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Capítulo

Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial


24 Emmanuel de A. Burdmann , José Mauro V. Júnior e Edivaldo Celso Vidal

NEFROPATIA TÓXICA Interleucina-2


Introdução Interferon-A
Diagnóstico de lesão renal nefrotóxica Fator de necrose tumoral
Nefrotoxicidade de agentes antiinfecciosos OKT3
Agentes antibacterianos Nefrotoxicidade de agentes anticancerígenos
Agentes antifúngicos Cisplatina
Agentes antivirais Carboplatina
Nefrotoxicidade do meio de contraste radiológico Metotrexate
Prevenção da nefropatia por contraste Nefrotoxicidade de peçonhas animais
Nefrotoxicidade dos antiinflamatórios não-hormonais Serpentes
IRA hemodinamicamente mediada Artrópodes peçonhentos
IRA por nefrite intersticial aguda com síndrome nefrótica NEFROPATIAS TUBULOINTERSTICIAIS
IRA com dor lombar e hematúria Introdução
IRA por necrose cortical Mecanismos de lesão tubulointersticial
Síndrome nefrótica sem IRA Nefrite intersticial aguda
Insuficiência renal crônica Manifestações clínicas
Alterações eletrolíticas Patologia
Hipertensão Tratamento
Nefrotoxicidade dos inibidores da enzima de conversão da Nefropatia tubulointersticial crônica
angiotensina e dos bloqueadores dos receptores AT1 de Introdução
angiotensina II Patologia
Nefrotoxicidade de agentes imunossupressores e Quadro clínico e laboratorial
imunomoduladores Causas de nefropatia tubulointersticial crônica
Ciclosporina A BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
Ciclosporina G ENDEREÇOS RELEVANTES NA INTERNET
Tacrolimus
capítulo 24 451

nismos de concentração urinária. Um mesmo agente


NEFROPATIA TÓXICA pode causar mais de um tipo de lesão, dependendo da
dose, duração de exposição e variações individuais de
Introdução resposta do indivíduo afetado. Os mecanismos mais fre-
qüentes de agressão renal pelas nefrotoxinas são altera-
O rim possui características anatômicas e fisiológicas ções de hemodinâmica renal e lesões estruturais tubula-
singulares, que o tornam particularmente vulnerável à res, refletindo-se em quadro clínico de insuficiência re-
ação lesiva de produtos químicos ou biológicos. Os com- nal aguda (IRA).
plexos mecanismos de transporte tubular renal deman- A participação das substâncias nefrotóxicas na gêne-
dam elevado consumo energético, fazendo com que in- se da IRA em ambiente hospitalar aumentou de forma
terferências com os sistemas enzimáticos intracelulares alarmante nas últimas décadas, acompanhando a maior
responsáveis pela geração de energia causem danos sig- oferta e o conseqüente aumento do uso de drogas, agen-
nificantes ou irreversíveis às células renais. A massa de tes químicos e agentes diagnósticos. Numa análise de 415
tecido renal representa menos do que 1% do peso corpo- casos de IRA do Serviço de Nefrologia do Hospital das
ral de um indivíduo, porém os rins recebem 25% do dé- Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
bito cardíaco em repouso. Desta forma, a extensa super- São Paulo (HC-FMUSP) no período de 1957 a 1966, ape-
fície endotelial glomerular é exposta de forma expressi- nas 4% dos pacientes apresentaram nefrotoxicidade
va às substâncias tóxicas presentes na circulação, e o pro- como fator causador da lesão renal, enquanto na década
cesso de filtração destas moléculas, geralmente pequenas, de 80 o uso de drogas foi o fator etiológico mais freqüente
causa grande oferta de toxinas por unidade de tempo ao nos pacientes com diagnóstico de IRA no mesmo hospi-
tecido renal. Além disso, os processos de metabolização tal. O perfil das drogas responsáveis pelos episódios de
renal podem desacoplar substâncias tóxicas de seus car- nefrotoxicidade também vem se alterando. A análise dos
readores protéicos ou gerar substâncias com capacidade pacientes com IRA associada a agentes nefrotóxicos do
lesiva. Na luz tubular os mecanismos de concentração HC-FMUSP no período de 1980 a 1982 mostrou que a
urinária induzem níveis extremamente elevados desses grande maioria dos casos foi relacionada a antibióticos.
agentes tóxicos, muitas vezes superiores aos encontrados Já em 1983 os agentes mais freqüentemente implicados
na circulação sistêmica. Finalmente, os mecanismos de foram os antibióticos e o contraste iodado. Finalmente,
transporte facilitam a entrada dessas substâncias do lú- em 1993, além de antibióticos e contraste, os antiinflama-
men para o interior das células tubulares. As nefrotoxi- tórios não-hormonais (AINH), os bloqueadores da enzi-
nas podem causar lesão através de diminuição do fluxo ma de conversão de angiotensina e a ciclosporina surgi-
sanguíneo renal, interagindo diretamente com a mem- ram como agentes de lesão renal em número significati-
brana celular ou através da geração intracelular de me- vo de casos.
tabólitos tóxicos ou de radicais livres de oxigênio, cau-
sando danos a estruturas intracelulares e interferindo
com mecanismos enzimáticos vitais para o funcionamen- Diagnóstico de Lesão Renal Nefrotóxica
to celular.
Na maior parte das vezes o diagnóstico de nefrotoxici-
dade é aventado somente quando o dano renal atinge pro-
Pontos-chave: porções suficientes para diminuir a diurese e/ou a filtra-
ção glomerular (FG), causando redução da depuração de
Vulnerabilidade renal a substâncias tóxicas creatinina endógena e aumento da creatinina sérica.
• Alto gasto energético Oligúria é definida como diurese menor do que 400 ml
• Fluxo sanguíneo elevado em 24 horas. Este limite arbitrário baseia-se no conceito de
• Grande área de superfície endotelial que este é teoricamente o menor volume necessário para a
• Geração de metabólitos tóxicos eliminação dos solutos produzidos por um indíviduo nor-
• Desacoplamento de substâncias das mal em um dia. No entanto, a prevalência de IRA não-oli-
proteínas plasmáticas gúrica aumentou exponencialmente nas útimas décadas,
• Mecanismos de concentração urinária em parte por aumento de IRAs causadas por substâncias
nefrotóxicas que não cursam com oligúria, como os anti-
bióticos aminoglicosídeos. Em séries de casos mais recen-
As substâncias nefrotóxicas podem acometer quais- tes de IRA, mais da metade dos pacientes são não-oligúri-
quer das estruturas renais causando lesões glomerulares, cos. Assim, a presença de diurese acima de 400 ml/24 h não
tubulares, intersticiais e vasculares. Funcionalmente, a exclui o diagnóstico de nefrotoxicidade e lesão renal em
nefrotoxicidade pode manifestar-se como queda da fil- atividade.
tração glomerular, proteinúria, alterações hidroeletrolí- A dosagem de creatinina é provavelmente o método
ticas, alterações do equilíbrio ácido-básico ou dos meca- mais utilizado para a medida da FG na prática clínica. É
452 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

um marcador pouco sensível de lesão renal, pois eleva-


se significativamente apenas quando a FG cai para valo- Pontos-chave:
res de 30 a 50% abaixo do normal. A creatinina é gerada • Diurese “normal” não afasta a possibilidade
pela reação não-enzimática da creatina e fosfocreatinina
de nefrotoxicidade
musculares, e a sua produção diária é uma fração relati-
vamente constante da quantidade total de creatina. Os
• Creatinina sérica: marcador pouco sensível
seus níveis séricos são proporcionais à massa muscular de lesão renal
do indivíduo, e portanto mulheres, indivíduos idosos ou • Cr < 1,5 mg/dl não afasta a possibilidade de
com massa muscular reduzida podem apresentar insuficiência renal
creatininas séricas pouco elevadas ou mesmo dentro da • Enzimúria tubular: muito sensível e pouco
faixa considerada “normal” na vigência de queda signi- específica
ficativa da FG. A depuração de creatinina, apesar de ser
método mais sensível e exato para a determinação da FG,
também apresenta problemas significativos na sua inter- Nefrotoxicidade de Agentes
pretação. À medida que a FG cai, a secreção tubular de
Antiinfecciosos
creatinina aumenta, fazendo com que a depuração de cre-
atinina superestime de forma importante a FG real. Além AGENTES ANTIBACTERIANOS
disso, o rim possui importante reserva funcional que, ati-
vada, pode mascarar a agressão renal até que a lesão te- Aminoglicosídeos
nha progredido de forma irreversível. Um exemplo des- Os aminoglicosídeos (gentamicina, tobramicina, amica-
ta situação é a nefrotoxicidade crônica causada pela ciclos- cina e netilmicina) são antibióticos bactericidas de uso pa-
porina A que evolui para fibrose intersticial irreversível renteral, extremamente eficazes em infecções graves cau-
na presença de depuração de creatinina estável ou mes- sadas por bactérias Gram-negativas. São compostos
mo normal. policatiônicos, de pequeno peso molecular (em torno de
Estudos experimentais e clínicos têm utilizado a do- 500 D), que se ligam muito pouco a proteínas plasmáticas
sagem de enzimas tubulares renais como marcadores de e são excretados livremente por filtração glomerular. Em
lesão renal. Embora sensível como marcador, a elevação função destas características, a sua depuração aproxima-
de enzimas urinárias é pouco específica e ainda não ob- se da de inulina. Na luz do túbulo proximal uma pequena
teve ampla aceitação na prática clínica. Alterações dos parte da carga filtrada liga-se a receptores fosfolipídicos
testes de capacidade de concentração e acidificação uri- aniônicos da membrana celular da região apical das célu-
nárias ocorrem precocemente na lesão renal nefrotóxica, las tubulares proximais e é transportada por pinocitose
mas são de determinação trabalhosa e pouco prática, di- para o seu interior. No citoplasma formam-se vesículas que
ficultando sua utilização rotineira. A excreção urinária se fundem com os lisossomos. A acidez do interior
de eletrólitos varia com a sua ingestão diária, tornando lisossomal faz com que os aminoglicosídeos assumam sua
difícil a sua interpretação. Excreções urinárias inapropri- forma catiônica, aumentando sua ligação com as camadas
adas de sódio, magnésio ou potássio em relação a níveis de fosfolípides e presumivelmente inibindo a função das
séricos e ingesta conhecidos podem indicar lesão tubu- fosfolipases A1 e A2. A interferência com o funcionamen-
lar. A análise qualitativa da urina deve sempre ser reali- to das fosfolipases altera o ciclo normal de renovação das
zada, pois apesar de pouco específica fornece informa- membranas fosfolipídicas e induz a formação de lisosso-
ções preciosas de maneira relativamente simples e pou- mos secundários contendo os chamados corpos mielóides,
co invasiva. Por exemplo, densidade urinária baixa na estruturas lamelares elétron-densas formadas por membra-
presença de desidratação ou pH urinário elevado na pre- nas densamente compactadas e dispostas concentricamen-
sença de acidose sistêmica indicam a presença de lesão te. Estes mecanismos de transporte e acumulação intrace-
tubular. Proteinúria significativa indica lesão glomeru- lular fazem com que a concentração dessas drogas no cór-
lar, aumento da presença de células tubulares ocorre na tex renal seja de 10 até 100 vezes superior à plasmática.
necrose tubular e eosinofilúria é fortemente sugestiva de Após ter ocorrido concentração do aminoglicosídeo no
nefrite intersticial. tecido renal, sua excreção é extremamente lenta, podendo
Deve-se manter em mente que os testes disponíveis para durar de dias a meses.
a detecção de nefrotoxicidade são pouco precisos e a ine- Os mecanismos pelos quais os aminoglicosídeos provo-
xistência de um método diagnóstico absoluto faz com que cam lesão renal ainda não são bem definidos, apesar de
seja necessário o uso simultâneo, precoce e dinâmico de extensamente estudados em modelos animais. Interferên-
testes diferentes. O exame mais rotineiramente emprega- cia com o funcionamento dos lisossomos, alterações mito-
do, a dosagem de creatinina sérica, é pouco sensível, e condriais, produção excessiva de radicais livres de oxigê-
valores de creatinina “normais” não excluem a possibili- nio, inibição competitiva das reações citosólicas mediadas
dade de lesão renal em atividade. por cálcio e diminuição do coeficiente de ultrafiltração glo-
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merular têm sido apontadas como fatores etiopatogênicos disfunção tubular que pode manifestar-se como poliúria e
da nefrotoxicidade destas drogas. Estudos experimentais perda da capacidade de concentração urinária, enzimúria,
indicam haver dissociação entre a acumulação tecidual do glicosúria, aminoacidúria e perdas urinárias inadequadas
aminoglicosídeo e sua nefrotoxicidade. Ratos com volume de eletrólitos causando hipomagnesemia, hipocalemia e
extracelular expandido apresentam proteção contra a que- hipocalcemia. O exame de urina é incaracterístico, às ve-
da da filtração glomerular e diminuição da acumulação zes com leucocitúria, proteinúria e cilindrúria. Com a in-
cortical renal do antibiótico. No entanto não há atenuação terrupção do uso da droga ocorre recuperação lenta da
da lesão estrutural, ocorrendo necrose tubular mesmo com função renal, que pode durar semanas e ser incompleta. Os
função renal relativamente preservada. De forma similar, aminoglicosídeos podem provocar insuficiência renal crô-
o ácido poliaspártico preserva a filtração glomerular e a nica diálise-dependente em pacientes com insuficiência
estrutura do túbulo proximal apesar de não impedir a de- renal prévia submetidos a tratamentos prolongados ou
posição maciça do aminoglicosídeo no tecido renal. Duran- doses muito elevadas destas drogas. O método mais sen-
te a administração experimental contínua, por meses, de sível para o diagnóstico precoce da nefrotoxicidade por
doses nefrotóxicas de aminoglicosídeo ocorre recuperação aminoglicosídeos é a detecção da elevação de seus níveis
da função renal na presença de concentrações corticais re- séricos “de vale”, que ocorre precocemente, antecedendo
nais elevadas do antibiótico, com histologia mostrando alterações da creatininemia.
focos de regeneração e de necrose tubular acompanhados Vários fatores de risco para o desenvolvimento de ne-
por áreas de fibrose intersticial focal. Aparentemente a frotoxicidade por aminoglicosídeos foram identificados e
captação celular da droga é necessária, mas não suficiente incluem tratamento prolongado, administrações repetidas
para o desencadeamento de toxicidade renal. da droga, depleção de volume extracelular, sexo masculi-
A lesão estrutural causada pelos aminoglicosídeos tem no, obesidade, insuficiência renal prévia, uso concomitan-
sido melhor estudada em animais de experimentação. Exis- te de outros agentes nefrotóxicos (vancomicina, cefalexi-
tem poucos estudos clínicos disponíveis e estes são difíceis na ou cefalotina, anfotericina B, ciclosporina, cisplatina,
de interpretar, já que estes antibióticos são freqüentemen- agentes de contraste radiológico, antiinflamatórios não-
te usados em doentes graves, onde podem existir outros hormonais), uso de furosemida, hipocalemia, hipomagne-
fatores lesivos ao rim e uso concomitante de outras dro- semia, acidose, icterícia, idade avançada, choque e admi-
gas nefrotóxicas. Estes estudos mostram histologia compa- nistração da droga durante o período de repouso noturno.
tível com necrose tubular aguda do tipo isquêmico ocor- Estudos experimentais demonstraram proteção renal
rendo em focos, com perda da borda em escova e vacuoli- com dose única da droga ao invés da mesma quantidade
zação de túbulos proximais. Os corpos mielóides surgem administrada em doses repetidas, expansão de volume
em tecido renal mesmo após tratamentos pouco prolonga- intravascular com cloreto de sódio, uso concomitante de
dos e não indicam obrigatoriamente nefrotoxicidade. Ou- ticarcilina, suplementação oral de cálcio, suplementação de
tras drogas catiônicas que não são nefrotóxicas, como clo-
roquina ou clorpromazina, também induzem a formação
de corpos mielóides. Desta forma, os corpos mielóides são
considerados como indicadores de nefrotoxicidade dos Quadro 24.1 Fatores de risco para a nefrotoxicidade
aminoglicosídeos somente quando acompanhados de ne- dos aminoglicosídeos
crose tubular. Experimentalmente, a gentamicina provo-
MODIFICÁVEIS
ca necrose tubular de intensidade proporcional à dosagem
empregada. O pico da lesão ocorre em torno do sétimo dia • Duração do tratamento
• Dose utilizada
de tratamento, e com a interrupção da droga ocorre rege-
• Número de doses
neração tubular. Com a administração de doses reduzidas • Horário da administração
do antibiótico observa-se recuperação tubular mesmo se o • Depleção de volume extracelular
tratamento for mantido. Existem alguns poucos relatos de • Uso concomitante de outras drogas nefrotóxicas
caso onde o uso de aminoglicosídeos foi associado ao de- • Uso de furosemida
• Hipocalemia
senvolvimento de nefrite intersticial aguda.
• Hipomagnesemia
Os aminoglicosídeos são a causa mais comum de lesão • Hipotensão
nefrotóxica em indivíduos hospitalizados. Sua estreita • Acidose
margem terapêutica induz alterações renais clinicamente
significativas em 10 a 20% dos pacientes. Em tratamentos NÃO-MODIFICÁVEIS
prolongados, acima de duas semanas, esta porcentagem é • Presença de insuficiência renal crônica
ainda maior, chegando a 50%. A forma clínica mais comum • Idade
de apresentação de sua nefrotoxicidade é IRA não-oligú- • Obesidade
rica, ao final da primeira semana de tratamento. Além da • Sexo masculino
• Icterícia
queda de filtração glomerular, os aminoglicosídeos causam
454 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

cloreto de potássio, indução de diabetes, administração de mir que todos os aminoglicosídeos podem provocar algu-
ácido poliaspártico, alcalinização urinária, uso de bloque- ma forma de lesão renal em praticamente todos os pacien-
adores de canal de cálcio, administração de hormônio ti- tes que os recebem, e portanto a monitorização contínua
reoidiano e depleção de fosfato. da função renal deve ser obrigatória com o seu uso. Se ocor-
Clinicamente, a dose utilizada, o intervalo de adminis- rer IRA, a medida mais segura é a substituição do amino-
tração da droga e a duração do tratamento são os fatores glicosídeo por outro antibiótico. Se houver necessidade de
de risco mais consistentemente relacionados à gênese de manter o antibiótico, o intervalo entre as administrações
insuficiência renal. A menor dose e o tratamento mais curto da droga deve ser aumentado, o que também é válido para
que sejam compatíveis com sucesso terapêutico são a me- pacientes com insuficiência renal prévia.
lhor forma de prevenção da insuficiência renal causada por
esses antibióticos. A contrapartida desta estratégia de tra-
tamento é o risco de utilização de doses terapeuticamente
Antibióticos Beta-lactâmicos
ineficazes. As propriedades farmacocinéticas dessas dro- PENICILINAS. Penicilinas são excretadas pelo sistema
gas levaram à formulação da hipótese de que a sua admi- tubular transportador de ácidos orgânicos e podem perma-
nistração em dose única diária manteria a eficácia bacteri- necer ligadas à membrana basal tubular. Nefrite intersti-
cial aguda tem sido relacionada ao uso de penicilinas na-
cida (que depende do pico sérico) e atenuaria a sua nefro-
turais e sintéticas (das penicilinas comercializadas no Bra-
toxicidade (que é dependente da área sob a curva, em fun-
sil, as que mais comumente podem causar esta lesão são a
ção das características do seu transporte tubular). De fato,
ampicilina e a oxacilina). Diferentes penicilinas podem
diversos autores têm demonstrado em estudos isolados e
apresentar reações de sensibilidade cruzada para este tipo
metaanálises que o uso de uma dose única diária de gen-
de lesão. A tríade “clássica” de febre, reação cutânea e eo-
tamicina, ao invés de doses fracionadas, preveniu a nefro-
sinofilia ocorre somente em 1/3 dos casos. Geralmente a
toxicidade sem inibir o efeito bactericida do antibiótico.
lesão ocorre após uma ou duas semanas de administração
Recentemente, demonstrou-se que a administração de gen-
da droga e há recuperação da função renal com a suspen-
tamicina e tobramicina para pacientes com infecções gra-
são do antibiótico, porém se este for mantido causará dano
ves durante o período de repouso noturno (da meia-noite
renal progressivo. A ocorrência de outras alterações estru-
às 7h30m da manhã) provocou maior nefrotoxicidade do
turais ou funcionais, dose-dependentes, com estas drogas
que a administração dos aminoglicosídeos no período de é extremamente rara, se é que existe. É provável que casos
atividade (8h às 23h30m). As medidas complementares de descritos clinicamente como necrose tubular aguda sejam
proteção para evitar ou atenuar a nefrotoxicidade dos na verdade nefrites intersticiais agudas não diagnosticadas.
aminoglicosídeos são relativamente óbvias: evitar deple- As doses de penicilina G devem ser reduzidas em pacien-
ção de volume extracelular, evitar hipotensão, não utilizar tes com insuficiência renal devido ao risco de neurotoxici-
concomitantemente outras drogas nefrotóxicas, corrigir os dade e convulsões.
níveis séricos de potássio, magnésio e bicarbonato. CEFALOSPORINAS. As cefalosporinas utilizadas cli-
nicamente são derivados semi-sintéticos dos antibióticos
produzidos pelo fungo Cephalosporum acremonium. São in-
Pontos-chave:
corporadas pelas células tubulares renais através do siste-
• Insuficiência renal aguda não-oligúrica ma de transporte basolateral de ácidos orgânicos e saem
• Lesão renal usualmente detectável a partir do meio intracelular através de difusão apical.
do 5.º dia de tratamento Os mecanismos de lesão renal das cefalosporinas foram
• Dosar creatinina pré-tratamento melhor estudados com a cefaloridina e a cefaloglicina, que
possuem modelos consistentes de IRA em coelhos. A ce-
• Em pacientes idosos, com insuficiência renal
faloridina tem a sua molécula modificada no citoplasma
crônica ou massa muscular reduzida,
da célula tubular, impedindo a sua secreção apical, o que
realizar depuração de creatinina pré- causa significante acúmulo intracelular da droga. No inte-
tratamento rior da célula a cefaloridina interfere com a atividade do
• Corrigir administração da droga citocromo P-450 e induz peroxidação lipídica, levando à
(aumentando o intervalo entre as doses) morte e à necrose celular. A cefaloglicina, por sua vez, in-
pela estimativa de filtração glomerular terfere com o funcionamento da maquinaria energética
• Monitorizar creatinina durante o tratamento mitocondrial, causando também necrose celular. Assim, o
• Usar as medidas de proteção disponíveis potencial nefrotóxico destas drogas parece estar ligado à
sua capacidade de acúmulo intracelular e à configuração
molecular, capaz de interferir com os mecanismos do me-
A constatação de que alguns aminoglicosídeos apresen- tabolismo da célula.
tam menor nefrotoxicidade experimental do que outros Muito da fama de nefrotoxicidade das cefalosporinas
não tem apresentado relevância clínica. É essencial assu- deve-se à cefaloridina, atualmente em desuso, que causa-
capítulo 24 455

va IRA e lesão tubular proximal dose-dependente mesmo nível terapêutico e ao mesmo tempo impedindo a forma-
quando utilizada em doses terapêuticas. Apesar de todas ção do metabólito tóxico. Como o imipenem é de excreção
as cefalosporinas serem consideradas potencialmente ne- renal, a sua dosagem deve ser reduzida em casos de insu-
frotóxicas, a prevalência de IRA causada pelos membros ficiência renal. Dosagens diárias maiores do que 1 grama
mais recentes desta classe de antibióticos é muito peque- em pacientes com filtração glomerular menor do que 15
na, indicando que eles possuem grande margem terapêu- ml/min/1,73 m2 podem causar neurotoxicidade e convul-
tica. Clinicamente, a lesão renal pode manifestar-se por sões.
quadros de NTA ou, mais raramente, com padrão de rea- Não foi descrita nefrotoxicidade com os novos compos-
ção alérgica com histopatologia característica de NIA. Nos tos desta classe, meropenem e ertapenem.
casos de NTA a droga foi usualmente empregada em pa- AZTREONAM. O aztreonam pertence à classe dos an-
cientes com infecções graves, onde coexistiam vários ou- tibióticos monobactâmicos, muito efetivos contra bactéri-
tros fatores potencialmente lesivos ao rim, tornando ques- as Gram-negativas. Esta droga parece ser bastante segura
tionável o papel das cefalosporinas como o agente isolado em relação ao desenvolvimento de toxicidade renal, não
da lesão renal. Doses elevadas de cefalosporinas de primei- havendo descrição de nefrotoxicidade tubular e/ou fun-
ra geração (cefalotina, cefalexina), uso concomitante de cional com o seu uso. Foi descrito um único caso compatí-
aminoglicosídeos e depleção de volume extracelular têm vel clinicamente com NIA num paciente recebendo aztreo-
sido considerados fatores de risco para a toxicidade des- nam.
tas drogas. As cefalosporinas de terceira e quarta geração
têm potencial nefrotóxico muito reduzido, causando ele- Glicopeptídeos
vações pouco significativas da creatinina sérica em apro- VANCOMICINA. É um antibiótico extremamente efe-
ximadamente 2% dos pacientes, tendo sido demonstrado tivo contra bactérias Gram-positivas, sendo a droga de
que a administração clínica de ceftazidima provocou que- escolha para o tratamento de infecções por estafilococos
da discreta da filtração glomerular. Recentemente, descre- resistentes à meticilina e diarréias causadas por Clostridium
veu-se nefrotoxicidade com a mudança de antibioticotera- difficile. A vancomicina é de excreção predominantemente
pia profilática para cirurgia cardíaca da associação renal e é pouco eliminada pelos métodos de diálise con-
cefotriaxona + vancomicina para cefodizima + vancomici- vencionais. Quando de sua introdução na prática clínica,
na. A nossa combinação causou IRA em 50% dos pacien- na década de 60, detectou-se nefrotoxicidade significativa
tes. Com a volta do esquema à associação cefotriaxona + em até 25% dos pacientes. Este importante efeito colateral
vancomicina, os casos de IRA desapareceram. foi atribuído a impurezas geradas durante o processo de
Deve-se lembrar que as cefalosporinas podem provocar fermentação da droga. Com a introdução de compostos
falsas elevações da creatinina sérica por interferir com a com pureza superior a 90% após 1980, a ocorrência de ne-
reação de Jaffé, utilizada em vários laboratórios para de- frotoxicidade com o uso isolado de vancomicina caiu, va-
terminação dos níveis deste marcador de função renal. riando de 0 a 25% em estudos prospectivos. Apesar de te-
rem diminuído os relatos de lesão renal e necrose tubular
aguda associados à vancomicina, esta droga deve ser con-
Pontos-chave: siderada nefrotóxica, e estudos recentes ainda detectam
elevações significativas de creatinina em até 10% dos pa-
• Evitar o uso de cefalexina ou cefalotina em
cientes recebendo o antibiótico. A combinação de vanco-
associação com aminoglicosídeos micina com aminoglicosídeos apresenta nítido sinergismo
• Cefalosporinas podem interferir com a em termos de nefrotoxicidade experimental. Clinicamen-
dosagem de creatinina te, a combinação destes antibióticos pode provocar IRA em
• Cefalosporinas de terceira e quarta geração até 35% dos casos, prevalência que é até sete vezes superi-
são muito pouco nefrotóxicas or à encontrada para a vancomicina isolada. A falta de
controles adequados na maior parte dos estudos realiza-
dos e o fato desta combinação de antibióticos ser freqüen-
CARBAPENEM. Esta nova classe de antibióticos beta- temente utilizada em pacientes com infecções graves, onde
lactâmicos, cujo primeiro membro disponível para uso clí- muitas vezes coexistem diversos mecanismos lesivos ao
nico foi o imipenem, apresenta amplo espectro de ativida- rim, torna difícil avaliar com precisão o papel da vanco-
de antibacteriana, sendo altamente efetiva contra bactéri- micina na gênese da lesão renal nestes casos. Outros fato-
as Gram-positivas, Gram-negativas e anaeróbias. No en- res que têm sido relacionados a maior incidência de nefro-
tanto, o imipenem sofre rápida inativação pela enzima toxicidade pela vancomicina são: nível sérico da droga
desidropeptidase 1 no túbulo renal. O metabólito forma- maior do que 10 mg/L (até 8 vezes mais nefrotoxicidade),
do revelou-se nefrotóxico, provocando NTA experimental. idade (nefrotoxicidade por vancomicina é raríssima em
A solução foi ligar o antibiótico a um inibidor específico crianças), duração do tratamento maior do que três sema-
da desidropeptidase, a cilastatina, potencializando o seu nas, creatinina basal elevada e desidratação. Nefrite inters-
456 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

ticial aguda por vancomicina pode ocorrer, mas é muito aguda, mas casos de necrose tubular aguda, glomerulone-
pouco freqüente. frites proliferativas crescênticas, depósitos intratubulares
TEICOPLAMIN. Este antibiótico apresenta indicações de pigmento, doença de cadeias leves e necrose de papila
terapêuticas semelhantes às da vancomicina e também é também foram descritos. Podem ocorrer alterações tubu-
eliminado pelos rins, principalmente através da filtração lares isoladas, como acidose tubular renal, glicosúria,
glomerular. Quando utilizado isoladamente apresentou uricosúria, perda urinária exagerada de potássio e diabetes
nefrotoxicidade em torno de 0,4% e, aparentemente, quan- insipidus nefritogênico. Excreção urinária de imunoglobu-
do associado a aminoglicosídeos provoca menos nefroto- linas de cadeia leve ocorre na maioria dos pacientes rece-
xicidade do que a associação vancomicina-aminoglicosíde- bendo rifampicina, mesmo com função renal normal, su-
os. Já foi associado ao surgimento de NIA após tratamen- gerindo manuseio tubular inadequado de proteínas ou
to prolongado. alterações imunológicas. Estas alterações renais usualmen-
te desaparecem com a suspensão do antibiótico, mas exis-
tem casos de insuficiência renal irreversível. Os mecanis-
Pontos-chave: mos etiopatogênicos deste complexo conjunto de efeitos co-
• Vancomicina é nefrotóxica laterais ainda não estão definidos. A detecção de anticor-
pos anti-rifampicina circulantes, a presença de descrições
• Vancomicina apresenta sinergismo de
de imunofluorescência renal positiva ao redor de túbulos
nefrotoxicidade com aminoglicosídeos
lesados e em membrana basal tubular, a ocorrência de
• Corrigir dosagem da droga pela estimativa transformação linfocitária após contato com a droga e a
de filtração glomerular excreção urinária de imunoglobulinas de cadeias leves fa-
• Monitorizar creatinina durante o tratamento lam a favor de um mecanismo imunológico. Por outro lado,
• Dar preferência a teicoplamin em pacientes os anticorpos anti-rifampicina não estão presentes em to-
com lesão renal dos os pacientes com reações adversas; pacientes com an-
ticorpos positivos podem evoluir sem complicações e a
imunofluorescência renal dos indivíduos afetados é qua-
Tetraciclinas se sempre negativa.
O efeito antianabolizante da tetraciclina pode induzir
elevação dos níveis de uréia sem alteração da filtração glo- Sulfonamidas
merular, pois os aminoácidos não utilizados para a sínte- Quando estas drogas começaram a ser utilizadas, na
se protéica serão degradados, gerando uréia. Este efeito de década de 40, sua baixa solubilidade provocava casos de
aumento de uréia não é observado com a doxiciclina, que IRA por deposição intratubular de cristais ou mesmo por
não é catabolizante. Doses muito elevadas de tetraciclina formação de cálculos, com quadros clínicos caracterizados
podem causar alterações funcionais tubulares como acido- por hematúria (micro- ou macroscópica), cristalúria,
se ou até mesmo quadros semelhantes à síndrome de Fan- oligoanúria e cólicas renais. O advento de compostos mais
coni. Tetraciclinas reduzem a excreção de carbonato de lí- solúveis em água fez com que esse tipo de lesão pratica-
tio e portanto podem causar intoxicação aguda pelo lítio. mente desaparecesse. No entanto, o uso recente de doses
Existem alguns raros casos descritos de NIA após uso de elevadas desses antibióticos no tratamento de doenças in-
tetraciclinas. Demeclociclina, utilizada no tratamento de fecciosas ligadas à síndrome da imunodeficiência adqui-
hiponatremia dilucional, pode causar redução da função rida levou ao ressurgimento dessa forma de nefrotoxicida-
renal em pacientes com cirrose hepática ou insuficiência de, pois os metabólitos dessas drogas podem precipitar em
cardíaca congestiva, possivelmente por depleção de volu- pH urinário inferior a 5,5. Estas alterações renais podem
me extracelular através da diminuição da sensibilidade ser evitadas ou revertidas com hidratação adequada e al-
tubular ao hormônio antidiurético. calinização urinária, evitando a saturação e a precipitação
desses compostos na urina.
Rifampicina SULFADIAZINA. É utilizada em conjunto com pirime-
Rifampicina é um antibiótico utilizado no tratamento de tamina no tratamento de encefalite por toxoplasma. Pode
tuberculose e de infecções estafilocócicas. IRA associada a causar IRA por precipitação intratubular ou formação de
esta droga tem ocorrido quando a terapia é interrompida cálculos radiotransparentes do seu metabólito primário,
por dias ou mesmo meses e reiniciada, embora alguns pa- acetilsulfazina. Pode também provocar nefrite intersticial
cientes tenham apresentado lesão renal durante tratamento aguda.
contínuo. O quadro clínico é peculiar, com dor lombar, SULFAMETOXAZOL/TRIMETOPRIM. Quando utili-
oligúria ou anúria de início abrupto, hematúria microscó- zado em doses elevadas no tratamento de infecção pulmo-
pica e hipertensão associadas a fenômenos sistêmicos como nar por Pneumocystis carinii pode também provocar lesão
febre, náusea e vômitos, diarréia, cefaléia e mialgia. Histo- renal por cristalúria e formação de cálculos a partir de seu
logicamente a lesão mais freqüente é nefrite intersticial metabólito pouco solúvel. Causa com maior freqüência
capítulo 24 457

IRA por reações de hipersensibilidade com diagnóstico his- mocystis carinii. IRA tem complicado de 25 até 95% dos tra-
tológico de nefrite intersticial aguda, às vezes com a pre- tamentos por via endovenosa e muito raramente os trata-
sença de granulomas não-caseosos. O trimetoprim pode mentos por aerossol. Apesar de sua excreção renal ser re-
causar elevação da creatininemia e hipercalemia na presen- duzida, a pentamidina acumula-se no tecido renal após
ça de filtração glomerular normal por interferir com pro- múltiplas doses. A IRA, geralmente não-oligúrica, costu-
cessos tubulares de secreção de creatinina e transporte de ma ocorrer após a primeira semana de tratamento e pode
potássio. ser grave o bastante para necessitar de diálise. O exame de
urina pode mostrar leucocitúria, hematúria e proteinúria
com formação de cilindros. A interrupção do uso da dro-
Pontos-chave: ga associa-se a melhora progressiva da função renal. O
Prevenção da nefrotoxicidade das mecanismo de nefrotoxicidade da pentamidina é desco-
nhecido. Além de queda da filtração glomerular, a droga
sulfonamidas
induz lesão tubular, provocando quadros clínicos de hipo-
• Manter hidratação adequada calcemia, hipomagnesemia com fração de excreção de
• Alcalinizar a urina magnésio elevada e hipercalemia.

Quinolonas Dapsona
Esta droga, utilizada profilaticamente contra Pneumocys-
Esta classe de antibióticos (norfloxacin, ciprofloxacin,
tis carinii, é causa rara de lesão nefrotóxica. Casos de IRA
ofloxacin, pefloxacin, levofloxacin, etc.) vem sendo bastan-
foram descritos associados a doses maciças da droga, a
te utilizada devido ao seu amplo espectro e flexibilidade
necrose de papila e a hemólise intravascular.
de administração, pois pode-se iniciar o tratamento por via
parenteral e prossegui-lo por via oral. Experimentalmen-
te as quinolonas podem causar lesão renal através de pre-
AGENTES ANTIFÚNGICOS
cipitação urinária da droga e/ou metabólitos com magné- Anfotericina B
sio e proteínas causando obstrução intra-renal e processo É um antibiótico produzido a partir do Streptomyces
inflamatório na parede tubular. No entanto, esta forma de nodosus, que age através da formação de complexos com
nefrotoxicidade é clinicamente rara, possivelmente porque as moléculas de esterol na membrana celular dos fungos,
a precipitação de cristais da droga ocorre em urina alcali- aumentando a sua permeabilidade e causando seu rompi-
na, dificilmente existente em humanos. Mesmo quando mento. Desde a sua introdução, em 1950, permanece como
cristalúria foi induzida em voluntários normais através de o mais efetivo agente antifúngico disponível. Tem grande
alcalinização urinária, não se evidenciaram efeitos adver- relevância clínica atual, pois a partir da década de 80 hou-
sos sobre a função renal. Por outro lado, casos de nefrite ve aumento significativo da incidência de infecções intra-
intersticial aguda têm sido descritos em pacientes receben- hospitalares por fungos graças a doenças como a síndro-
do ciprofloxacin e em pelo menos um paciente recebendo me da imunodeficiência adquirida e ao incremento do
norfloxacin. Surgimento de vasculites também tem sido número de pacientes imunossuprimidos por causa de
associado às quinolonas, e existem relatos de casos de vas- transplantes de órgãos e uso de quimioterapia.
culite renal após uso de ciprofloxacin ou ofloxacin. As mesmas propriedades que a tornam tão efetiva con-
tra os fungos fazem com que a anfotericina seja tóxica para
Polimixinas diversos tecidos, incluindo o rim. Os mecanismos fisiopa-
togênicos da nefrotoxicidade da anfotericina são múltiplos.
Esta classe de drogas é representada pela polimixina B
A droga liga-se às moléculas de esterol das células epiteli-
e pelo colistin (polimixina E). São antibióticos utilizados
ais, aumentando a sua permeabilidade a água e solutos,
por via parenteral quase exclusivamente para tratamento
provocando alterações estruturais e funcionais. Experimen-
de bactérias Gram-negativas multirresistentes, especial-
talmente causa vasoconstrição sistêmica e da arteríola afe-
mente Pseudomonas. Os efeitos colaterais mais importan-
rente, que parece ocorrer independentemente de ativação
tes destas drogas são nefrotoxicidade e neurotoxicidade,
do feedback túbulo-glomerular. Esta ação vascular é endo-
havendo relato de IRA em aproximadamente 20% dos
télio-independente e cálcio-dependente e pode ser bloque-
pacientes tratados. A histologia renal mostra necrose tu- ada por teofilina, pelo peptídeo atrial natriurético e por blo-
bular aguda ou pode ser normal. Mesmo após a interrup- queadores do canal de cálcio. Expansão com cloreto de
ção do antibiótico pode continuar a haver queda da filtra- sódio em ratos tratados com anfotericina previne as alte-
ção glomerular por aproximadamente uma semana. rações glomerulares mas não as tubulares, indicando exis-
tirem mecanismos de nefrotoxicidade diferentes para as
Pentamidina células vasculares e tubulares.
Pentamidina, por via endovenosa ou por aerossol, é uti- Nefrotoxicidade ocorre em até 80% dos pacientes trata-
lizada no tratamento de pneumonias causadas por Pneu- dos com anfotericina. A lesão é dependente tanto da dose
458 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

diária quanto da dose acumulada da droga. Doses cumu- cebendo anfotericina é a expansão de volume extracelular.
lativas maiores do que 2 a 3 gramas provocam invariavel- Estudos clínicos mostraram prevenção, e mesmo recupera-
mente disfunção renal. Outros fatores de risco associados ção, da queda da filtração glomerular induzida por anfote-
a maior nefrotoxicidade são idade avançada, sexo mascu- ricina com o uso de suplementação de cloreto de sódio, ge-
lino, obesidade, insuficiência renal crônica, uso concomi- ralmente por via endovenosa. Com os dados atualmente dis-
tante de outras drogas nefrotóxicas (especialmente ciclos- poníveis é razoável propor, desde que as condições clínicas
porina e amicacina), uso simultâneo de diuréticos, deple- do paciente permitam, a administração diária de 150 mEq de
ção salina, hipocalemia e hipomagnesemia. A anfoterici- cloreto de sódio (1 litro de solução de cloreto de sódio a 0,9%),
na causa lesão tubular direta (perda da capacidade de con- começando um dia antes ou no dia do início do tratamento
centração e acidificação urinárias e perda urinária excessi- com anfotericina, como medida básica de prevenção. Esta
va de eletrólitos) e alterações da hemodinâmica renal (au- manobra, no entanto, não previne as alterações tubulares, e
mento da resistência vascular renal, queda da filtração glo- pacientes recebendo solução salina apresentaram hipocale-
merular e do fluxo plasmático renal). Clinicamente a ne- mia mais pronunciada do que pacientes controle.
frotoxicidade manifesta-se por poliúria, hipocalemia, hipo- Outra forma possível para minimizar a nefrotoxicida-
magnesemia, acidose tubular distal e por insuficiência re- de da anfotericina é a manipulação das formulações far-
nal aguda não-oligúrica levando à queda da filtração glo- macológicas para sua administração. A anfotericina é ex-
merular. O quadro geralmente manifesta-se após alguns tremamente hidrófoba e o veículo normalmente utilizado
dias do início do uso da droga, porém pode ocorrer após na preparação da droga, o deoxicolato de sódio, tem pro-
semanas de tratamento. O exame de urina é pouco carac- priedades nefrotóxicas. Trabalhos clínicos e experimentais
terístico, podendo apresentar hematúria, leucocitúria, cé- mostraram menor nefrotoxicidade hemodinâmica e tubu-
lulas tubulares, proteinúria e cilindros. O quadro histoló- lar quando a anfotericina foi diluída em soluções de lípi-
gico é de necrose tubular aguda tóxica com dilatação tu- des utilizadas para nutrição parenteral ao invés de soro
bular, necrose e calcificação dos túbulos proximais e dis- glicosado. Na mesma linha de raciocínio, desenvolveram-
tais e vacuolização inespecífica de pequenas e médias ar- se três novas formulações comerciais com o intuito de
térias e arteríolas. As alterações de função renal são usual- melhorar a toxicidade sem perda de eficácia: anfotericina
em complexo lipídico, anfotericina em dispersão coloidal
mente reversíveis com a suspensão do medicamento. Esta
e anfotericina em preparação lisossomal. As três prepara-
melhora pode demorar meses, especialmente se doses cu-
ções parecem ser menos tóxicas do que a formulação con-
mulativas maiores do que 4 gramas forem empregadas.
vencional do antibiótico, mas apresentam custo expressiva-
Insuficiência renal crônica já foi descrita em pacientes sub-
mente mais elevado. Das três, é a preparação lisossomal que
metidos a repetidas exposições à anfotericina.
reuniu o maior número de evidências comprovando signi-
Considerando-se a alta prevalência clínica de nefrotoxi-
ficativa redução da nefrotoxicidade (tanto a nível de creati-
cidade com esta droga, a procura de medidas de proteção
nina quanto a nível de potássio) sem prejuízo da eficácia.
tornou-se obrigatória. O uso de manitol ou de furosemida
em pacientes não foi efetivo e a eficácia clínica dos bloquea-
dores de canal de cálcio não foi comprovada. A manobra de Pontos-chave:
proteção comprovadamente mais eficaz para pacientes re-
• Nefrotoxicidade depende da dose diária e
da dose total
• Causa hipocalemia, hipomagnesemia,
Quadro 24.2 Fatores de risco para a nefrotoxicidade acidose e poliúria
por anfotericina • Expansão salina previne queda da filtração
glomerular, mas não a hipocalemia
MODIFICÁVEIS
• Existem fatores de risco modificáveis
• Dose diária elevada • Dissolução em lípides pode atenuar a
• Dose cumulativa elevada
• Depleção salina nefrotoxicidade
• Uso simultâneo de diuréticos • Preparação lisossomal é menos nefrotóxica,
• Uso simultâneo de outras drogas nefrotóxicas porém cara
• Hipocalemia
• Hipomagnesemia

NÃO-MODIFICÁVEIS AGENTES ANTIVIRAIS


• Idade avançada Aciclovir e Ganciclovir
• Sexo masculino Aciclovir é um nucleosídeo análogo da guanosina que
• Insuficiência renal crônica é fosforilado no interior da célula e inibe de forma seletiva
• Obesidade
a DNA-polimerase. É utilizado no tratamento de infecções
capítulo 24 459

por vírus da varicela zoster e herpes simples, principalmen- Foscarnet


te em doentes imunossuprimidos. A droga é excretada É um agente antiviral utilizado por via endovenosa em
inalterada pelos rins, em parte através da filtração glome- infecções por citomegalovírus em pacientes imunossupri-
rular e principalmente através de secreção tubular proxi- midos. Pode ser usado localmente para tratamento de her-
mal. A dosagem dos níveis teciduais de aciclovir mostrou pes genital. Age inibindo a DNA polimerase em vírus her-
que a sua concentração em tecido renal é até 10 vezes su- pes, a RNA polimerase dos vírus influenza e a transcrip-
perior à plasmática. Nefrotoxicidade tem ocorrido em 12 tase reversa dos retrovírus. A droga não é metabolizada,
a 16% dos pacientes tratados com este agente antiviral, depositando-se no esqueleto e sendo excretada de forma
manifestando-se geralmente como IRA não-oligúrica que inalterada na urina. Foscarnet é extremamente nefrotóxi-
se instala no primeiro ou segundo dia de tratamento. Po- co, causando IRA em até 66% dos pacientes tratados. O fato
dem ocorrer cólica renal, náuseas e vômitos, hematúria e de ser utilizado em doentes graves, muitas vezes receben-
leucocitúria. Embora alguns pacientes tenham necessita- do administração concomitante de outros agentes nefro-
do de diálise, o quadro é geralmente reversível com a in- tóxicos, poderia explicar em parte a sua alta taxa de nefro-
terrupção do uso da droga e hidratação do paciente. A toxicidade. No entanto, em um estudo retrospectivo envol-
ocorrência de lesão renal parece relacionada à dose, velo- vendo 56 pacientes demonstrou-se que 40% dos indivídu-
cidade e via de administração da droga, ao estado de hi- os que desenvolveram IRA com foscarnet não estavam
dratação e função renal prévia do paciente, bem como ao utilizando outros agentes nefrotóxicos, confirmando o seu
uso concomitante de outros agentes nefrotóxicos. Infusões alto índice de nefrotoxicidade. A lesão renal costuma ma-
rápidas, endovenosas, de dosagens maiores do que 500 nifestar-se por elevação dos níveis de uréia e creatinina
mg/m2, níveis séricos superiores a 20 mg/ml e depleção durante a primeira semana de tratamento, e pode evoluir
de volume intravascular são os fatores de risco mais im- para IRA grave, necessitando de diálise, em 10 a 15% dos
portantes para a IRA causada pelo aciclovir. A patogêne- pacientes. Foscarnet causa hipomagnesemia, e acidose tu-
se da lesão renal ainda não está bem determinada. A baixa bular renal e quadros de extrema poliúria (7 a 8 litros/dia)
solubilidade da droga e a presença de cristalúria (cristais já foram descritos, indicando lesão tubular. A interrupção
birrefringentes em forma de agulha) em pacientes tratados da droga faz com que ocorra melhora total ou parcial da
com aciclovir levou à hipótese de que a nefrotoxicidade seja função renal, o que pode demorar até meses. Os poucos
causada por precipitação intraluminal da substância em resultados anatomopatológicos disponíveis mostram ne-
ductos coletores renais. Infelizmente, descrições histológi- crose tubular aguda grave ou fibrose intersticial e deposi-
cas da lesão são raras e não comprovaram de forma defini- ção de cristais no tufo glomerular. A etiopatogenia da dis-
tiva a presença de cristais obstruindo a luz tubular. Traba- função renal causada pelo foscarnet não está esclarecida.
lhos experimentais mostraram que o aciclovir pode causar Como ocorre com outros agentes nefrotóxicos, desidrata-
insuficiência renal associada a alterações tubulares proxi- ção, insuficiência renal prévia e uso concomitante de ou-
mais e distais. A droga causou poliúria, fosfatúria e hipo- tras drogas lesivas ao rim potencializam a ocorrência de
fosfatemia, perda urinária aumentada de sódio e potássio e IRA por foscarnet. Em um estudo prospectivo a adminis-
resistência à ação do hormônio antidiurético, sugerindo que tração de 2,5 litros/dia de cloreto de sódio antes e durante
a gênese da IRA causada por aciclovir deva ser bem mais a administração da droga reduziu drasticamente a ocorrên-
complexa do que simples obstrução intratubular. A preven- cia de nefrotoxicidade.
ção clínica da lesão deve ser feita através de hidratação ade-
quada antecedendo o uso da droga e evitando-se infusões Inibidores da Protease
endovenosas rápidas (em menos de 60 minutos). Estas drogas assumiram grande importância devido ao
O ganciclovir é um agente estruturalmente similar ao seu sucesso na terapêutica de pacientes portadores da sín-
aciclovir, mais efetivo contra citomegalovírus, que tem drome da imunodeficiência adquirida. Existem quatro ini-
demonstrado nefrotoxicidade bastante reduzida. bidores da protease aprovados para uso clínico: indinavir,
ritonavir, saquinavir e nelfinavir. Destes, pelo menos dois,
Cidofovir o indinavir e o ritonavir, têm quadros de nefrotoxicidade
É um nucleosídeo análogo da citosina ativo contra ví- relevante descritos.
rus herpes e que tem sido usado no tratamento de retinite Indinavir é o inibidor de protease mais comumente uti-
por citomegalovírus em pacientes com síndrome da imu- lizado. Aproximadamente 20% da droga é excretada de
nodeficiência adquirida. É excretado, de forma intacta, por forma inalterada na urina. O sal de indinavir é muito pou-
filtração glomerular e secreção tubular. O seu maior efeito co solúvel em água, fazendo com que haja precipitação
colateral é nefrotoxicidade dose-dependente. A droga pro- intra-renal ou urinária, com formação de cristais. Esta cris-
voca elevação da creatinina, proteinúria e síndrome de talúria pode ser assintomática ou apresentar-se clinicamen-
Fanconi. A sua toxicidade pode ser atenuada por adminis- te como dor lombar ou no flanco, litíase renal, cólica
tração simultânea de solução salina e probenicida, que blo- nefrética ou disúria e urgência miccional. Os cálculos de
queia a sua secreção tubular. indinavir não foram visualizados em radiografias abdomi-
460 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

nais ou tomografias computadorizadas em aproximada- mecanismos aventados para a sua patogênese são altera-
mente metade das vezes. IRA oligúrica (associada ou não ções hemodinâmicas, lesão das células tubulares e obstru-
a cálculos obstrutivos), elevação de creatinina, nefrite in- ção intraluminal. A administração de contraste induz res-
tersticial e proteinúria também têm sido observadas em posta bifásica na vasculatura renal. Há vasodilatação pre-
pacientes utilizando esta droga. Biópsias renais desses ca- coce e fugaz, seguida por vasoconstrição prolongada, que-
sos revelaram fibrose e nefrite intersticial, atrofia tubular, da do fluxo plasmático renal e da FG. Este fenômeno pa-
preenchimento da luz tubular por cristais e hipercelulari- rece ser dependente do íon cálcio, pois pode ser bloquea-
dade mesangial. É provável que a etiopatogenia da lesão do por bloqueadores de canal de cálcio mas não por alfa-
esteja ligada à precipitação da droga no parênquima renal. bloqueadores. O sistema das prostaglandinas também
O fator de risco mais importante para a nefrotoxicidade do pode estar envolvido: estudos experimentais identificaram
indinavir é obviamente desidratação. Pacientes tratados diminuição no nível de prostaglandinas vasodilatadoras,
com este inibidor de protease devem ser orientados a be- e a vasoconstrição é agravada pela indometacina. Outros
ber 1 a 2 litros de fluido por dia, previamente à ingestão possíveis mediadores são a adenosina, pois teofilina pre-
da droga, para prevenção da lesão renal. vine a vasoconstrição induzida pelo contraste, e liberação
Nefrotoxicidade também foi descrita com o ritonavir, aumentada de endotelina, que tem sido demonstrada tan-
ocorrendo precocemente (até três dias após a introdução to experimental como clinicamente após o uso de contras-
do medicamento) e manifestando-se por elevação de crea- te. Trabalhos recentes mostraram potencialização da nefro-
tinina em diversos pacientes e pelo menos um caso de IRA toxicidade do contraste através do bloqueio da formação
dependente de diálise. Os mecanismos etiopatogênicos e de óxido nítrico ou proteção com o uso de L-arginina em
a histologia desta lesão renal são ainda desconhecidos. modelos experimentais. Os meios de contraste podem in-
duzir alterações reológicas em hemácias, induzindo a sua
agregação e potencializando a queda de fluxo sanguíneo
Nefrotoxicidade do Meio de Contraste a nível de microcirculação. As evidências de lesão tubular
Radiológico direta são a presença de enzimúria em pacientes e animais
de experimentação e as perturbações na respiração celu-
Meios de contraste iodado são amplamente utilizados lar em modelos in vitro, induzidas pelo contraste. Outra
em diversos procedimentos radiológicos, como angiogra- forma de lesão tubular seria a decorrente da precipitação
fias, urorradiologia e tomografias computadorizadas. A intraluminal de proteínas de Tamm-Horsfall, de cristais de
incidência da nefrotoxicidade atribuída ao seu uso vai de oxalato ou de urato após a infusão de meio de contraste.
0 a 90%. Esta enorme variação deve-se a particularidades A alteração estrutural renal provocada pelo contraste é
inerentes à população estudada, a diferenças na definição mal caracterizada, devido à ausência de estudos anatomo-
de lesão renal, ao intervalo de tempo transcorrido entre o patológicos adequados. Vacuolização citoplasmática de
uso do contraste e o estudo da função renal e à sensibili- células tubulares proximais (“nefrose osmótica”) foi encon-
dade dos métodos usados para avaliar as alterações renais. trada retrospectivamente em 20% das biópsias de pacien-
Considerando-se que aproximadamente 10 milhões de tes submetidos a contraste iodado de alto poder osmótico.
procedimentos com o uso de contraste intravascular são Esta alteração estava presente tanto em pacientes com fun-
realizados anualmente nos Estados Unidos, mesmo uma ção renal rebaixada como naqueles com função renal nor-
incidência de 0,1% significaria 10.000 casos de nefropatia mal, e portanto não parece ser específica para a nefrotoxi-
por contraste/ano. O estudo deste problema pela óptica do cidade do contraste. Mais recentemente, foi descrita tam-
universo de pacientes com queda aguda da função renal bém após administração de contraste de baixa osmolalida-
mostra que o uso de contraste tem sido relacionado como de. Lesões compatíveis com necrose tubular aguda já fo-
fator etiopatogênico em 10 a 15% dos casos de IRA intra- ram encontradas em pacientes com nefropatia por contras-
hospitalar. De fato, a análise dos pacientes atendidos na te, e necrose da porção espessa ascendente medular da alça
década de 90 pelo Grupo de IRA do HC-FMUSP revelou de Henle foi descrita em animais submetidos à infusão de
que o contraste, isoladamente ou em associação com ou- meio de contraste.
tras drogas, foi responsável por aproximadamente 9% de A incidência da nefropatia por contraste está intima-
todos os casos de IRA atendidos e por aproximadamente mente ligada à presença de fatores de risco para o seu de-
25% dos casos de IRA causada por agentes nefrotóxicos. senvolvimento. Dentre esses, o mais importante é, sem
A fisiopatologia da nefrotoxicidade por contraste é ain- dúvida, insuficiência renal prévia. O risco de desenvolvi-
da mal definida. O rim normal é extremamente resistente mento de nefropatia está diretamente correlacionado ao
à sua ação lesiva, e modelos animais foram obtidos ape- grau de insuficiência renal, isto é, quanto menor a função
nas quando outros mecanismos de agressão renal, como renal basal, maior a incidência de nefrotoxicidade. Diabe-
insuficiência cardíaca, desidratação, hipercolesterolemia tes também tem sido considerado um fator de risco inde-
ou uso de indometacina, foram somados à administração pendente para a nefropatia por contraste. No entanto, es-
da droga. A lesão parece ser multifatorial, e os principais tudos prospectivos não encontraram maior incidência de
capítulo 24 461

nefrotoxicidade em grupos de pacientes diabéticos com patia por contraste. Por outro lado, a especificidade do
função renal normal quando comparados a indivíduos não- nefrograma permanente para o diagnóstico de nefropatia
diabéticos. Por outro lado, o risco de nefrotoxicidade e a por contraste é limitada, com aproximadamente 20% de
gravidade da lesão renal são nitidamente maiores em dia- resultados falso-positivos. A intensidade da lesão renal
béticos com função renal rebaixada. Em indivíduos diabé- causada pelo contraste está relacionada à presença de fa-
ticos com insuficiência renal leve a moderada a incidência tores de risco, especialmente à função renal basal do indi-
de nefropatia por contraste é de 9 a 40%, e em pacientes víduo. Indivíduos com função renal pré-contraste normal
diabéticos com insuficiência renal grave pode chegar até a ou pouco alterada podem apresentar quedas da filtração
90%. Além disso, estes pacientes apresentam quedas da FG glomerular de até 30%, com elevações discretas ou mode-
mais intensas para qualquer nível de elevação de creatini- radas da creatinina sérica, sem oligúria, necessidade de
na pré-contraste do que pacientes não-diabéticos. Outros diálise ou outras repercussões clínicas. Em trabalho reali-
fatores de risco que têm sido associados ao desenvolvimen- zado pelo Grupo de IRA do HC-FMUSP, observou-se
to de nefrotoxicidade pelo contraste são idade avançada, queda de aproximadamente 20% na FG de pacientes com
depleção de volume intravascular, insuficiência cardíaca, depuração de creatinina basal de 82 ± 39 ml/min (média
infusão de volume de contraste maior do que 125 ml, ex- ± desvio padrão) 72 horas após uso de contraste, com com-
posição repetida ao contraste, uso concomitante de outras pleta normalização após uma semana. Por outro lado,
drogas nefrotóxicas, proteinúria, hiperuricemia, hepatopa- pacientes com déficit moderado a grave da função renal
tia e mieloma múltiplo. basal, e particularmente indivíduos diabéticos com grau
O quadro clínico da nefropatia por contraste varia de avançado de lesão renal, podem desenvolver insuficiên-
alterações leves na função renal a IRA dependente de di- cia renal grave, oligúrica e diálise-dependente. Esta le-
álise. A lesão manifesta-se por elevação da creatinina sé- são pode ser irreversível (na nossa casuística isto tem
rica 48 a 72 horas após a injeção do contraste, com volta ocorrido em aproximadamente 4% dos pacientes), deter-
aos valores basais entre o 7.º e o 10.º dia pós-exposição. minando a inclusão do paciente em programa crônico de
Casos de IRA prolongada, com duração de 2 a 4 semanas, diálise.
podem ocorrer. O exame de urina “típico” tem células do
epitélio tubular, cilindros granulosos e ocasionalmente PREVENÇÃO DA NEFROPATIA POR
cristais de oxalato de cálcio ou de urato. A fração de ex- CONTRASTE
creção de sódio pode ser baixa (< 1%), assim como a con- Inúmeras medidas têm sido propostas para a preven-
centração urinária de sódio. Em condições normais de ção da nefrotoxicidade por contraste. A mais óbvia, e fre-
função renal o nefrograma deve ser mínimo ou ausente 6 qüentemente esquecida, é a sua não-utilização. Em paci-
horas após a infusão do meio de contraste. A persistência entes de alto risco os exames contrastados devem ser subs-
de nefrograma 24 a 48 horas após a administração de con- tituídos, sempre que possível, por outros métodos diagnós-
traste é um indicador sensível para a ocorrência de nefro- ticos. Neste sentido, é vital a identificação adequada des-
tes pacientes e o questionamento da real necessidade e
utilidade do exame. É importante lembrar que pacientes
com pouca massa muscular podem ter FG consideravel-
Quadro 24.3 Fatores de risco para a mente rebaixada na presença de valores de creatinina sé-
nefrotoxicidade por contraste rica “normais”.
É absolutamente essencial assegurar-se de que indiví-
DEFINIDO
duos de risco para nefrotoxicidade pelo contraste estejam
• Insuficiência renal prévia convenientemente hidratados antes da realização do exa-
me. Entre as medidas ativas de prevenção da nefropatia por
PROVÁVEIS
contraste a mais consistentemente efetiva do ponto de vis-
• Diabetes ta clínico é a expansão do volume extracelular. Esta expan-
• Desidratação são deve ser feita com solução salina (50 a 100 ml de NaCl
• IRA por contraste prévia
0,9% por hora), deve ser iniciada ao redor de 12 horas an-
• Mieloma
• Quantidade do contraste tes do procedimento e deve ser mantida por aproximada-
• Insuficiência cardíaca mente 12 horas após a infusão do contraste. O objetivo
desta expansão é tanto evitar a nefrotoxicidade como
POSSÍVEIS minimizá-la ao máximo em pacientes de alto risco, evitan-
• Idade do a necessidade de diálise ou a instalação de lesão renal
• Vasculopatia irreversível. Outras medidas universalmente preconizadas
• Proteinúria para pacientes de alto risco são a utilização da menor quan-
• Hiperuricemia
tidade possível de contraste, evitar a exposição repetida em
• Hepatopatia
intervalos de tempo curtos ou enquanto a creatinina não
462 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

retornar aos seus valores basais e suspender a utilização Nefrotoxicidade dos Antiinflamatórios
de drogas nefrotóxicas com potencial de causar alterações
hemodinâmicas renais, como antiinflamatórios não-hor- Não-hormonais
monais, ciclosporina, etc. A alta eficácia dos antiinflamatórios não-hormonais
Os novos contrastes não-iônicos, de baixa osmolalida- (AINHs) como agentes analgésicos e anti-reumáticos faz
de, causam indubitavelmente menos reações alérgicas e com que estas drogas estejam entre as mais largamente
alterações cardiovasculares. A sua eficácia em relação à utilizadas no mundo nos dias de hoje. Calcula-se que apro-
redução da incidência de nefrotoxicidade foi demonstra- ximadamente 50 milhões de pessoas tomem algum tipo de
da de maneira significativa apenas em pacientes diabéti- AINH por dia nos Estados Unidos. Os efeitos colaterais
cos com insuficiência renal prévia. mais comuns destas drogas são a nível gastrointestinal,
A manutenção de alto fluxo urinário através do uso de porém a grande disseminação de seu uso fez com que os
furosemida e/ou manitol é outra medida profilática que seus efeitos nefrotóxicos também se tornassem evidentes.
tem sido recomendada. No entanto, trabalhos prospecti- Em uma série de 393 pacientes com IRA seguidos pelo
vos bem conduzidos não só não demonstraram proteção Grupo de IRA do HC-FMUSP, os AINHs estiveram en-
com o uso de diuréticos, como até mesmo encontraram pi- volvidos na etiopatogenia da lesão renal em pelo menos
ora de função renal em pacientes que os utilizaram. A uti- 6% dos casos. Trabalhos epidemiológicos bem conduzi-
lização destas drogas pode ser deletéria se ocorrer desidra- dos demonstraram que indivíduos tomando AINH têm
tação por diurese excessiva associada a reposição volêmi- risco significativamente aumentado para internação por
ca inadequada, e o seu uso em associação com contraste IRA. Estas drogas podem determinar diferentes tipos de
está contra-indicado. lesão renal, compreendendo desde alterações funcionais
Existem também estudos clínicos e experimentais mos- até lesões estruturais irreversíveis em tecido renal (v.
trando proteção contra a nefrotoxicidade do contraste atra- Quadro 24.4).
vés do uso prévio ou simultâneo de dopamina, bloquea-
dores dos canais de cálcio (nifedipina, nitrendipina), anta-
gonistas da adenosina (teofilina), fator atrial natriurético,
prostaglandina E1 por via endovenosa, L-arginina e N-ace- Quadro 24.4 Lesões renais possíveis causadas por
tilcisteína por via oral. Em um estudo clínico recente o uso antiinflamatórios não-hormonais
de bloqueadores dos receptores de endotelina em pacien- • IRA mediada por vasoconstrição renal
tes com insuficiência renal crônica agravou, ao invés de • Nefrite intersticial aguda acompanhada por síndrome
melhorar, a nefrotoxicidade induzida pelo contraste. Ten- nefrótica
tativas de reduzir nefrotoxicidade em pacientes com lesão • Dor lombar e hematúria
renal prévia através de retirada do meio de contraste por • Necrose cortical
• Síndrome nefrótica sem IRA
hemodiálise imediatamente após o seu uso não obtiveram • Necrose de papila
resultados favoráveis consistentes. • Insuficiência renal crônica
• Retenção de sódio
• Hipercalemia
Pontos-chave: • Hipertensão

• Creatinina eleva-se após 48 a 72 horas do


uso do contraste
• Fator de risco melhor definido: insuficiência IRA HEMODINAMICAMENTE MEDIADA
renal prévia É a manifestação de nefrotoxicidade mais comumente
• Insuficiência renal prévia mais diabetes: associada aos AINHs. Está ligada à capacidade de bloqueio
aumenta o risco de nefrotoxicidade da ciclooxigenase e conseqüente diminuição da síntese
• Em pacientes de alto risco: considerar o uso renal de prostaglandinas, que é comum a todos os diferen-
tes AINHs. Em condições normais de volemia e fluxo san-
de exames sem contraste
guíneo renal, as prostaglandinas têm participação reduzi-
• Melhor medida preventiva: expansão com
da na manutenção da função renal. No entanto, quando
solução salina substâncias vasoconstritoras intra-renais como angioten-
• Contraste não-iônico: menos sina II, catecolaminas e hormônio antidiurético são libera-
nefrotoxicidade em diabéticos com das, a produção de prostaglandinas vasodilatadoras, par-
creatinina elevada ticularmente PGI2 e PGE2, torna-se essencial para a mo-
• Não usar diuréticos para prevenção da dulação do tônus vascular renal e adequação da filtração
nefrotoxicidade glomerular. Nesta situação, o bloqueio da síntese de pros-
taglandinas pelos AINHs pode resultar em quedas dra-
capítulo 24 463

máticas e abruptas da função renal, que se manifestam cli- 20 AINHs diferentes foram associados a episódios de ne-
nicamente como IRA. frite intersticial aguda (NIA), e é provável que esta seja uma
As situações de risco para o desenvolvimento desta for- característica comum a esta classe de drogas. Proteinúria
ma de nefrotoxicidade por AINHs podem ser divididas nefrótica costuma ocorrer em mais de 80% desses pacien-
esquematicamente em dois grandes grupos. No primeiro, tes, tendo sido relacionada com maior freqüência ao uso
os episódios de aumento de atividade vasoconstritora es- de fenoprofen, naproxen e ibuprofen. Já existem relatos de
tão ligados a circunstâncias onde o volume sanguíneo efe- casos associados aos novos inibidores específicos da COX2,
tivo absoluto ou relativo está diminuído. Enquadram-se celecoxib e rofecoxib. Quando IRA e proteinúria maciça
nesta categoria os pacientes com hemorragias, hipovole- desenvolvem-se concomitantemente em pacientes toman-
mias de causas diversas (diarréia, vômitos, excesso de in- do AINHs, deve-se sempre suspeitar de nefrite interstici-
gestão alcoólica, exercício físico extenuante, etc.), depleta- al. Os sintomas e sinais sistêmicos “clássicos” de NIA (fe-
dos em sal, em uso de diuréticos, hipotensos, com insufi- bre, eosinofilia e rash cutâneo) estão presentes em menos
ciência cardíaca congestiva, cirróticos (principalmente com de 20% das vezes. Os pacientes costumam ser idosos, pre-
ascite), nefróticos, sépticos e em pós-operatório (onde se dominantemente do sexo feminino, com função renal ba-
somam os efeitos da anestesia com seqüestros de volume sal normal ou alterada e em uso de AINHs por meses. O
em “terceiro espaço”). O segundo grupo engloba situações nível de disfunção renal que acompanha esta síndrome é
em que apesar do volume sanguíneo estar normal ou mes- variável, compreendendo desde insuficiência renal leve até
mo elevado, as prostaglandinas são importantes para a uremia grave, dependente de diálise. O sedimento uriná-
manutenção da função renal. São os pacientes com insufi- rio pode ser normal ou apresentar hematúria e leucocitúria,
ciência renal crônica, idosos (mais de 65 anos), diabéticos, além, é claro, de proteinúria. Manifestações extra-renais são
hipertensos, com quadros urológicos obstrutivos, em uso pouco freqüentes, porém quadros de hepatite, vasculite,
de outros agentes nefrotóxicos que provocam vasoconstri- dor abdominal e diarréia já foram descritos. Usualmente
ção renal (contraste, ciclosporina, tacrolimus) ou de dro- ocorre resolução da insuficiência renal e proteinúria com
gas que alterem a hemodinâmica renal, como os bloquea- a suspensão do uso da droga. Em alguns pacientes esta
dores de enzima de conversão e os bloqueadores de recep- remissão pode ser muito lenta, demorando meses. Embo-
tor AT1 da angiotensina II. ra na maioria dos casos a recuperação da função renal te-
A IRA desencadeada pelos AINHs nestas situações ca- nha sido completa, existem relatos de déficits permanen-
racteriza-se por elevação abrupta dos níveis séricos de uréia tes de função renal e evolução para insuficiência renal crô-
e creatinina, oligúria, fração de excreção de sódio reduzi- nica terminal. O resultado do uso de corticosteróides no
da (<1%) e sedimento urinário normal. Pode existir hiper- tratamento destes pacientes é controverso, como em outros
calemia desproporcional ao nível de insuficiência renal. A casos de NIA, e sua indicação deve ser analisada indivi-
função renal costuma melhorar rapidamente com a suspen- dualmente, em função das características de cada caso.
são do AINH. Necessidade de diálise é incomum, mas Pode ocorrer recidiva da síndrome se o indivíduo for no-
pode ocorrer, assim como evolução para lesão renal irre- vamente exposto ao AINH causador da lesão ou a outras
versível. Existem descrições de IRA após uso endoveno- drogas da mesma classe.
so, oral e mesmo tópico dos AINHs. A histologia renal típica destes pacientes mostra nefrite
Casos de IRA e insuficiência renal crônica irreversível intersticial aguda caracterizada por edema e infiltração
têm sido descritos em neonatos quando AINHs foram focal ou difusa do interstício renal por linfócitos, macrófa-
administrados durante a gravidez ou nos primeiros dias gos e eosinófilos. Os túbulos podem apresentar vacuoliza-
para fechamento do ducto arterioso ou como analgésicos. ção, degeneração celular, atrofia e focos de necrose. A pre-
Os novos antiinflamatórios que bloqueiam especifica- sença de granulomas e células gigantes tem sido eventu-
mente a COX2 (celecoxib e rofecoxib) parecem ter poten- almente descrita. O infiltrado celular é composto na sua
cial nefrotóxico similar aos antiinflamatórios não-especí- quase totalidade por linfócitos do tipo T, predominante-
ficos. Já existe um número considerável de casos de IRA mente CD8. Os glomérulos são normais, exceto pela fusão
descritos após o uso destas drogas por pacientes com fun- de podócitos que está sempre presente nos pacientes com
ção renal prévia normal ou comprometida. Os fatores de síndrome nefrótica. Raramente, observou-se leve prolife-
risco são semelhantes aos descritos para os AINHs mais ração mesangial ou depósitos mesangiais de material elé-
antigos. tron-denso. Em alguns poucos casos ocorreu a associação
de glomerulonefrite membranosa, nefrite intersticial e ne-
IRA POR NEFRITE INTERSTICIAL AGUDA crose tubular aguda.
COM SÍNDROME NEFRÓTICA Os mecanismos geradores da associação de nefrite in-
Esta forma de disfunção renal pelos AINHs é rara, po- tersticial com lesão glomerular não são claros. A lesão in-
rém o grande número de pacientes expostos a estas dro- tersticial tem sido atribuída a reação de hipersensibilida-
gas fez com que mais de 100 casos com comprovação his- de tardia aos AINHs. A necessidade de exposição prolon-
tológica já tenham sido descritos na literatura. Pelo menos gada à droga, a baixa prevalência dos sinais “clássicos” de
464 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

hipersensibilidade e a predominância de linfócitos T no INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA


infiltrado falam a favor desta hipótese. A patogênese da Dados recentes sugerem que pacientes que tenham feito
alteração glomerular é ainda mais obscura. É possível que uso prolongado de AINHs apresentam maior probabilida-
ocorram alterações de permeabilidade da membrana ba- de de desenvolver insuficiência renal crônica (IRC). A lesão
sal glomerular em decorrência da ação local de citoquinas desenvolve-se após meses ou anos de ingestão continuada
liberadas pelos linfócitos infiltrantes, em uma situação do medicamento. Idade avançada, sexo masculino, insufici-
onde o efeito modulador negativo das prostaglandinas ência cardíaca e hipoperfusão renal crônica têm sido aven-
sobre a função dos linfócitos T está ausente. A inibição da tados como possíveis fatores de risco para sua instalação. Sua
ciclooxigenase poderia também estar desviando a metabo- fisiopatologia é mal definida. É possível que mecanismos
lização do ácido araquidônico para o ciclo da lipoxigena- imunológicos desencadeados durante a fase aguda da nefri-
se e aumentando a produção de leucotrienes, que são subs- te intersticial causada pelos AINHs continuem ativados cro-
tâncias com importante ação pró-inflamatória. nicamente e, somados aos efeitos de fatores de crescimento
e citoquinas, produzam fibrose intersticial crônica. Até que
IRA COM DOR LOMBAR E HEMATÚRIA estudos prospectivos mais completos sejam realizados, é
O uso de suprofen foi associado ao desenvolvimento de prudente evitar o uso prolongado e regular destas drogas.
IRA acompanhada por hematúria macroscópica e dor lom- Necrose de papila renal tem sido associada ao uso de
bar de forte intensidade. Esta droga tem estrutura similar AINHs. Fenilbutazona e indometacina são as drogas presen-
ao diurético uricosúrico ticrinafen e, provavelmente, induz tes na maior parte dos casos, porém existem relatos desta
lesão renal por obstrução tubular causada por precipita- lesão em pacientes recebendo fenoprofen, ibuprofen, napro-
ção intraluminal de ácido úrico. O quadro de IRA pode xen, ácido mefenâmico e piroxicam. Muitos desses indivídu-
ocorrer após algumas doses ou mesmo após a primeira os tomavam concomitantemente aspirina, fenacetina ou
tomada do medicamento, em indivíduos com função re- múltiplos agentes analgésicos e apresentavam alterações da
nal normal, sem a presença de fatores de risco para o de- função renal basal. Ao contrário dos usuários crônicos de
senvolvimento de nefrotoxicidade por AINHs. O uso de fenacetina, esses pacientes apresentaram predomínio do sexo
suprofen deve ser evitado, pois existem diversas alterna- masculino, tomaram a droga segundo orientação médica e
tivas de AINHs sem este efeito colateral. não possuíam perfil psicológico característico. Isquemia da
medula renal é considerada como a alteração inicial na indu-
IRA POR NECROSE CORTICAL ção de necrose de papila, e os AINHs provocam diminuição
Existem relatos de casos de necrose cortical associados do fluxo sanguíneo medular através da ruptura do equilíbrio
ao uso de ibuprofen em pacientes sem fatores de risco para do tônus vascular induzido pelo bloqueio da ciclooxigenase.
o desenvolvimento de nefrotoxicidade por AINHs. Os Este fenômeno é ainda mais significativo na presença de ou-
mecanismos desta lesão são obscuros. tras agressões à circulação medular, como lesão intersticial
crônica prévia ou presença de pielonefrite. Necrose de papila
SÍNDROME NEFRÓTICA SEM IRA pode também ser conseqüente ao acúmulo de metabólitos
Aproximadamente 10% dos pacientes que desenvol- ativos dos AINHs ou de fosfolípides na região papilar.
vem lesão renal com o uso de AINHs podem apresentar Finalmente, existem dados clínicos e experimentais que
quadros de síndrome nefrótica por glomerulopatia de le- sugerem que o consumo elevado de cafeína pode potenci-
sões mínimas após meses de uso da droga, sem a presen- alizar os efeitos nefrotóxicos dos AINHs. Neste sentido, é
ça de nefrite intersticial ou IRA. O achado histopatológi- importante lembrar que cafeína está freqüentemente pre-
co é característico, mostrando glomérulos normais ou dis- sente em diversas das formulações de analgésicos utiliza-
creta hipercelularidade mesangial à microscopia óptica e das na prática diária.
fusão de podócitos à microscopia eletrônica. Diversos ti-
pos de AINHs podem provocar esta alteração. A interrup- ALTERAÇÕES ELETROLÍTICAS
ção da droga associa-se à remissão do quadro. Recidivas As prostaglandinas inibem ativamente a reabsorção de
espontâneas e progressão para glomerulosclerose focal, sódio na alça de Henle, túbulo distal e ducto coletor medu-
mesmo com a suspensão do AINH, têm sido descritas. A lar e, atuando como vasodilatadores, aumentam a carga fil-
eficácia dos corticosteróides nesta forma de lesão é des- trada de sódio. Além disso, reduzem a hipertonicidade in-
conhecida. tersticial medular através de aumento do fluxo sanguíneo
O uso de diclofenaco, fenoprofen, cetoprofen, ibupro- medular, diminuindo a reabsorção de água na porção des-
fen, tolmetin, piroxican e sulindac associou-se a alguns cendente da alça de Henle. Isto provoca diminuição da con-
casos de síndrome nefrótica onde o achado histológico foi centração intraluminal de sódio e conseqüentemente dimi-
glomerulonefrite membranosa. A interrupção do uso do nui a reabsorção passiva de sódio na porção fina da alça de
AINH resultou em diminuição progressiva da proteinúria, Henle, impermeável à água. Assim, não causa surpresa que
porém esta persistiu por meses em alguns pacientes. o uso de AINHs freqüentemente provoque retenção de só-
capítulo 24 465

dio. Este efeito é geralmente pouco relevante do ponto de Nefrotoxicidade dos Inibidores da Enzima
vista clínico. No entanto, alguns indivíduos podem desen-
volver balanços positivos de sódio importantes com reper-
de Conversão da Angiotensina e dos
cussões sistêmicas significativas. Neste sentido, pacientes Bloqueadores dos Receptores AT1 de
com função cardíaca comprometida recebendo estas drogas Angiotensina II
devem ser alvo de atenção especial. Os AINHs podem tam-
bém induzir resistência à ação de diuréticos, provavelmente
Estas classes de drogas são bastante utilizadas no con-
através de mecanismos vasopressores.
trole da hipertensão, no tratamento da insuficiência cardí-
As prostaglandinas participam dos mecanismos de di-
aca congestiva e na prevenção da progressão da doença
luição renal, modulando os efeitos do hormônio antidiuré-
renal, particularmente em pacientes diabéticos. Ironica-
tico. O uso dos AINHs pode alterar este equilíbrio, provo-
mente, apesar de serem drogas “nefroprotetoras” podem
cando retenção de água livre e hiponatremia. desencadear IRA. Em uma análise dos pacientes que apre-
PGE2 e PGI2 são agonistas de renina e participam dos sentaram falência renal aguda no ano de 1993 no HC-
mecanismos que regulam a liberação de renina intra-renal. FMUSP, os inibidores da enzima de conversão estavam
O uso de AINHs pode induzir balanço positivo de potás- envolvidos em 6% dos casos e existem inúmeras descrições
sio através de um estado de hipoaldosteronismo hiporre- de IRA por estes agentes na literatura. Mais recentemente,
ninêmico, causando hipercalemia mesmo em pacientes vários autores têm relatado IRA com características seme-
com função renal normal. Em indivíduos diabéticos e em lhantes à desencadeada pelos bloqueadores da enzima de
pacientes usando beta-bloqueadores, inibidores de enzima conversão com o uso de bloqueadores dos receptores AT1
de conversão ou antagonistas de angiotensina II há risco de angiotensina II.
considerável de desenvolvimento de hipercalemias graves A IRA desencadeada por estes agentes está relacionada
com a administração de AINHs. a condições fisiopatológicas em que a manutenção da fil-
tração glomerular torna-se dependente do sistema renina-
HIPERTENSÃO angiotensina. São situações em que o fluxo sanguíneo re-
Os AINHs podem causar aumento da pressão arterial, nal apresenta-se comprometido e a pressão do capilar glo-
provavelmente através de seus efeitos vasopressores e de merular é preservada à custa de vasoconstrição da arterí-
retenção de sódio e água. Este aumento é geralmente mo- ola eferente induzida pela ação da angiotensina II. Se o sis-
desto em pacientes normotensos e mais pronunciado em tema renina-angiotensina for bloqueado e ocorrer diminui-
pacientes previamente hipertensos. Os indíviduos com ção importante do fluxo sanguíneo renal por obstrução
maior vulnerabilidade a este efeito colateral são aqueles arterial, hipotensão, hipovolemia ou vasoconstrição fixa da
com hipertensão associada a baixa atividade de renina plas-
mática (idosos e negros, por exemplo). Os AINHs podem
também interferir com o controle medicamentoso da hiper-
tensão, especialmente em pacientes recebendo beta-bloque- Quadro 24.5 Fatores de risco para a
adores ou diuréticos. Hipertensos tratados com vasodila- nefrotoxicidade por AINHs
tadores, clonidina ou bloqueadores de canal de cálcio são
Volume sanguíneo efetivo diminuído
menos suscetíveis aos efeitos hipertensores dos AINHs. O
efeito anti-hipertensivo dos inibidores da enzima de con- • Desidratação
• Hemorragia
versão parece ser pouco afetado por essas drogas, no en-
• Hipotensão
tanto, deterioração da função renal após o uso concomitan- • Insuficiência cardíaca
te desses agentes hipotensores e AINHs já foi descrita. • Uso de diuréticos
• Cirrose
• Síndrome nefrótica
Pontos-chave: • Sépsis
• Pós-operatório
• Evitar o seu uso quando existirem
fatores de risco Volume sanguíneo efetivo normal
• Medir função renal basal • Insuficiência renal crônica
• Evitar depleção de sal e volume • Idade avançada
• Obstrução urinária
• Evitar outras drogas nefrotóxicas • Hipertensão
• Monitorizar função renal: suspender a • Diabetes
droga precocemente se houver alteração • Uso de contraste
• Uso de ciclosporina ou tacrolimus
• Inibidores específicos da COX2 também são • Uso de bloqueadores de enzima da conversão ou de
nefrotóxicos bloqueadores de receptores AT1 de angiotensina II
466 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

ma de conversão foi associado a casos de nefrite interstici-


Quadro 24.6 Situações associadas a nefrotoxicidade
al ou de glomerulonefrite membranosa.
dos inibidores da enzima de conversão da
angiotensina II e provavelmente aos bloqueadores
dos receptores AT1 de angiotensina II
Nefrotoxicidade de Agentes
1. Estenose significante (maior do que 70%) de artérias Imunossupressores e Imunomoduladores
renais bilateralmente, de artéria renal em rim único
(anatômica ou funcionalmente) ou de artéria renal em CICLOSPORINA A
rim transplantado. Em 1970, uma nova cepa de fungos (Tolypocladium
2. Insuficiência cardíaca congestiva grave. inflatum Gams) foi cultivada a partir de amostras de solo
3. Nefrosclerose intra-renal grave.
norueguês. Estes fungos produziam polipeptídeos com
4. Indivíduos idosos.
baixa capacidade fungicida, porém com importantes pro-
5. Insuficiência renal crônica.
6. Uso concomitante de drogas com ação vasoconstritora
priedades imunossupressoras na ausência de citotoxicida-
intra-renal (ciclosporina, tacrolimus, AINHs, contraste de. Em 1972, as potentes propriedades imunossupressoras
iodado, etc.). de um desses peptídeos, a ciclosporina A (CSA), foram
7. Hipotensão e/ou contração da volemia por perdas caracterizadas e descritas. A introdução da ciclosporina A
(hemorragia, diarréia, vômitos, etc.). na prática clínica, em 1978, revolucionou o transplante de
8. Uso de diuréticos ou depleção em sal. órgãos sólidos e medula óssea. O seu uso associou-se a sig-
nificativa melhora da sobrevida dos enxertos a curto e
médio prazos, à possibilidade do uso de doses menores de
corticosteróides e à diminuição das complicações agudas
arteríola aferente, a pressão do capilar glomerular irá di- em transplante de medula. Posteriormente, a sua utilida-
minuir em função da presença de vasodilatação de arterí- de foi também demonstrada no tratamento de doenças
ola eferente. Como conseqüência da perda deste mecanis- auto-imunes como uveítes, psoríase, asma brônquica, dia-
mo de auto-regulação, podem acontecer quedas dramáti- betes de início recente e síndromes nefróticas de etiologi-
cas na filtração glomerular. as diversas, aumentando o número de pacientes expostos
É importante ressaltar que a associação de hipotensão à sua ação.
ou hipovolemia com qualquer dos outros fatores de risco A ciclosporina A é um polipeptídeo cíclico neutro, com-
listados no Quadro 24.6 é altamente sinérgica para o de- posto por 11 aminoácidos, lipofílico e com peso molecular
senvolvimento de nefrotoxicidade por estes agentes. Por de 1.202 daltons. As suas propriedades imunossupresso-
outro lado, sempre que ocorrer queda da função renal ou ras manifestam-se através da inibição seletiva da ativação
IRA após o uso de um bloqueador da enzima de conver- dos linfócitos T e dos eventos mediados pela interleucina-
são ou bloqueador dos receptores AT1 de angiotensina II, 2. No compartimento intracelular a CSA liga-se a uma
deve-se suspeitar de alterações nas artérias renais de gran- imunofilina, a ciclofilina. O complexo CSA/ciclofilina ini-
de ou pequeno calibre. Indivíduos com risco aumentado be a enzima calcineurina, uma fosfatase cálcio-dependen-
para desenvolver nefrotoxicidade por estas drogas devem te, responsável pela translocação dos fatores necessários
ter a sua função renal basal avaliada cuidadosamente an- para a transcripção dos genes da interleucina-2. Quando
tes e imediatamente após a introdução do medicamento. ocorre saturação da ciclofilina e da calcineurina a CSA liga-
O quadro clínico da nefrotoxicidade por estas drogas foi se às membranas celulares, inclusive à membrana mitocon-
melhor descrito para os inibidores da enzima de conver- drial. A molécula de CSA é extremamente hidrofóbica e
são e caracteriza-se por queda da filtração glomerular que lipofílica, característica responsável pelo seu largo volume
em geral reverte rapidamente após a suspensão da droga, de distribuição e acúmulo em tecido pancreático, hepáti-
confirmando o caráter funcional da lesão. No entanto, pa- co, renal, linfático e gordura. CSA cruza a barreira placen-
cientes com insuficiência renal prévia podem apresentar tária e é secretada no leite materno. Aproximadamente 99%
perda irreversível da função renal. Em pacientes anúricos da droga ativa é metabolizada no fígado pelo sistema en-
ou com recuperação insatisfatória da função renal, a pos- zimático do citocromo P-450, com a formação de mais de
sibilidade de trombose de artéria renal deve ser conside- 10 metabólitos com diferentes atividades biológicas. A eli-
rada. A maioria dos bloqueadores da enzima de conver- minação dos metabólitos ocorre principalmente por via
são (captopril, enalapril, lisinopril, etc.) é de excreção re- biliar, com menos de 5% sendo excretados pela urina. Em
nal, e portanto sua dosagem deve ser reduzida em presença situações normais, CSA inalterada é encontrada em níveis
de insuficiência renal. Os bloqueadores da enzima de con- muito reduzidos na bile e na urina (menos do que 5% da
versão podem causar hipercalemia grave em pacientes dose administrada). Pacientes com disfunção hepática ne-
diabéticos, com insuficiência renal ou que estejam usando cessitam de correção de sua dosagem, o que não é neces-
beta-bloqueadores, AINHs ou diuréticos poupadores de sário no caso de insuficiência renal. Drogas que interferem
potássio. Muito raramente o uso de bloqueadores da enzi- com o sistema do citocromo P-450 podem alterar o meta-
capítulo 24 467

Quadro 24.7 Drogas que interferem com o Quadro 24.8 Formas de apresentação da
metabolismo da ciclosporina A, alterando os seus nefrotoxicidade da ciclosporina A
níveis sanguíneos
• Retardo no funcionamento do enxerto renal
AUMENTAM NÍVEL DIMINUEM NÍVEL • Elevação assintomática da creatinina sérica
• Insuficiência renal aguda
Verapamil Rifampicina • Síndrome hemolítico-urêmica
Diltiazem Isoniazida • Insuficiência renal crônica
Nicardipina Fenitoína • Alterações eletrolíticas (hipomagnesemia,
Amlodipina Carbamazepina hipercalemia, hipofosfatemia, hiperuricemia)
Eritromicina Barbitúricos • Alterações da capacidade de concentração urinária
Claritromicina • Acidose hiperclorêmica
Ketoconazole • Hipertensão
Fluconazole
Itraconazole

renal era prolongado. Notava-se também recuperação mais


bolismo da CSA. Cetoconazol, eritromicina, verapamil e lenta do que a habitual da função renal pós-transplante,
diltiazem, por exemplo, aumentam a sua concentração com “imunossupressão convencional”, sem CSA. Esta le-
sanguínea por inibirem este sistema enzimático. No san- são renal provavelmente associou-se, em muitos casos, às
gue, a maior parte da CSA está ligada às hemácias (55 a altas doses de ciclosporina A utilizadas quando da intro-
60%) e lipoproteínas (30 a 50%), com apenas 5 a 10% circu- dução da droga na prática clínica. O manuseio clínico des-
lando como “droga livre”. tes pacientes pode obrigar a realização de biópsia renal
Ironicamente, logo ficou evidente que o principal efei- para detecção de possíveis episódios de rejeição e diminui-
to colateral da nova droga, que havia melhorado de forma ção, ou mesmo suspensão, da administração da droga para
tão espetacular a sobrevida do transplante renal, era a sua confirmação da suspeita de nefrotoxicidade. O uso de do-
nefrotoxicidade. A CSA pode induzir diversas formas de ses menores de ciclosporina A no período inicial do trans-
alterações renais: nefrotoxicidade aguda (função retarda- plante e o desenvolvimento de protocolos de imunossu-
da do enxerto renal, disfunção renal reversível e síndrome pressão, que aguardam o bom funcionamento do enxerto
hemolítico-urêmica), nefrotoxicidade crônica, hipertensão para iniciar sua administração, têm minimizado este pro-
e alterações eletrolíticas (hipomagnesemia, hipercalemia e blema.
hiperuricemia). As concentrações séricas de CSA não são DISFUNÇÃO RENAL REVERSÍVEL. A forma mais
um indíce sensível ou específico para auxiliar o diagnósti- comum de nefrotoxicidade aguda da CSA é a de elevações
co de nefrotoxicidade, e lesão renal pode ocorrer com ní- moderadas da creatinina sérica (ao redor de 25% do valor
veis da droga considerados “terapêuticos”. Mais de vinte basal), em pacientes clinicamente assintomáticos. Quedas
anos de pesquisa e uso clínico de CSA ainda não esclare- transitórias da filtração glomerular e fluxo plasmático re-
ceram se os seus efeitos nefrotóxicos e imunossupressores nal foram observadas após as doses diárias de CSA em
podem ser dissociados. Quando métodos suficientemente recipientes de enxerto renal que recebiam cronicamente a
sensíveis de avaliação da função renal são utilizados, fica droga. Da mesma forma, notou-se melhora significativa da
claro que o uso de doses clínica ou farmacologicamente função renal em pacientes transplantados renais “estáveis”,
relevantes de CSA está sempre associado a maior ou me- sem evidências clínicas de nefrotoxicidade, que necessita-
nor grau de alterações hemodinâmicas renais. O rótulo de ram suspender o uso de CSA por razões econômicas. Esta
nefrotoxicidade aguda deve ser reservado a situações em forma de alteração da função renal pode ser acompanha-
que o comprometimento renal induzido pela CSA é de da por hipertensão, retenção hídrica, hipercalemia, hipo-
natureza funcional e reversível, sem alterações histológi- magnesemia e hiperuricemia. Apesar da toxicidade por
cas significativas em tecido renal. A nefrotoxicidade crô- CSA raramente ser observada com níveis sanguíneos da
nica, por sua vez, manifesta-se por queda da filtração glo- droga inferiores a 200 ng/ml (radioimunoensaio monoclo-
merular e lesões estruturais irreversíveis em parênquima nal), quedas reversíveis da função renal podem claramen-
renal, que podem evoluir para insuficiência renal crônica te ocorrer com níveis de CSA considerados “terapêuticos”.
terminal. É importante frisar que mesmo após administração expe-
rimental ou clínica prolongada, a suspensão da droga causa
Nefrotoxicidade Aguda melhora significativa ou mesmo normalização da filtração
FUNÇÃO RETARDADA DO ENXERTO RENAL. O glomerular.
uso de CSA foi associado a aumento da incidência de in- Pode ocorrer quadro clínico de IRA, com queda intensa
suficiência renal oligoanúrica no período pós-transplante da filtração glomerular e da diurese, quando doses eleva-
imediato, principalmente quando o tempo de isquemia das de CSA são usadas. Esta forma de nefrotoxicidade é
468 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

atualmente muito rara no transplante renal. No entanto, são tubular, quando presente, é discreta, a menos que do-
ocorre com relativa freqüência em transplantes cardíacos, ses extremamente altas de CSA sejam usadas. CSA causa
hepáticos, pulmonares ou de medula óssea, situações onde intensa vasoconstrição da arteríola aferente com conse-
freqüentemente coexistem outras drogas nefrotóxicas e qüente aumento da resistência vascular, diminuição do
condições hemodinâmicas adversas. Pode acontecer tam- fluxo sanguíneo renal e queda da filtração glomerular. Os
bém quando a CSA é administrada em conjunto com ou- mecanismos responsáveis por esta vasoconstrição renal
tras drogas nefrotóxicas ou que provocam alterações da ainda não estão totalmente esclarecidos. Evidências clíni-
hemodinâmica intra-renal, como os antiinflamatórios não- cas e experimentais sugerem a participação de diferentes
hormonais, os bloqueadores da enzima de conversão, mediadores: aumento da produção de tromboxane A2 e
aminoglicosídeos, anfotericina B, etc. A insuficiência renal redução da síntese de prostaglandinas vasodilatadoras,
geralmente é de instalação abrupta, oligúrica, com sódio ativação do sistema renina-angiotensina, aumento da ati-
urinário reduzido (menor do que 10 mEq/L) e associada a vidade do sistema nervoso simpático, aumento da libera-
níveis sanguíneos elevados da CSA. A regra é a pronta ção renal e sistêmica de endotelina, efeito direto da droga
recuperação da função renal com a interrupção ou dimi- na musculatura lisa vascular, perturbações no relaxamen-
nuição da droga, confirmando o caráter funcional da lesão. to vascular dependente de óxido nítrico, geração de radi-
A IRA que ocorre imediatamente após a administração cais oxidantes. Em contrapartida, vários procedimentos
endovenosa de CSA parece ser causada pela ação conju- têm sido usados na tentativa de bloquear as alterações
gada da droga e do seu veículo, cremofor. Dados de nosso hemodinâmicas agudas provocadas pela CSA: antagonis-
laboratório mostraram que CSA dissolvida em uma solu- tas de tromboxane, análogos de prostaglandina, ácido
ção de ácidos graxos utilizada em alimentação parenteral, ômega 3, bloqueadores do sistema renina-angiotensina,
em vez de cremofor, não provocou queda da filtração glo- denervação renal, bloqueio farmacológico do sistema ner-
merular e manteve sua capacidade imunossupressora in voso simpático, anticorpos antiendotelina e antagonistas
vitro. competitivos dos receptores para endotelina, bloqueado-
Muitas vezes é difícil estabelecer a diferenciação entre res de canal de cálcio, doadores de óxido nítrico e L-argi-
disfunção renal reversível causada pela CSA e rejeição nina, antagonistas do fator ativador de plaquetas, agonis-
aguda do enxerto renal. Parâmetros clínicos como o inter- tas de receptores de dopamina, pentoxifilina e hormônio
valo de tempo entre o transplante e a elevação da creatini- atrial natriurético. Algumas dessas manobras induziram
na, a intensidade desta elevação, ganho de peso, a presen- melhoras parciais na hemodinâmica renal, mas nenhuma
ça de febre e os níveis sanguíneos da droga podem ajudar, delas, isoladamente, protegeu completamente contra as
porém têm baixa sensibilidade e especificidade diagnósti- alterações de função renal induzidas pela droga. É prová-
ca. Quando o episódio de disfunção renal ocorre nos pri- vel que a etiopatogênese da vasoconstrição causada pela
meiros seis meses após o transplante, diversos grupos op- CSA seja multifatorial, ocorrendo através da combinação
tam por tratá-lo inicialmente como rejeição. Se a resposta de lesão endotelial e desequilíbrio entre os sistemas vaso-
a este tratamento for insatisfatória, a dose de CSA é altera- dilatadores e vasoconstritores. Clinicamente, o uso de blo-
da. Outros centros optam pela realização de biópsia renal queadores de canal de cálcio, a manutenção de volume
para tentar definir o diagnóstico. A histologia renal da IRA extracelular adequado, a monitorização dos níveis séricos
por CSA é pouco característica, sendo raros os casos com de CSA e o cuidado com o uso de associações de drogas
lesões compatíveis com necrose tubular aguda. Os parâ- potencialmente sinérgicas em termos de nefrotoxicidade
metros histológicos relacionados à toxicidade aguda da são as formas mais efetivas de proteção contra a lesão fun-
CSA, como vacuolização isométrica tubular, microcalcifi- cional aguda induzida pela ciclosporina A.
cações e mitocôndrias gigantes, são inespecíficos. Podem SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA. Algumas ve-
ocorrer sem que exista alteração evidente da função renal zes pacientes tratados com CSA podem apresentar quadros
e, por serem focais, podem não ser achados na presença de de vasculopatia aguda com características clínico-labora-
nefrotoxicidade. O diagnóstico anatomopatológico de ne- toriais de síndrome hemolítico-urêmica. Esta patologia foi
frotoxicidade aguda por CSA será feito muitas vezes por inicialmente descrita em pacientes submetidos a transplan-
exclusão, afastando-se a presença de rejeição aguda na bi- te de medula óssea, porém logo surgiram casos em trans-
ópsia. É importante lembrar que pacientes tratados com plantes de fígado e de rim. O quadro clínico compreende
CSA podem apresentar infiltrado intersticial inflamatório insuficiência renal aguda fulminante associada à trombo-
focal em enxertos renais com função estável. Para compli- citopenia, com mau prognóstico em relação à evolução do
car ainda mais a situação, nefrotoxicidade aguda por CSA enxerto em casos de transplante renal. A histologia renal é
e rejeição podem ocasionalmente coexistir, e a identifica- compatível com microangiopatia trombótica, podendo
ção da entidade predominante na queda de função renal apresentar graus variados de trombose capilar glomeru-
dependerá de teste terapêutico. lar e necrose fibrinóide. Coelhos tratados com endotoxina
A etiopatogenia da nefrotoxicidade aguda da CSA está bacteriana e então submetidos a CSA podem desenvolver
nitidamente vinculada a alterações hemodinâmicas. A le- alterações semelhantes. A etiopatogenia desta lesão é des-
capítulo 24 469

conhecida. A agressão ao endotélio tem sido relacionada alterações de hemodinâmica glomerular causadas pela
ao aumento da agregação plaquetária e à síntese de trom- CSA. Esta proteção estrutural pode ser decorrente da me-
boxane induzidos pela CSA. O desenvolvimento desta lhora do fluxo medular, regulado por receptores de angi-
dramática situação em pacientes transplantados cria o di- otensina II na região dos vasa recta, ou da inibição dos efei-
lema da retirada da CSA ou de sua troca por outro agente tos proliferativos da angiotensina II e da própria CSA. Tra-
imunossupressor. Existem relatos de casos onde se obteve balhos recentes mostram que CSA estimula a proliferação
a reversão da síndrome com a redução da dose de ciclos- celular, e a produção de colágeno, tanto in vivo como in
porina. vitro, aumenta a produção de fibroblastos e matriz extra-
celular em vários tecidos, como o gengival, e estimula a
Nefrotoxicidade Crônica produção in vivo e in vitro de TGF-␤, citoquina com impor-
Pacientes tratados com CSA por tempo prolongado tantes propriedades fibrinogênicas, anticolagenases e de
(meses a anos) podem apresentar perda progressiva da deposição de matriz extracelular.
função renal, freqüentemente acompanhada por hiperten- No momento, não dispomos de informações suficientes
são arterial, e lesões estruturais irreversíveis em parênqui- para tentar estabelecer estratégias de prevenção clínica
ma renal. Embora incomum, pode ocorrer evolução para contra esta forma de lesão crônica. O fato de que mesmo
insuficiência renal crônica terminal dependente de diáli- doses reduzidas da droga, possivelmente sem efeito sig-
se. Esta lesão poderia ser atribuída à rejeição crônica no nificativo na hemodinâmica renal, induzem alterações his-
caso de enxerto renal, mas a sua ocorrência em recipientes tológicas pode significar que esta forma de nefrotoxicida-
de outros órgãos sólidos, como fígado e coração, e em pa- de talvez seja inevitável e que o preço a ser pago por imu-
cientes portadores de doenças auto-imunes indica de ma- nossupressão efetiva por CSA será algum grau de dano
neira inequívoca sua relação com a droga. O fato de a CSA estrutural em parênquima renal. A introdução de novos
ter prevenido significativamente a perda precoce do enxer- agentes imunossupressores sem ação nefrotóxica, como
to renal, mas não ter sido capaz de melhorar a sua sobre- rapamicina e mofetil micofenolato, tem permitido a subs-
vida a longo prazo, pode ser decorrente da presença de tituição da ciclosporina, com subseqüente melhora da fun-
nefrotoxicidade crônica nestes pacientes. Os fatores de risco ção renal.
para esta patologia são mal definidos. Manutenção de ní-
veis séricos e dosagem diária ou cumulativa da droga ele-
Pontos-chave:
vada e ocorrência de episódios repetidos de nefrotoxicida-
de aguda têm sido incriminados. No entanto, as lesões es- Nefrotoxicidade aguda
truturais podem evoluir mesmo se a dose de CSA for di- • Hemodinamicamente mediada e reversível
minuída, e nefrotoxicidade crônica tem também sido des- • Má correlação com os níveis séricos da
crita em pacientes que receberam doses pequenas de CSA. droga
Histologicamente esta síndrome caracteriza-se por atro-
• Histologia renal inespecífica
fia e dilatação tubular, fibrose intersticial com aspecto em
faixas, comprometendo os raios medulares, e alterações das • Diagnóstico diferencial com rejeição
camadas musculares e íntima das arteríolas aferentes e de • Melhora com diminuição ou interrupção da
pequenas artérias, que vão desde depósitos nodulares de droga
material hialino até necrose de parede, causando diminui-
ção do lúmen ou mesmo oclusão arteriolar. Os gloméru- Nefrotoxicidade crônica
los estão inicialmente preservados, mas à medida que a • Lesão estrutural (fibrose intersticial)
lesão evolui surgem glomérulos hipertrofiados, com escle- irreversível
rose focal e mesmo hialinizados. • Hialinização de arteríola aferente
A patogênese da nefropatia crônica causada pela CSA • Pode evoluir para insuficiência renal
é obscura. A vasoconstrição mantida de arteríola aferente crônica terminal
poderia ser responsável pela lesão através de isquemia do
néfron e do tecido renal a jusante. Entretanto, estudos ex-
perimentais recentes demonstraram haver dissociação dos CICLOSPORINA G
mecanismos causadores das alterações de hemodinâmica Ciclosporina G (CSG) é um análogo natural da CSA com
glomerulares e das lesões estruturais desencadeadas pela importante atividade imunossupressora. Em estudos expe-
droga. O uso de bloqueadores de canal de cálcio ou de rimentais, em ratos, a CSG causou menor queda da filtração
endotelina protegeu contra a queda de filtração glomeru- glomerular e menor alteração estrutural renal do que a CSA,
lar porém não atenuou o aparecimento das lesões histoló- quando dosagens equivalentes ou níveis séricos semelhan-
gicas em ratos tratados com CSA. Da mesma forma, o uso tes das duas drogas foram obtidos. A farmacocinética das
de enalapril e/ou losartan preveniu de maneira significante duas formas de ciclosporina foi profundamente diferente,
o desenvolvimento de fibrose intersticial sem impedir as com a CSG apresentando maior velocidade de depuração do
470 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

que a CSA. Em estudos in vivo e em vasos isolados a CSG, ao proteínas para a região intersticial e diminuição do volu-
contrário da CSA, não causou hipertensão ou alterações de me intravascular. Hipoalbuminemia e diminuição da pres-
contratilidade. Ensaios clínicos iniciais mostraram que a CSG são colóido-osmótica já foram documentadas clinicamen-
tem capacidade imunossupressora semelhante à CSA, com te após a infusão da droga. Estudos experimentais e in vi-
menor incidência de alterações funcionais renais. tro não encontraram evidências de que a IL-2 provoque
lesão endotelial direta. É provável que o “vazamento” seja
TACROLIMUS conseqüência de aumento da permeabilidade vascular cau-
sada por ativação linfocitária e liberação de citoquinas.
Este agente imunossupressor com estrutura semelhante
Ensaios clínicos mostraram prevenção da lesão renal
aos antibióticos macrolídeos é produzido pelo fungo Strep-
induzida pela IL-2 através da administração concomitan-
tomyces tsukubaensis. É extremamente lipofílico, tem metabo-
te de noradrenalina ou dopamina. O uso de infusão contí-
lização hepática e, de forma similar à CSA, bloqueia a ativa-
nua, lenta, de IL-2 ao invés de injeções “em bolo” diminui
ção dos linfócitos T através da ligação a uma imunofilina
a intensidade da lesão renal. O uso de AINH em associa-
citoplasmática. O tacrolimus é 100 vezes mais potente do que
ção com IL-2 deve ser evitado.
a CSA in vitro. Esta droga é empregada em transplantes de
órgãos sólidos e no tratamento de doenças auto-imunes. A
sua maior utilização tem ocorrido em transplante hepático, INTERFERON-A
onde parece ter um efeito hepatotrópico, e em recipientes de Interferon recombinante humano vem sendo utilizado
enxerto renal no caso de rejeição aguda refratária aos trata- no tratamento de tumores sólidos e hematológicos e no
mentos convencionais. O perfil de nefrotoxicidade do tacro- tratamento de hepatite B crônica. Aproximadamente 20%
limus é muito semelhante ao CSA, exceto por induzir me- dos pacientes apresentam proteinúria. Insuficiência renal
nos hipertensão. Clinicamente, provoca alterações agudas da aguda grave, às vezes evoluindo para insuficiência renal
função renal e, quando usado por tempo prolongado, causa irreversível, pode ocorrer. Síndrome hemolítico-urêmica,
nefrite intersticial aguda, necrose tubular aguda, glome-
lesão arteriolar e fibrose intersticial. Pode também induzir hi-
rulosclerose focal e síndrome nefrótica já ocorreram em
percalemia, hipomagnesemia, alterações do metabolismo da
pacientes recebendo interferon. Evidências experimen-
glicose e neurotoxicidade. Casos de síndrome hemolítico-
tais, obtidas a partir de culturas de células tubulares pro-
urêmica também foram descritos com esta droga. Recente-
ximais humanas, e a presença clínica de enzimúria suge-
mente, criou-se um modelo experimental adequado de ne-
rem a possibilidade da droga ter efeitos tóxicos tubulares
frotoxicidade com tacrolimus em ratos depletados em sal,
diretos.
onde os níveis séricos da droga são semelhantes aos níveis
considerados terapêuticos em seres humanos. O estudo deste
modelo demonstrou que bloqueadores de canal de cálcio e
antagonistas de angiotensina II conferiram proteção parcial Quadro 24.9 Drogas causadoras de nefrite
contra as alterações renais causadas pela droga. O uso com- intersticial aguda
binado de CSA e tacrolimus mostrou-se extremamente ne-
• Penicilinas • Furosemida
frotóxico e deve ser evitado.
• Cefalosporinas • Tiazídicos
• Sulfonamidas • Amilorida
INTERLEUCINA-2 • Rifampicina
• Quinolonas • Omeprazol
Interleucina-2 (IL-2) recombinante é utilizada no trata-
• Vancomicina • Cimetidina
mento de melanomas, câncer de rim ou outros tumores • Teicoplamina • Ranitidina
refratários à terapia convencional. O seu uso é freqüente- • Etambutol • Famotidina
mente complicado por hipotensão, aumento da freqüên- • Aciclovir
cia cardíaca, retenção de fluido, aumento de peso e IRA • Aminoglicosídeos • Amlodipina
• Tetraciclina • Diltiazen
oligúrica com sódio urinário reduzido e fluxo plasmático • Azitromicina • Captopril
renal preservado. O quadro sugere lesão pré-renal associ- • Nitrofurantoína
ada a alterações de hemodinâmica glomerular a nível de • Piperacilina • Clozapina
Kf ou de arteríola eferente. Idade avançada, insuficiência • Minociclina • Fenitoína
renal prévia, doses elevadas e infusão rápida da IL-2 pare- • Indinavir • Fenobarbital
• Quinino
cem ser fatores relacionados à maior incidência de lesão • Interferon
renal. A suspensão da droga implica melhora da função • Antiinflamatórios não- • Interleucina 2
renal. O uso concomitante de AINH para minimizar os hormonais
efeitos colaterais da IL-2 é comum, o que pode contribuir • Ácido 5- • Estreptoquinase
para potencializar a queda de função renal observada. aminossalicílico • Ticlopidina
• Mesalazina • Alopurinol
As alterações causadas pela IL-2 têm sido atribuídas a • Paracetamol • Propiltiouracil
uma “síndrome de vazamento vascular”, com saída de
capítulo 24 471

FATOR DE NECROSE TUMORAL (DNA, RNA, proteínas), geração de radicais livres de oxi-
Em torno de 13 a 21% dos pacientes submetidos ao uso gênio, perturbações no funcionamento mitocondrial e al-
de fator de necrose tumoral apresentam lesão renal. O terações na homeostase do cálcio. A histologia renal tem
mecanismo parece ser semelhante ao da IL-2: “vazamento mostrado predominantemente lesões tubulares. Gotas hi-
vascular” causando IRA pré-renal. O achado de enzimúria alinas em células epiteliais proximais, degeneração da
em 50% dos indivíduos recebendo a droga sugere lesão membrana basal tubular, áreas focais de necrose em túbu-
tubular direta. los proximais, distais e ductos coletores, dilatação tubular
distal e cilindros podem ser encontrados. Atipias celula-
res com núcleos gigantes e formações sinciciais em ductos
OKT3
coletores indicam ter ocorrido alterações na síntese de
É um anticorpo monoclonal anticélula T usado como
DNA. Os glomérulos e vasos são geralmente normais.
agente imunossupressor. Costuma causar queda reversí-
A nefrotoxicidade induzida pela cisplatina é dose-de-
vel da função renal, possivelmente associada à liberação
pendente e progressiva. No entanto, queda significativa e
de citoquinas, por mecanismos semelhantes aos observa-
abrupta da filtração glomerular pode ocorrer após a admi-
dos com IL-2. Este fenômeno desaparece após a adminis-
nistração da primeira dose da droga. Doses únicas de 2
tração da segunda ou terceira dose da droga. A histologia
mg/kg são suficientes para causar insuficiência renal em
renal de pacientes acometidos por esta forma de nefroto-
até 33% dos pacientes. A nefrotoxicidade da cisplatina tem
xicidade não revelou necrose tubular aguda.
caráter bifásico. A lesão inicial acontece ao nível do túbulo
proximal, na presença de filtração glomerular e fluxo plas-
mático renal normais. Vinte e quatro a 48 horas após a
Nefrotoxicidade de Agentes
administração da droga observam-se poliúria e diminui-
Anticancerígenos ção da osmolalidade urinária, por diminuição da reabsor-
ção tubular proximal de sódio e água. A poliúria respon-
CISPLATINA de à administração de hormônio antidiurético e pode ser
É a droga antineoplásica mais utilizada no tratamento bloqueada pela aspirina, o que sugere envolvimento das
de tumores sólidos, particularmente de células germinati- prostaglandinas na sua gênese. Enzimúria e proteinúria de
vas (testículos e ovários), de cabeça e pescoço, de bexiga e origem tubular podem ser detectadas. Setenta e duas a 96
de pulmão (tumor de células pequenas). Age através da horas após a infusão da droga ocorre piora da poliúria as-
inibição da síntese de DNA, e sua eficácia terapêutica é sociada a queda dramática da FG e do fluxo plasmático
dose-dependente. Seu principal efeito colateral é nefroto- renal e aumento da resistência vascular renal. Estudos ex-
xicidade, que também é dose-dependente. perimentais demonstraram que os mecanismos de reabsor-
O rim é o órgão mais importante para o metabolismo ção tubular de sódio em túbulo proximal e na porção es-
da cisplatina. Além de ser o responsável pela maior parte pessa ascendente da alça de Henle estão profundamente
da excreção da droga, é o principal local de acúmulo e re- alterados na presença de funcionamento normal do ducto
tenção deste antineoplásico (a concentração em córtex re- coletor medular. Outras alterações relacionadas à disfun-
nal é aproximadamente 6 vezes mais elevada do que a em ção tubular são: hipomagnesemia por magnesiúria exage-
qualquer outro tecido). Após infusão endovenosa, mais de rada, hipocalemia, hiperfosfatúria e aminoacidúria. A mais
90% da droga liga-se às proteínas plasmáticas. A fração comum e com maior importância clínica é a hipomagne-
livre, de peso molecular pequeno e carga elétrica neutra, é semia, que pode ocorrer mesmo na presença de creatinina
filtrada pelos glómerulos, não é reabsorvida pelos túbulos sérica normal. A lesão renal desencadeada pela droga pode
e aparece inalterada na urina. A cisplatina entra na célula ser irreversível, determinando quedas permanentes de FG
tubular proximal, principalmente do segmento S3, através e tubulopatia persistente, que se manifesta por hipomag-
da região basolateral da membrana celular. No interior da nesemia e hipocalcemia. Estudos clínicos e experimentais
célula é transformada em metabólitos não-mutagênicos. mostram evolução silenciosa de fibrose intersticial progres-
Os mecanismos pelos quais a droga provoca a lesão ce- siva com exposição repetida à cisplatina. Cisplatina pode
lular ainda não estão definidos. Os processos de transpor- também causar síndrome hemolítico-urêmica grave.
te responsáveis pela acumulação da cisplatina na pars recta A alta eficácia clínica da cisplatina motivou o desenvol-
tubular parecem ser importantes para a sua toxicidade. De vimento de técnicas para tentar minimizar a incidência e a
fato, esta é a região de maior lesão anatômica, e correlações gravidade da sua nefrotoxicidade. O uso de verapamil e
clínicas positivas foram estabelecidas entre concentração de bloqueadores de enzima de conversão foi ineficaz na
cortical da droga e lesão renal. Os possíveis mecanismos e prevenção da lesão, enquanto o fator atrial natriurético
mediadores da nefrotoxicidade da cisplatina são: metabó- protegeu parcialmente contra a queda da FG. Infusões rápi-
litos (gerados a nível sistêmico ou intra-renal), inibição de das da droga devem ser evitadas, pois estão nitidamente
sistemas enzimáticos celulares (ATPase, gama-glutamil associadas a maior incidência de nefrotoxicidade do que
transpeptidase), inibição da síntese de macromoléculas administração contínua, lenta. A dosagem da droga está
472 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

associada à sua toxicidade: doses maiores do que 33 mg/ CARBOPLATINA


m2/semana causam invariavelmente efeitos colaterais. É um análogo da cisplatina desenvolvido especificamen-
Outras drogas nefrotóxicas como aminoglicosídeos e te para apresentar menor nefrotoxicidade e aprovado para
AINHs não devem ser usadas concomitantemente. Recen- uso clínico em 1989. A incidência de nefrotoxicidade é rara
temente, foi descrito um caso de insuficiência renal irrever- com o seu uso, ocorrendo com doses elevadas em pacien-
sível em uma paciente, com função renal basal normal, tes que já haviam recebido cisplatina ou que estavam usan-
submetida a exame com contraste iodado de baixo peso do outras drogas nefrotóxicas. Os seus principais efeitos
molecular seis dias após ter recebido cisplatina intraperi- colaterais são supressão medular e trombocitopenia.
toneal. O uso de hidratação vigorosa associada à manuten-
ção de alto volume urinário através de manitol e/ou furo- METOTREXATE
semida tem permitido o uso de doses de cisplatina de até Este agente quimioterápico age através da inibição da
100 mg/m2, com minimização do efeito nefrotóxico da diidrofolato redutase. É efetivo em tumores de cabeça e
droga. Recomenda-se manter infusão volêmica com solu- pescoço, tumores de mama, sarcomas, linfomas não-Hodg-
ção salina antecedendo de 6 a 12 horas a administração da kin, tumores de bexiga, coriocarcinoma e leucemias linfo-
droga e prolongando-se por mais 6 a 12 horas. O ritmo de cíticas agudas. É eliminado, assim como o seu principal
infusão volêmica e de diurese deve ser mantido entre 100 metabólito (7-hidroximetotrexate), por filtração glomeru-
e 200 ml/min. Este procedimento deve ser controlado cui- lar e secreção tubular. Doses elevadas podem causar IRA
dadosamente para não provocar alterações hidroeletrolí- não-oligúrica em 10 a 30% dos pacientes. Esta nefrotoxici-
ticas. O mecanismo de proteção é desconhecido. A hidra- dade pode ser causada em parte pela pouca solubilidade
tação/diurese não diminui o conteúdo cortical ou plasmá- do metotrexate e do 7-hidroximetotrexate, que é acentua-
tico de cisplatina e não previne a necrose de segmento S3. da pela acidez urinária. A droga parece também ser capaz
Considerando-se que o transporte da droga ocorre na pa-
de causar lesão tubular direta, pois induz enzimúria e pro-
rede basolateral, o fluxo urinário aumentado ou a sua di-
teinúria tubular. Necrose tubular aguda já foi demonstra-
luição intraluminal não têm importância na sua captação
da sem a presença de depósitos intratubulares.
intracelular. É possível que a proteção observada esteja li-
A manutenção de função renal adequada é crucial em
gada a fenômenos de vasodilatação intra-renal. A adminis-
pacientes recebendo metotrexate. A queda da filtração glo-
tração de tiossulfato de sódio, que age alterando o perfil
merular resultará em um círculo vicioso extremamente
farmacocinético da droga, tem permitido o uso de dosa-
perigoso: os níveis séricos da droga aumentarão induzin-
gens maiores da droga ao mesmo tempo que diminuiu a
do maior toxicidade, a excreção de metotrexate diminuirá
incidência de toxicidade. Outros agentes de proteção que
ainda mais, etc. Nestas situações deve-se usar leucovorin
vêm sendo usados ou testados são: WR-2721 (ácido S-2-(3-
como antídoto aos efeitos da droga. Hemoperfusão pode
aminopropilamino)etilfosforotióico), DDTC (dietilditiocar-
ser uma alternativa para a redução das concentrações plas-
bamato), probenecida, mercaptoetanossulfatona, MT (me-
máticas de metotrexate na presença de IRA. Outra opção
talotioneína) e selenito de sódio. É importante lembrar que
para redução dos níveis séricos de metotrexate em paci-
estas manobras e drogas mostraram proteção contra os
entes com insuficiência renal é o uso da carboxipeptida-
efeitos agudos da cisplatina, mas a sua eficiência em rela-
se-G2 (CPDG2). Esta enzima bacteriana hidrolisa o me-
ção à prevenção de desenvolvimento de lesão túbulo-in-
totrexate em metabólitos inativos, podendo rapidamen-
tersticial crônica não foi determinada.
te reduzir as concentrações plasmáticas da droga para
níveis não-tóxicos.
Pontos-chave: A prevenção da lesão renal pode ser feita através de
expansão volêmica, manutenção de alto fluxo urinário (>3
• Nefrotoxicidade dependente da dose diária litros/dia) e alcalinização da urina. O uso concomitante
e acumulada deste quimioterápico com outros agentes nefrotóxicos
• Pode causar lesão renal irreversível como cisplatina e AINHs deve ser evitado. Recentemente,
• Causa hipomagnesemia importante relatou-se que mesmo doses baixas de metotrexate causa-
• Manter hidratação/diurese elevadas ram queda significativa da FG em pacientes com artrite
• Evitar uso simultâneo de outras drogas reumatóide tratados em associação com AINHs.
nefrotóxicas
• Não infundir em bolo, usar infusão lenta Nefrotoxicidade de Peçonhas Animais
• Não utilizar doses maiores do que 25 a 33
mg/m2/semana SERPENTES
• Infusão simultânea de tiossulfato de sódio Existem no mundo aproximadamente 3.000 espécies de
reduz nefrotoxicidade serpentes, das quais 10 a 14% são consideradas peçonhen-
tas. No Brasil encontram-se quatro gêneros de serpentes
capítulo 24 473

peçonhentas: Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, caiçara, zaram métodos pouco sensíveis de avaliação da função
etc.), Crotalus (cascavel), Lachesis (surucucu, surucutinga) renal. A insuficiência renal é precoce e freqüentemente
e Micrurus (coral verdadeira). Cerca de 20.000 casos de grave, com presença de oligúria e necessidade de diálise.
acidentes ofídicos são reportados por ano ao Ministério A lesão mais freqüentemente encontrada na histologia re-
da Saúde brasileiro, com mortalidade variando em torno nal tem sido NTA, embora casos de necrose cortical tam-
de 6%. bém tenham sido descritos. Vários fatores têm sido aven-
Insuficiência renal aguda (IRA) é uma das principais tados para justificar a maior ou menor freqüência de IRA:
complicações do acidente ofídico e importante causa de idade do paciente, tamanho e espécie da serpente, quanti-
letalidade nos pacientes que sobrevivem à ação inicial da dade de veneno injetada, intervalo de tempo entre a pica-
peçonha. Praticamente todas as serpentes com importân- da e a administração do soro antiofídico e quantidade e via
cia médica podem causar IRA. No entanto, análise dos de administração do soro. A única relação documentada
casos publicados revela que acidentes com as serpentes da até o momento foi a correlação positiva entre idade do
espécie Vipera russeli (“Russell’s viper”) na Ásia e as serpen- paciente e prevalência de IRA.
tes do gênero Bothrops e Crotalus na América do Sul apre- A etiopatogenia da IRA associada à picada de Bothrops
sentam a maior incidência de lesão renal. tem sido relacionada a hipotensão, mioglobinúria, hemo-
A alteração histológica renal mais comum nos casos de globinúria, coagulação glomerular e nefrotoxicidade dire-
IRA por acidente ofídico é a necrose tubular aguda (NTA). ta do veneno. No entanto, hipotensão ou choque são even-
Outras lesões, como necrose cortical, nefrite intersticial tos raros após picada por Bothrops, e embora o veneno bo-
aguda, alterações glomerulares, arterite e necrose de pa- trópico possa causar lesão tecidual localizada, não possui
pila, podem ser encontradas. Casos com evolução clínica ação miotóxica sistêmica similar à do veneno crotálico e não
compatível com síndrome hemolítico-urêmica ou síndro- induz elevações significativas de creatinofosfoquinase
me nefrótica já foram descritos. (CPK). O desenvolvimento de um modelo experimental de
As peçonhas das serpentes são substâncias extremamen- IRA com a peçonha botrópica permitiu o estudo dos me-
te complexas, compostas por enzimas, peptídeos, proteí- canismos da lesão renal. Neste modelo, a injeção endove-
nas não-enzimáticas e várias outras substâncias. Podem nosa da peçonha provocou queda acentuada e precoce da
existir diferenças qualitativas e quantitativas de toxinas não filtração glomerular, do fluxo plasmático renal e da diure-
somente entre espécies de um mesmo gênero, como tam- se, fenômenos acompanhados por elevação da resistência
bém entre indivíduos de uma mesma espécie. A composi- vascular renal e da fração de excreção de sódio. Não ocor-
ção da peçonha pode variar num mesmo animal dependen- reu queda da pressão arterial ou elevação de CPK. Houve
do do sexo, idade, época do ano e condições ambientais. A acentuado consumo de fibrinogênio e hemólise intravas-
complexidade e a diversidade da composição das peçonhas cular. A atividade de calicreína urinária reduziu-se signi-
faz com que os mecanismos causadores de IRA após aci- ficativamente. Duas horas após a injeção da peçonha a
dente ofídico sejam de difícil definição. A etiopatogenia da análise histológica renal mostrou extensa deposição glome-
lesão renal tem sido atribuída a nefrotoxicidade direta da rular de trombos de fibrina e necrose tubular aguda. Estu-
peçonha, miólise, hemólise, hipotensão, coagulação capi- do funcional e histológico realizado 48 horas após a admi-
lar glomerular, ação tóxica vascular da peçonha e até mes- nistração do veneno encontrou filtração glomerular ainda
mo a reações de hipersensibilidade à toxina ou ao soro rebaixada, túbulos com áreas de necrose e com cilindros
antiofídico. de hemácias hemolisadas e resolução do quadro glomeru-
lar. Trombos glomerulares de fibrina já foram detectados
Bothrops em autópsias de indivíduos que morreram após picada de
As serpentes do gênero Bothrops são responsáveis por Bothrops ou em pacientes com necrose cortical após aciden-
90% dos acidentes ofídicos no Brasil. É o gênero mais nu- te botrópico. É provável que a isquemia causada pela de-
meroso em espécies, todas causando quadros clínicos posição de microtrombos glomerulares provoque desde
muito semelhantes. O veneno botrópico tem importante lesão renal reversível até necrose cortical focal ou total,
atividade proteolítica, causando lesões locais, destruição dependendo da quantidade de peçonha injetada e da ve-
tecidual e promovendo a liberação de substâncias hipoten- locidade com que ela alcança a corrente sanguínea. A pe-
soras. Ativa a cascata de coagulação induzindo sangramen- çonha botrópica é considerada hemolítica in vitro e existem
tos e incoagulabilidade sanguínea por consumo de fibri- relatos clínicos de anemia e hemólise após acidente com
nogênio. Pode causar lesão vascular direta e tem ativida- Bothrops, assim como relatos de hemoglobinúria após in-
de hemolítica. jeção intraperitoneal de peçonha botrópica em ratos. É
Mais de 100 casos de IRA após picada de Bothrops fo- possível que a hemoglobinúria contribua para a gênese da
ram descritos na literatura. A prevalência de IRA causada lesão renal neste tipo de acidente ofídico, agravando a
por acidente botrópico varia de 2 a 10%, dependendo da vasoconstrição renal e a coagulação glomerular ou causan-
série estudada. Deve-se ressaltar que todos os estudos re- do nefrotoxicidade tubular. O sistema calicreína-cinina é
portando as freqüências de IRA são retrospectivos, e utili- considerado um dos responsáveis pela modulação do tô-
474 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

nus vascular intra-renal, e quedas da sua atividade têm e ausência de hemoglobinúria) em pacientes picados por
sido encontradas em IRA experimental. O achado de re- Crotalus.
dução significativa de sua atividade após a injeção de pe- IRA é a principal complicação deste acidente. Apesar do
çonha pode estar relacionado a excesso de consumo na acidente crotálico ser aproximadamente 10 vezes menos
tentativa de contrabalançar a vasoconstrição renal e/ou freqüente do que o botrópico, o número absoluto de casos
destruição das células tubulares distais onde o sistema se de IRA reportados na literatura com os dois gêneros de
localiza, e provavelmente está relacionado à queda de flu- serpente é semelhante. A lesão renal pode surgir horas após
xo plasmático renal observada. O fato de a peçonha ser de a picada, é freqüentemente oligúrica e dependente de diá-
excreção renal, a precocidade e a alta prevalência de IRA lise e é considerada a principal causa de óbito nestes paci-
após acidente botrópico sugerem a possibilidade de ação entes. A alteração histológica mais comum é necrose tubu-
nefrotóxica direta do veneno. De fato, a adição da peçonha lar aguda, porém casos de nefrite intersticial foram descri-
botrópica à suspensão de túbulos proximais provoca toxi- tos por nosso grupo. Estudo experimental recente do nos-
cidade tubular direta significativa. Esta nefrotoxicidade so laboratório mostrou que os mecanismos de lesão renal
direta foi prevenida pelo acréscimo prévio ou simultâneo da peçonha são rabdomiólise, toxicidade tubular direta e
de soro antibotrópico à suspensão de túbulos proximais. provavelmente vasoconstrição. Este mesmo estudo de-
monstrou que desidratação agrava e expansão do volume
extracelular atenua a nefrotoxicidade da peçonha.
Pontos-chave: A prevalência reportada de IRA após acidente crotáli-
• Responsável pela maior parte dos acidentes co em estudos retrospectivos é elevada, variando de 9 a
com serpentes peçonhentas no Brasil 31%. Em um estudo retrospectivo, idade avançada e inter-
valo de tempo mais longo entre o acidente e o atendimen-
• IRA precoce e grave (prevalência real?)
to médico foram identificados como fatores de risco para
• Casos documentados de necrose cortical
desenvolvimento de IRA. Os mesmos autores acharam que
• Mecanismos de lesão: isquemia glomerular, para pacientes maiores de 40 anos mialgia e face neurotóxi-
hemólise e nefrotoxicidade direta ca foram fatores preditivos de falência renal. Estudo pros-
• Proteção: soro antiofídico? pectivo recente de nosso grupo encontrou aproximadamen-
te 25% de prevalência de IRA após acidente crotálico. Os
fatores de risco identificados para o desenvolvimento de IRA
Crotalus
foram demora em receber o soro antiofídico, menor super-
As serpentes do gênero Crotalus são responsáveis por
fície corpórea e nível sérico de CPK. As medidas clássicas
aproximadamente 9% dos acidentes ofídicos em nosso
de proteção à função renal contra rabdomiólise, como ex-
meio. A sua peçonha é considerada a mais tóxica entre as
pansão do volume extracelular e uso de manitol endoveno-
serpentes brasileiras, com letalidade de 72% nos casos não
so, devem ser empregadas neste tipo de acidente.
tratados e de 5% nos casos onde houve soroterapia.
A peçonha das Crotalus sul-americanas difere bastante
da de suas congêneres norte-americanas, as rattlesnakes. Pontos-chave:
Possui diversas frações enzimáticas e várias toxinas já fo-
• Alta prevalência de IRA
ram identificadas: crotoxina, crotamina, giroxina, convul-
sina, etc. A peçonha é neurotóxica, pode causar incoagu- • Mecanismos de nefrotoxicidade:
labilidade sérica por consumo de fibrinogênio decorrente rabdomiólise, vasoconstrição e toxicidade
de sua ação coagulante, quase não produz lesão local e tubular
possui forte atividade miotóxica sistêmica, causando rab- • Fatores de risco para lesão renal:
domiólise generalizada. Há destruição preferencial das fi- desidratação, demora em receber o soro
bras musculares do tipo 1, ricas em mioglobina, causando antiofídico, menor superfície corpórea e
mioglobinúria e alterações da cor da urina. A peçonha é grau de rabdomiólise
também hemolítica in vitro, e durante muito tempo o apa- • Medidas de proteção: soroterapia precoce,
recimento de urina vinhosa e reação de benzidina positi- em quantidade adequada, expansão do
va urinária após acidente crotálico foi atribuído à hemo-
volume extracelular e manitol
globinúria. No entanto, tanto a alteração de cor da urina
como o teste da benzidina são inespecíficos, podendo ocor-
rer indiferentemente com mio- ou hemoglobinúria. Em ARTRÓPODES PEÇONHENTOS
1987, Azevedo-Marques e col. comprovaram a ocorrência IRA tem sido descrita após acidentes com múltiplas pi-
de miólise (mioglobina positiva no sangue e urina, eleva- cadas de vespas ou abelhas. O aparecimento das abelhas
ção de enzimas e biópsia muscular) na ausência de hemó- “africanizadas” em 1957 tornou este tipo de acidente mais
lise (hemoglobina livre e haptoglobina plasmática normais comum. Apesar da composição da peçonha das abelhas
capítulo 24 475

européias e africanas ser semelhante, estas atacam em gran- lação entre a gravidade dos fenômenos locais e a hemóli-
de número, com provocações mínimas e com grande in- se. Pacientes com lesões cutâneas pouco intensas podem
tensidade e persistência. O quadro clínico dependerá da apresentar hemólises graves e IRA, que é a principal cau-
quantidade de peçonha injetada e afeta vários órgãos e sis- sa de mortalidade nestes acidentes.
temas. Podem ocorrer hemólise intravascular, rabdomió-
lise, lesão hepática, plaquetopenia, coagulopatia, sangra-
mentos, alterações cardiovasculares e pulmonares e insu-
ficiência renal aguda. A peçonha contém, entre outras subs-
NEFROPATIAS
tâncias, melitina, histamina, hialuronidase, apamina, fos- TUBULOINTERSTICIAIS
fatase ácida e fosfolipase A2. Mais de 50% do peso seco da
peçonha é melitina, que tem ação sinérgica com a fosfoli- Introdução
pase A2 e provoca hemólise e miólise. Estudos experimen-
Infiltrados intersticiais têm sido relacionados a drogas,
tais mostraram que a etiopatogenia da lesão renal está re-
infecções ou nefropatias primárias. A história das nefropa-
lacionada a mioglobinúria, vasoconstrição renal e nefroto-
xicidade direta da peçonha. Nos casos onde foi realizada tias tubulointersticiais inicia-se em meados do século XIX,
a histologia renal a lesão encontrada foi necrose tubular quando o compartimento tubulointersticial foi reconheci-
aguda. do anatomicamente como parte da estrutura renal. Em
As lagartas das mariposas do gênero Lonomia podem 1898, descreveu-se pela primeira vez um caso de nefrite in-
provocar acidentes caracterizados por distúrbios de coa- tersticial aguda (NIA), e em 1914 as nefrites intersticiais ga-
gulação, levando a síndromes hemorrágicas. A peçonha nhavam seu espaço na classificação das doenças renais. Na
provoca fibrinólise direta e/ou ativação do sistema de co- década de 40, a expansão do uso de antibióticos chamou a
agulação com ação semelhante ao fator X ativado ou à ca- atenção para as nefrites intersticiais por drogas, e em 1953
licreína. No Brasil, os acidentes foram descritos inicialmen- houve o reconhecimento da nefropatia por analgésicos.
te na região norte, com mortalidade de até 38%, e mais Desde então, o número de drogas envolvidas na gênese de
recentemente nas regiões sul e sudeste do país. O contato nefropatias tubulointersticiais aumentou de forma alar-
com os espinhos ou com a hemolinfa das lagartas provoca mante. A etiologia da lesão tubulointersticial tem sido
reação local imediata e horas após surgem os fenômenos melhor compreendida recentemente. Nas últimas décadas
hemorrágicos, de gravidade variável. Em 1990, descreveu- acumularam-se evidências, principalmente experimentais,
se pela primeira vez a ocorrência de IRA reversível após mostrando a importância da imunidade celular na produ-
acidente com Lonomia. Posteriormente, os mesmos autores ção de inflamação e lesão intersticial primária ou secundá-
relataram 18% de IRA em 33 indivíduos expostos à Lono- ria a eventos glomerulares. Sabe-se hoje que agressões tó-
mia obliqua na região sul do Brasil. O quadro clínico da IRA xicas ou infecciosas ao interstício são associadas a proces-
incluiu anúria e necessidade de diálise durante 20 dias. No sos imunológicos caracterizados pela presença de infiltra-
grupo com IRA a mortalidade foi de 50%, ao contrário da do mononuclear que produz citoquinas e outros mediado-
mortalidade de 4% no grupo com função renal preserva- res de amplificação da inflamação. Desta agressão inicial
da. Em 1995, tivemos a oportunidade de atender, no Gru- pode resultar lesão crônica irreversível, caracterizada por
po de IRA do Hospital das Clínicas, São Paulo, paciente que fibrose intersticial e atrofia tubular, e evolução para insu-
desenvolveu anúria horas após contato maciço com lagar- ficiência renal crônica terminal.
tas do gênero Lonomia. Este paciente tinha função renal A falta de correlação entre lesão glomerular e disfunção
normal previamente ao acidente, não apresentou em ne- renal tem sido constatada há tempos. Em patologias onde
nhum momento hipotensão e não fez uso de drogas nefro- o glomérulo é o alvo inicial (glomerulonefrite membrano-
tóxicas. O seu quadro de IRA foi arrastado, necessitando sa e nefrite lúpica, por exemplo), a lesão glomerular mui-
de diálise durante aproximadamente três semanas e rece- tas vezes não justifica o grau de comprometimento funci-
bendo alta 40 dias após o contato com creatinina de 1,9 mg/ onal renal. A morfologia glomerular também não guarda
dl. Biópsia renal realizada no 17.º dia após o acidente re- boa correlação com a evolução das nefropatias. Por outro
velou apenas membrana basal enrugada e espessada em lado, o grau de lesão tubulointersticial associada a estas
túbulos e glomérulos e discreta fibrose intersticial. É pos- nefropatias mostra boa correlação tanto com a gravidade
sível que, da mesma maneira que no acidente botrópico, a como com o prognóstico das doenças. No estágio inicial de
peçonha destas lagartas provoque formação de microtrom- qualquer glomerulopatia, vários grupos celulares (princi-
bos de fibrina levando a coagulação glomerular, isquemia palmente monócitos e macrófagos) e mediadores (fatores
tubular e conseqüentemente IRA. de crescimento, complemento, citoquinas, moléculas de
Aranhas do gênero Loxosceles são pequenas e pouco adesão, etc.) são ativados no interstício, levando a inflama-
agressivas. No entanto, sua peçonha pode provocar necro- ção e fibrose renal.
se tardia no local da picada, hemólise intravascular, alte- Outra importante questão relaciona-se ao mecanismo
rações no sistema de coagulação e lesão renal. Não há corre- através do qual uma lesão predominantemente tubuloin-
476 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

tersticial leva à queda da filtração glomerular. Existem para a auto-agressão tubulointersticial a partir de determi-
várias hipóteses, que não se excluem. Pode haver obstru- nado estímulo antigênico (drogas, por exemplo) seria a
ção tubular, com aumento da pressão intratubular e que- ausência, em alguns indivíduos, deste mecanismo regula-
da “mecânica” da filtração glomerular. Outra possibilida- dor da resposta imune a antígenos “próprios”, determina-
de seria a de aumento da resistência vascular pós-glome- da geneticamente.
rular causada por edema e inflamação intersticial, levan-
do à isquemia deste compartimento. Um terceiro mecanis-
mo seria o de insuficiência tubular conseqüente a atrofia Nefrite Intersticial Aguda
tubular e inflamação intersticial causando diminuição da Os dados relativos à incidência de nefrite intersticial
absorção de solutos pelos segmentos tubulares mais com- aguda (NIA) na população são sujeitos a críticas, pois pro-
prometidos e conseqüente diminuição do gradiente osmó- vêm na maioria das vezes de levantamentos retrospectivos.
tico renal, queda da reabsorção tubular de água e forma-
Na investigação de nefropatias inespecíficas (hematúria ou
ção de urina hipoosmolar. Esta insuficiência tubular seria
proteinúria), o diagnóstico histológico de NIA é raro. No
“compensada” por queda da filtração glomerular.
entanto, quando o grupo avaliado é de pacientes com in-
suficiência renal aguda, esta incidência é de aproximada-
Mecanismos de Lesão Tubulointersticial mente 15%. Por outro lado, é interessante notar que até 25%
dos pacientes com insuficiência renal crônica têm como
A maior parte das informações existentes sobre os me- diagnóstico nefrite intersticial crônica, confirmando o dado
canismos de lesão tubulointersticial é oriunda de trabalhos anterior.
experimentais que utilizam diversos modelos de nefrite Existem diversos fatores etiológicos para NIA, porém a
tubulointersticial aguda. Os mais comuns são aqueles de causa mais importante é sem dúvida o uso de drogas. Os
imunização com antígenos homólogos ou heterólogos da antibióticos beta-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas), a
membrana basal tubular. Outros modelos utilizam-se da rifampicina, as sulfonamidas, as quinolonas, a fenitoína, o
imunização com proteína de Tamm-Horsfall ou outros alopurinol, a furosemida, a cimetidina, o omeprazol e os
antígenos. A nefrite de Heymann, além de causar glome- antiinflamatórios não-hormonais (AINH) são as drogas
rulopatia membranosa, produz infiltrado mononuclear mais comumente implicadas, porém este grupo está sem-
intersticial. Na maioria desses modelos há predominância pre em expansão. Dentre as infecções, causas importantes
da imunidade celular, e o papel dos anticorpos é mal defi- de NIA em pediatria, as mais importantes são difteria, in-
nido ou mesmo considerado pouco importante. A etiopa- fecções estreptocócicas e infecção pelo vírus Epstein-Barr.
togenia da nefrite tubulointersticial clínica parece também Outro grupo engloba as doenças relacionadas a fenôme-
estar predominantemente relacionada a alterações da imu- nos auto-imunes como sarcoidose, síndrome de Sjögren,
nidade celular, embora o mecanismo exato e a importân-
lúpus eritematoso sistêmico, doença antimembrana basal
cia dos diferentes tipos celulares no desenvolvimento da
tubular, além de uma síndrome descrita nos últimos anos
lesão sejam desconhecidos.
composta de uveíte e nefrite intersticial. Finalmente, no
A inflamação que ocorre nas patologias tubulointersti-
grupo das NIAs idiopáticas nenhum fator etiológico pode
ciais tem como alvo antígenos renais que se tornaram
ser identificado.
nefritogênicos após um estímulo do tipo infeccioso ou tó-
xico. Assim, várias drogas podem agir como hapteno, li-
gando-se ao parênquima (células tubulares, por exemplo), MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
alterando sua estrutura e tornando-o imunogênico. Outras A apresentação clínica mais marcante é de insuficiên-
drogas podem ter ação tóxica direta sobre estruturas inters- cia renal aguda, de gravidade variável, geralmente relaci-
ticiais, formando novos antígenos. No caso das infecções, onada a doença intercorrente ou tomada de nova medica-
provavelmente ocorre mimetismo entre a estrutura renal ção. Muitas vezes são casos de insuficiência renal aguda
e antígenos de determinados agentes infecciosos. Entretan- em que a história, manifestações clínicas e exames labora-
to, para que haja lesão imunológica o indivíduo deve per- toriais não se encaixam nos diagnósticos de IRA pré-renal,
der a tolerância aos antígenos “próprios” do parênquima necrose tubular aguda ou glomerulonefrite aguda. Nestes
renal. Assim, outro aspecto da patogênese das lesões tu- casos, o uso de biópsia renal é essencial para a realização
bulointersticiais diz respeito aos genes de resposta imune, do diagnóstico. Existem sintomas e sinais que sugerem
que estão associados à suscetibilidade às doenças. Vários NIA. No caso da NIA induzida por drogas, manifestações
trabalhos experimentais mostraram que a capacidade de cutâneas podem ocorrer em até 50% dos pacientes, febre
um antígeno desencadear resposta imune depende, den- em 75% e eosinofilia em 80%. Infelizmente, a presença
tre outras coisas, da presença e interação com moléculas desta tríade característica é rara, geralmente ocorrendo em
do complexo maior de histocompatibilidade (CMH). Por menos de 30% dos casos. Algumas vezes é relatada dor
exemplo, sabe-se que a função da célula T supressora é lombar, provavelmente relacionada a edema renal e dis-
regulada por genes do CMH. Portanto, uma explicação tensão de sua cápsula. A insuficiência renal pode ou não
capítulo 24 477

ser oligúrica, mas a fração de excreção de sódio é geralmen- dem ocorrer granulomas não-caseosos acompanhando o
te maior que 1%. Pode ocorrer hipertensão, provavelmen- infiltrado inflamatório.
te devido a hipervolemia, distúrbios hidroeletrolíticos e do
equilíbrio ácido-básico. Anormalidades tubulares graves TRATAMENTO
são mais características da nefrite intersticial crônica. O Uma vez feito o diagnóstico de NIA, a primeira medi-
exame da urina revela, na maioria das vezes, hematúria da a ser tomada é a retirada das drogas potencialmente
microscópica, leucocitúria, podendo ou não ocorrer cilin- implicadas. Em alguns casos apenas esta medida será su-
dros leucocitários, e proteinúria de pequena intensidade. ficiente para a melhora da função renal em alguns dias. Por
Eosinofilúria, demonstrada pela coloração de Hansel, pode outro lado, a transição do processo inflamatório agudo para
ocorrer, porém a presença de eosinófilos na urina não é um processo de fibrogênese pode ocorrer rapidamente,
patognomônica. Eosinofilúria pode ocorrer também na com deposição importante da matriz extracelular ocorren-
prostatite, infecções urinárias, câncer de bexiga e glome- do em até sete dias. Assim, se não houver resposta rápida
rulonefrite rapidamente progressiva. Os rins são normais da função renal à retirada do agente causal, deve-se insti-
ou aumentados de tamanho ao ultra-som, e a presença de tuir terapêutica baseada em corticosteróides e agentes ci-
hiperecogenicidade do parênquima renal sugere NIA. A totóxicos. A despeito da ausência de trabalhos prospecti-
cintilografia com gálio pode ser útil para diferenciar necro- vos e controlados avaliando o uso destas drogas na NIA
se tubular aguda de NIA, pois é negativa na primeira e em humanos, a maioria dos autores, baseados em casos
positiva na segunda patologia. Em casos de insuficiência relatados da literatura, dados experimentais e na própria
renal aguda de etiologia obscura ou quadro clínico atípi- patogênese da lesão, concorda que a terapêutica inicial com
co, a biópsia renal é fundamental para diagnóstico mais prednisona, seguida da associação com ciclofosfamida no
preciso, devido à possibilidade de NIA. Mesmo em casos caso de não haver resposta, pode trazer benefícios. Quan-
muito sugestivos de NIA, a avaliação histológica está in- do ocorre resposta com a ciclofosfamida, este tratamento
dicada, devido às suas implicações terapêuticas e prognós- deverá ser mantido por um período mais longo. Do con-
ticas. trário, poderá ser suspenso com cerca de seis semanas.
O prognóstico deste tipo de lesão depende basicamen-
te do tempo de duração da insuficiência renal precedendo
Pontos-chave: o diagnóstico e tratamento, o que se correlaciona com a
• Sinais e sintomas clínicos: uso de droga evolução da lesão histológica. Lesão tubulointersticial ati-
suspeita, IRA prolongada (mais do que va e prolongada antes do diagnóstico clínico aumenta a
quatro semanas), febre, dor articular e rash chance de evolução para fibrose intersticial irreversível.
Acredita-se que cerca de 50% dos pacientes acometidos por
cutâneo
esta patologia não recuperarão totalmente a função renal.
• Diagnóstico laboratorial: eosinofilia e
eosinofilúria
• Cintilografia com gálio positiva Nefropatia Tubulointersticial Crônica
• Diagnóstico de certeza: histologia renal
INTRODUÇÃO
Anteriormente denominada “nefrite intersticial”, “do-
PATOLOGIA ença tubulointersticial”, “nefrite tubulointersticial”, a ne-
A principal característica das NIAs é a presença de in- frite intersticial crônica é responsável por 10% a 40% dos
filtrado inflamatório intersticial, composto basicamente por casos de insuficiência renal crônica. Existem diferenças
linfócitos T, monócitos e ocasionalmente plasmócitos e regionais significantes em sua freqüência: na Bélgica, 18%
eosinófilos. Este infiltrado varia em gravidade, podendo dos pacientes com insuficiência renal crônica terminal
ser focal ou difuso. Em casos mais graves observa-se rup- (IRCT) sofrem de nefropatia por analgésicos, enquanto na
tura da membrana basal tubular. Classicamente, as célu- população européia, como um todo, a incidência é de ape-
las tubulares são agredidas por linfócitos, processo conhe- nas 3%.
cido como “tubulite”. Não existe consenso quanto ao sub-
tipo linfocitário predominante, se CD4 ou CD8, pois os PATOLOGIA
níveis destes podem variar com o decorrer da agressão. O quadro anatomopatológico da nefropatia tubuloin-
Edema intersticial acompanha o infiltrado e, excetuando- tersticial crônica (NTIC) compreende atrofia de células
se os casos relacionados a AINHs, os glomérulos são pou- tubulares com achatamento das células epiteliais e dilata-
pados da lesão. A imunofluorescência raramente mostra ção tubular, fibrose intersticial e áreas de infiltração de
imunoglobulina ou complemento. A ausência de depósi- células mononucleares no espaço intersticial e entre os tú-
tos imunes predomina nessas lesões. Em alguns casos de bulos. A membrana basal tubular encontra-se freqüente-
NIA, principalmente naqueles relacionados a drogas, po- mente espessada. O infiltrado celular constitui-se basica-
478 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

mente de linfócitos e ocasionalmente neutrófilos, plasmó- dade de concentração urinária secundária a alteração na
citos e eosinófilos. A imunofluorescência pode revelar a reabsorção de água pelo ducto coletor.
presença de C3 e imunoglobulinas ao longo da membrana
basal tubular, tipicamente em padrão linear. Nas fases ini- CAUSAS DE NEFROPATIA
ciais da NTIC o glomérulo permanece normal à microsco- TUBULOINTERSTICIAL CRÔNICA
pia óptica. Com a evolução da enfermidade podem ser
detectadas fibrose glomerular, esclerose segmentar e por Drogas
fim esclerose global. À imunofluorescência a coloração do Diversas drogas tais como ciclosporina, cisplatina, lítio,
glomérulo é freqüentemente negativa, e excepcionalmen- nitrosuréias e antiinflamatórios não-hormonais podem ser
te encontram-se C3 e imunoglobulina M no segmento responsabilizadas pelo aparecimento de NTIC.
mesangial. Pequenas artérias e arteríolas mostram espes- ANALGÉSICOS. O consumo excessivo e continuado de
samento fibrointimal de grau variável. analgésicos tem sido associado ao desenvolvimento de
NTIC e necrose de papila renal. Geralmente os pacientes
QUADRO CLÍNICO E LABORATORIAL ingerem cumulativamente mais do que 3 kg de analgési-
Geralmente os pacientes com NTIC apresentam-se com cos-antipiréticos até que o diagnóstico seja feito. Este é de
os sintomas sistêmicos da doença primária, ou com sinto- grande importância, já que a interrupção do uso das dro-
mas inespecíficos de insuficiência renal, tais como fraque- gas poderá retardar ou mesmo impedir a progressão da
za, náuseas, vômitos, nictúria, poliúria, isostenúria e dis- doença renal. A incidência de nefropatia por analgésicos
túrbios do sono. Em alguns casos os exames de rotina apre- varia nos diferentes países e entre diferentes áreas geográ-
sentam anormalidades no sedimento urinário e/ou eleva- ficas. Na Escócia, Bélgica e Austrália, por exemplo, é res-
ção da creatinina sérica. ponsável por 10% a 20% dos casos de IRC terminal.
Pode haver envolvimento vascular e glomerular na A nefropatia por analgésicos acomete mais freqüente-
NTIC, mas nos estágios iniciais da doença estas manifes- mente (5 a 7 vezes mais) as mulheres do que os homens.
tações (refletidas como proteinúria e hipertensão) são pou- Tipicamente, são pacientes que ingerem analgésicos para
co importantes, predominando as disfunções tubulares. cefaléia, dores articulares inespecíficas e desconforto ab-
Nos estágios avançados da doença, com o surgimento da dominal. As manifestações clínicas englobam nictúria, pi-
glomerulosclerose, há declínio progressivo da filtração úria estéril e hipertensão. A anemia pode estar presente
glomerular (FG), desenvolvimento de proteinúria glome- como manifestação da IRC ou devido a úlcera péptica.
rular e hipertensão volume-dependente. Quando compa- Ansiedade e distúrbios neuropsiquiátricos são freqüentes.
radas às glomerulonefrites, as nefropatias tubulointersti- Estes pacientes têm maior incidência de neoplasias
ciais apresentam hipertensão menos grave, menor veloci- uroepiteliais, portanto surtos de hematúria devem ser in-
dade de perda da função renal e menor formação de ede- vestigados com maior profundidade. Geralmente é neces-
ma. sário haver associação de analgésicos (aspirina, acetami-
A sintomatologia específica das NTIC varia de acordo nofen, fenacetina, cafeína ou codeína) para que ocorra a
com a porção do néfron acometida. Na acidose tubular nefropatia, porém existem relatos onde apenas o acetami-
renal proximal por exemplo (tipo II), pode ocorrer disfun- nofen estava envolvido. O acetaminofen (um metabólito
ção na reabsorção do bicarbonato pelo túbulo proximal, hepático da fenacetina) apresenta grandes concentrações
geralmente associada a hipopotassemia, em decorrência da na papila renal, principalmente em situação de antidiure-
perda de potássio pelo néfron distal. Na síndrome de Fan- se. Posteriormente, é metabolizado pelo rim para vários
coni, que é caracterizada por disfunção generalizada do metabólitos que podem ter sua ação potencializada pela
túbulo proximal, há prejuízo na absorção de bicarbonato, ação de outros analgésicos, tais como aspirina, e outros
potássio, fósforo, aminoácidos, glicose e ácido úrico. Pro- antiinflamatórios não-hormonais.
teinúria constituída basicamente por proteínas de baixo As alterações histológicas da nefropatia por analgésicos
peso molecular pode refletir disfunção tubular proximal são inespecíficas e comuns a todas as formas de NTIC. Os
na absorção de proteínas filtradas. O acometimento do rins geralmente são contraídos e necrose de papila pode
néfron distal pode manifestar-se por acidose tubular renal ou não estar presente.
distal (tipo I), resultante de um defeito na acidificação LÍTIO. O lítio pode desencadear várias alterações renais,
acompanhada de hipopotassemia, ou pelo quadro de aci- incluindo NTIC. Diabetes insipidus nefrogênico e alteração
dose tubular renal do tipo IV causada pela resistência do da capacidade de concentração renal, acidose tubular re-
néfron distal à aldosterona ou hipoaldosteronismo hipor- nal incompleta, doença tubulointersticial progressiva, mi-
reninêmico, caracterizado por hiperpotassemia e acidose crocistos em túbulo distal e insuficiência renal aguda são
metabólica desproporcionalmente graves em relação ao as principais lesões renais provocadas por esta droga.
grau de acometimento da função renal. Pode-se também A alteração na capacidade de concentração urinária é
encontrar perda renal de sódio em decorrência de altera- complicação que ocorre em 50% dos pacientes após tera-
ção da reabsorção distal do néfron e alteração na capaci- pêutica prolongada com lítio. O lítio inibe a adenilciclase
capítulo 24 479

e portanto diminui a concentração de AMP cíclico, que é o O EDTA tem sido recomendado como opção terapêuti-
segundo mensageiro na ação do ADH. Cerca de 20% dos ca. Em alguns pacientes pode interromper ou mesmo re-
pacientes desenvolvem poliúria. Lesão tubulointersticial, verter a progressão da insuficiência renal.
principalmente dilatação tubular distal e microcistos, são Cádmio. O cádmio é muito utilizado nas indústrias,
observadas em pacientes que recebem terapêutica com lítio principalmente por trabalhadores de fundições. A sua ab-
a longo prazo, porém não se pode descartar a possibilidade sorção ocorre tanto por via gastrintestinal como pelo trato
de que estas lesões já existiam anteriormente ao tratamen- respiratório. Quando absorvido, sua meia-vida excede 10
to. A ação do lítio sobre a filtração glomerular é controver- anos. No organismo acumula-se nos rins e no fígado. No
sa. Cerca de 85% dos pacientes submetidos à droga apresen- fígado liga-se a uma proteína rica em cistina (metalotione-
tam filtração glomerular normal e apenas 15% apresentam ína) e é transportado pela corrente sanguínea para os rins,
alterações discretas da função glomerular após 10 a 15 anos onde o complexo cádmio-metalotioneína é nefrotóxico.
de tratamento. A toxicidade do lítio é dose-dependente, Adentra as células tubulares proximais por pinocitose,
portanto a monitorização dos seus níveis séricos é impor- acumulando-se nos lisossomos. A concentração do cádmio
tante na prevenção de toxicidade aguda e desenvolvimen- na corrente sanguínea cai rapidamente em decorrência da
to de alterações na capacidade de concentração urinária. O sua deposição hepática. A excreção urinária não aumenta
manuseio renal do lítio é muito semelhante ao do sódio. Os até que o limiar cortical renal de 100 a 300 ng/g de córtex
seus níveis séricos podem aumentar em situações de insu- seja atingido, o que corresponde grosseiramente a 160 a 170
ficiência renal, uso de diuréticos, desidratação e administra- mg de cádmio absorvido. A excreção urinária de 20 µg/L
ção de antiinflamatórios não-hormonais. ou 10 µg/g de creatinina significa excesso de cádmio cor-
METAIS PESADOS. Chumbo e cádmio são os metais poral, mesmo com concentrações sanguíneas normais.
pesados mais comumente relacionados ao desenvolvimen- Clinicamente a disfunção tubular causada por este me-
to de NTIC. Arsênico, bário, bismuto, cobre, ouro, mercú- tal caracteriza-se por aminoacidúria, glicosúria, acidose
rio e silicone também têm sido incriminados. tubular renal e por excreção de proteínas de baixo peso
Chumbo. A exposição ao chumbo ocorre principalmen- molecular, tais como ␤2-microglobulina. Nefrolitíase (25%
te em pintores, restauradores de arte, devido às tintas con- dos casos) e fraturas podem ocorrer. Evolução para IRC é
tendo chumbo, e picheleiros. Fontes contínuas de exposi- incomum. Em uma vila do Japão onde há contaminação
ção ocorrem em canos de água e moradias velhas, olarias, pela água e pelo arroz, ocorre dor óssea generalizada com
cristais. Atualmente as maiores fontes ambientais de po- fraturas, associadas à síndrome de Fanconi. O quadro his-
luição são a gasolina, a produção de aço e o processamen- tológico é de nefrite intersticial. Na maior parte das vezes
to de carvão de pedra. a disfunção tubular é irreversível mesmo quando o paci-
O diagnóstico do excesso de exposição é difícil, porque ente é protegido contra novas exposições.
a concentração sanguínea reflete somente a exposição re- Não há nenhum tratamento específico para a toxicida-
cente. O diagnóstico é sugerido por aumento (> 0,6 mg) na de crônica pelo cádmio.
excreção urinária de 24 horas do metal após duas doses de Ouro. Os sais de ouro, utilizados em reumatologia na
1 g do agente quelante EDTA dissódico (nesta dose o EDTA terapêutica da artrite reumatóide, podem produzir síndro-
não é nefrotóxico). O valor do teste é maximizado quando me nefrótica. A prevalência de proteinúria, geralmente
comparado com níveis basais de excreção urinária. O tes- menor do que 3 g diários, em pacientes tratados com ouro
te também pode ser usado em pacientes com insuficiência é de 3%. A lesão mais freqüentemente encontrada é glo-
renal: quando oligúricos, recomenda-se um período de merulopatia membranosa, porém lesões mínimas e depó-
coleta de vários dias. A fluorescência ao raio X, in vivo, é sitos elétron-densos endoteliais e mesangiais também po-
alternativa não-invasiva para quantificar o chumbo nos dem ocorrer. Em análises ultra-estruturais podemos encon-
ossos, especialmente nos pacientes com IRC. trar o metal em células tubulares. A interrupção de sua
A patogênese da nefropatia pelo chumbo não está es- administração leva ao desaparecimento da proteinúria,
clarecida. O metal é depositado preferencialmente no seg- geralmente no prazo de 6 a 12 meses.
mento S3 do túbulo proximal. Inclusões nucleares dentro A patogênese da nefropatia induzida pelo ouro é des-
das células tubulares proximais são característica da nefro- conhecida. Proteinúria tubular, ␤2-microglobulinúria e
patia por chumbo. Funcionalmente observam-se alterações excreção de antígenos tubulares são comuns nos pacien-
da função tubular proximal (principalmente em crianças), tes que recebem sais deste metal. Animais de experimen-
com defeito tubular isolado ou como síndrome de Fanco- tação expostos a sais de ouro por via parenteral desenvol-
ni. Estas alterações são potencialmente reversíveis, sendo vem NTI auto-imune e glomerulopatia por imunocomple-
incomum a evolução para IRC em crianças. Em adultos a xos com anticorpos para antígeno de células tubulares e
nefropatia pelo chumbo é caracterizada por nefrite inters- membrana basal tubular. A nefrotoxicidade por ouro está
ticial crônica, com fibrose intersticial, atrofia e nefroscle- fortemente associada aos antígenos de histocompatibili-
rose. Há freqüentemente gota recorrente e a maioria dos dade HLA-DR3 e HLA-B8, sugerindo ligação genética
pacientes tem hiperuricemia e hipertensão. para a doença. É interessante o fato de que a glomerulo-
480 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

patia membranosa idiopática também está associada ao Oxalato. As hiperoxalúrias podem ser primárias ou se-
HLA-DR3. cundárias. A hiperoxalúria primária consiste em enfermida-
DOENÇAS METABÓLICAS. Alterações no metabolis- de autossômica recessiva de ocorrência rara, caracterizada
mo do oxalato, urato, cálcio, potássio e cistina são aponta- por deficiência das enzimas hepáticas alanina, glioxilato
dos como causas de NTIC. aminotransferase e D-glicerato desidrogenase, acompanha-
Uratos. Embora a nefropatia aguda e a nefrolitíase por das por superprodução de oxalato. O quadro clínico inclui
ácido úrico sejam complicações conhecidas, é muito pou- acúmulos renais e sistêmicos de oxalato, nefrocalcinose,
co provável que hiperuricemia crônica leve ou moderada obstrução tubular e nefropatia tubulointersticial crônica. A
provoque insuficiência renal crônica. A função renal é ge- oxalose sistêmica é invariavelmente fatal. Na hiperoxalúria
ralmente estável em pacientes gotosos assintomáticos, e a primária a IRC se desenvolve por volta dos 20 anos de ida-
ocorrência de insuficiência renal nesta população é usual- de. A forma secundária ocorre em adultos e geralmente tra-
mente relacionada a algum fator complicante, como diabe- duz aumento da absorção de oxalato da dieta (má absorção
tes mellitus, hipertensão ou arteriosclerose. A principal le- de gorduras e ressecção do intestino delgado) ou grande
são renal da hiperuricemia crônica é o depósito de materi- ingestão de substâncias que posteriormente são metaboli-
al amorfo de cristais de urato no interstício renal. Estas zadas para oxalato (xilitol, etileno glicol, ácido ascórbico).
lesões desencadeiam reação de células gigantes. Pode ocor- A lesão geralmente inicia-se no túbulo proximal, onde a
rer precipitação de cristais de ácido úrico no ducto coletor, substância é secretada, porém é mais grave na medula, onde
com conseqüente obstrução tubular, dilatação, atrofia e ocorre precipitação de oxalato de cálcio. Nefrolitíase recor-
fibrose intersticial. Em acompanhamentos prolongados, rente por cálculos de oxalato de cálcio também contribui
disfunção renal pode ser documentada apenas em homens para o desenvolvimento de NTIC, por causar obstrução.
que mantinham níveis séricos persistentemente elevados Hipercalcemia e Nefrocalcinose. A hipercalcemia per-
acima de 13 mg/dl e em mulheres com níveis séricos aci- sistente promove degeneração focal e necrose do epitélio
ma de 10 mg/dl. O tratamento com alopurinol em pacien- tubular, afetando primariamente a medula renal onde o
tes assintomáticos com níveis séricos inferiores a estes é cálcio é concentrado em um meio tubular ácido. Os túbu-
bastante discutível, pois a droga não é inócua. Atenção los acometidos se atrofiam e tornam-se obstruídos, com
especial deve ser dada aos pacientes com hipertensão, hi- conseqüente dilatação. A subseqüente calcificação e des-
peruricemia e disfunção renal que apresentam história truição da membrana basal tubular resulta em reação in-
pregressa de exposição ao chumbo. filtrativa e proliferativa no interstício adjacente. O depósi-
Cistinose. É uma rara alteração autossômica recessiva to de cálcio nas áreas lesadas resulta em nefrocalcinose. A
caracterizada por acúmulo excessivo de cistina em múlti- nefrocalcinose pode também ocorrer em situações de nor-
plos órgãos, incluindo o rim. A cistina acumula-se princi- mocalcemia e é basicamente um fenômeno medular. Ne-
palmente dentro dos lisossomos devido a um defeito no frocalcinose cortical pode ocorrer, usualmente em associ-
transportador da cistina lisossomal. Há vários tipos de cis- ação com glomerulonefrites crônicas ou outras formas de
tinose, sendo o envolvimento renal mais grave na forma doença renal crônica, onde o produto cálcio-fósforo encon-
infantil, com menor gravidade na forma intermediária tra-se continuamente elevado. O tratamento é dirigido à
(adolescente) e inexistente na forma adulta. As crianças são doença de base e à normalização do cálcio sérico.
normais ao nascimento e o diagnóstico geralmente é feito Depleção de Potássio. A hipopotassemia associada com
no primeiro ano de vida pela detecção de defeito tubular a depleção do potássio total corporal, seja por perdas gas-
proximal que precede a diminuição da filtração glomeru- trintestinais ou renais, pode levar a alterações histológicas
lar e geralmente manifesta-se por síndrome de Fanconi, no rim, principalmente no túbulo proximal. Estas lesões são
raquitismo e retardo de crescimento. A evolução para a caracterizadas por vacuolização, presença intracitoplasmá-
IRCT é inevitável, ocorrendo nas primeiras décadas de tica de grânulos PAS-positivos e cistos na medula renal. As
vida. O diagnóstico é feito pelo achado de depósitos de anormalidades desaparecem com a reposição de potássio.
cristais de cistina na córnea e pelo aumento do conteúdo Há defeito na concentração urinária, que provém em par-
de cistina nos leucócitos. A cistinose é tratada pela reposi- te da resistência ao ADH. Aumentos na síntese de trom-
ção de fluidos, correção das alterações eletrolíticas e uso boxane podem explicar a diminuição do fluxo sanguíneo
de cisteamina. A cisteamina atravessa a barreira dos lisos- renal. Demonstrou-se experimentalmente que a ativação
somos, liga-se à cisteína e este complexo deixa os lisosso- da via alternada do complemento pela amônia pode inici-
mos pelo sistema de transporte de aminoácidos catiôni- ar e sustentar a resposta inflamatória e lesão tubulointers-
cos. O transplante renal permite prolongar a sobrevida ticial. A progressão para IRC tem sido descrita em pacien-
dos pacientes. Ocorre comprometimento de outros ór- tes com hipopotassemia sustentada.
gãos, podendo haver disfunção hepática importante. DOENÇAS HEMATOPOIÉTICAS. As principais en-
Após o transplante a cistina reaparece no interstício po- fermidades hematopoiéticas associadas a NTIC são a ane-
rém não em células tubulares e não compromete a fun- mia falciforme, a discrasia de células plasmáticas e as do-
ção do enxerto. enças linfoproliferativas.
capítulo 24 481

Anemia Falciforme. A lesão é mais comum na anemia ca sintomas clínicos significantes. As manifestações linfo-
falciforme, porém pode ser encontrada também nos por- matosas envolvendo o rim incluem obstrução urinária e
tadores do traço falciforme, anemia falciforme com doen- complicações resultantes da lise tumoral. A infiltração do
ça da hemoglobina C e talassemia. A hemoglobina S tende rim por células malignas ocorre basicamente no interstício
a se polimerizar em ambiente com baixa saturação de oxi- e resulta em atrofia tubular com preservação do gloméru-
gênio, pH ácido e hipertônicos, como o encontrado na re- lo, mimetizando o quadro de NTIC. São mais comuns em
gião medular renal. Com isso, eventos oclusivos ocorrerão doenças linfoproliferativas, especialmente em linfoma não-
nos vasos medulares levando à NTIC, principalmente na Hodgkin e leucemias linfoblásticas. As leucemias podem
medula renal. Necrose de papila também é relativamente provocar disfunção tubular proximal e manifestar-se por
comum na anemia falciforme. Os pacientes apresentam acidose tubular renal tipo II ou síndrome de Fanconi.
defeitos tubulares, particularmente deficiência de concen- Hemoglobinúria Paroxística Noturna. A hemoglobinú-
tração urinária e acidose tubular renal do tipo IV. A evo- ria paroxística noturna é uma rara doença hemolítica na
lução para IRC é rara, mas pode ser prevista pelo desen- qual a deficiência de duas proteínas da membrana tornam
volvimento de proteinúria e hipertensão refletindo glome- os eritrócitos sensíveis à lise mediada pelo complemento.
rulopatia concomitante. A hemólise intravascular leva a hemoglobinemia e hemo-
Discrasias de Células Plasmáticas. A patogênese do globinúria, que em alguns casos pode provocar insuficiên-
envolvimento renal na discrasia de células plasmáticas tem cia renal aguda. Esses pacientes são suscetíveis a desenvol-
origem variada. Insuficiência renal aguda e crônica são ver microtrombos e necrose de papila. A histologia mos-
comuns em pacientes com mieloma múltiplo e podem ser tra doença tubulointersticial, com quantidades variáveis de
atribuídas à interação de múltiplos mecanismos, incluin- hemossiderina no túbulo proximal. Pode ocorrer evolução
do nefropatia de cilindros (“rim do mieloma”), depleção para IRC.
de volume, hipercalcemia, nefrocalcinose e nefropatia por DOENÇAS IMUNOLÓGICAS. A NTIC ocorre em di-
ácido úrico. O acometimento renal ocorre em 50 a 70% dos versas doenças sistêmicas, tais como lúpus eritematoso
pacientes com mieloma múltiplo e pode apresentar-se an- sistêmico, síndrome de Sjögren, amiloidose, crioglobuline-
tes mesmo das manifestações extra-renais. mia, nefropatia por IgA e na síndrome de imunodeficiên-
As complicações renais do mieloma incluem insuficiên- cia adquirida (AIDS). O mecanismo de lesão intersticial não
cia renal aguda, defeitos tubulares tais como alteração da está claramente compreendido, embora existam evidênci-
acidificação ou síndrome de Fanconi, síndrome nefrótica as clínicas e experimentais de que o mecanismo é imune-
secundária a amiloidose ou glomerulopatia de cadeia leve mediado. No lúpus, na crioglobulinemia e na síndrome de
e insuficiência renal crônica progressiva pelo chamado Sjögren, encontram-se imunocomplexos consistindo em
“rim do mieloma”. A insuficiência renal aguda é desenca- depósitos granulares constituídos por IgG e C3 deposita-
deada pela desidratação ou hipercalcemia. A amiloidose dos no interstício, de significado desconhecido. No lúpus
ocorre em 15% dos pacientes. O “rim do mieloma” é ca- também têm sido encontrados depósitos de DNA na mem-
racterizado por cilindros intratubulares com obstrução e brana basal tubular, ao redor dos capilares peritubulares
atrofia tubular, fibrose e células gigantes multinucleadas. e no interstício. A proteína de Tamm-Horsfall pode estar
Nefrocalcinose pode estar presente. Os cilindros tipicamen- implicada em certas formas de NTI clínica. Anticorpos
te apresentam proteína de Tamm-Horsfall e de cadeias le- contra essa proteína têm sido encontrados no soro de pa-
ves. A disfunção renal origina-se na obstrução tubular e no cientes com refluxo vesicoureteral, pielonefrite e no inters-
efeito tóxico direto das proteínas de Bence Jones. A toxici- tício de pacientes com nefrite hereditária, hidronefrose e
dade da cadeia leve depende do tipo, do peso molecular, doença cística medular. Em certas formas de doenças imu-
da carga filtrada e da carga elétrica. O diagnóstico deve ser nológicas tais como síndrome de Goodpasture, doença
suspeitado em pacientes com idade acima de 50 anos que tubulointersticial crônica, lúpus eritematoso sistêmico e
venham a apresentar disfunção renal e proteinúria inex- rejeição de transplante, têm sido encontrados anticorpos
plicada. Outros achados sugestivos incluem hipercalcemia contra a membrana basal tubular. Encontramos infiltrado
e diminuição do anion gap. O diagnóstico é embasado no celular intersticial constituído principalmente por células
encontro de cadeias leves na urina e no soro e confirma- T e, em menos de 20%, por células B. Este perfil celular
ção do aumento de células plasmáticas na medula óssea. sugere lesão imunológica mediada por células. Diversas
O tratamento deve ser dirigido contra a depleção de volu- evidências clínicas e experimentais valorizam o papel do
me e a hipercalcemia, combinado com a quimioterapia e infiltrado celular na progressão da doença através de cito-
plasmaférese. A diálise está indicada para a insuficiência quinas, autacóides e fatores de crescimento que iniciam e
renal, e um certo número de pacientes pode apresentar perpetuam a lesão.
recuperação funcional. INFECÇÕES. O conceito clássico de que a pielonefrite
Doenças Linfoproliferativas. Embora o envolvimento crônica com alteração da função renal ocorria em conse-
renal ocorra em 40 a 50% dos casos de leucemias e linfo- qüência de surtos de pielonefrite aguda, infeccões urinári-
mas em análise de material de autópsia, raramente provo- as recorrentes e bacteriúria assintomática carece atualmen-
482 Nefropatia Tóxica e Tubulointersticial

te de subsídios relevantes. A NTIC encontrada nesses pa- mia ocorre em 10% a 20% dos pacientes, enquanto a hiper-
cientes (geralmente crianças ou adultos jovens), parece calciúria ocorre em 60% deles. Esta anormalidade ocorre
muito mais relacionada a refluxo vesicoureteral ou a ou- em decorrência de excesso de 1,25-diidroxivitamina D3
tras anomalias de desenvolvimento do trato urinário. Cabe produzida por macrófagos ativados com localização extra-
salientar que em mulheres com surtos de pielonefrite agu- renal. A hipercalcemia ou hipercalciúria está associada a
da de repetição, embora não se detecte perda funcional, nefrocalcinose e nefrolitíase, situações que predispõem a
lesões cicatriciais corticais podem ser encontradas através doença intersticial crônica e insuficiência renal. O envol-
de tomografia computadorizada. vimento renal granulomatoso, a hipercalcemia e a hiper-
OBSTRUÇÃO E ANORMALIDADES DO DESEN- vitaminose D respondem muito bem ao tratamento com
VOLVIMENTO. A obstrução do trato urinário é causa re- corticosteróides e freqüentemente ocorre completa rever-
lativamente comum de doença tubulointersticial, principal- são da insuficiência renal. Fibrose intersticial residual, ne-
mente em adultos jovens devido a anormalidades anatô- frocalcinose e cálculos renais podem prejudicar a norma-
micas ou do desenvolvimento. Em pacientes mais velhos, lização da função renal após o tratamento.
cálculo, aumento prostático e tumores pélvicos e abdomi- NEFRITE DE RADIAÇÃO. A lesão renal por radiação
nais são as causas mais comuns de uropatia obstrutiva. In- depende da dose total aplicada, do volume de rim irradi-
filtrado celular mononuclear ocorre em obstrução do tra- ado e da dose por sessão de aplicação. Estima-se como uma
to urinário superior, e nos casos mais prolongados pode dose tolerável 2.000 a 2.500 rads administrados por 3 a 5
sobrevir fibrose, atrofia e dilatação tubular. O fluxo san- semanas em todo o rim. Os rins de pacientes jovens são
guíneo renal inicialmente aumenta, porém diminui com a mais suscetíveis a lesões. As complicações da radiação in-
manutenção da obstrução, bem como a filtração glomeru- cluem desenvolvimento de insuficiência renal progressi-
lar. Os mecanismos responsáveis pelas alterações histoló- va, proteinúria, perda de sódio com contração de volume,
gicas incluem lesão por aumento da pressão tubular, isque- anemia e hipertensão. Após um ano da radiação os rins
mia, substâncias humorais liberadas pelas células infiltran- podem estar contraídos. Podem ocorrer hipertensão isola-
tes e possivelmente extravasamento da proteína de Tamm- da e proteinúria. A lesão inicial é endotelial e caracteriza-
Horsfall para o interstício. O paciente apresenta-se clini- se por edema. O endotélio lesado permite a aderência e a
camente com acidose tubular renal do tipo IV e diminui- agregação plaquetárias, que liberam substâncias inflama-
ção da capacidade de concentração urinária devido à re- tórias, mitogênicas. Conseqüente à obstrução vascular de-
sistência à ação do ADH. O diagnóstico de uropatia obs- senvolve-se atrofia tubular. Estas alterações estimulam a
trutiva pode ser confirmado pela presença de resíduo ve- produção de renina, que exacerba a hipertensão com con-
sical aumentado, constatado por cateterização vesical ou seqüente agravamento da lesão endotelial. No glomérulo
ultra-som ou pela presença de hidronefrose ao exame to- há proliferação mesangial e mesangiólise. Alterações tubu-
mográfico ou à ultra-sonografia. Pode ocorrer recuperação lares e intersticiais são geralmente seqüelas a longo prazo.
funcional após a remoção da obstrução. O refluxo vesicou- A nefrite de radiação progride lentamente para insuficiên-
reteral está associado a nefropatia tubulointersticial e pode cia renal crônica terminal. A incidência desta complicação
evoluir para insuficiência renal crônica mesmo após a sua tem diminuído em decorrência de melhora no equipamen-
correção cirúrgica. Nas fases avançadas pode apresentar to utilizado, fracionamento da dose de radiação e proteção
como complicação esclerose glomerular focal, proteinúria renal por bloqueio durante a aplicação.
de nível nefrótico e hipertensão sistêmica.

Outras Causas
NEFROPATIA ENDÊMICA DOS BÁLCÃS. É uma
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
doença endêmica, restrita geograficamente às proximida-
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