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1. Introdução
Se a lei responsabiliza a sociedade em geral e cada um dos setores pelo uso sustentável
das águas, demandas de ações transversais e inclusivas que de fato assegurem um novo
uso de águas são postas em cenário peculiar: o Brasil tem registro de uma longa prática
de autoritarismo desde que aqui chegaram os portugueses em 1500, com a subjugação
dos povos indígenas e a colonização. O golpe militar de 1964 ficou sendo um reforço
autoritário para silenciar posições contrárias à continuidade da colonização, nesta fase já
atendendo à tendência de um novo modelo econômico, a produção industrial.
Tais práticas perduram nos processos participativos. De forma geral participar tem
significado reunir seletos convidados, em critérios que envolvem “jogos de poder”
(RUA, 1997:7) ou em cuja participação mais caracteriza um referendar de acordos e
projetos que acabam camuflando as exigências legais. A situação é conhecida numa
estrutura de estado ainda carregada de centralismo – quando não político, tecnicista – e
resistências às mudanças, mesmo em momentos de governos mais democráticos1.
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Ivonildes Medeiros, do GRH - Grupo de Recursos Hídricos da Escola Politécnica de Engenharia/UFBA
e com experiência junto ao CBH São Francisco considera que a maior dificuldade na gestão participativa
dos RH esta nos gestores públicos. “Quando não se colocam como os donos da verdade, se posicionam
como se o assunto comitê não lhes dissesse respeito” (MEDEIROS, Entrevista, 2009).
sociedade onde poucos se sentem motivados ou ainda “parte” do convite à democracia
direta, aí se identificando o histórico de escolhido x excluído como parte da relação
“dominado x dominante” (DEMO, 1988:83). Um quadro de relações mantidas e
reforçadas por comportamentos moldados nos padrões de comunicação e educação,
embutidos no modelo econômico importado dos países da América do Norte na década
de 1960, centrada em dois formatos: bancário/domesticador com ênfase nos conteúdos;
e manipulador, com ênfase nos resultados (KAPLÚN, 1985:31).
Podemos afirmar que os modelos de estruturação dos colegiados para a gestão de águas
não conseguem atender às propostas de devolver o poder à sociedade, no
estabelecimento dos processos de mudanças para a democracia direta e deste modo
perpetuam a democracia representativa embasada nas teorias contratualistas, origem do
liberalismo, pressupondo “um direito natural” (CHAUÍ, 2006):
Considerando o que define a PNEA (BRASÍLIA, 2005), uma ação educomunicativa nos
colegiados ambientais tem como imperativo o caráter socioambiental porque envolve o
cuidado com o ambiente e supõe a estruturação de práticas emancipatórias na sociedade.
Supõe que mudanças estruturantes no processo de decisão passam por mudanças nas
relações de poder para a tomada de decisões. Conforme assinala Foucault (1981),
relações de poder não existem enquanto princípio em si, mas são estabelecidas nas
formas de convivência fomentadas e acatadas: “[...] o poder é algo que se exerce [...] não é
uma coisa, mas uma relação” (FOUCAULT, 1981 apud DOSSE, 2001:223).
2. Procedimentos Metodológicos
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RUA (1997) define “jogo de poder” como as relações que envolvem persuasão, conchavos e
acordos.
o Sul significa a forma de sofrimento humano causado pela modernidade capitalista
(2007:368-369). Porém é também Santos quem sinaliza o caminho possível da ação
investigativa, ao se referir à subjetividade da “fronteira” da transição, [...] que permite
ser “ora guiada pelo paradigma dominante, ora pelo paradigma emergente”, [...] “ora
atuando sobre os próprios limites” - “hibridação” - desestabilizando-os até o ponto de
poder ir para além deles, sem ter de superá-los. (2007:355).
3. Resultados e Discussões
Por se tratar de um processo em construção, não se pretendeu que a arena política dialó-
gica alcançasse um formato ideal de ação no período da pesquisa (03 meses), mas que
este venha a acontecer de forma dialética e permanente, admitindo avanços e recuos
característicos da “transição paradigmática” (SANTOS, 2007:355). O espaço do pro-
grama de rádio expõe ao diálogo reflexões sobre aspectos da política das águas e inter-
conexões socioambientais que fazem parte do “mundo da vida” (HABERMAS, apud
SIEBENEICHLER, 1994:153); os atos de fala são regulados por normas e a “ação co-
municativa” permite o desenvolvimento das racionalidades humanas (1994:113).
A arena dialógica do programa de rádio não decide, porém o diálogo e o debate devem
prevalecer na construção do conhecimento que a sociedade requer sobre os temas em
pauta no Comitê. O programa de rádio, solidário e cooperativo ao CBH, abre ainda es-
paço à sociedade para tematizar assuntos de interesse coletivo, o que pode caracterizar
um processo de democratização da comunicação.
4. Conclusões
1 – Até que ponto e em que tempo a práxis dialógica da arena política do programa de
rádio pode alcançar as reuniões e plenárias do colegiado, promovendo a construção de
consenso na superação de conflitos? 2 – Em que medida favorece o diálogo de membros
do colegiado com respectivas bases comunitárias? 3 - O exercício do diálogo, em espa-
ço favorável à simetria entre os atores, favorece outras subjetividades? Quais?
5. Referencias
BRASIL. Lei nº 9.433/97. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Diário Ofi-
cial da União, Brasília, D.F., 1º de setembro de 1997. Seção 1, p.470.
CHAUÍ, Marilena. Cidadania Cultural – O direito à cultura. 1ª ed. – São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo, 2006 – 2ª reimp. 2010.
FREIRE, Ana Maria Araújo, OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de. A pedagogia da liber-
tação em Paulo Freire. UNESP, 2001 – 330p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. ed. Paz e Terra, 41ª ed. – 2005, 213p.
RUA, Maria das Graças. Análise de Políticas Públicas: Conceitos Básicos. Washington,
Indes/BID, 1997 - mimeo.
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Isabel Cristina Feitosa Villela – Jornalista, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela
Universidade Estadual de Santa Cruz – Ilhéus/Bahia. Jornalista e Gestora Social.
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Milton Ferreira da Silva Junior - Prof. Dr. Universidade Estadual de Santa Cruz -
UESC/DCAA/Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (PRODE-
MA).