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12º SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA

Dos Objetos ao Homem: Trajetórias e Desafios


da Pesquisa Histórica de Objetos de C&T
Valéria Leite de Freitas1*
Márcio Ferreira Rangel**

Introdução:
O presente trabalho visa apresentar alguns resultados e reflexões obtidos no
projeto de pesquisa “Valorização do Patrimônio Cultural e Científico Brasileiro”2.
Em linhas gerais esta pesquisa possui como objetivo principal analisar a
natureza e o valor histórico dos objetos de ciência e tecnologia (C&T) que
compõe o acervo museológico do MAST, ampliando, assim, o conhecimento
sobre as fontes já existentes sobre a História das Ciências no Brasil
A partir do estudo da trajetória histórica de um desses objetos de C&T –
o Cromatográfico à Gás3 - foi possível registrar a trajetória de um fabricante
e também de um cientista brasileiro: Rêmolo Ciola4, um dos percussores da
cromatografia no Brasil. Este artigo também abrange algumas reflexões que
permeiam o trabalho do historiador neste tipo de pesquisa, a partir do estudo
de um objeto de ciência e tecnologia.

1
*
Possui graduação em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atual-
mente é Bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial do Museu de Astro-
nomia e Ciências Afins/CNPq .
2
**
Possui graduação em Museologia, e mestrado em Memória Social, ambos os títulos ob-
tidos pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Doutorado em História das
Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz/COC. Atualmente é Pesquisador Adjunto do Museu
de Astronomia e Ciências Afins. Professor do Mestrado em Museologia e Patrimônio da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/Museu de Astronomia e Ciências Afins.
3
Este projeto de pesquisa é desenvolvido na Coordenação de Museologia do Museu
de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCT) e financiado pelo CNPq.
4
O Cromatográfico à Gás é um instrumento de análise de compostos orgânicos
voláteis amplamente utilizado na industria química e petroquímica. O objeto foi
incorporado ao acervo do MAST, a partir da doação feita pelo Instituto de Enge-
nharia Nuclear (IEN-RJ) em 2004.
O Problema dos Objetos em Museus
Nem sempre é fácil encontrar e registrar os caminhos que os objetos
percorrem antes de chegarem aos museus. Na maioria das vezes, os profissionais
de museus se ocupam de registrar sua trajetória a partir do momento de chegada
e aqueles que ousam percorrer o caminho contrário, muitas vezes esbarram
na insuficiência de fontes ou de informações que os ajudem minimamente a
entender o seu uso. Quando conseguem ultrapassar essas barreiras, na maioria
das vezes param na história do fabricante. E muito dificilmente chegam a
conhecer a história da pessoa que o idealizou, salvo aqueles cuja biografia já é
amplamente conhecida.
Para ilustrar algumas das dificuldades que um historiador encontra ao analisar
um objeto de C&T e sua trajetória histórica a partir da sua chegada ao museu,
imagine o que aconteceria se você caminhasse por uma praia e encontrasse uma
garrafa abandonada. A resposta parece óbvia. Você provavelmente a reconheceria,
pela forma, pela textura, ou por suas características. Mas o que aconteceria se a
encontrasse no meio de outros objetos abandonados daqui a 100 anos ou mais?
Teria a mesma facilidade para identificar tal objeto? Talvez, se você reconhecesse
o objeto ou tivesse algum um conhecimento prévio sobre a sua utilização. Mas
se não possuísse tal conhecimento? Que perguntas se faria? Seria aquele objeto
capaz de revelar algumas informações sobre si? Seria possível reconstruir a sua
“história” até chegar aquele local? Se possível, a partir de que evidências? De
uma forma muito simplista, podemos comparar a situação dessa pessoa que
encontrou essa garrafa perdida, com a de muitos historiadores das ciências e
as dificuldades com as quais se deparam ao pesquisar a história dos objetos de
C&T que fazem parte das coleções de museus.
Nossa primeira dificuldade começa por definir o que é um objeto de
C&T. Se pensássemos ao nível do senso comum, poderíamos pensar em
qualquer instrumento fabricado ou utilizado no meio científico. Mas se
problematizarmos um pouco, o que poderíamos chamar de objetos de ciência
e tecnologia? Será que poderíamos englobar nessa definição algum modelo
didático construído para explicar algum princípio científico como óptica,
magnetismo, etc.? Ou será que poderíamos considerar um instrumento
científico um conta-gotas projetado e utilizado para injetar uma amostra de
líquido em uma máquina de análise? Não nos cabe aqui definir o que seja um
objeto de C&T, mas esta questão é apenas um dos exemplos das dificuldades
que temos ao tentar definir o nosso objeto de estudo.
Um outro problema que os historiadores das ciências podem encontrar na sua
pesquisa acerca dos objetos de C&T é a natureza das suas fontes. Na maioria das
2 
vezes os historiadores estão acostumados a analisar fontes textuais e, para tais, já
possuem uma ampla metodologia de trabalho. Mas, o que dizer quando nossas
fontes não são escritas? Com a exceção dos historiadores da arte que já possuem
uma metodologia própria de análise acerca das suas fontes, os historiadores em
geral, possuem uma grande dificuldade em trabalhar com documentos não
escritos. Na maioria das vezes, essa análise acaba recaindo sobre os braços dos
arqueólogos, antropólogos e museólogos de uma forma geral.
Isso talvez ocorra porque há uma grande dificuldade de analisarmos nossas
fontes, através de alguns conceitos muito amplos como, por exemplo, o de
cultura material. Sob uma abordagem da História-Cultural, a cultura material
pode ser compreendida como “os vestígios daquilo que os homens constroem,
ou seja, são os artefatos. Estes vestígios são tomados como provas concretas que
podem elucidar o funcionamento de determinada cultura”5. Assim, o artefato/
objeto6 seria tomado como “uma documentação palpável e, por isso, objetiva
para o estudo dos modos de vida”7. O verbete sobre o tema cultura material,
publicado na Enciclopédia Einaudi nos dá a idéia da amplitude deste conceito:
“(...) cultura material* é apenas uma formulação muito restritiva dos múltiplos
aspectos que compõem essa noção e não abarca a sua totalidade: a cultura
material é composta em parte, mas não só, pelas formas materiais da cultura”8.
Apesar da sua grande abrangência, de uma forma geral, aqueles que
trabalham com o conceito de cultura material parecem concordar que os
objetos carregam em si algum tipo de mensagem. O problema está em como
se inquirir esses objetos e até que ponto eles podem nos revelar algo sobre a
sua historicidade.
Ulpiano Bezerra de Meneses, em seu texto, nos fala sobre essa propriedade dos
objetos como documento, retoma um outro problema para nós historiadores:
“que tipo de informações intrínsecas podem os artefatos conter, especialmente
de conteúdo histórico?”9. O autor nos lembra que esses atributos intrínsecos
“incluem apenas propriedades de natureza físico-química, forma geométrica,
peso, cor, textura, dureza, etc., etc.”10. Contudo, esses objetos permitiriam

5
Rêmulo Ciola faleceu em 29 de julho de 2010.
6
FUNARI & CARVALHO (2009, p. 5).
7
Neste texto usaremos a palavra artefato como sinônimo de objeto embora concei-
tualmente não o sejam.
8
FUNARI & CARVALHO (2009, p. 5).
9
BUCAILLE & PESEZ (1984, p.13) .
10
MENESES (s/d, p.3).

3 
inferências à medida que são historicamente selecionados e socialmente
mobilizados pelos grupos sociais na produção e na circulação de sentido e
também “funcionariam como veículo de qualificação social“11.
Tendo em mente essas especificidades, qualquer objeto pode se tornar um
documento, isto é, suporte de informação. Se propusermos questões sobre
seus atributos, esses podem nos informar algo relativo “à sua matéria-prima
e respectivo processamento, à tecnologia e condições sociais de fabricação,
forma função, significação, etc.”12. Caberia, então, ao historiador não fazer o
documento falar - já que ele propriamente não diz nada - mas falar por ele,
explicitando seus critérios e procedimento para definir o alcance da sua fala.
No entanto, uma coisa parece certa: quando esses objetos chegam ao museu
são expropriados do seu “valor” de uso e por isso parecem não mais possuir uma
historicidade, pois estão descontextualizados. Quando um objeto é retirado
do seu contexto original ele perde seu referencial até se inserir em um novo
contexto. Deste modo, os objetos acabam adquirindo o “valor” da narrativa
das exposições em que são apresentados. Na maioria das vezes, quando um
objeto, seja ele de natureza artística, científica, histórica ou outra qualquer,
chega ao museu e passa a integrar uma coleção13, ele já percorreu diversos
caminhos que os ressignificaram de acordo com a seleção e as narrativas
propostas pelos profissionais que o escolheram como objeto representativo de
uma época, de uma forma, de um uso ou de uma sociedade.
A escolha de um objeto como “patrimônio” é, portanto uma escolha
política, pois estes objetos “são importantes portadores de mensagens e por
sua própria natureza de cultura material, são usados pelos atores sociais para
produzir significados, em especial ao materializar conceitos como identidade
nacional e diferença ética”14. Esses objetos receberam assim, um novo “valor”
que não é mais o “valor” de uso que originalmente possuíam, mais o “valor”
do conhecimento histórico, científico e do prestígio de quem os possui.15
Prestígio esse conferido tanto pelo “olhar” dos pesquisadores, como do público
que os contemplam nas exposições de museus.
11
Idem
12
Idem, p.4.
13
Idem, p.9.
14
Definimos coleção como: ”qualquer conjunto de objetos materiais ou artificiais,
mantidos temporariamente ou definitivamente fora do circuito de atividades eco-
nômicas, sujeitos a uma proteção especial e local fechado, preparado para este fim e
exposto ao olhar público.”. POMIAN (1984, p. 53).
15
Op. Cit. FUNARI & CARVALHO (2009, p.7).
4 
Sob este ponto de vista, Pedro Funari e Aline Carvalho16 deixam claro
alguns dos problemas que podemos encontrar nesse tipo de narrativas
históricas. O primeiro deles tem a ver com a maneira como estes objetos estão
expostos o que pode atribuir-lhes um peso de verdade absoluta. Algo que
não existe, pois todo objeto exposto em museus faz parte de uma narrativa.
Há também o problema de atribuirmos ao objeto o sentido de “única forma
de interpretação” sobre o assunto, esquecendo-se que a ciência trabalha com
conceitos transitórios. E por fim, pode-se apresentar uma narrativa evolutiva
da ciência que não privilegie a ciência como um processo de permanências e
descontinuidades históricas.
A solução proposta pelos mesmo autores estaria em reconhecer que todos
os objetos em museus foram selecionados a partir de uma escolha política,
tanto dos profissionais como das instituições em que estão locados. Seria
preciso reconhecer também que os paradigmas científicos são transitórios e
por isso mesmo possuem uma historicidade própria do seu tempo. Por isso
mesmo seria necessário se dialogar com a multiplicidade de saberes científicos
que poderiam existir ao mesmo tempo.
Neste trabalho não desejamos apontar uma solução para esses desafios
metodológicos, o que não é algo certamente fácil. Mas, apenas trazê-los a
atenção, à medida que nos propomos a “traçar” uma história a partir de um
objeto de C&T. Muitas vezes, esses questionamentos são “esquecidos” em
meio a outras questões epistemológicas. Porém se faz mais que necessário uma
revisão crítica da metodologia que utilizamos para “historicizar” os objetos de
C&T em museus.
A História do Objeto – A Biografia do Homem
Quando um objeto de C&T chega a um museu, certamente tal fato deve
ser comemorado. Diferentemente do que pode ocorrer com um objeto de
arte, por exemplo, o objeto de ciência e tecnologia tem uma existência muito
efêmera, afinal tende a ser substituído pelo mais moderno, mais sofisticado. A
idéia de progresso quase sempre está associada à idéia de evolução da ciência
e tecnologia. Na maioria das vezes, os objetos que chegam aos museus são o
resultado do descarte de instituições de pesquisa ou então são parte do esforço
- nem sempre fácil - de algumas pessoas que mantém com estes objetos alguma
relação de afetividade.
Normalmente quando esse objeto chega aos museus, já perdeu quase
totalmente seu referencial. Pouco se sabe sobre ele. Algumas informações
16
POMIAN (1984, p. 53).
5 
são possíveis de serem encontradas como: quem o fabricou, o modelo ou
a função. Mas quem o concebeu? Qual era a idéia por trás do “invento”
Quem o utilizou? Como era utilizado? Por quanto tempo foi utilizado?
Essas informações dificilmente acompanham o objeto. Cabe ao historiador
“garimpar” em meio a outros tipos de informações,uma bibliografia e unir as
“peças” que faltam nesse quebra-cabeça. Mas como?
No começo dos anos 2000, o Museu de Astronomia e Ciências Afins passou
por um período de questionamento com relação a sua identidade institucional.
Até então, o acervo do museu se restringia apenas aos objetos procedentes do
antigo Observatório Nacional que eram voltados principalmente para as área
de astronomia, meteorologia, geodésica. A questão era: o acervo do MAST
deveria ficar restrito a essa coleção proveniente do Observatório ou deveria ser
ampliado para dar conta de outras ciências que se desenvolveram ao longo do
século XX como as ligadas a área de Energia Nuclear?
Como uma forma de resposta a essas críticas, o MAST desde então, vem
implementando através da Coordenação de Museologia (CMU) uma política
de aquisição de objetos de C&T procedentes de instituições vinculadas ao
sistema de C&T. Essa busca por novos acervos procurava dar conta das
outras ciências que não pareciam ser privilegiadas pelo acervo herdado do
Observatório Nacional. Além disso, essas aquisições eram uma forma bastante
visível de chamar a atenção das autoridades competentes para a destruição do
“Patrimônio de C&T” no Brasil.
Em contrapartida, algumas instituições viram nessa ação, uma forma de
destinação apropriada para um tipo de material que, na maioria das vezes,
ficaria abandonado nos fundos de um laboratório ou de almoxarifados.
Outras, contudo, enxergaram nessa atitude, uma forma de proteção da
“memória” científica de sua instituição e de seus pesquisadores.
Entre as instituições que colaboram com a doação de acervos, encontra-se
o Instituto de Energia Nuclear (IEN), criado em 1962 como uma unidade da
Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEM para o desenvolvimento de
atividades relacionadas à energia nuclear. Foram doados ao MAST cerca de
300 objetos entre equipamentos fotográficos e eletrônicos.
Como parte da sua doação, o Museu de Astronomia e Ciências Afins
recebeu três objetos fabricados pela “Instrumentos Científicos C. G. Ltda.”.
Esses instrumentos eram um Cromatográfo à Gás, modelo 37 D, com dois
acessórios: um Programador Linear de Temperatura, modelo 23, e um
Regulador de Pressão. O que nos chamou atenção nesses instrumentos foi o

6 
fato de terem sido fabricados no Brasil, mais precisamente em São Paulo. Algo
que ainda não é muito comum no que se refere a instrumentos científicos de
alta precisão. Além disso, o fato de ser um objeto relativamente contemporâneo
nos instigava a querer descobrir quem o teria fabricado.
Através de uma pesquisa pela internet conseguimos entrar em contato com
alguns ex-funcionários que nos conduziram até o fabricante, representado pela
pessoa do seu diretor e também criador, o professor Dr. Rêmolo Ciola17
Rêmolo Ciola se constituiu em uma das maiores autoridades brasileiras no ramo
da cromatografia18 e catálise. Com muitos trabalhados publicados e reconhecidos
no exterior, esse cientista desenvolveu uma série de instrumentos científicos para
atender a uma necessidade prática na área de análises químicas. Esses instrumentos
foram amplamente difundidos na indústria petroquímica e também na indústria
química nacional e muitos estão em funcionamento até hoje.
A cromatografia é uma ciência que possui suas origens no início do século XX
com o biólogo Michael Tswett. A partir de seus experimentos sobre a separação
de pigmentos de plantas, ele descreveu em seus trabalhos o método pelo qual
se extrai esses pigmentos, que consistia “na passagem de um solvente através de
um tubo contendo extratos de plantas”19. O resultado obtido foi a separação
dos pigmentos em várias “bandas”.20 A esse método de “registro de cores” foi
associado a palavra cromatografia (do grego: “Kroma” + “graphia”)21.
Até a década de 1940, existiram poucos avanços para além das experiências
iniciais de Tswett. Somente em 1941 os bioquímicos Martin e Synge procuraram
melhorar esse método de separação. Para isso, desenvolveram um método de
separação de líquidos utilizando “um líquido sobre suporte inerte, com uma
fase estacionária, e um segundo líquido com uma fase móvel”22 dando origem a
“coluna cromatográfica” e também aos fundamentos da moderna cromatografia
de líquidos. Em 1952, dois químicos: James e Martim demonstraram como
17
FUNARI & CARVALHO (2009 , p.3).
18
Durante meses tentamos um contato mais direto com ele, porém por inúmeros motivos que
extrapolaram a nossa vontade esse contato não foi possível. Infelizmente o professor acabou
falecendo em 29 de julho de 2010.
19
Segundo o próprio Ciola, cromatografia “é um método físico-químico de separa-
ção, na qual os constituintes da amostra a serem separados são ‘particionados’ entre
duas fases, uma estacionária de grande área e a outra: um fluído indissolúvel que
pescola através da primeira”. CIOLA (1985, p.1)
20
Op. Cit. PACCES & outros (2009, p. 1)
21
Op. Cit. PACCES & outros (2009, p. 1)
22
Idem

7 
poderia ser utilizado um gás na fase móvel para a separação dos compostos
voláteis, iniciando uma das definições da partição em cromatografia23
promovendo assim um grande salto de qualidade nas análises.
Rêmolo Ciola nasceu na província de Trento, na Itália em 17 de junho de
1923, mas tarde, veio ao Brasil e se tornou-se cidadão brasileiro. Formou-se
em química em 1948 pela antiga faculdade de Filosofia Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo. Tornou-se “Master of Science” pela Universidade de
Northwestern, USA orientado por Robert L. Burwell. Foi Professor Assistente
de Química nos anos de 1951-1958 no Instituto de Tecnologia Aeronáutica
(ITA) em São José dos Campos.
A idéia de construir um Cromatógrafo surgiu por volta do ano de
1956, segundo Ivo Gregori,24 sobrinho de Ciola, pois “havia a necessidade
de analisar um produto ou uma mistura de substância com o emprego do
sistema químico no antigo do laboratório”. De acordo com Ivo, “esse sistema
era bastante moroso e extremamente sujeito a erros pessoais, bem como era
empregado muitas vezes em diversas operações trabalhosas e complicadas”,
além de serem instrumentos de grandes dimensões .
Por volta desse mesmo ano, surgem no mercado internacional os primeiros
modelos de Cromatógrafos à Gás, que foram criados a partir dos resultados
obtidos por James e Martim como: HP, Perkin Elmer, entre outros que eram em
sua maioria de fabricação americana. Esses instrumentos possuíam um custo
bastante elevado, não estando disponíveis para a maior parte dos laboratórios
brasileiros. Acreditamos que essa situação provavelmente “incentivou” a
inventividade do Dr. Ciola. Com um “fio de platina trefilado ao nível de um
diâmetro de um fio de cabelo humano, devidamente enrolado e montado
em um bloco de aço” nascia a primeira “coluna cromatográfica”25 do país,
segundo Ivo Gregori. Pouco tempo depois, Rêmolo Ciola desenvolveu o
primeiro protótipo do Cromatografo à Gás no ITA. Mais tarde difundiu essa
tecnologia para a Universidade de São Paulo/USP, o que lhe rendeu o título
de “Pioneiro na área de Cromatografia” na América Latina.

Idem, p.2
23

Idem
24

Ivo Gregory foi também sócio de Rêmolo Ciola na Instrumentos Científicos C.


25

G..Ltda. E prestou estes esclarecimentos em uma entrevista enviada por e-mail no


dia 16 de maio de 2010.
8 
Depois de terminar seu doutorado em 196126 pela antiga Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, sob a orientação de
Heinrich Rheimboldt, Rêmolo Ciola se associa com seu sobrinho, Ivo Gregori,
recém formado no curso de engenharia do ITA e criam a empresa “Instrumentos
Científicos C. G. Ltda.” - “”Ciola e Gregori”. Na empresa, Rêmolo Ciola era o
químico/inventor e Ivo Gregori fazia o papel de “eletrônico” e “mecânico”.
Segundo Gregori, a empresa criada em 1961 tinha como objetivo “puro
e simplesmente construir Cromatógrafos à Gás, uma necessidade vital para
qualquer laboratório químico, reduzindo os tempos envolvidos nas análises
químicas, fornecendo maior precisão e confiabilidade, além de conforto nos
resultados”, além de menor custo. A primeira localização da empresa foi a
garagem do Dr Ciola, nos conta Gregori, em São José dos Campos. Ali,
durantes os anos de 1962-1963, funcionava a oficina, onde vários professores
universitários e chefes de laboratórios vinham conhecer as inovações
tecnológicas do Dr. Ciola. Com o aumento da demanda desse instrumento,
os sócios foram obrigados a contratar mais mão-de-obra e mudaram para um
local maior em 1964, ainda na mesma cidade.
A principal dificuldade encontrada pela C. G na confecção de seus
produtos estava relacionada com a falta de peças especiais para a fabricação de
instrumentos. “Tínhamos que desenvolver tudo na prática, tudo era específico
e utilizado para a fabricação do cromatógrafo, das válvulas, detentores, colunas
cromatográficas, etc”, relembra Ivo Gregori.
Com a expansão do mercado, na década de 70, a C. G. Ltda fabricou
mais de 1000 Cromatógrados à Gás para as principais industrias químicas,
petroquímicas e farmacêuticas brasileiras como, por exemplo, a Petrobrás. O
Cromatógrafo a Gás e seus acessórios, doados ao MAST, datam justamente
desta época em que a empresa começou a ampliar suas atividades. A expansão
das atividades empresariais teve seu clímax no início da década de 1980,
quando se mudaram para um local maior na cidade de São Paulo e passaram
a diversificar sua linha de produtos. Porém, com o “Plano Collor” e outras
dificuldades financeiras, a empresa foi extinta na década de 1990.
Apesar disso, Rêmulo Ciola nunca deixou de atuar no “Círculo
Acadêmico“. Entre os anos de 1971-1994, foi Professor de Pós-graduação
na disciplinas: Catálise, Síntese de Polímeros e Cromatografia, no Instituto
de Química da Universidade de São Paulo e Professor de Química
Orgânica Industrial na Escola de Engenharia Mauá (1975-1979). Essa
26
A coluna cromatográfica é o “cérebro” do cromatógrafo, pois esta detecta as subs-
tâncias e repassa para um registrador quando ocorre a separação.
9 
participação acadêmica lhe rendeu prêmios importantes como o “Prêmio
Jabuti” conferido pela Câmara Brasileira do Livro em 1982 com o Livro
“Fundamentos da Catálise” entre outros. Também foi membro da CEPAL e
foi contado entre os “125 Cientistas internacionais” que mais contribuíram
para o desenvolvimento da química no séc. XX27.
Ao analisarmos mais de perto a trajetória desse cientista, podemos perceber
que nem sempre é fácil enxergar as preocupações por trás da criação de um
instrumentos científicos. Haveria também uma preocupação nacionalista que
buscava o desenvolvimento da industria nacional e a valorização do tecnicismo
por trás dos seus inventos? As respostas não nos parecem tão claras. Somente
com o prosseguimento da pesquisa poderemos tentar responder essas questões.
É claro que ainda falta muitas peças para o nosso quebra-cabeça. O
que desejamos mostrar com este breve resumo é que é possível se “fazer” a
trajetória histórica a partir do estudo de um objeto de museu. Porém, essa
tarefa é árdua, pois carecemos de uma metodologia própria e também de um
objeto de estudo que possa ser minimamente delimitado. Existem muitas
outras questões que não foram e talvez nem serão respondidas a partir dos
depoimentos das pessoas que trabalharam na C. G. Ltda. O que cai em um
outro campo, o da História Oral. Mas estes são apenas alguns dos desafios de
quem trabalha com a História dos objetos de C&T em museus.

Bibliografia:
Bravo, Luiz & Pisani, Silvana. Rêmolo Ciola, uma mente inventiva, um
verdadeiro pioneiro. Trabalho apresentado no simpósio do SIMCRO. Campos
do Jordão- SP, setembro de 2010.
BUCAILLE, Richard & PESES, Jean-Marie. Cultura Material In
Enciclopédia Einaudi. Vol. 16, Homo-Domesticação. Material, Lisboa: IN-
CM, 1989. Acessado em: 21/10/2010. Disponível em: http://www.scribd.
com/doc/6701496/to-Einaudi
CIOLA, Remulo. Fundamentos da Cromatografia a Gás. São Paulo: Ed. Edgard
Bücher Ltda, 1985.
DE SETA, Cesari. Objecto In Enciclopédia Einaudi. Arte -Tonal/Atonal, vol.
3. Lisboa: IN-CM, 1984. Acessado em: 11/01/2010. Diisponível em: /ttp://
www.scribd.com/doc/6701496/to-Einaudi

27
op. Cit. BRAVO & PISANI, (2010, p.1)
10 
Journal of Chromatography Library.Volume 64, 2001 In Chromatography
a century of discovery 1900–2000 - the bridge to the sciences/technology.
FERREIRA, Marieta de Morais (org.) & AMADO, Janaína . Usos e Abusos da
História Oral. Rio de Janeiro: Ed. Da Fundação Getúlio Vargas, 1998.
FLEMING, E. Mc Clunig. Artifact Study: A Proposed Model, Winterthur
Portfolio, vol. 9(1), 1974, p. 153-173. Acessado: em 23/08/2010. Disponível
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FUNARI, Pedro Paulo & CARVALHO, Aline Vieira. Cultura e Patrimônio
Científico: Discussões Atuais. In “Cultura material e Patrimônio da Ciência e
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MENESES, Upiano T. Becerra de. Memoria e Cultura Material: documentos
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em: http://www.marilia.unesp.br/Home/Pesquisa/cultgen/Documentos/
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POMIAN, Krzysrztof. Coleção in Enciclopédia Einaudi. Vol. 1. Lisboa: IN-
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PROWN, Jules David. Mind in matter: An introduction to material culture
theory and method, Winterthur Portfolio, vol. 17(1), 1982, p. 1-19. Acessado:
em 23/08/2010, disponível em:http://ciuhct.fc.ul.pt/textos/Prown_1982.
pdf
SAMPAIO, Ana Cristina de Oliveira. Cultura Material e Objetos Museólogicos
de C&T: desenvolvimento e estudos das relações teórico-metodológicas.
(Relatório de Pesquisa). Rio de Janeiro: MAST, jul 2009//fev 2010.

Para mais informações veja . BRAVO & PISANI, (2010, p.1)

11 

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