do Campo: Cátedra UNESCO –UMESP, v.3, n.3,
abr/mai/jun, 2002. Disponível em http://www2.metodista.br/unesco/PCLA/
index.htm,
___________________ De Debret a Nizan: a construção da imagem
pública dos governantes. Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo:
INTERCOM, n 21, p.69-79, jan-jun 1999.
__________________ De Quintino Bocaiúva a Duda Mendonça: breve
história dos marketeiros políticos no Brasil republicano. In: CARDOSO, P.A.
e CAIRRÃO, A.L, Comunicação e Política, Universidade Fernando Pessoa:
Porto/Portugal, 2006.
___________________ A evolução do conceito de marketing político
no continente latino-americano. In MELO J.M. e GOBBI, M.C. Universidade
Metodista de São Paulo: São Bernardo do Campo, 2003.
___________________ Propaganda política e ensino: avaliação de uma
experiência interdisciplinar. In: MELO, J.M. e CASTELO BRANCO, S. (orgs).
Pensamento comunicacional brasileiro. Grupo de são Bernardo do Campo:
Editora da UMESP, 1998.

241
242
CAPÍTULO 13

Folkcom - Origens da entidade

Betania Maciel1

Introdução
Podemos afirmar que a teoria da Folkcomunicação é a primeira teoria brasileira
das Ciências da Comunicação e da Informação. Nasceu sob a égide de outras duas
iniciativas pioneiras: a fundação do primeiro Instituto de Ciências da Informação,
ICINFORM, e sua publicação oficial, o primeiro periódico de estudos e pesquisas
científicos em Comunicação do país, Comunicações & Problemas. Foi assim
que a cultura popular, como objeto de estudos científicos, ganhou dimensões
multidisciplinares.
De 1961 até sua morte, em 1986, o jornalista e pesquisador pernambucano
Luiz Beltrão (1918) preocupou-se em instalar e solidificar as bases da educação
superior e formação de jornalistas. Por influência do CIESPAL, agregou às suas
metas o incentivo à pesquisa sobre cultura e comunicação. No primeiro periódico
científico de estudos e pesquisas em comunicação do país, Comunicações &
Problemas, inspirado na publicação de excelência da época, Journalism Quarterly,
lançou as bases para a pesquisa de uma nova disciplina, a Folkcomunicação. Já
no primeiro número publica o artigo “O ex-voto como veículo jornalístico”, a
semente germinal das pesquisas em Folkcomunicação. Segundo definição do
próprio autor, o “estudo dos agentes e dos meios populares de informação de
fatos e expressão de ideias”. O universo da pesquisa proposto estende-se para o
estudo dos processos comunicacionais de significação, mediante o entendimento
do funcionamento das estratégias e enunciações, dos discursos, da produção
e recepção de manifestações culturais populares. Folkcomunicação é, assim, o
processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, ideias e
atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao
folclore (BELTRÃO,2007).
A Folkcomunicacão não é, pois, o estudo da cultura popular ou do Folklore,
é bom que se destaque. É o estudo dos procedimentos comunicacionais pelos quais
as manifestações da cultura popular ou do folclore se expandem, sociabilizam-
se, convivem com outras cadeias comunicacionais, sofrem modificações por
influência da comunicação massificada e industrializada ou se modificam quando

1 Presidente da Rede Folkcom. Professora titular da Faculdade Integrada de Pernambuco. Doutorado em Co-
municação pela Umesp, São Bernardo. Professora do Programa de Mestrado em Extensão Rural para o Desen-
volvimento Local - POSMEX na Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, professora titular da
Faculdade Santa Maria e da Faculdade Boa Viagem.

243
Folkcom - Origens da Entidade

apropriadas por tais complexos (HOHLFELDT,2002).

A Rede Folkcom
A ideia de criar uma rede de pesquisadores da Folkcomunicação nasceu,
durante as discussões realizadas no seminário internacional sobre as identidades
culturais latino-americanas, promovido pela Universidade Metodista de São
Paulo (UMESP) em 1995, como evento preparatório para a instalação da Cátedra
UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional nesta instituição.
Sob a coordenação do professor José Marques de Melo, os pesquisadores se
reuniram e organizaram a I Conferência Brasileira de Folkcomunicação, realizada
na UMESP, em agosto de 1998, onde foi criada a Rede Folkcom. Desde então
seus pesquisadores vêm assumindo um papel decisivo no resgate do pensamento
comunicacional de Luiz Beltrão. Entre outras contribuições do mestre, José
Marques de Melo destaca “as ideias sobre interação entre cultura popular, cultura
midiática e cultura eruditas, decisivas para neutralizar o preconceito que certos
segmentos da nossa intelectualidade esboçam em relação ao saber popular”.
A Cátedra UNESCO possui um papel fundamental nesse processo, como
incentivadora e catalisadora de ações. Além de promover as conferências anuais,
a Cátedra decidiu realizar uma série de pesquisas comparativas, com a finalidade
de dar sentido acadêmico à Rede que começava a se constituir. A primeira foi
realizada em 1996, focalizando as imagens midiáticas do Natal brasileiro.
Porém, há um longo caminho a percorrer na luta para que a Folkcomunicação
seja aceita plenamente pela academia. Segundo ainda Marques de Melo (2006),
“A resistência acadêmica a novos campos da pesquisa faz parte da trajetória
conservadora das nossas universidades. As culturas popular e massiva, mesmo
depois de meio século da presença dos estudos de comunicação no Brasil,
ainda continuam a ser vistas com menosprezo por setores universitários
geralmente ancorados em postulados dogmáticos. Isso, contudo, não
nos deve atemorizar. Cabe aos pesquisadores de Folkcomunicação, como
de outras disciplinas conexas, enfrentar as resistências no plano teórico,
argumentando, além de avançar na produção de conhecimentos capazes de
demonstrar a pertinência dos referenciais escolhidos. A legitimação dos novos
campos do saber demanda tempo, competência e perseverança. Quanto mais
se avoluma e adquire densidade um novo segmento investigativo, é natural
que suscite reações, especialmente daqueles que se sentem ameaçados ao
constatar que perderam a hegemonia intelectual. Estamos vivendo uma
conjuntura marcada pelo pluralismo teórico e metodológico, onde há
espaço para todas as correntes de idéias”.

244
Folkcom - Origens da Entidade

Em 2004, constituiu-se a organização não governamental Rede Folkcom


- Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação. Institucionalizada como
associação civil sem fins de lucros, seu objetivo é legitimar a Rede como um núcleo
gerador de reflexões, com uma visão totalizadora do contexto da cultura popular,
do folklore e da mídia dentro dor processos de comunicação social midiatizada.
Os pontos que norteiam as ações da Rede Folkcom são:
1- Delinear o campo da Folkcomunicação definindo um arcabouço teórico
metodológico;
2- Compreender o contexto da Folkcomunicação a partir da localização do
homem: na festa, na culinária, no artesanato, na música, na religião, na
arquitetura, no trabalho, etc;
3- Realizar estudos documentais e empíricos descrevendo-os e analisando-
os enquanto processos e fenômenos folkmidiáticos, localizando seus agentes
codificadores, seus canais de expressão, o tipo de mensagem, e o público que
se destina;
4- Intercambiar subsídios com os pesquisadores ligados a Rede Folkcom
e com novos pesquisadores de outras organizações de pesquisa, inclusive
internacionais;
5- Promover seminário e/ou reunião científica nas instituições de origem de
cada pesquisador a fim de ampliar a discussão da Folkcomunicação;
6- Divulgar os resultados das pesquisas em eventos científicos regionais,
nacionais e internacionais.

Conferências Brasileiras de Folkcomunicação e abordagem dos principais


focos da pesquisa
Os eventos realizados pela Rede contemplam temáticas diretamente relacionadas
aos meios de comunicação e aos meios interativos para a realização do processo
folkcomunicacional. É importante observar que os encontros da Rede Folkcom
têm se preocupado em definir previamente um recorte de estudo dentro do
âmbito da Folkcomunicação. A finalidade de tal postura está em estimular a
reflexão e produção acadêmica com referenciais e parâmetros comuns, além de
proporcionar uma concentração mais sistematizada em determinadas temáticas
de acordo com os aportes contextuais (SCHMIDT,2006).
Encontros realizados pela Rede Folkcom seguidos dos temas dos congressos
para visualizar as temáticas discutidas nestes eventos:
• I Folkcom´98 - Universidade Metodista de São Paulo -UMESP –
São Bernardo do Campo – SP. Tema: I Conferência Brasileira de
245
Folkcom - Origens da Entidade

FolkComunicação;
• II Folkcom´99 – Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei -
FUNREI - São João del Rei – MG. Tema: Homenagem especial ao
centenário de nascimento do folclorista Luís da Câmara Cascudo;
• III Folkcom´2000 - Universidade Federal da Paraíba - UFPB- João Pessoa
–PB. Tema: Folclore, Mídia e Turismo;
• IV Folkcom´2001 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS -Campo Grande -MS. Tema: As festas populares como processos
comunicacionais;
• V Folkcom´2002 - Centro Universitário Monte Serrrat -UNIMONTE-
Santos –SP. Tema: A imprensa do povo;
• VI Folkcom´2003 – Faculdade de Filosofia de Campos- Curso de
Comunicação Social Campos de Goytacazes – RJ. Tema: Folkmídia.
Difusão do folclore pelas indústrias midiáticas;
• VII Folkcom´2004 – UNIVATES - Centro Universitário - Lajeado –RS.
Tema: Folkcomunicação Política.
• VIII Folkcom´2005 - CEUT -Terezina –PI. Tema: A comunicação dos
pagadores de promessas: Do ex voto à indústria dos milagres;
• IX Folkcom´2006 - Universidade Metodista de São Paulo – UMESP -
São Bernardo do Campo –SP. Tema: Folkcomunicação e cibercultura a
voz e a vez dos excluídos na arena digital;
• X Folkcom´2007 - Departamento de Comunicação da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR) - Programa de Mestrado em Ciências
Sociais Aplicadas. Tema: A comunicação dos migrantes - Fluxos massivos,
contra-fluxos populares
Analisando as tendências existentes no país e suas perspectivas, neste ano
de 2007, comemoraram-se os dez anos do evento, tendo como abordagem as
perspectivas de pesquisa em Folkcomunicação que reconhecem como uma de
suas bases elementares a cultura dos “marginalizados”, entendida como espaço
de comunicação e expressão de modos de agir, crenças e referências identitárias.
Nesta abordagem, Luiz Beltrão (1980 e 2001) menciona a existência de três
tipos de exclusão: grupos rurais marginalizados, grupos urbanos marginalizados
e grupos culturalmente marginalizados. Embora esta perspectiva tenha sido
pensada em um contexto que remete aos anos de 1950 e 1970 no Brasil, ainda
mantêm sua atualidade e pertinência, permitindo determinadas contextualizações
em torno desta temática. A proposta temática, baseada nas contribuições dos
processos imigratórios e migratórios na construção da cultura, permite alguns
246
Folkcom - Origens da Entidade

percursos teóricos pertinentes na atualidade, oferecendo elementos para pensar


as expressões da Folkcomunicação diante do multiculturalismo que marca a
sociedade brasileira contemporânea. Em meio aos conflitos pela afirmação das
identidades, percebe-se nas mais diversas cidades e regiões do Brasil a preservação
de expressões artísticas (danças, músicas, artesanato, traços lingüísticos, etc),
valores culturais, lendas e demais marcas identitárias originárias dos imigrantes.
Do mesmo modo, os fluxos internos no País permitem um intercâmbio de
características e elementos dos grupos sociais que incorporam constantemente
referenciais regionais, (re)significando sua cultura a partir de influências dos meios
de comunicação de massa e da comunicação popular. Este processo de mediações
remete à apropriação simbólica das matrizes culturais, em que as manifestações
dos grupos sociais misturam-se em meio ao popular e ao massivo, ao local e ao
global, estabelecendo mecanismos de identificação com outras culturas.
• XI Folkcom´2008 - Neste ano a cidade de Natal comemorou o 110º.
Aniversário de nascimento do etnógrafo Luis da Câmara Cascudo,
precursor dos estudos folkcomunicacionais, sendo homenageado pela
UFRN, INTERCOM e Rede FOLKCOM, com a realização de um
concurso nacional sobre o tema: Incursões de Câmara Cascudo pelo
território folkcomunicacional. A entrega do Prêmio foi feita na abertura da
XI Conferência Brasileira de Folkcomunicação, evento programado para o
pré-congresso da INTERCOM, tendo como tema os “Impasses teóricos e
desafios metodológicos da Folkcomunicação”.
• XII Folkcom 2009 - Com o tema “Caipiras Folkmidiáticos: As
múltiplas faces do Jeca”, a XII Conferência Brasileira de Folkcomunicação
foi realizada em Taubaté, no interior do estado de São Paulo, nos dias 11 a
13 de novembro de 2009. O evento científico realizou-se em parceria com a
Universidade de Taubaté (UNITAU), SESC, Cátedra UNESCO/Metodista
de Comunicação e Rede FOLKCOM.
• XIII Conferência Brasileira de Folkcomunicação Folkcom 2010. O tema
deste ano é Esteja a gosto, sabores e saberes populares: a folkcomunicação
gastronômica. O evento será realizado na UESC – Universidade Estadual
Santa Cruz em Ilhéus, Estado da Bahia, nos dias 11 a 14 de novembro de
2010.

Contribuições metodológicas e perspectivas de fortalecimento


A Rede Folkcom está voltada às pesquisas relacionadas ao estudo da comunicação
na cultura popular ou no folclore. Como rede de pesquisa, integra atividades
promovidas por seus membros pesquisadores no âmbito da realização de pesquisas,
encontros, seminários, ressaltando também a ferramenta da publicação científica
247
Folkcom - Origens da Entidade

como forma de institucionalizar e fazer avançar o campo.


Um grupo de 24 pesquisadores doutores vinculados à Rede Folkcom,
desenvolvem pesquisas de Folkcomunicação, liderando grupos em 16 (dezesseis)
instituições acadêmicas, como:
José Marques de Melo (Doutor-UMESP)
Roberto Benjamin (Doutor-UFRPE),
Osvaldo Trigueiro (Doutor-UFPB),
Maria Cristina Gobbi (Doutor-UMESP),
Antonio Hohlfeldt (Doutor-PUC-RS),
Cristina Schmidt (Doutor-UMC-SP),
Sebastião Breguez (Doutor-UFV-MG),
Samantha Castelo Branco (Doutora-UFPI),
Severino Lucena (Doutor-UFPB),
Betania Maciel (Doutora-UFRPE),
Antonio Teixeira Barros (Doutor-UNICEUB-DF),
Luis Custódio da Silva (Doutor-UEPB),
Maria Érica Oliveira (Doutor-UFRN),
Marcelo Pires de Oliveira (Doutora-UESC-BA),
Fábio Corniani (Doutor-UMESP),
Sergio Gadini (Doutor-UEPG-PR),
Karina Woitowicz (Doutora-UEPG-PR),
Jacqueline Dourado (Doutora-UFPI),
Marcelo Sabbatini (Doutor – UFPE),
Irenilda de Souza Lima (Doutora – UFRPE).

As pesquisas de Folkcomunicação rompem fronteiras e se expandem para


alguns países da América Latina e da Europa através dos estudos de:
Carlos Nogueira (Doutor-Universidade do Minho - Portugal),
Carmen Gomes Mont (Doutora-México),
Carlos Arroyo (Universidade Javeriana- Bolívia)

248
Folkcom - Origens da Entidade

Esmeralda Vilegas (Doutora-México).


Existem também Grupos de Trabalho de Folkcomunicação nos encontros
periódicos das principais instituições no Brasil e Exterior que cuidam das Ciências
da Comunicação e da Informação como a ALAIC (Associação Latino-Americana
de Ciências da Comunicação) e a Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação), explorando as seguintes interfaces:
Teoria e Metodologia da Folkcomunicação;
Folclore, Cultura Erudita e Cultura de Massa;
Manifestações espontâneas da Folkcomunicação;
Intermediações Folk-Midiáticas no Turismo;
Intermediações Folk-Midiáticas e Publicidade;
Intermediações Folk-Midiáticas e Relações Públicas;
Intermediações Folk-Midiáticas e religiosas;
Intermediações Folk-Midiáticas na literatura;
Intermediações Folk-Midiáticas nas telenovelas;
Intermediações Folk-Midiáticas no cinema.
Já a Revista Internacional de Folkcomunicação (Revista Folkcom - ISSN 1807-
4960) tem Qualis B/Nacional, na área de avaliação Multidisciplinar, conforme
avaliação Capes triênio 2006/2008. Suas edições estão disponíveis na Internet para
acesso e consulta gratuita2. Em seu oitavo ano de existência, a versão eletrônica da
Revista mantém a periodicidade semestral (com lançamentos em março e agosto).
O aumento do número de textos e materiais se tem recebido para publicação
confirma a canalização acadêmica de uma demanda de produção na área e, ao
mesmo tempo, fortalece a proposta editorial que é liderada pelo editor, professor
Sérgio Luiz Gadini. Os textos veiculados evidenciam a diversidade temática da
Folkcomunicação.
Em 2005, o pesquisador José Carlos Aronchi produziu o vídeo “Ver e
Entender a Folkcomunicação”, com a temática da comunicação desenvolvida por
especialistas sobre o tema “Folkcomunicação”. Pesquisadores da ordem de José
Marques de Melo, Roberto Benjamin, Sebastião Breguez, Antonio Hohlfeldt,
OsvaldoTrigueiro e Cristina Schimdt falam de suas experiências no reforço desta
nova teoria da comunicação. Através destes depoimentos, podemos constatar
que existem diversas possibilidades para estudar a Folkcomunicação, com a
combinação de enfoques. E como comenta José Marques de Melo, configura-se

2 Disponível em http:// www.uepg.br/revistafolkcom

249
Folkcom - Origens da Entidade

uma oportunidade, (...) “por ser um campo virgem a ser pesquisado no Brasil”.
Em 2006, depois do mandato inicial de Cristina Schmidt, a professora
Betania Maciel assume a nova presidência da Rede que se propõe como
objetivo fortalecer esta rede de pesquisa através da captação de associados e
do fornecimento de serviços diferenciados a seus pesquisadores. Além disso, é
fixado o objetivo de ampliar os limites teóricos, práticos e metodológicos dos
estudos de Folkcomunicação, fazendo conexões com os estudos das culturas
populares, desenvolvimento local, inclusão social. Finalmente, destacou o papel
das tecnologias de informação e comunicação na mediação destes processos, para
permitir o trabalho colaborativo e agilizar a comunicação científica entre seus
membros e pesquisadores, com o desenvolvimento e lançamento de um portal
3
na Internet coordenado pelo professor Marcelo Sabbatini.
Uma das iniciativas foi a criação do Núcleo de Pesquisa através do Programa
de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX) da
Universidade Federal Rural de Pernambuco para desenvolver pesquisas temáticas
inter-regionais, com foco no uso das mediações culturais com o objetivo de
promover o desenvolvimento local junto a cooperativas, movimentos sociais,
assentamentos, quilombolas, comunidades indígenas e demais atores sociais
tradicionalmente excluídos do processo de comunicação, utilizando, além
disso, cortes de análise geracionais e de gênero.O estudo das culturas populares
através de suas expressões folclóricas busca fortalecer as condições materiais e
imateriais não somente de forma imediata, mas promover um programa de auto-
sustentabilidade em longo prazo para estas comunidades.
E em janeiro de 2008, sob a edição de Betania Maciel é publicado o número
especial da Revista Razón y Palabra4. Editada pelo Instituto Tecnológico de
Monterrey (México), a chamada “primeira revista eletrônica na América Latina
especializada em Comunicação” tem como coordenador de seu projeto Internet
o Professor Octavio Islas e membro da diretoria executiva da ALAIC. O número
especial Folkcomunicação destacou o papel desta teoria como genuinamente
brasileira e como uma das principais contribuições teóricas de seu fundador,
Luiz Beltrão, ao campo da Comunicação. Ao longo de suas páginas virtuais, a
edição trouxe nomes como José Marques de Melo, Heitor Costa da Lima Rocha,
Antonio Teixeira Barros, Osvaldo Trigueiro, Maria Cristina Gobbi, Irenilda
Souza Lima, Maria Érika Oliveira, Andréia Moreira, Augusto Aragão, Marcelo
Sabbatini para compor o cenário brasileiro da pesquisa, metodologia, teoria e
prática da Folkcomunicação, apresentando ao leitor internacional a perspectiva
futura desta disciplina, enlaces teóricos, seus fundamentos históricos, assim como

3 Disponível em http://www.redefolkcom.org
4 Disponível em http://www.razonypalabra.org.mx

250
Folkcom - Origens da Entidade

uma introdução ao papel da Rede Folkcom e da Cátedra Unesco/Umesp, para


sua consolidação.
Neste mesmo ano, a Rede passa a integrar a SOCICOM (Federação
Nacional das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação), criada
o XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em Natal (RN).
Representada por dezenas de entidades da área da Comunicação, dentre as quais
a própria Intercom; o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ),
Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), a Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), entre
outras. O objetivo comum destas sociedades científicas, consolidar o campo do
saber da Comunicação no Brasil, buscando uma convergência acadêmica e uma
maior representação junto aos interesses da sociedade.
Em setembro de 2008, em Natal, na Universidade Federal do Rio grande do
Norte, realizou-se o X Congresso da Rede Folkcom. Esse Congresso foi essencial
para a retomada da mobilização nacional, com ampla participação dos membros
do conselho, associados e associados em processo de filiação. As propostas da
plenária final foram votadas e decididas estabelecendo a eleição dos novos
dirigentes da entidade:

BIENIO 2008- 2010


DIRETORIA EXECUTIVA:

Presidente: Betania Maciel/ UFRPE


Vice-presidente: Oswaldo Trigueiro/ UFPB
Secretário: Marcelo Pires/ UESC
Tesoureiro: Marcelo Sabbatini/ UFPE
Diretora Científica: Maria Érica Oliveira Lima/ UFRN

Perspectivas da Folkcomunicação
A Rede Folkcom, dentro de suas atividades para 2010 propõe a organização
de dois livros onde pesquisadores associados regulares participarão do
desenvolvimento editorial de dois trabalhos, cujo objetivo principal é consolidar
o conhecimento teórico e metodológico do campo da Folkcomunicação
contribuindo para sua melhoria e melhor especificidade da sub-área.

251
Folkcom - Origens da Entidade

Projeto 1: Folkcomunicação e diálogos com teoria paradigmáticas


O objetivo é estabelecer um diálogo entre a Folkcomunicação, teoria
criada por Luiz Beltrão, com autores paradigmáticos das ciências sociais e suas
respectivas linhas teóricas, estabelecendo assim novos rumos de pesquisa para o
enriquecimento e fortalecimento teórico do campo.

Projeto 2: Métodos e técnicas de pesquisa em Folkcomunicação


O objetivo é apresentar, de forma didática, as principais linhas metodológicas
utilizadas em Folkcomunicação, assim como as técnicas específicas. Além da
definição e explicação do método ou técnica, propomos a revisão de pesquisas
que tenham sido realizadas, como exemplificação.
Para o futuro, o desafio de pensar as dinâmicas culturais presentes na
confluência entre a mídia popular e as massivas fazem com que os estudos
folkcomunicacionais sejam uma tendência na contemporaneidade.
O legado de Luiz Beltrão tem sido constantemente estudado e renovado pelos
pesquisadores da Rede Folkcom têm suscitado interesse na contemporaneidade,
seja no mundo acadêmico ou na periferia, em um momento em que as expressões
culturais dos grupos marginalizados configuram práticas de resistência e cidadania
em meio à sociedade globalizada. Afinal, conforme observa Marques de Melo
(2008, p. 57), “as tradições comunicacionais das populações marginalizadas
sobrevivem às inovações tecnológicas, demonstrando capacidade de resistência
cultural, no tempo e no espaço”.
Os estudos da Folkcomunicação estimulam o regionalismo, mas a cultura
hegemônica desconhece as expressões populares. Parece que só existe o que está
na mídia e a mídia é urbana. Algumas manifestações têm tendência em virar
produto, outras não, daí a visibilidade dada pela mídia ao que vai se transformar
em produto cultural. E neste sentido, a Folkcomunicação pode ser entendida
como uma forma de mídia alternativa, que dialoga com a mídia hegemônica,
mediando a fronteira cultura globalizada-cultura popular.
Como exemplo dos estudos que investigam essa interface de culturas,
podemos ilustrar como a mídia tem registrado o carnaval por todo o país, as festas
juninas e outras celebrações. Mas, até que ponto e de que forma é realizado este
trabalho? A transformação das festas em espetáculo é um problema enfrentado
pela cultura popular: a canibalização, ou seja, ser contada, praticada por quem
não a conhece. A classe hegemônica é a principal responsável por esse processo,
impondo muitas vezes mudanças das tradições em função das necessidades da
indústria cultural e do turismo de massas.

252
Folkcom - Origens da Entidade

Podemos até mesmo questionar se a mídia conhece a variedade da cultura


brasileira e quando a divulga muitas vezes transforma-a em um espetáculo, um
produto comercial. É importante que os profissionais da mídia saibam lidar com
as expressões populares para que não modifiquem o real significado das culturas.
Para muitos, a mídia precisa ouvir e aprender com os mestres detentores da cultura
popular. Corre-se o risco de achatamento da diversidade cultural brasileira e do
não-diálogo e do reforço dos estereótipos, produzindo desta forma a alienação e
a exclusão social.
Apesar disto, a mídia tem apresentado avanços em mostrar a diversidade da
cultura brasileira e especificamente de culturas que não sejam as hegemônicas,
vide exemplo as estratégias de marketing como a etnografia no processo de
compreensão da cultura. Diversos programas de televisão e quadros apresentados
em canais de televisão aberta são apresentados, trazendo consigo uma maior
divulgação e valorização da cultura.
E esta compreensão se estende agora à relação das pessoas com os bens de
consumo. O fato é que consumo é uma prática cultural e só quando entendido
sob este ângulo, tais atitudes assumem contornos mais claros e inteligíveis com o
crescimento do poder aquisitivo das classes mais baixas, essa categoria de produto
e serviço tem ampliado seu mercado-alvo (target) às classes menos favorecidas.
Outro ponto focal de desenvolvimento das atividades de pesquisa da Rede
Folkcom diz respeito aos processos de desenvolvimento local. Busca dessa forma
entender o empoderamento das comunidades alijadas da modernidade, como
forma de promover a sustentabilidade destes grupos, através do desenvolvimento
de estudos de estratégias de comunicação nas políticas públicas, organizações não
governamentais, associativas e empresariais no âmbito do desenvolvimento local.
Nessa perspectiva, são contempladas as culturas populares e suas diferentes
manifestações de hibridização da cultura “folk” e a cultura massiva; os estudos de
recepção de mídias e programas de intervenção social; além das análises discursivas
e os impactos das novas tecnologias de informação e comunicação na sociedade
contemporânea. Esses aspectos buscam investigar as modificações operadas no
cotidiano das populações rurais, verificando a importância dessas tecnologias nos
processos de desenvolvimento local.
Mesmo diante destes cenários, o campo da Folkcomunicação é novo, mas
promissor. Não é sem dificuldades que a Rede Folkcom busca abrir novas fronteiras,
teóricas e metodológicas na compreensão dos fluxos de comunicação e das trocas
culturais entre a cultura global e a cultura local. Como todo novo campo do saber
científico, a Folkcomunicação encontra não somente a dificuldade de consolidar
seu objeto de pesquisa e seus métodos, mas também de obter aceitação dentro
do paradigma da ciência normal, utilizando o conceito de Thomas Kuhn. Talvez

253
Folkcom - Origens da Entidade

por seu aspecto inovador e libertário inclusive em relação a seu objeto, talvez pelo
simples conservadorismo acadêmico, a comunidade acadêmica da comunicação
estaria hoje em prejuízo se ignorasse os aportes folkcomunicacionais.

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Folkcom - Origens da Entidade

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255
Folkcomunicação: memória institucional

Cristina Schmidt1

Introdução
Há 43 anos Luiz Beltrão inaugura uma disciplina no campo da Comunicação
voltada ao estudo dos processos comunicacionais do folclore, a Folkcomunicação.
É a gênese de uma teoria autenticamente brasileira de Comunicação. Diferente
de outros estudos voltados para a comunicação do mundo, esse é um rico sistema
que contém “um traço de universalidade que advém de sua fundamentação no
folclore” com raízes bem arraigadas, independentemente das características de seus
agentes produtores. Beltrão salienta que “enquanto os discursos da comunicação
social são dirigidos ao mundo, os da folkcomunicação a um mundo em que
palavras, signos gráficos, gestos e atitudes, linhas e formas mantêm relações
muito tênues com o idioma, a escrita, a dança, os rituais, as artes plásticas, o
trabalho e o lazer, com a conduta, enfim, das classes integradas da sociedade”.
(BELTRÃO,1980, p.40)
Essa disciplina vem ganhando destaque a cada dia, e conquista
sintomaticamente um número crescente de adeptos – pesquisadores e professores
que trabalham com a temática a luz da teoria da Folkcomunicação e de metodologias
próprias. Esse crescimento se deve principalmente a dois aspectos, ligados ao
quadro sócio-econômico delineado no final do século passado com a globalização
acentuada e com a expansão de novas tecnologias de comunicação, configurando
novos espaços e linguagens para a inserção do popular e do folclórico.
No primeiro aspecto, verifica-se uma ampliação das culturas regionais
e locais com produtos e processos nas mídias massivas algumas vezes são
apropriadas, outras se posicionando e utilizando esses mecanismos em seu
benefício. Essa experiência faz com que as manifestações “atualizem-se” ou criem
linguagens próprias para inserção na sociedade midiatizada. Ainda dentro desse
ponto, e que favorece os estudos de folkcomunicação, existe uma tendência
mundial de regionalização, um olhar do “capital” sobre a cultura folk. Ocorre
uma visualização da cultura local como fator de desenvolvimento e consolidação
de diferenciais entre grupos, e de sua protagonização na cultura global. As

1 Doutorado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na área de Comunicação e Semiótica. Pertence
ao Grupo de São Bernardo de pesquisadores, ligado à Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação Regional.
Atuou como professora e orientadora no Mestrado em Educação na Fundação Lusíada – Santos/SP. Coordena
o GP de Folkcomunicação na Intercom. Coordena os Cursos de Jornalismo e Radialismo (Rádio e TV) na
Universidade de Mogi das Cruzes/SP.

256
Folkcomunicação: memória institucional

manifestações culturais, mais especificamente, o folclore2 é ao mesmo tempo


potencial econômico e identidade, é mercado consumidor e é referência para
novos produtos e processos.
O folclore brasileiro, nas últimas décadas do século passado, adquire
valor comercial e reconhecimento internacional, atraindo turistas, estudiosos e
consumidores de vários perfis; e, também é exportado para centros comerciais,
museus e eventos culturais. Para o meio acadêmico e político, principalmente,
adquire valor comunicacional, uma vez que as expressões culturais são tomadas
como meio de mobilização e identificação de grupos locais no contexto
globalizado, ao que Beltrão (1980) apresenta como um meio próprio e linguagem
adequada ao receptor.
Já no que se refere aos avanços tecnológicos e as novas mídias, a protagonização
das manifestações folclóricas nos meios de massa teve maior ênfase nas últimas
duas décadas, quando a profunda informatização dos processos comunicacionais
apontou uma nova relação entre os profissionais da área e o público alvo ou
público consumidor. As referências folclóricas das diversas localidades nacionais
ou internacionais se acentuaram como pauta para a formatação e criação de
produtos midiáticos como novelas, matérias jornalísticas, debates, desafios,
roteiros turísticos, decoração, gastronomia e moda (roupas e acessórios). E ainda,
com a implantação da tecnologia digital no sistema televisivo, projeta uma
ampliação de conteúdos que contemplam as expressões populares rompendo com
o isolamento de muitas localidades.
Fatos culturais antes distantes e isolados em suas localidades ao longo do
mundo, agora participam amplamente de uma rede mundial de comunicação,
aproximando povos e gerações. O que inicialmente já foi difundido pelo rádio e
depois pela televisão, formando uma aldeia global, ganha agora outro status – o de
uma rede mundial de computadores conectados propondo infinitas possibilidades
de expressão e interatividade.
A relação entre o folclore/cultura popular e a mídia – local ou global –
envolve fatores econômicos, obviamente, mas também informações estéticas,
simbólicas e ideológicas produzidas por ambos. É um processo de troca entre os
envolvidos, colocando-os ora em condição de receptor/consumidor, ora como
emissor/comunicador/produtor, ora como mensagem/produto. É uma articulação
permanente entre os dois sistemas comunicativos – o massivo e o folk.
Analisar esse processo requer um estudo dos processos comunicacionais

2 Tomamos folclore como a “expressão das aspirações e expectativas populares” (CARNEIRO, 1965, p. 22) que
represente o pensar, o sentir e o agir das comunidades. E, ao mesmo tempo, entendendo-o como “ processo de
intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, idéias e atitudes da massa” (BELTRÃO, 1971, p. 15).

257
Folkcomunicação: memória institucional

inerentes às manifestações populares e folclóricas, um estudo de Folkcomunicação,


ao que Luiz Beltrão define como “o processo de intercâmbio de informações e
manifestações de opiniões, idéias e atitudes da massa, através de agentes e meios
ligados direta ou indiretamente ao folclore” (2001, p.79). É um processo artesanal
e horizontal onde ocorre a comunicação interpessoal através de canais conhecidos
pelos grupos rurais ou urbanos; mas também, processos com atualizações de
linguagens e tecnologias por conviverem ou serem apropriadas por diferentes
meios e grupos da aldeia global. E é nessa disciplina que encontramos uma
atualidade para analisarmos as interações entre o local e o global na sociedade em
todos os tempos.

A teoria brasileira
A perspectiva da Folkcomunicação de Luiz Beltrão, “encontrou dupla resistência:
a dos folcloristas conservadores (que pretendiam defender a cultura popular das
investidas midiáticas modernizantes) e a dos comunicólogos libertadores (que
pretendiam fazer da cultura popular o cavalo de tróia das suas batalhas políticas
em lugar de apreender nessas manifestações o limite da resistência possível de
comunidades empobrecidas cuja meta é a superação da marginalidade social)”,
explica Marques de Melo (2001).
Na verdade, a militância profissional de Luiz Beltrão irá colocá-lo sempre
como um desbravador de fronteiras no campo da comunicação e do jornalismo.
Nascido em 8 de agosto de 1918 na cidade de Recife, estado de Pernambuco,
criança ainda, escolheu seguir uma vida religiosa como padre católico. Entrou
para o Seminário de Olinda, mas o diretor da instituição logo percebeu seu
potencial e o apoiou para encontrar no jornalismo sua forma de conhecer povos,
culturas e alimentar sua vivacidade.
Inicia sua carreira no O Diário de Pernambuco, em 1936. Foi revisor,
arquivista de clichês, tradutor de telegrama e repórter. Recebeu o registro
profissional após quatro anos de atuação. Trabalhou em “rádio, revistas, agências
e assessoria de imprensa, acumulando experiência que incluiu passagens pelo DIP,
e pela presidência da Associação de Imprensa de Pernambuco e sua participação
na criação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais. Também trabalhou em
diversos jornais como Diário de Pernambuco, Correio do Povo e Jornal Pequeno,
nas agências de notícias Asa Press e France Press e nas revistas Tudo, Guanabara
Press, São Paulo Press e Capibaribe. Exerceu a profissão durante quase 30 anos.”
(GOBBI, in SCHMIDT, 2006, p.298.
A prática cotidiana do jornalismo é o campo motivador das reflexões de Beltrão,
e isso o leva a desenvolver estudos científicos sobre os processos de comunicação
dos grupos marginalizados. Intrigado com os mecanismos de comunicação dos

258
Folkcomunicação: memória institucional

grupos marginalizados dos meios massivos e elitizados, ele identifica os processos


de comunicação manifestados no folclore, a Folkcomunicação. Constatação que
configura a primeira teoria brasileira da comunicação, e é defendida em sua tese
na Universidade de Brasília em 1967 com o título Folkcomunicação: um estudo dos
agentes e meios populares de informação de fatos e expressões de idéias, lhe conferindo
o título de doutor, o primeiro em comunicação no Brasil.
A Folkcomunicação é uma das principais contribuições de Luiz Beltrão para o
campo da Comunicação, pois se refere à construção de uma teoria da comunicação.
Nessa área o estudioso faz um percurso acadêmico amplo, produzindo artigos,
livros, ministrando cursos e palestras, formando seguidores/discípulos. No
percurso, é importante destacar dois livros que trazem suas fundamentações a
cerca da Folkcomunicação: Comunicação e folclore: um estudo dos agentes e dos
meios populares de informação e expressão de idéias, publicação de ensaio que faz
parte de suas reflexões do doutorado, editado pela Melhoramentos em 1971.
Nessa edição, o prof. José Marques de Melo, ex-aluno de Beltrão, faz uma citação
de apresentação na contracapa afirmando que a obra constitui trabalho original,
enfocando uma área até então não dimensionada pelos estudiosos das ciências da
comunicação. Os estudos em comunicação geralmente têm sido orientados para
os meios de difusão de massa e seus efeitos. Daí o interesse que desperta
este estudo, analisando os sistemas de intercâmbio de informações nas chamadas
‘populações marginalizadas’, que constituem os núcleos infra-estruturais de
todo o processo comunicativo do ponto de vista social, se partirmos da cisão
macluaniana da ‘reversibilidade dos intermediários superaquecidos’ e que torna
semelhantes às noções de aldeia e universo’.
Ao que o próprio autor complementa, consciente de sua teoria com
abordagem inaugural, é a certeza de estar abrindo “uma picada para a estrada
larga que outros mais autorizados e seguros irão percorrer no sentido de investigar
os agentes e canais da Folkcomunicação e, assim, penetrar no âmago das diretrizes
reais que conduzem a ação política do homem brasileiro em sua complexa
integridade”. (BELTRÃO, 1971, contracapa)
Nove anos depois, outra obra marcante para a disciplina: Folkcomunicação:
a comunicação dos marginalizados, publicada em São Paulo pela editora Cortez,
1980. Nela, Beltrão apresenta desdobramentos de seus estudos, dimensionando os
universos rural e urbano em seus processos comunicacionais, bem como alicerçando
seus estudos na descrição de um sistema de Folkcomunicação, consolidando a
disciplina. Somente em 2001, pela editora da Pontifícia Universidade Católica
de Porto Alegre, sua tese é integralmente publicada, e preenche a lacuna ainda
existente sobre a construção teórica de Beltrão. A publicação amplia o acesso às
suas reflexões e faz uma homenagem póstuma ao pesquisador que falecera em
outubro de 1986.

259
Folkcomunicação: memória institucional

Atualmente essa disciplina vem suscitando várias reflexões, agregando


pesquisadores em grupos e entidades no Brasil e na Europa e, parafraseando
Marques de Melo (2001, p.19), transformando a inicial “picada” em uma larga
estrada com uma produção representativa no meio acadêmico e jornalístico.
São inúmeros trabalhos acadêmicos desenvolvidos em níveis diferenciados – da
iniciação científica ao doutoramento -, com publicações em anais de congressos,
em revistas científicas da área da comunicação, do folclore, e específicas de
Folkcomunicação. Além de vários livros, coletivos ou individuais, produzidos a
partir de pesquisas de campo e reflexões teórico-metodológicas.
A Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento
Regional é a principal incentivadora da ampliação e sedimentação desse campo de
estudo. Impulsionou a oficialização de uma Rede de Pesquisadores e Estudiosos
da Folkcomunicação em 2004, a Rede Folkcom, que atua na pesquisa, no
ensino e em meios de comunicação. São acadêmicos e profissionais ampliando
e atualizando as teorias de Beltrão, divulgando resultados, e realizando uma
Conferência Nacional por ano, completando a décima quarta edição em 2011.
Também tem espaço específico de reflexão e pesquisa na Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), o Núcleo de Pesquisa
em Folkcomunicação e na Associação Latino-Americana de Pesquisadores em
Comunicação (ALAIC) dispõe de um grupo de estudos. Ainda conseguiu
reconhecimento nos campos das pesquisas da Lusofonia, como em Portugal; é
objeto de estudos em centros de pesquisas de vários países da América Latina e
da Europa.

Áreas de pesquisa
Os estudos de Folkcomunicação foram ampliados por seguidores de Luiz Beltrão.
Ex-alunos e adeptos de suas teorias, têm expandido seus conceitos e estabelecem
relações novas e diversas com os meios de comunicação de massa e, também,
com o universo digital da internet. Originalmente a Folkcomunicação foi
proposta para o estudo dos processos comunicacionais populares autênticos,
“bem como a folkmídia enquanto recodificadora das mensagens previamente
veiculadas pelos mass media.” E como bem coloca Marques de Melo, esses novos
empreenderores no estudo da comunicação folk “procuram desvendar de que
maneira a folkcomunicação atua como retroalimentadora das indústrias culturais,
seja pautando matérias jornalísticas, gerando produtos ficcionais, embasando
campanhas publicitárias e de RP ou invadindo espaços de entretenimento”
(MELO, 2000, p.21)
O professor Roberto Benjamin, discípulo e continuador das idéias de
Beltrão, tem constantemente apresentado reflexões e inventariado as pesquisas

260
Folkcomunicação: memória institucional

na área realizadas no planeta. Em artigo publicado no livro Folkcomunicação na


Arena Global (BENJAMIN in SCHMIDT, 2006, p. 51-61), o professor pontua
como importantes áreas de pesquisa nesse campo:
a. a comunicação interpessoal e grupal ocorrente na cultura folk, nessa
área está “o estudo dos agentes, meios de informação, meios de expressão
de idéias, opiniões e atitudes referidos por Beltrão (1968). É o universo
propício às pesquisas relacionadas ao comunicador, à mensagem, ao canal,
ao receptor, e também ao que se refere às intencionalidades e aos efeitos
relacionados ao “processo de comunicação interpessoal e grupal ocorrente
entre a população de cultura folk.”;
b. a mediação dos canais para a recepção da comunicação de massa,
nesse enfoque o estudo dos líderes de opinião vão ganhar destaque, como
mediadores da relação meios de comunicação de massa e os diferentes
grupos culturais;
c. a apropriação das tecnologias da comunicação de massa (e outras)
e o uso dos canais massivos por portadores da cultura folk; aqui estão
localizados os estudos que compreendem a utilização de meios tecnológicos
para auxilio ou suporte de suas expressões, ou seja, meios como o jornal, o
cartaz, a fotografia, o vídeo, o CD, o DVD, o rádio, a TV e o computador
utilizados amplamente por lideranças e grupos folk em suas performances;
d. a presença de traços da cultura de massa absorvidos pela cultura
folk, a presença marcante dos meios de comunicação de massa no cotidiano
da sociedade, inclusive nas populações de cultura folk, influencia os
comportamentos e as manifestações. É muito comum localizar características
dos produtos da indústria massiva na cultura tradicional. Tipos de vestuário,
uso de expressões corporais e verbais próprios aos centros metropolitanos
são incorporados ao universo da cultura folk.
e. apropriação de elementos da cultura folk pela cultura de massa e
pela cultura erudita, a apropriação do folclore pela indústria cultural, quer
dizer que os meios massivos usam referências da cutura tradicional em suas
produções. Se apropriam de temáticas, símbolos, rituais, para apresentação
ressignificada em propagandas, telenovelas, shows, etc. e que aponta outra
linha de pesquisa;
f. a recepção na cultura folk de elementos de sua própria cultura
reprocessada pela cultura de massa, considerado o aspecto menos estudado
no campo da folkcomunicação, se refere ao processo de apropriação das
manifestações folk pela mídia e a apresentação de forma reprocessada,
ressignificada aos padrões midiáticos para uma sociedade de consumo. Em
seguida, os produtores de origem dessa cultura, que muitas vezes sabem
261
Folkcomunicação: memória institucional

dessa formatação, acabam reincorporando a sua manifestação agora com


outra “roupagem”, as da indústria cultural.
Esses caminhos delimitados para os estudos da Folkcomunicação vêm
agregando pesquisadores ligados ao universo acadêmico, e da mesma forma,
ao contexto mercadológico em que atuam os meios massivos. Reflexões sobre
a produção midiática a luz da Folkcomunicação têm orientado as práticas
acadêmicas e muitas ações profissionais.

A rede Folkcom
Passadas mais de quatro décadas com pesquisas regionais e nacionais, seminários
regionais e conferências nacionais, pesquisadores envolvidos com as reflexões e
produções acadêmicas em Folkcomunicação ganharam representatividade efetiva
no campo da comunicação e conquistaram espaços nas principais organizações
científicas, como a Intercom e a ALAIC com a criação de grupos de trabalho
específicos. Com o fortalecimento de um grupo significativo de pesquisadores,
constituiu-se em 2004 a organização não governamental Rede de Estudos e
Pesquisas em Folkcomunicação (Rede Folkcom). A Rede passou a ser, então, o
núcleo promotor de pesquisas, intercâmbios e diálogos.

As reflexões da Rede Folkcom estão voltadas para a Folkcomunicação


nas modalidades regionais e globais. Tanto a cultura popular, ou as expressões
folclóricas nela inseridas, para os estudos de comunicação tem valor como processo
comunicacional, percebendo-se como meio de mobilização e identificação de
grupos. Para Luiz Beltrão (1980, p.40) esse é um rico sistema que contém “um
traço de universalidade que advém de sua fundamentação no folclore” com raízes
bem arraigadas independentemente das características de seus agentes produtores.
Beltrão salienta ainda que “enquanto os discursos da comunicação social são
dirigidos ao mundo, os da folkcomunicação a um mundo em que palavras, signos
gráficos, gestos e atitudes, linhas e formas mantêm relações muito tênues com o
idioma, a escrita, a dança, os rituais, as artes plásticas, o trabalho e o lazer, com a
conduta, enfim, das classes integradas da sociedade.” (1980, p.40)

262
Folkcomunicação: memória institucional

A Rede Folkcom é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos,


idealizada com incentivo da Cátedra Unesco-Metodista de Comunicação para
o Desenvolvimento Regional, a grande promotora de estudos e pesquisas nessa
área. Agrupa os novos estudos e os principais pesquisadores de Folkcomunicação.
Em suas publicações bem como em seus eventos, traz as produções mais recentes
sobre a Teoria iniciada por Luiz Beltrão, com textos atualizados que avançam
nas concepções teóricas e metodológicas. Reúne discípulos diretos do pioneiro,
como José Marques de Melo e Roberto Benjamin, que publicam periodicamente
retrospectivas conceituais e apontam para as novas concepções. Evidenciam o
fortalecimento do campo da Folkcomunicação e suas atualizações midiáticas.
Os estudos em Folkcomunicação são desenvolvidos por um importante
grupo de pesquisadores da região Nordeste, protagonistas de uma reflexão
advinda do contexto vivenciado por Beltrão, hoje atualizado e com novas
configurações. São eles: Roberto Benjamin, Osvaldo Trigueiro, Samantha Castelo
Branco, Severino Lucena, Betânia Maciel e Jaqueline Dourado. Apresentam uma
contribuição com grupos de pesquisas e programas de mestrado com temáticas
relacionadas como: Folkcomunicação organizacional e folkmarketing, Ativistas
midiáticos e o ex-voto como veículo comunicacional, e as várias possibilidades
metodológicas de abarcar os objetos de estudo nessa área. Estes pesquisadores
elucidam o fato de na globalização, ao invés de ocorrer a homogeneização
cultural, e até o desaparecimento de culturas tradicionais locais, haver um contra-
fluxo. Ocorre uma ressignificação das manifestações populares, resultando num
posicionamento e apropriação das novas tecnologias e linguagens midiáticas. Essa
dinâmica configura um campo amplo de pesquisa, e por isso várias possibilidades
metodológicas se abrem, para que cada pesquisador adote os procedimentos
adequados a especificidade do objeto e dos objetivos do estudo.
Outro grupo importante de pesquisadores da Folkcomunicação é o
vinculado ao Grupo São Bernardo (do programa de Pós-Graduação da Metodista
e da Cátedra Unesco/Metodista para o Desenvolvimento Regional), tem uma
formação e vivência no contexto urbanizado e industrializado da região do ABCD
Paulista e da Grande São Paulo como: Joseph Luyten, Alfredo d´Almeida, Rosa
Nava, Fábio Corniani, José Carlos Aronchi e Maria Cristina Gobbi – que também
foi Diretora da Cátedra Unesco-Metodista. Esses autores trazem reflexões que
recuperam o percurso de Luiz Beltrão, em sua trajetória de jornalista, professor
e pesquisador. Evidenciam suas ações pioneiras: a importância de sua tese
inaugural da Folkcomunicação, a relevância acadêmica da Revista Comunicação
& Problemas e do Instituto de Ciências da Informação - INCIFORM (1963).
Trabalham com conceitos e experiências de jornalismo do povo e de folkmídia,
e uma problemática bastante atual, o Orkut como espaço de manifestações
comunicacionais culturalmente marginalizadas. Também traz a experiência e

263
Folkcomunicação: memória institucional

proposta do Folkcom Imagem e Som, como uma mostra audiovisual das pesquisas
empíricas realizadas na área.
Outros pesquisadores emergentes que se envolvem com o campo da
Folkcomunicação em várias regiões do país: Marlei Sigristi (MS), Antonio Teixeira
Barros (DF), Karina Janz e Sergio Gadini (PR), Marcelo Oliveira e Marcelo
Corniani (SP) e Antonio Hohlfeldt (RS). Esses autores apresentam importantes
contribuições teóricas, na ordem: descreve e conceitua a festa como comunicação
popular, analisa a contribuição de Gilberto Freyre e das relações públicas para
o estudo teórico da Folkcomunicação, estuda as lendas e culturas imigrantes,
aborda o uso político de expressões populares, ao mesmo tempo, faz um percurso
metodológico para analisar as relações entre os estudos de mídia e política. Coloca
a história oral como método de estudo para as manifestações folk, trabalha o
universo da web e as manifestações culturais urbanas e, por fim, a partir de uma
re-visita às teorias iniciais aponta à interdisciplinaridade, necessária ao complexo
e relevante campo de estudo, e atualiza os conceitos iniciais.
A pesquisa de Folkcomunicação rompe fronteiras e se expande para
alguns países da América Latina e da Europa. Conta pesquisas da Colômbia,
México e Portugal com estudos sobre a radiodifusão e o folclore, religiosidade e
identidade regional, e em outros mares, com estudos de literatura oral nos setores
marginalizados lusitanos.
Todas essas contribuições estão organizadas na Rede Folkcom em quadro
grandes áreas de pesquisa: Teoria e Metodologia que apresenta as reflexões dos
conceitos e dos processos que resultam na compreensão ou na atualização do
arcabouço folkcomunicacional; Gêneros e Formatos desenvolve temas que
estudam as formas tradicionais de comunicação das camadas populares, conforme
enunciadas por Luiz Beltrão, bem como as diferentes mídias e conteúdos; Política
e Contemporaneidade discute as formas e as estratégias de ação política que
envolvem a Folkcomunicação - como apropriações efetuadas por organizações
políticas e/ou partidárias, ou como manifestações espontâneas de indivíduos
ou grupos que se posicionam na rede midiática; Festividades e Turismo, expõe
as análises sobre as festas populares, artesanato, culinária, músicas, danças; o
contexto, a apropriação pelo turismo e as novas abrangências organizacionais.

As conferências

1ª.Conferência: FOLKCOM 1998


A primeira Conferência Brasileira de Folkcomunicação (I FolkCom), foi realizada
na Universidade Metodista de São Paulo, no mês de agosto de 1998, entre os dias
264
Folkcomunicação: memória institucional

12 a 14. O professor José Marques de Melo, Titular da Cátedra Unesco/Umesp,


ao propor este evento afirmou, em seu discurso de abertura, ter uma dupla
intenção. Primeiro, permitir a apresentação dos resultados de pesquisas recentes
sobre expressões da Folkcomunicação brasileira. Segundo, esboçar uma agenda
temática para implementar novos projetos de pesquisa sob a égide da emergente
Rede FolkCom, constituída por jovens pesquisadores midiáticos e por experientes
estudiosos de folclore (Marques de Melo 1998, 2). Esta I FolkCom homenageou
a memória de Luiz Beltrão – que se estivesse vivo estaria completando 80 anos,
naquele ano de 1998.
A estrutura da conferência foi composta em três etapas. Na primeira, palestras
realizadas por especialistas convidados e por relatos de pesquisas concluídas ou em
desenvolvimento, apresentadas por pesquisadores inscritos voluntariamente. A
segunda ofereceu espaço para exposições e mostras de trabalhos comunicacionais
(fotografias, vídeos, filmes, discos, CDs etc) que tomaram o folclore como
temática específica e, por fim, exibições de grupos folclóricos da região do ABC
Paulista, local onde foi realizada a Conferência.
Ao organizar o Encontro a Cátedra UNESCO/UMESP, através de seu
titular, o professor José Marques de Melo, pretendeu, entre outras coisas, motivar
a realização anual deste encontro em outras Instituições de Ensino. Desse
modo ficaria garantida a análise e a atualização do inventario das tendências da
pesquisa brasileira de Folkcomunicação, renovando as pautas de trabalho para
os pesquisadores da disciplina. Por outro lado, ao realizar a Conferência em
outras cidades/estados, estariam abrindo um espaço de valorização da diversidade
cultural de cada região.
O Encontro discutiu a relação dos meios de comunicação de massa com a
cultura popular e foi muito frutífero, recebendo comunicações de todo Brasil.
Contou também com a presença de Dona Zita de Andrade Lima, esposa do
professor Luiz Beltrão e uma comitiva de 23 paraguaios, professores e estudantes
da Universidad Nacional de Assunción.
Foi também em 1998, durante o Evento, que ficou decidido criar uma rede
de estudos, chamada Rede Brasileira de Folkcomunicação (Rede FolkCom), com
a finalidade de estimular o desenvolvimento da pesquisa sobre Folkcomunicação,
a partir dos princípios formulados por Luiz Beltrão.

2ª.Conferência: FOLKCOM 1999


A II Conferência de Folkcomunicação aconteceu no período de 11 a 15 de agosto,
na cidade mineira de São João Del Rei. Promovido pela a Cátedra Unesco/Umesp
de Comunicação para o Desenvolvimento Regional e pela Fundação de Ensino

265
Folkcomunicação: memória institucional

Superior de São João Del Rei (Funrei), homenageou o centenário de nascimento


do folclorista Luíz da Câmara Cascudo.
O professor Guilherme Rezende, coordenador da II Conferência, afirmou
que quatro fatores inspiraram a formulação e a realização do encontro: o caráter
multidisciplinar, a conjugação de comunicações acadêmicas com apresentações
folclóricas, a expressão multicultural através da representação de pesquisadores de
diferentes regiões do país e a oportunidade para resgatar a memória dos pioneiros
desse campo de conhecimento3.
Também fez parte da programação a apresentação do coral Família Alcântara,
de grupos folclóricos, e procissão na Matriz N.SRA. do Pilar. Finalizou-se com
missa solene com a orquestra Lira São-joanense e procissão N.SRA. da Glória. Na
ocasião, a Cátedra Unesco/Umesp lançou o primeiro CDRom contendo todas as
informações da I Conferência: anais e a revista Enfolkcom realizada por alunos
da Universidade Metodista de São Paulo, onde aconteceu o primeiro encontro.
Durante a reunião dos pesquisadores da Rede Folkcom ficou decido a
realização de uma pesquisa, intitulada Imagens Midiáticas do Carnaval Brasileiro,
a celebração popular dos 500 anos do Brasil, coordenada pelos professores Dr.
José Marques de Melo, Dr. Joseph Luyten, Ms. Samantha Castelo Branco. O
trabalho teria como objetivo pesquisar a imagem de uma das mais populares
festas do Brasil, o Carnaval, verificando como estas imagens são veiculadas nos
jornais diários de todo o mundo.

3ª.Conferência: FOLKCOM 2000


A III FolkCom foi realizada na Universidade Federal da Paraíba - UFPB -, em
parceria com a Cátedra Unesco/Umesp, na cidade de João Pessoa na Paraíba, entre
os dias 26 a 29 de junho. O evento contou com a participação de pesquisadores
da área de Folkcomunicação vindos de diversas regiões do país. Um dos principais
objetivos do encontro foi o estudo das obras de três grandes pesquisadores da
Cultura Popular Brasileira, que têm origem no Nordeste: Altimar Pimentel,
Gilberto Freire e Mário Souto Maior. Todos eles em suas pesquisas analisaram
temas ligados à questão da mídia e da cultura popular.
Momento importante da conferência foi o painel Imagens Midiáticas do
Carnaval Brasileiro: a celebração popular dos 500 anos do Brasil, que teve como
painelistas os professores Joseph Luyten e Samantha Castelo Branco da Umesp,
que apresentaram os resultados da pesquisa realizada pela Rede FolkCom com
apoio da Cátedra Unesco de Comunicação. O trabalho reuniu informações
de todo o Brasil, América Latina, e de outros países, tais como: França, Itália,

3 Jornal da Folkcom, 11 a 15 de agosto, edições 1 a 3.

266
Folkcomunicação: memória institucional

Espanha, Japão, EUA. Este painel foi coordenado pelo Professor José Marques
de Melo, coordenador da pesquisa. O resultado deste trabalho está disponível
no Anuário Unesco/Umesp nº 4, que pode ser encontrado na Cátedra Unesco/
Umesp.

4ª.Conferência: FOLKCOM 2001


A IV Conferência Brasileira de Folkcomunicação (Folkcom 2001), ocorreu na
cidade de Campo Grande - capital do estado de Mato Grosso do Sul entre os dias
26-29 de junho de 2001. O tema central do encontro foi “As Festas Populares
como Processos Comunicacionais”. O objetivo desta Folkcom foi o de estudar a
natureza das festas populares vigentes no limiar do século XXI, identificando os
processos comunicacionais em uma grande pesquisa de abrangência nacional. A
Folkcom 2001 contou com a presença de cerca de 700 pesquisadores, estudantes,
professores que puderam verificar, apresentar e discutir os trabalhos oriundos de
diversas partes do país. Esse número expressivo de participantes e a boa repercussão
do evento só foi possível graças ao empenho e a dedicação da professora Marlei
Sigrist, organizadora local.
Na convocatória para o encontro de Campo Grande, diz-se textualmente
que seu objetivo é:
(...) estudar a natureza das festas populares vigentes no limiar do
século XXI, identificando os processos comunicacionais que as
configuram enquanto espaços de diversão cultural e celebração
cívica, além de analisar criticamente como a indústria midiática
catalisa tais modos de pensar, sentir e agir dos grupos sociais e das
comunidades.
O resultado dessa pesquisa está disponível no Anuário Unesco/Umesp nº 5,
que está sendo lançado até a primeira quinzena de maio de 2002.

5ª.Conferência: FOLKCOM 2002


A V Folkcom foi realizada na cidade de Santos, São Paulo, teve como tema central
à “Imprensa do Povo”. Coordenada pela professora Rosa Nava e realizada pela
Universidade Monte Serrat, com o apoio da Cátedra Unesco.
O objetivo principal do encontro do ano de 2002 foi estudar os processos
folkcomunicacionais, cuja difusão era feita através da mídia impressa. Analisar,
reconhecer e interpretar os meios impressos de que se valiam os agentes populares
da cultura tradicional: folhetos, almanaques, opúsculos, volantes, panfletos,
santinhos e outros. Estudar e compreender as mensagens folkcomunicacionais

267
Folkcomunicação: memória institucional

(notícias, anúncios, imagens) publicados na mídia impressa (jornais, revistas,


livros)4.
Com um público de mais de 500 pessoas, contou com pesquisadores
internacionais como o professor Luis Humberto Marcos, Diretor do Museu da
Imprensa, Porto, Portugal, que proferiu a conferência de abertura, que teve como
o título Trajetória da Imprensa no Espaço Lusófono: erudito, massivo e popular.
Outra presença portuguesa foi do professor Carlos Nogueira, da Universidade
de Lisboa, que fez palestra sobre a Literatura de Cordel Portuguesa: história,
pesquisa e interpretação. Esse público também foi composto por pesquisadores,
professores e estudantes de diversas universidades do Brasil; e foram apresentadas
diversas expressões da cultura popular da baixada santista.

6ª.Conferência: FOLKCOM 2003


A VI Conferência Brasileira de Folkcomunicação acontece no SESC Mineiro de
Grussaí, São João da Barra, Rio de Janeiro, no período de 3 a 6 de abril. Teve
como tema central a “Difusão do Folclore pelas indústrias midiáticas”. O evento
foi realizado pela Faculdade de Filosofia de Campos, Curso de Comunicação
Social, Campos dos Goytacazes – RJ, promovido Cátedra UNESCO/UMESP de
Comunicação e pela Rede FOLKCOM, com apoio do Núcleo de Pesquisa em
Folkcomunicação da INTERCOM e Grupo de Estudos de Folkcomunicação da
ALAIC.
Teve como coordenador nacional o professor José Marques de Melo, titular
da Cátedra Unesco/Umesp; coordenação regional dos professores Andral Nunes
Tavares (FAFIC-RJ) e Orávio de Campos Soares (FAFIC –RJ) e da Diretoria da
Rede Folkcom, professoras Cristina Schmidt (UMC-SP), Marley Sigrist (UFMS-
MS), Maria Cristina Gobbi (UNESCO/UMESP) e Rosa Nava ( UNIMONTE-
SP).
O objetivo do encontro foi delinear o perfil da folkcomunicação na mídia
a partir da localização dos seres humanos, da festa, da culinária, do artesanato,
da música, da religião, da arquitetura, do trabalho e etc. Realizar estudos
documentais descrevendo-os e analisando-os enquanto processos e fenômenos
folkmidiáticos, localizando seus agentes codificadores, seus canais de expressão,
o tipo de mensagem, o público que se destina. Demonstrar como a mídia se
apropria e globaliza os conteúdos do folclore, através de um levantamento do
material veiculado em jornais, revistas, Tvs, Internet, rádio, cinema, histórias em
quadrinhos, etc. Intercambiar subsídios com outros pesquisadores ligados à Rede
Folkcom-Unesco e novos pesquisadores, inclusive de iniciação científica. Contou
4 Texto retirado do folder da V Conferência Brasileira de Folkcomunicação, realizada entre os dias 1 a 4 de maio
de 2002, na cidade de Santos, São Paulo.

268
Folkcomunicação: memória institucional

com cerca de 500 participantes de universidades brasileiras e internacionais, e


com diversas apresentações culturais da região.

7ª.Conferência: FOLKCOM 2004


A VII Conferência Brasileira de Folkcomunicação foi realizada na UNIVATES,
na cidade de Lajeado (RS), no período de 13 a 16 de maio de 2003. Teve como
tema central a “Folkcomunicação Política”. Da mesma maneira que nos anos
anteriores, contou com a promoção da Cátedra UNESCO/UMESP e da REDE
FOLKCOM, e as coordenações ficaram assim atribuídas: Coordenador nacional:
Prof. Dr. José Marques de Melo (UNESCO/UMESP); Coordenação regional:
Prof. Sandro Kirst (UNIVATES) e Profa. Elizete de Azevedo Kreutz (UNIVATES);
Comitê Acadêmico da Rede Folkcom: Profa. Dra. Cristina Schmidt (UMC-
SP), Profa. Dra. Rosa Nava (UNIMONTE-SP), Prof. Dr. Roberto Benjamim
(UFRPE / Com. Nac. de Folclore), Profa. Ms. Marlei Sigrist (UFMS-MS), Prof.
Ms. Severino Lucena (UFPB / PUCRS).
O evento teve como objetivos: Inventariar, registrar, debater, generalizar e
formular novas hipóteses sobre os fenômenos políticos que permeiam o tecido das
manifestações folkcomunicacionais. Pretende-se não apenas analisar o conteúdo
político das mensagens produzidas e difundidas pelos agentes da folkcomunicação,
mas também as apropriações feitas pelos agentes políticos em relação às expressões
culturais das classes subalternas e dos segmentos culturalmente excluídos da
sociedade brasileira.

8ª.Conferência: FOLKCOM 2005


A VIII Conferência Brasileira de Folkcomunicação marcou os 40 anos do artigo
inicial do professor Luiz Beltrão. O texto Ex-voto como veículo jornalístico,
publicado na Revista Comunicação & Problemas, que delineou uma nova disciplina
na área da Comunicação Social: a Folkcomunicação. O material foi publicado em
1965, na primeira edição da Revista.
O evento foi realizado no Centro de Ensino Unificado de Teresina CEUT),
estado do Piauí, e contou com diversas entidades parceiras. Mostrou nos três
dias de encontro as diferentes áreas da comunicação que abarcam a essência
das manifestações da cultura popular; evidenciou, através da participação de
pesquisadores, estudantes, curiosos e interessados na temática, a diversidade
cultural brasileira.
A Conferência recebeu pesquisadores de diferentes Estados: Bahia,
Maranhão, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul,

269
Folkcomunicação: memória institucional

Paraná, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Minas Gerais, Espírito Santo e, ainda, do


cenário internacional, a exemplo de Portugal; despertou em novos pesquisadores
a conscientização da importância do estudo da cultura popular como um processo
agregador de valores ligados diretamente ao povo e às suas formas de expressão.
Importante destacar: o Prêmio João Claudino de Folkcomunicação, criado
com o objetivo de incentivar a produção do conhecimento científico acerca do
tema central do evento e também de assuntos diversos relacionados aos objetos
de estudos próprios da área; o desenvolvimento do projeto Caçadores de Milagres,
que permitiu a alunos e professores de Instituições de Ensino Superior (IES) o
estudo da comunicação religiosa em diferentes pontos de peregrinação no Piauí; a
elucidação de um aspecto inédito na Folkcom, por meio da realização da primeira
Mostra Imagem e Som, dando oportunidade para os trabalhos de iniciação científica,
com a apresentação práticas relacionadas às temáticas folkcomunicacionais.
A diversidade dos temas apresentados nos seis Grupos de Trabalho que
compuseram a Conferência, abrangendo contribuições oriundas de estudos como
o dos gêneros folkcomunicacionais, a abordagem midiática das manifestações
populares, com destaque para os ex-votos, além de releituras da obra “beltraniana”
com aspectos atuais da área de folkcomunicação, promoveu o fortalecimento da
Rede Folkcom, por meio da adesão de novos pesquisadores.

9ª.Conferência: FOLKCOM 2006


A Folkcomunicação e Cibercultura a voz e a vez dos excluídos na arena digital foi a
temática da IX Conferência de Folkcom. Promovida pela Universidade Metodista
de São Paulo e Cátedra UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento
Regional, em São Bernardo do Campo, SP, no período de 9 a 11 de outubro
de 2006. Teve a Coordenação científica e executiva da profa. Maria Cristina
Gobbi (METODISTA/ Rede Folkcom), foi realizada pela Rede Brasileira de
Pesquisadores em Folkcomunicação e contou com a parceria das faculdades
de Comunicação Multimídia – FACOM, Faculdade de Jornalismo e Relações
Públicas – FAJORP Faculdade de Publicidade, Propaganda e Turismo – FAPPT.
O evento foi dividido em três subtemas importantes e que provocaram
estudos atualizados de folkcomunicação compondo três mesas expositoras,
foram: espaços ocupados na rede mediada por computadores, estratégias usadas
para se projetar na ágora globalizada, mediações para sensibilizar as audiências
jovens. Nesse espaço, além de pesquisadores, apresentaram experiências empresas
de comunicação e de serviços e entretenimento como a TV Futura e o SESC São
Paulo.
Os cerca de 300 participantes com trabalhos de diversos níveis acadêmicos

270
Folkcomunicação: memória institucional

– de iniciação científica a doutorado – foram apresentados em seis grupos de


trabalho: GT 1 – Teoria e Metodologia da Folkcomunicação, GT 2 –Gêneros
e Formatos Folkcomunicacionais, GT 3 – Folkcomunicação Turística, GT
4 – Folkcomunicação Midiática, GT 5– Folkcomunicação Política, GT 6 –
Folkcomunicação Religiosa. E, da mesma forma que em edições anteriores, o
evento foi marcado por apresentações culturais do grande ABC e de São Paulo.

10ª.Conferência: FOLKCOM 2007


Com a temática central: A Comunicação dos Migrantes: Fluxos Massivos,
Contra-Fluxos Populares, foi realizada a X Conferência de folkcom no período de
16 a 19 de agosto, na Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, PR. Esse
tema teve o objetivo de compreender como a Folkcomunicação funciona em um
país de migrantes. Muitas manifestações tornam-se referências e são registradas
pela mídia criando um fluxo de informação massiva. Em contrapartida, isso gera
contrafluxos folkcomunicacionais. Emissores, canais/mensagens e receptores
diversos interagem com as localidades de origem e de destino. Para analisá-las
é preciso identificar os fluxos midiáticos e os contrafluxos folkcomunicacionais
provenientes daqueles que migram em que o folk e o massivo se mesclam.
A apresentação dos trabalhos ocorreu de duas formas, em painéis
subtemáticos: “Expressões folkcomunicacionais nos grupos étnicos paranaenses”;
“Fluxos de imigração: resistências e rupturas na comunicação popular/massivo”;
“Comunicação de massa e sincretismo cultural: estereótipos, tradições, modismos
e identidades flutuantes”. E, em quatro grupos de trabalho: Folkcomunicação e
Teoria e Metodologia; Folkcomunicação e Gêneros e Formatos; Folkcomunicação
Turística e Religiosa; Folkcomunicação midiática. Além disso, também programou
atividades culturais e visitas técnicas aos patrimônios históricos e naturais da
cidade.
Foi uma conferência sob a coordenação local de Sérgio Gadini e Karina Janz
realizada pelo Centro Acadêmico João do Rio (CAJOM), pelo Departamento
de Comunicação - Decom/Jornalismo UEPG; Universidade Estadual de Ponta
Grossa, Cátedra Unesco/Umesp de Comunicação para o Desenvolvimento
Regional e Rede Folkcom. Contou com o apoio da Fundação Araucária - Apoio
ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná.

11ª.Conferência: FOLKCOM 2008


A XI Conferência Brasileira de Folkcomunicação foi realizada por ocasião do
XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - Intercom, no período
de 2 a 6 de setembro, no Campus da UFRN (Natal), sob a coordenação local das

271
Folkcomunicação: memória institucional

professoras Betânia Maciel (UFRPE) e Érica Oliveira Lima (UFRN). Teve como
temática “A Cartografia Folkcomunicacional 1998 a 2008”, por meio de uma
pesquisa ampla envolvendo pesquisadores de diversos estados brasileiros.
A Cátedra UNESCO de Comunicação da Universidade Metodista
de São Paulo, através da Rede FOLKCOM - Rede Brasileira de Pesquisa em
Folkcomunicação, em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Folkcomunicação
da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e o
Grupo de Trabalho sobre Folkcomunicação da Associação Latino-Americana de
Pesquisadores em Comunicação (ALAIC), propôs a reconstituição do “Acervo da
Folkcomunicação”, inventariando “a fundação da FOLKCOM, que ocorreu no
ano de 1998 até seu estágio atual – 2008”.
Com a finalidade de descrever o estado da questão, contribuindo para a
formulação de diretrizes capazes de fazer avançar o conhecimento, a interpretação
e a exegese dos fenômenos da cultura popular, determinados pelos fluxos
midiáticos ou por eles intermediados. Configurou um mapeamento dos estudos
folkcomunicacionais, identificando: os marcos teóricos, os suportes metodológicos,
os objetos de estudo, os sujeitos investigantes, as fontes embasadoras, os canais de
difusa, e outras possíveis variáveis. O corpus da pesquisa compôs-se pelas fontes
impressas (Livros e fascículos, Artigos em periódicos, Verbetes em glossários);
Literatura cinzenta (Artigos em anais, Teses e dissertações, TCCs e IC’s); Fontes
eletrônicas (AudiovisuaisTextos em portais digitais.
Nesta conferência também foi oferecido o “Prêmio Câmara Cascudo de
Folkcomunicação”. Em território nordestino, em Natal, há 110 anos nascia Luis
da Câmara Cascudo, considerado o cientista maior da Cultura Popular. E em
Pernambuco, nascia há 90 anos aquele que ousaria criar uma nova disciplina
– Folkcomunicação – justamente na fronteira da Comunicação Massiva com a
Cultura Popular. O Prêmio Câmara Cascudo de Folkcomunicação destinou-se aos
autores de estudos que focalizaram incursões de Câmara Cascudo pelo território
folkcomucacional, dialogando direta ou implicitamente com os postulados
construídos por Luiz Beltrão, através de uma das seguintes formas de expressão:
Artigo científico, Reportagem – jornal, revista ou internet; Documentário –
produto videográfico para suportes audiovisuais.
E, momento de grande destaque o Simpósio comemorativo dos 90 anos
de Luiz Beltrão, evento organizado em parceria com a Intercom e apoio da
Globo Universidade. Foi desenvolvido em duas mesas; a primeira, coordenada
por Roberto Benjamin (UFRPE) trouxe os temas e pesquisadores: Itinerário de
Luiz Beltrão - Maria Cristina Gobbi (UMESP), Epistolografia de Luiz Beltrão –
Antonio Teixeira Barros (IESB), Trajetória sindical de Luiz Beltrão – Adisia Sá
(UFC), Percurso folkcomunicacional de Luiz Beltrão – Betania Maciel (UFRPE).
A segunda, coordenada por Antonio Hohlfeldt (Prêmio Luiz Beltrão 2007) foi
272
Folkcomunicação: memória institucional

composta por: Itinerário de Luiz Beltrão – Betania Maciel (UFRPE); Epistolografia


de Luiz Beltrão – Antonio Teixeira Barros (IESB); Percurso folkcomunicacional
de Luiz Beltrão – Cristina Schmidt (UMC); Difusão internacional da pesquisa
em folkcomunicação – Sergio Luiz Gadini (UEPG). O encerramento coube ao
professor e pesquisador Alfredo Vizeu (Prêmio Luiz Beltrão 2007).

12ª.Conferência: FOLKCOM 2009


Em 2009, a XII Conferência Brasileira de Folkcomunicação teve como tema a
“Cultura Caipira” e aconteceu na cidade de Taubaté, interior do estado de São
Paulo entre os dias 11 e 13 de novembro. A realização do encontro foi fruto de
uma parceria entre o SESC, o Departamento de Comunicação da Universidade de
Taubaté – UNITAU, a Cátedra Unesco e a Rede Folkcom de Pesquisadores, com
a coordenação local do Prof. Ms. Marcelo Tadeu dos Reis Pimentel (UNITAU).
A programação foi composta por Colóquios e Painéis compostos por
pesquisadores representativos da área de diferentes universidades brasileiras, e
por profissionais da Comunicação como José Hamilton Ribeiro e Maurício de
Souza. Também ocorreram exibição de filmes pertinentes à temática, foi o Cine
fórum Mazzaropi, coordenado pelo Instituto Mazzaropi e o Núcleo de Pesquisa
em Comunicação.
Também contemplou a apresentação de pesquisas de iniciação científica,
mestrado e doutorado, nem quatro Grupos de trabalho: GT 1 – Teoria,
Metodologia, Gêneros e Formatos da Folkcomunicação sob coordenação da
profa. Dra. Cristina Schmidt (UMC), GT 2 – Folkcomunicação Midiática,
Coordenada pela Profa. Dra. Karina Woitowicz (UEPG) e Marcelo Sabatini
(UFRPE); GT 3 – Folkcomunicação Política, Turística e Religiosa que teve a
Coordenação de Marcelo Pires de Oliveira (UESC) e Eliane Mergulhão (CEFET-
SJC); GT 4 – Cultura Caipira com a coordenação da profa. Dra. Betânia Maciel
(UFRPE), Maria Érica de Oliveira (UFRN) e Marcelo Pimentel (UNITAU).

13ª.Conferência: FOLKCOM 2010


A Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação - Rede Folkcom, a
Cátedra Unesco/Umesp de Comunicação para o Desenvolvimento Regional e
a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) realizam a XIII Conferência
Brasileira de Folkcomunicação Folkcom 2010. O tema dessa edição é “Esteja a
gosto, sabores e saberes populares: a folkcomunicação gastronômica”, que analisa
os processos comunicacionais existentes na culinária regional e também percebe
como a mídia retrata, representa e apresenta a culinária regional. O evento
realizado em Ilhéus, Estado da Bahia, nos dias 10 a 13 de novembro de 2010.
273
Folkcomunicação: memória institucional

A conferência também dividida em grupos de trabalhos, contando com


quatro GTs: GT 1 – Folkcomunicação, Manifestações Urbanas e Cyberculturais
- propõe-se Estudar as Manifestações de Cultura Popular Urbanas e As formas
de Folkcomunicação que ocorrem na rede mundial de computadores(internet);
GT 2 – Folkcomunicação, Religião e Festividades - estudos relativos às
Manifestações religiosas das várias religiões e as festividades de cunho
popular; GT 3 – Folkcomunicação Midiática – abriga as análises da produção
midiática que utiliza elementos da cultura popular e sua representação; GT 4 –
Folkcomunicação, Campos de Pesquisa, Teoria e Metodologia – trabalha com as
reflexões críticas das pesquisas em Folkcomunicação e suas relações com as demais
teorias da comunicação e apontamentos sobre as metodologias de pesquisa em
Folkcomunicação.
Neste encontro, parte dos trabalhos é resultado de uma grande pesquisa
nacional de mesmo tema, mobilizando pesquisadores de diferentes universidades
e níveis acadêmicos – iniciação ao doutorado. E, como é tradicional nos eventos
de folkcom, esta conferência conta com apresentações culturais e visitas técnicas
a comunidades relacionadas ao tema.

Revista e site
Importante destacar mais dois importantes projetos da Rede Folkcom: a Revista
Internacional de Folkcomunicação (On line) que é um espaço editorial para
publicação de trabalhos, reflexões e pesquisas em torno da Folkcomunicação
(com base na perspectiva conceitual de Luiz Beltrão), seja enfocando aspectos
interdisciplinares, propostas e estratégias metodológicas de estudos afins ou
resultados de investigações folkcomunicacionais. A Revista (RIF) é editada
pela Rede Folkcom, em parceria com a Agência de Jornalismo da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR). Com periodicidade semestral, a Revista
Internacional de Folkcomunicação é publicada no final dos meses de Junho e
novembro.
Os Indexadores da revista são:
Portal Livre! http://livre.cnen.gov.br
Latindex http://www.latindex.unam.mx/latindex/busquedas1/index.html
Portal Periódicos (CAPES) http://www.periodicos.capes.gov.br
Red Iberoamericana de Revistas de Comunicación y Cultura http://
www.revistasdecomunicacion.org/listado.html
O Portal da Rede Folkcom - Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação,
foi concretizado no mês de abril de 2007, com o objetivo de ampliar e potencializar

274
Folkcomunicação: memória institucional

as atividades da Rede; e estabelecer um canal permanente de colaboração científica


entre os membros, pesquisadores interessados e profissionais ligadas a área da
comunicação e da cultura popular5.

Referências bibliográficas e sites


BELTRÃO, Luis. A comunicação dos marginalizados. In: Folkcomunicação:
a mídia dos excluídos. Intercom. Cadernos de Comunicação. Estudos. v. 17.
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: A secretaria, 2007. Prêmio
Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação 2006 na categoria grupo inovador.
BENJAMIN, Roberto. A fala e o gesto: narrativas de Folkcomunicação
sobre narrativas populares. Recife: Universitária, 1996.
_______. Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados. São
Paulo: Cortez, 1980.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Contos brasileiros. São Paulo: Expressão
popular, 2006.
MARQUES DE MELO, José. Uma estratégia das classes subalternas, In:
Folkcomunicação: a mídia dos excluídos. Intercom. Cadernos de Comunicação.
Estudos. V 17. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: A secretaria,
2007. Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação 2006 na categoria grupo
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_______________________. Mídia e cultura popular: história,
taxonomia e metodologia da Folkcomunicação. São Paulo: Paulus, 2008.
TRIGUEIRO, Osvaldo. Luiz Beltrão: pioneiro das ciências da
comunicação no Brasil. João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba,
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___________________. .Folkcomunicação e ativismo midiático. João
Pessoa: Editora da Universidade Federal da Parabíba, 2008
SCHMIDT, Claudia. Teoria da Folkcomunicação. In: Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro. Folkcomunicação: a mídia dos excluídos. Cadernos da
Comunicação. Série Estudos. Rio de Janeiro: A Secretaria, 2007

5 Disponível em www.redefolkcom.org .

275
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – 2010

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Daniel Castro, José Marques de Melo, Cosette Castro. - Brasília : Ipea,
2010. 3 v. : gráfs., tabs.

Inclui bibliografia.
Conteúdo: v.1. Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. – v. 2. Memória das associações científicas e acadêmicas da
comunicação no Brasil.– v. 3. Tendências na comunicação.
ISBN

1. Comunicação. 2. Telecomunicações. 3. Brasil. I. Castro, Daniel. II. Melo,


José Marques de. III. Castro, Cosette. IV. Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. V. Título: Colaborações para o debate sobre telecomunicações e
comunicação. VI. Título: Memória das associações científicas e acadêmicas de
comunicações no Brasil. VII. Título: Tendências na comunicação.

CDD 384.0981
PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E DAS
TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL

VOLUME 3

TENDÊNCIAS NA COMUNICAÇÃO

Organização
Daniel Castro
José Marques de Melo
Cosette Castro

Coordenação
José Marques de Melo
Anita Simis
Elias Machado
Claudia Lago
Daniel Castro
Cosette Castro
SUMÁRIO

VOLUME 3
TENDÊNCIAS NA COMUNICAÇÃO

Apresentação
Cosette Castro..............................................................................................13

1º. Capítulo
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil
Maria Cristina Gobbi.....................................................................................15

2º. Capítulo
Tendências Ocupacionais e Profissionais
Andrea Ferraz
Fernandez....................................................................................................63

3º. Capítulo
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais
Alexandre Kieling........................................................................................173

4º. Capítulo
Panorama da Comunicação em 11 países da Comunidade Ibero-Americana
Sivaldo Pereira da Silva................................................................................231
Si estamos viviendo una crisis del quehacer
en las ciencias sociales de América Latina,
la tarea de quienes las practican es la de analizar sus características
y las exigencias que plantea,
siempre y cuando no se tenga una noción apocalíptica y fatalista de ella.
Esto implica reexaminar los paradigmas existentes,
desechar lo que hay que desechar,
renovar lo que se puede renovar
y construir nuevos instrumentos teóricos y conceptuales
para aquellos fenómenos que se nos presentan
sobre la marcha de los procesos sociales.

(Heinz R. Sonntag)
Apresentação

O volume 3 desta obra faz parte da parceria entre o Instituto de Pesquisas


Econômicas Aplicadas (Ipea) e a Federação Brasileira das Associações Acadêmicas
e Científicas de Comunicação ( Socicom) e conta com o apoio institucional da
Presidência da República através do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL).
O convênio entre as duas instituições promovem três eixos importantes para
a sociedade. O eixo 1 trata do levantamento do estado da arte da pesquisa e
mercado da Comunicação brasileira, suas tendências de curto, médio e longo
prazo. Ao desenvolver a pesquisa intitulada Panorama da Comunicação e
das Telecomunicações no Brasil, estimulando estudos metodologicamente
desenvolvidos além dos muros acadêmicos, Ipea e Socicom oferecem a
oportunidade de novos espaços de pesquisa e investigação de forma interdisciplinar
na tentativa de dar conta das complexas transformações que estamos vivenciando
nesta primeira década do século XX.
A partir dos dados e análises oferecidas nesses estudos, é possível passar
para um outro nível de acompanhamento sobre a pesquisa e o mercado em
Comunicação no Brasil, seja a partir da realidade nacional, seja comparando-o
com outros países. O estabelecimento de indicadores (eixo 2) e a continuidade das
pesquisas através da realização de séries históricas nessa área ajudarão a compreender
as mudanças que estamos passando, seja em termos tecnológicos, seja em termos
de atualização do marco legal da Comunicação e das Telecomunicações, seja na
produção e distribuição de conteúdos e serviços digitais, seja na avaliação sobre o
tipo de oferta informativa existente e também sobre a produção de conhecimento
em circulação. Mais do que isso, ajudarão no estabelecimento de políticas públicas
para o Brasil, além de oferecer pistas importantes para garantir o desenvolvimento
de áreas estratégicas da futura indústria de conteúdos digitais, voltadas para a
inclusão social, para a diversidade cultural, para a ampla circulação da informação
(pública ou privada, paga ou gratuita), para o fomento à pesquisa e inovação,
voltada para o desenvolvimento sustentável, para a capacitação profissional e para
ampliação do mercado de trabalho.
O terceiro eixo de atuação do convênio Ipea – Socicom inclui a criação de
um Observatório sobre Políticas Públicas em Comunicação e Desenvolvimento,
que deverá acompanhar as ações do governo em seus diferentes âmbitos na busca
por garantir a Comunicação como um direito humano, básico e diretamente
relacionado a melhora da qualidade de vida dos cidadãos brasileiros. Nesse
sentido, o papel das associações, fóruns, federações que aglutinam os pesquisadores
brasileiros em Comunicação é essencial tanto para garantir o funcionamento dos
três eixos do convênio - que inclui ainda a realização de seminários, palestras,

13
publicação de livros - como também para ofertar um olhar especializado sobre
as diferentes áreas temáticas da Comunicação em diálogo constante com outros
campos do saber.
A obra como não poderia deixar de ser, além de reflexões de fundo que
aparecem no volume 1, também traz a público a história das instituições de
pesquisa em Comunicação no país, no volume 2. Apresenta aos leitores uma
história que até então estava restrita aos muros acadêmicos e que em 2010 passa
a fazer parte da história do país, sendo ampliada e reconhecida em outros setores.
Uma historia de instituições, movida por pesquisadores, professores, estudantes de
graduação e pós-graduação cujas atividades tem levado o Brasil a ser reconhecido
como um dos importantes espaços de reflexão e pesquisa em Comunicação no
mundo. Trata-se de uma leitura do passado e do presente para pensar o futuro.

Cosette Castro

14
CAPÍTULO 1

Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Maria Cristina Gobbi1

Introdução
O desafio da pesquisa sempre enseja tratar o tema foco de forma exaustiva - o que
não seria possível em um artigo científico. Assim, esse primeiro resultado pontua
questões indicadas como de ordem geral, oferecendo um panorama nacional
para os motes relativos à Comunicação no Brasil. Nesse sentido, a metodologia
é um processo para a tomada de decisões e que permite a definição de fases e
a determinação de um espaço-temporal, onde o escopo será desenvolvido e
operado, em combinação aos critérios de validação da seleção dos dados. As
escolhas, ora apontadas, buscam determinar instrumentos para dar formato e
reforçar o cenário comunicativo, especialmente o desenhado nesta última década
e por diversos atores, quer institucionais ou individuais.
A pesquisa é sempre um espaço de forças, determinada pela lógica das
condições sociais de produção. Revela os pré-supostos do discurso, mas também
referencia o fazer produzido, onde atores encenam as práticas de uma autonomia
relativa, mas não dissociada das condições concretas de elaboração, difusão e
desenvolvimento daquilo que se está empreendo. Porém, as competências para
abordar esse ou aquele objeto e a forma dada a ele são desenhadas na natureza
de produção. Estas determinam o ponto de partida, a trajetória e definem o
objeto para a tomada de decisão Esse é, então, o primeiro estágio2 de uma matriz
de Indicadores sobre o campo da Comunicação no Brasil. Pretende servir de
subsídios a projetos que tenha atenção não só no saber comunicativo, mas na
qualidade daquilo que se empreende nesse campo, servindo de referência também
1. Pós-Doutora pelo Programa de Integração da América Latina (PROLAM) da Universidade de São Paulo.
Bolsista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Pesquisadora responsável pela pesquisa sobre
a produção de conhecimento em Comunicação, nacionalmente institucionalizados. Vice-coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital e professora do Programa em Comunicação da Universidade
Estadual Paulista (UNESP). Professora da Universidade de Sorocaba (UNISO).Mail: mcgobbi@terra.com.br.
Assistentes de Pesquisa III: Francisco de Assis Guedes e Juliana C. G. Betti. Equipe de Apoio: Cecília Soares de
Paiva, Cristiane dos Santos Parnaíba, Faiga Toffollo e Rose Mara Vidal de Souza.
Este artigo é resultado da primeira etapa da pesquisa Panorama da Comunicação no Brasil, cuja meta era di-
agnosticar a produção de conhecimento nos principais segmentos da comunicação nacionalmente institucion-
alizados, desenvolvida no âmbito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) através do Programa de
Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD). Os resultados finais da investigação serão disponibilizados
em janeiro de 2011 pelo Ipea.
2. Este artigo é resultado da primeira etapa da pesquisa Panorama da Comunicação no Brasil, cuja meta
era diagnosticar a produção de conhecimento nos principais segmentos da comunicação nacionalmente
institucionalizados, desenvolvida no âmbito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) através do
Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional (PNPD). Os resultados finais da investigação serão
disponibilizados em janeiro de 2011 pelo Ipea

15
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

para a tomada de decisão das futuras políticas públicas. Esse documento inicial
objetiva estruturar um conjunto de quesitos que possibilitem revelar e diminuir as
distâncias entre a teoria e a prática comunicativa, apontando para a possibilidade
da criação coletiva como ação transformadora, fruto do exercício de parceria
entre pesquisadores e instituições, não só desejável como inevitável nas ciências
contemporâneas.
Inserida neste contexto de inquietude, as experiências resultantes dessa
investigação possibilitarão a construção de novos conhecimentos, superando
a fragmentação dos saberes. Desta forma, um dos desafios foi o de alcançar
objetivos mais amplos e resultados plurais, numa perspectiva integradora não
apenas dos conteúdos, mas e, sobretudo, de pesquisadores e instituições. Assim,
à ameaça na formação de um campo da Comunicação autônomo, devido ao
uso indiscriminado e desconectado dos múltiplos conhecimentos poderá ser
superado com a sistematização e a reflexão constante dos participantes, para que
os diversos aportes teórico-metodológicos estejam voltados a um objetivo maior:
o entrecruzamento de ciências, de modo que sejam modificadas e repensadas em
função da Comunicação, de um novo olhar transformador.
Neste sentido, o resultado também oferece uma visão interdisciplinar,
possibilitando uma prática diferenciada, que pode dar conta da complexidade
e da dinâmica do campo da Comunicação, especialmente no Brasil. Esta prática
pode se traduzir pela possibilidade que a pesquisa, como um todo, oferece de
descrever e diagnosticar a produção do conhecimento comunicativo, analisando
o desenvolvimento, na última década, dos setores midiáticos; desenhar o
panorama da indústria nacional de informação e comunicação; analisar, mensurar
e descrever os setores das profissões legitimadas e das ocupações emergentes
no campo, além de traçar o perfil nacional da comunicação, evidenciando os
perfis socioeconômico, educativo-cultural, entre outros. Todo esse amplo escopo
possibilita a reflexão teórica baseada na construção coletiva prática de novos
conhecimentos, fundamental para o avanço da Ciência da Comunicação.
Avaliar o Estado do Conhecimento no campo acadêmico e profissional
da Comunicação Social no Brasil, na última década, passa por vários desafios.
Embora em estágio avançado, se comparado com outras regiões, principalmente
da América Latina, a área ainda busca a ampliação dos níveis de excelência na
formação universitária e na inserção dos egressos no mercado profissional. Outras
características da Comunicação Social altercadas são o amplo entendimento sobre
o conceito do campo comunicacional, as definições de suas fronteiras, objetos,
agentes (produtores e consumidores), cenários e produções.
Esse foi o escopo dado pela chamada pública nº 63/2010, do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Programa de Pesquisa para o
Desenvolvimento Nacional (PNPD). Com o título “Panorama da Comunicação
16
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

no Brasil: PBC 2010”, o projeto teve como meta descrever e diagnosticar


a produção de conhecimento nos principais segmentos da comunicação
nacionalmente institucionalizados ou publicamente legitimados, como:
Audiovisual, Cibercultura, Divulgação Científica, Economia Política da
Comunicação, Editoração, Folkcomunicação, História da Mídia, Jornalismo,
Marketing Político, Publicidade, Radialismo, Relações Públicas e Semiótica.
O mote central buscou estabelecer de qual maneira e quais produções,
instituições, centros de pesquisa e temáticas definem o panorama da Comunicação
no Brasil, na última década. Assim, o objetivo central é inventariar e diagnosticar
a produção científica brasileira, possibilitando a determinação de indicadores
nacionais sobre o conhecimento comunicacional produzido, resultado do
cruzamento dos dados coletados nos múltiplos espaços institucionalizados, nos
últimos 10 anos.
Para atender a esse objetivo, em uma ampla pesquisa empírica e densa revisão
teórica, os resultados gerais estão divididos em duas partes. A primeira, que ora se
apresenta, discorre sobre a metodologia geral utilizada e o contexto dessa produção,
apresenta alguns indicativos nacionais e marca a direção da especificidade das
análises, que continuam sendo realizadas e serão disponibilizadas em janeiro de
2011 pelo Ipea.
A Parte dois desta pesquisa evidencia o Panorama Brasileiro do Pensamento
Comunicacional, demonstrando o conhecimento holístico produzido no
âmbito das duas Instituições Paradigmáticas no campo da Comunicação Social:
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)
e Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
(Compós), reunindo assim as reflexões tanto no nível da graduação, como aquelas
oriundas dos programas de pós-graduação do País. Também, mostra o Estado
do Conhecimento a partir das subáreas Consolidadas (Jornalismo, Publicidade,
Cinema e RP) e das Subáreas Emergentes (Cibermídia, Cibercultura, Folkcom,
Propaganda Política, Comunicação Organizacional, Jornalismo Científico,
Economia Política).
Finalmente, diversos projetos de mapeamento do Campo da Comunicação
foram (estão sendo) gestados em universidades brasileiras, especialmente nos
cursos de Graduação e Pós-Graduação, ressaltando que cada instituição estabelece
seus critérios a partir de experiências individuais (ou em grupo) de pesquisadores
atuantes na área.
O projeto “Panorama da Comunicação no Brasil 2010”, proposto pelo
Ipea, possibilitou a revisão dos processos comunicativos a partir do conhecimento
atualizado produzido nos centros de excelência em pesquisa, instituições de
produção de conteúdos comunicativos e de formação profissional. Também

17
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

foi possível interpretar os resultados em suas interfaces nacionais, regionais e


locais identificando, desta forma, as tendências da Comunicação Brasileira, na
primeira década do século XXI, oferecendo perspectivas futuras para os setores
profissionalmente legitimados e emergentes no Campo da Comunicação.

Cenários para o Desenvolvimento do Estudo


Um campo científico pode ser definido como um conjunto de métodos, estratégias
e objetos legítimos de discussão3 . Sendo assim, em cada um desses elementos,
são diversos os procedimentos capazes de contribuir para sua fragmentação
ou sua consolidação. Como afirma Marques de Melo4 , “(...) à medida que se
institucionaliza um novo campo do saber, torna-se imprescindível oferecer às
novas gerações um quadro histórico que estimule a acumulação orgânica de
experiências, evitando-se a repetição de etapas já percorridas, mas que escapam
muitas vezes à percepção dos pesquisadores neófitos”.
Por outro lado, também, esse repertório acumulado nos permitirá fortalecer
os estudos e as práticas comunicacionais. No resgate das produções comunicativas
podem ser encontradas as oportunidades para a consolidação dos referenciais
teórico-metodólogicos. Por outro lado, as ações práticas oferecem o referencial
capaz de definir políticas públicas adequadas para que o efetivo processo de
comunicação seja estabelecido, nos mais variados âmbitos, permitindo aplicar na
prática o sentido de um processo democrático e plural.
Revisar o “estado da arte” em comunicação como propõe o projeto
“Panorama da Comunicação no Brasil: PBC 2010” é revelar um número grande
de conjunturas. Os desequilíbrios da informação e da comunicação, tratando
do tema da dependência informativa e as múltiplas crises instaladas nos mais
variados segmentos, deram origem a diversas equipes de pesquisadores que
buscam soluções para os problemas da Comunicação. É possível observar que
são várias são as iniciativas isoladas ou grupais, que surgem no país no sentido
de congregar a produção comunicacional, principalmente a partir da década de
1970. Entretanto, mesmo passados 40 anos não se produziu uma única avaliação
sobre os diferentes formatos e eficácia desses grupos consolidados.
A recente proliferação de instituições de ensino na área da Comunicação, a
crescente demanda por pesquisadores com visão crítica e analítica sobre a produção
científica nacional e a necessidade urgente de políticas públicas para o ensino e a
pesquisa, justificam o mapeamento e a definição de indicadores que sirvam de base
3. BORDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983, p. 84.
4. Parte do discurso de abertura do III Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação.
Material disponível no Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano “José Marques de Melo”,
na Universidade Metodista de São Paulo. Material disponível no Acervo da Escola Latino-Americana de
comunicação.

18
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

para a elaboração de um plano nacional, capaz de abrigar os perfis comunicativos


no País. Não se trata, evidentemente, de criar um modelo único de produção,
mas de estabelecer parâmetros mínimos de qualidade para essa produção e sua
divulgação, considerando-se a relevância e as demandas crescentes por estudos
que evidenciem as mudanças ocorridas no cenário nacional, especialmente na
última década.
O processo de identificação coletiva de um campo do conhecimento
caminha ao lado do fenômeno de autoconhecimento e este por sua vez, pode
obedecer a diferentes fronteiras identificáveis. Por outro lado, não se pode falar
em desenvolvimento da Comunicação tendo por base somente à dependência
político-social ou mesmo, o processo de globalização. Faz-se necessário discutir
os cenários específicos do campo e incluí-lo dentro de um espaço temporal, sem
perder de vista os atores dessa difusão e as instituições que contribuíram para o
desenvolvimento e disseminação da cultura comunicacional.
Nesse cenário, entre o desenvolvimento e a Comunicação, vários especialistas
começaram a projetar e socializar a idéia da criação de instituições capazes de
congregar essas preocupações e estimular o desenvolvimento de pesquisas na
região. E o resultado dessa produção, embora disponível, ainda são esparsos.
Trata-se de um universo restrito aos espaços que abrigam pesquisadores, com
temas diversificados e produções que visam contemplar diferentes áreas do
conhecimento comunicativo.
O impasse atual das ciências da Comunicação, que surge de velhas
discussões sobre as fronteiras reais de integração com outras ciências, como afirma
Aguirre5 , permite que se possa adotar duas estratégias de avanço: a) a necessidade
de concepção unificada no campo científico levaria a exigir uma visão teórica
coerente, permitindo agrupar diversas disciplinas que não se prendem a uma
única corrente teórica e b) as diversas Ciências da Comunicação se constituem
com certa autonomia, estabelecem relações segundo os problemas que buscam
solucionar a partir da multidisciplinaridade e da transdisciplinaridade.
Se, por um lado, temos a teoria da ação comunicativa de Habermas (1988),
a teoria geral da comunicação de Luhmann (1991), ou as teorias sociais sobre a
produção da Comunicação e a estruturação dos cenários e atores social destes
espaços; por outro, podemos refletir que há diversas teorias fragmentarias sobre
cada fase do processo de Comunicação, que estão mais preocupadas em defender
suas próprias fronteiras, do que em integrar-se neste cenário amplo, já configurado
no século XXI.
As Ciências da Comunicação necessitam colocar ordem na definição de suas
5. AGUIRRE, Jesús Maria. El pensamento Latinnoamericano sobre comunicación. Anagnorisis de una ciencia
bastarda. Revista eletrônica científica PCLA, n. 1, 1. ed., home-page: www.umesp.com.br/unesco/pcla/index.
htm, 1999, acesso em julho de 2010.

19
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

prioridades e constatações, para então legitimarem-se no campo da produção


científica dentro das Ciências Sociais6 . Para Aguirre (2010), faz-se necessário:
a) a definição das fronteiras da disciplina, buscando seus centros teóricos
ou certos focos teóricos; b) buscar sua legitimidade com base em conceitos
metodológicos para ser reconhecida no campo das Ciências Sociais e c) os cursos
de pós-graduação, deve estar vinculado a instituições de pesquisa, para garantir a
formação de cientistas entre as gerações mais jovens.
Existe um conjunto de pensadores, que mesmo vindo das mais diversas
disciplinas, tem focalizado sua atenção no diagnóstico e na solução de problemas
comunicacionais, tratando do conjunto regional, ou segmentando a mega região
em estado-nação com uma historicidade comum. Conjugado a autopercepção e
a heteropercepção dos trabalhos desenvolvidos no campo das Ciências Sociais,
há uma produção séria, enraizada nos problemas regionais, específicas em seu
conjunto, apesar dos desenvolvimentos desiguais na mega região brasileira.
É fundamental observar que está se desenvolvendo atualmente, um
contíguo de transformações paradigmáticas de grande repercussão. Se, como
afirma Marques de Melo (1998), até alguns anos atrás as pesquisas brasileiras
se destinavam, em sua grande maioria, ao conhecimento da penetração dos
veículos de comunicação de massa junto às populações urbanas, disponibilizando
os índices de audiência de programas de rádio, TV ou mostravam a circulação
de jornais e revistas; atualmente os desafios caminham pela compreensão dos
elementos que integram o processo comunicativo, pelas análises dos fenômenos
relacionados ou gerados pela transmissão de informações, sejam dirigidas a uma
única pessoa, a um grupo ou a um vasto público.
Hoje os principais desafios enfrentados nas pesquisas em comunicação
ainda são o modismo e a imitação7 . Para Marques de Melo (1998), esses fatores
são reflexos da dependência externa, que ainda continua muito forte. Precisamos
redimensionar o trabalho científico, “aprofundando a interpretação dos
fenômenos já conhecidos; observar sistematicamente os novos fenômenos, dando-
lhes registro crítico-descritivo e cambiar as análises de fenômenos globais com os
casos específicos”, dessa maneira será possível o desenvolvimento de pesquisas
calcadas nas próprias necessidades e realidades do país, considerando sempre
os estímulos externos, mas não os priorizando. É necessário que a pesquisa em
Comunicação possa auxiliar as transformações sociais, acumulando informações
que realmente mostrem o cotidiano latino-americano, ajudando-os a “construir
novos modelos de produção e distribuição das riquezas de criação e reprodução
da cultura” (MARQUES DE MELO, 1998, p. 100).
Embora com saldo positivo, os conhecimentos legitimados nesse campo
6. Idem, ibidem.
7. Grifo da edição.

20
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

precisam contribuir para a construção de sistemas plurais de Comunicação


capazes de serem motores das sociedades democráticas. Também o processo de
legitimação e de identidade acadêmicas deste campo está diretamente relacionado
a formação de profissionais competentes para a prática científica, além da efetiva
participação desses atores sociais nos cenários acadêmicos, buscando equilíbrio
entre a teoria e a prática profissional.

Metodologia
Estamos diante de cenários diversificados e amplos, onde as “condições de
produção, circulação e recepção de mensagens” se alteraram de maneira radical.
A revolução digital tem permitido que “no campo da comunicação, pessoas
comuns (...) descubram possibilidades e talentos de expressão que nos modelos
tradicionais dificilmente poderiam exercer”. Tornaram-se produtores, “(...) nos
mais variados formatos (fotografia, música, audiovisual, textos, hipertextos,
conhecimento, cultura, educação, entretenimento etc)”. Grandes e variados
sistemas comunicativos, nas múltiplas etapas do processo, estão sendo criados e
amoldados, não mais e somente sob a ótica de um único e tradicional produtor,
mas do cidadão, que com “singular inteligência, renovação artesanal e industrial,
opera, ascende e flui nas culturas midiáticas” (MALDONADO, 2010, p. 1-2).
Toda essa mudança enseja a idéia de “dimensão multiforme”
(MALDONADO, 2010, p. 3-4), que a partir de pontos de distinção “concebem
essa dimensão como formas de vida (Wittgenstein, 1988) articuladas em uma
trama (...) comunicacional e (...) no interior delas é possível observar a inter
relação com organizações de outras espécies (técnica, política, econômica,
psicológica, lingüística)”. Assim, as “capacidades produtivas (artísticas, cognitivas,
experimentais, políticas, sócio-organizativas, culturais, poéticas e de trabalho)
são potencializadas, criando um caráter multidimensional para a comunicação”.
Quando são utilizados “recursos e técnicas digitais pode-se mostrar concretamente
as convergências hipertextuais, as formas de confluência, as misturas (...) e sua
transposição para as dimensões comunicativas”.
Para Maldonado (2010, p. 7) há uma “transformação tecnocultural
profunda que combina condições de produção digital com multiculturalidade
intensa, renovadora e conflitiva”, onde há novos modos de interpretar o receptor
multimidiático, situando-o a uma multidimensionalidade comunicacional,
socializando as possibilidades de intercâmbio de inteligências múltiplas no
processo de produção do conhecimento. Desta forma, argumenta Maldonado
(2010) essas inter-relações promovem a inserção de milhões de pessoas antes
excluídas por desconhecimento das técnicas e das competências produtivas do
processo comunicativo. “Hoje é possível produzir audiovisual, música, jornais,
revistas, artes visuais, textos, livros etc” (p. 8), sem uma infra-estrutura sofisticada.
21
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Esse novo cenário exige a construção de outras formas de dimensionar, estudar


e analisar o processo comunicativo, definindo metodologias (métodos e técnicas)
capazes acolher, sistematizar e responder a “problemas concretos”, perpassando
os métodos já conhecidos. É a perspectiva “(...) transmetodológica onde se
mesclam e configuram lógicas, categorias, teorias e desenhos metodológicos”,
que se alimentam de “conhecimentos dinâmicos que vão sendo produzidos pelos
métodos gerais e particulares de cada área pertinente, (...) fortalecendo-se de
conhecimentos teóricos formulados na linha comunicacional transdisciplinar”
(MALDONADO, 2010, p. 10). Desta forma, defende ele, “se estabelece uma
inter-relação dialética entre transmetodologia/transdisciplinaridade, sendo a
primeira o correspondente metódico das exigências teóricas da segunda” (p. 10).
A transmetodologia “propõe um diálogo/confrontação entre métodos,
lógicas e procedimentos para trabalhar pesquisas concretas”, permitindo o
conhecimento mais amplo das “possibilidades metodológicas que oferecem novos e
velhos descobrimentos, (...) admitindo rupturas e continuidades epistemológicas,
incluindo a esse esforço a incorporação de epistemológicas autóctones e mundiais;
científicas e milenares, para-consistentes e formais; dialéticas e axiomáticas”,
que aceitam “(...) os princípios da diversidade, da contradição, da alteridade,
da fraternidade, da aventura intelectual e da paixão por transformar o mundo”.
(MALDONADO, 2010, p. 12)
Como toda investigação, essa também é fruto de escolhas, combinações,
ajustes, exclusão, aceitação, conflitos, assentimentos e rejeições, mas está permeada
por regras que consubstanciam e evidenciam panoramas amplos e específicos
sob a ótica de seus produtores, sem perder as características das especificidades
e particularidades das escolhas feitas por esses atores comunicacionais. O que se
busca nos desígnios da metodologia e das técnicas são a minimização dos erros
e a amplitude das opções de forma a possibilitar mapear, significativamente,
aquilo que se está propondo. Esta investigação não tem a pretensão de esgotar
o assunto, mas de contribuir com dados que possam desenhar o atual mapa da
Comunicação no Brasil.

Materiais e métodos
Para atingir os objetivos empíricos propostos na pesquisa foram utilizadas métodos
e técnicas compostas por várias ferramentas.
Inicialmente partiu-se de várias bases documentais, tendo como corpus de
análise a distribuição de mestres e doutores em Comunicação, nos vários espaços
de divulgação científica do País. A coleta dos dados teve como identificador as
múltiplas informações sobre a produção comunicativa disponibilizada na web,
em vários ambiente de referência, como: Plataforma Lattes; homepages: Conselho

22
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ); Coordenação


de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom); Associação Nacional
dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), Ministério da
Educação, Grupos de Pesquisa do CNPq e vários outros sítios.
Os dados foram complementados com periódicos da área, jornais,
artigos científicos, anais de congressos, entrevistas realizadas pessoalmente, por
telefone, e-mails. Paralelamente aos estudos analítico-descritivos e comparativos
que serviram como base para a coleta dos materiais acima, foram realizadas
pesquisas em bases de dados históricos objetivando contextualizar a produção
em comunicação, a partir dos indicadores propostos, observando seus aspectos
sociais, econômicos e culturais. Entre os documentos selecionados para análise
estão os anais dos congressos anuais realizados pela Intercom, Compós, além de
bases de dados como a Rede de Informação em Comunicação dos Países de
Língua Portuguesa (Portcom).
Para observar a produção científica de mestres e doutores brasileiros, na
expectativa de gerar dados suficientes para traçar o Panorama da Comunicação
no Brasil, visitamos foram visitados espaços físicos e virtuais das instituições de
ensino e pesquisa e das associações científicas. O constante diálogo da equipe
de investigadores (em geral realizado pessoalmente, por e-mail ou telefone), a
sistematização da produção e a observação atenta para novos indicadores que
emergiam durante este processo, permitiram a coleta significativa de material,
que foi utilizado na geração das análises dos dados.
O grande desafio foi não dissociar instituições, pesquisadores e objetos de
estudos, para não perder sua unidade e características. As teorias consolidadas
pelas Ciências Sociais forneceram o ferramental necessário para esse aporte.
Utilizando abordagens quantitativas e qualitativas, foi possível superar a simples
observação e atuar como agentes na construção do conhecimento.
Para viabilizar as análises qualitativas8 , optou-se pelas pesquisas documental9
e etnográfica10 . Neste sentido, a abordagem qualitativa, possibilitou a compreensão
8. Arilda Godoy afirma que considerando “a abordagem qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, não se
apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e a criatividade levem os
investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques” (1995, p. 23).
9. Embora possa parecer estranho para alguns teóricos, a pesquisa documental, aliada às análises qualitativas,
possibilita resultados consistentes por serem os documentos fontes ricas de dados. “O exame de materiais de
natureza diversa, que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que podem ser reexaminados, buscando-
se novas e/ou interpretações complementares, constitui o que estamos denominando pesquisa documental. A
palavra documento, neste caso, deve ser entendida de forma ampla, incluindo os materiais escritos (cartas,
memorando, relatório), as estatísticas (registro ordenado de determinados aspectos da vida de determinada
sociedade) e os elementos iconográficos (imagens, fotografias, filmes)” (GODOY, 1995, p. 21-22).
10. Fetterman garante que a etnografia é “a arte e a ciência de descrever uma cultura ou grupo” (1989, p.11).
Godoy afirma que a pesquisa etnográfica abrange “a descrição dos eventos que ocorrem na vida de um grupo
(com especial atenção para as estruturas sociais e o comportamento dos indivíduos enquanto membros do

23
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

do fenômeno comunicacional dentro do contexto brasileiro, no período temporal


entre o ano de 2000 até meados de 2010. Desta forma, foi possível tecer análises
em uma perspectiva integrada, sob a ótica das pessoas envolvidas, considerando
grande parte dos pontos de vista relevantes. Outra característica deste tipo de
investigação é permitir o estudo de pessoas às quais não temos acesso físico, por
“não estarem mais vivas ou por problemas de distância” (GODOY, 1995, p. 22),
outra motivação da escolha dessa forma de abordagem.
Os documentos também são fontes não reativas, pois as informações neles
contidas permanecem as mesmas após longos períodos de tempo. “Podem ser
considerados uma fonte natural de informações na medida em que, por terem
origem num determinado contexto histórico, econômico e social, retratam e
fornecem dados sobre esse mesmo contexto”. Aliado a estes fatores, Godoy (1995)
observa também que a pesquisa documental é muito eficaz quando o estudo
inclui grandes períodos de tempo e se busca identificar uma ou mais tendências
no comportamento de um fenômeno.
É preciso acrescentar que outros aspectos da escolha do documento, o acesso
a eles e sua análise merecem, por parte dos pesquisadores, atenção especial. Devem
ser levados em conta o propósito, idéias e hipóteses que se pretende defender. Neste
sentido, dividimos o estudo em dois aspectos. Os holísticos, representado por
duas entidades de referência nos estudos em Comunicação (Intercom e Compós)
e os segmentados, que buscou em outros espaços (não menos importantes) os
dados necessários para a realização das análises.
Também se tratou de uma pesquisa descritiva que buscou mostrar as
principais características do material analisado e as contribuições de cada um dos
autores e atores para o Panorama da Pesquisa em Comunicação no Brasil.
Outra característica da investigação foi o enquadramento do objeto
estudado no panorama brasileiro, relatando a importância das contribuições de
pesquisadores para os estudos de Comunicação. Desse modo, tratou-se de um
estudo descritivo. Este tipo de pesquisa procura, entre outras coisas,
[...] abranger aspectos gerais e amplos de um contexto social, (...),
possibilitando o desenvolvimento de um nível de análise em que se permite
identificar as diferentes formas dos fenômenos, sua ordenação e classificação,
da mesma forma que permitem a explicação das relações de causa e efeito
dos fenômenos, analisando as variáveis que, de certa maneira, influenciaram
determinado fenômeno. (OLIVEIRA, 1997, p. 114)
Houve ainda uma combinação dos procedimentos estatísticos e comparativos
por acreditar que os dois reúnam formulações necessárias para justificar e
consolidar os dados obtidos. Pelos procedimentos estatísticos, planejados
grupo) e a interpretação do significado desses eventos para a cultura do grupo” (1995, p.28).
24
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

por Quetelet, tornou-se possível obter dados numéricos que permitiram a


probabilidade de acerto de determinada conclusão. Cabe, porém, ressaltar que
as explicações obtidas mediante o método estatístico não podem ser consideradas
absolutamente verdadeiras, mas dotadas de boa probabilidade de serem.
Para suprimir essa lacuna, o método comparativo também foi utilizado.
O instrumento comparativo buscou ressaltar as diferenças e as similaridades
obtidas na investigação, possibilitando o estudo de grandes grupamentos sociais,
separados pelo espaço e pelo tempo. Assim se justificou a escolha desse método,
pois o estudo analisou a produção de pesquisadores em diversas regiões do País,
além de várias associações científicas, instituições de pesquisa e de ensino. Este
método foi empregado por Taylor que considerava o estudo das semelhanças e
diferenças entre os diversos grupos, sociedades ou povos contribuições para uma
melhor compreensão do objeto estudado (LAKATOS & MARCONI, 1996, p.
107).
Ocupando-se das explicações dos fenômenos, o método comparativo
permitiu analisar o dado concreto, deduzindo-lhe os elementos constantes,
abstratos e gerais. (LAKATOS & MARCONI, 1996, p. 107). É utilizado em
estudos de largo alcance (desenvolvimento e características das publicações) e de
setores concretos (comparação entre a produção das diversas regiões, instituições
e pesquisadores do Brasil), assim como para estudos qualitativos e quantitativos
(quantificar e definir a produção e sua contribuição para a área da Comunicação).
Também se fez importante, diante deste estudo, a utilização do método
funcionalista. Utilizado por Malinowski, o método levou em consideração que
a sociedade é formada por partes componentes, diferenciadas, inter-relacionadas
e interdependentes, satisfazendo cada uma das funções essenciais à vida social.
Além disso, essas partes são mais entendidas, compreendendo-se as funções que
desempenham no todo. Este método surgiu com “Spencer, na sua analogia com
um organismo biológico, a função de uma instituição social toma com Durkheim
a característica de uma correspondência entre ela e as necessidades do organismo
social (LAKATOS & MARCONI, 1996, p. 110).
O método está intimamente ligado aos nomes de Talcott Parsons e Robert
Merton e tem suas raízes na Psicologia e na Antropologia. Parsons é considerado
como aquele que sedimentou as bases da análise funcionalista, Merton surgiu
como figura inovadora. “Merton critica a concepção do papel indispensável
de todas as atividades, normas, práticas, crenças etc, para o funcionamento da
sociedade. Cria então o conceito de funções manifestas e funções latentes”.
(LAKATOS & MARCONI, 1996, p. 110). Para ele, funções manifestas são
“(...) aquelas conseqüências objetivas que contribuem para o ajustamento ou
adaptação do sistema, que são intencionais e reconhecidas pelos participantes do
sistema. Funções latentes são aquelas que não constam das intenções, nem são
25
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

reconhecidas (LAKATOS & MARCONI, 1996, p. 110).


Atualmente, a teoria funcionalista aplicável ao estudo da estrutura social e à
diversidade cultural, tem por objetivo a manutenção do sistema social e a melhoria
da cultura do grupo. As partes específicas da estrutura social e da cultura do grupo
operam como mecanismos que satisfazem, ou não, os requisitos funcionais.
É possível afirmar que os dados gerados a partir da utilização dos vários
métodos e técnicas foram referenciais fundamentais para o desenvolvimento
deste trabalho, onde foram traçados breves perfis biobibliográficos, realizado o
levantamento de dados em diversas instituições, concentradas em uma região
específica e em um espaço temporal determinado.

Delimitação do corpus, unidades de estudo e indicadores selecionados


Esta pesquisa visou sistematizar, quantificar, classificar e analisar as relações
entre diversas variáveis, bem como encontrar as possíveis causalidades existentes
entre os fenômenos causa e efeito. Por isso optou-se por uma pesquisa do tipo
quantitativa descritiva e qualitativa em sua análise, critérios definidos nas pesquisas
realizadas por Braga (1982), Población (2001), Marques de Melo (1974, 2003,
2008, 2010) e Silva (2004).
O escopo trata do universo das atividades de produção apresentadas por
pesquisadores doutores e mestres, nos espaços das várias instituições de ensino e
nos centros de pesquisas, no período dos anos de 2000 até 2010. As atividades de
produção consideradas foram: pesquisas realizadas, apresentações em congressos,
livros e capítulos e artigos publicados, currículo disponibilizado no Lattes, grupos
de pesquisa da Plataforma do CNPq. Desta forma foi desenvolvida uma listagem
contendo mais de 8.500 referências de análise. Esse material está sendo utilizado
para a realização das análises sobre o Panorama da Pesquisa, que integrará a
segunda etapa dessa investigação.
A cultura brasileira entre as décadas de 1950 até a primeira década do séc.
XXI e as repercussões nos processos e tecnologias comunicacionais demonstram
que o desenvolvimento e consolidação da cultura de massa no Brasil exigiram, de
forma crescente, a qualificação profissional dos quadros da Indústria Cultural. A
comunicação de e para os trabalhadores ganhou, na região, a partir da segunda
metade do século XX, a força e o paradigma de um movimento social, estabeleceu
novos canais de comunicação entre a sociedade e o Estado.
Portanto, torna-se importante verificar o compromisso das escolas de
Comunicação, dos programas de pós-graduação e das entidades representativas
da área em difundir e motivar pesquisadores no fortalecimento e no resgate da
produção comunicacional. Cria-se dessa forma oportunidades para a disseminação
das teorias e da trajetória acadêmica de pensadores e de instituições, reconhecidas
26
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

e legitimadas pela comunidade científica nacional.

Unidades de Estudo
As fontes de consulta de referência foram os anais e os livros de resumos dos
congressos anuais, revistas, websites, livros e outras produções que ofereceram o
panorama das contribuições das entidades e de pesquisadores nos últimos 10
anos. Para viabilizar o amplo levantamento dos dados, foram definidas duas
unidades de estudo.
a) Panorama holístico: objetivou sistematizar, diagnosticar e definir os
indicadores que contemplam a visão interdisciplinar, cuja fonte principal foi a
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)
e a perspectiva da pós-graduação, através do conhecimento acumulado pela
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
(COMPÓS)11.
INTERCOM: fundada em 1977, é na atualidade o maior e a mais
representativa entidade na área da comunicação, no país. Está integrada a diversas
redes internacionais de comunicação. Constituída nos moldes das sociedades
científicas agrupadas em torno da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), nasceu da idéia de criar um espaço que aglutinasse os pesquisadores da
comunicação, promovesse a troca de informações e estimulasse o fortalecimento
das áreas relacionadas à pesquisa e ao ensino da comunicação. Realizada congressos
anuais, cursos; edita livros, revistas e jornal, além de manter o PORTCOM (Rede
de Informação em Comunicação dos Países de Língua Portuguesa). Acumula parte
significativa do conhecimento gerado em instituições de ensino e de pesquisa em
comunicação, nos seus 33 anos de existência.
COMPÓS: fundada em 16 de junho de 1991, com o apoio da Capes e
do CNPq, congrega como associados os Programas de Pós-Graduação em
Comunicação em nível de Mestrado e/ou Doutorado de instituições de
ensino superior públicas e privadas no Brasil. Tem como objetivos principais
o fortalecimento e qualificação crescentes da Pós-Graduação em Comunicação
no país; a integração e intercâmbio entre os Programas existentes, bem como
o apoio à implantação de novos Programas; o diálogo com instituições afins
nacionais e internacionais; o estímulo à participação da comunidade acadêmica
em Comunicação nas políticas do país para a área, defendendo o aperfeiçoamento
profissional e o desenvolvimento teórico, cultural, científico e tecnológico no
campo da Comunicação.
b) Panorama Segmentado: a partir dos indicadores holísticos sobre a
produção de conhecimento nos principais segmentos da comunicação, desenhar
11. No volume 2 dessa coletânea estão disponíveis textos que evidenciam as contribuições dessas instituições.
27
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

o panorama segmentado dos espaços de reflexão que congregam a área. Para esse
aporte definimos, inicialmente, como temáticas e fontes principais de pesquisa
(ETAPA II – a ser disponibilizada em janeiro de 2011):

Quadro 1 - Temáticas e Instituições integrantes do Panorama Segmentado12


Temáticas Instituições
FORCINE: Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e
Audiovisual: Audiovisual que congrega mais de 20 instituições;
cinema, vídeo, SOCINE: A Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e
televisão e rádio Audiovisual, fundada em conta com 364 sócios, que representam
cerca de 18 universidades brasileiras.
Cibercultura ABCiber: Associação Brasileira de Pesquisadores em
Cibercultura: fundada em 2006, congrega pesquisadores(as),
Grupos de Pesquisa, instituições e/ou entidades brasileiras que
estudam cibercultura.
Comunicação ABRAPcorp: Associação Brasileira de Pesquisadores de
Organizacional e Comunicação Organizacional e Relações Públicas, fundada
Relações Públicas 2006, com o objetivo geral de estimular o fomento, a realização e
a divulgação de estudos avançados dessas áreas no campo das
Ciências da Comunicação.
Comunicação e Politicom: Sociedade Brasileira dos Pesquisadores e
Marketing Profissionais de Comunicação e Maketing Político, fundada
Político 2008, congrega estudiosos de propaganda política.
Divulgação ABJC: Associação Brasileira de Jornalismo Científico, fundada
Científica em 1977, congrega pesquisadores em torno de temas ligados a
CT&I.
Economia Política Ulepicc: União Latina de Economia Política da Informação, da
da Comunicação Comunicação e da Cultura, fundada em 2004, congrega
pesquisadores e profissionais atuantes na Economia Política da
Comunicação, da Informação e da Cultura
Folkcomunicação Rede Folkcom: Rede de Estudos e Pesquisas em
Folkcomunicação, fundada em 2003, congrega estudiosos em
torno da temática da comunicação popular.
História da Mídia Rede Alcar: Associação Brasileira de Pesquisadores de História
da Mídia, fundada em 2001, congrega estudiosos da história da
mídia.
Jornalismo SBPJor: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo,
fundada em 2003, congrega aproximadamente 300 associados.
FNPJ: Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, fundado
em 2004, congrega professores dos cursos de jornalismo de todo
o país.
Semiótica ABES: Associação Brasileira de Semiótica, fundada em 1972,
congrega estudiosos dessa temática.

Para dar conta do conhecimento produzido no âmbito da comunicação foram


definidos pela equipe da Federação Brasileira das Associações Científicas e
Acadêmicas de Comunicação (Socicom) 12 indicadores, que serviram de base
para a coleta dos dados da pesquisa. São eles:

12. No volume 2 dessa coletânea estão disponíveis textos que evidenciam as contribuições dessas instituições.

28
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Quadro 2 - Indicadores Sugeridos pela Socicom

INDICADORES
1. Indicadores institucionais estruturais de campo científico/acadêmico
1.1. Universidades e Faculdades
1.2. Cursos de Graduação, Pós-Graduação (Linhas de Pesquisa) e extensão
universitária;
1.3. Pesquisadores (fundadores, seniores, emergentes; apoio de agências de
fomento);
1.4. Titulação (IES e país);
1.5. Vínculos institucionais;
1.6. Grupos de Pesquisa (cadastrados ou não no CNPq);
1.7. Associações científicas;
1.8. Congressos regionais, nacionais e internacionais;
1.9. Periódicos científicos.
2. Indicadores de cruzamento interinstitucional (GTs e NPs em Associações históricas).
3. Indicadores de transparência (apoios financeiros públicos e privados).
4. Indicadores de formação (número de titulados na Graduação, Especialização,
Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado).
5 Indicadores bibliográficos (livros e artigos em periódicos e anais).
6. Indicadores de produção cultural (obras/produtos).
7. Indicadores de interdisciplinaridade.
8. Indicadores de intercâmbios internacionais.
9. Indicadores de Estado (projetos de lei tramitados ou em tramitação na década;
parcerias com órgãos federais e estaduais; projetos desenvolvidos ou em
desenvolvimento).
10. Indicadores de mercado / do campo corporativo (indústrias criativas, dimensão de
audiência/consumo)
11. Indicadores de tendências profissionais e ocupacionais.
12. Indicadores de horizonte (metas e tendências institucionais e desafios ao respectivo
campo na próxima década).

Estratégias metodológicas
Os procedimentos empíricos utilizados tiveram por base a pesquisa exploratória e
descritiva ao universo proposto, que posteriormente foi aprofundada para questões
interpretativas, estabelecendo uma correlação entre os aspectos quantitativos e
qualitativos, possibilitando a construção de indicadores que possam contribuir
para o desenho do panorama da Comunicação no Brasil.
Não se trata de um escopo fechado nas temáticas, entidades ou indicadores,
mas representam o critério de seleção para possibilitar o conhecimento sobre
a produção nos múltiplos espaços da área da Comunicação, que permite
as incursões que se pretende empreender. O desenvolvimento da pesquisa
nesse escopo possibilitará aferir indicadores capazes de desenhar o cenário
comunicativo na região. Outro fator de grande importância será a possibilidade
de verificação do fortalecimento do fenômeno da Comunicação a partir de

29
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

perspectivas interdisciplinares13.

Rotina Investigativa, etapas percorridas e a percorrer


O trabalho foi dividido em duas etapas14. Essa divisão foi necessária para atender
os prazos inicias que previam a publicação das primeiras etapas ainda no mês
de novembro de 2010, mas possibilitou a continuidade e o enceramento da
investigação em janeiro de 2011. A primeira etapa realizada pela pesquisadora e
sua equipe está subdividida em duas partes: concluídas e em construção.

Concluídas
1) Sistematizar, organizar, tabular e qualificar os dados dos currículos de
mestres e doutores disponíveis na Plataforma Lattes por geografia, sexo,
instituição e faixa etária, realizando o estudo qualitativo das informações
coletadas.
2) Desenhar o perfil das instituições Intercom e Compós, que definem o
panorama holístico da investigação, determinando o perfil de todos os seus
grupos de pesquisa.
3) Definir, tabular e analisar o perfil acadêmico e profissional dos mestres
e doutores e sua inserção atual no mercado de trabalho, a partir dos dados
disponibilizados na Plataforma Lattes, separados por região do país, área de
atuação e instituição de vínculo, realizado a análise qualitativa dos dados.
4) Levantamento dos grupos de pesquisa, cadastrados no CNPQ, no
âmbito da comunicação, procedendo a avaliação qualitativa dos dados, a
partir da definição das linhas de pesquisa e da divisão geográfica.
5) Levantamento qualitativo, tabulação e organização dos trabalhos
apresentados nos grupos e núcleos de pesquisas dos congressos da Intercom
e da Compós, nos anos de 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2006, 2007,
2009 e 2010, gerando tabelas contendo a produção, localidade, tema,
estado e instituição de origem e palavras-chave15.
6) Cruzamento dos itens anteriores, objetivando delinear o Panorama da
13. O termo interdisciplinar significa uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude
diferente a ser assumida frente ao problema do conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção
fragmentária para uma concepção unitária de ser humano. “A atitude interdisciplinar nos ajuda a viver o
drama da incerteza e da insegurança. Possibilita-nos darmos um passo no processo de libertação do mito do
porto seguro. Sabemos o quanto é doloroso descobrirmos os limites de nosso pensamento, mas é preciso que
façamos”. (Japiassú, 1976). É na intersubjetividade desse processo, que ocorre a interação e o diálogo, como
únicas condições de possibilidade da interdisciplinaridade.
14 .Essa divisão foi necessária para atender os prazos inicias que previam a disponibilização dos primeiros
resultados ainda no mês de novembro de 2010, mas possibilitou a continuidade da investigação, com prazo final
para janeiro de 2011, quando os dados completos serão publicados.
15. Essa etapa não está integralmente concluída.
30
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Pesquisa em Comunicação no Brasil.


7) Levantamentos bibliográficos e documentais que consubstanciaram as
análises realizadas na primeira etapa do projeto, aqui disponibilizada.
8) Entrevistas com alguns atores do contexto da pesquisa, para reforçar as
análises realizadas16.

A seguir, as primeiras análises, evidenciam o trabalho inicialmente


realizado, mostrando a diversidade, evolução, distribuição da formação na área
da comunicação no Brasil, traçando o panorama regional brasileiro.

Breve Panorama da Formação de Pesquisadores no Brasil


A base Lattes17 é um grande repositório de perfis de cientistas, pesquisadores,
professores e profissionais, de todas as áreas do conhecimento. Reflete a necessidade
de sociabilidade do conhecimento produzido no âmbito das instituições de ensino
e de pesquisa no País. É nesse espaço que a comunidade científica disponibiliza
as atividades realizadas não só nos programas de pós-graduação, mas seu perfil
de formação, linhas de atuação, participações em eventos, atividades acadêmico-
científicas e profissionais, de um modo geral. É nesse espaço que está a produção
científica, bibliográfica, técnica e artística da comunidade acadêmica nacional.
Trata-se de um grande mosaico de referência sobre aquilo que se está
empreendo nos mais variados espaços acadêmicos e profissionais do País.
Possibilita a análise da literatura produzida pelos cientistas, o conhecimento sobre
inovações, desenvolvimento de patentes, entre outros, permitindo a mensuração
da formação de recursos humanos especializados, além de evidenciar quais
atividades que estão sendo realizadas nas instituições de ensino, pesquisa e no
mercado profissional, pelos pesquisadores. É o que pode ser chamado de “Big
Brother” da comunidade científica.
Winter (1997, p. 115) afirma que a “produção científica é a forma pela
qual a universidade ou instituição de pesquisa se faz presente no saber-fazer-
poder ciência; é a base para o desenvolvimento e superação das dependências
entre países e entre regiões de um mesmo país”, evidenciando para a sociedade o
compromisso social das instituições de ensino e pesquisa. Neste sentido, a Base
16. Também integraram essa etapa: Participação no Seminário do Ipea em São Paulo e a Reunião de trabalho do
Grupo de Investigadores, realizada pelo Ipea, em Brasília. A etapa seguinte, finalização da pesquisa, está em fase
de desenvolvimento e compreende, de forma objetiva, os levantamentos de dados quantitativos e qualitativos
das várias instituições, definidas no escopo segmentado, separadas por temáticas, localidade, tema, estado e
instituição de origem, palavras-chave, entre outros indicadores.
17. Em 15 de janeiro de 1951, pouco antes de o Presidente Gaspar Dutra passar a faixa presidencial a Getulio
Vargas, foi criado o Conselho Nacional de Pesquisas, regido pela Lei nº 1310. Destancado-se entre os maiores
cientistas de seu tempo, César Lattes foi integrante ativo desse Conselho e, posteriormente, Patrono da
Plataforma Curricular que leve seu nome como homenagem. (SILVA, 2004, p. 25).

31
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

de Currículos Lattes traz um panorama dos rumos da ciência no Brasil, uma vez
que desde a iniciação científica, professores e estudantes devem ter seus currículos
cadastrados na Plataforma.
Os dados disponibilizados na Plataforma Lattes possibilitam, de modo
geral, a avaliação da produção científica nacional, através de vários indicadores
quantitativos. Esses dados permitiram a compreensão sobre a dinâmica da
produção científica nas várias áreas do conhecimento, bem como evidenciam o
mapa da formação de pesquisadores nas instituições de ensino e pesquisa no Brasil.
Também é no espaço da Plataforma Lattes que as agências de fomento, como a
Capes e o CNPq (nacionais), as estaduais e instituições internacionais “apóiam
o desenvolvimento de projetos e promovem a concessão de financiamentos
individuais para a pesquisa. Em todas essas instituições a produção científica
destaca-se como um dos requisitos mais importantes”. (SILVA, 2004, p. 34)
Por ser o escopo central da investigação o delineamento do Panorama da
Comunicação no Brasil, a Plataforma foi usada como fonte básica de mensuração,
uma vez que neste espaço estão disponibilizadas as atuais produções na área. O
Lattes também fornece dados estatísticos, tabelas e gráficos, separados por região,
sexo, formação, tipo de atividade desenvolvida, além do currículo individual do
pesquisador. Esse espaço é chamado de Painel Lattes.
Procedendo a análise da produção científica neste espaço há oito grandes áreas
do conhecimento. São elas: Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da
Saúde; Ciências Exatas e da Terra; Ciências Humanas; Ciências Sociais Aplicadas;
Engenharias; Linguística, Letras e Artes. A Comunicação Social pertence grande
área de Ciências Sociais Aplicadas (CSA)18.
A Base de Currículos da Plataforma Lattes19, que têm por baldrame
currículos atualizados nos últimos 48 meses, apresenta dados de 04 de junho de
201020. Neste painel há 1.626.069 currículos cadastrados, nas diversas áreas do
conhecimento, sendo 8% de doutores, 14% de mestres, 18% de especialistas, 25%
de graduados, 13% de outros e 23% não informado. O número de currículos de
estudantes perfaz a cifra de 654.962, sendo 9% doutorandos, 12% mestrandos,
9% especialistas e 70% graduandos.
Analisando os dados da Evolução da Formação de Doutores e Mestres
no Brasil, no período dos anos de 2000 a 2009 (último ano disponível), há o
18. Juntamente com Comunicação, são definidos como profissões em CSA: Administração, Arquitetura
e Urbanismo, Ciências da Informação, Demografia, Desenho Industrial, Direito, Economia, Economia
Doméstica, Museologia, Planejamento Urbano Regional, Serviço Social e Turismo.
19. A Base de dados de Currículos da Plataforma Lattes nos fornece dados qualificados e atualizados sobre a
atuação de pesquisadores na área da Comunicação, permitindo análises da produção, dos setores econômicos,
evolução de formação, geografia, instituições etc. O material pode ser acessado no endereço http://lattes.cnpq.
br/painellattes/. Acesso em outubro de 2010.
20. A coleta de dados para a pesquisa foi realizada em outubro de 2010.

32
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

panorama desenhado pela tabela:


Tabela 1 - Evolução da Formação no Brasil na área da Comunicação Anos 2000 a 2009, por
Sexo
Doutores Mestres
Feminino Masculino Total Feminino Masculino Total
Totais 443 392 835 Totais 1181 875 2056
2000 27 20 47 2000 43 43 86
2001 22 24 46 2001 66 50 116
2002 47 36 83 2002 78 70 148
A
2003 45 40 85 2003 111 60 171
N
2004 53 45 98 2004 102 83 185
O
S 2005 49 48 97 2005 156 94 250
2006 45 42 87 2006 132 103 235
2007 65 44 109 2007 148 92 240
2008 49 48 97 2008 142 115 257
2009 41 45 86 2009 203 165 368

Fonte: Dados dos autores

Não existe, para o caso da formação de doutores na área da Comunicação


Social, uma grande distinção em relação aos gêneros (masculino e feminino).
Porém é possível observar que há uma tendência de mudança para os próximos
anos, uma vez que os dados evidenciam uma formação de mais de 130% de
mestres do sexo feminino (57% do total), se comparados com o sexo masculino
(43% do total).
É possível observar o crescimento anual no número de mestres e de doutores,
indicando uma ampliação dos titulados, em quase todos os anos. Nos últimos 10
anos a média anual de formação foi de 83,5 doutores e 205,6 mestres (quase
duas vezes e meia se comparado ao número de doutores formados, no mesmo
período), na área da Comunicação.
No mesmo período, de acordo com dados da Base de Currículos da
Plataforma Lattes, formaram-se 73.315 doutores e 182.907 mestres, nas 8 áreas
do conhecimento, sendo 5.949 doutores e 22.153 mestres, em Ciências Sociais
Aplicadas. Neste sentido, se comparados os número de doutores e mestres na
área da Comunicação com o total desses nas oito áreas do conhecimento21, a
Comunicação representa 1,13% e 1,12%, respectivamente, sobre esse total.
Fazendo o mesmo cálculo com referência a área de Ciências Sociais Aplicadas, os
valores correspondem a 14% (doutores) e 9,3% (mestres).
É necessário relatar que em se tratando de profissão, a Comunicação fica
atrás das carreiras de Administração, Direito e de Economia, sendo essas as
que apresentam o maior número de doutores e mestres formados. Em 2009,
por exemplo, formaram-se 10.807 doutores, sendo 806 em Ciências Sociais
21. Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências da Saúde; Ciências Exatas e da Terra; Ciências Humanas;
Ciências Sociais Aplicadas; Engenharias; Linguística, Letras e Artes. A Comunicação Social pertence grande área
de Ciências Sociais Aplicadas (CSA)

33
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Aplicadas e destes, 86 (11%) em Comunicação, 185 (23%) em Administração,


183 (23%) em Direito e 132 (16%) em Economia. Realizado uma análise da
área de conhecimento, as de maior representatividade, no mesmo período, são:
1.650 em Ciências Humanas, 1.300 em Ciências da Saúde e 1.131 em Ciências
Biológicas.
Com significativo valor, em uma análise mais geral, o número de cientista-
pesquisador anualmente formado ainda é insuficiente para atender a demanda do
País, como foi observado nas análises a seguir.

Distribuição desigual do ensino também na Pós-Graduação


O Brasil, país de dimensões continentais, tem como desafio prover suas
cinco regiões de pesquisadores, nas mais diversas áreas do conhecimento. Essa
distribuição continua muito desigual como apontaram os levantamentos realizados.
Detalhando as análises para os estados pertencentes a cada uma dessas localidades,
os dados são ainda mais alarmantes. Atualmente (outubro de 2010) há 133.846
doutores e 232.767 mestres formados nas oito grandes áreas do conhecimento
definidas pelo CNPq e disponibilizadas na Plataforma Lattes. A Região Sudeste
concentra 69.134 doutores e 104.715 mestres, representando sobre o total 52%
e 45%, respectivamente. As outras cifras estão assim distribuídas: Centro-Oeste
– 9,4% de doutores e 10,6% de mestres; Nordeste – 16% de doutores e 18% de
mestres; Norte – 4% de doutores e 5,8% de mestres; Sul – 19% de doutores e
21% de mestres. A tabela a seguir demonstra os números absolutos.

Tabela 2 - Distribuição de Doutores e Mestres no Brasil (Geral) Anos 2000 a 2009, por

Regiões Doutores Mestres


Totais 133846 232767
Centro-Oeste 12564 24571
Nordeste 21357 41776
Norte 5288 13553
Sudeste 69134 104715
Sul 25503 48152

Região
Fonte: Dados dos autores

Analisando o quadro geral das oito áreas e comparando as cinco regiões


do Brasil é possível observar que as cifras são discrepantes. As regiões Norte e
Centro-Oeste são as que mais sofrem com a falta de doutores e mestres em seus
quadros institucionais. Não obstante o crescimento da quantidade de programas
de mestrado e de doutorado em 20% nos últimos três anos, conforme avaliação
34
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

trienal (2007-2010) da Capes22, e que o maior desenvolvimento tenha ocorrido na


região Norte, com um incremento de 35% no triênio, sendo a mais representativa
dentre as regiões, ainda há muito por fazer. Nas outras regiões, o aumento foi de:
Nordeste, com 31,3%; Centro-Oeste, com 29,8%; Sul, com 24,2% e o Sudeste,
com 14,9%.
Esses resultados reforçam que embora “(...) com o avanço da pós-graduação
no Norte e no Nordeste, é no Sudeste que está a maior parte dos cursos: 2.190,
o que representa 53,4% do total. De acordo com o presidente da Capes, Jorge
Guimarães, a razão para essa disparidade é histórica e está ligada à organização
econômica e científica do país”23. Muitos desses titulados acabam migrando para
o Sudeste onde a oferta tanto de cursos de pós-graduação, como de centros de
pesquisa são maiores e, posteriormente a sua formação, são nesses locais que
encontram mais espaço para estabelecem suas bases profissionais, não retornando,
assim, aos seus estados de origem.
Na avaliação realizada pela Capes em 2010 foram verificados 2.718
programas de pós-graduação que correspondem a 4.099 cursos e desses 2.436
são mestrados, 1.420 doutorados e 243 mestrados profissionais, em todas as
áreas do conhecimento. Nos últimos três anos foram mais de 140 mil titulados,
divididos em 100 mil mestres, 32 mil doutores e 8 mil mestres profissionais.
Embora as cifras sejam significativas, o problema da distribuição desigual dos
titulados é fato. O desenvolvimento de um país e, por conseguinte a melhoria de
seus indicadores sociais pode ser aferida não só pela erradicação do analfabetismo
total ou funcional, mas pelo investimento que se faz em Ciência e em
Tecnologia e os programas de pós-graduação respondem por parte significativa
desse desenvolvimento. Os números demonstram, sem dúvida, que a pesquisa
brasileira adquiriu maturidade, mas para uma projeção internacional significativa
é necessário o investimento continuado nos programas de pós-graduação para a
formação de recursos humanos, em diferentes áreas do conhecimento.
Outro elemento a ser considerado nas análises é que embora com
avanços significativos, os dados refletem as desigualdades educacionais no país,
que começam na educação infantil. A saída para dirimir essas diferenças é a
universalização do ensino e a melhoria da qualidade, em todos os níveis24. Não
é possível avaliar a pós-graduação se não se levar em consideração o que vem

22. Pesquisa realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão
vinculado ao Ministério da Educação (MEC), disponível em http://trienal.capes.gov.br/?page_id=100. Acesso
em novembro de 2010.
23. Material disponível em http://www1.folha.uol.com.br/saber/798580-numero-de-cursos-de-mestrado-e-
doutorado-cresce-20-em-tres-anos-no-brasil.shtml. Acesso em novembro de 2010.
24. Para aprofundar as análises dessas questões podem ser consultadas diversas pesquisas realizadas por várias
instituições, nos últimos anos, dentre as quais citamos o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ), Ministério da Educação (MEC) e Instituo de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

35
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

ocorrendo com a educação infantil, os ensinos fundamental, médio e superior.


A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), no relatório 2010, aponta que os índices de repetência e de atraso
escolar25 estão bem acima da média mundial, sendo Índice de Desenvolvimento
Educacional (IDE) do país considerado médio, embora reforce a importância de
programas como o Bolsa Família, do Governo Federal para reduzir esses números.
O relatório mostra que 57 milhões de brasileiros de todas as idades - cerca de
30% da população - estudavam em 2008, porém, somente 47% dos estudantes
acabaram o ensino médio até os 18 anos, e a maioria destes encerra a vida escolar
nesse momento.
Essa análise não é tão simples. Não basta verificar o Brasil que estuda em
números absolutos, mas outros indicadores, como a adequação da idade dos alunos
para as séries escolares correspondentes a faixa etária (idade-série)26, bem como
a continuidade da formação para as séries posteriores. Neste sentido, a pesquisa
“Juventude e Políticas Sociais no Brasil”, realizada pelo Ipea27, demonstra que
menos da metade dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos estava cursando o ensino
médio, etapa do ensino adequada para esta faixa etária28, e apenas 13% de 18 a
24 anos frequentavam o ensino superior em 2007. O documento demonstra que
houve avanços no acesso à educação, mas o problema está no atraso para concluir
os estudos. Para Jorge Abrahão, diretor de estudos e políticas sociais do Ipea, “(...)
os jovens entendem a educação como um caminho para melhorar a vida. Mas
o jovem enfrenta no processo de escolarização problemas de desigualdades de
oportunidades”29.
Nesta direção, o relatório corrobora que a cor da pele, o nível de renda e
o local de moradia interferem nas oportunidades de acesso a escola. Segundo a
pesquisa, a renda é fator determinante para o ingresso do brasileiro à universidade:
“a taxa de frequência daqueles que têm renda mensal per capita de cinco salários
mínimos ou mais (55%) é dez vezes maior do que entre a população que ganha
até meio salário mínimo (5%)” 30. Esses dados revelam outro indicador. Há uma
25. Entende-se por atraso escolar o número de alunos que, embora estudando, estão fora da idade correta para
a série que estão cursando.
26. Segundo dados “A distorção idade-série afeta três de cada quatro pessoas de 9 a 16 anos (75%) na zona
rural. Na zona urbana, o percentual, de 56%, também é alto”. Fonte: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.
asp?codigo=13012, acesso em novembro de 2010.
27. Pesquisa divulgada em janeiro de 2010.
28. O relatório aponta que em 2007, 82% dos jovens de 15 a 17 anos frequentavam a escola, mas apenas 48%
estavam no ensino médio, ou seja, parte significativa estava fora da faixa etária corresponde à série escolar.
29. Fonte: Jornal O Tempo, disponível em http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=1546&Id
Canal=7&IdSubCanal=&IdNoticia=131841&IdTipoNoticia=1. acesso em novembro de 2010.
30. Fonte: Relatório Juventude e Políticas Sociais no Brasil, desenvolvido pelo Ipea. O estudo destaca que
o Brasil ainda tem 1,5 milhão de jovens analfabetos (15 a 29 anos). O número de analfabetos “no país em
patamares tão elevados está relacionada à baixa efetividade do ensino fundamental”. Comentários do Jornal O
Tempo, disponível em http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=1546&IdCanal=7&IdSubCan
al=&IdNoticia=131841&IdTipoNoticia=1. Acesso em novembro de 2010.

36
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

bifurcação entre os estudos e a necessidade de ingresso no mercado de trabalho.


Muitos jovens nem chegam à universidade; alguns abandonam a sala de aula
sem concluir o curso, ou ainda, em função da jornada de trabalho, o nível de
dedicação aos estudos é prejudicado. “No ensino superior, entre 1996 e 2007,
a taxa de frequência líquida cresceu 123%. Mas o percentual de jovens na faixa
etária dos 18 aos 24 anos que têm acesso à etapa ainda é apenas de 13% - muito
abaixo da meta de 30% estipulada para 2011 no Plano Nacional de Educação
(PNE)31.
Outro dado alarmante é com referência a qualidade do ensino, em todos os
níveis. Em 2010 um grupo de cientistas entregou para os presidenciais Dilma
Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), durante o período eleitoral, um documento32
pedindo mais qualificação na pós, na graduação e também no ensino médio.
Além da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), outras
entidades, como a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo
(Fapesp) compartilham a mesma preocupação. “Precisamos de professores mais
qualificados e mais valorizados”, afirma o cientista Chaimovich33. O documento
sugere um aumento da participação da educação no Produto Interno Bruto (PIB)
passando dos atuais 4% atuais para 6% até o final do próximo mandato, em
2014. “Os especialistas querem também que 2% do PIB sejam despendidos em
ciência no próximo mandato, quase o dobro do gasto atual”34.
Um dos desafios que traz o documento é que nos próximos 10 anos
possamos ter 150 mil doutores formados, representando um aumento de quase
50% na quantidade média de doutores titulados anualmente.
Corroborando os dados sobre a falta de qualidade no ensino nacional,
a avaliação trienal realizada pela Capes em 2010 mostrou que 2,7% (o que
equivale a 75 cursos) do total dos programas de pós-graduação (mestrado e
doutorado) devem ser encerrados por serem de baixa qualidade35. Um deles é de
31. Fonte: Relatório Juventude e Políticas Sociais no Brasil, desenvolvido pelo Ipea. “Em 2007, de acordo com
o relatório, 57% dos brasileiros de 15 a 17 anos que residiam em áreas metropolitanas frequentavam o ensino
médio, contra pouco menos de 31% no meio rural”.
32. RIGHETTI, Sabine. Documento reúne pedidos de cientistas ao presidente eleito. Disponível em http://
www1.folha.uol.com.br/ciencia/823504-documento-reune-pedidos-de-cientistas-ao-presidente-eleito.shtml.
Acesso em novembro de 2010.
33. Bioquímico Hernan Chaimovich da ABC (Academia Brasileira de Ciências).
34. RIGHETTI, Sabine. Documento reúne pedidos de cientistas ao presidente eleito. Disponível em http://
www1.folha.uol.com.br/ciencia/823504-documento-reune-pedidos-de-cientistas-ao-presidente-eleito.shtml.
Acesso em novembro de 2010.
35. Em linhas gerais a Capes avalia a proposta e a inserção social dos programas, a produção individual dos
docentes e discentes, o desempenho de cada curso (como um todo) e a base de dados fornecidos à agência de
fomento pelas instituições. Dos 75 programas reprovados, 9 receberam a nota mínima 1 e 66 a nota 2, na escala
que varia de 1 a 7. Eles terão um mês para pedir a revisão dos conceitos. Depois disso, os programas que con-
tinuarem com as notas 1 e 2 não poderão matricular novos alunos - os atuais estudantes, porém, podem concluir
o curso regularmente. Porém, é importante assinalar que “A avaliação trienal concedeu a nota máxima 7 a 112
(4,1%) programas de pós-graduação. Outros 186 (6,8%) receberam nota 6. Os dois conceitos máximos são da-
dos apenas a programas que possuam cursos de mestrado e doutorado com desempenho de nível internacional.

37
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

comunicação36(embora a lista não esteja oficialmente divulgada - as instituições


têm um período para recurso). Esses cursos obtiveram notas 1 ou 2, consideradas
insuficientes e que provocam o descredenciamento desses programas. Outros
32% receberam nota 3, que significa desempenho regular, atendendo ao padrão
mínimo de qualidade. Se comparado com 2007, 10% ficaram com notas
inferiores, 71% mantiveram o desempenho e 19% melhoraram o resultado. São
esses dados que orientam a distribuição de recursos pelas agências de fomento.
Mas é necessário registrar que houve um pequeno aumento dos cursos com nota
mais alta possível (7), que equivale ao padrão internacional, se comparada com a
avaliação anterior.
É necessário relatar que o problema da qualidade da pós-graduação no
Brasil está diretamente relacionado com múltiplas questões que antecedem
essa formação. As desigualdades de renda, o número de universidades públicas
em áreas de carência econômica, os investimentos, entre outros fatores afetam
diretamente o acesso da população a educação de qualidade. Mas esse cenário
está mudando.
O momento de expansão que atravessa toda a conjuntura econômica
brasileira é muito favorável. Vários setores são responsáveis por esse dinamismo,
dentre eles: petróleo e gás, energia elétrica, logística, construção habitacional,
agronegócios e a emergente indústria de conteúdos digitais. Mas esse fato traz
outra preocupação. Até que ponto as instituições, especialmente o ensino superior
e a pós-graduação, estão preparadas para acompanhar esse desenvolvimento e
atender as múltiplas demandas dos setores?
O alerta acende o botão vermelho do ensino, mostrando que embora com
espaço para avançar, é necessária uma revisão não só na qualidade, mas nos
conteúdos, na forma de organização e disponibilização dos cursos. Sem dúvida
que “(...) manter as instituições de ensino superior atualizadas com as mudanças
socioeconômicas do país é uma difícil tarefa. São vários os modelos para atingir
essa condição”, e nesta direção alguns especialistas alertam que é fundamental
o investimento na criação de programas de pós-graduação, na qualificação do
corpo docente, além de firmar parcerias entre os centros de pesquisa e as empresas,
entre outros37; sendo o último um grande desafio, especialmente para a área da
Comunicação.
Com referência a avaliação, além da Trienal da Capes para os programas de
A nota 5 foi dada a 561 (20,6%) programas; a nota 4, a 914 (33,6%); e a nota 3, a 870 (32%)”. (A avaliação
pode ser acessada pelo link http://trienal.capes.gov.br/?page_id=100). Fonte: Disponível em http://www.capes.
gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36-noticias/4074-qualidade-dos-cursos-de-mestrado-e-doutorado-evolui-
entre-2007-e-2010, acesso em novembro de 2010.
36. Há atualmente no site (www.compos.org.br) da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação
em Comunicação (Compós) 37 programas na área de Comunicação, incluindo os iniciados em 2009 e 2010.
37. Udo Simons. Um desafio do tamanho do Brasil. Disponível em http://revistaensinosuperior.uol.com.br/
textos.asp?codigo=12676, acesso em novembro de 2010.

38
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

pós-graduação, diversas ações vem sendo empreendidas, nos mais variados níveis
de ensino. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes),
em vigor desde 2004, coordenado e supervisionado pela Comissão Nacional
de Avaliação da Educação Superior (Conaes) e operacionalizado pelo Instituto
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep), é um desses exemplos. Os Sinaes sopesam as instituições, os cursos e do
desempenho dos estudantes (Enade), verificando aspectos que “giram em torno
desses três eixos: o ensino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, o
desempenho dos alunos, a gestão da instituição, o corpo docente, as instalações e
vários outros aspectos”, conforme descrição no site da instituição.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que objetiva avaliar o
desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica, foi criado em 1998.
Também a Educação Básica é analisada pelo Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb), que verifica o desempenho de estudantes de 4ª a 8ª série (5º a 9º)
de escolas públicas e de forma amostral da rede privada. Outro investimento que
merece destaque é o Programa Universidade para Todos (ProUni), do Governo
Federal, que vem permitindo a acesso de milhares de estudantes a universidade38.
Sem dúvida que “o Brasil está avançando na área da educação”, mas como
afirma Jorge Abrahão39, do Ipea, “(...) apesar da ampliação do acesso à escola e do
aumento de financiamento no setor, as desigualdades regionais entre as diferentes
populações permanecem no país”. Para ele outra disparidade é que “(...) os 20%
mais ricos já têm 10 anos de estudo, enquanto metade da população brasileira
tem cerca de cinco a seis anos de estudo”. Para o pesquisador o analfabetismo 40
38. O ProUni (Programa Universidade para Todos) tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo in-
tegrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de
educação superior. Criado pelo Governo Federal em 2004. O programa já atendeu, desde sua criação até o
processo seletivo do segundo semestre de 2010, 748 mil estudantes, sendo 70% com bolsas integrais. Desde
2007, o ProUni - e sua articulação com o FIES - é uma das ações integrantes do Plano de Desenvolvimento
da Educação – PDE. Assim, o Programa Universidade para Todos, somado ao Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, a Universidade Aberta do Brasil e a expansão
da rede federal de educação profissional e tecnológica ampliam significativamente o número de vagas na edu-
cação superior, contribuindo para o cumprimento de uma das metas do Plano Nacional de Educação, que prevê
a oferta de educação superior até 2011 para, pelo menos, 30% dos jovens de 18 a 24 anos. Fonte dos dados:
http://www.inep.gov.br/ e http://prouniportal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=
124&Itemid=140, acesso em novembro de 2010.
39. Jorge Abrahão resume um dos pontos discutidos durante o seminário “PDE – resultados e desafios”, pro-
movido nos dias 14 e 15 de setembro, em São Paulo, pela Ação Educativa. Disponível em: http://www.anj.org.
br/jornaleeducacao/noticias/promover-a-equidade-e-um-dos-desafios-do-pde/, acesso em novembro de 2010.
40. Outro problema fundamental no País é o analfabetismo funcional (pessoas que sabem ler, escrever, contar
e ocupam cargos administrativos nas empresas, mas não conseguem compreender a palavra escrita de forma
adequada). “No Brasil, o índice é medido entre as pessoas com mais de 20 anos que não completaram quatro
anos de estudo formal. O conceito, porém, varia de acordo com o país . Na Polônia e no Canadá, por exemplo,
é considerado analfabeto funcional a pessoa que possui menos de 8 anos de escolaridade. Segundo a Declaração
Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, sendo que mais de 1/3
dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso e às novas tecnologias que poderiam melhorar
a qualidade de vida e ajudá-los a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. De acordo com esta declaração, o
analfabetismo funcional é um problema significativo em todos os países industrializados e em desenvolvimento.

39
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

ainda é o grande problema que assola o país.


Esse problema está concentrado entre os mais pobres. Há também grandes
diferenças regionais com referência ao analfabetismo. A média nacional é de 10%,
de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
No entanto, a taxa de analfabetos no Nordeste é quase o dobro do índice do país
(19,4%). Na região Sul, a porcentagem é de 5,5.
Além da superação do analfabetismo, especialistas apontam que a
desigualdade entre os níveis de ensino, provocada pelo acesso da população a
escola é muito grande. Há mais alunos do ensino Médio fora da escola (48%),
do que no Ensino Fundamental (2%). É necessário buscar a equidade. Outra
dificuldade está relacionado a defasagem série-idade e neste sentido a seta aponta
em direção da evasão, da reprovação e do não aprendizado.
No nível superior, as desigualdades são ainda mais cruéis. “O sistema
educacional brasileiro é perverso. Quem tem menos deve pagar uma universidade,
enquanto os mais ricos têm acesso ao ensino público. (...) além das políticas
de acesso, o Estado precisa promover políticas de assistência estudantil para a
permanência e sucesso dos jovens na graduação”41.

Geografias da Comunicação no Brasil


Evidenciado o cenário nacional, nas várias áreas do conhecimento e nos múltiplos
níveis de ensino, os reflexos disso também são sentidos no campo da Comunicação.
As Regiões Norte e Centro-Oeste são as mais sofrem. Se comparados com a
Região Sudeste, por exemplo, o Norte tem 7% do número de doutores e 10%
de mestres, enquanto o Centro-Oeste tem 16% de doutores e 23% de mestres.
Os resultados evidenciam as desigualdades também neste campo de estudos. A
tabela abaixo mostra os percentuais de todas as regiões quando comparados com
os totais da área de Comunicação.

No Brasil, 75% das pessoas entre 15 e 64 anos não conseguem ler, escrever e calcular plenamente. Esse número
inclui os 68% considerados analfabetos funcionais e os 7% considerados analfabetos absolutos, sem qualquer
habilidade de leitura ou escrita. Apenas 1 entre 4 brasileiros consegue ler, escrever e utilizar essas habilidades
para continuar aprendendo”. Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=700, acesso
novembro de 2010.
41 Naomar Monteiro de Almeida é Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)
e reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fonte: http://www.anj.org.br/jornaleeducacao/noticias/
promover-a-equidade-e-um-dos-desafios-do-pde/, acesso em novembro de 2010.

40
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Regiões Doutores Mestres


Totais 1410 % 3779 %
Centro-Oeste 116 8,2 409 11
Nordeste 236 17 657 17
Norte 48 3,4 185 5
Sudeste 721 51 1774 47
Sul 289 20,4 754 20
Tabela 3 - Distribuição de Doutores e Mestres no Brasil, em Comunicação Anos 2000 a
2009, por Região

Fonte: Dados dos autores

Observa-se que há um aparente equilíbrio entre o número de doutores


e mestres, em cada região, na área da Comunicação. Ou seja, a quantidade de
mestres e doutores está “aparentemente” quase equilibrada. As variações que não
passam de 4%, como no caso da Região Sudeste, onde o número de doutores é de
51%, se comparado ao total das Regiões e o de mestres está em torno de 47%.
Já as disparidades entre o Sudeste e as outras Regiões do País são muito
acentuadas. Enquanto o Norte tem 3,4% de doutores e 5% de mestres e o Centro-
Oeste com 8,2% de doutores e 11% de mestres, o Sudeste entra na representação
com 51% de doutores e 47% dos mestres. Mesmo se comparado com a Região
Sul, a segunda classificada em número de titulado (20,4% de doutores e 20% de
mestres), a diferença entre as duas passa de 30%. Nem tudo está perdido. Embora
não tendo fontes de comparação com a década anterior, revisar a literatura existe,
pode-se afirmar que o Norte e Nordeste, de forma lenta, estão dando passos
largos em direção da diminuição dessas desigualdades. “(...) 60% dessa melhoria
é devida à mudança nas condições de vida e à distribuição geográfica das famílias,
decorrente da urbanização e da transição demográfica, devendo-se os 40%
restantes às melhorias efetivas no desempenho do sistema educacional”42.
Com referência aos Estados onde os pesquisadores atuam, nas cinco Regiões
do país, é possível avaliar os estados mais representativos em cada região. A tabela
seguinte mostra a distribuição desses dados.

42 Fonte: Carlos Hasenbalg. O artigo é um dos produtos de pesquisa desenvolvida no âmbito do Núcleo In-
terdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade (NIED-PRONEX) e contou com recursos da bolsa “Cientistas
do Nosso Estado”, concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).
Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52582000000300001&script=sci_arttext, Nov de
2010.

41
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Regiões/Estados Doutores Mestres


Total Centro-Oeste 116 409
Distrito Federal 71 219
Goias 20 79
Mato Grosso 8 64
Mato Grosso do Sul 17 47
Total Nordeste 236 657
Alagoas 17 31
Bahia 74 154
Ceará 19 108
Maranhão 12 41
Paraiba 34 81
Pernambuco 37 143
Piauí 7 23
R. G. do Norte 27 54
Sergipe 9 22
Total Norte 48 178
Acre 0 8
Amapá 0 10
Amazonas 12 58
Pará 24 58
Rondônia 10 15
Roraima 0 14
Tocantins 2 15
Total Sudeste 721 1.774
Espírito Santo 20 43
Minas Gerais 125 383
Rio de Janeiro 189 397
São Paulo 387 951
Total Sul 289 754
Paraná 82 243
R. G. do Sul 162 340
Santa Catarina 45 171

Tabela 4 - Distribuição de Doutores e Mestres no Brasil, em Comunicação - Anos 2000 a


2009, por Região e Estado

Apurando a análise para os estados, na Região Centro-Oeste o Distrito


Federal é o que conta com maior representatividade. Com 71 doutores e 219
mestres, representa 61% e 53% da Região, em contra partida, Mato Grosso tem

42
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

o menor número de doutores (apenas oito), representando 7% da Região e Mato


Grosso do Sul, o menor número de mestres da Região (47), com 11%.
No Nordeste, a Bahia é o que tem maior número de titulados43. Representa
sobre os totais do Nordeste 31% de doutores e 23% de mestres. O Piauí é o
Estado que aparece com a menor representação no número de doutores, apenas
3% (7). Sergipe tem o menor número de mestres (22), representado apenas 3%
da Região.
Na Região Norte os dados são ainda mais alarmantes. Nos Estados do Acre,
Amapá e Roraima não há nenhum doutor (de acordo com a Plataforma Lattes)
e Tocantins, apenas dois, representando 4% da distribuição. O Pará se apresenta
com o maior número (24) de doutores, se destacando com 50% da Região.
Quanto ao número de mestres, Amazonas e Pará apresentam o mesmo número
(58), representando os Estados da Região onde há o maior número de mestre
(32,5%). Já o Estado do Acre tem a menor representação, 4%, com apenas oito
mestres.
No Sudeste o destaque fica para São Paulo que concentra 387 doutores
(54% da Região) e 951 mestres (54% da Região). O Espírito Santo é o de
menor representatividade, tanto em número de doutores (20, equivalendo a 3%),
quando no de mestres (43, representando 2,4%). O número de doutores em
Minas Gerais (125) e Rio de Janeiro (189) apresentam significativa diferença,
porém com referência a quantidade de mestres, estes praticamente se equivalem
(383, em Minas Gerais e 397, no Rio de Janeiro.
Na Região Sul, Rio Grande do Sul, com 162 doutores, representa 56%
(maior concentração), enquanto Santa Catarina tem 45, equivalendo a 16%
(menor concentração). Para os mestres, Rio Grande do Sul também tem a maior
representatividade, com 340 (45% da Região) e Santa Catarina, também tem o
menor número de mestre (171), representando 23% da Região. O Paraná tem
28% do número de doutores da Região e 32% de mestres. Mesmo com as cifras
menores da Região, o Estado de Santa Catarina concentra mais doutores que a
grande maioria de cada um dos Estados das Regiões Centro-oeste (exceção para
o Distrito Federal), Norte e Nordeste (exceção para o Estado da Bahia). Para
o número de mestres, a representatividade somente é menor se comparado os
números absolutos do Distrito Federal. Se avaliar os números absolutos, a Região
Sudeste concentra mais doutores (721) que a soma das outras quatro regiões
(689).
É importante reforçar que essas análises não levaram em conta a dimensão
geográfica, o número de unidades de ensino e pesquisa e a população e o número
43 Alguns analistas argumentam que tal fato se deve, entre outros, pela interiorização da educação superior no
Estado, que ocorre desde os anos 90, chegando a atualidade, recebendo forte estímulo do governo estadual, além
da ampliação do setor privado, na diversificação das unidades de ensino e dos cursos.

43
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

de estudante das Regiões. Se esses indicadores forem acoplados às análises, as


diferenças seriam ainda mais representativas. Outro dado que vale considerar é
que também o desenvolvimento econômico não entrou nas métricas de análise.
Neste caso, algumas dessas disparidades poderiam ser melhores explicadas.
Se os números apresentados não são suficientes para atender a demanda do
ensino e da pesquisa nas regiões, isso é mais agravado quando se verifica que parte
significativa dos titulados estão em áreas administrativas e técnicas. Essas “outras
atividades” denotam, muitas vezes, que o pesquisador está fora da sala de aula
ou realizando uma dupla jornada nas instituições (em muitos casos). As tabelas
a seguir mostram o panorama geral (contemplando as oito áreas), em Ciências
Sociais Aplicadas e na Comunicação. As tabelas abaixo mostram os números
absolutos para doutores e mestres.

Dados Gerais Tot.Geral CSA Com.


TOTAIS 133.846 12.370 1.410
Centro-Oeste 12.564 1.153 116
Nordeste 21.357 1.852 236
Norte 5.288 402 48
Sudeste 69.134 6.397 721
Sul 25.503 2.566 289
ATV ADM, Técnicas e Outras - - -
TOTAIS 52.003 4.825 514
Centro-Oeste 5.643 589 53
Nordeste 8.567 727 84
Norte 2.535 209 26
Sudeste 25.784 2.414 255
Sul 9.474 886 96
ATV de Pesquisa e Ensino - - -
TOTAIS 81.853 7.545 896
Centro-Oeste 6.921 564 63
Nordeste 12.790 1.125 152
Norte 2.753 193 22
Sudeste 43.360 3.983 466
Sul 16.029 1.680 193

Tabela 5 - Distribuição de Doutores no Brasil, Geral, CSA e Comunicação - Anos 2000 a


2009, por Região
Legenda: CSA – Ciências Sociais Aplicadas; COM. – Comunicação
Fonte: Dados dos autores

44
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Dados Gerais Tot.Geral CSA Com.


TOTAIS 232.767 36.223 3.772
Centro-Oeste 24.571 4.042 409
Nordeste 41.776 6.239 657
Norte 13.553 1.801 178
Sudeste 104.715 15.999 1.774
Sul 48.152 8.142 754
ATV ADM, Técnicas e Outras - - -
TOTAIS 174.789 26.032 2.689
Centro-Oeste 19.481 3.177 328
Nordeste 30.990 4.460 486
Norte 10.370 1.398 129
Sudeste 79.969 11.807 1.263
Sul 33.979 5.190 483
ATV de Pesquisa e Ensino - - -
TOTAIS 57.978 10.191 1.083
Centro-Oeste 5.090 865 81
Nordeste 10.786 1.779 171
Norte 3.183 403 49
Sudeste 24.746 4.192 511
Sul 14.173 2.952 271

Tabela 6 - Distribuição de Mestres no Brasil, Geral, CSA e Comunicação - Anos 2000 a


2009, por Região
Legenda: CSA – Ciências Sociais Aplicadas; COM. – Comunicação

Fonte: Dados dos autores44

Comparando os números gerais de formação, em todas as oito áreas do


conhecimento, temos que 39% dos doutores e 75% dos mestres em atividades
administrativas e técnicas. Em contrapartida, 61% dos doutores e 25% dos
mestres estão em atividades de pesquisa e ensino. Na área da Comunicação, 36%
(514) dos doutores estão em atividades administrativas e técnicas e 64% (896)
em atividades de pesquisa e ensino. Por outro lado, os mestres, 71% (2689) estão
em atividades administrativas e técnicas e apenas 29% (1083) em atividades de
ensino e pesquisa. As mesmas características são observadas nas oito áreas do
conhecimento utilizadas pelo CNPq e na área específica de Ciências Sociais
Aplicadas, onde se enquadra a Comunicação.
Um dado chama a atenção. Se for levado em consideração os 896 doutores
em atividades de pesquisa e ensino da comunicação, 52% (466) estão na Região
Sudeste, 22% (193) no Sul; 17% (152) no Nordeste; 7% (63) no Centro-Oeste e
apenas 2% (22) no Norte do país. O mesmo acontece com o número de mestres.
Dos 1.083 mestres em atividades de pesquisa e ensino, 47% (511) estão na Região
44 ATV = Atividade. São caracterizadas como atividades técnicas e administrativas os docentes que também
exercem cargos administrativos e/ou nas instituições, como: coordenadores, chefes de departamento, encar-
regados de laboratórios, etc.
45
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Sudeste; 25% (271) no Sul; 16% no Nordeste; 7% (81) no Centro-oeste e apenas


5% (49) na Região Norte.
Isso reforça, mais uma vez, a necessidade de políticas públicas para os
programas de pós-graduação oferecendo condições ensino e de pesquisa para
todas as regiões do País. É necessário estimular, com a criação de centros de
pesquisa, concessão de bolsas de fomento e com a ampliação de programas de pós-
graduação, que pesquisadores depois de formados em regiões mais desenvolvidas
e com melhores acessos, retornem aos seus estados sedes. Não foi objeto desta
pesquisa a comparação entre o Estado de origem e a localidade onde o pesquisador
está exercendo suas atividades profissionais, mas a literatura a respeito dá conta
de um significativo êxodo. Os estudantes ao buscar programas de pós-graduação
para a continuidade de seus estudos vislumbram regiões onde as oportunidades
são maiores, onde há mais pesquisadores e chances de ascensão profissional, e
terminam por se deslocar para esses centros. Fazem o mestrado e doutorado e
acabam por conseguir espaços para o desenvolvimento de suas pesquisas, muitas
vezes com bolsas de fomento e oportunidades de trabalho em universidades e
centros de pesquisa; fazendo com que, mesmo depois de formados, permaneçam
nessas regiões. Neste sentido, é necessário o direcionamento de políticas públicas
capazes de estimular o retorno desses cientistas aos seus locais de origem,
oferecendo oportunidades iguais nas várias Regiões do País.

Gênero e Faixa Etária na Comunicação


Muito se comenta sobre a ascensão da mulher no mercado profissional. Este papel
sempre foi dicotômico - ora era vista como a sedutora Lilith ora como a maternal
Maria. No século XX os primeiros passos para a entrada feminina no mercado
profissional ganharam força com mulheres como Chiquinha Gonzaga, Gertrude
Stein, Isadora Duncan, Wirginia Wolf que adentraram ao universo masculino.
Embora com notáveis diferenças, especialmente salariais, tempo de jornada de
trabalho diária e outros hoje, no Brasil, pode-se observar alguns avanços45.
Trazendo as análises para o campo da formação científica, envolvida com
a idéia do papel desempenhado pela mulher em um mercado eminentemente
masculino, que é a função de pesquisador-cientista, os dados abaixo demonstram
45 “Atualmente, as mulheres representam cerca de 40% da força de trabalho em toda a América Latina. So-
mente nos países do Cone Sul (Argentina, Brasil e Uruguai), os níveis de participação feminina ficam entre 50%
e 60%. (...) A taxa de desemprego urbano na América Latina entre os homens passou de 5,4% em 2007 para
7,6% em 2009, enquanto entre as mulheres esse aumento foi de 7,5% para 8,6% no mesmo período. (...)Por
outro lado, apesar de em 2009 as mulheres terem conseguido mais postos de trabalho, isso ocorreu em categorias
mais vulneráveis. Em 2009, a informalidade na América Latina continuava sendo muito mais elevada para as
mulheres (57,1%) que para os homens (51%). A tudo isso se somam as disparidades de renda por sexo. Em
média, as mulheres latino-americanas recebem 70% do que os homens ganham”. Fonte: Efe, em Santiago do
Chile, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u730631.shtml, acesso em novembro
de 2010.
46
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

que, pelo menos no que tange a área da pesquisa científica, essas diferenças estão
superadas. Os números abaixo evidenciam esses dados.
Há no geral, 133.818 currículos de doutores e 232.752 mestres cadastrados
na Plataforma Lattes, sendo 61.418 do sexo masculino (M), equivalendo a 46%
do total e 72.400 do sexo feminino (F), representando 54% para o caso dos
doutores. As mestras são em número de 124.913 (54%) e o mestres, 107.739
(46%).
Na área da Comunicação o cenário também não é diferente. São 1.410
doutores, sendo 722 mulheres (51%) e 688 homens (49%) e 3.769 mestres46,
com 2.210 mulheres (59%) e 1.559 homens, representando 41%.
Na análise geral, por tipo de atividade desenvolvida, nas oito áreas definidas
na Plataforma, no ensino e pesquisa há uma pequena diferença, sendo os doutores
homens em maior número, com 44.990, equivalendo a 55% e as 36.850 doutoras,
representam 45%, se comparados com os 81.840 doutores que estão neste tipo
de atividade. Na área administrativa e técnica, com o total de 51.978 doutores,
47% (24.568) são mulheres e 53% (27.410), são do sexo masculino. Com
referência ao número de mestres, há uma inversão. São 57.968 em atividades de
ensino e pesquisa e desses, 30.805 (53%) são do sexo feminino e 27.163 (47%)
são do sexo masculino. Para as atividades técnicas e administrativas, são 174.684
mestres, com 94.108 (54%) de mulheres e 80.576 (46%) de homens.

Faixa Etária
A idade, até bem pouco tempo atrás, se desenhava como um obstáculo para
alcançar patamares altos nos postos de comando nas empresas e nas universidades.
O que se percebe na atualidade é que cada vez mais cedo, os egressos dos cursos
de graduação ingressam na pós-graduação. Talvez isso possa ser explicado pela
possibilidade de uma ascensão profissional mais rápida, garantindo, muitas
vezes, um melhor salário, com uma gama maior de oportunidades no mercado
de trabalho, além de muitas empresas do mercado comunicacional exigirem
formação de pós-graduado para os seus quadros funcionais. Para se ter uma idéia
dos números, as tabelas abaixo evidenciam a formação por faixa etária, separadas
por mestres e doutores.

46 É necessário observar que nesse quesito (sexo), a Plataforma Lattes informa que o número total de mestres, na
área da Comunicação é de 3.769, com uma diferença a menor de três, se comparado o número de mestres por
Região, que é de 3.772. Essa diferença se deve ao fato do pesquisador não ter informado o sexo na Plataforma,
quando do cadastro de seu currículo, por isso foi mantido, para efeitos das análises, os números informados na
Plataforma, ou seja, 3.769 mestres para as análises sobre o sexo e faixa etária (uma vez que esses dados estão em
uma mesma tabela e não é possível separar) e 3.772 para as outras análises.

47
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Faixa etária 19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65+ Total
Total 1 34 601 979 896 785 727 534 333 182 107 -
Doutores 0 0 4 95 187 246 263 218 193 115 89 1.410
Mestres 1 34 597 884 709 539 464 316 140 67 18 3.769

Tabela 7 - Distribuição de Mestres no Brasil, Anos 2000 a 2009, por faixa etária

Fonte: Dados dos autores

É possível observar que grande parte da concentração de doutores, na área


da Comunicação é bem jovem. A grande centralização está na faixa etária entre
dos 40 anos até os 54 anos, correspondendo a 52% (727) doutores. Por outro
lado há doutores bem jovens, entre 25 e 29, correspondendo a 0,3% (4) do total.
Com 65 anos ou mais, há 89, representando 6% do total de doutores.
Para os mestres há uma boa proporção nas camadas mais jovens, dos 30 aos
44 anos, correspondendo a 57% (2.132) do total. Mas há um mestre com 19
anos, e boa representatividade na faixa de 25-29, com 16% (597) sobre o total de
3.769 mestres. Apenas 18 (0,5%) estão com 65 anos ou mais.
Isso demonstra que a Comunicação é uma área bastante jovem e talvez
isso explique nossa pequena inserção internacional, onde os grandes indicadores
estão no número de artigos publicados em periódicos científicos. A validade
das pesquisas realizadas na pós-graduação ocorre, também, pela divulgação dos
resultados dos trabalhos. Embora seja necessário registrar que em países em
desenvolvimento, como é o caso do Brasil, há graves barreiras de distribuição
e disseminação, o que limita o acesso e o uso da informação científica gerada
localmente.

Instituição de Vínculo e Área de Atuação


A Plataforma Lattes disponibiliza também os setores econômicos, onde estão
concentrados os mestres e doutores. Não é possível comparar com os dados
anteriores, uma vez que os números totais não são os mesmos. Isso se deve
provavelmente ao fato de que muitos profissionais não estão em nenhuma dessas
atividades, ou mesmo que não foi informado quando do cadastro do currículo,
embora os dados “não informados” na Plataforma constem como zero. Os dados
evidenciam um panorama geral de onde os pesquisadores e cientistas estão
desenvolvendo suas atividades.

48
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Tabela 8 - Distribuição por Setor Econômico e Área da Comunicação Anos 2000 a 2009,
por Doutores e Mestre

Atividade Doutores Mestres Totais


Totais 1.081 1.951 3.031
Ensino Superior Público 658 555 1.213
Ensino superior Privado 386 1.138 1.524
Exterior 11 11 22
Setor Empresarial Privado 3 22 25
Setor Empresarial Público 7 34 41
Setor Governamental Público 14 116 130
Setor Privado sem fins lucrativos 1 30 31
Não Informada 0 0 0
Outros 1 45 46

Fonte: Dados dos autores

A grande concentração de doutores na área da Comunicação está no Ensino


Superior Público, representando 61% (658). Por outro lado, os mestres, 58%
(1.138) estão no Ensino Superior Privado. Essa diferença pode ser explicada, pois
grande parte dos concursos para o Ensino Superior Público exige, no mínimo, o
título de doutor. Também que as universidades privadas contratam mais mestres
que doutores.
No Ensino Superior Privado o número de doutores da área é bem menor,
representando sobre o total, 36% (386). O mesmo ocorre com relação aos mestres,
que no Ensino Superior Público representam 28% (555), do total. É interessante
observar que no Setor Governamental Público, há uma concentração maior de
mestres (116, representando 6% do total), do que de doutores 1% (14), na área
da Comunicação.
Outro dado importante é com referência ao Setor Empresarial Público ou
Privado, onde o número de titulados, tanto de doutores, quanto de mestres é
muito pequeno, representando os dois juntos, sobre o total apenas 2% (66).
Isso demonstra que grande parte dos titulados não estão em atividades do
setor empresarial, mas desenvolvem suas atividades no ensino superior. Essa
aproximação entre a formação e o mercado tem sido, pelo menos na área da
Comunicação, o seu “calcanhar de Aquiles”. Um dos desafios, especialmente dos
mestrados profissionais, é a inserção dos egressos no mercado de trabalho.
Quando se avalia os dados das instituições, no Ensino Superior Público,
as três que abrigam a maior quantidade de doutores na área da Comunicação
são: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e Universidade de Brasília (UnB). No Ensino Superior Privado, são:
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Pontifícia Universidade

49
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e Universidade do Vale do Rio dos


Sinos (UNISINOS).
Os mestres estão distribuídos nas instituições: Universidade Federal do
Ceará (UFC), Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Universidade do Rio
Grande do Sul (UFGRS) no Ensino Superior Público entre outras. No Privado,
estão: Universidade Paulista (UNIP), Universidade Estácio de Sá, Universidade
Anhembi-Morumbi e Universidade Presbiteriana Mackenzie etc.
A instituição que abriga mestres e doutores no setor Exterior é o Instituto
Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Com referência aos
Setores Empresarial Público e Privado, vários são os espaços que recebem tanto
doutores quanto mestres. Dentre as empresas e instituições citamos: Empresa
Brasileira de Pesquisas Agropecuária (Embrapa), Banco do Brasil, Câmara
dos Deputados, Senado Federal, Petróleo Brasileiro (Petrobras), Editora Abril,
Empresa Folha da Manhã, Companhia Vale do Rio Doce, Natura Inovação e
Tecnologia de Produtos, entre outras.

Grupos de Pesquisa
É possível afirmar que este é um período onde a necessidade de definir formas de
produção de conhecimento está em ascensão. As instituições de ensino superior
público e privado buscam diversificar as formas de avaliação da produtividade de
seu corpo docente, pois construir conhecimento de forma isolada já não integra
as atividades de grande parte dos pesquisadores que estão nos espaços da pós-
graduação. As agências de fomento e as próprias universidades estimulam a prática
do diálogo entre as áreas, da produção conjunta e dos espaços de atividades que
possam reunir não somente doutores, mas mestres e estudantes dos vários níveis
(doutorandos, mestrandos e graduandos), além de técnicos e outros agentes.
Um grupo de pesquisa pode ser definido como “um conjunto de indivíduos
organizados em torno de um ou mais objetos de estudo”, geralmente sob a
liderança de um pesquisador, com titulação preferencialmente de doutor e
pela existência de mais estudantes de graduação, pós-graduação e técnicos de
nível superior. Para que as atividades sejam desenvolvidas é preciso que ocorra
o envolvimento profissional e permanente com atividade de pesquisa e que o
trabalho seja organizado em torno de linhas comuns de pesquisa.
Desenvolvido pelo CNPQ em 1992, as informações constantes nesse
espaço “(...) dizem respeito aos recursos humanos constituintes dos grupos
(pesquisadores, estudantes e técnicos), às linhas de pesquisa em andamento, às
especialidades do conhecimento, aos setores de aplicação envolvidos, à produção
científica e tecnológica e aos padrões de interação com o setor produtivo. Além

50
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

disso, cada grupo é situado no espaço (região, UF e instituição) e no tempo”47.


O CNPq realiza censos bi-anuais na base de dados. Normalmente localizados
em universidades, institutos de pesquisa e em outros espaços, como laboratórios,
não incluindo em suas estatísticas os grupos “localizados nas empresas do setor
produtivo”.
Os grupos atendem a três finalidades principais, definidas pelo CNPq,
- No que se refere à sua utilização pela comunidade científica e tecnológica
no dia-a-dia do exercício profissional, é um eficiente instrumento para o
intercâmbio e a troca de informações. Com precisão e rapidez, é capaz de
responder quem é quem, onde se encontra, o que está fazendo e o que
produziu recentemente.
- Seja no nível das instituições, seja no das sociedades científicas ou, ainda,
no das várias instâncias de organização político-administrativa do país, a
base de dados do Diretório é uma fonte inesgotável de informação. Além
daquelas informações diretamente disponíveis sobre os grupos, seu caráter
censitário convida ao aprofundamento do conhecimento por meio das
inúmeras possibilidades de estudos de tipo survey. A construção de amostras
permitirá o alcance de respostas sobre campos não cobertos pelos dados,
como, por exemplo, o financiamento, a avaliação qualitativa da produção
científica e tecnológica, bem como o padrão fino das interações entre grupos
de pesquisa e o setor produtivo. Desta forma, é uma poderosa ferramenta
para o planejamento e a gestão das atividades de ciência e tecnologia.
- Finalmente, as bases de dados, na medida em que é recorrente (realização
de censos), têm cada vez mais um importante papel na preservação da
memória da atividade científico-tecnológica no Brasil.
O último censo realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq)48, a respeito dos cadastros em seu Diretório de
Grupos de Pesquisa, é datado de 2008. Esse levantamento aponta que, no país,
até aquela ocasião, havia 366 grupos cuja área predominante é a Comunicação,
a qual está subordinada à grande área de Ciências Sociais Aplicadas. O mesmo
levantamento indica que esses núcleos comportam 897 linhas de pesquisa,
contando com a participação de 2.265 pesquisadores.
Se for levado em consideração o território de atuação desses centros de
produção de conhecimento, observa-se que eles estão assim distribuídos: 10
grupos no Norte; 66 no Nordeste; 19 no Centro-Oeste; 180 no Sudeste; e 91 no
Sul. Esse mapa, portanto, não está destoante do esboço dos pesquisadores mestres
e doutores, que estão, em sua grande maioria, também nas regiões Sudeste e Sul,
47 Disponível em http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm, acesso em novembro de 2010.
48 Os dados aqui apresentados foram extraídos das estatísticas do próprio CNPq, disponíveis no endereço
http://dgp.cnpq.br/buscagrupo/, acesso em novembro de 2010.
51
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

conforme apontou o próprio CNPq, em outubro de 2010.


Uma análise mais detalhada desse cenário pode ser feita levando-se em conta
os Estados aos quais os grupos estão ligados. Com relação a esse aspecto, aparecem
os seguintes números:

Tabela 9 - Divisão de grupos de pesquisa em Comunicação por Estado de origem

Estados Grupos de
Pesquisa
Total Geral 366
Total Norte 10
Acre 1
Amazonas 2
Amapá –
Pará 3
Rondônia –
Roraima 1
Tocantins 3
Total Nordeste 66
Alagoas 3
Bahia 29
Ceará 4
Maranhão 2
Paraíba 6
Pernambuco 11
Piauí 3
Rio Grande do Norte 4
Sergipe 4
Total Centro-oeste 19
Distrito Federal 5
Goiás 3
Mato Grosso do Sul 7
Mato Grosso 4
Total Sudeste 180
Espírito Santo 7
Minas Gerais 24
Rio de Janeiro 33
São Paulo 116
Total Sul 91
Paraná 24
Rio Grande do Sul 47
Santa Catarina 20

Fonte: Dados dos autores

O Estado de São Paulo tem a maior representação, com 116 grupos,


representando 64% da Região Sudeste e 32% de todos os grupos. O Estado
da Bahia ocupa o segundo lugar em número de Grupos de Pesquisa, com 66,
representando 44% da Região Nordeste e 18% do total.
Na Região Norte, onde dados anteriores apontaram a não existência de

52
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

doutores nos Estados do Acre, Amapá e Roraima, somente Amapá não tem
registrado nenhum grupo de pesquisa. Por outro lado, Rondônia que tem dez
doutores não possui nenhum grupo de pesquisa cadastrado.
Ao comparar os dados com o número de doutores e mestres nas regiões,
nota-se uma disparidade muito grande entre os dados, demonstrando que, embora
importante, parte significativa dos titulados não mantém grupos de pesquisa
cadastrados. Outra advertência que deve ser feita é que o pesquisador pode estar
ligado a mais de um grupo e nesse sentido, os dados poderiam demonstrar uma
variedade ainda maior.
É importante destacar que, na última década, houve um crescimento
considerável no número de grupos de pesquisa da área. Entre 2000 a 2008,
conforme ilustra a próxima Tabela, o montante saltou de 95 para 366,
representando um aumento de mais de 350%, sendo que o período de maior
ascensão – de um censo para outro – corresponde ao biênio 2003-2004.

Tabela 10 - Censos dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq

Censo Censo Censo Censo Censo


2000 2002 2004 2006 2008
95 161 270 330 366

Fonte: Dados dos autores

As razões dessas alterações acompanham, de certo, a própria evolução dos


programas de pós-graduação da área, que subiu de 12 para 39, nos últimos
dez anos49. Novos programas compreendem, também, novas ações que visam
institucionalizar e nuclear pesquisadores em torno de estudos sobre objetos
comuns à área comunicacional.
Embora os indicadores que retratam a situação desses grupos permitam
visualizar um panorama evolutivo, duas advertências devem ser feitas com relação
a eles. O primeiro é que, como já foi explicado, os dados que nos orientam
são de 2008, uma vez que o CNPq ainda está em fase de elaboração do novo
recenseamento, o qual deve ser publicado em 2011; todavia, temos consciência
de que, nos últimos dois anos, novas iniciativas foram tomadas, em todo o país, e
certamente os números aqui apresentados sofrerão alterações.
Outro alerta – feito por Richard Romancini (2006, p. 149), em sua tese de
doutoramento sobre o campo científico da Comunicação – é que os grupos de
pesquisa sobre cinema – “por razões históricas”, conforme o autor – se inserem,
49 Dados extraídos da relação de cursos de pós-gradução stricto sensu recomendados pela Coordenação de Aper-
feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), disponível no endereço: http://dgp.cnpq.br/buscagrupo/,
acesso em novembro de 2010.
53
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

muitas vezes, na área de Artes. Ao trabalhar com dados oficiais do Ministério da


Ciência e Tecnologia, que dá liberdade aos pesquisadores e às instituições para
cadastrarem suas atividades nas plataformas da internet, observa-se que é bem
provável que haja outros núcleos que trabalham com objetos de interesse da
Comunicação – especialmente o cinema –, mas que estão fora do levantamento
apresentado pelo CNPq.
Convém observar que no Diretório de Grupos de Pesquisa há uma
infinidade de informações, permitindo os mais variados cruzamentos. Os
dados ali disponibilizados dariam, por si só, uma grande pesquisa. O grupo
de trabalho selecionou as informações que julgou fundamental para observar a
representatividade desses espaços no Panorama da Pesquisa em Comunicação50.

Considerações finais e outras etapas a percorrer


O estado do conhecimento na área da comunicação pode ser dividido em duas
sub-áreas: as consolidadas e as emergentes. Neste cenário, o desafio proposto
pela Socicom e apoiado pelo Ipea para a realização dessa pesquisa deve ser
entendido como um passo importante para o conhecimento sobre a produção
comunicacional de pesquisadores e de instituição nacionais. Não somente aquelas
representadas no âmbito dessa pesquisa, mas para outras tantas que integram o
cenário da comunicação no País. Também deve ser avaliado em sua contribuição
para o campo da comunicação, em seu amplo espectro de possibilidades.
As pesquisas científicas evidenciam escolhas, quer dos objetos, metodologias
ou mesmo do direcionamento das análises realizadas. Também apresentam
resultados, que ampliam o leque de opção, gerando novas reflexões a partir de
outros olhares e direcionamentos. As atividades de investigação servem como elos
entre a teoria e a prática, permitindo que se apontem semelhanças, dicotomias,
identifiquem tendências e lacunas, e por fim, seu ferramental mais precioso é a
possibilidade de subsidiarem outras análises.
Neste sentido, a pesquisa ora apresentada, em sua primeira etapa, empreendia
por um grupo de pesquisadores apoiados com bolsa Ipea, buscou sistematizar e
analisar informações de um número expressivo de entidades e de pesquisadores da
área da comunicação, nos mais variados espaços produtivos.
Esse diagnóstico da área, resultado final esperado das várias ações
empreendidas, visa, em parte, diminuir distâncias entre a teoria e a prática,
apontando para a possibilidade da criação coletiva como ação transformadora,
fruto do exercício da parceria entre pesquisadores e instituições, inevitável nas
ciências contemporâneas. Outro aspecto que deve ser mencionado é o desafio
50 Para a segunda etapa da pesquisa, será disponibilizada a análise por linhas de pesquisa, que são igualmente
importante para o entendimento do campo da comunicação como um todo.
54
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

da preservação da abordagem interdisciplinar como espaço de convergência,


resultando em trocas que possam atender as dicotomias da área da Comunicação.
Inserida no contexto de inquietude, as experiências resultantes das produções
aqui apontadas poderão superar a fragmentação dos saberes. Desta forma, outra
finalidade do resultado final (na etapa conclusiva dessa investigação) será o de
alcançar objetivos mais amplos e resultados plurais, através da sólida proposta
de trabalho conjunto, numa perspectiva integradora não apenas dos conteúdos,
mas e, sobretudo, de pesquisadores e instituições, com suas recomendações e
saberes. Assim, à ameaça na formação de um campo da Comunicação autônomo,
devido ao uso indiscriminado e desconectado dos múltiplos saberes poderá ser
superada com a sistematização e a reflexão constante dos participantes, para que
os diversos aportes teórico-metodológicos estejam voltados a um objetivo maior:
o entrecruzamento das Ciências, de modo que sejam modificadas e repensadas
em função da Comunicação, de um novo olhar transformador. As argumentações
aqui apresentadas, possibilitam uma visão multidisciplinar. Isso representa um
avanço no tratamento das investigações, porque pressupõe a abordagem sob
várias perspectivas teórico-metodológicas.
Os resultados apresentados oferecem, uma prática diferenciada, que poderá
dar conta da complexidade e da dinâmica do campo da Comunicação. Esta prática
pode se traduzir pela possibilidade de descrever e diagnosticar a produção do
conhecimento comunicativo, analisando o desenvolvimento, na última década,
dos setores midiáticos; desenhar o panorama da indústria nacional de informação
e comunicação; analisar, mensurar e descrever os setores das profissões legitimadas
e das ocupações emergentes no campo, além de traçar o panorama nacional
da comunicação, evidenciando os perfis socioeconômico, educativo-cultural,
entre outros. Todo esse amplo escopo possibilita a reflexão teórica baseada na
construção coletiva prática de novos conhecimentos, fundamentais para o avanço
da Ciência da Comunicação.
Falar do cenário da comunicação é admitir que se trata de uma área que
tem vivido constantemente sob a guarda da transição, mas é sobretudo entender
diferenças, administrar valores, respeitar a diversidade, sobreviver na pluralidade
de opiniões sem perder a perspectiva de que singularidades se apresentam
como pontos de confluência entre os saberes, formando o grande campo da
Comunicação.
Tratar de Comunicação é administrar a amplitude das possibilidades, é
enxergar a polaridade, mas é delimitar fronteiras, entender o cenário e os atores
que nele encenam diariamente seus cotidianos.
Juntar esses dois pontos em uma pesquisa é um grande desafio e foi esse
que se tentou superar. Não aparece aqui a idéia do “tudo o que foi possível”.

55
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

Como todo trabalho humano, esse também padece de incertezas, falhas e lacunas.
Mas buscou descortinar o cenário e mostrar os atores sociais que cotidianamente,
através de ações reais, tentam dirimir as angústias que permeiam habitualmente
suas produções, transformando-as em dados, estudos e resultados capazes, muitas
vezes, não de definir o caminho certo ou o errado, mas de oferecer a possibilidade
de escolha.
Assim, podemos afiançar que a pesquisa proposta pela SOCIOM e apoiada
pelo Ipea permite que as várias instituições aqui representadas possam transpor
fronteiras entre as diferentes áreas de conhecimento; agregando-se em torno de
um ou mais temas e possibilitando a convergência entre eles, contribuindo para
o avanço do conhecimento de forma integradora; para a formação de recursos
humanos com capacidade para enfrentar novos desafios.
O resultado final51 propiciará que grupos produtivos e comprometidos
com a pesquisa de qualidade se associem de forma independente, respeitando
as especificidades de cada espectro do conhecimento comunicativo, que é amplo
e não homogêneo; contribuindo para o crescimento com qualidade da área da
Comunicação, nas respeitando as especificidades que cada subárea oferece.
A base inicial de dados composto pelas subáreas consolidadas: jornalismo,
cinema e relações públicas, retratam a situação de cada entidade em suas propostas
de congregar pesquisadores em termo de eixos claros e específicos, oferecendo a
oportunidade de definir indicadores qualitativos.
Por outro lado e não menos importante, as subáreas emergentes: Cibermídia,
Folkcomunicação e Propaganda Política, possibilitarão (na segunda etapa da
pesquisa) o mapeamento das novas tendências e as singularidades do campo
comunicacionais, diante de cenários originais e amplos, como é o caso do Brasil.
O professor Marques de Melo (1998) garante que precisamos redimensionar
o trabalho científico, “aprofundando a interpretação dos fenômenos já conhecidos;
observar sistematicamente os novos fenômenos, dando-lhes registro crítico-
descritivo e cambiar as análises de fenômenos globais com os casos específicos”,
dessa maneira será possível o desenvolvimento de pesquisas calcadas nas próprias
necessidades e realidades do país, considerando sempre os estímulos externos,
mas não os priorizando.
É necessário que a pesquisa em Comunicação possa auxiliar as transformações
sociais, acumulando informações que realmente mostrem o cotidiano, ajudando
a construir novos modelos de produção e distribuição das riquezas de criação e
reprodução da cultura do país.
Os resultados aqui apresentados permitem observar que embora em
desenvolvimento, a área da Comunicação ainda tem muito por fazer. Os dados
51 Segunda etapa, que será disponibilizada e publicada em janeiro de 2011.

56
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

históricos evidenciam as contribuições empíricas, com múltiplas informações,


referências, produções e reflexões. Não se trata de uma totalidade teórica ou
metodológica, tão pouco abarca uma proposta homogênea de análise. Mas de
um conjunto significativo de aproximações, que com bem disse Rivera (1986,
p. 76) “pagam tributo a fontes e modelos bastante diferenciados entre si”, sem
perder as características peculiares de nosso campo de estudos e as especificidades
comunicacionais da nossa região. Se encarregando de relativizar o radicalismo
que permeiam muitas teorias e a instilar a ingenuidade, às vezes tola, de outras.
Os levantamentos e as analises dos dados da Plataforma Lattes, do Portal
dos Grupos de Pesquisa do CNPq, dos resultados da Avaliação da Pós-Graduação
da Capes, na leitura atenta de outras investigações realizadas, no site no Ipea, da
Unesco, do CNPq, da Capes entre outros espaços nos permitiram visualizar um
campo amplo de estudos, que ainda padece de uma delimitação e da definição de
fronteiras. Não no sentido de espaços delimitadores, mas que promovem clareza
sobre o que deve ser empreendido e investigado na área da Comunicação.
Para encerrar essa etapa de análise, cabe ressaltar que o processo de legitimação
e de identidade acadêmicas deste campo está diretamente relacionado com a
formação de profissionais competentes para a prática científica, além da efetiva
participação desses atores sociais nos cenários acadêmicos; buscando equilíbrio
entre a teoria e a prática profissional e entre os vários espaços desenhados pela
geografia nacional.
A área da Comunicação está cercada por desafios que eclodem em cenários
diversificados, necessitando de consolidação e legitimação. Os espaços nos centros
articuladores de pesquisa oferecem a institucionalização necessária para que se
possa intercambiar informações e contemplar as várias especificidades, quer do
campo ou da área. Faz-se necessário e urgente que olhemos esses ambientes como
centros aglutinadores, capazes de promover a discussão ampla, congregando
características plurais e gerando produção de conhecimento hábil para alterar,
substancialmente, as realidades comunicativas no continente latino-americano.
Para que isso seja possível é necessário olhar com atenção as cinco regiões
do Brasil, oferecendo estímulos para o desenvolvimento de programas de pós-
graduação, incrementando a pesquisa, apoiando investigadores para que ancorem
nas regiões mais afastadas seu arsenal de conhecimentos. Só assim será possível
formar um quadro de intelectuais críticos e analíticos, que produzam conhecimento
novo em áreas defasadas ou mesmo menos favorecidas, quer pelo distanciamento
ou mesmo pela falta de apoio para o desenvolvimento permanente.
Essas ações permitirão dirimir distâncias, evitando o distanciamento que
promove a polarização de mensagens, nem sempre reais sobre as necessidades
da nossa região. Deve ocorrer um acercamento dos meios e suas múltiplas

57
Panorama da Produção de Conhecimento em Comunicação no Brasil

possibilidades, de forma que eles sejam os sujeitos de nossas investigações, gerando


um marco conceitual que consiga universalizar características e subsidiar políticas
de comunicação que atendam as necessidades informativas em todos os âmbitos.
São necessárias miradas mais globalizadoras com aquilo que acontece no mundo,
mas sem perder de foco as idiossincrasias da região.

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61
62
CAPÍTULO 2

Tendências Ocupacionais e Profissionais

Introdução

Andrea Ferraz Fernandez52


Duas palavras do vocabulário grego eram utilizadas para referenciar o significado
da palavra trabalho: ergon e ponos. A primeira faz referência à criação. A segunda
a esforço. Essa distinção feita pelos gregos ainda pode ser visualizada, na língua
portuguesa, resumida na palavra “trabalho”. Etimologicamente, traduz tanto o
significado de criação e imaginação assim como fardo, esforço e dificuldade.
Antes de a Idade Moderna ter inicio, a palavra trabalho era entendida
distintivamente da maneira como era concebida a palavra ocupação, fato
ultrapassado nos dias de hoje, onde o conceito de ocupação é diretamente
associado aos conceitos das palavras trabalho e emprego. A partir da Modernidade
o conceito de trabalho foi sendo associado, gradativamente, com o ao conceito
de emprego e passou a ser entendido como uma ocupação econômica. De acordo
com Suzana Albornoz (1988, p. 96) foi somente no final do século XIX que a
transformação e associação completa entre trabalho e emprego foram atingidas.
Desde este momento o conceito de trabalho é conduzido como compromisso
social.
Outro autor que estuda as transformações sociais relacionadas com
as ocupações dos homens em suas sociedades, com enfoque no surgimento e
utilização de novas tecnologias e conhecimentos, é Manuel Castells (1999).
Segundo ele os historiadores observaram duas grandes revoluções: a primeira
impulsionada pela máquina a vapor, ainda no século XVII, e uma segunda, cem
anos depois, movida a eletricidade, motores de combustão interna e as primeiras
52. Pesquisadora Responsável. Drª. em Ciências da Informação, vinculada ao Departamento de Comunicação
Social e ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Cultura Contemporânea da Universidade Federal de
Mato Grosso. Mail: andreaferraz@ufmt.br . Participaram da equipe: Silvia Maria Prado, Profª. Msc. em Es-
tatística, vinculada ao Departamento de Estatística /ICET da UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso.
Mail: smaria@ufmt.br. Marcelo Espindola, Prof. Msc. em Ciências da Informação, vinculado ao Curso de
Multimídia da FCG - Faculdades Campo Grande. Mail: celitoespindola@hotmail.com. Assistentes de Pesquisa:
Vitor Teixeira, Publicitário formado pelo curso de Comunicação Social da UFMT. Mail: vitortorres.mid@
gmail.com, Cristiane Froza, Graduanda do curso de Comunicação Social da UFMT. Mail: crisguse@gmail.
com, Rafaela de Souza, Graduanda do curso de Comunicação Social da UFMT. Mail: mid.rafaela@gmail.com,
Talyta Singer, Graduanda do curso de Comunicação Social da UFMT. Mail: ytasinger@gmail.com. Colabora-
dores: Mauricio Falchetti, Francisco Krauss Neto, Helena Honorato Snowareski, Igor Luciano de Oliveira, João
Paulo Alves Motta, Juliany Araújo de Jesus, Lorena Karolina Bruschi, Lucas Monteiro Bianchi, Marina Paiva de
Souza, Rodrigo de Souza Oliveira, Rondiny Moreira, Veruska Norie Miyashita, Walter Eller do Couto, Willian
Monteiro

63
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

tecnologias de comunicação. Entre as duas revoluções, Castells afirma que a


diferença mais notável foi o direcionamento do desenvolvimento tecnológico
(após 1850), pelas descobertas e popularização do conhecimento científico.
Segundo ele, essas revoluções aumentaram as aplicações tecnológicas, criaram
novos produtos e mudaram a localização das riquezas no mundo.
Há, (…), uma relação muito próxima entre os processos sociais e a
manipulação de símbolos (a cultura da sociedade) e a capacidade de produzir
e distribuir bens e serviços (as forças produtivas). Pela primeira vez na história,
a mente humana é uma força direta de produção, não apenas um elemento
decisivo no sistema produtivo. Assim, computadores, sistemas de comunicação,
decodificação e programação genética são todos amplificadores e extensões da
mente humana. (Castells, 1999, p. 69).
Contemporaneamente, o ambiente de emprego da força de trabalho, ou seja,
o mercado de trabalho, de forma geral e também no campo da Comunicação,
mantém uma relação estreita entre formação universitária e atuação profissional.
No Brasil essa característica marcou a primeira lei que fixava as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, em 1961. Embora a Legislação vigente torna-o não
obrigatório em quase todos os casos, o diploma de curso superior em Comunicação
Social continua a ser visto como um “passe para a vida profissional” (Nunes et at.,
2003, p. 10). Para o caso específico de Jornalismo, desde o dia 19 de junho de
2009 os ministros do STF – Supremo Tribunal Federal decidiram que o diploma
deste curso não é obrigatório para se exercer a profissão, porém, grandes empresas
da área de comunicação continuam utilizando o diploma como diferencial
profissional. Em um movimento temporal complementar, diferentes corporações
profissionais procuraram criar requisitos legais para o exercício da profissão que
reforçavam esse vínculo, tendo como justificativa sua importância para a sociedade
e para o bem comum. Assim sendo, o diploma universitário passou a ser uma
forma de acesso válida para as profissões da Comunicação – diploma específico,
como no caso do Jornalismo e Relações Públicas e posteriormente Rádio e TV, e
diploma inespecífico, como no caso do Cinema, Publicidade e Editoração.
Ainda que existam cursos de graduação específicos para todas estas profissões,
em novembro de 2010, apenas a Habilitação de Relações Públicas conserva a
reserva de mercado de trabalho para os egressos do curso superior correspondente.
As associações de classe que representam os egressos da Habilitação de Jornalismo
encaminham petições ao Supremo Tribunal Federal para o retorno de, pelo
menos, parte da regulamentação que garanta reserva de mercado para seus
egressos. No caso da Habilitação de Radialismo – RTV- o diploma específico
garante ao profissional o acesso a todas as ocupações relacionadas ao ofício (de
diretor de programação a técnico de som).

64
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

A obrigatoriedade ou não do diploma para as Habilitações do curso de


Comunicação Social como reserva de mercado e outras questões complexas serão
discutidas amplamente no capítulo Questões Sensíveis.

Tabela 1: Habilitações da Comunicação Social53

Habilitações da Comunicação Social

Publicidade e Propaganda

Jornalismo

Radialismo

Relações Públicas

Editoração

Audiovisual e Cinema

As profissões tradicionais da área da Comunicação e as ocupações


emergentes, possuem uma característica de agrupamento que abarca, de forma
difusa, profissionais oriundos de campos do conhecimento distintos, como, por
exemplo, egressos de Artes, Design ou Computação. São formações díspares,
que empregam seus saberes também no campo de atuação profissional da
Comunicação Social. Muitas vezes o perfil profissional é embasado pelo fazer
prático e não pelo que aprendeu nos bancos escolares.
A variedade das atividades desempenhadas pelos profissionais que atuam
no campo de trabalho da comunicação pode constituir uma dificuldade no
momento de estabelecer um marco epistemológico para a área, posto que a
Ciência da Comunicação assim como suas profissões possuem natureza mutante
e se relacionam se intercambiam, em maior ou menor grau, com outros campos
do conhecimento. Cita-se como exemplo a atuação de egressos do campo das
Artes, no mercado de trabalho do Cinema54; Administradores e profissionais do
Marketing, trabalhando em funções de Relações Públicas ou ainda os egressos
de área como Letras e Literatura, ocupando postos de trabalhos na área de
Editoração.

53. As tabelas e gráficos que não apresentam fonte foram elaborados pela equipe de pesquisa.
54. A Capes aprovou recentemente a desvinculação do curso de Cinema da área de conhecimento Comunicação
Social passando-o para área de conhecimento Artes. Entretanto, existe uma Habilitação do curso de Comuni-
cação Social nomeada “Audiovisual e Cinema. Tal situação será detalhada neste trabalho.

65
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

O inter-relacionamento entre áreas de conhecimento é observado claramente


entre as profissões tradicionais da Comunicação (Jornalismo, Audiovisual e
Cinema, Editoração, Relações Públicas, Radialismo, Publicidade e Propaganda)
e também nas ocupações denominadas emergentes, tais como: Web Designer,
Desenvolvedor de Games, Animador, Social Media etc.

Comunicação Social e seu vínculo com as novas tecnologias


Uma das características comum para os profissionais que compõem o mercado
de trabalho da Comunicação é a vinculação das atividades que desempenham
aos suportes tecnológicos. O estreitamento da relação Comunicação Social com a
tecnologia se intensificou a partir da década de 40 do século passado, culminando
com dependência estrita da tecnologia para o desempenho profissional na
maioria das atividades e tarefas realizadas nas chamadas Indústrias Criativas55 e de
Conteúdos. As profissões da área de Comunicação são continuamente fortalecidas
pela atualização e pela inovação da tecnologia, por sua linguagem, mudanças de
hábitos e de comportamentos, ocasionando uma verdadeira revolução estrutural,
seja na forma de produzir, disseminar ou de consumir informação (CASTRO,
2008).
O desafio de adaptação ocorre em muitos sentidos simultaneamente: os
profissionais adaptarem-se às novas propostas e projetos, as empresas às novas
demandas, as diretrizes curriculares aos novos “modus operandis”, o mercado de
trabalho deve oferecer produtos e serviços que se adaptem às necessidades dos
consumidores etc56.
As contínuas alterações nas profissões da Comunicação podem ser percebidas
em perfis profissionais: um exemplo é o caso do egresso em Editoração, que nas
décadas passadas direcionava seu aprendizado para atuação na mídia impressa e
agora deve estar apto também a atuar em empresas do mercado editorial digital,
desenvolvendo novas habilidades necessárias, que o capacite a criar produtos
transmidiáticos e multimodais57. As antigas e tradicionais características desejáveis
a um editor de livros: como a capacidade de hierarquizar informações, interferir
no texto ou criar identidade visual, permanecem indispensáveis e a elas somam-
se novas competências também de indiscutível necessidade a esse profissional
55. Observe que as indústrias criativas surgem na Europa e incluem não apenas a comunicação, mas também o
artesanato, os museus, a arquitetura, etc. Já as indústrias de conteúdos incluem o mundo digital, os serviços, e na
America Latina dão ênfase a oferta de conteúdos gratuitos através de diferentes plataformas. (CASTRO, 2007).
56. Algumas das idéias presentes nesta introdução são de autoria da jornalista Claudia Lago, Doutora em Co-
municação. As idéias foram apresentadas durante palestra proferida no Seminário Ipea, realizado no auditório
Ipea, Rio de Janeiro, no dia 23 de setembro de 2010.
57. A partir dos conceitos de Lévy, podemos entender que Informação multimodal disposta em uma rede é con-
stituída por nós (os elementos de informação, parágrafos, páginas, imagens, seqüências musicas, etc.) e por links
entre esses nós, notas, referências, ponteiros, botões indicando a passagem de um nó a outro. As informações
dispostas em arquivos digitais devem ter uma navegação rápida e intuitiva.
66
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

contemporâneo.
A profissão de radialista, regulamentada em 30 de outubro de 1979, encontra-
se em cenário parecido. O próprio nome da profissão é um anacronismo, uma
vez que o perfil profissional desta habilitação, estabelecido pelo MEC, determina
que os profissionais oriundos dessa habilitação devam receber formação para a
produção audiovisual, cinematográfica, produção textual para produtos interativos
e de conteúdo para mídias digitais e móveis, além da formação específica para o
veículo de comunicação rádio.
Também a Habilitação em Audiovisual e Cinema apresenta peculiaridades
desta ordem, uma vez que incorpora inúmeras ocupações, todas elas regulamentadas
em 1978 por lei relativa aos Artistas e Técnicos em Empresas de Diversão. Este
campo profissional, fortemente vinculado ao campo artístico, destaca-se pela
grande quantidade de profissionais que atuam informalmente no mercado de
trabalho. Executam frequentemente trabalhos para projetos específicos, por
tempo determinado, sem vínculo formal de nenhum tipo entre contratantes e
contratados. Sabe-se ainda que uma parte desses profissionais desempenham
funções típicas dos egressos em Publicidade e em Radialismo, como criação e
produção de campanhas promocionais.
Para além das características gerais de cada profissão é importante levar
em conta as diferentes realidades temporais e geográficas, seja por demanda de
trabalho ou por valorização salarial, observadas nas profissões que se modificam
de acordo com a região onde os profissionais atuam. As diferenças regionais
estão refletidas nos pisos salariais, nas funções desempenhadas e nas atividades
executadas pelos profissionais e até mesmo no nome das ocupações, segundo a
denominação informada pelos profissionais.
O próprio mercado de trabalho adquire feições distintas conforme o
afastamento das grandes cidades, capitais e pólos produtivos. Ressalta-se ainda a
percepção de influência dos veículos de comunicação com penetração nacional
sobre as indústrias locais e a falta de autonomia regional da mídia, seja em termos
de conteúdo, seja em termos de mercado. Esses fatores remetem a relações do
mercado de trabalho com a formação dos profissionais ligados a esse mesmo
mercado. Os dados constam do texto como categorias de análise da presente
pesquisa, organizados da seguinte maneira:
1. Formação dos profissionais que atuam no mercado de trabalho da
Comunicação;
2. Atuação dos profissionais da Comunicação e outras áreas no mercado de
trabalho da Comunicação;
3. Tendências profissionais para o mercado de trabalho da Comunicação;

67
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

4. Questões sensíveis
Metodologia
Para o desenvolvimento desta pesquisa foram usadas técnicas estatísticas
qualitativas e quantitativas, além das metodologias próprias dos bancos de dados
consultados, como por exemplo, o Censo do Ensino Superior MEC/Inep/Deed58.
O projeto conta também com metodologia própria desenvolvida para arrecadação
de dados a partir de questionário distribuído e respondido em plataforma online,
discutidos detalhadamente nos anexos. A esses dados foram aplicadas as técnicas
tradicionais de quantificação e análise quantitativas e qualitativas.

Pesquisa online “Tendências profissionais e ocupacionais”


Este trabalho investigativo serviu-se da base de dados informacionais digitais –
internet. A metodologia própria criada pelos autores incorpora os dados obtidos
por via digital às informações e dados coletados por outros meios, como consultas
bibliográficas em base impressa, entrevistas etc.
A distribuição de conteúdo na internet obedece à lógica de disseminação
de informação em rede. Esta lógica tem características e dinâmicas inerentes
ao ciberespaço59: reciprocidade, descentralização, inexistência da dicotomia
emissores e receptores e a multiplicidade do rizoma, entre outras.
Autores consagrados, como Manuel Castells (1999) e Pierre Lévy (1999),
informam que há uma relação muito próxima entre os processos sociais e a
manipulação de símbolos (a cultura da sociedade) e a capacidade de produzir
e distribuir bens e serviços (as forças produtivas). Pela primeira vez na história
a mente humana é uma força direta de produção, não apenas um elemento
decisivo no sistema produtivo. Assim, computadores, sistemas de comunicação,
decodificação e programação genética são todos amplificadores e extensões da
mente humana (CASTELLS, 1999, p. 69).
O mesmo conceito é revisado por outros autores, como Benevenuto
e Recuero. Segundo o primeiro, “Desde seu início, a internet tem sido palco
de uma série de novas aplicações, incluindo a Web, aplicações par-a-par e
email.” (BENEVENUTO, 2010, p. virtual). Já para a pesquisadora Raquel
Recuero, o advento da internet possibilitou variadas mudanças para a sociedade
contemporânea. Uma mudança fundamental e a mais significativa para este
58. Disponível em http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/sinopse/default.asp>. Acesso em 14 nov.
de 2010.
59. O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão
mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital,
mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e
alimentam esse universo. (LÉVY, 1999, p. 17)

68
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

trabalho foi a “possibilidade de expressão e socialização através de ferramentas de


comunicação mediada por computador.” (RECUERO, 2009, p. 24).
Essas ferramentas proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-
se, interagir e comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores,
rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões e a
visualização de suas redes sociais através desses rastros. (RECUERO, Raquel.
2009, p. 24)
Assim, justifica-se do ambiente virtual – Internet, para a disseminação,
distribuição dos questionários e recolhimento dos dados. A seleção do ambiente
foi embasada em sua capacidade de expansão horizontal, de forma equitativa,
por sua natureza. Quatro métodos foram escolhidos para sua disseminação: a) A
criação de um ambiente matriz: blog60; b) A distribuição em sites de redes sociais
na Internet; c) A distribuição por grupos de email; e, d) A publicação em veículos
online especializados.

Matriz
A matriz da pesquisa foi o blog Tendências Profissionais, criado como ponto inicial
e de convergência das informações distribuídas e coletadas. A utilização dos blogs
com finalidade diferente da original é prevista por autores como Amaral, que
explica a ampla possibilidade de utilização dos blogs “Enquanto formato, o blog
pode ser e tem sido apropriado para as mais diversas possibilidades” (AMARAL ET
al, 2008, p. virtual). Embora em sua origem o uso dos blogs tenha sido associado
ora como função de filtro de links (BLOOD, 2000, p. virtual), ora como papel
de diários virtuais (LEMOS, 2002, p. virtual), o que se observa atualmente é
que “a versatilidade do formato faz com que ele seja suscetível as mais diversas
apropriações” (ZAGO, 2008, p. 2). Abaixo, a imagem do blog visualizada na tela
do computador:

60. “Blog é um formato típico de produção e disponibilização de conteúdos na web caracterizados pela apresen-
tação de informações em ordem cronológica inversa” (BLOOD, 2000, p. Virtual).

69
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 1: Blog www.tendenciasprofissionais.wordpress.com

A pesquisa iniciou-se no dia 21 de outubro de 2010, às 12h, a partir do


lançamento do blog “Tendências Profissionais”61. Neste ambiente foram postadas
informações sobre o conteúdo da pesquisa e link de acesso ao questionário,
contatos, apresentações, etc. Assim, as informações estiveram acessíveis, durante
20 dias, a todos os usuários da Internet a partir da catalogação dos conteúdos
postados. O questionário em sua íntegra encontra-se disponível no Anexo 1.
A catalogação de dados é a lógica utilizada para criação de arquivos
disponibilizados na internet, uma vez que todos os documentos postados na
Internet podem ser localizados por mecanismos de buscas tendo visibilidade aos
usuários, de forma indistinta. Durante a construção de um blog é usual a associação
de metadados como título, descrição e tags aos conteúdos compartilhados:
“Metadados são essenciais para recuperação de conteúdo” (BENEVENUTO,
2010, p. Virtual).
O blog “Tendências Profissionais” oferecia ao usuário informações de caráter
explicativo, com links de acessos ao projeto original da pesquisa, garantindo
visibilidade sobre os objetivos do projeto, credenciando sua institucionalidade.

Redes Sociais na Internet


Os questionários da pesquisa forma distribuídos através de sites de redes sociais.
61. Disponível em <www.tendenciasprofissionais.wordpress.com>. Acesso 13 nov. de 2010.

70
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Redes são metáforas estruturais, formas de analisar agrupamentos sociais também


a partir de seus nós e arestas. Essa composição permite o monitoramento
da circulação da informação. Neste sentido as redes sociais na Internet, hoje
ultrapassam os limites do computador e se estendem para as mídias móveis,
videojogos em rede e TVD e TVDi e outras plataformas digitais, possuem
também topologias, estruturas. (RECUERO). A metáfora de rede é importante,
justamente, por possibilitar a percepção de topologias mais ou menos eficientes
para a ação dos grupos sociais.
Augusto de Franco (2008), teórico da comunicação, e outros autores como
Paul Baran afirmam que as topologias são essenciais para que compreendamos
as redes sociais. Partindo de Baran, Franco aplica na internet as três possíveis
topologias básicas: topologia distribuída, centralizada e descentralizada. Essas
topologias são interessantes para o estudo de vários elementos das redes sociais,
tais como os processos de difusão de informações. No entanto, é possível que uma
mesma rede social apresente os três tipos de topologias descritas acima que não
se mesclam, uma vez que cada uma delas possui características próprias de seus
modelos fixos (RECUERO, Raquel. 2009, p. 57).

Figura 2: Diagramas das Redes de Paul Baran.

Fonte: FRANCO, A.

71
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

O uso de sites de redes sociais na Internet como método de distribuição


do questionário apoiou-se, justamente, na possibilidade de difusão de uma
informação e também no crescimento exponencial em numero de usuários,
informação comprovável por pesquisas nacionais e internacionais e também
assumidas por teóricos como Benevenuto.
Com o surgimento de redes sociais online, surgiu a oportunidade de estudos
nesse tema com o uso de grandes bases de dados. Sistemas como Facebook,
Twitter, Orkut, MySpace e YouTube possuem milhões de usuários registrados
e bilhões de elos que os conectam. Redes sociais permitem o registro em larga
escala de diversos aspectos da sociologia e da natureza humana relacionados à
comunicação e ao comportamento humano. Além disso, as redes sociais online
estão funcionando como um novo meio de comunicação e modificando aspectos
de nossas vidas. (BENEVENUTO, 2010, Virtual)
No Brasil, quatro principais sites de redes sociais na Internet têm se destacado
pela quantidade de perfis criados, pela quantidade de conteúdo compartilhado
pelas características especificas de seus usuários. Foram escolhidos para a
distribuição da pesquisa os seguintes sites de redes sociais: Twitter; Facebook;
Orkut; Linkedin62.
Para evitar a segmentação tendenciosa na mostra de dados coletada em sites
de redes sociais optou-se por permitir que a disseminação seguisse a natureza da
própria rede social: os próprios usuários distribuíram as informações a partir de
suas conexões e contatos.
Não existe uma forma sistemática de realizar este tipo de coleta. Para casos
assim é necessário coletar apenas uma parte do grafo63. Há um tipo de abordagem
comumente utilizada para coletas por amostragem que utilizam sites de redes
sociais como fonte de coleta conhecido como Snowball:
Snowball consiste em coletar o grafo de uma rede social online seguindo
uma abordagem de busca em largura. A coleta inicia-se a partir de nodo semente.
Ao coletar a lista de vizinhos desse nodo, novos nodos são descobertos e então
coletados no segundo passo, que só termina quando todos os nodos descobertos
no primeiro passo são coletados. No passo seguinte todos os nodos descobertos
no passo anterior são coletados, e assim sucessivamente. (BENEVENUTO,
2010, Virtual)
Os perfis digitais dos membros do grupo de pesquisa MID – Mídias
Interativas Digitais e alunos dos cursos de graduação e pós-graduação da

62. Os sites de rede social Orkut, Facebook, Twitter e Linkedin estão entre os 100 sites mais visitados de acordo
com a Compania de Informações da Web: Alexa. Disponível em: <www.alexa.com>
63. Grafo é a representação de uma rede, constituída de nós e arestas que conectam esses nós. Definição de
Raquel Recuero.

72
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Universidade Federal de Mato Grosso foi o ponto de partida para a distribuição


do questionário em sites de redes sociais na Internet. Aqui se justifica a quantidade
de respostas provindas do Estado de Mato Grosso, que aparecem na primeira
centena de questionários respondidos e coincidem com o ponto de partida da
distribuição desta pesquisa em sites de redes sociais na Internet. Na continuação
do recolhimento dos dados observou-se uma distribuição mais equivalente
das respostas que foram obtidas em todos os estados brasileiros. Tal tendência
provavelmente continuará a ser observada com a manutenção da arrecadação,
tabulação e análise das respostas. Espera-se, posteriormente, a escritura atualizada
do relatório técnico desta pesquisa, com analises aprofundadas, a partir da
captação de cerca de 500 respostas e tabulação dos dados, o que fornecerá uma
amostragem com menor índice de erro.
Para distribuição de links nas redes sociais foi utilizado o sistema de
monitoramento de URL Migre.me64. Duas URL’s específicas foram criadas para
distribuição do material, exclusivamente nos sites de redes sociais na Internet:
a primeira direcionava o usuário para o blog “Tendências Profissionais” e outra
diretamente para o questionário, onde o usuário teria, também, acesso às
especificidades da pesquisa. De acordo com o serviço Migre.me, o primeiro link foi
clicado por 388 pessoas e o segundo por 805 usuários diferentes, somando 1.193
acessos diretos ao questionário, entre os dias 21 de outubro e 9 de novembro de
2010.
Grupos de email
Outro instrumento de contato com os usuários foi o uso de uma mala direta65 com
texto explicativo e link com direcionamento para o blog “Tendências Profissionais”,
matriz da pesquisa. Essa mala direta foi enviada nos primeiros dias da pesquisa
entre 25 de outubro e 04 de novembro de 2010 utilizando-se a lógica de interação
par-a-par, que é da natureza do encaminhamento de email, e garante a fluidez da
disseminação de informações e aleatoriedade.
Foram enviados emails66 a mais de 1000 endereços de empresas de
comunicação impressa, sonora, audiovisual, cinemas, empresas de plataformas
digitais como sites, associações de classe e sindicatos. A lista de endereçamento

64. O migre.me é um encurtador/compactador de URL integrado ao Twitter. Na página principal você pode
acompanhar os links mais clicados, os mais retuitados, ver as fotos mais visualizadas, os podcasts mais ouvidos,
ver o bookmark dos usuários ou até mesmo enviar o link via QR-Code para um celular. O migre.me também
pode ser usado como contador de acesso, enquete por email usando links, criar suas próprias funções usando a
API, etc. Fonte: http://migre.me/sobre/. Acesso 10 nov. de 2010
65. Malas diretas via email são um dos meios mais efetivos de divulgar um site, aplicativo ou serviço online.
Além de gerarem acessos e veicularem mensagens para públicos especializados, não são invasivas, podem ser
acessadas de diversos dispositivos e ter efeito multiplicador (viral). A definição pode ser encontrada em MAIL-
ER MAILER. Email Marketing Metrics Report 2008. Disponível em http://cdn.mailermailer.com/documents/
email-marketing-metrics-2008h2.pdf Acesso 14 nov. de 2010.
66. A lista de emails enviados não será divulgada por questões de confidencialidade.

73
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

dos emails enviados foi composta por grupos que representam nacionalmente
os profissionais da área da Comunicação, tanto no quesito formação; categorias
profissionais representadas por associações e sindicatos que representam
formalmente as categorias e grandes empresas de todos os segmentos. A coleta de
emails para a distribuição da matriz da pesquisa buscou atingir universalmente
os segmentos brasileiros que disponibilizaram os canais de retorno. A amostra
foi, portanto, composta aleatoriamente dentro do universo que engloba os
profissionais da área de Comunicação.

Tabela 2: Distribuição de envio de emails para divulgação do blog Tendências Profissionais

Distribuição de envio de emails Quant.


Agências de publicidade e empresas de relações públicas 311
Blogueiros e pesquisadores 232
Produtoras de Cinema e Vídeo 176
Rádios 118
Revistas 76
Sindicatos/Associações 52
Sites de empresas jornalísticas 108
Total 1073

Publicação em veículos especializados


Outro meio importante para divulgação online da pesquisa de modo não
tendencioso é a publicação de sua existência em um veículo especializado.
Optou-se por disseminar a informação no portal oficial da Intercom - Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação; a maior organização de
pesquisadores da área, com cerca de 10.000 membros cadastrados. O chamamento
dos associados para responder o questionário da pesquisa online foi publicado no
Portal Intercom67 no dia 26 de outubro de 2010.

Amostragem Probabilística
A pesquisa usou o levantamento por amostragem, recurso que permite a obtenção
de informações a respeito de valores populacionais desconhecidos, por meio da
observação de apenas uma parte do seu universo de estudo (população). Na
amostragem probabilística todos os indivíduos da população possuem a mesma
chance de pertencer à amostra.

67. Disponível em <www.portalintercom.org.br>

74
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Determinação do tamanho da amostra


A pesquisa realizada68 pode ser considerada inédita, uma vez que não há
informações de pesquisas do mesmo gênero realizadas anteriormente. A taxa de
confiabilidade desta pesquisa é de 94,5%.
O tamanho mínimo para a amostra é de, aproximadamente, 341 respostas,
para que haja estimativas consistentes e representativas da população em estudo.
Na pesquisa, foram coletados 348 questionários respondidos, com três perdas
devidas a respostas inconsistentes. Foram analisados 345 questionários. O
embasamento teórico garante que esse número é capaz de representar a população
definida com alto grau de confiabilidade. Informações detalhadas sobre esses
cálculos estatísticos constam no Anexo 2 deste trabalho.

Análise e Apresentação dos dados


Os dados coletados nesta investigação são apresentados durante todo o corpo
do trabalho no sentido de facilitar comparações entre as fontes já existentes e as
informações inéditas recolhidas. Foram utilizadas características de interesse de
tipo qualitativo, como sexo, curso, formação, etc; e quantitativo, como idade,
salário, horas trabalhadas, entre outras.
O método de analise dos dados é a Estatística. Os resultados serão
apresentados em forma de tabelas e gráficos para melhor visualização e para
facilitar a discussão teórica a ser apresentada no capitulo Questões Sensíveis.
Explicações completas sobre a metodologia utilizada para análise e apresentação
dos dados estão disponibilizadas no Anexo 3.

Resultados do questionário online: dados gerais


As respostas do questionário online foram coletadas no período de 21 de outubro
a 09 de novembro de 2010. O número total de questionários respondidos online
foi de 348. Destes, três foram descartados por conter respostas incoerentes. O
questionário estava composto por 26 questões relacionadas ao tema da pesquisa.
As questões iniciais destinavam-se a observar as características de identificação
das pessoas que atuam no mercado de trabalho da Comunicação: sexo, raça/cor,
idade, residência e nome da profissão.

68. Primeiramente o pesquisador deverá decidir o valor máximo aceitável para o erro de amostragem, assim ele
estará fixando a precisão do processo de amostragem antes de selecionar a amostra e obter os resultados.

75
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Indicativos do questionário on-line: Sexo

Tabela 3: Índice do sexo

Índice
Sexo Quant.
(%)

Masculino 165 47,8

Feminino 180 52,2

Total 345 100

Nas respostas do questionário enviado obtivemos o índice de 52,2% de


participantes do sexo feminino e 47,8% do sexo masculino. O gráfico de barras
abaixo é a representação da tabela do índice do sexo.

Figura 3: Gráfico do índice do sexo

Masculino Feminino

47,8%
52,2%

76
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Indicativos do questionário on-line: Raça/Cor

Tabela 4: Índice de raça/cor

Raça/Cor Quant. Índice (%)


Indígena 2 0,6
Amarelo 3 0,9
Preto 15 4,4
Pardo 73 21,1
Branco 252 73
Total 345 100

Quando perguntados sobre como se autodenominam, em relação a raça/cor,


quase 73% dos profissionais que responderam o questionário afirmaram serem
brancos, 21,2% se autodenomina pardo, 4,4% preto, e menos de 2% do total se
autodenominou amarelo (0,9%) ou indígena (0,6%).

Figura 4: Gráfico do índice de raça/cor

Branco 73%

Pardo 21,1%

Preto 4,4%

Amarelo 0,9%

Indígena 0,6%

77
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Indicativos do questionário on-line: Idade

Tabela 5: Índice de idade

Idade Quant. Índice (%)


Menos de 17 1 0,3
18 a 24 105 30,4
25 a 32 104 30,1
33 a 39 46 13,3
40 a 46 36 10,4
47 a 53 34 9,9
54 a 61 16 4,7
Acima de 61 3 0,9
Total 345 100

Quando perguntado a idade, as menores porcentagens foram observadas


em pessoas com menos de 17 anos (0,3%), e acima de 61 anos (0,9%). A maior
porcentagem é de jovens entre 18 e 24 anos (30,4%) e entre 25 a 32 anos (30,1%).
Enquanto que 4,7% responderam ter entre 54 a 61 anos, 9,9% terem de 47 a 53
anos e 13,3% são os que têm de 33 a 39 anos.

Figura 5: Gráfico do índice de idade

30,4% 30,1%

13,3%
10,4% 9,9%

4,7%

0,3% 0,9%

Menos de 18 a 24 25 a 32 33 a 39 40 a 46 47 a 53 54 a 61 Acima de
17 61

78
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Indicativos do questionário on-line: Residência

Tabela 6: Índice do Estado

Índice
Estado Quant. (%)
Rio Grande do Norte 1 0,3
Alagoas 1 0,3
Amazonas 1 0,3
Tocantins 1 0,3
Piauí 2 0,6
Roraima 2 0,6
Espírito Santo 3 0,9
Pará 3 0,9
Ceará 6 1,7
Bahia 7 2,0
Rondônia 8 2,3
Santa Catarina 11 3,2
Paraná 12 3,5
Distrito Federal 13 3,8
Goiás 13 3,8
Pernambuco 17 4,9
Rio de Janeiro 22 6,4
Mato Grosso do Sul 23 6,7
Rio Grande do Sul 25 7,3
Minas Gerais 27 7,8
Mato Grosso 60 17,3
São Paulo 87 25,1
Total 345 100

Nas respostas sobre o lugar onde as pessoas residem, 25,1% reside no estado
de São Paulo, e o restando do país corresponde a 74,9%.

79
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 6: Gráfico do índice do Estado

São Paulo 25,1%


Mato Grosso 17,3%
Minas Gerais 7,8%
Rio Grande do Sul 7,3%
Mato Grosso do Sul 6,7%
Rio de Janeiro 6,4%
Pernambuco 4,9%
Goiás 3,8%
Distrito Federal 3,8%
Paraná 3,5%
Santa Catarina 3,2%
Rondônia 2,3%
Bahia 2%
Ceará 1,7%
Pará 0,9%
Espírito Santo 0,9%
Roraima 0,6%
Piauí 0,6%
Tocantins 0,3%
Amazonas 0,3%
Alagoas 0,3%
Rio Grande do Norte 0,3%

80
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Indicativos do questionário on-line: Nome da profissão


Tabela 7: Índice de profissão

Ocupação Quant. Índice (%)


Produtor cultural 2 0,6
Fotógrafo 3 0,9
Editor 4 1,2
Desenvolvedor Web 5 1,4
Designer gráfico 5 1,4
Social Media 5 1,4
Game designer 5 1,4
Produtor audiovisual 7 2,0
Ilustrador / Animador 8 2,3
Radialista 10 2,9
Assessor de Comunicação 15 4,3
Cineasta 16 4,6
Outros 18 5,2
Comunicador 20 5,8
Publicitário 39 11,3
Professor 59 17,2
Jornalista 124 36,1
Total 345 100

Essa foi uma questão aberta, na qual as pessoas tiveram liberdade para
descrever qual era a sua posição profissional, e não necessariamente a descrição
formal das profissões que são regulamentadas. Diante disso a profissão que obteve
a maior porcentagem foi a de Jornalista com 36,1%, seguido de Professor 17,2%
e Publicitário com 11,3%.. Devido a grande variabilidade de respostas dadas pelos
sujeitos às suas profissões, houve necessidade de um agrupamento das respostas
levando em consideração o critério de semelhança entre as respostas obtidas na
pergunta sobre atividades realizadas. A categoria Outros traz as respostas que não
puderam ser agrupadas em outras categorias profissionais69 .

69. As respostas recebidas e catalogadas como Outros, citam as seguintes profissões: Adm. Empresas, Adminis-
tração, Administração e Marketing, Ciências Agrárias, Arquitetura, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Sociais,
Comunicação Social, Design, Artes Visuais e afins, Design, Artes Visuais e afins, Tecnologia da Informação,
Tecnologia digital, Tecnologia de , Desenvolvimento de Software e afins, Direito, Enfermagem, Engenharia,
Serviço Social, Geografia, Gestão de Marketing, História, Licenciatura e Educação, Produção Cultural, Pro-
fessor/Pesquisador, Professor, Sound Designer, Tecnologia da Informação, Tecnologia Digital, Tecnologia de
Desenvolvimento de Software e afins.
81
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 7: Gráfico do índice de profissão

Jornalista 36,1%
Professor 17,2%
Publicitário 11,3%
Comunicador 5,8%
Outros 5,2%
Cineasta 4,6%
Assessor de Comunicação 4,3%
Radialista 2,9%
Ilustrador / Animador 2,3%
Produtor audiovisual 2%
Game designer 1,4%
Social Media 1,4%
Designer gráfico 1,4%
Desenvolvedor Web 1,4%
Editor 1,2%
Fotógrafo 0,9%
Produtor cultural 0,6%

Formação dos profissionais que atuam no mercado de trabalho da


Comunicação
Definir o campo de atuação profissional para a Comunicação não é
tarefa fácil. Igualmente difícil é responder qual a formação adequada para esses
profissionais. Trata-se, portanto, de objeto de estudo complexo. Em meio a
essas indagações há uma questão essencial: conhecer os atores sociais do grande
grupo de atividades da Comunicação, que é formado por diversos profissionais, e
compreender a forma pela qual eles se capacitam para atuar no mercado.
A Ciência da Comunicação é dotada de um objeto multifacetado,
caracterizado pela própria história da formação da área com suas interfaces,
envolvendo a lingüística, as tecnologias, e os estudos da sociedade. Partindo dessa
premissa, com uma simples analogia, o profissional da Comunicação é também
um ser multifacetado, dotado de muitas características essenciais para sua atuação.
Assim sendo, a principal característica desse profissional deve ser sua capacidade
de desenvolver diversas atividades, de ser maleável. Essa maleabilidade cresce com
a chegada das tecnologias da informação e da comunicação (TICs), que exigem
dos profissionais da Comunicação novas habilidades.

82
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

A Comunicação é uma grande área profissional de natureza dinâmica,


que adapta-se e reformula-se para acompanhar comportamentos sociais,
culturais e econômicos. É, formada por diversas subáreas, ou Habilitações,
que são desenvolvidas por profissionais de variadas competências e de diversos
matizes. Cada um desses segmentos dialoga com outras áreas profissionais e de
conhecimento afins. Dentro das Ciências da Comunicação existem inúmeras
tarefas, cargos, profissões e ocupações bem específicas, constituindo-se este
trabalho uma oportunidade para essa discussão. Um dos interesses dessa pesquisa
é caracterizar os profissionais de Comunicação no Brasil.
De um lado, tem-se o curso de graduação específico em Comunicação
Social, cujo egresso, comunicador social diplomado, detém ampla formação para
ocupar as funções definidas por sua habilitação ou por outras habilitações na
Comunicação. Por outro lado, devido a característica interdisciplinar da área e
a não obrigatoriedade do diploma para exercer algumas profissões, como por
exemplo, designer, programador, operador de câmera, tem-se os outros cursos
superiores e técnicos que formam profissionais dotados de competência técnica e
crítica para trabalhar no mercado de comunicação.
As questões deste item da pesquisa envolvem exatamente os perfis de quem
trabalha no campo da Comunicação. Inicialmente, são apresentadas a formação e
entrada no mercado de trabalho da Comunicação, olhando os cursos de graduação
em Comunicação Social propostos pelo Ministério da Educação (MEC), desde
os perfis profissionais até as habilidades esperadas para os egressos de cada curso.
Além disso, durante a investigação foi realizada uma coleta de informações no
Censo da Educação Superior com dados de 1999 a 2008 sobre número de cursos,
de matrículas e de concluintes tanto das Habilitações da Comunicação Social
e áreas afins. Ao final deste item, relatam-se os resultados da pesquisa online
relativos à formação dos profissionais.

Descrição das Habilitações de Comunicação Social


O Ministério da Educação publicou em 2001 as diretrizes curriculares para os
cursos de Comunicação Social e todas as suas habilitações. Tal instrumento legal
tem parametrizado todos os cursos de Comunicação do país, sendo ele usado
para definir os planos curriculares de todas as universidades. Esse documento
privilegia uma área comum: a Comunicação Social, que é composta por diversas
Habilitações: Produção Editorial, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV,
Jornalismo, Relações Públicas e Audiovisual e Cinema. Desse modo, os egressos
saem da universidade habilitados para uma dessas áreas, mas com a graduação em
Comunicação Social.
Essas diretrizes curriculares abarcam questões que vem sendo discutidas

83
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

desde 1970 quando os cursos de Cinema e Audiovisual foram integrados aos


cursos de Comunicação Social e de Artes. Esse modelo de diretriz curricular, no
qual Cinema e Audiovisual eram habilitações de Comunicação Social vigorou até
2006. Por tratar-se de uma área comum (Comunicação Social) as habilitações
vinculadas a este bacharelado tem currículo mínimo, matérias obrigatórias e
comuns a todas as habilitações. Por conta dessa exigência, a comissão do Conselho
Nacional de Educação (CNE) formada para elaborar propostas de novas diretrizes
para esse curso decidiu que Audiovisual e Cinema deveriam ser, obrigatoriamente,
desmembradas dos cursos de Comunicação Social. (MEC, 2006).
A justificativa apontada pela comissão gira em torno do modelo de currículo
mínimo exigido nos cursos de comunicação social. Portanto os cursos de Cinema
e Audiovisual precisariam de uma estrutura curricular diferenciada dada a
especificidade desse campo multidisciplinar, para que seus alunos tenham desde o
início uma grade curricular específica com as técnicas e conhecimentos dessa área,
que mesmo tendo amplo diálogo com a comunicação social, é dotada de história,
teorias, e técnicas próprias.
Esse desmembramento não é necessariamente sinônimo de desvinculação,
já que a comissão decidiu deixar a critério das universidades a manutenção ou
não do tronco comum, para assim aproveitarem matérias da Comunicação
que sejam de interesse do curso de Cinema e Audiovisual. Assim pode haver
cursos autônomos e cursos vinculados aos de Comunicação Social, sem haver
obrigatoriedade de um currículo mínimo por parte da Comunicação.
Em 2009 o MEC publicou um preâmbulo - um documento que antecede
uma lei ou decreto - que traz uma nova proposta para as diretrizes curriculares do
curso de Jornalismo, valendo-se do fato de ser o Jornalismo um curso reconhecido
mundialmente, e a Comunicação social é considerada área de conhecimento. As
diretrizes deveriam ser formuladas para os cursos, e não para uma área, segundo
o documento do MEC.
As informações abaixo correspondem aos perfis e habilidades propostos pelo
MEC em 2001. Note-se que o documento conta com os perfis específicos para
cada habilitação, e os gerais, para os egressos em Comunicação Social. (MEC,
2001) . Serão apresentados cada um desses perfis e habilidades que definem as
grades curriculares usadas pelas universidades. A ordem de apresentação é de perfis
e habilidades comuns para todas as ênfases, e na sequência, para as habilitações:
Jornalismo, Relações Públicas, Radialismo, Publicidade e Propaganda, Editoração
e Cinema e Audiovisual.
Perfil e Habilidades Comuns a todas as Habilitações e ênfases
O curso de Comunicação Social é uma área comum, de modo que existe um
perfil similar e algumas competências esperadas de todos egressos nesse curso,

84
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

independente de qualquer que seja sua habilitação. As principais características


do perfil desses profissionais estão em torno da capacidade de criação, produção,
distribuição, recepção e análise crítica referentes às mídias, às práticas profissionais
e sociais relacionadas com estas e as suas inserções culturais, políticas e econômicas.
Espera-se que todos tenham habilidade em refletir a variedade e mutabilidade
de demandas sociais e profissionais na área, adequando-se à complexidade
e velocidade do mundo contemporâneo. Os egressos devem ter uma visão
integradora e horizontalizada, genérica e ao mesmo tempo especializada de seu
campo de trabalho possibilitando o entendimento da dinâmica das diversas
modalidades comunicacionais e das suas relações com os processos sociais que as
originam e que destas decorrem.
Os profissionais devem utilizar criticamente o instrumental teórico-prático
oferecido em seu curso, tornado-se, portanto competentes para posicionar-se de
um ponto de vista ético-político sobre o exercício do poder na Comunicação,
sobre os constrangimentos a que a Comunicação pode ser submetida, sobre
as repercussões sociais que enseja e ainda sobre as necessidades da sociedade
contemporânea em relação à Comunicação Social. (MEC, 2001)
Além de haver um perfil comum para os egressos, esse campo profissional
também conta com várias habilidades comuns aos profissionais oriundos de
diferentes Habilitações. O Ministério da Educação aponta a capacidade de
assimilar criticamente conceitos que permitam a apreensão de teorias a fim
de usar tais conceitos em análises críticas da realidade, posicionar-se de modo
ético-político e dominar as linguagens habitualmente usadas nos processos de
comunicação, nas dimensões de criação, de produção, de interpretação e da
técnica e sempre buscar experimentar e inovar no uso destas linguagens. Os
egressos também devem ter a habilidade de refletir criticamente sobre as práticas
profissionais no campo da Comunicação e ter competência no uso da língua
nacional para escrita e interpretação de textos gerais e especializados na área.
Perfil e Habilidades para os egressos dos cursos de Jornalismo
A partir do perfil profissional dos jornalistas descrito pelo MEC, espera-
se que todo jornalista diplomado tenha aptidão em produção de informações
relacionadas a fatos, circunstâncias e contextos do momento presente; faça o
exercício da objetividade na apuração dos acontecimentos, interpretação, registro
e divulgação dos fatos sociais e tradução e disseminação de informações de modo
a qualificar o senso comum.
As competências e habilidades esperadas dos egressos no curso de Jornalismo
estão relacionadas abaixo, nos tópicos propostos pelo MEC:
• Registrar fatos jornalísticos, apurando, interpretando, editando e
transformando-os em notícias e reportagens.

85
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

• Interpretar, explicar e contextualizar informações.


• Investigar informações, produzir textos e mensagens jornalísticas com
clareza e correção e editá-los em espaço e período de tempo limitados.
• Formular pautas e planejar coberturas jornalísticas.
• Formular questões e conduzir entrevistas.
• Relacionar-se com fontes de informação de qualquer natureza.
• Trabalhar em equipe com profissionais da área.
• Compreender e saber sistematizar e organizar os processos de produção
jornalística.
• Desenvolver, planejar, propor, executar e avaliar projetos na área de
comunicação jornalística.
• Avaliar criticamente produtos, práticas e empreendimentos jornalísticos.
• Compreender os processos envolvidos na recepção de mensagens
jornalísticas e seus impactos sobre os diversos setores da sociedade.
• Buscar a verdade jornalística, com postura ética e compromisso com a
cidadania.
• Dominar a língua nacional e as estruturas narrativas e expositivas
aplicáveis às mensagens jornalísticas, abrangendo-se leitura, compreensão,
interpretação e redação.
• Dominar a linguagem jornalística apropriada aos diferentes meios e
modalidades tecnológicas de comunicação.

Perfil e Habilidades para os egressos em Relações Públicas


Os egressos do curso de Relações Públicas, segundo o MEC, são os profissionais
que têm caráter de gestor da comunicação dentro das empresas, sendo que o perfil
privilegia a administração do relacionamento das organizações com seus diversos
públicos, tanto externos como internos. O curso pretende formar profissionais
com capacidade de elaboração de diagnósticos, prognósticos, estratégias e
políticas voltadas para o aperfeiçoamento das relações entre instituições, grupos
humanos organizados, setores de atividades públicas ou privadas, e a sociedade
em geral. Prevê ainda o exercício de interlocução entre as funções típicas de
Relações Públicas e as demais funções profissionais ou empresariais existentes na
área da Comunicação.
As principais habilidades esperadas destes profissionais, segundo o MEC são

86
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

as seguintes:
• Desenvolver pesquisas e auditorias de opinião e imagem.
• Realizar diagnósticos com base em pesquisas e auditorias de opinião e
imagem.
• Elaborar planejamentos estratégicos de comunicação institucional.
• Estabelecer programas de comunicação estratégica para criação e
manutenção do relacionamento das instituições com seus públicos de interesse.
• Coordenar o desenvolvimento de materiais de comunicação, em
diferentes meios e suportes, voltados para a realização dos objetivos estratégicos
do exercício da função de Relações Públicas.
• Dominar as linguagens verbais e audiovisuais para seu uso efetivo a
serviço dos programas de comunicação que desenvolve.
• Identificar a responsabilidade social da profissão, mantendo os
compromissos éticos estabelecidos.
• Assimilar criticamente conceitos que permitam a compreensão das
práticas e teorias referentes às estratégias e processos de Relações Públicas.

Perfil e Habilidades para os egressos em Radialismo


Os radialistas trabalham com linguagens audiovisuais. Assim, de acordo com
o MEC, em do seu perfil deve contemplar grande capacidade de percepção,
interpretação, recriação e registro da realidade social, cultural e da natural através de
som e imagem. Devem fazer formulações audiovisuais habituais, documentárias,
de narração, musicais, descritivas, expositivas, ou quaisquer outras adequadas aos
suportes com que trabalha. Além do O profissional precisa de domínio técnico,
estético e de procedimentos expressivos pertinentes a essa elaboração audiovisual.
Também devem ter presença nas atividades em emissoras de rádio ou televisão ou
quaisquer instituições de criação, produção, desenvolvimento e interpretação de
materiais audiovisuais. O exercício de interlocução também está entre as funções
típicas de Radialismo e das demais funções profissionais ou empresariais da área
da comunicação. O Radialismo é uma das áreas mais versáteis da Comunicação,
podendo dialogar com qualquer outra habilitação que utilize imagem em
movimento e linguagens sonoras.
As habilidades esperadas para os egressos em Radialismo, segundo o MEC,
são as seguintes.
• Gerar produtos audiovisuais em suas especialidades criativas, como
escrever originais ou roteiros para realização de projetos audiovisuais; adaptar

87
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

originais de terceiros; responder pela direção, realização e transmissão de


programas audiovisuais; editar e finalizar programas analógicos ou digitais.
• Saber como planejar, orçar e produzir programas para serem gravados ou
transmitidos.
• Administrar, planejar e orçar estruturas de emissoras ou produtoras.
• Dominar as linguagens e gêneros relacionados às criações audiovisuais.
• Conceber projetos de criação e produção audiovisual em formatos
adequados a sua veiculação nos meios massivos, como rádio e televisão, em
formatos de divulgação presencial, como vídeo e gravações sonoras, e em formatos
típicos de inserção em sistemas eletrônicos em rede, como CDROMs e outros
produtos digitais.
• Compreender as incidências culturais, éticas, educacionais e emocionais
da produção audiovisual midiatizada em uma sociedade de comunicação.
• Assimilar criticamente conceitos que permitam a compreensão das
práticas e teorias referentes à área Audiovisual.

Perfil e Habilidades para os egressos em Publicidade e Propaganda


Os profissionais de Publicidade e Propaganda que devem ingressar ao mercado
de trabalho, segundo o MEC, com um perfil que privilegie domínio de técnicas e
instrumentos necessários para a proposição e execução de soluções de comunicação
eficazes para os objetivos de mercado, de negócios de anunciantes e institucionais.
Assim como a tradução em metas e procedimentos de comunicação apropriados
os objetivos institucionais, empresariais e mercadológicos. Esses profissionais
devem ter grande domínio no planejamento, criação, produção, difusão e gestão
da comunicação publicitária, de ações promocionais e de incentivo, eventos e
patrocínio, atividades de marketing, venda pessoal, design de embalagens e de
identidade corporativa, e de assessoria publicitária de informação.
As habilidades dos egressos em Publicidade e Propaganda privilegiam os
seguintes conhecimentos, perícias e talentos:
• Ordenar as informações conhecidas e fazer diagnóstico da situação dos
clientes.
• Realizar pesquisas de consumo, de motivação, de concorrência, de
argumentos etc.
• Definir objetivos e estratégias de comunicação como soluções para
problemas de mercado e institucionais dos anunciantes.

88
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

• Conceber meios de avaliar e corrigir resultados de programas


estabelecidos.
• Executar e orientar o trabalho de criação e produção de campanhas de
propaganda em veículos impressos, eletrônicos e digitais.
• Realizar e interpretar pesquisas de criação como subsídio para a
preparação de campanhas publicitárias.
• Dominar linguagens e competências estéticas e técnicas para criar,
orientar e julgar materiais de comunicação pertinentes a suas atividades.
• Planejar, executar e administrar campanhas de comunicação com o
mercado, envolvendo o uso da propaganda e de outras formas de comunicação,
como a promoção de vendas, o merchandising e o marketing direto.
• Identificar e analisar as rápidas mudanças econômicas e sociais em escala
global e nacional que influem no ambiente empresarial.
• Identificar a responsabilidade social da profissão, mantendo os
compromissos éticos estabelecidos.
• Assimilar criticamente conceitos que permitam a compreensão das
práticas e teorias referentes à publicidade e à propaganda.

Perfil e Habilidades para os egressos em Editoração


O curso de Editoração forma profissionais para atuar no mercado editorial, das
revistas aos livros. Esse profissional tem um perfil, segundo o MEC, que prioriza a
gestão e produção de processos editoriais, de multiplicação, reprodução e difusão,
que envolvam obras literárias, científicas, instrumentais e culturais. Além do amplo
desenvolvimento de atividades relacionadas à produção de livros e impressos em
geral, livros eletrônicos, CDROMs e outros produtos multimídia, vídeos, discos,
páginas de Internet, e quaisquer outros suportes impressos, sonoros, audiovisuais
e digitais. Esses egressos devem ter domínio dos processos editoriais, tais como
planejamento de produto, seleção e edição de textos, imagens e sons, redação e
preparação de originais, produção gráfica e diagramação de impressos, roteirização
de produtos em diferentes suportes, gravações, montagens, bem como divulgação
e comercialização de produtos editoriais.
As competências e habilidades esperadas dos egressos no curso de Editoração
estão relacionadas abaixo, nos tópicos propostos pelo MEC:
• Dominar processos de edição de texto tais como: resumos, apresentações,
textos de capa de livros, textos de revistas, textos que acompanham edições
sonoras, audiovisuais e de multimídia, textos para publicações digitais, tratamento

89
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

de textos didáticos e paradidáticos, textos de compilação, de crítica e de criação.


• Dominar a língua nacional e as estruturas de linguagem aplicáveis a obras
literárias, científicas, instrumentais, culturais e de divulgação em suas diferentes
formas: leitura, redação, interpretação, avaliação e crítica.
• Atentar para os diferentes níveis de proficiência dos públicos a que se
destinam as produções editoriais.
• Ter competências de linguagem visual, como o conhecimento de
produção de imagens pré-fotográficas, fotográficas e pós- fotográficas e os
principais processos de design gráfico, desde tipologias até edição digital.
• Ter competências de linguagem de multimídia, como o conhecimento
de processos de produção de registros sonoros, videográficos e digitais, tais como
CDs, vídeos, edição de páginas e outras publicações em Internet.
• Desenvolver ações de planejamento, organização e sistematização dos
processos editoriais, tais como o acompanhamento gráfico de produtos editoriais,
seleção de originais, projetos de obras e publicações, planejamento e organização
de séries e de coleções, planejamento de distribuição, veiculação e tratamento
publicitário de produtos editorial.
• Ter conhecimentos sobre a história do livro, a história da arte e da
cultura.
• Fazer avaliações críticas das produções editoriais e do mercado da cultura.
• Agir no sentido de democratização da leitura e do acesso às informações
e aos bens culturais.
• Assimilar criticamente conceitos que permitam a compreensão das
práticas e teorias referentes aos processos de Editoração.

Perfil e Habilidades dos egressos de Cinema e Audiovisual


As mudanças de diretrizes em Audiovisual e Cinema não desvincularam o
Cinema/Audiovisual da área profissional da Comunicação Social, prova disso
é a continuidade das Habilitações em Audiovisual vinculadas aos cursos de
Comunicação. É possível apontar os cineastas como profissionais da Comunicação,
ou, ao menos possíveis profissionais da comunicação.
Para tal, basta analisar comparativamente as competências e habilidades dos
egressos em Radialismo e os de Cinema e Audiovisual para notar que, apesar das
muitas particularidades de cada um desses cursos, existem grandes similaridades
no perfil do profissional formado, o que não impede, portanto, de concorrer para
os mesmos cargos no mercado de trabalho.

90
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Uma das principais características do perfil dos profissionais de Cinema


e Audiovisual diplomados, é assimilar criticamente conceitos que permitam
a apreensão e a formulação de teorias, conseguindo empregar tais conceitos
em análises críticas da realidade, posicionando-se segundo pontos de vista
ético-político. Devem deter um conjunto significativo de conhecimentos e de
informações na área, importantes para a realização de produtos audiovisuais, e
é necessário que o egresso tenha domínio em linguagens audiovisuais a fim de
experimentar e inovar no seu uso. Os profissionais devem conhecer minuciosamente
os processos de produção, gestão e interpretação audiovisuais, em sua perspectiva
de atualização tecnológica e refletir criticamente sobre sua prática profissional.
Outras características são a capacidade em resolver problemas profissionais de sua
área de atuação, formulando alternativas factuais e conceituais diante de questões
concretas surgidas na área e saber trabalhar em equipe, desenvolvendo relações
que facilitem a realização coletiva de um produto.
Segundo o MEC, as habilidades dos egressos em Cinema e Audiovisual
privilegiam os seguintes conhecimentos, perícias e talentos quanto a sua formação:
• Técnica e formação profissional – voltada para a formação prática,
habilita o aluno a atuar profissionalmente nas áreas de Direção, Fotografia,
Roteiro, Produção, Som, Edição\Montagem, Cenografia e Figurino, Animação e
Infografia.
• Realização em Cinema e Audiovisual – voltada para o desenvolvimento
de projetos de produção de obras de diferentes gêneros e formatos, destinados à
veiculação nas mídias contemporâneas.
• Teoria, análise e crítica do Cinema e do Audiovisual – voltada para a pesquisa
acadêmica nos campos da história, da estética, da crítica e da preservação.
• Economia e política do Cinema e do Audiovisual – voltada para a gestão
e a produção, a distribuição e a exibição, as políticas públicas para o setor, a
legislação, a organização de mostras, cineclubes e acervos, e as questões oriundas
do campo ético e político.

Considerações sobre as diretrizes do MEC


As diretrizes curriculares oficiais para os cursos de Comunicação Social e todas as
suas ênfases, publicadas em 2001 pelo MEC, estipula uma série de competências
para cada uma das Habilitações do curso de Comunicação de forma que os
egressos do curso possuam perfis profissionais diferenciados para atuação nas
várias vertentes do mercado de trabalho da Comunicação. Entretanto, observa-
se, a partir dos resultados encontrados pela pesquisa online realizada com
345 profissionais que atuam no mercado de trabalho da comunicação que as

91
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

habilidades ensinadas nem sempre são as exigidas para a realização das atividades
profissionais. A lacuna entre o que é aprendido nos cursos de Comunicação
Social e o que é solicitado pelo mercado de trabalho pode vir a ser preenchida por
profissionais formados em outras áreas do conhecimento, em cursos superiores
de bacharelado ou tecnológico, em cursos técnicos ou mesmo sem formação
específica – compondo um grupo de profissionais autodidatas.

Cursos em nível superior para profissionais do mercado de trabalho da


Comunicação
Será analisado aqui o atual cenário brasileiro em relação a esses cursos, assim
como indicar previsões que podem nos esclarecer sobre a demanda do mercado,
a formação dos profissionais e o que deverá ser feito no futuro em relação a tudo
isso.
Como foi apontado, os profissionais de Comunicação são oriundos de
diversos campos. O mais frequente no mercado são pessoas vindas de cursos de
graduação presenciais (de Comunicação e de outras áreas), cursos de graduação
não presenciais (de Comunicação e de outras áreas), cursos de graduação nível
tecnólogo,70 cursos técnicos e profissionalizantes (em comunicação e outras
áreas).71
A análise das diretrizes dos cursos de Comunicação e áreas afins é muito
importante para que possamos ter noção de quais são as características dos
profissionais que estão sendo formados e quais são suas possibilidades de atuação.
A categoria de cursos de áreas afins apresentada nos resultados abaixo é uma
sugestão dos autores, que incluíram na análise cursos que formar profissionais de
outras áreas que atuam no mercado profissional, exercendo as mesmas funções
que o profissional de Comunicação.
Para que essa análise fosse possível, estabeleu-se uma metodologia própria
para o tratamento dos dados divulgados pelo Censo da Educação Superior
e apresentada abaixo. Essa metodologia soma-se a proposta apresentada
anteriormente, porém com as especificidades para o objeto estudado, no caso o
Censo da Educação Superior do MEC.

Metodologia utilizada no tratamento dos dados do Censo do Ensino


Superior
Realizou-se um estudo dos dados disponibilizados pelo Censo da Educação
70. Curso de nível tecnológico ou tecnólogo tem duração mais curta, em média dois anos.
71. Profissionais de tecnologia da informação e redes, marketing e produção gráfica, por exemplo, são formados
em cursos de áreas a fins, mas podem atuar no mercado de trabalho da comunicação.

92
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Superior entre 1999 e 2008, porém houve dificuldades em obter dados dos anos
anteriores a 2008, sendo este a última compilação de dados. De modo que a
equipe optou por fazer um espelho de 2008 que mostra a situação atual da
Comunicação. Os dados foram coletados no site do MEC/Inep/Deed, Censo do
Ensino Superior.
Foi feita uma análise descritiva dos dados, que consistiu em agrupar as
observações em tabelas com os índices (percentuais) para o número de cursos
de graduação presencias, número de matrículas e concluintes para a área de
Comunicação e áreas afins nas instituições públicas e privadas e também para os
cursos de graduação à distância na área de Comunicação e a distribuição desses
cursos nas regiões do Brasil.
O agrupamento de cursos nomeados como “áreas afins” foi constituído a
partir de outros cursos de graduação reconhecidos pelo MEC e não pertencentes
à Comunicação Social, porém relacionados às habilidades e competências
solicitadas aos profissionais que atuam no mercado de trabalho da Comunicação.
O agrupamento desses cursos nessa categoria denominada “áreas afins” foi
realizado a partir do início das respostas apuradas com o retorno do questionário
online enviado. Após catalogação dos dados similares e checagem com a lista de
cursos oferecida pelo MEC, chegou-se a uma tabela de cursos.
Para uma melhor visualização dos resultados, foram construídos gráficos de
barras com os percentuais para cada variável em estudo.

Metodologia das Previsões


Pelo Método de Previsão Médias Móveis Simples, foi feito previsões para o
número de cursos, matrículas, concluintes e cursos à distância, no período de
2010 a 2011, e intervalos de confiança para as previsões. As previsões nesta
etapa do trabalho foram feitas através do Método de Médias Móveis Simples. A
maioria dos métodos de previsão baseia-se na ideia que as observações passadas
contêm informações sobre o padrão de comportamento da série temporal. O
propósito desse método é distinguir o padrão para prever valores futuros da série.
Informações detalhadas sobre esses cálculos estatísticos constam no Anexo 4 deste
trabalho.
Os dados serão apresentados na seguinte ordem:
• Número de cursos de presenciais em instituições públicas e privadas:
Comunicação e áreas a fins
• Previsão para cursos presenciais em instituições públicas e privadas:
Comunicação e áreas a fins

93
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

• Número de matrículas nos cursos de presenciais em instituições públicas


e privadas: Comunicação e áreas a fins
• Previsão de matrículas nos cursos de presenciais em instituições públicas
e privadas: Comunicação e áreas a fins
• Número de concluintes nos cursos de presenciais em instituições públicas
e privadas: Comunicação e áreas a fins
• Previsão de concluintes nos cursos de presenciais em instituições públicas
e privadas: Comunicação e áreas a fins
• Previsão do número de cursos a distância: Comunicação
• Número de cursos de graduação em nível tecnológico, técnico e
profissionalizante
• Resultados do questionário online: formação
Cursos presenciais em instituições públicas e privadas: Comunicação e áreas
afins
Considerando-se o número de cursos presenciais em instituições públicas
e privadas em Comunicação e áreas afins, podemos observar as tendências do
mercado profissional e a formação dos profissionais. Na tabela abaixo temos
relacionados os cursos presenciais da Comunicação e áreas afins, número de
cursos nas instituições públicas e privadas, seguido respectivamente pelos índices
de cursos nestas instituições.

94
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 8: Número de cursos presenciais em instituições públicas e privadas: Comunicação


e áreas afins
Índice de Índice de
cursos para cursos para
instituições instituições
Cursos Pública Privada públicas (%) privadas (%)
Formação de professor de artes visuais 12 31 28 72
Formação de professor de desenho 1 - 100 -
Artes e mídia 1 - 100 -
Artes visuais 15 19 44 56
Cinema e animação 1 1 50 50
Desenho e plástica 1 - 100 -
Design 19 87 18 82
Projeto de produto 6 19 24 76
Cenografia 2 9 18 82
Audiovisuais 1 34 3 97
Criação gráfica 7 64 10 90
Fotografia - 14 - 100
Multimídia 2 4 33 67
Produção cinematográfica 1 3 25 75
Produção de multimídia - 31 - 100
Produção de música gravada - 7 - 100
Programação visual - 1 - 100
Som e imagem 1 - 100 -
Ciência da informação 2 4 33 67
Administração em Marketing 1 13 7 93
Empreendedorismo 1 1 50 50
Comunicação Social 76 473 14 86
Cinema e vídeo 3 - 100 -
Jornalismo 8 6 57 43
Produção editorial 1 - 100 -
Rádio e tele-jornalismo - 1 - 100
Marketing e propaganda - 21 - 100
Mercadologia (Marketing) 9 300 3 97
Publicidade e Propaganda 6 37 14 86
Relações públicas 5 28 15 85
Estudos culturais 1 - 100 -
Produção cultural 2 2 50 50
Tecnologia da informação 9 46 16 84
Tecnologia em desenvolvimento de softwares - 11 - 100
Uso da internet 12 105 10 90
Engenharia de comunicações - 1 - 100
Engenharia de redes de comunicação 1 1 50 50
Engenharia de telecomunicações 6 21 22 78
Tecnologia digital - 1 - 100
Telecomunicações 13 21 38 62
Telemática 3 1 75 25
Tecnologia em gestão de telecomunicações - 8 - 100
Produção gráfica - 3 - 100
Eventos 1 42 2 98
Total 230 1471 - -

Fonte: MEC/Inep/Deed

Nota-se que há um maior número de cursos oferecidos em instituições


privadas, um percentual de 86% (número de cursos: 1471), e apenas 14%
(número de cursos: 230) nas instituições públicas. Mostrando que as instituições
privadas oferecem a maioria dos cursos. Alguns cursos como, Arte e Mídia, Artes

95
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Visuais, Desenho e Plástica, Som e Imagem, Cinema e Vídeo, Produção Editorial


e Estudos Culturais existem somente nas instituições públicas, segundo o Censo
da Educação Superior.
Nas instituições privadas existem, Fotografia, Produção de Multimídia,
Produção de Música Gravada, Programação Visual, Rádio e Telejornalismo,
Marketing e Propaganda, Tecnologia em Desenvolvimento de Software,
Engenharia de Comunicações, Tecnologia Digital, Tecnologia em Gestão de
Telecomunicações e Produção Gráfica, também segundo o Censo de Educação
Superior. Cada instituição registra os nomes dos cursos, portanto existem diferenças
significativas. Algumas instituições registram o curso de Comunicação Social com
as ênfases, por exemplo: Comunicação Social – Radialismo, Comunicação Social
- Rádio e TV e assim por diante. Logo, boa parte dos cursos dessas ênfases está
dentro de Comunicação Social, isto justifica o fato de existir no país somente
um curso de Rádio e Tele-jornalismo na instituição privada segundo o Censo de
Educação Superior.

96
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 8: Gráfico do número de cursos presenciais em instituições públicas e privadas:


Comunicação e áreas afins

Eventos 2% 98%
Produção gráfica 100%
Tecnologia em gestão de telecomunicações 100%
Telemática 75% 25%
Telecomunicações 38% 62%
Tecnologia digital 100%
Engenharia de telecomunicações 22% 78%
Engenharia de redes de comunicação 50%
50%
Engenharia de comunicações 100%
Uso da internet 10% 90%
100%
Tecnologia da informação 16% 84%
Produção cultural 50%
50%
Estudos culturais 100%
Relações públicas 15% 85%
Publicidade e propaganda 14% 86%
Mercadologia (marketing) 3% 97%
Marketing e propaganda 100%
Rádio e tele-jornalismo 100%
Produção editorial 100%
Jornalismo 57% 43%
Cinema e vídeo 100%
Comunicação Social 14% 86%
Empreendedorismo 50%
50%
Administração em marketing 7% 93%
Ciência da informação 33% 67%
Som e imagem 100%
Programação visual 100%
Produção de música gravada 100%
Produção de multimídia 100%
Produção cinematográfica 25% 75%
Multimídia 33% 67%
Fotografia 100%
Criação gráfica 90%
10%
Audiovisuais 3% 97%
Cenografia 18% 82%
Projeto de produto 24% 76%
Design 18% 82%
Desenho e plástica 100%
Cinema e animação 50% 50%
Artes visuais 44% 56%
Artes e mídia 100%
Formação de professor de desenho 100%
Formação de professor de artes visuais 72%
28%

Privada Pública

Fonte: MEC/Inep/Deed

Deve-se observar que em 2006 houve mudanças e integrações de cursos.


De acordo com dados retirados do MEC, o curso de Artes Gráficas foi integrado
em Artes Visuais, Ilustração passou a fazer parte dos cursos de Design/Artes
Visuais, Produção de Rádio e TV foi integrado ao curso de Produção Audiovisual.

97
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Observa-se ainda o re-aparecimento dos cursos: Programação Visual, Telemática,


Tecnologia em gestão de telecomunicações e Produção Gráfica, nas tabelas
pesquisadas em 2007. Já nas tabelas pesquisadas de 2008 foram encontrados
cursos de Cinema e Animação e também de Desenho e Plástica.

Tabela 9: Integração de cursos presenciais na área de Comunicação

Integração de Cursos
De Para
Artes gráficas Artes visuais
Ilustração Design / Artes visuais
Produção de rádio e TV Produção audiovisual
Comunicação visual Publicidade e Propaganda/ Design

Fonte: MEC/Inep/Deed

Observa-se ainda o re-aparecimento dos cursos: Programação Visual,


Telemática, Tecnologia em gestão de telecomunicações e Produção Gráfica,
nas tabelas pesquisadas em 2007. Já nas tabelas pesquisadas de 2008 foram
encontrados cursos de Cinema e Animação e também de Desenho e Plástica.

Tabela 10: Anos de integração de cursos presenciais na área de Comunicação

Cursos Ano
Programação visual
Telemática
Cursos que re-surgiram em 2007
Tecnologia em gestão de telecomunicações
Produção gráfica
Cinema e animação
Cursos que re-surgiram em 2008
Desenho e plástica

As mudanças, integrações e re-surgimentos de alguns cursos mostram uma


provável adaptação das instituições ao mercado de trabalho. Não foi possível
determinar o motivo pelo qual ocorreram mudanças na nomenclatura dos cursos.
Porém, tais mudanças não alteram os resultados obtidos.
Optou-se por uma análise específica dos cursos de Comunicação. Os
resultados estão abaixo. Pelo grande volume de dados gerados sobre os cursos de
Comunicação e áreas a fins, optou-se por uma análise específica dos cursos de
Comunicação. Os resultados apresentados abaixo referem-se ao número de cursos
em instituições públicas e privadas apenas da área da Comunicação.

98
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 11: Número de cursos presenciais em instituições públicas e privadas:


Comunicação

Índice para cada curso Índice para cada curso


em instituições em instituições
Cursos Pública Privada públicas (%) privadas (%)
Cinema e vídeo 3 - 100 -
Comunicação Social 76 473 14 86
Jornalismo 8 6 57 43
Publicidade e Propaganda 6 37 14 86
Relações públicas 5 28 15 85
Rádio e tele-jornalismo - 1 - 100
Produção editorial 1 - 100 -
Total 99 545 - -
Fonte: MEC/Inep/Deed

As instituições privadas possuem um percentual maior (85%) de cursos


oferecidos (número de cursos: 545) e as instituições públicas (número de cursos: 99)
um total de 15%. Ou seja, a maior parte dos profissionais da área de Comunicação
é formada pelas instituições privadas, segundo o Censo da Educação Superior.
Isto é confirmando pelos índices de cursos oferecidos para a Comunicação Social,
onde 14% estão nas instituições públicas e 86% nas instituições privadas, assim
como Publicidade e Propaganda com o mesmo percentual.

Figura 9: Gráfico número de cursos presenciais em instituições públicas e privadas:


Comunicação
100% 100% 100%
86% 86% 85%
57%
43%
14% 14% 15%

Pública Privada

Fonte: MEC/Inep/Deed

Previsões para os cursos presenciais em instituições públicas e privadas:


Comunicação
Os dados coletados do Censo da Educação Superior foram analisados
estatísticamente permitindo indicar projeções do número de cursos presenciais
para a Comunicação. Levou-se em consideração as instituições públicas e privadas
usando intervalos de confiança de 95% conforme mostrado abaixo:
99
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 12: Previsões do número de cursos presenciais em instituições públicas e privadas:


Comunicação

Previsões para o Intervalo de


Anos Real número de cursos confiança 95%
2000 80
2001 359
2002 420
2003 473
2004 516 333 (288; 378)
2005 552 442 (397; 487)
2006 586 490 (446; 535)
2007 619 532 (487; 577)
2008 644 568 (524; 653)
2009 600 (556; 645)
2010 612 (567; 657)
2011 619 (574; 664)
Elaboração: dos autores

A projeção para 2011 é de 619 cursos presenciais de Comunicação. Como o


Método de Médias Móveis leva em consideração que os dados passados e dos anos
anteriores a 2008 são menores. Esse fato fez com que a estimativa da média de
cursos a serem oferecidos, diminuísse. Observa-se que no intervalo de confiança
o limite superior mostra um aumento dos cursos, nos intervalos estão a variação
das estimativas obtidas. Portanto em 2011 a estimativa é de 619 cursos, com
intervalo de confiança variando de no mínimo 574 e no máximo 664 cursos.
Abaixo há o gráfico das projeções dos cursos para á Comunicação de 2009
a 2011:

Figura 10: Gráfico das projeções dos cursos para a Comunicação (2009-2011).

625
620
615
Número de Cursos

610
605
600
595
2009 2010 2011 2012 2013
Anos

Para a melhor visualização da evolução do número de cursos na área de


Comunicação, segue gráfico da evolução dos números ofertados a partir de 2000,
mostrando que houve crescimento da área. Em roxo, está a projeção para os anos
2009-2011.

100
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 11: Gráfico da evolução do número de cursos de Comunicação


700
600
500
400
Número de Cursos

300
200
100
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Anos
Evolução real Projeção

Os cursos presenciais em Comunicação Social e afins apresentam um


potencial de crescimento considerável. Mesmo sendo uma área onde o diploma
não é obrigatório, é possível dizer que cada vez mais pessoas têm acesso a educação
superior para desempenhar os trabalhos na área. A previsão para 2011 é de 619
cursos, o que pode ser considerado um grande avanço se for levado em conta
que há pouco mais de uma década existiam apenas 80 cursos de graduação em
Comunicação no Brasil.

Número de matrículas em cursos de graduação presenciais em instituições


públicas: Comunicação e áreas afins
Foram mostradas as matrículas efetuadas no ano de 2008, segundo o Censo da
Educação Superior, para os cursos de Comunicação e áreas afins, assim como
os índices (percentuais) de todas as instituições públicas e privadas. Através da
tabela das matrículas é possível ter a tendência do mercado, pois os ingressantes
nas instituições públicas e privadas seguem o mercado e as profissões que estão
mais em evidências.
Abaixo, observa-se o percentual das matrículas realizadas nos cursos
presenciais na área de Comunicação e afins nas instituições públicas e privadas.

101
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 13: Número de matrículas em cursos presenciais de instituições públicas e privadas:


Comunicação e áreas afins

Índice para Índice para


cada curso em cada curso em
instituições instituições
Cursos Pública Privada públicas (%) privadas (%)
Formação de professor de artes visuais 1.228 2.388 34 66
Formação de professor de desenho 85 - 100 -
Artes e mídia 105 - 100 -
Artes visuais 2.524 2.592 49 51
Cinema e animação 57 57 50 50
Desenho e plástica 29 - 100 -
Design 3.218 19.591 14 86
Projeto de produto 872 1.078 45 55
Cenografia 371 354 51 49
Audiovisuais 215 1.875 10 90
Criação gráfica 701 4.197 14 86
Fotografia - 877 - 100
Multimídia 243 404 38 62
Produção cinematográfica 112 800 12 88
Produção de multimídia - 1.718 - 100
Produção de música gravada - 811 - 100
Programação visual - 119 - 100
Som e imagem 181 - 100 -
Ciência da informação 406 190 68 32
Administração em Marketing 110 1.792 6 94
Empreendedorismo 58 105 36 64
Comunicação Social 18.952 157.220 11 89
Cinema e vídeo 189 -- 100 -
Jornalismo 1.342 660 67 33
Produção editorial 91 - 100 -
Rádio e tele-jornalismo - 11 - 100
Marketing e propaganda - 4.306 - 100
Mercadologia (Marketing) 1.100 31.903 3 97
Publicidade e Propaganda 1.019 6.311 14 86
Relações públicas 693 1.643 30 70
Estudos culturais 238 - 100 -
Produção cultural 345 12 97 3
Tecnologia da informação 3.122 4.262 42 58
Tecnologia em desenvolvimento de softwares - 554 - 100
Uso da internet 896 7.336 11 89
Engenharia de comunicações - 222 - 100
Engenharia de redes de comunicação 232 17 93 7
Engenharia de telecomunicações 956 2.703 26 74
Tecnologia digital - 44 - 100
Telecomunicações 1.292 1.366 49 51
Telemática 474 427 53 47
Tecnologia em gestão de telecomunicações - 277 - 100
Produção gráfica - 375 - 100
Eventos 180 2.126 8 92
Total 41.636 260.723 - -

Fonte: MEC/Inep/Deed

Como observa-se na tabela acima, 14% das matriculas são realizadas nas
instituições públicas, com 41.636 matriculados, e nas instituições privada
foram 86%, sendo 260.723 matriculados. Ou seja, temos um total de 302.359
matriculados nas instituições públicas e privadas. Isto mostra que as instituições

102
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

privadas possuem um maior índice de matrículas, segundo o Censo da Educação


Superior. Percebe-se que 67% das matrículas no curso de Jornalismo estão nas
instituições públicas e 33% estão nas privadas, sendo que as públicas oferecem
número maior de cursos.
Observa-se que em quase todos os cursos, o número de matrículas se
concentra nas instituições privadas. A exceção ocorre com o curso de Jornalismo.
Supõem-se que essa diferença numérica pode haver sido causada pela forma com
os dados foram inseridos na base de dados do MEC, uma vez que essa inserção é
de responsabilidade de cada instituição pública ou privada.

Figura 12: Gráfico do número de matriculas de cursos presenciais em instituições públicas


e privadas: Comunicação e áreas afins
Eventos 8% 92%
Produção gráfica 100%
Tecnologia em gestão de telecomunicações 100%
Telemática 47%
53%
Telecomunicações 49% 51%
Tecnologia digital 100%
Engenharia de telecomunicações 26% 74%
Engenharia de redes de comunicação 93% 7%
Engenharia de comunicações 100%
Uso da internet 11% 89%
100%
Tecnologia da informação 42% 58%
Produção cultural 97% 3%
Estudos culturais 100%
Relações públicas 30% 70%
Publicidade e propaganda 14% 86%
Mercadologia (marketing) 3% 97%
Marketing e propaganda 100%
Rádio e tele-jornalismo 100%
Produção editorial 100%
Jornalismo 67% 33%
Cinema e vídeo 100%
Comunicação Social 11% 89%
Empreendedorismo 36% 64%
Administração em marketing 6% 94%
Ciência da informação 68% 32%
Som e imagem 100%
Programação visual 100%
Produção de música gravada 100%
Produção de multimídia 100%
Produção cinematográfica 12% 88%
Multimídia 38% 62%
Fotografia 100%
Criação gráfica 14% 86%
Audiovisuais 10% 90%
Cenografia 51% 49%
Projeto de produto 45% 55%
Design 14% 86%
Desenho e plástica 100%
Cinema e animação 50% 50%
Artes visuais 49% 51%
Artes e mídia 100%
Formação de professor de desenho 100%
Formação de professor de artes visuais 66%
34%

Privada Pública

Fonte: MEC/Inep/Deed

103
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Para mostrarmos a tendência das matrículas realizadas somente para a área


de Comunicação, temos a tabela abaixo.

Tabela 14: Número de matrículas em cursos presenciais de instituições públicas e


privadas: Comunicação
Índice para cada Índice para cada
curso em curso em
instituições instituições
Cursos Pública Privada públicas (%) privadas (%)
Cinema e vídeo 189 - 100 -
Comunicação Social 18.952 157.220 11 89
Jornalismo 1.342 660 67 33
Publicidade e Propaganda 1.019 6.311 14 86
Relações públicas 693 1.643 30 70
Rádio e tele-jornalismo - 11 - 100
Produção editorial 91 - 100 -
Total 22.286 165.845 - -

Fonte:MEC/Inep/Deed

Observa-se na tabela acima a mesma tendência da tabela geral de cursos da


Comunicação e áreas afins: as instituições privadas possuem o maior índice de
matrículas que as instituições Públicas. Grande parte dos matriculados nos cursos
de Comunicação Social estão nas instituições privadas com percentual de 89%, e
nas Públicas 11%, a mesma coisa acontece com as matrículas efetuadas nos cursos
de Publicidade e Propaganda, Jornalismo e Relações Públicas, segundo o Censo
da Educação Superior. Ou seja, mostrando a tendência por profissionais nessas
áreas. Mostra-se a representação da tabela através do gráfico de barras.

Imagem 13: Gráfico do número de matrículas nos cursos presenciais em instituições


públicas e privadas: Comunicação

100% 100% 100%


89% 86%
67% 70%

33% 30%
11% 14%

Pública Privada

104
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Fonte: MEC/Inep/Deed

Previsão para o número de matrículas nos cursos presenciais em instituições


públicas e privadas: Comunicação
As projeções das matriculas nos cursos de Comunicação em todo o Brasil das
instituições públicas e privadas para 2009-2012 estão na tabela abaixo. Observa-
se as matrículas nos cursos de Comunicação no período de 2000-2008, e as
projeções a partir de 2004 a 2012, assim como intervalo de confiança de 95%, a
variação que poderá ocorrer e o número mínimo e máximo de matrículas.

Tabela 15: Previsões do número de matrículas em cursos presenciais de instituições


públicas e privadas: Comunicação

Previsões para o
número de Intervalo de confiança
Anos Real matriculas 95%

2000 19.752

2001 115.983

2002 141.187

2003 161.991 109.728 (93.294; 126.163)

2004 174.126 148.322 (131.887; 164.756)

2005 179.986 164.323 (147.888; 180.757)

2006 184.616 175.180 (158.745; 191.614)

2007 188.756 181.871 (165.436; 198.306)

2008 188.131 185.372 (168.938; 201.807)

2009 185.372 (168.937; 201.807)

2010 186.719 (170.284; 203.154)

2011 187.245 (170.810; 203.680)

2012 186.867 (170.432; 203.302)

Fonte: MEC/Inep/Deed

105
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

O número de matrículas para os anos de 2011 e 2012 será de 187.245 e


186.867, respectivamente, com intervalo de confiança de 95%. Em 2011, terão
no mínimo 170.810 matrículas e no máximo 203.680. Já em 2012, estima-se
o mínimo de 170.432 e o máximo de 203.302 matrículas. Abaixo o gráfico
sobre a evolução das matriculas nos cursos de Comunicação no Brasil com as
projeções para 2010-2012.

Imagem 14: Gráfico da evolução das matrículas nos cursos presenciais na área de
Comunicação
200000
180000
160000
140000
120000
Número de Matrícula

100000
80000
60000
40000
20000
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Anos
Evolução real Projeção

Portanto, com o aumento no número de cursos em comunicação, variou


positivamente também o número de matriculados de 19.752, no ano 2000, para
os 186.867 previstos para 2012. Conseqüentemente cresceu também o número
de egressos e toda essa evolução, pode ser relacionada ao aumento da procura por
esses profissionais.
Número de concluintes nos cursos presenciais em instituições públicas e
privadas: Comunicação e áreas afins
Com o número de concluintes podemos ter a noção dos profissionais que
estarão atuando no mercado, e qual a tendência do mesmo. A observar um
percentual alto de um determinado curso, é natural relacionar esses profissionais
às áreas que irão atuar e que estão disponíveis ao mercado de trabalho. Abaixo,
aparece a tabela do número de concluintes presenciais da Comunicação e áreas
afins.

106
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 16: Número de concluintes em cursos presenciais de instituições públicas e


privadas: Comunicação e áreas a fins

Índice de Índice de
cursos para cursos para
instituições instituições
Cursos Pública Privada públicas (%) privadas (%)
Formação de professores de artes
visuais 60 287 17 83
Formação de professores de desenho 8 - 100 -
Artes e mídia 6 - 100 -
Artes visuais 83 226 27 73
Design 93 1.129 8 92
Cenografia 11 66 14 86
Audiovisuais 13 220 6 94
Criação gráfica 48 453 10 90
Fotografia - 102 - 100
Multimídia 9 52 15 85
Produção cinematográfica 1 71 1 99
Produção de multimídia - 189 - 100
Produção de música gravada - 76 - 100
Programação visual - 1 - 100
Som e imagem 14 - 100 -
Ciência da informação 17 27 39 61
Administração em Marketing 6 171 3 97
Empreendedorismo - 23 - 100
Cinema e vídeo - - - -
Comunicação Social 3.282 23.979 12 88
Jornalismo 55 30 65 35
Produção editorial 6 - 100 -
Rádio e tele-jornalismo - 1 - 100
Marketing e propaganda - 317 - 100
Mercadologia (Marketing) 85 3.967 2 98
Publicidade e Propaganda 45 701 6 94
Relações públicas 31 371 8 92
Estudos culturais 12 - 100 -
Produção cultural 11 - 100 -
Tecnologia da informação 155 316 33 67
Tecnologia em desenho de softwares - 23 - 100
Uso da internet 17 405 4 96
Engenharia de comunicações - 7 - 100
Engenharia de redes de comunicação 14 - 100 -
Engenharia de telecomunicação 41 135 23 77
Tecnologia digital - 9 - 100
Telecomunicações 41 151 21 79
Telemática 15 15 50 50
Tecnologia em gestão de
telecomunicações - 62 - 100
Produção gráfica - 24 - 100
Eventos 6 191 3 97
TOTAL 4.185 33.797 - -

Fonte: MEC/Inep/Deed

107
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Pode-se observar, assim, que o número de concluintes é bem menor do


que as matriculas realizadas em 2008. Entre os concluintes em Jornalismo,
65% dos saem das instituições públicas e 35% saem de instituições privadas.
Identificou-se que alguns cursos só existem nas instituições pública. Nos outros
cursos presenciais, o maior índice de concluintes saem das instituições privadas.
Portanto, os números apontam para um mercado de trabalho formado, em sua
maioria por profissionais provenientes de instituições de ensino privadas, pois
são elas que fornecem mais de 80% dos profissionais da área de Comunicação.

Imagem 15: Gráfico do número de concluintes dos cursos presenciais em instituições


públicas e privadas: Comunicação e áreas afins

Eventos 3% 97%
Produção gráfica 100%
Tecnologia em gestão de telecomunicações 100%
Telemática 50%
50%
Telecomunicações 21% 79%
Tecnologia digital 100%
Engenharia de telecomunicação 23% 77%
Engenharia de redes de comunicação 100%
Engenharia de comunicações 100%
Uso da internet 4% 96%
Tecnologia em desenho de softwares 100%
Tecnologia da informação 33% 67%
Produção cultural 100%
Estudos culturais 100%
Relações públicas 8% 92%
Publicidade e propaganda 6% 94%
Mercadologia (marketing) 2% 98%
Marketing e propaganda 100%
Rádio e tele-jornalismo 100%
Produção editorial 100%
Jornalismo 65% 35%
Comunicação social 12% 88%
Cinema e vídeo
Empreendedorismo 100%
Administração em marketing 3% 97%
Ciência da informação 39% 61%
Som e imagem 100%
Programação visual 100%
Produção de música gravada 100%
Produção de multimídia 100%
Produção cinematográfica 1% 99%
Multimídia 15% 85%
Fotografia 100%
Criação gráfica 10% 90%
Audiovisuais 6% 94%
Cenografia 14% 86%
Design 8% 92%
Artes visuais 27% 73%
Artes e mídia 100%
Formação de professores de desenho 100%
Formação de professores de artes visuais 17% 83%

Privada Pública

Fonte: MEC/Inep/Deed

108
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Visualiza-se o número de concluintes na área de Comunicação na tabela


abaixo:

Tabela 17: Número de concluintes em cursos presenciais de instituições públicas e


privadas: Comunicação
Índice de cursos Índice de cursos
para instituições para instituições
Cursos Pública Privada públicas (%) privadas (%)

Cinema e vídeo - - 0 0

Comunicação Social 3.282 23.979 12 88

Jornalismo 55 30 65 35

Publicidade e
Propaganda 45 701 6 94

Relações públicas 31 371 8 92

Rádio e tele-jornalismo - 1 - 100

Produção editorial 6 - 100 -

TOTAL 3.419 25.082 - -

Fonte:MEC/Inep/Deed

Nota-se na tabela que não houve nenhum concluinte no curso de Cinema e


Vídeo. Não estão disponíveis dados que possam fornecer indicativos para explicar
o fato.

Imagem 16: Gráfico do número de concluintes dos cursos presenciais em instituições


públicas e privadas: Comunicação

100% 100%
94% 92%
88%

65%

35%

12% 8%
6%
0% 0% 0% 0%

Pública Privada

109
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Fonte: MEC/Inep/Deed

Previsão para o número de concluintes nos cursos presenciais em


instituições públicas e privadas: Comunicação
Com o mesmo método com que foram feitas as previsões para o número de
cursos e matrículas nos cursos de Comunicação, produziu-se uma projeção do
número de concluintes. A partir desses dados é possível chegar a um número
indicativo de profissionais disponíveis ao mercado na área de Comunicação nos
próximos anos.

Tabela 18: Número de concluintes em cursos presenciais: Comunicação

Previsões para o
número de Intervalo de confiança
Anos Real concluintes 95%

2000 2.663

2001 14.022

2002 17.025

2003 19.950

2004 24.348 13.415 (9342,98;17.487)

2005 29.842 18.836 (14.764; 22.908)

2006 28.917 22.791 (18.719;26.863)

2007 29.917 25.764 (21.692; 29.836)

2008 28.501 28.256 (24.184; 32.328)

2009 29.294 (25.566 ;33.710)

2010 29.157 (25.515;33.659)

2011 29.217 (25.683; 33.827)

2012 29.042 (25.642; 33.786)

Fonte: MEC/Inep/Deed

110
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

O gráfico abaixo mostra a evolução do número de concluintes na área de


Comunicação no Brasil.

Imagem 17: Gráfico da evolução dos concluintes nos cursos presenciais na área de
Comunicação

35000
30000
Número de Concluintes

25000
20000
15000
10000
5000
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Anos

Evolução real Projeção

As previsões para os concluintes dos cursos de comunicação são estáveis,


mas é possível estimar um aumento de concluintes em relação a 2008. A maior
parte dos profissionais ainda deve vir das universidades privadas.

Cursos a distância para a área de Comunicação e previsões


A educação a distância vem despontando como uma alternativa ao ensino
presencial, na contemporaneidade, possibilitando a formação e capacitação de
pessoas em locais onde não existam universidades. As estimativas obtidas para
o número de cursos de graduação à distância na área da Comunicação estão
descritas na tabela abaixo.

Tabela 19: Estimativa do número de cursos a distância para Comunicação no período


2009-2012
Número de Cursos à Intervalo de
Anos
distância Confiança 95%

2009 15 (9 ; 21)

2010 19 (13; 25)

2011 19 (13; 25)

2012 19 (13; 25)

Elaboração: dos autores

111
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

A estimativa para o número de cursos a distância em 2012 é de 19 cursos,


com uma variação de no mínimo 13 cursos e de, no máximo, 25 cursos. No
gráfico abaixo pode-se observar a tendência de crescimento até 2012.

Imagem 18: Gráfico das estimativas dos cursos de graduação a distância para a área de
Comunicação

20

15
Estimativas

10

Estimado
5

0
2009 2010 2011 2012
Anos

Cursos de graduação nível tecnológico, técnico e profissionalizante


Os cursos profissionalizantes capacitam recursos humanos de forma eficaz e rápida.
Algumas funções no campo da comunicação requerem habilidades técnicas que
não exigem ampla teorização, o que abre a possibilidade de formação profissional
a partir de cursos técnicos com suas características inerentes e diferenciadas dos
cursos de ensino superior. Por intermédio de acurada pesquisa na internet, nos
websites dos principais institutos de educação do Brasil72, foi possível chegarmos
a alguns dados relevantes sobre a oferta desse tipo de curso. Foram analisadas
as ofertas de cursos técnicos, tecnólogos e profissionalizantes de órgãos públicos
federal, público estadual, privado e do Sistema S (SESC, SENAI, SEBRAE).
A pesquisa ateve-se aos cursos que se relacionavam com Comunicação Social
e áreas afins. Uma das áreas afim foi o ensino técnico de informática, presente em
praticamente todos os institutos; essa é uma área com forte capacitação de pessoal
e pode ser usada pela empresas de comunicação como mão-de-obra, porém
decidimos não abordar aqui os cursos de informática.

72. Não há uma base de dados que contemple uma relação completa desses cursos. Os dados apresentados aqui
obtidos através de consulta por busca de palavras-chave na Internet.

112
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Cursos de nível técnico: Sistema S


Foram pesquisados cursos de todas as regiões do país. A maior oferta de cursos
técnicos em comunicação é apresentada pelo SENAI de São Paulo. A instituição
oferece os seguintes cursos: Desenvolvimento de software, Apresentador de
Programa, Direção de Imagens TV, Edição de Videotape, Iluminação, Locutor
noticiarista para TV, Operação de câmera, computação gráfica, Criação e
produção de animação para Web, Criação e Tratamento de Ilustrações, Imagens
e Publicações Digitais, Produção de Web sites, Programador Visual de Design
Editorial e Publicitário, Programador Visual de Design Institucional, Programador
Visual de Design Promocional e de Marketing Direto, Técnico em Computação
Gráfica, Técnico em Multimídia, Assistente de Criação Publicitária, Assistente
de Produção Publicitária, Técnico em Publicidade, Radialista - Programação
Musical, Radialista – Sonoplastia.
A divisão da oferta de cursos do Sistema S pode ser visualizada da seguinte
forma:

Cursos técnicos Sistema S: Região Sudeste

Tabela 20: Cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Sudeste

Cursos/Região Sudeste Quant. Índice (%)

Programação e Desenvolvimento de Sistemas 1 3,2


Telecomunicações 1 3,2
Planejamento e Gestão em TI 1 3,2
Informática para Internet 1 3,2
Programação e Desenvolvimento de Sistemas 1 3,2
Técnico em Informática 26 83,9

Total 31 100

Na tabela dos cursos técnicos da Região Sudeste observa-se que a maioria


dos cursos são da área de tecnologia. Apesar de não serem formações específicas
da comunicação, podem formar profissionais que atuem em empresas de
radiodifusão, produção de conteúdo e softwares.

113
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 19: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Sudeste

Região Sudeste

Técnico em Informática 83,9%

Programação e Desenvolvimento
3,2%
de Sistemas

Informática para Internet 3,2%

Planejamento e Gestão em TI 3,2%

Telecomunicações 3,2%

Programação e Desenvolvimento
3,2%
de Sistemas

Cursos técnicos Sistema S: Região Sul

Tabela 21: Cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Sul

Cursos/Região Sul Quant. Índice (%)


Processos Fotográficos 1 4,2
Jogos Digitais 1 4,2
Produção Áudio e Vídeo 1 4,2
Desenvolvimento de Sistemas 1 4,2
Programação de Jogos Digitais 1 4,2
Telecomunicações 3 12,5
Técnico em Informática para Internet 6 25,0
Técnico em Informática 10 41,7
Total 24 100

Como pode ser observado na tabela acima, a região Sul tem oferta de cursos
que apresentam formação específica para a área de Comunicação. Chama a
atenção o curso de jogos digitais, por ser o único do país nessa modalidade de
ensino.

114
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 20: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Sul

Região Sul

Técnico em Informática 41,7%

Técnico em Informática para


25%
Internet

Telecomunicações 12,5%

Programação de Jogos Digitais 4,2%

Desenvolvimento de Sistemas 4,2%

Produção Áudio e Vídeo 4,2%

Jogos Digitais 4,2%

Processos Fotográficos 4,2%

Cursos técnicos Sistema S: Região Centro-Oeste

Tabela 22: Cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Centro-Oeste

Cursos/Região Centro-Oeste Quant. Índice(%)


Técnico em Informática 2 22,2
22,2
Programação e Desenvolvimento de Sistemas 2
Telecomunicações 1 11,4
Técnico em Informática para Internet 4 44,4

Total 9 100

Com apenas nove cursos, a região Centro-Oeste apresenta a menor oferta de


formação técnica. Como pode ser observado na tabela acima, nenhum dos cursos
é específico da área de comunicação.

115
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 21: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Centro-Oeste

Região Centro-Oeste
44,4%

Técnico em Informática para Internet

Telecomunicações 11,1%

Programação e Desenvolvimento de
22,2%
Sistemas

Técnico em Informática 22,2%

Cursos técnicos Sistema S: Região Norte

Tabela 23: Cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Norte

Índice
Cursos/Região Norte Quant. (%)

Técnico em Informática 13 100


Total 13

A região Norte, apesar de apresentar mais cursos do que na região Centro-


Oeste, por exemplo, possui cursos todos de apenas uma área.

Figura 22: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Norte

Região Norte

Técnico em Informática 100%

116
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Cursos técnicos Sistema S: Região Nordeste

Tabela 24: Cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Nordeste

Cursos/Região Nordeste Quant. Índice (%)


Técnico em Multimeios Didáticos 1 3,0
Técnico em Multimídia 1 3,0
Técnico em Artes Visuais 1 3,0
Técnico em Programação de
Computadores 1 3,0
Telecomunicações 2 6,1
Sistemas de Informação 2 6,1
Técnico em Informática 25 75,8
Total 33 100

A segunda maior oferta de cursos está na região Nordeste, como pode ser
visto na tabela acima. É a única região que oferece o curso técnico em multimeios
didáticos.

Figura 23: Gráfico dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S/Região Nordeste

Região Nordeste
75,8%
Técnico em Informática

Sistemas de Informação 6,1%

Telecomunicações 6,1%

Técnico em Programação de
3,0%
Computadores

Técnico em Artes Visuais 3,0%

Técnico em Multimídia 3,0%

Técnico em Multimeios Didáticos 3,0%

117
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Cursos de outras instituições – nível tecnológico


Em nível de tecnólogo, referindo-nos aos cursos foram encontrados muitos
cursos que capacitam profissionais para trabalhar em desenvolvimento e análise
de sites, como alguns cursos do SENAI de Goiás, além de cursos como Produção
Publicitária (FATEC PB – João Pessoa) e Tecnologia em Marketing (FATEC –
Belo Horizonte), que qualificam profissionais em nível superior para trabalhar
com Comunicação.
Nos cursos técnicos ocorre, como já mencionado, grande oferta de cursos
em informática. O curso de técnico em Multimeios Didáticos, e técnico em
Multimídia (ambos do IFMA), Técnico em Artes Visuais (IFMA), Processos
Fotográficos (IFPR e ETEC), Jogos Digitais (IFPR), Produção Áudio e Vídeo
(IFPR), Programação de jogos digitais (IFPR), Comunicação Visual (ETEC,
SENAC), Marketing (ETEC) e Web Design (ETEC). Observa-se o fato que
não foram encontradas informação sobre cursos desse tipo nos estados da região
Norte: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A divisão da oferta de cursos tecnológicos pode ser visualizada da seguinte
forma:

Cursos tecnológicos de outras instituições: Região Sudeste

Tabela 25: Cursos tecnológicos de outras instituições/Região Sudeste

Índice
Cursos\Região Sudeste Quant.
(%)
Análise e Desenvolvimento de Sistemas 1 0,5
Web Design 1 0,5
Processos Fotográficos 1 0,5
Tecnologia em Marketing 1 0,5
Telecomunicações 2 1,1
Comunicação Visual 8 4,4
Marketing 14 7,7
Informática para Internet 33 18,1
Técnico em Informática 121 66,5
Total 182 100

118
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Pode-se observar na tabela acima que, assim como nos cursos técnicos nos
tecnológicos é alto o índice de cursos em informática. Por outro lado, cresce
a presença dos cursos específicos da área da Comunicação, como por exemplo,
marketing e comunicação visual.

Figura 24: Gráfico dos cursos tecnológicos de outras instituições/Região Sudeste

Região Sudeste
66,5%
Técnico em Informática

Informática para Internet 18,1%

Marketing 7,7%

Comunicação Visual 4,4%

Telecomunicações 1,1%

Tecnologia em Marketing 0,5%

Processos Fotográficos 0,5%

Web Design 0,5%

Análise e Desenvolvimento de
0,5%
Sistemas

Cursos tecnológicos de outras instituições: Região Sul

Tabela 26: Cursos tecnológicos de outras instituições/Região Sul

Índice
Cursos\Região Sul Quant.
(%)
Sistemas em Telecomunicações 1 100,0
Total 1

Como pode-se observar na tabela acima, a pesquisa conseguiu encontrar


apenas um curso disponível na região Sul, de sistemas de telecomunicações.

119
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 25: Gráfico dos cursos tecnológicos de outras instituições/Região Sul

Região Sul

Sistemas em Telecomunicações 100%

4.4.2.3 Cursos tecnológicos de outras instituições: Região Centro-Oeste

Tabela 27: Cursos tecnológicos de outras instituições/Região Centro-Oeste

Cursos\Região Centro-Oeste Quant. Índice (%)


Análise e Desenvolvimento de
1 100,0
Sistemas
Total 1

A região Centro-Oeste também apresenta um curso tecnológico que é


oferecido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato
Grosso – IFET/MT.

Figura 26: Gráfico dos cursos tecnológicos de outras instituições/Região Centro Oeste

Região Centro-Oeste

Análise e Desenvolvimento de
100%
Sistemas

120
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Cursos tecnológicos de outras instituições: Região Nordeste

Tabela 28: Cursos tecnológicos de outras instituições/Região Nordeste

Cursos\Região Nordeste Quant. Índice (%)


Análise e Desenvolvimento de
1 25,0
Sistemas
Sistemas para Internet 1 25,0
Técnico em Informática 1 25,0
Produção Publicitária 1 25,0
Total 4 100

A região Nordeste apresenta um total de quatro cursos, sendo a única a


apresentar o curso de produção publicitária.

Figura 27: Gráfico dos cursos tecnológicos de outras instituições/Região Nordeste

Região Nordeste

Produção Publicitária 25%

Técnico em Informática 25%

Sistemas para Internet 25%

Análise e Desenvolvimento de
25%
Sistemas

121
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Resultados do questionário online: formação


Os dados recolhidos do MEC e de outras fontes oficiais foram confrontados
com os dados obtidos pelas respostas do questionário online direcionado aos
profissionais que compõem o mercado de trabalho da comunicação. Neste tópico
serão apresentadas as respostas dos 345 questionários aplicados on-line segundo
metodologia apresentada no início do texto. Abaixo os resultados encontrados
sobre a situação dos sujeitos em relação grau de instrução, área de formação e
estágio.

Indicativos do questionário on-line: Grau de instrução

Tabela 29: Índice do grau de instrução

Grau de instrução Quant. Índice (%)


Superior Tecnológico 3 0,9
Ensino Técnico 7 2
Ensino Médio 18 5,2
Superior Bacharelado / Licenciatura 130 37,7
Pós-Graduação, Especialização, Mestrado, Doutorado, Pós-
187 54,2
Doutorado
Total 345 100

Nas respostas sobre o grau de instrução 54,2% das pessoas informaram


possuir Pós-graduação, Especialização, Mestrado, Doutorado, ou Pós- Doutorado,
o segundo maior porcentual foi dos que tem o ensino Superior Bacharelado/
Licenciatura (37,7%). O ensino médio corresponde a 5,2%, o ensino técnico a
2% e o ensino tecnológico a 0,9%.

Figura 28: Gráfico do índice do grau de instrução

Pós-Graduação, Especialização, Mestrado,


54,2%
Doutorado, Pós-Doutorado

Superior Bacharelado / Licenciatura 37,7%

Ensino Médio 5,2%

Ensino Técnico 2%

Superior Tecnológico 0,9%

122
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Indicativos do questionário on-line: Ensino superior / área de graduação


Aos sujeitos que responderam que possuíam ensino superior, também foi
perguntado qual era sua área de graduação. O objetivo da pergunta era identificar
quais cursos formaram os profissionais que já atuam no mercado da Comunicação
Social.

Tabela 30: Índice da área de graduação

Área de graduação Quant. Índice (%)


Editoração 1 0,3
Relações Públicas e outros 1 0,3
Radio e TV e outros 2 0,6
Publicidade e Propaganda e outros 3 0,9
Audiovisual e Cinema e outros 4 1,2
Não Informado 4 1,2
Relações Públicas 5 1,5
Radio e TV 11 3,2
Jornalismo e outros 12 3,5
Não Possui 18 5,2
Audiovisual e Cinema 19 5,5
Publicidade e Propaganda 53 15,4
Outros 54 15,7
Jornalismo 158 45,5
Total 345 100

Alguns dos sujeitos entrevistados responderam possuir formação


educacional superior ou técnica em mais de uma área de conhecimento. Essas
respostas estão retratadas nas categorias Relações Públicas e outros, Rádio e TV
e outros, Publicidade e Propaganda e outros, Audiovisual e Cinema e outros,
Jornalismo e outros. A categoria outros corresponde às respostas nas quais os
sujeitos indicavam formação em outras áreas do conhecimento, diferentes das
relacionadas como Comunicação e afins. Em relação às pessoas que responderam
sobre a sua graduação, as principais áreas da Comunicação correspondem ao
curso de Jornalismo que têm (45,5%) de profissionais, seguido de Publicidade e
Propaganda (15,4%), Audiovisual e Cinema (5,5%) e Rádio e TV, com 3,2%.

123
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 29: Gráfico do índice da área de graduação

Jornalismo 45,5%
Outros 15,7%
Publicidade e Propaganda 15,4%
Audiovisual e Cinema 5,5%
Não Possui 5,2%
Jornalismo e outros 3,5%
Radio e TV 3,2%
Relações Públicas 1,5%
Não Informado 1,2%
Audiovisual e Cinema e outros 1,2%
Publicidade e propaganda e outros 0,9%
Radio e TV e outros 0,6%
Relações Públicas e outros 0,3%
Editoração 0,3%

Indicativos do questionário on-line: Importância da instrução na área de


atuação
Para definir o grau de importância da formação educacional na atuação profissional
foi feita a pergunta abaixo, que classifica a formação como muito importante,
importante, pouco importante ou nenhuma, para o caso de profissionais
autodidatas.

Tabela 31: Índice da área de importância do grau de instrução

Importância da instrução formal na área de atuação Quant. Índice (%)


Nenhuma. Sou autodidata 4 1,2
Pouco Importante 15 4,4
Importante 104 30,1
Muito Importante 222 64,3
Total Geral 345 100

64,3% dos profissionais responderam que a instrução formal é muito


importante em sua área de atuação. 30,1% disseram que a instrução é importante,
4,4% reponderam pouco importante e 1,2% que a instrução formal não tem
nenhuma importância, por serem autodidatas.

124
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 30: Gráfico do índice da área de importância do grau de instrução

Muito Importante 64,3%

Importante 30,1%

Pouco Importante 4,4%

Nenhuma. Sou autodidata 1,2%

Indicativos do questionário on-line: Estágio


A pesquisa também buscou identificar a presença de estagiários e ex-estagiários
no mercado de trabalho.

Tabela 32: Índice de estagiário

É / foi estagiário na área de comunicação Quant. Índice (%)


Não 85 24,6
Sim 260 75,4
Total geral 345 100

Mais de 75,4% dos profissionais foram estagiários na área de comunicação.


Apenas 24,6% não estagiaram.

Figura 31: Gráfico do índice de estagiário


Não Sim

24,6%

75,4%

125
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Indicativos do questionário on-line: Importância do estágio


A fim de definir qual é o grau de importância que o estágio tem na formação
profissional, foi feita a pergunta abaixo:

Tabela 33: Índice de importância do estágio

Importância do estágio na profissão Quant. Índice (%)


Não fui estagiário 17 5
Pouco Importante 42 12
Importante 89 26
Muito Importante 197 57
Total geral 345 100

Fonte: Federação Nacional dos Jornalistas

57% das pessoas que responderam o questionário acham que o estágio é/


foi muito importante na vida profissional, 26% acham que é importante, 12%
acham pouco importante e 5% responderam que não foram estagiários.

Figura 32: Gráfico do índice de importância do estágio

126
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Atuação no mercado de trabalho da Comunicação


Profissões regulamentadas
A regulamentação de uma profissão é obtida e garantida por leis, decretos-leis,
decretos, instruções normativas, portarias e resoluções emanadas dos poderes
públicos e dos conselhos profissionais. No campo da Comunicação, foram
encontradas as regulamentações para as das áreas de Jornalismo, Publicidade,
Radialismo, Relações Públicas e Cinema. Essa fase da pesquisa buscou informações
mesmo para as profissões que não tem exigência legal de diploma de graduação
para o exercício profissional e procurou e localizou dados incompletos sobre
pisos salariais e condições de trabalho. Observou-se que toda a regulamentação
encontrada data das décadas de 1960 ou 1970 e não foi atualizada, além de não
abranger áreas interdisciplinares ou profissões da habilitação de Editoração. A
falta de definições claras sobre pisos salariais ou formação mínima exigida torna
difícil definir qual é a situação legal dos profissionais que atuam nessas áreas de
trabalho.
Enquanto sociedade civil, os sindicatos, associações representativas das
categorias, trabalham em criar regimentos, regulações e fixar pautas de discussões
que contribuam com a legitimidade dos profissionais no exercício de suas
funções. Pela própria dinâmica desses movimentos sindicais, muitas discussões
são locais e tomam formas diferentes nas diversas regiões do país, tanto em função
de especificidades político-econômicas quanto de interesses específicos de cada
uma dessas organizações, é o caso dos pisos salariais que variam em casa região
pesquisada.
A etapa da pesquisa que buscou compreender a situação atual das
regulamentações coletou dados na legislação brasileira, assim como documentos
de classificação profissional do Ministério do Trabalho. No que tange aos pisos
salariais foram utilizados documentos fornecidos por sindicatos e associações.
Ao final desse tópico serão apresentados os resultados obtidos com as respostas
do questionário online aplicado, objetivando a identificação das ocupações
emergentes e possíveis caracterizações.

Profissões regulamentadas por lei


Jornalismo
A profissão de jornalista foi regulamentada pelo Decreto nº 83.284, de 13 de março
de 1979. O decreto define quais são as atribuições dos jornalistas, a documentação
necessária para registro profissional e as atribuições de diretor de veículo de
imprensa. Segundo o decreto, os jornalistas podem desempenhar as funções
de redator, noticiarista, repórter, repórter de setor, rádio repórter, arquivista-

127
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

pesquisador, revisor, ilustrador, repórter fotográfico, repórter cinematográfico,


diagramador, editor, secretário, subsecretário, chefe de reportagem e chefe de
revisão.
As atividades dos assessores de imprensa não são contemplados pelo decreto.
A não demarcação pela lei propicia discussões teóricas e dentro do mercado de
trabalho sobre a atuação dos jornalistas nessa função específica como similar a dos
profissionais de Relações Públicas.
Aguardam-se alterações para o exercício da profissão de jornalismo. A
proposta está em discussão no Senado através da votação da proposta de emenda
constitucional nº 33, de 2009, que propõe a inserção do artigo 220-A na
Constituição Brasileira. A matéria já foi incluída na Ordem do Dia e até o dia 15
de novembro de 2010 não havia sido votada. Existe uma polêmica em torno da
exigência ou não do diploma para os jornalistas atuarem no mercado de trabalho.
Esse caso será detalhadamente explanado no capítulo Questões Sensíveis.

Radialismo
A regulamentação desta profissão considera radialista os empregados de empresas
de radiodifusão que exerçam as funções dispostas pelo decreto nº 84134, de 30
de outubro de 1979. O texto descreve o que são empresas de radiodifusão, a
documentação necessária para registro profissional, detenção de direitos autorais,
duração, condições de trabalho e divide as diversas funções dos radialistas nas três
grandes categorias: administração, produção e técnica.
Na classificação das funções dos radialistas, segundo o decreto de 1979,
observa-se a inclusão de profissionais de outras áreas do conhecimento. Entende-
se que profissionais como cabeleireiros, técnicos de manutenção, eletricistas
e cenógrafos podem prestar serviços em produções de áudio e vídeo. Sugere-
se que na próxima atualização da regulamentação esses profissionais seguem a
regulamentação de suas atividades principais.
A falta de atualização nessa legislação não contempla os profissionais das
mídias digitais, de modo que a classificação inclui profissões hoje em vias de
extinção, como a de editor de videoteipe, que foram substituídas por outras que
realizam funções semelhantes em outros equipamentos.

Publicidade e Propaganda
O decreto nº 57.690, de 1º de fevereiro de 1966 define como publicitário os
profissionais que atuam em agências de propaganda, veículos de comunicação
ou empresas que produzam “qualquer forma remunerada de difusão de idéias,

128
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

mercadorias, produtos ou serviços, por parte de um anunciante identificado”. O


texto define os critérios da ética profissional, documentos e informações sobre o
registro profissional, fiscalização e penalidades, mas não diz quais são as funções
que esses profissionais podem exercer dentro de uma empresa. Pelo decreto, não
existe a necessidade de diploma de graduação para profissionais de publicidade e
propaganda.

Relações Públicas
A profissão de Relações Públicas foi regulamentada pelo decreto 5.377 de 11 de
fevereiro de 1967, que define como o objeto geral da profissão o esclarecimento e
a compreensão mútua entre as instituições públicas, privadas e grupos ou pessoas
as quais estejam ligadas. O texto jurídico versa sobre as atividades específicas
dos profissionais de Relações Públicas, o registro, o exercício profissional e exige
diploma de graduação para esses profissionais.

Cinema
Os profissionais de Cinema aparecem na legislação que dispõe sobre a
regulamentação dos profissionais de artista e técnico em espetáculos de
diversão: o decreto nº 82.385, de 5 de outubro de 1978. O texto denomina
artista o profissional que cria, interpreta ou executa obra de caráter cultural
de qualquer natureza para efeito de exibição ou divulgação pública, através de
meios de Comunicação de massa ou em locais onde se realizam espetáculos de
diversões públicas; e como técnico em espetáculos de diversão o profissional
que, mesmo em caráter auxiliar, participa, individualmente ou em grupo, de
atividade profissional ligada diretamente à elaboração, registro, apresentação ou
conservação de programas, espetáculos e produções. O texto jurídico explicita
que não estão inclusos nesta categoria os profissionais que prestam serviços a
empresas de radiodifusão.
Essa mesma legislação incorpora, além dos profissionais do Cinema, os
profissionais do circo e de fotonovelas. A regulamentação dispõem de anexo no
qual estão as descrições das atividades correspondentes a cada profissional.

Editoração
A profissão de Editoração ainda não possui regulamentação.

129
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Classificação Brasileira de Ocupações


No Brasil, além das leis e decretos, existem outros documentos que tratam da
classificação ou caracterização das profissões e ocupações. É o caso da Classificação
Nacional de Atividades (CNA), produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), e a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), produzida
pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE). Esta última foi analisada
e selecionada como parte do material documental analisado nessa pesquisa,
objetivando compreender a configuração atual da regulamentação profissional.
Essa escolha levou em conta que este documento foi recentemente atualizado,
em 2008, e compreende a multiplicidade de classificações usada na Brasil, numa
tentativa de unificá-las, além descrever a experiência e a formação necessária para
cada profissão.
O documento, Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), foi produzido
por uma equipe de pesquisadores e profissionais do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI), reconhece, nomeia e codifica os títulos,
descreve as atividades e características do mercado de trabalho.
A CBO define como ocupação uma agregação de empregos ou trabalhos. Na
edição as ocupações são catalogadas e separadas em grandes grupos de atividades,
de acordo com a natureza do trabalho e em níveis de competência, relacionados
à amplitude e responsabilidade das atividades desenvolvidas pelo profissional.
Para esta pesquisa foram consultados os seguintes grupos: (a) Membros
superiores do poder público, dirigentes de organização de interesse público e de
empresas e gerentes, que não tem nível de competência definido; (b) Profissionais
das Ciências e das Artes, que são os profissionais com formação superior; e (c)
Profissionais de Nível Técnico. Em cada profissão da área da Comunicação
identificada foram recolhidas as informações de descrição sumária e formação e
experiência.

Considerações sobre a legislação para a área de comunicação


Comparando as informações disponíveis na legislação, sindicatos e na Classificação
Brasileira de Ocupações percebe-se que a atuação dos profissionais pode ser
vista de forma muito diferenciada. A CBO leva em consideração a atuação dos
profissionais no mercado de trabalho e apresenta informações que parecem
estar próximas das recebidas através das respostas coletadas pelo questionário da
pesquisa online.

130
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Pisos salariais
Os pisos salariais para os profissionais de Comunicação Social são definidos por
sindicatos e associações. Durante a pesquisa foi observado que nem todas as
regiões disponibilizam dados ou que algumas habilitações não tem pisos definidos,
como é o caso dos profissionais de cinema. A partir do levantamento dos dados
disponíveis foi possível traçar a variação dos salários por região e calcular o salário
médio nas habilitações de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Cinema,
Audiovisual e Rádio e TV. Não foi possível encontrar definições para os pisos
salariais dos profissionais de Relações Públicas e Editoração.

Jornalismo
O cálculo para o salário médio da profissão de Jornalismo para as regiões do Brasil
foi feito a partir dos dados obtidos da Federação Nacional dos Jornalistas, onde
é fornecido o salário normativo que foi fixado pelo Tribunal do Trabalho, por
estados para os anos 2009/2010. Os dados foram agrupados em regiões, dentro
dos estados onde havia subdivisões como emissoras de televisão e rádios, empresas
jornalísticas da mídia eletrônica e impressa, sediadas em capitais e cidades do
interior etc. A partir do cálculo do salário médio desses estados e obteve-se uma
comparação do salário médio nas diversas regiões do Brasil, mostrada na tabela
abaixo.

Tabela 34: Salário Médio do jornalista nas regiões do Brasil-(2009-2010)

Norte Nordeste Centro-Oeste Sul Sudeste


R$1.288,02 R$1454,51 R$1.342,00 R$1576,52 R$1350,3

Fonte: Federação Nacional dos Jornalistas

Abaixo temos o gráfico de barras que é a representação da tabela acima, onde


fica clara a variação entre as regiões do Brasil. Sul e Sudeste tem os maiores salários
médios, enquanto o Norte tem o menor mínimo fixado, R$ 1,288,02.

131
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 33: Gráfico dos salários médios dos jornalistas nas regiões do Brasil.

1.800,00
1.600,00
1.400,00
1.200,00
Salários

1.000,00
800,00
600,00
400,00
200,00
0,00
norte Nordeste Centro -Oeste Sul Sudeste
salário mèdio R$ 1.288,02 R$ 1.454,51 R$ 1.342 R$ 1.576,52 R$ 1.350,30

Fonte: Federação Nacional dos Jornalistas

Metodologia de cálculo – variabilidade de salário


Foi usado o coeficiente de variação para medir a variabilidade dos salários nas
regiões do Brasil. Informações detalhadas sobre esses cálculos estatísticos constam
no Anexo 5 deste trabalho.

Tabela 35: Coeficientes de variação dos salários médio das regiões do Brasil

Norte Nordeste Centro-Oeste Sul Sudeste


Coeficiente de variação 16% 43% 34% 31% 36%
Norte Nordeste Centro-oeste Sul Sudeste
Coeficiente de variação 16% 43% 34% 31% 36%
Fonte: Federação Nacional dos Jornalistas

A maior variação de salários está na região Nordeste com 43%, as regiões


Centro-Oeste, Sul e Sudeste, variam da mesma forma, e a região Norte possui a
menor variabilidade dos salários. Essa variação mostra a falta de homogeneidade
dos dados sobre salário.

Salários médios para Capitais e Interiores dos Estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Espírito Santo
Existem indicativos de que os salários dos jornalistas nas capitais são maiores
em comparação ao interior. Com os dados obtidos da Federação Nacional dos
Jornalistas para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, foi

132
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

possível obter os salários médios para as capitais e interiores desses Estados. A


média dos salários de cada Estado foi obtida levando em consideração todas as
categorias profissionais indicadas pela tabela da FENAJ - Federação Nacional dos
Jornalistas, incluindo as horas extras e horas trabalhadas, segundo os indicativos
de salários Normativos 2009/2010. Abaixo temos a tabela com os salários médios
para a profissão de Jornalista na Capital e Interior nesses estados assim como os
coeficientes de variação.

Tabela 36: Salário médio dos jornalistas nas capitais e interiores

Capital Interior
Salários médios R$1.549,529 R$1.266,807
Coeficiente de variação 45% 41%
Fonte: Federação Nacional dos Jornalistas.

Observa-se que nas capitais destes estados o salário médio dos jornalistas
é maior em relação ao interior, e possui um coeficiente de variação de 45% em
relação à média. No interior existe uma variação de 41%.

Publicidade e Propaganda
A seguir será mostrado o salário médio normativo para as regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste, para o período 2010/2011, e para a região Nordeste 2008/2009.

Tabela 37: Salário médio para Publicidade e Propaganda

Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste


Salário Médio Normativo R$ 997,36 R$843, 7267 R$ 798,75 R$ 920,44
Coeficiente de variação 42,20% 29,30% 22,40% 7,20%
Fonte : Sindicatos brasileiros, ver nota de rodapé 373

Na tabela acima podemos observar que a região Centro-Oeste possui o menor


coeficiente de variação de 7,2%. A região Nordeste apresenta o maior coeficiente
73. Fonte: Sindicato dos Publicitários/DF, Sindicato dos Publicitários/PR , Sindicato das Agências de Propa-
ganda do Estado do Rio de Janeiro , Sindicato das Agências de Propaganda do Estado do Rio Grande Do Sul ,
Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de Santa Catarina , Sinapro/SP , Sinapro/GO , SINTERP/
BA , Sindicato dos Radialistas de Mato Grosso do Sul , SENAPRO/ES , Sinapro/PE, Sindicato Interestadual
dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual, SERTEB/SINTERP – BA, Sindicato dos
trabalhadores em empresas de radiodifusão e Televisão no estado de SP, Sindicato dos trabalhadores em empresas
de radio e televisão do RS/Sindicato das empresas de rádio e televisão no estado do RS, Sindicato dos Radialistas
de Mato Grosso do Sul.
133
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

de variação, de 42,2%, e tem um Salário Médio Normativo de R$ 997,36 relativo


ao período 2008/2009. Não foi possível calcular o Salário Médio Normativo da
região Norte, pois não há dados disponíveis.

Rádio e TV

Tabela 38: Obtenção do piso salarial médio normativo para Rádio e TV


Norte Sul Sudeste Centro-Oeste
Salário Médio Normativo R$ 550,00 R$ 788,58 R$ 785,00 R$ 852,93
Coeficiente de variação - 9,9% 17% -

Fonte: Sindicatos brasileiros, ver nota de rodapé 3

Conforme a tabela, a região Sul possui o menor coeficiente de variação


(9,9%) correspondendo a um Salário Médio Normativo de R$ 788,58. A região
Sudeste apresenta o maior coeficiente de variação (17%) e tem um Salário Médio
Normativo de R$ 785,00. Não foi possível calcular o Coeficiente de variação
das regiões Norte e Centro-Oeste, pois o dado disponível apenas informava um
valor para o Salário Normativo, que foi o assumido como salário médio para essas
regiões. Não obtivemos dados referentes à região Nordeste.

Audiovisual
Os dados disponíveis para o cálculo do piso Salarial Médio Normativo para
Audiovisual, não foi dividido por regiões, e sim em um único dado nacional. Para
estes dados, o Coeficiente de variação é de 43,6% que corresponde a uma Média
Salarial Normativa de R$ 858,99.

Tabela 39: Piso Salarial Audiovisual

Nacional/semanal
Salário Médio R$858,99
Fonte: Sindicatos brasileiros, ver nota de rodapé 3

Resultados do questionário: atuação profissional


Para melhor retratar as condições de trabalho, o questionário aplicado online
preocupou-se também com questões relativas à renda e à atuação dos profissionais
que trabalham no mercado da comunicação. Foram investigadas as seguintes
variáveis: renda, horas de trabalho, tempo de atuação na área e vínculo empregatício.

134
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Indicativos do questionário on-line: Renda


Os profissionais entrevistados foram perguntados sobre a renda das atividades
que desempenham na área da comunicação. Os resultados podem ser visualizados
abaixo:

Tabela 40: Índice da renda mensal


Renda mensal individual proveniente desta atividade Quant. Índice (%)
Não Informada 1 0,3
Até R$ 1.000,00 82 23,8
Entre R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00 82 23,8
Entre R$ 2.000,00 e R$ 3.000,00 49 14,2
Entre R$ 3.000,00 e R$ 4.000,00 30 8,7
Entre R$ 4.000,00 e R$ 5.000,00 27 7,8
Mais de R$ 5.000,00 74 21,4
Total Geral 345 100

Sobre a renda proveniente da atividade atual dos profissionais, 21,4%


responderam que ganham mais de R$ 5.000,00. As duas próximas rendas médias
são de até R$ 1.000,00 (23,8%) e de R$ 1.000,00 até R$ 2.000,00 (23,8%).

Figura 34: Histograma do índice da renda mensal

25 23,8% 23,8%
21,4%
20

14,2%
15
Índice

10 8,7% 7,8%

5
0,3%
0
Não Até 1.000 1.000 - 2.000 - 3.000 - 4.000 - Mais de
Informada 2.000 3.000 4.000 5.000 5.000
Renda mensal individual

Indicativos do questionário on-line: Horas de trabalho


Além da renda, buscou-se saber qual era a carga de trabalho dos profissionais
da Comunicação.

135
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 41: Índice de horas de trabalho

Horas de trabalho por dia Quant. Índice (%)


Até 4 horas 40 11,6
Entre 4 e 8 horas 135 39,1
Entre 8 e 12 horas 141 40,9
Mais de 12 horas 29 8,4
Total geral 345 100

A maioria dos profissionais trabalham entre 8 e 12 horas por dia (40,9%).


39,1% trabalham entre 4 e 8 horas por dia, 11,6% até 4 horas e 8,4% mais de
12 horas por dia.

Figura 35: Histograma do índice de horas de trabalho

12,00
40,9%
39,1%
10,00
Função densidade

8,00

6,00

4,00 11,6%
8,4%
2,00

0,00
Até 4 horas 4-8 8 - 12 Mais de 12 horas
Média de horas de trabalho

Indicativos do questionário on-line: Vínculo empregatício


O questionário buscou saber qual é a situação de vínculo empregatício dos
profissionais da Comunicação Social, assim como os freelancers e desempregados.

136
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 42: Índice do vínculo empregatício

Vínculo empregatício Quant. Índice (%)


Não – Desempregado 14 4,1
Sim – Contrato 69 20
Não – Freelancer 79 22,9
Sim - Carteira Assinada 183 53
Total geral 345 100

Sobre a questão de vínculo empregatício, 53% dos profissionais responderam


que tem vínculo com carteira assinada, 20% com contrato e 22,9% são freelancer
e não tem vínculo. O restante (4,1%) das pessoas disse estar desempregada.

Figura 36: Gráfico do índice do vínculo empregatício

Sim - Carteira Assinada 53%

Não - Freelancer 22,9%

Sim - Contrato 20%

Não - Desempregado 4,1%

Indicativos do questionário on-line: Vínculo empregatício / tipo de


organização
Aos entrevistados que responderam possuir vínculo empregatício, buscou-
se saber para que tipo de organização ou empresa trabalham, conforme tabela
abaixo:

137
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 43: Índice do tipo de organização

Se tem vínculo empregatício, qual o tipo de organização Quant. Índice (%)


Terceiro Setor 21 6
Pequena Empresa 67 19
Órgão Governamental / Governo 84 24
Grande Empresa 85 25
Não possuo vinculo empregatício 88 26
Total Geral 345 100

Aos entrevistados que responderam que possuíam vínculo empregatício,


a pesquisa buscou saber a que tipo de organização estão vinculados. 26%
responderam que não possuem vínculo, 25% possuem vínculo com grande
empresa e 24% com Órgão Governamental. O restante tem vínculo com pequena
empresa (19%) e com o terceiro setor (6%).

Figura 37: Gráfico do índice do tipo de organização

Indicativos do questionário on-line: Clientes freqüentes


Aos entrevistados que responderam não possuir vínculo empregatício, o
questionário buscou informações sobre o tipo de organizações que atendem. As
respostas estão abaixo.

138
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 44: Índice de clientes freqüentes

Clientes mais freqüentes Quant. Índice (%)


Grande empresa e outros 5 1,5
Terceiro setor e outros 5 1,5
Terceiro setor 16 4,6
Grande empresa 22 6,4
Governo 26 7,5
Pequena empresa e outros 34 9,9
Pequena empresa 35 10,1
Possuo vinculo empregatício 202 58,5
Total 345 100

Dentre os profissionais que responderam não possuir vínculo empregatício


(41,4%), 10,1% tem entre os clientes mais frequentes as pequenas empresas e
9,9% pequenas empresas e outros. 7,5% têm como cliente freqüente o governo,
6,4% grandes empresas e 4,6% o terceiro setor.

Figura 38: Gráfico do índice de clientes frequentes

Possuo vinculo empregatício 58,5%

Pequena empresa 10,1%

Pequena empresa e outros 9,9%

Governo 7,5%

Grande empresa 6,4%

Terceiro setor 4,6%

Terceiro setor e outros 1,5%

Grande empresa e outros 1,5%

Indicativos do questionário on-line: Tempo de atuação na área


O questionário ainda procurou saber há quanto tempo os profissionais
atuam na área.

139
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 45: Índice de tempo de trabalho na comunicação

Tempo de trabalho na área de comunicação Quant. Índice (%)


Menos de 1 ano 26 7,5
1 a 3 anos 87 25,2
3 a 6 anos 72 20,9
6 a 10 anos 40 11,6
Mais de 10 anos 120 34,8
Total Geral 345 100

Das respostas obtidas sobre o tempo de atuação na área de comunicação


34,8% dos profissionais trabalham há mais de 10 anos, 11,6% de 6 a 10 anos,
20,9% de 3 a 6 anos, 25,2% de 1 a 3 anos e 7,5% há menos de um ano.

Figura 39: Histograma do índice de tempo de trabalho na comunicação

34,8%

25,2%
20,9%

11,6%
7,5%

Menos de 1 ano 1 a 3 anos 3 a 6 anos 6 a 10 anos Mais de 10 anos

Indicativos do questionário on-line: Tempo de trabalho na atividade atual


A fim de obter informações sobre a circulação de profissionais no mercado
de trabalho, o questionário apresentou uma questão sobre o tempo de trabalho
no emprego ou atividade atual.

140
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Tabela 46: Índice do tempo de trabalho na atividade atual

Índice
Tempo de trabalho na atividade atual Quant. (%)
Menos de 1 ano 76 22,0
1 a 3 anos 110 31,9
3 a 6 anos 58 16,8
6 a 10 anos 36 10,4
Mais de 10 anos 65 18,9
Total Geral 345 100

Sobre a atividade atual, 18,9% dos profissionais responderam que trabalham


há mais de 10 anos, 10,4% de 6 a 10 anos, 16,8% de 3 a 6 anos, 31,9% de 1 a 3
anos e 22% há menos de 1 ano.

Figura 40: Histograma do índice do tempo de trabalho

25
22%

20
Função densidade

31,9%
15

10
16,8% 18,9%
5 10,4%

0
Menos de 1 1 a 3 anos 3 a 6 anos 6 a 10 anos Mais de 10
ano anos
Tempo na atividade atual

Tendências profissionais para o mercado de trabalho da comunicação


As profissões emergentes estão relacionadas diretamente com a tecnologia, e a
alteração no mercado da comunicação não está apenas ligado ao surgimento
dessas profissões, mas também aos profissionais tradicionais, que tiveram que se

141
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

adaptar a nova ordem dada pelo mercado.


As mídias digitais são responsáveis pela nova maneira de distribuir
informação, e com isso abriu um leque de opções para a grande demanda de
egressos. A nova configuração do mercado se baseia nessas mídias que precisa cada
vez mais de um profissional com conhecimentos específicos. Essa análise pode
ser comprovada na lista de profissões emergentes. Não há definições oficiais para
as novas profissões, no entanto, foi possível verificar em uma pesquisa através da
internet a forma como alguns autores e sites especializados nomeiam e especificam
tais ocupações/funções. A fonte de referência aparece entre parênteses.

Profissões emergentes
Analista de palavras-chave
Trabalha principalmente com links patrocinados pelo Google, Yahoo e outros
sistemas de busca. Escolhe as palavras-chaves mais adequadas, compõe o texto
dos anúncios, acompanha o desempenho dos anúncios e define estratégias.
Este profissional é normalmente encontrado em agência de marketing digital e
campanhas74.

Animador Cultural
Apresentam e/ou animam programas de rádio e televisão, festas populares,
eventos, atrações circenses ou outros tipos de espetáculos; orientam-se por
roteiros ou fazem improvisações para divertir, informar e/ou instruir o público,
telespectador ou ouvinte75.

Animador
É quem anima os personagens e cenários, do movimento e faz a interatividade
dos personagens com o usuário. Nota dos autores: durante a pesquisa não foi
encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/ocupação.
Animação 2D e 3D, nesse tipo de animação, participam do processo profissionais
específicos para cada área: conceito original, modelagem, texturização, iluminação,
ambiente, artista especializado em personagem.
Arquiteto da informação
Desenvolvem e implantam sistemas informatizados dimensionando requisitos
e funcionalidade dos sistemas, especificando sua arquitetura, escolhendo
74. Fonte: http://www.e-commerce.org.br/profissoes-internet.php.
75. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho

142
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

ferramentas de desenvolvimento, especificando programas, codificando


aplicativos. Administram ambiente informatizado, prestam suporte técnico ao
cliente, elaboram documentação técnica. Estabelecem padrões, coordenam
projetos, oferecem soluções para ambientes informatizados e pesquisam
tecnologias em informática76.

Blogger profissional
Administra a publicação de conteúdo e a manutenção de um blog. Pode trabalhar
em blogs corporativos ou para si próprio, obtendo receita de publicidade vinda de
seu blog. Pesquisa e publica conteúdo com regularidade. Deve escrever bem, ter
muita familiaridade com Internet, suas peculiaridades e conhecer bem ferramentas
de publicação de conteúdo como Blogger e Wordpress77.

Consultor BI
Business Intelligence é um conjunto de processos realizados em uma atividade
profissional de modo a torná-lo mais eficiente. A eficiência vem do fato de que as
decisões partem de dados que são analisados. Ao invés de decidir por intuição ou
pela percepção do que acontece, passa-se a decidir baseando-se em informações,
em dados que são colhidos no próprio negócio e fora dele. A maioria dos dados é
obtida por meio de ferramentas de automação comercial78.

Contra Hacker
Profissional que protege o sistema contra invasões. Nota dos autores: durante a
pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/
ocupação.

Copywriter
Profissional que atua em mídias digitais, tendo como objeto de trabalho não só
o texto propriamente dito, mas também toda e qualquer informação textual ou
visual que seja veiculada. Sendo assim, sua preocupação não deve estar restrita
à precisão, qualidade e criatividade do texto, mas também a questões ligadas à
organização e à facilidade de acesso à informação79.

76. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho - (5, 32, 33).


77. Fonte: http://www.e-commerce.org.br/profissoes-internet.php
78. Fonte: http://www.mainretail.com.br/artigos/business-intelligence.htm
79. Fonte: http://www.cidade.usp.br/projetos/dicionario/webwriter.htm

143
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Design de games / Programador de Jogos Digitais


O profissional “Programador de jogos digitais” além de atuar na área específica
de desenvolvimento de jogos, poderá também atuar em áreas de: animação,
modelagem tridimensional em geral, Programação de computadores, enfim, um
leque de opções onde o egresso aplicará os conhecimentos construídos ao longo
do curso80.

Educomunicadores
A educomunicação tem como meta construir a cidadania, a partir do pressuposto
básico do exercício do direito de todos à expressão e à comunicação81.

Engenheiro de Plataforma
Operam sistemas de computadores e microcomputadores, monitorando o
desempenho dos aplicativos, recursos de entrada e saída de dados, recursos
de armazenamento de dados, registros de erros, consumo da unidade central
de processamento (cpu), recursos de rede e disponibilidade dos aplicativos.
Asseguram o funcionamento do hardware e do software; garantem a segurança
das informações, por meio de cópias de segurança e armazenando-as em local
prescrito, verificando acesso lógico de usuário e destruindo informações sigilosas
descartadas. Atendem clientes e usuários, orientando-os na utilização de hardware
e software; inspecionam o ambiente físico para segurança no trabalho82.

Engenheiro de software
Projetam soluções em tecnologia da informação, identificando problemas e
oportunidades, criando protótipos, validando novas tecnologias e projetando
aplicativos em linguagem de baixo, médio e alto nível. Programam soluções
em tecnologia da informação, gerenciam ambientes operacionais, elaboram
documentação, fornecem suporte técnico e organizam treinamentos a usuários83.

Especialista em SEO
SEO é a sigla para Search Engine Optmization, em português, mecanismo de
otimização de busca. Pesquisa, analisa e realiza modificações no site, de forma
a melhorar o posicionamento nos sites de busca. Com o aumento do valor do
80. Fonte: http://curitiba.ifpr.edu.br/?page_id=1337
81. Fonte: http://www.usp.br/nce/aeducomunicacao/
82. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho
83. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho
144
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

espaço publicitário na web, conseguir um bom posicionamento nos sites de


busca orgânica tornou-se cada vez mais importante, e mais difícil em razão da
concorrência84.

Gamer
É o que testa a jogabilidade, a navegação e a facilidade do game. O gamer, na
maioria das vezes, se forma em cursos de computação e Design de Games. Nota
dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências
para essa profissão/ocupação.

Gerente de redes sociais


Um profissional que monitora as diversas comunidades existentes na rede mundial
de computadores. O papel dele é estar atento ao que se fala sobre uma empresa
ou marca em fóruns, sites de relacionamento e blogs. Ele precisa atuar como uma
ponte entre o cliente e as pessoas certas da empresa para a qual trabalha85.

Gestores de comunicação comunitária.


Nota dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com
referências para essa profissão/ocupação.

Hacker
Profissional contratado para tentar entrar em sistemas, e apontar possíveis falhas.
Nota dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com
referências para essa profissão/ocupação.

Ilustrador para videogame


É quem cria os personagens e cenários no papel com base na descrição do roteiro
o do designer do game. Nota dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada
nenhuma fonte com referências para essa profissão/ocupação.

Marketólogo
Atua na definição do planejamento estratégico da empresa; define e executa
84. Fonte: http://www.e-commerce.org.br/profissoes-internet.php
85. Fonte: http://www.e-commerce.org.br/profissoes-internet.php

145
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

plano de marketing e vendas; gere a qualidade da venda. Participa da definição


de políticas de recursos humanos. Comunica-se primordialmente para disseminar
informações ao público de interesse da empresa86.

Observadores midiáticos
Observam a cobertura midiática de certos temas, ajudam a perceber e a
compreender os mecanismos nem sempre evidentes de formação de opinião,
os vícios e os valores que permeiam as estratégias das empresas jornalísticas e
os próprios procedimentos dos jornalistas envolvidos. As práticas de análise e
crítica dos media watchers, observadores midiáticos, visam, entre outros objetivos,
contribuir para o aperfeiçoamento dos meios de comunicação87.

Ombudsman
É ele quem resolve solicitações de clientes, atende a demandas de parceiros
comerciais, de órgãos reguladores e de defesa do consumidor e ainda responde
cartas enviadas à diretoria e acionistas88.

Produtor audiovisual
Implementam projetos de produção. Para tanto criam propostas, realizam a pré-
produção e finalização dos projetos, gerindo os recursos financeiros disponíveis
para o mesmo89.

Research
Profissional da indústria de jogos eletrônicos responsável pela pesquisa para
contextualização dos cenários e roteiro do game. Nota dos autores: durante a
pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/
ocupação.

Research social web


A atividade é parecida com a do profissional GERENTE DE REDES SOCIAIS,
porém ele serve mais como pesquisador de oportunidades de mercado para
empresas e produtos. Geralmente este profissional é contratado por JOB. Nota
86. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho
87. Fonte: http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/GT8%20-%20005.pdf
88. Fonte:http://www.elancers.net/spl_v3/docs_imprensa/191009_valoreconomico.pdf ).
89. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho

146
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências
para essa profissão/ocupação.

Roteirista de games
Profissional responsável pela criação da história de um jogo mantendo a
coerência, como em uma novela. Esse profissional produz pautando-se em lógicas
de interatividade entre jogo e jogador90.

Roteirista de software social


Profissional responsável pelo desenvolvimento e construção do roteiro de
navegação em um software social. Nota dos autores: durante a pesquisa não foi
encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/ocupação.

Sonoplasta e/ou musico de games


Profissional responsável pela parte sonora dos jogos. Nota dos autores: durante a
pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/
ocupação.

Web designer
Profissional responsável pela elaboração de projetos estéticos e funcionais de um
web site. Requerem habilidades multidisciplinares como design e programação,
assim como referências sobre usabilidade e acessibilidade91.

Web master
Desenvolvem e dimensionam requisitos de funcionalidade dos sistemas,
especificando sua arquitetura, escolhendo ferramentas de desenvolvimento,
especificando programas, codificando aplicativos. Administram ambiente
informatizado, prestam suporte técnico ao cliente, elaboram documentação
técnica. Estabelecem padrões, coordenam projetos, oferecem soluções para
ambientes informatizados e pesquisam tecnologias em informática92.

90. Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,AA1304050-5604,00.html


92. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho - (5, 32, 33).
91. Nota dos autores: durante a pesquisa não foi encontrada nenhuma fonte com referências para essa profissão/
ocupação.

147
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Webwriter
O Webwriter escreve texto jornalístico e realiza pesquisas para embasar o conteúdo
publicado. Além de saber escrever bem, precisa estar familiarizado com a web,
conhecer o perfil do internauta e padrão de comunicação mais eficiente neste
meio93.

Programador de internet
Desenvolvem sistemas e aplicações, determinando interface gráfica, critérios
ergonômicos de navegação, montagem da estrutura de banco de dados e
codificação de programas; projetam, implantam e realizam manutenção de
sistemas e aplicações; selecionam recursos de trabalho, tais como metodologias
de desenvolvimento de sistemas, linguagem de programação e ferramentas de
desenvolvimento. Planejam etapas e ações de trabalho94.

Programador de multimídia
Programador de aplicativos educacionais e de entretenimento; Programador de
CD-ROM95.

Panorama geral sobre a evolução da infraestrutura brasileira de


comunicação
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), implementada em 1997, tem
como seu principal objetivo promover o desenvolvimento das telecomunicações
do país. Suas ações produzem profundas alterações no campo de trabalho do
comunicador e de outros profissionais que atuam no mercado de trabalho da
comunicação.
A qualidade e a evolução das tecnologias das comunicações é um imperativo
estratégico para garantir a agilidade do trabalho do comunicador social, e por
consequência, o acesso, garantido por lei, dos cidadãos à informação e cultura.
Todos os dados a seguir foram fornecidos pela Anatel, em um relatório sobre
o panorama das telecomunicações brasileiras no ano de 2009. Abordar-se-á em
um primeiro momento o crescimento dos acessos à banda larga, depois alguns
dados sobre os serviços de TV por assinatura. Ao final serão fornecidas breves
93. Fonte: http://www.e-commerce.org.br/profissoes-internet.php.
94. A ocupação Programador de internet é chamada também pela CBO como Programador de sistemas de in-
formação / Programador de computador / Programador de processamento de dados / Programador de sistemas
de computador / Técnico de aplicação (computação) / Técnico em programação de computador. Fonte: CBO,
Ministério do Trabalho
95. Fonte: CBO, Ministério do Trabalho

148
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

informações sobre a digitalização da TV e as possíveis influências no trabalho do


comunicador.

Acesso a Internet
Desde 2004 o Brasil vem apresentando vertiginoso crescimento anual dos acessos
a internet rápida, haja vista que em 2009 o país contou com 21,7 milhões de
acessos à internet rápida, sendo 13 milhões de acessos fixos e 8,7 milhões de
acessos móveis. É esse potencial informacional que garante a migração de grande
parte dos trabalhos de Comunicação Social tem para a Internet. O comunicador
constrói texto, vídeo e imagem ou aplicativos utilizando uma linguagem
transmídia. A extensão do telejornal ou dos anúncios publicitários para a internet
demanda pouco investimento e devido ao aumento de acessos rápidos cada vez
mais usuários têm acesso a conteúdos online.

Figura 41: Gráfico da evolução dos acessos do serviço de comunicação multimídia

Fonte: Anatel

TV por assinatura
De 2008 a 2009 o número de assinantes dos serviços de TV por assinatura
registrou crescimento de quase 20% o maior aumento percentual da década. Esse
serviço somava 7,5 milhões de assinantes, conforme figura 42. E Considerando-
se o numero médio de 3,3 pessoas por domicílio segundo o IBGE na pesquisa
nacional de domicílios feita em 2008, os serviços de TV por Assinatura eram
distribuídos a quase 25 milhões de pessoas.

149
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Figura 42: Gráfico da evolução da TV por assinatura

Fonte: Anatel

A implementação em escala comercial da TV digital no Brasil é outro


fator de grande relevância para o trabalho do comunicador. Essa afirmação pode
ser abstraída dos documentos produzidos pela Anatel, conforme observado na
citação abaixo:
Em 2009 foi iniciada a interiorização do sinal da TV Digital no Brasil.
Tiveram inicio as transmissões nas cidades de Vitória/ES e Aracaju/SE e nas
regiões interioranas do Pará, de Minas Gerais, e de Santa Catarina. Ao final do
Ano o serviço de TV Digital terrestre estava presente em 26 milhões de cidades
brasileira, alcançando mais de 60 milhões de pessoas. A Anatel já incluiu no Plano
Básico de Televisão Digital a distribuição de 2,7 mil canais para usos como pares
digitais em estações existentes nas regiões mais populosas do país, onde o espectro
radioelétrico tem sua ocupação praticamente esgotada. Outras 3,3 mil estações
em funcionamento devem ter canal digital indicado nos próximos dois anos.
A designação de um par digital para cada canal analógico é fundamental para
permitir a transição entre as duas tecnologias, que deverá ser concluída até 2016”
(Anatel, 2009, p.24)
O plano básico para a TV Digital brasileira prevê a transmissão simultânea
de até oito sub-canais ao mesmo tempo para cada emissora, se usado em sistema
standart. Espera-se um aumento e uma revalorização do trabalho do comunicador,
dada a patente necessidade de mais profissionais para produzir muito mais
conteúdos audiovisuais digitais do que existe atualmente.

150
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Panorama geral sobre a TV Digital


Com o início das transmissões do sinal digital na TV brasileira questões
relacionadas ao mercado de trabalho, relativas aos novos produtos, sistemas,
tecnologias, formatos e métodos, ganham expressividade. As mudanças requeridas
aos profissionais que atuam e atuaram nessa área atingem às questões de forma e
conteúdo, infra-estrutura e manuseio de equipamentos. Os profissionais para este
mercado de trabalho específico necessitarão de formação e treinamento.
Nessa direção, pelo menos dois documentos de referência foram produzidos
e publicados nos últimos anos: o documento “Impactos Ocupacionais e
Educacionais da TV Digital no Brasil”, produzido pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem (SENAI), em 200896; e o “Plano de Capacitação: Necessidades
de Formação de Recursos Humanos no Contexto da Implantação de TV Digital”
(organizado pela fundação de direito privado CPqD, a partir de acordo de
cooperação técnica com o Ministério das Comunicações para implementação da
TV Digital no Brasil), em 2006, prevê o surgimento de novos cargos, funções e
profissões para o mercado de trabalho originado com a TV Digital.

Tendências profissionais do comunicador social para o mercado de trabalho


da TV digital
O sinal em alta definição da TV digital vem sendo transmitido desde 2007. As
transmissões que prevem o modelo de interatividade já começaram a ser provadas
em pequena escala. Todo usuário que possua uma TV com o selo HDTVi pode
receber o sinal e os recursos interativos.
Devido as diferenças de funções, processos e fluxos informacionais,
atividades e novos equipamentos em uso, os profissionais da área de comunicação
devem ser capacitados especificamente para atuar no segmento da TV digital.
O documento do SENAI pondera considerações sobre cursos técnicos,
pós-técnicos, profissionalizantes, tecnólogos e de aperfeiçoamento profissional e
propõe recomendações de mudanças nas diretrizes para esse tipo de ensino e para
o próprio aperfeiçoamento de professores.
O documento do CPqD observa as mudanças referentes aos profissionais
de nível superior; e prevê como será os perfis dos novos tipos de profissionais
envolvidos no mercado de trabalho para a TV Digital, e quais cursos são os mais
adequados na formação desses profissionais.

96. Disponível em http://comunicacioneselectronicas.com/downloads/SENAI/Livro_TV_Digital_SENAI.


pdf )

151
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Documento SENAI - Impactos Ocupacionais e Educacionais da TV Digital


no Brasil
Para os autores do documento “Impactos Ocupacionais e Educacionais da TV
Digital no Brasil”, há alguns perfis profissionais que estarão em voga, a maioria da
área da tecnologia da informação, telecomunicações e de Comunicação Social.
As principais mudanças que ocorrerão no cenário brasileiro de TV Digital,
quanto à mão de obra, podem ser divididas em quatro partes que deverão formar
a grade de profissionais envolvidos com as novas tecnologias, essas áreas são as
seguintes: fabricação de equipamentos; produção de conteúdo; codificação,
multiplexagem e agregação de programação; e, distribuição, conectividade,
manutenção, suporte e cobrança. (SENAI 2008)
O mesmo documento prevê mudanças na forma de produção de conteúdo
para os profissionais da Comunicação Social, devido às mudanças que ocorrerão.
Estas, podem ser divididas em
- Mudanças Estéticas: Graças a alta definição as emissoras terão que
aumentar o padrão de qualidade da direção de arte dos programas, já que com
uma imagem de alta definição as imperfeições ficariam mais evidentes. O trabalho
do pessoal envolvido com a produção de arte, desde os cenários até maquiagem,
figurinos, iluminação, câmera, etc, deverá ser melhorado, nos mínimos detalhes.
(SENAI, 2008)
- Roteirização dos conteúdos visando a hipertextualidade: A TV
digital virá carregada por hipertextualidade. Os vários submenus e o canal de
retorno transformam o telespectador em usuário, que poderá criar suas rotas de
navegação nas várias programações existentes. A produção de conteúdo deverá
ser pensada, desde a sua concepção, levando em conta essa interatividade. Sendo
assim, o trabalho do comunicador exigirá maior criatividade e interação com
os profissionais da área das tecnologias da informação, que criam os aplicativos
interativos. (SENAI, 2008)
- Publicidade e o Marketing: essas áreas serão beneficiadas, em virtude
da possibilidade do usuário/consumidor poder interagir com os objetos na tela
da televisão, de forma semelhante à interação com o clique de mouse, em ações
como consulta de preços e finalização da compra. (SENAI, 2008)
- Educação: Outro benefício funcional da TV digital é sua utilização como
ferramenta de educação a distância. Os usuários poderão usar o canal de retorno
para enviar suas dúvidas e sugestões, melhorando esse tipo de educação que tende
a crescer. (SENAI, 2008)
O SENAI prevê a criação de inúmeros cursos de capacitação do profissional
para a TV Digital, incluindo cursos de aperfeiçoamento profissional, cursos

152
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

técnicos, pós-técnicos, e tecnólogos. A maioria dos cursos técnicos correspondem


à área de infraestrutura da transmissão e agregação de programação, tais como:
• Sistemas de informação para TV digital.
• Sistemas de recepção para TV digital.
• Sistemas de transmissão para TV digital.
• Produção para TV digital.
• Programação de dispositivos.
• Sistemas de interatividade.
• Sistemas de convergência tecnológica.
• Design para formato de TV digital.

Para que sejam atendidas as demandas por profissionais capacitados nessas


áreas específicas e especializadas, envolvendo tanto a produção de conteúdo –
mais relacionada a área da comunicação - quanto a parte da transmissão dos
dados aos usuários – mais próxima as áreas tecnológicas.

Documento CPqD - Plano de capacitação: Necessidades de Formação de


Recursos Humanos no Contexto da Implantação de TV Digital Terrestre no
Brasil
O CPqD publicou, dois anos antes do documento do SENAI, um plano de
capacitação, com as necessidades de formação de recursos humanos no contexto
da implantação da TV digital no Brasil. Segundo o estudo, foram propostos
diversos perfis para a atuação no cenário brasileiro, com base nos perfis de países
onde a TV Digital já está em funcionamento.
As mudanças referentes ao trabalho do comunicador serão correspondentes
à produção de conteúdos audiovisuais digitais. Algumas universidades já contam
com matérias que qualificam os alunos para a TV digital, porém, segundo o
CPqD, os conhecimentos que serão necessários para os futuros profissionais estão
presentes em grades curriculares de diferentes cursos em diferentes universidades,
por não existir ainda um curso superior voltado exclusivamente para a TV Digital,
apenas cursos de pós-gradução em nível de mestrado nas áreas de tecnologia
(Engenharia da Produção e de Telecomunicações, Tecnologias da Informação,
etc) e de Comunicação e Informação.
Os perfis relacionados abaixo são apenas dos profissionais da Comunicação
Social. Não foram computados os demais perfis profissionais que também

153
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

serão impactados com a as mudanças tecnológicas da TV Digital como os dos


cursos de Sistemas de Informação, Engenharia de Telecomunicação, Ciência da
Computação etc.

Profissões emergentes na TV digital97


Autor/Roteirista de programas interativos para TV Digital
Suas atividades incluem, além da concepção, a criação de um roteiro que
explicite o formato do programa. As habilidades requeridas desse profissional
são bastante generalistas, ou seja, não necessitam ter conhecimento de um tipo
específico de ferramentas ou tecnologias. Será necessário entender como funciona
a interatividade na TV Digital, quais os recursos disponíveis, o que é possível fazer
e quais as limitações impostas pelo equipamento, pelo software e pelos meios de
transmissão. Além disto, requer um bom conhecimento da linguagem escrita e
oral.

Diretor/Produtor de programas para TV Digital de alta definição


As habilidades requeridas desse profissional são: padrões e técnicas de produção
de vídeo digital, teorias da imagem, linguagem, tecnologia e produção em vídeo e
televisão, e disciplinas que abordem técnicas de estúdio de televisão. Deve ainda
compreender a geração e a transmissão de sinais de vídeo digital e TV de alta
definição (HDTV) ou standart.

Diretor/Produtor de programas e serviços interativos para TV Digital


As habilidades requeridas do profissional que vai coordenar a produção de
programas interativos são:lidar com a alternativa do canal de retorno, ter
noções de linguagens de programação e dos padrões que permitam realizar os
serviços interativos, além de uma sólida formação na produção de audiovisuais.
Conhecimento em novas formas de comunicação – hipertextos, internet, mídias
on-line, também é requerido.

Desenvolvedor de aplicações para TV Digital


O perfil deste profissional envolve conhecimentos que vão desde a área de
conhecimento da Computação até a Programação Visual e Design.

97. As definições foram retiradas integralmente do documento Plano de capacitação: Necessidades de Formação
de Recursos Humanos no Contexto da Implantação de TV Digital Terrestre no Brasil

154
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Gerenciador de Direitos Autorais


O profissional que gerencia os direitos autorais tem como função principal
planejar estrategicamente as técnicas de segurança que serão adotadas, garantindo
que a recepção de programas da TV Digital respeite as leis de propriedade
intelectual. Uma vez elaboradas, essas estratégias são repassadas ao pesquisador e
desenvolvedor de políticas e mecanismos de segurança.

Publisher de produtos multimídia (áudio, vídeo e aplicações)


A palavra, de origem inglesa, significa ‘editor’ e indica o responsável pela
transformação de um programa em produto final, que pode ser negociado e
vendido para as emissoras.

Gerente de armazenamento, catalogação e indexação


Este profissional atua nas emissoras de televisão e produtoras de vídeo como
um gestor de fluxos de informação, preparando e descrevendo o conteúdo para
a posterior recuperação e distribuição. Para tanto, são usados dados descritores
(metadados) que identificam o vídeo, o áudio e as aplicações, relacionando as
características mais pertinentes para cada caso.

Analista de negócios de TV Digital


O analista de negócios de TV Digital vai ter a função de um estrategista dentro
das empresas que compõem a cadeia de valor da TV Digital, atuando na definição
de suas estratégias futuras. As habilidades requeridas desse profissional fogem
um pouco dos conhecimentos técnicos, concentrando-se mais nas questões
comerciais e mudanças mercadológicas e econômicas que impactam no setor de
radiodifusão e telecomunicações.

Indústria de games
Considerada como área emergente, a indústria de games parece configurar-se
como novo segmento do mercado de trabalho da comunicação. A Associação
Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames), em 2008,
apresentou os resultados de um mapeamento que buscou identificar o crescimento
industrial do setor de games. A pesquisa98 focou o desenvolvimento da indústria,
98. Organizadores da pesquisa: Bernando Ivan Pequeno Reyes Manfredini (Consultor de Marketing); Raquel
Rizoli (Estatística); Beatriz Castro Dias Cuyabano (Estatística); André Gustavo Gontijo Penha (Presidente
Abragames); Winston George Andrade Petty (Vice Presidente Administrativo-Financeiro, Abragames). Os da-
dos completos da pesquisa estão disponíveis em < http://www.abragames.org/docs/Abragames-Pesquisa2008

155
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

e constatou um crescimento exponencial, principalmente entre os anos de 2006


e 2008, de tudo aquilo que era produzido no Brasil para consumo interno e
também para exportação. Tais índices apontam um crescimento continuo da área
para os próximos anos.
A pesquisa da Abragames dá forma a um mercado emergente de
novas profissões de comunicação. Participaram da pesquisa 32 empresas, de
quatro99 regiões brasileiras, que são vinculadas a associação. Foram levantados
vários dados sobre essa atividade industrial, entre eles as atividades profissionais
de jogos no Brasil e o salário médio de um desenvolvedor de jogos no Brasil.
Dentre os dados oferecidos pela pesquisa, destacam-se:
• O mercado de games emprega 560 profissionais altamente capacitados
em 42 empresas que produzem software para jogos eletrônicos, ou seja, os jogos
ou parte deles.
• Artistas gráficos e programadores são os perfis profissionais mais comuns
na indústria brasileira de jogos.
Ainda segundo a pesquisa, os profissionais dessa indústria estão distribuídos
da segunda maneira: 34% programação, 34% artes gráficas, 9% administração,
7% produção, 7% qualidade, 5% marketing e 4% outros.

Resultados da pesquisa: tendências profissionais


A partir dos dados arrecadados e análises realizadas, a equipe de pesquisadores
elaborou, ainda que de forma preliminar, alguns indicativo aqui apresentados à
modo de conclusões da primeira parte da pesquisa.
1. É visível o surgimento de profissões emergentes/ocupações emergentes,
principalmente as relacionadas à Comunicação Digital. Esse novo mercado
de trabalho da Comunicação inclui agora, além dos profissionais oriundos de
habilitações acadêmicas relacionadas à área da Comunicação Social, profissionais
oriundos de outras áreas do conhecimento, o que exige pensar a reformulação ou
atualização dos cursos de forma transdisciplinar100;
2. A composição do mercado de trabalho para a Comunicação, no tocante a
divisão por gênero é praticamente eqüitativa entre homens e mulheres, notando-
se leve sobreposição do número de profissionais do sexo feminino em relação ao
número de profissionais do sexo masculino;
3. Na divisão dos profissionais por indicativos de raça /cor não há equilíbrio;
o que se observa é que a maioria dos entrevistados autodenomina-se branco. Esse
99. A região Centro-Oeste ainda não conta com empresas do mercado de Games associadas a Abragames.
100. Transdisciplinar no sentido dado por Edgar Morin e Jesus Martin-Barbero. Como o diálogo entre difer-
entes saberes para compreender o mundo complexo.
156
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

dado que pode ter explicações e ou conseqüências socioculturais, para as quais é


recomendável que haja estudos posteriores;
4. Já a divisão dos profissionais por idade, segundo os dados obtidos,
mostra predomínio de profissionais jovens, com idade entre 18 a 32 anos, ainda
que também se observa em menor grau a participação de profissionais com idade
entre 32 e 61 anos. As duas faixas etárias menos empregadas incluem os menores
de 17 anos e os maiores de 61 anos;
5. Em relação ao indicativo local de residência dos profissionais do mercado
estudado, observou-se predomínio da região Sudeste especificamente, do Estado
de São Paulo, fato este que era empiricamente esperado, dado o desenvolvimento
econômico do Estado, o número de universidades com curso de Comunicação,
assim como o índice populacional;
6. Uma das conclusões originais da pesquisa refere-se ao fato de que os
profissionais atuantes no campo de trabalho da Comunicação nem sempre fazem
uso do nome profissional correspondente a própria formação universitária. Com
os resultados desta primeira parte da pesquisa foram observados muitos casos em
que houve divergência entre formação universitária e denominação dada para a
própria profissão;
7. Observou-se, com a aplicação do questionário, um alto índice de
formação em nível de pós-graduação para os profissionais atuantes no mercado de
trabalho da Comunicação. Difícil analisar, sem pesquisas complementares, se este
resultado corresponde a uma característica de empregabilidade, solicitada pelo
mercado de trabalho101, ou se representa uma maior conscientização no público-
alvo da pesquisa, sobre a importância do diagnóstico do mercado de trabalho, o
que pode ter culminado em um maior número de respondentes com alto grau de
instrução;
8. Em nível de formação superior, bacharelado, o questionário mostrou que
quase a metade dos entrevistados formou-se em Comunicação Social, Habilitação
Jornalismo e 15% em Publicidade e Propaganda. Acredita-se que haja relação
entre a idade dos entrevistados e o tempo de existência dos cursos no Brasil,
porém serão necessárias novas pesquisas para comprovar esse dado;
9. Quase todos os entrevistados, independente do curso escolhido,
consideram a formação superior como muito importante ou importante para a
atuação profissional;
10. O mesmo pode ser visto no tocante importância de ser ou haver sido
estagiário: a maioria dos entrevistados julga que o estágio é muito importante ou
importante, para o desempenho profissional;

101. Este é o caso do Jornal Folha de São Paulo que prefere contratar jornalistas com pós-graduação.

157
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

11. Sobre o tipo de vínculo profissional, a maioria dos entrevistados


respondeu que trabalha com carteira assinada e, a outra parte trabalha ou sob
contrato temporário ou em forma de trabalhos free-lancer102. O resultado leva
a crer que essas duas modalidades de vínculo profissional são atuais e devem ser
consideradas em pé de igualdade, na formulação de políticas públicas que visem
dinamizar o mercado de trabalho para a Comunicação;
12. Entre os pesquisados, a maior parte dos profissionais que está no
mercado de trabalho possui carteira assinada e está na área há mais de 10 anos.
As grandes empresas e órgãos governamentais empregam a maior parcela de
profissionais com carteira assinada ou contratos de trabalho. Os profissionais free-
lancer atendem a pequenas empresas;
13. Sobre o local onde esses profissionais trabalham, descobriu-se que em
grande parte, executam seus trabalhos nos escritórios das empresas e apenas a
menor parcela deles trabalha em casa ou em outros locais;
14. Em relação ao tipo de conteúdo produzido, a pesquisa mostrou que
a maior parte do trabalho desses profissionais tem conteúdo educacional e
informacional e são produzidos exclusivamente ou em parte para a web. A maior
parte dos trabalhadores da Comunicação Social entrevistados possuem blogs ou
sites pessoais mantidos entre um (01) e 10 anos.
15. Os profissionais de Comunicação Social buscam estabilidade na carreira,
mas não em seus empregos atuais. A maior parcela pretende dedicar-se a palestras
e aulas, seguidos por aqueles que pretendem buscar emprego em outra empresa;
16. Entre os objetivos que perseguem está o de conseguir uma promoção,
aprender novas habilidades ou começar um negócio próprio. Entre os menos
citados aparecem a conquista de novos clientes, permanecer no mesmo lugar de
trabalho e ainda mudar a área de especialização. A opção menos marcada foi a de
abandonar a carreira, trocando-a por outra área.

Questões Sensíveis: possíveis compreensões


Os estudos sobre Tendências Profissionais, embora não conclusivos, apontam
para um futuro onde existirão cada vez mais recursos humanos com formação
superior, ocupando os cargos transdisciplinares em Comunicação e os dados
revelam um crescimento considerável da oferta de cursos no país. O diploma
universitário, como observado neste relatório, passou a ser, senão a única, uma
forma de acesso relevante para as profissões da comunicação tendo em vista
o conteúdo das disciplinas oferecidas, em cada habilitação, que certificam e
qualificam o profissional da área. Contudo, questões sensíveis, correlatas à área,
102. Contrato por trabalho ou matéria, sem carteira assinada.

158
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

tais como a flexibilização da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para a


obtenção do registro profissional, estágio obrigatório e a presença no mercado
de trabalho de jornalistas atuando como assessores de comunicação merecem
investigação em uma próxima etapa da pesquisa.
Além destas, questões como o impacto da convergência nas profissões
da Comunicação, a tendência de conglomerados da área na contratação de
profissionais, não por veículo, mas de maneira a reutilizar, reproduzir e distribuir
conteúdos produzidos em outras mídias (formação de oligopólios/ sinergia das
mídias), o direito do autor, e um novo marco regulatório para o setor também
merecem investigação. Demarcadas as chamadas questões sensíveis à área, é
preciso fazer uma reflexão sobre o “status quo”, o estado atual de tais questões.

Sobre a obrigatoriedade dos diplomas para o campo profissional da


Comunicação
A obrigatoriedade do curso de Comunicação Social para o exercício do jornalismo
foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, que considerou a norma
incompatível com a liberdade de expressão prevista na Constituição. A decisão
foi tomada a partir da constituição brasileira103, que, segundo a Federação
Nacional dos Jornalistas (Fenaj), “rebaixa” o exercício do jornalismo no Brasil.
A Fenaj, então, junto a deputados e senadores, propôs uma Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) para o artigo referido.
Já aprovada na Câmera dos Deputados a PEC sobre a obrigatoriedade do
retorno do diploma de jornalismo, segue em tramitação no Senado e abre espaço
para a atuação de não jornalistas nos meios de comunicação, tomando alguns
cuidados para não afrontar a decisão do STF. O texto acrescenta à Constituição
um artigo para tornar o exercício da profissão “privativo do portador de diploma
de curso superior de comunicação social, com habilitação em jornalismo, expedido
por curso reconhecido pelo Ministério da Educação, nos termos da lei”. Mas o
parágrafo único do artigo a ser acrescentado abre duas exceções. Uma permite a
presença nas redações da figura do colaborador, não diplomado em jornalismo,
“assim entendido aquele que, sem relação de emprego, produz trabalho de
natureza técnica, científica ou cultural, relacionado com sua especialização,
para ser divulgado com o nome e qualificação do autor”. A outra exceção é para
jornalistas provisionados, que obtiveram esse tipo de registro especial perante o
Ministério do Trabalho104.

103. A decisão foi tomada a partir do capitulo V da Constituição Brasileira, art. 220. O documento está dis-
ponível no link <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/671360.pdf>. Acesso em 15 nov. de 2010.
104. O parecer completo, aprovado pela comissão no Senado, está disponível no endereço eletrônico<http://
legis.senado.gov.br/mate-pdf/70949.pdf>.

159
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

A decisão do STF colocou em lados opostos as principais associações da


área. A Associação Nacional dos Jornais (ANJ), não é contrária ao diploma
nem à formação do jornalista, mas avalia que a obrigatoriedade do diploma
fere a liberdade de expressão. Segundo relato de representante da entidade é
importante que existam os cursos de jornalismo, mas considera que o exercício
do trabalho nas redações e nos meios de comunicação não deve ser exclusivo de
jornalistas com diploma. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação
Nacional dos Jornalistas são a favor do diploma e lamentaram a decisão do STF.
A Fenaj considera que defender o contrário é favorecer o poder desmedido dos
proprietários das empresas de comunicação, os maiores beneficiários da não-
exigência do diploma. A entidade sindical questiona ainda o monopólio dos
meios de comunicação, cuja concentração é vedada pela Constituição Federal.
A questão de reserva de mercado gera conflitos e opiniões opostas. Não
há consenso entre os entes participantes da discussão, impossibilitando, até o
momento, a implantação de um Conselho Federal de Jornalismo. A discussão da
necessidade de criação de um órgão de fiscalização profissional que substituísse
as DRTs é bastante antiga. Segundo o artigo “Os jornalistas precisam de um
Conselho”105, vários projetos já foram encaminhados ao Congresso Nacional, o
primeiro em 1965. A proposta de criação do CFJ foi enviada, em 4 de agosto de
2004 à Câmara dos Deputados. Em votação simbólica a Câmara dos Deputados
decidiu rejeitar o projeto de Criação do Conselho Federal de Jornalismo106.
Visões opostas são evidentes. Tendo em vista que os principais objetivos
do Conselho seriam conferir o registro profissional, fiscalizar o exercício ético
da profissão e acompanhar a formação do futuro profissional, algumas entidades
representativas da classe veem isso como a imposição de limites à atividade
jornalística, como é o caso da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)107. O
Artigo 1º do projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo, dispõe sobre
as atribuições da entidade, acrescentando que os Conselhos Federal e Regional
devem orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de jornalista e da
atividade de jornalismo. Para a ABI, a ideia de que o Conselho iria orientar,
disciplinar e fiscalizar a atividade profissional dos jornalistas, chama a atenção
especialmente estes termos: disciplinar e orientar.
Atualmente a oferta de cursos, em nível superior, em jornalismo é disseminada
em todos os continentes e sua obrigatoriedade para o exercício da profissão é
uma exigência legal verificada em alguns países. Entretanto, mesmo nos locais
105. Documento disponível no link: < http://www.fenaj.org.br/cfj/historico.htm>. Acesso 15 nov. de 2010.
106. O Projeto de Lei completo, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas, pode ser acessado no en-
dereço eletrônico <http://www.fenaj.org.br/cfj/projeto_cfj.htm>. Acesso 15 nov. de 2010.
107. Dados retirados do endereço eletrônico < http://www.piratininga.org.br/entrevistas/cfj-andrade-azedo.
html>, reproduzindo entrevista publicada no Portal Andifes com o presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de An-
drade e o presidente da ABI, Maurício Azêdo. Acesso 15 nov. de 2010.

160
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

onde não existem leis específicas exigindo o diploma, observa-se a preferência dos
empregadores pelos profissionais oriundos dos cursos universitários. Portanto, ao
que parece, observando os resultados da pesquisa apresentados por Ribeiro, é que
o fato de um país não possuir lei exigindo o diploma superior em jornalismo para
o exercício profissional, não implica na falta de interesse dos estudantes daquele
país pela formação específica oferecida tanto em nível de graduação como de pós-
graduação ou doutorado na área.
No caso do Brasil, tendo em vista que na sociedade da informação o
conhecimento é bem e recurso e que a convergência tecnológica impõe sérios
ataques a ideia de reserva de mercado, será necessário investigar em profundidade
tais questões para entender os interesses dos atores sociais envolvidos no debate
e em que medida poder-se-á conciliar os direitos adquiridos e uma formação de
nível superior compatível com as novas habilidades necessárias ao exercício da
profissão no século XXI.

Estágios para as profissões da Comunicação Social


A nova lei de estágio entrou em vigor no ano de 2008108. Todas as habilitações
da Comunicação Social estão sujeitas as normas impostas por essa nova lei. Há
apenas uma exceção: o curso de jornalismo. Basta verificar a tabela do índice de
importância do estágio com os dados coletados pelas respostas do questionário
online e disponíveis neste relatório para entender sua contribuição para a
formação de um profissional da comunicação. Entretanto, na área do jornalismo
isso não é tão simples. Há complicadores. Um breve histórico contribuirá para a
compreensão do tema.
Proibido pela legislação que regulamenta a profissão de jornalista (artigo 19
do Decreto 83.284/79) o estágio voltou a ser motivo de polêmica, protagonizada
principalmente pelos estudantes, que reivindicavam o direito a preparar-se para
o futuro profissional através do contato com o mercado de trabalho. Na ocasião,
os estudantes substituíram a bandeira do fim do estágio pela que representa o
imediato restabelecimento deste complemento de aprendizado. Tal mudança
reflete a incredulidade quanto à eficácia da proibição, sobretudo porque a
necessária substituição do estágio por laboratórios que reproduzissem as condições
de produção implantadas nos mais diversos locais em que se realiza atividade
jornalística não se concretizava na velocidade e no nível sonhado e projetado
no início dos anos 80. Observa-se que outro objetivo da proibição do estágio, a
moralização do mercado de trabalho, tampouco se concretizou109.
108. A lei que regulamenta o estágio está disponível no endereço eletrônico <http://www.planalto.gov.br/cciv-
il_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm>. Acesso 15 nov. de 2010.
109. Algumas das idéias apresentadas nesse sub-ítem estão embasadas no documento produzido pela Fenaj “Pro-
grama Nacional de Projetos de Estágio Acadêmico em Jornalismo”, disponível no endereço eletrônico< http://

161
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

Hoje, o estágio em Jornalismo é amplamente praticado pelos estudantes


do curso. Sindicatos, jornalistas e professores reclamam que os estagiários são
contratados sob outra égide, resultando em contratos de estágio como sendo de
“Comunicação Social”, que, inclusive, são assinados por Instituições de Ensino.
Esta, além da inclusão oficial da assessoria de imprensa como disciplina, é uma das
questões pelas quais se reinvindica que o ensino de jornalismo seja reconhecido
como curso, sem vínculo com a Comunicação Social, considerada pelos que
defendem a reserva de mercado, como uma área do conhecimento.
De acordo com a opinião defendida pelo Centro de Integração Empresa-
Escola (CIEE110), o estágio é importante para qualquer curso. A lei 11788/2008
apenas delimita os limites em que as empresas podem explorar profissionalmente
os estudantes. Diante disso, as instituições que fazem a contratação de estagiários
para as empresas da mídia, são subordinadas as decisões de cada universidade. A
entidade CIEE posiciona-se a favor da soberania da decisão da universidade sobre
a questão. Entretanto, a opinião do CIEE não parece, a curto prazo, suficiente
para solucionar este problema.
Conforme proposta da Federação Nacional dos Jornalistas, e com o
endosso do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo (FNPJ), é necessária a
implantação, em todos os Estados, da regulamentação do estágio em jornalismo.
Antes do início da discussão sobre a regulamentação proposta faz-se necessário
uma reflexão: algumas universidades alegam que para os cursos de jornalismo
o estágio se tornou um obstáculo ao desenvolvimento de projetos, pesquisas e
atividades de extensão. Já algumas empresas de comunicação alegam que, nas
redações, é constante deparar-se com estudantes sem qualificação ética e sem
conhecimento suficiente para estarem em processo de estágio. Esses não têm
supervisão, têm problemas de texto, ganham muitos vícios e poucas virtudes.
Na atual situação o estágio continua proibido por lei, embora as contrações
de estudantes seja uma prática constante. Veículos que contratam estagiários
de jornalismos podem em teoria, ser denunciados e multados. O conceito
básico do estágio acadêmico refere-se ao fato de que, não sendo possível nem
desejável reproduzir internamente, no curso de graduação de jornalismo, todas
as características do mundo do trabalho, é pertinente propiciar oportunidades e
acompanhar o estudante em circunstâncias só encontradas no espaço profissional,
compatibilizando o processo de formação com uma percepção prática e direta do
trabalho. Para que isto não seja mera antecipação do futuro ingresso do estudante
de jornalismo no mercado de trabalho, é preciso que o estágio seja orientado por
objetivos de formação do futuro profissional e seja supervisionado criticamente,
com o docente supervisor interagindo efetivamente com os aportes recebidos pelo
www.fenaj.org.br/educacao/programa_estagio_jornalismo.pdf >. Acesso 15 nov. de 2010.
110. Informações institucionais do CIEE e outras, como ofertas de estagio e legislação, estão disponíveis no
endereço eletrônico <http://www.ciee.org.br/portal/index.asp>. Acesso 15 nov. de 2010.

162
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

estudante diante das circunstâncias concretas.


Embora os pressupostos estejam corretos, quando confrontados com as
atividades compatíveis com o estágio em jornalismo, verifica-se um descompasso
entre as práticas propostas e a revolução em curso111. O modelo adotado para
tais práticas daria conta de preparar o futuro jornalista para os novos processos
comunicacionais propiciados pelas TICs? Para responder tais questões, sugere-se
fortemente a continuidade de pesquisas que possam embasar decisões acertadas e
que propiciem soluções justas e equitativas para todas as partes envolvidas nesta
complexa questão.

Incremento do mercado de trabalho para Relações Públicas e Assessoria


de Imprensa
Questão controversa entre os profissionais da Comunicação diz respeito a quem
deve assumir a assessoria de comunicação: o profissional de relações públicas ou
o jornalista? Outra discussão corrente é se o assessor pode ser considerado um
jornalista. Este é um campo de disputa entre jornalistas e relações públicas onde
as duas profissões requisitam para sua área de atuação os benefícios da reserva
de mercado. Essa atividade ainda se confunde com a propaganda, pois é de
responsabilidade do assessor de comunicação criar e manter uma imagem pública
e principalmente positiva de empresas, instituições ou órgãos governamentais.
Antes mesmo do acordo firmado entre as duas categorias, jornalistas e relações
públicas, em meados dos anos 80, o Brasil começou a implementar a ruptura entre
a assessoria de imprensa e suas raízes de relações públicas, área que historicamente
trouxe para o país a atividade de assessoria de imprensa.
Em 1995 no Brasil, dos profissionais de jornalismo com carteira profissional
assinada, 36,40% trabalhavam extra-redações, superando a segunda colocação,
que eram os profissionais atuantes em jornais (36,30%) (TAVARES; TOLEDO,
2006112). O fato é que não é mais possível esquivar-se a uma estatística que não
deixa dúvidas e que traz, com este crescimento, uma série de indagações cujas
pontas são a formação e, no outro extremo, a própria definição profissional.
Para a autora Zélia Adghirni (In TAVARES; TOLEDO, 2006), “o mercado de
trabalho nas assessorias de comunicação é o que mais cresce no Brasil” e o setor
de comunicação institucional representava, em 2006, mais de 40% do mercado
de jornalismo. Os dados apresentados revelam, sem dúvida, que nesse embate o
jornalista vem ampliando seu espaço. E é exatamente quando o jornalista assume
111. Informação contante no documento produzido pela Fenaj “Programa Nacional de Projetos de Estágio
Acadêmico em Jornalismo”, disponível no endereço eletrônico< http://www.fenaj.org.br/educacao/programa_
estagio_jornalismo.pdf >. Acesso 15 nov. de 2010.
112. Assessoria de Imprensa no Curso de Jornalismo: formação e exigências do mercado, de Denise Tavares e
Cecília Toledo, 2006. Disponível em <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R1939-1.
pdf>. Acesso em: 25 out. 2010.

163
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

a função de assessor de imprensa, que começa a guerra entre os profissionais.


Quando se analisa a legislação que regulamenta as duas profissões o impasse
evidencia-se. Vejamos o que determinam dois itens do artigo 2° do Decreto n.º
83284 de 13 de março de 1979 que regulamenta a profissão de Jornalista:
• IV - planejamento, organização, direção e eventual execução de serviços
técnicos de Jornalismo, como os de arquivo, ilustração ou distribuição gráfica de
matéria a ser divulgada.
• X - execução de distribuição gráfica de texto, fotografia ou ilustração de
caráter jornalístico, para fins de divulgação.
Vejamos, agora, a lei nº 5.377, de 11 de dezembro de 1967, que regulamenta
a profissão de Relações Públicas:
Art 2º - Consideram-se atividades específicas de Relações Públicas as que
dizem respeito:
a) a informação de caráter institucional entre a entidade e o público, através
dos meios de comunicação.
Os itens descritos dão uma ideia da disputa em questão. Segundo artigo
publicado no site Observatório da Imprensa113, o que se percebe que em
praticamente em toda a Europa, a assessoria é função de relações públicas. E
mesmo nos países em que os bacharéis em Jornalismo trabalham em assessoria,
estes profissionais ficam impedidos de atuar em redações ou de se apresentarem
como jornalistas. No Brasil, o desenvolvimento desta atividade tomou contornos
singulares em relação ao resto do mundo. Tal fato, aliado a um dilema ético,
talvez justifiquem os conflitos entre jornalistas e relações públicas e jornalistas de
redação e assessores de imprensa.
O estudo realizado por um jornalista e um relações públicas, “Papel
e atuação de jornalistas e relações-públicas em uma organização, segundo
jornalistas”114, fundamenta nossas considerações e revela que quando o jornalista
assume o posto de assessor de imprensa, se depara com a relação mal resolvida
entre ele, um jornalista, e o jornalista de redação. Essa relação também é bem
complicada porque cada um dos lados vê a situação sob seu ponto de vista.
Uma falta de orientação acaba provocando conflitos entre repórter (no caso
jornalistas de diversas áreas de comunicação) e assessores. De um lado, a redação,
dizendo que o assessor não é jornalista, pois divulga somente uma versão: a do
seu cliente. Isso, segundo os autores, se deve a maneira como a assessoria se
113. Assessoria de imprensa privativa de jornalistas, de Bruno Barros Barreira. Disponível em <http://www.
observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=389DAC003> . Acesso em: 25 out. 2010.
114. Disponível em <http://www.comtexto.com.br/convicomartigoJorgeMarciaRPjornalista.htm>. Citado por
Daniela Jesus Almeida no artigo “As brigas que rondam a assessoria de comunicação. Disponível em <http://
www.comtexto.com.br/convicomartigoDanielaAlmeidaRPjornalistas.htm>. Acesso em: 25 out. 2010.

164
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

proliferou no país. Durante as mudanças políticas e econômicas transcorridas na


época militar tornou-se presente um novo modelo de jornalismo, que chegou ao
mercado para divulgar versões oficiais - os assessores de imprensa.
Tendo em vista a presença, em números cada vez mais expressivos, dos
jornalistas nas assessorias de imprensa, de empresas e instituições, considera-
se que o momento exige uma reflexão das instituições de ensino superior,
particularmente das que oferecem cursos de Comunicação Social com Habilitação
em Jornalismo. O olhar crítico da universidade para os modelos empresariais deve
ser capaz, também, de reconhecer as mudanças, as tendências e, assim, capacitar
os estudantes para que consigam penetrar neste mercado de trabalho e dentro
dele implantar de forma profissional os conhecimentos adquiridos ao longo de
sua formação acadêmica.
O artigo “Assessoria de Imprensa no Curso de Jornalismo: formação e
exigências do mercado”115 pode contribuir para o debate, pois traz um diagnóstico
que revela o quanto o enfoque nas questões estratégicas continua sendo um
desafio para os cursos de graduação de Jornalismo. Neste estudo de caso o limite
é a PUC/Campinas, onde sobrevive uma tensão provocada por uma hegemonia
de ementas de disciplinas do curso que definem um campo claro do exercício
profissional, isto é, as redações, em especial a impressa e, em menor abrangência, a
eletrônica e, uma reserva mínima para este outro campo que, contraditoriamente,
é o que mais recebe, como já dito, o recém-formado da Universidade.
As autoras relatam que há uma única disciplina de um curso de oito semestres
a discutir o jornalismo empresarial, assessoria de comunicação e assessoria de
imprensa, hoje um campo de trabalho importante para os jornalistas. Assim,
a disciplina Jornalismo Empresarial e Institucional acaba sendo absolutamente
“espremida” por um currículo cuja carga horária enfatiza visivelmente a área
do jornalismo impresso e eletrônico, ao longo dos semestres que a antecedem.
Entende-se, assim, que o conteúdo da disciplina Jornalismo Empresarial e
Institucional ministrado em apenas um semestre, com uma carga horária mensal
de 60 h/a, inviabiliza uma discussão mais consistente com os alunos sobre questões
éticas, técnicas e estéticas da função de assessor de imprensa. Isso necessita ser
ampliado no sentido de oferecer uma visão estratégica, necessária ao profissional
da área.
Observa-se a partir dos dados apresentados que esta é uma situação a ser
tratada não apenas no campo de trabalho – mercado profissional – mas também
no âmbito dos perfis profissionais indicados pelos documentos publicados pelo
MEC, sobre as habilidades e competências de cada Habilitação dos cursos de
Comunicação Social. A questão deve ser tratada com a atenção merecida em
115. Publicado no endereço eletrônico http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R1939-1.
pdf. Acesso em: 25 out. 2010.

165
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

pesquisas e debates posteriores.


Convergência tecnológica
Questões como a convergência tecnológica e seu impacto nas profissões da
comunicação, a formação de oligopólios, a chamada sinergia das mídias, o direito
do autor, e um novo marco regulatório para o setor também merecem reflexão do
governo e da sociedade.
Os resultados preliminares apresentados neste relatório revelam uma nova
configuração de trabalho na área da Comunicação, tendo em vista o advento
das mídias digitais e da internet, e o cenário produtivo constitui-se de novos
processos comunicacionais. Sabe-se que na sociedade da informação, tanto o
trabalho como o lazer geralmente envolvem o uso das interfaces de computador
e outros dispositivos tecnológicos. Há uma estreita relação entre os produtores
de bens culturais e os diferentes públicos. Esta é uma das chaves para a atual
instabilidade observada nos meios de comunicação tradicionais. Para compreender
as conseqüências dos processos descritos recorremos as idéias de Manovich(2001)
que afirma que a instabildade dos meios se deve ao acesso cada vez maior a
sistemas de publicação na Web, mais baratos e fáceis de usar.
Ainda segundo Manovich, a diferença, ou distância, que separa amadores
e profissionais continua a existir, agora mais perto do que nunca. Supondo que
a diferença esteja baseada em três princípios: acesso à tecnologia, habilidades
conceituais e estética, Manovich explica que isso se mantém, em primeiro lugar
porque os profissionais constantemente inventam novas técnicas e formatos para
ficar um passo à frente dos seus concorrentes, sem titulação. Segundo, porque
nem todas as habilidades conceituais são tão fáceis de adquirir.
Conforme Alberto Cairo, entre os fatores descritos reside a principal
diferença entre a popularidade do jornalismo cidadão, encontrado em páginas
pessoais, weblogs, videoblogs, e a relativa insignificância da atual “visualização da
informação”, ou seja, do que é exibido pelas mídias de massa. Décadas de televisão
e mais de um século de cinema educaram várias gerações e as formas narrativas
audiovisuais hoje se extendem à Internet, podendo ser acessadas de diferentes
plataformas, como os celulares ou videojgos em rede. O enquadramento, edição
de áudio, etc, são conhecidos e aplicados quase intuitivamente pelas audiências
que passam também a produzir conteúdos.
Em grande medida a atual evolução comunicacional está relacionada a questão
da convergência. Antonio Costella (2001) explica que a convergência pode ser
entendida como uma evolução tecnológica onde antigos meios comunicacionais
convergem para um novo sistema, melhor e mais dinâmico. Segundo o autor, toda
evolução comunicacional do homem o leva à criação de uma rede informativa
que, hoje, corresponderia à Internet. A evolução comunicacional dissolveu as

166
Tendências tecnológicas mundiais em telecomunicações

fronteiras dos meios de comunicação tradicionais, que agora convergem para a


rede. Tal mudança pode ser considerada um novo paradigma comunicacional,
considerando que, na internet utilizada através de diferentes plataformas
tecnológicas, as pessoas já não dependem apenas das empresas de comunicação
para ter acesso a informação, já que utilizam redes sociais e compartilham
informações, serviços e conhecimento sem intermediários.
Tendo em vista que o novo paradigma comunicacional tem causado
instabilidade profissional na área da Comunicação e as novas profissões emergem
em decorrência disso, sendo necessário atualizar os cursos de graduação e
pós-graduação para oferecer aos profissionais da comunicação uma formação
direcionada ao entendimento das transformações em curso. Compreender tais
transformações significa entender a convergência como o uso que as pessoas fazem
das mídias, como interagem com elas, pois o público nesse contexto também
produz e publica informação. O novo paradigma comunicacional dá visibilidade
e amplia a idéia de trabalho colaborativo e a produção em grupo. Hoje, os
públicos geram novas formas de informação e troca de conteúdos obrigando os
meios tradicionais a convergir, atualizarem-se, reformular suas práticas e buscar
profissionais com novas habilidades.

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172
CAPÍTULOS 3

A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Introdução: Contexto e considerações iniciais116

Alexandre Kieling117
Atualmente, vive-se, no Brasil, um período de transição que vem substituindo, de
forma gradual, a produção e distribuição de conteúdos por meios analógicos pela
realizada por meios digitais que, por sua vez, impactam nas lógicas de consumo.
Diante de uma perspectiva de convergência, desses meios tecnológicos de
comunicação, por meio da digitalização, principia um processo que redimensiona
as relações entre emissor e receptor. Trata-se de uma nova dinâmica que vem
convidando aos pesquisadores e profissionais de mercado a uma reflexão sobre os
modelos comunicacionais e, sobretudo, sobre os sistemas de produção, circulação
e consumo, tais quais são compreendidos e ensinados ao longo do uso das
tecnologias analógicas.
A possibilidade de migrar da tinta e do papel, da película, das ondas
hertzianas, do fio de cobre para aparatos digitais móveis não redimensiona somente
os sistemas de produção dos conteúdos e as formas de expressão cultural e criativa.
Não se trata apenas de novas maneiras de fazer, publicar, divulgar. Há movimentos
mais agudos que aqueles que se operam no âmbito da tecnologia, do suporte, ou
das re-configurações das dinâmicas e dos processos no campo econômico. O que
a sociedade está vivenciando, em diferentes níveis, sinaliza importantes impactos
que, embora incluam tensões nas lógicas de mercado, nas hierarquias de controle
e produção, igualmente desalojam paradigmas sociais, culturais, econômicos,
políticos e, inclusive, tecnológicos. Emergem novas definições de indústria, de
sociabilidades, de produção da cultura e atuação política.
Verificam-se assim novas articulações conceituais. A noção de consumidor
ou usuário e, até mesmo de audiência articulada a partir da ideia de massa,
de passividade, de manipulação, que começou a esmaecer com os primeiros
resultados dos estudos culturais (anos 80 e 90), cambaleou com a rápida evolução
da internet e agora incorpora nova perspectiva. Com a digitalização do jornal,
116. Nesta edição aparecem os resultados parciais desta pesquisa, que será finalizada em janeiro de 2011.
117. Pesquisador Responsável. Doutor em Comunicação e professor do Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu da Universidade Católica de Brasília. Mail: alexandrek@ucb.br. Participaram da equipe como Assistentes
André Carvalho, Mestre em Comunicação e diretor do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica
de Brasília Mail:andrec@ucb.br e Elias Suaidem, Mestre em Comunicação. Pesquisador independente. Mail:
eliassuaiden@hotmail.com. Colaboraram com a pesquisa os estudantes de jornalismo Leonardo Coelho, Bruna
Carolli e Mariana Cordeiro (UCB).

173
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

do cinema, da TV e do rádio, associado ao surgimento de outras tecnologias,


como os computadores, os celulares e os videojogos em rede, todos com suportes
de recepção multifuncionais, multimídia, convergentes e interativos, a audiência
deixa de somente receber ou comprar conteúdos, deixa de ser apenas consumidora
ou usuária, reestruturando a bi-dimensionalidade do processo comunicativo
(CASTRO, 2008). As audiências passam a dispor de possibilidades de intervenção
no processo de produção, distribuição e consumo que vão bem além do feedback
ou da manifestação nas pesquisas quantitativas e qualitativas.
A formação das redes e comunidades na internet, o e-mail, os sítios
de relacionamento, as alternativas de aparatos de recepção, a mobilidade, a
convergência e os mecanismos de interatividade e interação forjaram outras formas
de atuação deste ator econômico, social, cultural e político. Graças a esses meios
ele pode escolher quando, onde e como consumir. Ele pode redistribuir, expandir
e até alterar estes conteúdos digitais. E, mais, pode contestar e também produzir
e publicar de maneira independente, coletiva ou colaborativa. Tais processos
podem acontecer dentro ou fora dos sistemas formais. Trata-se da constituição
do perfil que Burns (2008) define como producers, o consumidor e usuário que
institui na cadeia de produção a produsage, ou o processo que mistura, intercala
ou simplesmente contempla a ideia de produção e uso a partir daquele antes
classificado apenas como consumidor.
Essa autonomia dilui o consumo massivo e estimula a formação de nichos, de
grupos que na cadeia econômica permitem a diversificação e promovem um efeito
“cauda longa”, como qualifica Anderson (2007) ao defender as características desta
“nova economia”, assegurando comercialização continua e lucros importantes,
considerado que os produtos destinados a segmentos específicos são mais caros.
Do ponto de vista cultural, esse momento de transformação do mundo
analógico para o digital anima a produção independente e diversifica as maneiras
de divulgação e acesso a essas formas de expressão, introduzindo novos atores que
passam a conviver ao lado dos chamados majors (grandes operadores do sistema).
Burns (2008) destaca o exemplo do You Tube, canal de publicação e exibição
onde boa parte das produções independentes convive com a produção das
grandes produtoras. Na esfera política a possibilidade de acesso e a inclusão digital
conferem aos segmentos social e economicamente marginalizados um estatuto de
cidadania (CASTRO, 2008). Esse viés foi que animou Castro a incorporar à
noção de Indústrias Criativas a noção de Conteúdos Digitas, compreendendo
que a ideia de transformação de conteúdos culturais e de expressão em produtos
e ativos econômicos, com a digitalização, adiciona a ideia de promoção e de
tangibilidade dos ativos sociais.
Deste modo, não parece suficiente mapear o segmento pelos vieses
tecnológico e econômico que dão conta das dinâmicas dos sistemas fechados de
174
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

função social que regerem as lógicas do sistema de função midiático, no sentido


atribuído por Luhmann (2006). É preciso compreendê-lo, mais do que antes, pelo
conteúdo que produz, por sua vez, regido também pelas lógicas de sistema aberto
que contemplam os processos de significação e interpretação, que dão conta das
apropriações e usos. Nessa conjunção mostra-se pertinente observar o setor pelas
novas dinâmicas que opera nessas configurações de ambiências midiáticas que
constituem uma midiosfera onde se processam diferentes lógicas de produção,
circulação e consumo (KIELING, 2009)118.
Torna-se primordial conhecer como os realizadores e as mídias, enquanto
organizações e seus processos produtivos estão conseguindo trabalhar esse
conteúdo na migração de um suporte de distribuição para outro, especialmente
do ponto de vista das construções narrativas, e quais estratégias têm mobilizado
para administrar uma independência, cada vez maior, por parte de quem consome
esse conteúdo. Verifica-se assim uma reconfiguração de toda a economia e das
relações de produção, circulação e consumo dessas indústrias.
Trata-se de um robusto desafio, de horizonte largo e complexidade extrema
que exige uma abordagem distinta, gradual e em etapas, de curto, médio e
longo prazo. Inicialmente, e numa etapa de curto prazo, é preciso, por meio de
indicadores de performance, obedecendo a lógica do mapeamento possível, se
aproximar ao máximo do desempenho econômico, de produção, distribuição e
consumo. A partir dele, inferir nas dinâmicas e operações no âmbito dos sistemas
fechados. Num segundo momento, em médio prazo, é necessário dimensionar
as reconfigurações de processos de produção a partir dos conteúdos e das ações
dos atores nele envolvidos na perspectiva dos sistemas abertos119. Adiante, num
acompanhamento de mais longo prazo, averiguar o conjunto dessas dinâmicas,
descrevendo e analisando seus deslocamentos e reconfigurações.
A mudança do processo analógico para o digital requer uma abordagem
mais complexa com aportes da economia política, dos estudos culturais e
também semio-discursivos. Sem a transversalidade de referências teóricas e
metodológicas, a compreensão do fenômeno da digitalização das mídias oferecerá
uma parcialidade de olhar. Nessa linha, a presente pesquisa deve ser percebida a
partir dos seus limites. Todavia, embora busque dar conta da primeira etapa, se
118. Ver tese de doutorado onde foi descrita e analisada essa esfera de produção, publicação e consumo em que
o produtor e receptor compartilham textos, constroem discursos, portanto geram sentidos que articulam bens
simbólicos de maneira mais interativa e colaborativa. Nessa ambiência de convergência das mídias, chamada
de Midiosfera, há uma circulação de conteúdo por meio da qual o consumidor é mais ativo. KIELING, A.S..
Televisão: a presença do telespectador na configuração discursiva da interatividade no programa “Fantástico”.
São Leopoldo, tese de doutorado na Unisinos, 2009.
119. A ideia de sistema aberto se abriga na ideia de estruturas dissipativas de Prigogine (1990), que são fenô-
menos de promoção da ordem longe do ambiente de equilíbrio do sistema, que se dão na presença de fluxos
exteriores, portanto numa dinâmica que não obedece a uma determinação. É essa dinâmica que possibilita a
ligação, a interação entre os sistemas sociais e, em consequência, sua permanente evolução. É o caso dos sistemas
de significação.

175
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

esforça por contemplar, ao menos, uma aproximação entre a economia política e


os estudos culturais.
O propósito da investigação patrocinada pelo Instituto de Pesquisa Aplicada
(Ipea) almeja uma leitura das tendências do novo século a partir do percurso
percorrido nesses primeiros 10 anos do século XXI (2000/2010). Propõe um
esforço na produção de “análise do desenvolvimento e perspectivas das Indústrias
Criativas e de Conteúdos Digitais, dos serviços ocupacionais e do terceiro setor no
campo da comunicação”120 a partir da qual seja possível projetar as perspectivas
para a próxima década, nos setores de mídia impressa e virtual (jornal, revista e
livro), mídia sonora (rádio, disco e telefone), mídia audiovisual (cinema, televisão
e videojogos), multimídia (internet, e convergência de mídias)121.
Nesse sentido, recorre-se à ideia de panorama122 que demanda um
mapeamento que assegure uma visão geral e horizontal de determinado objeto,
com vistas a oferecer um cenário ao observador a partir do qual seja possível a
leitura global do fenômeno. Trata-se de um recorte com vistas a um diagnóstico
que inclui um levantamento de dados e uma coleta de leituras pelos atores
envolvidos. O presente relatório apresenta os resultados parciais dessa pesquisa
em curso.
Referências conceituais
O atual curso da transição entre o sistema analógico e o digital, como dito, é
apenas uma parte de um processo de transformação que envolve muito mais que
as escolhas tecnológicas ou a constituição de novos modelos de negócios. Trata-
se de um fenômeno com repercussão equivalente ao que instituiu as sociedades
industriais midiáticas, como destaca o pensador latino americano Eliseo Verón
(2004),123 observadas no século XIX, com o progresso da imprensa escrita e o
posterior surgimento do rádio e TV (século XX). Ou na constituição da sociedade
midiatizada, conforme Muniz Sodré,124 com a evolução das mídias eletrônicas
incrementadas no pós-guerra.
Sem esquecer que ao longo da consolidação da sociedade industrial, os
veículos de comunicação foram se transformando em empresas de comunicação:
os jornais, por exemplo, gradualmente abandonaram a forma de realização
120. Como determina a chamada pública Panorama da Comunicação no Brasil: PBC 2010 – A transição das
Indústrias Criativa e dos Conteúdos eletrônicos dos modelos analógicos de produção para o modelo digital.
121. O Cenário da digitalização ainda implica em outras mídias como aparatos móveis e novos suportes que
estarão sendo estudados até janeiro, quando se pretende apresentar os resultados finais por meio de publicação
na internet.
122. A palavra panorama, que vem do Grego e da combinação dos termos παν (pan), que significa “total”, e
ὅραμα (órama), que significa “vista”, sugere o desenho de um quadro a partir do qual seja possivel ao observa-
dor ter uma vista geral.
123. VERÓN, Eliseo. Fragmentos de um tecido. São Leopoldo: Unisinos, 2004.
124. SODRÉ, Muniz. Eticidade, campo comunicacional e midiatização. In: MORAES, Dênis de (Org.). Socie-
dade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. p. 19-31. p. 20-21.

176
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

artesanal e adotaram sistemas profissionais mais complexos de organização. O


conteúdo, impressão e distribuição dos impressos passaram a ser estruturados
num sistema de produção. O que se convencionou chamar de imprensa
inicia este processo de transição ainda no século XIX com um exponencial
crescimento da comercialização que vem a se consolidar no século XX. Seguindo
o entendimento de Luhmann (2005), constitui-se fortemente aí uma dinâmica
externa que vai incidindo sobre o sistema de comunicação uma lógica de sistema
fechado autoreferente e com dispositivos de autoproteção125.
Inicialmente, o sistema midiático apropriou-se da lógica iluminista de
emancipação pela razão, pela ciência, pelo conhecimento que, conduzida pelo
viés tecnicista, disparou um processo de descoberta tecnológica, passando a
instrumentalizar a distribuição dos conteúdos produzidos no âmbito dos veículos
de comunicação. Mais adiante, justifica essa escalada em nome de um ideal de
liberdade e democracia que, a seu turno, vai subsidiar o discurso de defesa da
mídia não mais como meio de expressão do pensamento e de transmissão de
informação, mas como meio de promoção da informação à luz de um pressuposto
de objetividade e de distanciamento crítico. Rapidamente, esse sentido incorporou-
se à produção de entretenimento, e a mídia de massa invocou a si o status de
promotora da cultura, configurando-se, assim, um sistema industrial. Um novo
paradigma, como já pontuou Traquina (2003), que viria a substituir o conteúdo
engajado, ideologizado, por um conteúdo de ethos profissional, marchando na
direção de produto e, portanto, de resultado econômico.
Domique Wolton (1990) entende que a mídia, sobretudo aquela massiva,
como instituições de responsabilidade democrática e de promoção da cultura
de massa em oposição às elites culturais. Todavia, para o sociólogo francês,
essa dimensão da comunicação não se ocuparia apenas da conciliação entre os
indivíduos ou da promoção do coletivo, mas, sobretudo, pela gestão das diferenças,
da alteridade. O autor postula que a comunicação não deve ser compreendida
apenas a partir das lógicas da tecnologia (performance), da economia (um
mercado em plena expansão), mas também a partir do seu valor no patrimônio
cultural. Ou seja, seria indissociável pensar o normativo e o funcional no âmbito
de suas contradições e seu paradoxo.

O método de mapeamento e os indicadores


O percurso adotado com fins de alcançar os objetivos empíricos propostos nesta
investigação das “Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais”, com vistas à
“análise do desenvolvimento, na primeira década do novo século, e perspectivas
125. Luhmann entende os meios de comunicação como um sistema fechado, autofortificados (que se protegem
do ambiente externo), autorreferentes (autonomia e organização interna, uma autopoiésis interna) e heteror-
referentes (sua relação com o ambiente externo se daria por um acoplamento estrutural).

177
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

para a próxima década, nos setores de mídia impressa e virtual, mídia sonora,
mídia audiovisual e multimídia”, foi de construir um primeiro panorama a partir
dos dados já disponíveis.
Partiu-se das informações coletadas pelas agências reguladoras, pelas
organizações de classe dos respectivos segmentos e por organizações de
monitoramento prestadoras de serviço ou independentes126.11Todo esforço foi no
sentido de resgatar essa base documental em busca de dados que contemplassem
as performances de produção, circulação e consumo de 2000 a 2010, tendo
como corpus analítico relatórios, gráficos e rankings presentes nos levantamentos
publicados ou fornecidos via e-mail pelos setores de monitoramento das
instituições referidas. Todavia, pelas características conservadoras de gestão e,
em razão do acompanhamento mais refinado do desempenho da maioria dessas
indústrias ser mais recente, nem todos os seguimentos estão com os dados de todo
o período disponíveis. A averiguação pautou-se pelos indicadores de produção,
com base nos números de títulos ou agentes produtores; de distribuição, com
base na infraestrutura de cada segmento; de consumo, com base na circulação,
audiência e faturamento.
Os dados foram confrontados e comparados, como poderá ser observado
no decorrer do texto. Em muitos casos, como já dito, percebe-se que havia pouca
preocupação por parte desses segmentos - como se pode observar, nitidamente,
por exemplo, com os dados disponíveis sobre radiodifusão e audiovisual no Brasil
– com a cultura de socialização pública dos seus indicadores. Assim, há referências
que se restringem aos últimos anos dessa década ou são dados deste ano. Já os
segmentos emergentes, como os videojogos e conteúdo para celular, ainda não
dispõem de um acompanhamento sistemático de indicadores.
Adotando a orientação do Instituto coordenador da pesquisa (Ipea), o esforço
destina-se à montagem de um panorama no qual se visualize o movimento das
indústrias criativas e de conteúdos digitais a partir dos indicadores de produção,
circulação e consumo. Desta maneira, os setores de mídia impressa e virtual, mídia
sonora, mídia audiovisual, multimídia, como já informado, serão observados com
base nos indicadores de quantidade e infraestrutura de produção, de circulação e
das bases que mensuram leitores, ouvintes, telespectadores e usuários.
No estudo são confrontados dois quadros gerais de conhecimento público.
126. ANJ – Associação Nacional de Jornais - Link: http://www.anj.org.br/. ABRE – Associação Brasileira de
Representantes de Veículos de Comunicação – Fonte: http://www.abre.inf.br/associacao.asp
ADJORI/SC – Associação dos Jornais do Interior de Santa Catarina – Fonte: http://www.adjorisc.com.br/
ADJORI/RS – Associação dos jornais, profissionais e veículos de comunicação do Rio Grande do Sul - http://
www.adjori-rs.com.br/site/
ADI/Brasil – Associação dos Diários do Interior – Fonte: http://www.adibr.com.br/
Mídia dados – Grupo de mídia São Paulo – Fonte: http://www.gm.org.br/
IVC – Índice Verificador de Circulação – Fonte: http://www.ivc.org.br/
Projeto Inter-Meios – Fonte: http://www.projetointermeios.com.br/
JOVE – Jovedata – preços de mídia – Fonte: http://www.jovedata.com.br/indexn.htm
178
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

O primeiro é o quadro de penetrabilidade das tecnologias de informação e


comunicação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE.
O segundo é o quadro de desempenho das Indústrias Criativas do Programa Inter-
meios, da publicação especializada em mercado publicitário Meio & Mensagem.
No momento seguinte são reunidos e analisados os dados por segmento,
disponíveis, especialmente, nas fontes primárias com as Agências Reguladoras e
as organizações de classe. Vale ressaltar que o presente documento trata-se de um
primeiro relatório onde se busca apontar alguns desafios e tendência na passagem
do mundo analógico para o digital.

Cenário geral das Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais


O cenário de digitalização das mídias tende a diluir os sistemas e processos
hierarquizados e verticais, característico dos meios analógicos. A diversidade de
suportes de produção, distribuição e consumo digitais oferece uma autonomia
de escolha para a instância de recepção que tem provocado alvoroço em toda a
cadeia das indústrias de criativas e de conteúdos. A principal preocupação é com
a acomodação dos atuais e dos novos agentes especialmente diante da perspectiva
de diluição das audiências e fragmentação do consumo. Nesse sentido, o mercado
ainda processa as leituras possíveis de dois quadros de indicadores divulgados em
2010 e que servem de arrancada para o confronto de dados sobre o desempenho
da indústria na primeira década do século XXI.
Como antecipamos, o primeiro instrumento encontra-se no resultado do
levantamento do PNAD 2009 que se orientou por mensurar a curva de evolução
de cada mídia (2001 a 2009) no que se refere à penetrabilidade das tecnologias
de informação e comunicação junto à população brasileira. Os indicadores
apresentados no gráfico e tabela abaixo (desenvolvidos pela equipe do PNAD), a
primeira vista, confirmam algumas previsões dos “futurólogos” do setor, mas ao
mesmo tempo desestabilizam outras certezas.
Inicialmente, é possível inferir que três das tecnologias digitais emergentes,
o computador, a internet e o telefone (especialmente móvel), apresentam uma
curva de evolução a cada ano mais ascendente. A variação de domicílios com
computador (considerando um universo médio investigado no período de
aproximadamente 50 milhões de domicílios) saltou de 12,6% para 34,7%. Não
menos impactante é a conectividade. O número de lares conectados à internet
cresceu de 8,6%, em 2001, para 27,4% em 2009. A maior ascensão foi do telefone
(particularmente o móvel) presente em 84,3% das residências consultadas. Vários
fatores são arrolados para justificar esse movimento, tais como redução de preço
(simplificação e escala dos aparatos tecnológicos) e mobilidade social. O fato é
que o brasileiro está, a cada dia, naturalmente dependendo das bases de uma

179
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

economia ativa, mais próximo dos meios digitais.


Se pensarmos nos períodos de cinco anos 2001-2005 e 2005-2009, o
percentual de crescimento do acesso “telefone” (fixo e móvel) manteve-se estável,
12,7% em cada período de quatro anos. Já o “microcomputador” passou de 6%
(de 2001 a 2005) para 16,1% (de 2005 a 2009), uma aceleração considerável.
O “microcomputador” com acesso à internet foi de 5,1% (de 2001 a 2005) para
13,7% (de 2005 a 2009).
No âmbito dos meios eletrônicos de massa, uma vez que a digitalização da
TV está em curso e do rádio engatinha, os indicadores respondem ainda pelo
legado analógico. E nesse caso, não deixa de surpreender tanto a estabilidade
do Rádio quanto o permanente crescimento da TV. Por tudo que já se disse e
prognosticou sobre a avalanche da internet como meio do futuro, a performance
dos meios de radiodifusão já deveria sinalizar uma desaceleração. Todavia os
números, especialmente, no caso da TV (95,1%,estava 91,7%)), mostram que
a radiodifusão permanece, ao menos, por enquanto, como mídia de maior
penetração entre as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).
Na evolução apurada pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio
observa-se que mesmo que a curva do rádio registre uma oscilação, manteve-se
estável, presente em cerca de 88% dos lares. Ou seja, apesar dos Podcasts, rádios
web e outros formatos de som digital, apesar da aceleração no acesso da população
à internet e ao telefone móvel que também oferecem conteúdo sonoro digital e
segmentado, a manutenção da penetrabilidade dessa mídia analógica, em parte,
surpreende. Sobretudo, quando se fala em transição de plataformas tecnológicas.
Os dados mostram um desejo de acesso ao mundo digital paralelo à manutenção
de seguras rotinas consolidadas no mundo analógico. Trata-se de uma mudança
que envolve hábitos culturais e domínio técnico dos novos suportes por parte
da instância de recepção. A migração para o digital, além da infraestrutura, da
capacidade de compra, exige aprendizado tecnológico.
Gráfico 1 – levantamento do PNAD sobre penetração das TICs

180
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Domicílios Brasileiros (%) com Rádio TV, Telefone, Microcomputador e Micro com Acesso à internet
http://www.teleco.com.br/pnad.asp - acesso em 12/10/2010

Observe-se, por outro lado, que essa movimentação entre mídias analógicas
e digitais, considerando-se o processo de digitalização da radiodifusão, aponta na
direção da convergência de meios. O mundo da convergência parece sugerir a
efetivação da teoria da terceira onda, de Alvin Toffler (1981), de que os dispositivos
tecnológicos midiáticos promoveriam um movimento inverso à massificação e à
padronização produzidas pela revolução industrial (segunda onda). Na visão de
Toffler, a portabilidade e o custo dos novos dispositivos contribuíram para que
cada um pudesse exprimir-se no espaço público das mídias audiovisuais. Seria
a desmassificação numa perspectiva de “selft média”, em que se assistiria a uma
maior participação do cidadão, graças à possibilidade de escolha e de acesso aos
meios de expressão criativa e cultural. Pensa-se numa ruptura com o monopólio
editorial dos meios de comunicação social.
Essa demanda de consumo da população brasileira pelas tecnologias de
informação e comunicação, por exemplo, vem ajudando a impulsionar um novo
serviço chamado de triple play que reúne serviços de televisão, telefone e internet.
Uma modalidade que está ajudando a alavancar uma reação da TV por assinatura
como veremos mais adiante. Se verificarmos o universo monitorado pelo PNAD,
vamos perceber que ele abrange mais de 58 milhões de domicílios e, portanto,
da conta de um espectro de mercado consumidor significativo para qualquer
indústria.

181
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 1 – PNAD Domicílios

Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Rádio 88,0% 87,9% 87,8% 87,8% 88,0% 87,9% 88,1% 88,9% 87,9%
Televisão 89,0% 90,0% 90,1% 90,3% 91,4% 93,0% 94,5% 95,1% 95,7%
Telefone
58,9% 61,7% 62,0% 65,4% 71,6% 74,5% 77,0% 82,1% 84,30%
(Fixo ou Celular)
Microcomputador 12,6% 14,2% 15,3% 16,3% 18,6% 22,1% 26,6% 31,2% 34,7%
Microcomputador com acesso à
8,60% 10,3% 11,5% 12,2% 13,7% 16,9% 20,2% 23,8% 27,4%
Internet
Total de Domicílios (milhares) 46.507 48.036 49.712 51.753 53.053 54.610 56.344 57.557 58.577

Nota: Até 2003, não inclui a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e
Amapá.127

O que naturalmente inquieta os agentes econômicos do setor, nesse período


de transição, é a acomodação do mercado e a curva de faturamento com publicidade
(venda de espaço comercial) principal fonte da sustentabilidade das mídias, ao
longo dos últimos cinco anos”, conforme expões a tabela, (2005 a 2009) expõe
uma movimentação, na maioria dos meios, bastante semelhante àquela verificada
no PNAD. Observe-se agora o segundo quadro referência (tabela 2), que é o
monitoramento do Projeto Inter-meios, do Jornal Meio&Mensagem. O trabalho,
que começou nos anos 90, tem a adesão de 350 fontes, entre veículos e grupos
de comunicação, que informam mês a mês seus resultados com investimento
publicitário. A tabulação compreende o total nacional, a distribuição regional
e por tipo de mídia. Os meios acompanhados são TV aberta e fechada, rádio,
jornal, revista, cinema, guias e listas, mídia exterior (outdoor, painel, mobiliário
urbano, digital out of home e móvel) e internet.
O trabalho do Inter-meios confirma a curva promissora dos meios digitais.
A internet mais que triplicou suas cifras (de 265,6 milhões em 2006, para mais de
950 milhões de reais em 2009) e dobrou seu percentual de participação no mercado
dos investimentos publicitários (de 2,07%, em 2006, para 4,27% em 2009) e se
aproxima da receita do rádio (986 milhões de reais). A TV por assinatura, com
os pacotes digitais e o triple play, também cresceu , embora numa proporção
menor()equivalente (3,68% de participação no faturamento. O cinema oscilou
positivamente e depois estabilizou. Mídia exterior, guias e listas apresentaram
uma variação negativa no período. Nos impressos, os jornais que mantinham,
até 2008, uma pequena curva de crescimento, registram um recuo em 2009. No
caso específico da Revista, não há uma curva de alta em relação ao percentual de
participação no mercado. No ano de 2006 registra seu melhor índice (8,61 %),
cai em 2007, recupera um pouco em 2008 e cai mais em 2009(7,69%).

127. http://www.teleco.com.br/pnad.asp acesso em 12/10/2010

182
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 2 – Faturamento dos meios com investimentos de publicidade

Meio 2005 2006 2007 2008 2009


Televisão 9.507.387.98 10.354.879.7 11.252.835.953 12.605.206.14 13.569.342.942,7
3,00 87,07 ,91 5,60 3
Jornal 2.601.648.43 2.696.059.58 3.106.311.340, 3.411.681.801 3.134.937.206,09
5,00 2,35 83 ,87
Revista 1.403.780.94 1.502.111.17 1.609.907.900, 1.824.640.757 1.711.960.708,34
1,00 3,31 42 ,15
Rádio 668.279.990, 726.590.791, 767.249.908,95 902.452.967,3 986.876.313,54
00 65 2
TV por 374.236.084, 529.977.896, 639.400.833,32 802.711.026,4 823.000.026,00
Assinatura 00 44 2
Mídia 680.666.597, 640.412.182, 535.822.847,42 759.342.247,6 658.886.222,49
Exterior 00 65 7
Guias e 405.990.881, 568.560.427, 493.049.258,64 586.730.093,1 355.771.997,38
Listas 00 14 6
Internet 265.650.458, 361.311.795, 526.665.026,94 463.027.455,8 950.367.727,91
00 51 3
Cinema 53.238.434.0 61.031.179,1 75.147.576,96 88.334.654,40 81.644.904,46
0 3
Total 15.960.879.8 17.440.934.8 19.006.390.647 21.444.127.14 22.272.705.423,6
03,00 15,25 ,39 9,42 9

Faturamento anual com publicidade (jan a dez) Fonte: projeto inter-meios

Por sua vez, a radiodifusão, tanto rádio quanto TV, computa uma curva de
crescimento ao longo do período (tabela 3). No caso da TV a participação nas
receitas publicitárias que em 2006 estava em 59,37%, em 2009 chegou a 60,92%
(mais de 13 bilhões de reais). Essa performance revela uma reserva de combustível
da radiodifusão que, dependendo da acomodação dos agentes, pode assegurar a
manutenção da hegemonia, pontualmente no caso da TV, por mais tempo que
desejaria a previsão de democratização dos meios pela tecnologia de Toffler. É fato
a emergência das novas mídias digitais, mas as velhas mídias eletrônicas migram
para esse mundo do código binário carregando junto seu legado analógico.

183
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 3 – Participação no mercado publicitário de cada mídia

Meio 2006 2007 2008 2009


Televisão 59,37 59,21 58,78 60,92
Jornal 15,46 16,38 15,96 14,08
Revista 8,61 8,47 8,51 7,69
Rádio 4,17 4,04 4,21 4,43
TV por 3,04 3,36 3,74 3,68
Assinatura
Mídia Exterior 3,67 2,82 3,54 2,96
Guias e Listas 3,26 2,59 2,74 1,60
Internet 2,07 2,77 2,16 4,27
Cinema 0,35 0,40 0,41 0,37
Total dos Meios 100,0 100,0 100,00 100,00

Participação no mercado. Fonte: projeto Inter-meios

Os indicadores do PNAD de penetrabilidade e os indicadores de receita e


participação no mercado publicitário do projeto Inter-meios indicam algumas
tendências de crescimento dos meios digitais e ciclos de retração, estagnação, mas
também de estabilidade, nas mídias analógicas. Questões que vamos averiguar a
seguir, tomando por base os indicadores dos principais meios.

Mídia Impressa: Jornal, Revista e Livro


Jornal
A suspensão da circulação impressa do Jornal do Brasil em 2010 e a migração para
internet estimularam as previsões de que o destino da mídia mais tradicional era
a versão digital distribuída por meio de portal. As estratégias dos demais jornais
brasileiros (Folha de SP, Estadão, O Globo, Correio Brasiliense, ZH, etc.) foram
em sentido contrário. Criaram versões eletrônicas, portais de interação, serviços
de notícias e informações de serviço multimídia, mas mantiveram suas versões
impressas, ainda que com uma atualização estética na suas diagramações. Todavia
o futuro dos impressos parece incerto.
Para entender o cenário do setor, resgatemos os indicadores de produção,
distribuição e consumo. A principal fonte que reúne os dados relativos aos
jornais no Brasil, como já informado, é a Associação Nacional de Jornais. Os
dados apresentados pela ANJ resultam de levantamentos primários feitos pelas
associações regionais afiliadas à instituição nacional, do monitoramento do

184
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Instituto de Verificação de Circulação, no que se refere à venda de jornais, da


revista Meio & Mensagem, que acompanha o faturamento publicitário dos
veículos de comunicação, do Anuário da Mídia e do rastreamento realizado pela
Secretária de Comunicação do Governo Federal.

Indicadores de distribuição e consumo


O meio pelo qual os jornais medem seu indicador de consumo é pela quantidade
de exemplares que circula a cada edição. E o índice de circulação se subdivide
entre assinaturas (o exemplar que é entregue ao assinante) e venda avulsa (o
exemplar que é comercializado na banca). Os dados disponíveis são consolidados
pela Associação Nacional de Jornais (ANJ).
Segundo os registros da ANJ (veja planilha abaixo) a década vem sendo
marcada por uma forte oscilação que chegou a representar uma queda superior
a 20% na circulação nacional, mas a recuperação ao longo de nove anos ainda
assegura um pequeno crescimento. Entre 2000 e 2003 o número de exemplares
em circulação nacional caiu de 7 milhões e 883 mil para 6 milhões e 470 mil
unidades.
Verificou-se uma significativa redução próxima de um milhão e meio de
exemplares. Nos quatro meses subsequentes (2005, 2006, 2007 e 2008) houve
uma recuperação e até uma superação da perda (tabela 4). Em 2008 a circulação
de jornais no Brasil atingia 8 milhões 487 mil exemplares, mais de meio milhão
de unidades acima do maior volume de circulação registrado entre 2000 e 2003.
Todavia em 2009 verificou-se um novo sinalizador de queda.

Tabela 4 – Circulação diária de jornais no Brasil em milhões de exemplares dia


Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Circulação 7.883 7.670 6.972 6.470 6.522 6.789 7.230 8.083 8.487 8.193
nacional*
Variação % 8,81 -2,7 -9,1 -7,2 0,8 4,1 6,5 11,8 5,0 -3,46

Afiliados ao 3.980 3.877 3.553 3.315 3.343 3.480 3.706 4.144 4.351 4.200
IVC

Fonte: Associação Nacional de Jornais – ANJ. Acesso: setembro de 2010.

Dados do Instituto Verificador de Circulação (tabelas 5) mostram que


durante o período de retração (2001 a 2003) foram os assinantes, num primeiro
momento, que asseguraram a demanda pelos jornais. Enquanto as vendas avulsas
recuaram na ordem de 335 mil exemplares, de 2002 para 2003, as assinaturas
registraram uma diminuição menor. A redução foi metade da avulsa: 167mil

185
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

exemplares entre 2002 e 2003.


No ano seguinte, o percentual entre venda avulsa e assinatura se manteve
estável. De 2002 a 2008, as assinaturas representaram a maior fatia de
comercialização. A partir de 2006 as vendas avulsas apresentam uma curva de
recuperação que vai se consolidar em 2009, quando a circulação de jornais através
das vendas avulsas volta a ser maior que das assinaturas.

Tabela 5- Perfil da Venda e Assinatura dos Jornais Diários por ano

Venda em % 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009


Venda Avulsa 41,3 39,1 39,1 41,3 44,8 48,5 49,4 50,82
Assinatura 58,7 60,9 60,9 58,7 55,2 51,5 50,6 49,18
Venda em
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
milhões
Vendagem
2.858 2.523 2.555 2.783 3.253 3.960 4.158 4.178
Avulsa
Assinantes 4.113 3.946 3.996 4.005 3.976 4.122 4.328 4.014

Fonte: IVC – Instituto Verificador de Circulação – acesso em setembro de 2010.

Desta vez a marca dos hábitos culturais, das rotinas, da fidelidade do leitor,
de maneira geral, ajudou na resistência dessa mídia analógica diante da ebulição
das ofertas no mundo digital que induzem de a infidelidade. Observa-se que as
vendas avulsas passarem de 2.858 milhões, em 2002, para mais de 4 milhões em
2008. E em números absolutos só caíram de 2002 para 2003, em seguida, de ano
para ano se mostraram sempre crescentes, com duas grandes viradas, em 2005 e
2006, cujos acréscimos foram de um pouco menos e de mais de 500 mil em cada
um deles. Ao contrário do que ocorre com pequenas oscilações nas assinaturas.

Investimento publicitário – faturamento total


No período entre 2004 e 2008 o faturamento dos jornais com publicidade
(tabela 6) no geral aumentou 32,25%, de 2004 a 2009, quando o aumento foi
de cerca 820 milhões de reais, encontrei 35%. Entretanto, entre 2008 e 2009, os
jornais sofreram um revés na curva de crescimento. A receita publicitária bruta
no comparativo de janeiro a dezembro de cada ano caiu 8,11%, recuou de 3,4
bilhões de reais, em 2008, para 3,1 bilhões de reais. Uma perda que chegou a mais
de 270 milhões de reais. Um sinalizador que se somou a outro indicador negativo
para o segmento. No bolo publicitário, de 2004 a 2009, a participação dos jornais
vem reduzindo gradualmente. Em 2001 o faturamento representava 21,73%
dos investimentos no mercado publicitário. Em 2009 a fatia dos jornais recuou
fortemente para 14,08%, apesar das oscilações positivas entre 2006 e 2007.

186
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 6 – Faturamento bruto x participação na receita com publicidade

Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009


Fatura- 2.315.316. 2.601.648.4 2.696.059. 3.106.311. 3.411.681.8 3.134.937.20
01
mento 580 35 582 340 6
em R$
Participa- 16,65 16,3 14,7 16,38 15,91 14,08
ção

Fonte: projeto inter-meios acesso em setembro de 2010.

Indicadores de produção - número de títulos (número de jornais)


O número de jornais impressos no país (tabela 7) também apresenta crescimento
de 53% ao longo da década a exemplo do aumento de circulação.

Tabela 7 – Número de jornais brasileiros


Periodicidade 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Diário 491 523 529 532 535 532 555 675 682

Semanal 937 1.221 1.405 1399 1.533 1531 - - -

Quinzenal 249 377 395 397 445 420 - - -

Mensal 176 380 396 424 380 378 - - -

Bissemanal 93 113 125 131 139 145 - - -

Trissemanal 34 39 35 35 36 40 - - -

Outros 31 108 86 30 30 - - -

TOTAL 1980 2.684 2.684 3.004 3.098 3.076 3.079 4.103 4.148

Fonte: ANJ, ABRE, ADJORI/SC, ADJORI/RS, ADI/Brasil e Mídia Dados – acesso em setembro de 2010-10-
08
* os dados acima de 2007, 2008 e 2009 não foram especificados pela fonte

Com base num levantamento da Associação Nacional de Jornais (tabela


8), que procurou mapear os títulos por região e por estado (com a ajuda das
fontes primárias ANJ/ ABRE/ JOVE/ Anuário de Mídia/ ADI-Brasil/ ADJORI)
é possível verificar um acréscimo de 10,6 % no número de títulos em todo o país
nos últimos quatro anos, embora tenha havido uma pequena variação negativa
em 2007.
No caso do Sudeste e do Centro – Oeste observa-se uma progressão gradual
sem retrocesso. A significativa maioria dos títulos (83,56%) não tem periodicidade
diária. Desse universo cerca de 42% são semanais, em torno de 17% são
187
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

quinzenais, 15% mensais e 8% correspondem a bimensais e trimestrais. A maior


concentração está no Sudeste onde se aglutinam quase 60% das publicações. São
ao todo 2.045 jornais (49,2%). Em segundo vem a região Sul com 911 títulos
(26,6%), seguida do Centro-Oeste com 224 (6,5%) publicações, o Nordeste com
176 (5,1%) e o Norte com 110 jornais (4,9%).

Tabela 8 – Evolução dos números de títulos por região

ANO 2006 2007 2009 Em %


Sudeste 1.832 1.836 2.045 59,9
Sul 801 800 911 26,6
Centro-Oeste 193 197 224 6,5
Nordeste 155 154 176 5,1
Norte 95 93 110 4,9
Total Brasil 3.076 3.079 3.446 100
Fonte: ANJ, Mídia Dados

A maior concentração de jornais (tabela 9) por estado está em São Paulo


com 1.126 títulos, seguido por Minas Gerais com 572, Rio Grande do Sul com
429, Santa Catarina com 278 e Rio de Janeiro com 271 jornais. Com exceção do
Espírito Santo, todos os estados do Sul e Sudeste possuem um número superior a
200 jornais cada, ao passo que no restante do País essa cifra sequer chega a 90 por
estado. E no Norte e Nordeste, com exceção da Bahia, a média não ultrapassa a
casa dos 30 jornais por estado.

188
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 9 – Distribuição dos jornais por região


Ano 2006 2007 2009
BRASIL 3.076 3.079 3.446
Norte 95 93 110
Rondônia 26 26 26
Acre 6 6 6
Amazonas 9 10 16
Roraima 4 4 4
Pará 24 22 29
Amapá 5 5 5
Tocantins 21 20 23
Nordeste 155 154 176
Maranhão 21 21 23
Piauí 8 8 11
Ceará 14 14 16
Rio Grande do Norte 17 16 20
Paraíba 7 7 8
Pernambuco 14 16 16
Alagoas 8 8 9
Sergipe 12 10 12
Bahia 54 54 61
Sudeste 1,832 1.836 2.045
Minas Gerais 506 504 572
Espírito Santo 52 51 76
Rio de Janeiro 251 254 271
São Paulo 1832 1.026 1.126
Sul 801 800 911
Paraná 183 183 204
Santa Catarina 219 219 278
Rio Grande do Sul 399 398 429
Centro-Oeste 193 197 224
Mato Grosso do Sul 77 78 86
Mato Grosso 50 50 54
Goiás 54 57 65
Distrito Federal 12 12 19

Fonte: ANJ, Mídia Dados

Entre os dez jornais de maior circulação (tabela 10), também concentrados


no Sul e Sudeste, observa-se, claramente, o decréscimo na circulação de exemplares
nos últimos três anos. É verdade que em 2008, na maioria deles, há uma alta,
depois uma queda maior em 2009. Verifica-se também que apesar da “Folha de
São Paulo” se manter estável na liderança, houve troca de posições no ranking que
sinaliza preferências de formato e conteúdo. O movimento se deu entre os títulos
“O Globo”, das Organizações Globo do Rio de Janeiro, que em 2008 perdeu o
segundo lugar para o “Sempre Notícia”, da Sempre Editora de Belo Horizonte e
ficou em quarto, atrás do “Extra”, outra publicação das Organizações Globo. Em
2009, “O Globo” supera o “Extra”, e sobe para o terceiro lugar.
O interessante na ascensão do “Sempre Notícias” é que o jornal é um

189
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

tablóide que privilegia um tratamento editorial mais popular (temas de violência


e futebol), carrega no uso de cores fortes na capa e, na hierarquia da distribuição
de espaço na diagramação, prioriza as fotos ao texto. O “Extra” segue a mesma
linha embora seja um formato Standard. Na lista dos 10 ainda aparecem o
“Meia Hora”, editado no Rio e São Paulo (6 posição) e “Diário Gaúcho” que
são publicações com o mesmo perfil popular. Até mesmo as publicações mais
tradicionais como o “Estado de São Paulo” (seguindo a FSP, o Globo e a ZH)
deram uma guinada gráfica nas suas paginações e também passaram a valorizar o
uso de fotos e cores.

Tabela 10 – Índice de circulação dos maiores de circulação paga

Título Editora 2007 2008 2009 Formato


1- Folha de S.Paulo Empresa Folha da Manhã 302.595 311.287 295.558 Standard
2- Super Notícia (5) Sempre Editora S/A 238.611 303.087 289.436 Tablóide
3- O Globo (2) Infoglobo Comunicações SA 280.329 281.407 257.262 Standard
4- Extra (3) Infoglobo Comunicações SA 273.560 287.382 248.119 Standard
5- O Estado de S.Paulo S/A O Estado de S.Paulo 241.126 245.966 212.844 Standard
6- Meia Hora Editora O Dia S/A 205.768 231.672 185.783 Tablóide
7- Zero Hora Zero Hora Editora Jornalística S/A 176.412 179.934 183.521 Tablóide
8- Diário Gaucho Zero Hora Editora Jornalística S/A 155.328 166.886 155.131 Tablóide
9- Correio do Povo Empresa Jornalística Caldas Júnior 154.188 155.569 146.885 Tablóide
10- Lance! Arete Editorial S/A 112.625 113.715 125.050 Tablóide

Fonte: IVC – índice de verificador de circulação. Acesso: setembro 2010.

Em parte, essa tendência de conteúdo e consumo dos jornais pode ser


compreendida por um fenômeno do mundo digital que ganhou força nesses
primeiros 10 anos do século XXI. O ingresso, no campo da informação
jornalística, dos blogs comandados por jornalistas experientes que assinavam ou
ainda assinam colunas tradicionais nas publicações em papel. Percebendo esse
movimento há mais tempo, os jornais da lista, a partir de 2007, criaram versões
digitais abrigadas em portais que também atualizam as notícias on line e ensaiam
um processo de convergência que inclui jornalismo colaborativo.

Revista
Produção – com base no número de revistas publicadas
No âmbito das revistas a evolução do número de títulos revela uma estabilidade
e mais, um crescimento no setor ao longo da década, especialmente no que se
refere às revistas que tem periodicidade regular. Triplicaram os títulos regulares,
partindo de 556 opções em 2000 para 3.285 em 2009.
Os indicadores de desempenho das revistas, nos quais este estudo se
baseia, são mapeados pelo Instituto de Verificação de Circulação (IVC). Pelos

190
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

levantamentos do Instituto (Tabela 11) a evolução das revistas sem periodicidade


regular oscilou bastante. Sobe em linha crescente até 2003 e depois cai da mesma
forma até 2009. Assim, entre um momento de crescimento contínuo de 2000 a
2003, e depois um decréscimo anual de 2004 a 2009, termina a década com um
número inferior ao ano 2000.
Diferentemente dos jornais que estimularam e exploraram o hábito e a
fidelidade do leitor, a estratégia do segmento de revista foi trabalhar a segmentação
e a diversidade de temas.

Tabela 11 – Evolução do número de títulos discriminado entre as publicações regulares e


aquelas não regulares
ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Regulares 556 580 705 893 1333 1707 1762 2066 2255 3285
Não Regulares 1448 1663 1920 2366 2245 1944 1895 1767 1660 1147
Total 2034 2243 2625 3259 3578 3651 3657 3833 3915 4432

Fonte: IVC e Distribuidores128

Circulação e consumo – com base na circulação e faturamento


Do ponto de vista da distribuição, as editoras seguem recorrendo à venda avulsa e
à assinatura. A performance desses indicadores (tabela 12) referenda uma medida
do resultado de consumo com base na circulação. Tomando como referência
a evolução do desempenho das revistas brasileiras entre 2000 e 2009, verifica-
se uma oscilação levemente negativa em relação ao início da década quando a
circulação chegava a 446 milhões de exemplares. O monitoramento do IVC
mostra 2009 com 24 milhões de exemplares a menos que no ano 2000, somando
as vendas avulsas e assinaturas, registrando um total de 422 milhões. No geral, o
período apresenta uma oscilação de alta e baixa que revela uma clara estagnação
na base de leitores das revistas impressas.

Tabela 12 – Evolução da circulação incluindo o total e discriminado as vendas avulsas e


a distribuição para assinantes computando por milhões de exemplares que circularam a
ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Avulsas 277 287 267 244 236 223 239 229 242 249
Assinatura 170 167 168 164 163 164 161 161 168 173
Total 446 454 435 408 399 387 400 390 410 422

cada ano
Fonte IVC
128. IVC – Índice Verificador de Circulação – Fonte: http://www.ivc.org.br/ Acesso em 10 de outubro 2010

191
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Faturamento das empresas


O cenário do setor desenha-se crítico quando observado o faturamento com base
nas receitas publicitárias. Se considerado o número de páginas com publicidade,
houve um aumento, mas, se observado o investimento publicitário, ocorreu uma
redução de 6,18% na comparação entre 2008 e 2009. O número de páginas com
publicidade, monitorado pelo IBOPE mostra que, até então, havia uma projeção
promissora. Em 2004, por exemplo, as publicações (tabela 13) contavam com
mais de 74 mil páginas com anúncios e, em 2008, as revistas superaram as 100
mil páginas com investimento publicitário.

Tabela 13 – Evolução do conteúdo produzido com base no número de páginas

Ano 2004 2005 2006 2007 2008


Total de páginas 74.084 76.118 81.718 97.958 105.704

Fonte IBOPE

Já o faturamento, acompanhado pelo jornal Meio&Mensagem (tabelas 14


e 15), também uma variação positiva. Se considerarmos a década, o faturamento
saiu da casa de 1.043 milhões, em 2000, para 1.712 milhões em 2009, o que
representa um aumento da ordem de 669 milhões, ou seja, 39% em dez anos. As
únicas reduções sofridas foram em 2001, 2002, e de 2008 para 2009, essa última
da ordem de 112 milhões, ou seja, 6,1%.

Revista 2008 (jan a 2009(jan a dez) Crescimento/Decrés % de


dez) cimo Participação
Direto 276.722.087,33 208.489.489,40 -24,66 7,57
Via Agência 1.547.918.669,8 1.503.471.224,94 -2,87 7,74
2
Total 1.824.640.757,1 1.711.960.708,34 - 6,18 7,69
5

Tabela 14 – Faturamento das revistas (em R$)


Fonte: Projeto inter-meios

Na tabela 15, se for observada a performance ao longo da década, nota-se


que há uma queda no início, 2001 e 2002, e depois o mesmo volta a ocorrer
somente no último exercício, 2009. Se consideradas as cifras absolutas entre 2000

192
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

e 2009, verifica-se um aumento progressivo, mas num ritmo de baixa aceleração,


especialmente se considerado o número de títulos e a diversificação do mercado.

ANO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Faturamento 1.043 985 937 1.038 1.158 1.404 1.502 1.609 1.824 1.712
milhões / Reais

Tabela 15 – evolução do faturamento


Fonte: Projeto inter-meios

Os dados do IVC de 2007 a 2009 (tabela 16) ainda mostram que as cinco
revistas de maior circulação estão com suas sedes de produção concentradas entre
Rio e São Paulo e representam mais de 60% de participação no mercado do
setor com base na média de distribuição. Quase metade do mercado (49,9%)
está concentrado em três publicações de informação de caráter jornalístico. Do
ponto de vista do conteúdo, o indicador permite aferir que, apesar da diversidade
de opções, as revistas de informação lideram a lista de preferência do leitor. São
seguidas pelos títulos de entretenimento.

Título Editora Circulação 2007 2008 2009 Part. Mercado


Veja Abril 1.096.624 1.089.902 1.067.488 28,65%
Época Globo 417.798 420.477 413.286 11,05%
Isto é Três 344.273 353.135 344.029 9,28%
Caras Caras 279.458 278.394 293.386 7,32%
Viva Mais Abril 157. 733 202.793 227.515 5,33%

Tabela 16 – Performance das principais revistas


Fonte: Projeto Inter-Meios.

A variação de mercado das cinco revistas líderes se mantém igualmente


estagnada apresentando pequenas oscilações no caso das publicações jornalísticas
(Veja, Época e Isto É) e ligeiro crescimento para os títulos de entretenimento,
dedicados a explorar a vida das celebridades do show biss (Caras) e conteúdos de
auto-ajuda e serviços (Viva Mais).
Os indicadores do IVC (tabela 17) ainda sinalizam que a distribuição de
revistas por região em relação ao preço e população apresenta maior equilíbrio

193
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

entre oferta, demanda e preço no Sudeste e Sul e menor equilíbrio das demais
Regiões / Estados Distribuição de IPC População
Revistas
Brasil 100,00 100,00 100,00
Norte 3,53 5,71 6,94
Rondônia 0,38 0,64 0,77
Acre 0,14 0,24 0,32
Amazonas 0,90 1,15 1,33
Roraima 0,15 0,18 0,20
Pará 1,42 2,69 3,38
Amapá 0,21 0,30 0,29
Tocantins 0,33 0,51 0,65
Nordeste 11,78 18,79 25,88
Maranhão 0,92 1,72 2,76
Piauí 0,55 0,96 1,50
Ceará 1,84 2,93 4,13
Rio Grande do N 0,89 1,23 1,53
Paraíba 0,78 1,44 1,86
Pernambuco 2,32 3,48 4,30
Alagoas 0,61 1,04 1,52
Sergipe 0,53 0,76 0,97
Bahia 3,33 5,23 7,31
Sudeste 62,32 51,41 44,21
Minas Gerais 7,99 10,47 10,51
Espírito Santo 1,32 1,87 1,84
Rio de Janeiro 11,76 11,10 9,23
São Paulo 41,25 27,96 22,54
Sul 15,54 16,32 15,57
Paraná 5,63 6,07 5,88
Santa Catarina 3,91 3,63 3,39
Rio Grande do Sul 6,01 6,61 6,30
Centro-Oeste 6,82 7,78 7,41
Mato Grosso do Sul 1,11 1,23 1,24
Mato Grosso 1,09 1,50 1,58
Goiás 1,92 3,17 3,24
Distrito Federal 2,69 1,88 1,34

regiões. O quadro de distribuição por região reforça a tendência de concentração


dos meios no Sudeste e Sul do país.
Tabela 17 – Distribuição de Revistas por Região X IPC X População
Fontes: IVC – índice Verificador de Circulação, IPC – Brasil em foco 2010 e População: Ibope pesquisa
de Mídia

Livro
Distribuição e consumo – volume vendas
O desempenho do mercado editorial brasileiro vem sendo monitorado pelo
Sindicato Nacional de Editores graças ao exaustivo trabalho da FIPE - Fundação
de Pesquisas Econômicas. Os indicadores disponíveis e consolidados, que dão
conta dos resultados auferidos de 2004 a 2009, mostram uma curva positiva.

194
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Embora se verifique um crescimento registrando taxas de variação pequenas, a


média de novos títulos publicados é superior a 10% (tabela 19) entre 2008 e
2009.
Os registros, baseados em questionários respondidos por um grupo de
empresas e inferência estatística, dão conta de publicações produzidas e distribuídas
pelo mercado editorial incluindo obras gerais (ficção, não ficção), didáticos,
religiosos, CTP (livros Científicos, Técnicos e Profissionais). No levantamento
(tabela 18) a venda está divida em dois segmentos: a produção encomenda pelo
governo e aquela comprada por consumidores privados (no mercado).

Tabela 18 – Mostra o número de exemplares vendidos por milhão para o mercado e para o governo
Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Mercado Didáticos 56,55 69,86 66,75 75,32 73,54 84,33
Mercado Obras Gerais 51,50 57,22 59,90 59,32 63,55 62,78
Mercado Religiosos 28,65 35,35 36,90 43, 42 50,26 53,06
Mercado CTP 16,88 19,97 21,50 22,20 24,19 28,54
Total Mercado 153,58 182,59 185,05 200,26 211,54 288,71
Governo 135,10 87,80 125,31 128,72 121,72 142,23
TOTAL 288,68 270,39 310,36 329,20 333,26 370,94

Fonte FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

Percebe-se que a evolução de vendas é puxada pelos livros didáticos129 que


mantém uma curva positiva, com pequenas oscilações (há quedas em 2006 e
2008) enquanto que os demais, depois de um crescimento mais forte entre 2004 e
2007, ficaram estáveis. Outro fenômeno foram os títulos religiosos que cresceram
bastante depois de 2007, mais inclusive que os didáticos. Os CTPs tiveram um
crescimento quase semelhante nos períodos de 2004 a 2007 e de 2007 a 2009.
Exceção para os livros CTP de 2008 e 2009, especialmente nas compras efetuadas
pelo governo (uma variação atribuída pelos pesquisadores da FIPE ao incremento,
no período, dos programas de ensino fundamental).
No que se refere a faturamento (tabela 19), o resultado da venda ao
comprador privado mantém, ao longo dos últimos seis anos, uma proporção de
3 por 1 em relação ao comprador governo, representando 75% da receita do
setor. Já em relação ao número de exemplares vendidos, o ano de 2009 registra
uma proporção superior a 2 para 1, do mercado em relação ao governo, provável
resultado da tendência observada de 2006 para cá, que destaca um crescimento
anual do número de exemplares vendidos para o mercado consideravelmente
129. Esse mesmo fenômeno se repete em outros países da América Latina. Sobre o tema, ver o Informe sobre
Industrias de Contenidos en Latinoamérica (2008), disponível em internet.
195
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

superior ao vendido para o governo. Esse último registra inclusive oscilações


Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Marcado Didáticos 822, 50 882,31 766,03 819,24 807,54 783,28
Mercado Obras Gerais 540,87 524,88 540,99 528,01 517,91 519,75
Mercado Religiosos 238,08 215,82 212,68 230,32 259,03 242,97
Mercado CTP 346,48 358,97 367,63 350,52 380,63 385,25
Total Mercado 1.947,93 1.981,98 1.887,33 1.928,09 1.965,00 1.931,25
Governo 529,10 418,50 645,89 612,89 701,09 634,28
TOTAL 2.477,03 2.400,48 2.530,02 2.540, 98 2.666,09 2.565,63

negativas em 2005 e 2008.

Tabela 19 – Faturamento do setor incluindo vendas para o governo e para compradores privados
Fonte: FIPE

O impacto subsetorial dos títulos no qual o crescimento entre 2008 e 2009 é


verificável entre os didáticos (participação na produção geral de títulos de 15,4%)
e os CTP (participação de 8,97%)131. Entre as obras gerais (participação na
produção geral de 19%) e religiosas (participação na produção geral de 16,33%)
há uma queda de 7%.

Mídia Sonora: Rádio, Disco, Telefone e novos suportes


Rádio
Distribuição e consumo – número de emissoras e faturamento
As rádios são classificadas pela ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicação
– com base no espectro de frequência no qual operam, distribuídas entre FMs
(frequência modulada), OM (ondas médias), OC (ondas curtas), OT (ondas
tropicais)132 e Rádios Comunitárias. Pelo registro da agência o número de
emissoras em operação aumentou de 2001 a 2009 em torno de 44%. O maior
crescimento aconteceu até meados da década (tabela 21).
No caso das OMs, frequência na qual operam as principais emissoras do
país, em razão da limitação do espectro, há muito ocupado, registra-se pequena
131. Segundo o estudo da FIPE, o resultado é impulsionado pelos surgimentos de novas instituições de ensino
e de novos cursos.
132. Ondas Curtas - 2.3 MHz–26.1 MHz, são divididas em quinze bandas e tem longo alcance, mas baixa
qualidade de sinal. As mais usadas são de 49, 31, 25 e 19 metros.
Ondas Médias - 520 kHz–1,610 kHz, comum nas Américas, possui médio alcance.
Ondas Longas - 153 kHz–279 kHz, comum nas Europa, África, Oceania e parte da Ásia.
Ondas Tropicais - 2300 kHz-5060 kHz de 120-90-60 metros, utilizada entre os Trópicos, longo alcance e
qualidade de sinal aceitável.
196
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

variação positiva, naturalmente sinalizando um quadro de estabilidade. O mesmo


se repete com as OTs e as OCs, banda usada por muitas emissoras do interior do
Brasil e também para reproduzir sinais das grandes emissoras dos centros urbanos.
Já as comunitárias, operações de limitada cobertura em bairros e áreas
densamente ocupadas nas metrópoles, experimentam um crescimento
exponencial, o aumento foi de quatro vezes entre o início e o fim desta década.

Tabela 21 – A evolução do número de emissoras


RÁDIOS 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 05/2010
FM 1.622 2.025 2.149 2.223 2.320 2.600 2.678 2.732 2.903 2.295
OM 1.632 1.682 1.697 1.707 1.708 1.711 1.718 1.749 1.773 1.708
OC 64 62 66 66 66 66 66 66 66 S/D
OT 78 76 75 75 75 75 75 74 74
Com 980 1.625 1.932 2.207 2.443 2.734 3.154 3.386 3.897

Fontes: Anatel e Grupos de Mídia (seção Rádio, pág. 369).133

Número de emissoras de radiodifusão por estado


A distribuição das emissoras por estado mostra (tabela 22), a exemplo dos meios
impressos, um maior número de canais operando no Sudeste, seguido pelo Sul
e pelo Nordeste. Todavia se considerada a densidade populacional das cidades
dessas regiões, há maior equilíbrio com o número de estações de rádio.

Tabela 23 – evolução do faturamento com publicidade

Meio 2005 2006 2007 2008 2009


668.279.990, 726.590.791,6 767.249.908,9 902.452.967,32 986.876.313,
Rádio
00 5 5 54

Fonte: Projeto Inter-Meios135

Produção – conteúdo e hábitos do ouvinte


De acordo com pesquisa do IBOPE, divulgada no site Mídias Digitais, que em
2010 entrevistou 19.456 pessoas entre agosto e julho, a concentração de audiência
está nas capitais do país, em praticamente todas as regiões. Verifica-se o hábito
de escutar rádio em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre,
Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo. Da mesma maneira, há registro de
133. http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortal internet.do# http://midiadados.digitalpages.com.br/home.
aspx acesso em 10/10/2010
135. idem

197
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

audiência nas cidades do interior, especialmente dos estados das regiões Sudeste
e Sul.
A fonte indica que o perfil do ouvinte é de ambos os sexos, das classes AB, C
e DE e tem entre 12 e 64 anos. Portanto, o rádio é transversal a toda a população,
Local Percentual de ouvintes
Dia da semana Segunda a Sábado Domingo
Sexta
Em Casa 53,34% 41,32% 34,04%
No Carro 10,34% 5,13% 3,75%
No Trabalho 10,53% 4,44% 1,82%
No Transporte 1,67% 0,43% 0,11%
Público

independente de classe social, nível cultural, sexo ou idade. O ouvinte mantém o


velho hábito de escutar rádio em casa (tabela 24), embora as audiências no carro
e no trabalho não possam ser desprezadas.

Tabela 24 – Locais de escuta do rádio


Fonte: IBOPE, Grupo de Mídia.136

A mesma pesquisa indica que, entre as preferências de conteúdo (tabela 25),


estão os programas musicais e os informativos. Sendo que mais da metade dos
entrevistados afirmam que escutam diariamente os dois gêneros sem exclusão.
Quase a totalidade dos entrevistados (92,63%) ouve música no rádio e bem mais
da metade da amostragem (66,96%) acompanha os noticiários locais além dos
(30,84%) que acompanham notícias nacionais.

Tabela 25 – Preferência de gêneros

Programas de Notícias Audiência Programas Musicais Audiência


Locais 66,96% Sertaneja 32,38%
Nacionais 30,84% MPB 28,16%
Trânsito 25,25% Sucesso / As Mais Pedidas (Nacional) 27,08%
Tempo 24,52% Samba/Pagode 26,79%
Policiais 22,75% Sucesso / As Mais Pedidas (Inglês) 20,74%

Fonte: IBOPE, Grupo de Mídia.137


136. Disponível em: http://midiadados.digitalpages.com.br/home.aspx - acesso em 20/11/2010
137. Disponível em: http://midiadados.digitalpages.com.br/home.aspx - acesso em 22/10/2010
198
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

O rádio, paralelamente a este fôlego de resistência, mostra uma capacidade


de adaptação. Além do espectro eletromagnético, vem oferecendo seu sinal na
internet, no telefone celular, em aparatos móveis e, inclusive na TV por assinatura.

Indústria fonográfica: Formatos (disco, CD, DVD, Digital)


O mercado fonográfico no país é acompanhado pela ABP – Associação Brasileira
de Produtores de Disco, que sinaliza uma forte mobilização com fins de adaptação
ao processo de digitalização das mídias e as novas formas de consumo da música
talvez mais veloz que o do rádio. E as razões dessa busca pela agilidade podem
ser comprovadas pela performance de queda do segmento e a consequente
necessidade de imediata reação.

Distribuição e consumo – comercialização


Os indicadores de comercialização de CD e DVD, entre 2002 e 2009 (tabela 26),
conforme dados da própria ABP, apresentam uma significativa variação na receita
com venda, primeiro positiva, depois bastante negativa. No início da década
o setor apresentava um relativo equilíbrio de vendas, na faixa entre 600 e 700
milhões de reais. A partir de 2005 a comercialização experimentou um processo
de queda no faturamento que chegou a 31,2% em 2007. No ano seguinte houve
uma pequena recuperação que se repetiu em 2009.

Tabela 26 – Evolução da Venda de CDs e DVDS

Vendas Totais R$ (CD + DVD) em milhões


2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
R$ R$ R$ R$ 615.2 R$ 454.2 R$ 312.5 R$355.7 R$358.43
726.0 601.0 706.0 71 2

Fonte: ABPD (valores reportados pelas maiores companhias fonográficas operantes no país à ABPD).138

O número de unidades vendidas (tabela 27) acompanhou a curva instável


e descendente registrada no faturamento do setor, apresentando uma redução
média de 17%.

138. Disponível em: http://www.abpd.org.br/estatisticas_mercado_brasil.asp - acesso em 12/10/2010


http://www.abpd.org.br/downloads/Final_Publicacao_09_2010_CB.pdf - acesso em 12/10/2010

199
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 27 – Evolução de venda em unidades


Unidades Totais (CD + DVD) em milhões
2002 2003 2004 2005 2006 2007
75 56 66 52,9 37.7 31.3

Fonte: ABPD (valores reportados pelas maiores companhias fonográficas operantes no país à ABPD).139

Produção – adaptação do mercado digital


Diante do quadro adverso, a partir de 2006, a indústria fonográfica começou a
comercialização de músicas digitais por meio da internet e da telefonia móvel. O
mercado digital não recuperou toda a perda do mercado analógico, mas aponta
para um significativo crescimento (tabela 28). O principal comércio se dava
pela telefonia móvel, mas em 2009 a compra de música pela internet assumiu a
liderança do segmento digital.

Tabela 28 – Evolução da venda de músicas por meio digital


Número de músicas digitais vendidas por ano
2006 2007 2008 2009
Internet R$ 334.055,00 R$ 5.743.684,00 R$ 9.683.197 R$ 25.121.472
(4% do mercado) (24% do mercado) (22% do (58,7% do
mercado) mercado)
Telefonia R$ 8.113.115,00 R$ 18.543.504,00 R$ 33.820.343 R$ 17.657.105
móvel (96% do mercado) (76% do mercado) (78% do (41,3% do
mercado) mercado)
Total Digital R$ 8.517.170,00 R$ 24.287.188,00 43.503.539 R$ 42.778.577
(100%) (100%) (100%) (100%)

Fonte: ABPD140

A transição do analógico para o digital não é o único desafio de acomodação


da indústria fonográfica. O mercado paralelo das cópias piratas tem sido, talvez,
o maior problema do setor.
As organizações setoriais (ABPD, Associação Anti-pirataria, Associação
Protetora dos Direitos Intelectuais) têm promovido intensa articulação e pressão
nos setores de segurança pública que resultaram na crescente apreensão de
material (tabela 29) usado para a produção e comercialização das cópias piratas,
mas a venda informal continua em todo o país, um fenômeno que se repete em
outros países da Região141.
139. Disponível em: http://www.abpd.org.br/estatisticas_mercado_brasil.asp - acesso em 12/10/2010
http://www.abpd.org.br/downloads/Final_Publicacao_09_2010_CB.pdf - acesso em 12/10/2010
140. ABPD - http://www.abpd.org.br/musicainternet_numeros.asp - acesso em 12/10/2010
141. Sobre o tema, ver o Informe sobre Industrias de Contenidos em Latinoamérica.
200
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Em 2005, as forças de segurança pública recolheram 21 mil cópias piratas,


em 2006 foram mais de 23 mil CDs virgens que supostamente seriam usados
para pirataria. Em 2008, as apreensões já reduziram.

Tabela 29 – Número de CDs e DVDs piratas apreendidos por ano


CDs 2000 2001 2002 2004 2005 2006 2007 2008
Gravad 3.223.2 2.976.21 3.783.53 5.686.253 3.473.371 21.392.6 6.179.86 6.251.137 4.089.0
os 95 7 5 94 5 79
Virgens 122.165 315.643 8.649.59 11.455.42 12.168.81 - 23.755.0 12.301.41 8.444.8
0 1 8 67 9 00
Drivers 280 691 847 4.883 8.238 21.092 43.981 18.115 -

Fontes: ABPD, APCM E APDIF142

Com os DVS, a situação não foi diferente. Em 2005 a apreensão (tabela


30) chegou a mais de 9 mil cópias e em 2008 foram 17 mil unidades virgens que
também supostamente seriam usadas para gravar cópias piratas.

Tabela 30 – apreensão de DVDs


DVDs 2005 2006 2007 2008
Musicais apreendidos 9.130.758 2.712.525 3.158.263 ND
Virgens - 14.719.750 8.932.535 17.769.474

Fontes143

A repressão à cópia pirata também investigou um universo superior a mil


pessoas por ano, ao longo da década, chegando a mais de duas mil averiguações
em 2007 (tabela 31). As ações policiais também resultaram na prisão de mais
de mil pessoas. Entre 2006 e 2007 as condenações em processos de pirataria
atingiram 438 pessoas.
Tabela 31 – Repressão à pirataria
Pessoas 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Averiguadas 1.348 1.213 1.264 1.060 1.064 1.638 1.517 2.160
Presas s/registro 8 58 142 149 205 190 171

Fonte144
142. ABPD - http://www.abpd.org.br/pirataria_dados_anos_2000.asp - acesso 13/10/2010
APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música) - http://www.apcm.org.br/ - acesso13/10/2010
APDIF (Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos) - http://www.apdif.org.br/estatisticas.php
- acesso em 13/10/2010
143. Idem.
144. Idem.

201
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Cinema
Consumo - número de espectadores de filmes nacionais e estrangeiros e
bilheteria
Os registros do cinema brasileiro, somente a partir de 2006, passaram a ser
acompanhados pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE). Antes o
monitoramento acontecia por meio de uma organização privada (Filme B). Em
razão disso, há uma limitação na disponibilidade dos indicadores consolidados
da indústria cinematográfica brasileira ao longo dessa primeira década. Entre os
dados da ANCINE e da Filme B há divergências. Mesmo assim, os números
mostram uma estabilidade no número de espectadores durante o período,
especialmente nos que se referem ao público dos filmes estrangeiros (na faixa
dos 90 milhões espectadores). Na filmografia nacional, embora se observe uma
média em torno de 10 milhões de espectadores, houve uma oscilação de bilheteria
(tabela 32) atípica em 2003 (22 milhões de espectadores) e 2004 (16 milhões de.
espectadores). Um fenômeno que tende a se repetir em 2010 (dados da Filme B),
quando apenas três filmes (“Tropa de Elite 2”, com mais de 8 milhões, “Nosso
Lar” e “Chico Xavier – O Filme”) superam os 15 milhões espectadores.

Tabela 32 – Evolução do número de espectadores X receita em milhões


Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
/Especta
dor
Filme 7.299.79 22.055.0 16.569.0 9.942.05 10.310.96 9.143.052
Nacional 0 00 00 0 5

Filme 83.566.1 80.903.0 98.323.0 81.334.5 77.603.47 80.817.11


Estrangei 98 00 00 29 2 2
ro
Total 90.865.9 102.958. 114.733. 91.276.5 87.914.43 89.960.16 112.683.383
88 000 000 *83,9 79 7 4

Receita 701.376.0 702.061.1 729.522.78


Ancine 00 11 2,41
(R$)
Receita 672,
529,7 660,6 784,5 695,1 712,7 727,1 970,4
Filme B 0

Fonte: Ancine e Filme B145

145. http://www.ancine.gov.br/media/SAM/20092/Programacao/505.pdf . Acesso em 08/10/2010


http://www.ancine.gov.br/media/SAM/2008/Programacao/508.pdf\ . Acesso em 08/10/2010

202
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Paralelamente à receita com bilheteria nas salas de todo o país ter ficado
na faixa dos 700 milhões de reais, pouco mais de 10% deste valor foi gerado a
partir dos filmes nacionais. Também no que se refere à arrecadação, os três filmes
brasileiros, fenômenos de público em 2010, já captaram juntos 150 milhões de
reais. Em 2009, “Se eu fosse você 2” foi a segunda maior bilheteria do ano, com
mais de 50 milhões de reais, atrás apenas de “A Era do Gelo 3”, que arredou 80
milhões de reais, menos que “Tropa de Elite 2” em 2010.
Na verificação por estados (tabela 33) observa-se um público cativo entre
3 e 5 milhões de espectadores na maior parte das áreas de concentração urbana
e em todas a regiões. Exceções para os estados do Rio e São Paulo, que juntos se
aproximam dos 40 milhões de espectadores. Pode-se aferir que no Brasil há um
público fiel do cinema que assegura um mercado estável no consumo geral da
indústria cinematográfica e que é sensível à produção nacional.

Tabela 33 – relação bilheteria/ telespectador por estado


ANO 2008 2009
ESPECTAD ESPECTAD RECEITA
Estado OR RECEITA(R$) OR (R$)
AC 67.687 316.037 54.870 404.731
AL 272.368 1.902.118,00 426.226 3.421.690,46
AM 1.321.686 10.027.887 1.874.560 16.008.366,49
AP 150.398 923.975 213.372 1.364.382
BA 2.579.006 19.024.142,00 4.322.029 32.776.328,43
CE 1.688.841 12.406.997,00 2501526 19.953.682,04
DF 3.105.705 27.233.760,00 4.269.045 41.596.291,64
ES 1.364.340 9.747.425,00 2.070.694 16.857.712,42
GO 1.903.081 12.351.638,00 3.191.686 21.301.823,35
MA 693.129 4.658.874,00 945642 7.163.658,12
MG 5.649.426 38.035.455,00 8.533.756 63.181.260,31
MS 660.283 4.900.012,00 895.113 7.564.456,65
MT 862.147 5.967.253,00 1.221.303 9.506.588,64
PA 760074 5.176.280 1.144.172 8.700.111
PB 724.347 4.117.657,00 926.314 5.707.085,75
PE 2.386.154 16.934.136,00 3.680.712 27.193.185,46
PI 247.274 1.676.275,00 385.970 2.785.811
PR 4.487.622 32.300.054,00 5.948.088 48.703.554,06
RJ 10.976.441 97.511.632,00 17.756.110 161.733.506,59
RN 774.091 5.640.070,00 1.055.027 8.045.248,50
RR 45344 307.381 116.291 737.945,50
RS 4.000.117 30.708.450,00 5.318.660 45.733.179,69
RO 125693 740.727 469.889 3.583.308,30
SC 2.231.661 16.473.475,00 3.276.413 27.857.704,81
SE 603.220 4.012.644,00 890.774 6.534.014,99
SP 28.494.319 ######### 41.224.884 381.482.423,28
TO 70942 366.217 38577 273.724,00

Fonte: Ancine146
146. http://www.ancine.gov.br acesso em 10/11/2010
203
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Produção – evolução do número de obras realizadas


No Brasil, conforme registros da ANCINE, existem hoje 163 produtoras
habilitadas para a realização de projetos cinematográficos, a maioria localizada
no eixo Rio – São Paulo. Reconheça-se que, entre 2007 e 2009, estimulado pelas
políticas de fomento da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura,
houve um crescimento significativo de projetos e mesmo de produções no
norte e nordeste (segundo levantamento da Associação Brasileira de Produtores
Independentes147).
Na mesma progressão, o número de realizações da indústria cinematográfica
também vem crescendo (tabela 34), entre 2001 (30 obras) e 2009 (84 obras) quase
triplicou a produção de filmes. Seguramente ainda há uma diferença significativa
entre os lançamentos nacionais e estrangeiros, mas já foi bem maior.

Tabela 34 – evolução do número de filmes lançados


Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Nacionais 30 29 30 49 45 72 78 79 84
Estrangeiros 248 244 234

Fonte: Ancine148

Os programas de incentivo do governo federal especialmente através da


Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura têm estimulado essa produção.
Nos últimos três anos foram mais de 60 milhões de reais que resultaram em 681
produtos (incluindo programas de TV e plataformas digitais). Registre-se que,
além das políticas de incentivo, a digitalização e, em razão disso, diversificação
e barateamento dos meios de captação e processamento de som e imagem, tem
contribuído nesse aquecimento da realização audiovisual. Inclua-se também o
amadurecimento da cultura de produções BO (baixo orçamento) entre cineastas
emergentes.

Distribuição – número de agentes, salas, acentos e cineclubes (tabela 35)


O vínculo de parte do público brasileiro com o cinema pode ser ainda mensurado
pelo número de cineclubes por estado. Como atestam levantamentos do IBGE e
os registros do
Ministério da Cultura (tabela 35), existem unidades em quase todo o país.
E o dado mais significativo, em certo sentido natural, mas também curioso, é
a localização da maior parte dos cineclubes. Estão presentes nas regiões com
147. http://www.abpitv.com.br/mostra_noticias.php?codigo=270&btvoltar=index.php acesso em 20/10/2010
148. Idem

204
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

menor infraestrutura de salas de exibição, como o caso do Amapá onde estão


18,75% dos cineclubes. O estado do norte perde apenas para o Rio de Janeiro
(27,17). O Acre apresenta, praticamente, o mesmo percentual de São Paulo (9%).
Uma característica que se verifica em toda a região do Norte e Nordeste, um
movimento, sob certo aspecto, na contramão da centralização de produção e de
infraestrutura de exibição no Sudeste e no Sul.

Tabela 35 - distribuição dos cineclubes pelo país


Cineclubes registrados em 2009 conforme distribuição em %
Rio de Janeiro 27,17 Bahia 3,36
Amapa 18,75 Minas Gerais 3,05
9,15 Mato Grosso 2,84
Acre 9,09 Sergipe 2,67
8,97 2,44
5,43 Santa Catarina 2,39
Amazonas 4,84 1,38
4,2 1,35
Rio Grande do
Alagoas 3,92 Norte 1,2
3,85 Tocantins 0,72

Rio Grande do Sul 3,83 0,45


Pernambuco 3,78 Roraima 0
Mato Grosso do
3,51 Sul 0

Fonte: Ministério da Cultura149

Se observarmos a infraestrutura de exibição, com base nos registros


disponíveis de 2008 (tabela 36), observa-se uma concentração de assentos nas
maiores metrópoles do país, especialmente nas capitais em razão, sobretudo, do
fechamento das antigas salas dos centros das cidades e de bairros150 e a migração
para shopping centers. A maioria dos espaços está nas cidades de São Paulo e Rio de
Janeiro que, juntas, somam quase dez mil unidades enquanto nas demais capitais
o número de assentos não chega a mil e quinhentos. Por outro lado, o número
de salas digitais e com infraestrutura para exibição em 3D se multiplica a cada
ano. Conforme o último levantamento da Filme B151 em maio de 2010 há 140
complexos de salas (presentes na maior parte das capitais de todas as regiões)
equipados com projeções em 3D.

149.http://www.cultura.gov.br/site/wp_content/uploads/2009/10/cultura_em_numeros_2009_final.pdf.
Acesso em 12/10/201
150. Sobre o tema ver a obra Consumidores e Cidadãos, de Nestór Garcia Canclini.
151. http://www.filmeb.com.br/portal/html/graficosetabelas.php acesso em 09/11/2010.

205
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 36 – cidades com maior número de assentos


Cidades com maior concentração de assentos 2008
Belo Horizonte 13107
Brasília 13997
Curitiba 13712
Porto Alegre 14375
Recife 6570
Rio de Janeiro 36354
Salvador 10235
São Paulo 61562

Fonte:ANCINE152

Um limitador para o acesso do público aos filmes é o preço do ingresso


(tabela 37). A média nacional, que segundo a ABRAPEX, em 2003 era de R$
7,00 (sete reais) hoje, de acordo com a ANCINE (tabela 38) é superior a R$ 8,00
(oito reais).
Tabela 37 – preço do ingresso por estado
UF 2008 2009
DF 8,77 9,74
ES 7,14 8,14
MA 6,72 7,58
MG 6,73 7,4
MS 7,42 8,45
MT 6,92 7,78
PA 6,81 7,6
PB 5,68 6,16
PE 7,1 7,39
PI 6,78 7,22
PR 7,2 8,19
RJ 8,88 9,11
RN 7,29 7,63
RR 6,78 6,35
RS 7,68 8,6
RO 5,89 7,63
SC 7,38 8,5
SE 6,65 7,34
TO 5,16 7,1

Fonte : ANCINE154
Tabela 38 – preço médio em Reais

ANO PMI
2008 R$8,11
2009 R$8,22

Fonte: ANCINE153
152. http://www.ancine.gov.br/media/SAM/2008/LongasSalasExibicao/301.pdf acesso em 12/10/2010
154. idem
153. http://www.ancine.gov.br/media/ acesso em 12/10/2010

206
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 39 – Média nacional em dólar

ANO PMI - US$


2001 2,45
2002 2,04
2003 2,18
2004 2,46
2005 3,15
2006 3,6
2007 4,53
2008 4,61
2009 4,94

Fonte: Filme B155

O fato é que o mercado de cinema no Brasil mostra potencial. Outro referente


dessa fatia de mercado é o número de distribuidores nacionais e internacionais
(Tabela 40) em operação no país. Entre 2000 e 2009 a curva de crescimento é
impactante, salta de quatro operadores o setor para quarenta.

Tabela 40 – evolução do número de distribuidores


Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Distribuidores 04 10 10 14 17 22 35 29 31 40

Fonte: ANCI NE156

Embora a reação do cinema nacional nos últimos anos seja animadora


o quadro de remessa de lucros da produção estrangeira ou de empresas
internacionais, que exploram o mercado brasileiro, mostra uma evolução. Os
técnicos do Banco Central que executaram um levantamento, exclusivamente
para a presente pesquisa, alertam que não há no sistema de monitoramento da
instituição um código específico para gerar diretamente os dados de remessas de
lucros de filmes estrangeiros.
A tabela apresentada resultou de uma combinação de critérios. Os técnicos
esclarecem também que as distribuidoras de filmes estrangeiras contempladas são
aquelas que podem gerar receitas no mercado brasileiro que podem ser remetidas
para o exterior como lucros (no caso de filiais brasileiras), royalties ou serviços
audiovisuais. Possibilidades que foram consideradas no relatório. Explicam que os
dados sobre o remetente e o favorecido no exterior, conforme a Lei Complementar
105/2001, não podem ser divulgados pelo Banco Central. E quanto aos dados
das empresas residentes, eles foram agregados com base na Classificação Nacional
de Atividades Econômicas (CNAE).
O fato é que o relatório gerado mostra os valores que nos servem de parâmetro
155. http://www.filmeb.com.br acesso em 11/101/2010
156. http://www.ancine.gov.br/media/SAM/2009/SerieHistorica/1115.pdf - acesso em 12/10/2010

207
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

para uma primeira análise. Dados consolidados pelo Banco Central (tabela 41)
apontam para um forte aquecimento nas atividades de exibição cinematográfica,
sobretudo, entre 2008 e 2009, que se manteve ascendente em 2010. Quando
esses resultados contemplam as atividades de produção, as remessas de lucros
e dividendos mostram uma estabilidade, destacando um volume mais forte em
2009, mas um refluxo em 2010.
No que se refere a pagamento de royalties, verifica-se um relativo equilíbrio
no conjunto dos movimentos, incluindo exibição, produção e distribuição, tanto
para atividades no cinema quanto na TV. Já no que diz respeito a serviços há uma
tendência de crescimento conforme a performance anual de 2008 para 2010.

Tabela 41 – remessa de lucros valores em dólares (1.000 US)


Conta do Residente - CNAE Classe 2008 2009 2010
Balanço de Nome (até
Pagamentos out.)
Lucros e Atividades de exibição cinematográfica 510 2.678 3.135
dividendos
Atividades de pós-produção cinematográfica, de vídeos e 265 0 231
distribuídos
de programas de televisão
Atividades de produção cinematográfica, de vídeos e de 4.840 6.392 4.510
programas de televisão
Distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de 0 214 0
televisão
Royalties e Atividades de exibição cinematográfica 15 15 1.074
direitos de
Atividades de pós-produção cinematográfica, de vídeos e 369 333 801
uso
de programas de televisão
Atividades de produção cinematográfica, de vídeos e de 1.831 1.786 1.519
programas de televisão
Distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de 25.832 50.559 48.350
televisão
Serviços Atividades de exibição cinematográfica 4 172 91
audiovisuais
Atividades de pós-produção cinematográfica, de vídeos e 2 10 1
e
de programas de televisão
relacionados
Atividades de produção cinematográfica, de vídeos e de 18 74 110
programas de televisão
Distribuição cinematográfica, de vídeo e de programas de 16.545 20.412 39.269
televisão

Fonte: Banco Central em levantamento exclusivo para a presente pesquisa

Esses dados ainda requerem uma investigação mais detalhada para que se
possa identificar os atores e suas atividades específicas (o que se pretende fazer
no decorrer das próximas etapas), mas já indicam que uma importante fatia do
mercado audiovisual no segmento é operado ou tem participação de organizações
estrangeiras.

208
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Televisão
TV Aberta – o modelo concentrado de produção e distribuição
Existem sete redes de emissoras de Televisão (tabela 42) que operam em VHF157, a
principal banda de canais analógicos, sendo duas com gestão pública e 5 com
gestão privada, conhecidas com TVs Comerciais. Entre as públicas a TV Cultura,
embora vinculada a uma Fundação estatutariamente autônoma, é financiada e
controlada pelo governo paulista, e a TV Brasil, apesar de subordinada a um
Conselho formado pela sociedade Civil é também financiada pelo Estado, no
caso o governo federal.
As redes privadas são controladas por quatro grupo familiares (caso das
Organizações Globo – família Marinho , SBT – família Abravanel, Bandeirantes
– família Saad e Rede TV – família Dallevo) e uma igreja (caso da Record,
vinculada aos pastores da Igreja Universal). Basicamente todas as cabeças de
rede (emissora que coordenada a grade de programação e transmite o conteúdo
âncora) estão localizadas no eixo Rio - São Paulo. No caso da TV Brasil essa
função operacional fica divida entre a principal emissora que fica no Rio e a
estrutura de Brasília onde fica a sede principal da rede.

Tabela 42 – estruturas das redes que operam o sistema de TV Aberta

Redes Próprias afiliadas Total


Globo 16 76 92
SBT 9 40 49
Record 5 25 30
Bandeirantes 8 19 27
Rede TV 5 8 13
TV Cultura 1 12 13
TV Brasil 4 37 41

FONTE: ANATEL e TV Brasil – estão incluídos os canais VHF e UHF158

A distribuição de afiliadas das redes VHF (tabela 43) apresenta uma


concentração também no Sul (particularmente no Paraná) e Sudeste (naturalmente
com maior presença em São Paulo), mas diferentemente das demais mídias
também se expande pela região norte do País. Pará (notadamente com 11
157. VHF - origem no termo inglês Very High Frequency (Frequência Muito Alta) que corresponde a faixa
de radiofrequências de 30 a 300 MHz. Essa faixa é geralmente utilizada para transmissão de rádio FM ( 88-
108 MHz) e transmissões televisivas (em conjunto com a UHF). Também é usada para sistemas de navegação
terrestre, comunicações aéreas e radioamadorismo. UHF - Ultra High Frequency ( Frequência Ultra Alta)
compreende a faixa de radiofrequências de 300 MHz até 3 GHz também usada para propagações de sinais de
TV analógica e dos canais digitais em HDTV ( 14 ao 83), rádio e transceptores . No Brasil, a faixa também é
utilizada paara a telefonia celular ( 70 a 83) .
158. http://www.anatel.gov.br/Portal acesso em 09/10/2010

209
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

emissoras), Maranhão e Amazonas juntos, como 27 canais superam os três estados


do sul com 25 emissoras. Esse fenômeno está ligado a uma redistribuição mais
tardia do espectro eletromagnético nessas regiões e também da forte influência de
políticos locais159.

Tabela 43 – distribuição de emissoras por estado

Estado Redes de Estado Redes de


TV TV

AC 4 PA 11
AL 4 PB 2
AM 8 PE 6
AP 3 PI 3
BA 4 PR 13
CE 6 RJ 5
DF 4 RN 3
ES 4 RR 2
GO 3 RS 8
MA 8 RO 4
MG 10 SC 4
MS 5 SE 3
MT 7 SP 45
TO 4

Fonte: Anatel160

Além da frequência VHF há redes que operam na frequência UHF com


a Rede Vida, Canção Nova (canais vinculados a Igreja Católica), TV SESC (do
sistema social do comércio), a MTV (ligada ao grupo Abril), os canais chamados
públicos da TV Justiça, TV Senado, TV Câmara (dos poderes Judiciário e
Legislativo), a NBR (canal de notícias do governo federal), Canais Universitários
(vinculados a instituições públicas e privadas) e outras emissoras comerciais
segmentadas.
A televisão é a mídia com maior penetração nos lares brasileiros (tabela 44),
os últimos levantamentos do PNAD do IBGE revelam que o veiculo está presente
em 95,7% dos domicílios. Verificando a evolução dos dados registrados entre
2001 e 2009 a relação entre o aumento no número de domicílios e de aparelhos
de TV é diretamente proporcional com uma gradual vantagem para a TV. Hoje
existe um aparelho de TV em 56 milhões dos 58 milhões de domicílios brasileiros
acompanhados pelo IBGE.

159. Sobre o tema, há estudos anteriores como os estudos de Venicio Lima, Suzy Santos, do Fórum Nacional
pela Democratização (FNDC) e o da Cartografia Audiovisual Brasileira (2006), entre outros.
160. Idem

210
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 44 – número de aparelhos de televisão por região

DOMICÍLIOS COM TV (por DOMICÍLIOS


ANO milhares) CONSULTADOS
2001 41.391,00 46.507
2002 43.232,40 48.036
2003 44.790,50 49.712
2004 46.732,90 51.753
2005 48.490,40 53.053
2006 50.787,30 54.610
2007 53.245,00 56.344
2008 54.736,70 57.557
2009 56.058,10 58.577

Fonte: PNAB

Consumo – a digitalização e a luta pela audiência


A TV Aberta, como destacado no presente relatório, também segue líder no
faturamento com verbas publicitárias (Tabela 45) oscilando ao longo da década
entre 59 e 60% de participação do mercado. A receita bruta do setor também
acumula um crescimento que varia entre sete e pouco mais de 10% ao ano.

Tabela 45 – evolução da receita publicitária na TV Aberta

Meio 2005 2006 2007 2008 2009


Televisão 9.507.387.983,00 10.354.879.787,07 11.252.835.953,91 12.605.206.145,60 13.569.342.942,73

Fonte:Inter-meios161

Apesar da manutenção da hegemonia da TV Aberta nessa transição do


analógico para o digital, os radiodifusores já perceberam que estão diante do
gigantesco desafio de reter audiência. A autonomia do telespectador, assegurada
pelos diversos aparatos digitais, que, atualmente, também podem exibir
conteúdos de TV que antes eram uma exclusividade da grade de programação
das emissoras, já sinaliza um discreto movimento no hábito de consumo. O
telespectador começa a diluir suas preferências de programação. Primeiro entre
os próprios canais abertos que (também graças à digitalização e barateamento
dos equipamentos de produção – captação, edição, finalização) hoje disputam
a audiência em padrões técnicos de igualdade. Depois experimenta novas
possibilidades de suporte (computador, gravador digital) para assistir o programa
preferido com base na sua disponibilidade de tempo e desejo, se dissociando da
161. http://www.projetointermeios.com.br/ acesso em 14/10/2010.

211
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

grade de conteúdos e de horários das emissoras.


Se observarmos um quadro de desempenho (tabela 46) das principais redes
nos qual se faça um cruzamento dos dados de faturamento do projeto inter-
meios com os indicadores de audiência medidos pelo IBOPE162 encontraremos
indícios tanto da diluição de audiência quanto na distribuição dos investimentos
publicitários. Embora a Rede Globo mantenha a liderança com folga, na média
anual geral, no início da década o cenário já foi mais confortável. Em 2001 a
concentração de audiência na Rede Globo era superior a 50%, hoje a média é de
44,4% dos televisores ligados.
No que se refere ao faturamento, os números indicam um maior equilíbrio.
O maior resultado ainda é da Globo com 32% seguida pela Record com 21%,
SBT 19%, Band 16%, ficando as demais com 12%.

Tabela 46 – distribuição por rede: faturamento, participação e audiência média


Rede GLOBO RECORD SBT BAND Outras
Faturamento 4.342.189.741,67 2.849.562.017,97 2,578.175.159,1187 2.171.094.870,83 1628321153,1276
Participação
% 32 21 19 16 12
Audiência
media em % 44,4 16,9 13,2% 4,7% 2,6% (REDE TV)

Fonte163

Mas o maior problema para as emissoras abertas está mesmo na fuga do


telespectador para outros suportes como videojogos, TV por assinatura e DVD.
Conforme o monitoramento do IBOPE/NETRATING164 de 2005 a 2009 o
número de domicílios com DVDs e games e outros dispositivos acoplados ao
aparelho de TV, cresceu 125%, saltando de 1,6% para 3,6 %. Essa variação
percentual equivale, segundo a pesquisa, a 1,92 milhão de domicílios. Significar
dizer um universo de lares superior a audiência diária na Grande São Paulo (dados
do IBOPE) da BAND (3,4) e REDE TV (2,1). A mesma pesquisa indica que o
número de aparelhos ligados nos últimos cinco anos diminui da média de 58,8%
dos domicílios monitorados para 57,7%.
Dados do IBOPE de 2009 ainda mostram que as TVs ligadas em DVS,
games, TV paga e pequenos canais, entre 2001 (3,5 pontos de audiência) e 2009
(6,7 pontos de audiência), cresceram 91%. Se for observada apenas a variação
162. Índices divulgados no jornal Folha de São Paulo edição de 14/11/2010
163. Idem (indicadores semelhantes podem ser encontrados em sites de monitoramento da mídia http://www.
mediamonitor.com.br/
http://www.marktest.com/wap/a/n/id~15ac.aspx
http://www.marktest.com/wap/a/n/id~17a.aspx
164. Divulgado no jornal Folha de São Paulo de 28/02/10.
212
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

entre 2005 e 2009, quando a economia registrou uma explosão de consumo de


eletrônicos e a adesão a serviços de TV por assinatura, o crescimento de TVs
ligadas em outros aparelhos (fora da TV aberta) atingiu 125%. A mesma fonte
mostra que o impacto dessa migração para outros aparatos eletrônicos foi sentido
claramente na audiência da TV (tabela 47). E as emissoras mais atingidas foram
aquelas que eram líder em 2000 (Globo com -8% e o SBT com -53%) .

Tabela 47 – Evolução da disputa em pontos entre as cinco redes

Globo SBT Record BAND Rede TV


Variação de - 8% -53% 102% 13% 5%
audiência
2001 32.3 13.3 4.7 3 3
2009 29,7 6.3 9.5 3.4 2.1
Diferença - 2.6% -7 4,8 0,04 0.1

Fonte : IBOPE nacional das 18hs às 0h em 2009


*cada ponto equivale a 533.840 domicílios165

O principal instrumento tecnológico à disposição do segmento para


administrar uma reação é a digitalização dos sistemas de transmissão terrestre
de vídeo, áudio e dados. A tecnologia da TV Digital (sistema de transmissão
nipo-brasileiro chamado de ISDB-TB166) permite o recurso da imagem em
alta definição, do som em estéreo, da recepção móvel, multiprogramação e da
interatividade. No Brasil, onde as transmissões digitais começaram em São Paulo,
em 2 de dezembro de 2007, já é realidade o “Ginga”, um middleware (espécie
de sistema operacional, na verdade uma camada de software intermediária, que
faz interface de aplicativos com o sistema de funcionamento do aparelho de
televisão), que permite o uso no aparato televisivo de aplicativos complexos como
aqueles comuns à internet.
Embora o potencial do Ginga ainda seja muito pouco explorado, a maioria
das principais redes vem fazendo experimentos de interatividade em canal aberto
desde 2009. Em 2010 alguns protótipos com serviços como informações adicionais
sobre a programação, sinopses, perfil de personagens e enquetes de escolha
simples foram testados e gradualmente começam a fazer parte das operações de
rotina nas emissões digitais167. Quase todos dos estados já transmitem em sinal
165. http://www.vooz.com.br/noticias/tvs-perdem-audiencia-para-games-e-dvds-diz-ibope-30365.htm (acesso
em 9/11/2010)
166. O Brasil adotou um sistema híbrido com base da tecnologia de transmissão desenvolvida no Japão e incor-
porações desenvolvidas por universidades brasileiras.
167. Até 2016, data prevista para ser consumada a transição das transmissões analógicas para as digitais, as emis-

213
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

digital (pelos menos 19 capitais e 30 cidades ao todo) e estima-se uma cobertura


dessas emissões para mais de 60 milhões de habitantes, mas que a apenas 3% da
população migraram para a recepção digital aberta.

Produção de conteúdo
Paralelamente ao desenvolvimento da TV Digital as emissoras enfrentam
um processo de substituição dos seus parques tecnológicos de transmissão e
produção. A renovação passa pelo treinamento das suas equipes e experimentos de
conteúdos em alta definição, conteúdos interativos, colaborativos e em processo
de distribuição multimídia. Todavia a maior parte da programação da TV ainda
privilegia conteúdos que asseguram a audiência que se mantém na TV Analógica.
Como é caso dos filmes estrangeiros exibidos em grande escala (tabela 48).

Tabela 48 – Evolução da veiculação de filmes na TV Aberta


Filmes longa-metragem 2007 2008 2009
Estrangeiros
1285 1662 1603
Exibições 1501 1944 2039
Nacionais 185 208 206
Exibições 267 336 324

Fonte: Ancine168

O fato é que a maioria das redes segue optando por um modelo centralizado
de produção por meio do qual prioriza um controle do sistema de realização,
seja de custo, estético ou editorial. É verdade que, gradualmente, tem ganhado
volume (especialmente) nos últimos três anos o investimento em produtoras
independentes nacionais (notadamente o caso da BAND com o programa
CQC e outros). Uma experiência que tem se mostrado bem sucedida na TV por
assinatura e que, parece, começa a sensibilizar a TV Aberta.

TV Por assinatura
Além da TV Aberta, a TV por assinatura (TVA) também apresentou no final
da década uma curva ascendente, depois de um longo período de estagnação.
Conforme o monitoramento da ANATEL, o número de domicílios que recebem
soras operam nos dois sistemas. Hoje a Rede Globo digital cobre 46,5% da população, a Record cobre 22%,
SBT e Rede TV! cobrem 19,4% da população e a Band, 15,7%.
168. http://www.ancine.gov.br/media/SAM/2009/MonitoramentoObrasLongaMetragem/608.pdf acesso em
12/10/2010.

214
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

algum serviço de TV paga passou de nove milhões em 2010 (tabela 49).


Considerando as referências do IBGE para o número de pessoas por domicílio, a
agência estima que atualmente mais de 27 milhões de brasileiros tenham acesso
a TVA – o que representa aproximadamente10% dos domicílios169. O maior
crescimento tem sido nos serviços prestados por satélite (média superior a 3%).
Entre as regiões, o aumento mais expressivo da base de assinantes é no Norte. De
acordo com a ANATEL entre 2009 e 2010 a variação positiva foi de 53,6% (a
média no país foi de 21,5%). O Nordeste vem em segundo lugar com 31,3% ,
depois o Sudeste com um crescimento de 20,9%.

Tabela 49 – evolução do número de assinantes


ANO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Assinantes 3.607,00 3.553,80 3.596,30 3.851,10 4.176,40 4.579,40 5.348,60 6.320,90 7.473,50 9.073.273
por
milhão

Fonte: Anatel170

Circulação e consumo – a evolução do segmento


A reação do mercado de TVA, estagnado até 2004, começou lentamente, mas
2007 houve uma arrancada expressiva, registrando-se crescimento anual superior
a 14%. Esse movimento foi alavancado pelo sistema de cabodifusão, mas a partir
de 2009 o DTH (distribuição de sinal por satélite) assumiu a dianteira da curva
ascendente (tabela 50). Estima-se que a performance se deve a criação de pacotes
básicos mais acessíveis, associada a mobilidade econômica e social verificada no
período.
No caso da evolução do serviço de satélite e suas penetrabilidade no Norte e
Nordeste, credite-se a facilidade de instalação do sistema de satélite que não exige
nova infraestrutura, como na rede de cabo, e também não demanda por grandes
concentrações urbanas para otimizar a exploração do serviço e oferecer ganho
de escala. O DTH representa hoje 43% do mercado de TVA contra 54,30% do
cabo. Em 2009 a relação era de 33 para 60%. Registre-se que em 2010 (sensível
ao apelo de audiência da Copa da Mundo) a ANATEL forneceu novas licenças de
operação para satélite que permitem uma cobertura de serviço para todo o país.

169. Convém lembrar que os dados da Anatel não incluem os telespectadores que acessam a TVA através de
redes clandestinas, fenômeno comum na periferia das grande metrópoles.
170. http://www.anatel.gov.br/Portal . Acesso em 09/10/2010

215
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 50 – evolução das assinaturas de TVA por sistema de distribuição do sinal


Milhares 2004 2005 2006 2007 2008 2009
TV a Cabo 2.270 2.511 2.842 3.228 3.811 4.315
DTH 1.350 1.438 1.479 1.762 2.091 2.780
MMDS 230 227 258 346 397 355
TVA (UHF) - - 3,7 12,3 22 24
Total 3.851 4.176 4.583 5.349 6.321 7.473
Densidade 2,11 2,26 2,45 2,84 3,32 3,90

Fonte: Anatel

O aumento da base de assinantes impactou diretamente na receita e no


número de postos de trabalho do segmento. O a partir do serviço triple play as
empresas ainda criaram outra fonte de receita (tabela 51) por meio da oferta em
separado da conexão banda larga. O acesso à rede por meio da TVA também vem
crescendo num ritmo forte nos últimos 4 anos, praticamente dobrando ao longo
do período.

Tabela 51 – Faturamento, Banda Larga e empregados

2004 2005 2006 2007 2008 2009


Faturamento
3.981 4.657 5.500 6.670 9.320 10.700
(R$ Milhões)
Assinantes Banda
367 627 1.189 1.753 2.590 3.200
Larga (milhares)
Empregados 8.128 9.571 10.952 13.675 16.882 18.751

Fonte: ABTA171
* Banda larga representa 35% do fatuamento das operadoras de Cabo/MMDS172

Produção – o conteúdo nacional ganha espaço


A expansão da TVA impulsionou outras demandas da indústria criativa e de
conteúdos como os serviços de dublagem e novas produções nacionais, boa parte,
realizadas graças as lei de incentivo aos programadores internacionais. A evolução
do número de exibições de filmes nos canais por assinatura tende a confirmar essa
tendência. Entre 2007 e 2009 aumentou significativamente (86%) o número de
títulos nacionais na grade de programação da TVA (tabela 49). Em revanche, de
2008 a 2009 a exibição de filmes estrangeiros diminuiu (25%).
171. http://www.teleco.com.br acesso em 20/10/2010
172. http://www.teleco.com.br/glossario.asp?termo=faturamento+da+TV+por+assinatura .Acesso em
20/10/2010

216
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 52 – Exibição de filmes na TVA


Filmes 2007 2008 2009
Estrangeiros 8712 9.431 6.786
Nacionais 345 2.797 2.926

Fonte: Ancine173

Videojogos
Um segmento que vem crescendo na produção de conteúdos é o de videojogos.
Como se trata de um segmento emergente ainda não há um acompanhamento
regular. Mas uma pesquisa realizada em 2008 pela Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames) já indicava uma curva
promissora. De acordo com o levantamento, o Produto Nacional Bruto (PNB)
do setor de jogos chegava a R$ 87,5 milhões e 43% da produção nacional de
software para jogos se destinava à exportação. O número de empresas do setor já
superava a 40 organizações que na época empregavam cerca de 560 profissionais.
A progressão entre 2005 e 2008 (tabela 53). No indicador de faturamento o
setor vem crescendo tanto no que diz respeito a produção de software quanto de
hardware.

Tabela 53 – Faturamento indústria brasileira de jogos eletrônicos. (R$ Milhões)


ANO 2005 2006 2007 2008
18 17 20 23
Software
59 52 59 61
Hardware
77 69 79 84
Total

*Inclui apenas o que é produzido no Brasil. Não contempla os números do varejo.

Se verificada a indicação do levantamento da Abragames no que se a


evolução em percentual produção nacional de software de jogos (tabela 54) que
são exportados a curva de crescimento se mostra promissora.

Tabela 54– evolução da exportação de produção nacional


2005 2006 2007 2008
29.63% 22.91% 28.77% 43.31%

173. http://www.ancine.gov.br acesso em 25/10/2010

217
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Quando se observa o comportamento do mercado e relação a sub-segmentos


específicos dos videojogos (tabela 55) é facilmente identificável uma tendência
em favor de aplicativos para celulares. De certa maneira, pode-se arriscar uma
relação com o aumento da penetrabilidade desses aparatos móveis, já indicado
na pesquisa do PNAD. Há uma desaceleração da produção para PC e uma
estabilização no desenvolvimento destinado à internet.

Tabela 55 – Comportamento da Participação de Mercado dos Segmentos (em %)


ANO 2005 2006 2007 2008
Celular 8% 10% 13% 14%
PC 29% 30% 24% 9%
128 bit + next 10% 18% 10% 38%
gen
Consoles antigos 8% 2% 2% 0
Web 49% 40% 42% 38%
Outros 0 0 8% 8%

Fonte: Abragames

O levantamento da Abragames, que também se ocupou em mapear a


distribuição de profissionais de desenvolvimento de software por área de atuação
(tabela 56), ainda revela que há uma concentração na produção gráfica e na
programação. O resultado indica que há espaço e demanda para estimular a
formação de competências nesse mercado emergente.

Tabela 56 – Distribuições dos profissionais de desenvolvimento de Software em %


Ano 2005 2006 2007 2008
Arte gráfica 33% 40% 32% 34%
Qualidade 7% 7% 11% 7%
Produção 7% 6% 7% 7%
Administrativo 11% 10% 11% 9%
Marketing 7% 6% 5% 5%
Programação 33% 28% 32% 34%
Outros 2% 3% 2% 4%

Fonte: Abragames

Multimídia: internet, Outdoor, Telefonia, Aparatos móveis, investimento


publicitário por cada um dos veículos
Como já vimos as tecnologias digitais de telefonia, internet e computadores
apresentam uma evolução expressiva. Ao longo da década o celular passou de
58,9% para 84,30% de penetração na população brasileira, o Microcomputador

218
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

de 12,6% para 34%, o acesso à internet passou de 8,60% para 27,40%.


Considerado um universo de 58 milhões de domicílios.

Internet
No âmbito da internet, como já observado, na primeira parte deste relatório,
apresenta um acelerado índice de ampliação da sua penetrabilidade junto à
população brasileira. Conforme os indicadores do PNAD, computador com a
conexão à internet está presente em mais de 16 milhões de domicílios (tabela
57). Isto significa que próximo de 50 milhões pessoas estão conectadas à rede
mundial de computadores a partir das suas casas. No início da década era quatro
vezes menos o número de habitantes conectados. Inegavelmente, são números
animadores, mas ao mesmo tempo revelam que mais da 70% da população do
país ainda está fora desse universo digital.

Tabela 57 – a evolução da conectividade nos domicílios


ANO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Domicílios
com 3.999.602 4.947.708 5.716,88 6.313.866 7.268.261 9.229,09 11.381,488 13.698.566 16.050.098
conexão
Percentual de 8,60% 10,3% 11,5% 12,2% 13,7% 16,9% 20,2% 23,8% 27,4%
penetrabilidade
Total de 46.507 48.036 49.712 51.753 53.053 54.610 56.344 57.557 58.577
domicílios

Fonte: PNAB

A curva de participação da internet no mercado publicitário também se


mostra promissora para essa mídia (tabela 58). A progressão nos últimos cinco
anos impressiona, ainda que tenha registrado uma pequena oscilação negativa
entre 2007 e 2008. A receita com publicidade já está equivalente a arrecadação
do Rádio. É a mídia que mais cresceu em 2009 (em relação a 2008) no que se
refere à captação de anúncios.

Tabela 58 – evolução do faturamento com receitas publicitárias

Internet 2005 2006 2007 2008 2009

Faturamento 265.650.458,00 361.311.795,51 526.665.026,94 463.027.455,83 950.367.727,91

Participação 2,07 2,77 2,16 2,07 4,27

Fonte: Inter-meios

219
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Internet Banda Larga no Brasil


O serviço de conexão de internet Banda Larga no país dispõe de quatro tecnologias.
A de conta como maior número de usuários no Brasil é o ADSL (Speedy, Velox e
Turbo), oferecido pelas operadoras de telefonia fixa por meio do cabo de telefone.
Em segundo lugar vem a conexão via cable modem (oferecido pelas operadoras
de TV a acabo) ou wireless (oferecido pelas operadoras de TV por MMDS) da
TV por assinatura. Em terceiro vem as conexões de rádio direto com o usuário
final ou condomínio com distribuição local ou ainda a banda larga via satélite.
As principais operadoras em atuação são a Oi, Telefônica, GVT, NET, CTBC,
Embratel e Sercomtel.
Conforme levantamento publicado em agosto deste ano no portal
Teleco (tabela 59), que é organizado por engenheiros e técnicos do setor de
telecomunicações, o número de usuários do serviço, 12, 2 milhões de domicílios,
corresponde a menos de 7% da população.

Tabela 59 – total de conexões Banda Larga no Brasil

Milhares 2009 2010*


ADSL 7.678 8.338
TV Assinatura 3.132 3.350
Outros 570 580
Total 11.380 12.268
Acessos/ 100 hab. 5,92 6,36

Fonte:Operadoras e Teleco, * Estimativa preliminar do Teleco174

O levantamento do portal Teleco ainda informa que também há conexões


IP dedicadas (mercado corporativo), acessos via satélite (21 mil conexões segundo
dados de 2007) e acessos de banda larga móvel das operadoras de celular. O Portal
divulga ainda que a Oi é a operadora com maior participação de mercado (tabelas
60 e 61), correspondendo a mais de 35% do segmento, seguida pela NET e pela
telefônica.

174. http://www.teleco.com.br/blarga.asp acesso 12/10/2010

220
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 60 – Participação no Mercado

% 2009 2010
Oi 37,0% 35,1%
Net 25,3% 25,3%
Telefonica 23,2% 24,2%
GVT 5,9% 7,2%
CTBC 1,8% 1,8%
Outras 6,8% 6,4%
Total 100% 100,0%

Tabela 61 – Acesso por operadora


Milhares 2009 2010
Oi 4.211 4.307
Net* 2.882 3.100
Telefonica 2.636 2.972

GVT 669 887


CTBC 203 216
Outras 779 786
Total 11.380 12.268

A conectividade do brasileiro ainda passa pelo fenômeno das Lan houses


que segundo levantamento de 2008 do Comitê Gestor de internet (CGI) chegam
a mais de 90 mil unidades de acesso, especialmente nas regiões de periferia das
grandes metrópoles. Uma estimativa do CGI estima que 49,5 milhões de pessoas
que acessam a rede por meio destes pontos.

Telefonia
Como observado, as chamadas Telecom passam a atuar como protagonistas no
processo de digitalização. Hoje no Brasil há nove operadoras em cada segmento.
Na Fixa atuam a Oi, BrT, Telefonica,Embratel, GVT, CTBC, Sercomtel, Intelig
e Transit. Na móvel operam as companhias Vivo, Claro, Tim, Oi Móvel, BrT
Móvel, CTBC, Sercomtel, Aeiou (Unicel) e Nextel. Em agosto de 2010 o número
de aparelhos comercializados chegava a 189,4 milhões de unidades175. Essa
penetrabilidade vem impactando naturalmente na curva de faturamento do setor
(tabela 62).

175. http://www.teleco.com.br/ncel.asp acess0 12/10/2010

221
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 62 – Evolução do faturamento do setor

ANO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Faturamento
Em milhões 11.431 7.431 8.760 13.006 16.451 16.742 17.465 21.546 18.367
(R$)

Fonte: Teleco176

Confrontando dados da ANATEL com aqueles apurados pelo PNAD


2009, vamos constatar que existe infraestrutura de acesso fixo, mas penetração do
celular entre a população brasileira é significativamente maior. Observando-se os
dados consolidados pela Agencia de Telecomunicações percebe-se que houve uma
pequena a variação de acessos de telefonia fixa (linhas, como se definia no sistema
analógico) instaladas ao longo da década (tabela 63), bem como de “linhas” em
serviço. Em 2009 dos 59, 6 milhões de acesso instalados no país 41,5 milhões
estavam em serviço.

Tabela 63 – Evolução do número de acessos fixos instalados e em serviço


Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Acessos
Instalados 47,8 49,2 49,8 50,0 50,5 51,2 52,7 57,9 59,6

Acessos em
Serviço 37,4 38,8 39,2 39,6 39,8 38,8 39,4 41,2 41,5

Acessos em
Serviço/100 21,4 21,9 21,8 21,7 21,6 20,8 20,9 21,7 21,6
hab.

Fonte: Anatel

Comparando a telefonia fixa com a móvel, a partir do levantamento por


domicilio do PNAD (tabela 64), constata-se que o telefone fixo chega a mais de
25 milhões de casas enquanto que o celular esta presente em quase 46 milhões
de lares. Confirma-se o indicador de baixa conectividade por banda larga, um
mercado que, como já demonstrado, privilegia o serviço por meio da infraestrutura
da linha fixa.

176. http://www.teleco.com.br/industria.asp 12/10/2010

222
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 64 – evolução do número de domicílio com telefonia móvel e fixa


ANO 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Telefone (Fixo ou Celular) 58,9% 61,7% 62,0% 65,4% 71,6% 74,5% 77,0% 82,1% 84,3%
Celular 31,1% 34,7% 38,6% 47,8% 59,3% 63,6% 67,7% 75,5% 78,5%
Telefone Fixo 51,1% 52,9% 50,8% 48,9% 48,1% 46,8% 45,4% 44,4% 43,1%
Total de Domicílios (Milhares) 46.507 48.036 49.712 51.753 53.053 54.610 56.344 57.557 58.577

Fonte: IBGE - PNAD. Até 2003, exclusive a população da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas,
Roraima, Pará e Amapá.

O setor de telecomunicação assume um protagonismo cada vez maior na


era digital. Um quadro de evolução desenvolvido pelo IBGE (tabela 65) mostra
que em sete anos as Telecoms ampliaram sua participação em todos os segmentos
de conexões digitais seja na telefonia fixa ou móvel, na banda larga e na TVA
aumentando sua base de assinantes e usuários.

Tabela 65 – Evolução do número de assinantes por serviço digital


Milhões 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Telefones Fixos 39,2 39,6 39,8 38,8 39,4 41,3 41,7
Celulares 46,4 65,6 86,2 99,9 121,0 150,6 174,0
TV por Assinatura 3,6 3,9 4,2 4,6 5,3 6,3 7,5
Banda larga 1,2 2,3 3,9 5,7 7,7 10,0 11,4
Usuários de Internet - - 32,1 35,3 44,9 53,9 63

Fonte: IBGE177

O setor de telecomunicação, impulsionado pelo crescimento e pela


transversalidade dos seus serviços, vem exercendo a liderança no volume de receita.
O resultado das telecoms (tabela 66), em termos de receitas operacionais líquidas
(segundo a pesquisa anual do IBGE) representa mais de 60% da arrecadação das
empresas de serviço de informação que superou 203 bilhões de reais em 2008.

177. http://www.teleco.com.br/estatis.asp acesso em 09/11/2009

223
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

Tabela 66 – evolução da receita operacional líquida das empresas de serviço de


informação
Milhões R$ Receita Operacional Líquida
2004 2005 2006 2007 2008
Telecomunicações 79.851 87.131 88.781 100.849 122.244
Informática 24.443 28.182 34.569 38.548 43.865
Audiovisual 15.933 18.056 20.217 22.587 20.113
Edição e edição integrada à impressão - - - - 16.807
Agências de notícias e serviços de jornalismo 171 188 220 235 422
Total 120.398 133.557 143.787 162.220 203.452
Telecom 66,3% 65,2% 61,7% 62,2% 60,1%

Fonte: IBGE (idem)

O plano do setor é investir fortemente no segmento dos provedores de


conteúdo aproveitando-se do índice de penetrabilidade. Além da participação no
serviço de TVA, em portais e telefonia móvel, as Telecoms se organizam (através
de associação com operadores de conteúdo ou produtoras independentes) para
ingressar na distribuição de conteúdo audiovisual (TVA) por meio da telefonia
fixa. Caso se confirme a aprovação no Congresso Nacional a PLC 116/2010
(antiga PL 29/2007), que entre outras providenciais regulatórias, autoriza o
setor a operar esse serviço, efetivando-se assim como um novo major que tende a
produzir novos impactos na cadeia produtiva.

Conclusões Preliminares
O cenário construído nesses anos 10 evidencia um processo mais complexo
na transição do analógico para o digital daquele presente no prognóstico dos
“futurólogos” das novas mídias como anunciado no primeiro período da década.
Imaginava-se que o fenômeno on line da internet juntamente com toda a
oferta de aplicativos disponível na rede de computadores dominaria o espaço
midiático relegando a um segundo plano os meios que passaram a ser classificados
pejorativamente como mídias tradicionais.
O movimento da sociedade de rede efetivamente aconteceu, sobretudo,
graças ao sucesso das redes sociais, e que gerou a sociedade virtualizada. A
velocidade do crescimento da penetrabilidade do computador e do acesso à
internet comparado com o percurso histórico das outras mídias é indiscutível (se
pensar no telefone celular então...). Os veículos tradicionais sentiram o impacto
da diluição dos seus públicos. Mas, a desaceleração e a atuação coadjuvante ainda
não se configuram de modo tão imperativo. Os dados do PNAB e do programa
Inter-meios, confrontados com os demais indicadores de monitoramento,

224
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

mostram, ao contrário, vários movimentos de acomodação. O acesso ao telefone


móvel, por exemplo, superou o computador. A TV segue na liderança. É verdade
que também há sinais de muita incerteza.
Diante desse quadro e considerando que os dados ainda dão conta de um
primeiro estágio da pesquisa, de uma primeira análise, mostra-se temerário aludir
qualquer projeção assertiva. Por outro lado, constitui pertinência alertar para o
bom proveito que se pode tirar da ausência de uma clarividência segura. Significa
que há um largo espaço de construção possível. O processo ainda está num período
de maturação no qual políticas de comum acordo podem contemplar ações
para um horizonte mais harmônico e produtivo do ponto de vista tecnológico,
econômico, social e cultural.
Mostram-se sinais de potencial singular no desenvolvimento de hardware,
software, mas, e sobretudo, de conteúdos que exigem um plano estratégico de
curto, médio e, principalmente, de longo prazo. Portanto, verifica-se como
imprescindível uma atuação do estado e de todos os atores sociais e econômicos
no desenho desse futuro a partir de premissas que contemplem o desenvolvimento
de toda a cadeia e do país como um todo, não apenas de determinadas regiões.
O Brasil, na sua história recente, tem experimentado importantes esforços
de políticas públicas voltadas para incrementar esses processos. Como se deu,
no programa de implantação da TV Digital Terrestre no país. Não obstante, a
articulação dos arranjos e a possível cadeia de valor, que desses processos poderia
resultar, ainda não atingiram um nível consistente. Há, por enquanto, uma
possibilidade de futuro promissor.
Os dados apresentados no presente relatório mostram a robustez da
infraestrutura que vai se constituindo para sustentar todos os meios digitais e o
grande foco que nesse aspecto reside. É uma visão, unicamente, a partir de uma
lógica de sistema fechado. Trata, tão somente, do sistema midiático que se limita
a reproduzir as lógicas de centralidade e controle verificados no analógico.
Por outro lado, os indicadores de comercialização, de audiência, de
penetrabilidade, revelam tendências de apropriação que a população brasileira
está fazendo dessas ofertas. Há sinalização do desejo de autonomia de consumo,
de escolha. Essa apropriação funciona com um sistema aberto que se dissipa
segundo preferências distintas. A perspectiva desta midiosfera178 (KIELING,
2009) que contempla a dimensão dos sistemas fechados de produção e
distribuição (estrutura produção e infraestrutura de circulação) em operação
harmônica com os sistemas abertos de produção de sentido (construção simbólica
e o imaginário) no desenvolvimento (processo de criação de produto ou obra) e,
178. Conceito, já mencionado, que procura designar as ambiências midiáticas que se configuram nas operações
de produção, circulação e consumo em espaços de mídias digitais.

225
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

principalmente consumo (acesso e interpretação) dos conteúdos demanda uma


visão que contemple seus aspectos econômicos, tecnológicos, mas também social
e cultural.
O olhar sobre o segmento tem se ocupado da perspectiva da econômica
política, dedicando-se com maior intensidade à dimensão da macroestrutura e da
infraestrutura no sentido marxista destes conceitos (regulação e fomento para o
desenvolvimento tecnológico). Pouco se ateve à dimensão cultural, aos processos
criativos e principalmente aos processos de consumo que estão imbricados
nos sistemas de significação e produção que resultam em produção de sentido
(KIELING, 2009). É também fundamental preocupar-se com os modos de
conceber, fazer e apreender os conteúdos produzidos pela indústria criativa e de
conteúdos digitais.
Jesus Martin-Barbero (referindo-se a TV) diz que há quatro traços que
fazem a diferença de um veículo cultural. O primeiro seria trabalhar na criação
de cultura. O segundo, explorar a fragmentação de imagens do cotidiano num
fluxo de traços da época na busca pelo registro da expressividade, das marcas
deste contemporâneo numa permanente provocação à reflexão destes tempos.
Em terceiro, assumir como uma nova experiência cultural e trabalhá-la como
alfabetizadora da sociedade nas novas linguagens, sejam escritas, audiovisuais ou
informáticas. E por fim, a questão mais complexa: a qualidade.
Essa visão do teórico pode ser naturalmente aplicada às mídias analógicas
e, sobretudo, as digitais. Pensando como Martin-Barbero, naturalmente,
todos precisam assumir que os espaços midiáticos configuram um lugar de
competitividade, “profissionalismo, inovação e relevância social de sua produção”
(2002, pg. 74). Mas, ao mesmo tempo, devem “abrigar a diversidade social,
cultural e ideológica”. Como da mesma forma trabalhar uma “identidade comum”
(ibidem).
Dizendo de outra forma, a ideia de qualidade e diversidade exige um
conteúdo múltiplo que inclua o divertimento, o acesso aos bens culturais, a
informação, o conhecimento e o estímulo à capacidade crítica. No âmbito da
convergência, da interatividade, a produção de conteúdo digital deve se adequar
as condições de recepção de cada mídia e as formas de consumo do público.
Tudo isso, de alguma maneira, aparece num horizonte, nada específico, seja
no decreto da TV Digital, seja nos movimentos empreendidos até aqui pelo Fórum
das Públicas e, mesmo, pelas diretrizes da TV Brasil. Entretanto, a regulação
efetiva está por vir, passará pelo congresso (onde se discute a cota de produção de
conteúdo nacional para as empresas de serviços pagos de conteúdo – a maioria de
capital transnacional). Mas, ainda é necessário pensar numa política de produção
descentralizada, articulada com formas de financiamento que não se restrinjam

226
A Digitalização nas Indústrias Criativas e de Conteúdos Digitais

apenas a publicidade e a renúncia fiscal das Leis Rouanet e do Audiovisual.


A dinâmica dos arranjos locais, das cadeias produtivas regionais e nacionais,
do trabalho associativo, das redes de cooperação físicas ou virtuais, envolvendo o
audiovisual como uma nova economia articulada (reunindo empresas privadas,
públicas, independentes, universidades) é que pode gerar novos produtos,
gêneros e formatos que rendam resultados através do licenciamento para uso ou
veiculação no mercado internacional. Obedecendo a lógica do equilíbrio entre as
motivações do público e do privado.
A meta da qualidade, que nos demanda Martin-Barbero, precisa ocupar a
todos. É possível sim produzir entretenimento sem culpa, mas se faz necessário
também promover a formação cultural, a educação, a capacitação e a cidadania.
Não parece recomendável perder a dimensão da diversidade cobrada pelo
pensador latino-americano, dado que somente na conjunção dessas premissas
torna-se possível a noção de democracia e de gestão da alteridade pensadas por
Wolton.
Acredita-se prudente lembrar que essas articulações passam por toda
sociedade, pelos demais atores e que precisam se efetivar para evitar o risco da
digitalização seguir um curso próprio que, talvez, não seja tão civilizatório.

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230
Capítulo 4

Panorama da Comunicação em 11 países da Comunidade


Ibero-Americana

Sivaldo Pereira da Silva1


Vivian Peron Vieira2
Introdução
Ao final do século XX, a Comunicação Social se consolidou como um segmento
estratégico, imprescindível à vivência moderna e passou a ser um elemento
caracterizador da própria dinâmica das sociedades contemporâneas. Política,
direito, artes, educação, economia, cultura etc. são alguns dos diversos campos
onde os processos comunicacionais, seus meios e efeitos têm exercido forte
influência. Do ponto de vista das realidades nacionais, observa-se que elementos
e aparatos (materiais e imateriais) da mediação podem ser úteis para compreender
características relevantes de um país, pois a vida pública é hoje fortemente
intermediada e construída pela estrutura comunicacional disponível. Tais
elementos significam também tendências que podem representar bons efeitos
para a dinâmica nacional ou, contrariamente, podem representar empecilhos e
gargalos ao desenvolvimento sócio-econômico.
Neste contexto, o presente capítulo tem o objetivo de desenhar um panorama
da Comunicação a partir de um conjunto de experiências internacionais.
Especificamente, o estudo buscou traçar um perfil deste setor em 11 países
da comunidade ibero-americana. Para este estudo foram selecionados: Brasil,
Argentina, Venezuela, Colômbia e Chile e México (por serem os maiores PIBs
da América Latina), Paraguai, Uruguai, Equador (representando três países
dentre aqueles com menores PIBs da América do Sul, sendo os dois primeiros
representantes do Cone Sul, e um representante do Norte do continente), Portugal
e Espanha (países europeus ibéricos). Neste primeiro momento da pesquisa3,
foram investigados indicadores que possam responder questões estruturais de
1. esquisador responsável. Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA). Professor adjunto da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Professor colaborador do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFBA. Mail: sivaldop@yahoo.com. Participou da equipe
Rachel Bragatto (assistente mestre), que não participou da produção autoral deste capítulo por estar destacada
e dedicada à coleta de dados de outra parte da pesquisa em andamento no período de confecção deste texto.
2. Mestre em Comunicação Social e Sociabilidade pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Bacha-
rel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Mail: vippevi@yahoo.com.br
3. Este capítulo é resultado parcial da primeira fase da pesquisa Panorama da Comunicação no Brasil: PBC
2010 - Perfis nacionais dos países da BRICs e Comunidade Ibero-americana. Aqui foram elencados apenas uma
parte dos indicadores que serão investigados até o final dos trabalhos. Além dos países aqui selecionados, a versão
definitiva da pesquisa (que será publicada na internet) também inclui Cuba, Rússia, Índia e China.

231
teor: (a) regulatório, (b) tecnológico, (c) sócio-econômico e (d) de formação, no
que tange à Comunicação Social.
A fim de melhor compreender as diferentes realidades nacionais que o
corpus analisado sustenta, na tabela a seguir (Tabela 1) têm-se a lista dos países
pesquisados seguidos de informações gerais sobre população, Produto Interno
Bruto (PIB) e dimensões territoriais:
Tabela 1: Informações gerais sobre países pesquisados
País População (em Produto Interno Extensão territorial
milhões de Bruto (PIB) (milhões (Km2)6
habitantes)4 de US$)5

Argentina 40,6 262,3 2.766.889


Brasil 195,4 1.314.199 8.514.876
Chile 17,1 163,9 756.945
Colômbia 46,3 168,4 1.138.914
Equador 13,7 44,4 283.561
Espanha 45,3 1.436,8 504.782
México 110 893,3 1.958.201
Paraguai 6,4 12,0 406.752
Portugal 10,7 222,9 92.389
Uruguai 3,3 23,1 177.414
Venezuela 29,0 236,72 912.050

Para melhor organizar os achados e informações deste estudo, o


desenvolvimento deste capítulo segue dividido em duas partes. Na próxima parte
iremos contextualizar a pesquisa, o corpus de análise, os parâmetros conceituais e
as opções metodológicas adotadas neste percurso. A seção seguinte será dedicada
à exposição de resultados e discussão de oito indicadores elencados no conjunto
dos países pesquisados.

4. Dados de 2010. Indicators on Population. In United Nations Statistics Division. Demographic and Social
Statistics. Statistical Products and Databases. Social Indicators, 2009. Disponível em <http://unstats.un.org/
unsd/demographic/products/socind/population.htm> Acesso 15 novembro de /2010.
5. Dados 2007. United Nations,United Nations Statistics Division, National Accounts Main Agregates
Database,Basic Data Selection, New York, 2008. Disponível em: <http://unstats.un.org/unsd/snaama/selec-
tionbasicFast.asp >. Acesso em 12 de março de 2009.
6. Dados 2007. United Nations,United Nations Statistics Division, National Accounts Main Agregates
Database,Basic Data Selection, New York, 2008. Disponível em: <http://unstats.un.org/unsd/snaama/selec-
tionbasicFast.asp >. Acesso em 12 de março de 2009.

232
Parâmetros metodológicos
O presente estudo deve ser observado como um esforço inicial de levantamento
de indicadores relevantes sobre o campo da comunicação em um conjunto
significativo de países da comunidade ibero-americana. Mais do que desenvolver
um diagnóstico definitivo, este trabalho tenta traçar linhas comparativas a partir
de uma abordagem que perpassa diferentes realidades nacionais e evoca diversas
áreas do conhecimento. Sobretudo, trata-se de uma pesquisa de mapeamento
que requer futuras atualizações de dados, desenvolvimento de séries históricas,
assim como contínuo aprimoramento metodológico a fim de garantir a obtenção
de resultados cada vez mais confiáveis e significativos.
Projetar tal panorama não é tarefa fácil, uma vez que os dados oficiais nem
sempre estão disponíveis ou obedecem a parâmetros internacionais. Em muitos
casos, as informações estão dispersas, desorganizadas, ou desatualizadas, como
ocorre com as buscas de dados no Paraguai e Uruguai, enquanto em outros há
uma melhor organização de estatísticas, bancos de dados e estudos que tratam
das diversas dimensões da comunicação (seja por ministérios, órgãos de fomento
científico, instituições de pesquisa etc.), realidade encontrada junto aos países
Portugal e Espanha, por exemplo.
Durante a primeira fase de trabalhos, a busca de dados foi direcionada às
áreas temáticas relacionadas a:
1) questões sócio-econômicos,
2) ao marco regulatório-institucional;
3) a temas tecnológico-estruturais e
4) a área educativa-formacional.
No Quadro 1 a seguir, foram alinhados cada indicador selecionado, seguido
da síntese de seu objetivo/especificação e área temática.

Quadro 1: Indicadores pesquisados

Indicadores Objetivo/especificações Área temática


1 - Existência de garantias constitucionais Identificar se há menção em texto Regulatória-institucional
sobre liberdade de expressão ou princípios constitucional. Termos correlatos: liberdade
correlatos de opinião, liberdade de imprensa, livre
manifestação, imprensa livre etc.

2 - Existência de pelo menos dois modelos de Detectar se há canais (TV ou rádio) de caráter Regulatória-institucional
radiodifusão público-estatal, de um lado, e comerciais, do
outro, operando simultaneamente

3 - Implantação do sistema de TV digital “Implantado” significa que o padrão Tecnológico-estrutural


tecnológico foi definido e a transmissão digital
já ocorre, ainda que esteja no período de
simulcast.

233
4 - Implantação do sistema de rádio digital “Implantado” significa que o padrão Tecnológico-estrutural
tecnológico foi definido e a transmissão digital
já ocorre, ainda que esteja no período de
simulcast.

5 - Número de usuários de internet Estimar o público que possui acesso à internet. Sócio-econômico
Considerar “usuários de internet” aqueles que
de algum modo acessam a rede seja de casa,
do trabalho, de lanhouses, telecentros etc.

6 - Leitura de jornal impresso Quantificar (ou pelo menos estimar) o montante Sócio-econômico
de jornais impressos (publicações) lidos a cada
conjunto de mil habitantes.

7 - Número de instituições de ensino em Dimensionar a estrutura de formação para Educacional-formacional


graduação. a área. Cursos de comunicação: aqueles
situados nas Ciências Humanas, que tratem
dos processos de comunicação social mediada,
que possuam em sua denominação pelo
menos uma das seguintes palavras-chaves:
“mídia”, “comunicação”, “televisão”, “rádio”,
“publicidade”, “propaganda” e “audiovisual”.7
Especificamente no caso dos cursos de Cinema
optou-se por só contabilizar aqueles em que
houvesse uma clara menção de pertencimento
8
à comunicação.

8 - Número de instituições de ensino em Dimensionar a estrutura de formação de Educacional-formacional


pós-graduação. mestres e doutores na área. Considerados
apenas mestrado ou doutorado em
comunicação sob a especificação de “cursos de
comunicação” idem ao item anterior.9

7. Como a noção de Comunicação é bastante polissêmica e pode tratar de coisas distintas que vão desde engenharia
de telecomunicações, até jornalismo, fitando às artes como é o caso de Cinema, foi preciso estabelecer um
corte sobre qual comunicação estamos tratando. Neste caso, optou-se pela seguinte delimitação: consideramos
apenas os cursos situados nas Ciências Humanas, que tratem dos processos de comunicação social mediada,
que possuam em sua denominação pelo menos uma das seguintes palavras-chaves: “mídia”, “comunicação”,
“televisão”, “rádio”, “publicidade”, “propaganda” e “audiovisual”. Assim, excluem-se cursos que lidam com a
“casa de máquinas da comunicação”, como é o caso de engenharias, técnicos em telecomunicações, analistas
redes etc. (isto é, todos aqueles que possuem ênfase tecnicista em seu horizonte e que possam se encaixar mais
em Ciências Exatas do que em Ciências Humanas). Também se excluem aqueles que entendem “comunicação”
no sentido apenas processual (por exemplo, “comunicação intra-celular” ; “comunicação robótica” etc.) ou
instrumental-linguístico (como “comunicação em língua inglesa”, “comunicação literária”, etc.).
8. Por exemplo, se a Faculdade X possuir um curso de “Cinema e arte visual”; se a Universidade Y possuir um
curso denominado “Cinema e audiovisual”; e a Faculdade Z possuir outro chamado de “Comunicação social:
habilitação Cinema”, somente as duas últimas seriam contabilizadas como curso de comunicação por sustentar-
em palavras-chaves (“comunicação”e “audiovisual”respectivamente). Embora esta opção de recorte possa parecer
excludente e arbitrária, trata-se, na verdade, de um cuidado metodológico em não forçar um encaixe quando
há casos em que os próprios cursos de Cinema se reconhecem mais nas Artes do que na Comunicação. Algo
que pode ser considerado “natural”, uma vez que o curso de Cinema se localiza em uma área fronteiriça entre
Comunicação e Arte. Contabilizar cursos de Cinema quando estes se situam no campo das Artes poderia ser
uma opção que distorceria os dados ao impor-lhes o rótulo de “comunicação”. Deste modo, a opção do recorte
considerar apenas aqueles que fazem menção direta de pertencimento à área, nos pareceu metodologicamente
mais cautelosa.
9. Não foram computados cursos de graduação ou pós-graduação transdisciplinar ou interdisciplinares que não
citem nominalmente, em sua titulação, o vínculo ao campo da Comunicação Social, conforme estipulado no
recorte desta pesquisa.

234
Feita a caracterização geral de cada indicador, convém ainda explicitar alguns
procedimentos e parâmetros adotados durante o processo de coleta, tabulação e
análise dos dados. Esses procedimentos e parâmetros podem ser sintetizados em
três questões relacionadas à:
(a) apuração;
(b) qualificação e
(c) significação dos dados.
Quanto à apuração dos dados, a dificuldade em obter informações precisas,
organizadas e atualizadas de fontes primárias ou de instituições especializadas é
bastante recorrente, mesmo havendo hoje um bom conjunto de arquivos digitais
públicos acessíveis através de sites institucionais na internet. Tal dificuldade
impôs algumas limitações no decorrer do processo, como o abandono de alguns
indicadores previamente estipulados por serem empiricamente inviáveis, isto é, de
difícil identificação e confirmação dos dados na totalidade dos países analisados.
Em muitos casos, as informações precisaram ser montadas a partir da depuração
de dados brutos extraídas de fontes oficiais, o que nem sempre é garantia de
precisão, completude ou atualidade dos dados10.
No que diz respeito à significação dos dados, a tentativa de criar uma lista de
indicadores para o campo da comunicação e tentar aplicá-los nos países estudados
é também uma busca metodológica. Os dados obtidos são úteis para oferecer
um panorama da Comunicação nestes países, mas não devem ser compreendidos
como números fechados e exatos, porque, além de possíveis desatualizações
de fontes oficiais primárias, há ainda a característica própria do campo da
comunicação que se estabeleceu como um setor extremamente dinâmico e em
plena fase de profundas transformações desde o final do século XX. Toda e
qualquer quantificação neste sentido sofrerá alterações ou atualizações de tempos
em tempos, por isso a realização de séries históricas para dar conta do panorama
da comunicação se faz necessária. Nesse sentido, os dados obtidos nesta pesquisa
se apresentam menos como números absolutos e mais como estimativas baseadas
em fontes minimamente confiáveis.
Quanto à apresentação dos dados, é importante lembrar que uma pesquisa
panorâmica sobre oito indicadores da área da Comunicação em 11 países oferece
um total de 88 itens avaliados. Cada um deles demanda um minucioso trabalho
de busca, seleção e, muitas vezes, de montagem de informação qualificada que
antes estava dispersa. Portanto, metodologicamente optou-se por um texto que
10. Por exemplo, na tabulação de dados sobre o número de instituições que ofertam cursos de comunicação
em países como o Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela foi preciso
organizar dados oficiais, extraindo de tabelas gerais as informações desejadas, montando uma lista a partir dos
parâmetros pré-estabelecidos no Quadro 1 .

235
privilegie a informação quantitativa, seguida de sua análise qualitativa levando
em conta:
(a) a caracterização,
(b) as tendências,
(c) as especificidades dos dados e
(d) eventuais cautelas na interpretação apressada.
Deste modo, o trabalho se encontra nos limites de uma pesquisa panorâmica,
com algum aprofundamento possível.
Na próxima seção, cada indicador será analisado conforme esta estrutura
analítica.

Indicadores sobre a Comunicação Social em 11 países


A título de organização do trabalho, esta lista traz os indicadores em ordem
numérica crescente conforme ordenação previamente estipulada no quadro
anterior (Quadro 1). A abertura de cada indicador será feita mediante a
apresentação de sua respectiva tabela de resultados. Em seguida, é apresentada a
análise qualitativa dos dados e, em alguns casos, também são apresentadas outras
tabelas secundárias ou gráficos para desenvolver análises ou visualizar melhor
determinadas informações.
Deste modo, o presente estudo começa com verificação da existência de
garantias constitucionais sobre liberdade de expressão ou noções correlatas, que
gerou o indicador sobre princípios constitucionais. Conforme demonstra a Tabela
2 todos os países apontaram resposta positiva para o indicador:

Tabela 2: Indicador sobre princípios constitucionais


INDICADOR 1 - Existência de garantias constitucionais sobre liberdadede expressão ou princípios correlatos.

Argentina Sim
Brasil Sim
Chile Sim
Colômbia Sim
Equador Sim
Espanha Sim
México Sim
Paraguai Sim

236
Portugal Sim
Uruguai Sim
Venezuela Sim

Este indicador se refere ao reconhecimento constitucional de um princípio


de direito positivo: a liberdade de se expressar, opinar ou manifestar-se. Isso
significa que o país reconhece constitucionalmente a bandeira da liberdade de
expressão e de livre manifestação da opinião ou seus desdobramentos históricos
como a liberdade de imprensa. Trata-se de um traço bastante comum ao modelo
de democracia liberal, historicamente caracterizado por afirmar a importância –
dentre outros princípios – de uma imprensa livre e vigilante, servindo a cidadãos
também livres, capazes de opinar, protestar e derrubar tiranias (HELD, 1987;
BRIGGS & BURKE, 2006).
Conforme demonstra a Tabela 1, todos os países pesquisados sustentam este
fundamento em suas cartas magnas. Importante notar que isso inclui aqueles
onde têm ocorrido atritos e tensões na relação entre imprensa versus governo
(como ocorreu na Venezuela, de Hugo Chávez, no Equador, de Rafael Correa,
na Argentina de Cristina Kirchner e, mais recentemente, no Brasil de Lula).
Significa afirmar que tal princípio está bem difundido e incorporado no design
constitucional destes países, havendo respaldo institucional e legal que coloca o
campo da comunicação no bojo do cumprimento dos direitos fundamentais.
O resultado dos dados não chega a ser surpreendente uma vez que cada
um dos países analisados funciona em regime democrático, salvaguardadas as
respectivas peculiaridades em seus respectivos desenhos institucionais. Assim
como aconteceu no resto do mundo, os países ibero-americanos também sofreram
influências das lutas e bandeiras típicas de revoluções dos séculos XVII e XVIII,
como é o caso das garantias de direitos individuais, da liberdade de opinião e
da livre manifestação de pensamento: bandeiras consideradas historicamente
liberais.
A investigação apontou ainda que as constituições dos 11 países estudados
citam o fundamento da liberdade de expressão (e seus congêneres) vinculando-o
a outras liberdades, como liberdade ideológica, religiosa ou de crença. Todas
essas menções são organizadas dentro de um mesmo parágrafo, de um mesmo
artigo, seção ou capítulo. Este é o caso do Brasil, por exemplo, que possui
um capítulo sobre Comunicação Social, especificamente o capítulo V. Mesmo
neste capítulo estão contidas referências a outras liberdades como, por exemplo,
descreve o primeiro artigo do capítulo (o artigo 220) que afirma: “A manifestação
do pensamento, a criação, a expressão e a informação [...]” ou, em seu segundo
parágrafo, ao estipular que “É vedada toda e qualquer censura de natureza
237
política, ideológica e artística.” Sobre imprensa, a Carta Magna brasileira também
traz menção textual garantido a “[...] plena liberdade de informação jornalística
em qualquer veículo de comunicação social,” ainda neste mesmo artigo, em seu
primeiro parágrafo.
Um outro dado sutil, porém relevante, é o uso textual de expressões como
“imprensa” (prensa), “meios de comunicação” ou simplesmente “meios” que ocorre
em todos os países analisados. No caso específico da Constituição do Equador,
por exemplo, não há menção direta à imprensa ou meios de comunicação como
instituições defensoras da liberdade de expressão. O artigo 66 daquele país
afirma: “El derecho a opinar y expresar su pensamiento libremente y en todas
sus formas y manifestaciones”. Ainda assim, a expressão “meios de comunicação”
aparecerá no texto constitucional (em parágrafo seguinte ao trecho anterior),
porém, com uma conotação diferente: “El derecho de toda persona agraviada
por informaciones sin pruebas o inexactas, emitidas por medios de comunicación
social, a la correspondiente rectificación, réplica o respuesta, en forma inmediata,
obligatoria y gratuita, en el mismo espacio u horario.”
Isso demonstra que há uma sedimentação no lugar da imprensa (ou dos
media) enquanto instituição social, com papel pré-definido e reconhecido como
tal.
Tabela 3: Indicador sobre coexistência entre modelos de radiodifusão
INDICADOR 3 - Existência de pelo menos dois modelos de radiodifusão.

Argentina SIM
Brasil SIM
Chile SIM
Colômbia SIM
Equador SIM
Espanha SIM
México SIM
Paraguai SIM
Portugal SIM
Uruguai SIM
Venezuela SIM

O terceiro indicador, de natureza estrutural-regulatório, diz respeito à


existência de diferentes modelos (ou sistemas) de radiodifusão no país. Tenta-
se identificar se há apenas TVs ou rádios privadas com fins lucrativos em

238
funcionamento em cada país (modelo comercial) ou se há, paralelamente, canais
estatais ou sistema público de comunicação11 (canais sem fins lucrativos) também
operando.
A resposta positiva para este indicador demonstra que os países sustentam
um modelo dual (ou misto) de radiodifusão. Como mostra a Tabela 3, todos
os países possuem tanto veículos de radiodifusão de caráter comercial como
veículos de caráter público (ou estatal) operando simultaneamente. Porém,
convém lembrar que por traz do “sim” existem realidades distintas. Há ainda
uma diferenciação importante no âmbito dos canais não-comerciais dentre: (a)
aqueles onde prevalece a dimensão estatal (isto é, subordinação à administração
governamental), ou que tende a pressionar a TV ou o rádio como veículo que
promove propaganda da gestão em curso (como é o caso das diversas rádios
estatais); (b) em outras realidades predomina a dimensão de um sistema público
(public broadcasting).
Em alguns casos há um sistema público de comunicação relativamente
autônomos e que se difere de veículos meramente estatais, como ocorre nos países
ibéricos, com o sistema Rádio e Televisão de Portugal (RTP); Radio Televisión
Española (RTVE); a Televisión Nacional de Chile (TVN) e o Canal Once, do
México. Há casos de controle estatal mais claro nas estruturas administrativas,
como é o caso da Televisión Pública de Argentina; Televisión Nacional del
Ecuador (RTV) e Televisión Nacional de Uruguay (TNU).
Em outros países há modalidades ambíguas, como é o caso da Colômbia que
possui uma rede de canais regionais relativamente autônomos12 e, ao mesmo tempo,
possui canais claramente subordinados ao governo como o Seña Institucional,
voltado para veicular informações do governo ou o Canal Congresso, órgão do
Poder Legislativo. Também, neste mesmo enquadramento, está a Venezuela, com
a TEVES de um lado, que tenta se aproximar de um modelo público de TV, com
conselho diretivo com cadeiras para segmentos civis e trabalhadores do setor e, do
outro lado, também possui veículos de caráter tipicamente governamental como
a Radio Nacional de Venezuela (RNV).
No caso brasileiro o cenário também é ambíguo, porém com uma evidente
exacerbação de poder para empresas privadas de radiodifusão que dominam o
serviço no país. A Constituição de 1988, em seu artigo 223, estipulou que deveria
existir complementaridade entre os sistemas estatal, privado e público, assim
dividido:

11. Compreende-se por “sistema público de comunicação” o mesmo que em língua inglesa se denominaria de
“public broadcasting”. Em síntese, consiste na radiodifusão não comercial, sustentada por recursos públicos, im-
postos ou doações de cidadãos. Geralmente sustentam alguma autonomia em relação aos governos, ao contrário
de emissoras puramente estatais onde a direção está sob pressão direta do governante no poder. Organizações
públicas de mídia mundialmente conhecidas como a BBC (do Reino Unido), a NHK do Japão, a SBS/NPR dos
EUA ou a ARD da Alemanha são alguns exemplos de entes que compõem um sistema público de comunicação.
12. Ainda que esta autonomia enfrente hoje problemas diversos. Sobre sistemas públicos de comunicação. So-
bre sistemas públicos de comunicação no mundo ver Leal Filho (1997) e Intervozes (2009).

239
- O sistema estatal seria composto pelos canais de rádio e TV gerenciados
pelos governos (governo federal, estadual, senado, câmara federal, assembléias
legislativas, órgãos do Poder Judiciário etc.);
- O sistema comercial constituído por empresas com fins lucrativos que
obteriam concessões públicas para operar e transmitir nos canais licenciados
para tal;
- O sistema público deveria ser caracterizado pelo financiamento dos
cofres públicos, sem que isso implicasse em perda da autonomia frente aos
governos.
Desses três, apenas o segundo (o sistema comercial) foi plenamente
desenvolvido, principalmente devido às escolhas e diretrizes governamentais,
principalmente desde a década de 60 que fomentou e privilegiou a emergência
de veículos comerciais. Com a criação da Empresa Brasileira de Comunicação
(EBC) em 2007, o país iniciou o projeto de criar um sistema público, uma vez
que só possuía até então iniciativas de canais isolados de fundações, como a TV
Cultura, que mais se aproximava do modelo público.

Tabela 4:Indicador sobre digitalização dos media eletrônicos: televisão


INDICADOR 4 - Implantação do sistema de TV digital.

Argentina SIM
Brasil SIM
Chile SIM
Colômbia SIM
Equador SIM
Espanha SIM
México SIM
Paraguai SIM
Portugal SIM
Uruguai SIM
Venezuela SIM

O quarto indicador trata das transformações tecnológicas pelas quais os


media eletrônicos estão passando e dizem respeito à bitmização13 da transmissão
do sinal de TV. Com a digitalização de todo processo, desde a produção,
13. Referente a “bit”: simplificação para dígito binário. A linguagem binária trabalha com valores baseados em
posições duais, que podem ser representados pelo 0 ou 1, falso ou verdadeiro. Trata-se da menor unidade de
informação que pode ser armazenada, tratada ou transmitida em plataformas digitais.

240
transmissão e recepção dos conteúdos através das ondas eletromagnéticas, os países
adentraram no século XXI com a necessidade de estabelecer a migração do sistema
analógico para o sistema digital. Na prática, isso significa que as transmissões
analógicas estão sendo desativadas para dar lugar ao sinal binário: mais eficiente,
mais interativo, menos oneroso e mais versátil. No mundo, diversos países já
escolheram os padrões técnicos da TV ou rádio digital e já estão em período de
simulcast14. Como demonstra a Tabela 4, todos os países analisados já definiram
o padrão tecnológico de TV digital. Do grupo, os primeiros foram o México em
2004 e a Espanha em 2005. Os últimos foram Equador e Paraguai em 201015.
A definição do padrão tecnológico significa mais do que simplesmente a
opção por um design técnico específico: também representa grandes capitais e
mercados, afetando toda a cadeia produtiva da indústria da televisão (desde a
fabricação do aparelho digital de TV, passando pelos padrões de transmissão e
captação de imagens até a produção de conteúdos e serviços digitais). Por isso, há
todo um lobby em jogo neste processo de escolha.
Em meio a este embate, os principais padrões de TV digital em disputa no
mundo que despontaram foram:
(a) o Advanced Television System Comite (ATSC), de origem estadunidense
(conhecido como modelo do consórcio norte-americano), do qual
participam empresas canadenses e coreanas;
(b) o Digital Video Broadcasting (DVB) de consórcio europeu, o Integrated
System Digital Broadcasting (ISDB) de matriz japonesa e o ISDB-T, modelo
que mescla tecnologia japonesa e brasileira, como é o caso do midleware
Ginga, reconhecido pela União Internacional de Telecomunicações (UIT).
A maioria dos países tem se manifestado por uma dessas opções. Também
podemos citar o padrão chinês Digital Media Broadcasting Terrestrial (DMB),
cujos testes ainda não comprovaram sua qualidade e robustez.
No Quadro 2 aparece o ano em que foi implantado e o padrão tecnológico
escolhido em cada um dos países.

14. No Brasil, o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) teve seus os parâmetros de implantação publi-
cados em 20 de junho de 2006 através do decreto n° 5.820. O período de simulcast está sendo adotado na maio-
ria dos países com o intuito de marcar a passagem para o sistema digital de TV e rádio. Trata-se do espaço de
tempo onde o sinal analógico de televisão conviverá com o sinal digital simultaneamente, até ser definitivamente
extinto. No Brasil, o simulcast já está em curso com fim previsto para 2016. Após tal período de transição,
haverá apenas o sinal digital disponível e os aparelhos analógicos só funcionarão mediante um conversor digital
(o que vem sendo chamado de set-top box). Já o modelo de rádio digital ainda não foi escolhido no Brasil.
15. No caso do Brasil, a opção ocorreu bem mais cedo: em 2006. Optou-se pelo padrão japonês, com adendos
de tecnologia nacional, criando assim um padrão híbrido chamado nipo-brasileiro.

241
Quadro 2: Ano de implantação da TV digital e padrão tecnológico adotado

País Ano de implantação Padrão adotado


Argentina 2009 ISDB-T16
Brasil 2006 ISDB-T
Chile 2009 ISDB-T
Colômbia 2008 DVB-T
Equador 2010 ISDB-T
Espanha 2005 DVB-T
México 2004 ATSC
Paraguai 2010 ISDB-T
Portugal 2007 DVB-T
Uruguai 2007 DVB-T e DVB-H 17
Venezuela 2009 ISDB-T

Nota-se que houve diferentes escolhas, algumas claramente determinada pelo


lobby de nações política ou economicamente influentes, como o caso do México,
que adotou o padrão do vizinho e parceiro comercial, EUA. Este foi o único país
do grupo que optou pelo modelo norte-americano, embora passados seis anos,
a TV digital não seja uma realidade no México. Os demais países se dividiram
optando entre o DVB (Colômbia e Uruguai, na América Latina, e Espanha e
Portugal, na Europa), principalmente por influência européia; e o modelo nipo-
brasileiro, ISDB-T. Este último foi o mais adotado nesta amostragem, onde
mais da metade dos países latino-americanos (Argentina, Brasil, Chile, Equador,
Paraguai e Venezuela) se tornaram signatários.
Houve explícita campanha do Brasil para convencer os demais países da
America Latina a optarem pelo padrão nipo-brasileiro. Nesta mobilização, o
governo brasileiro fez visitas, negociações e ofereceu contrapartidas para quem
adotasse o mesmo modelo tecnológico, para conseguir ganhos de escala e
barateamento dos preços de equipamentos, dentre transmissores e receptores. Até
o final desta pesquisa, o modelo nipo-brasileiro havia sido adotado por 15 países,
incluindo o Brasil,
É importante lembrar que esta é a fase inicial de implantação da plataforma
de TV digital e boa parte dos países ainda operam o sinal analógico tradicional em
paralelo ao novo sinal digital. Na Espanha, este período de “duplicidade do sinal”

16. Em todas as siglas desta tabela, o “T” após hífen significa “terrestre”.
17. Sistema transmissões para equipamentos portáteis e móveis que necessita outro transmissor e outra faixa de
freqüência. Diferente do one-seg utilizado no ISDB-T, que chega gratuitamente aos usuários, o serviço DVB-H
é pago.

242
(simulcast) está previsto para terminar em 2010. Logo em seguida temos Portugal,
com previsão para 2012. Em outros países, esta espera é um pouco maior. No
caso da Argentina e do Chile a digitalização foi prevista para 2019; na Colômbia,
para 2020. Já no México, somente em 2022 o sinal analógico está previsto para
ser desativado. No Brasil, o ano é 2016.

Tabela 5: Indicador sobre digitalização dos meios eletrônicos: rádio


INDICADOR 5 - Implantação do sistema de rádio digital.

Argentina NÃO
Brasil NÃO
Chile NÃO
Colômbia NÃO
Equador NÃO
Espanha SIM
México SIM
Paraguai NÃO
Portugal SIM
Uruguai NÃO

Trata-se de um indicador congênere ao indicador anterior (sobre TV


digital), porém, neste caso, refere-se ao processo de digitalização do rádio. A
pesquisa demonstrou que até o segundo semestre de 2010 apenas 30% dos países
analisados já implantaram o sistema de rádio digital. Isto é, apenas três o fizeram,
curiosamente nenhum deles é um país da América do Sul. Os três são: Espanha,
Portugal e México. E, nesses três países o modelo digital ainda não obteve sucesso,
seja por problemas tecnológicos relativos ao rádio digital, como é o caso do delay
de oito segundos18 seja também devido às próprias características desta tecnologia
para o rádio.
Nota-se que o processo de digitalização tem sido mais ágil na TV do que
no rádio. Embora muitos países já tenham iniciado o processo de digitalização
da televisão, o mesmo não aconteceu no rádio. No Brasil, o processo de escolha
se arrasta desde 2005, quando as emissoras começaram a testar a tecnologia
HD Radio, da empresa estadunidense Ibiquity. Naquele momento, havia um
consenso dos radiodifusores em torno do sistema, que acabou sendo enfraquecido
pelos maus resultados dos testes.
Atualmente, as emissoras brasileiras testam o sistema europeu Digital
18. Atraso entre o momento da captação e o momento da recepção do sinal.

243
Radio Mondiale (DRM), que tem apresentado problemas semelhantes aos do
estadunidense. Para o especialista em rádio e assessor especial da Casa Civil
da Presidência da República, André Barbosa Filho19, existe até a possibilidade
de fundir os dois sistemas, para criar uma tecnologia adequada às necessidades
brasileiras, pois os sistemas digitais existentes no mundo hoje não trazem uma
qualidade muito superior a da apresentada pelas FMs (Frequência Modulada)
analógicas.
O especialista sugere o desenvolvimento de um middleware20 semelhante ao
Ginga, agregado ao padrão digital de TV terrestre, como uma possível solução
para adicionar valor ao serviço a ser oferecido pelo rádio digital. A possibilidade
de fazer pagamentos ou de baixar músicas, mediante pagamento, são exemplos de
modelos de negócios sustentáveis para a FM digital.
Barbosa Filho sustenta que o desenvolvimento de soluções deve atender não
apenas ao Brasil, mas a outros países, de forma envolver a indústria no projeto.
Ele lembra que o país é o segundo maior mercado de rádio do mundo, com 8
mil emissoras e que só perde para os Estados Unidos, com 13 mil, mas deixou
de fabricar receptores há 11 anos. Ainda assim, o rádio no Brasil ainda é um
importante meio de comunicação.
O Quadro 3 (a seguir), mostra o ano em que foi implantado o rádio digital
e o padrão tecnológico escolhido em cada um dos países:

Quadro 3: Ano de implantação da TV digital e padrão tecnológico adotado

País Ano de implantação Padrão adotado


Argentina --- Não definido21

Brasil --- Não definido

Chile --- Não definido

Colômbia --- Não definido

Equador --- Não definido

Espanha 1999 DAB (Eureka 147)

México 2010 IBOC

Paraguai --- Não definido

Portugal 1999 DAB (Eureka 147)

Uruguai --- Não definido

Venezuela --- Não definido

19. Doutor em Comunicação pela USP. Fundou as rádios universitárias da USP e UMESP e trabalhou em
rádios comerciais. Foi professor da disciplina de rádio durante 30 anos. Possui livros e artigos publicados sobre
o tema.
20. O middleware Ginga é uma camada de software que permite, entre outras possibilidades, a interatividade e
a interoperabilidade na televisão digital.
21. “Não definido” significa que o país ainda não se posicionou oficialmente por um padrão tecnológico em
específico, pelo menos até novembro de 2010.

244
Embora tenham adotado oficialmente o Digital Audio Broadcasting (DAB)
- seguindo uma decisão da União Européia de Radiodifusão (UER) - Espanha
e Portugal possuem regiões que utilizam outro sistema, como o padrão Digital
Radio Mondiale (DRM). Isso ocorre devido às diferenças geográficas e outros
elementos de cunho técnico. Devido a estas barreiras, União Européia não tem
conseguido implantar uma política unificada em relação ao padrão de rádio
digital.
Tabela 6: Indicador sobre penetração da internet
INDICADOR 6 - Número de usuários de internet (em milhões)22

Argentina 13,7
Chile 7,0
Colômbia 22,5
Equador 3,3
Espanha 28,1
México 31,0
Paraguai 1,1
Portugal 5,1
Uruguai 1,4
Venezuela 8,9
Brasil 76,0

É importante lembrar que, por uma questão de recorte, o dado resultante


deste indicador trata de “acesso à internet” de modo geral, no sentido de estimar o
quantitativo de cidadãos de que algum modo tenha acesso a este novo meio, sem
especificar o tipo de aparelho utilizado: computador, celular, videojogos em rede
ou televisão digital interativa. Não há pretensões em aprofundar peculiaridades23
ou avaliar as diversas estratificações neste conjunto de usuários online.
Conforme expõe a Tabela 6, estima-se que o conjunto dos onze países
ibero-americanos estudados somam juntos aproximadamente 198 milhões de
usuários, sendo 82.3% deste montante referentes aos latino-americanos e 16,8%
dizem respeito aos países ibéricos (Portugal e Espanha). Deste corpus analisado,
quatro países se destacam por sustentarem os maiores contingentes de cidadãos
com acesso (em números absolutos). São eles: Brasil (76 milhões), México (28,4
milhões), Espanha (28,1 milhões) e Colômbia (20,7 milhões). Aqueles com

22. Fonte: International Telecommunication Union (ITU). Dados 2009. Trata-se de números aproximados.
Disponível em: < http://www.itu.int/ITU-D/icteye/Reporting/ShowReportFrame.aspx?ReportName=/WTI/
InformationTechnologyPublic&ReportFormat=HTML4.0&RP_intYear=2009&RP_intLanguageID=1&RP_
bitLiveData=False >. Acesso em: 16 de novembro de 2010.
23. Por exemplo, se é banda larga, domiciliar, discada ou telecentros etc.

245
menor número de indivíduos com acesso são Uruguai (1,4 milhão) e Paraguai
(1,1 milhão).
A comparação fica mais qualificada se cruzarmos os usuários com o número
de habitantes, obtendo assim o percentual da população com acesso. No gráfico a
seguir (Gráfico 1) temos uma melhor visualização neste sentido:

Gráfico 1: Percentual da população com acesso à internet (estimativa 2009-2010)

Espanha 63 %
Colômbia 49 %
Portugal 48 %
Uruguai 42 %
Chile 41 %
Brasil 39 %
Venezuela 31 %
Argentina 34 %
México 28 %
Equador 25 %
Paraguai 17 %

Nota-se que há a formação de três conjuntos. Primeiro, há um destaque


da Espanha que atingiu 63% de usuários. Em um segundo plano, há um grupo
formado por Colômbia, Portugal, Uruguai, Chile e Brasil que atingem uma média
aproximada na casa dos 40% de usuários no total de suas respectivas populações.
O terceiro desempenho é formado por Venezuela, Argentina, México e Equador
que obtém percentuais de 25 a 31 % de usuários. O Paraguai aparece atrás
desses grupos com apenas 17% de penetração deste novo meio de comunicação.
No gráfico seguinte (Gráfico 2), agora utilizando projeções do Banco Mundial
podemos ver a evolução desses países neste processo desde o início da década de
90:

246
Gráfico 2: evolução do número de usuários de 1990 a 2008

Percebe-se que entre 2002 e 2008 o número de usuários praticamente


duplicou na maioria dos países pesquisados.

Tabela 7: Indicador sobre leitura de mídia impressa


INDICADOR 7 - Leitura de jornais impressos (cópias por mil habitantes)24

Argentina 37,1
Brasil 57,3
Chile 43,8
Colômbia 37,4
Equador 70,2
Espanha 99,2
México 60,9
Paraguai 26,0
Portugal 59,5
Uruguai 53,5
Venezuela 97,1

A circulação de jornais e a leitura de veículos da mídia impressa podem


propiciar indícios sobre um perfil do consumo e do mercado neste tradicional
nicho da comunicação de massa. Este é o sétimo indicador tratado nesta pesquisa.
Conforme dados da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) países como
Espanha, Venezuela, Equador e México possuem maior número de cópias de
24. Fonte dos dados: Associação Nacional dos Jornais (ANJ). Disponível em < http://www.anj.org.br/a-indus-
tria-jornalistica/leitura-de-jornais-no-mundo > acesso em 20 outubro de 2010

247
jornais circulando no país. Já o Paraguai fica na última posição, com 26 jornais
por mil/habitantes (ver Tabela 7). A título de comparação convém notar que no
Brasil este indicador é de 57,3. Em países do Norte Europeu, com alto padrão
de desenvolvimento sócio-econômico o índice é alto, como é o caso da Noruega
cujo índice chega a 538,3.
Esta tabela não apresenta o número real de leitores de jornal, apenas
estabelece um dado relativo entre o número de cópias a cada 100 mil habitantes.
O número real de leitores pode ser escamoteado em pelo menos dois modos. O
primeiro é o caso do indivíduo que compartilha o jornal diário com sua família,
na biblioteca, no consultório médico etc., de modo que o mesmo exemplar circula
num grupo sendo lido por diversas pessoas. O segundo é quando o indivíduo
adquire o jornal diário de mais de um veículo concomitantemente, isto é, realiza
a leitura de dois jornais distintos, muitas vezes concorrentes entre si. Assim, os
dados contam apenas uma parte das características deste consumo. Sua melhor
qualificação deve ser feita em cruzamento com outros indicadores sobre o mesmo
nicho de consumo cultural.

Tabela 8: Estrutura do ensino de comunicação: graduação


INDICADOR 8 - Número de instituições de ensino que ofertam cursos de graduação em
comunicação

Argentina25 47
Brasil26 423
Chile27 64
Colômbia28 36
Equador29 33
Espanha30 50

25. Títulos Universitários com reconhecimento oficial. Disponível em: <http://ses.siu.edu.ar/titulosoficiales/


default.php>. Acesso em 04 de novembro de 2010.
26. Ministério da Educação (MEC). Consulta de Instituições de Educação Superior e Cursos Cadastrados.
2010. Lista organizada a partir da triagem pela palavra “comunicação”. Disponível em: <http://emec.mec.gov.
br/. Acesso em: 16 de novembro 2010. Mais detalhes sobre esse tema é possível encontrar no primeiro capítulo
desse volumem, em pesquisa coordenada por Maria Cristina Gobbi.
27. Banco de Dados Conosur. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Periodismo
en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em: <http://
www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 18 de outubro de 2010.
28. Banco de Dados Países Andinos. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Perio-
dismo en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em:
<http://www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 19 outubro de 2010.
29. Banco de Dados Países Andinos. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Perio-
dismo en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em:
<http://www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 21 de outubro de 2010.
30. Disponível em < http://www.guiauniversidades.uji.es/grados/buscador.html >

248
México31 1006
Paraguai32 22
Portugal33 43
Uruguai34 20
Venezuela35 31

Este indicador tenta dimensionar o tamanho da estrutura de ensino em


comunicação disponível em cada país. De modo prático, buscou-se estimar a
quantidade de universidades, faculdades, fundações ou outras instituições de
ensino que oferecem algum curso de comunicação de nível superior, como
licenciatura, bacharelado e congêneres. Os dados se referem a um recorte sobre
o que foi considerado “cursos de comunicação” estipulados no Quadro 1, o que
exclui algumas modalidades de cursos que em outros recortes mais abrangentes
poderiam eventualmente ser enquadrados como “comunicação”. Portanto, trata-
se de uma estimativa baseada em uma noção específica deste objeto analisado.
Em linhas gerais, no século XX a área de Comunicação se consolidou
enquanto campo de estudos e pesquisa, e, conseqüentemente, as discussões em
torno de sua estruturação curricular, avaliação de qualidade do ensino ofertado
tornaram-se latentes. Nos anos 20 e 30, por exemplo, a Espanha criava as suas
primeiras escolas de jornalismo36 (MARTÍNEZ, 2005).
Na década de 40, a Argentina também já produzia alguma pesquisa na área
e iniciava seus cursos de formação (GOBBI, 2006). Na Venezuela os inícios das
atividades investigativas estão marcados pela criação da Escola de Jornalismo
da Universidade Central da Venezuela (UCV), em 1946, e pelo Instituto de

31. Banco de Dados México. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Periodismo
en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em: <http://
www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 22 de outubro de 2010.
32. Banco de Dados Conosur. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Periodismo
en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em: <http://
www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 19 de outubro de 2010.
33. Direcção-Geral do Ensino Superior. Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Resultados ob-
tidos de busca realizada no banco de dados de 2010. Disponível em: <http://www.acessoensinosuperior.pt/
indmain.asp?frame=1>. Acesso em 28 de outubro de 2010.
34. Banco de Dados Conosur. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Periodismo
en América Latina y el Caribe. FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em: <http://
www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 15 de outubro de 2010.
35. Banco de Dados Países Andinos. Mapa de los centros y programas de formación en Comunicación y Perio-
dismo en América Latina y el Caribe.FELAFACS/UNESCO. Peru: Medios & Enlaces, 2009. Disponível em:
<http://www.felafacs.org/unesco/>. Acesso em 23 de outubro de 2010.
36. Los antecedentes a los actuales estudios de comunicación los encontramos en las Escuelas de periodismo, de
radio y televisión y de publicidad que funcionaron durante el franquismo y que posteriormente desencadenaron
en las actuales facultades de Ciencias de la Información y de la Comunicación. Es cierto que anteriormente a
este periodo existen otras iniciativas que ponen las bases de estos estudios como es el caso del curso de perio-
dismo organizado por el catedrático y periodista Fernando Araujo y Gómez, en la Universidad de Salamanca,
en el año 1887 (MARTÍNEZ, 2005, p. 99).

249
investigações da Imprensa, em 1958 (VILLALOBOS, 2006). Em 1947 foi
inaugurada a primeira Escola em comunicação no Brasil, na Cásper Líbero.
Entretanto, foi somente na segunda metade do século que a estruturação e
consolidação dos programas institucionais ocorreram a esses países como um todo.
Em 1953, na Universidade do Chile e na Universidade de Concepción fundaram-
se as primeiras escolas de Jornalismo, com um enfoque profissionalizante que não
incluía estudos de comunicação, nem metodologia de pesquisa (CASTELLÓN,
2006). Em Portugal, embora vizinha geográfica da pioneira Espanha, o país
estabeleceu seus estudos nas Ciências da Comunicação tardiamente:
Em especial devido às condições políticas de um regime ditatorial, o
regime salazarista-marcelista (1936-1974) nunca esteve interessado no
desenvolvimento de estudos ou formação de cursos relacionados com
a comunicação pública e midiática. Esse sentimento foi de algum modo
perpassado às autoridades da Academia portuguesa e o estudo organizado
nos diferentes domínios daquilo que hoje se encobre no amplo campo das
Ciências da Comunicação, praticamente só vai surgir a partir de 1978.
(OLIVEIRA, 2002)
Sem dúvida, no acompanhamento histórico da amostra pesquisada, os anos
90 do século XX representaram o auge do incremento de cursos no campo da
comunicação. Isto foi incentivado pela demanda de uma maior especificação dos
profissionais da área por razão de já nos anos 80 ter havido certa generalização
– sobretudo nos países com maior desenvolvimento – de novos suportes
comunicativos, como os rádios FM, a TV por assinatura, entre elas o cabo e
o satélite, a televisão comercial aberta e, mais recentemente, a internet, a rádio
digital e a televisão digital terrestre (MARTÍNEZ, 2005).
Feita esta contextualização histórica, convém observar os resultados da
Tabela 8. Nota-se que, de forma geral, a oferta de ensino em comunicação é
bastante heterogênea dentre os países pesquisados. Nota-se uma variação média
entre 30 a 60 instituições por país, tendo como países divergentes aquém dessa
média o Paraguai, com 22, e o Uruguai, com 20 instituições37. Dentre aqueles
analisados, o México tem a maior estrutura de formação com 1006 instituições
ofertando cursos de Comunicação, seguido do Brasil, com 423 instituições. No
caso específico do México, mas que pode servir também para outros países, Rebeil
(2009) explica que a abundância ocorre em razão de um crescimento rápido e
desenfreado de programas sem nenhum registro para que pudessem atender a um
atrativo mercado rentável de estudantes que estavam dispostos a fazer uma carreira
37. Estes dados tratam de números absolutos. Comparações proporcionais (tomando como base, por exemplo,
o número de habitantes ou o PIB) podem apontar um desempenho talvez não tão fora da média quando com-
parada também proporcionalmente aos demais países. No caso do Uruguai, com uma população de 3,3 milhões
de habitantes, o número de 20 cursos é alto. De todo modo, o valor absoluto nos proporciona um panorama da
capacidade de cada país em formar contingentes de formados em comunicação.

250
sem grandes dificuldades acadêmicas. Nas palavras da pesquisadora mexicana:
Esto se debe a que en nuestro país a la enseñanza de la Comunicación se le
ve cada vez más como un negocio dado el glamour y el atractivo que tiene la
carrera en sí. Ello ha llevado a muchos empresarios de la educación a abrir
Escuelas de Comunicación de calidad dudosa. Muchas veces éstas existen en
instalaciones poco apropiadas para llevar a cabo los procesos de enseñanza-
aprendizaje. Muchas de estas Escuelas, detectadas por los investigadores del
CONEICC (Consejo Nacional para la Enseñanza y la Investigación de las
Ciencias de la Comunicación), no cuentan con registro oficial ante nuestra
Secretaría de Educación Pública (SEP) y por lo tanto carecen de registro de
validez.38
Por outro lado, este grande número também consolidou as universidades de
excelência científica, como positivo contraponto comparado ao elevado número
de programas de qualidade duvidosa (REBEIL, 2009).
No Chile a estabilização da carreira a partir de 2005 indica a saturação na
ocupação do mercado de trabalho, o que estimulou nesse momento a abertura por
parte das instituições de novos cursos que possibilitassem maior inserção dentro
da comunicação aplicada (organizacional, estratégica, corporativa) e na área de
linguagens de multimídia, por exemplo (GONZÁLEZ, 2009). Se no Chile isto
representou uma alteração positiva e adequada, no México a realidade foi diferente.
A formação em Comunicação foi se tornando cada vez mais especializada e
específica, de maneira que depois não encontrou respectiva recepção no mercado
de trabalho. Rebeil (2009) afirma que no México não se valoriza as carreiras afins
da Comunicação, de forma que esta possui uma posição precária perto de outras
carreiras mais tradicionais, como Medicina e Engenharia.
Na Colômbia, durante a década de 90 havia uma forte crítica à qualidade
da formação dos profissionais de comunicação, em especial aos jornalistas. Isto
estimulava, como também ocorria nos demais países, a ampliação da oferta
acadêmica, diversificada e especializada a exemplo dos cursos de produção
audiovisual e jornalismo cultural (PEREIRA; BURBANO, 2002).
Nos cursos de Comunicação venezuelanos os fatores políticos são
considerados determinantes e estão muito presentes na formação em jornalismo.
Há também forte desconexão acadêmica entre as instituições e poucos programas
entre elas de intercâmbio científico e de pesquisa. A tendência destas instituições
acabava sendo a de se vincular a programas no exterior, como Estados Unidos,
Europa e Brasil (QUIROZ, 2009).

38. María Antonieta Rebeil Corella. Centro de Investigación para la Comunicación Aplicada. Universidad
Anáhuac México Norte. Informações fornecidas por contato em e-mail em novembro de 2010.

251
Já o Brasil é o segundo país com maior quantidade de instituições ofertando
cursos de comunicação dentre o corpus analisado. Ficou atrás do México, que
possui aproximadamente o dobro. Porém, este quantitativo também nem sempre
significa maior qualidade no ensino. Em 2003, Peruzzo já afirmava que no Brasil
vive-se um momento de crise na qualidade do ensino em Comunicação Social.
Segundo a autora, essa crise é provocada, tanto pelo modelo curricular que
engessou os cursos, além da falta de atualização dos currículos da maioria das
instituições; como também pelo crescimento rápido, nem sempre em condições
adequadas, do número de cursos de Comunicação Social. A pesquisadora ainda
diz que, além da facilidade de ingresso do aluno, especialmente nas escolas
particulares, há outros problemas que devido ao
crescimento de cursos de graduação em Comunicação significou a criação
de cursos nem sempre adequadamente estruturados: ênfase em matérias
teóricas, às vezes ministradas por docentes sem a devida conexão com a
área da Comunicação; separação entre ciclo básico e ciclo profissionalizante;
inadequação ou inexistência de laboratórios de qualidade e em quantidade
requeridas; deficiências na preparação de uma parte dos professores para o
exercício da docência em comunicação etc. (PERUZZO, 2003, p. 12).
Este indicador, portanto, evidencia a oferta por parte das instituições de um
campo tão extenso e, ao mesmo tempo, tão diversificado, de maneira que implica
em inúmeros enfoques e titulações da carreira, díspares grades curriculares,
incluindo até mesmo a ampla variação de duração de carreira para carreira. Por
exemplo, em média, na Colômbia e no Paraguai o curso tem duração de quatro
a cinco anos, na Argentina a duração média é de 3,8 anos, no Chile é extensivo
em até seis anos. No texto final da pesquisa em andamento pretende-se dar
estimativas de cada país.39
No que se refere dimensão da estrutura de ensino em Comunicação e a
respectiva dimensão de cada país, a tabela a seguir (Tabela 9) traz uma estimativa
da proporção de quantas instituições existem para cada milhão de habitantes, o
que nos permite fazer avaliações comparativas mais adequadas:

39. Algo que demanda maiores análises, pois nem sempre há uniformidade entre as instituições de ensino de
um mesmo país quanto ao tempo de duração dos cursos, o que torna necessário a contabilização manual para se
apontar uma média em cada realidade nacional

252
Tabela 9: Instituições de ensino40 para cada milhão de habitantes

Países Instituições para cada 1 milhão de habitantes


Argentina 1,2
Chile 3,8
Colômbia 0,8
Equador 2,5
Espanha 1,1
México 9,1
Paraguai 3,7
Portugal 4,3
Uruguai 6,7
Venezuela 1,1
Brasil 2,2

É importante destacar com esses números relativos, que quanto maior o


valor significa maior quantidade de cursos ofertados pelas instituições para a
população, o que não significa um dado positivo, já que a maioria dos cursos pode
carecer de qualidade de ensino, além de criar problemas na absorção posterior no
mercado de trabalho, devido à grande quantidade de egressos profissionalizados.
O caráter público41 ou privado das instituições evidencia um fator importante
para diferenciar, por exemplo, o tipo de investimento dado ao ensino, ainda que
não seja determinante. Isto porque, o mais comum é o ensino público destinar
maiores investimentos em pesquisas acadêmicas, enquanto as instituições privadas
tendem a destinar maior importância à compra de equipamentos e melhoria da
infraestrutura (KOGAN, 2009). A fim de situar esta vinculação institucional nos
onze países, tem-se a tabela a seguir (Tabela 10) com a porcentagem das instituições
públicas e privadas dentre aquelas que ofertam o curso de comunicação:

40. Especificamente instituições de ensino no nível de graduação com cursos de comunicação, conforme estipu-
lado nos parâmetros metodológicos desta pesquisa.
41. A noção de público não deve ser confundida com a noção de gratuidade ou do pagamento de taxas e afins.
O adjetivo “pública” é concebido aqui enquanto vinculação da instituição ao Estado, isto é, como algo que é
patrimônio público, de propriedade pública. Deste modo, aquelas que não possuírem tais vínculos são consid-
eradas privadas. Mesmo que uma universidade cobre mensalidades ou taxas, mas esteja juridicamente vinculada
ao Estado, esta é considerada uma instituição pública, ainda que este modelo possa receber críticas pelo fato
de não ser gratuito. Em outro exemplo, mesmo que uma universidade tenha seus cursos gratuitos (filantropia),
mas a sua propriedade pertença a uma fundação ou ente não-governamental, esta é considerada uma instituição
privada.

253
Tabela 10: Graduação em comunicação: proporção entre instituições públicas e privadas

País42 % instituições Públicas % instituições privadas


Argentina 43% 57%
Brasil 15% 85%
Colômbia 28% 72%
Equador 39% 61%
Espanha 58% 42%
México43 20% 80%
Paraguai 18% 82%
Portugal 51% 49%
Venezuela 16% 84%

Nos países latino-americanos o número de instituições públicas em relação


ao número das instituições privadas é bastante inferior. Espanha e Portugal,
no continente europeu, são os únicos dois países da amostra cujos números
de instituições públicas prevalecem sobre o número das particulares. No caso
espanhol, o crescimento das instituições privadas foi equilibrado pelo aumento
dos cursos em várias universidades públicas, as quais também abriram novas
carreiras demandadas pela área comunicacional (MARTÍNEZ, 2005).
No caso português, as décadas de 80 e 90 também foram marcadas por uma
fase de explosão dos cursos (mais de 40 cursos criados), tal como o é na América
Latina. Quiroz (2009) esclarece que no Equador as universidades privadas têm
participação numérica significativa na oferta das carreiras muito em razão de que
a orientação das mesmas tende a ser bastante pragmática e voltada para o mercado
de trabalho. Na Argentina, embora quase estivesse equiparada a proporção dentre
os dois tipos de instituição, González (2009) salienta que há ingresso livre e
massivo nas universidades públicas, em razão dos estudos serem gratuitos ou de
baixos custos, o que aumenta o grau de deserção na carreira. O mesmo se sucede
ao Uruguai. Na Argentina também ocorre outro problema nas universidades
públicas, em relação ao número de alunos em sala de aula, que excede 100 pessoas,
havendo inclusive disputa de cadeiras. O mesmo ocorre nas universidades públicas
da Espanha, cujo número de alunos em aula pode ultrapassar 150 estudantes. Já
no Chile o ingresso na universidade pública é mais seletivo o que acaba forçando
uma menor evasão do aluno. Há também baixa sustentação de financiamento
estatal chileno, pelo fato de o Estado acreditar que as universidades possam
prover-se com projetos de autofinanciamento (GONZÁLEZ, 2009). No Brasil
ainda há infraestrutura precária e instalações inadequadas, seja nas públicas ou
42. Os dados sobre Chile e Uruguai ainda estão em processo de confirmação com fontes oficiais e especialistas.
43. Porcentagem estimada. Fonte: pesquisadora mexicana María Antonieta Rebeil, obtida através de troca de
mensagens eletrônicas em novembro de 2010.

254
nas privadas. Em relação às universidades públicas, embora haja dificuldade ao
acesso a melhores tecnologias, ainda conta com professores de dedicação exclusiva
e melhor nível de ensino do que em comparação às privadas (MARTINS, 2009).
Algumas outras reflexões e análises dos programas de comunicação em cada
país podem ser salientados e analisados a partir do indicador que se refere ao
número de instituições ofertantes de pós-graduação strictu sensu, conforme a
tabela a seguir (Tabela 11):

Tabela 11: Estrutura do ensino de comunicação: pós-graduação


INDICADOR 9 - Número de instituições de ensino que ofertam cursos de pós-graduação
em comunicação (mestrado ou doutorado)44

Argentina45 20
Brasil46 37
Chile47 10
Colômbia48 10
Equador49 12
Espanha50 36
México51 35
Paraguai52 4
Portugal53 37
Venezuela54 8

44. Dados referentes ao Uruguai estão em processo de confirmação junto à fontes oficiais e especialistas.
45. Títulos oficiais na Argentina,. 2010. Disponível em: <http://ses.siu.edu.ar/titulosoficiales/default.php/titu-
losoficiales/default.php>. Acesso em 15 de outubro de /2010.
46. Fonte: SILVA; BERTI, 2010.
47. Relação de carreiras. 2010. Disponível em: <http://directorio.educasup.cl/>. Acesso em 15 de outubro de
2010.
48. Tabela elaborada pelo professor colombiano José Miguel Pereira, fornecida por e-mail em novembro de
2010.
49. Consejo Nacional de Educación Superior (CONESUP). 2010. Disponível em: <http://www.conesup.net/>.
Acesso em 15 de outubro de 2010.
50. Relação de cursos de pós-graduação da Espanha. 2010. Disponível em: <http://www.guiauniversidades.uji.
es/postgrados/index.html>. Acesso em 15de outubro de 2010.
51. Informação dada pelo pesquisador mexicano Raul Fuentes Navarro, obtida por e-mail em novembro de
2010. “Aunque no hay información oficial actualizada, el cálculo es que haya entre 30 y 40 programas de maes-
tría operando en el país (7 en instituciones públicas y el resto en privadas), y sólo el Doctorado en Comunicación
Aplicada de la Universidad Anáhuac (privada), abierto en 2009.” A fim de se ter uma quantificação aproximada
desta pesquisa, calculou-se a média entre 30 e 40, resultando no número 35 como dado na construção da tabela.
52. Informação dada pelo pesquisador paraguaio Aníbal Orue, obtida por e-mail em novembro de 2010.
53. Lista de pós-graduação de Portugal. 2010. Disponível em: <http://www.dges.mctes.pt/DGES/pt/Oferta-
Formativa/CursosConferentesDeGrau/Cursos+Conferentes+de+Grau.htm>. Acesso em 15 out. de 2010.
54. Oferta de pós-graduação. 2010 na Venezuela. Disponível em: <http://www.ccnpg.gob.ve/directorio_na-
cional/default.asp>. Acesso em 15 out. de 2010.

255
Observa-se que Brasil, Espanha55, Portugal e México são os países que
possuem os maiores números de instituições de ensino de pós-graduação na área
de Comunicação em termos absolutos quando em comparação com os demais
países. Porém, no caso específico dos dois países europeus, há um número de
instituições com oferta em pós-graduação mais aproximado do quantitativo
do que o ofertado na graduação. Ou seja, na Espanha das 50 instituições que
ofertam graduação, 36 delas também ofertam pós-graduação. Em Portugal, se há
43 instituições que ofertam apenas graduação, há 37 instituições de pós-graduação
strictu sensu. Isto aponta tendências de maior consolidação da comunicação
como área de conhecimento e também amplia as possibilidades de fomento e
desenvolvimento de pesquisas específicas.
Na América Latina o cenário é distinto. Alguns países (Colômbia, Equador,
Venezuela e Paraguai) ofertam apenas o mestrado. No caso da Colômbia, o
pesquisador José Pereira56 aponta algumas justificativas para a referida ausência
em seu país, como a falta de apoio econômico por parte do governo:
No hay beca para maestrías y doctorados de manera masiva. La mayoría
son universidades privadas. El país tiene muy pocos doctores en todos los
campos del conocimiento. Muy pocos en comunicación, solo recientemente
se viene incrementando el número. [...] No hay apoyo del Estado o si lo hay,
es aún, muy poco.
Mesmo nos países latino-americanos onde foi encontrada alguma referência
de cursos de doutorado nota-se que esta oferta é ainda bem reduzida. Na Argentina
são seis cursos, no Chile existem dois cursos e no México apenas um, criado em
2009. Segundo Navarros (2010) embora no México a titulação de doutorado seja
obtida em áreas como Ciências Políticas e Sociais ou Estudos Humanísticos, há
seis dentre esses cursos que possuem áreas de concentração em Comunicação, o
que indica a presença de investigação científica e produção acadêmica maior do
que se poderia estimar quando se observa apenas os dados tangente ao grau de
doutoramento em Comunicação daquele país. Isto demonstra como alguns dados
podem escamotear realidades e contextos adversos, que merecem, por sua vez,
ser esmiuçados para qualificar e adensar a pesquisa, ainda que isto seja feito num
segundo momento de investigação.
Apenas no Brasil essa realidade é mais avançada em relação ao contexto
latino-americano, com 15 instituições ofertando doutorado em grandes centros
de excelência, embora grande parte dos doutorados ainda seja incipiente57.
Em relação à ampla margem dos mestrados sobre os doutorados observados
55. Destaca-se que o mestrado na Espanha não é regulado, de forma que não possui validade perante o minis-
tério da Educação, apenas o doutorado possui.
56. Informação dada pelo pesquisador colombiano José Pereira, obtida por e-mail em novembro de 2010.
57. Sobre o tema, ver a pesquisa de Maria Cristina Gobbi no primeiro capítulo deste volumem.

256
na América Latina, como diz Farías (2006), essa diferença é atribuída em grande
parte pela influência recebida do modelo de pesquisa universitário estadunidense
o qual vincula ensino e pesquisa à obtenção sequenciada de graus acadêmicos.
Esse fato as das chamadas especializações, que qualificam para o mercado de
trabalho do que propriamente contribuir para o desenvolvimento do campo de
investigação e ensino.
Pereira e Burbano (2002) esclarecem as implicações da baixa participação da
pós-graduação nos estudos de Comunicação para a Colômbia:
Dado que son pocas las ofertas de formación superior en maestrías y
doctorados, no hay programas y grupos de investigación consolidados con
líneas y proyectos de investigación específicas, lo que evidencia una ausencia
de comunidad académica en el campo de las comunicaciones en el país.
No caso do Chile, a escassa estrutura de formação de doutores interfere
na própria avaliação da excelência do ensino superior como um todo, já que
os alunos de graduação acabam sendo orientados por professores com pouca
titulação (CASTELLÓN, 2006).
No Brasil é possível afirmar que houve uma expansão do ensino da
Comunicação durante os anos 90. Em meio ao “boom” da explosão dos cursos
na área, compartilhada por diversos outros países desse estudo, houve avanço
considerável nos programas de pós-graduação strictu sensu para a região,
principalmente nos últimos cinco anos.
Nas palavras de Silva e Berti (2010) “a autorização58 de novos programas de
pós-graduação (PPGs) nos últimos cinco anos fez com que área comunicacional
tivesse considerável incremento e desse um salto quantitativo e qualitativo para
sua sedimentação” (p. 3).
Estes últimos cinco anos (2005-2010)59 ocasionaram um aumento de
praticamente 100 por cento no número de programas, que passaram de pouco
menos de 20 para quase 40. É interessante notar que o Brasil é, mesmo em meio
aos dois países europeus, o que possui maior número de instituições ofertantes de
pós-graduação. E, na América Latina, sem dúvida, é o mais avançado em matéria
de pesquisas e incentivos na área. Junto ao Cone Sul e aos dois países europeus, o
Brasil é um dos que mais publica revistas e desenvolve pesquisas, destacando-se na
América Latina os seus centros de investigação (MARTINS, 2009).
No que diz respeito ao momento de criação da pós-graduação na América
Latina, o quadro a seguir (Quadro 4) apresenta um panorama histórico,

58. Autorização esta realizada pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
órgão do governo federal responsável pela autorização dos programas de pós-graduação stricto sensu.
59. Mais detalhes sobre o tema, ver a pesquisa de Maria Cristina Gobbi.

257
destacando-se o papel pioneiro do Brasil na região latino-americana, conforme
dados de Farías (2006):

Quadro 4: Ano de implantação de pós-graduação em países da América Latina

País Ano de incorporação à pós-graduação em comunicação


Brasil 1972
Puerto Rico 1973
México 1977
Colômbia 1990
Argentina/Chile 1993
Venezuela 1994
Perú/Costa Rica 1996
Bolívia 1999
Uruguai 2002
Equador 2005
México60 2009

Já no que se refere ao caráter público ou privado da pós-graduação, a Tabela 12


traz um quadro com as respectivas proporções por país:

Tabela 12: Pós-Graduação em comunicação: proporção entre instituições públicas e


privadas

País61 % instituições públicas % instituições privadas


Argentina 20% 80%
Brasil 62% 38%
Chile 20% 80%
Colômbia 40% 60%
Equador 58% 42%
Espanha 58% 42%
México 20% 80%
Paraguai 50% 50%
Portugal 65% 35%
Venezuela 38% 62%

No Chile, esta proporção pequena da participação do ensino público pode


ocorrer pelo fato de que a área de Comunicação não é prioritária para a educação
superior pública, conforme se observa a baixa aprovação de projetos na área por

60. País acrescentado à lista de Farías (2006), conforme informação dada pelo pesquisador mexicano Raúl
Fuentes Navarro. Novembro de 2010.
61. Dados referentes ao Uruguai estão em processo de confirmação junto a fontes oficiais e especialistas.

258
parte da agência de fomento Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FONDECYT). Isto implica em menor incentivo às pesquisas em
comunicação no país (CASTELLÓN, 2006).
A falta de participação pública mais ativa também é compartilhada pela
Colômbia, que, conforme já dito anteriormente, há ínfimo incentivo econômico
por parte do governo. O cruzamento de dados como estes podem ajudar a
identificar os baixos índices de cursos ofertados em pós-graduação, já que é
mais comum o incentivo a investigações acadêmicas e melhoria da qualidade de
produção científica em regiões onde há forte participação e apoio do governo,
ainda que não seja esta uma relação direta ou fechada. Em Portugal e Espanha
essa porcentagem prevalecente na participação do ensino público já era prevista,
dada a forte presença das universidades públicas em números absolutos tanto na
graduação, quanto na pós-graduação. Por fim, importante observar que no Brasil
os dados demonstram que há uma inversão em relação ao que foi detectado na
graduação quando comparada à pós-graduação, ou seja, a maioria das instituições
que oferta cursos de mestrado/doutorado é pública, conforme apontou a tabela
anterior.

Considerações finais
Este capítulo teve como objetivo traçar um panorama da Comunicação Social
em 11 países da comunidade ibero-americana. Um conjunto de oito indicadores
serviu como âncora para compor este quadro priorizando informações que
pudessem trazer uma visão geral de temas considerados mais estruturantes como
regulação, tecnologia, acesso/consumo e formação acadêmica em comunicação.
Os resultados aqui dispostos devem ser compreendidos como parte de um
estudo ainda maior, em andamento, que inclui uma série de outros indicadores
sobre os temas abordados neste capítulo, mas que também, para além destes,
abordam outras temáticas como estrutura de serviços, mercados, consumo de
mídia e profissionalização. Estes e outros temas serão tratados na segunda fase
da pesquisa, compondo assim um panorama mais completo de questões, com
maiores possibilidades para o cruzamento de dados, para identificação de padrões
e comparações pertinentes.
Neste percurso de pesquisa, algumas áreas de investigação se demonstraram
especialmente dificultosas por tratarem de dados que nem sempre estão
devidamente publicados ou devidamente tabulados.
Esta dificuldade se amplia quando se nota que:
(1) embora circunscrito à grande área comunicação, o estudo dialoga com
campos distintos do conhecimento ou de áreas distintas da vida social

259
(como educação, economia, tecnologia, legislação), cujas informações não
estão centralizadas, ao contrário, se encontram dispersas, cada uma numa
base de dados diferentes;
(2) ao mesmo tempo, a busca por cada indicador é multiplicado por 11
realidades nacionais distintas, onde a simples confirmação se um país possui
ou não um determinado dado torna-se um elemento bastante complexo
de ser pesquisado. Por exemplo, os indicadores inexistentes tendem a se
comportar para o pesquisador como um indicador invisível. O fato de não
possuir “registro na realidade” torna-se assim um elemento complicador,
pois demanda tempo para se chegar à conclusão e confirmação desta lacuna.
A opção por alguns indicadores e não por outros nesta primeira fase da
pesquisa se justifica:
(a) ocorreu a partir de sua função estruturante (como é o caso da digitalização
da TV e do rádio; da formação em comunicação social; da penetração da
internet em cada país, etc.) e
(b) sua viabilidade na obtenção de dados (algumas informações demandam
buscas em documentos oficiais e relatórios disponíveis, outros necessitam de
entrevistas ou visitas a embaixadas, por exemplo);
(c) sua diversidade temática (isto é, que compusessem um mosaico de
elementos capazes de apontar caminhos e indícios comparativos no conjunto
de países pesquisados).
Além de trazer outros indicadores em processo de coleta de dados sobre as
11 realidades nacionais aqui selecionadas, o resultado final da pesquisa também
busca informações sobre mais quatro países que ficaram de fora desta primeira
fase. São eles: Cuba, China, Índia e Rússia, sendo que os três últimos ao lado do
Brasil, formam o BRIC.
Os quatro países são, inclusive, os países com maiores barreiras para obtenção
de dados: seja pelo volume de informações que precisam ser depuradas; seja
pelo próprio perfil político destas nações, muitas delas com uma tradição mais
hermética cujas estruturas oficiais-governamentais tendem a ser menos abertas
(como é o caso dos países de regime comunista como China e Cuba).
Para retomar e alinhar algumas considerações sobre os resultados obtidos
nesta primeira fase da pesquisa, tratamos os indicadores pesquisados através de
quatro grandes categorias ou temas:

260
(a) regulação;
(b) tecnologia;
(c) acesso/uso e
(d) formação.
No que se refere às questões regulatórias, os dados apresentados demonstram
que, pelo menos formalmente, o conjunto de países analisados dão à Comunicação
um papel importante na dinâmica da vida pública, reconhecendo-a através
das noções ou bandeiras clássicas da liberdade de expressão, de opinião, de
manifestação ou de imprensa como direitos inalienáveis. Isso não significa afirmar
que tais direitos são devidamente cumpridos e respeitados em cada realidade,
mas o fato é que existe tal reconhecimento constitucional, o que se torna um
elemento importante para reivindicações sociais. Uma outra característica de teor
regulatório e estrutural que merece destaque é a existência de canais comerciais
e não-comerciais de radiodifusão em todos os países pesquisados, ainda que
sustentem realidades distintas, como vimos.
No tocante ao item tecnologia, os indicadores analisados se concentraram
em identificar quais países já iniciaram o processo de digitalização da TV e no
rádio.
No caso da televisão, os resultados demonstram que a definição de padrão
tecnológico e o início da fase de implementação do sistema digital já são uma
realidade e ocorre nos 11 países examinados. Embora três diferentes padrões
tecnológicos tenham sido escolhidos, o padrão nipo-brasileiro foi o mais
adotado pelo grupo de países estudados. Já no caso do rádio digital, o cenário é
distinto: há ainda muita indefinição e apenas três dos países (Espanha, Portugal
e México) estão com seus sistemas implantados, mesmo assim, ainda buscam
resolver problemas técnicos no caminho de sua plena funcionalidade. Nos países
selecionados, os debates nacionais demonstram que até o final de 2010 havia
uma tendência, dentre aqueles que ainda não definiram padrão, em adotar a
tecnologia IBOC. Porém, este cenário pode mudar a depender dos debates, do
lobby empregado e, principalmente, no caso brasileiro, na definição de políticas
públicas para pesquisa, desenvolvimento e inovação nacional nessa área.
Embora pouco exploradas nesta pesquisa, as questões referentes ao acesso,
consumo ou uso dos meios de comunicação foram tratadas em dois indicadores
que tratam de internet e mídia impressa.
Sobre internet, os dados sugerem que, pelo menos até 2010, apenas a
Espanha (63%), Colômbia (49%) e Portugal (48%) conseguiram atingir ou estão
próximos de inserir a metade de seus cidadãos como usuários de internet. Em
relação ao consumo da mídia impressa, os dados levantados apontam pistas sobre

261
a dinâmica deste setor em cada país. O quadro é bastante heterogêneo e não
segue uma lógica simples, por exemplo, nem sempre os países que possuem bons
índices de alfabetização ou índices de desenvolvimento humano (IDH) aparecem
no topo da listagem (como é o caso da Argentina) quanto ao quantitativo de
cópias impressas que circulam em relação ao número de habitantes.
Ao mesmo tempo, países como a Venezuela e Equador (na América Latina)
e Espanha (na Europa) possuem um quantitativo superior quando comparados
aos demais países (ainda que cheguem ao patamar de países como a Noruega).
O que indica que tais países possuem uma circulação de impressos acima da
média do grupo pesquisado. O que pode apontar para uma cultura de compra de
jornais impressos mais efervescente ou pode indicar a existência de mais veículos
também. De todo modo, são hipóteses que precisam ser examinadas. Para este
segmento, é preciso realizar cruzamentos de dados capazes de desdobrar em
percepções mais sólidas.
No que se refere aos indicadores sobre formação superior, os dados
demonstram que a América Latina ainda enfrenta enormes desafios no ensino
em Comunicação. Mesmo com o crescimento da oferta de cursos nos anos 90
do século XX isso não significou uma concreta melhoria da qualidade de ensino.
Algo que também se reflete na pós-graduação, onde boa parte dos países latino-
americanos oferta apenas o mestrado (como acontece na Colômbia, no Equador
e na Venezuela). Mesmo em países de proporções maiores e mais próximas do
Brasil, como o México, a existência de cursos de doutorado é incipiente (apenas
um criado em 2009). Neste país, a pesquisa e a formação de doutores que atuam e
pesquisam Comunicação é feita em áreas afins, o que demonstra que a área ainda
não adquiriu autonomia e força para deslanchar.
Já no caso dos países europeus estudados (Portugal e Espanha) esse quadro é
diferente: os dois países possuem os maiores quantitativos de instituições de ensino
em pós-graduação em Comunicação quando em comparação com os demais.
Há nos dois casos menor distância entre a quantidade de cursos de graduação
e pós-graduação. Embora esta proximidade entre quantidade graduação e pós-
graduação não ocorra no Brasil (que tem cerca de 423 instituições com graduação
e 37 com mestrado/doutorado), o país possui a melhor estrutura de pós-graduação
na América Latina dentre os países estudados.
Convém ressaltar que os números, informações e análises aportados nesta
pesquisa (em relação aos oito indicadores) precisam ser continuamente revisitados
e acompanhados por pesquisas futuras e longitudinais. O exercício de se elencar
indicadores da comunicação que possam ser comparados entre as diversas realidades
nacionais é imprescindível num mundo globalizado e inevitavelmente conectado.
Metodologias precisam ser testadas e meios de monitoramento precisam ser
desenvolvidos e aprimorados para que tal acompanhamento se torne viável e
262
qualificado. Órgãos governamentais e institutos de pesquisa também necessitam
estar sensibilizados da importância de produzir, organizar e disponibilizar este
tipo de informação. Finalmente, contatos e intercâmbios entre centros de estudos
e a formação de redes de especialistas também merecem especial atenção, pois a
criação de estruturas desta natureza pode tornar a coleta, análise e atualização de
dados mais efetiva.

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Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – 2010

Editorial

Coordenação
Cláudio Passos de Oliveira

Editoração
Shine Comunicação

Revisão
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