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O livro “Cuidado Escola” parte de uma ideologia política de cunho marxista para
criticar como se dava a educação brasileira até a década de 80. Os autores partem dessa
ideologia para criticar valores associados ao regime militar e ao sistema capitalista que
estariam presentes nas diretrizes educacionais vigentes. Apesar dos autores do livro
menos caricatural da educação praticada até então. Dessa forma, o sistema capitalista
que perpassa toda a história da sociedade brasileira é criticado de forma radical, críticas
sucessivamente retomadas através da história, mas que propõem medidas que ignoram
No período em que o livro foi publicado pela primeira vez, o Brasil vivia um
dos discursos políticos de esquerda no Brasil, em oposição aos políticos de direita que
1
NAPOLITANO, Marcos. Cultura Brasileira: utopia e massificação (1950 / 1980).
2ª ed. São Paulo: Contexto, 2004. p. 124.
2
HARPER, Babette; CECCON, Claudius; OLIVEIRA, Miguel Darcy de; OLIVEIRA,
Rosiska Darcy de. Cuidado, escola!: desigualdade, domesticação e algumas
saídas. 35ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996. p. 85.
ordem estabelecida”3, com problemas em se expressar e a formação de indivíduos
O livro está repleto de críticas aos valores capitalistas que rodeiam a educação
3
Idem, ibidem. p. 86.
4
Idem, ibidem. p. 55.
5
NAPOLITANO, Marcos. Op. cit. p. 81.
6
HARPER, Babette; CECCON, Claudius; OLIVEIRA, Miguel Darcy de; OLIVEIRA,
Rosiska Darcy de. Op. cit. p. 57.
7
Idem, ibidem. p. 89.
8
Idem, ibidem. p. 97.
como livre-expressão, em nome de comportamentos desejáveis, como “em favor da
maldizendo concepções ambientalistas. Isso indica que as práticas dessa teoria fossem
mal vistas ou talvez incoerentes com o tipo de sociedade ou educação que se ansiava
construir.
social e afetivo propício. Porém, vale destacar que os autores colocam as outras teorias
9
FADIMAN, J., FRAGER, R. Teorias da personalidade. São Paulo: Habra, 1986. p.
195.
10
HARPER, Babette; CECCON, Claudius; OLIVEIRA, Miguel Darcy de; OLIVEIRA,
Rosiska Darcy de. Op. cit. p. 111.
11
Idem, ibidem. p. 112.
12
Idem, ibidem. p. 111.
13
Idem, ibidem. p. 67.
forma caricatural. Ela é comparada a uma máquina14 e é vista como estanque e
aprendizagem são vistos como rígidos. A escola, apesar de todas as tentativas de moldar
burlar as regras; e a escola também muda com o tempo, de acordo com novas
O livro fecha com a idéia de que, no final, para a educação melhorar, uma
uma consciência dos autores quanto à influência que a sociedade tem sobre a educação
hoje.
também diferentes. Ou seja, cada indivíduo estaria imerso em um meio social que
14
Idem, ibidem. p. 40-41.
15
Idem, ibidem. p. 46.
16
Idem, ibidem. p. 117.
17
Idem, ibidem. p. 83.
18
Idem, ibidem. p. 57.
sociais – como os valores de cada classe social, como “classes privilegiadas” e “classes
E, de acordo com Stuart Hall, o mundo vive hoje uma “crise de identidade” 20, ou
identidades dentro das culturas irão evocar diferentes interesses de forma a dificultar
que qualquer escola ou sistema educacional venha a suprir todos ou mesmo a maioria
Escola”, lançado em 1994, sua reimpressão em 1996, e o fato de tal livro estar esgotado
atualmente nas livrarias, são fortes indícios de sucessivas leituras e releituras desse
livro, e da força que o discurso de cunho marxista tem tido no Brasil desde a década de
80, especialmente na educação. Tal discurso acaba por gerar, no entanto, simplificações
– acerca da sociedade e do que é ser humano – que não atendem às problemáticas das
sociedades mais atuais – a crise de identidade, por exemplo. Apesar disso, alguns
aprendizagem descritas por alguns autores – como os referentes ao livro analisado aqui
19
Idem, ibidem. p. 75.
20
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro:
DP&A, 1999. p. 7.
21
Idem, ibidem. p. 8.