Direito Internacional Privado é, para Irineu Strenger;
“Um complexo de normas e princípios de regulação que, atuando nos diversos ordenamentos legais ou convencionais, estabelece qual o direito aplicável para resolver conflitos de leis ou sistemas, envolvendo relações jurídicas de natureza privada ou pública, com referências, internacionais ou interlocais”. O objeto do Direito Internacional Privado é o estudo e a solução dos conflitos de leis no espaço. Havendo mais de uma norma a ser aplicada, irá estabelecer critérios para verificar qual vai ser observada.
Fundamentos:
Os principais fundamentos do Direito Internacional Privado são: (a) a
multiplicidade do fator estrangeiro, em que se passa a verificar o elemento estrangeiro, (b) o ordenamento jurídico autônomos. Em Roma, havia hegemonia dos cidadãos romanos, não se reconhecia poder de outros grupos. Agora, passa- se a observar as nações-estado, que são soberanas, (c) a benevolência em relação ao estrangeiro. Mussolini, entretanto, era nacionalista, deixando de haver desenvolvimento do Direito Internacional Privado nesse período.
Elementos de Conexão:
No Brasil, utiliza-se a denominação elementos de conexão. Na Alemanha,
usa-se a expressão Anknüpfungspunkt, que tem o significado de vínculo ativo. Na Itália, punto de collegamento, momenti di collegamento, critério di collegamento. Na França, poit de rattachement ou circonstances. Na Espanha, circunstancia de conexión ou puntos de conexión. Na Inglaterra, localizer. Em outros países de língua inglesa, também são utilizadas as expressões: connecting factors ou points of contact. Haroldo Valladão menciona que os elementos de conexão “são as diretrizes, as chaves, as cabeças-de=ponte para a solução dos conflitos de leis, em linguagem atual são os mísseis que põem em órbita a regra de DIP”. Visam os elementos de conexão à aplicabilidade da lei mais justa. Define Giuseppe Barile elemento de conexão como a circunstância da relação jurídica a qual a norma de direito internacional privado atribui relevância na solução de conflito de leis. Irineu Strenger esclarece que elemento de conexão é o “fator de vinculação, de ligação a determinado sistema jurídico, porque através dele que sabemos qual o direito aplicável. È o vinculo que relaciona um fato qualquer a determinado sistema jurídico”. Em outra obra, o autor explica que “elementos de conexão são expressões legais de conteúdo variável, de efeito indicativo, capazes de permitir a determinação do direito que deve tutelar a relação jurídica em questão”. Os elementos de conexão serão a chave para a resolução do conflito de leis no espaço. Indicarão o direito que será aplicável ao caso em tela. Poderão os elementos de conexão variar de acordo com cada ordenamento jurídico. Não há, muitas vezes, uma solução uniforme e universal para resolver o conflito de leis no espaço. A Lei de Introdução ao Código Civil (LICC) prevê, em alguns de seus artigos, critérios para a solução dos conflitos de leis no espaço. Em matéria de capacidade da pessoa física, há três sistemas: o da territorialidade, o da nacionalidade e o do domicilio. A territorialidade ou lex fori implica que a lei do Estado sobre capacidade é a que será aplicada a todas as pessoas que se encontrem em seu território. Pouco importa se são nacionais, estrangeiros, ou se as pessoas estão de passagem pela localidade. Na nacionalidade (lex patriae), verifica-se a pessoalidade, como em matéria de divórcio. O Código Civil francês de 1804 determina a capacidade pela nacionalidade. Em alguns países, a nacionalidade é elemento fundamental, pois a mulher adquire sempre a nacionalidade do marido. O Brasil não adota, porém, esse critério. A nacionalidade pode fundamentar-se no nascimento, na naturalização ou no casamento. O nascimento pode dizer respeito ao sangue ou ao solo. A nacionalidade do filho corresponderia à nacionalidade do país (ius sanguinis). No segundo caso, a nacionalidade depende do local em que a pessoa nasce (ius soli). O Brasil adota um critério misto, pois a letra a do inciso I do artigo 12 da Constituição consagra o critério do ius soli, ao fazer referência que os nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiro, terão nacionalidade brasileira, e as alíneas b e c do inciso I do mesmo artigo tratam do ius sanguinis, ao preverem que são brasileiros natos nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. O artigo 8º da LICC dispõe que a lei nacional da pessoa determina a capacidade civil, os direitos de família, as relações pessoais dos cônjuges e o regime dos bens no casamento, sendo lícito quanto a este a opção pela lei brasileira. A pessoa estabelece hábitos no local do domicilio. Assim, deve ser observado a lei desse local. O artigo 7º da LICC menciona que lei do pais em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. O artigo 9º da mesma norma esclarece que será aplicada subsidiariamente a lei do domícilio e, na falta desta, a da residência: (a) quando a pessoa não tiver nacionalidade, (b) quando se lhe atribuírem duas nacionalidades, por conflito, não resolvido, entre as leis do país do nascimento a as do país de origem, caso em que prevalecerá, se um deles for o Brasil, a lei brasileira. Na lei do local do ato (lócus regit actum ou lex loci regit actum), vale a norma do local em que foi praticado o ato. Para Wilson de Souza Campos Batalha, a LICC consagrou a regra do lócus regit actum no § 1º do artigo 9º que estabelece: “destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo deforma essencial, será observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto as requisitos extrínsecos do ato”. Admite Batalha que, caso a obrigação a ser executada no Brasil dependa de forma especial, esta deverá ser observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira relativamente aos requisitos extrínsecos do ato. O STF, julgando testamento ológrafo de uma pessoa, feito na Itália, de acordo com a lei Italiana, que era nesse país domiciliada, entendeu que deveria ser observada a lei Italiana. No direito internacional privado inglês, o consentimento dos pais dos nubentes para a celebração do casamento está ligado à lex loci actus. A Lei do local da execução (lex loci executtionis) indica o local da obrigação onde deve ser executada. Exemplo é a nossa lei cambial, que permite que as operações cambiais sejam pagas no lugar designado. Não é possível cobrar a dívida em moeda estrangeira, salvo nas hipóteses previstas em lei. A regra a ser observada no contrato de trabalho é a lei do local da prestação de serviços (lex loci laboris) ou da execução do contrato. O TST adota esta orientação no Em. 207: “a relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país de representação do serviço e não por aqueles do local da contratação”. Pode também ser usada a lei do lugar da execução do pagamento (lex loci solutionis). Lex loci contractus é a lei do lugar do contrato ou lei onde foi celebrado ou concluído o contrato (lex loci celebrationis). Devem, porém, ser observado como limites a ordem pública internacional e a capacidade das partes. O artigo 9º da LICC prevê que, para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. O § 2º do mesmo artigo menciona que a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Os bens são regidos pela lei do local em que estão situados. È o lugar da situação da coisa (lex loci resi sitae). O artigo 8º da LICC reza que, para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. Os direitos reais (sobre coisa) ou o direito de propriedade terão como elemento de conexão o lugar da situação da coisa. Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer, ou se destinarem a transporte para outros lugares. O penhor regula-se pela lei do domicilio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada. A autonomia da vontade pode indicar o critério a ser aplicado para a solução do conflito, inclusive a lei respectiva para esse fim. É a lei escolhida pelas partes (lex voluntatis). As leis obrigatórias, imperativas ou de ordem pública, limitam, porém, o critério da autonomia, pois basta a norma dizer em contrario ao que foi pactuado, para que haja a incidência da norma de ordem pública, que não pode ser modificada pela vontade das partes. A atual Lei de Introdução ao Código Civil já não trata da referida regra. Muitas vezes, as partes inserem uma clausula no contrato, determinando onde o conflito deve ser dirimido. É a aplicação da lei do foro (lex fori). Talvez seja o mais antigo elemento de conexão, que era observado desde a Summa codicis. O foro é o lugar em que se move a ação. Todos os atos processuais de disciplinam pela lei do foro. O artigo 15 da LICC menciona que será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, desde que entendidas certos requisitos. Há necessidade, muitas vezes, de verificar se a vontade das pessoas não está validade de tal determinação. Na devolução ou reenvio, a norma estrangeira faz remissão a outra lei para ser aplicada. O artigo 16 da LICC não admite a devolução: quando se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei.