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Luci Nychai1
ABSTRACT: The present article dealt with the configuration of the Brazilian economy of
services, with the purpose to analyze its added value, as well as presenting its taxonomy
or typology used for economic measure. The used methodology considered the analysis
of secondary data of the Research of Services and the System of National Accounts of the
IBGE, analyzed by means of the coefficient of variation and elasticity. Historically the
sector of services was underestimated in the economic process of production. Its activities
were not considered in terms of added value, being defined from the incompatibility of the
primary sectors and secondary, that is, everything what it did not belong to the farming
activities or the manufacture, was characterized as service. From the second half of the
decade of 1980, this context took new route, consolidating the valuation of the service
sector as productive sector
1. INTRODUÇÃO
A partir do final do século XX, a economia incorporou definitivamente os serviços
na cadeia produtiva e na macroeconomia. Estimativas, apontam que 70% da riqueza
mundial têm ligação direta ou indireta com o setor de serviços. Como setor empregador,
vem se destacando como alocador de mão-de-obra intensiva, em praticamente todas as
faixas-etárias da população economicamente ativa e níveis de escolaridade. Custa menos
a criação de um emprego em serviço do que a criação de um emprego na industria.
Segundo Kathtalian (2009), enquanto a industria tende à automação, à especialização do
trabalho, reduzindo a participação do capital humano, o setor de serviços não consegue
prescindir do elemento humano. Para a industria de serviços um dos mais importantes
ativos é o capital humano e intelectual.
Outro fator ligado aos serviços relaciona-se a comoditização do mercado, tornando
os produtos mais homogêneos. Tal situação faz com que os fabricantes atuem no sentido
de diferenciar o seu produto, por meio de conjunto de serviços que agregam valor, como
1
Departamento de Ciências Econômicas da UNICENTRO, Guarapuava, PR. . E-Mail: nychai@ibest.com.br
distribuição, assistência técnica, garantias, seguros, crédito, informação, pós-venda, e
outros. Serviços permitem diferenciação, personalização e customização. O setor de
serviço agrega, dentre outras atividades, as telecomunicações, o setor financeiro, escolas,
hospitais, profissionais liberais, serviços domésticos e pessoais, hotéis, Internet,
atendimento ao consumidor, consultorias, serviços técnicos, logística, armazenamento,
distribuição e outros.
Diante deste contexto, o presente artigo objetivou especificar e configurar a
Economia de Serviços a partir do caracterização teórica e quantitativa, evidenciando o
seu valor adicionado e a sua classificação no contexto econômico. O estudo foi realizado
para o período de 1947 a 2008, com destaque para 2002 a 2007.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para o desenvolvimento da pesquisa que embasou este artigo, foram
considerados os levantamentos teóricos relativos à literatura da Economia de Serviços,
bem como, o levantamento quantitativo série temporal referente a participação do valor
adicionado dos setores da agropecuária, industria e serviços, do período de 1947 a 2008,
proveniente do Sistema de Contas Nacionais, somada a analise dos dados da Pesquisa
Anual de Serviços, PAS, do IBG, referente ao período de 2002 a 2007.
Para estimativas dos dados quantitativos foram utilizados a média aritmética e o
coeficiente de variação, CV, conforme Hoffmann (2006). Para o CV utilizou-se o seguinte
estimador:
CV = (Desvio Padrão / média) * 100.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-CONCEITUAL
3.1. A Economia de serviços no contexto da Ciência Econômica
Na moderna Ciência Econômica, serviço e produto são igualmente fatores
relevantes para o crescimento e o desenvolvimento econômico. A origem do termo
Economia de Serviço esteve ligado, ao longo da histórica, ao Sistema de Contas
Nacionais, quando R. Frisch, O. Aukrust e P. J. Bjerve, publicaram em 1949, na Noruega,
a Teoria da Contabilidade Social, a qual foi fundamental para definição dos modernos
sistemas de Contabilidade Nacional e por conseqüência da definição dos setores da
atividade econômica, incluindo os serviços. No contexto das atividades econômicas,
consideradas pela Contabilidade Nacional, os serviços inserem-se nas atividades
terciárias, por meio da prestação de serviços, comércio, transportes, intermediação
financeira, serviços públicos, serviços autônomos. No caso brasileiro, a Economia de
Serviço começou a ganhar projeção a partir de 1985, quando a análise da economia
brasileira assumiu o papel relevante do setor serviços na geração de emprego e
produção.
De acordo com Lovelock e Wright (2001), serviço é um desempenho
essencialmente intangível. O serviço pode ou não estar ligado a um produto físico.
Quando ligado a um produto o serviço é considerado um desempenho transformador,
intangível em essência. Para Kahtalian (2009), mesmo os serviços que possuem um forte
componente de bens, produto e capital, como o transporte aéreo, o cliente não pode levar
a viagem para casa e mostrar aos amigos. O que ele pode fazer é viver a experiência
transformadora da viagem e, mostrar a passagem, as fotos, e outros elementos tangíveis
do serviço. Para o mesmo autor, os serviços são atividades desempenhadas no tempo e
no espaço que geram valor.
Nem sempre os serviços foram considerados relevantes para a economia,
caracterizando, inclusive o ramo da Economia de Serviços. A visão negativa sobre o setor
de serviços tem suas origens delineadas desde os economistas clássicos. Conforme
aponta Meirelles (2006), Adam Smith não considerava as atividades de serviços como
produtivas. Para Karl Marx, apenas as atividades de comunicação, de transporte e de
armazenamento de mercadorias eram consideradas relevantes no setor de serviços. Para
os utilitaristas, por sua vez, todos os serviços, visto como criadores de utilidade, são
considerados produtivos. De acordo com Kon (2004), a visão keynesiana define qualquer
atividade que faz jus a uma recompensa monetária como útil e produtiva. A visão
schumpeteriana considera que os serviços são complementares e relevantes ao
consumo, sendo esse último o objetivo primordial da produção, e, portanto, imprescindível
para a atividade produtiva.
De acordo com Kon (2004), as definições mais recentes de serviços podem ser
resumidas em quatro linhas principais:
1. indústria de serviços: aquela que produz serviços no lugar de bens; ex.: transportes,
comércio, seguros;
2. serviços são bens de consumo ou intermediários intangíveis: em geral, são intensivos
em trabalho, e produção e consumo são concomitantes;
3. serviços são o componente do Produto Nacional Bruto,PNB, que mede o produto de
itens intangíveis;
4. os serviços referem-se a bens intangíveis, sendo uma de suas características o fato
de serem consumidos, na maioria das vezes, no momento de sua produção.
Uma das possíveis definições de serviços é de Hill apud Gallouj e Weinstein
(1997): “... a set of processing operations (…) carried out by a service provider (B) on
behalf of a client (A), in a medium (C) held by A, and intended to bring about a change of
state in the medium C”. Tal definição traduzida identifica que serviço é um conjunto de
operações de tratamento (...) realizadas por um prestador de serviços (B) em nome de um
cliente (A), em um meio (C), realizada por A, e destina-se a uma mudança de estado no
meio C "
Existem inúmeras tipologias para a classificação de serviços. Segundo Kon (2004),
a maior parte das estatísticas dos países utiliza a classificação da Standard Industrial
Classification,ISIC, formulada por um grupo de especialistas reunidos pela Organização
das Nações Unidas,ONU, para esse fim. Essa classificação tipifica os serviços em:
i)distributivos, ii) sem fins lucrativos, iii) às empresas e iv) ao consumidor.
A Pesquisa Anual de Serviços do IBGE (2009), classificou os serviços em: i)
prestados às famílias; ii) prestados às empresas; iii) de informação; iv) transportes, v)
serviços auxiliares e correios; vi) atividades imobiliárias e vii) aluguel de veículos,
máquinas e equipamentos e; (viii) outros serviços.
A taxonomia isto é, a classificação ou tipologia desenvolvida por Elfring (1988),
apresentou três características importantes dos serviços: i) função econômica da
atividade; ii) tipificação do demandante do serviço prestado: firma ou uma pessoa física;
e iii) se o serviço é prestado predominantemente para o mercado. Assim, o autor define
quatro subsetores no setor de serviços: i) serviços prestados às empresas, ii) serviços de
distribuição, iii) serviços pessoais e iv) serviços sociais.
As estatísticas brasileiras de serviços tratam dos serviços de distribuição numa
pesquisa separada. Outras classificações menos utilizadas, são as desenvolvidas por
Gershuny (1983 e 1987), Hill (1977) e Singelmann (1978).
O serviço também pode ser entendido, de acordo com Lovelock e Wright (2001),
por meio das suas características: i) inseparabilidade, ii) variabilidade; iii) intangibilidade; e
iv) perecibilidade. A inseparabilidade diz respeito ao fato de que todo serviço tem um
momento em que sua produção e consumo são simultâneos, inseparáveis. No caso da
variabilidade, os serviços podem variar conforme o prestador de serviços e o cliente,
buscando a customização, a personalização e o atendimento diferenciado. A
intangibilidade caracteriza o serviço como não palpável, mas que possui diversos
elementos tangíveis que funcionam como evidências do serviço. Quanto a perecibilidade,
diz-se ao fato de que o serviço não pode ser estocado, sendo temporais, prestados em
tempo e local definidos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. A evolução da Economia de Serviço a partir do valor adicionado
A análise da evolução da Economia de Serviços foi analisada observando-se a
série temporal do valor adicionado a preços básicos medidos por meio do percentual
relativo ao PIB, coletado junto ao IBGE/SCN (2009), para o período de 1947 a 2008. O
Gráfico 01 apresenta a evolução do valor adicionado do setor de serviços em comparação
com a indústria e agropecuária.
Gráfico 01: Evolução temporal do valor adicionado dos setores de serviço, industria e
agropecuária.
100,0000
95,0000
90,0000
85,0000
80,0000
75,0000
70,0000
65,0000 SERVIÇOS
60,0000
55,0000
50,0000
45,0000
40,0000
35,0000
INDÚSTRIA
30,0000
25,0000
20,0000
AGROPECUÁRIA
15,0000
10,0000
5,0000
0,0000
47
49
51
53
55
57
59
61
63
65
67
69
71
73
75
77
79
81
83
85
87
89
91
93
95
97
99
01
03
05
07
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19
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Tabela 01: Evolução do valor adicionado por setor e a taxa de desemprego e emprego.
Ano Agropecuária Industria Serviços Desemprego Emprego
2002 6,3000 27,0519 66,3304 11,6600 88,3400
2003 7,3860 27,8458 64,7683 12,3600 87,6400
2004 6,9133 30,1136 62,9730 11,4800 88,5200
2005 5,7084 29,2730 65,0186 9,8700 90,1300
2006 5,4665 28,7803 65,7532 10,0000 90,0000
2007 5,9822 28,0511 65,9667 9,3400 90,6600
2008 6,6994 27,9591 65,3415 7,9100 92,0900
CV 10,8381 3,5954 1,6998 14,9100 1,7258
Fonte: IBGE (2009). Legenda: CV: coeficiente de Variação
2008
2007
2006
EMPREGO
DESEMPREGO
SERVIÇOS
2005 INDUSTRIA
AGROPECUÁRIA
Log. (DESEMPREGO)
Log. (EMPREGO)
2004
2003
2002
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 55,00 60,00 65,00 70,00 75,00 80,00 85,00 90,00 95,00 100,0
0
De acordo com IBGE (2009), a Pesquisa Anual de Serviços, PAS, é realizada para
a taxinomia identificada no Quadro 01. Tem como objetivo identificar as características
estruturais básicas das atividades prestadoras de serviços e suas transformações no
tempo. É constituída da estimação do valor adicionado, do pessoal ocupado, dos salários,
da receitas, dos custos e das despesas, bem como apresenta indicadores tais como:
faturamento médio e salário médio os quais retratam o desempenho do setor serviços.
A Tabela 03 e o Gráfico 03 apresentam a evolução da Economia de Serviço, a
partir da evolução do valor adicionado percentual de cada categoria no período de 2002 a
2007.
Tabela 03: Valor adicionado por classificação dos serviços no período de 2002 a 2007.
Classificação 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Média
1 Serviços prestados às famílias 8,83 7,84 7,54 7,86 8,08 8,76 8,15
2. Serviços de informação 26,81 30,02 29,54 27,11 25,13 24,33 27,16
3. Serviços prestados às empresas 26,78 26,49 25,55 27,85 29,36 30 27,67
4. Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio 24,61 24,72 26,32 25,85 25,1 23,47 25,01
5. Atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis 4,56 3,79 4,3 4,29 4,64 4,47 4,34
6. Serviços de manutenção e reparação 2,2 1,74 1,73 1,83 1,86 1,78 1,86
7. Outras atividades de serviços 6,21 5,4 5,02 5,22 5,83 7,2 5,81
Fonte: IBGE/PAS (2009)
Gráfico 03: Evolução do valor adicionado por classificação de serviços de 2002 a 2007.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No estudo realizado contatou-se que os serviços configuraram a economia de
serviço brasileira em duas etapas. Na primeira foi observada no período de 1947 a 1986
com uma participação média do valor adicionado de serviço no PIB na ordem de
54,5083%, sendo que em 1986 ocorreu o menor índice na ordem de 48,6939%. A partir
deste ano, o setor de serviço começou a ganhar corpo na economia brasileira. A segunda
fase da Economia de serviço iniciou-se a partir de 1987, o qual foi caracterizada pela sua
maior participação no PIB a partir da geração de valor adicionado. Neste período a média
percentual de participação do setor de serviços na economia foi de 67,7548%, atingindo o
boom em 1993, quando o seu valor adicionado correspondeu a 81,8168% do PIB.