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1ª CÂMARA
PROCESSO TC Nº 09.521/09
Objeto: Concurso Público
Órgão: Prefeitura Municipal de Cruz do Espírito Santo
Atos de Admissão de Pessoal – Concurso Público. Legalidade
e ilegalidade dos Atos. Aplicação de Multa. Recomendações.
Cons. ARTHUR PAREDES CUNHA LIMA Cons. Subst.. ANTÔNIO GOMES VIEIRA FILHO
Presidente Relator
PROCESSO TC Nº 09.521/09
RELATÓRIO
O processo sob exame refere-se ao concurso público realizado pela Prefeitura Municipal de Cruz do
Espírito Santo, homologado em 22 de novembro de 2007, objetivando o provimento de cargos públicos, em
obediência às Leis Municipais nº 580/2007 e 581/2007.
Após exame da documentação pertinente, a Unidade Técnica emitiu relatório de fls. 263/74,
constatando diversas irregularidades, o que ocasionou a notificação do gestor daquela Edilidade, Sr. Rafael
Fernandes de Carvalho Júnior, que, por meio de seu representante legal, acostou defesa nesta Corte, conforme
fls. 283/608 dos autos.
Da análise desses documentos, a Unidade Técnica emitiu o Relatório da Análise da Defesa, às fls.
610/12, entendendo remanescerem as seguintes falhas, haja vista não haver na defesa apresentada
pronunciamento do interessado a cerca desses itens:
a) Vagas oferecidas em quantidade maior que as legalmente criadas (Auxiliar de Administração,
Auxiliar de Serviços Gerais, Agente de Limpeza, Professor P1 e Professor P2);
b) Não comprovação da realização de sorteio para desempate entre os candidatos;
c) Desrespeito à ordem de classificação na nomeação para os cargos de: Auxiliar de Serviços Gerais
(Canudos, Francisco Cunha ZU2 e Massangana III) e Professor P1;
d) Nomeação de candidatos excedendo o número de vagas disponíveis na lei e no edital do concurso;
e) Ausência das portarias tornando sem efeito os atos de nomeação de candidatos que deixaram de
tomar posse, bem como das portarias de demissão de servidores nomeados e empossados que
abandonaram o emprego;
f) Ausência de previsão, nas LDO e LOA de 2007 e 2008, de autorização para acréscimos na despesa
de pessoal, bem como de prévia existência de dotação orçamentária para sua cobertura;
g) Ausência de esclarecimentos acerca da opção por localidade das vagas.
Ao se pronunciar sobre a matéria, o Ministério Público junto ao Tribunal, através da Douta Procuradora
Isabella Barbosa Marinho Falcão, emitiu o Parecer nº 1612/2010, com as seguintes considerações:
No certame em apreço foram oferecidas vagas em quantidade maior que as legalmente criadas para os
cargos de Auxiliar de Administração, Auxiliar de Serviços Gerais, Agente de Limpeza, Professor P1 e Professor
P2; houve nomeação de candidatos excedendo o número de vagas disponíveis na lei e no edital do concurso, bem
como ocorreu desrespeito à ordem de classificação na nomeação para cargos de Auxiliar de Serviços Gerais
(Canudos, Francisco Cunha ZU2 e Massangana III) e Professor P1, além de não terem sido apresentadas as
portarias tornando sem efeito os atos de nomeação de candidatos que deixaram de tomar posse e das portarias de
demissão de servidores nomeados e empossados que abandonaram o emprego.
As duas primeiras irregularidades, atinentes à previsão de vagas e nomeação para cargos sem respaldo
legal, caracterizam flagrante desrespeito aos princípios da legalidade e da impessoalidade que deve nortear os
certames da espécie, ex vi do art. 37, caput, da Constituição Federal.
A nomeação de candidatos em número de vagas superior ao estabelecido em lei torna os respectivos
atos de admissão nulos de pleno direito.
Realizado o concurso, a ordem de classificação nas nomeações deve ser respeitada. Se existem a vaga e
a necessidade de seu preenchimento, este será feito observando-se, cautelosamente, aquela ordem.
Quanto à ausência dos termos de desistências e dos atos que tornaram sem efeito as nomeações dos
candidatos que não tomaram posse ou abandonaram o cargo, existem dúvidas quanto à lisura das nomeações,
tendo em vista que não há como se assegurar que a ordem classificatória foi devidamente obedecida, o que, frise-
se, no tocante aos cargos de Auxiliar de Serviços Gerais (Canudos, Francisco Cunha ZU2 e Massangana III) e
Professor P1, já restou comprovado.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
1ª CÂMARA
PROCESSO TC Nº 09.521/09
Destaca-se, ainda, a desobediência injustificada à ordem de classificação, nos processos seletivos para
contratação de pessoal, bem como a nomeação para cargos sem amparo ou excedendo ao quantitativo legal
constituindo irregularidades graves e não simples falhas formais. Foram violações a uma regra clara e não a uma
regra de Direito complexa e de difícil entendimento, o que afasta tanto a boa-fé quanto a incompreensão
involuntária.
Quanto à não comprovação de realização de sorteio para desempate entre candidatos, levando-se em
conta que não houve até o momento qualquer manifestação de possíveis prejudicados, a Representante não se
manifestou no sentido de imposição de outras penalidades, além da advertência.
Em relação à ausência de esclarecimento acerca da obrigatoriedade ou não de o candidato ao cargo de
Auxiliar de Administração, de Auxiliar de Serviços Gerais ou de Vigia optar por localidades específicas,
constitui falha que demonstra a desorganização administrativa por parte do ente responsável pelo processo
seletivo, o que atenta contra o princípio da eficiência.
No que concerne à falta de previsão na LDO e LOA para a realização do concurso público, contrariando
o § 1º, incisos I e II do art. 169 da CF, a falha não constitui ato de gestão fiscal responsável, dando margem à
anulação do concurso. Porém, a anulação como um todo traria graves transtornos à população do município.
Deve-se buscar no presente caso não a mais adequada exegese, mas a que melhor atenda ao interesse público,
aos valores que conformam a justiça e que mostre aderência à norma maior.
Com espeque no princípio segundo o qual somente se declara nulidade quando há efetivo prejuízo, e,
mormente, à luz do preceito constitucional da economicidade de meios, afigura-se nos razoável pugnar pela
relevação de falhas porventura esgrimidas, para fins de concessão de registro de tantas quantas tenham sido as
nomeações para vagas expressamente previstas em lei.
Frente ao exposto, opina a Representante do Ministério Público Especial pela:
a) Concessão de registro dos atos de admissão em apreço, exceto aqueles que transbordam ao
quantitativo legal e aqueles sob os quais há a presunção de nomeação em desrespeito à ordem classificatória;
b) Aplicação de multa ao gestor, com fulcro no art. 56, II da LOTC/PB;
c) Recomendação à autoridade competente para que em futuros concursos conste na LDO a autorização
para aumento de gastos com pessoal e a respectiva fixação da despesa na LOA, outrossim, para que não incida
novamente nas falhas ora discutidas, guardando sempre obediência aos preceitos constitucionais e aos ditames da
legislação pertinente.
PROCESSO TC Nº 09.521/09
VOTO
V) Recomendem à atual Administração para que em futuros concursos conste na LDO a autorização
para aumento de gastos com pessoal e a respectiva fixação da despesa na LOA e que não incida
novamente nas falhas ora discutidas, guardando sempre obediência aos preceitos constitucionais e
aos ditames da legislação pertinente.
É a proposta.