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Ciencia y EnfermerIa XV (3): 45-53, 2009 ISSN 0717-2079

SENTIMENTOS DE PRAZER ENTRE ENFERMEIROS DE


UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA

FEELINGS OF AMONG INTENSIVE CARE UNIT NURSES

SENTIMIENTOS DE PLACER ENTRE ENFERMEROS DE


CUIDADOS INTENSIVOS

Júlia Trevisan Martins*


Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi**
Maria Lúcia Garanhani***

RESUMO

Este estudo teve como objetivo identificar os sentimentos de prazer vivenciados pelos enfermeiros de Unidades
de Terapia Intensiva. Foi realizado em duas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de adultos de um hospital
escola. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, na qual foram entrevistados oito enfermeiros de todos os turnos
de trabalho. O referencial teórico utilizado foi a psicodinâmica do trabalho e o metodológico a análise de
conteúdo e os resultados mostraram que apesar dos enfermeiros trabalharem em um ambiente tido como
complexo, de ritmo acelerado, e com pacientes graves na qual a morte muitas vezes é iminente, relataram sentir
prazer em várias situações.

Palavras chaves: Unidade de terapia intensiva, sentimentos, enfermagem, pesquisa qualitativa.

ABSTRACT

The purposes of this study were to identify the feelings of pleasure experienced by Intensive Care Unit nurses.
It was carried out in two adults’ Intensive Care Units of a school hospital. It was a qualitative research in which
eight nurses from all shifts were interviewed. The theoretical framework used was the work psychodynamics
and the methodological one was the content analysis. The results showed that, besides working in a stressful
complex environment with patients in serious condition in which death is certain, the nurse’s related feeling
pleasure in several occasions.

Key words: Intensive care, feelings, nursing, qualitative research.

RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo identificar los sentimientos de placer vividos por los enfermeros de Unidades
de Cuidados Intensivos. El trabajo se realizó en dos Unidades de Cuidados Intensivos de adultos de un hospital
escuela. Se trató de una investigación cualitativa en la que fueron entrevistados ocho enfermeros de todos los
turnos de trabajo. El referencial teórico utilizado fue la psicodinámica del trabajo y la metodología fue el análisis
de contenido y los resultados mostraron que aunque los enfermeros trabajan en un ambiente considerado

*
Doutoranda do Programa Interunidades da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP-SP. e-mail: jtmartins@uel.br.
**
Professora doutora titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP, do Departamento de Enfermagem Geral
Especializada, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. e-mail: avrmlccr@eerp.
usp.br.
***
Professora doutora adjunta da Escola de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina, PR e-mail: maragara@dilk.
com.br

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complejo, de ritmo acelerado y con pacientes graves en el que la muerte es inminente, relataron sentir placer en
varias situaciones.

Palabras clave: Unidad de cuidados intensivos, sentimientos, enfermería, investigación cualitativa.

Fecha recepción: 25/11/07 Fecha aceptación: 19/07/09

INTRODUÇÃO ais, físicas e suas individualidades (2).


Essa constante mudança no mundo do
trabalho que vem sendo imposta aos tra-
As atividades laborais têm importância ím- balhadores e a capacidade dos mesmos em
par para a análise do ser humano e de sua ajustar-se a ela, pode lhes proporcionar cres-
relação com o mundo material e psíquico, centes incertezas, insatisfação generalizada
pois se constituem em uma das maneiras com o modo de vida, aflorando sentimentos
de o mesmo conviver e se relacionar com o de tédio, angústia, sofrimento, mas também
meio externo. É por elas também que os in- vivências de prazer.
divíduos buscam satisfazer suas necessidades O labor, qualquer que seja, deve propor-
de equilíbrio psíquico, ou seja, procuram o cionar prazer para quem o realiza, sendo
prazer e evitam o sofrimento no trabalho. uma fonte de realização profissional e pesso-
A história mostra que desde a era indus- al e desta forma, deve tornar-se também um
trial, ocorreram mudanças nos costumes, na prazer na vida externa ao trabalho (3).
ordem das coisas e na forma da organização O trabalho deve ser compreendido em to-
do trabalho. Porém, na atualidade o homem dos os seus aspectos quer sejam econômicos,
está inserido no mundo globalizado tornan- culturais e sociais, sendo de fundamental im-
do-se cada vez mais susceptível às pressões portância o entendimento de questões que
e aos estímulos do que em outra época em envolvam a produção social da subjetividade,
especial no que tange ao mundo do trabalho da saúde física e da saúde mental das pesso-
(1). as.
Assim, o desenvolvimento científico, tec- A saúde mental envolve vários aspectos,
nológico e social tem modificado o modo de sendo que um deles é o prazer no trabalho.
viver do homem contemporâneo, surgindo Entendendo o prazer como uma experiên-
novas necessidades que precisam se compre- cia subjetiva e relacionada aos processos la-
endidas e atendidas. Isto tem provocado a borativos, havendo uma transcendência dos
busca de indivíduos cada vez mais polivalen- padrões que relacionam a ordem observável
tes e capazes de realizar uma multiplicidade das coisas, a racionalidade do aparato insti-
de atividades. tucional e da liberdade (4).
Em conseqüência destas novas necessida- Desta forma, a saúde mental tem como
des e formas de viver, o reconhecimento, a uma das condições essenciais para se obter
valorização, a identificação profissional e o prazer no trabalho quando o processo orga-
prestígio social tornaram-se fundamentais nizativo permite uma flexibilidade que, favo-
para o trabalhador, sendo que no desenvol- reça ao trabalhador uma maneira de utilizar
ver das atividades laborativas há oportuni- as suas aptidões psicomotoras, psicosenso-
dades para supri-las, pois, ao mesmo tempo riais e psíquicas e não uma exploração camu-
que o trabalho é uma atividade que se reflete flada advinda desta flexibilização (4).
e influencia todos os aspectos da vida coti- Se o gestor levar em consideração as apti-
diana, também é uma chance do indivíduo dões dos indivíduos, pode ocorrer uma dimi-
desempenhar suas competências intelectu- nuição da carga psíquica e torna-se possível

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Sentimentos de prazer entre enfermeiros de unidades de terapia intensiva / J. Trevisan M., M. L. do Carmo C. R., M. L. Garanhani.

atingir equilíbrio na carga de sofrimento re- boramos o presente artigo com o objetivo de
sultante do trabalho. Assim ele pode utilizar identificar se os enfermeiros que trabalham
suas aptidões psicomotoras, psicosensoriais em UTIs de paciente adultos vivenciam sen-
e psíquicas e tornar o trabalho menos peno- timentos de prazer. O artigo é parte de Tese
so (5). de Doutorado em Enfermagem defendida em
Os trabalhadores que executam suas ati- 2008, na Escola de Enfermagem de Ribeirão
vidades com prazer, certamente assumirão Preto da Universidade de São Paulo-USP.
atitudes mais positivas frente à vida de uma
maneira geral e consequentemente, poderão
contribuir para um atendimento com maior MATERIAL E MÉTODO
qualidade aos pacientes e construir uma so-
ciedade mais saudável no que tange aos as-
pectos biopsicosociais (6). O estudo teve abordagem qualitativa, a qual
Neste contexto prazer é entendido como o permite o aprofundamento no mundo dos
uso da iniciativa, da criatividade, da possibi- significados, relações humanas, atitudes,
lidade de se expressar, no reconhecimento e crenças e valores.
valorização pelo que realiza, pela autonomia O referencial teórico foi constituído no
no trabalho, pelo significado da importância modelo da teoria da psicodinâmica dejou-
das tarefas realizadas, se o labor tem impor- rina que está pautada em situações da rea-
tância para a sociedade, dentre outros. lidade cotidiana dos trabalhadores, ou seja,
Prazer tem múltiplas interpretações, pois considera que o processo de trabalho e o
ele tem componente no inconsciente, não homem não é um conjunto rígido, mas es-
está sujeito ao comando apesar de poder- tão em movimento contínuo. A estabilidade
se identificar às situações a ele associadas. aparente dessa relação está diretamente liga-
A sensação é imperativa sobre nosso corpo, da a um equilíbrio livre e aberto à evolução e
sendo o fluxo de sentimento não subjugado às transformações, um equilíbrio dinâmico,
à deliberação e vontade. O prazer é um ato em contínuo deslocamento. Se for travada,
criativo diante da própria vida, que dá signi- bloqueada ou duradoura, leva à ineficiência
ficado ao viver. Assim é uma busca constante, da produção e a qualquer instante pode-se
e principalmente no trabalho, dada a opor- desencadear sua ruptura (5).
tunidade do indivíduo encontrar realização e Assim, a psicodinâmica analisa a dinâmi-
fortalecer sua identidade pessoal quando do ca dos processos psíquicos mobilizados pelo
contato com o produzir e com os outros que confronto do sujeito com a realidade coti-
fazem parte do seu mundo de socializações diana do processo de trabalho, levando-se
(7). em consideração que é pelo defrontar com
Partimos do pressuposto que os enfer- a história singular, crenças, desejos, ponto de
meiros de UTIs por realizarem um trabalho vista construídos a partir da história de cada
fragmentado, desvalorizado socialmente, vi- homem que se vê o mundo objetivo, as tare-
venciando um desgaste psíquico intenso ao fas a serem executadas. É na racionalidade do
depararem com a morte, o infortúnio alheio sujeito e na ação que se permite relacionar
e para lutarem contra o sofrimento advindo o sofrimento e procurar com que o trabalho
da tarefa primária que é o cuidar, buscam seja o mediador do prazer (4, 5).
formas de preservar os equilíbrios psíquico, A coleta de dados foi realizada por meio
emocional e físico na tentativa de para maxi- da entrevista semi-estruturada, com pergun-
mizar os sentimentos de prazer e minimizar tas norteadoras, utilizando gravador a fim de
os sentimentos de sofrimento. garantir a fidedignidade do registro das res-
Diante das considerações anteriores, ela- postas. Posteriormente, as fitas gravadas fo-

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ram transcritas na íntegra. O local das entre- de entre 28 a 33 anos e 1 idade superior a
vistas foi escolhido pelos pesquisadores, sen- 50 anos. Essa situação parece acontecer em
do uma sala dentro da própria UTI, o tempo instituições públicas, locais na qual o traba-
das entrevistas foi em média de 40 minutos lhador é admitido por concurso público e
e os dados foram coletados nos meses de ja- consegue adquirir estabilidade empregatícia,
neiro, fevereiro e março de 2007. o que pode ser confirmado em investigação
Como em toda pesquisa qualitativa, o realizada no Chile, com trabalhadores de en-
número de participantes não foi definido a fermagem de dois hospitais estatais públicos
priori. As entrevistas foram mantidas até o que a faixa etária predominante foi de 40 a
momento em que se considerou que houve 50 anos (11).
saturação, ou seja, emergiram convergências Com relação ao tempo de trabalho nas
suficientes nas falas para configurar o fenô- UTIs os dados mostraram que 3 estão entre
meno investigado. Assim, fizeram parte des- 13 a 16 anos de atuação, 3 entre 18 a 21 anos
se estudo 8 enfermeiros (8). de atuação e 2 entre 2 a 6 anos de atuação.
Para análise das informações, utilizou-se Esse fato se dá pela política da instituição
o método de análise de conteúdo seguindo que entende o trabalho de UTI como sendo
os três momentos cronológicos e distintos: a complexo e assim, ao manter os enfermeiros
pré-análise, a exploração do material e o tra- nestas unidades está colaborando para uma
tamento dos resultados. Para identificar as maior qualidade de assistência ao paciente.
unidades de registro foram realizados recor- A grande a maioria dos entrevistados, ou
tes direcionados pelos temas localizando os seja, 6 tem maior tempo de atuação nas UTIs
núcleos de significados (9). Com base nessas e ao correlacionar esses profissionais também
unidades de registro identificadas, procedeu- foram os que apresentaram maior tempo de
se o processo de categorização, apresentado formação na enfermagem.
na seção de resultados e discussão. Para que o indivíduo preencha os requi-
O projeto foi aprovado pelo Comitê de sitos para trabalhar em UTIs, é necessário
Ética em Pesquisa do Hospital Universitá- capacidade de discernimento, responsabi-
rio. Os enfermeiros receberam e assinaram lidade e iniciativa, esses são atributos que
o Termo de Consentimento Livre e esclare- deve ocorrer entre os enfermeiros de outras
cido, o qual garantiu o anonimato e o cará- unidades também, porém, é condição funda-
ter confidencial das informações, de acordo mental para os que trabalham em UTIs assim
com a Resolução 196 do Conselho Nacional como ter no mínimo um ano de atividades
de Saúde (10). Para preservar o anonimato, contínuas nestas unidades (12).
cada entrevista foi identificada com um có- A partir das entrevistas foi identificada a
digo (E1, E2, E3....) de acordo com a ordem categoria Prazer no Trabalho do Enfermeiro
cronológica de sua realização. de UTI da qual surgiram seis subcategorias
Também foi utilizados símbolos como assim denominadas: 1. Prazer em cuidar do
(...) significando que parte da fala foi exclu- paciente; 2. Prazer no envolvimento com a
ída e [ ] quando ocorria uma pausa no dis- família; 3. Prazer no trabalho em equipe; 4.
curso. Prazer no resultado do trabalho desenvolvi-
do; 5. Prazer ao ser reconhecido como pro-
fissional e 6. Prazer com a identificação pro-
RESULTADOS E DISCUSSÕES fissional.

1. Prazer em cuidar do paciente: foi desvela-


Quanto à faixa etária constatamos que do vivências prazer dos enfermeiros quando
5 tinham idade entre 40 e 50 anos, 2 ida- estão cuidando do paciente conforme é veri-

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ficado na expressão: nização de sua vida e o bem-estar social, li-


(...) O que me dá prazer é que eu gosto de berdade de poder agir individualmente e co-
lidar com o ser humano, gosto de cuidar de letivamente sobre o processo de organização
gente (E6). do trabalho, sobre o conteúdo do trabalho, a
O cuidado direto ao paciente crítico é a es- divisão das tarefas, a divisão dos homens e as
sência do trabalho de enfermagem na UTIs. relações que mantém entre si (15).
A enfermagem presta cuidados de preserva- Assim, acreditamos que os entrevistados
ção, conservação e a manutenção da vida, ao vivenciarem sentimentos de prazer no cui-
sendo compreendida como a arte e a ciência dado direto ao paciente é porque estão ten-
de pessoas que se relacionam e cuidam de do a oportunidade, a liberdade para regular
outras (13). suas tarefas no processo de trabalho por eles
Com esse entendimento é que os enfer- desenvolvido, porque lhes é permitido mais
meiros foram formados e em seus currículos trocas afetivas ou seja, há um favorecimento
de graduação aprendem de uma forma geral de uma assistência de enfermagem mais pró-
que o cuidar é uma das principais funções da xima e minuciosa por serem pacientes críti-
enfermagem, sendo que em UTIs o cuidado cos e totalmente dependentes.
direto ao paciente é previsto inclusive no seu
exercício profissional. 2. Prazer no envolvimento com a família:
Na UTI os trabalhadores de enfermagem (...) eu pelo menos gosto muito dar as-
têm a oportunidade de cuidar diretamente sistência à família porque eu vivenciei isso
de pacientes graves, essas atividades possi- com a minha família e fui muito mal aten-
bilitam-lhes viver sentimentos de prazer no dido, então aprendi esse lado humano, tan-
trabalho, na medida em que permitem con- to que, por exemplo, quando eu atuava no
tatos mais diretos com o paciente (12). serviço noturno não tinha hora para entrar,
A mesma autora refere que o contato di- eu liberava a hora que eu queria a hora que
reto com o paciente permite uma relação de a família queria[ ] então havia um comentá-
troca entre eles, na qual ambos são benefi- rio dos funcionários que depois que alguém
ciados afetivamente e, ao desenvolverem as da minha família passou na UTI eu mudei
atividades de cuidados diretos, têm a sensa- o comportamento, foi uma coisa que até eu
ção de estar ajudando o paciente grave a se não percebi, mas depois eu constatei que re-
recuperar. almente tinha mudado, esse lado da huma-
Em estudo realizado sobre prazer e sofri- nização, de evitar o sofrimento da família,
mento da equipe de enfermagem em UTIs passar mais informações possíveis, chamar
foram encontrados dados semelhantes aos a família para ver, pra ela poder entender o
nossos, ao desvelar que para os trabalhado- que está acontecendo (E2).
res de enfermagem a realização do cuidado Fica evidenciado pela fala que o entre-
direto transcende o entendimento de exe- vistado só despertou para a necessidade de
cutar tarefas. O prazer está em cuidar com dar atenção aos familiares após ter tido uma
humanidade, é colocar em prática seus ta- experiência negativa por ocasião da inter-
lentos, potencialidades e habilidades, ou seja, nação de seus familiares e que até mesmo
a objetividade da ação, mas também é um os funcionários perceberam mudanças em
momento no qual é proporcionado o entrar seu comportamento. Este profissional após
na subjetividade, tornando este cuidar mais reflexões sobre o ocorrido e constatou que
completo para o paciente e para o profissio- a humanização foi despertada em sua vida
nal de enfermagem (14). profissional.
O prazer é a liberdade que é proporcio- A UTI é considerada um ambiente es-
nada à aspiração de cada indivíduo na orga- tranho e estigmatizado, assim os familiares

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vivem o medo do desconhecido e da morte, pacientes (E1).


sendo imprescindível que o enfermeiro que (...) esse é prazer muito grande, uma re-
tem a habilidade de comunicar-se com os alização pessoal, você conseguir fazer com
familiares o faça sempre que possível para melhor qualidade, você ter uma equipe tran-
diminuir a insegurança, o medo, o temor, qüila, uma equipe que se sente bem com você
humanizando a assistência não somente ao e realizar o melhor serviço (E2).
paciente, mas a todos os envolvidos. No processo de trabalho da enfermagem é
A cultura que os familiares têm a respei- competência do enfermeiro o planejamento
to das UTIs está diretamente relacionada à para a equipe de enfermagem, sendo que a
questão da morte, estando sob a responsabi- liderança desta equipe é de sua responsabi-
lidade do enfermeiro e ou equipe de enfer- lidade. Quando é permitida uma interação
magem o atendimento holístico e persona- efetiva entre o enfermeiro e a equipe, com-
lizado ao paciente e também aos envolvidos partilhando e estimulado-se a participação
com o mesmo. Assim é importante que seja de todos os membros, as decisões são toma-
prestada informações aos familiares sobre o das coletivamente e não há respostas prontas
paciente e também o ambiente da UTI, pro- dividindo-se o poder e o status. Esse fato gera
porcionando um atendimento humaniza- comprometimentos da equipe e consequen-
do, tornando o ambiente menos agressivo e temente proporciona a melhora do cuidado
traumatizante (16). aos pacientes (18).
Os familiares ao entrarem na UTI se não O enfermeiro ao gerenciar sua equipe
estiverem orientados podem ficar chocados com humanismo eleva o respeito e integra-
com o cenário e saírem desesperados e as- ção dos valores humanos. O trabalhador é
sim nada contribuirão para a melhora dos visto como um indivíduo atuante no proces-
pacientes. É fundamental prepará-los para so organizacional elevando suas potenciali-
obter a sua ajuda com o paciente e também dades, tornando o labor menos rígido, maior
equipe de saúde (17). confiabilidade nas interações, proporcionan-
Com esse entendimento o enfermeiro in- do crescimento pessoal e profissional, con-
tensivista e a equipe de saúde que não esti- tribuindo para que o aumento da motivação
verem atentos para este fato, devem ater-se e do reconhecido profissional (19).
ao mesmo, visto que os familiares quando Trabalhar em equipe é importante, pois
se sentem informados e participando dos propicia a ajuda mútua e o companheirismo,
acontecimentos podem gerar benefícios para seja no momento de cuidar dos pacientes, ou
o paciente, os próprios familiares e equipe de na hora de cuidar de um colega. Ao se tra-
saúde em todos os sentidos. balhar em equipe desenvolve-se a comuni-
cação contínua, estabelece-se a cooperação,
3. Prazer no trabalho em equipe: nos de- propicia-se a democracia e a concentração
poimentos constatamos que os enfermeiros nos objetivos comuns (3).
vivenciam sentimentos de prazer ao realizar Entretanto, cada equipe é ímpar, cada
o trabalho com a equipe; o trabalho parece momento tem suas peculiaridades, cada si-
fluir com maior tranqüilidade, trazendo be- tuação ou problemas são também únicos,
nefícios para os pacientes como podemos não sendo possível uma receita ou um modo
constatar nas falas: de trabalhar em equipe igual para todos. O
E a equipe que eu trabalho, é uma equipe trabalhador em equipe está sempre diante de
muito alegre, muito animada, então é assim, obstáculos e desafios que, permanentemente,
não existe aquele clima pesado, aquele clima devem ser administrados e superados.
ruim, é um clima de alegria, é um prazer tra-
balhar com minha equipe (...) é bom para os 4. Prazer no resultado do trabalho desenvol-

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vido: as falas a seguir revelam os sentimentos também na subjetividade dos enfermeiros à


de prazer que o enfermeiro vivência quando medida que verbalizaram o prazer diante dos
têm a percepção que o seu trabalho obteve esforços do trabalho ou sucesso da execução
resultados satisfatórios, em especial quando das tarefas. Isso significa que houve resulta-
outras pessoas já não acreditavam na possi- do positivo advindo do emprego de energias
bilidade do paciente sair do quadro em que para recuperar o paciente.
se encontrava. É o que está evidenciado nas
expressões: 5. Prazer ao ser reconhecido como profissio-
(...) me dá prazer aqui na UTI é quando nal: os enfermeiros vivenciam sentimentos
eu chego aqui, vejo que o paciente saiu do de prazer ao serem reconhecidos como pro-
respirador, ouvir a voz do paciente, é uma fissionais, demonstrado nos depoimentos:
coisa que dá até arrepio de falar [ ] valeu o Tem bastante paciente que voltam para
esforço do nosso trabalho (E5). rever a gente, um simples obrigado já é tudo.
O que me dá prazer também na UTI é ver Também é prazeroso quando os colegas re-
o paciente melhorar, mesmo que às vezes o conhecem o que fizemos (E3).
índice, o percentual não seja dos mais altos, É um prazer quando retornam para nós
mas quando a gente vê progressos no pacien- principalmente os pacientes neurológicos,
te, então isso me dá bastante prazer (E6). que saem sonolentos, com déficit motor, não
A recuperação do individuo hospitalizado conseguindo verbalizar e eles voltam para
é um fator de prazer, sendo enfatizado que a conhecer onde ele esteve ali por meses co-
finalidade de qualquer trabalho é o objetivo nosco. Então isso é muito gratificante, ele re-
final do mesmo, a transformação desejada e conhece as pessoas, ele fica meio que pasmo
seu produto final (14). em saber, agradecido, isso é muito prazeroso
As mesmas autoras afirmaram que o pra- para nós (E8).
zer pela recuperação do paciente é uma ma- Quando o trabalho é reconhecido pelos
nifestação que pode ser interpretada como usuários dos serviços de saúde, pelos mem-
recompensa pelo trabalho realizado, recom- bros da equipe de enfermagem e saúde, pela
pensa não material, mas a que invade a alma instituição, pelos familiares, pela sociedade
de prazer ao ver o seu objeto transformado, em geral o trabalhador entende a sua im-
ou seja, o projeto arquitetado foi atingindo. portância como agente de saúde. Percebe o
Os enfermeiros entrevistados do presente valor e o quanto o seu labor é importante,
estudo sentiram prazer ao se depararem com reconhece que apesar da energia despendida
os pacientes recuperando-se e perceberam “valeu a pena”.
que e que foram profissionais importantes O processo de valorização do esforço e até
para que isso pudesse acontecer. o sofrimento investido para a realização do
O trabalho quando traz benefícios ao tra- trabalho, quando é reconhecido trás prazer
balhador por meio do processo organizativo, para o indivíduo, bem como proporciona o
é motivo de inspirar sentimentos de prazer, crescimento das características próprias das
ou seja, as expectativas geradas no labor pessoas (21).
quando alcançadas, desperta vivências pra- Desta maneira é fundamental que o tra-
zerosas. Ainda quando o trabalhador experi- balhador seja reconhecido e valorizado ao
menta, percebe, julga que foi útil, que serviu, desempenhar suas funções, quer seja pelos
colaborou e auxiliou vivência sentimentos pacientes, familiares, equipe de trabalho, ins-
de prazer (20). tituição e sociedade.
Vale destacar que as vivências do prazer Quando o trabalhador sente que contri-
dos entrevistados podem ter sido decorrên- buiu com o seu trabalho por meio de suas
cia da influência do binômio vida e morte e competências, habilidades, paixão e o proces-

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so de trabalho permitem a que o trabalhador o empenho que cada trabalhador investe em


explore suas potencialidades, vivenciam sen- seu trabalho são diferentes (3).
timentos de prazer. Porém, estes sentimen-
tos ainda estão correlacionado com cada in-
divíduo, com as concepções de mundo, suas CONCLUSÃO
crenças, seus valores, dentre outros (6).
O reconhecimento do trabalho quer seja
por colegas, pela sociedade, pela instituição, Por meio dos resultados deste estudo é possí-
entre outros é fator imprescindível para que vel afirmarmos que os enfermeiros vivencia-
o indivíduo obtenha identidade, continuida- ram sentimentos de prazer em seu processo
de e historização (20). de trabalho nas UTIs, mesmo sendo este um
ambiente com grande rotatividade de pa-
6. Prazer com a identificação profissional: Os cientes, sendo que a maioria das internações
enfermeiros expuseram que gostam do local é súbita ou aguda, se convive com a gravidade
que trabalham que sentem prazer, que amam dos indivíduos hospitalizados, o sofrimento
trabalhar na UTI, ou seja, há uma identifica- dos seus familiares e há convivência constan-
ção profissional com o local de trabalho con- te dos trabalhadores com a vida e morte.
forme as seguintes falas: Mesmo com todas as dificuldades que
É um prazer muito grande trabalhar na surgem no cotidiano desses profissionais o
UTI, porque eu amo isso. Não saberia traba- prazer foi manifestado quando: o enfermeiro
lhar em outro local (E7). direcionou o cuidado direto aos pacientes e
Ao escolher a profissão não significa ne- houve recuperação dos mesmos; quando seu
cessariamente trabalhar numa área que tem trabalho foi reconhecido pelos usuários do
certa inclinação. Porém, o indivíduo ao de- serviço; por trabalhar no local que gostam,
senvolver seu labor em uma área que real- propiciando-lhes a identificação como pro-
mente gosta e deseja há necessidade da res- fissional; com o resultado do seu trabalho; ao
sonância simbólica, para que seja realizado realizar o trabalho em equipe e desenvolver
com satisfação e prazer (5). ações junto aos familiares dos pacientes.
O prazer no trabalho, o bem estar do tra- Assim ao vivenciarem sentimentos de
balhador está associado à escolha do seu local prazer, os enfermeiros alcançaram realização
de labor que, por conseguinte, vinculam-se no trabalho que aconteceu de forma integral,
as características da personalidade dos mes- participativa, isto é, um trabalho que permi-
mos (21, 22). tiu ir para além das normatizações e orde-
No presente estudo acreditamos que os nações das ações. Além de atender as neces-
enfermeiros entrevistados ao verbalizarem sidades assistenciais dos pacientes, ficou ex-
que gostam de trabalhar nas UTIs é porque plícito que é permitido a esses profissionais
encontraram motivação, realização profis- ser participantes e não simples executores de
sional, abertura no processo organizativo tarefas.
do trabalho, ou seja, espaço para fazer o que Fica então revelada a importância do tra-
gostam, sentido-se realizados com sua iden- balho estar voltado não somente para os pa-
tidade profissional e pessoal. Desta forma, cientes e familiares, mas também para as ne-
o labor passou a ter significado ímpar para cessidades naturais e subjetivas do homem,
cada um deles. permitindo seu pleno desenvolvimento e
O trabalho enquanto valor de uso é a consequentemente revertendo em benefícios
construção de significado pessoal, individual aos pacientes, familiares, instituição e socie-
e intransferível, pois a maneira, a dedicação e dade.

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