Vous êtes sur la page 1sur 3

Geração de Eletricidade com Biogás

de Esgoto: Uma RRealidade


ealidade
PESQUISA

Geração de eletricidade a partir do biogás produzido no tratamento de esgotos

Luís Henrique Nobre Avellar escassez energética, reforçaram tal ne- acordo com as regras e critérios defini-
CENBIO/USP- Centro Nacional de cessidade. dos pelas autoridades regulamentado-
Referência em Biomassa- USP
lavellar@amhanet.com.br
Assim, aproveitar um sub-produto ras.
do processo de tratamento de esgotos, Resumidamente, o processo de trata-
Suani Teixeira Coelho biogás, como combustível para a gera- mento de esgotos pode ser separado nas
CENBIO/USP- Centro Nacional de ção de energia a baixo custo, se encaixa seguintes etapas: gradeamento, caixas
Referência em Biomassa- USP
suani@iee.usp.br perfeitamente dentre as disposições apre- de areia, decantação primária, adensa-
sentadas pelo Banco Mundial de uso mento por gravidade, digestão anaeró-
João Wagner Alves sustentável dos recursos naturais reno- bia, desidratação e filtragem por prensa.
CETESB- Companhia de Tecnologia e
Saneamento Ambiental
váveis, de combate à poluição e ao Nos digestores anaeróbios, durante o
joaoa@cetesb.sp.gov.br desperdício de energia, em conjunto processo de oxidação da matéria orgâni-
com um melhor gerenciamento dos re- ca, ocorre a liberação de biogás. A
jeitos como elementos fundamentais para principal vantagem do processo anaeró-
Resumo: Nesse artigo apresentam-se o desenvolvimento sustentável. bio está na degradação do material orgâ-
algumas características e dados de le- Nesse artigo são citadas algumas ca- nico, que é acompanhada da produção
vantamentos técnicos sobre a coleta e o racterísticas e dados de levantamentos de energia na forma de biogás. A produ-
tratamento de esgotos no Brasil, bem técnicos sobre a coleta e o tratamento de ção de lodo desse processo é menor do
como considerações ambientais sobre o esgotos no Brasil. Numa segunda etapa, que a dos processos aeróbios: no aeró-
processo de biodigestão anaeróbia, e, realizam-se considerações energéticas e bio são 97% contra apenas 30% do
energéticas referentes à geração de ener- ambientais sobre a geração de energia anaeróbio (Van Haandel, 1994).
gia elétrica a partir do biogás produzido elétrica a partir do biogás produzido em Salientando a contribuição do pro-
em estações de tratamento de esgotos da estações de tratamento de esgotos da cesso de digestão anaeróbia como vetor
SABESP. Além disso, uma importante SABESP – Companhia de Saneamento na redução da poluição ambiental, pode-
contribuição desse artigo encontra-se na Básico do Estado de São Paulo. se citar como exemplo estudos realiza-
apresentação de metas do projeto de Também apresenta-se o resumo de dos por Acuri (1986), nos quais, durante
infra-estrutura universitária, que faz par- duas metas do PUREFA, que engloba a a biodigestão anaeróbia, para um tempo
te do PUREFA - Programa de Uso Racio- aplicação de vários tipos de fontes alter- de retenção de 06 (seis) dias, ocorreu
nal de Energia e Fontes Alternativas da nativas de energia como a biomassa, a uma destruição de 99% do agente pato-
USP – Universidade de São Paulo, que solar fotovoltaica, a solar térmica, entre gênico Salmonella Typhosa, presente
tem, dentre outros, o objetivo de elabo- outras. nos testes realizados com dejetos de
ração de um sistema demonstrativo ca- bovinos.
paz de gerar eletricidade a partir do 2. Tratamento de Esgotos
aproveitamento do biogás oriundo do 3. Geração de Eletricidade
tratamento de esgotos domésticos pro- Em função do impacto produzido no com Biogás de Esgoto
duzidos num Campus Universitário. meio ambiente, as águas residuais de
origem doméstica, ou com característi- Sem deixar de lado a grande contri-
1. Introdução cas similares, são denominadas esgotos buição ambiental do tratamento de esgo-
sanitários ou simplesmente esgotos, e tos, tem-se destacado nesse processo a
Nas últimas décadas do século XX, podem ser separadas em quatro frações produção de um combustível alternativo
com a crise do petróleo, alertou-se o distintas: sólidos em suspensão, matéria (biogás), principalmente nesses tempos
planeta para a necessidade de busca de orgânica, nutrientes e organismos pato- de crise energética que vem atravessan-
novas fontes alternativas de energia. Neste gênicos. do o Brasil, no qual busca-se utilizar
início de terceiro milênio, tais fatos, Segundo Van Haandel e Lettinger toda energia produzida a baixo custo e
associados ao cenário energético brasi- (1994), o objetivo principal do tratamen- passível de ser aproveitada para geração
leiro e mundial, às estimativas negativis- to de esgoto é corrigir suas características de eletricidade.
tas de esgotamento das reservas primári- indesejáveis de tal maneira que seu uso No Brasil, segundo o BEN (2000),
as de energia e aos sinais reais da ou disposição final possa ocorrer de para um total de 9,8 mil distritos existem

120 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 29


5,8 mil sem rede coletora de esgotos, energia, juntamente com a possibilidade dos do tratamento dos esgotos produzi-
sendo que desses, 37%, ou seja, 2,2 mil de uso de fontes alternativas voltadas à do no CRUSP – Conjunto Residencial da
estão localizados na região Nordeste, e geração a baixo custo, a Universidade de Universidade de São Paulo.
utilizam fossas sépticas ou sumidouros, São Paulo foi contemplada com a apro- Os esgotos produzidos no CRUSP
valas abertas e lançamentos diretos em vação pelo governo brasileiro, através da são utilizados em um biodigestor tipo
cursos d’água. FINEP – Financiadora de Estudos e Pro- UASB (Up-flow Anaerobic Sludge Biodi-
jetos, do Projeto PUREFA - Programa de gestor), em pleno funcionamento e que
3.1 Potencial de Geração de Eletrici- Uso Racional de Energia e Fontes Alter- há vários anos tem sido objeto de estu-
dade com Biogás de Esgoto na SA- nativas, que tem os seguintes objetivos dos e pesquisas, principalmente nas áre-
BESP – ETE Barueri principais: as de engenharia sanitária e hidráulica.
Sem descartar os ganhos ambientais
No Brasil, são aproximadamente 15 - Implantar medidas de gestão e de do processo de biodigestão anaeróbia,
milhões de ligações de esgoto com um ação de eficiência energética que permi- enfatiza-se também a produção de bio-
volume total de esgoto tratado de 5 tam reduzir o consumo de energia elétri- gás, que é objeto desse estudo. O biogás
milhões [m3/dia] (BEN, 2000). A SABESP ca e aumentar a participação das fontes produzido é captado, e direcionado à
– Companhia de Saneamento Básico do alternativas na matriz energética da Uni- uma unidade purificadora.
Estado de São Paulo possui 5 unidades versidade. Essa unidade purificadora é com-
para o tratamento de esgoto na Grande - Ampliar a geração distribuída na posta por vários sistemas e equipamen-
São Paulo, com uma capacidade instala- USP a partir de tecnologias que utilizem tos, os quais têm como objetivo principal
da de 18 [m3/s], conforme Tabela 1. recursos renováveis e não convencio- a remoção de componentes presentes
Segundo Coelho et al. (2002), estudos nais de energia. no biogás que podem poluir o meio
realizados mostram que na unidade de - Implantar políticas de incentivo ambiente e/ou mesmo afetar os equipa-
Barueri ocorre uma produção média permanente ao uso eficiente e racional mentos usados para a geração de ener-
diária de biogás de 22.000 m3 (tratamento de energia e a descentralização do cus- gia elétrica.
primário) com um PCI estimado (Poder teio da energia elétrica. Na unidade purificadora, o biogás
Calorífico Inferior) de 4.850 [kcal/Nm3]. O PUREFA está divido em 14 (quator- recebido passa por filtros de limpeza,
Isso significa que, diariamente, a ze) metas físicas, entre elas o gerencia- que removem inclusive a umidade, para
E.T.E. (Estação de Tratamento de Esgo- mento energético, substituição de siste- só então ser direcionado à unidade
to) Barueri tem disponível na forma de mas de iluminação, instalação de siste- compressora de biogás.
biogás o equivalente a 106700 [Mcal]. mas de aquecimento a gás, aquecimento No final do processo de purificação
Levando-se em consideração uma turbi- solar, ampliação da capacidade de gera- o biogás é disponibilizado para a unida-
na a gás funcionando ininterruptamente ção fotovoltaica e instalação de sistema de compressora, à pressão mais elevada
durante as 24 horas de um dia, e que de aquecimento solar de água em um do que quando foi produzido no biodi-
tenha rendimento da ordem de 30%, essa restaurante dentro da USP. gestor. A partir daí dá-se início a etapa
E.T.E. apresenta um potencial de produ- Dentre tais metas, encontram-se a de compressão do biogás.
ção de 1,55MW elétricos. “Implantação de um Sistema de Gera- Por meio de compressores, o biogás
Ainda segundo Coelho et al. (2002), a ção, Purificação e Armazenamento de será comprimido, ainda à baixa pressão,
COMGAS (Distribuidora de Gás Natural Biogás” e a “Implantação do Aproveita- para seu armazenamento em tanques
de São Paulo) analisou os compostos mento do Biogás para Geração de Ener- fixos e móveis. No instante em que o
sulfurosos presentes no biogás produzi- gia Elétrica”, respectivamente metas 11 e biogás estiver armazenado nos cilindros
do na E.T.E. de Barueri, Tabela 2. 12, exemplificadas a seguir. e tanques, encerra-se essa etapa.
Em suma, pretende-se montar um A segunda meta, “Implantação do
3.2. Geração de Eletricidade sistema demonstrativo dentro da Univer- Aproveitamento do Biogás para a Gera-
com Biogás de Esgoto na USP sidade de São Paulo, nas instalações do ção de Energia Elétrica”, tem como ob-
CTH – Centro Tecnológico Hidráulica, jetivo a utilização do biogás já purificado
Visando a oportunidade de melhoria localizado nas dependências da Escola para a geração de energia elétrica. Pre-
da infra-estrutura universitária no Brasil, Politécnica, capaz de gerar eletricidade a tende-se usar o biogás como combustí-
bem como uma redução no consumo de partir do aproveitamento dos gases oriun- vel em um conjunto moto gerador capaz

Tabela 1 : Volume de Resíduos Tratados na Grande São Paulo

Unidades de tratamento Capacidade Volume de Produção Média Consumo de


da Grande SP Instalada Esgoto tratado de Biogás Energia Elétrica
3 3
[m /s] [m3/s] [m /dia] [MWh/mês]
Barueri 9,5 7,0 22.000 5.500
Suzano 1,5 0,7 3.000 700
ABC 3,0 1,4 1.200 2.000
São Miguel Paulista 1,5 0,5 - 750
Parque Novo Mundo 2,5 1,2 - 1.350
Total na Grande SP 18,0 10,8 26.200 10.300
(SABESP, 2001)

Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 29 121


de produzir eletricidade suficiente para aqueles relacionados à proteção dos 4, pp.1861-1866, Rio de Janeiro, maio
o suprimento de parte da demanda do corpos d’água e das águas subterrâneas, de 2002.
CTH – POLI. a melhoria das condições do solo, o uso EPA, Case Studies in Residual Use and
Desse modo, cria-se um sistema de- sustentável dos recursos naturais reno- Energy Conservation at Wastewater
monstrativo capaz de gerar energia elé- váveis e o uso racional e eficiente de Treatment Plants. Washington, 2001.
trica a partir do biogás produzido em um energia. ENERG – BIOG, Projeto de Instalação e
biodigestor tipo UASB (também conhe- Reproduzido em larga escala esse Testes de uma Unidade de Demons-
cido como RAFA – Reator Anaeróbio de projeto pode ser caracterizado como um tração de Geração de Energia Elétrica
Fluxo Ascendente), utilizando os esgo- favorável ao Mecanismo de Desenvolvi- a partir de Biogás de Tratamento de
tos produzidos no CRUSP da USP, au- mento Limpo (Clean Development Me- Esgoto” CONVÊNIO 23.01.0653.00
mentando assim a participação das fon- chanism do Artigo 12 do Protocolo de BUN - FINEP, 2003.
tes alternativas na matriz energética da Kyoto), gerando postos de trabalho, de- OLIVA, L. C. H. V., Tratamento de esgo-
Universidade de São Paulo. senvolvimento tecnológico, descentrali- tos sanitários com reator anaeróbio
Cita-se ainda que, além dos desen- zação energética, melhoria das condi- de manta de lodo (UASB). Protótipo:
volvimentos realizados pela SABESP e ções sanitárias, redução das emissões de desempenho e respostas dinâmicas
pela USP, outras universidades brasilei- gases efeito estufa e do consumo de às sobrecargas hidráulicas. Tese
ras também vêm realizando estudos na combustíveis fósseis, neste caso substi- (Doutorado). USP, São Carlos.
mesma área. tuídos pelo metano contido no biogás. PIERSON, F.W, “Energy from Municipal
Waste: Assessment of Energy Conser-
5. Conclusões 6. Referências vation and Recovery in Municipal
Wastewater Treatment”, Argonne
A utilização do processo de biodi- National Laboratory, Argonne, 1992.
gestão anaeróbia, quer seja para esgotos ACURI, P.B., Efeito da temperatura am- QUARMBY, J., FORSTER, C. F., An
domésticos, rejeitos agro-industriais, biental na produção e na qualidade examination of the structure of UASB
como para rejeitos rurais (esterco de do biogás em biodigestor modelo in- granules. Water Science Tech., 29,
bovinos e suínos), tem-se destacado diano da zona da mata de Minas pp.2449-2454, 1995.
pelas suas vantagens ambientais relacio- Gerais. 1986. 92 f., Dissertação (Mes- SABESP, Síntese de Informações Opera-
nadas à redução dos agentes patogêni- trado), UFV, Viçosa. cionais dos Sistemas de Tratamento
cos, além daquelas voltadas à produção AVELLAR, L.H.N., A Valorização dos de Esgotos da RMSP – Outubro /00 –
de biogás e biofertilizante. Sub-produtos Agroindustriais visan- Setembro/01. Unidade de Negócio
A recuperação e uso energético do do Co-geração e a Redução da Polui- de Tratamento de Esgotos, 2001.
biogás gerado pelo tratamento anaeró- ção Ambiental. 2001. 111f. Tese (Dou- VAN HAANDEL, A. C., Influence of the
bio de esgotos domésticos na SABESP, e torado). FEG/UNESP, Guaratinguetá. digested cod concentration on the
aqueles provenientes do Campus da USP BEN, “Balanço Energético Nacional”, alkalinity requirement in anaerobic
é uma prática que oferece vários ganhos, Ministério de Minas e Energia,154 p., digesters. Water Science Tech., 30,
como o incentivo ao incremento no Brasília, 2000. pp.23-24, 1994.
tratamento de efluentes no restante do CENBIO, Nota Técnica VII - Geração de VAN HAANDEL, A. C., LETTINGER, G.
país pelo emprego demonstrativo de Energia a Partir do Biogás Gerado Tratamento Anaeróbio de Esgotos:
uma tecnologia compacta e de baixa por Resíduos Urbanos e Rurais. São Um Manual para Regiões de Clima
intensidade energética voltada ao apro- Paulo, 2001. Quente”, Epgraf, Campina Grande,
veitamento do biogás em uma instalação COELHO, S.T., KRAVOSAC, A.C.B., MAR- 240 p., 1994.
típica de tratamento de esgotos domésti- TINS, O.S., GUARDABASSI, P., COS- VON SPERLING, M., Princípios Básicos
cos, pela demonstração prática da sua TA, D.F., AVELLAR, L.H.N., Produção do Tratamento de Esgotos, DESA-
viabilidade técnica. de Energia Elétrica a partir do Biogás UFMG, Belo Horizonte, 210p., 1996.
O conjunto desses equipamentos e resultante do tratamento de esgoto: WAGNER, M., Utilization of Natural Gas,
sistemas caracterizam-se pela facilidade projeto piloto na E.T.E. de Barueri na Biogas and Special Gases in Gas
com que podem ser reproduzidos para grande São Paulo, In: IX CBE – Engines – Requirements and Experi-
o tratamento de esgotos em conjuntos Congresso Brasileiro de Energia, Vol. ences. Jenbacher AG, Austria, 2001.
habitacionais, bairros e condomínios
urbanos. O saldo energético fornecido
Tabela 2 - Compostos Sulfurosos
pelo processo pode ser revertido em
favor do balanço financeiro do empre-
endimento ou em favor de suas melho- COMPOSTOS SULFUROSOS (mg/cm3)
rias físicas, como, por exemplo, alimen- Sulfito de Hidrogênio 8,59
tação de sistema de iluminação pública Sulfito de Carbonila 0,24
no entorno da estação de tratamento de Metil Mercaptano 0,63
esgotos ou suprimento de gás de cozi- Etil Mercaptano 0,20
nha para algumas famílias mais próxi- N – Propil Mercaptano 0,86
mas ao empreendimento. I – Propil Mercaptano 0,55
Além disso, dentre os aspectos ambi- T – Butil Mercaptano 1,23
entais positivistas também se destacam
(COMGAS, 2001)

122 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 29

Vous aimerez peut-être aussi